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UNIVERSIDADE DO CONTESTADO – CAMPUS MAFRA

CURSO DE PSICOLOGIA

BRENDA JURELO
EMANUELLY FANTINEL RBEIRO

ESTUDO DE CASO: MATHEUS

MAFRA

2021
UNIVERSIDADE DO CONTESTADO – CAMPUS MAFRA
CURSO DE PSICOLOGIA

BRENDA JURELO
EMANUELLY FANTINEL RIBEIRO

ESTUDO DE CASO: MATHEUS

Trabalho Acadêmico, apresentado como exigência


para obtenção de nota na disciplina de Processos
de Dependências e Drogadição, do curso de
Psicologia, ministrado pela Universidade do
Contestado – UnC, Campus Mafra, sob Orientação
da Professora Giselle Fuchs.

MAFRA

2021
Sumário
1. CASO............................................................................................................................................4
2. INTRODUÇÃO.................................................................................................................................6
3. ÁLCOOL, CRACK E CANNABIS...............................................................................................6
4. EFEITO DAS SUBSTÂNCIAS...................................................................................................7
5. COMORBIDADES.......................................................................................................................8
6. PRINCÍPIOS DO NIDA...............................................................................................................8
7. ESCALAS PADRONIZADAS PARA A AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA................................10
8. TRATAMENTO..........................................................................................................................11
9. QUESTÕES FAMILIARES.......................................................................................................14
10. PREVENÇÃO.........................................................................................................................14
11. CONCLUSÃO.........................................................................................................................16
12. REFERÊNCIAS......................................................................................................................17
1. CASO

Dados de Identificação
Nome: Mateus
Sexo: Masculino
Idade: 31 anos
Estado Civil: Solteiro
Escolaridade: Ensino Superior Incompleto
Ocupação: Desempregado
Local do Atendimento: Mateus estava internado em uma unidade especializada em
dependência química de um hospital psiquiátrico.
Motivo da Busca do Atendimento: O paciente buscou atendimento devido ao seu uso
de crack, o qual estava, segundo ele, "fora de controle". Mateus disse que, após sua
última recaída, "não se reconhecia mais".

Síntese da História
Mateus é o primeiro filho de uma prole de três, tendo duas irmãs, a primeira
com um ano a menos e a segunda com três. Teve uma infância comum, com bom
desempenho escolar, sendo sempre elogiado pelos professores. Seu pai era
ausente e dependente químico de álcool, veio a falecer por complicações relativas
ao uso dessa substância quando Mateus tinha doze anos de idade, o que fez com
que ele assumisse o papel de "homem da casa" e ajudasse financeiramente sua
mãe vendendo jornais. Sua relação com sua mãe e irmãs era, segundo ele,
"normal", mas reconhece que se sentia muito responsável pelo que pudesse
acontecer com sua família.
Mateus iniciou o uso de maconha, cocaína aspirada e álcool com quinze,
anos de idade. Considera que estas eram maneiras que usava para relaxar e tirar
um pouco "do peso da responsabilidade de suas costas. Nessa época, começou a
praticar esportes radicais; acreditava que o surf e o skate lhe davam um prazer que
“a vida não era capaz de lhe dar". Quando tinha vinte anos, sua mãe casou-se
novamente, e sua irmã mais velha saiu de casa para morar com um namorado.
Entre os vinte e os 24 anos, conseguiu se manter em abstinência das drogas, mas
considerava que sua rotina era sem graça e só com responsabilidades. Iniciou o uso
de crack com 24 anos. Usava, antes de internar, uma média semanal de: oitenta
pedras de crack, um cigarro de maconha e uma garrafa de cerveja (750 ml). Deixou
de usar cocaína aspirada quando iniciou o uso do crack. Mateus já passou por sete
internações e já completou o tratamento em duas fazendas terapêuticas para
usuários de drogas. Quando tinha 25 anos, ele foi morar com sua então namorada,
que estava grávida de um menino. Apesar de gostar muito do filho, disse não
conseguir ter uma relação próxima com ele devido ao uso de drogas. Separou-se da
sua companheira quando seu filho tinha dois anos de idade.
Sua mãe faleceu de câncer durante essa internação, o que abalou muito a
motivação de Mateus que se culpa pela morte da mãe: apesar de saber que não
tinha nenhuma relação com a causa da morte, acreditava que a preocupação pelo
fato de ele ser usuário de drogas prejudicou a situação da mãe.
Atualmente, Mateus reside com o padrasto e a irmã caçula, vê o filho de seis
anos com sua ex-companheira com frequência quinzenal e mantém um
relacionamento com uma namorada que apoia seu tratamento, participando sempre
das visitas enquanto ele estava internado.

