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CASPER
ESPECIAL #21
Maio, junho, julho e agosto de 2017
OS 70
ANOS
DA PRIMEIRA
ESCOLA DE
JORNALISMO
DO BRASIL
A maior revista de
carreira e finanças
pessoais do país
• Planejamento de carreira
• Educação executiva
• Vagas
• Liderança
• Remuneração
• Aperfeiçoamento profissional
• Qualidade de vida no trabalho
• Direitos trabalhistas
PRESIDENTE
Paulo Camarda
SUPERINTENDENTE GERAL
HISTÓRICA
Sérgio Felipe dos Santos
VICE-DIRETOR
Roberto Chiachiri Filho O testamento de Cásper Líbero mudou e ainda muda a vida de
milhares de brasileiros. Jornalista e empresário visionário, ele ex-
REVISTA CÁSPER pressou sua vontade de ter uma fundação e que uma de suas funções
NÚCLEO EDITORIAL DE REVISTAS seria a criação e a manutenção de “uma escola de jornalistas e ensi-
COORDENADORA DE ENSINO DE namentos de humanidade, particularmente português, prosa, estilo,
JORNALISMO literatura, eloquência, história e filosofia, em cursos de grandes pro-
Helena Jacob porções”. Em 16 de maio de 1947, nascia a primeira escola superior
de Jornalismo do Brasil, a Faculdade Cásper Líbero.
EDITOR-CHEFE A edição histórica que tem em mãos é uma homenagem a Cásper
Eduardo Nunomura
Líbero e aos milhares de alunos, professores e funcionários que pas-
EDITORES saram pela instituição. Nas 134 páginas, o dobro das edições habitu-
Carolina Moraes e Guto Martini ais, contamos a história do jornalista e empresário e como a Facul- C
Marcelo Rodrigues, Patrícia Salvatori, Públicas e Rádio, TV e Internet atraem a cada ano uma leva de jovens
CM
Roberto Chiachiri Filho, Roberto D’Ugo e que valorizam tanto a tradição quanto a inovação e descobrem como
Sonia Castino faz diferença passar alguns anos de suas vidas na “Paulista 900”, o MY
Moraes, Felipe Sakamoto, Giulia Gamba, balho, que carregam consigo o orgulho de ser casperianos. Também
K
Guilherme Guerra, Guto Martini, Mariane apresentamos um cardápio de reportagens atuais, que falam dos
Rossi, Paula Calçade, Paulo Henrique desafios que enfrentam as áreas da comunicação.
Pompermaier, Simone Dantas Esta edição foi pensada com carinho para celebrar os 70 anos ao
lado de parceiros que reconhecem a importância da Faculdade. São
EDITORA DE ARTE E FOTOGRAFIA
Giulia Gamba empresas que valorizam a sólida formação educacional e, por essa ra-
zão, se destacam em suas áreas de atuação. E, como não poderíamos
PROJETO GRÁFICO perder uma oportunidade tão única, apresentamos uma revista repa-
Giulia Gamba ginada a partir deste número. O novo projeto gráfico, mais elegante,
moderno e harmônico, é um convite à boa prosa e ao belo estilo que
DIAGRAMAÇÃO
Beatriz Fialho, Giulia Gamba e Guilherme Cásper Líbero sempre defendeu.
Guerra
COLABORADORES
Roberto D’Ugo e Adalton Diniz
CAPA
© Acervo Gazeta Press
SETE DIAS
64 As pequenas histórias da Cásper que
compõem uma grande narrativa
CM
CÁSPER LÍBERO
24 Um FIQUE DE OLHO
88 Nossos
MY
O
segmento de cosméticos é para Gabriela Nassar, Após passar por um processo interno,
de 26 anos, uma paixão que encontrou ainda foi promovida para o cargo de analista
em seu tempo de faculdade. Ex-casperiana sênior da marca de maquiagens “Quem
formada em 2012 no curso de Publicidade e Propaganda, Disse, Berenice?” No começo da Cásper
juntou-se ao Grupo Boticário como estagiária quando chegou a estagiar na Agência Giz, com
estava cursando o terceiro ano. “Consegui ser efetivada na atendimento, e na Fnac, com trend
época em que estava fazendo o TCC. Foi punk conciliar marketing. Mas sua predileção foi mesmo
tudo, mas valeu muito a pena”, relembra. Na marca Eudora, na área de marketing de produtos. “Não
pertencente ao Grupo Boticário, lançou o produto que me imagino trabalhando com qualquer
considera a menina de seus olhos: o perfume Chic. “Tenho outro segmento. Sou apaixonada pelo
muito orgulho. Foi um projeto trabalhoso para viabilizar que faço e estou muito satisfeita e feliz na
por causa do custo, mas hoje é um sucesso de vendas.” posição que ocupo”, disse.
MARIANA PEKIN
Renovar
a profissão
Trajetória do ex-casperiano Leandro Beguoci, de veículos tradicionais
a startups, é marcada pela inventividade e entusiasmo
“H
oje, nós temos um desafio bem concreto. social”, conta. Desde então, o jornalista já
Como a gente transforma o jornalismo num passou por Veja, Editora Abril, iG, liderou
item de primeira necessidade? Como a gente a criação da Fox Sports online no Brasil, e,
convence pessoas, organizações e empresas a dar seu tempo em 2013, trabalhou com startups. É mestre
e seu dinheiro para quem se dedica a produzir jornalismo pela London School of Economics e deu
profissionalmente?” Esse é o questionamento de Leandro aulas na pós-graduação da Faap e para o
Beguoci, de 34 anos, ao longo do texto “A Reinvenção do Instituto Europeu de Design. Desde 2015,
Jornalismo”, escrito enquanto estudava novos modelos de é diretor editorial da revista Nova Escola,
negócio em jornalismo no Tow-Knight Center in Entrepreneurial a maior revista de educação no País. “O
Journalism. Filho de professores e de Caieras, Beguoci veio a meu trabalho na Nova Escola casa com o
São Paulo em 2001 para estudar Jornalismo na Cásper Líbero sonho de moleque. Faço o trabalho com a
“em parte por ativismo, em parte por desejo de mudança disposição de ser transformador”, diz.
© ROBERTA KASINSKI
UMA
JOVEM
REVISTA
SAÚDA
UMA
RP SENHORA
e Saúde
A ex-casperiana Manoela Cordeiro já passou por várias
FACULDADE!
empresas até chegar na Johnson & Johnson
E
x-casperiana formada em 2007 no curso de e Brilhante. Desde 2015 trabalha como
Relações Públicas, Manoela Cordeiro iniciou a carreira gerente de marketing do produto One
estagiando na área de eventos e depois como Touch, medidor de glicemia da Johnson
ombudsman do Hospital e Maternidade São Luiz. Encorajada & Johnson. “Além de fazer toda a parte
pelo professor e então coordenador do curso de RP, Julio relacionada ao marketing, quando você
Barbosa, ela resolveu se arriscar na área de marketing. Entrou trabalha com saúde também tem a ‘missão’
PA R C E I R A S N A P R O M O Ç Ã O
no programa de estágio da companhia farmacêutica Boehringer de contribuir com informação e educação
Ingelheim. O que poderia parecer alguns passos atrás na para pacientes, consumidores, médicos D A C U LT U R A E D A E D U C A Ç Ã O
carreira representou um cargo efetivo como analista. Depois e familiares”, completa ela, que tem 31
foi para a empresa farmacêutica Nycomed – atualmente anos. Para o futuro, pretende dar vida ao
Takeda – para trabalhar com a marca Neosaldina. Em 2011, projeto sobre planejamento de eventos
aceitou o convite para ser coordenadora de marketing na área em colaboração com sua amiga, Stefania
regional da Unilever, atuando com as marcas Lifebuoy, Omo Souza, também ex-casperiana.
R E V I S TA C U LT. C O M . B R • 11 3 3 8 5 3 3 8 5
12 maio • junho • julho • agosto 2017
POR ONDE ANDA
RÁDIO, TV E INTERNET
Anúncio
ACERVO PESSOAL
Um pé
na TV
Formado pela Cásper, Afonso Cappellaro é
roteirista de programas da TV Globo
A
luno da primeira turma de Rádio e TV da Cásper que se consolidou como um espaço de
Líbero, Afonso Cappellaro coordenava com os reunião de projetos do mundo todo sobre
colegas um programa sobre trilhas sonoras na acessibilidade, proteção à privacidade e
rádio universitária, que seguiu participando mesmo depois inovação na internet. A televisão apareceu
de formado, em 2006. O entretenimento musical e a unida à internet quando Cappellaro
vontade de dar continuidade à formação acadêmica o precisou migrar o programa Esquenta,
levou para Londres, onde trabalhou na Universal Music e da TV Globo, para o digital. Depois de
na MTV, como assistente de marketing digital. De volta ao três anos atuando no ramo digital da
Brasil, a internet começou a se estabelecer como um dos emissora, o ex-casperiano se aproximou da
focos profissionais na carreira de Cappellaro. Ingressou na roteirização para televisão, trabalhando no
Casa da Cultura Digital, onde trabalhou na organização Vídeo Show e, hoje aos 33 anos, escreve os
do “Fórum da Cultura Digital” na Cinemateca, em 2011, roteiros do programa Estrelas.
EMPREENDEDORISMO
status
mudança é o que une as
histórias contadas pela Draft,
uma plataforma online que
estimula novos negócios
quo
Em agosto de 2014, o comunicador Adriano Silva lançou o
Draft, uma plataforma de jornalismo de negócios, ao perceber
Startups ou negócios
o surgimento da chamada nova economia no País. A ideia era
de escala
destacar novos empreendimentos e empreendedores fora do radar
Aos Fatos, a primeira
dos tradicionais veículos de comunicação. Desde então, foram
plataforma de fact-checking
1.850 histórias contadas nos primeiros dois anos e cerca de 500 mil
brasileira, procura novas formas
leitores por mês. E o site já expandiu sua produção com o Draft TV
de sustentar o negócio a partir
e a Academia Draft, seu braço educacional. “Acreditamos que é isso
de parcerias, contribuições de
que inspira as pessoas a também pensar fora da caixa”, conta.
iniciativa privada, organizações
sociais, leitores e crowdfunding.
