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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO ACADÊMICO DE VITÓRIA


NÚCLEO DE SAÚDE COLETIVA
I CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, GESTÃO, PRODUÇÃO E
REDES DE CUIDADO
Uso, abuso e dependência de substâncias psicoativas no contexto da atenção primária à saúde

Docente: Fernanda Guimarães

Pós-graduanda: Bárbara Câmara

ATIVIDADE FINAL – Fluxo de cuidado: Luiza.

O cuidado integral de Luiza perpassa sobre vários caminhos da rede de saúde, Nasf Medico
atenção básica Psicólogo de ambulatório Acompanhamento de ard

Caps ad
Cuidados clínicos
Encaminhamentos para equipe de práticas integrativas
Notificação
Centro de convivência
Continuação missa
Academia da Cidade

Por fim, manter articulação entre os serviços de saúde, assistência social, educação, justiça,
dentre outros, para que as ações com José Mauro sejam promotoras de cuidado integral e
continuado, visando a longitudinalidade e outros princípios do sus.

interconsultas

Luiza tenho 51 anos, e sou professora do Ensino Fundamental aposentada. Nasci numa
pequena cidade no interior de Minas Gerais e sou a terceira filha de sete irmãos. Minha mãe
é uma pessoa muito amorosa e sempre protegeu a mim e a meus irmãos, das violências
praticadas por meu pai. Ele tinha uma dependência de álcool e todas as vezes que bebia
cachaça, e isso acontecia várias vezes por semana, ele começava a falar alto e ficava
agressivo. Ele chegou a bater na minha mãe e nos meus irmãos em diversas ocasiões
depois de beber. Ele batia com cinto e tudo. Apesar das dificuldades com o meu pai, minha
infância foi boa e não guardei nenhum outro trauma mais importante. Quando completei 16
anos, assim como minhas irmãs, me casei para sair de casa. Aos 17 anos, comecei a dar
aulas em uma escola municipal. No começo tinha muitas dificuldades para enfrentar uma
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Uso, abuso e dependência de substâncias psicoativas no contexto da atenção primária à saúde

turma de 40 alunos. Eu ficava muito ansiosa e perdia algumas noites de sono preparando
minhas aulas. Aos 18 anos, engravidei de Lucas, meu primeiro filho. Meu marido, Antônio,
nesta época, tinha 22 anos e trabalhava como auxiliar de caminhoneiro, ele ficava poucos
dias em casa. Eu fiquei muito sobrecarregada, tinha que me dividir entre o trabalho na
escola e os cuidados com o filho. Apesar das dificuldades que sofri pelo uso de álcool por
parte de meu pai, comecei a consumir cerveja com meu marido nos finais de semana para
estar mais perto dele. No início não tinha prazer com a cerveja, achava o gosto amargo e
rapidamente acabava dormindo. Fiquei mais tarde, grávida do meu segundo filho, aos 19
anos, e durante a gravidez não interrompi o uso de bebidas alcóolicas porque não
acreditava que pudesse fazer mal ao bebê. Lúcia nasceu prematura, com dificuldades para
dormir, muito irritada e com dificuldades para mamar. Esse foi o pior momento da minha
vida. Na licença maternidade tinha que dar conta de todas as atividades de casa e das duas
crianças. Naquela época eu ficava vários dias sem comer, não tinha ânimo para fazer nada
e tive pensamentos de suicídio. Mas dizia para mim mesma que meus filhos não dariam
conta de sobreviver sem mim, e isso me impedia de fazer algo. Não cheguei a me tratar
porque meu marido dizia que era frescura. Quando completei 30 anos, perdi meu pai com
um câncer hepático. Nesse momento, passei a ajudar minha mãe financeiramente e a dar
apoio para ela. Após a perda do meu pai tentei parar de beber, porque fiquei com medo de
acabar como ele. Mas a insistência do meu marido em me levar para beber com ele na casa
dos amigos fez com que eu continuasse a consumir cerveja e bebidas destiladas
adocicadas. Aos 35 anos, meu marido, que se tornara caminhoneiro, sofreu um grave
acidente de caminhão e precisou ficar três meses em casa. Me esforcei muito para criar e
educar Lucas e Lúcia. Os dois saíram de casa para estudar na capital do estado quando
completaram 18 anos. Eu sofri muito com a partida dos meus filhos e neste período minha
vida perdeu novamente o sentido. Meu médico de família me afastou do trabalho por um
tempo, devido ao quadro depressivo em que eu me encontrava. Nesse período que fiquei
em casa, descobri que o meu marido me traía com outra mulher. Depois disso, passei vários
dias sem comer e só conseguia dormir após beber muito. Quando eu apagava, tudo ficava
melhor, mas quando acordava meu inferno começava de novo. Nesta época, completei 40
anos e acabei tentando suicídio pela primeira vez. Fiquei internada na urgência clínica e
depois fui transferida voluntariamente para um hospital geral com leito de psiquiatria na
capital, onde retomei o tratamento para depressão. Ao retornar para casa, depois da curta
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hospitalização, minha irmã e minha filha vieram cuidar de mim durante dois meses. Passei a
tomar a medicação antidepressiva corretamente e isso, somado às conversas que tinha com
a psicóloga do centro de saúde de meu bairro e com minha irmã, me ajudou a superar a
situação de separação do marido. Um tempo depois, comecei a notar uma melhora da
depressão e voltei a trabalhar, comecei a frequentar as missas nos finais de semana, onde
retomei algumas amizades da adolescência. Contudo, me sentia muito sozinha. Aos 45
anos, completei o tempo para aposentadoria e por insistência da minha irmã e por medo de
mudanças no cenário político optei por me aposentar, embora me considerasse jovem
demais para ficar em casa. Dos 46 anos em diante comecei a sentir vergonha de mim
mesma porque engordei muito. Uns meses antes fui diagnosticada com hipotireoidismo.
Além disso, fiquei muito deprimida depois que cheguei ao período da menopausa, o que foi
um baque para mim. Aos 50 anos caí na rua depois de ter bebido muito e tomado
medicamentos. As minhas vizinhas me encontraram e acionaram o SAMU que me levou
para o hospital. No hospital, eu fui diagnosticada com Diabetes Mellitus, Hipertensão Arterial
e outros problemas hepáticos. A equipe de saúde conversou com meus filhos e pediram
para analisarem as melhores possibilidades de tratamento.
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Uso, abuso e dependência de substâncias psicoativas no contexto da atenção primária à saúde

