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net/publication/318390260
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Bárbara Galleli
Universidade Federal do Paraná
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GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE EM CONTEXTO ORGANIZACIONAL: DELINEANDO, EXPLICANDO E INOVANDO O PROCESSO DECISÓRIO ESTRATÉGICO A PARTIR DO
SENSEMAKING E DAS NARRATIVAS View project
Master's thesis in administration by PPA UEL / UEM - Consortium of Graduate Programs in Administration between the State Universities of Londrina and Maringá View
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Luciano Munck
Pós-Doutor – Ivey Business School - Western University – Canadá. Professor do Programa de Pós-graduação em Administração da
Universidade Estadual de Londrina. Londrina, PR. Brasil. E-mail: munck@uel.br
Barbara Galleli
Universidade de São Paulo. Mestre em Administração. Professora do Centro Universitário SENAC-SP. São Paulo, SP. Brasil. E-mail:
b.gallelidias@usp.br
Resumo ABSTRACT
Este artigo, considerando a inexistência de fontes que This article, considering the lack of sources that
sintetizam proposições de modelos para a gestão da synthesize propositions models for sustainability
sustentabilidade em contexto organizacional, depois de management in an organizational context, after
identificar cinco modelos, se propõe a comparar tais identifying five models, proposes to compare them
modelos fazendo uso de um quadro-referência criado para making use of a reference frame created to represent
representar condições ideais de gestão da sustentabilidade ideal conditions for sustainability management in
nas organizações. Pela análise comparativa foram organizations. For the comparative analysis were
identificados avanços conceituais, convergências e identified conceptual advances, convergences, and
fragilidades. Uma das principais constatações denuncia weaknesses. A key finding reveals the incompleteness of
a incompletude dos modelos. À medida que são the models. As they are compared with each other and
comparados entre si e com o quadro-referência todos with the reference frame all of them have shown fails in
os modelos demonstraram falhar em algum aspecto some fundamental respect for achieving organizational
basilar para o alcance da sustentabilidade organizacional. sustainability. It was realized the need for greater insights
Percebeu-se a necessidade de maiores aprofundamentos when it comes to deploying and operating models
quando se trata da implantação e da operacionalização de of sustainability management in organizations. In
modelos de gestão da sustentabilidade nas organizações. summary, this study provided to create information to
Em suma, este estudo permitiu criar informações para eliminating weaknesses and to suggest improvements.
a eliminação de fragilidades e para a sugestão de This can guide improvements applicable to the
avanços. Isso pode orientar aprimoramentos cabíveis ao development of a global unifying framework of good
desenvolvimento de um framework global unificador das experiences to systemic and structural management
boas experiências para a gestão sistêmica e estrutural da organizational sustainability.
sustentabilidade organizacional.
Keywords: Models. Sustainability Management.
Palavras-chaves: Modelos. Gestão da Sustentabilidade. Organizational Sustainability.
Sustentabilidade Organizacional.
91
Luciano Munck • Ana Claudia Bansi • Barbara Galleli
literatura, já é possível perceber a grande variação de os três pilares possuem diferentes propriedades e, por
designações e a ausência de uma definição singular isso, requerem diferentes abordagens.
ou consensual para a sustentabilidade organizacional. À luz do TBL, para atingir a sustentabilidade, as
Tal circunstância deixa margem para considerar que empresas devem alavancar seus capitais econômico,
o conceito de SO, por ser ainda muito amplo e até social e ambiental – pilares estes inter-relacionados
mesmo vago, deve ser substituído por definições mais e que se influenciam mutuamente – enquanto con-
específicas de forma equivalente aos níveis de desen- tribuem para o desenvolvimento sustentável em seu
volvimento, consciência e ambição das organizações. domínio político. A partir da constatação de que as
Há o entendimento de que cada organização possa ações organizacionais não devem ser consideras sus-
optar pela abordagem de SO que seja mais coerente tentáveis quando atenderem, ainda que eficientemente,
com seus objetivos, propósitos e estratégias, bem apenas um ou outro pilar da sustentabilidade, emerge
como mais apropriada às circunstâncias sociais nas a necessidade de integrá-los. O próprio conceito de
quais atua e aos valores dominantes que a configura sustentabilidade organizacional proposto pelo TBL já
(VAN MARREWIJK; WERRE, 2003). Vos (2007), ao prevê a integração (ELKINGTON, 1999; DYLLICK;
deliberar acerca de uma definição da sustentabilidade HOCKERTS, 2002; LORENZETTI; CRUZ; RICIOLI,
em contexto específico, argumenta que conceituações 2008; BARBIERI et al., 2010; CALLADO, 2010).
influentes da sustentabilidade devem desfrutar de con- Diversos autores, tais como Dyllick e Hockerts
senso, em nível organizacional, comunitário e social. (2002), Jamalli (2006), Callado (2010) e Dias et al.
Dessas discussões, concorda-se com van Marrewijk (2011), convencionaram converter os três pilares da sus-
tentabilidade organizacional em três sustentabilidades:
e Werre (2003) e Vos (2007) em relação à essencia-
organizacional econômica, organizacional ambiental e
lidade do contexto ao se tratar de sustentabilidade
organizacional social. As três sustentabilidades, confor-
nas organizações. O fator contextual possibilita às
me Dias et al. (2011), tornam-se então sustentadoras e
organizações atuar de forma alinhada aos objetivos da
viabilizadoras da sustentabilidade organizacional, logo,
sustentabilidade, conforme a sua realidade de contexto,
para alcançar o estado de sustentabilidade uma orga-
tanto interna quanto externa. Entretanto, agir conforme
nização deve antes desenvolver suas sustentabilidades
o contexto não implica que para cada organização deva
econômica, ambiental e social, de maneira equilibrada
existir um conceito e um modelo de gestão específicos.
e conforme o contexto da organização.