EXEMPLOS
Economia criativa
O lema aqui é unir a vocação Negócios de impacto Inovação corporativa
ao seu ganha-pão, como os Esses empreendimentos têm A Red Bull criou no centro
sócios Pedro Doria e Vitor como essência um impacto de São Paulo a Red Bull
Conceição, com a startup positivo na comunidade Basement, um espaço
de jornalismo Canal Meio. A onde estão inseridos. A com residência para
newsletter envia as notícias partir da inquietação da desenvolvedores digitais,
essenciais do dia e foi lançada jornalista Emília Rabello, a um makerspace – espaço
em 2016 depois que a dupla, proposta de planejar junto comunitário com ferramentas
com passagens por grandes de agências de publicidade de uso compartilhado – e
empresas de mídia, perceberam campanhas para serem que promove um festival de
a possibilidade de negócio na veiculadas em comunidades palestras sobre tecnologia.
era do excesso da informação. marginalizadas e incluir no
processo agentes desses lugares
como planejadores de mídia,
exibidores e receptores das
mensagens.
16 maio • junho • julho • agosto 2017
BITS & BYTES
PROFISSIONAL MULTIMÍDIA
Manual de
::INOVAÇÃO:: Para quem
quer atuar na nova fronteira
midiática das narrativas,
abaixo, um kit mínimo
sobrevivência
Câmera 360°
Vídeos 360° é uma das mais Canon 5D
novas apostas do jornalismo na Esse modelo é
web. O diretor de fotografia do uma solução
Vice Brasil, Nicholas Zugaib, completa para
conta que os principais desa- foto e vídeo. A
CAROLINA MORAES
DIVULGAÇÃO
Com sua lente grande angular, a câmera é leve, pequena e pode ser
uma boa pedida para gravar vídeos e tirar fotos com praticidade. As
fotos têm até 12 megapixels, a gravação de vídeos de 4.096 x 2.160
pixels. O aparelho com formatos ampliados é à prova d’água, tem GPS
e sistema de estabilização e custa cerca de 1.900 reais
BE
AT
R
IZ
FIA
APLICATIVOS NA FAIXA
LH
O
O
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FIA
CHAPÉU | CHAPÉU
NOVA
SP, uma mostra de cinema indígena. mesmo ponto através de vias dife- 2014 na UFMG. Aos 41 anos, Por-
Desenterrou a pulseira de seu rentes”, reflete. tella planeja ainda o doutorado na
baú etnográfico apenas para aquela Essa perspectiva é apenas uma Inglaterra, onde passou praticamen-
ocasião. Foi presente de uma tribo das infinitas riquezas que os amerín- te todo o ano de 2016 ministrando
Ikpeng, um dos tantos que Portella dios têm a apresentar. As tradições workshops sobre antropologia visual.
recebeu ao longo de 12 anos em orais, a roçar milenar, a medicina “A máquina é feita com os mi-
que percorreu 30 tribos indígenas tradicional, o conhecimento da ter- nerais que saem do solo, Omama, o
grande deus dos Yanomami. A má-
A IMAGEM DO ÍNDIO
quina não caiu do céu, ela já existia
O antropólogo Pedro na terra, e é como se o homem bran-
Portella ensina os povos co tivesse roubado essa substância
dos indígenas. E os indígenas toma-
propostas editoriais
eu ganho um miolo de anta. Fiquei Entre suas trilhas pelos passos an- periências etnográficas. Ele afirma
emocionado e comecei a perceber cestrais, já percorreu Peru, Colômbia que aprendeu mais com o índio do
como as trocas são importantes en- e Guiana Francesa organizando ofici- que com a sociedade contemporâ-
tre nós e os outros. A gente aprende nas de audiovisual. Chegou a enfren- nea. “Desde o primeiro momento
a trocar”, diz. tar resistência de alguns povos. Foi o aprendi a dormir em rede, a am-
Seu percurso no audiovisual in- caso dos Yanomani, que negaram a pliar nossos gostos, nosso paladar, a
dígena começou em 2004, quando câmera num primeiro momento, mas aprender com as histórias deles, com
integrou o projeto Vídeo nas Aldeias, aos poucos foram aceitando a im- as cosmogonias, com os mitos”, ex-
que organiza oficinas cinematográ- portância do registro imagético para plica, afirmando que foi preciso se
Há 21 anos,
de recortar as partes mais lista as tarefas do dia e permite que as grava-
BIOGRAFIA | ESPECIAL
em Feito à Mão. A revista quadri-
mestral não deixa ninguém na mão
o ponto de encontro dos jornalistas
SETE
– expõe temas relevantes das áreas da
comunicação e também tendências e
ferramentas necessárias para os pro-
DIAS
NA CÁSPER
fissionais dessa área.
A edição #21 celebra os 70 anos
da Faculdade com um caderno espe-
Audiência qualificada em todo o Brasil (e até no exterior)
Bastidores, vaivém profissional e lançamentos
cial, repletos de boas histórias e pa-
Sorrateiramente, abrimos as cortinas que envolvem o
universo dos casperianos. Venha conosco, leitor: por seis dias ginados de forma a valorizar a leitura
Tudo que de relevante acontece no jornalismo
caminharemos pelos corredores da Faculdade espiando o que
acontece na rotina dos alunos e funcionários.
POR NÚCLEO EDITORIAL 2017
visual. O novo projeto gráfico valoriza
os grafismos e fotografias. A leitura
está mais leve e não perde a relevância e na comunicação corporativa
com assuntos que abrangem os qua-
tro cursos da faculdade – Jornalismo,
Publicidade e Propaganda, Rádio, TV
30 31
e Internet e Relações Públicas. Contato: Vinicius Ribeiro
Jornalistas Editora
maio • junho • julho • agosto 2017 CÁSPER
113861-5280
vinicius@jornalistasecia.com.br
LINGUAGEM DIGITAL
70
Emojiworld
::COMUNICAÇÃO POR IMAGEM:: Na ilustração, os quatro
emojis mais usados pelos brasileiros. Pesquisa da Swiftkey mostra
que rimos até chorar e aplaudimos mais que qualquer outro povo
ANOS
a carinha representa 24% dos no mundo:
emojis usados, ante os 17% do 2º Alemanha 48%
lado de cá Itália e EUA 47%
Brasil 46%
Espanha 42%
França 24%
4º 3º
Mais amor, Cordialidade BR
por favor • PERFIL DO JORNALISTA E EMPRESÁRIO • A
Os brasileiros ganham PAIXÃO PELOS ESPORTES • O ANO DA CRIAÇÃO
Os desenhos românticos
são o 3º mais usado no
quando o assunto é • CÁSPER EM NÚMEROS • PRATA DA CASA • EX-
mandar palmas. O gesto
Brasil e no mundo. A ALUNOS • LUTA ESTUDANTIL • O MAIS LONGEVO
representa 9% dos emojis,
exceção é a França: os
enquanto nos dois países • O PRESIDENTE • INTERCÂMBIO CULTURAL •
franceses enviam tantos
que seguem no ranking, UMA SEMANA NA FACULDADE • AS LIDERANÇAS
corações que o símbolo
representa 55% de todos
Espanha e Estados • OS DESAFIOS GLOBAIS • BIBLIOTECA • QUIZ
Unidos, representa 6%
os emojis usados
PERFIL | ESPECIAL
OS TRÊS
LADOS DE
CÁSPER
Cásper era próximo de Nelson Rockfeller, então vice-presidente dos Estados Unidos
28 maio • junho • julho • agosto 2017 e idealizador da política de aproximação entre o país e a a América
CÁSPERLatina
29
© ACERVO GAZETA PRESS
Encontro entre D. José Gaspar e Cásper. Os dois também estavam juntos no acidente de avião
“em bom estado”, há um editor. O ta perguntou: “Então, dom José, afinal Cásper, em 16 de maio 1947 criou-se,
próprio Cásper. vamos hoje para o céu?” Confabulação após muitos entraves com a burocra-
Logo após o filme, Cásper e uma ou não, a frase antecipa o trágico desti- cia vigente, a Escola de Jornalismo
comissão de jornalistas foram con- no de ambos naquela manhã. Sob uma Cásper Líbero, a primeira do Brasil
vidados a visitar os Estados Unidos densa cerração no Rio de Janeiro, a asa e da América Latina. O início da fa-
durante o período natalino. O bra- do avião da empresa estatal Vasp, com culdade esteve ligado à Faculdade de
gantino recusou a proposta. Não por seus 18 passageiros, chocou-se contra Filosofia de São Bento, da Pontifícia
desinteresse, mas por acreditar que o o prédio da Escola Naval e mergulhou Universidade Católica de São Paulo
Natal devia ser passado com a famí- nas águas da Guanabara, em torno das (PUC-SP), que cedeu o espaço físico
lia. A viagem aconteceu em maio de 9 horas da manhã de uma quarta-feira para as aulas e também emitiu os di-
1943, e os relatos foram todos publi- do dia 27 de agosto de 1943. Cásper e plomas para os formados. A parceria
cados em agosto daquele ano, em que D. José morreram no acidente. durou até 1972, quando a Faculdade
o jornalista enalteceu o aparato béli- Cásper Líbero já estava na Avenida
co e a imprensa norte-americanos. Paulista há seis anos. Se no ano de
Cásper era ainda um grande com- EPÍLOGO estreia eram 42 alunos matriculados,
panheiro, segundo relatos. Sua gene- Pouco menos de um ano após a mor- hoje são 2.500 estudantes que serão
rosidade com funcionários foi mais de te de Cásper Líbero, em 10 de agosto bacharéis em Comunicação Social.
uma vez lembrada. Certa vez, saben- de 1944, a Fundação Cásper Líbero O corpo de Cásper Líbero foi se-
do que um funcionário estava para se foi criada, presidida por seu irmão pultado no Cemitério da Consolação
casar, estacionou em frente à redação mais velho, Nelson. O testamento e depois transferido para o Obelisco
um carro zero quilômetro e, após in- ganha vida. Dizia o texto: “objetivo de São Paulo, monumento em frente
terminável suspense, revelou que o cultural de criar e manter uma esco- ao Parque do Ibirapuera dedicado aos
veículo era um carinhoso presente do la de jornalistas e ensinamentos de combatentes da Revolução Constitu-
chefe para o seu subordinado. humanidades, particularmente por- cionalista de 1932. Tanto por A Gazeta
Em uma das típicas viagens Rio- tuguês, prosa, estilo, literatura, elo- quanto por ser figura central na his-
-São Paulo, Cásper Líbero embarcou quência, história e filosofia, em cursos tória de São Paulo, parece apropriado
em um vôo com o Arcebispo de São de grandes proporções, a começar que Cásper seja lembrado como com-
Paulo, Dom José Gaspar. Quando es- pelo secundário e finalizar pelo su- batente – um ferrenho defensor da li-
tão para sair de Congonhas, o jornalis- perior”. Seguindo as vontades de berdade de expressão.
