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Sustentabilidade em Contexto Organizacional: uma análise comparativa de


modelos que propõem trajetórias para sua gestão

Article  in  Revista de Ciências da Administração · April 2016


DOI: 10.5007/2175-8077.2016v18n44p91

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3 authors:

Luciano Munck Ana Claudia Bansi


Universidade Estadual de Londrina University of São Paulo
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Bárbara Galleli
Universidade Federal do Paraná
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GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE EM CONTEXTO ORGANIZACIONAL: DELINEANDO, EXPLICANDO E INOVANDO O PROCESSO DECISÓRIO ESTRATÉGICO A PARTIR DO
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http://dx.doi.org/10.5007/2175-8077.2016v18n44p91

Artigo recebido em: 13/12/2013


Aceito em: 19/07/2014

SUSTENTABILIDADE EM CONTEXTO ORGANIZACIONAL:


UMA ANÁLISE COMPARATIVA DE MODELOS QUE PROPÕEM
TRAJETÓRIAS PARA SUA GESTÃO

Sustainability in Organizational Context: a comparative analysis


of models that suggest paths for its management

Luciano Munck
Pós-Doutor – Ivey Business School - Western University – Canadá. Professor do Programa de Pós-graduação em Administração da
Universidade Estadual de Londrina. Londrina, PR. Brasil. E-mail: munck@uel.br

Ana Claudia Bansi


Mestre em Administração. Professora do curso de Tecnólogo em Processos Gerenciais. Instituto Federal de São Paulo - Campus São
Carlos. São Carlos, SP. Brasil. E-mail: ana_bansi@hotmail.com

Barbara Galleli
Universidade de São Paulo. Mestre em Administração. Professora do Centro Universitário SENAC-SP. São Paulo, SP. Brasil. E-mail:
b.gallelidias@usp.br

Resumo ABSTRACT
Este artigo, considerando a inexistência de fontes que This article, considering the lack of sources that
sintetizam proposições de modelos para a gestão da synthesize propositions models for sustainability
sustentabilidade em contexto organizacional, depois de management in an organizational context, after
identificar cinco modelos, se propõe a comparar tais identifying five models, proposes to compare them
modelos fazendo uso de um quadro-referência criado para making use of a reference frame created to represent
representar condições ideais de gestão da sustentabilidade ideal conditions for sustainability management in
nas organizações. Pela análise comparativa foram organizations. For the comparative analysis were
identificados avanços conceituais, convergências e identified conceptual advances, convergences, and
fragilidades. Uma das principais constatações denuncia weaknesses. A key finding reveals the incompleteness of
a incompletude dos modelos. À medida que são the models. As they are compared with each other and
comparados entre si e com o quadro-referência todos with the reference frame all of them have shown fails in
os modelos demonstraram falhar em algum aspecto some fundamental respect for achieving organizational
basilar para o alcance da sustentabilidade organizacional. sustainability. It was realized the need for greater insights
Percebeu-se a necessidade de maiores aprofundamentos when it comes to deploying and operating models
quando se trata da implantação e da operacionalização de of sustainability management in organizations. In
modelos de gestão da sustentabilidade nas organizações. summary, this study provided to create information to
Em suma, este estudo permitiu criar informações para eliminating weaknesses and to suggest improvements.
a eliminação de fragilidades e para a sugestão de This can guide improvements applicable to the
avanços. Isso pode orientar aprimoramentos cabíveis ao development of a global unifying framework of good
desenvolvimento de um framework global unificador das experiences to systemic and structural management
boas experiências para a gestão sistêmica e estrutural da organizational sustainability.
sustentabilidade organizacional.
Keywords: Models. Sustainability Management.
Palavras-chaves: Modelos. Gestão da Sustentabilidade. Organizational Sustainability.
Sustentabilidade Organizacional.

Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso.

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Luciano Munck • Ana Claudia Bansi • Barbara Galleli

1 INTRODUÇÃO bem como dispor de meios para comunicar aos seus


stakeholders políticas e avanços em direção à susten-
As evolutivas discussões sobre sustentabilidade tabilidade (AZAPAGIC, 2003; BARKEMEYER et al.,
e desenvolvimento sustentável fazem emergir novas 2014).
conclusões sobre os temas. Uma delas é a constatação Porém, segundo Azapagic (2003), até o momen-
de que o que antes era tido como uma responsabilidade to, não é possível identificar um framework global de
central dos governos passa a ser uma responsabilida- gestão que permita tal abordagem sistêmica e estru-
de central das organizações, em especial as privadas. tural para gerenciar a sustentabilidade organizacional.
O entendimento de que as organizações consomem Embora haja um corpo substancial na literatura acerca
deliberadamente e cotidianamente os recursos am- de diferentes modelos, a compreensão deste fenômeno
bientais e sociais do mundo, frequentemente de forma para o meio empresarial, assim como a ocorrência
desregrada, desigual e prejudicial, tem conduzido de sua operacionalização, ainda não se apresentam
muitas organizações a repensarem seus processos de forma significativa (STUBBS; COCKLIN, 2008).
produtivos. Com base neste entendimento, estudiosos O fato é que em meio à propagação de novas práticas
e consultores empresariais visualizam a necessidade de e estudos que buscam promover e/ou relatar a gestão
melhor compreender quais mudanças seriam necessá- sustentável, nota-se um maior número de iniciativas
rias aos modelos de gestão para atender e englobar as relacionadas a guias ou orientações para divulgação
premissas da sustentabilidade. das ações organizacionais ditas sustentáveis, em
De acordo com Van Marrewijk (2003), tanto no lugar de novas estratégias de implementação, siste-
âmbito dos debates acadêmicos, quanto no cenário mas de mensuração e modelos gerenciais (HANH;
empresarial, inúmeros conceitos são propostos para se SCHEEMESSER, 2005; VOS, 2007; BARKEMEYER
fazer menção a processos de gestão que incorporem et al., 2014; EWEJE, 2011).
a sustentabilidade, mas ainda não há uma definição Apoiado nas considerações anteriores, o pre-
singular ou consensual para a sustentabilidade orga- sente artigo objetivou destacar e apresentar alguns
nizacional ou conceito semelhante. Apesar da grande dos principais modelos de gestão da sustentabilidade
variação de designações, os autores que firmam organizacional, encontrados a partir de uma pesquisa
seus estudos sobre a sustentabilidade organizacional realizada na base de dados – Periódicos Capes. Foram
(BARONI, 1992; ELKINGTON, 1999; DILLYCK; selecionadas a área “Ciências Sociais Aplicadas” e a
HOCKERTS, 2002; HOFF, 2008; BARKEMEYER et al., subárea “Administração de Empresas, Administração
2014) convergem na ideia básica de que as atividades Pública, Contabilidade”, sendo as bases escolhidas:
das organizações desenvolvem-se em um contexto que EBSCO; ProQuest; Emerald; SAGE Journals Online ;
condiciona a qualidade e a disponibilidade de três SciELO.ORG; e Web of Science. Buscou-se por artigos
elementos fundamentais para a gestão: o econômico, que relatassem a aplicação ou proposição de modelos
o ambiental e o social. de operacionalização da sustentabilidade em contexto
O conceito de desenvolvimento sustentável care- organizacional, a partir das palavras-chave “susten-
ce de meios de operacionalização e contextualização e tabilidade” e “modelo de gestão”, bem como suas
de uma tradução de seus princípios gerais em práticas traduções para o inglês.
organizacionais. No entanto, alcançar a sustentabili- De um total de 38 artigos que tinham essa ca-
dade não é uma tarefa trivial e sua incorporação nas racterística, foram destacados como os mais originais
organizações prescinde de uma abordagem pela qual cinco modelos. Para esta seleção, foram observadas a
ela não seja considerada uma mera “adição”, mas seja teoria utilizada, a forma de abordagem proposta para
sistematicamente integrada em todas as atividades or- o estudo das organizações, ou seja, sua aproximação
ganizacionais. Em outras palavras, a sustentabilidade com a realidade organizacional, e a abrangência sis-
organizacional demanda frameworks ou modelos de têmica em relação a sustentabilidade, tendo em vista
gestão que permitam à organização entender e agir em que diversos trabalhos limitavam-se à tratativa da
conformidade com as premissas da sustentabilidade, dimensão ambiental.
mensurar seu desempenho e avaliar seu progresso,

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Sustentabilidade em Contexto Organizacional: uma análise comparativa de modelos que propõem trajetórias para sua gestão