Admoesta-se que um framework global de gestão sis-
Apresentadas as considerações conceituais sobre
têmica e estrutural para administrar a sustentabilidade
a SO, a seguir, será descrito um quadro de referência
organizacional seja necessário a fim de possibilitar a
a fim de entender algumas condições ideais para a
definição de parâmetros e comparações em diversos
avaliação dos modelos para a gestão da SO, os quais
níveis, inter ou intraorganizações. A contextualização
serão apresentados e analisados na sequência.
é orientada para os casos de peculiaridades de cada
organização, permanentes ou temporários, que afetem
a gestão da sustentabilidade.
3 A CONSTRUÇÃO DE UM QUADRO-
Da mesma forma que a conceituação da sus-
tentabilidade se apresenta como um desafio para as
-REFERÊNCIA PARA GESTÃO DA
organizações, a tradução do conceito na prática orga- SUSTENTABILIDADE ORGANIZACIONAL
nizacional também o é. Dentre as inúmeras tentativas
de operacionalizar a SO, destaca-se a contribuição de Tendo em vista a tendência de incorporação da
Elkington (1999), cujo trabalho demonstra o relaciona- sustentabilidade na gestão das organizações, acredita-
mento entre os três pilares da sustentabilidade (social, -se que o desenvolvimento de um quadro referência de
econômico e ambiental), conhecidos na literatura como condições ideias para tal possa auxiliar no esclarecimento
Triple Bottom Line – TBL, uma perspectiva de análise de informações com vistas a fornecer contribuições
da sustentabilidade cada vez mais aceita pela socie- prático-conceituais à busca pela operacionalização da
dade e pelas organizações. Conforme as afirmações sustentabilidade nas organizações. Dessa monta, serão
de Dyllick e Hockerts (2002), adeptos a este modelo, desenvolvidas três premissas as quais representam condi-
ções ideais de gestão da sustentabilidade organizacional.
É importante ressaltar que tais premissas repre- reconheça que a estratégia, a liderança e processos
sentam de forma genérica as condições básicas para in- de implementação são componentes essenciais para
corporar a gestão da sustentabilidade nas organizações a gestão da sustentabilidade.
e que estas premissas ou condições ideais foram defi- Acrescenta-se que esta implantação da sustenta-
nidas a partir da leitura, principalmente, dos próprios bilidade deve ocorrer de forma que os novos modos
artigos desenvolvedores dos modelos analisados neste de operação tornem-se profundamente enraizados na
artigo. Por entender que os artigos que originaram os organização. Adequações na estrutura organizacional
modelos aqui avaliados possuem representatividade in- incluem rotinas e processos de trabalho associados
ternacional e que são abrangentes, pois propõem desde à entrega de valor aos clientes e outros stakeholders,
mudanças operacionais até culturais; acredita-se que tomadas de decisão, comunicação e processos dire-
as condições ideais levantadas neste tópico, abrangem tivos com vistas a manter as várias partes da organi-
as dimensões pertinentes para a aplicação de modelos zação alinhada às estratégias e aos propósitos da SO
de gestão da sustentabilidade e, posteriormente, uma
(MOHRMAN; WORLEY, 2010). Do mesmo modo, é
avaliação e comparação dos modelos aqui elencados.
necessária uma mudança cultural, ou seja, a SO precisa
Contudo, de acordo com Searcy (2012), é impor- ser sistematicamente integrada a todas as atividades
tante enfatizar que a SO é um problema fundamental- organizacionais (AZAPAGIC; 2003).
mente complexo. As organizações são confrontadas
Para complementar, em um framework para
com diferentes demandas dos stakeholders em cons-
integrar o gerenciamento da qualidade e sustentabili-
tante mudança de prioridades, e uma infinidade de
dade Asif et al. (2011) entendem que para a gestão e
alternativas para enfrentar os desafios da sustentabili-
implementação da SO é imprescindível que haja uma
dade. Em reconhecimento a esta realidade, as empresas
integração de estruturas e funções com estratégias
devem desenvolver estratégias para a sustentabilidade
prioritárias e atividades operacionais. Por meio de tais
que sejam adequadas aos seus contextos locais e podem
considerações, tem-se que uma primeira condição ideal
utilizar as condições ideais aqui desenvolvidas para esta
para a gestão da sustentabilidade nas organizações é
tarefa. No entanto, para avaliar o sucesso ou o fracasso
que a SO deve ser implementada como parte integral
de iniciativas de sustentabilidade, ou seja, se são nota-
dos progressos em objetivos econômicos, ambientais e contextual dos negócios por meio de sua inserção em
e sociais fundamentais, um conjunto de indicadores decisões operacionais, táticas e estratégicas.
