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Vida e Cidadania

Censura judicial

TSE censura Gazeta do


Povo por post que cita
apoio de Lula a ditadura
na Nicarágua

Por Gazeta do Povo


05/10/2022 16:07

Daniel Ortega e Lula em 2010, durante visita do ditador


nicaraguense a Brasília.| Foto: EFE/Fernando Bizerra Jr

00:00 -16:06

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O ministro Paulo de Tarso Sanseverino, do


Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
determinou que o Twitter e o Facebook
removam 31 postagens que apontam o apoio
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) à ditadura de Daniel Ortega na
Nicarágua. A censura judicial, de caráter
liminar (provisório), atinge também um
tweet da Gazeta do Povo, de 22 de setembro,
com a notícia de que o regime de Ortega
havia cortado o sinal do canal de notícias
CNN naquele país.

Sanseverino atendeu a um pedido de


censura da coligação de Lula, que alegou
que, em conjunto, as postagens promoviam
“reiterada campanha difamatória” contra o
petista, “com o objetivo de incutir no eleitor
a ideia de que ele persegue e ameaça
cristãos, assim como seu aliado e amigo, o
ditador da Nicarágua Daniel Ortega”. Na
decisão, o ministro diz que as postagens,
apresentadas ao TSE pela coligação de Lula,
têm “conteúdos manifestamente
inverídicos em que se propaga a
desinformação de que o candidato Luiz
Inácio Lula da Silva defendeu a invasão de
igrejas, perseguiria os cristãos, bem como
apoiaria a ditadura da Nicarágua”.

Em nota, a diretora da Gazeta do Povo, Ana


Amélia Cunha Pereira Filizola, afirmou que
a decisão é “censura pura e simples”. “A
decisão do TSE contra as postagens nos
perfis das redes sociais da Gazeta do Povo é,
sem sombra de dúvidas, censura pura e
simples. Derrubar conteúdos verdadeiros, e
perfeitamente verificáveis, é prática de
ditaduras. A decisão, no entanto, reacende a
nossa vontade de continuar lutando para
que a liberdade de expressão seja
totalmente reestabelecida no Brasil, pois,
infelizmente, não somos um caso único e
inédito. Hoje vemos crescer cada vez mais a
interferência de Judiciário contra a
liberdade de imprensa. Vamos lutar contra a
decisão arbitrária nas esferas cabíveis.”

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Entidades como a Associação Nacional dos


Jornais (ANJ) e o Instituto Democracia e
Liberdade (IDL) também criticaram a
decisão (leia abaixo).

Para basear sua decisão, Sanseverino citou


dispositivos do Código Eleitoral e de
resoluções do TSE que dizem que não será
tolerada propaganda eleitoral que
“caluniar, difamar ou injuriar qualquer
pessoa, bem como atingir órgãos ou
entidades que exerçam autoridade pública”.
A remoção dos posts também tem como
base regra aprovada no fim do ano passado
pelo próprio TSE, que veda “a divulgação ou
compartilhamento de fatos sabidamente
inverídicos ou gravemente
descontextualizados que atinjam a
integridade do processo eleitoral”. A
matéria da Gazeta do Povo noticiava o
fechamento da CNN na Nicarágua, fato
amplamente conhecido.

“Na hipótese dos autos, em análise


superficial, típica dos provimentos
cautelares, observo que as publicações
impugnadas transmitem, de fato,
informação evidentemente inverídica e
prejudicial à honra e à imagem de candidato
ao cargo de presidente da República nas
eleições 2022. As publicações transmitem de
forma intencional e maliciosa mensagem de
que o candidato Luiz Inácio Lula da Silva é
aliado político do ditador da Nicarágua
Daniel Ortega, e assim como ele será contra
os evangélicos e irá perseguir os cristãos”,
escreveu Sanseverino. A reportagem da
Gazeta do Povo em questão não citava a
perseguição a cristãos. Mas também é fato
que a ditadura nicaraguense está cada vez
mais violenta contra a liberdade religiosa.

O magistrado deu como exemplos


postagens, indicadas pela defesa de Lula,
publicadas por políticos e influenciadores
digitais, contendo críticas a atos do regime
de Ortega contra veículos de mídia e
religiosos, alertando para o risco de Lula
adotar medidas semelhantes no Brasil.

Entre os alvos da ação estão o senador


Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o deputado
Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o assessor
internacional da Presidência da República
Filipe Martins, o deputado federal Paulo
Martins (PL-PR), o ex-secretário nacional
de Cultura e deputado eleito Mario Frias
(PL-SP), o deputado estadual Tenente
Nascimento (Republicanos-SP), além de
jornalistas e comentaristas políticos, como
Rafael Fontana, Leandro Ruschel e Kim
Paim.