Dessa forma, objetiva-se comparar os modelos 2 SUSTENTABILIDADE ORGANIZACIONAL


entre si, identificar avanços conceituais de um mo-
delo em relação ao outro, bem como fragilidades, a
(SO): LEVANTAMENTO CONCEITUAL
partir de um quadro-referência criado para representar
Desde a década de 1990, quando o desenvolvi-
condições ideais de gestão da sustentabilidade nas
mento sustentável atingiu maior repercussão tanto no
organizações. Busca-se, assim, oferecer contribuições
âmbito dos debates acadêmicos, quanto no cenário
prático-conceituais à busca pela operacionalização
empresarial, inúmeros conceitos são propostos para
da sustentabilidade nas organizações, por meio do
se fazer menção a processos de gestão voltados ao
fornecimento de informações para a eliminação de
alcance da sustentabilidade. Designações frequente-
fragilidades e para a sugestão de avanços.
mente utilizadas incluem: desenvolvimento sustentável,
Metodologicamente, a presente pesquisa ca-
sociedades sustentáveis, crescimento sustentável, sus-
racteriza-se como qualitativa, teórica, exploratória e
tentabilidade estratégica, sustentabilidade corporativa
bibliográfica (DEMO, 2000). O estudo inicia-se com
e sustentabilidade organizacional; cada uso tem seu
uma revisão geral da literatura sobre o tema, seguido
próprio significado, colocando uma ênfase pequena em
da apresentação dos modelos e, por fim, apresenta as
um ou outro aspecto do conceito (VAN MARREWIJK,
fragilidades e avanços dos modelos destacados, bem
2003; HAHN; SCHEEMESSER, 2006; VOS, 2007).
como a análise dos modelos com base em um quadro
Com vistas à padronização das designações, utilizar-
de referência com condições ideais. O Quadro 1 elenca
-se-á neste artigo a denominação Sustentabilidade
os principais temas e os pontos de análise contidos
Organizacional (SO).
neste artigo.
Segundo Cheng, Fet e Holmen (2010), a susten-
TEMA EM PERSPECTIVA O QUE INVESTIGAR? tabilidade nas organizações pode ser considerada sob
duas perspectivas: uma é macro e a outra é micro. Sob
Fundamentações teóricas que
Sustentabilidade permitam uma compreensão a perspectiva macro, a SO é vista como uma maneira
Organizacional: coerente e ideal do conceito de de mobilizar o setor empresarial para contribuir com o
Levantamento Conceitual sustentabilidade organizacional,
bem como de suas dimensões.
desenvolvimento sustentável. Já por uma visão micro,
implementar a SO refere-se à construção de uma pla-
Gestão da Sustentabilidade
Organizacional:
Condições ideais para a taforma de aprendizado na qual a organização possa
gestão da sustentabilidade
Quadro-Referência de
em contexto organizacional.
difundir visões econômicas, sociais e ambientais do
Condições Ideais
nível estratégico para o operacional, ao mesmo tempo
Modelos de Identificação e apresentação em que seja capaz de agregar conhecimentos.
operacionalização de modelos que propõem
da sustentabilidade a operacionalização da Van Marrewijk e Werre (2003) afirmam que a SO
organizacional sustentabilidade organizacional. refere-se às atividades da empresa que demonstram a
Análise Comparativa inclusão de aspectos sociais e ambientais às suas ope-
Possíveis convergências, a
entre os modelos em
existência de evolução dos
rações econômicas e interações com stakeholders. Para
perspectiva e destes com
modelos e suas fragilidades. Dyllick e Hockerts (2002), a SO pode ser definida como
o framework proposto
o encontro das necessidades de stakeholders (funcio-
Quadro 1: Protocolo de coleta e análise de dados nários, clientes, comunidades, grupos de pressão) sem
Fonte: Elaborado pelos autores deste artigo que a capacidade de sustentar necessidades futuras seja
comprometida. Conforme o entendimento de Smith
Para o alcance de tal objetivo, o artigo é apresen- e Sharicz (2011), a SO é o resultado das atividades
tado em cinco partes: introdução; levantamento con- de uma organização, voluntárias ou regidas por leis,
ceitual da sustentabilidade organizacional; proposição que demonstram a habilidade dela em manter viáveis
de um quadro-referência com condições ideais para a suas operações, incluindo a viabilidade financeira,
gestão da sustentabilidade em contexto organizacional; enquanto não impacta negativamente os sistemas
modelos de operacionalização da sustentabilidade or- social e ambiental.
ganizacional; análise sobre os modelos apresentados; A partir da exposição de essas poucas concei-
e considerações finais. tuações, em relação a tantas outras encontradas na

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Luciano Munck • Ana Claudia Bansi • Barbara Galleli

literatura, já é possível perceber a grande variação de os três pilares possuem diferentes propriedades e, por
designações e a ausência de uma definição singular isso, requerem diferentes abordagens.
ou consensual para a sustentabilidade organizacional. À luz do TBL, para atingir a sustentabilidade, as
Tal circunstância deixa margem para considerar que empresas devem alavancar seus capitais econômico,
o conceito de SO, por ser ainda muito amplo e até social e ambiental – pilares estes inter-relacionados
mesmo vago, deve ser substituído por definições mais e que se influenciam mutuamente – enquanto con-
específicas de forma equivalente aos níveis de desen- tribuem para o desenvolvimento sustentável em seu
volvimento, consciência e ambição das organizações. domínio político. A partir da constatação de que as
Há o entendimento de que cada organização possa ações organizacionais não devem ser consideras sus-
optar pela abordagem de SO que seja mais coerente tentáveis quando atenderem, ainda que eficientemente,
com seus objetivos, propósitos e estratégias, bem apenas um ou outro pilar da sustentabilidade, emerge
como mais apropriada às circunstâncias sociais nas a necessidade de integrá-los. O próprio conceito de
quais atua e aos valores dominantes que a configura sustentabilidade organizacional proposto pelo TBL já
(VAN MARREWIJK; WERRE, 2003). Vos (2007), ao prevê a integração (ELKINGTON, 1999; DYLLICK;
deliberar acerca de uma definição da sustentabilidade HOCKERTS, 2002; LORENZETTI; CRUZ; RICIOLI,
em contexto específico, argumenta que conceituações 2008; BARBIERI et al., 2010; CALLADO, 2010).
influentes da sustentabilidade devem desfrutar de con- Diversos autores, tais como Dyllick e Hockerts
senso, em nível organizacional, comunitário e social. (2002), Jamalli (2006), Callado (2010) e Dias et al.
Dessas discussões, concorda-se com van Marrewijk (2011), convencionaram converter os três pilares da sus-
tentabilidade organizacional em três sustentabilidades:
e Werre (2003) e Vos (2007) em relação à essencia-
organizacional econômica, organizacional ambiental e
lidade do contexto ao se tratar de sustentabilidade
organizacional social. As três sustentabilidades, confor-
nas organizações. O fator contextual possibilita às
me Dias et al. (2011), tornam-se então sustentadoras e
organizações atuar de forma alinhada aos objetivos da
viabilizadoras da sustentabilidade organizacional, logo,
sustentabilidade, conforme a sua realidade de contexto,
para alcançar o estado de sustentabilidade uma orga-
tanto interna quanto externa. Entretanto, agir conforme
nização deve antes desenvolver suas sustentabilidades
o contexto não implica que para cada organização deva
econômica, ambiental e social, de maneira equilibrada
existir um conceito e um modelo de gestão específicos.
e conforme o contexto da organização.
Admoesta-se que um framework global de gestão sis-
Apresentadas as considerações conceituais sobre
têmica e estrutural para administrar a sustentabilidade
a SO, a seguir, será descrito um quadro de referência
organizacional seja necessário a fim de possibilitar a
a fim de entender algumas condições ideais para a
definição de parâmetros e comparações em diversos
avaliação dos modelos para a gestão da SO, os quais
níveis, inter ou intraorganizações. A contextualização
serão apresentados e analisados na sequência.
é orientada para os casos de peculiaridades de cada
organização, permanentes ou temporários, que afetem
a gestão da sustentabilidade.
3 A CONSTRUÇÃO DE UM QUADRO-
Da mesma forma que a conceituação da sus-
tentabilidade se apresenta como um desafio para as
-REFERÊNCIA PARA GESTÃO DA
organizações, a tradução do conceito na prática orga- SUSTENTABILIDADE ORGANIZACIONAL
nizacional também o é. Dentre as inúmeras tentativas
de operacionalizar a SO, destaca-se a contribuição de Tendo em vista a tendência de incorporação da
Elkington (1999), cujo trabalho demonstra o relaciona- sustentabilidade na gestão das organizações, acredita-
mento entre os três pilares da sustentabilidade (social, -se que o desenvolvimento de um quadro referência de
econômico e ambiental), conhecidos na literatura como condições ideias para tal possa auxiliar no esclarecimento
Triple Bottom Line – TBL, uma perspectiva de análise de informações com vistas a fornecer contribuições
da sustentabilidade cada vez mais aceita pela socie- prático-conceituais à busca pela operacionalização da
dade e pelas organizações. Conforme as afirmações sustentabilidade nas organizações. Dessa monta, serão
de Dyllick e Hockerts (2002), adeptos a este modelo, desenvolvidas três premissas as quais representam condi-
ções ideais de gestão da sustentabilidade organizacional.