deve ser utilizado, porém, este não é o foco do artigo. A incorporação da SO em decisões operacionais,
Portanto, com respeito à primeira condição ideal táticas e estratégicas, portanto, implica o aprendizado e
de gestão da sustentabilidade nas organizações, na con- o desenvolvimento de capacidades de ordem superior
cepção de Azapagic (2003), um sistema de gestão da (CHENG; FET; HOLMEN, 2010), as quais podem ser
sustentabilidade organizacional deve emergir, ser incor- entendidas como competências que, segundo Munck,
porado e alinhado à visão e estratégia de negócios. A Munck e Borim-de-Souza (2011), remetem à capaci-
SO não deve ser considerada uma ‘adição’, muito além dade organizacional de conceder retorno econômico
disso, ela precisa ser parte integral dos negócios em seu suficiente e agregar valor social aos indivíduos sem
contexto, concebida como uma ferramenta ‘guarda- comprometer o ambiente. Para Valente (2012), a
-chuva’,o que envolve entender e agir concernente as orientação das organizações para a sustentabilidade
questões chave da sustentabilidade. A implementação define-se por meio de uma abordagem colaborativa e
da SO significa, portanto, torná-la real na estratégia e coordenada que prevê a mobilização de competências
operações (CHENG; FET; HOLMEN, 2010). de diversos stakeholders, internos e externos, operando
De acordo com Epstein (2008), para implementar como um sistema unificado. Portanto, por entender a
uma estratégia de sustentabilidade eficaz é fundamen- sustentabilidade como uma competência organiza-
tal que os gestores compreendam as relações causais cional, e esta como instrumento de implementação e
entre as várias ações que podem ser tomadas, além de mensuração/acompanhamento, faz com que se utilize
integrar a sustentabilidade em decisões operacionais, de forma articulada os recursos organizacionais frente
táticas e estratégicas. É fundamental também que se aos objetivos estratégicos.
Ademais, outra característica tida como importan- lucratividade e para o sucesso das políticas consideradas
te para a avaliação de modelos para a sustentabilidade sustentáveis no longo prazo.
é a questão de que investimentos nos ativos social, Em síntese das condições ideais apresentadas, o qua-
financeiro e ambiental precisam ser simultâneos e dro referência foi desenvolvido, visualizado no Quadro 2:
coordenados (MUNCK; MUNCK; BORIM-DE-SOUZA
2011; WHEELER et al., 2005). Segundo Elkington PARÂMETROS REFERÊNCIAS
a ocorrência de sua operacionalização por meio de liderança. Bem por isso há a necessidade de facilitar a
modelos de gestão ainda não se apresentam de forma convergência e a padronização de abordagens para a
significativa. Como salientado na introdução deste sua gestão, demonstrada por meio de um framework,
artigo, são poucos os estudos que buscam desenvolver apresentado na Figura 1. Segundo o autor, uma abor-
e/ou aplicar algum tipo de modelo de gestão da susten- dagem integrativa de gestão da SO pode alavancar
tabilidade e, em geral, os que o fazem frequentemente inúmeras oportunidades para aprimorar a competiti-
não possuem originalidade, limitando-se apenas a vidade proporcionando soluções de valor agregado, e
reproduzirem repetições. potencializar a reputação empresarial.
Com a intenção de identificar avanços e também
analisar fragilidades com base em referências concei-
tuais adotados como ideais, foram selecionados cinco
modelos que buscam a operacionalização da susten-
tabilidade nas organizações, desenvolvidos em várias
localidades e anos diferentes. O Quadro 3 elenca a
nomenclatura dos modelos analisados, seus respectivos
autores e a sua origem. Na sequência, dá-se início às
descrições de cada modelo.
MODELOS DE GESTÃO DA
AUTORES/REFERÊNCIA ORIGEM
SUSTENTABILIDADE
Sistema de gestão
da sustentabilidade Azapagic (2003) Inglaterra
organizacional SGSO
Rede Corporativa
Wheeler et. al (2005) Inglaterra
Figura 1: Sistema de gestão da sustentabilidade organizacional
Sustentável Local Fonte: Azapagic (2003, p. 305, tradução nossa)
Balanced Scorecard
Hexagonal – BSH
Conforme observado na Figura 1, o sistema de
-Framework conceitual de Cheng, Fet e
Noruega gestão da sustentabilidade organizacional emerge e é
uma abordagem integrada Holmen (2010)
para a sustentabilidade incorporado dentro da visão e estratégia de negócios.
organizacional
É preciso conceber a sustentabilidade como uma fer-
Síntese Socioeconômica Molteni e Pedrini ramenta ‘guarda-chuva’ que auxilia na identificação
Itália
- SSE (2010)
e gerenciamento dos riscos econômicos, ambientais e
Framework Representativo sociais de maneira integrada. O framework proposto
Munck, Munck
do Acontecimento
e Borim-de- Brasil por Azapagic (2003) compreende cinco estágios in-
da Sustentabilidade
Souza (2011)
Organizacional FRASOR terligados.
Quadro 3: Modelos de gestão da sustentabilidade em análise O primeiro passo, relacionado diretamente à
Fonte: Elaborado pelos autores deste artigo visão e estratégia de negócios, refere-se à política
de desenvolvimento sustentável, a qual envolve a
demonstração de liderança e do comprometimento
com a sustentabilidade, a identificação de ameaças
4.1 Sistema de Gestão da Sustentabilidade
Corporativa (SGSO) e de oportunidades, dos stakeholders e também das
questões de sustentabilidade – social, econômica e am-
O primeiro modelo apresentado é desenvolvido biental. Deve haver ainda a definição política e alinha-
por Azapagic (2003). O autor acredita que alcançar a mento com a estratégia e visão do negócio. A segunda
sustentabilidade organizacional, pautada no desenvol- etapa do sistema de gestão da SO é o planejamento,
vimento das dimensões econômica, social e ambiental no qual são necessárias a realização de uma análise
que impactam e são impactadas pela empresa, não é SWOT da sustentabilidade e a definição de objetivos
uma tarefa trivial, envolve visão, comprometimento e e metas para o desenvolvimento de um plano de ação.
recursos ou o reinvestimento deve ocorrer para que dade Corporativa deve-se usar o Balanced Scorecard
a rede cresça e se torne independente. No modelo (BSC) e o Mapa Estratégico. No modelo elaborado
SLEN todos participantes concordam com o primeiro por Cheng, Fet e Holmen (2010), o conceito do BSC
propósito da rede: a colaboração. Isto faz com que foi estendido em um fluxo integrado de mecanismos
existam poucas agendas normativas e, consequen- que direcionam a transposição das visões econômica,
temente, não se oprima os participantes a nenhum social e ambiental do nível estratégico para o opera-
constrangimento ideológico. O valor e os resulta- cional simultaneamente à agregação de aprendizados
dos obtidos por meio da rede diferem para cada que emergem dessas visões em nível operacional,
participante conforme o que for considerado mais facilitando, assim, a captura de planejamentos estra-
importante para ele. A Figura 2 representa o modelo. tégicos a partir da estratégia realizada no cotidiano.
