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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Instituto de Fı́sica
Departamento de Fı́sica Teórica

Tese apresentada como requisito parcial para obtenção do tı́tulo


de Doutor em Ciências

Vidro de Spins com Simetria SO(3):


Uma Abordagem de Teoria
Quântica de Campos

Carlos Magno Silva da Conceição

Orientador:
Eduardo Cantera Marino

Rio de Janeiro, 09 agosto de 2007.


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C744 da Conceição, Carlos Magno Silva
Vidro de Spins com Simetria SO(3): Uma Abordagem de Teoria
Quântica de Campos / Carlos Magno Silva da Conceição. Rio de
Janeiro: UFRJ / IF, 2007.
x, 75f.: il.: 28,5cm.
Orientador: Eduardo Cantera Marino
Dissertação (Doutorado) - UFRJ / Instituto de Fı́sica / Pro-
grama de Pós-Graduação em Fı́sica, 2007.
Referências Bibliográficas: f. 73-75.
1. Hamiltoniano de Heisenberg 2. Desordem temperada 3.
Estados coerentes de spins 4. Teoria quântica de Campos 5. Campo
médio. I. Marino, Eduardo Cantera . II. Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Instituto de Fı́sica, Programa de Pós-graduação em
Fı́sica. III. Vidro de Spins com Simetria SO(3): Uma Abordagem
de Teoria Quântica de Campos.
Aos meus pais.
i

Agradecimentos
Por todos esses anos ricos de aprendizado em fı́sica quero deixar aqui toda a minha
gratidão ao professor Eduardo Marino, que com paciência e muita dedicação me guiou
por essa selva densa, que é a fı́sica teórica, sempre mostrando que a perseverança e a
dedicação são tudo para trafegar de forma segura nessa selva.
Agradeço a todos aqueles que, com muita gentileza, me ajudaram todos esses anos,
desde a graduação, passando pelo mestrado, até o doutorado. Quero agradecer em parti-
cular aos amigos, os quais sempre estiveram presentes em todos os momentos, sendo bons
ou ruins. Em especial quero agradecer ao Paulo Wells por toda a ajuda e pelas belas
discussões de fı́sica.
Agradeço o auxı́lio da CAPES, sem o qual não poderia jamais ter me dedicado com
afinco ao presente trabalho.
E, finalmente, quero agradecer à minha famı́lia por todo o incentivo, amor e por tudo
que ela representa pra mim.
ii
iii

Resumo

A presente tese situa-se na área de aplicações de métodos de Teoria Quântica de Campos


( TQC ) no estudo de sistemas magnéticos quânticos desordenados do tipo vidros de
spins em 2 + 1 dimensões. Estudamos, em particular, o caso de um sistema de spins do
tipo Heisenberg quântico, com simetria SO(3) em duas dimensões espaciais e interação de
primeiros vizinhos, em que a desordem é introduzida através de uma distribuição gaussiana
dos parâmetros de troca. Por razões técnicas, consideramos o caso em que o centro da
gaussiana encontra-se em um valor correspondente a um acoplamento antiferromagnético.
A metodologia utilizada consiste no emprego de estados coerentes de spins para mapear
o problema em um modelo de teoria quântica de campos que é uma generalização do
modelo sigma não linear com simetria SO(3), contendo um termo de interação quártica.
Tal termo de interação aparece como conseqüência da desordem e é proporcional à largura
da gaussiana.
Após uma transformação de Hubbard-Stratonovitch, e integração funcional sobre os
graus de liberdade transversos do campo correspondente à magnetização de subrede, es-
tudamos o diagrama de fases na aproximação de campo médio.
Como resultados apresentamos um tratamento analı́tico em campo médio de um vidro
de spins com simetria contı́nua e interação de primeiros vizinhos. Obtemos analiticamente,
o diagrama de fases T × J, onde J é o centro da distribuição gaussiana de acoplamen-
tos de troca. Tal diagrama mostra a existência de uma fase paramagnética quântica e
uma fase de vidro de spins, separadas por uma curva crı́tica que é determinada explicita-
mente. Obtemos expressões analı́ticas para a susceptibilidade magnética estática e para
o parâmetro de Edwards-Anderson, respectivamente nas fases paramagnética e vidro de
spins. Mostramos que a primeira satisfaz a lei de Curie a altas temperaturas.
Descobrimos a existência de um ponto crı́tico quântico a T = 0, separando uma
fase paramagnética quântica da fase de vidro de spins. A posição de tal ponto crı́tico é
dependente da desordem através dos parâmetros da distribuição gaussiana. Mostramos a
inexistência de uma fase ordenada do tipo Néel, como ocorre no sistema puro a T = 0.
iv

Abstract

This thesis is in the area of applications of Quantum Field Theory (QFT) methods to dis-
ordered quantum magnetic systems of the spin glass type in 2+1 dimensions. We explore,
specifically, the case of a Heisenberg quantum spin system with SO(3) symmetry in two
spatial dimensions and nearest neighbors interaction. The disorder is introduced through
a gaussian distribution of exchange parameters. For technical reasons, we consider the
case in which the gaussian center has a value which corresponds to an antiferromagnetic
coupling.
The methodology of coherent spin states was used to map the problem into a model
of quantum field theory that is a generalization of a nonlinear sigma model with SO(3)
symmetry containing a quartic interaction. This interaction term is a consequence of
the disorder and is proportional to the gaussian width. After a Hubbard-Stratonovitch
transformation and functional integration on the transverse degrees of freedom of the
nonlinear sigma field, we explore the phase diagram of the system within the mean field
approximation.
The T × J phase diagram ( where J is the center of the gaussian distribution of
exchange couplings ) is obtained analytically for different values of the gaussian width.
This diagram shows the existence of a quantum paramagnetic phase and a spin glass
phase, which are separated by a critical curve that is explicitly determined. We also
obtain analytic expressions for the static magnetic susceptibility and for the Edwards-
Anderson parameter, respectively, in the paramagnetic and spin glass phases. We show
that the former satisfies Curie’s law at high temperatures.
We have discovered a quantum critical point, which separates the quantum paramag-
netic phase from the spin glass phase at T = 0. The position of this quantum critical point
depends on the disorder through the parameters of the gaussian distribution. Finally, we
show that no ordered Néel-type phase occurs as in the pure system at T = 0.
Sumário

Agradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . i
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . iii
Abstract . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . iv
Sumário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . v
Lista de Figuras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . vi
Lista de Tabelas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ix

Introdução 1

1 O Hamiltoniano de Heisenberg com Desordem 7


1.1 Variáveis estatı́sticas e o método de réplicas . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.2 Estados coerentes de spin: das variáveis quânticas para as variáveis clássicas 12
1.3 Média sobre a desordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.4 Tratamento do termo quártico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

2 O Limite Contı́nuo: desordem com predominância AF e F. 23


2.1 O limite do Contı́nuo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.1.1 O Limite do Contı́nuo: Caso Antiferromagnético . . . . . . . . . . . 24
2.1.2 O Limite do Contı́nuo: Caso Ferromagnético . . . . . . . . . . . . . 29
2.2 O tratamento da fase geométrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

3 Um Modelo de Teoria Quântica de Campos para Vidros de Spins 35


3.1 Simetrias de Réplicas e Isotropia nas Componentes SO(3) . . . . . . . . . . 37
3.2 Aproximação De Fase Estacionária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.3 A Energia Livre no Contı́nuo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

4 Diagrama de fases 45
4.1 Significado Fı́sico dos Parâmetros q e χ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
4.2 As Fases termodinâmicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
4.2.1 A Fase Paramagnética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4.2.2 A Fase Vidro de Spins . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
v
vi Sumário

5 Conclusões e considerações finais. 59

Apêndices 61

A Propriedades dos estados coerentes. 61


A.1 Estados Coerentes de Spin e Suas Propriedades . . . . . . . . . . . . . . . 61
A.2 Simetria SU(2) manifesta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

B Cálculos dos traços. 65

C Cálculo da soma de freqüências. 69

Bibliografia 73
Lista de Figuras

1.1 Representação pictórica mostrando as variáveis de spin Si e as variáveis de interação de


troca Jij . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.2 Representação pictórica do estado fundamental (a) do antiferromagnetismo e (b) do
ferromagnetismo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.3 Representação pictórica da projeção do vetor de estado, |Ωi, sobre a esfera de Bloch. . 14
1.4 Particionamento do intervalo [0, β]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.5 Algumas das infinitas histórias do vetor unitário Ω(τ ) na esfera unitária durante a
evolução em tempo euclidiano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

2.1 A rede em duas dimensões espaciais junto com a decomposição do campo Ω nos campos
n e L. Nota-se a perpendicularidade entre os campos n e L. . . . . . . . . . . . . . 25
2.2 Geometria dos estados coerentes de spins. Os estados coerentes de spin mapeiam a
esfera bidimensional sobre o plano complexo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.3 Interpretação geométrica da expressão de SB . A evolução temporal função Ω(τ, u),
define o mapeamento do retângulo 0 ≤ τ ≤ β, 0 ≤ u ≤ 1 sobre a esfera unitária, logo
SB é o ângulo sólido. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

4.1 A relação do parâmetro A com a frustração e a desordem para alguns valores de ρ̄s e
mantendo D fixo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
4.2 A relação do parâmetro A com a frustração e a desordem mantendo ρ̄s fixo e tomando
diferentes valores para D. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
4.3 Gráfico da massa m2 em função da susceptibilidade estática χ0 . . . . . . . . . . . 54
4.4 Gráfico descrevendo a relação entre os dois lados da equação (4.42). . . . . . . . . . 54
4.5 Gráfico da temperatura em função da rigidez de spin (spin stiffness) em escala normal. 56
4.6 Gráfico da temperatura em função da rigidez de spin em escala logarı́tmica. . . . . . 56

vii
viii Lista de Figuras
Lista de Tabelas

1.1 As várias formas de tratar o termo quártico usando uma variável auxiliar . 20

ix
x Lista de Tabelas
Introdução

Os sistemas sem desordem1 , tais como cristais ideais ou perfeitos, materiais antiferro-
magnéticos e ferromagnéticos uniformes, apresentam simetrias espaciais que simplificam
bastante a sua análise teórica. No entanto, na natureza não existem tais tipos de sistemas
apresentando um perfeito ordenamento em suas estruturas microscópicas. Todo sistema
real contém um certo grau de desordem que destrói as simetrias existentes levando ao sur-
gimento de novas simetrias ou a uma completa falta de simetria em nı́vel microscópico.
Isto leva à existência de falhas do limite termodinâmico para certas quantidades [ Ander-
son & Stein (1985) ], quebra de ergodicidade [ Palmer (1982) ], competição entre estados
fundamentais [ Sachdev et al (1999) ] e uma gama de outros comportamentos fı́sicos
interessantes.
Esta tese de doutorado aborda um tipo particular de comportamento fı́sico de sis-
temas com desordem denominado, de maneira geral, vidro de spins. Este nome foi cunhado
nos anos 70 para especificar um novo estado do magnetismo que, diferentemente das fases
ferromagnética e antiferromagnética, apresentava uma total ausência de ordenamento em
seu estado fundamental e diferentemente da fase paramagnética apresentava quebra de
ergodicidade [ Mydosh (1993) ].
Por vidros de spins entendemos sistemas com momentos magnéticos localizados
( spins ), nos quais os estados são caracterizados por uma desordem fixa no tempo,
onde cada par de spins vizinhos têm uma probabilidade a priori de ter uma interação
ferromagnética ou uma antiferromagnética. Portanto, nenhuma ordem convencional (
do tipo antiferromagnética ou ferromagnética ) de longo alcance pode ser estabelecida.
Isto faz com que um sistema tipo vidro de spins, constitua-se realmente em um novo
estado do magnetismo. Como conseqüência estes sistemas sofrem um tipo de transição (
freezing transition ) para um estado com um novo tipo de ordem na qual existe correlação
temporal mas não existe correlação espacial entre os spins, daı́ o nome vidro de spins,
onde a desordem magnética apresenta uma semelhança com a desordem translacional nos
1
Neste sentido desordem se refere a impurezas, que leva a uma falta de correlação espacial no estado
fundamental do sistema. No sentido mais amplo a palavra desordem está relacionada, dentro de um certo
nı́vel de escala, com a falta de correlações tanto espaciais quanto temporais. Não confundir desordem
com caos, este último conceito se referindo somente aos aspectos dinâmicos de um determinado sistema.

1
2 Introdução

arranjos atômicos de vidros ordinários.


A tentativa de compreender a fı́sica desses sistemas tem levado ao surgimento de
novas técnicas analı́ticas, experimentais e de simulação computacional, as quais têm pro-
porcionado um maior entendimento a respeito de problemas envolvendo arranjos de com-
ponentes fortemente interagentes em que a competição entre as interações leva a com-
portamentos complexos interessantes. Tais problemas não pertencem somente ao amplo
campo da fı́sica da matéria condensada, mas têm ramificações em diversas áreas do co-
nhecimento; como alguns exemplos podemos citar a biologia, a teoria da evolução, fı́sica
de altas energias e estruturas ambientais e sociais [ Rokhsar et al (1986); Kirkpatrick et al
(1983); Anderson & Stein (1985); M. Mézard et al (1987)]. Em conseqüência, a expressão
vidro de spins tomou uma interpretação muito mais ampla de forma a abarcar os sistemas
em matéria condensada apresentando comportamentos vı́treos complexos, que surgem da
combinação de desordem congelada e frustração2 , e os sistemas em outras áreas exibindo
comportamentos similares.
Como exemplos de vidros de spins em matéria condensada podemos citar algumas
ligas metálicas com impurezas magnéticas tais como CuMn ou AuF e, outros exemplos
são encontrados em materiais amorfos com interação de troca antiferromagnética mas
sem possibilidade de uma subrede, em materiais isolantes tais como Eux Sr1−x S com
0.1 < x < 0.5 e sistemas onde a desordem congelada é devida à não-cristalinidade, como
o aluminosilicato de cobalto CoO · Al2 O3 · SiO2 . Ao contrário dos vidros ordinários, os
quais são resfriados rapidamente de forma a evitar a fase cristalina que está sempre com-
petindo, os vidros de spins não possuem tal fase ordenada, sendo assim, se uma transição
de fase termodinâmica realmente existe, então a baixa temperatura a fase poderia ser
verdadeiramente uma fase desordenada, condensada e em equilı́brio. Para com-
preender melhor o que diferencia um vidro comum de um vidro de spins é necessário que
a diferença entre metaestabilidade e não-ergodicidade seja entendida.
Por metaestabilidade entendamos como sendo uma relaxação ao equilı́brio que se
estabelece de forma muito lenta. Nos vidros comuns ( Dióxido de silı́cio amorfo ) a
desordem é estabelecida através de perturbações em seu arranjo molecular que o arranca
de seu estado termodinâmico3 de energia livre mı́nima, e que corresponde a um único
estado macroscópico, que é a fase estável do dióxido de silı́cio ( SiO2 ), mais conhecido
como cristal de quartzo. Portanto, tais sistemas não estão em seu estado de equilı́brio
termodinâmico, porém se encontram em uma fase instável, caracterizando um estado
termodinâmico metaestável, cujo tempo de relaxação para o equilı́brio é muito longo, no
entanto, finito [ Binder & Stauffer (1976) ]. Quanto aos sistemas não-ergódicos, tipo vidro
de spins, não tem sentido falar em tempo de relaxação para o equilı́brio, uma vez que o
equilı́brio termodinâmico já se encontra atingido. Portanto, no equilı́brio termodinâmico
o sistema apresenta um grande número de fases estáveis cujo tempo de relaxação de uma
2
Refere-se ao conflito entre diferentes termos de interações de um Hamiltoniano, tal que não existe
uma configuração que minimize a energia de cada termo.
3
Estado caracterizado por um conjunto de parâmetros macroscópicos representando valores médios
tomados sobre microestados acessı́veis às variáveis que descrevem os graus de liberdade do sistema
3

fase para outra é infinito, ou seja, existe uma degenerescência no estado termodinâmico
do sistema, onde diferentes microestados levam a diferentes estados termodinâmicos e que
apresentam a mesma energia livre mı́nima. Isto caracteriza uma certa dependência do
sistema com respeito à sua preparação experimental.
Experimentalmente não é possı́vel distinguir um estado metaestável de um sistema
não-ergódico. O motivo reside no fato de que, na mecânica estatı́stica, a taxa na qual
as flutuações das variáveis que descrevem os graus de liberdade do sistema ocorrem, de-
pende do espectro dos tempos de relaxação τ do problema. Se o tempo de observação,
τexp , for muito maior do que o tempo de relaxação máximo, τmax , então pode-se afir-
mar, num contexto clássico, que o sistema explora todas as regiões do espaço de fase.
Dito de outra forma, a média temporal tomada sobre a observação dessas variáveis será
equivalente a uma média da mecânica estatı́stica em equilı́brio, chamada média de Gibbs
ou também média sobre ensembles, onde todos os estados microscópicos são incluı́dos de
acordo com uma certa distribuição, e neste caso dizemos que o sistema está em equilı́brio
termodinâmico completo. Entretanto, existem muitos exemplos onde estas médias não
são as mesmas. Considere, novamente, os vidros comuns ( Dióxido de silı́cio amorfo ), os
quais poderão, de acordo com a média de Gibbs, existir na forma cristalina e cuja energia
livre é a mı́nima possı́vel ( Dióxido de silı́cio na forma cristalina ) [ Palmer (1982) ]. A
estrutura amorfa observada é um estado metaestável, cuja energia livre é maior do que
a energia livre da forma cristalina, e este estado decairá em um tempo finito, apesar de
enorme, ao estado cristalino. Este decaimento, geralmente ocorre através da formação
de pequenas regiões apresentando fase cristalina, que crescem e cobrem todo o material
amorfo.
Existem alguns sistemas, onde se acredita que o tempo de relaxação máximo, τmax ,
realmente tende ao infinito, ao tomarmos o limite termodinâmico4 , neste caso dizemos
que estes sistemas são verdadeiramente não-ergódicos, e existem regiões do espaço de fase
que jamais serão exploradas pelo sistema.
Dependendo de como a desordem é imposta ao sistema, vários tipos de vidros de
spins podem surgir. No entanto, estes vários tipos se encaixam em duas grandes classes:
podemos ter vidro de spins cuja desordem é incorporada através de uma aleatoriedade na
ocupação dos sı́tios, cujo nome vamos convencionar, vidro de spins aleatórios nos sı́tios,
e vidro de spins produzidos por uma aleatoriedade nas interações magnéticas, os quais
chamaremos vidro de spins aleatórios nas ligações e que será estudado nesta tese.
Na criação de vidros de spins aleatórios por sı́tios, a desordem nos sı́tios decorre da
substituição de solutos5 magnéticos em solventes não magnéticos de forma completamente
aleatória, isto permite tratar o sistema como estatı́stico e usar distribuição de probabili-
dades gaussiana, sem qualquer perda de generalidade. Como exemplos de vidros de spins
4
Em um sistema de rede discreta corresponde ao limite N → ∞, aqui N representando o número de
sı́tios, em um sistema contı́nuo corresponde ao limite do a → 0, estando a representando o parâmetro de
rede.
5
Numa solução, componente cuja fração é muito pequena ou menor do que a do outro componente,
conhecido como solvente
4 Introdução

aleatórios por sı́tio, podemos citar o Eux Sr1−x S (um semicondutor), o La1−x Gdx Al2 (um
metal) e diversas ligas metálicas, tais como Cu1−x Mnx e Au1−x F ex , conhecidas como
vidros de spins canônicos [Mydosh (1993)].
Com o intuito de demonstrar teoricamente a possı́vel existência de uma fase vidro
de spins, Edwards e Anderson [ Edwards & Anderson (1975) ] introduziram um modelo
simples onde a desordem era imposta através da interação de troca. E dentro de uma
teoria de campo médio6 , esses autores foram capazes de demonstrar algumas propriedades
da possı́vel fase. O modelo de Edwards & Anderson consiste de um conjunto de spins
S~i sobre uma rede periódica interagindo através de uma interação de troca Jij , cujo
hamiltoniano é descrito por: X
H=− Jij S~i · S~j , (1)
(ij)