Diagnóstico Multiaxial (DSM N-TR, APA, 2002)


Eixo I - Dependência de cocaína/crack
Dependência de cannabis
Abuso de álcool
Eixo II - V71.09, nenhum diagnóstico
Eixo III – Nenhum
Eixo IV - Problemas com o grupo primário de apoio: familiares desistiram de apoiá-
lo.
Eixo V - AGF = 40

Psicofármacos utilizados
Paciente já fez uso de diversos antidepressivos (Fluoxetina, Paroxetina),
inclusive em associação com anticonvulsivantes e estabilizadores de humor (Lítio,
Ácido Valproico, Carbamazepina) com intenção de redução de sintomatologia
depressiva e conduta impulsiva sem indícios de melhora. Durante a internação, na
qual foi aplicado o protocolo de exposição aos estímulos, eram administradas as
seguintes medicações duas vezes ao dia: Clorpromazina 100mg e Carbamazepina
200 mg.
2. INTRODUÇÃO
O que caracteriza a dependência química e pode definir um diagnóstico
clínico é a presença de um conjunto de sintomas comportamentais, cognitivos e
fisiológicos, indicando que o indivíduo continua utilizando uma substância, apesar
dos significativos prejuízos a ela atribuídos (DSM-IV, 1995). Assim, pode-se
estabelecer um padrão de uso característico da dependência, que inclui: o uso da
substância em dose e/ou tempo acima do pretendido inicialmente; o fracasso em
diversas tentativas de controlar ou reduzir o uso da substância; o tempo excessivo
gasto para a recuperação dos efeitos ou para a aquisição da droga; uma importante
disfunção social, com redução drástica de atividades recreativas e ocupacionais; a
manutenção peremptória do uso da substância mesmo diante do reconhecimento
das perdas sociais, econômicas e afetivas.
Dessa forma, ao decorrer do trabalho buscaremos apresentar os fatores que
são manifestados neste estudo de caso, as dependências e efeitos delas,
comorbidades, questões familiares e intervenções necessárias para uma efetividade
no tratamento.

3. ÁLCOOL, CRACK E CANNABIS


O consumo de drogas ilícitas por adolescentes, como a maconha e a
cocaína, é relativamente baixo quando comparado ao uso das drogas lícitas, como o
álcool (TAVARES, 2001). Ao contrário das drogas ilícitas, o primeiro contato que a
maioria dos adolescentes tem com o álcool ocorre dentro de casa, sob o olhar da
família que aceita e tolera o uso. Essa, aparece de forma clara no caso de Matheus
com uso recorrente que seu pai fazia e a morte posteriormente contada, quando o
Matheus ainda era criança.
O abuso de crack é considerado um problema de saúde pública e está
associado à violência e criminalidade, a problemas psicológicos, sociais,
ocupacionais e à potencialização da contaminação por doenças infectocontagiosas.
Apesar das taxas de consumo do crack serem inferiores a de outras drogas,
observa-se que esta é a droga ilícita que mais conduz a internações em hospitais
psiquiátricos e a que mais provoca demanda por atendimento, gerando um custo
expressivo para o sistema público de saúde. Os usuários de crack caracterizam-se
por serem uma população de risco e apresentarem inúmeras vulnerabilidades,
tornando-se um desafio para os serviços de tratamento e para as políticas públicas
da área da saúde e da assistência social. A exposição a doenças e a situações
adversas da vida acontece de forma diferenciada de acordo com cada indivíduo,
regiões e grupos sociais, e ela está intimamente relacionada às condições
socioeconômicas, ao nível educacional e a outros indicadores sociais, como status
de moradia, situação legal e doenças associadas.
No caso do Matheus, de certa forma ele sempre teve uma moradia e ajuda
de algumas pessoas próximas, há pouco relato de atividade sexual promíscua e um
nível educacional regular.
Quanto à dependência química da maconha, não se sabe ao certo se o
consumo causa ou não, o vício, não sendo possível saber qual é a quantidade exata
da planta que percorre as correntes sanguíneas. Acredita-se que a dependência
pode vir com o uso prolongado da cannabis e podendo variar para cada indivíduo.