São Silvestre
AMOR AOS
Em 1925, a primeira edição da São Silvestre teve 60 inscritos
e apenas 37 participantes. No ano passado, foram mais de 30 mil
corredores. O sucesso estrondoso da prova esportiva, hoje conhecida
internacionalmente, se deve à coragem do jornalista e empresário Cásper
Líbero. Criador da prova, ele quis desafiar o costume dos paulistanos de
ESPORTES
passar a virada do ano entre familiares para colocá-los na rua para ver os
corredores em marcha pela cidade.
Cásper assistiu a uma corrida noturna, iluminada à base de tochas,
na Paris de 1924. Quis trazer um evento nos mesmos moldes, mas sabia
que São Paulo exigiria algumas adaptações. A capital de 92 anos atrás,
com ruas de pedra, era mais semelhante a uma cidade interiorana do
que à São Paulo pulsante de 2017. Na noite do dia 31 de dezembro de
Cásper Líbero admirava e incentivava a prática esportiva, criando a 1925, o evento foi lançado. Com um percurso de 8 quilômetros, a largada
Maria Lenk foi uma das nadadoras na Travessia e competiu nas Olimpíadas de Berlim, em 1936.
Em 1979, a rodovia dos Imigrantes foi percursso da Prova Ciclística 9 de Julho
© ACERVO GAZETA PRESS
Cásper,
amor e
TV GLOBO / DIVULGAÇÃO
gratidão
POR CÉSAR TRALLI
JULHO AGOSTO
1947
Depois de 347 anos de colonização
Publicação da All-Negro inglesa, a Índia consegue sua
Comics, primeira revista de
SETEMBRO
independência. Mahatma Gandhi
JUNHO
quadrinhos conhecida que foi (1869-1948) destacou-se por liderar
escrita e desenhada unicamente uma resistência por meio da não-
por afroamericanos violência e da desobediência civil
FELIPE MOSTARDA
O ANO DA
No dia 21, nasce o escritor
norte-americano Stephen King,
No dia 27, o edifício-sede do reconhecido como um dos mais
Banespa, projetado pelo arquiteto ilustres escritores de ficção de
Plínio Botelho do Amaral, é sua geração
inaugurado no centro de São Paulo
CÁSPER
OUTUBRO
No dia 16, é inaugurada a então
MAIO
Escola de Jornalismo Cásper
LÍBERO
A França realiza a Operação
Líbero. No mesmo mês, é a vez Léa para destruir a Liga Pela
da rodovia Anchieta, com 72km Independência do Vietña, conhecida
para ligar São Paulo a Santos como Viet Minh, e capturar seus
líderes em Hanoi, capital do país
DOMÍNIO PÚBLICO
ABRIL
POR FELIPE SAKAMOTO
NOVEMBRO
empresário Assis Chateaubriand. O
primeiro endereço ficava na Rua 7
JANEIRO FEVEREIRO MARÇO de Abril. O Masp, cujo acervo tem A Organização das Nações
Unidas orienta a aplicação do
cerca de 8 mil obras, é o museu
mais importante do Hemisfério Sul Plano de Partição da Palestina,
No dia 8, nasce o cantor, ator O Tratado de Paz de Paris
O general George C. aprovado em Assembleia,
e compositor britânico David foi assinado após a Segunda
Marshall elabora o Plano dividindo o Estado em dois: um
Bowie em Brixton, Londres. Guerra Mundial pelos países
Marshall, uma iniciativa THE palestino e outro judeu
Nove dias depois, morre o vencedores e antigos aliados PHO
TOG
RAP
da Alemanha nazista. O dos Estados Unidos para HER
/W
contrabandista Al Capone IKIM
documento internacional a reconstrução dos países EDIA
CO
MM
pretendia resolver as questões aliados da Europa após a ON
S
DEZEMBRO
Nasce no dia 14 a economista
e ex-presidente do Brasil, Dilma
Rousseff, em Belo Horizonte,
Minas Gerais
RON FRAZIER
AGÊNCIA BRASIL
WIKIMEDIA COMMONS
INÚMEROS
NÚMEROS
Um retrato da Faculdade a partir de seus dados
POR GIULIA GAMBA
Outras são oferecidas para quem par- os empréstimos quase sempre são de
ticipa do Centro Interdisciplinar de livros, pelo menos 9.805 por ano. E
Pesquisa, conhecido como CIP. Até os alunos são os que mais retiram – de
hoje, lá foram produzidos mais de 11.029 empréstimos, 9.494 são para
200 projetos docentes e de iniciação estudantes – 86% do total anual.
científica. No último ano, 15 pesqui- Quando o assunto é mercado de
sadores bolsistas e 6 não bolsistas ti- trabalho, a Cásper tem destaque:
veram a oportunidade de fazer suas 47% dos alunos estagiam na área
pesquisas, orientados por 7 docentes. de seus estudos, o que corresponde
Desde 2003, 140 alunos pesquisado- a 1.064 comunicadores casperianos
res passaram pela experiência. Em contratados. Cerca de 88% deles rea-
2016, houve 3 projetos de pesquisa lizaram os estudos de ensino médio e
relacionados a Jornalismo, 3 a Publi- fundamental em escolas particulares,
cidade e Propaganda, 3 a Rádio, TV e ante apenas 5% que frequentaram
Internet e 2 a Relações Públicas. escolas públicas. A maioria dos ca-
Nos 4 andares da Faculdade, há louros está cursando sua primeira fa-
30 salas de aula. Nelas, 92 profes- culdade. Exatamente 85,9% dos 540
sores que compõem o corpo docente ingressantes. São 200 vagas abertas
atual se revezam, muitos ministran- por ano em Jornalismo e em Publici-
do disciplinas em mais de um curso – dade e Propaganda, 150 em Relações
são 36 professores com aulas em Jor- Públicas e 90 em Rádio, TV e Inter-
nalismo, 36 em Publicidade e Propa- net. Na pós-graduação, outra área
ganda, 28 em Rádio, TV e Internet conceituada da Cásper, havia 308
e 27 em Relações Públicas. O tempo alunos matriculados em 2015.
em sala de aula passa de 60 horas em Há três órgãos laboratoriais na
cada um dos períodos, matutino e Faculdade. Para aqueles que estudam
noturno, todos os meses, número que Rádio, TV e Internet, a Clact Zoom é
se multiplicarmos por uma média de um local de experimentação audio-
3 turmas por ano soma mais de 1.440 visual e produz cerca de 15 projetos
horas – tempo suficiente para assistir anuais, que incluem o programa Edi-
a toda franquia de filmes da saga Star ção Extra, vídeos institucionais e ou-
Wars pelo menos 80 vezes. tros projetos. Já o Núcleo Editorial
A biblioteca Professor José Ge- de Revistas, vinculado ao curso de
raldo Vieira intersecciona o 4º e 5º Jornalismo, é responsável pela pu-
andares. O acervo total, de 133.509 blicação de cerca de 7.000 exempla-
exemplares, abriga uma infinida- res impressos, dos quais fazem parte
de de materiais – desde fitas K-7, as revistas CÁSPER e Esquinas.
em uma quantidade pequena de 45 Todo ano casperianos chegam e
unidades, até os 51 mapas, 454 dis- partem. Em 2016, a Cásper Líbero
sertações, 36 disquetes, 8.490 fo- formou 517 novos profissionais para
tografias impressas, 3.216 projetos o mercado de trabalho. Foram 174
experimentais, 3.169 DVDs e 48.185 em Jornalismo, 157 em Publicidade
livros, além dos 30.326 periódicos – e Propaganda, 119 em Relações Pú-
em março de 2017. São ao menos 4 blicas e 67 em Rádio, TV e Internet.
milhões de páginas disponíveis para Setenta anos que passaram, com di-
consulta ou empréstimo – estendi- versos números e histórias – de mui-
das no chão, seria possível dar uma tas que ainda estão por vir.
© COMUNICAÇÃO SOCIAL/FFLCH-USP
© COMUNICAÇÃO SOCIAL/FFLCH-USP
© MARCOS SANTOS/USP IMAGENS
© CICERO RODRIGUES
© LARISSA PAIVA
ACERVO PESSOAL
ACERVO PESSOAL
© FELIPE GOMES
Aloysio Biondi Ana Maria Antonio Antonio F. Aziz Ab’Saber Eugênio Bucci Francisco Gilberto José Marques de
Augusto Soares Costella José Hamilton
Camargo Gaudêncio Maringoni Mello
Ribeiro
©ULISSES CAVALCANTI
CAROLINA MORAES
BÁRBARA HECKLER
© LAINE ALMEIDA
ACERVO PESSOAL
ACERVO PESSOAL
ACERVO PESSOAL
© ESPAÇO ÉTICA
© FÁBIO SABBA
© TÚLIO VIDAL
Bernardo Issler Bianca Santana Caio Tulio Costa Clovis de Barros Cristina Giacomo Julio Cesar Laan Mendes Liana Gottlieb Luís Alberto de Marcelo Coelho
Filho Barbosa de Barros Farias
© CENTRO DE EVENTOS FCL
© CENTRO DE EVENTOS FCL
© LAURA CAPELHUCHNIK
© ARQUIVO PESSOAL
ACERVO PESSOAL
© TIANA CHINELLI
ACERVO PESSOAL
ACERVO PESSOAL
© TÚLIO VIDAL
Dulcília Helena Edson Flosi Elisa Marconi Erasmo de Erivam de Marcos Margarida Maria Ivonete Mario Vitor Marlene Fortuna
Buitoni Freitas Nuzzi Oliveira Faerman Kunsch B. Ramadan Santos
ACERVO PESSOAL
jornalista, escritora e dramaturga.
Atualmente, mantém o site
Escrevinhações em que compartilha
alguns de seus textos
no letivo de 1950, aula inaugu- quatro mãos: Perón-Evita”. Afiançava que a Argentina
ral na Escola de Jornalismo vivia numa ditadura cruel, mandavam matar inimigos, a
© ALINE ABE PACINI
Estava voltando dos Esta- Assim mesmo, sem provas, só com a opinião da repór-
dos Unidos, onde cursara ter. A matéria foi publicada; o jornal, distribuído.
Paulo Nassar Pedro Serico Péricles Eugênio Roberta Jornalismo na Univer- Resultado? Até o prédio da Fundação Cásper Líbero
Vaz da Silva Ramos Cesarino Ihan sidade de Missouri e tremeu. Mais ainda quando receberam carta do Consulado
aprendera a aplicar Argentino protestando: onde estavam as provas colhidas
o lead, palavra e pela repórter? Aquilo era um despautério e a aluna irres-
técnica então des- ponsável deveria ser punida!
conhecidas no Fui chamada à diretoria. Sem descompostura, mas
Brasil. com advertências. “Cadê minha liberdade de imprensa?”