onde a soma é sobre todos os sı́tios e as variáveis Jij são independentemente distribuı́das
através de um distribuição de probabilidade P [Jij ]. Outro modelo importante e extrema-
mente estudado para vidros de spins é o modelo de Sherrington e Kirkpatrick [ Sherrington
& Kirkpatrick (1975) ] com interação de alcance infinito. Tais modelos, até hoje só foram
resolvidos analiticamente, na aproximação de campo médio, no caso Ising, com simetria
discreta e para interação de longo alcance, envolvendo todos os spins da rede [ Parisi
(1979); Binder & Young (1986) ]. No caso de interação de curto alcance (primeiros vizi-
nhos) só existem resultados de simulação numérica [ Marinari et al (2000); Arrachea &
Rozenberg (2001); Camjayi & Rozenberg (2003) ].
O presente trabalho visa a elaboração de um modelo de teoria quântica de campos
para vidros de spins que seja capaz de incorporar a desordem congelada e a frustração
na descrição de um modelo do tipo Heisenberg com simetria SO(3) em duas dimensões,
com uma distribuição gaussiana para o acoplamento de troca e considerando interações
de curto alcance, ou seja, interações entre primeiros vizinhos, analisar as propriedades
decorrentes deste modelo e estabelecer o diagrama de fases. Portanto, de forma a clarear
a compreensão em linhas gerais do presente trabalho, faz-se necessário discutir alguns
conceitos importantes e gerais relacionados ao tratamento de sistemas desordenados.
No capı́tulo 1 será discutido o papel das variáveis estatı́sticas e como elas se rela-
cionam com a estrutura macroscópica do sistema. Será mostrado como incorporar a
desordem e como estabelecer as médias estatı́sticas sobre as variáveis que a representa.
Discutiremos a energia livre em sistemas desordenados e dentro dessa discussão intro-
duziremos o método de réplicas, muito importante na mecânica estatı́stica desses sistemas.
Nesta parte, também será visto o importante papel que os estados coerentes irão desem-
penhar, tanto para a possibilidade de se estabelecer a média sobre a desordem7 quanto
para o mapeamento da teoria microscópica discreta em uma teoria quântica de cam-
6
A principal idéia da teoria de campo médio é refazer todas as interações sobre um corpo por uma
interação média ou efetiva que decorre dos demais corpos. Isto reduz qualquer problema de muitos corpos
em um problema efetivo de um corpo.
7
Esta média é denominada também de média configuracional e diferentemente da média quântico-
térmica se aplica somente a sistemas desordenados.
pos, objetivo principal da presente tese. Estudaremos a questão da falta de invariância
translacional no hamiltoniano em questão e será mostrado que o cálculo da média so-
bre a desordem da função de partição do sistema, na formulação do método de réplicas,
recuperará a invariância translacional ao custo de incorporar uma interação quártica.
Utilizando um campo auxiliar de Hubbard-Stratonovitch, nos será possı́vel eliminar essa
interação quártica, transformando-a em trilinear.
O limite do contı́nuo é feito no capı́tulo 2. Veremos que o mapeamento no contı́nuo
depende do valor do centro da gaussiana e, conseqüentemente, tal dependência irá levar
a uma teoria quântica para um sistema antiferromagnético efetivo que difere de uma
teoria quântica para o caso ferromagnético efetivo. Veremos também como a topologia
da fase geométrica, fruto da interferência quântica entre os estados coerentes, no caso
antiferromagnético dará origem ao termo cinético.
No capı́tulo 3 é feita a integração funcional sobre os graus de liberdade transversos
do campo correspondente à magnetização e, de forma a calcular o determinante multi-
funcional que decorre dessa integração funcional, introduzimos um ansatz que possibilita
calcular exatamente o determinante funcional no espaço de réplicas. Neste capı́tulo obte-
mos a densidade de energia livre.
A termodinâmica do sistema é analisada no capı́tulo 4, onde é explicado o significado
fı́sico dos parâmetros envolvidos e é feito um estudo do diagrama de fases, através das
equações que minimizam a energia livre.
As conclusões, os resultados obtidos e as perspectivas futuras são apresentadas no
capı́tulo 5.
6 Introdução
Capı́tulo

O Hamiltoniano de Heisenberg com


Desordem

As transições de fase que ocorrem em diversos sistemas da natureza consistem em um dos


mais fascinantes campos de estudo da fı́sica, tanto do ponto de vista experimental quanto
teórico. Existem transições de fase que surgem de flutuações devidas exclusivamente às
variações na temperatura, as quais são conhecidas como transições de fase térmicas ou
clássicas, no entanto, existem transições de fase, chamadas de transições de fase quânticas,
que ocorrem a temperatura zero e que surgem exclusivamente de flutuações quânticas
decorrentes do princı́pio da incerteza de Heisenberg. Nessas transições quânticas, o cruza-
mento através de um contorno de fase1 significa que o estado quântico fundamental do
sistema sofreu alguma mudança profunda em sua natureza. Esta mudança é resultado
de uma variação em algum parâmetro do hamiltoniano do sistema, tal como a constante
de acoplamento, dopagem, campo magnético, desordem entre outros e não devido a uma
variação na temperatura.

1.1 Variáveis estatı́sticas e o método de réplicas


Na mecânica estatı́stica é necessário distinguir as variáveis estatı́sticas intrı́nsecas, que
descrevem os graus de liberdade intrı́nsecos do sistema, tais como as variáveis de spin S~i ,
das variáveis estatı́sticas extrı́nsecas, que medem o grau de desordem imposta de fora
ao sistema, como exemplo de tais variáveis podemos citar as variáveis Jij , associadas às
interações de troca em sistemas magnéticos [ Binder & Young (1986); Goldenfeld (1992) ].
A figura (1.1) mostra uma representação pictórica dessas variáveis. No caso de um sistema
sem desordem, também chamado de sistema puro, Jij é uma constante que independe dos
1
linha que separa duas regiões do diagrama de fase que possuem comportamentos termodinâmicos
distintos. Considere como exemplo a linha que marca a transição sólido-lı́quido que ocorre na água.

7
8 1 O Hamiltoniano de Heisenberg com Desordem

sı́tios, entretanto em sistemas sujeitos a uma desordem, essas variáveis deixam de ser fixas
e passam a variar de sı́tio para sı́tio. Enquanto as variáveis extrı́nsecas se referem somente
aos sistemas desordenados por imposição externa de impurezas, as variáveis estatı́sticas
intrı́nsecas são inerentes a todos os sistemas de mecânica estatı́stica.

Si Jij Sj
X X

X X X

X X

X X X

X X

Si
X Jij
Figura 1.1: Representação pictórica mostrando as variáveis de spin Si e as variáveis de
interação de troca Jij .

Em geral as variáveis estatı́sticas intrı́nsecas flutuam muito rapidamente durante o


tempo de observação sobre o sistema. Isto está relacionado com a ergodicidade. Esta
propriedade consiste no fato de que, dada uma condição de vı́nculo macroscópico, ou que
uma condição de equilı́brio termodinâmico seja satisfeita, o sistema durante um certo
tempo ( tempo de observação ), passa por todos os estados microscópicos acessı́veis a
esses graus de liberdade intrı́nsecos [ Palmer (1982) ].
Quanto às variáveis estatı́sticas extrı́nsecas, estas podem ter um tempo de flutuação
diferente, dessa forma é necessário comparar o tempo de flutuação tı́pico dessas variáveis,
representado aqui por τdes , com o tempo de observação sobre o sistema, o qual vamos de-
nominar τexp . Se τdes ≪ τexp , então as variáveis estatı́sticas extrı́nsecas atingem o equilı́brio
térmico e podem ser tratadas de forma semelhante às variáveis estatı́sticas intrı́nsecas,
mencionadas anteriormente, neste caso nenhuma quebra de ergodicidade ocorre. Este
processo é conhecido na literatura como média recozida2 (annealed average). Para este
caso a energia livre do sistema, tomando-se a média sobre a desordem, fica dada por:

F = −kB T ln[Z{Jij }]av , (1.1)

onde notamos que as médias sobre as variáveis intrı́nsecas e sobre as variáveis extrı́nsecas
são feitas em pé de igualdade. Z{Jij } é a função de partição do sistema, a qual é descrita
2
Expressão decorrente da indústria de produção de vidros. Durante a sua fabricação, o vidro é sujeito a
um arrefecimento lento (recozimento) que liberta o vidro de tensões internas e permite que as operações
de corte e manufatura sejam feitas de forma extremamente maleável.
1.1. Variáveis estatı́sticas e o método de réplicas 9

pela equação abaixo


b ij , Sbi }/kB T ],
Z{Jij } = Tr exp[−H{J (1.2)
{Sbi }

sendo o acento circunflexo usado para representar os operadores quânticos e conseqüen-


temente diferenciá-los das variáveis clássicas.
Note que estamos admitindo a desordem, aqui representada por Jij , como sendo uma
grandeza clássica, por conseguinte, descrita por variáveis clássicas, porém, é importante
enfatizar a possibilidade dessas variáveis serem descritas por operadores quânticos [ Vajk
et al (2002) ].
No caso oposto, quando o tempo de flutuação das variáveis relacionadas à desordem,
for muito maior do que o tempo de observação do sistema, ou seja, τdes ≫ τexp , e devido ao
fato de não mais poder diferenciar metaestabilidade da quebra de ergodicidade [ Palmer
(1982) ], o processo de mediar sobre a desordem tem de ser agora estabelecido sobre um
observável fı́sico, neste caso sobre a energia livre F e não sobre a função de partição como
descrito anteriormente [ Brout (1959) ].
Dessa forma a energia livre mediada sobre a desordem fica dada pela expressão
F = −kB T [ln Z{Jij }]av . (1.3)
Este processo de mediar sobre a desordem é conhecido na literatura como média tem-
perada3 ( quenched average ), na qual as variáveis aleatórias extrı́nsecas tomam valores
únicos e fixos enquanto as variáveis estatı́sticas intrı́nsecas flutuam.
Existe uma grande dificuldade em se calcular diretamente a média temperada, o
motivo reside no fato de não ser possı́vel calcular uma integral funcional ( soma sobre
todas as configurações possı́veis da variável em questão ) de um logaritmo de variáveis
aleatórias. Entretanto, esta dificuldade de calcular a média temperada é contornada uti-
lizando um método padrão em mecânica estatı́stica conhecido como método das réplicas,
o qual repousa no uso da relação exata xn = en ln x [ Edwards (1970,1971); Edwards &
Anderson (1975); Lin (1970); Binder & Young (1986) ],
Zn − 1
ln Z = lim . (1.4)
n−→0 n
Com isso a energia livre mediada sobre a desordem, toma a seguinte forma:
1
F = −kB T lim ([Z n ]av − 1). (1.5)
n n−→0
n
Sendo a função de partição, Z , escrita como um produto de réplicas
n
" n
#
Y X
Z n {Jij } = Zα {Jij } = Tr exp −β b ij , Sbiα } ,
H{J (1.6)
α=1 {Sbiα } α=1
3
Termo vindo da indústria e está relacionado ao fato de que na produção de vidros, estes são sujeitos
a tratamentos quı́micos ou térmicos de reforço ( têmpera ), que aumentam significativamente a sua
resistência mecânica e a sua resistência ao choque térmico; é através desse processo industrial que são
fabricados os vidros de alta rigidez.
10 1 O Hamiltoniano de Heisenberg com Desordem

onde β = 1/kB T e α é o ı́ndice que representa as réplicas. No que se segue vamos


considerar, por questão de conveniência, o sistema de unidades em que kB = 1.
Em um sistema desordenado Zα é a função de partição de uma única réplica do
sistema e apresenta dependência com a desordem. É importante mencionar que todas
as n-réplicas possuem o mesmo tipo de desordem, porém não existe nenhuma interação
entre elas. O surgimento da interação entre essas n-réplicas, somente ocorre após efetuar
a média sobre a desordem.
Nesta tese considera-se o hamiltoniano de Heisenberg isotrópico com simetria SO(3)
sobre uma rede quadrada em duas dimensões espaciais, descrevendo sistemas magnéticos
gerais na ausência de campos magnéticos externos, cuja expressão é:
X
b=−
H bi · S
Jij S bj , (1.7)
hiji

onde hiji significa soma sobre os primeiros vizinhos. No que segue, estará subentendido
que os sı́mbolos em negrito representam grandezas vetoriais. O estado fundamental do
sistema descrito pelo hamiltoniano (1.7) possui ordenamento ferromagnético se Jij > 0
ou ordenamento antiferromagnético se Jij < 0.
Embora o hamiltoniano no caso ferromagnético difira do hamiltoniano no caso an-
tiferromagnético por apenas uma mudança global na constante de acoplamento Jij , as
diferenças existentes em suas propriedades fı́sicas são bem acentuadas. Por exemplo, a
fenomenologia apresentada pelo hamiltoniano, H, b antiferromagnético depende fortemente
da morfologia da rede subjacente, onde neste caso tem-se uma rede bipartite, isto é, uma
rede que pode ser segmentada em duas redes que se interpenetram A e B ( Figura 1.2a
). Dentro dessa morfologia os estados fundamentais do hamiltoniano de Heisenberg an-
tiferromagnético adotam, na ausência de desordem, uma configuração de spin, conhecida
como estado de Neél, onde todos os spins vizinhos são antiparalelos.
Do ponto de vista clássico os estados fundamentais de um sistema ferromagnético (
antiferromagnético ), varrem um variedade de degenerescência contı́nua4 , na qual os spins
estão alinhados paralelamente ( antiparalelamente ), ao longo de direções arbitrárias e
qualquer particular configuração de spins definindo um estado fundamental tem uma sime-
tria mais baixa do que o hamiltoniano. Dentro deste contexto clássico a quebra espontânea
de uma simetria contı́nua é acompanhada pelo aparecimento de graus de liberdade de
baixa energia conhecidos como modos de Goldstone. São essas excitações, conhecidas
como ondas de spin, que governam a estabilidade do estado fundamental clássico e que
podem ser quantizadas [ Tsvelik (2003) ] .
Nos sistemas desordenados, a desordem é imposta ao sistema, independentemente
em cada par de sı́tios, através de uma distribuição gaussiana centrada em torno de um
valor médio J¯ij [ Edwards & Anderson (1975); Sherrington & Kirkpatrick (1975); Binder
4
Uma infinidade de configurações de spins apresentando a mesma energia em T = 0 ( temperatura
nula ).
1.1. Variáveis estatı́sticas e o método de réplicas 11

Antiferromagnetismo Ferromagnetismo

(a) (b)
Figura 1.2: Representação pictórica do estado fundamental (a) do antiferromagnetismo
e (b) do ferromagnetismo.

& Young (1986) ]


 
1 (Jij − J¯ij )2
P [Jij ] = p exp − . (1.8)
2π(△Jij )2 2(∆Jij )2

No entanto, deve-se ter muito cuidado no processo de mediar sobre as variáveis Jij . O
motivo da cautela reside no fato de que sendo as variáveis Jij variáveis clássicas, bastaria
tomar a média de forma padrão, ou seja,

 
Z Y
[Z n ]av =  dJij P [Jij ] Z n {Jij }. (1.9)
(ij)

A equação (1.9) é correta, no entanto, não conseguimos calculá-la, pois no hamiltoniano


existe uma soma de operadores de spin, os quais não são fatorados de forma simples na
exponencial. Dito de outra forma não é possı́vel escrever

X Y
exp{ Ôp } = exp{Ôp }, (1.10)
p p

a não ser que todos os operadores comutem entre si, o que não é o caso do hamiltoniano
descrito pela equação (1.7). Portanto, para que a média sobre a desordem seja estabele-
cida, é necessário utilizar estados coerentes de spin a fim de substituir os operadores por
variáveis clássicas.
12 1 O Hamiltoniano de Heisenberg com Desordem

1.2 Estados coerentes de spin: das variáveis quânticas


para as variáveis clássicas
De forma a explorar o espectro de excitações de baixa energia5 do sistema, é necessário
que implementemos uma forma de tratar com os operadores quânticos na equação (1.7).
Antes de efetuar a média sobre as variáveis Jij é conveniente que os operadores
b sejam substituı́dos por variáveis clássicas (
quânticos, ou seja, os operadores de spin, S,
números clássicos ). Este procedimento é feito através de uma técnica que faz uso dos
estados coerentes de spins e suas propriedades [ Radcliffe (1971); Arecchi et al (1972) ],
ver também apêndice A para maiores detalhes.
De forma a justificar o uso desses estados coerentes, vamos considerar o princı́pio
da incerteza de Heisenberg para analisar o papel das flutuações dos spins em cada sı́tio.
Seja ∆Sia o desvio padrão que mede a flutuação média das componentes dos spins em
torno do valor esperado de spin em um sı́tio i. Ele é definido como,
q
a
∆Si = h(Ŝia − hŜia i)2 i. (1.11)

Em mecânica quântica, esse desvio padrão é referido como a incerteza na orientação da


componente a do spin no sı́tio i. Da forma geral que define o princı́pio da incerteza de
Heisenberg, temos
1 1
∆Sia ∆Sjb ≥ |h[Ŝia , Ŝib ]i| = ǫabc |hŜic i|, (1.12)
2 2
logo, do fato de que |hŜia i| ≤ S, nos é possı́vel encontrar a incerteza relativa, dada por

∆Sia ∆Sib S S≫1


≥ 2 −→ 0, (1.13)
S S S
isto é, para S ≫ 1 as flutuações quânticas das componentes de spin em torno de seus
valores esperados, se tornam extremamente pequenas, de tal forma que podemos tratá-las
como componentes do momento magnético clássico. No entanto, existem fortes indı́cios
que suportam a afirmativa de que essa aproximação permaneça válida para S = 1/2 [
Chakravarty et al (1989); Manousakis (1991); Sachdev (1999) ].
É necessário mencionar que o sistema fı́sico consiste de N -sı́tios e n-réplicas, por-
tanto, admitindo um espaço de Hilbert para cada sı́tio e para cada réplica, vistos como
graus de liberdade independentes, tem-se que o espaço de Hilbert do sistema é descrito
pelo produto direto:

Hsistema ≡ Hs = Hn ⊗ HN
5
As excitações são de baixa energia pelo motivo de toda a análise ser feita sobre flutuações decorrentes
de pequenas perturbações do sistema em torno do seu estado fundamental. Esta idéia é análoga a que
ocorre no estudo do pêndulo, em que só é possı́vel descrever o sistema de forma adequada e simples, isto
é, sem se preocupar com efeitos caóticos, se considerarmos que os valores do ângulo de deslocamento da
posição de equilı́brio sejam muito pequenos, de tal maneira que seja válida a aproximação sin θ ≈ θ.
1.2. Estados coerentes de spin: das variáveis quânticas para as variáveis clássicas 13

onde Hn descreve o espaço de Hilbert das n-réplicas e é dado pelo produto direto do
espaço de Hilbert de cada réplica do sistema, ou seja,
n
O
Hn = Hα = H1 ⊗ H2 ⊗ . . . ⊗ Hn .
α=1

HN descreve o espaço de Hilbert dos N -sı́tios e é descrito pelo seguinte produto direto
N
O
HN = Hi = H1 ⊗ H2 ⊗ . . . ⊗ HN .
i=1

Uma vez que, o traço em (1.6) independe da base sobre a qual é calculado, é possı́vel
definir um conjunto de estados quânticos supercompletos6 |{Ω}i, conhecidos na literatura
como estados coerentes de spin, os quais são definidos da seguinte maneira:
N O
O n
|{Ω}i ≡ |Ωαi i.
i=1 α=1

onde |Ωαi i representa o estado coerente de spin em uma única réplica (α) e em um único
sı́tio (i); a medida de integração é dada pela expressão
Y n 
N Y   N Y
Y n
2S + 1
dµ(Ω) = dΩαi ≡ dµαi (Ω).
i=1 α=1
4π i=1 α=1