Com foco específico na representação visual
do hexágono (Figura 3), a sua metade inferior re-
presenta os ativos intangíveis da empresa. O ciclo é
iniciado na parte inferior direita com a perspectiva
‘Aprendizagem e Crescimento’ com foco nos funcio-
nários, suas habilidades e conhecimentos, por meio
de treinamentos e desenvolvimento de competências.
No sentido horário, a perspectiva de aprendizado e
crescimento leva à perspectiva ‘Processos Internos’,
centrada na qualidade e produtividade dos processos
Figura 2: O modelo de Redes Corporativas Sustentáveis internos da empresa. A conexão lógica seguinte é a
Locais (SLEN) perspectiva ‘Cliente’, que focaliza clientes diretos e
Fonte: Wheeler et al. (2005, p. 39 tradução nossa) consumidores finais, e o oferecimento de valor único.
A próxima conexão ocorre na metade superior
De modo geral, investimentos nos ativos hu- do hexágono, a qual delineia a abordagem do ‘tri-
mano, social, financeiro e ecológico precisam ser ple bottom line’. A perspectiva ‘Ambiental’ possui a
simultâneos e coordenados a fim de maximizar o conexão lógica com a perspectiva ‘Clientes’ devido
impacto da formação de SLENs. Para tanto, serão ao pressuposto de que os produtos e processos são
necessários altos níveis de cooperação entre agências desenvolvidos em consideração ao desempenho am-
internacionais, governos, empresas multinacionais, biental da organização. Já a perspectiva ‘Financeira’
grandes empresas nacionais em países em desenvol- é orientada tanto pela perspectiva ‘Ambiental’ quanto
vimento, entre outros. Wheeler et al. (2005) salientam ‘Social’, com vistas a lembrar os gestores de que os
que estes atores deverão pensar em si mesmos para processos e conteúdos estratégicos devem envolver
além de suas funções políticas, como construtores ambas estas perspectivas, sem perder de vista o de-
de redes, construtores de capacitação, incubadores sempenho econômico. Por fim, a perspectiva ‘Social’
de rede e inovadores, líderes e disseminadores de é orientada em sentido anti-horário pela perspectiva
aprendizados. ‘Aprendizado e Conhecimento’, e possui foco no
planejamento estratégico em termos de transformar
4.3 Framework Balanced Scorecard problemas sociais emergentes tanto da comunidade
Hexagonal (BSH) local quanto da sociedade em geral.
A partir dessas seis perspectivas, é elaborada
O terceiro modelo de sustentabilidade organi-
a abordagem de Balanced Scorecard Hexagonal
zacional a ser apresentado é descrito por Cheng, Fet
integrada para a sustentabilidade organizacional,
e Holmen (2010). As autoras identificam que como
composta por quatro subsistemas, como mostra a
alicerces para um quadro integrado de Sustentabili-
Figura 3.
Molteni e Pedrini (2010) advertem que quando a processos de ação coletiva. Conforme Munck, Munck
Síntese Socioeconômica ocorre em níveis mais baixos e Borim-de-Souza (2011), visualiza-se que o agir
tende a ser mais facilmente imitada por diferentes orga- organizacional é um macroprocesso consequente de
nizações. Contrariamente, as soluções oferecidas pelos inúmeros subprocessos, influenciado tanto por fatores
níveis mais altos da síntese socioeconômica apenas externos quanto internos. Esses processos, para serem
podem ser imitadas com muito mais dificuldade, em efetivamente realizados, precisam ser comprovadamen-
razão de sua especificidade. Na visão dos autores, o te compreendidos pelos indivíduos que o realizarão e
modelo da Síntese Socioeconômica pode ser utilizado deles participarão.
em duas circunstâncias diferentes: para avaliar se um Depois de compreendidos os fundamentos da
processo ou uma estratégia são realmente virtuosos e teoria do agir organizacional, fizeram uso da lógica
para estimular inovações designadas para o bem co- das competências. Os autores definem a competência
mum. Em suma, o modelo da Síntese Socioeconômica como um saber fazer coletivo de alta qualidade, que
fornece orientação e auxílio aos gestores para a prática representa a operacionalização sistêmica dos recursos
da sustentabilidade. Simultaneamente, este modelo considerando os objetivos e estratégias organizacionais
demanda das pessoas a busca pelo bem comum e e as influências ambientais. Acrescentam ainda que
capacidades e criatividade suficientes para superar o agir organizacional pode ser traduzido como uma
conflitos e encontrar novas soluções. competência organizacional, permitindo objetividade
na descrição e tornando-o capaz de registrar eficiência
4.5 Framework Representativo do na ação organizativa frente aos resultados almejados.
Acontecimento da Sustentabilidade Segundo os autores
Organizacional (FRASOR)
[...] competência, portanto, relata eficiência,
O quinto e último modelo apresentado é o ela- ou seja, o melhor uso possível e articulado dos
recursos. É ela meio de fomento e verificação
borado por Munck, Munck e Borim-de-Souza (2011).
da eficácia nos processos de ações e decisões.
