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ARTIGO
Luciano Munck
Doutorando em Administração pela FEA/USP
Professor Assistente do Departamento de Administração da Universidade
Estadual de Londrina - PR
E-mail: munck@uel.br
RESUMO ABSTRACT
Reflection is made on the role of critical thinking
O presente ensaio traz uma reflexão sobre a
in the teaching of graduate Business
postura crítica no ensino de Administração. Para
Administration. Reference is made to one of
tanto, vale-se das idéias de um dos mais louváveis
history’s notable early proponents of critical
precursores do posicionamento crítico
thinking, Socrates. His ideas about the need of a
fundamentado da história: Sócrates. O estudo se
capability of self-analysis and consequently self-
desenvolve apresentando idéias socráticas sobre a
understanding are followed by a questioning about
necessidade de as pessoas serem capazes de se auto-
the continuing validity of knowledge possessed or
analisarem e, conseqüentemente, se
that which may become available for the purpose of
autoconhecerem e questionarem se o conhecimento
facing arguments, demands for explanation and
que possuem ou possam vir a possuir mantém-se
reflection. The Sophist position is then considered
válido ante argumentações, interpelações e
as it pervades the practice of teaching in graduate
reflexões. Em seguida, aborda o posicionamento
schools of Business Administration where those who
sofista que invade sobremaneira a prática e o ensino
do not question are relegated to a position of
da Administração e mantém os que não questionam
superficiality for solely relying on the position of
à frente de um processo educativo superficial,
others. A comment is made about many graduate
fundamentado apenas em pontos de vista. A partir
administration schools who have abandoned
daí, verifica que grande parte das escolas de
scientific rigor to rely only on the reproduction of
Administração desvincularam-se do processo de
knowledge from other institutions, mostly those of
construção científica, submetendo-se a apenas
Brazil and North America. Points of confluence
reproduzir o conhecimento de outras instituições
between the proposals of Socrates and teaching are
brasileiras e principalmente americanas.
then examined. One example is the teacher’s role as
Finalizando, o ensaio apresenta pontos de
a catalyst in the development of critical and
confluência das propostas de Sócrates com o ensino
constructive rationale. One of the major
de Administração. Um deles é a necessidade de os
hindrances, however, is that most educators are
docentes atuarem como “parteiros” de idéias, ou
culturally involved with formal logic while they
seja, como catalisadores do processo de
overlook dialectic logic.
desenvolvimento do raciocínio crítico construtivo
nos alunos. Um dos grandes empecilhos é que os Key words: Graduate business school teaching,
próprios educadores, em sua maioria, estão graduate business administration teaching,
culturalmente envolvidos pela lógica formal e não Socrates, reproduction of knowledge.
pela lógica dialética.
Palavras-chave: Educação em Administração,
crítica socrática, reprodução do conhecimento.
É nesse cenário que a difícil tarefa de educar Diante desse quadro, este artigo busca propor
indivíduos, futuros líderes e administradores se uma reflexão a todos aqueles que são (ou pretendem
torna mais complexa e menos previsível. ser) educadores na área de Administração. Acredita-
Assumindo-se que a jornada para o conhecimento se que essa reflexão aponta importantes elementos a
não começa com respostas, mas com perguntas, ser considerados pelas instituições de ensino em
questiona-se: como vencer o desafio de saber fazer Administração, visando à sua qualidade no contexto
a pergunta correta ou delineadora? Que métodos são atual.
mais adequados nesse contexto? Que formação Para isso, são apresentadas, a seguir, as idéias
queremos (e qual a que podemos) oferecer? centrais de Sócrates, assim como seu método de
Talvez possamos responder a essas questões construção do conhecimento – a Maiêutica. Depois,
formulando perguntas de base como: qual o analisa-se o ensino de Administração no contexto
objetivo da "educação" que estamos oferecendo brasileiro; é realizada então uma reflexão sobre os
hoje? A formação oferecida pelo ensino em ensinamentos de Sócrates e sua aplicação ao
Administração no Brasil visa à quantidade ou à contexto estudado, gerando-se proposições e –
qualidade? Ela é utilitarista ou se preocupa com a principalmente – novos questionamentos.
formação integral do indivíduo?
uma determinada coisa, em geral uma virtude ou Ao que Menón responde: – Eu diria que enquanto
qualidade moral (MARCONDES, 2000; abelhas elas não são diferentes umas das outras.