Os vetores Ω se encontram localizados em uma esfera de raio unitário, a qual surge


do mapeamento estereográfico do espaço de Hilbert sobre a esfera de Bloch, conforme
representado na figura (1.3) ( veja também o apêndice A para maiores detalhes).
Entre as muitas propriedades destes estados coerentes, duas são de extrema relevância
para este trabalho:
R
completeza: dµ(Ω)|{Ω}ih{Ω}| = 1
(1.14)
b b 2
quântico-clássico: h{Ω}|Si · Sj |{Ω}i = S Ωi · Ωj , com i 6= j.
Pode-se, com o uso dessas propriedades, escrever a função de partição, equação
(1.6), na forma
Pn b ij ,Sbα }
Z n {Jij } = Tr e−β α=1 H{J i

{Sbiα }
 
Z n X
X
= dµ(Ω)h{Ω}| exp −β b α {Jij , Sbα }|{Ω}i,
H (1.15)
i
α=1 hiji

6
Um conjunto de estados é dito supercompleto se possuir um subconjunto completo, logo um tal
conjunto não pode possuir todos os seus elementos ortogonais entre si.
14 1 O Hamiltoniano de Heisenberg com Desordem

Esfera de Bloch
W
W W
W
W W
y

Espaço de Hilbert
|W

Figura 1.3: Representação pictórica da projeção do vetor de estado, |Ωi, sobre a esfera
de Bloch.

onde
b α {Jij , Sbα } = −Jij S
H bα · S
bα . (1.16)
i i j

Ao tratar de exponenciais cujos expoentes consistem de um soma de operadores,


como descrito na expressão (1.15) anterior, faz-se necessário o uso da fórmula de Trotter
[ Trotter (1959); Suzuki (1976) ]. De acordo com a mesma, para um operador A, b
" p #m
Pp h im Y b
b b b b
e k=1 Ak = lim eA1 /m eA2 /m · · · eAp /m ≡ lim eAk /m . (1.17)
m→∞ m→∞
k=1

Levando em consideração tanto a soma nas réplicas quanto a soma sobre os sı́tios primeiros
vizinhos, pode-se escrever a equação (1.15), da seguinte maneira
 m
Z n Y
Y β bα bα
Z n {Jij } = lim dµ(Ω)h{Ω}|  e− m H {Jij ,Si }  |{Ω}i. (1.18)
m→∞
α=1 hiji

Relembrando que os operadores S b atuam em cada sı́tio e em cada réplica de forma


independente, ou seja, existe um espaço de Hilbert para o sistema que consiste de um pro-
duto direto de espaços de Hilbert para cada grau de liberdade, logo tem-se rigorosamente
que a expressão (1.18) pode ser escrita como:
n Y
Y Z h β α i 
n α α −mH b {Jij ,Sbα } m α
Z {Jij } = lim dµi (Ω)hΩi | e i |Ωi i . (1.19)
m→∞
α=1 hiji
1.2. Estados coerentes de spin: das variáveis quânticas para as variáveis clássicas 15

Por questão de conveniência e simplicidade algébrica façamos a seguinte definição,


n Y
Y
n
Z {Jij } = [zα {Jij }] (1.20)
α=1 hiji

onde
Z h β α i
b bα m
zα {Jij } = lim dµαi (Ω)hΩαi | e− m H {Jij ,Si } |Ωαi i. (1.21)
m→∞

Ao utilizar a fórmula de Trotter, observa-se o surgimento de um particionamento no


intervalo de [0, β], com uma partição mı́nima dada por ε ≡ β/m, que tende a zero quando
m tende ao infinito, a figura (1.4) mostra um esboço desse particionamento.
e
t=00 t =b
m

Figura 1.4: Particionamento do intervalo [0, β].

Reescrevendo a equação (1.21) de outra maneira, tem-se


Z h i h i
bα bα bα bα
zα {Jij } = lim dµαi,0(Ω)hΩαi,0 | e−εH {Jij ,Si } · · · e−εH {Jij ,Si } |Ωαi,m i, (1.22)
m→∞
| {z }
m-vezes
onde, por questão de conveniência, fez-se dµαi (Ω) = dµαi,0(Ω) = dµαi(Ω(τ0 = 0)), junto
com as definições

|Ωαi,0 i ≡ |Ωαi (τ0 = 0)i

|Ωαi,m i ≡ |Ωαi (τm = β)i.

Veja que estes vetores de estado satisfazem a seguinte condição de contorno:

|Ωαi (τ0 = 0)i ≡ |Ωαi (τm = β)i (1.23)

Intercalando a relação de completeza em cada um dos termos na equação (1.22),


obtém-se
! m−1 !
YZ
m−1 Y h
b α b α
i
zα {Jij } = lim dµαi,k hΩαi,k | e−εH {Jij ,Si } |Ωαi,k+1i , (1.24)
m→∞
k=0 k=0

tendo em mente que dµαi,k ≡ dµαi (Ω(τk = kε)) e que |Ωαi,k i ≡ |Ωαi (τk = kε)i.
16 1 O Hamiltoniano de Heisenberg com Desordem

Levando em consideração o fato de que ε é um comprimento infinitesimal, observa-se


que o termo no segundo parênteses da expressão anterior pode ser escrito como:
h i  
bα b α + O(ε2 ) |Ωα i
hΩαi,k | e−εH |Ωαi,k+1i = hΩαi,k | 1 − εH i,k+1

b α |Ωα i
≈ hΩαi,k |Ωαi,k+1i − εhΩαi,k |H i,k+1
" #
α bα α
hΩ i,k | H |Ω i,k+1 i
= hΩαi,k |Ωαi,k+1i 1 − ε α α
, (1.25)
hΩi,k |Ωi,k+1i

onde, por simplicidade, estamos usando a seguinte notação:


bα ≡ H
H b α {Jij , Sbα} = −Jij S
bα · S
bα . (1.26)
i i j

Seja agora a identidade


 
|Ωαi,k+1i − |Ωαi,k i
hΩαi,k |Ωαi,k+1i =1+ εhΩαi,k | . (1.27)
ε
Fazendo uso da definição
|Ωαi,k+1i − |Ωαi,k i |Ωα (τk+1 )i − |Ωαi (τk )i
∆ε |Ωαi,k i = ≡ i , (1.28)
ε τk+1 − τk
é possı́vel escrever a identidade como sendo

hΩαi,k |Ωαi,k+1i = 1 + εhΩαi,k |∆ε |Ωαi,k i. (1.29)

Sendo ε um comprimento infinitesimal, pode-se, sem perda de generalidade, escrever a


identidade acima como
 
hΩαi,k |Ωαi,k+1i = exp εhΩαi,k |∆ε |Ωαi,k i . (1.30)

A partir da definição (1.28) estabelece-se que


b α |Ωα i ≈ εhΩα |H
εhΩαi,k |H b α |Ωα i + O(ε2 ). (1.31)
i,k+1 i,k i,k

Finalmente tem-se, fazendo a substituição dos resultados expressos nas equações (1.30) e
(1.31) na expressão (1.25), o seguinte resultado:
h i
|Ωαi,k+1i ≈ e[εhΩi,k |∆ε |Ωi,k i−εhΩi,k |H |Ωi,k i]
α −εHbα α α α bα α
hΩi,k | e (1.32)

A partir do resultado acima, obtém-se que a função de partição, considerando uma


única réplica e um único sı́tio, é dada por:
! !
YZ
m−1 Xh
m−1 i
zα {Jij } = lim dµαi,k exp ε b α |Ωα i
hΩαi,k |∆ε |Ωαi,k i − hΩαi,k |H (1.33)
i,k
m→∞
k=0 k=0
1.3. Média sobre a desordem 17

Substituindo a equação (1.33) na expressão (1.20), e tomando o limite (m → ∞)


resulta que a função de partição passa a ser descrita por:
Z Rβ
Z {Jij } = D[dµ(Ω)]eSB − 0 dτ H(τ )
n
(1.34)

onde
n X
X
H(τ ) = b α {Jij , Sbiα }|Ωαi (τ )i,
hΩαi (τ )|H (1.35)
α=1 hiji

e !
Z YZ
n Y m−1
Y
D[dµ(Ω)] ≡ lim dµαi,k (1.36)
m→∞
α=1 i k=0

O termo SB é dado pela fórmula


n XZ
X β
d α
SB = dτ hΩαi (τ )| |Ω (τ )i, (1.37)
α=1 i 0 dτ i

este termo é chamado de fase geométrica [ Berry (1984) ] e está relacionado à interferência
quântica dos estados coerentes e é responsável pelos aspectos cinéticos e topológicos do
sistema.
Tendo em mente a definição (1.26) e fazendo uso da segunda propriedade em (1.14)
a qual relaciona valores esperados de operadores quânticos com vetores na esfera de Bloch,
tem-se
n X
X
2
H(τ ) = −S Jij Ωαi (τ ) · Ωαj (τ ). (1.38)
α=1 hiji

Logo, com o uso dos estados coerentes foi possı́vel substituir os operadores quânticos
em variáveis clássicas, porém é importante notar que todo o tratamento envolvido na des-
crição do sistema é ainda quântico, pois todos os aspectos quânticos estão agora contidos
na integração funcional, que se estende sobre todas as possı́veis histórias e não apenas
sobre a história dada pelas equações clássicas do movimento.

1.3 Média sobre a desordem


Na maior parte de nossos estudos de termodinâmica, consideramos sistemas espacialmente
uniformes. Em nı́vel microscópico todos os sistemas reais são não uniformes. Porém, suas
propriedades macroscópicas são dadas pelos valores médios de funções operatoriais Â(Ŝ)
dos graus de liberdade Ŝ = {Ŝi } e estas quantidades mediadas estatı́sticamente são geral-
mente independentes de um particular sı́tio i. Então dizemos que o sistema termodinâmico
é espacialmente uniforme e os valores médios das quantidades termodinâmicas têm a pro-
priedade de invariância translacional. Uma vez que as variáveis Jij no hamiltoniano dado
18 1 O Hamiltoniano de Heisenberg com Desordem

W(t=0)

Figura 1.5: Algumas das infinitas histórias do vetor unitário Ω(τ ) na esfera unitária
durante a evolução em tempo euclidiano

pela equação (1.7) alternam aleatoriamente seus valores entre Jij > 0 e Jij < 0, vemos
que existe uma total falta de simetria translacional e o hamiltoniano passa a depender do
sı́tio i. No que se segue veremos como é feita a média estatı́stica sobre estas variáveis e o
que muda na estrutura do hamiltoniano após esta média ser estabelecida.
Com a substituição dos operadores quânticos por variáveis clássicas, estabelecido
anteriormente, torna-se possı́vel calcular a média sobre a desordem da equação (1.6), ou
seja, a média sobre as configurações da variável Jij dada pela equação (1.9). Entretanto,
é importante ter em mente que a distribuição é válida em cada par de sı́tios independen-
temente dos outros pares, ou seja, para cada par de sı́tios existe uma distribuição P [Jij ].
Portanto, com a expressão de Z n {Jij } dada pela equação (1.34) e (1.38), fazendo uso da
distribuição gaussiana (1.8) na equação (1.9)

Z Y Z Pn Rβ

n SB S2 dτ Jij Ωα α
i (τ )·Ωj (τ )
[Z ]av = D[dµ(Ω)]e dJij P [Jij ]e α=1 0

hiji
 2
J¯ij

Z Y e −
2(∆Jij )2
Z
2 
= D[dµ(Ω)]eSB p dJij e−aij Jij +bij Jij  (1.39)
hiji
2π(∆Jij )2

onde
1
aij = (1.40)
2(∆Jij )2
e
n Z β
J¯ij 2
X
bij = +S dτ Ωαi (τ ) · Ωαj (τ ). (1.41)
(∆Jij )2 α=1 0
1.4. Tratamento do termo quártico 19

Efetuando a integração sobre Jij , obtém-se o seguinte resultado


Z
[Z ]av = D[dµ(Ω)]eSB −Hef (n,Ω) ,
n
(1.42)

onde a dinâmica do sistema passa a ser descrita pelo hamiltoniano efetivo


Xn XZ β
Hef (n, Ω) = − S 2
dτ J¯ij Ωαi (τ ) · Ωαj (τ )
α=1 hiji 0

n Z
!2
S4 X X β
− (∆Jij )2 dτ Ωαi (τ ) · Ωαj (τ ) , (1.43)
2 α=1 0
hiji

junto com a fase geométrica (1.37). Note que Hef (n, Ω) formalmente não contém mais
qualquer tipo de desordem sendo, portanto, translacionalmente invariante7 [ Sherring-
ton & Kirkpatrick (1975); Binder & Young (1986) ]. Entretanto observa-se que a não-
trivialidade associada à desordem é representada pelo termo quártico. Veja que este termo
se anula para ∆Jij → 0, o que equivale a remover a desordem.

1.4 Tratamento do termo quártico


É possı́vel eliminar o termo quártico introduzindo uma variável auxiliar, através de uma
transformação de Hubbard-Stratonovitch [ Hubbard (1959) ]. No entanto, de forma que tal
procedimento possa ser efetuado é necessário transformar a soma restrita aos primeiros
sı́tios vizinhos em uma soma sobre todos os sı́tios. O motivo, reside na aplicação da
seguinte expressão formal de integração
   
Z
1X 1X X
exp  bi Aij bj  = Dxi exp − xi (A−1 )ij xj + bi xi  , (1.44)
2 2 i
(ij) (ij)

ou    
Z
1X 1X X
exp  bi Aij bj  = Dxi exp − xi Aij xj + bi Aij xj  . (1.45)
2 2
(ij) (ij) (ij)

onde (ij) significa soma sobre todos os sı́tios da rede. É possı́vel transformar a soma
restrita aos primeiros vizinhos hiji, em uma soma sobre todos os sı́tios, através da matriz
de conectividade, cuja definição é:

1; se i e j são primeiros vizinhos
Kij = (1.46)
0; se i e j diferentes de primeiros vizinhos.
A constante de acoplamento efetiva J¯ij , que descreve o valor médio que as constantes de acoplamento
7

podem assumir em cada par de sı́tios, não pode alternar aleatoriamente entre valores negativos e positivos.
20 1 O Hamiltoniano de Heisenberg com Desordem

Tabela 1.1: As várias formas de tratar o termo quártico usando uma variável auxiliar

Variável auxiliar Espaço Tempo Réplicas Componentes SO(3)


Qij não local constante não acopladas independentes
Qαβ ′
i,ab (τ, τ ) local não local acopladas dependentes
αβ
Qij,ab (τ, τ ′ ) não local não local acopladas dependentes

Com isso temos    


1X 1X
exp  bi bj  = exp  bi Kij bj  , (1.47)
2 2
hiji (ij)

Por questão de simplicidade vamos admitir a constância no desvio padrão da dis-


tribuição de probabilidade para a variável de acoplamento Jij em cada sı́tio, logo, ∆Jij =
∆J = constante.
Existem três possibilidades para fazer o desacoplamento do termo quártico, as quais
estão relacionadas com a introdução de variáveis auxiliares. Na tabela (1.4) estão dis-
postas todas essas possibilidades. No estudo de sistemas vidro de spins a correlação
temporal de spins no mesmo ponto do espaço, representada pelo parâmetro de ordem
de Edwards-Anderson (EA) [ Edwards & Anderson, (1975) ] é que desempenha um pa-
pel relevante. Uma vez que Qαβ ′
i,ab (τ, τ ) é uma variável local no espaço e não local no
tempo, esse desacoplamento parece ser o mais adequado ao surgimento do parâmetro de
Edwards-Anderson (EA) o qual é o parâmetro de ordem para um sistema vidro de spin.

qEA = lim [hŜi (0) · Ŝi (t)iT ]av (1.48)


t→∞

A partir da expressão (1.45) podemos escrever a identidade


 !2 
4 X
2 X n Z β
S (∆J)
exp  Kij dτ Ωαi (τ ) · Ωαj (τ )  =
2 α=1 0
(ij)

Z 4 2 Z Z X  αβ
S (∆J)
DQ exp − dτ dτ ′ Qi,ab (τ, τ ′ )Kij Qαβ ′
j,ab (τ, τ ) (1.49)
2
(ij)
i
−2Ωαi,a (τ )Ωβi,b (τ ′ )Kij Qαβ ′
j,ab (τ, τ ) .

Por conseguinte
Z
n
[Z ]av = D[dµ(Ω)]DQeSB −Hef (n,Ω,Q), (1.50)
1.4. Tratamento do termo quártico 21

sendo o hamiltoniano efetivo agora dado por:


n XZ
X β
Hef (n, Ω, Q) = −S 2
dτ J¯ij Ωαi (τ ) · Ωαj (τ )
α=1 hiji 0
Z Z X
S 4 (∆J)2
+ dτ dτ ′ Qαβ ′ αβ ′
i,ab (τ, τ )Qj,ab (τ, τ ) (1.51)
2
hiji
Z Z X
− S 4 (∆J)2 dτ dτ ′ Ωαi,a (τ )Qαβ ′ β ′
j,ab (τ, τ )Ωi,b (τ ).
hiji

A fase geométrica SB na equação (1.50) é um termo topológico e, conforme mencionado


anteriormente, no capı́tulo 2 fazemos uma análise geral desse termo.
De acordo com o sinal de J¯ij , teremos caracterı́sticas fı́sicas diferentes e tal como
ocorre em sistemas antiferromagnéticos e ferromagnéticos sem desordem, isto influenciará
no mapeamento do contı́nuo.
É uma tarefa difı́cil, mesmo em casos extremamente simples, partir de uma descrição
microscópica realista de um determinado sistema considerando interações reais e posteri-
ormente, dentro dessa descrição realista, tomar a média sobre a desordem. No entanto,
a experiência geral mostra que em quase todos os tipos de análise de fenômenos coope-
rativos, é mais interessante e útil iniciar com modelos fornecendo um tipo de descrição
grosseira mas que capture os pontos essenciais da fı́sica em questão.
22 1 O Hamiltoniano de Heisenberg com Desordem
Capı́tulo

O Limite Contı́nuo: desordem com


predominância AF e F.

No estudo de transições de fase, a distinção entre fases é expressa por uma ou mais quan-
tidades termodinâmicas, que denominamos parâmetros de ordem. Desta forma, podemos
caracterizar, por exemplo, fases ferromagnéticas ( F ), antiferromagnéticas ( AF ), para-
magnéticas ( PM ) e vidro de spins ( VS ). O valor médio da distribuição dos parâmetros
de troca, J¯ij , irá definir a natureza do modelo efetivo, obtido após fazer a média sobre
Jij .

2.1 O limite do Contı́nuo


Esta seção está organizada em duas partes. Na primeira, analisamos o limite do contı́nuo
do caso antiferromagnético (J¯ij < 0). Na segunda parte, é feito o limite do contı́nuo para
o caso ferromagnético (J¯ij > 0). Esta organização é feita de maneira a evitar qualquer
confusão com respeito ao mapeamento do discreto no contı́nuo, que é diferente para cada
caso.
A função de partição para o sistema é dada por
Z
[Z ]av = D[dµ(Ω)]DQeSB −Hef (n,Ω,Q),
n
(2.1)

onde SB é a fase geométrica e que será discutida posteriormente, e quanto ao hamiltoniano


efetivo, este é dado pela expressão

Hef (n, Ω, Q) = H1 (n, Ω) + H2 (n, Q) + H3 (n, Ω, Q) (2.2)


Com o seguinte vı́nculo

Ωαi (τ ) · Ωαi (τ ) = 1, (2.3)


23
24 2 O Limite Contı́nuo: desordem com predominância AF e F.

no qual não se está somando sobre os ı́ndices i e α. Quanto aos hamiltonianos na equação
(2.2), temos H1 dado por
n XZ
X β
H1 (n, Ω) = −S 2
dτ J¯ij Ωαi (τ ) · Ωαj (τ ). (2.4)
α=1 hiji 0

Note que esse termo é do tipo Heisenberg com uma constante de troca dada pelo valor
médio configuracional de Jij . Conforme vimos anteriormente, o desacoplamento do termo
quártico leva ao surgimento dos termos H2 e H3 , onde
Z Z X X X αβ
S 4 (∆J)2
H2 (n, Q) = dτ dτ ′ Qi,ab (τ, τ ′ )Qαβ ′
j,ab (τ, τ ), (2.5)
2
hiji (αβ) (ab)

e o termo H3 que descreve a interação entre o campo Ω e o campo Q é dado por


Z Z XXX
4
H3 (n, Ω, Q) = −S (∆J) 2
dτ dτ ′ Ωαi,a (τ )Qαβ ′ β ′
j,ab (τ, τ )Ωi,b (τ ). (2.6)
hiji (αβ) (ab)

Note que os termos H2 e H3 se anulam ao retirarmos a desordem do sistema, o que equivale


a fazer ∆J = 0. No que se segue, vamos tratar cada termo separadamente, analisando
como o valor de J¯ij irá levar a comportamentos fı́sicos distintos.

