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GABARITO_ANÁLISE DE TEXTO 1

ZEVI, Bruno [1918-2000]. As várias idades do espaço; A escala humana dos gregos. In: Saber ver a arquitetura
[Saper vedere l'architettura,1948]. São Paulo: Martins Fontes, 1994, pp. 45-50.

INDICAR QUE AMBOS ESTAO TRATANDO O PERIODO CLASSICO E NAO HELENICO

O TEMA (assunto do texto)


O texto selecionado do livro Saber ver arquitetura de Bruno Zevi é composto de dois trechos:

 O primeiro é a apresentação do quarto capítulo do livro que se intitula “As várias idades do espaço”.
Nesta parte o autor apresenta a sua definição de arquitetura e maneira pela qual irá abordar a sua
história ou desenvolver a sua análise crítica. O foco principal de seu estudo histórico e crítico é o
espaço.
 O segundo, “A escala humana dos gregos”, aborda as características da arquitetura grega a partir da
análise do Partenon.

A QUESTÃO proposta pelo autor ou como ele pretende intervir no tema/ área de estudo
Para o autor o público já tivera acesso a “uma longa crítica volumétrica e plástica de que [...] não tem,
efetivamente, necessidade, experimentando já na matéria e no método de cinquenta anos de crítica moderna
das artes figurativas e por numerosos livros de estudiosos eminentes. O que falta é a educação espacial, livre
de mitos e protecionismos culturais, francamente imparcial. Como já fez, a partir de alguns decênios a esta
parte, como já fez a própria arquitetura no campo criador – a critica arquitetônica precisa de uma declaração
de independência dos tabus monumentais e arqueológicos, de covardia moral que impede tantas histórias da
arquitetura de ir mais além de Valadier 1, como se, de há um século a esta parte, não tivesse havido
contribuições artísticas, criações espaciais, engenhos férteis e autênticas obras-primas. É por isso preferível
para o nosso objetivo traçar um arco, ainda que seja unilateral e apenas superficial das idades espaciais de
Ictino, Calícrates e Fídias, até a nossa geração de arquitetos filhos de Le Corbusier e de Wright, em vez de juntar
mais uma monografia crítica particular que deixaria por solucionar a questão sobre a validade geral da
interpretação espacial aqui defendida” (p. 47-8).

O ENFOQUE/ABORDAGEM (descritivo, analítico, crítico, ou seja, maneira ou método de enfocar o tema)


Em função da questão proposta por Zevi, o enfoque do texto menos histórico do que crítico e analítico. Ele
mesmo afirma que “neste capítulo, que examina alguns dos temas fundamentais espaciais de mais de dois
milênios de história, não se pretende desenvolver uma história da arquitetura, ainda que em forma de rápido
esboço. Este é um propósito vasto e talvez coletivo, uma exigência vital da nossa cultura, cuja realização é
possível, como é demonstrado pelo ótimo compêndio de Nikolaus Pevsner 2 e por inúmeras e excelentes
monografias, mas de que as presentes páginas apenas pretendem ser uma modesta contribuição orientadora”
(47).
Assim, sem desprezar a contribuição da história, sem desconsiderar que a arquitetura é resultado de “múltiplos
coeficientes” ou “conjecturas” (sociais, intelectuais técnicas, figurativas e estéticas), podendo “a crítica dos
monumentos” articular as análises arquitetônica, volumétrica, decorativa e da escala, ele define como seu
enfoque principal a questão do espaço (p. 44-7). Sua abordagem, portanto, pretende “aludir sumariamente às

1
Giuseppe Valadier (1762-1839), arquiteto, designer, urbanista, professor e arqueólogo que se vinculou o neoclassicismo na Itália.
2
Nikolaus Pevsner (1902-1983), historiador da arte e da arquitetura, autor de vários livros, entre eles o mencionado por Zevi, Panorama
da arquitetura ocidental.

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principais concepções do espaço interior que se encontram ao longo da história da arquitetura ocidental, com
um método que omite algumas importantes regras e inúmeras exceções, que toma arbitrariamente um edifício
como protótipo de uma época, o que é criticamente antididático porque pode ser confundido como velho e
absurdo sistema de explicar as características dos ‘estilos’ arquitetônicos em lugar das obras concretas da
arquitetura” (p. 47), mas que permite, justamente, analisar o espaço interior e a sua validade ao longo do
tempo.