Construção do PTS de José Mauro – Encaminhamentos pensados pela equipe:

I – Fortalecer vínculos entre o agente comunitário de saúde que já o atende, os familiares e


o adolescente.

II – Repassar o caso criando meios de trazer um bom vínculo com a equipe do NASF,
fazendo uso de visitas e interconsultas;

III - Constuir, junto da familia, “PTF” focando no cuidado familiar e educação em Saúde,
semanalmente, acompanhado pelo agente comunitário de saúde.

IV - Convidar o Centro de Atenção Psicossocial, Caps, para informe do caso em território e


discursão em reunião técnica, em busca de suporte quando necessário.

V - Convidar escola e gestão da SEDUC para discutir sobre o caso, a fim de, ouvir e
orientar, além de afastar José Mauro temporariamente do ambiente escolar atual e como
último encaminhamento, trocá-lo de escola, se necessário;

VI - Construir, junto ao paciente, o seu PTS.

Demonstrar durante todo atendimento ações humanizadas utilizando as tecnologias leves


para acolhimento no território, com estratégias voltadas para o cuidado em liberdade e
fortalecimento do espaço de vivência, com participação ativa do usuário e da família.

Atitudes junto à família:


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Uso, abuso e dependência de substâncias psicoativas no contexto da atenção primária à saúde

Trazer conhecimento aos familiares do quadro do usuário, para que eles consigam abordar
José Mauro com precaução e empatia – procurar mostrar aqueles sintomas que ele sente
como incômodos: insônia, irritabilidade, inquietação, falta de concentração, dificuldade para
realizar bem tarefas de que gosta. Conversar através de intervenções claras e precisas,
evitando cenas emocionais desgastantes. Adotar uma atitude solidária: mostrando que eles
também tem problemas e dificuldades na vida (evitar a exclusão). Reconhecer os
progressos que José Mauro for conseguindo. Um ambiente familiar tolerante e acolhedor
favorece a aceitação da doença e, consequentemente, do cuidado.

Por fim, manter articulação entre os serviços de saúde, assistência social, educação, justiça,
dentre outros, para que as ações com José Mauro sejam promotoras de cuidado integral e
continuado, visando a longitudinalidade e outros princípios do sus.

Cuidado em Território Visando o CASO V


José Mauro
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Uso, abuso e dependência de substâncias psicoativas no contexto da atenção primária à saúde

Bárbara Câmara, Heloneida Romão,


Ítalo Ramon, Joeliza Conceição,
Priscila Malaquias e Rafael Bezerra.

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