4. EFEITO DAS SUBSTÂNCIAS


O crack é composto da mistura de pasta base de cocaína com água e
bicarbonato de sódio que, aquecida, dá origem a cristais conhecidos como “pedras”
de crack. Devido à sua ação sobre o sistema nervoso central, o crack
gera aceleração dos batimentos cardíacos, aumento da pressão arterial, dilatação
das pupilas, suor intenso, tremores, excitação, maior aptidão física e mental.
Os efeitos psicológicos são euforia, sensação de poder e aumento da autoestima.
Ao ser fumado, seus efeitos estimulantes são provocados em aproximadamente
quinze segundos, mantendo-os por cerca de cinco minutos. Esses dois fatores
associados contribuem para a necessidade de o usuário buscar constantemente a
droga.
A relação entre uso de crack e mortalidade não é direta. É inegável que o
índice de mortalidade entre usuários de crack seja grande, mas é importante
compreender que os óbitos são mais comumente associados a elementos de tráfico,
disputa entre pontos de venda/uso ou enfrentamentos com a polícia do que
propriamente pelo dano causado diretamente pela droga em si. Vários estudos
correlacionam o uso de crack a um aumento da agressividade, especialmente nos
períodos de abstinência.
O alcoolismo ocasiona tanto problemas sociais, psicológicos, quanto físicos,
provoca efeitos estimulantes e depressivos, A dependência da bebida alcoólica traz
consequências físicas, como por exemplo: pancreatite, cirrose, cardiopatia,
hipertensão, úlcera; problemas psicológicos de memória, depressão, ansiedade,
nervosismo, irritabilidade, insônia, etc. Também gera problemas sociais, como:
desemprego, problemas familiares e conjugais, violência social e doméstica,
acidentes laborais e de trânsito, entre outros. (CIUFFA; SOUSA; MEZA, 2010).

Os efeitos a curto prazo são "leves" no uso da maconha, como memória


prejudicada, confusão entre passado, presente e futuro, sentidos aguçados, mas
com pouco equilíbrio e força muscular, perda da coordenação. A longo prazo, o
consumidor pode vir a ter os mesmos problemas que uma pessoa que fuma tabaco,
como asma, enfisema pulmonar, bronquite e câncer.

5. COMORBIDADES
Na medicina geral, utiliza-se o termo ‘comorbidade’ quando dois (ou mais)
transtornos de saúde, de etiologias distintas, coexistem em um mesmo indivíduo.
Dentre as consequências da dependência do crack, há os danos físicos
relacionados ao acometimento pulmonar, à exposição ao Vírus da Imunodeficiência
Adquirida/Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (HIV/AIDS), às hepatites B e C, à
violência física, à mortalidade, entre outros. Embora muitos indivíduos com
problemas relacionados a substâncias apresentem um bom funcionamento, os
indivíduos com transtornos relacionados ao uso de substâncias em geral
experimentam uma deterioração em sua saúde geral (DSM-IV, 2002). Além disso,
cerca de 10% da população dependente de substância comete suicídio,
frequentemente associado a um transtorno de humor induzido pela substância
(DSM-IV, 2002).
Relacionando com o caso do Matheus, há quase nada de informações que
correlacionam com comorbidades que pudessem aparecer, exceto os transtornos de
humor e depressão presentes.