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No pedido de censura, a coligação de Lula


alegou que é falsa a narrativa de que Lula
apoia o regime de Ortega. Os advogados do
ex-presidente dizem que ele “jamais
demonstrou qualquer tipo de apoio ao
regime da ditadura”. “Os representados
propagaram conteúdo gravemente
descontextualizado, buscando propagar fato
sabidamente inverídico de que o ex-
presidente Luiz Inácio Lula da Silva apoiaria
medidas autoritárias realizadas pelo
Presidente da Nicarágua Daniel Ortega”, diz
a ação. Os advogados dizem ainda que Lula
“sempre pautou sua atuação de modo a
respeitar a liberdade de crenças e religiões”.
Por fim, citaram agências de checagem que
teriam desmentido boatos de que Lula
censuraria padres, pastores e ameaçaria
igrejas no Brasil.

Na parte em que pediu a remoção da


postagem da Gazeta do Povo, a coligação de
Lula alegou que o jornal tentaria “induzir ao
pensamento de que o ex-presidente
compactua com a ditadura”. “As
publicações acima referidas buscam
associar que o candidato Lula apoiaria
veementemente um regime autoritário e
que persegue cristãos, o que sabiamente é
uma inverdade”, disseram os advogados de
Lula na ação – a postagem e a notícia
publicada pelo jornal não afirmam que o ex-
presidente perseguiria cristãos.

A defesa de Lula também pediu que o TSE


determinasse que todos os alvos da ação se
abstenham de veicular conteúdos
semelhantes. O ministro não atendeu a esse
último pedido. Ele determinou que Twitter e
Facebook removessem as postagens, sob
pena de multa R$ 10 mil por dia. Todas as
partes foram intimadas a se defender. O
Ministério Público Eleitoral, que também
opina nos processos de propaganda, ainda
não apresentou parecer.

Censura

Em nota, o presidente da Associação


Nacional dos Jornais (ANJ), Marcelo Rech,
criticou a decisão. “A ANJ protesta
veementemente contra a censura imposta
pelo ministro Paulo de Tarso Sanseverino,
do TSE, a uma publicação do jornal Gazeta
do Povo no Twitter. A decisão contraria
frontalmente a Constituição, que não
admite censura à imprensa. A legislação
brasileira dispõe de uma série de
mecanismos para dirimir eventuais abusos
à liberdade de expressão, mas neles não se
inclui a censura”.

O Instituto Democracia e Liberdade (IDL)


também manifestou repúdio à decisão.
“Lamentamos que mais uma vez o
Judiciário brasileiro atente contra a
liberdade. Agora, cerceando um dos veículos
mais importantes do Brasil, a Gazeta do
Povo, jornal centenário, que é um dos
pilares do jornalismo responsável e
imparcial. Em meu nome, e da instituição
que presido, o IDL, meu mais veemente
repúdio”, disse, em nota, o presidente da
entidade, Edson José Ramon.

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O advogado constitucionalista André


Marsiglia Santos, especializado na defesa da
liberdade de imprensa, considera que, com
decisões do tipo, de retirar do ar
reportagens ou postagens de veículos de
comunicação, o TSE tem interferido no
processo eleitoral.

“Esse caso pode ser avaliado em conjunto


com um posicionamento do TSE que tem se
tornado recorrente. Que é o de entender
eventuais imprecisões técnico-jurídicas de
uma matéria, ou um apelo na notícia, algo
normal e que faz parte do fazer jornalístico,
como algo sabidamente inverídico. Isso tem
servido para retirar matérias do ar e
promover censura, sob a justificativa de não
haver interferência nas eleições. Mas o que
eles estão fazendo são interferências”,
disse. “O que é para ser banido é aquilo que
não se pode contestar de forma alguma,
uma matéria inteira, não um trechinho ou
uma imprecisão. Se há um trecho impreciso,
e a matéria sai do ar, 90% que é verídico é
censurado”, afirma.

Outro problema, diz ele, é que muitas


decisões têm como base conteúdos
publicados por agências de checagem. “(As
agências) não têm função pública e não são
um instituto totalmente impassível de erro.
Basear em cima disso é perigoso.” Por fim,
ele observa que algumas campanhas têm
pedido ao TSE o banimento de conteúdos
jornalísticos junto com postagens de
apoiadores de candidatos. “É uma estratégia
de descredibilizar imprensa que tem de ser
rechaçada”, afirmou.

Liminar tem como precedente


decisão de Cármen Lúcia contra
Eduardo Bolsonaro

A liminar de Sanseverino apresenta como


precedente outra decisão, proferida em
setembro pela ministra Cármen Lúcia, na
qual ela determinava a remoção de uma
postagem de Eduardo Bolsonaro em que ele
escreveu que “Lula e PT apoiam invasões de
igreja e perseguição de cristãos”. A
coligação de Lula apontou “propagação de
fake news” e a ministra concordou. Afirmou
que as postagens de Eduardo configuravam
propaganda eleitoral negativa e ofensa à
honra do candidato representante [Lula] e
do partido ao qual é filiado [PT].”