STRATHERN, 1998). O debatedor deveria Sócrates: – Suponha então que eu lhe peça: é
responder claramente ao que lhe era perguntado, exatamente isso que quero que você me diga. Qual é a
freqüentemente com um simples sim ou não característica em relação à qual elas não diferem, mas
(NIELSEN NETO, 1985). são todas iguais? Você tem algo a me dizer, não?
Sócrates começava pedindo ao seu interlocutor Ménon: – Sim.
que definisse o assunto em questão – que poderia Sócrates continua dizendo: – Faça o mesmo com as
ser qualquer coisa, como a natureza da justiça ou o virtudes. Mesmo que sejam muitas e de vários tipos,
método para se atingir o posto de general. Fosse de terão pelo menos algo em comum que faz de todas
natureza sublime ou ridícula, ele dava sempre o elas virtudes. É isso que deve ser levado em conta por
mesmo tratamento ao assunto. Esta era a grande quem quiser responder à questão: O que é virtude?
inovação da sua dialética: uma ferramenta que (MARCONDES, 2000, p. 46-47).
poderia ser aplicada a qualquer tema. Depois de Sócrates denominou o seu método de Maiêutica,
proposta uma primeira definição do assunto, que significa a arte de fazer o parto, uma alusão ao
Sócrates passava então a descobrir falhas na ofício de sua mãe, que era parteira. Ele também se
argumentação, e no decorrer do processo chegava a considerava um parteiro, de idéias, porém; afirmava
uma melhor definição. Dessa forma, avançava de ser ele próprio estéril – uma vez que só sabia que
exemplos individuais para outros de aplicação mais nada sabia – e que sua missão era ajudar a dar à luz
generalizada, buscando atingir uma verdade as idéias alheias. Com isso, pretendia que as pessoas
universal (STRATHERN, 1998). fossem ao encontro de si mesmas – como a
A reflexão filosófica vai mostrar que, com inscrição no templo de Delfos indicava –, fazendo
freqüência não sabemos o que pensamos saber. de si próprias o ponto de partida (PESSANHA,
Muitas vezes temos um conhecimento prático, 1991).
intuitivo, imediato, mas que se revela inconsistente O papel do filósofo, portanto, não é apresentar
no momento em que deve ser explicitado. O método respostas prontas, mas ajudar os seus interlocutores,
socrático irá apontar essas fragilidades, indicando a outros indivíduos, através da dialética e do diálogo,
necessidade de aprimorar esse conhecimento a dar à luz suas próprias idéias. Os passos básicos
através da reflexão. Partindo de um conhecimento já do método maiêutico são:
existente, irá buscar algo mais perfeito e mais
completo (MARCONDES, 2000; PESSANHA, • Questionar o interlocutor de forma que ele
1991). exponha as suas idéias, provocando-o a explicitar
suas crenças e questionando-o para que ele
Um dos Diálogos que ilustra o método socrático fundamente suas idéias e crenças;
é o que Sócrates realiza com Ménon, um homem de
seu tempo, a respeito do que é virtude. Ménon • Freqüentemente utilizando-se de ironia, deve-se
apresenta a Sócrates vários tipos de virtude, problematizar essas crenças, fazendo com que o
argumentando que para cada gênero (homem ou interlocutor caia em contradição, reconhecendo
mulher), idade ou condição social (homens livres ou insuficiências e expondo inconsistências, até que
escravos) haverá tipos diferentes de virtude. ele conclua que não sabe tanto quanto acreditava
Sócrates interpela Ménon, dizendo: em relação ao que está expondo – o
reconhecimento da ignorância é o princípio da
Acho que tenho sorte. Queria uma virtude e você tem sabedoria.