6. PRINCÍPIOS DO NIDA
O NIDA (National Institute on Drug Abuse) desenvolveu 13 princípios para
um tratamento se fazer eficaz, onde trata o indivíduo em sua totalidade, suas causas
emocionais, físicas, psicológicas, sociais e familiares, sendo eles:
Princípio 1: um único tratamento não é apropriado para todos os indivíduos.
Princípio 2: o tratamento precisa estar prontamente disponível.
Princípio 3: um tratamento eficaz é aquele que atende às diversas necessidades dos
indivíduos e não apenas ao uso de drogas.
Princípio 4: o tratamento de um indivíduo e o plano de serviços devem ser
continuamente avaliados e modificados quando necessário para garantir que o plano
atenda às necessidades mutantes da pessoa.
Princípio 5: a permanência no tratamento por um período adequado de tempo é
essencial para sua eficácia.
Princípio 6: aconselhamento (individual e/ou em grupo) e outras terapias
comportamentais são componentes cruciais para um tratamento eficaz.
Princípio 7: medicações são elementos importantes no tratamento de vários
pacientes, especialmente quando combinadas com aconselhamento e outras
terapias comportamentais.
Princípio 8: indivíduos com distúrbios mentais que sejam dependentes das drogas
devem ser tratados de maneira integrada de ambos os problemas.
Princípio 9: desintoxicação médica é apenas o primeiro estágio do tratamento e por
si mesma contribui pouco para mudança a longo prazo de uso de droga.
Princípio 10: o tratamento não precisa ser voluntário para ser eficaz.
Princípio 11: o possível uso de droga durante o tratamento deve ser monitorado
continuamente.
Princípio 12: programas de tratamento devem proporcionar avaliação para
AIDS/HIV, hepatite B e C, tuberculose e outras doenças infecciosas e
aconselhamento para ajudar pacientes a modificarem comportamentos de risco de
infecção.
Princípio 13: a recuperação da dependência química pode ser um processo a longo
prazo e frequentemente requer vários episódios de tratamento.
Dentre todos os princípios apresentados pelo NIDA, neste caso do Matheus
podemos nos atentar no princípio 01, onde por diversas vezes ele passou por
tratamento medicamentoso e de internamento, que não se fizeram eficazes para ele.
No princípio 03, onde faltou enfoque no relacionamento familiar, a culpa pela morte
da mãe que o abalou, onde como citados no princípio 04 e 06 poderiam flexibilizar
esse tratamento, incluindo mais aconselhamentos e terapias. No princípio 05,
podemos dizer que nas duas internações que ele finalizou o tratamento, talvez não
tivesse sido o tempo suficiente para a eficácia do mesmo. As medicações citadas no
princípio 07, também foram utilizadas e importantes para o tratamento. E por fim, o
13, onde os vários tratamentos de Matheus acarretaram em longo período e ainda
assim, sem sucesso no final.

