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CURSO DE PSICOLOGIA
BRENDA JURELO
EMANUELLY FANTINEL RBEIRO
MAFRA
2021
UNIVERSIDADE DO CONTESTADO – CAMPUS MAFRA
CURSO DE PSICOLOGIA
BRENDA JURELO
EMANUELLY FANTINEL RIBEIRO
MAFRA
2021
Sumário
1. CASO............................................................................................................................................4
2. INTRODUÇÃO.................................................................................................................................6
3. ÁLCOOL, CRACK E CANNABIS...............................................................................................6
4. EFEITO DAS SUBSTÂNCIAS...................................................................................................7
5. COMORBIDADES.......................................................................................................................8
6. PRINCÍPIOS DO NIDA...............................................................................................................8
7. ESCALAS PADRONIZADAS PARA A AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA................................10
8. TRATAMENTO..........................................................................................................................11
9. QUESTÕES FAMILIARES.......................................................................................................14
10. PREVENÇÃO.........................................................................................................................14
11. CONCLUSÃO.........................................................................................................................16
12. REFERÊNCIAS......................................................................................................................17
1. CASO
Dados de Identificação
Nome: Mateus
Sexo: Masculino
Idade: 31 anos
Estado Civil: Solteiro
Escolaridade: Ensino Superior Incompleto
Ocupação: Desempregado
Local do Atendimento: Mateus estava internado em uma unidade especializada em
dependência química de um hospital psiquiátrico.
Motivo da Busca do Atendimento: O paciente buscou atendimento devido ao seu uso
de crack, o qual estava, segundo ele, "fora de controle". Mateus disse que, após sua
última recaída, "não se reconhecia mais".
Síntese da História
Mateus é o primeiro filho de uma prole de três, tendo duas irmãs, a primeira
com um ano a menos e a segunda com três. Teve uma infância comum, com bom
desempenho escolar, sendo sempre elogiado pelos professores. Seu pai era
ausente e dependente químico de álcool, veio a falecer por complicações relativas
ao uso dessa substância quando Mateus tinha doze anos de idade, o que fez com
que ele assumisse o papel de "homem da casa" e ajudasse financeiramente sua
mãe vendendo jornais. Sua relação com sua mãe e irmãs era, segundo ele,
"normal", mas reconhece que se sentia muito responsável pelo que pudesse
acontecer com sua família.
Mateus iniciou o uso de maconha, cocaína aspirada e álcool com quinze,
anos de idade. Considera que estas eram maneiras que usava para relaxar e tirar
um pouco "do peso da responsabilidade de suas costas. Nessa época, começou a
praticar esportes radicais; acreditava que o surf e o skate lhe davam um prazer que
“a vida não era capaz de lhe dar". Quando tinha vinte anos, sua mãe casou-se
novamente, e sua irmã mais velha saiu de casa para morar com um namorado.
Entre os vinte e os 24 anos, conseguiu se manter em abstinência das drogas, mas
considerava que sua rotina era sem graça e só com responsabilidades. Iniciou o uso
de crack com 24 anos. Usava, antes de internar, uma média semanal de: oitenta
pedras de crack, um cigarro de maconha e uma garrafa de cerveja (750 ml). Deixou
de usar cocaína aspirada quando iniciou o uso do crack. Mateus já passou por sete
internações e já completou o tratamento em duas fazendas terapêuticas para
usuários de drogas. Quando tinha 25 anos, ele foi morar com sua então namorada,
que estava grávida de um menino. Apesar de gostar muito do filho, disse não
conseguir ter uma relação próxima com ele devido ao uso de drogas. Separou-se da
sua companheira quando seu filho tinha dois anos de idade.
Sua mãe faleceu de câncer durante essa internação, o que abalou muito a
motivação de Mateus que se culpa pela morte da mãe: apesar de saber que não
tinha nenhuma relação com a causa da morte, acreditava que a preocupação pelo
fato de ele ser usuário de drogas prejudicou a situação da mãe.
Atualmente, Mateus reside com o padrasto e a irmã caçula, vê o filho de seis
anos com sua ex-companheira com frequência quinzenal e mantém um
relacionamento com uma namorada que apoia seu tratamento, participando sempre
das visitas enquanto ele estava internado.
Psicofármacos utilizados
Paciente já fez uso de diversos antidepressivos (Fluoxetina, Paroxetina),
inclusive em associação com anticonvulsivantes e estabilizadores de humor (Lítio,
Ácido Valproico, Carbamazepina) com intenção de redução de sintomatologia
depressiva e conduta impulsiva sem indícios de melhora. Durante a internação, na
qual foi aplicado o protocolo de exposição aos estímulos, eram administradas as
seguintes medicações duas vezes ao dia: Clorpromazina 100mg e Carbamazepina
200 mg.