todo um enxame de virtudes para me oferecer! Mas
falando sério, vamos levar adiante essa metáfora do A partir daí o indivíduo tem o caminho aberto
enxame. Suponha que eu lhe perguntasse o que é uma para a busca da verdade, livrando-se de meras
abelha, qual é a sua natureza essencial, e você me opiniões e encontrando o caminho para o
respondesse que há muitos tipos de abelhas, o que conhecimento (MARCONDES, 2000).
você diria se eu lhe perguntasse então: mas é por
serem abelhas que elas são muitas e de diferentes Com esse método, Sócrates não oferecia
tipos, distintas umas das outras? Ou você concordaria respostas prontas aos seus alunos. Para ele, todo
que não é quanto a isso que diferem, mas quanto a conhecimento era inato e a ação do filósofo era
outra coisa, outra qualidade como tamanho ou beleza?
4. O QUE SÓCRATES NOS INDICA: de origem estrangeira, que nos fazem pensar sobre
BUSCANDO ELEMENTOS PARA UM realidades distintas da nossa?
ENSINO DE GRADUAÇÃO EM
Sendo coerentes com o método socrático, antes
ADMINISTRAÇÃO DE MELHOR
de mais nada precisamos questionar conceitos
QUALIDADE
fundamentais inerentes a essa discussão. Precisamos
At the core of business success there is something more
repensar o que entendemos por ensino. De acordo
fundamental than the theories found in business schools, com ANASTASIOU (1998), a palavra ensino tem
management books, and consulting reports. That sua origem no termo latino insignare e significa que
something is critical thought (SPITZER e EVANS, ensinar seria marcar com um sinal de vida, ou
1997). despertar a consciência de um indivíduo para sua
própria existência e para possibilidades de
Os dados apresentados suscitam diversas
intervenção nessa existência. No dicionário Aurélio,
preocupações com relação à qualidade do ensino de
ensinar seria transmitir, instruir, lecionar, adestrar,
graduação em Administração no País.
fazer conhecer.
Se tomarmos como pano de fundo a obra de
Diante dos dois conceitos, percebe-se que o ato
Sócrates, seu método, que busca despertar no aluno
de ensinar, nos cursos de Administração, se
o posicionamento crítico e a capacidade de pensar
aproxima mais do sentido registrado no Aurélio do
por si mesmo e de construir conhecimento na
que de seu sentido latino originário. Nesse contexto,
interação com seu mestre e com os demais,
ganha lugar o professor palestrista com seu
percebemos que as condições operacionais dos
conjunto de conhecimentos estruturados que, na
cursos dificultam a aplicação de tal abordagem.
maioria das vezes, não incitam a reflexão. A
Sem querer defender uma visão utópica, uma vez
reflexão é importante no momento em que uma
que devemos ter em mente a carência de
aprendizagem efetiva ocorre em maior escala,
oportunidades para o ensino superior no país, ainda
quando o aprendiz cria significado sobre o que foi
assim cabe uma profunda reflexão sobre os rumos
aprendido.
que a educação na graduação em Administração
vem tomando. De acordo com MARCONDES (2000: 47), “O
método socrático envolve o questionamento do
4.1. Estão surgindo “Novos Sofistas” no ensino senso comum, das crenças e opiniões que temos,
de graduação em Administração? consideradas vagas, imprecisas, derivadas de nossa
experiência e portanto parciais, incompletas”. Para
Dada a proliferação de cursos de Administração,
Sócrates, cada pessoa deverá ingressar na busca
assim como de uma verdadeira indústria de cursos
pela verdade e sentido das coisas, procurando o
rápidos, guias, manuais e demais produtos
conhecimento na experiência e no processo de
elaborados por empresas de consultoria e
reflexão individuais. Essa reflexão, que respeita as
profissionais das mais diferentes (e às vezes
características de cada indivíduo, torna-se pouco
duvidosas) origens, oferecidos a um mercado ávido
viável no ensino massificante que tem sido
por novas modas e receitas, poder-se-ia dizer que
estabelecido na graduação em Administração.