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É importante ressaltar que tais premissas repre- reconheça que a estratégia, a liderança e processos
sentam de forma genérica as condições básicas para in- de implementação são componentes essenciais para
corporar a gestão da sustentabilidade nas organizações a gestão da sustentabilidade.
e que estas premissas ou condições ideais foram defi- Acrescenta-se que esta implantação da sustenta-
nidas a partir da leitura, principalmente, dos próprios bilidade deve ocorrer de forma que os novos modos
artigos desenvolvedores dos modelos analisados neste de operação tornem-se profundamente enraizados na
artigo. Por entender que os artigos que originaram os organização. Adequações na estrutura organizacional
modelos aqui avaliados possuem representatividade in- incluem rotinas e processos de trabalho associados
ternacional e que são abrangentes, pois propõem desde à entrega de valor aos clientes e outros stakeholders,
mudanças operacionais até culturais; acredita-se que tomadas de decisão, comunicação e processos dire-
as condições ideais levantadas neste tópico, abrangem tivos com vistas a manter as várias partes da organi-
as dimensões pertinentes para a aplicação de modelos zação alinhada às estratégias e aos propósitos da SO
de gestão da sustentabilidade e, posteriormente, uma
(MOHRMAN; WORLEY, 2010). Do mesmo modo, é
avaliação e comparação dos modelos aqui elencados.
necessária uma mudança cultural, ou seja, a SO precisa
Contudo, de acordo com Searcy (2012), é impor- ser sistematicamente integrada a todas as atividades
tante enfatizar que a SO é um problema fundamental- organizacionais (AZAPAGIC; 2003).
mente complexo. As organizações são confrontadas
Para complementar, em um framework para
com diferentes demandas dos stakeholders em cons-
integrar o gerenciamento da qualidade e sustentabili-
tante mudança de prioridades, e uma infinidade de
dade Asif et al. (2011) entendem que para a gestão e
alternativas para enfrentar os desafios da sustentabili-
implementação da SO é imprescindível que haja uma
dade. Em reconhecimento a esta realidade, as empresas
integração de estruturas e funções com estratégias
devem desenvolver estratégias para a sustentabilidade
prioritárias e atividades operacionais. Por meio de tais
que sejam adequadas aos seus contextos locais e podem
considerações, tem-se que uma primeira condição ideal
utilizar as condições ideais aqui desenvolvidas para esta
para a gestão da sustentabilidade nas organizações é
tarefa. No entanto, para avaliar o sucesso ou o fracasso
que a SO deve ser implementada como parte integral
de iniciativas de sustentabilidade, ou seja, se são nota-
dos progressos em objetivos econômicos, ambientais e contextual dos negócios por meio de sua inserção em
e sociais fundamentais, um conjunto de indicadores decisões operacionais, táticas e estratégicas.
deve ser utilizado, porém, este não é o foco do artigo. A incorporação da SO em decisões operacionais,
Portanto, com respeito à primeira condição ideal táticas e estratégicas, portanto, implica o aprendizado e
de gestão da sustentabilidade nas organizações, na con- o desenvolvimento de capacidades de ordem superior
cepção de Azapagic (2003), um sistema de gestão da (CHENG; FET; HOLMEN, 2010), as quais podem ser
sustentabilidade organizacional deve emergir, ser incor- entendidas como competências que, segundo Munck,
porado e alinhado à visão e estratégia de negócios. A Munck e Borim-de-Souza (2011), remetem à capaci-
SO não deve ser considerada uma ‘adição’, muito além dade organizacional de conceder retorno econômico
disso, ela precisa ser parte integral dos negócios em seu suficiente e agregar valor social aos indivíduos sem
contexto, concebida como uma ferramenta ‘guarda- comprometer o ambiente. Para Valente (2012), a
-chuva’,o que envolve entender e agir concernente as orientação das organizações para a sustentabilidade
questões chave da sustentabilidade. A implementação define-se por meio de uma abordagem colaborativa e
da SO significa, portanto, torná-la real na estratégia e coordenada que prevê a mobilização de competências
operações (CHENG; FET; HOLMEN, 2010). de diversos stakeholders, internos e externos, operando
De acordo com Epstein (2008), para implementar como um sistema unificado. Portanto, por entender a
uma estratégia de sustentabilidade eficaz é fundamen- sustentabilidade como uma competência organiza-
tal que os gestores compreendam as relações causais cional, e esta como instrumento de implementação e
entre as várias ações que podem ser tomadas, além de mensuração/acompanhamento, faz com que se utilize
integrar a sustentabilidade em decisões operacionais, de forma articulada os recursos organizacionais frente
táticas e estratégicas. É fundamental também que se aos objetivos estratégicos.

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Ademais, outra característica tida como importan- lucratividade e para o sucesso das políticas consideradas
te para a avaliação de modelos para a sustentabilidade sustentáveis no longo prazo.
é a questão de que investimentos nos ativos social, Em síntese das condições ideais apresentadas, o qua-
financeiro e ambiental precisam ser simultâneos e dro referência foi desenvolvido, visualizado no Quadro 2:
coordenados (MUNCK; MUNCK; BORIM-DE-SOUZA
2011; WHEELER et al., 2005). Segundo Elkington PARÂMETROS REFERÊNCIAS

(1999), o idealizador da abordagem do TBL é impres- Azapagic (2003);


A SO deve ser implementada
cindível que haja uma operacionalização simultânea Epstein (2008);
como parte integral e
Cheng, Fet e
e integrativa entre estas três dimensões na atuação contextual dos negócios
1 Holmen, (2010);
por meio de sua inserção
organizacional. De fato, a principal evidência deste em decisões operacionais,
Mohrman e Worley (2010);
Munck, Munck e Borim-
modelo é a de que a organização não deve basear suas táticas e estratégicas.
de-Souza (2011)
decisões em apenas um dos pilares, uma vez que tal
A SO deve se pautar
fato pode acarretar o insucesso de qualquer estratégia pelo desenvolvimento
organizacional de longo prazo e, por conseguinte, de competências que
Elkington (1999);
prejuízos econômicos, sociais e ambientais (LAVILLE, orientem a implementação
Wheeler et. al (2005);
e mensuração/
2009; MUNCK; MUNCK; BORIM-DE-SOUZA, 2011). Laville (2009);
acompanhamento que
Cheng, Fet e
Asif et al. (2011) assumem que desenvolver 2 remetam para retornos
Holmen, (2010);
econômicos, agregação de
mecanismos de governança com controles geren- Munck, Munck e Borim-
valor social e preservação
de-Souza (2011);
ciais para promover a institucionalização do modelo ambiental. Sendo que
Valente (2012)
os três elementos sejam
implementado, bem como o desenvolvimento de atingidos concomitantemente
competências são essenciais para a integração entre considerando trade-offs.
gestão e sustentabilidade. Neste contexto, uma segun- A gestão da SO deve
da condição ideal para a gestão da sustentabilidade proporcionar respostas
nas organizações é a admoestação que a SO necessite além das exigências
legais que contribuam Azapagic (2003);
pautar-se pelo desenvolvimento de competências que 3 para a competitividade, Molteni e Pedrini (2010);
orientem a implementação e mensuração/acompanha- lucratividade e para o Valente (2012)
sucesso das políticas
mento que remetam para retornos econômicos, agrega- consideradas sustentáveis
ção de valor social e preservação ambiental. Sendo que no longo prazo.
os três elementos sejam atingidos concomitantemente
Quadro 2: Quadro referência das condições ideias para a
considerando trade-offs.
avaliação de modelos de gestão da SO
A sustentabilidade deve, portanto, representar Fonte: Elaborado pelos autores deste artigo
um novo modo de agir da organização, e não ape-
nas incidir sobre práticas voluntárias e respostas às A partir dessas considerações, serão apresen-
exigências dos stakeholders (VALENTE, 2012). Isso tados, a seguir, os modelos de operacionalização da
significa, primordialmente, que os investimentos em sustentabilidade que serão objeto de estudo compa-
sustentabilidade precisam proporcionar respostas rativo entre eles e com este quadro referência, o que
efetivas para além das exigências legais (MOLTENI; gerará discussões em torno de avanços e fragilidades
PEDRINI, 2010). Nesse contexto, Asif et al. (2011) desses modelos.
acreditam que, para a gestão da sustentabilidade obter
os resultados pertinentes aos seus objetivos é necessária
uma realocação de recursos e que os princípios da SO 4 MODELOS DE OPERACIONALIZAÇÃO DA
sejam sociabilizados para desenvolver uma interpreta-
ção compartilhada e alcançar os resultados almejados.
SUSTENTABILIDADE NAS ORGANIZAÇÕES
Enfim, como terceira e última condição ideal da gestão
Stubbs e Cocklin (2008) frisam que embora
da sustentabilidade organizacional, entende-seque
haja um vasto campo de publicações na literatura
a gestão da SO deve proporcionar respostas além das
científica acerca da sustentabilidade, a compreensão
exigências legais que contribuam para a competitividade,
deste fenômeno para o meio empresarial, assim como

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Sustentabilidade em Contexto Organizacional: uma análise comparativa de modelos que propõem trajetórias para sua gestão

a ocorrência de sua operacionalização por meio de liderança. Bem por isso há a necessidade de facilitar a
modelos de gestão ainda não se apresentam de forma convergência e a padronização de abordagens para a
significativa. Como salientado na introdução deste sua gestão, demonstrada por meio de um framework,
artigo, são poucos os estudos que buscam desenvolver apresentado na Figura 1. Segundo o autor, uma abor-
e/ou aplicar algum tipo de modelo de gestão da susten- dagem integrativa de gestão da SO pode alavancar
tabilidade e, em geral, os que o fazem frequentemente inúmeras oportunidades para aprimorar a competiti-
não possuem originalidade, limitando-se apenas a vidade proporcionando soluções de valor agregado, e
reproduzirem repetições. potencializar a reputação empresarial.
Com a intenção de identificar avanços e também
analisar fragilidades com base em referências concei-
tuais adotados como ideais, foram selecionados cinco
modelos que buscam a operacionalização da susten-
tabilidade nas organizações, desenvolvidos em várias
localidades e anos diferentes. O Quadro 3 elenca a
nomenclatura dos modelos analisados, seus respectivos
autores e a sua origem. Na sequência, dá-se início às
descrições de cada modelo.

