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Teste de hipótese rápidos de Tukey

Autores: Edson R. Montoro e Flavio A. Montoro

Os testes de hipótese são a maneira cientificamente válida de se efetuar uma comparação


entre médias e entre desvios padrão. Com um pouco de prática se consegue entender a mecânica
dos cálculos e executar um teste de hipótese de maneira correta. Hoje com os pacotes
estatísticos fica ainda mais fácil.
Porém essa facilidade gera uma preocupação com o pensamento estatístico [1], com o
pensar estatisticamente. Quem já participou dos nossos treinamentos sabe que falamos bastante
do pensamento estatístico e da sua importância.
A mecânica dos cálculos de um teste de hipótese não é complicada, e quando a pessoa
aprende essa mecânica, faz os cálculos corretamente, pois o pensamento matemático é muito
forte na nossa formação. O pensamento estatístico é uma filosofia de aprendizado e ação que
nos permite executar um teste de hipótese, não pensando em números matemáticos, mas sim
sabendo que os valores envolvidos nos cálculos são resultados de medições. Sabemos que medir
é um processo, e todo processo tem variabilidade, conforme diz o segundo princípio do
pensamento estatístico. Não podemos fazer comparações matemáticas do tipo 5 é maior que 2.
Na Estatística pode não haver diferença significativa entre 5 e 2, pois a cada resultado está
associado uma incerteza, e no final das contas essas variabilidades que devem definir essa
comparação.
Dito isso, para facilitar os testes de hipótese, John Tukey criou alguns testes rápidos, com
menos matemática envolvida e podendo assim ser feito de maneira muito rápida, além de
contribuir para o desenvolvimento do pensamento estatístico.

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Apresentaremos dois testes simples, rápidos e muito práticos, o primeiro para comparar
as médias de dois grupos de dados e o segundo para comparar os desvios padrão de dois grupos
de resultados, sendo que este último exige um pouco mais de cuidados, pois existe uma “zona
cinzenta” que exige um pouco mais de cálculos e ainda possui algumas restrições, mas apesar
disso ainda é muito prático.
Nestes testes não importa qual o modelo de distribuição de probabilidade das variáveis
em questão, o que remete à categoria de testes não paramétricos; mas diria que não existe essa
preocupação de classificar estes tipos de testes, eles simplesmente têm uma abordagem
bastante prática, como é o estilo já conhecido do autor, John Tukey.

1. Testes rápido de Tukey para detectar uma mudança significativa na média

Para determinar se há uma diferença significativa na média, John Tukey em 1959


desenvolveu um teste bastante simplificado [2] e Dorian Shainin o popularizou [3]. Este teste é
chamado de Teste Rápido de Tukey ou Técnica de Contagem Final (End Count Test) que consiste
em contar os valores de cada um dos grupos para definir se há ou não diferença significativa
entre as médias.
Para realizar este teste é necessário executar os seguintes passos:

a) Organizar os dois grupos de dados em uma escala de modo que cada um dos
grupos seja representado por um símbolo diferente, letras por exemplo.
b) Começando da esquerda, contar o número de símbolos semelhantes até
encontrar um símbolo oposto (valor referente ao outro grupo).
c) Da mesma forma, começando pela direita, contar o número de símbolos
semelhantes até encontrar um símbolo oposto.

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d) A soma das duas contagens resulta na contagem final.

Nota: Se a quantidade de símbolos mais à esquerda e mais à direita forem iguais, a


contagem final será zero.
A partir dessa contagem, com o apoio de uma tabela (Tabela 1), é possível definir com um
nível de significância se há diferença significativa entre as médias ou não, além de verificar o
intervalo de confiança para a diferença.
Caso o valor da contagem final seja superior a 6, significa que há diferença entre as
médias, caso contrário (contagem final inferior a 6), significa que não há diferença significativa
entre as médias.

Tabela 1 – Contagem Final, o nível de significância e o intervalo de confiança.

End Count Significância Confiança de que existe uma


(Contagem Final) diferença significativa na
média
6 0.10 0.90
7 0.05 0.95
10 0.01 0.99
13 0.001 0.999

Exemplo:

Um engenheiro de desenvolvimento testou 11 amostras de um material através de um


experimento, medindo a resistência do material quando submetido a duas temperaturas
diferentes (V1 = 50oC e V2 = 150oC). Na Tabela 2 pode-se verificar os resultados experimentais
da variável resposta, além das respectivas médias, desvios padrão e variâncias.