7. ESCALAS PADRONIZADAS PARA A AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA.


Para uma intervenção terapêutica eficaz é fundamental uma avaliação clínica
precisa. O processo de avaliação permite obter informações importantíssimas dos
aspectos psicológicos dos avaliados, proporcionando assim, uma atuação mais
completa e definida. Por isso, para a realização da avaliação psicológica e
conhecimento do problema, é indispensável que o psicólogo utilize instrumentos e
técnicas fidedignas, com aprovação nos órgãos de classe competentes, agindo de
forma responsável, ética, com comprometimento profissional (NUNES; PRIMI,
2010).
No contexto da avaliação, os testes psicológicos se constituem como
ferramentas importantíssimas para o psicólogo. São instrumentos de avaliação que
se caracterizam por serem procedimentos sistemáticos de coleta de informações
úteis e confiáveis que servem de base ao processo mais amplo e complexo da
avaliação psicológica. Em geral, os instrumentos são meios padronizados de se
obter amostras/indicadores comportamentais que irão revelar diferenças individuais
nos construtos, traços latentes ou processos mentais subjacentes.
O Conselho Federal de Psicologia (CFP) possui um sistema de avaliação de
testes psicológicos que classifica aqueles que são de uso exclusivo de psicólogos e
os que estão com uso favorável, divulgando informações sobre os testes à
comunidade e aos psicólogos, o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos
(SATEPSI). Consiste em uma norma de certificação de instrumentos de avaliação
psicológica que avalia e qualifica os instrumentos em apto ou inapto para uso
profissional, a partir da verificação objetiva de um conjunto de requisitos técnicos
mínimos (fundamentação teórica, precisão, validade e normatização), definidos pela
área, baseando em normas nacionais e internacionais. Assim, o psicólogo, pode
utilizar-se dos testes psicológicos de forma segura e confiável, como um instrumento
de auxílio e complemento no processo de diagnóstico e tratamento de diferentes
casos, inclusive nos casos de uso abusivo de substâncias.
No caso de Matheus, é interessante apropriar-se da Bateria Fatorial de
Personalidade (BFP), de Nunes, Hutz e Nunes (2010), para traçar o perfil da sua
personalidade a partir dos cinco grandes fatores de personalidade, e o teste
Neupsilin, de Fonseca, Salles e Parente (2009), no intuito de analisar as funções
mentais superiores do sujeito.
A personalidade pode ser entendida de diferentes âmbitos, já os
comportamentos devem ser percebidos; as teorias comportamentais entendem a
dependência química como um comportamento estruturado a partir da presença de
estímulos, positivos ou negativos (DIEHL; CORDEIRO; LARANJEIRA, 2011). Nesse
sentido, a Bateria Fatorial de Personalidade (BFP), se trata de “um instrumento
psicológico construído para a avaliação da personalidade a partir do modelo dos
cincos grandes fatores (CGF), que inclui as dimensões: Extroversão, Socialização,
Realização, Neuroticismo e Abertura a experiências.” (NUNES; HUTZ; NUNES,
2010, p. 13).
O presente teste nos permite identificar tendências de comportamentos, bem
como padrões mais prováveis de atitudes e crenças, levando em consideração o
saber de que os prejuízos desencadeados pelo uso do crack podem comprometer
tanto a saúde física como mental e emocional, ocasionando perdas constantes de
emprego, falhas em relacionamentos, distanciamento familiar e exclusão social bem
como é descrito na história de Matheus, o qual encontra-se atualmente
desempregado, além de ter seu relacionamento com filho e antiga companheira
prejudicados pela dependência do crack.
Já o teste Neupsilin é uma ferramenta clínica que se propõe a descrever de
forma compreensiva o desenvolvimento neuropsicológico ao longo do ciclo vital. O
teste é composto por 32 subtestes, que avaliam 8 funções neuropsicológicas:
Orientação Têmporo-Espacial, Atenção Concentrada, Percepção Visual, Habilidades
Aritméticas, Linguagem Oral e Escrita, Memória Verbal e Visual, Praxias e Funções
Executivas. Os prejuízos cognitivos são de grande relevância, pois acarretam
dificuldades na realização de tarefas diárias, impossibilitando o crescimento
emocional em decorrência do uso desordenado das substâncias.

8. TRATAMENTO
O primeiro passo para o tratamento de Mateus é a internação, a qual ele já
procurou pela segunda vez conforme é descrito em sua história. Lá, será realizada a
desintoxicação dos componentes químicos de seu organismo. Essa etapa é considerada a
mais crítica, pois o paciente recebe assistência médica durante um determinado período de
tempo — geralmente 24 horas — para a eliminação das drogas do seu organismo.