MODELOS DE GESTÃO DA
AUTORES/REFERÊNCIA ORIGEM
SUSTENTABILIDADE

Sistema de gestão
da sustentabilidade Azapagic (2003) Inglaterra
organizacional SGSO

Rede Corporativa
Wheeler et. al (2005) Inglaterra
Figura 1: Sistema de gestão da sustentabilidade organizacional
Sustentável Local Fonte: Azapagic (2003, p. 305, tradução nossa)
Balanced Scorecard
Hexagonal – BSH
Conforme observado na Figura 1, o sistema de
-Framework conceitual de Cheng, Fet e
Noruega gestão da sustentabilidade organizacional emerge e é
uma abordagem integrada Holmen (2010)
para a sustentabilidade incorporado dentro da visão e estratégia de negócios.
organizacional
É preciso conceber a sustentabilidade como uma fer-
Síntese Socioeconômica Molteni e Pedrini ramenta ‘guarda-chuva’ que auxilia na identificação
Itália
- SSE (2010)
e gerenciamento dos riscos econômicos, ambientais e
Framework Representativo sociais de maneira integrada. O framework proposto
Munck, Munck
do Acontecimento
e Borim-de- Brasil por Azapagic (2003) compreende cinco estágios in-
da Sustentabilidade
Souza (2011)
Organizacional FRASOR terligados.
Quadro 3: Modelos de gestão da sustentabilidade em análise O primeiro passo, relacionado diretamente à
Fonte: Elaborado pelos autores deste artigo visão e estratégia de negócios, refere-se à política
de desenvolvimento sustentável, a qual envolve a
demonstração de liderança e do comprometimento
com a sustentabilidade, a identificação de ameaças
4.1 Sistema de Gestão da Sustentabilidade
Corporativa (SGSO) e de oportunidades, dos stakeholders e também das
questões de sustentabilidade – social, econômica e am-
O primeiro modelo apresentado é desenvolvido biental. Deve haver ainda a definição política e alinha-
por Azapagic (2003). O autor acredita que alcançar a mento com a estratégia e visão do negócio. A segunda
sustentabilidade organizacional, pautada no desenvol- etapa do sistema de gestão da SO é o planejamento,
vimento das dimensões econômica, social e ambiental no qual são necessárias a realização de uma análise
que impactam e são impactadas pela empresa, não é SWOT da sustentabilidade e a definição de objetivos
uma tarefa trivial, envolve visão, comprometimento e e metas para o desenvolvimento de um plano de ação.

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No planejamento há a identificação do quadro de 4.2 Rede Corporativa Sustentável Local


pessoal necessário e atribuição de responsabilidades, (SLEN – sigla em inglês)
além da especificação e alocação de recursos.
Segundo Wheeler et al. (2005), o modelo SLEN
No terceiro passo ocorre a implementação do
tem por finalidade descrever a maneira pela qual ini-
sistema de gestão da SO a qual inclui mudanças na
ciativas sustentáveis em países em desenvolvimento
cultura organizacional e nas atitudes dos empregados,
podem prosperar em ambientes de redes baseados
principalmente por meio de treinamentos e desenvolvi-
na confiança.
mento de competências. Nesta fase iniciam-se as ações
Os autores examinaram 50 estudos de caso de
prioritárias para se alcançar a sustentabilidade de forma
empresas aparentemente bem-sucedidas, autossufi-
a alinhar as prioridades da sustentabilidade com as
cientes e sustentáveis, com atividades baseadas nos
prioridades da organização. A identificação de ferra-
países em desenvolvimento. O estudo mostrou que
mentas apropriadas é importante neste estágio, porque
as empresas estão inseridas em densas redes entre
podem ser usadas para ajudar na implementação da
organizações privadas; comunidades locais; organi-
estratégia de sustentabilidade. Fazem-se necessários a
zações sem fins lucrativos; entre outros atores, nas
mensuração e monitoramento, bem como a sensibili-
quais as atividades são autogeridas de forma que
zação, formação e motivação de todos os envolvidos. criem valor em termos econômicos, sociais, huma-
O quarto passo concerne à comunicação organizacio- nos e ecológicos. Cinco importantes tópicos foram
nal, tanto em âmbito interno quanto externo. O pro- definidos como características dos atores inseridos
gresso do sistema precisa ser comunicado para todos no modelo SLEN: âncora financeira; missão social
os empregados periodicamente, uma vez que precisam ostensiva; resultados sustentáveis; investimento exó-
estar conscientes e ter acesso aos relatórios anuais de geno; e objetivos variados dos participantes.
sustentabilidade produzidos. Já a comunicação externa A identificação de uma âncora financeira nas
contribui para manter a transparência e para responder redes é importante para o desenvolvimento do
a questões emergentes e pressões. modelo SLEN à medida que permite assegurar sua
Por fim, o quinto e último passo se refere à revisão sustentabilidade financeira. Ainda que de portes
e ação corretiva. Neste estágio, faz-se uma revisão a fim distintos (micro, pequenas, médias empresas ou mul-
de observar se os objetivos e metas foram alcançados. tinacionais), empresas com missões sociais ostensivas
Caso não tenham sido alcançados, os motivos de tal são, com frequência, uma parte integral das redes. As
ocorrência precisam ser claramente identificados e redes fornecem uma oportunidade para empresas,
ações corretivas apropriadas devem ser tomadas. Por comunidades, indivíduos, governos, agências desen-
outro lado, se os objetivos forem atingidos e comunica- volvimentistas e ONGs a reconhecer uma base de
dos claramente, o processo começa novamente com a ativos compartilhados e construir um ciclo virtuoso
revisão e o realinhamento da política com as estratégias de ativos crescentes e resultados sustentáveis. Estes
do negócio (AZAPAGIC, 2003). últimos estão classificados em quatro categorias:
Na concepção de Azapagic (2003), desenvolver (1) lucros e retornos seguros em investimentos; (2)
desenvolvimento econômico local e comercial; (3)
a sustentabilidade organizacional exige uma mudança
aumento da qualidade de vida humana e ecológica;
de longo prazo e em diversos níveis, por meio do pen-
e (4) independência econômica individual e comu-
samento estratégico e de um sistema de abordagem.
nitária.
A SO não é uma ‘adição’, precisa ser parte integral
O investimento exógeno é construído a partir
dos negócios e, como todas outras atividades organi-
de ativos já existentes também em quatro categorias:
zacionais, demanda uma gestão apropriada. O autor
capital humano, capital social, capital financeiro e
ressalta que nenhum sistema ou modelo de gestão da
capital ecológico. Estas categorias não são exatamen-
sustentabilidade é capaz de tornar o negócio susten-
te necessárias para a expansão da rede, mas estão
tável caso não haja um real comprometimento da alta
presentes de alguma forma. O reabastecimento de
cúpula da organização.

98 Revista de Ciências da Administração • v. 18, n. 44, p. 91-110, abril 2016


Sustentabilidade em Contexto Organizacional: uma análise comparativa de modelos que propõem trajetórias para sua gestão

recursos ou o reinvestimento deve ocorrer para que dade Corporativa deve-se usar o Balanced Scorecard
a rede cresça e se torne independente. No modelo (BSC) e o Mapa Estratégico. No modelo elaborado
SLEN todos participantes concordam com o primeiro por Cheng, Fet e Holmen (2010), o conceito do BSC
propósito da rede: a colaboração. Isto faz com que foi estendido em um fluxo integrado de mecanismos
existam poucas agendas normativas e, consequen- que direcionam a transposição das visões econômica,
temente, não se oprima os participantes a nenhum social e ambiental do nível estratégico para o opera-
constrangimento ideológico. O valor e os resulta- cional simultaneamente à agregação de aprendizados
dos obtidos por meio da rede diferem para cada que emergem dessas visões em nível operacional,
participante conforme o que for considerado mais facilitando, assim, a captura de planejamentos estra-
importante para ele. A Figura 2 representa o modelo. tégicos a partir da estratégia realizada no cotidiano.
Com foco específico na representação visual
do hexágono (Figura 3), a sua metade inferior re-
presenta os ativos intangíveis da empresa. O ciclo é
iniciado na parte inferior direita com a perspectiva
‘Aprendizagem e Crescimento’ com foco nos funcio-
nários, suas habilidades e conhecimentos, por meio
de treinamentos e desenvolvimento de competências.
No sentido horário, a perspectiva de aprendizado e
crescimento leva à perspectiva ‘Processos Internos’,
centrada na qualidade e produtividade dos processos
Figura 2: O modelo de Redes Corporativas Sustentáveis internos da empresa. A conexão lógica seguinte é a
Locais (SLEN) perspectiva ‘Cliente’, que focaliza clientes diretos e
Fonte: Wheeler et al. (2005, p. 39 tradução nossa) consumidores finais, e o oferecimento de valor único.
A próxima conexão ocorre na metade superior
De modo geral, investimentos nos ativos hu- do hexágono, a qual delineia a abordagem do ‘tri-
mano, social, financeiro e ecológico precisam ser ple bottom line’. A perspectiva ‘Ambiental’ possui a
simultâneos e coordenados a fim de maximizar o conexão lógica com a perspectiva ‘Clientes’ devido
impacto da formação de SLENs. Para tanto, serão ao pressuposto de que os produtos e processos são
necessários altos níveis de cooperação entre agências desenvolvidos em consideração ao desempenho am-
internacionais, governos, empresas multinacionais, biental da organização. Já a perspectiva ‘Financeira’
grandes empresas nacionais em países em desenvol- é orientada tanto pela perspectiva ‘Ambiental’ quanto
vimento, entre outros. Wheeler et al. (2005) salientam ‘Social’, com vistas a lembrar os gestores de que os
que estes atores deverão pensar em si mesmos para processos e conteúdos estratégicos devem envolver
além de suas funções políticas, como construtores ambas estas perspectivas, sem perder de vista o de-
de redes, construtores de capacitação, incubadores sempenho econômico. Por fim, a perspectiva ‘Social’
de rede e inovadores, líderes e disseminadores de é orientada em sentido anti-horário pela perspectiva
aprendizados. ‘Aprendizado e Conhecimento’, e possui foco no
planejamento estratégico em termos de transformar
4.3 Framework Balanced Scorecard problemas sociais emergentes tanto da comunidade
Hexagonal (BSH) local quanto da sociedade em geral.
A partir dessas seis perspectivas, é elaborada
O terceiro modelo de sustentabilidade organi-
a abordagem de Balanced Scorecard Hexagonal
zacional a ser apresentado é descrito por Cheng, Fet
integrada para a sustentabilidade organizacional,
e Holmen (2010). As autoras identificam que como
composta por quatro subsistemas, como mostra a
alicerces para um quadro integrado de Sustentabili-
Figura 3.