encontramos “novos sofistas” na atualidade do
ensino de graduação em Administração? É também comum vermos, em muitas escolas e
na mídia em geral, conceitos de gestão tais como
Os cursos de Administração, tal como aponta
“marketing”, “paradigma”, “aprendizagem”,
NICOLINI (2001), viraram fábricas de
“mudança”, entre outros, receberem os mais
Administradores, gerenciadas por “sofistas” que
diferentes sentidos e serem utilizados para vender
cobram caro (ou até nem tanto) pela formação e
“novas” idéias. Os alunos muitas vezes adotam e
perpetuação de conceitos já ultrapassados?
utilizam conceitos que são mal ensinados, além de
Como desenvolver competências em cursos com pouco discutidos e questionados. Incapacitados a
turmas volumosas, guiadas por apostilas nas quais realizar uma análise conceitual, seguirão sem saber
as fontes de conhecimento são questionáveis ou discernir entre um conhecimento consistente e
sequer citadas? Como desenvolver habilidades ao modismos (ABRAHAMSON, 1999), em geral
longo de aulas em sua maioria expositivas e, discursos vazios que surgem a cada dia.
quando muito, com a aplicação de estudos de caso
Mas como mudar essa realidade quando • Incentivar a cooperação entre alunos: o trabalho
contamos com professores que possuem toda uma conjunto faz aumentar o envolvimento com o
base cultural e prática fundamentada na lógica aprendizado. Alunos que trabalham em pequenos
formal, e que deveriam passar a trabalhar com uma grupos e recebem recompensas baseadas na
lógica dialética? A resposta a essa pergunta é performance do grupo tendem a desenvolver
anterior à discussão do aprendizado, pois nos maior comprometimento com objetivos.
remete aos condutores do processo. Se os
• Incentivar a aprendizagem ativa: envolve a
condutores não visualizam a importância da
aplicação de métodos como o estudo de casos, o
reflexão na construção do conhecimento,
estudo independente e o estudo individualizado.
dificilmente a incitarão. Incitarão, sim, a prática do
Um conhecimento das individualidades poderá
estudo fundamentado numa avaliação futura. Ou
auxiliar na utilização do método correto.
seja, para eles, o fato de o aluno devolver o que foi
ensinado numa prova encerra o processo • Dar rápido feedback: o feedback imediato,
(ANASTASIOU, 1998). corretivo e de suporte é base para o ensino. Os
testes não são os únicos meios de fornecer
ESTEVE (1995) afirma que alguns fatores, como
feedback: papers, apresentações, pesquisa e
os modelos mentais, têm influência direta na
participação em discussões também são
construção de um pensamento crítico. Os modelos
importantes meios.
mentais se caracterizam como profundas crenças
que delimitam nossa forma de ver e de pensar. Acima de tudo, é preciso respeitar os diferentes
Logo, um primeiro desafio seria buscar talentos e meios de aprendizagem. Um grande
compreender melhor quais são os nossos modelos desafio é enfrentar os “pacotes fechados” de ensino.
ou filtros para resolver problemas, aprender, Ou seja, modelos bem-sucedidos se tornam padrões
ensinar, etc. Uma verdadeira base crítica precisa ser que engessam a criatividade de muitos e favorecem
construída, não de críticos superficiais que se a de poucos. No ensino de graduação em
aproximam mais de criadores de caso, mas de Administração pacotes dessa natureza proliferam,
críticos fundamentados que realmente contribuam prometendo transformar qualquer indivíduo no mais
para um aprimoramento das questões em discussão. competente administrador, que desenvolveria
competências dignas de um super-homem.