Um dos motivos para o fracasso dos tratamentos para a dependência química


é a dificuldade para a reconstituição, por parte do próprio usuário, de uma rede de
apoio social e familiar adequada em sua comunidade. A capacidade de construção
de um horizonte de vida que seja mais sedutor que o prazer fácil das drogas
também é essencial.
Nessa etapa são realizados o acolhimento e a avaliação clínica. O
acolhimento visa primordialmente, pela escuta, à melhoria na qualidade da
assistência, ao favorecer a relação usuário/trabalhador/serviço, e à ampliação das
formas imediatas de intervenção individualizada. As técnicas para o acolhimento
variam de serviço para serviço, mas devem estar centradas, ao máximo, no usuário,
possibilitando o encaminhamento mais resolutivo da necessidade individual por meio
de uma assistência acolhedora e humanizada.
É necessário, antes, partilhar informações, exercitar um jogo no qual as
crenças, preconceitos, estigmas e certezas (tanto dos membros da equipe quanto do
usuário, familiares e amigos) são postos em posição dialógica, até que a autonomia
do dele seja (re)conquistada pela capacidade de se autoavaliar, de se auto constituir
como indivíduo produtor de suas próprias crenças e desejos, livre, enfim, tanto
quanto possível, dos preconceitos, das superstições e dos falsos problemas.
A função da equipe terapeuta é promover a capacidade de exercitar essa
corresponsabilidade, na perspectiva do usuário, não significa tão somente dividir os
fracassos e os sucessos, mas também, ser livre para atuar sobre suas próprias
condições de vida e modificá-las positivamente, mesmo que seja com a ajuda de
equipe técnica especializada. São também funções da equipe terapêutica: facilitar a
construção de redes sociais solidárias de promoção da saúde como qualidade de
vida; mobilizar os recursos da rede de atenção das comunidades; e apoiar o
desenvolvimento das competências dos indivíduos e das famílias, prevenir e
combater as situações de desintegração dos indivíduos e das famílias, e estimular a
restauração e fortalecimento dos laços sociais.
Dependendo das demandas, são utilizadas as ferramentas possíveis, com o
objetivo de melhorar a qualidade de vida e de acordo com o enfoque interdisciplinar
citado, tais como a psicoterapia breve; psicoterapia em grupo; entrevista
motivacional; psicanálise; psicologia analítica; atenção médica geral e psiquiátrica;
atenção à família; e avaliação social. Notável também que as orientações
provenientes do Ministério da Saúde contemplam o modelo médico de assistência,
devido à gravidade dos casos.

No caso de Matheus, o acompanhamento psicológico se faz de extrema


importância em seu tratamento. A tríade de tratamento com alguma eficácia
demonstrada em diversos tipos de dependência e com ampla pesquisa científica a
respeito de seus resultados é composta pela Terapia Cognitivo-Comportamental
(TCC), a qual tem foco na mudança de crenças e pensamentos disfuncionais a
respeito do uso de substâncias em detrimento dos pensamentos e crenças de maior
funcionalidade.  Na terapia também é possível realizar o treinamento de habilidades
sociais, prevenção da recaída, abordagens comunitárias, familiares e vocacionais,
entre outras. As abordagens motivacionais e cognitivas comportamentais, tanto na
modalidade individual quanto em grupos, têm tido sua eficácia demonstrada.
Entretanto, não existe um modelo único de tratamento que seja efetivo para usuários
de crack, e sim a combinação de modelos e abordagens, bem como uma equipe
multidisciplinar envolvendo profissionais de diversas áreas.

Dado a importância do tratamento em conjunto com outros profissionais da


saúde, é interessante realizar o encaminhamento de Matheus a uma Comunidade
Terapêutica ou ao Centro de Atenção Psicossocial – álcool e drogas (CAPS AD),
onde lá ele receberá acolhimento e poderá contar com uma equipe composta por um
Psiquiatra, fundamental nestes casos a avaliação médica, que buscará confirmação
do diagnóstico de dependência de crack e de possíveis doenças associadas. O
médico psiquiatra avaliará a síndrome de abstinência, a tolerância, a substituição de
horas produtivas pelo consumo, comorbidades clínicas, psiquiátricas e de risco de
suicídio. Esta avaliação clínico psiquiátrica é imprescindível, assim como a avaliação
biológica, através de exames laboratoriais e de imagem.  

Ademais, o tratamento com o profissional de psiquiatria será focado na


diminuição dos sintomas de fissura, agitação psicomotora, tratamento de delírios ou
alucinações e alterações de humor causadas pelo uso dessa substância, levando
em consideração que o paciente no período de usa internação, relatou que já fez
uso de diversos antidepressivos (fluoxetina, paroxetina), inclusive em associação
com anticonvulsivantes e estabilizadores de humor (Lítio, Ácido Valproico,
Carbamazepina) com intenção de redução de sintomatologia depressiva e conduta
impulsiva sem indícios de melhora. Durante a internação, na qual foi aplicado o
protocolo de exposição aos estímulos, eram administradas as seguintes medicações
duas vezes ao dia: Clorpromazina 100mg e Carbamazepina 200 mg. O psiquiatra
auxiliará no manejo dos presentes medicamentos, bem como no tratamento das
comorbidades associadas à dependência do paciente.