A caloura aqui, perguntei, assustada.
© ALINE ABE PACINI
© CENTRO DE EVENTOS
Ramadan; Emir Nogueira; Fernando Góes; e vinha um cara gordo falando baixo (era surdo!) proferin- 60 anos de batente. Sim, o patrão, muitas vezes, decide.
João Alves das Neves; José de Freitas Nobre; do uma coisa dessas? “Liberdade de imprensa não existe?” Mas a gente tenta conversar. Se a fonte é segura, se o as-
Não aceitei. sunto é palpitante, se o repórter é correto e mostra firmeza,
José Geraldo Vieira; Juarez Bahia; Luiz
Mas já nesse ano vi que um pouco de razão o gordo tinha. meio caminho andado. Deve-se concluir que “nem tanto ao
Silveira; Renata Lo Prete; Walter Lima Junior Fui de férias para Buenos Aires, época do Peron. As- mar, nem tanto à terra”. O radicalismo do Vergniaud Gon-
Tereza Cristina Toshio censorista reclamava do governo, garçons resmungavam, çalves não era para ser levado a ferro e fogo. A fogosidade
Vitali Yamazaki taxistas se queixavam e um dia o projeto de jornalista que da repórter na Argentina não deveria ser tolerada. Há que
a caloura era viu nas ruas o enterro de um inimigo do go- seguir fazendo o melhor, captando fontes preciosas, perse-
verno: uma carruagem negra puxada por cavalos negros guindo honestidade e ampliando conhecimentos.
levando o féretro e uma multidão atrás com a boca tampa- Essa, a rota correta. Às vezes encontramos obstáculos
da por faixas negras. O morto teria sido assassinado pelo pela frente. Contorná-los é possível. E, se não der, muda-se
governo. Horror! Era preciso escrever sobre aquilo. a rota, o emprego, a vida e não há motivos para desespero.
Na volta, a caloura publicou no jornal “A Imprensa”, Liberdade é algo que deve estar, em primeiro lugar,
órgão da Cásper, uma reportagem intitulada “Governo a dentro da gente.
MEMÓRIA
SUBVERSIVA
Surgimento do Centro Acadêmico Vladimir
Herzog é parte da história de resistência à
ditadura militar na década de 1970
POR PAULA CALÇADE
© HOMERO SERGIO
Trinta e nove anos se passaram uma instituição autônoma que os três correntes principais: Espaço Li-
desde a criação do Centro Acadêmi- representasse, sem vínculos burocrá- vre, uma versão casperiana do grupo
co da Cásper Líbero em meio à dita- ticos com a Faculdade. Uma possibi- trotskista Liberdade e Luta; Conver-
dura militar. O período de violações lidade nova àqueles que antes viviam gência Socialista, também trotskista e
aos direitos humanos já começava a na clandestinidade. atual PSTU; e Caminhando, formada
decair em 1978. Mas a luta estudantil “A Cásper, restrita ao quinto an- por simpatizantes de outras tendên-
era necessária para combater o esta- dar, era um espaço físico asfixiante, cias não trotskistas, que se dissolveu
do ainda repressivo, e foi nesse con- quase insuportável nos dias de calor. entre o PCdoB e o PT.
texto histórico e político que os estu- O cheiro de gordura dominava o am- Mauro Lopes, jornalista e calouro
dantes da Cásper Líbero se juntaram. biente no horário do intervalo. Onde do mesmo ano, era membro do gru-
Arte, política e comunicação juntas: hoje está a tesouraria ficava a cantina, po Caminhando, corrente vencedora
essa era a face do Centro Acadêmico que servia como uma única opção de das primeiras eleições para o Centro
Vladimir Herzog. lanche sanduíches de presunto e quei- Acadêmico. Ele recorda que, logo no
No ano de sua criação, o curso jo”, conta Igor Fuser, calouro naquele início da gestão, o espaço para a re-
© HOMERO SERGIO
de Jornalismo da Faculdade Cásper ano e, atualmente, professor da Uni- flexão política já se mostrava muito
Líbero era procurado por profissio- versidade Federal do ABC. Ele des- mais aberto do que antes. “O batiza-
nais que já estavam nas redações: a creve uma faculdade completamente do com nome de Vladimir Herzog foi
obrigatoriedade do diploma de jor- diferente da atual, em que a falta de consenso dentre todas as chapas que
nalista para atuar no mercado os fez espaço físico acabava facilitando a ar- concorreram. Ele havia sido assas-
voltar às salas de aula. O ambiente ticulação entre todos. sinado poucos anos antes (em 1975)
era diverso, mas majoritariamente Era o momento de destituir o e isso causou grande mobilização
consciente da repressão política que Diretório Acadêmico, departamento entre os jornalistas”, lembra. Como
se vivia nas ruas e nos jornais. Muitos institucional responsável pelas de- forma de homenagem, os estudantes
dos novos casperianos constituíam a mandas dos alunos, e disputar um chamaram Clarice Herzog, viúva de
chamada imprensa alternativa. Esses espaço mais democrático. Os grupos Vladimir, para a cerimônia de posse
alunos começavam a aproveitar um políticos atuantes dentro da Facul- do Centro Acadêmico. Foi apenas
primeiro diálogo aberto pelo então dade eram os mesmos da esquerda em 2012 que a Comissão Nacional
diretor Erasmo Nuzzi para firmar clandestina, mas na Cásper atuavam da Verdade conseguiu a emissão de
CÁSPER 49
ARTIGO | ESPECIAL
Heródoto Barbeiro é
jornalista, historiador e,
atualmente, âncora e editor-
chefe do Jornal da Record
News
TV CULTURA / WIKIMEDIA
De volta
à escola
HERÓDOTO BARBEIRO
oi uma alegria voltar para a escola. Depois de 15 anos de aula sair do ta-
blado e sentar no meio dos alunos é uma experiência extraordinária. De
© HOMERO SERGIO
um lado a pressão do sindicato dos jornalistas que era preciso diploma
para exercer a profissão. De outro uma escola tradicional, conceituada
A banda Língua de Trapo surgiu e tocava na Cásper bem no meio do caminho entre o cursinho Objetivo e a Jovem Pan. Não
tive dúvidas, me inscrevi no vestibular. Há uns
um novo atestado de óbito decorren- e calouro de 1979, afirma que foram Possolo, calouro de 1978 e fundador 15 anos não sabia o que era estudar para entrar
te “de lesões e maus-tratos sofridos nessas semanas culturais em que as do grupo Parlapatões, explica que na faculdade. Minha última experiência tinha
em dependência do II Exército–SP, o possibilidades de ação se expandiram. todas as atuações se misturavam. sido o vestibular no curso de japonês da facul-
Doi-Codi”. “Existiam as comissões de música, po- “Reivindicávamos reestruturação da dade de Estudos Orientais da USP. Mas lá estava
A abertura política lenta e gradual lítica e a literária. Essa última criou grade de Jornalismo com conteúdos eu sentado na turma da noite ao lado de alguns
que muitos lembram desses anos, para a revista dos alunos chamada Esqui- mais atuais ao mesmo tempo em que que tinham sido meus alunos ou no cursinho ou
Lopes, ainda não representava o fim na do Grito: eram crônicas e poesias entrávamos nas salas atuando em no curso de História da USP.
das perseguições e da censura. Vladi- muito representativas de quem éra- monólogos e ações teatrais contra a A Cásper para mim foi responsável pela
mir Herzog era o exemplo disso, e os mos e o contexto em que vivíamos”. ditadura”, afirma. abertura de uma ampla avenida para aprender como fazer jornalismo.
estudantes ainda resistiam. “Criamos Mas foi na comissão de música que Hoje, a militância política e social É verdade que na sala de redação ainda existiam “máquinas de escrever“
as semanas culturais, em que artistas ele conheceu seus colegas de banda e na Faculdade vai além do ambiente um objeto arqueológico que os jovens só encontram no museu. Mas o
e figuras públicas muito relevantes começou a desenvolver o que depois proporcionado pelas gestões das cha- elenco de professores era de primeira. Um grupo bem preparado, polêmi-
e oposicionistas à ditadura vinham se tornou a Língua de Trapo. pas. Coexistem também Africásper, co, democrático e que se expunha para uma turma onde vários alunos já
para se apresentar e conversar com os “Tocando violão e trocando Frente Feminista Casperiana Lisandra tinham curso superior. Na minha, por exemplo, tinha médico, advogado,
alunos. O cartunista Henfil foi um de- ideias” era o lema que sintetizava o e Frente LGBT Casperiana. Os coleti- professor... No entanto eles construíram claramente as linhas mestras do
les”, afirma. Lopes lembra ainda que o CAVH à época. Laert conta que es- vos surgiram após 2013, ano em que as jornalismo: compromisso com a verdade, busca da isenção, procura do
CAVH atuava com outros centros aca- creviam suas músicas e promoviam reivindicações políticas se tornam mais interesse público, perseguição da ética e disposição para ganhar pouco e
dêmicos, como os da PUC, USP e FGV, um trote cultural: seus pequenos efervescentes dentro das universidades trabalhar muito.
participando de assembleias e mani- shows eram as recepções dos novos e caminharam para fora, dialogando Com ou sem diploma obrigatório, a Cásper é uma escola obrigató-
festações. Naquele tempo, o Centro calouros que chegavam semestral- com outras frentes. Todos esses grupos ria para quem quer aprender jornalismo. As boas escolas suplantam a
Acadêmico era cada vez mais atuante mente na Cásper Líbero, e depois le- reforçam a luta por questões relaciona- burocracia e os velhos hábitos. São propagadoras de conhecimento e os
dentro e fora da Cásper Líbero. vavam as composições para ações de das aos direitos humanos. Para Hugo alunos as procuram não porque emitem diplomas, mas porque ensinam,
Nesse ambiente acadêmico de outros centros acadêmicos. “O pesso- Possolo, “é uma expressão natural do difundem cultura e desenvolvem conhecimento. Certamente a Cásper Lí-
mobilização política e artística surgiu al das outras faculdades nos conhecia caminhar do tempo, agregar forças bero deu e dá uma contribuição importante para o desenvolvimento do
uma nova banda bastante singular, a como os malucos e os caras engraça- dessas pautas é uma forma autêntica jornalismo em São Paulo e no Brasil. Tenho certeza de que uma quantida-
Língua de Trapo, que se apresentava dos da Cásper”, diverte-se. de representar os alunos e conquistar de enorme de jornalistas aproveitaram os ensinamentos da escola e contri-
pelos corredores e salas de aulas cas- Outra intervenção artística co- espaço dentro da Faculdade, sem se buem diariamente para a pluralidade de versões e visões de mundo, agora
perianas, unindo humor e crítica polí- mum pelos corredores, cantina e desligar dos assuntos mais urgentes da turbinados pelas mídias sociais. Coisa que, no meu tempo, era impensável.
tica e social. Laert Sarrumor, vocalista salas casperianas era o teatro. Hugo Cásper e do País”.