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“Não são críticas políticas ou legítima


manifestação de pensamento. O que se tem
é mensagem ofensiva à honra e imagem de
pré-candidato à presidência da República,
com divulgação desinformação
sabidamente inverídica”, escreveu ministra.
No dia 13 de setembro, a decisão foi
referendada por unanimidade pelos outros
seis ministros que julgaram o caso:
Alexandre de Moraes (presidente do TSE),
Ricardo Lewandowski, Benedito Gonçalves
(corregedor da Justiça Eleitoral), Raul
Araújo, Sérgio Banhos e Carlos Horbach.

O apoio de Lula e do PT a Ortega

É antiga e conhecida a proximidade de Lula


com Ortega, que governa a Nicarágua desde
2007. Em 2010, quando era presidente, o
petista disse, em tom de brincadeira, que os
dois integravam o “eixo do mal”. “Onde vai
ser publicada essa foto, [Ricardo]
Stuckert?”, perguntou Lula ao fotógrafo
oficial da Presidência, enquanto apertava a
mão de Ortega, durante uma cerimônia no
Itamaraty. “Vai ter uma pequena
manchetezinha: ‘el goviernantes del eixo
del mal se encuentran’”, ironizou Lula.

Em 2018, quando Ortega promoveu uma


repressão a opositores que resultou na
morte de mais de 360 pessoas, o PT deu
respaldo ao regime, durante um encontro do
Foro de São Paulo em Havana. “Depois de
tantos sucessos, sofremos uma
contraofensiva neoliberal, imperialista,
multifacetada, com guerra econômica,
mediática, golpes judiciais e parlamentares,
como ocorre na Nicarágua e ocorreu na
Venezuela”, disse, durante o encontro,
Mônica Valente, dirigente do PT e então
secretária-executiva da organização de
esquerda.

Participaram do encontro, em julho daquele


ano, a ex-presidente Dilma Rousse! e o
então presidente da Bolívia, Evo Morales, e
o da Venezuela, Nicolás Maduro.

Em 2020, quando o Foro de São Paulo


completou 30 anos, num debate online com
a presença de Maduro e do líder cubano
Miguel Díaz-Canel, Ortega, ao lado da
mulher, Rosario Murillo, mandou “nosso
abraço e nosso carinho para Lula, que está
no nosso coração”. Lula é presidente de
honra do PT e fundou o Foro de São Paulo
em 1990, junto com Fidel Castro.

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No fim do ano passado, o apoio do PT ao


regime de Ortega novamente chamou a
atenção da comunidade internacional. No
dia 8 de novembro, o partido divulgou uma
nota celebrando a eleição que deu a Ortega
seu quarto mandato consecutivo. Na
disputa, os outros cinco candidatos estavam
presos ou exilados e três partidos de
oposição foram cassados. A Organização dos
Estados Americanos (OEA) classificou a
eleição como “ilegítima”.

Em seu site, no entanto, o PT classificou a


eleição na Nicarágua como “uma grande
manifestação popular e democrática” e que
o resultado demonstrava “o apoio da
população a um projeto político que tem
como principal objetivo a construção de um
país socialmente justo e igualitário”.

Dois dias depois, a nota foi retirada do site


do partido. À época, a presidente do PT,
Gleisi Ho!mann, afirmou que a nota “não
foi submetida à direção partidária”.
“Posição do PT em relação a qualquer país é
defesa da autodeterminação dos povos,
contra interferência externa e respeito à
democracia, por parte de governo e
oposição. Nossa prioridade é debater o
Brasil com o povo brasileiro”, escreveu ela
nas redes sociais.

Ainda em novembro de 2021, numa


entrevista ao jornal espanhol El País, Lula
minimizou a ditadura na Nicarágua e
comparou Ortega à então chanceler da
Alemanha, Angela Merkel. “Temos que
defender a autodeterminação dos povos.
Sabe, eu não posso ficar torcendo. Por que a
Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder e
Daniel Ortega não? Por que Felipe González
aqui [na Espanha] pode ficar 14 anos no
poder? Qual é a lógica?”, disse o petista.

Quando a entrevistadora disse que Merkel e


Gonzalez não mandavam prender
opositores, como Ortega, Lula tentou se
corrigir. “Eu não posso julgar o que
aconteceu na Nicarágua. No Brasil, eu fui
preso [...] Eu não sei o que as pessoas
fizeram para ser presas [...] Se o Daniel
Ortega prendeu oposição para não disputar
eleição, como fizeram contra mim, ele está
totalmente errado”, afirmou o ex-
presidente.

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Nesta terça (4), Ortega enviou uma carta a


Lula parabenizando-o pela votação no
primeiro turno das eleições. “Este primeiro
momento de triunfo para as famílias e o
povo do Brasil, que se levantam com
esperança e as vozes de gigantes, anima e
alenta a tod@s nós. Parabenizando você e o
Brasil, nos congratulamos sabendo que o
mundo pertence a quem luta e que estamos
realizando as transformações necessárias,
com coragem diária”, diz o texto.

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