9. QUESTÕES FAMILIARES
A densidade das relações sociais, junto com uma estabilidade no trabalho,
influência diretamente o nível de integração dos indivíduos na sociedade.
Dependendo da qualidade desses vínculos, tanto no familiar/social quanto no
trabalho, o indivíduo flutua por diferentes zonas que apresentam fronteiras porosas e
dinâmicas.
O distanciamento do filho, a culpa pela morte da mãe, a responsabilidade
pela família muito jovem, a perda do pai muito cedo e problema com o álcool do
paciente foram situações que acabaram gerando conflitos internos na vida de
Matheus e viu nas drogas, uma tentativa de “escape” para as muitas
responsabilidades que vinham aparecendo. Nota-se também que, a mãe sempre foi
uma das pessoas mais presentes em sua vida e a morte dela ocasionou grande
importância para o declínio do último tratamento. O apoio que precisava da família
no tratamento também influenciou nas diversas tentativas sem sucesso que ele teve
para interromper o uso.

10. PREVENÇÃO
Cabe considerar que modelos preventivos de abordagem, do tipo redução
de danos, parecem apresentar pouco resultado nessa população de usuários. O
grande desafio é o de instituir políticas preventivas para a população sob maior risco
de contato com essa droga, que deveriam incluir programas sociais e alternativas
ocupacionais recompensadoras.
Certamente que, para serem mais efetivos, esses modelos exigem uma
disponibilização maior de recursos do poder público do que os tratamentos utilizados
para outras doenças crônicas, o que muitas vezes gera certa resistência.
Entender os riscos e as consequências negativas da utilização das drogas é
essencial para criar estratégias de prevenção da dependência química. Outra atitude
importante é tentar compreender os fatores que podem levar uma pessoa a
consumir drogas, especialmente em situações de vulnerabilidade social e emocional.
Nesse sentido, a intervenção preventiva pode ser primária, secundária ou terciária.
A prevenção primária consiste em um conjunto de ações destinadas a evitar
ou retardar o contato de pessoas com substâncias que podem causar dependência
química. Esse tipo de medida costuma ser voltada para crianças e adolescentes,
pois se trata de uma intervenção educativa e precoce.
A prevenção secundária, considerada uma extensão da primeira, visa
minimizar os riscos de desenvolvimento da dependência em pessoas que
experimentaram ou usam substâncias químicas moderadamente. Pode ser definida
como uma intervenção mais especializada e focada, pois tenta impedir a evolução
do consumo de drogas por usuários que já começaram a manifestar dificuldades em
parar de usá-las.
A prevenção terciária normalmente é feita quando a dependência química já
está instalada, visando todo o processo de tratamento. Tem como objetivos
principais incentivar o usuário a buscar ajuda de profissionais da saúde e familiares,
evitar recaídas durante a intervenção terapêutica e auxiliar na reinserção social do
indivíduo.

Adaptando ao caso de Matheus, a prevenção terciária é a qual se faz mais


útil, levando em consideração que a dependência já está instalada. Para o
desenvolvimento de ações preventivas é necessário firmar bases objetivas e
fundamentação para propostas de políticas que ofereçam espaços reais para um
programa, relacionando-o sempre com o bem-estar e o desenvolvimento do
indivíduo e da sociedade.