Partindo da constatação da falta de um quadro teóri-
(MUNCK; MUNCK; BORIM-DE-SOUZA, 2011,
co global e consolidado para a compreensão teórico- p. 152)
-aplicada sobre a sustentabilidade organizacional
e suas especificidades, os autores propuseram um Por essa inferência, os autores ressaltam que
framework representativo dos processos necessários o conceito de competência organizacional remete à
ao acontecimento da SO. Os autores a assumem capacidade organizacional de conceder retorno eco-
como um objetivo organizacional estratégico e, ao nômico suficiente e agregar valor social aos indivíduos,
buscarem por uma teoria que permitisse contemplar complementado com os preceitos do triple bottom
um agir organizacional processual capaz de qualificar, line, agrega-se a exigência de não comprometer o
categorizar e conduzir os preceitos da sustentabi- meio ambiente. Com base nos preceitos do TBL, os
lidade em contexto organizacional, fizerem uso da autores propõem três competências chaves para o
abordagem teórica do Agir Organizacional (MAGGI, acontecimento da SO: Sustentabilidade Econômica,
2006) unida à lógica das competências (MILLS et al., Sustentabilidade Ambiental e Sustentabilidade Social.
2002) e de ambas à abordagem integrativa do TBL Por seu turno, estas três sustentabilidades componentes
(ELKINGTON, 1999). da SO são compostas por três outras competências que
A teoria do Agir Organizacional, de acordo com as suportam: a ecoeficiência, a justiça socioambiental
seu propositor Maggi (2006), é tanto uma teoria do agir e a inserção socioeconômica. Quando validadas, as
social como uma teoria do agir racional. O agir social três competências de suporte permitem um equilíbrio
indica um agir do qual o sentido intencionado, de um organizacional sistêmico representante da conquista
ou mais sujeitos, se dirige ao agir de outros sujeitos. da sustentabilidade organizacional. Vide modelo na
Assim sendo, o agir organizacional concerne tanto aos Figura 5.
processos de ação de um sujeito singular quanto aos
sos conceituais utilizados, BSC e Mapa Estratégico, SO permite um equilíbrio organizacional sistêmico e
a sustentabilidade é entendida e gerenciada do nível coordenado. Enfim, com relação à terceira condição,
estratégico para o operacional, simultaneamente à o modelo também a atende completamente, uma vez
agregação de aprendizados. No que diz respeito a que por meio da gestão da SO via competências é
segunda condição, pode-se dizer que este modelo a possível fomentar e verificar a eficácia nos processos
atende parcialmente. Assim como no caso do modelo de ações e decisões organizacionais ao longo do tempo,
de Azapagic (2003), o Framework Balanced Scorecard contribuindo para o incremento da competitividade e
Hexagonal prevê o desenvolvimento de competências, lucratividade.
habilidades e conhecimentos dos funcionários, bem Com base no exposto e como forma de melhor
como há a indicação de que a organização pode utilizar apresentação dos resultados da análise dos modelos
o meio ambiente e a sociedade como direcionadores de sustentabilidade propostos apresentados neste
de recursos e de desenvolvimento de capacidades. artigo, o Quadro 5 foi desenvolvido. Os modelos são
Entretanto, estas indicações são limitadas e as compe- elencados e suas convergências ou não com os parâ-
tências específicas para a SO não são mencionadas. metros destacados são representadas pelas siglas NA
Por fim, sobre a terceira condição, o modelo em pauta (não atende), AP (atende parcialmente) e AC (atende
a atende completamente, uma vez que o ciclo contido completamente).
apresenta a necessidade de avaliações contínuas e
cíclicas a fim de que a organização possa adaptar e PARÂMETROS
MODELOS DE GESTÃO DA
revisar sua estratégia a fim de sustentar seu desempe- CONCEITUAIS
SUSTENTABILIDADE
nho no longo prazo. 1 2 3
A Síntese Socioeconômica, elaborada por Molteni Sistema de gestão da
e Pedrini (2010), atende completamente a primeira sustentabilidade organizacional AC AP AC
Azapagic (2003)
condição, uma vez que concerne a uma vasta gama
de elementos organizacionais, desde processos únicos Rede Corporativa Sustentável Local
NA NA AC
Wheeler et al. (2005)
até orientações e processos estratégicos. Por outro
lado, a segunda condição não é atendida, pois não há Framework Balanced Scorecard
Hexagonal (BSH) AC AP AC
considerações no modelo que tratem de competências Cheng, Fet e Holmen (2010)
e ainda a inclusão da perspectiva ambiental se mostra
Síntese Socioeconômica
de maneira rasa. Em relação a terceira condição, seu AC NA AC
Molteni e Pedrini (2010)
atendimento é verificado em completude, tendo em vis-
Framework representativo
ta as prerrogativas do modelo de que este compreende do acontecimento da
AC AC AC
soluções práticas que combinam alta competitividade Sustentabilidade Organizacional
Munck, Munck e Borim-de-Souza (2011)
e desempenho econômico com ótimos desempenhos
sociais e ambientais e da necessidade de inovações Quadro 5: Análise dos modelos de SO a luz das condições
contínuas para sustentação da empresa no tempo. conceituais ideias
O último modelo apresentado, o framework repre- Fonte: Elaborado pelos autores deste artigo
sentativo dos processos necessários ao acontecimento
da SO de Munck, Munck e Borim-de-Souza (2011), Pela observação do Quadro 5, é perceptível que
atende por completo a primeira condição ao destacar o único modelo que atende as três condições con-
que a SO como uma competência representa a ope- ceituais propostas simultaneamente é o framework