Revista de Ciências da Administração • v. 18, n. 44, p. 91-110, abril 2016 99


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Figura 3: Framework Balanced Scorecard Hexagonal (BSH)


Fonte: Cheng, Fet e Holmen (2010, p. 10 tradução nossa)

O ciclo estratégico de sistema de gestão re- No contexto do framework, os objetivos estraté-


presentado pelo framework da Figura 3 é iniciado gicos são desenvolvidos em nível localizado, unidade
pelo ‘Sistema de Planejamento Estratégico’, onde é de negócios e nível individual para facilitar a coorde-
permitido à organização construir uma plataforma nação e cooperação entre eles. Assim, a comunicação
de aprendizagem, a fim de efetivamente utilizar o estratégica e o aprendizado são a espinha dorsal do
meio ambiente e a sociedade como direcionadores framework Balanced Scorecard Hexagonal. Por fim,
de recursos e de desenvolvimento de capacidades. a implementação da SO significa torná-la real na
estratégia e operações. Ao mesmo tempo, a execução
Com objetivos estratégicos formulados, a organiza-
também implica o aprendizado e o desenvolvimento
ção precisará difundi-los pelas seis perspectivas a
de capacidades de ordem superior (CHENG; FET;
partir da comunicação vertical e horizontal em cada
HOLMEN, 2010).
unidade de negócio, por meio do ‘Sistema de Comu-
nicação Estratégica’. Passando para o ‘Sistema de
4.4 Síntese Socioeconômica
Gestão do Desempenho’, as definições de objetivos
para cada unidade de negócio são traduzidas em O quarto modelo de proposição da operacio-
indicadores de desempenho específicos, a fim de nalização da sustentabilidade organizacional é o
integrar as unidades de sistema na organização. As desenvolvido por Molteni e Pedrini (2010). A Síntese
lacunas entre os desempenhos planejado e ocorrido Socioeconômica compreende soluções práticas que
são identificados para permitir que a organização combinam alta competitividade e desempenho econô-
aprenda e seja aprimorada. No término do ciclo mico com ótimos desempenhos sociais e ambientais.
está o ‘Sistema de Avaliação da Sustentabilidade’ Por esta síntese, os autores entendem novas soluções
em que dados sobre desempenho e falhas na or- que proporcionem respostas efetivas a expectativas de
ganização são designados em indicadores de de- grupos de stakeholders, para além das exigências legais,
sempenho interno e externo. A organização então que contribuam para o aumento da competitividade,
adapta sua estratégia e realinha seus recursos a fim lucratividade e para o sucesso no longo prazo da or-
de sustentar seu desempenho. ganização. A Figura 4 ilustra este modelo.

100 Revista de Ciências da Administração • v. 18, n. 44, p. 91-110, abril 2016


Sustentabilidade em Contexto Organizacional: uma análise comparativa de modelos que propõem trajetórias para sua gestão

Figura 4: Síntese socioeconômica


Fonte: Molteni e Pedrini (2010, p. 628 tradução nossa)

Molteni e Pedrini (2010) chamam a atenção para


Gestores são capazes de combinar
os efeitos de feedback presentes na síntese socioeconô- impactos positivos sociais ou ambientais
Nível 1
mica, que a equilibra e a reforça. Há dois processos de com benefícios econômicos. Ex:
Microações:
adoção de lâmpadas frias e/ou uso
equilíbrio, dado que a vantagem competitiva alcançada de sensores de aproximação.
auxilia a aproximar possíveis lacunas entre estratégia
Soluções inseridas na funcionalidade
planejada e estratégia realizada, bem como em relação Nível 2 –
organizacional que possuem um
Iniciativas
à satisfação de stakeholders. Este efeito de equilíbrio funcionais:
amplo impacto nas microações. Ex:
introdução de enfermaria na empresa.
explica por que a síntese socioeconômica tende a per-
der o seu valor ao longo do tempo dos pontos de vista Nível 3 – Envolve mais funções e mais
Iniciativas negócios da empresa. Ex: política
competitivo e social, tornando-se uma mera condição transversais: global de economia de energia.
de trabalho da empresa. Assim, há a necessidade de
Todas as atividades que pertencem a uma
contínuos re-lançamentos, novos projetos com suas função da empresa são interpretadas a
Nível 4 –
próprias características socioeconômicas. Há também Estratégias
partir da dimensão socioambiental. Ex:
políticas de gestão de recursos humanos que
dois processos de reforço, visto que melhores resul- funcionais:
produzem benefícios para o funcionário e
tados econômicos aumentam a disponibilidade de para o desempenho financeiro da empresa.
recursos financeiros. Portanto, ambos os processos de Negócios em que impactos sociais e/ou
Nível 5 –
equilíbrio e de reforço alimentam o desenvolvimento ambientais são centrais para a estratégia
Negócios
da organização e aumentam a vontade de satisfazer as competitiva da empresa. Ex: lançamento
sociais e/ou
de produtos que visam à satisfação de
necessidades dos stakeholders de maneiras diferentes. ambientais:
necessidades de um grupo social fraco.
Na concepção de Molteni e Pedrini (2010), a sín- Abordagem sinérgica entre o desempenho
tese socioeconômica concerne a uma vasta gama de econômico e resultados socioambientais
Nível 6 – Perfil
elementos organizacionais, desde processos únicos até que inspira o perfil da organização. Ex:
da empresa:
dispersão da empresa em uma localidade
orientações estratégicas. Os autores fornecem uma clas- rural em detrimento de sua concentração.
sificação das soluções promovidas pela síntese socioe-
A orientação social e/ou ambiental
conômica, com sete níveis crescentes, como no Quadro Nível 7 –
constitui o ponto central da identidade
Identidade
4. Nos níveis mais baixos, as soluções são de caráter da empresa:
da empresa. Todas as decisões são
tomadas conforme este critério.
genérico, sendo aplicáveis em diversas organizações e
decididas por níveis gerenciais medianos, já nos níveis Quadro 4: Níveis das Soluções Promovidas pelaSíntese
mais altos, as soluções oferecidas são mais específicas, Socioeconômica
decididas por níveis gerenciais de alta cúpula. Fonte: Adaptado de Molteni e Pedrini (2010)

Revista de Ciências da Administração • v. 18, n. 44, p. 91-110, abril 2016 101


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Molteni e Pedrini (2010) advertem que quando a processos de ação coletiva. Conforme Munck, Munck
Síntese Socioeconômica ocorre em níveis mais baixos e Borim-de-Souza (2011), visualiza-se que o agir
tende a ser mais facilmente imitada por diferentes orga- organizacional é um macroprocesso consequente de
nizações. Contrariamente, as soluções oferecidas pelos inúmeros subprocessos, influenciado tanto por fatores
níveis mais altos da síntese socioeconômica apenas externos quanto internos. Esses processos, para serem
podem ser imitadas com muito mais dificuldade, em efetivamente realizados, precisam ser comprovadamen-
razão de sua especificidade. Na visão dos autores, o te compreendidos pelos indivíduos que o realizarão e
modelo da Síntese Socioeconômica pode ser utilizado deles participarão.
em duas circunstâncias diferentes: para avaliar se um Depois de compreendidos os fundamentos da
processo ou uma estratégia são realmente virtuosos e teoria do agir organizacional, fizeram uso da lógica
para estimular inovações designadas para o bem co- das competências. Os autores definem a competência
mum. Em suma, o modelo da Síntese Socioeconômica como um saber fazer coletivo de alta qualidade, que
fornece orientação e auxílio aos gestores para a prática representa a operacionalização sistêmica dos recursos
da sustentabilidade. Simultaneamente, este modelo considerando os objetivos e estratégias organizacionais
demanda das pessoas a busca pelo bem comum e e as influências ambientais. Acrescentam ainda que
capacidades e criatividade suficientes para superar o agir organizacional pode ser traduzido como uma
conflitos e encontrar novas soluções. competência organizacional, permitindo objetividade
na descrição e tornando-o capaz de registrar eficiência
4.5 Framework Representativo do na ação organizativa frente aos resultados almejados.
Acontecimento da Sustentabilidade Segundo os autores
Organizacional (FRASOR)
[...] competência, portanto, relata eficiência,
O quinto e último modelo apresentado é o ela- ou seja, o melhor uso possível e articulado dos
recursos. É ela meio de fomento e verificação
borado por Munck, Munck e Borim-de-Souza (2011).
da eficácia nos processos de ações e decisões.
Partindo da constatação da falta de um quadro teóri-
(MUNCK; MUNCK; BORIM-DE-SOUZA, 2011,
co global e consolidado para a compreensão teórico- p. 152)
-aplicada sobre a sustentabilidade organizacional
e suas especificidades, os autores propuseram um Por essa inferência, os autores ressaltam que
framework representativo dos processos necessários o conceito de competência organizacional remete à
ao acontecimento da SO. Os autores a assumem capacidade organizacional de conceder retorno eco-
como um objetivo organizacional estratégico e, ao nômico suficiente e agregar valor social aos indivíduos,
buscarem por uma teoria que permitisse contemplar complementado com os preceitos do triple bottom
um agir organizacional processual capaz de qualificar, line, agrega-se a exigência de não comprometer o
categorizar e conduzir os preceitos da sustentabi- meio ambiente. Com base nos preceitos do TBL, os
lidade em contexto organizacional, fizerem uso da autores propõem três competências chaves para o
abordagem teórica do Agir Organizacional (MAGGI, acontecimento da SO: Sustentabilidade Econômica,
2006) unida à lógica das competências (MILLS et al., Sustentabilidade Ambiental e Sustentabilidade Social.
2002) e de ambas à abordagem integrativa do TBL Por seu turno, estas três sustentabilidades componentes
(ELKINGTON, 1999). da SO são compostas por três outras competências que
A teoria do Agir Organizacional, de acordo com as suportam: a ecoeficiência, a justiça socioambiental
seu propositor Maggi (2006), é tanto uma teoria do agir e a inserção socioeconômica. Quando validadas, as
social como uma teoria do agir racional. O agir social três competências de suporte permitem um equilíbrio
indica um agir do qual o sentido intencionado, de um organizacional sistêmico representante da conquista
ou mais sujeitos, se dirige ao agir de outros sujeitos. da sustentabilidade organizacional. Vide modelo na
Assim sendo, o agir organizacional concerne tanto aos Figura 5.
processos de ação de um sujeito singular quanto aos