TAQUIGRAFIA
DE UMA VIDA
A história de Erasmo Nuzzi: do garoto de
Guaranésia (MG) ao diretor que esteve por mais
tempo à frente da Cásper
POR GUTO MARTINI
O ano é 1933. Erasmo de Freitas Nuzzi é um garoto de 14 anos e está Voltemos no tempo para novem-
dando adeus a Guaranésia, Minas Gerais. Seu destino: São Paulo. Em seu bro de 1946. Américo Bologna, secre-
horizonte, a perspectiva do jornalista que se tornaria anos depois ainda não tário de redação do jornal A Gazeta,
se delineou. Tampouco, a essa altura, consegue imaginar os cinco mandatos procura um novo empregado. Falta uma
que viria a cumprir como diretor de uma das melhores faculdades de comu- semana para a inauguração do Centro de Membros da Diretoria da Fundação e Erasmo Nuzzi na
© JOSÉ REBELO
nicação social do país. Debates de Assuntos Econômicos Cásper posse de seu segundo mandato, em fevereiro de 1985
“Naquela época, quem vinha do interior em busca de trabalho e não ti- Líbero. É preciso um profissional expe-
nha uma profissão definida acabava aceitando o que lhe ofereciam”, lembra- riente para a cobertura das reuniões. Um
ria Nuzzi muito tempo depois. Até completar o ensino secundário, passou nome vem se destacando entre alguns bigode. É Nuzzi.“Foi na época que Getúlio assumiu democraticamente. Seu “A medida que eu lia, ele pedia
por diversos empregos. Foi de ajudante de garçom no Café Guarany a chefe dos principais jornais paulistanos: Eras- último mandato antes do suicídio. O secretário do Jornal de São Paulo me para eu fazer ajustes. Quando termi-
de vendas numa fábrica do Brás, a Cartoteca. mo Nuzzi, que assina trabalhos para o pediu uma entrevista em primeira mão com o presidente”, lembra o profes- nei, falou: ‘Está aí uma entrevista para
Na fábrica, o patrão lhe mostrou um artigo da revista Seleções cujo título Correio Paulistano, algumas edições dos sor enquanto olha para a foto. a sua matéria. Satisfeito?’” Nuzzi esboça
era “Carreira Simples que Leva Longe”. O texto destacava grandes persona- Diários Associados e para a edição pau- um sorriso: “Bom, eu disse que não esta-
lidades que começaram sua jornada profissional pela taquigrafia, a arte de lista do jornal A Noite. Américo Bologna Rio Grande do Sul, 1950. Getúlio Vargas está hospedado na fazenda va satisfeito. Pedi para que fizesse uma
fazer anotações rapidamente. Foi a partir desse pequeno texto que sua vida, vai atrás do repórter e oferece-lhe a vaga de João Batista Luzardo, político de grande força que o apoiava. Com a aju- carta agradecendo a seus eleitores de
em suas próprias palavras, deu uma guinada. “De chefe de vendas, virei pro- para taquigrafar as reuniões do novo da de um amigo pessoal que trabalhava para o presidente, Erasmo Nuzzi São Paulo. E ele fez. Pegou uma caneta
fessor. Quando terminei os estudos, abri com alguns colegas a Associação centro de debates da Gazeta. O convite é conseguiu se juntar a um seleto grupo para uma estadia na propriedade de com Gregório e escreveu na minha fren-
Taquigráfica Paulista para ensinar esse método de escrita”, recorda. aceito imediatamente. Luzardo. Chegando à fazenda, de noite, os convidados se reuniram para jan- te”. Sessenta e sete anos depois, o pro-
tar. Tudo o que Getúlio falava, Nuzzi tomava nota atentamente. Foi assim fessor divide com orgulho essa história.
É fevereiro de 2017 e o professor Nuzzi está com 97 anos. Apesar de Enquanto Nuzzi relembra seu tra- por toda a refeição e em todos os outros momentos. Até no passeio que de- Não é para menos: foi um dos únicos
alguns incômodos físicos que, vez ou outra, o afligem, ele conserva uma balho na Gazeta, sua esposa vai atrás ram pela manhã seguinte: lá estava o repórter, ao lado direito do presidente, que conseguiu uma entrevista exclusiva
lucidez admirável e uma memória quase intacta. Do seu apartamento no de alguns documentos. Retorna segu- anotando as coisas mais importantes que o homem dizia. com Getúlio. O Jornal de São Paulo pu-
Jardins, em São Paulo, o professor narra sua trajetória ao lado da mulher, rando uma fotografia em preto e bran- Após o almoço, que não foi diferente das outras refeições, o famoso chefe blicou uma reportagem histórica.
Neide. Falávamos sobre a época em que começou a ensinar taquigrafia co. Nada tem a ver com o assunto que da guarda pessoal de Getúlio, Gregório Fortunato, aproximou-se de Nuzzi Além de ter entrevistado o presi-
quando interrompeu o que dizia e olhou para a companheira. “À minha falávamos, mas a foto faz o professor e disse: “Ei, você, o chefão quer falar com o senhor”. Sem hesitar, o repórter dente gaúcho, nos anos 1950, Nuzzi
esquerda está uma aluna. Foi ao curso para aprender e acabou arranjando contar uma de suas maiores histórias. seguiu o segurança até o bangalô do presidente. “O que o senhor tanto ano- também começou o curso de Jornalis-
um marido”, diz, sorrindo. Com 20 anos de diferença, professor e aluna “Meu grande desafio jornalístico”, diz. tava durante todas as refeições que fizemos? Quase não comeu para ficar mo da Cásper Líbero. Apesar de já ser
se apaixonaram. O retrato mostra um grupo de pesso- escrevendo”, perguntou Getúlio assim que o viu. “Estava taquigrafando o repórter experiente, queria um diploma.
Anos antes do casamento, que ocorreu em 1959, a taquigrafia já havia tra- as caminhando junto a Getúlio Vargas. que falava para uma matéria”, respondeu Nuzzi. Aventurou-se e, em três anos, formou-
zido para Nuzzi um forte contato com o jornalismo. Trabalhou para os maio- Bem ao lado do presidente, à sua direita, O presidente pediu para que o repórter lesse, vagarosamente, tudo o -se. Suas notas se mantiveram as maio-
res veículos de São Paulo cobrindo entrevistas, pronunciamentos e eventos. avista-se um homem de cabelos negros e que havia anotado. res da turma até o fim, o que lhe rendeu
ACERVO PESSOAL
das fundadoras do Movimento
Negro Unificado em 1978.
Eterna
lembrança
POR NEUSA MARIA PEREIRA
BEATRIZ FIALHO
vividos na estudos realizando cursinhos populares. Con-
Cásper Lí- segui entrar na Cásper. Foi um momento de sa-
bero foram tisfação indescritível para mim e meu inesque-
Erasmo e Neide folheiam a impressão de História global dos meios de comunicação
os mais im- cível pai, que vivia afastado do trabalho devido
portantes de às frequentes crises de hemoptise, mas que não
minha vida. Du- media esforços para me ver ser alguém na vida,
rante a experiência, por meio dos estudos. Para ele, única maneira de
uma bolsa de estudos da Família Jafet. Foi estudar em Roma e, ao cabo de ganhou projeção internacional. Ele já aprendi a importância combater preconceitos.
um semestre, estava de volta. tinha um know how no meio da educa- das relações humanas Quando passei para o segundo ano, ele ficou
“Quando retornei ao Brasil, em 1955, me ofereceram um cargo de pro- ção, sempre trabalhou com isso. Che- baseadas na solidariedade, gravemente doente. Seu salário mal dava para
fessor na Cásper Líbero. Lecionei taquigrafia e jornalismo europeu”, conta gou a ser assessor técnico de Educação companheirismo, respeito e crença suprir as despesas de casa e comprar remédios e,
Nuzzi. Alguns de seus alunos vieram a se tornar destaques no meio jorna- da Prefeitura”, conta. na igualdade entre as pessoas. Aprendi que ape- por isso, não teve condições de pagar a matrícula.
lístico, como Clóvis Rossi e Heródoto Barbeiro. Após anos trabalhando no sar das vicissitudes da vida é possível construir um Eu teria de abandonar a faculdade. Os alunos fi-
corpo docente, concorreu ao cargo de diretor da faculdade. Em 1972, por Neide nos traz um último docu- mundo mais feliz quando estes princípios nortearem caram sabendo, realizaram um movimento para
um voto, venceu as eleições e deu início ao primeiro dos cinco mandatos que mento. Desta vez, trata-se de material a sociedade. Valores éticos centrados na liberdade de arrecadar dinheiro e pagaram minha matrícula.
o tornaram o mais longevo da Cásper Líbero. novo. É a impressão de História Global expressão, da informação verdadeira, análise crítica Ato único, jamais soube de outro igual entre estu-
dos Meios de Comunicação, próximo criteriosa, vigilância implacável dos que detêm o po- dantes. Nunca ouvi nenhum comentário que pu-
“Pode parecer loucura uma pessoa com cerca de 80 anos estar to- livro do professor a ser lançado. A obra der, defesa dos despossuídos de voz, aprendidos nas desse abalar minha auto-estima, me fizesse sentir
mando posse, pela quinta vez, do cargo de diretor da faculdade. Não é traça um panorama da comunicação, da aulas de grandes mestres jornalistas e professores diminuída. Pelo contrário, passaram a me tratar
loucura, é um ato de amor”. Assim foi parte do discurso de Nuzzi quando fala à internet. Foi escrita a mão, mas já negros Juarez Bahia e Fernando Goés. com mais carinho e admiração pela superação da
assumiu o último mandato, em 2003. Por questões de saúde, teve que se está inteiramente digitalizada. Nuzzi pa- Quando cheguei na Cásper Líbero, há quase 42 dor que, ainda hoje, palpita fundo no coração ao
distanciar da diretoria em 2005. A vice-diretora Tereza Vitalli assumiu rece estar ansioso com a obra. Não é raro anos, não existiam alunos negros. Fui uma das pri- lembrar do fato.