2.1.1 O Limite do Contı́nuo: Caso Antiferromagnético


Neste caso, a média da interação de troca satisfaz a desigualdade J¯ij < 0, ou seja, esta-
mos em face de um sistema antiferromagnético efetivo com termos de interação. Vamos
admitir, a exemplo do que fizemos com ∆Jij , que

J¯ij → −|J¯ij | = −J.


¯

Observando a equação (2.4) e fazendo uso do vı́nculo (2.3), podemos escrever essa
equação como
Z
J¯S 2 X X β h α i
n
2
H1AF (n, Ω) = dτ Ωi (τ ) + Ωαj (τ ) − 2 . (2.7)
2 α=1 0
hiji

Do fato de estarmos construindo um vidro de spin, através da frustração de um


sistema antiferromagnético, podemos admitir, sem perda de generalidade e de forma a
incorporar os atributos referentes à alternância dos spins em cada subrede, que é possı́vel
fazer a seguinte decomposição do campo Ω na esfera de Bloch [ Manousakis (1991);
Sachdev (1999)]:
p
Ωαi (τ ) = (−1)i nαi (τ ) 1 − a2d |Lαi (τ )|2 + ad Lαi (τ ), (2.8)
2.1. O limite do Contı́nuo 25

onde nαi (τ ) corresponde ao valor esperado local do operador da magnetização de subrede


(staggered magnetization) em cada sı́tio e em cada réplica. As constantes envolvidas
são o parâmetro de rede (a) e a dimensão espacial do sistema (d). Lαi (τ ), por sua vez,
corresponde ao valor esperado do spin total em um pequena região do espaço contendo um
grande número de graus de liberdade microscópicos, contudo é esperado, no modelo efetivo
descrito por H1AF , que spins em sı́tios próximos sejam predominantemente antiparalelos,
isto estabelece que o valor da magnetização total seja pequena, isto é, a2d |Lαi (τ )|2 ≪ 1, o
prefator ad é associado a Lαi (τ ) de forma que a integral espacial de Lαi (τ ) sobre qualquer
região seja precisamente a magnetização dentro dela. É importante salientar que Lαi (τ )
está relacionado com o gerador das rotações no espaço de spin [ Manousakis (1991) ] e
satisfaz o seguinte vı́nculo
Lαi (τ ) · nαi (τ ) = 0, (2.9)
novamente, enfatizando que não existe aı́, uma soma nos ı́ndices i e α, ou seja, essa
relação vale em cada sı́tio e em cada réplica independentemente. Perceba que o vı́nculo
(2.3) continua satisfeito, porém, agora é dado por

nαi (τ ) · nαi (τ ) = 1. (2.10)

j
ai j i
z

rj ri
O an

W
y
aL
x

Figura 2.1: A rede em duas dimensões espaciais junto com a decomposição do campo
Ω nos campos n e L. Nota-se a perpendicularidade entre os campos n e L.

Vamos fazer as seguintes definições abaixo para os campos, descrevendo os parâmetros


de ordem do sistema:

nαi (τ ) ≡ nα (ri , τ ) (2.11)


Lαi (τ ) ≡ Lα (ri , τ ).
26 2 O Limite Contı́nuo: desordem com predominância AF e F.

Os valores dos campos nα (ri , τ ) e Lα (ri , τ ) são definidos em uma célula microscópica i de
volume ad . No limite em que o volume desta célula microscópica é muito menor que as
dimensões volumétricas totais do sistema, ou seja, ad ≪ V , sendo V o volume do sistema,
temos X Z
1
−→ d dd r. (2.12)
i
a
Logo, em virtude de estarmos tratando com uma soma sobre primeiros vizinhos, é
possı́vel fazer uma expansão em série de Taylor em torno do sı́tio localizado em ri . Com
isso, temos
h i  
~ nα (rj , τ )
nα (rj , τ ) = nα (ri , τ ) + (rj − ri ) · ∇ + O (rj − ri )2 . (2.13)
rj =ri

É importante enfatizar que se não estivéssemos tratando com sı́tios primeiro vizinhos, não
nos seria possı́vel estabelecer a expansão em série de Taylor feita acima.
Seja a seguinte definição do vetor parâmetro de rede aij = rj − ri . É através
~
da relação entre este parâmetro e a variação espacial nos sı́tios, dado pelo operador ∇,
que se estabelece a natureza geométrica da rede, isto é, se se está considerando uma
rede quadrada ou uma rede triangular ou uma rede hexagonal, entre outras. Nesta tese,
estamos considerando uma rede quadrada bidimensional, logo, temos

axij = ayij = a = constante e azij = 0.

Portanto, podemos escrever a equação (2.13) na forma

nα (rj , τ ) = nα (ri , τ ) + a∇j nα (rj , τ )|rj =ri + O(a2 ), (2.14)

onde ∇j é agora uma derivada direcional e é definida por


~ α (rj , τ )|r =r ,
∇j nα (rj , τ )|rj =ri ≡ (âij · ∇)n (2.15)
j i

a
onde âij = |aijij | é o vetor unitário na direção rj − ri .
Uma vez que o Lα (ri , τ ) corresponde ao valor esperado do spin total em uma pequena
região do espaço, então formalmente temos, sem qualquer perda de generalidade

Lα (rj , τ ) ≈ Lα (ri , τ ). (2.16)

Vamos considerar isoladamente o seguinte termo da equação (2.31)

Ωαi (τ ) + Ωαj (τ ) = Ωα (ri , τ ) + Ωα (rj , τ ). (2.17)

Substituindo a decomposição descrita na equação (2.8) na equação (2.17), tendo em mente


as relações (2.14) e (2.16) e o fato de que se i é ı́mpar então j é par, obtemos o seguinte
resultado:
p
Ωα (ri , τ ) + Ωα (rj , τ ) = a∇j nα (rj , τ )|rj =ri 1 − a2d |Lα (ri , τ )|2 + 2ad Lα (ri , τ ) (2.18)
2.1. O limite do Contı́nuo 27

Logo, fazendo a substituição do termo acima na expressão para H1AF , obtemos

¯ 2X n XZ β
JS 
H1AF (n, Ω) = dτ a2 ∇j nα (ri , τ ) · ∇j nα (ri, τ )(1 − a2d |Lα (ri , τ )|2 )
2 α=1
hiji 0
p
+4ad+1 Lα (ri , τ ) · ∇j nα (ri , τ ) 1 − a2d |Lα (ri , τ )|2 (2.19)
2d α α

+4a L (ri , τ ) · L (ri , τ ) − 2 ,

onde por questão de conveniência fez-se uso da seguinte notação:

∇j nα (rj , τ )|rj =ri ≡ ∇j nα (ri , τ ).

O segundo termo na equação (2.19) é eliminado devido a argumentos de simetria,


isto é, considere a seguinte expressão
X
Lα (ri , τ ) · ∇j nα (ri , τ ) (2.20)
hiji

como para cada sı́tio, devemos somar sobre 4 vizinhos, a contribuição de opostos se anula,
logo
X X
Lα (−ri ) · (−∇j )nα (−ri ) = − Lα (ri ) · ∇j nα (ri ) = 0. (2.21)
hiji hiji

Do argumento de simetria acima e desconsiderando termos de ordem superior a a2d , temos


finalmente para a equação (2.4) o resultado
¯ 2Xn XZ β
JS  
H1AF (n, Ω) = dτ a2 |∇j nα (ri , τ )|2 + 4a2d |Lα (ri , τ )|2 − 2 . (2.22)
2 α=1 0 hiji

No limite a → 0 vemos que a expressão acima torna-se


n Z Z β
AF 1X d
 
H1 = d r dτ ρ̄s |∇nα (r, τ )|2 + χ̄⊥ S 2 |Lα (r, τ )|2 − 2a−2 ρ̄s . (2.23)
2 α=1 0

A constante ρ̄s = JS¯ 2 a2−d é a constante de rigidez de spin ( spin stiffness ). Em T = 0,


é ela que fornece a escala de energia necessária para caracterizar o estado fundamental
ordenado e sua distância do ponto crı́tico quântico1 . Como o próprio nome indica, esta
quantidade mede a dificuldade de se fazer mudanças suaves na orientação do parâmetro de
ordem, logo, esta rigidez de spin é definida por mudanças na energia do estado fundamen-
tal. A constante χ̄⊥ = 4Ja¯ d é a susceptibilidade perpendicular estática. Esta quantidade
é a resposta do sistema a aplicação de um campo estático que varia muito lentamente.
1
Ponto de instabilidade entre duas fases estáveis da matéria, em temperatura nula.
28 2 O Limite Contı́nuo: desordem com predominância AF e F.

Note que, ao contrário de um vidro de spin do tipo Ising, no qual o desacoplamento


dos sı́tios se dá admitindo uma interação de alcance infinito [ Sherrington & Kirkpatrick
(1975); Binder & Young (1986) ], em um vidro de spin do tipo Heisenberg é a interação
entre primeiros vizinhos que nos leva a um desacoplamento entre os sı́tios e isto é feito de
forma muito conveniente dentro de uma teoria de campos.
Vamos agora considerar o termo descrito pela equação (2.5). Seja a seguinte definição:

Qαβ ′ αβ ′
i,ab (τ, τ ) ≡ Qab (ri , τ, τ ). (2.24)

Novamente, uma vez que estamos considerando interações de curto alcance, ou seja, in-
terações entre spins localizados em sı́tios primeiros vizinhos, podemos estabelecer a ex-
pansão em série de Taylor do campo Qαβ ′
ab (rj , τ, τ ) da mesma forma que foi feito para o
campo nα (rj , τ ), isto é,

Qαβ ′ αβ ′ αβ ′ 2
ab (rj , τ, τ ) = Qab (ri , τ, τ ) + a∇j Qab (ri , τ, τ )|rj =ri + O(a ), (2.25)

logo, temos para o termo H2 , fazendo a substituição na equação (2.5) da relação (2.25),
o resultado
Z Z X X X αβ
S 4 (∆J)2
AF
H2 (n, Q) = dτ dτ ′ Qab (ri , τ, τ ′ )Qαβ ′
ab (ri , τ, τ ), (2.26)
2 i (αβ) (ab)

onde pelos mesmos argumentos de (2.21) é eliminado o termo Q∇Q. E no limite do


contı́nuo, temos para este termo a seguinte expressão
Z Z Z
D XX
AF
H2 (n, Q) = dr dτ dτ ′ Qαβ ′ αβ ′
ab (r, τ, τ )Qab (r, τ, τ ), (2.27)
2
(αβ) (ab)

onde a constante D = S 4 (∆J)a−d está relacionada com a desordem.


Consideremos agora o termo H3AF , novamente com a expansão em série de Taylor
do campo Q, equação (2.25), e a decomposição do campo n, equação (2.14), temos para
a equação (2.6)
Z Z Xh
AF 4
H3 (n, Ω, Q) = −S (∆J) 2
dτ dτ ′
nαa (ri , τ )Qαβ ′ β ′
ab (ri , τ, τ )nb (ri , τ ) +
i
i
a2d Lαa (ri , τ )Qαβ
ab (r i , τ, τ ′
)Lβ
b (r i , τ ′
) , (2.28)

onde está implı́cito a soma sobre as componentes SO(3) representadas aqui por (a, b),
e sobre as réplicas representadas pelos ı́ndices (α, β) (convenção de somatório). No de-
senvolvimento nota-se a existência de termos oscilantes, porém, uma vez que estamos
considerando configurações suaves, esses termos são eliminados no processo de somar so-
bre todos os sı́tios da rede. Quanto ao termo do tipo Q∇Q, ele é eliminado conforme
argumentos de simetria. Fazendo a comparação entre os termos da equação (2.28), vemos
2.1. O limite do Contı́nuo 29

que o segundo termo da equação anterior no limite de ad muito pequeno, será desprezı́vel
com respeito ao primeiro termo, logo
Z Z X
AF 4
H3 (n, Ω, Q) = −S (∆J) 2
dτ dτ ′ nαa (ri , τ )Qαβ ′ β ′
ab (ri , τ, τ )nb (ri , τ ). (2.29)
i

E no limite do contı́nuo temos


Z Z Z
H3 (n, Ω, Q) = −D dr dτ dτ ′ nαa (r, τ )Qαβ
AF ′ β ′
ab (r, τ, τ )nb (r, τ ). (2.30)

2.1.2 O Limite do Contı́nuo: Caso Ferromagnético


Quando J¯ij > 0, somos levados a um sistema ferromagnético efetivo com termos de
interação provenientes da desordem imposta ao sistema. Novamente vamos considerar a
relação
J¯ij → |J¯ij | = J.
¯

Da observação do termo H1F , equação (2.4), e fazendo uso do vı́nculo (2.3), podemos
escrever n XZ β
¯ 2X
JS h 2 i
F
H1 (n, Ω) = dτ Ωαj (τ ) − Ωαi (τ ) − 2 . (2.31)
2 α=1 0
hiji

O campo Ω representa a magnetização da rede, neste caso, vamos fazer a seguinte


definição:
Ωαi (τ ) = nα (ri , τ ), (2.32)
com o vı́nculo dado por n · n = 1.
Novamente considerando configurações suaves e interação de curto alcance, nos é
possı́vel estabelecer uma conexão entre Ωαj (τ ) e Ωαi (τ ) através de uma expansão em série
de Taylor em torno do sı́tio i, conforme equação (2.13). Logo, temos
¯ 2X n XZ β
F JS  
H1 (n, Ω) = dτ a2 |∇j nα (ri , τ )|2 − 2 . (2.33)
2 α=1 0 hiji

No limite do contı́nuo temos


n Z Z
1X β  
H1F (n, Ω) = d
d r dτ ρ̄s |∇nα (r, τ )|2 − 2a−2 ρ̄s . (2.34)
2 α=1 0

Quanto aos termos envolvendo a desordem, temos no limite do contı́nuo


Z Z Z
D XX
F
H2 (n, Q) = dr dτ dτ ′ Qαβ ′ αβ ′
ab (r, τ, τ )Qab (r, τ, τ ), (2.35)
2
(αβ) (ab)

e Z Z Z
H3F (n, Ω, Q) = −D dr dτ dτ ′ nαa (r, τ )Qαβ ′ β ′
ab (r, τ, τ )nb (r, τ ). (2.36)
30 2 O Limite Contı́nuo: desordem com predominância AF e F.

2.2 O tratamento da fase geométrica


Nesta seção serão tratados os aspectos relacionados à fase geométrica e sua relevância
para a dinâmica do sistema. Esta fase geométrica surge da natureza quântica dos spins e
dependendo da dimensão do sistema, ela pode alterar de forma profunda o comportamento
de baixa energia do sistema, estabelecendo comportamentos fı́sicos distintos para spins
inteiros e spins semi-inteiros [ Haldane (1983a, 1983b, 1985, 1988); Affleck (1985a, 1985b)
]
Inicialmente de forma a simplificar o tratamento algébrico, considera-se um único
sı́tio e uma única réplica, neste caso a fase geométrica fica escrita como
Z β
α d
SB,i = dτ hΩαi (τ )| |Ωαi (τ )i. (2.37)
0 dτ
Por conseguinte, a fase geométrica para o sistema inteiro consistirá na soma sobre todos
os sı́tios da rede e sobre todas as réplicas do sistema, ou seja,
n X
X
α
SB = SB,i . (2.38)
α=1 i

Um passo seguinte consiste em determinar qual o papel que a fase geométrica desempenha
na evolução temporal do sistema.
Sabemos que os operadores de spin, Ŝx , Ŝy e Ŝz são os geradores das rotações
nas direções x, y e z respectivamente. No espaço de Hilbert do sistema, analisando os
efeitos dessas rotações sobre o estado fundamental2 |Ωαi (τ = 0)i, vemos que essas rotações
causam uma evolução temporal a partir desse estado. Em termos quantitativos vamos
considerar o operador de rotação infinitesimal de um ângulo γ em torno de um eixo de
rotação em uma direção qualquer, descrita pelo vetor unitário n,

Û[R(γ)] = e−iγn·Ŝ . (2.39)

Introduzindo os operadores escada Ŝ± = Ŝx ± iŜy , considerando coordenadas esféricas,


onde neste caso o vetor unitário n fica descrito como

n = (sin θ cos φ, sin θ sin φ, cos θ),

podemos escrever a equação (2.39) como


∗ Ŝ
Û [R(θ, φ, γz )] = ez Ŝ+ −z − −iγz Ŝz
. (2.40)

onde
θ
z = z(τ ) = e−iφ (0 ≤ θ ≤ π, 0 ≤ φ ≤ 2π). (2.41)
2
2
Na esfera de Bloch, o estado fundamental aponta na direção z.
2.2. O tratamento da fase geométrica 31

Essa dinâmica, que ocorre no espaço de Hilbert, é mapeada na esfera de Bloch. A


evolução em tempo euclidiano na esfera de Bloch é descrita através de um operador de
evolução, ou seja, um estado coerente em um tempo τ qualquer e o estado coerente no
tempo τ = 0 se relacionam da seguinte maneira:
|Ωαi (τ )i = U[R(θ, φ, γz )]|Ωαi (0)i (2.42)

Y
q
j

X q2

t*=ex Y
p(ij)tg
(q/2)
Plano-t

Figura 2.2: Geometria dos estados coerentes de spins. Os estados coerentes de spin
mapeiam a esfera bidimensional sobre o plano complexo.

|Ωαi (τ )i = Ûi,α (τ )|Ωαi (0)i = eÂi,α (τ ) |Ωαi (0)i, (2.43)


onde

Âi,α (τ ) = zi,α (τ )Ŝ+ − zi,α (τ )Ŝ− , (2.44)
sendo Ŝ± = Ŝx ± iŜy . Há uma fase constante que surge do fato do estado |Ω(τ = 0)i
ser um autoestado do operador Ŝz e que não é considerada pelo fato de não influenciar
em nada a dinâmica do sistema. Os ı́ndices i e α indicam que estamos considerando um
único sı́tio e uma única réplica do sistema, conforme dito anteriormente. Estabelecendo
a derivada da expressão anterior com respeito ao tempo, resulta
d α d  Âi,α (τ ) α  d 
Âi,α (τ )
|Ωi (τ )i = e |Ωi (0)i = e |Ωαi (0)i. (2.45)
dτ dτ dτ
h i
dÂi,α (τ ) Âi,α (τ ) d (τ ) Âi,α (τ )
É importante notar que se dτ
, e 6= 0, então dτd eÂi,α (τ ) 6= i,α dτ
e . No
entanto, em um caso geral, foi demonstrado por Feynman [Feynman (1951)] que
Z 1
d Âi,α (τ ) dÂi,α (τ ) Âi,α (τ )u
e = eÂi,α (τ )(1−u) e du, (2.46)
dτ 0 dτ
32 2 O Limite Contı́nuo: desordem com predominância AF e F.

logo a equação (2.45) pode ser escrita na forma


Z !
1
d α d Âi,α (τ )
|Ω (τ )i = eÂi,α (τ )(1−u) eÂi,α (τ )u du |Ωαi (0)i. (2.47)
dτ i 0 dτ

Finalmente da expressão anterior resulta


Z !
1
d d Âi,α (τ )
hΩαi (τ )| |Ωαi (τ )i = hΩαi (τ )| eÂi,α (τ )(1−u) eÂi,α (τ )u du |Ωαi (0)i. (2.48)
dτ 0 dτ

Novamente usando a equação que estabelece a evolução temporal do vetor de estado,


equação (2.43), e tendo em mente que †i,α (τ ) = zi,α

(τ )Ŝ− −zi,α (τ )Ŝ+ = −Âi,α (τ ), obtemos
Z 1
d α dÂi,α(τ ) Âi,α (τ )u α
hΩαi (τ )| |Ω (τ )i = duhΩαi(0)|e−Âi,α (τ )u e |Ωi (0)i. (2.49)
dτ i 0 dτ
Faz-se necessário a seguinte definição

|Ωαi (τ, u)i = eÂi,α (τ )u |Ωαi (0)i, (2.50)

onde nota-se a dependência do estado com a variável u, logo a equação (2.49) torna-se
Z 1  ∗ 
α d α α ∂zi,α (τ ) ∂zi,α (τ )
hΩi (τ )| |Ωi (τ )i = duhΩi (τ, u)| Ŝ+ − Ŝ− |Ωαi (τ, u)i. (2.51)
dτ 0 ∂τ ∂τ

Introduzindo uma matriz 2 × 2 de operadores Ŝ, dada por


 
Ŝz Ŝ−
Ŝ = , (2.52)
Ŝ+ −Ŝz

é possı́vel explicitar a simetria SU(2) envolvida no sistema, e dessa forma obter a fase
geométrica em um único sı́tio e em uma única réplica, este procedimento é visto em
detalhes no Apêndice A, logo
Z β Z 1 Z β Z 1  α 
α α
∂Ωαi,b ∂Ωαi,c α ∂Ωi ∂Ωαi
SB,i = iS dτ duǫabc Ωi,a = iS dτ duΩi · × . (2.53)
0 0 ∂u ∂τ 0 0 ∂u ∂τ
Para obter a fase geométrica para todo o sistema, basta fazer a substituição do
resultado acima na equação (2.38)
Xn XZ β Z 1  α 
α ∂Ωi ∂Ωαi
SB = iS dτ duΩi · × . (2.54)
α=1 i 0 0 ∂u ∂τ

No que se segue vamos considerar a fase geométrica separadamente para a interação


antiferromagnética, uma vez que, nesta tese, é o caso de particular interesse.
2.2. O tratamento da fase geométrica 33

u=1

t=b t
x

Figura 2.3: Interpretação geométrica da expressão de SB . A evolução temporal função


Ω(τ, u), define o mapeamento do retângulo 0 ≤ τ ≤ β, 0 ≤ u ≤ 1 sobre a esfera unitária,
logo SB é o ângulo sólido.