Sabemos que o paciente já passou por duas internações, recorrendo ao


tratamento com medicações, entretanto, não foram eficazes para sua melhora, tendo
o paciente recaído e retornado ao uso das substâncias. Sendo assim, um novo
plano de estratégia faz-se necessário para a prevenção de novas recaídas. Durante
o acompanhamento psicológico, é interessante abordar questões sociais e
familiares, bem como elaborar um plano de reinserção social do paciente.
É fundamental que a pessoa mantenha uma rotina diferenciada da que vivia
anteriormente, seja nos locais onde frequentava, como seu lazer, ou seja, sem
contato intenso com as suas amizades e influências negativas. A procura de
ocupação, como emprego, esportes, estudos, religiões pode auxiliar os usuários
num primeiro momento, em que estão mais vulneráveis, proporcionando maiores
chances de sucesso, pois A densidade das relações sociais, junto com uma
estabilidade no trabalho, influência diretamente o nível de integração dos indivíduos
na sociedade. Dependendo da qualidade desses vínculos, tanto no familiar/social
quanto no trabalho, o indivíduo flutua por diferentes zonas que apresentam fronteiras
porosas e dinâmicas.
O distanciamento do filho, a culpa pela morte da mãe, a responsabilidade
pela família muito jovem, a perda do pai muito cedo e problema com o álcool do
paciente foram situações que acabaram gerando conflitos internos na vida de
Matheus e viu nas drogas, uma tentativa de “escape” para as muitas
responsabilidades que vinham aparecendo. Nota-se também que, a mãe sempre foi
uma das pessoas mais presentes em sua vida e a morte dela ocasionou grande
importância para o declínio do último tratamento. O apoio que precisava da família
no tratamento também influenciou nas diversas tentativas sem sucesso que ele teve
para interromper o uso.

a ocupação do tempo com temas produtivos pode ajudar o dependente a não


“jogar” todo o trabalho e esforço fora. Por meio de terapia adequada e a busca por
autoconhecimento e autocontrole, o paciente vai aos poucos desenvolvendo uma
nova rotina onde o consumo de drogas não está incluso, estabelecendo novos laços
sociais saudáveis e descobrindo o interesse em novas atividades.

Além disso, trabalhar em questões familiares é de grande valia, haja vista


que o fator familiar foi um dos principais motivos para sua recaída, como por
exemplo, o sentimento de culpa em decorrência do falecimento de sua mãe. Além
disso, oferecer suporte psicológico para a atual companheira de Mateus é
fundamental para todo o processo. A família é um dos principais pilares para a
recuperação do dependente químico, sendo corresponsável pelo tratamento e pela
reinserção social de seus entes. Isso significa que, além de suporte emocional,
presença e disposição para ajudar, os familiares também precisam passar por
acompanhamento durante esse processo, a família também precisa de suporte para
compreender a dinâmica que foi construída e de que forma as relações familiares
podem contribuir para a melhoria ou para o agravamento da dependência química.

11. CONCLUSÃO
Como abordado durante as aulas e respectivamente neste caso, podemos
observar que nem todo tratamento se faz eficaz em todo paciente. Embora que
neste estudo não estamos trabalhando um indivíduo real, pode-se analisar que há
muitos casos semelhantes na sociedade atual, indivíduos que são recorrentes em
tratamentos de dependência e que por algum motivo tendem a apresentar
resistência aos mesmos.
Matheus apresenta praticamente todos os sintomas de dependência, as
tentativas em parar com o uso da substância, o tempo gasto em períodos de
tratamento, o não controle em conseguir parar, as atividades de lazer encerradas
pelo uso, o distanciamento do filho e da família, e ainda assim falta algo, um
estímulo para obter sucesso em seu processo de se tornar um ex usuário.
Contudo, cabe ao psicólogo auxiliar nessa demanda de aprendizagem,
autoconhecimento e redescoberta de caminhos que fazem uma lacuna na vida do
dependente, associando com uma equipe multidisciplinar que acolha e entenda a
individualidade dele, promovendo ações que visem observar que ainda há tempo
para mudança, sendo essa de muita importância e valia para ele, em contexto
pessoal e social.
12. REFERÊNCIAS

ALARCON, S. Critérios para o Diagnóstico de Dependência Química. In: ALARCON,


S., and JORGE, MAS., comps. Álcool e outras drogas: diálogos sobre um mal-estar
contemporâneo [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2012, pp. 131-150. ISBN:
978-85-7541-539-9.

CIUFFA, M. P. P.; SOUSA, Alcy A. L.; MEZA, S. K. L.. Percepção do alcoolismo


frente ao tratamento. Cascavel: Coluna do Saber, 2010.

DIEHL, Alessandra; CORDEIRO, Daniel Cruz; LARANJEIRA, Ronaldo. Dependência


química: prevenção, tratamento e políticas públicas. Porto Alegre: Artmed, 2011.

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