como interina e foi eleita a mais dois mandatos. Nuzzi não quis parar de a secretária da diretoria da Cásper Líbe- meiras afrodescendentes a pisar nesta Casa inesquecí- Graças a este ato de solidariedade e amor ao
trabalhar e pediu para ser realocado num cargo mais adequado à sua situ- ro, Marcia Regina Saro, receber ligações vel. O inusitado do fato fazia os colegas torcerem por próximo, tornei-me a jornalista que sou hoje,
ação. Assim, acabou virando Consultor Educacional do presidente da Fun- do professor querendo saber algum deta- meu sucesso, demonstrarem sinceridade em manifes- preocupada com o bem comum, a verdade do fa-
dação Cásper Líbero, Paulo Camarda. Regina Rodrigues Cabrini, secretá- lhe sobre a publicação do livro, que está tações de simpatia e apreço. Entendiam a importân- tos, sensível com o sofrimento alheio. Tornei-me
ria de Camarda, lembra quando Nuzzi subiu para o 11º andar da Fundação sendo analisado pela Faculdade. cia da presença de uma aluna negra num ambiente uma ativista pelos direitos humanos. Fui uma
Cásper Líbero para assumir sua nova função: “Ele tinha um cabelinho Com uma vida dedicada ao universo estudantil de maioria branca e de classe média alta. das fundadoras do Movimento Negro Unificado
azul anil e usava uma bengalinha. Era bem ativo, na medida que permitia da educação e da comunicação, o nona- Sentiam a necessidade da alteração daquele cenário de 1978, uma das criadoras da seção afro-latino
o problema na coluna que o fez se afastar do cargo”, diz. genário Erasmo de Freitas Nuzzi, agora sem diversidade de raça e classe social. América, do jornal Versus, publicação alternati-
O secretário-geral da Faculdade, Alípio Rodriguez Lineira, testemu- aposentado, mantém seu interesse na No primeiro ano em que prestei vestibular fui va das mais importantes. Atualmente, sou sócia
nhou todos os mandatos de Nuzzi como diretor. “Foi ele quem expandiu pesquisa e no ensino. A idade chegou, recebida com um misto de entusiasmo e surpresa. da editora Abayomi Comunicação, responsá-
a Faculdade. Aumentou o espaço e as vagas dos cursos e implementou mas não foi o suficiente para diminuir Alguns vieram conversar comigo, tentando adivi- vel por publicações voltadas para informação e
o curso de Rádio, TV e Internet. Foi durante sua estadia que a Cásper seu fôlego intelectual. nhar meus pensamentos, desejando-me boa sorte. formação de mulheres das classes C e B da zona
Infelizmente não consegui aprovação. Não desisti. norte da capital paulistana.
Nossa Fundação, como se sabe, então conhecido como “Uma luz so-
tem sua origem e destino no Jorna- bre São Paulo”.
lismo e na área da comunicação, e a A Faculdade se transladou para
eles está intrinsecamente ligada. Não esse endereço, na Avenida Paulista
poderia ser diferente. Como dito inú- 900, em 1966, funcionando inicial-
meras vezes, Cásper idealizou uma mente no Térreo-Alto. Hoje está ins-
UM
instituição que tivesse na educação talada em parte do 3º, do 4º, 5º e do 6º
um de seus pilares. Assim, não foi por andar, ocupando uma área de 21.575
acaso que sempre defendeu a criação metros quadrados.
de uma escola de jornalismo que pri- Como era o desejo do seu insti-
vilegiasse o ensino de humanidades, tuidor, a Fundação sempre direcio-
a comunicação como teoria e prática, nou os seus veículos de comunicação
BRINDE
educação e transformação. na defesa, manutenção e desenvol-
Primeira Escola Superior de Jor- vimento de uma imprensa livre e
nalismo do Brasil, com total auto- democrática, regida pelos princípios
nomia didática e pedagógica, nossa patrióticos, jornalísticos e culturais,
Faculdade, então denominada Escola Em 1934, Cásper resolveu criar com o objetivo da prestação de ser-
de Jornalismo Cásper Líbero, foi cria- uma versão radiofônica do vespertino, viços à comunidade e ao desenvolvi-
AOS
da em 16 de maio de 1947, no mesmo “O Grande Jornal Falado d’A Gazeta”, mento da cidadania.
mês e ano em que fui admitido como transmitido pela Rádio Cruzeiro do Manter vivo o sonho de Cásper
contador-auxiliar aqui na Fundação Sul. Menos de uma década depois, requer um intenso trabalho de pla-
Cásper Líbero. em 1943 comprou a Rádio Educa- nejamento e gestão. A dedicação e
Inicialmente, a Faculdade fun- dora Paulista, transformando-a na competência de nossos colaborado-
cionou em um imóvel alugado no 8º Gazeta AM, hoje parte da Faculdade. res – jornalistas, radialistas, publici-
PRÓXIMOS
andar da Av. Cásper Líbero, 58, ao Chamada de “a emissora da elite”, a tários, professores, funcionários ad-
lado do Palácio da Imprensa, que fi- rádio marcou época com programas ministrativos – foram fundamentais
cava no número 88 da mesma aveni- de música clássica de auditório, com para que os objetivos traçados pelo
da. Palácio da Imprensa era o nome orquestra e participação de cantores fundador permanecessem firmes na
do edifício da Gazeta, que se instalou líricos de nomeada. longa caminhada.
ali em 1939 – foi o quarto endereço Nesse meio tempo, Cásper Líbero Nosso grande desafio hoje é
70 ANOS
do jornal. Até 1943, três anos antes, criou a Corrida Internacional de São continuar a investir não apenas em
a avenida se chamava Rua da Concei- Silvestre, a Prova Ciclística 9 de Julho, tecnologia, como também no co-
ção. Foi nesse ano de 1943, da morte entre outras competições que deram nhecimento e em recursos humanos,
do jornalista e empresário, que houve impulso a um suplemento que veio a visando não só este, mas também os
a mudança de nome do logradouro ocupar o lugar do vespertino, A Gaze- próximos anos, com o intuito único
para homenagear nosso fundador. ta Esportiva. de oferecer sempre o melhor, fazendo
O Palácio da Imprensa foi o pri- Nos finais dos anos 1950, a Fun- a diferença. Garantir os investimen-
meiro prédio projetado e construído dação decidiu expandir suas instala- tos em tecnologia de ponta, dissemi-
© ESPAÇO ÉTICA
POR CARLOS COSTA
empresas pelo Espaço Ética.
e as oportunidades do futuro é o pró-
Ao morrer num acidente aéreo no Rio de Janeiro, no dia
prio ser humano.
Os 70 anos da Faculdade, com-
27 de agosto de 1943, Cásper Líbero deixou, de acordo
com vontade registrada em testamento, um complexo de Para
nunca mais
pletados em 16 de maio com uma comunicações que é administrado pela Fundação Cásper
celebração prévia no dia 9 de maio,
foram magníficos em todos os sen-
Líbero, criada quase um ano depois, em 10 de agosto de
tidos. A Cásper tem orgulho de ser
a primeira escola de Jornalismo do
Brasil. Por seus bancos escolares pas-
1944. Hoje o grupo reúne a TV Gazeta, a Rádio Gazeta
FM e a AM (esta, a emissora da faculdade), a Gazeta esquecer
Esportiva Net, a agência Gazeta Press, a Faculdade
saram mulheres e homens que ocu- POR CLÓVIS DE BARROS FILHO
param e ocupam cargos importantes
Cásper Líbero, o Grupo Cidadania Empresarial e o
não somente na Fundação, mas nos Memória Cásper, entre outras marcas.
mais diversos veículos de nossa mí- A história dessa fundação teve diversos momentos de eu pai insistia com di a dar aula. E quando digo que aprendi a dar aula,
dia. Radialistas, diretores de vídeo, grandes arroubos, alternados com sérios contratempos Engenharia e minha quero que o leitor me entenda bem, aprendi a fazer
publicitários, relações públicas, jor- mãe com Medicina. o que faço até hoje, e se isso significa dar aula ou dar
nalistas – como vocês verão em diver-
e decisões infelizes. Paulo Camarda, 12º presidente Então prestei Fuvest boa aula, aí eu realmente não sei.
sas páginas desta publicação. do conselho diretor (empossado em 27 de março de para Direito e, pra Ao longo de 15 anos vividos em duas etapas dis-
Continuaremos firmes com o foco 1995), está em sua quinta gestão, somando mais de preencher o resto do tintas, separadas por uma ida à Espanha com vistas a
em ser uma das grandes referências 23 anos à frente da instituição. Sua gestão – a mais tempo, um curso no- obtenção de um título em comunicação, tive alunos e
em comunicação. Mas o sucesso de turno viria a calhar. colegas brilhantes.
ontem não é garantia de nosso êxito
longa de todas – marca um período de estabilidade, Jornalismo me pare- Meu mundo virou o mundo das faculdade de co-
amanhã: com atitude humilde, bus- reconstrução, renovação e de consolidação da solidez cia simpático. Ainda mais ali na Paulista, perto de municação, e a Cásper foi o passaporte que me au-
camos manter a tradição, buscar a do grupo. Com saúde financeira estável, a grande nave casa. Eram só três anos, e eu não tinha a menor ideia torizava passear por todos os cantos e instituições.
inovação, fazer a diferença nos cursos do que esperar. Além disso, os anos trabalhados na Cásper Libero me
de Cásper Líbero segue esses tempos de tempestades
que oferecemos, na graduação (Jor- A carreira jurídica parecia atrair todas as minhas permitiriam mais tarde pleitear uma vaga em Direito
nalismo; Publicidade e Propaganda; e crises sem acusar os golpes e problemas que levam atenções. O Jornalismo me daria algo para fazer às na Faculdade de São Paulo, outro sonho a ser vivido.