A TESE (proposição que se apresenta ou expõe para ser defendida sobre o tema)
Para Zevi o espaço é a variante mais importante para se pensar a produção arquitetônica ao longo do tempo
quando se opta por uma abordagem crítica.
No caso específico da arquitetura grega, a sua tese é a de as construções religiosas gregas tiveram um “caráter
eminentemente escultórico” de modo que que o espaço interior dos templos gregos não foi nunca pensado,
“do ponto de vista do criador, porque não correspondia a funções e interesses sociais: foi um espaço não
contido, mas literalmente fechado, e o espaço interior fechado é precisamente característico da escultura” (p.
48-49). Isso se deu, do ponto de vista do autor, porque “o templo grego não era concebido como a casa dos
fiéis, mas como a morada impenetrável dos deuses. Os ritos realizavam-se no exterior, em torno do templo, e
toda a atenção e amor dos escultores-arquitetos foram dedicados a transformar as colunas em sublimes obras-
primas plásticas e a cobrir de magníficos baixos-relevos lineares e traves figurativas, frontões e paredes. Como
estava longe do pensamento grego essa problemática psicológica do íntimo que constituirá a força motriz da
pregação cristã e que teve a sua primeira manifestação arquitetônica nos obscuros silêncios das catacumbas,
assim a civilização grega se exprimiu ao ar livre, fora dos espaços interiores e das habitações humanas, fora
mesmo dos templos divinos, nos recintos sacros, nas acrópoles, nos teatros descobertos. A história da
arquitetura da acrópoles é essencialmente uma história urbanística, triunfa pela humanidade suas proporções
e da sua escala, pela insuperadas joias de escultórica graça repousada e repousante, ajustada na sua abstração,
esquece todos os problemas sociais, autônoma no seu fascínio contemplativo e impregnada de uma dignidade
espiritual nunca mais alcançada” (p. 49-50).

AS REFERÊNCIAS documentais3 e bibliográficas (indicar se há ou não e em caso positivo indicar que tipos de
referências documentais e bibliográficas são utilizados pelos autores);
O autor não se apoia em documentos textuais de época, nem em referências bibliográficas específicas.
Seu documento preferencial, embora não o mencione diretamente, é o próprio edifício e a vivencia espacial
que ele possibilita. Daí a importância das fotos e sua complementaridade ao texto escrito. Reparem que a
maioria delas retrata o espaço interior do templo, mais especificamente o peristilo.

A MANEIRA pela qual a arquitetura é pensada


Embora, como já apontado, Zevi afirme que a arquitetura é produto de vários condicionantes sociais,
intelectuais, técnicos, figurativos e estéticos, neste capítulo ele privilegia o aspecto artístico da arquitetura que
se manifestaria principalmente pelo espaço. O que define a arquitetura para Zevi é o espaço com fica clara na
seguinte passagem: “Quem investigar arquitetonicamente o templo grego, buscando, sobretudo, uma
concepção espacial fugirá horrorizado, assinalando-o ameaçadoramente como exemplar típico de não

3
São considerados documentos, segundo Jacques Le Goff todas as formas de expressão humana que são “produto da sociedade que o
fabricou segundo as relações de forças que aí detinham o poder. [...] O documento é uma coisa que fica, que dura, e o testemunho, o
ensinamento (para evocar a etimologia) que ele traz devem ser em primeiro lugar analisados desmistificando-lhe o seu significado
aparente. O documento é monumento. Resulta do esforço das sociedades históricas para impor ao futuro – voluntária ou
involuntariamente – determinada imagem de si próprias”. Ver de Jacques Le Goff o texto Documento/Monumento. In: História e memória.
Campinas: Editora da UNICAMP, 1990.

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arquitetura. Mas quem se aproximar do Pártenon e o admirar como uma grande escultura, fica encantado
como só acontece defronte e pouquíssimas obras do gênio humano” (p. 48).

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RYKWERT, Joseph [1926]. O que se sabe e o que se vê (O templo e seus usuários; Tolos; Tipo e projeto;
Seiscentas variedades; Tímpano ou Frontão; Tríglifo de cano). In: A coluna dançante: sobre a ordem na
arquitetura [The Dancing Column: On the Order in Architecture, [1998]. São Paulo: Perspectiva, 2015, pp.
213-224.

O TEMA (assunto do texto)


O texto selecionado é parte do capítulo VIII – O que se sabe o que se vê do livro A coluna dançante: sobre a
ordem na arquitetura de Joseph Rykwert.
O livro todo é dedicado à arquitetura grega, com foco especial às ordens gregas. Nesse capítulo em específico,
o autor apresenta “o que se sabe” sobre essa produção, ou seja, o que se disse ao longo do tempo sobre ela,
especificamente sobre as ordens arquitetônicas e seu cânone, e “o que se vê”, ou seja, aquilo que as pesquisas
históricas, antropológicas e arqueológicas mais recentes têm revelado e têm se mostrado distinto das
interpretações anteriores. O capítulo trata, portanto, das maneiras pelas quais a arquitetura grega se
constituiu em termos espaciais, plásticos e construtivos ao longo do tempo, procurando empreender uma
revisão historiográfico, ou seja, criticando antigas interpretações em favor de novas explicações.

