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Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Colégio de Aplicação
Geografia - Professora Evelin Biondo
Texto 02 - Por uma outra globalização!
Ano passado você estudou um pouco sobre essa conexão das relações comerciais
mundiais atuais e, mais especificamente, sobre globalização. Por exemplo, atualmente é quase
impossível pensarmos sobre produtos se não analisarmos a produção de objetos em uma escala
global. Isso quer dizer, muito provavelmente, que você está cercado de objetos que não foram
produzidos no Brasil. Isso não acontece somente no comércio. Pense nas músicas, filmes e séries
que você consome. Provavelmente você conhece alguma banda coreana, tenha uma série favorita
produzida nos Estados Unidos da América e ainda sua refeição favorita tenha origem na Itália.
A globalização é o ponto mais alto e atual do processo de internacionalização do mundo
capitalista. Para entendê-la, há dois elementos fundamentais: a técnica e a política. No fim do
século XX e graças aos avanços da ciência, produziram-se um conjunto de técnicas, principalmente
aquelas ligadas à informação e à comunicação, que passaram a exercer um papel de elo entre as
demais, unindo-as e assegurando que elas fossem sentidas em todo o planeta. Por exemplo, é
possível através do acesso à internet saber de notícias do mundo todo. Só que a globalização não
é apenas a existência dessas novas técnicas. Ela é também o resultado das ações que asseguram
um mercado global, portanto, das escolhas políticas realizadas não só pelos diferentes países, mas
também pelas grandes empresas.
Alguns fatores contribuem para explicar a globalização. O primeiro e mais fundamental é o
desenvolvimento das técnicas. A cada evolução técnica, uma nova etapa histórica torna-se
possível. Pense que o surgimento de conhecimentos técnicos sobre navegação possibilitou o
surgimento das grandes navegações ou a máquina a vapor possibilitou o surgimento da indústria.
Ao surgir uma nova família de técnicas, as outras não desaparecem. Por exemplo, não deixamos
de usar lápis e canetas porque surgiram computadores. Continuam existindo, mas um novo
conjunto de instrumentos passa a ser usado pelos que tem acesso, enquanto os que não tem
continuam utilizando conjuntos menos atuais e menos poderosos. Por outro lado, o sistema técnico
no mundo de hoje tem uma outra característica, a de ser invasor. Pensemos o seguinte: só há a
possibilidade de receber o bolsa família se a pessoa possuir alguma conta em banco.
Acompanhamos no último ano, por exemplo, os dados de milhões de brasileiros sendo vazados na
internet. Ou seja, ao mesmo tempo que somos obrigados (e invadidos) pela necessidade de
participar da rede bancária, somos expostos aos possíveis erros desse sistema, como os dados
vazados na internet.
Outro ponto importante para compreender a globalização, é pensar que vivemos em um
momento em que o tempo parece convergir, ser simultâneo. As lives marcadas em um canto do
mundo, a partir do acesso à internet, podem ser assistidas globalmente e ao mesmo tempo. Isso
não quer dizer que, nos mais diversos lugares, a hora do relógio é a mesma. Não é isso.
Convergem, os momentos vividos e tornamo-nos capazes, seja onde for, de ter o conhecimento do
que é o acontecer do outro. Foi, por exemplo, a solução para mantermos as amizades durante a
pandemia e até para aprendermos os conteúdos escolares.
Outra característica, é a produção de objetos de forma universal. Esta tornou-se possível
poque a partir de agora a produção se dá em escala mundial, por intermédio de empresas
mundiais, que competem entre si. Por exemplo, a Ford está fechando todas as suas montadoras no
Brasil pois globalmente, essa empresa vê vantagens em produzir em outros países e não aqui. Ao
mesmo tempo, quase toda a linha branca (de eletrodomésticos) vendida na Argentina é produzida
no Brasil. E mais, há ainda objetos que as peças são produzidas em partes diferentes do mundo e
montadas em outro lugar, como os nossos celulares e computadores. E aqui entra um pouco do
problema com o cargueiro encalhado do outro lado do mundo comentado em aula: a circulação de
maneira global dessas mercadorias é fundamental para manter a estrutura global criada para a
produção e o comércio de mercadorias.
Além disso, o período atual vai permitir a possibilidade de conhecer o planeta
profundamente. Porém, não é qualquer lugar que interessa na globalização e para as empresas – a
Ford não quer ficar no Brasil. Conhecer o planeta constitui um dado essencial à operação das
empresas e à produção atual. Isso não se limita às empresas, por exemplo, nossos celulares
possuem aplicativos de localização que permitem com que cada um de nós consiga chegar a
determinado lugar sem nunca antes ter andado por lá.
Como vimos, a globalização é um processo muito complexo e não pode ser encarada de
uma única maneira. Sendo assim, existem três formas principais de encarar tudo isso: o mundo
como fábula – que é o mundo tal como nos fazem crer. Por exemplo, a ideia de que vivermos em
um mundo conectado faz parecer que todas as pessoas têm o mesmo acesso a tudo, inclusive à
internet e aos diversos produtos; como perversidade – ou seja, vemos o mundo como ele
realmente é, desigual e hiper conectado; e como possibilidade – ou seja, como o mundo pode ser,
com uma outra globalização e, para isso, existem múltiplas possibilidades, como: a produção de
denúncias dessa perversidade pelas redes sociais, a distribuição da informação e do conhecimento
de maneira gratuita e os apoios e redes de solidariedade organizados de forma virtual. Um
mercado global utilizando esse sistema resulta nessa globalização perversa. Isso poderia ser
diferente se seu uso político fosse outro.
Referência:
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2000.

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