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Tabela 2 – Resultados experimentais do exemplo

Temp. Y1 Y2 Y3 Y4 Y5 Y6 Y7 Y8 Y9 Y10 Y11 Média S2 s


o
V1 = 50 C 5.6 7.2 13.6 8.4 10.4 8 12.6 8.5 9 9.2 5.7 8.93 5.77 2.4
V2 = 150oC 15 10.8 9 8.2 15.2 11.1 13.5 12.2 12.8 8.6 14 11.85 6.46 2.54

A interpretação gráfica das hipóteses é apresentada na Figura 1.

Figura 1 – Interpretação gráfica do teste de Contagem Final.

Na Figura 1 é apresentado uma contagem final (end count) de 7, sendo 4 V1 à esquerda


e 3 V2 à direita, e conforme a Tabela 1 temos aproximadamente 95% de confiança para a
conclusão de H1: µ50 ≠ µ150, isto é, os dois grupos (50oC e 150oC) possuem médias
significativamente diferentes com um nível de significância de 5%.

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2. Teste rápido de Tukey para detectar uma mudança significativa no desvio padrão

Para aplicar este teste de comparação entre os desvios padrão de dois grupos de
resultados não emparelhados de uma variável é necessário seguir as seguintes regras:

Smax
• Regra 1 – Se >2,72, então existe uma mudança significativa nos desvios
Smin

padrão.
𝑆𝑚𝑎𝑥
• Regra 2 – Uma “zona cinzenta” ocorre quando 1,5 ≤ ≤ 2,721. Se isso
𝑆𝑚𝑖𝑛

ocorrer utilizar a Regra 3.


2
𝑆𝑚𝑎𝑥 𝑛1 +𝑛1
• Regra 3 - Se 2 √ > 10 então existe uma diferença significativa entre os
𝑆𝑚𝑖𝑛 2

desvios padrão.

Esta última regra (3) é um pouco mais exigente que a Regra 1, pois envolve os tamanhos
de amostra, n1 e n2. No entanto, nem n1 nem n2 devem ser maiores que 60, e o menor n não deve
ser menor que 70% do maior n.
𝑆𝑚𝑎𝑥
Utilizando os mesmos dados do exemplo anterior, temos que a relação é igual a:
𝑆𝑚𝑖𝑛

𝑆𝑚𝑎𝑥 6,46
= = 0,89 < 2,72
𝑆𝑚𝑖𝑛 5,77
e ainda menor que 1,5, ou seja, fora da “zona cinzenta”, concluindo então que não existe
diferença significativa entre os dois desvios padrão.

1
Percebam que o valor 2,72 corresponde aproximadamente a constante de Euler (e = 2,71828)

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Bibliografia

[1] Hoerl R. W., Snee R. D., Statistical Thinking: Improving Business Performance, second
edition, John Wiley and Sons, 2012.
[2] Tukey, J. W. (1959) "A Quick, Compact, Two-Sample Test to Duckworth’s
Specifications" Technometrics, Vol. 1, No. 1, Feb., p 31-48.
[3] Bhote K.R., Bhote A.K., World class quality – Using design of experiments to make it
happen, Amacom, (2000) New York.

Sobre os autores:

Edson R. Montoro é Diretor Técnico da ERMontoro Consultoria e Treinamento Ltda,


empresa focada no desenvolvimento de pessoas e consultoria nas áreas de melhoria de processo
usando Estatística Aplicada e Lean Manufacturing.
O autor é Químico pela UNESP (Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”)
– Araraquara, MBA em Gestão Empresarial pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), Master Black
Belt pela Air Academy Associates, Engenheiro de qualidade pela ASQ (America Society for
Quality) e Pós-graduação em Gerência de Produção pela UFSC (Universidade Federal de Santa
Catarina).
Flavio A. Montoro é Sócio Fundador / Consultor da ERMontoro Consultoria e Treinamento
Ltda, empresa focada no desenvolvimento de pessoas e consultoria nas áreas de melhoria de
processo usando Estatística Aplicada e Lean Manufacturing.
O autor é Cientista da computação pela Faculdades COC – Ribeirão preto – SP, Mestre e
Doutor na área de Inteligência Artificial pela UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).

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