Alterar os métodos de ensino e aprendizagem em
sala de aula poderia ser um segundo passo. É necessário que as instituições de ensino
Intensificar a utilização de exercícios como busquem compreender e trabalhar a individualidade
resenhas críticas, julgamentos de apresentação de de cada aluno, para com isso proporcionar meios
trabalhos, leituras pontuadas, interpretação de mais adequados ao desenvolvimento de suas
textos, etc. certamente colaboraria para o aptidões naturais. Claro que se formos trabalhar
desenvolvimento de um posicionamento crítico e com uma sala de cinqüenta alunos não vamos
reflexivo pelos graduandos. utilizar cinqüenta maneiras diferentes de ensino;
existem grupos de afinidade que podem ser
CHICKERING e GAMSON (1991) nos apontam
trabalhados em conjunto.
alguns princípios necessários à prática do ensino de
terceiro grau, que se alinham com o método Devemos trabalhar para criar ambientes onde o
socrático e que merecem ser considerados: questionamento construtivo esteja presente, ou seja,
onde as pessoas sejam capazes de questionar o que
• Encorajar a interação entre estudante e corpo
elas pensavam que sabiam (STARKEY, 1997). Tal
docente: identificou-se que professores que
como Sócrates, é preciso ser humilde e reconhecer
incentivam a interação dentro e fora da sala de
que sabemos bem menos do que acreditamos saber,
aula reforçam a motivação, o comprometimento
e que o conhecimento evolui a cada instante. Para
intelectual e o desenvolvimento pessoal dos
isso, é fundamental a flexibilização da grade
alunos. Preocupar-se com os alunos, com o
curricular do curso de graduação em Administração.
progresso deles, ser acessível e presente nas
É preciso criar espaços para trabalhos voltados a
discussões são indicadores de boa docência. O
projetos e outras atividades flexíveis que abordem
relacionamento entre professores e alunos
temas inovadores. Nessas atividades, a reflexão e o
extraclasse tende a ser a parte do ensino que traz
questionamento devem estar sempre presentes. A
o maior impacto sobre os alunos.
análise conceitual (inspirada na Maiêutica) é devem pensar e não como pensar. O aprender a
fundamental. Da mesma forma, os alunos devem aprender está ausente do discurso de boa parte dos
aprender a buscar suas fontes de informação, professores, alguns dos quais, na verdade, mais
discernindo o que tem qualidade em um oceano de parecidos com “adestradores”. É necessária a
dados pouco úteis que as bases disponíveis introdução de uma nova pedagogia que proporcione
apresentam, especialmente a Internet. Incentivar a aos aprendizes conhecimento para que eles pensem
leitura de livros, e não mais a de resumos ou de por si, em substituição ao velho modelo que oferece
apostilas, é uma tarefa fundamental. Os alunos informações apenas do tipo “eles precisam saber”
precisam ler e aprender a interpretar as informações (MUNCK, 2002). Em muitas instituições, tal
por si próprios. iniciativa requer uma nova cultura de aprendizado.
Professores e alunos devem dialogar e engajar-se MORIN (2000) salienta que, para que o
na atividade de compreender os conceitos e os conhecimento seja pertinente, a educação deve
novos conhecimentos. A equação (professores x favorecer a aptidão natural da mente para formular e
alunos) deve mudar para [(professores + alunos) x resolver problemas essenciais e, de forma correlata,
conhecimento] (ANASTASIOU, 1998). É preciso incentivar o uso total da inteligência geral, isto é,
que os professores ofereçam menos respostas buscar o desenvolvimento integral do indivíduo. O
prontas, mas se voltem para o seu papel de caminho para o conhecimento deve ser trilhado por
auxiliares no processo de construção do cada aluno, ao qual devemos dar autonomia e, tal
conhecimento, que é próprio de cada indivíduo. como Sócrates, ajudar a dar à luz suas próprias
Com isso, cada aluno é levado a não mais repetir idéias e a ter sua própria forma de ver o mundo.