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Sustentabilidade em Contexto Organizacional: uma análise comparativa de modelos que propõem trajetórias para sua gestão

Primeiramente, em relação ao Sistema de Ges-


tão da Sustentabilidade Organizacional proposto por
Azapagic (2003), com respeito a primeira condição,
este modelo a atende completamente. Como ficou
evidenciado em sua explicação e exposição, o sistema
de gestão da sustentabilidade organizacional emerge e
é incorporado dentro da visão e estratégia de negócios.
Sobre a segunda condição, observou-se o seu atendi-
mento parcial. Isso porque é comentada a necessidade
de desenvolvimento de competências na etapa de
Figura 5: Framework representativo do acontecimento da implementação do sistema de gestão da SO, tendo em
Sustentabilidade Organizacional. vista a decorrente mudança na cultura organizacional e
Fonte: Munck, Munck e Borim-de-Souza (2011, p. 155)
nas atitudes dos empregados gerada por tal circunstân-
cia. Apesar disso, as competências em nível organiza-
Munck, Munck e Borim-de-Souza (2011) consta- cional, que buscam retorno econômico, agregação de
tam que as competências apresentam, de fato, poten- valor social e preservação ambiental, conforme indica
cial para orientar a gestão da sustentabilidade, mas se o segundo parâmetro, não são explicitadas. Por último,
estiverem desarticuladas de suas premissas, gerarão a terceira condição pode ser considerada atendida em
processos desintegrados que tendem a acarretar em sua completude, tendo em vista as considerações do
falta de coesão estratégica e, por conseguinte, prejuízos modelo acerca do longo prazo e do reconhecimento
econômicos, sociais e ambientais. A sustentabilidade de implicações no âmbito de oportunidades rentáveis,
organizacional provém de um entendimento de desen- tal qual a geração de vantagem competitiva.
volvimento coletivo, com objetivos compartilhados,
No modelo de Redes Corporativas Sustentáveis
coordenados e em contexto de cooperação. Prioriza-se,
Locais (SLENs) de Wheeler et al. (2005), tratando-se
assim, o âmbito das competências que constituem, em
da primeira condição, notou-se que não fica explícita a
suma, o agir organizacional mobilizador de recursos
maneira pela qual a sustentabilidade é implementada
e formador de uma cadeia de relacionamento capaz
nas estratégias e operações das organizações envolvi-
de retratar o caminho para o acontecimento da sus-
das na rede. Da mesma forma, apesar de a atuação
tentabilidade organizacional, sem desconsiderar as
em redes poder ser considerada uma competência a
influências externas.
ser desenvolvida por qualquer entidade que possa
Ao refletir sobre os cinco modelos apresentados, participar deste modelo de gestão da sustentabilidade,
emergem aspectos convergentes e divergentes, suas esta situação não é indicada e, além disso, não há um
fragilidades e avanços, apresentados na próxima seção. planejamento referente ao desenvolvimento de com-
petências para a SO, o que significa que este modelo
não atende também a segunda condição. Já no que
5 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS tange a terceira condição, pode-se afirmar que esta é
MODELOS APRESENTADOS atendida completamente, pois a atuação do modelo é
voltada justamente para proporcionar retorno financei-
Com base nas três condições ideais para modelos ro e sucesso no longo prazo, criando valor em termos
de gestão da sustentabilidade, uma análise compa- econômicos, sociais, humanos e ecológicos. Contudo,
rativa que apresenta convergências e divergências embora aparentemente tenham uma característica mar-
de cada modelo entre eles e em comparação com o cadamente social, as redes parecem mais uma forma
quadro de análise será feita e, na sequência, serão de manter as pessoas incluídas economicamente, o que
apresentadas algumas pontuações críticas acerca de não é suficiente para os princípios da sustentabilidade.
avanços e fragilidades de cada um dos cinco modelos O Framework Balanced Scorecard Hexagonal de
expostos anteriormente, conforme a ordem em que Cheng, Fet e Holmen (2010) atende completamente
foram apresentados. a primeira condição, haja vista pelos próprios recur-

Revista de Ciências da Administração • v. 18, n. 44, p. 91-110, abril 2016 103


Luciano Munck • Ana Claudia Bansi • Barbara Galleli

sos conceituais utilizados, BSC e Mapa Estratégico, SO permite um equilíbrio organizacional sistêmico e
a sustentabilidade é entendida e gerenciada do nível coordenado. Enfim, com relação à terceira condição,
estratégico para o operacional, simultaneamente à o modelo também a atende completamente, uma vez
agregação de aprendizados. No que diz respeito a que por meio da gestão da SO via competências é
segunda condição, pode-se dizer que este modelo a possível fomentar e verificar a eficácia nos processos
atende parcialmente. Assim como no caso do modelo de ações e decisões organizacionais ao longo do tempo,
de Azapagic (2003), o Framework Balanced Scorecard contribuindo para o incremento da competitividade e
Hexagonal prevê o desenvolvimento de competências, lucratividade.
habilidades e conhecimentos dos funcionários, bem Com base no exposto e como forma de melhor
como há a indicação de que a organização pode utilizar apresentação dos resultados da análise dos modelos
o meio ambiente e a sociedade como direcionadores de sustentabilidade propostos apresentados neste
de recursos e de desenvolvimento de capacidades. artigo, o Quadro 5 foi desenvolvido. Os modelos são
Entretanto, estas indicações são limitadas e as compe- elencados e suas convergências ou não com os parâ-
tências específicas para a SO não são mencionadas. metros destacados são representadas pelas siglas NA
Por fim, sobre a terceira condição, o modelo em pauta (não atende), AP (atende parcialmente) e AC (atende
a atende completamente, uma vez que o ciclo contido completamente).
apresenta a necessidade de avaliações contínuas e
cíclicas a fim de que a organização possa adaptar e PARÂMETROS
MODELOS DE GESTÃO DA
revisar sua estratégia a fim de sustentar seu desempe- CONCEITUAIS
SUSTENTABILIDADE
nho no longo prazo. 1 2 3
A Síntese Socioeconômica, elaborada por Molteni Sistema de gestão da
e Pedrini (2010), atende completamente a primeira sustentabilidade organizacional AC AP AC
Azapagic (2003)
condição, uma vez que concerne a uma vasta gama
de elementos organizacionais, desde processos únicos Rede Corporativa Sustentável Local
NA NA AC
Wheeler et al. (2005)
até orientações e processos estratégicos. Por outro
lado, a segunda condição não é atendida, pois não há Framework Balanced Scorecard
Hexagonal (BSH) AC AP AC
considerações no modelo que tratem de competências Cheng, Fet e Holmen (2010)
e ainda a inclusão da perspectiva ambiental se mostra
Síntese Socioeconômica
de maneira rasa. Em relação a terceira condição, seu AC NA AC
Molteni e Pedrini (2010)
atendimento é verificado em completude, tendo em vis-
Framework representativo
ta as prerrogativas do modelo de que este compreende do acontecimento da
AC AC AC
soluções práticas que combinam alta competitividade Sustentabilidade Organizacional
Munck, Munck e Borim-de-Souza (2011)
e desempenho econômico com ótimos desempenhos
sociais e ambientais e da necessidade de inovações Quadro 5: Análise dos modelos de SO a luz das condições
contínuas para sustentação da empresa no tempo. conceituais ideias
O último modelo apresentado, o framework repre- Fonte: Elaborado pelos autores deste artigo
sentativo dos processos necessários ao acontecimento
da SO de Munck, Munck e Borim-de-Souza (2011), Pela observação do Quadro 5, é perceptível que
atende por completo a primeira condição ao destacar o único modelo que atende as três condições con-
que a SO como uma competência representa a ope- ceituais propostas simultaneamente é o framework
racionalização sistêmica dos recursos considerando os representativo do acontecimento da Sustentabilidade
objetivos e estratégias organizacionais e as influências Organizacional de Munck, Munck e Borim-de-Souza
ambientais e que a desarticulação dessas premissas (2011). Em contraste, o modelo desenvolvido por Whe-
tende a acarretar em falta de coesão estratégica. eler et al. (2005) é o único que atende completamente
Sobre a segunda condição, esta também é atendida a apenas uma das condições, enquanto os outros três
completamente, o modelo em questão tem esclarecido atendem a ao menos duas completamente. A partir
que a validação das competências componentes da dessas inferências, é possível apontar o modelo de
gestão da sustentabilidade proposto por Munck, Munck