Novamente, considere a decomposição descrita pela equação (2.8), substituindo essa


expressão na equação (2.54) obtemos
n XZ
X β Z 1    
d ∂ α α ∂nα (ri , τ, u)
SB = Θ + iSa dτ du n (ri , τ, u) · L (ri , τ, u) × +
α=1 i 0 0 ∂u ∂τ
  α 
∂ α ∂n (ri , τ, u) α
n (ri , τ, u) · × L (ri , τ, u) , (2.55)
∂τ ∂u

sendo Θ o termo de Hopf [Haldane (1988)], cuja expressão é


n XZ
X β Z 1  
i α ∂nα (ri , τ, u) ∂nα (ri , τ, u)
Θ = iS dτ du(−1) n (ri , τ, u) · × . (2.56)
α=1 i 0 0 ∂u ∂τ

Tendo em mente a condição de periodicidade do Ω com respeito a variável τ , a mesma


condição tem de ser satisfeita ao fazer a decomposição nos campos n e L, logo, concluı́mos
que ao fazermos a integração na variável τ no segundo termo da equação (2.55) nos leva a
um resultado nulo. Da evolução temporal do campo Ω, dada pela equação (2.50), resulta

∂n
= 0,
∂τ u=0

logo o integrando só terá contribuição em u = 1. Portanto, no limite de a → 0, o resultado


para a fase geométrica no caso do antiferromagnetismo fica dado pela expressão [ Sachdev
(1999)]
n Z
X Z β  
α α ∂nα (r, τ )
SB = Θ − iS dr dτ L (r, τ ) · n (r, τ ) × . (2.57)
α=1 0 ∂τ
34 2 O Limite Contı́nuo: desordem com predominância AF e F.
Capı́tulo

Um Modelo de Teoria Quântica de


Campos para Vidros de Spins

Com os resultados obtidos no capı́tulo anterior, a função de partição do sistema, no limite


do contı́nuo, pode ser escrita na forma dada por:
Z
[Z ]av = DnDLDQe−S[n,L,Q],
n
(3.1)

onde S[n, L, Q] é estabelecida como a ação do sistema e é expressa da seguinte maneira:


S[n, L, Q] = Θ + S1 [n, L] + S2 [n, Q]. (3.2)
O funcional S1 é uma parte da ação, que a menos de alguns fatores constantes, é muito
parecida à versão no limite do contı́nuo de um sistema antiferromagnético sem desordem
[ Haldane (1983a) ], ou seja,
Z Z β
1X 2

S1 [n, L] = Θ + dr dτ ρ̄s |∇nα (r, τ )|2 + χ̄⊥ S 2 |Lα (r, τ )|2
2 α 0
  
α α ∂nα (r, τ ) −2
−2iL (r, τ ) · n (r, τ ) × − 2ρ̄s a (3.3)
∂τ
e S2 é a parte da ação que descreve os aspectos relacionados à desordem imposta,
Z Z β Z β h
D XX
S2 [n, Q] = 2
dr dτ dτ Qαβ
′ ′ αβ ′
ab (r, τ, τ )Qab (r, τ, τ )
2 0 0
(αβ) (ab)
i
α αβ ′ β ′
−2na (r, τ )Qab (r, τ, τ )nb (r, τ ) , (3.4)

lembrando que ρ̄s = JS¯ 2 a2−d , χ̄⊥ = 4Ja


¯ d e D = S 4 (∆J)a−d . Veja que este funcional se
anula ao fazer D = 0, o que equivale a retirar a desordem do sistema. Novamente estamos
35
36 3 Um Modelo de Teoria Quântica de Campos para Vidros de Spins

considerando os seguintes vı́nculos:

nα (r, τ ) · nα (r, τ ) = 1,
nα (r, τ ) · Lα (r, τ ) = 0, (3.5)

onde é importante notar que não se está somando sobre os ı́ndices de réplicas.
O termo Θ é o termo de Hopf e em duas dimensões considerando configurações
suaves, mostra-se que este termo se anula [ Haldane (1988); Manousakis (1991); Sachdev
(1999) ]. Apesar do sistema original ser desordenado, a teoria efetiva não é. A desordem
é representada pela interação quártica.
Observa-se a partir da equação (3.3) que a ação S1 é quadrática no campo L, dessa
forma, reescrevendo a função de partição, equação (3.1), como
Z Z
n −S2 [n,Q]
[Z ]av = DnDQe DLe−S1 [n,L] , (3.6)

considerando o vı́nculo n·L = 0 e a equação (3.3), é possı́vel efetuar a integração funcional


sobre este campo L, o que nos leva ao resultado
Z
[Z ]av = DnDQδf [nα · nα − 1]e−S[n,Q],
n
(3.7)

estando agora a ação descrita por


Z Z β  
1X 2 α 2 1 α 2 −2
S[n, Q] = dr dτ ρ̄s |∇n (r, τ )| + 2 |∂τ n (r, τ )| − 2ρ̄s a
2 α 0 c
Z Z Z h
D XX β β
+ d2 r dτ dτ ′ Qαβ ′ αβ
ab (r, τ, τ )Qab (r, τ, τ )

2 0 0
(αβ) (ab)
i
−2nαa (r, τ )Qαβab (r, τ, τ ′
)n β
b (r, τ ′
) , (3.8)

onde c2 = ρ̄s χ̄⊥ representa a velocidade das excitações em baixa energia dos spins. É
importante salientar que na equação (3.7), o vı́nculo nα (r, τ ) · nα (r, τ ) = 1 foi incorpo-
rado na integração funcional através de um multiplicador de Lagrange, representado pelo
funcional δf .
Considere o seguinte reescalonamento do campo n,
1
nα (r, τ ) → √ nα (r, τ ), (3.9)
ρ̄s

isto é feito unicamente para colocar a ação S[n, Q] em uma forma que ressalte a parte não
interagente do campo n. Com este reescalonamento o vı́nculo sobre o campo n torna-se
agora
nα (r, τ ) · nα (r, τ ) = ρ̄s . (3.10)
3.1. Simetrias de Réplicas e Isotropia nas Componentes SO(3) 37

Introduzimos agora o campo multiplicador de Lagrange, λα (r, τ ), na equação (3.7) através


da identidade
Z " Z Z β X #
α α 2 α α
δf [n · n − ρ̄s ] = Dλ exp −i d r dτ λα (n · n − ρ̄s ) . (3.11)
0 α

Isto resulta na seguinte expressão para a função de partição,


Z
[Z ]av = DnDQDλe−S[n,Q,λ]
n
(3.12)

com a ação sendo escrita como

Z Z  
1X d
β
α 1 2 α 2 α 2
S[n, Q, λ] = d r dτ |∇n (r, τ )| + 2 |∂τ n (r, τ )| + 2iλα (|n (r, τ )| − ρ̄s )
2 α 0 c
Z Z Z h
D XX β β
+ dd r dτ dτ ′ Qαβ ′ αβ ′
ab (r, τ, τ )Qab (r, τ, τ ) (3.13)
2 0 0
(αβ) (ab)

2 α αβ ′ β ′
− na (r, τ )Qab (r, τ, τ )nb (r, τ ) .
ρ̄s

Onde estamos desprezando o termo constante −2ρ̄s a−2 que pode ser assimilado na medida
de integração funcional. Note que o campo n, que descreve a magnetização da subrede, é
um campo vetorial cujas componentes no espaço de spins são nα = (σ α , ~π α ).

3.1 Simetrias de Réplicas e Isotropia nas Compo-


nentes SO(3)
Nesta tese está-se considerando o estudo de um vidro de spins isotrópico em que todas
as direções no espaço de spins são equivalentes. Portanto, para este caso adotamos a
seguinte expressão para o campo Qαβ ab :

Qαβ ′ αβ ′
ab (r, τ, τ ) = Q (r, τ, τ )δab . (3.14)

Fazendo a substituição desta relação na equação (3.13) acima e levando em conta a de-
composição do campo n em suas componentes σ e ~π , a ação torna-se

S[σ, π, Q, λ] = Sσ [σ, Q, λ] + Sπ [~π , Q, λ], (3.15)

onde
Z Z  
1X 2
β
1
Sσ [σ, Q, λ] = dr dτ |∇σ (r, τ )| + 2 |∂τ σ α (r, τ )|2 + 2iλα (|σ α (r, τ )|2 − ρ̄s )
α 2
2 α 0 c
38 3 Um Modelo de Teoria Quântica de Campos para Vidros de Spins

Z Z Z
DX 2
β β 
+ dr dτ dτ ′ 3Qαβ (r, τ, τ ′ )Qαβ (r, τ, τ ′ ) (3.16)
2 0 0
(αβ)

2 α αβ ′ β ′
− σ (r, τ )Q (r, τ, τ )σ (r, τ ) .
ρ̄s
e
Z  Z 
1X 2 α
β
2 1 α 2 α 2
Sπ [~π , Q, λ] = dr dτ |∇~π (r, τ )| + 2 |∂τ ~π (r, τ )| + 2iλα |~π (r, τ )|
2 α 0 c
Z Z Z
DX β β 
− d2 r dτ dτ ′ ~π α (r, τ ) · Qαβ (r, τ, τ ′ )~π β (r, τ ′ ) . (3.17)
ρ̄s 0 0
(αβ)

Podemos escrever a função de partição na forma


Z Z
n −Sσ [σ,Q,λ]
[Z ]av = DσDQDλe D~πe−Sπ [~π,Q,λ] (3.18)

Faremos agora a integração funcional sobre o campo ~π , considerando assim as flutuações


quânticas do spin. Para isso, vamos reescrever a ação Sπ na seguinte forma

Z Z Z Z
1X 2
β
2 ′
β
Sπ [~π , Q, λ] = dr dτ dr dτ ′~π α (r, τ ) · M αβ (r, τ |r′, τ ′ )~π β (r′ , τ ′ ) (3.19)
2 0 0
(αβ)

onde M(r, τ |r′ τ ′ ) é dado por

2D αβ
M αβ (r, τ |r′ , τ ′ ) = (−22 + 2iλα )δ αβ δ(r − r′ )δ(τ − τ ′ ) − Q (r, τ, τ ′ ) (3.20)
ρ̄s
1 ∂2
onde 22 = ∇2 + .
Portanto seja o funcional,
c2 ∂τ 2
 
Z  1 XZ Z 
′ α αβ ′ β ′
I[λ, Q] = D~π exp − dx dx ~π (x) · M (x, x )~π (x ) (3.21)
 2 
(α,β)

onde faz-se uso de uma notação ainda mais compacta em que x = (r, τ ). Note que a ação
Sπ é quadrática em ~π , logo efetuando a integral funcional sobre este campo na equação
(3.21), obtemos
I[λ, Q] = [det M]−1 (3.22)
Substituindo este resultado na equação (3.18), obtemos
Z
[Z ]av = DσDQDλe−Sσ [σ,Q,λ] [det M]−1 ,
n
(3.23)
3.1. Simetrias de Réplicas e Isotropia nas Componentes SO(3) 39

onde M é uma matriz cujas componentes no espaço de configuração são dadas pela equação
(3.20) em que λ é uma variável que depende localmente das coordenadas espaço-temporais
e é diagonal no espaço das réplicas Q é uma variável multifuncional (coordenadas espaço-
temporais + espaço de réplicas). O determinante multifuncional pode ser escrito da
seguinte maneira:
det M = det[det M], (3.24)
c r

onde os ı́ndices c e r significam o espaço de configuração ( espaço-tempo ) e de réplicas


respectivamente.
A fim de calcular o determinante funcional no espaço de réplicas escrevemos a
variável multifuncional Q, da forma

Q = (χ − q)I + qC, (3.25)

ou equivalentemente
Qαβ = (χ − q)δ αβ + qC αβ , (3.26)
onde χ e q são funções das coordenadas espaço-temporais, I é a identidade no espaço de
réplicas e C é uma matriz no espaço de réplicas onde todos os elementos são iguais a 1,
isto é,
 
1 ··· 1
 
C =  ... . . . ...  . (3.27)
1 ··· 1

A motivação para esta decomposição de Qαβ , tem por objetivo introduzir o parâmetro de
ordem de Edwards-Anderson para a fase vidro de spins [ Edward & Anderson (1975); Bray
& Moore (1980); Binder & Young (1986); Georges et al (2000) ]. Esta envolve médias
de operadores de spin de réplicas distintas α 6= β e, como veremos, está relacionada
com q. A parte correspondente a α = β, que denominamos χ, está relacionada com a
susceptibilidade estática.
Com esta expressão podemos reescrever M em termos de suas componentes no
espaço de réplicas e no espaço de configuração, ou seja,

M αβ (r, τ |r′, τ ′ ) = M αβ (x, x′ ) = M0 (x, x′ )δ αβ − M1 (x, x′ )C αβ (3.28)

onde temos
 
′ 2 ′ 2D
M0 (x, x ) = [−2 + 2iλ(r, τ )]δ(τ − τ ) − [χ(r, τ, τ ) − q(r, τ, τ )] δ(r − r′ )
′ ′
(3.29)
ρ̄s
e
2D
M1 (x, x′ ) = q(r, τ, τ ′ )δ(r − r′ ). (3.30)
ρ̄s
40 3 Um Modelo de Teoria Quântica de Campos para Vidros de Spins

Perceba nas equações (3.29) e (3.30), a localidade espacial de todos os campos refletida
na função δ(r − r′ ) e a não localidade temporal dos campos χ e q. Este fato decorre de
nossa escolha para a variável Qαβ ′
i (τ, τ ), tabela (1.1).
Calculando o determinante de M no espaço de réplicas utilizando a decomposição
(3.28) e (3.27), obtemos de forma exata que

det M = M0n−1 [M0 − nM1 ] ≡ M (3.31)


r

Substituindo a equação (3.31) na equação (3.24), obtém-se



det M = det M = det M0n−1 [M0 − nM1 ] . (3.32)
c c

Considere a identidade
det M = exp[tr ln M], (3.33)
c

com isso temos a expressão final para o cálculo do determinante funcional na equação
(3.24), ou seja,

det M = e(n−1)tr ln(M0 )+tr ln(M0 −nM1 ) . (3.34)

Fazendo a substituição deste resultado na equação (3.22), obtemos a seguinte expressão


para o funcional I[Q, λ],

I[Q, λ] ≡ I[χ, q, λ] = [det M]−1 = e−(n−1)tr ln(M0 )−tr ln(M0 −nM1 ) (3.35)

A fim de obtermos uma expressão conveniente para a equação (3.23), vamos intro-
duzir (3.26) naquela equação. Introduziremos esta expressão na ação Sσ dada por (3.16),
obtemos
Z Z β  
1X 2 α 2 1 α 2 α 2
Sσ [σ, Q, λ] = d r dτ |∇σ | + 2 |∂τ σ | + iλα (|σ | − ρ̄s )
2 α 0 c
Z Z β Z β h
D
+ d2 r dτ dτ ′ 3n(χ2 (τ, τ ′ ) − q 2 (τ, τ ′ )) + 3n2 q 2 (τ, τ ′ ) (3.36)
2 0 0

2   X 2 X
− χ(τ, τ ′ ) − q(τ, τ ′ ) σ α (τ )σ α (τ ′ ) − q(τ, τ ′ ) σ α (τ )σ β (τ ′ ) .
ρ̄s α
ρ̄s
(αβ)

Nesta tese vamos admitir simetria nas réplicas, logo σ α = σ β para todo α e β.
Portanto, valem as seguintes relações
X
σ α (τ )σ α (τ ′ ) = nσ(τ )σ(τ ′ ) (3.37)
α

e X
σ α (τ )σ β (τ ′ ) = n2 σ(τ )σ(τ ′ ). (3.38)
(αβ)
3.2. Aproximação De Fase Estacionária 41

Isto nos leva finalmente, desprezando os termos de ordem n2 os quais não irão contribuir
no limite n → 0, à expressão
Z Z β  
1 2 2 1 2 2
Sσ [σ, q, χ, λ] = n dr dτ |∇σ| + 2 |∂τ σ| + iλ(σ − ρ̄s )
2 0 c
Z Z β Z β h
D
+ d2 r dτ dτ ′ 3n(χ2 (τ, τ ′ ) − q 2 (τ, τ ′ ))
2 0 0

2n ′ ′ ′
− σ(τ ) [χ(τ, τ ) − q(τ, τ )] σ(τ ) . (3.39)
ρ̄s
Substituindo os resultados expressos nas equações (3.34) e (3.39) na expressão para
a função de partição, equação (3.23), obtém-se para a função de partição o seguinte
resultado: Z
[Z ]av = DσDqDχDλe−S[σ,q,χ,λ],
n
(3.40)
onde a ação é expressa agora na forma
S[σ, q, χ, λ] = n[S0 + tr ln M0 ] + tr ln(M0 − nM1 ) − tr ln M0 , (3.41)
em que M0 e M1 são dados pelas equações (3.29) e (3.30) e S0 corresponde à expressão
Z Z β  
1 2 2 1 2 2
S0 = dr dτ |∇σ| + 2 |∂τ σ| + 2iλ(σ − ρ̄s )
2 0 c
Z Z β Z β h
D
+ d2 r dτ dτ ′ 3(χ2 (τ, τ ′ ) − q 2 (τ, τ ′ ))
2 0 0
  
2 ′ ′ ′
− σ(τ ) χ(τ, τ ) − q(τ, τ ) σ(τ ) .
ρ̄s
(3.42)
A ação S[σ, q, χ, λ] descreve a dinâmica das n-réplicas do sistemas acopladas em con-
seqüência da média sobre a desordem. Perceba que ao retiramos o efeito da desordem,
representadas por D, a expressão acima, recai na equação que descreve o modelo sigma
não linear proveniente do mapeamento no contı́nuo de um sistema antiferromagnético
puro [ Haldane (1983) ].
É importante notar o fato de que ao fazermos o limite do contı́nuo da expressão
[Z n ]av , descrevendo a estatı́stica quântica de um sistema desordenado em 2-dimensões,
fomos levados a uma teoria quântica de campos em (2 + 1)-dimensões, dada pela equação
(3.40), onde [Z n ]av toma a forma de uma integral funcional sobre os campos σ, q, χ e λ.