racionalização sistêmica dos recursos considerando os representativo do acontecimento da Sustentabilidade
objetivos e estratégias organizacionais e as influências Organizacional de Munck, Munck e Borim-de-Souza
ambientais e que a desarticulação dessas premissas (2011). Em contraste, o modelo desenvolvido por Whe-
tende a acarretar em falta de coesão estratégica. eler et al. (2005) é o único que atende completamente
Sobre a segunda condição, esta também é atendida a apenas uma das condições, enquanto os outros três
completamente, o modelo em questão tem esclarecido atendem a ao menos duas completamente. A partir
que a validação das competências componentes da dessas inferências, é possível apontar o modelo de
gestão da sustentabilidade proposto por Munck, Munck
e Borim-de-Souza (2011) como ideal, sendo um único prioridades, é preciso que todos os envolvidos atuem
critério o atendimento simultâneo a todas as condições cooperativamente de acordo com os princípios da rede,
conceituais ideais. No entanto, essas condições ideais a fim de que ela possa ser bem sucedida. Por outro
elencadas ainda permitem pontuar avanços e fragili- lado, ao mesmo tempo em que se apresenta como
dades contidas no desenvolvimento de cada um dos um avanço, essa questão também pode representar
cinco modelos apresentados, o que pode enriquecer uma fragilidade, pois, se os membros envolvidos não
tal constatação, corroborando-a ou refutando-a. compactuarem de tais princípios, há a possibilidade
Sobre o Sistema de Gestão da Sustentabilidade de conflitos de interesses, com a predominância do
Organizacional, proposto por Azapagic (2003), é pos- individual ante ao coletivo. Uma vez que as redes
sível especificar como avanços a determinação de que são formadas por vários tipos de organizações, com
a sustentabilidade seja parte integrada da estratégia e interesses também diversos, não é algo improvável
visão organizacional, bem como a ênfase na mudan- ou impossível que cada envolvido priorize e atue so-
ça cultural da organização e mudança de atitude das mente em seus domínios de prioridades individuais,
personagens organizacionais. Acrescenta-se como um contrariando e prejudicando o funcionamento da rede
avanço do modelo a representação de um ciclo deta- como um todo.
lhado acerca da gestão da sustentabilidade iniciado O terceiro modelo analisado, Framework Balanced
pela política e planejamento da SO, passando pelas Scorecard Hexagonal de Cheng, Fet e Holmen (2010)
estratégias de implementação, comunicação durante também possui seus avanços e fragilidades. Como
o processo de implantação e finalizado com a revisão avanços, apontam-se a utilização de um sistema interno
seguida de ações corretivas, caso necessário. de gestão já consolidado (BSC) que proporciona a ges-
Como uma fragilidade observada no modelo de tão integrada e estratégica da SO por uma perspectiva
Azapagic (2003), pontua-se que a sustentabilidade interna à organização, assim como a estruturação e o
possa se tornar algo meramente instrumental na gestão, detalhamento do modelo no sentido de que compreen-
antes que uma “ideologia” para a organização, como de a sua construção, difusão, aprendizagem e feedback
o autor afirma constantemente. Isso devido ao fato de da sustentabilidade organizacional, completando um
a sustentabilidade estar atrelada quase exclusivamente ciclo, assim como o modelo de Azapagic (2003).
a estratégia produtiva (e não a estratégia de desenvol- Porém, a fragilidade de tal modelo se resume
vimento de competências conforme proposto pelas no fato de que este é confuso ao apresentar questões
condições conceituais ideais), a tornando, também, um que envolvem as perspectivas “Ambiental” e “Social”,
instrumento de busca, quase que excepcionalmente, consideradas externas à organização pelas próprias
da lucratividade e do ganho de competitividade frente autoras, apenas com foco interno à organização e ainda
aos concorrentes. com um nível baixo de desenvolvimento. Ocorre que
Identificou-se como avanço no modelo de Redes ambas as perspectivas demandam um tratamento mais
Corporativas Sustentáveis Locais (SLENs) de Wheeler amplo, tendo em vista que são questões que possuem
et al. (2005) o fato de que a criação de redes de colabo- impacto direto ao contexto externo da organização.
ração entre diversos atores sociais é fundamental para Como posto pelas autoras, nota-se que tanto a pers-
o alcance do desenvolvimento sustentável, e nisso, a pectiva Ambiental quanto a Social são apenas novas
organização privada tem relevante participação. Im- áreas funcionais a serem inseridas na organização, e
portante da mesma forma é a identificação das várias não elementos que permeiam toda estratégia.
âncoras envolvidas nas redes SLENs, desde indivíduos, No que diz respeito ao modelo da Síntese Socio-
organizações com e sem fins lucrativos, agências de econômica, proposto por Molteni e Pedrini (2010), os
desenvolvimento, governos, e comunidade local. avanços se referem ao desenvolvimento do modelo
Além disso, este é um modelo que implica a com base na volatilidade inerente a gestão da SO.
necessidade de mudança de valores voltados para a Os autores reforçam este pressuposto para o modelo
cooperação. Para ser membro de uma rede do tipo ao argumentarem que o valor diferencial de uma sín-
SLEN, a organização necessita ter uma visão holística tese socioeconômica é provável de se perder com o
e compreender que interesses individuais não são tempo, havendo a necessidade de inovação constante.