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Sustentabilidade em Contexto Organizacional: uma análise comparativa de modelos que propõem trajetórias para sua gestão

e Borim-de-Souza (2011) como ideal, sendo um único prioridades, é preciso que todos os envolvidos atuem
critério o atendimento simultâneo a todas as condições cooperativamente de acordo com os princípios da rede,
conceituais ideais. No entanto, essas condições ideais a fim de que ela possa ser bem sucedida. Por outro
elencadas ainda permitem pontuar avanços e fragili- lado, ao mesmo tempo em que se apresenta como
dades contidas no desenvolvimento de cada um dos um avanço, essa questão também pode representar
cinco modelos apresentados, o que pode enriquecer uma fragilidade, pois, se os membros envolvidos não
tal constatação, corroborando-a ou refutando-a. compactuarem de tais princípios, há a possibilidade
Sobre o Sistema de Gestão da Sustentabilidade de conflitos de interesses, com a predominância do
Organizacional, proposto por Azapagic (2003), é pos- individual ante ao coletivo. Uma vez que as redes
sível especificar como avanços a determinação de que são formadas por vários tipos de organizações, com
a sustentabilidade seja parte integrada da estratégia e interesses também diversos, não é algo improvável
visão organizacional, bem como a ênfase na mudan- ou impossível que cada envolvido priorize e atue so-
ça cultural da organização e mudança de atitude das mente em seus domínios de prioridades individuais,
personagens organizacionais. Acrescenta-se como um contrariando e prejudicando o funcionamento da rede
avanço do modelo a representação de um ciclo deta- como um todo.
lhado acerca da gestão da sustentabilidade iniciado O terceiro modelo analisado, Framework Balanced
pela política e planejamento da SO, passando pelas Scorecard Hexagonal de Cheng, Fet e Holmen (2010)
estratégias de implementação, comunicação durante também possui seus avanços e fragilidades. Como
o processo de implantação e finalizado com a revisão avanços, apontam-se a utilização de um sistema interno
seguida de ações corretivas, caso necessário. de gestão já consolidado (BSC) que proporciona a ges-
Como uma fragilidade observada no modelo de tão integrada e estratégica da SO por uma perspectiva
Azapagic (2003), pontua-se que a sustentabilidade interna à organização, assim como a estruturação e o
possa se tornar algo meramente instrumental na gestão, detalhamento do modelo no sentido de que compreen-
antes que uma “ideologia” para a organização, como de a sua construção, difusão, aprendizagem e feedback
o autor afirma constantemente. Isso devido ao fato de da sustentabilidade organizacional, completando um
a sustentabilidade estar atrelada quase exclusivamente ciclo, assim como o modelo de Azapagic (2003).
a estratégia produtiva (e não a estratégia de desenvol- Porém, a fragilidade de tal modelo se resume
vimento de competências conforme proposto pelas no fato de que este é confuso ao apresentar questões
condições conceituais ideais), a tornando, também, um que envolvem as perspectivas “Ambiental” e “Social”,
instrumento de busca, quase que excepcionalmente, consideradas externas à organização pelas próprias
da lucratividade e do ganho de competitividade frente autoras, apenas com foco interno à organização e ainda
aos concorrentes. com um nível baixo de desenvolvimento. Ocorre que
Identificou-se como avanço no modelo de Redes ambas as perspectivas demandam um tratamento mais
Corporativas Sustentáveis Locais (SLENs) de Wheeler amplo, tendo em vista que são questões que possuem
et al. (2005) o fato de que a criação de redes de colabo- impacto direto ao contexto externo da organização.
ração entre diversos atores sociais é fundamental para Como posto pelas autoras, nota-se que tanto a pers-
o alcance do desenvolvimento sustentável, e nisso, a pectiva Ambiental quanto a Social são apenas novas
organização privada tem relevante participação. Im- áreas funcionais a serem inseridas na organização, e
portante da mesma forma é a identificação das várias não elementos que permeiam toda estratégia.
âncoras envolvidas nas redes SLENs, desde indivíduos, No que diz respeito ao modelo da Síntese Socio-
organizações com e sem fins lucrativos, agências de econômica, proposto por Molteni e Pedrini (2010), os
desenvolvimento, governos, e comunidade local. avanços se referem ao desenvolvimento do modelo
Além disso, este é um modelo que implica a com base na volatilidade inerente a gestão da SO.
necessidade de mudança de valores voltados para a Os autores reforçam este pressuposto para o modelo
cooperação. Para ser membro de uma rede do tipo ao argumentarem que o valor diferencial de uma sín-
SLEN, a organização necessita ter uma visão holística tese socioeconômica é provável de se perder com o
e compreender que interesses individuais não são tempo, havendo a necessidade de inovação constante.

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Um avanço importante no modelo refere-se ainda cias, concedendo à SO um meio de operacionalização


à hierarquia das soluções promovidas pela síntese e gerenciamento, da mesma forma que a aborda sob
socioeconômica, devido à inferência de que quanto um prisma de integração sistematizada à estratégia or-
mais envolvida está a organização com a gestão da ganizacional. Aponta-se também a ênfase direcionada
sustentabilidade, maior é sua especificidade, maior é às pessoas neste processo. O modelo em questão tem
sua diferenciação frente aos concorrentes, logo, maior como premissa que a ação coletiva, portanto, também
é seu nível de competitividade. a individual, é o alicerce de direcionamento da orga-
Como fragilidade, os autores parecem negligen- nização em busca da sustentabilidade.
ciar a dimensão ambiental do TBL. Ainda que, no de- Todavia, encontrou-se como uma fragilidade deste
correr de seu texto mencionem as questões ambientais, modelo a não inclusão na sua representação do ambiente
na figura representativa da síntese socioeconômica externo à organização. Observou-se que os autores, em
somente são inseridas as dimensões social e econômica nenhum momento, fazem menção sobre o relacionamen-
da SO. No framework representativo do acontecimento to com seus stakeholders externos o que pode deixar a
da sustentabilidade organizacional de Munck, Munck organização isolada de seu contexto de atuação.
e Borim-de-Souza (2011), os avanços dizem respeito Como forma de simplificação e melhor visualiza-
ao tratamento da sustentabilidade, bem como de seus ção, no Quadro 6 é apresentado um resumo dos avan-
fenômenos envoltos, a partir da lógica das competên- ços e fragilidades apontados nos modelos estudados:

Modelo Avanços e Fragilidades

Avanços:
- Clareza da importância de que Fragilidade:
Sistema de Gestão a sustentabilidade faça parte da - A sustentabilidade pode se tornar algo meramente
da Sustentabilidade estratégia e visão organizacional; instrumental, antes que uma ‘ideologia’ para a
Organizacional - Mudança cultural e de atitude; organização, devido ao fato de estar atrelada quase
Azapagic (2003) - Apresentação de um ciclo: política, exclusivamente à estratégia organizacional, e não à
planejamento, implementação, estratégia de desenvolvimento de competências.
comunicação, revisão e ações corretivas.

Fragilidades:
Avanços:
- Possibilidade de conflitos de interesses e da
Redes Corporativas - A rede possuivárias âncoras;
predominância do individual ante ao coletivo;
Sustentáveis - Proporciona visão macro
- Não demonstra como a sustentabilidade é implementada
Locais (SLENs) da sustentabilidade;
nas estratégias e operações das organizações envolvidas;
Wheeler et. al (2005) - Traz na sua essência, a necessidade
- Não menciona o desenvolvimento
de mudança profunda de valores.
de competências para a SO.

Framework Avanços:
Balanced Scorecard - Traz a gestão da SO em um contexto Fragilidade:
Hexagonal (BSH) estratégico através do BSC; - Aborda as perspectivas Ambiental e Social
Cheng, Fet e - Apresentação de um ciclo: Construir, como áreas funcionais da organização.
Holmen (2010) Difundir, Aprender e Sustentar.

Avanços: Fragilidade:
- Necessidade de trabalhar em - Não demonstra explicitamente a
Síntese
novos projetos constantemente; integração do pilar ambiental;
Socioeconômica
- Traz sete estágios de classificar a - Não faz menção ao desenvolvimento das
Molteni e Pedrini (2010)
intensidade em que a organização competências necessárias para o alcance da
está inserida na sustentabilidade. sustentabilidade a partir da síntese socioeconômica.

Avanços:
Framework
-Aborda a questão estratégica da SO,
representativo do
por meio da lógica das competências;
acontecimento da Fragilidade:
- Foco nos indivíduos e no desenvolvimento
Sustentabilidade - Não faz menção explicita às formas de interação
coletivo em contexto de cooperação;
Organizacional com o ambiente externo à organização.
- Prevê integração de objetivos
Munck, Munck e Borim-
organizacionais e influências ambientais;
de-Souza (2011)
-Demonstra uma perspectiva sistêmica da SO.