3.2 Aproximação De Fase Estacionária


No que segue, vamos considerar as aproximações de ponto de sela para todos os campos
envolvidos na equação (3.40). Nessa aproximação, temos
[Z n ]av = e−Scl [σ,q,χ,λ]I[σ, q, χ, λ], (3.43)
42 3 Um Modelo de Teoria Quântica de Campos para Vidros de Spins

onde a ação estacionária Scl é tomada sobre a configuração em que os campos σ, λ, q e χ


satisfazem as equações clássicas provenientes da extremização da ação S, isto é, δS = 0.
O funcional I[σ, q, χ, λ] descreve os efeitos decorrentes das flutuações térmico-quânticas1
sobre sistema.
As soluções clássicas podem ser categorizadas da seguinte maneira: soluções cons-
tantes (independentes do espaço e do tempo), soluções estáticas (independentes do tempo,
porém dependentes do espaço), soluções que não têm dependência no espaço, porém são
dependentes do tempo. Nesta tese se consideram as soluções clássicas constantes nos
campos σ e λ. Da não localidade temporal dos campos q e χ, considera-se para estes
campos soluções dependentes do tempo e independentes do espaço. As soluções constan-
tes nos campos σ e λ representam a primeira aproximação ao valor esperado do vácuo
dos respectivos campos quânticos. A ação clássica tomada nessa configuração fica escrita
na forma
Scl [σ, q, χ, λ] = n[S0cl + tr ln M0cl ] + tr ln(M0cl − nM1cl ) − tr ln M0cl (3.44)
onde S0 é agora dado por
1  
S0cl = V β 2iλcl (σcl2 − ρ̄s )
2
Z β Z β h  
D
+ V dτ dτ ′ 3 χ2cl (τ, τ ′ ) − qcl2 (τ, τ ′ ) (3.45)
2 0 0
2 2 
′ ′
− σcl χcl (τ, τ ) − qcl (τ, τ )
ρ̄s
onde o ı́ndice (cl) designa as configurações clássicas dos campos e V é o volume espacial.
Logo, podemos escrever a função de partição, equação (3.43), como
[Z n ]av ≈ e−Scl [σ,q,χ,λ] . (3.46)

3.3 A Energia Livre no Contı́nuo


Vamos agora considerar a energia livre do sistema, que conforme vimos no capı́tulo 1, é
dada por:
1 1 ∂[Z n ]av
F = − lim ([Z n ]av − 1) = −T lim . (3.47)
β n−→0 n n−→0 ∂n
Fazendo a substituição da equação (3.46) na equação que representa a energia livre
do sistema, equação (3.47), obtemos
 
1 1 −Scl (n) 1 ∂ e−Scl (n)
F = − lim (e − 1) = − lim . (3.48)
β n−→0 n β n−→0 ∂n
1
Ao fazermos a aproximação semiclássica em ~ → 0, estamos considerando também que as flutuações
térmicas estão sendo levadas em conta, pois uma vez que estamos tratando de uma teoria estatı́stica
quântica, não tem sentido a separação entre efeitos quânticos e efeitos térmicos.
3.3. A Energia Livre no Contı́nuo 43

Tendo em mente a equação (3.45) e expandindo a função exponencial na expressão anterior


em série, e tomando o limite n → 0, vemos que a energia livre do sistema é dada por

V  2 2 
F = m (σcl − ρ̄s )
2 
DV β
Z Z β
2 2 
′ 2 ′ 2 ′ ′ ′
+ dτ dτ 3( χcl (τ, τ ) − qcl (τ, τ )) − σcl χcl (τ, τ ) − qcl (τ, τ )
2β 0 0 ρ̄s
1 1 
+ tr ln(M0 ) − tr M1 M0−1 , (3.49)
β β

onde definimos como de costume [Polyakov (1987); Marino (2002)] m2 = 2iλcl . Os ope-
radores M0 e M1 são agora representados, no espaço de configuração, por
 
′ 2 2 ′ 2D
M0 (x, x ) = [−2 + m ]δ(τ − τ ) − [χ(τ, τ ) − q(τ, τ )] δ(r − r′ )
′ ′
(3.50)
ρ̄s
e
2D
M1 (x, x′ ) = q(τ, τ ′ )δ(r − r′ ). (3.51)
ρ̄s
Os traços na equação (3.49) independem do espaço em que são tomados, porém
quando tomados no espaço de configuração, vemos que as expressões envolvidas não são
diagonais nas bases desse espaço (r, τ ). No entanto, é possı́vel escrever M0 e M1 em
termos das coordenadas no espaço recı́proco (k, ωn ), onde os traços ficam sendo dados
por
X Z d2 k  
2 2 2 2D
tr ln M0 = V 2
ln k + ωn + m − [χ(ωn ) − q(ωn )] (3.52)
ω
(2π) ρ̄s
n

e
Z !
−1
 2D X d2 k q(ωn )
tr M1 M0 = V . (3.53)
ρ̄s ω n
(2π)2 k + ωn + m − 2D
2 2 2
ρ̄s
(χ(ωn ) − q(ωn ))

Os detalhes desta passagem do espaço de configuração para o espaço recı́proco estão dados
no apêndice B.
É importante perceber a dependência dos campos q e χ com respeito as freqüências
de Matsubara bosônicas2 , ωn = 2πnT ( n ∈ Z ). Esta dependência reflete a não-localidade
temporal no espaço de configuração dos campos qcl e χcl . No próximo capı́tulo veremos
qual o significado fı́sico desses campos.
Seguindo o mesmo procedimento feito na determinação dos traços, vamos estabelecer
a transformada de Fourier dos campos na ação S0 . Do fato de que os campos qcl (τ, τ ′ ) e
2
Os campos σ e ~π são bosônicos.
44 3 Um Modelo de Teoria Quântica de Campos para Vidros de Spins

χcl (τ, τ ′ ) serem constantes no espaço, vamos considerar a transformada de Fourier desses
campos apenas nas variáveis temporais. Portanto, temos
1 X −iωn (τ −τ ′ )
qcl (τ, τ ′ ) = e q(ωn ), (3.54)
β ω
n

e
1 X −iωn (τ −τ ′ )
χcl (τ, τ ′ ) = e χ(ωn ). (3.55)
β ω
n

Isto, junto com as equações (3.52) e (3.53), nos permite obter da equação (3.49), a den-
sidade de energia livre mediada sobre a desordem f¯ = F /V , como

1 2 2  Dσ 2
f¯ = m (σ − ρ̄s ) − (χ(ω0 ) − q(ω0 ))
2 ρ̄s
3DT X h i
+ χ(−ωn )χ(ωn ) − q(−ωn )q(ωn ) (3.56)
2 ω
n
X Z d2 k  
2 2 2 2D
+ T 2
ln k + ωn + m − (χ(ωn ) − q(ωn ))
ωn
(2π) ρ̄s
Z !
2D X d2 k q(ωn )
− T 2 2 + ω 2 + m2 − 2D (χ(ω ) − q(ω ))
,
ρ̄s ωn
(2π) k n ρ̄s n n

onde, por questão de conveniência, foi omitido o ı́ndice (cl) designando a configuração
clássica do campo σ e foi feita a substituição β = 1/T .
A densidade de energia livre f¯ fornece as propriedades termodinâmicas do sistema,
refletidas nos parâmetros de ordem σ, m2 , q(ωn ) e χ(ωn ). No próximo capı́tulo veremos
os significados fı́sicos desses parâmetros e discutiremos as propriedades macroscópicas,
analisando a densidade de energia f¯.
Capı́tulo

Diagrama de fases

No capı́tulo anterior obtivemos uma teoria quântica de campos para um sistema vidro
de spins, cuja distribuição gaussiana de parâmetro de troca é centrada em um valor que
privilegia a interação antiferromagnética em face da interação ferromagnética1 . Fazendo
teoria de campo médio, nos foi possı́vel obter a densidade de energia livre. Neste capı́tulo
vamos analisar as propriedades termodinâmicas que decorrem dessa densidade de energia
¯
livre f.
Antes de analisarmos as equações decorrentes da densidade de energia livre f¯, é
necessário estabelecermos o significado fı́sico dos parâmetros q e χ.

4.1 Significado Fı́sico dos Parâmetros q e χ


Por definição vamos considerar, admitindo invariância de translação em τ , o seguinte
parâmetro

hŜiα (τ )Ŝiβ (τ ′ )iα6=β −→ q(τ, τ ′ ) = q(τ − τ ′ ), (4.1)

onde a seta acima significa o limite do contı́nuo e os ı́ndices α e β foram suprimidos em


virtude da hipótese de simetria de réplicas. É importante mencionar que neste ponto o
sistema final não mais apresenta qualquer desordem. Esta manifesta-se através da não
trivialidade que surge com a introdução das réplicas e do termo de interação quártica.
Com essa definição nos é possı́vel estabelecer o parâmetro de ordem para a fase vidro
de spins. O parâmetro de ordem para um sistema vidro de spins, também conhecido como
parâmetro de Edwards-Anderson [Edwards & Anderson (1975)], é definido pelo seguinte
1
Existe um viés na distribuição gaussiana dos valores de Jij .

45
46 4 Diagrama de fases

limite

qEA = lim q(τ − τ ′ ). (4.2)


τ −τ ′ →∞

Vamos considerar este limite no espaço de freqüências, ou seja, consideremos a


seguinte transformada de Fourier
X ′
q(τ − τ ′ ) = T eiωn (τ −τ ) q(ωn ) (4.3)
ωn

e sua inversa Z Z
β β

q(ωn ) = dτ dτ ′ e−iωn (τ −τ ) q(τ − τ ′ ). (4.4)
0 0

No limite de τ − τ ′ −→ ∞, notamos da equação (4.3) que, devido ao lema de Riemann-


Lebesgue, somente o modo de freqüência nula contribui neste limite. Logo conclui-se
que o parâmetro de Edward-Anderson, no espaço recı́proco está relacionado ao valor de
q(ωn = 0) ≡ q0 , através da expressão.

qEA = T q0 . (4.5)

Na situação em que τ = τ ′ , a equação (4.3) fornece


X
q(τ − τ ′ = 0) = T q(ωn ). (4.6)
ωn

No entanto, considere o seguinte vetor de estado, o qual consiste de um produto tensorial


de vetores de estados em cada réplica
O
|Ψi = |αi = |α1 i ⊗ |α2 i ⊗ · · · ⊗ |αn i. (4.7)
α

Portanto, tendo em mente que α 6= β, temos

hŜiα (τ )Ŝiβ (τ )iα6=β = hΨ|Ŝiα (τ )Ŝiβ (τ )|Ψi


O
= hΨ|Ŝiα (0)Ŝiβ (0)|Ψi = hα|Ŝiα(0)Ŝiβ (0)|βi (4.8)
α,β
! !
O O
= hα|Ŝiα (0)|αi hβ|Ŝiβ (0)|βi (4.9)
α β

−→ q(τ − τ = 0)

Na ausência de uma fase ordenada terı́amos

hα|Ŝiα(0)|αi = 0, (4.10)
4.1. Significado Fı́sico dos Parâmetros q e χ 47

fazendo com que, neste caso


X
q(τ − τ ′ = 0) = T q(ωn ) = 0. (4.11)
ωn

Vamos ver agora o que acontece quando τ 6= τ ′ . Para este caso, temos

hŜiα (τ )Ŝiβ (τ ′ )iα6=β = hΨ|Ŝiα(τ )Ŝiβ (τ ′ )|Ψi


= hΨ|eiĤτ Ŝiα (0)e−iĤ(τ −τ ) Ŝiβ (0)e−iĤτ |Ψi
′ ′
(4.12)
−→ q(τ − τ ′ 6= 0)

Conforme vimos no capı́tulo 1, após a média sobre a desordem ter sido estabelecida,
não nos é possı́vel fatorar o operador Ĥ, na forma Ĥα ⊗ Ĥβ , logo concluı́mos que em geral

q(τ − τ ′ 6= 0) 6= 0. (4.13)

Os resultados obtidos nas equações (4.11) e (4.13) serão extremamente úteis ao analisar-
mos as equações que definem as fases termodinâmicas do sistema.
Quanto ao parâmetro (χ), notamos que este parâmetro reflete a seguinte correlação
temporal da direção de magnetização tomada no mesmo ponto do espaço e na mesma
réplica, ou seja,
hŜiα (τ )Ŝiα (τ ′ )i −→ χ(τ − τ ′ ), (4.14)
onde na expressão acima não está subentendida a soma sobre i e α. Considerando para
χ o mesmo procedimento feito acima para q, temos para τ − τ ′ = 0,

hŜiα (τ )Ŝiα (τ )i = hΨ|Ŝiα (τ )Ŝiα (τ )|Ψi = hΨ|Ŝiα (0)Ŝiα (0)|Ψi −→ χ(τ − τ ′ = 0). (4.15)

Tendo em mente que Ŝi → ni = (σ, πx , πy ) e do fato de que |n|2 = 1, temos devido à
simetria SO(3)
1
hσ 2 + πx2 + πy2 i = 1 ⇒ hσ 2 i = hπx2 i = hπy2 i = . (4.16)
3
Dessa forma concluı́mos que

1
hσiα (0)σiα (0)i = h(σiα (0))2 i −→ χ(τ − τ ′ = 0) = . (4.17)
3

Observe que apesar de não haver magnetização2 , ou seja, hσi = 0, tem-se hσ 2 i =


6 0.
′ ′
Pelo fato de q(τ − τ ) e χ(τ − τ ), serem reais, vemos que necessariamente q(−ωn ) =
q ∗ (ωn ) e χ(−ωn ) = χ∗ (ωn ).
2
Este resultado é semelhante a uma situação na qual para um dado estado |l, mi = |1, 0i, tem-se
h1, 0|Lx |1, 0i = h1, 0|Ly |1, 0i = h1, 0|Lz |1, 0i = 0, porém h1, 0|L2 |1, 0i = h1, 0|L2x + L2y + L2y |1, 0i = 2~2 6= 0.
48 4 Diagrama de fases

4.2 As Fases termodinâmicas


Ao analisarmos a termodinâmica de um sistema, é necessário termos de forma bem clara,
as definições das variáveis envolvidas. Primeiramente, temos as variáveis que controlam
as mudanças estruturais do sistema; como exemplo de tais variáveis, podemos citar a
temperatura, a rigidez de spin (ρ̄s ) e a desordem (D), entre outras. O segundo conjunto
de variáveis consiste dos parâmetros de ordem que caracterizam a termodinâmica do
sistema, indicando suas fases termodinâmicas. Como exemplos de tais parâmetros temos
a magnetização da subrede (representada, no presente modelo, pelo campo σ), a massa
das excitações de spin (m2 ) e o parâmetro de Edwards-Anderson (q).
Do capı́tulo anterior, vimos que a densidade de energia livre do sistema, calculada
na aproximação de campo médio, é expressa como
  2
¯ m2 , q(ωn ), χ(ωn )) = 1 m2 (σ 2 − ρ̄s ) − Dσ (χ0 − q0 )
f(σ,
2 ρ̄s
3DT X h i
∗ ∗
+ χ (ωn )χ(ωn ) − q (ωn )q(ωn ) (4.18)
2 ω
n
X Z d2 k  
2 2 2 2D
+T ln k + ωn + m − (χ(ωn ) − q(ωn ))
ωn
(2π)2 ρ̄s
Z !
2D X d2 k q(ωn )
− T 2 2 + ω 2 + m2 − 2D (χ(ω ) − q(ω ))
,
ρ̄s ωn
(2π) k n ρ̄s
n n

A fim de obter as fases do sistema, devemos minimizar a energia livre com relação aos
parâmetros σ, m2 , q(ωn ) e χ(ωn ). Assim, obtemos as seguintes equações:
 
∂ f¯ 2 2D
(i ) = 0 =⇒ m − [χ0 − q0 ] σ = 0
∂σ ρ̄s

∂ f¯ X Z d2 k 1
2
(ii ) 2
= 0 =⇒ σ = ρ̄s − 2T 2 2D
∂m ωn
(2π) k + ωn + m − ρ̄s [χ(ωn ) − q(ωn )]
2 2 2
  X Z
2D d2 k q(ωn )
−2 T h i2
ρ̄s (2π)2 2
ωn k + ωn2 + m2 − 2D
ρ̄s
[χ(ω n ) − q(ω n )]

" Z #
∂ f¯ ∗ 2D d2 k 1
(iii ) = 0 =⇒ T 3Dχ (ωn ) − =
∂χ(ωn ) ρ̄s (2π)2 k 2 + ωn2 + m2 − 2D ρ̄s
[χ(ωn ) − q(ωn )]
 2 Z
Dσ 2 2D d2 k q(ωn )
δωn ,0 + T 2  2
ρ̄s ρ̄s (2π)
k 2 + ωn2 + m2 − 2D
ρ̄s
[χ(ω n ) − q(ω n )]
4.2. As Fases termodinâmicas 49

∂ f¯ Dσ 2
(iv ) = 0 =⇒ 3DT q ∗(ωn ) = δω ,0
∂q(ωn ) ρ̄s n
 2 Z
2D d2 k q(ωn )
+ T 2  2 ,
ρ̄s (2π) 2 2 2 2D
k + ωn + m − ρ̄s [χ(ωn ) − q(ωn )]

Perceba que no limite de desordem nula, ou seja, D = 0, as equações (iii ) e (iv ) são
identicamente nulas e as equações (i ) e (ii ) recaem nas equações que descrevem um
sistema antiferromagnético sem frustração [ Marino (2002) ].
Efetuando a integração sobre a variável k nas equações anteriores, tem-se
(i ) M0 σ = 0
   
2 T X Λ2 + M n T X 1 1
(ii ) σ = ρ̄s − ln +A q(ωn ) 2 −
2π ω Mn 2π ω Λ + Mn Mn
n n

   
∗ T Λ2 + M n Dσ 2 2 T 1 1
(iii ) 3DT χ (ωn ) − A ln = δω ,0 − A q(ωn ) 2 −
4π Mn ρ̄s n 4π Λ + Mn Mn
 
∗ Dσ 2 2 T 1 1
(iv ) 3DT q (ωn ) = δω ,0 − A q(ωn ) 2 −
ρ̄s n 4π Λ + Mn Mn
onde, Mn é dado pela expressão
Mn ≡ M(ωn ) = ωn2 + m2 − A[χ(ωn ) − q(ωn )] (4.19)
e M0 = M(ωn = 0). Λ é um corte ultravioleta introduzido para efetuar as integrais em
k. O parâmetro A é definido como uma razão entre a largura da gaussiana e o centro
da gaussiana, a primeira representando a intensidade da desordem ( D ) e o segundo
representando a rigidez de spin média ( ρ̄s ), ou seja,
2D
A= . (4.20)
ρ̄s
O parâmetro A é uma medida da frustração do sistema. Conforme podemos ver na figura
(4.1), a parte sombreada provoca frustração. Se ρ̄s for suficientemente grande, a frustração
será desprezı́vel, apesar da desordem D 6= 0. Por outro lado, em uma rede quadrada sem
desordem (D = 0) não haverá frustração como representado na figura (4.2). Vamos agora
discutir as equações (i), (ii), (iii) e (iv) expostas acima.
Observando a equação (i ), vemos que σ 6= 0 implica necessariamente M0 = 0,
porém, esta condição submetida à equação (ii ) leva no limite M0 → 0 a uma magnetização
imaginária infinita, o que não tem sentido fı́sico. Concluı́mos que σ poderia ser não nulo
somente em T = 0. No entanto, das equações (iii ) e (iv ), verificamos que para T = 0
obtemos a seguinte relação
D 2
σ δωn ,0 = 0. (4.21)
ρ̄s
50 4 Diagrama de fases

P( r ) S

0 rS rS r
S

Figura 4.1: A relação do parâmetro A com a frustração e a desordem para alguns


valores de ρ̄s e mantendo D fixo.