Avanços:
- Clareza da importância de que Fragilidade:
Sistema de Gestão a sustentabilidade faça parte da - A sustentabilidade pode se tornar algo meramente
da Sustentabilidade estratégia e visão organizacional; instrumental, antes que uma ‘ideologia’ para a
Organizacional - Mudança cultural e de atitude; organização, devido ao fato de estar atrelada quase
Azapagic (2003) - Apresentação de um ciclo: política, exclusivamente à estratégia organizacional, e não à
planejamento, implementação, estratégia de desenvolvimento de competências.
comunicação, revisão e ações corretivas.
Fragilidades:
Avanços:
- Possibilidade de conflitos de interesses e da
Redes Corporativas - A rede possuivárias âncoras;
predominância do individual ante ao coletivo;
Sustentáveis - Proporciona visão macro
- Não demonstra como a sustentabilidade é implementada
Locais (SLENs) da sustentabilidade;
nas estratégias e operações das organizações envolvidas;
Wheeler et. al (2005) - Traz na sua essência, a necessidade
- Não menciona o desenvolvimento
de mudança profunda de valores.
de competências para a SO.
Framework Avanços:
Balanced Scorecard - Traz a gestão da SO em um contexto Fragilidade:
Hexagonal (BSH) estratégico através do BSC; - Aborda as perspectivas Ambiental e Social
Cheng, Fet e - Apresentação de um ciclo: Construir, como áreas funcionais da organização.
Holmen (2010) Difundir, Aprender e Sustentar.
Avanços: Fragilidade:
- Necessidade de trabalhar em - Não demonstra explicitamente a
Síntese
novos projetos constantemente; integração do pilar ambiental;
Socioeconômica
- Traz sete estágios de classificar a - Não faz menção ao desenvolvimento das
Molteni e Pedrini (2010)
intensidade em que a organização competências necessárias para o alcance da
está inserida na sustentabilidade. sustentabilidade a partir da síntese socioeconômica.
Avanços:
Framework
-Aborda a questão estratégica da SO,
representativo do
por meio da lógica das competências;
acontecimento da Fragilidade:
- Foco nos indivíduos e no desenvolvimento
Sustentabilidade - Não faz menção explicita às formas de interação
coletivo em contexto de cooperação;
Organizacional com o ambiente externo à organização.
- Prevê integração de objetivos
Munck, Munck e Borim-
organizacionais e influências ambientais;
de-Souza (2011)
-Demonstra uma perspectiva sistêmica da SO.
A partir do Quadro 6, nota-se principalmente a valor social e preservação ambiental. Sendo que os três
incompletude dos modelos, no sentido de que todos elementos são atingidos, concomitantemente, conside-
demonstraram deixar algum aspecto descoberto, mas rando trade-offs; e c) a gestão da SO deve proporcionar
que seria importante para o alcance da SO. Dentre respostas além das exigências legais que contribuam
os avanços, o Framework representativo do aconteci- para a competitividade, lucratividade e para o sucesso
mento da Sustentabilidade Organizacional de Munck, das políticas consideradas sustentáveis no longo prazo.
Munck e Borim-de-Souza (2011) é o que apresenta um A partir destas condições, foram identificados conver-
maior número e, em contraste com suas fragilidades, gências, pontos de avanços e fragilidades em cada um
apenas uma é destacada. A análise sobre avanços e dos cinco modelos apresentados.
fragilidades dos modelos de gestão da SO, comple- De forma geral, observou-se que os modelos
mentada à análise sobre convergência e divergência reforçam o mainstream do TBL quando se trata da
com as condições conceituais ideais elencadas, permite sustentabilidade nas organizações, ainda que suas três
a inferência de que o Framework representativo do dimensões componentes não sejam explícitas ou con-
acontecimento da Sustentabilidade Organizacional é sideravelmente trabalhadas por todos os modelos, de
o modelo com mais respostas às premissas da susten- forma integrada e equilibrada. Constatou-se também
tabilidade ou o que menos falha neste sentido, dentre a incompletude dos modelos, à medida que todos
todos os analisados neste trabalho. demonstraram falhar em algum aspecto que seria im-
portante para o alcance da SO. Nota-se que a maioria
dos modelos (Sistema de Gestão da Sustentabilidade
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Organizacional; Balanced Scorecard Hexagonal; e
Síntese Socioeconômica) possui uma ênfase basica-
Desenvolveu-se este artigo com o objetivo de mente operacional e busca, principalmente, uma nova
destacar e apresentar alguns modelos de gestão da estratégia que levará a organização a uma posição de
sustentabilidade organizacional que relatassem a vantagem competitiva em relação aos concorrentes.
aplicação ou proposição de modelos de operacionali- O único modelo que exprime uma mudança mais
zação da sustentabilidade em contexto organizacional. ideológica – Redes Corporativas Sustentáveis Locais
A partir de pesquisas em bases científicas legítimas, (SLENs) – (WHEELER et al., 2005) mostra-se de difí-
chegou-se a cinco modelos, elaborados no intervalo cil aplicação por ser amplamente generalista em suas
dos anos de 2003 a 2011, em diferentes localidades do propostas. À exceção dos modelos de Wheeler et al.
mundo, selecionados pela sua originalidade. São eles: (2005) e de Munck, Munck e Borim-de-Souza (2011),
Sistema de Gestão da Sustentabilidade Organizacional para os quais a lucratividade e vantagem competitiva
(AZAPAGIC, 2003); Rede Corporativa Sustentável são respostas naturais à gestão da SO, os outros três
Local (WHEELER et al., 2005); Framework Balanced modelos analisados tem como foco principal a geração
Scorecard Hexagonal (CHENG; FET; HOLMEN, 2010); de lucros e vantagem competitiva.