A QUESTÃO proposta pelo autor ou como ele pretende intervir no tema/ área de estudo
O autor procura mostrar que a despeito dos tratados, desde Vitrúvio, e da narrativa historiográfica terem
afirmando a existência de um cânone único para a arquitetura grega, havia uma grande variação de soluções
espaciais, plásticas e construtivas que devem ser consideradas. Isso não quer dizer que não havia
normas mais ou menos fixas que serviam de modelo, que constituíam tipos arquitetônicos, mas que “o tipo
continha muitas contradições e incoerências e isso, por sua vez, sugere que ele deve ter sido elaborado em
mais de um lugar e por diversos grupos sociais de pessoas” (p. 216).

O ENFOQUE/ABORDAGEM (descritivo, analítico, crítico, ou seja, maneira ou método de enfocar o tema)


O enfoque de Rykwert é descritivo e analítico dentro de uma abordagem histórico-antropológica. Como ele
esclarece na introdução (e realiza no capítulo) sua pretensão foi a de fazer um relato crítico das ordens que
atendesse a duas condições: a primeira de “fornecer o contexto, antropológico e não histórico, no qual as
colunas foram criadas, mostrando por que se diferenciavam e por que suas configurações tinham adquirido
certa validade atemporal” e, e a segunda de ser “histórica e garantir a genealogia dessa ideia, mostrar como as
colunas eram constituídas e alteradas no tempo, como eram trabalhadas e percebidas por seus construtores e
os relatos apresentados de suas transformações” (p. 14).

A TESE (proposição que se apresenta ou expõe para ser defendida sobre o tema)
Rykwert defende a tese de que, apesar da existência de tipos, de cânones, as ordens gregas conheceram
variações, diferenças e até contradições decorrentes do fato de terem:
 sido pensadas “em mais de um lugar e por diversos grupos de pessoas” (p. 216)
 se alterado o material de sua construção, passando-se da madeira para a pedra (p. 216);
 atendido mais de um tipo de culto ao longo do tempo e dos lugares, em virtude de transformações na
prática religiosa e ritualística (p. 217-8).
Do seu ponto de vista, além desses aspectos a variação “sugere que é bem provável que existissem outras
receitas canônicas que Vitrúvio desconhecia ou preferiu ignorar – ou ainda que a equação canônica não era
uma regra, mas a descrição de um tipo a ser imitado e variado” (220). Nesse sentido, o cânon previa a
diferença.

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AS REFERÊNCIAS documentais e bibliográficas (indicar se há ou não e em caso positivo indicar que tipos de
referências documentais e bibliográficas são utilizados pelos autores);
O autor usa vários tipos de fontes documentais: tratados, textos literários, materiais arqueológicos, desenhos,
fotografias e os próprios edifícios.
Ele se baseia também em vários estudos sobre o tema desenvolvidos por pesquisadores de várias áreas do
conhecimento: arquitetura, arqueologia, antropologia, filosofia, literatura.

A MANEIRA pela qual a arquitetura é pensada


Rykwert pensa a arquitetura como uma produção cultural, que envolve todo o conjunto da sociedade, por isso
fala nos gregos, em grupos de pessoas e não em autores.

AS DIFERENÇAS entre os dois textos livros por atividade


A abordagem de Zevi é crítica e se volta para a obra arquitetônica pensada como obra de arte, cujos
ensinamentos poderiam ser manejados na contemporaneidade. Por isso, fala em autoria e trabalha com a ideia
de protótipo, ou seja, um modelo, um padrão, que no seu caso é o Paternon. O compromisso de Zevi é com a
crítica e a prática arquitetônica.
A abordagem de Rykwert é histórica e antropológica e se volta para a obra de arquitetura como uma produção
cultural que varia ao longo do tempo e espaço e que é fruto da ação de um conjunto de agentes sociais, não só
arquitetos. Por isso, ele critica a ideia de cânone, como modelo, e propõe a ideia de tipo definido por um
conjunto de normas construídas e compartilhadas pelo conjunto social e que contemplam variações. O
compromisso de Rykwert é com o conhecimento e a pesquisa histórica.

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