P( r ) S

0 rS rS

Figura 4.2: A relação do parâmetro A com a frustração e a desordem mantendo ρ̄s fixo
e tomando diferentes valores para D.

Esta relação nos diz necessariamente que σ = 0. Portanto, concluı́mos que não existe uma
fase ordenada, tipo Néel, com magnetização σ não nula quando D 6= 0. Daqui pra frente,
portanto, admitiremos sempre que σ = 0. Na ausência de desordem, D = 0, sabe-se que
existe uma fase ordenada de Néel a T = 0 (de acordo com o teorema de Mermim-Wagner)
para ρ̄s > Λ/4π.
De forma a colocar as equações acima numa forma mais adequada ao tratamento
algébrico, vamos definir a seguinte função
 
A2 1 1
gn = − , (4.22)
4π Λ2 + Mn Mn
logo temos
 2 
T X Λ + Mn 2 X
(ii ) 0 = ρ̄s − ln + T qn gn
2π ω Mn A ω
n n
4.2. As Fases termodinâmicas 51

 
1 Λ2 + M n
(iii ) 3Dχ∗n − A ln = −qn gn (4.23)
4π Mn

(iv ) 3Dqn∗ = −qn gn


onde χn ≡ χ(ωn ) e qn ≡ q(ωn ).
Substituindo a equação (iii ) na equação (ii ), obtemos a seguinte expressão
X 1
T χ(−ωn ) = . (4.24)
ω
3
n

Esta relação está de acordo com o resultado obtido na equação (4.17).


Substituindo a equação (iv ) na equação (iii ), obtemos
 
1 Λ2
[χ(−ωn ) − q(−ωn )] = ln 1 + 2 . (4.25)
6π ρ̄s ωn + m2 − A [χ(ωn ) − q(ωn )]
Fazendo a substituição da equação (iv ) na equação (ii ), obtemos
 2 
T X Λ + Mn X
0 = ρ̄s − ln − 3ρ̄s T q ∗ (ωn ). (4.26)
2π ω Mn ω
n n

No entanto da equação (4.11), temos a anulação da soma do termo q ∗ (ωn ) na equação


(4.26), com isso obtemos
 2 
T X Λ + Mn
0 = ρ̄s − ln . (4.27)
2π ω Mn
n

De maneira a efetuar a soma na equação (4.27), vamos considerar a condição em


que 0 < A ≪ 1, a qual corresponde a ρ̄s ≫ 0 ou D ≪ 1. Para efetuar a soma acima,
necessitamos [χ(ωn ) − q(ωn )] em Mn . Como estamos admitindo A pequeno (frustração
fraca), podemos utilizar o termo de ordem mais baixa em (4.25), logo
 
1 Λ2
[χ(−ωn ) − q(−ωn )] ≈ ln 1 + 2 + O(A). (4.28)
6π ρ̄s ωn + m2
A (4.27) possui duas somas, ambas dominadas por valores grandes de ωn2 . Com base nesta
observação, fazemos a aproximação seguinte para (4.28)
 
Λ2 1
[χ(−ωn ) − q(−ωn )] ≈ . (4.29)
6π ρ̄s ωn2 + m2
Fazendo a substituição da equação (4.29) na equação (4.27) podemos efetuar a soma,
obtemos como resultado
 2 
2π ρ̄s Λ + m2 − A(χ0 − q0 )
= ln + ln Υ, (4.30)
T m2 − A(χ0 − q0 )
52 4 Diagrama de fases

sendo Υ uma função de (T, ρ̄s , D, Λ), cuja expressão é


 q   q 
2 Λ X+ 2 Λ X− √  √ 
sinh 2T − Λ2 sinh 2T − Λ2
m2 + Λ2 Y0 m2 − Λ2 Y0
Υ= √ √
 √ √
 , (4.31)
2 m2 +Λ2 Y0 2 m2 −Λ2 Y0 X+ X−
sinh 2T
sinh 2T

onde " s #
1 1 Λ4
X± = (Λ2 + 2m2 ) − ± + 4Y (m) , (4.32)
2 2 (Λ2 + 2m2 )2
com
DΛ2
Y (m) ≡ , (4.33)
3πρ2s (Λ2 + 2m2 )2
o valor Y0 na equação (4.31) corresponde ao valor Y (m = 0), ou seja,

D
Y (m = 0) = Y0 = , (4.34)
3π ρ̄2s Λ2

os detalhes deste cálculo estão dispostos no apêndice C.


Resolvendo a equação (4.30) para m2 − A(χ0 − q0 ), temos

Λ2
m2 − A(χ0 − q0 ) = 2π ρ̄s . (4.35)
Υ−1 e T −1
No entanto da equação (4.25), calculada em freqüência nula, temos

Λ2
m2 − A(χ0 − q0 ) = . (4.36)
e6πρ̄s (χ0 −q0 ) − 1
Comparando as equações (4.35) e (4.36), obtemos
1 1
χ0 − q0 = − ln Υ(m, T ). (4.37)
3T 6π ρ̄s

No grupo de equações (4.23), a equação (iv ), tomada no modo de freqüência nula,


implica que quando q0 6= 0, então necessariamente deve ser satisfeita a seguinte relação
 D
 3πρ̄2s ;

2
m − A(χ0 − q0 ) = C0 =   (4.38)

 − Λ2 + D 2 ;
3π ρ̄ s

ou seja,
m2 − C0
χ0 − q0 = . (4.39)
A
4.2. As Fases termodinâmicas 53

Veremos na seção seguinte (4.2.2) que a solução fı́sica é a positiva. Note que a equação
(4.39) é incompatı́vel com a equação (4.37). Logo, concluı́mos que a equação (4.37) só
é válida quando q0 = 0, ou seja, na fase paramagnética já que qEA = T q0 . Quanto à
equação (4.39), esta só é válida quando não houver solução para χ0 na equação (iii ) em
(4.23), neste caso estamos na fase vidro de spins e necessariamente q0 6= 0.
Vamos analisar separadamente cada uma dessas possı́veis soluções e suas implicações
no estabelecimento das fases termodinâmicas do sistema.

4.2.1 A Fase Paramagnética


Esta fase é caracterizada, no âmbito de um sistema vidro de spin, pelo parâmetro de
Edwards-Anderson nulo (qEA ≡ T q0 = 0) (Além de σ = 0, que sempre ocorre, como
vimos). Neste caso
1 1
χ0 = − ln Υ(m, T ). (4.40)
3T 6π ρ̄s
No limite de temperaturas altas comparadas ao corte ultravioleta, Λ, vê-se que de
(4.31) Υ → 1, com isso a equação (4.37) torna-se
T ≫Λ 1
χ0 −→ . (4.41)
3T
Este é o comportamento esperado para a susceptibilidade estática na fase paramagnética
( lei de Curie ).
A equação (4.36) dará a seguinte expressão para a massa m2 em função da suscep-
tibilidade χ0 , ou seja,
2D Λ2
m2 (χ0 ) − χ0 = 6πρ̄s χ0 . (4.42)
ρ̄s e −1
A equação (4.42) permite obter uma solução para χ0 , desde que conheçamos m2 (T, Λ, ρs , D).
Este resultado pode se obtido inserindo a equação (4.40) na equação (4.35), ou seja,
 
2 2D 1 1 Λ2
m (T, Λ, ρ̄s , D) = − Υ + 2π ρ̄s . (4.43)
ρ̄s 3T 6π ρ̄s Υ−1 e T − 1
A solução para χ0 pode ser obtida da equação (4.42) graficamente. Analisando
a equação (4.42) e os gráficos correspondentes (4.3) e (4.4), vemos que esta equação
só tem solução para m2 > 0. Neste caso sempre temos uma solução χ0 > 0 para a
susceptibilidade estática, dada por (4.42) e q0 = 0. Como vimos, χ0 satisfaz a lei de Curie
a altas temperaturas. Isto caracteriza uma fase paramagnética. Para m2 < 0 não existe
solução χ0 para (4.42) e portanto, (4.37) e (4.41) não valem mais. Neste caso, a solução
das equações de campo médio (4.23) será dada por q0 6= 0 e (4.39).
Concluı́mos que a linha crı́tica separando a fase paramagnética da fase vidro de
spins é dada por m2 = 0 e χ0 (m2 = 0) = 0. Isto leva a
2π ρ̄s
= ln Υ(0, T ), (4.44)
T
54 4 Diagrama de fases

Λ=1
4

2 D = 0.01
ρs = 0.08923

m2 ( χ0 )
0

-2

-4

-6

χ0
-10 -5 0 5 10

Figura 4.3: Gráfico da massa m2 em função da susceptibilidade estática χ0

m2

χ0

Figura 4.4: Gráfico descrevendo a relação entre os dois lados da equação (4.42).

onde Υ(0, T ) é, de acordo com a equação (4.31), dado por:


√ 
sinh2 2T Λ
1 + Y0
Υ(0, T ) =  . (4.45)
Λ 2
2T
(1 + Y 0 )

Inserindo (4.45) na equação (4.44), resulta a expressão


  p   
2π ρ̄s Λ Λ
= 2 ln sinh 1 + Y0 − 2 ln − ln(1 + Y0 ). (4.46)
T 2T 2T

De forma que a consistência das aproximações em A ≪ 1, feitas anteriormente na equação


(4.29) para calcular a soma sobre as freqüências da equação (4.27), seja mantida, faz-se
4.2. As Fases termodinâmicas 55

necessário expandir o resultado anterior, equação (4.46), em série de Taylor em torno de


Y0 , com isso, temos
" #    
Λ
2π ρ̄s sinh 2T Λ 2 Λ
= 2 ln Λ
 + Y0 coth −1 . (4.47)
T 2T
2T 2T

Tendo em mente o valor de Y0 dado na equação (4.34), temos finalmente a expressão que
fornece a linha crı́tica e que descreve a dependência da rigidez de spin (ρ̄s ) em função da
temperatura (T ), da desordem (D) e do corte ultravioleta (Λ), ou seja,
b
ρ̄s = a + ⇒ ρ̄3s − aρ̄2s − b = 0, (4.48)
ρ̄2s
onde definimos " #
Λ
T sinh 2T
a = a(T, Λ) = ln Λ
 (4.49)
π 2T
e    
D Λ Λ
b = b(T, D, Λ) = coth −T . (4.50)
3πΛ2 2 2T
A equação (4.48) possui 3 raı́zes, duas imaginárias e que são desprezadas por não
corresponderem a situação fı́sica, e uma raı́z real dada por
a ah p i1/3 a h p i1/3
ρ̄s (T, D, Λ) = + (1 + γ) + γ(2 + γ) + (1 + γ) − γ(2 + γ) , (4.51)
3 3 3
onde a função γ é dada por  3
b 3
γ(T, D, Λ) = . (4.52)
2 a
A equação (4.51) é a expressão final para a curva crı́tica ρ̄s (T ) separando as fases para-
magnética e vidro de spins, representadas nas figuras (4.5) e (4.6) para diferentes valores
de D. Note que o nosso modelo não está definido para ρ̄s = 0, porque neste caso o termo
de Heisenberg desaparece do hamiltoniano efetivo (1.51).
Para valores pequenos de desordem ( D ≪ 1 ), a equação (4.51), torna-se
b
ρ̄s (T, D, Λ) = a + + O(D 2 ), (4.53)
a2
onde a e b são dadas pelas equações (4.49) e (4.50). No limite de temperatura nula, T = 0,
obtemos o ponto crı́tico quântico
Λ 2πD
ρ̄cs (T = 0, D, Λ) = + . (4.54)
2π 3Λ3
Este resultado mostra a dependência do ponto crı́tico quântico com a desordem. Note
que o valor de ρ̄cs aumenta com a desordem. Como o aumento de ρ̄s tende a diminuir
56 4 Diagrama de fases

30
D = 0.005
D = 0.01
D = 0.015
25 Λ = 1.0 D = 0.02
D = 0.025

20

T 15

10

0
0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 0.12 0.14 0.16 0.18 0.2
ρs

Figura 4.5: Gráfico da temperatura em função da rigidez de spin (spin stiffness) em


escala normal.

100

Λ = 1.0

10 PM
T

VS

0.1

D = 0.005
D = 0.01
D = 0.015
D = 0.02
D = 0.025
0.01
0.1
ρs

Figura 4.6: Gráfico da temperatura em função da rigidez de spin em escala logarı́tmica.

a frustração e portanto a fase vidro de spins (A diminui), vemos que um aumento na


desordem faz com que a fase vidro de spins persista com um ρ̄cs maior.
É notável o fato de que, mesmo com uma desordem infinitesimal, D ≈ 0 ( mas
D 6= 0 ), temos um ponto crı́tico quântico em ρ̄cs = Λ/2π, como podemos ver claramente
da equação (4.54).
4.2. As Fases termodinâmicas 57

4.2.2 A Fase Vidro de Spins


Esta fase se caracteriza (além de σ = 0) pelo fato do parâmetro de Edwards-Anderson
ser nulo, qEA 6= 0. Conforme vimos anteriormente, abaixo da linha crı́tica não há solução
para a equação (4.42) e conseqüentemente não vale a expressão (4.37). Portanto, nesta
fase devemos usar a equação (4.39), ou seja,

1 m2 ρs
q0 = χ0 + − . (4.55)
6πρ2s 2D

Nesta expressão escolhemos a solução positiva de (4.38), que levará a q0 > 0 para m2 → 0
e χ0 → 0.
A equação (4.30) é geral, uma vez que ela resulta da equação (ii ) em (4.23). Por-
tanto, com o intuito de determinar uma expressão para a massa (m2 ) nesta fase, vamos
igualar a equação (4.30) com a equação (4.38), disso resulta

Λ2 D
2πρs = , (4.56)
Υ−1 e T −1 3πρ2s

a qual, pode ser reescrita na forma


2π ρ̄s
Y0 e T
Υ= , (4.57)
Y0 + 1
onde Y0 é dado pela equação (4.45).
Considerando a aproximação de baixa desordem, temos
2π ρ̄s
Υ ≈ Y0 e T . (4.58)

Uma vez que Υ = Υ(m2 , T ), esta equação determina a massa m na fase vidro de spins,
em função das variáveis T , ρ̄s , Λ e D, ou seja,

m2 = m2 (T, D, ρ̄s , Λ). (4.59)

Portanto, da observação acima e da equação (4.55), obtemos uma expressão para o


parâmetro q0 , isto é,  
1 m2
q0 = χ0 + 1− 2 . (4.60)
6π ρ̄s Λ Y0
A massa m2 que aparece nesta expressão pode ser determinada numericamente a partir
de (4.58) e (4.31).
58 4 Diagrama de fases
Capı́tulo

Conclusões e considerações finais.

Obtivemos o diagrama de fases T × ρ̄s , onde ρ̄s está relacionado com J, ¯ o centro da
distribuição gaussiana de acoplamentos de troca. Tal diagrama mostra a existência de
uma fase paramagnética quântica e uma fase de vidro de spins, separadas por uma curva
crı́tica que é determinada explicitamente de forma analı́tica. Mostramos a inexistência de
uma fase ordenada do tipo Néel, como ocorre no sistema puro a T = 0.
Expressões analı́ticas foram encontradas para a susceptibilidade magnética estática
e para o parâmetro de Edwards-Anderson, respectivamente nas fases paramagnéticas e
vidro de spins. Mostramos que a primeira satisfaz a lei de Curie a altas temperaturas.
Descobrimos a existência de um ponto crı́tico quântico a T = 0, separando a fase
paramagnética quântica da fase vidro de spins, cuja posição é dependente da desordem
através dos parâmetros da distribuição gaussiana.
Concluı́mos que a abordagem de Teoria Quântica de Campos é extremamente con-
veniente para o tratamento analı́tico em campo médio de um vidro de spins com simetria
contı́nua e interação de primeiros vizinhos, já que assume uma forma particularmente
simples. Este tipo de interação é de grande importância, já que corresponde à situação
encontrada em diversos sistemas realı́sticos. O modelo com simetria SO(3) em duas di-
mensões espaciais estudado nesta tese poderia ser aplicado, por exemplo na descrição dos
cupratos supercondutores de alta de temperatura.
É bem conhecido o fato de que a solução em campo médio, com simetria de réplicas,
para modelos com interação de alcance infinito, tais como o modelo de Sherrington e
Kirkpatrick [ Sherrington & Kirkpatrick (1975) ], são instáveis [ de Almeida & Thouless
(1978) ]. A estabilidade de tais soluções em modelos com interação de curto alcance,
entretanto, é um problema aberto. Portanto, pretendemos analisar na continuação deste
trabalho, a estabilidade da solução que encontramos para a fase vidros de spins. Caso tal
solução seja instável, pretendemos generalizar nossa solução de modo a quebrar a simetria
59
60 5 Conclusões e considerações finais.

de réplicas e dessa forma reavaliar o diagrama de fase.


Pretendemos também, na seqüência deste trabalho aplicar a mesma metodologia
aqui empregada para descrever um sistema de vidro de spins com viés ferromagnético.
Apêndice

Propriedades dos estados coerentes.

A.1 Estados Coerentes de Spin e Suas Propriedades


Logo após o nascimento da mecânica quântica, Schrödinger por volta de 1926 [ Zhang et
al (1990); Klauder et al (1985) ], propôs o conceito de um estado coerente relacionado
com os estados clássicos do oscilador harmônico quântico. Entretanto, somente por volta
da década de 60 foi que uma intensa atividade de pesquisa nesse campo se estabeleceu,
em parte graças aos trabalhos de Glauber e Sudarshan [ Glauber (1963a, 1963b, 1963c);
Sudarshan (1963) ]. O nome“estado coerente”foi cunhado por Glauber que, de maneira
a estudar funções de correlação na eletrodinâmica quântica, construiu os autoestados
do operador de aniquilação do oscilador harmônico e estabeleceu um assunto de vital
importância na ótica quântica.
Posteriormente Klauder [ Klauder (1963a, 1963b) ] conseguiu estabelecer um con-
junto de estados contı́nuos na qual as idéias básicas dos estados coerentes para grupos
de Lie arbitrários estavam contidas, e somente com os trabalhos de Perelomov [ Perelo-
mov (1972)] e Gilmore [ Gilmore (1974, 1975) ] que uma completa construção de estados
coerentes para grupos de Lie, com várias propriedades similares aos estados coerentes do
oscilador harmônico, foi estabelecido.
O hamiltoniano de Heisenberg tem sua simetria interna descrita pelo grupo SO(3),
os estados coerentes associados a esse hamiltoniano são conhecidos na literatura como
estados coerentes atômicos ou estados coerentes de spin [ Radcliffe (1971); Arecchi et al
(1972) ].
É bem conhecido na literatura de estados coerentes de spin, que no caso de ı́ndices
distintos, é valida a seguinte propriedade [ Lieb (1973) ]

bi · S
h{Ω}|S b j |{Ω}i = S 2 Ωi · Ωj , (i 6= j). (A.1)
61
62 A Propriedades dos estados coerentes.

