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O clima político nacional nunca esteve tão polarizado como agora.

Adriano Cerqueira, Cientista Político e professor do IBMEC-BH


Os últimos acontecimentos políticos no país evidenciaram o clima de forte
polarização existente na política brasileira: início de deliberação na Câmara dos
Deputados do Projeto de Lei (PL) 2630 (alcunhado de “PL das fake news” por uns, ou
de “PL da censura”, por outros) e a instauração da CPMI de 08 de janeiro, tornada
inevitável depois que a CNN divulgou vídeos do Gabinete de Segurança Institucional
(GSI) do Palácio do Planalto que, no mínimo, colocaram sob suspeição a capacidade
desse GSI de proteger o patrimônio público contra a ação de vândalos. O Brasil
continua em crescente ebulição política, muito longe da alegada intenção de Lula de
“pacificar” o país. Afinal, o próprio presidente não tem contribuído para essa missão,
pois suas declarações têm insinuado que há, nele, uma grande insatisfação contra seus
críticos e especialmente contra a oposição.
A aprovação, no dia 25 de abril, do regime de urgência para a PL 2630 (das
“fake news” ou da censura, você decide) pela Câmara dos Deputados apressou o rito de
deliberação, pois a fase para que essa PL fosse apreciada pelas comissões foi suprimida.
Porém, provavelmente por acordo feito, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur
Lira, não colocou imediatamente em votação a PL e marcou sua votação para uma
semana depois, no dia 02 de maio. Essa PL é de fundamental importância, pois ela
pretende regular a atividade das empresas das redes sociais a partir do que é publicado
nelas, permitindo que elas sejam responsabilizadas pelo conteúdo. A depender de como
os parlamentares irão deliberar e aprovar, um regime de censura sobre a opinião pública
brasileira irá se viabilizar oficialmente e levantará dúvidas fundamentadas sobre sua
constitucionalidade (afinal, nossa Constituição ainda proíbe a prática da censura).
Portanto, o debate sobre essa PL é de fundamental importância para quem defende o
governo (e defende sua aprovação) e para quem é oposição ao governo (e é contrário à
sua aprovação). Entre esses polos, há os brasileiros que estão preocupados com a
possibilidade da opinião pública no país ser criminalizada, além de censurada.
Dificilmente uma pacificação sairá após a deliberação da PL (da censura, das “fake
news”?)
A CPMI de 08 de janeiro é outro forte ingrediente a ser adicionado à forte
polarização política existente. Os vídeos divulgados pela CNN do Brasil mostraram
cenas fortes o suficiente para, no mesmo dia de sua divulgação, forçarem a renúncia do
ministro-chefe do GSI e amigo de longa data de Lula, general Gonçalves Dias. Não foi
uma saída qualquer, afinal gen. Gonçalves Dias acompanha Lula desde o seu primeiro
mandato, servindo até o término do segundo mandato (2003-2010). A força dos vídeos
divulgados gerou o impulso final para que a CPMI de 08 de janeiro (que Lula queria a
todo custo evitar) fosse instaurada, fato ocorrido com a leitura de seu requerimento no
dia 26 de abril, apenas um dia após a aprovação do regime de urgência para a PL
(“censura” ou “fake news”?) Não deve ter sido uma mera coincidência...
Essa CPMI, como qualquer outra na história recente do país, tem poder para
desestruturar o governo (tal como já aconteceu no passado) e quanto mais polarizado
estiver a política nacional maior será essa possibilidade. Caso Lula queira, realmente,
“pacificar” o país ele deverá parar, imediatamente, com seu atual comportamento e
trabalhar para construir, junto e com a oposição, um meio de pacificação da política
nacional. Enfim, fazer aquilo que ele está cobrando dos ucranianos contra os invasores
russos...

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