Síntese Socioeconômica (MOLTENI; PEDRINI, 2010); A análise sobre avanços e fragilidades dos modelos
e Framework Representativo do Acontecimento da de gestão da sustentabilidade organizacional complemen-
Sustentabilidade Organizacional (MUNCK; MUNCK; tada à análise sobre convergência e divergência com as
BORIM-DE-SOUZA, 2011). condições conceituais elencadas como ideais e permite a
A partir da análise dos modelos, estabeleceram-se inferência de que o último modelo avaliado – Framework
três condições conceituais ideais aos modelos de gestão Representativo do Acontecimento da Sustentabilidade
da sustentabilidade nas organizações: a) a SO deve ser Organizacional (FRASOR) de Munck, Munck e Borim-de-
implementada como parte integral e contextual dos -Souza (2011) – representa o modelo com mais respostas
negócios por meio de sua inserção em decisões ope- às premissas da sustentabilidade, se agregar explicações
racionais, táticas e estratégicas; b) a SO deve se pautar sobre as formas de interação com o meio poderá ser tornar
pelo desenvolvimento de competências que orientem uma boa referência para as organizações.
a implementação e mensuração/acompanhamento O referido modelo integra claramente as três
que remetam para retornos econômicos, agregação de dimensões, ou sustentabilidades da SO, retratando-as
como competências organizacionais, de forma ali- competências que são capazes de serem desenvolvidas
nhada às estratégias e objetivos organizacionais, às em vários tipos de empresas. Porém, é possível que
intenções individuais e à abordagem integrativa do este modelo, quando aplicado, produza uma mudança
TBL. Ademais, este é um modelo genérico para vários cultural nas empresas com o entendimento de que a
tipos de organização, o que não dificulta sua adoção, SO é uma estratégia incorporada nos objetivos e metas
seja por indústrias, comércios ou prestadoras de ser- organizacionais. Contudo, apesar de observar que o nível
viços. Por utilizarem uma teoria oriunda dos estudos de aplicação dos princípios da sustentabilidade no Brasil
organizacionais – a teoria do agir organizacional – a ainda é baixo e que na maioria das vezes se resume em
inserção das pessoas no processo de desenvolvimento cumprimento da legislação brasileira, a literatura nacional
da sustentabilidade se torna mais evidente por meio tem avançado satisfatoriamente neste aspecto.
do alinhamento entre os agires, os quais representam Enfim, pelas considerações apresentadas, per-
a ação individual e coletiva. Ainda que não tenha cebe-se a necessidade de maiores aprofundamentos
sido inserida como uma condição conceitual ideal, a quando se trata da implantação e operacionalização
inserção das pessoas na gestão da SO parece funda- de modelos de gestão da sustentabilidade nas organiza-
mental. Entretanto, é preciso que sua fragilidade seja ções. Sugere-se que novos modelos sejam encontrados
sanada, a fim de que o modelo avance em direção à e analisados com o fim de ganhar referências para seus
sua consolidação e como um exemplo de framework desenvolvimentos. Em suma, mostrou-se fundamental
global para a gestão sistêmica e estrutural da susten- orientar-se não apenas pelos avanços, mas também pe-
tabilidade organizacional. las fragilidades apontadas na análise feita em diferentes
Uma análise mais aprofundada permite identificar modelos. Isso pode orientar aprimoramentos cabíveis
que a utilização de um modelo orientador da gestão ao desenvolvimento de um framework global unificador
da sustentabilidade na organização, como a proposta das boas experiências para a gestão sistêmica e estru-
feita a partir do FRASOR, é pertinente por propiciar a tural da sustentabilidade organizacional. Do mesmo
unificação das interpretações divergentes que podem modo, sugere-se a realização de pesquisas empíricas,
coexistir em uma mesma realidade, reduzindo a comple- principalmente em relação à validação de modelos de
xidade deste tópico e propiciando a busca deste objetivo gestão da SO, a fim de que sejam evidenciadas suas
comum, a sustentabilidade, em diversos níveis internos contribuições tanto na teoria quanto na prática.
e externos às organizações. O entendimento comum,
compartilhado e comprovado é condição para que este
agir organizacional – a SO – seja efetivamente realizado, REFERÊNCIAS
caso contrário, torna-se uma adversidade para toda a
cadeia de ações dependentes. (MAGGI, 2006) ASIF, M. et al. Including sustainability in business
Além disso, a adoção e a utilização concisa de um excellence models. Total Quality Management &
modelo de gestão da sustentabilidade como o FRASOR Business Excellence, Luleå, Suécia, v. 22, n. 7, p. 773-
pode contribuir para a imersão de novos valores rela- 786, 2011.
cionados à cultura organizacional, determinante para
AZAPAGIC, A. Systems approach to corporate
progressos da empresa neste âmbito e influenciada
sustainability: a general management framework. Trans
principalmente por investimentos em comunicação
IChemE, Reino Unido, v. 81, n. 3, 2003.
e compartilhamento de conhecimentos. Contribui
ainda para a visão de cooperação, a partir da qual as BARBIERI, J. C. et al. Inovação e sustentabilidade: novos
premissas envoltas à sustentabilidade são passíveis de modelos e proposições. Revista de Administração de
serem melhores e mais facilmente atendidas. Empresas – RAE, São Paulo, v. 50, n. 2, 146-154, 2010.
Um destaque interessante de ser notado é que o
FRASOR – modelo considerado com mais respostas à BARKEMEYER, R. et al. What Happened to the ‘Develop-
SO na análise deste artigo – é um modelo brasileiro, ment’ in Sustainable Development? Business Guidelines
cunhado a partir de observações de empresas nacio- Two Decades After Brundtland. Sustainable Develop-
nais e com foco em se tornar um modelo genérico com ment, Malden, Estados Unidos, v. 22, p. 15–32, 2014.