2. INTRODUÇÃO
O que caracteriza a dependência química e pode definir um diagnóstico
clínico é a presença de um conjunto de sintomas comportamentais, cognitivos e
fisiológicos, indicando que o indivíduo continua utilizando uma substância, apesar
dos significativos prejuízos a ela atribuídos (DSM-IV, 1995). Assim, pode-se
estabelecer um padrão de uso característico da dependência, que inclui: o uso da
substância em dose e/ou tempo acima do pretendido inicialmente; o fracasso em
diversas tentativas de controlar ou reduzir o uso da substância; o tempo excessivo
gasto para a recuperação dos efeitos ou para a aquisição da droga; uma importante
disfunção social, com redução drástica de atividades recreativas e ocupacionais; a
manutenção peremptória do uso da substância mesmo diante do reconhecimento
das perdas sociais, econômicas e afetivas.
Dessa forma, ao decorrer do trabalho buscaremos apresentar os fatores que
são manifestados neste estudo de caso, as dependências e efeitos delas,
comorbidades, questões familiares e intervenções necessárias para uma efetividade
no tratamento.
5. COMORBIDADES
Na medicina geral, utiliza-se o termo ‘comorbidade’ quando dois (ou mais)
transtornos de saúde, de etiologias distintas, coexistem em um mesmo indivíduo.
Dentre as consequências da dependência do crack, há os danos físicos
relacionados ao acometimento pulmonar, à exposição ao Vírus da Imunodeficiência
Adquirida/Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (HIV/AIDS), às hepatites B e C, à
violência física, à mortalidade, entre outros. Embora muitos indivíduos com
problemas relacionados a substâncias apresentem um bom funcionamento, os
indivíduos com transtornos relacionados ao uso de substâncias em geral
experimentam uma deterioração em sua saúde geral (DSM-IV, 2002). Além disso,
cerca de 10% da população dependente de substância comete suicídio,
frequentemente associado a um transtorno de humor induzido pela substância
(DSM-IV, 2002).
Relacionando com o caso do Matheus, há quase nada de informações que
correlacionam com comorbidades que pudessem aparecer, exceto os transtornos de
humor e depressão presentes.
6. PRINCÍPIOS DO NIDA
O NIDA (National Institute on Drug Abuse) desenvolveu 13 princípios para
um tratamento se fazer eficaz, onde trata o indivíduo em sua totalidade, suas causas
emocionais, físicas, psicológicas, sociais e familiares, sendo eles:
Princípio 1: um único tratamento não é apropriado para todos os indivíduos.
Princípio 2: o tratamento precisa estar prontamente disponível.
Princípio 3: um tratamento eficaz é aquele que atende às diversas necessidades dos
indivíduos e não apenas ao uso de drogas.
Princípio 4: o tratamento de um indivíduo e o plano de serviços devem ser
continuamente avaliados e modificados quando necessário para garantir que o plano
atenda às necessidades mutantes da pessoa.
Princípio 5: a permanência no tratamento por um período adequado de tempo é
essencial para sua eficácia.
Princípio 6: aconselhamento (individual e/ou em grupo) e outras terapias
comportamentais são componentes cruciais para um tratamento eficaz.
Princípio 7: medicações são elementos importantes no tratamento de vários
pacientes, especialmente quando combinadas com aconselhamento e outras
terapias comportamentais.
Princípio 8: indivíduos com distúrbios mentais que sejam dependentes das drogas
devem ser tratados de maneira integrada de ambos os problemas.
Princípio 9: desintoxicação médica é apenas o primeiro estágio do tratamento e por
si mesma contribui pouco para mudança a longo prazo de uso de droga.
Princípio 10: o tratamento não precisa ser voluntário para ser eficaz.
Princípio 11: o possível uso de droga durante o tratamento deve ser monitorado
continuamente.
Princípio 12: programas de tratamento devem proporcionar avaliação para
AIDS/HIV, hepatite B e C, tuberculose e outras doenças infecciosas e
aconselhamento para ajudar pacientes a modificarem comportamentos de risco de
infecção.
Princípio 13: a recuperação da dependência química pode ser um processo a longo
prazo e frequentemente requer vários episódios de tratamento.
Dentre todos os princípios apresentados pelo NIDA, neste caso do Matheus
podemos nos atentar no princípio 01, onde por diversas vezes ele passou por
tratamento medicamentoso e de internamento, que não se fizeram eficazes para ele.
No princípio 03, onde faltou enfoque no relacionamento familiar, a culpa pela morte
da mãe que o abalou, onde como citados no princípio 04 e 06 poderiam flexibilizar
esse tratamento, incluindo mais aconselhamentos e terapias. No princípio 05,
podemos dizer que nas duas internações que ele finalizou o tratamento, talvez não
tivesse sido o tempo suficiente para a eficácia do mesmo. As medicações citadas no
princípio 07, também foram utilizadas e importantes para o tratamento. E por fim, o
13, onde os vários tratamentos de Matheus acarretaram em longo período e ainda
assim, sem sucesso no final.