Uma outra propriedade dos estados coerentes de extrema importância é a supercompleteza


Z
dµ(Ω)|{Ω}ih{Ω}| = 1. (A.2)

A.2 Simetria SU (2) manifesta


De forma a tornar manifesta a simetria SU(2) envolvida no sistema, definamos uma matriz
2 × 2 de operadores por  
Ŝz Ŝ−
Ŝ = , (A.3)
Ŝ+ −Ŝz
logo, podemos reescrever a equação

hΩαi (τ )|Ŝ|Ωαi (τ )i = SΩαi (τ ), (A.4)

como
hΩαi (τ )|Ŝ|Ωαi (τ )i = S P̂iα (τ ), (A.5)
onde
 α α
  
Pi,11 (τ ) Pi,12 (τ ) Ωαi,z (τ ) Ωαi,x (τ ) − iΩαi,y (τ )
P̂iα (τ ) = α α = (A.6)
Pi,21 (τ ) Pi,22 (τ ) Ωαi,x (τ ) + iΩαi,y (τ ) −Ωαi,z (τ )

Da observação da equação acima, percebe-se que ela pode ser escrita em uma forma
simples como
P̂iα (τ ) = Ωαi (τ ) · σ̂, (A.7)
onde σ̂ = σx î + σy ĵ + σz k̂, sendo os σ´s as matrizes de Pauli. Na representação spin-1/2
temos explicitamente para as matrizes de Pauli
     
0 1 0 −i 1 0
σ̂x = , σ̂y = , σ̂z = .
1 0 i 0 0 −1

A partir dessas matrizes obtemos


 
0 1
Ŝ+ = (A.8)
0 0
e  
0 0
Ŝ− = , (A.9)
1 0
logo, fazendo a substituição desses resultados na equação (2.44) tem-se
 
0 zi,α (τ )
Âi,α (τ ) = ∗ . (A.10)
−zi,α (τ ) 0
A.2. Simetria SU(2) manifesta 63

Conseqüentemente temos que



P̂iα (τ ) = Ûi,α (τ )σ̂z Ûi,α (τ ). (A.11)

De forma semelhante ao que foi estabelecido acima, seja a seguinte definição



P̂iα (τ, u) = Ûi,α (τ, u)σ̂z Ûi,α (τ, u) = Ωαi (τ, u) · σ̂ (A.12)

onde
Ûi,α (τ, u) = euÂi,α (τ ) , (A.13)
esse resultado nos permite escrever a equação(2.51) como
Z 1  ∗ 
α d α ∂zi,α (τ ) α ∂zi,α (τ ) α
hΩi (τ )| |Ωi (τ )i = S du Pi,21 − Pi,12 . (A.14)
dτ 0 ∂τ ∂τ
logo concluı́mos que
Z !
1
d ∂ Âi,α α
hΩαi (τ )| |Ωαi (τ )i = S duT r P̂ (τ, u) . (A.15)
dτ 0 ∂τ i

Ao fazer a substituição do resultado anterior, equação (A.15), na equação que descreve a


fase geométrica em um único sı́tio e em uma réplica, equação (2.37), obtemos
Z β Z 1 !
α ∂ Âi,α (τ )
SB,i =S dτ duT r P̂iα(τ, u) . (A.16)
0 0 ∂τ

Integrando por partes a expressão acima com respeito a τ e levando em consideração


as condições de periodicidade dos operadores envolvidos, ou seja, Âi,α (τ = β) = Âi,α (τ =
0) e P̂iα (τ = β, u) = P̂iα (τ = 0, u), temos
Z β Z 1 !
α
∂ P̂ (τ, u)
α
SB,i = −S dτ duT r Âi,α (τ ) i . (A.17)
0 0 ∂τ

Agora o próximo passo consiste em estabelecer uma relação entre o operador Âi,α (τ ) e o
operador P̂iα (τ, u).
Uma vez que [Âi,α (τ ), Ûi,α (τ, u)] = 0 e que P̂iα (τ, u)P̂iα(τ, u) = 1̂, é importante
perceber a seguinte identidade:

∂ Ûi,α (τ, u)
= Âi,α (τ )Ûi,α (τ, u). (A.18)
∂u
Essa identidade nos permite escrever o seguinte resultado

∂ P̂iα (τ, u) †
P̂iα (τ, u) = Ûi,α (τ, u)σ̂z Âi,α (τ )σ̂z Ûi,α (τ, u) − Âi,α (τ ). (A.19)
∂u
64 A Propriedades dos estados coerentes.

Agora utilizando a representação 1/2 dos operadores envolvidos na equação(A.19), temos


   
1 0 0 zi,α (τ ) 1 0
σ̂z Âi,α (τ )σ̂z = ∗ = −Âi,α (τ ). (A.20)
0 −1 −zi,α (τ ) 0 0 −1

Portanto, fazendo a substituição do resultado acima na equação (A.19), obtemos


uma expressão para o operador Âi,α (τ ) em função do operador P̂iα (τ, u), ou seja,

1 ∂ P̂ α (τ, u)
Âi,α (τ ) = − P̂iα (τ, u) i . (A.21)
2 ∂u
Conseqüentemente a fase geométrica em um único sı́tio e em uma única réplica fica
escrito como
Z β Z 1 !
α α
S ∂ P̂ (τ, u) ∂ P̂i (τ, u)
α
SB,i = dτ duT r P̂iα (τ, u) i . (A.22)
2 0 0 ∂u ∂τ

Fazendo uso da equação (A.12), logo temos


Z Z
α S β 1 ∂Ωαi,b ∂Ωαi,c
SB,i = dτ duΩαi,a T r (σ̂a σ̂b σ̂c ) . (A.23)
2 0 0 ∂u ∂τ
Seja agora a seguinte identidade, satisfeita pelas matrizes de Pauli

σ̂a σ̂b = δab 1̂ + iǫabc σ̂c , (A.24)

esta identidade permite escrever o traço na equação (A.23), como sendo

T r (σ̂a σ̂b σ̂c ) = 2iǫabc , (A.25)

logo a fase geométrica, finalmente, fica escrito como


Z β Z 1 Z β Z 1  α 
α α
∂Ωαi,b ∂Ωαi,c α ∂Ωi ∂Ωαi
SB,i = iS dτ duǫabc Ωi,a = iS dτ duΩi · × . (A.26)
0 0 ∂u ∂τ 0 0 ∂u ∂τ
Apêndice

Cálculos dos traços.

Neste apêndice é descrito como é feita a passagem do traço no espaço de configuração


para o traço no espaço recı́proco, isto é, as passagens feitas nas equações (3.52) e (3.53).
Considere a seguinte identidade
XZ
dx′′ M αγ (x, x′′ )Gγβ (x′′ , x′ ) = δ(x − x′ )δ αβ (B.1)
γ

sendo Gγβ (x′′ , x′ ) = [M −1 ]γβ (x′′ , x′ ). Com a decomposição feita no capı́tulo 3, equação
(3.26), temos a seguinte expressão para o kernel M αγ (x, x′′ )

M αγ (x, x′′ ) ≡ M αγ (r, τ |r′ , τ ′ ) = M0 (r, τ |r′ , τ ′ )δ αγ − M1 (r, τ |r′ , τ ′ )C αγ (B.2)

onde
 
′ ′ 2 2D
2 ′
M0 (r, τ |r , τ ) = [−2 + m ]δ(τ − τ ) − [χ(τ, τ ) − q(τ, τ )] δ(r − r′ )
′ ′
(B.3)
ρ̄s
e
2D
M1 (r, τ |r′ , τ ′ ) = q(τ, τ ′ )δ(r − r′ ). (B.4)
ρ̄s
Inserindo as equações (B.3) e (B.4) na expressão (B.2) e substituindo na equação (B.1)
temos
Z Z β " #
X
d2 r ′′ dτ ′′ M0 (r, τ |r′′, τ ′′ )Gαβ (r′′ , τ ′′ |r′ , τ ′ ) − M1 (r, τ |r′′ , τ ′′ ) Gσβ (r′′ , τ ′′ |r′ , τ ′ )
0 σ
αβ ′ ′
= δ δ(r − r )δ(τ − τ ). (B.5)
65
66 B Cálculos dos traços.

Uma vez que estamos admitindo simetria de réplicas, temos

Gαβ (r′′ , τ ′′ |r′ , τ ′ ) = G(r′′ , τ ′′ |r′ , τ ′ ) (B.6)

e X
C ασ Gσβ (r′′ , τ ′′ |r′ , τ ′ ) = nG(r′′ , τ ′′ |r′ , τ ′ ) (B.7)
σ

onde n é o número de réplicas. Dessa forma, inserindo as equações (B.6) e (B.7) na


equação (B.5), obtemos
Z Z β
2 ′′
dr dτ ′′ [M0 (r, τ |r′′, τ ′′ ) − nM1 (r, τ |r′′ , τ ′′ )] G(r′′ , τ ′′ |r′, τ ′ ) = δ(r − r′ )δ(τ − τ ′ )
0
(B.8)
É esta equação que nos permite encontrar o inverso da matriz M αγ (r, τ |r′ , τ ′ ) na equação
(B.1). No limite n → 0, temos
Z Z β
2 ′′
dr dτ ′′ M0 (r, τ |r′′ , τ ′′ )G(r′′ , τ ′′ |r′ , τ ′ ) = δ(r − r′ )δ(τ − τ ′ ). (B.9)
0

Portanto, no limite n → 0, o inverso de M0 está relacionado com G.


Do capı́tulo 3, consideremos os seguintes traços

T1 = tr ln(M0 ) (B.10)

e

T2 = tr M1 M0−1 . (B.11)
A fim de obter os traços tomados no espaço recı́proco, é necessário conhecermos as ex-
pressões de M0 e M1 M0−1 em função das coordenadas (k, ωn ). Assim, vamos considerar
as seguintes transformadas de Fourier
Z Z β Z Z β
2 2 ′ ′ ′ )]
M0 (k, ωn ) = dr dτ dr dτ ′ M0 (r, τ |r′ , τ ′ )ei[k·(r−r )+ωn (τ −τ (B.12)
0 0

e Z Z Z Z
β β
2 2 ′ ′ ′
M1 (k, ωn ) = d r dτ dr dτ ′ M1 (r, τ |r′, τ ′ )ei[k·(r−r )+ωn (τ −τ )] . (B.13)
0 0

O termo M0 em (B.10) é obtido de forma direta, inserindo a equação (B.3) na


expressão (B.12), o que leva ao resultado

M0 (k, ωn ) = βV [k 2 + ωn2 + m2 ]
Z β Z β
2D ′
− V dτ dτ ′ [χ(τ − τ ′ ) − q(τ − τ ′ )] eiωn (τ −τ ) . (B.14)
ρ̄s 0 0
67

Do fato de χ e q dependerem da diferença de τ e τ ′ , temos finalmente [ Courant & John


(1989) ]  
2 2 2
 2D
M0 (k, ωn ) = βV k + ωn + m − (χ(ωn ) − q(ωn )) . (B.15)
ρs
Assim, obtemos
XZ
d2 k
T1 = β ln (M0 (k, ωn ))
ωn
(2π)2
X Z d2 k  
2 2 2
 2D
= V 2
ln k + ωn + m − (χ(ωn ) − q(ωn )) (B.16)
ω
(2π) ρs
n

O termo M1 M0−1 na equação (B.11) tem uma complicação que reside no fato da
necessidade de se conhecer o inverso de M0 . No entanto, conforme vimos anteriormente,
a equação (B.9) fornece o inverso da matriz M0 .
Seja a seguinte definição
Z Z β
[M1 M0−1 ](r, τ |r′ , τ ′ ) = 2 ′′
dr dτ ′′ M1 (r, τ |r′′ , τ ′′ )M0−1 (r′′ , τ ′′ |r′ , τ ′ ). (B.17)
0

Inserindo a equação (B.4) na expressão acima, equação (B.17), obtemos


Z β
2D
[M1 M0−1 ](r, τ |r′, τ ′ ) = dτ ′′ q(τ, τ ′′ )M0−1 (r, τ ′′ |r′ , τ ′ ). (B.18)
ρ̄s 0

A transformada de Fourier da equação (B.18) é dada pela expressão


Z Z β Z Z β
′ ′
[M1 M0−1 ](k, ωn ) = 2
dr dτ dr 2 ′
dτ ′ [M1 G(r, τ |r′, τ ′ )ei[k·(r−r )+ωn (τ −τ )] , (B.19)
0 0

onde estamos considerando da equação (B.9) que M0−1 ≡ G.


Considerando as transformadas de Fourier
X ′
q(τ, τ ′ ) = β −1 q(ωn )e−iωn (τ −τ ) (B.20)
ωn

e
XZ d2 k ′ ′′ ′
′′ ′ ′ −1
G(r, τ |r , τ ) = β 2
G(k, ωn )e−i[k·(r−r )+ωn (τ −τ )] , (B.21)
n
(2π)

temos que, inserindo (B.18) na equação (B.19) e efetuando as integrais envolvidas, resulta

2D
[M1 M0−1 ](k, ωn ) = βq(ωn )G(k, ωn )(2π)2 δ(0). (B.22)
ρ̄s
68 B Cálculos dos traços.

Note da definição da função δ(k), isto é,


Z
1
δ(k) = d2 reik·r , (B.23)
(2π)2

que (2π)2 δ(0) = V . Portanto, temos

2D
[M1 M0−1 ](k, ωn ) = βV q(ωn )G(k, ωn ). (B.24)
ρ̄s

A expressão para G(k, ωn ) é obtida fazendo uso da relação (B.9). Inserindo a


equação (B.3) na expressão (B.9), obtemos
Z
2 2 ′ ′2D β ′′
[−2 + m ]G(r, τ |r , τ ) − dτ [χ(τ, τ ′′ ) − q(τ, τ ′′ )] G(r, τ ′′ |r ′ , τ ′ )
ρ̄s 0
= δ(r − r′ )δ(τ − τ ′ ) (B.25)

Fazendo uso das transformadas de Fourier para χ(τ, τ ′ ), q(τ, τ ′ ) e G(r, τ |r′ , τ ′ ) na expressão
(B.25), resulta
1
G(k, ωn ) = 2 2D
. (B.26)
k + ωn − ρ̄s [χ(ωn ) − q(ωn )]
Inserindo (B.26) na equação (B.24), chegamos ao resultado

2D q(ωn )
[M1 M0−1 ](k, ωn ) = βV 2 2D
. (B.27)
ρ̄s k + ωn − ρ̄s [χ(ωn ) − q(ωn )]

Com isso fazendo a substituição da equação (B.27) na equação (B.11) resulta


X Z d2 k
−1
T2 = β 2
[M1 M0−1 ](k, ωn ), (B.28)
ω
(2π)
n

ou seja, Z
2D X d2 k q(ωn )
T2 = V 2 2D
. (B.29)
ρ̄s ω (2π) k + ωn − ρ̄s [χ(ωn ) − q(ωn )]
2
n
Apêndice

Cálculo da soma de freqüências.

Este apêndice descreve o procedimento feito para efetuar as somas nas freqüências de
Matsubara. Dessa forma, seja a soma
X  ω 2 + Λ2 + m2 − A [χ(ωn ) − q(ωn )] 
n
ST OT = ln . (C.1)
ω
ωn2 + m2 − A [χ(ωn ) − q(ωn )]
n

Separando na equação acima o modo de freqüência nula dos demais modos e fazendo
a substituição da expressão para [χ(ωn ) − q(ωn )], dada por (4.29), temos
 2 
Λ + m20
ST OT = ln + SP AR , (C.2)
m20

onde
!
X Ã/ρ̄s
SP AR = ln ωn2 + Λ2 + m2 − 2
ωn 6=0
ωn + m2
!
X Ã/ρ̄s
− ln ωn2 + m2 − 2 , (C.3)
ω 6=0
ωn + m2
n

e com o intuito de facilitar a álgebra, fizemos as seguintes definições

m20 = m2 − A [χ(ω0 ) − q(ω0 )] , (C.4)

e
Λ2
à = A . (C.5)

69
70 C Cálculo da soma de freqüências.

Reescrevendo a equação (C.3), temos


" # " #
X   Ã X  2 Ã
SP AR = ln ωn2 + Λ2 + m2 ωn2 + m2 − − ln ωn2 + m2 −
ρ̄s ρ̄s
ωn 6=0 ωn 6=0
≡ S1 − S2 . (C.6)
Vamos primeiro tratar a soma S1 , ou seja,
" #
X   Ã
S1 = ln ωn2 + Λ2 + m2 ωn2 + m2 − . (C.7)
ρ̄s
ωn 6=0

Observando a equação (C.7), vemos que este consiste de uma soma sobre o polinômio
  Ã
P1 (ωn2 ) = ωn2 + Λ2 + m2 ωn2 + m2 − . (C.8)
ρ̄s
Portanto, de forma a fatorar o polinômio (C.8), é necessário obtermos suas raı́zes, assim
  Ã
X + Λ2 + m2 X + m2 − =0 (C.9)
ρ̄s
ou

X 2 + (Λ2 + 2m2 )X + m2 (m2 + Λ2 ) − = 0. (C.10)
ρ̄s
onde fizemos ωn2 ≡ X.
Resolvendo a equação (C.10) para a variável X, obtemos as duas raı́zes do polinômio
(C.8), ou seja,
" s #
2 2 1 1 Λ4
X± = (Λ + 2m ) − ± + 4Y (m) , (C.11)
2 2 (Λ2 + 2m2 )2
com

Y (m) ≡ , (C.12)
ρs (Λ2 + 2m2 )2
O resultado (C.11) permite reescrever o polinômio (C.8) da seguinte maneira
P1 (ωn2 ) = (ωn2 − X+ )(ωn2 − X− ). (C.13)
Inserindo (C.13) na equação para S1 , equação (C.7), obtemos
X 
S1 = ln(ωn2 − X+ ) + ln(ωn2 − X− )
ωn 6=0
X 
= ln(ωn2 − X+ ) + ln(ωn2 − X− ) − ln(−X+ ) + ln(−X− ). (C.14)
ωn
71

Agora é possı́vel efetuar a soma sobre as freqüências de Matsubara para S1 , a qual resulta
 √   √ 
−X+ −X−
S1 = 2 ln sinh + 2 ln sinh − ln(−X+ ) + ln(−X− ), (C.15)
2T 2T

onde usamos a expressão bem conhecida na literatura


X  √ 
2 −X±
ln(ωn − X± ) = 2 ln sinh . (C.16)
ω
2T
n

Vamos agora calcular a soma S2 , ou seja,


" #
X  2 Ã
S2 = ln ωn2 + m2 − . (C.17)
ω 6=0
ρ̄s
n

Esta expressão pode ser reescrita em uma forma fatorada da seguinte maneira
X   1/2  X   1/2 
2 2 2 2
S2 = ln ωn + m + Ã/ρ̄s + ln ωn + m − Ã/ρ̄s
ωn 6=0 ωn 6=0
X   1/2  X   1/2 
2 2 2 2
= ln ωn + m + Ã/ρ̄s + ln ωn + m − Ã/ρ̄s (C.18)
ωn ωn
 1/2    1/2 
2 2
− ln m + Ã/ρ̄s − ln m − Ã/ρ̄s .

Assim, efetuando a soma sobre as freqüências de Matsubara na equação (C.18), obtemos


 q   q 
1/2 1/2
m2 + Λ2 Y0 m2 − Λ2 Y0
S2 = 2 ln sinh   + 2 ln sinh  
2T 2T
h i h i
1/2 1/2
− ln m2 + Λ2 Y0 − ln m2 − Λ2 Y0 , (C.19)

onde

Y0 = Y (m = 0) = . (C.20)
ρ̄s Λ4
Assim, temos  
Λ2 + m20
ST OT = ln + ln Υ, (C.21)
m20
em que fizemos a seguinte definição

ln Υ = S1 − S2 , (C.22)
72 C Cálculo da soma de freqüências.

ou seja, inserindo (C.15) e (C.19) na expressão (C.22) e tomando a exponencial, temos


finalmente
 q   q 
2 Λ X+ 2 Λ X− √  √ 
sinh 2T − Λ2 sinh 2T − Λ2
m2 + Λ2 Y0 m2 − Λ2 Y0
Υ= √ √
 √ √
 . (C.23)
2 m2 +Λ2 Y0 2 m2 −Λ2 Y0 X+ X−
sinh 2T
sinh 2T
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