Quadro 6:Avanços e fragilidades dos modelos de SO estudados


Fonte: Elaborado pelos autores deste artigo

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Sustentabilidade em Contexto Organizacional: uma análise comparativa de modelos que propõem trajetórias para sua gestão

A partir do Quadro 6, nota-se principalmente a valor social e preservação ambiental. Sendo que os três
incompletude dos modelos, no sentido de que todos elementos são atingidos, concomitantemente, conside-
demonstraram deixar algum aspecto descoberto, mas rando trade-offs; e c) a gestão da SO deve proporcionar
que seria importante para o alcance da SO. Dentre respostas além das exigências legais que contribuam
os avanços, o Framework representativo do aconteci- para a competitividade, lucratividade e para o sucesso
mento da Sustentabilidade Organizacional de Munck, das políticas consideradas sustentáveis no longo prazo.
Munck e Borim-de-Souza (2011) é o que apresenta um A partir destas condições, foram identificados conver-
maior número e, em contraste com suas fragilidades, gências, pontos de avanços e fragilidades em cada um
apenas uma é destacada. A análise sobre avanços e dos cinco modelos apresentados.
fragilidades dos modelos de gestão da SO, comple- De forma geral, observou-se que os modelos
mentada à análise sobre convergência e divergência reforçam o mainstream do TBL quando se trata da
com as condições conceituais ideais elencadas, permite sustentabilidade nas organizações, ainda que suas três
a inferência de que o Framework representativo do dimensões componentes não sejam explícitas ou con-
acontecimento da Sustentabilidade Organizacional é sideravelmente trabalhadas por todos os modelos, de
o modelo com mais respostas às premissas da susten- forma integrada e equilibrada. Constatou-se também
tabilidade ou o que menos falha neste sentido, dentre a incompletude dos modelos, à medida que todos
todos os analisados neste trabalho. demonstraram falhar em algum aspecto que seria im-
portante para o alcance da SO. Nota-se que a maioria
dos modelos (Sistema de Gestão da Sustentabilidade
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Organizacional; Balanced Scorecard Hexagonal; e
Síntese Socioeconômica) possui uma ênfase basica-
Desenvolveu-se este artigo com o objetivo de mente operacional e busca, principalmente, uma nova
destacar e apresentar alguns modelos de gestão da estratégia que levará a organização a uma posição de
sustentabilidade organizacional que relatassem a vantagem competitiva em relação aos concorrentes.
aplicação ou proposição de modelos de operacionali- O único modelo que exprime uma mudança mais
zação da sustentabilidade em contexto organizacional. ideológica – Redes Corporativas Sustentáveis Locais
A partir de pesquisas em bases científicas legítimas, (SLENs) – (WHEELER et al., 2005) mostra-se de difí-
chegou-se a cinco modelos, elaborados no intervalo cil aplicação por ser amplamente generalista em suas
dos anos de 2003 a 2011, em diferentes localidades do propostas. À exceção dos modelos de Wheeler et al.
mundo, selecionados pela sua originalidade. São eles: (2005) e de Munck, Munck e Borim-de-Souza (2011),
Sistema de Gestão da Sustentabilidade Organizacional para os quais a lucratividade e vantagem competitiva
(AZAPAGIC, 2003); Rede Corporativa Sustentável são respostas naturais à gestão da SO, os outros três
Local (WHEELER et al., 2005); Framework Balanced modelos analisados tem como foco principal a geração
Scorecard Hexagonal (CHENG; FET; HOLMEN, 2010); de lucros e vantagem competitiva.
Síntese Socioeconômica (MOLTENI; PEDRINI, 2010); A análise sobre avanços e fragilidades dos modelos
e Framework Representativo do Acontecimento da de gestão da sustentabilidade organizacional complemen-
Sustentabilidade Organizacional (MUNCK; MUNCK; tada à análise sobre convergência e divergência com as
BORIM-DE-SOUZA, 2011). condições conceituais elencadas como ideais e permite a
A partir da análise dos modelos, estabeleceram-se inferência de que o último modelo avaliado – Framework
três condições conceituais ideais aos modelos de gestão Representativo do Acontecimento da Sustentabilidade
da sustentabilidade nas organizações: a) a SO deve ser Organizacional (FRASOR) de Munck, Munck e Borim-de-
implementada como parte integral e contextual dos -Souza (2011) – representa o modelo com mais respostas
negócios por meio de sua inserção em decisões ope- às premissas da sustentabilidade, se agregar explicações
racionais, táticas e estratégicas; b) a SO deve se pautar sobre as formas de interação com o meio poderá ser tornar
pelo desenvolvimento de competências que orientem uma boa referência para as organizações.
a implementação e mensuração/acompanhamento O referido modelo integra claramente as três
que remetam para retornos econômicos, agregação de dimensões, ou sustentabilidades da SO, retratando-as

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como competências organizacionais, de forma ali- competências que são capazes de serem desenvolvidas
nhada às estratégias e objetivos organizacionais, às em vários tipos de empresas. Porém, é possível que
intenções individuais e à abordagem integrativa do este modelo, quando aplicado, produza uma mudança
TBL. Ademais, este é um modelo genérico para vários cultural nas empresas com o entendimento de que a
tipos de organização, o que não dificulta sua adoção, SO é uma estratégia incorporada nos objetivos e metas
seja por indústrias, comércios ou prestadoras de ser- organizacionais. Contudo, apesar de observar que o nível
viços. Por utilizarem uma teoria oriunda dos estudos de aplicação dos princípios da sustentabilidade no Brasil
organizacionais – a teoria do agir organizacional – a ainda é baixo e que na maioria das vezes se resume em
inserção das pessoas no processo de desenvolvimento cumprimento da legislação brasileira, a literatura nacional
da sustentabilidade se torna mais evidente por meio tem avançado satisfatoriamente neste aspecto.
do alinhamento entre os agires, os quais representam Enfim, pelas considerações apresentadas, per-
a ação individual e coletiva. Ainda que não tenha cebe-se a necessidade de maiores aprofundamentos
sido inserida como uma condição conceitual ideal, a quando se trata da implantação e operacionalização
inserção das pessoas na gestão da SO parece funda- de modelos de gestão da sustentabilidade nas organiza-
mental. Entretanto, é preciso que sua fragilidade seja ções. Sugere-se que novos modelos sejam encontrados
sanada, a fim de que o modelo avance em direção à e analisados com o fim de ganhar referências para seus
sua consolidação e como um exemplo de framework desenvolvimentos. Em suma, mostrou-se fundamental
global para a gestão sistêmica e estrutural da susten- orientar-se não apenas pelos avanços, mas também pe-
tabilidade organizacional. las fragilidades apontadas na análise feita em diferentes
Uma análise mais aprofundada permite identificar modelos. Isso pode orientar aprimoramentos cabíveis
que a utilização de um modelo orientador da gestão ao desenvolvimento de um framework global unificador
da sustentabilidade na organização, como a proposta das boas experiências para a gestão sistêmica e estru-
feita a partir do FRASOR, é pertinente por propiciar a tural da sustentabilidade organizacional. Do mesmo
unificação das interpretações divergentes que podem modo, sugere-se a realização de pesquisas empíricas,
coexistir em uma mesma realidade, reduzindo a comple- principalmente em relação à validação de modelos de
xidade deste tópico e propiciando a busca deste objetivo gestão da SO, a fim de que sejam evidenciadas suas
comum, a sustentabilidade, em diversos níveis internos contribuições tanto na teoria quanto na prática.
e externos às organizações. O entendimento comum,
compartilhado e comprovado é condição para que este
agir organizacional – a SO – seja efetivamente realizado, REFERÊNCIAS
caso contrário, torna-se uma adversidade para toda a
cadeia de ações dependentes. (MAGGI, 2006) ASIF, M. et al. Including sustainability in business
Além disso, a adoção e a utilização concisa de um excellence models. Total Quality Management &
modelo de gestão da sustentabilidade como o FRASOR Business Excellence, Luleå, Suécia, v. 22, n. 7, p. 773-
pode contribuir para a imersão de novos valores rela- 786, 2011.
cionados à cultura organizacional, determinante para
AZAPAGIC, A. Systems approach to corporate
progressos da empresa neste âmbito e influenciada
sustainability: a general management framework. Trans
principalmente por investimentos em comunicação
IChemE, Reino Unido, v. 81, n. 3, 2003.
e compartilhamento de conhecimentos. Contribui
ainda para a visão de cooperação, a partir da qual as BARBIERI, J. C. et al. Inovação e sustentabilidade: novos
premissas envoltas à sustentabilidade são passíveis de modelos e proposições. Revista de Administração de
serem melhores e mais facilmente atendidas. Empresas – RAE, São Paulo, v. 50, n. 2, 146-154, 2010.
Um destaque interessante de ser notado é que o
FRASOR – modelo considerado com mais respostas à BARKEMEYER, R. et al. What Happened to the ‘Develop-
SO na análise deste artigo – é um modelo brasileiro, ment’ in Sustainable Development? Business Guidelines
cunhado a partir de observações de empresas nacio- Two Decades After Brundtland. Sustainable Develop-
nais e com foco em se tornar um modelo genérico com ment, Malden, Estados Unidos, v. 22, p. 15–32, 2014.

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