8. TRATAMENTO
O primeiro passo para o tratamento de Mateus é a internação, a qual ele já
procurou pela segunda vez conforme é descrito em sua história. Lá, será realizada a
desintoxicação dos componentes químicos de seu organismo. Essa etapa é considerada a
mais crítica, pois o paciente recebe assistência médica durante um determinado período de
tempo — geralmente 24 horas — para a eliminação das drogas do seu organismo.
9. QUESTÕES FAMILIARES
A densidade das relações sociais, junto com uma estabilidade no trabalho,
influência diretamente o nível de integração dos indivíduos na sociedade.
Dependendo da qualidade desses vínculos, tanto no familiar/social quanto no
trabalho, o indivíduo flutua por diferentes zonas que apresentam fronteiras porosas e
dinâmicas.
O distanciamento do filho, a culpa pela morte da mãe, a responsabilidade
pela família muito jovem, a perda do pai muito cedo e problema com o álcool do
paciente foram situações que acabaram gerando conflitos internos na vida de
Matheus e viu nas drogas, uma tentativa de “escape” para as muitas
responsabilidades que vinham aparecendo. Nota-se também que, a mãe sempre foi
uma das pessoas mais presentes em sua vida e a morte dela ocasionou grande
importância para o declínio do último tratamento. O apoio que precisava da família
no tratamento também influenciou nas diversas tentativas sem sucesso que ele teve
para interromper o uso.
10. PREVENÇÃO
Cabe considerar que modelos preventivos de abordagem, do tipo redução
de danos, parecem apresentar pouco resultado nessa população de usuários. O
grande desafio é o de instituir políticas preventivas para a população sob maior risco
de contato com essa droga, que deveriam incluir programas sociais e alternativas
ocupacionais recompensadoras.
Certamente que, para serem mais efetivos, esses modelos exigem uma
disponibilização maior de recursos do poder público do que os tratamentos utilizados
para outras doenças crônicas, o que muitas vezes gera certa resistência.
Entender os riscos e as consequências negativas da utilização das drogas é
essencial para criar estratégias de prevenção da dependência química. Outra atitude
importante é tentar compreender os fatores que podem levar uma pessoa a
consumir drogas, especialmente em situações de vulnerabilidade social e emocional.
Nesse sentido, a intervenção preventiva pode ser primária, secundária ou terciária.
A prevenção primária consiste em um conjunto de ações destinadas a evitar
ou retardar o contato de pessoas com substâncias que podem causar dependência
química. Esse tipo de medida costuma ser voltada para crianças e adolescentes,
pois se trata de uma intervenção educativa e precoce.
A prevenção secundária, considerada uma extensão da primeira, visa
minimizar os riscos de desenvolvimento da dependência em pessoas que
experimentaram ou usam substâncias químicas moderadamente. Pode ser definida
como uma intervenção mais especializada e focada, pois tenta impedir a evolução
do consumo de drogas por usuários que já começaram a manifestar dificuldades em
parar de usá-las.
A prevenção terciária normalmente é feita quando a dependência química já
está instalada, visando todo o processo de tratamento. Tem como objetivos
principais incentivar o usuário a buscar ajuda de profissionais da saúde e familiares,
evitar recaídas durante a intervenção terapêutica e auxiliar na reinserção social do
indivíduo.
11. CONCLUSÃO
Como abordado durante as aulas e respectivamente neste caso, podemos
observar que nem todo tratamento se faz eficaz em todo paciente. Embora que
neste estudo não estamos trabalhando um indivíduo real, pode-se analisar que há
muitos casos semelhantes na sociedade atual, indivíduos que são recorrentes em
tratamentos de dependência e que por algum motivo tendem a apresentar
resistência aos mesmos.
Matheus apresenta praticamente todos os sintomas de dependência, as
tentativas em parar com o uso da substância, o tempo gasto em períodos de
tratamento, o não controle em conseguir parar, as atividades de lazer encerradas
pelo uso, o distanciamento do filho e da família, e ainda assim falta algo, um
estímulo para obter sucesso em seu processo de se tornar um ex usuário.
Contudo, cabe ao psicólogo auxiliar nessa demanda de aprendizagem,
autoconhecimento e redescoberta de caminhos que fazem uma lacuna na vida do
dependente, associando com uma equipe multidisciplinar que acolha e entenda a
individualidade dele, promovendo ações que visem observar que ainda há tempo
para mudança, sendo essa de muita importância e valia para ele, em contexto
pessoal e social.
12. REFERÊNCIAS
Pedrosa SM, Reis ML, Gontijo DT, Teles SA, Medeiros M. The path to crack
addiction: perceptions of people under treatment. Rev Bras Enferm [Internet].
2016;69(5):899-906. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0045