fórmulas consagradas ou velhos chavões sem Como diz ESTEVE (1995):
sentido, mas a elaborar e “dar à luz” suas próprias Enfim, docentes e educadores em geral têm a
idéias, tal qual preconizava Sócrates. Conceber suas incumbência de proporcionar gradativamente aos
próprias idéias significa, acima de tudo, ser você alunos elementos que ampliem suas visões e
mesmo (PESSANHA, 1991). possibilitem aos mesmos a oportunidade de questionar
a viabilidade e o significado de determinado
Dessa forma, poderemos formar profissionais que
conhecimento para si, para a sociedade e para sua
irão questionar os conhecimentos, convenções e formação como um todo.
modismos que irão encontrar ao longo de sua vida e
de sua carreira, e saber discernir entre discursos Diversas questões ainda permanecem à espera de
vazios e conceitos de base. Poderemos formar resposta. Tal qual os diálogos socráticos, este
líderes que irão formular as questões que levarão às trabalho não termina com conclusões mas com
inovações e aprimoramento tanto de negócios ainda mais perguntas. Por onde iniciar esse processo
quanto de relações sociais no mundo ainda mais de mudança? Como desacomodar professores que
complexo que está por vir. desconhecem ou não estão habituados a trabalhar de
acordo com uma lógica dialética? Quais os riscos e
a recompensa dessa mudança?
5. QUESTÕES FINAIS
O debate continua. Espera-se que a obra de
A vida que não é examinada não vale a pena ser Sócrates, os dados e a discussão aqui apresentados
vivida (Sócrates) contribuam para isso e, principalmente, incitem a
participação de novos interlocutores, novas idéias e
Os ensinamentos de Sócrates oferecem diversos
a busca de novas soluções. Como educadores que
elementos que podem ser úteis à busca de melhoria
somos ou pretendemos ser, não podemos nos omitir
do ensino de graduação em Administração. É
diante desse desafio, sob pena de formar
necessário que nos preocupemos em formar pessoas
profissionais pouco capacitados a enfrentar um
que saibam questionar o mundo em que vivem,
mundo que a eles pertence, e que continuará a
posicionar-se de forma crítica e sustentar seus
apresentar-lhes inúmeros desafios.
argumentos, além de distinguir entre um conteúdo
válido e a mera retórica.
Os métodos tradicionais do ensino de
Administração em geral ensinam aos alunos o que
CHICKERING, A. W.; GAMSON, Z. F. Applying NIELSEN NETO, H. Filosofia Básica. São Paulo:
the seven principles for good pratice in Atual, 1985. 311 p.
undergraduate education. New Directories for
Teaching and Learning, [S.l.: s.n.], n. 47, Fall 1991. PESSANHA, J. A. M. (Org.) Sócrates. São Paulo:
Nova Cultural, 1991. 222 p. (Série Os Pensadores).
COMISSÃO DE ESPECIALISTAS DE ENSINO
DE ADMINISTRAÇÃO DO MEC – CEEAD. SPITZER, Q.; EVANS, R. The new business
Padrões de qualidade para Cursos de Graduação leader: Socrates with a baton. Strategy &
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<http://www.inep.gov.br>. Acesso em: 31 dez. 1997.
2002.
STRATHERN, P. Sócrates. Rio de Janeiro: Jorge
CRA/SP – Conselho regional de Administração de Zahar, 1998. 77 p.
São Paulo. O ensino da administração no Brasil.
Disponível em: <http://www.crasp.com.br/
biblioteca/ensinoadm.html>. Acesso em: 31 dez.
2002.