Relações Públicas; Rádio, TV e Inter- outras instituições a sangrias e cortes profundos. noites. No primeiro ano e meio, por uma distribuição Mas como toda relação de amor, um dia a minha
net), na especialização e no mestrado. Em 1945, Paulo Camarda era funcionário da McAuliffe de salas que nunca compreendi totalmente, acabei trajetória na Cásper alcançou o seu final. Somando
Estamos nos credenciando junto ao cursando junto de alunos de Relações Públicas. Devo “esforções” com colegas professores do departamento
Turquand Young & Co, empresa de auditoria de
MEC para a oferta de pós-graduação assegurar que foram meses felizes, recheados de des- de Jornalismo, pretendíamos um destino para a esco-
lato sensu por EAD (ensino a distân- renome internacional que auditava as contas da cobertas e experiências. la que não coincidia com o entendimento dos outros
cia), com projetos de abrir o leque no Fundação Cásper Líbero. Foi admitido como auxiliar Se o futuro me parecia sempre jurídico, o presen- departamentos, e talvez com as instâncias maiores da
campo comunicação, com nova oferta de contabilidade em nossa empresa em 5 de maio te naquele instante era sem dúvidas casperiano. Ape- fundação. Assim acabamos todos procurando novos
de cursos graduação na área em que sar da segunda metade do curso, voltada mais para a desafios e espaços.
de 1947 – mesmo mês da criação da faculdade.
somos especialistas, com estudos para inserção profissional, me encantar bem menos, ainda Uma espécie de flashback de tudo isso foi reencon-
chegar ao doutorado e a um mestra- Atento e competente, após ter exercido diversas assim passava os dias esperando as noites. trar na Casa do Saber, anos depois, o chefe de depar-
do profissionalizante. A aventura dos funções no Departamento de Contabilidade do grupo, Terminado o curso, já tinha certeza que queria tamento que tanto garantirá minha presença e minha
próximos 70 anos apenas está come- inclusive a de gerente administrativo a partir de 1 de ser professor. Assim, mestrados e doutorados eram a voz, Mario Vitor Santos, novamente como o diretor da
çando. A isso iremos! parada obrigatória. Concluí o Direito, me mudei para casa, o chefe. Novamente estendendo a mão e permi-
julho de l971, em fevereiro de l989 foi promovido a
Paris, e lá fiquei me preparando para ser professor tindo novos voos.
superintendente administrativo e financeiro. Exerceu em alguma faculdade de Direito. Sendo assim, não é exagero dizer que se um dia
ainda, paralelamente, a função de procurador da Com alguns diplomas na mão, o regresso foi com- devi tudo foi à Cásper por uma permanência feliz,
Fundação por 21 anos. Foi membro ativo do Conselho plexo. Menos receptivo do que imaginava, e mais ás- convivência harmoniosa e experiência inigualável.
Curador de 27 de abril de 1984 a 15 de julho de 1992. pero do que jamais supus. De novo quem me abriria Hoje, já no final da minha vida profissional, repito
as portas era a Cásper, onde coube-me implementar que devo tudo a Cásper, pois nada de relevante teria
Foi quando solicitou seu desligamento da Casa. Três um programa de legislação de imprensa. acontecido sem ela. Nada que me fez brilhar os olhos
anos depois, era chamado para assumir a Presidência, O começo da vida profissional via na Cásper uma teria sido possível se um dia, pela primeira vez, não
tomando posse em 27 de março de 1995. parada promissora e segura, ao mesmo tempo. E se tivesse me apresentado no quinto andar da Avenida
foi na Cásper que aprendi a ser feliz, foi lá que apren- Paulista, para nunca mais esquecer.
© JACQUELINE MORAES
Abertura do III Encontro Luso-Afro-
40 anos de carreira e é, atualmente,
Brasileiro de Língua Portuguesa, colunista da Folha de S. Paulo
Literatura e Comunicação Social,
em maio de 2000
Devo meu
emprego à
Cásper
CLÓVIS ROSSI
Cásper Lí- rio, nada de nada das oportunidades que hoje são roti-
bero o meu neiras nas faculdades de jornalismo. Nunca fiz uma re-
primeiro portagem como prova ou tese nos três anos de curso (era
emprego e, o tempo que durava à época, anos 60 do século passado).
por decor- Além disso, como o “Correio da Manhã” me contra-
rência, toda a tou quando eu estava exatamente no meio do curso, ou
O PRIMOGÊNITO
A história do médico que presidiu a
Fundação Cásper Líbero
homem das letras. Pouco arriscou nos versos, mas a prosa
POR GUTO MARTINI de seus pensamentos e vivências sempre vieram ao papel
em momentos que sentia necessidade de se expressar artis-
É no térreo baixo do “prédio da Gazeta”, logo após as catra- ticamente. Como ele mesmo dizia “sou protegido por um
cas e em frente aos elevadores. Uma sala espaçosa de vidro fos- hobby inofensivo, mas laborioso também – as divagações
co. Na entrada, lê-se: Ambulatório Nelson Líbero. Lá funciona literárias!”. Fruto disso foi a biografia Yéyé: Martins Fon-
a medicina ocupacional e os primeiros socorros para os alunos tes na Intimidade, que fez a partir de sua convivência com
e funcionários da Fundação Cásper Líbero (FCL). “Como Nel- o amigo, e seu próprio livro de memórias: Flashs.
son era médico, achei que colocar o nome da sala em sua ho- Em 1915, um ano após a deflagração da Primeira Guer-
menagem fosse importante”, explica a superintendente patri- ra e ainda tomado pelo romantismo e influência que res-
monial da FCL, Angela Esther de Oliveira. Mas, afinal, quem tara da Belle Époque, Nelson pegou um vapor até a França
foi o homem com o mesmo sobrenome de Cásper? para ajudar o país que carecia de médicos. Começou dando
O dono da Gazeta tinha dois irmãos mais velhos: Nel- reforço no Serviço de Saúde, em Lyon, e terminou como
son e José. Diferente do caçula, ambos dedicaram a vida à chefe de equipe cirúrgica. Apesar dos horrores do front,
medicina. Nelson nasceu em 2 de setembro de 1884 e entre anos depois lembraria da época como uma fase feliz de sua
os irmãos foi o que por último faleceu, em 24 de julho de vida. “Foi um período de lutas, onde tudo interessava e era
1976. Ao longo de seus 92 anos, não chegou a ter herdeiros. novidade para mim”, registrou no livro Flashs.
No entanto, passou por momentos marcantes da história e De volta ao Brasil, o primogênito dos Líberos continuou
se relacionou com figuras icônicas de nossa literatura: foi dedicando-se à medicina. Em 1924, fundou a Garantia In-
amigo próximo de Olavo Bilac e Martins Fontes. dustrial Paulista, serviço médico de seguros que atendia a
Mais que amigo dos poetas, Nelson era ele próprio um funcionários de empresas e indústrias. O dinheiro que con-
seguiu com o negócio foi de grande ajuda à Gazeta. Durante
a ditadura de Getúlio Vargas, com Cásper exilado na Eu-
ropa, Nelson conseguiu manter o jornal até o seu retorno,
impedindo uma venda precipitada e arriscada.
Ao notar que a emergente São Paulo dos anos 1930 so-
fria com a falta de hospitais, Nelson construiu a Casa de
Saúde Dom Pedro II. Conforme relata em alguns escritos
que deixou, foi difícil manter a empreitada. Recebeu vá-
rias propostas de venda, mas recusou todas e, mais do que
preservar, conseguiu expandir o espaço transformando-o
num verdadeiro complexo hospitalar. Hoje em dia, quem
for na Rua da Figueira número 831 encontrará o que antes
era a Casa de Saúde de Nelson Líbero transformada em
uma unidade da rede de hospitais Sancta Maggiore.
Nelson nunca precisou de dinheiro. Financeiramente,
sempre teve uma vida saudável. Após a morte de Cásper des-
cobriu que seu nome constava no testamento como detentor
de uma fortuna incalculável: a ele ficava delegada a tarefa de
integrar a diretoria de uma Fundação, ao lado de José Líbe-
ro, João Ferreira Jorge, Pedro Monteleone e Sylvio Marga-
rido, que o irmão havia idealizado. Foi assim que, em 1944,
tornou-se o primeiro presidente da Fundação Cásper Líbero.
Apesar do carinho pela Gazeta, Nelson não perma-
neceu no cargo por muito tempo. Antes de terminar seu
mandato, afastou-se para se dedicar às suas paixões: a me-
dicina e as divagações literárias.
© ACERVO GAZETA PRESS
Eduardo Baptistão, premiado ilustrador e formado em Publicidade e Propaganda pela Cásper
em 1988, começou a fazer suas primeiras ilustrações em A Imprensa, jornal-laboratório da
Faculdade. Publica seu trabalho no blog http://baptistao.zip.net
62 maio • junho • julho • agosto 2017 CÁSPER 63
R E P O R TA G E M | E S P E C I A L
DANIEL CARVALHO
SETE
DIAS
NA CÁSPER
Sorrateiramente, abrimos as cortinas que envolvem o
universo dos casperianos. Venha conosco, leitor: por uma
semana caminharemos pelos corredores da Faculdade
espiando o que acontece na rotina dos alunos e funcionários.
POR BEATRIZ FIALHO, CAROLINA MORAES, FELIPE SAKAMOTO, GIULIA
GAMBA, GUTO MARTINI, GUILHERME GUERRA E PAULA CALÇADE
BEATRIZ FIALHO
GIOVANA CHRISTOFANO
ANANDA GALVÃO
MARIANA CAVALCANTI
BEATRIZ VECCHI
PEDRO FASCIONI
Os alunos olham
GIULIA GAMBA
atentos à aula:
LARISSA ALBUQUERQUE
‘Escrever não é
GIULIA GAMBA
só uma atividade
técnica, mas é
DANIEL CARVALHO
GIULIA GAMBA
BEATRIZ FIALHO
também prática
corporal de prazer’
DIEGO GARCEZ
DANIELA ARAÚJO
LUIS MAURO SÁ MARTINO
PAULA CALÇADE
No final da noite, esperam os colegas redores voltam a ficar vazios. O pes-
para ir ao Bar do Zóio, onde acontece soal da Bateria, que surgiu em 1997
o recreio da Aguante, a torcida orga- por iniciativa dos alunos, não está na
nizada da Faculdade. Às 21 horas as Faculdade. Nessa hora, em geral, os
últimas aulas de todos os cursos da músicos costumam se organizar para
Faculdade ainda estão acontecendo ensaiar do lado de fora do prédio.
e os alunos se agitam para o final de Neste sábado, contudo, eles se en-
semana. Eles encaram o evento como contram na Avenida Prof. Abraão de
uma preparação para o dia seguinte: o Morais. É lá que eles se apresentarão
sábado da Cervejada. para os calouros e veteranos na Cer-
vejada dos Bixos.
Sábado Para todos os efeitos, depois desta
DANIEL CARVALHO
E
“O corpo docente está
Faculdade apontam o futuro de suas áreas
muito unido para fazer
esse curso crescer ainda
Carlos Roberto da Costa, diretor da mais, e acredito que o
L
Faculdade de Comunicação Cásper Líbero núcleo de EAD [ensino à
“A função da Cásper é olhar para distância] dá um up no
frente e preparar o profissional para nosso núcleo. E trabalhar
ele ser importante, atuante, crítico e
E
com amor: publicidade
transformador da realidade futura.” sem amor, não se faz”
S
Helena Maria Jacob, coordenadora
de Jornalismo
Patrícia Salvatori,
“O jornalismo passa por um
coordenadora de Relações
momento de redefinição, os
F
Públicas
alunos devem estar preparados “Temos passado por
para trabalhar com todos um período de grande
os novos caminhos da mobilização no curso.
A
comunicação. A perspectiva Além de contarmos
é de que o curso continue com uma grade muito
crescendo, mantendo sua mais humanista,
tradição e importância”.
L
nossos alunos de RP
mantêm um nível
altíssimo de aceitação
antonio Roberto Chiachiri filho, vice-
no mundo corporativo”.
A
diretor e coordenador da Pós-Graduação
“A Cásper é um signo de
desenvolvimento cultural
e social. Concentramos
M
nossos esforços no ensino da
Sonia Castino, coordenadora de comunicação e, aqui, nosso
Cultura Geral trabalho sempre tem resultado!”
Roberto D’Ugo, coordenador de Rádio, TV e Internet
“As disciplinas de humanas
“A Cásper mantém um excelente quadro de
trabalhadas são essenciais
recursos técnicos para atender as necessidades
para a formação de um
dos alunos. Procuramos estar sempre
comunicador. Com elas, os
atualizados e bem servidos para acompanhar
alunos ganham o repertório
as exigências do mercado audiovisual”.
cultural necessário para as
profissões que querem seguir”.
72 maio • junho • julho • agosto 2017 CÁSPER 73
CASPERIANOS | ESPECIAL
Tatiana Ferraz,
professora há 12 anos na
Cásper Líbero
“Gosto de trabalhar
Ana Carolina Líbero, na Cásper porque Antonio Carlos
prima de 3º grau de esse lugar se tornou Vianna, Supervisor
minha casa. Aqui técnico há 20 anos Antonio Paixão, técnico
Cásper Líbero e aluna do
dentro há um clima “Boa empresa para do SAV há 20 anos
curso de Publicidade
de conscientização, de se trabalhar. É uma “Em 20 anos de Cásper,
“Ter alguém na família
seriedade e ao mesmo satisfação estar com valorizo o trabalho em
que alcançou tudo o
tempo de alegria, os alunos e passar equipe que é possível
que ele alcançou e ter
descontração. Um conhecimento para aqui. Somos próximos
uma Faculdade em
clima que não existe em eles. Juntei o útil ao dos professores e
homenagem a ele é
nenhuma das redações agradável” alunos, e estendemos o
algo importante e que
nas quais trabalhei” audiovisual para todos os
valorizo muito”
alunos”
TODOS
As semanas de Publicidade e Propaganda são conhecidas por
trazer grandes nomes da área, como Washington Olivetto
EM FESTA
alto número de alunos nas empresas:
dos formados no ano passado, 92%
passaram por estágios.
No curso de Publicidade e Propa-
ganda, essa realidade se repete. Se-
gundo o coordenador Joubert Britto,
os alunos chegam muito mais madu-
ros, e, consequentemente, aumentam
a inserção no mercado.
As parcerias externas são tendên-
cias no curso de PP: Meio e Mensagem,
© CENTRO DE EVENTOS FCL / BEATRIZ VECCHI
Clube de Criação e Estado de S. Paulo
RP e PP completam 45 anos e são algumas das empresas parceiras
da Faculdade. A ideia é criar cada vez
RTVI, 15, consolidando juntos a mais pontes entre os alunos e o mundo
Jornalismo um polo de referência publicitário e, para isso, os projetos da
área também se reinventam ao longo
em comunicação dos anos. É o caso da Mostra, projeto
que simula o trabalho de uma agência,
e das Semanas de Publicidade, que já
POR CAROLINA MORAES
trouxeram para as salas da Faculdade
OS DESAFIOS
pautas específicas, como o feminismo dentro da redação, Ingrid Yurie, repór- com as novas tecnologias, chegamos
ou o combate ao trabalho escravo, e as ter da Carta Capital e formada na Cás- finalmente no que acredita ser o
redes de mídia independente apontam per em 2016, conta que a sua forma- rumo: revalorizar o jornalismo. “Me
rumos diferentes para a profissão. ção foi fundamental em dois aspectos. parece uma tendência saber que o
GLOBAIS
As competências que um jornalis- “Primeiro, na minha formação crítica. fazer jornalístico há uma técnica que
ta necessita extrapolam o que era ne- Aprender a pensar. E na minha forma- não é simples. E uma faculdade de
cessário até então: produção multimí- ção como ser humano para aguentar jornalismo é o lugar para se discutir
dia, veiculação de matérias em mídias uma redação”. O que Ingrid aponta é essas mudanças”, conta.
digitais e gestão de pessoas e de con- uma tendência que também aproxima
teúdo são competências mínimas. “As a Cásper das instituições espanholas: o
escolas têm que estar atentas a isso, e
não significa que seja uma formação
forte fundamento nas Ciências Sociais,
porque, apesar das diferentes técnicas
“Continua sendo
voltada para o mercado. Continua
sendo uma formação crítica, mas li-
e demandas que surgem, um jornalis-
mo que de fato informe a população é
uma formação
A discussão sobre reinventar o jornalismo
gada a esses novos conflitos”, explica
Ratier. Experimentar outros formatos
sempre necessário.
Para o professor de Jornalismo
crítica, mas
é permanente. E mundial. para contar histórias, apostar em pro-
jetos interdisciplinares e investir no
Econômico Marcos Guterman, os de-
bates sobre as mudanças pelas quais
ligada a esses
POR CAROLINA MORAES
digital são estratégias que o mundo, e
a Cásper, tem adotado.
o jornalismo passa estão se impondo
no ambiente acadêmico. Mas acredita
novos conflitos
No fim de março, Helena Jacob foi convidada a visitar a Uni-
Atenta principalmente à interação
entre jornalismo e mídias sociais de
que depois de passarmos por momen-
tos de deslumbramento e atonicidade
Rodrigo Ratier
versidade de Navarra, porque a Cásper foi a faculdade com mais
alunos participantes na Semana Estado e no prêmio Santander
Jovem Jornalista. Apesar dos 8.386 quilômetros que separam São Evento de 2014 “Quem mexeu no meu jornalismo?” trouxe figuras ilustres
do jornalismo para debater financiamento e narrativas no novo contexto
RICARDO NÓBREGA Paulo da Espanha, a coordenadora do
curso de Jornalismo se surpreendeu:
“Os desafios dos professores lá são
os mesmos que os nossos aqui: como
atender as demandas do mundo aca-
dêmico e do mercado de trabalho?”
Os modelos das gigantes estruturas
jornalísticas do século 20 não se sus-
tentam mais. Na verdade, ruíram de-
pois da revolução digital. E a mudança
tecnológica trouxe um grande e contí-
nuo desafio: lidar com a velocidade. “A
dinâmica no mundo acadêmico é dife-
rente. Por isso apostamos na formação
humanística, que é forte e não muda
de uma hora para outra”, explica He-
lena. Em tempos de pré-revolução tec-
nológica, precisava-se de uma grande
estrutura para se fazer ouvir. Com um
celular e uma conexão à internet, em
No dia 7 de abril a Cásper Líbero tese, bilhões de pessoas podem ser conectadas. O cenário mudou
celebrou o dia do jornalista com radicalmente, e não necessariamente para pior. “Há um caráter
o evento “Contar histórias do
democratizante que é muito interessante”, pontua Rodrigo Ratier,
futuro: diálogo sobre o jornalismo
e a técnologia” professor de Teoria e Prática da Reportagem da Cásper Líbero.
Se de um lado, as grandes empresas diminuem o núme-
ro de jornalistas nas redações e perdem audiência, do outro surgem
alternativas promissoras. Agências de fact-checking, veículos com
YURI ANDREOLI
© CENTRO DE EVENTOS
exponencialmente
desde sua criação. Em
2017, 25 alunos e 8
professores compõe o
grupo de pesquisadores.
A inauguração
do Centro
Interdisciplinar BEATRIZ FIALHO
de Pesquisa em
2000 foi um marco
para a produção
acadêmica da dade de organizar as pesquisas que estavam sendo feitas professores: “É como se estivesse cuidando de um filho.
Faculdade. tanto pelo corpo docente quanto pelo discente. “O CIP é Essa troca de experiência com alunos é muito gostosa”.
fruto de um ambiente de pesquisa que estava nascendo Menezes ressalta a importância da iniciação científica
PAIXÃO POR
na Cásper. Havia muitos professores cursando mestrado na formação do aluno: “O processo de fazer pesquisa é
e doutorado e o diretor Erasmo era entusiasta da pesqui- o de gerar conhecimento. Mesmo que o aluno não siga a
sa”, conta o professor José Eugênio Menezes, orientador carreira acadêmica, terá tido uma imersão em pesquisa e
de iniciação científica. “A partir de sua criação, a Cásper refletido a comunicação”.
PESQUISA
passou a ter o ciclo completo de pesquisa: a iniciação Os resultados não podiam ser melhores. O artigo da
científica, a pesquisa docente e o mestrado”, diz. aluna do quarto ano de jornalismo Laura Uliana, orien-
A mudança no interesse ao longo dos anos foi radical: tada pela professora Simonetta Persichetti, foi finalis-
dos 2 inscritos no primeiro ano, o CIP tem hoje 33 pes- ta na área Ciências Sociais Aplicadas na categoria “Em
quisadores. Neste ano, o processo de seleção teve 58 can- Andamento” do Congresso Nacional de Iniciação Cien-
Com 17 anos de existência, o CIP é a casa dos pesquisadores didatos para 15 selecionados. Cada aluno bolsista ganha tífica (Conic) do ano passado. O texto procura verificar
25% de desconto na mensalidade. as ideias de autoria, verdade e subjetividade e como elas
docentes e discentes na Faculdade Cásper Líbero A produção do saber originado no CIP permitiu a permeiam o fotojornalismo em três diferentes momen-
criação da revista Communicare, um periódico científico tos: na revista Life, na agência Magnum e na Farm Se-
POR RAFAELA ARTERO semestral que recebe colaborações de outras universida- curity Administration.. Laura conta que a experiência da
des e do exterior. Lançada em 2001, a revista é avaliada iniciação científica foi fundamental para escolher qual
Instituições do ensino superior privado são vistas, es- em parceria com a Coordenadoria do Curso de Jornalismo. como Qualis B2 pela Coordenação de Aperfeiçoamento caminho irá seguir profissionalmente. “O mais impor-
sencialmente, como formadoras de mão-de-obra para o O órgão se chamava Núcleo de Pesquisa em Jornalismo. A de Pessoal de Nível Superior (Capes). “Costumo dizer tante foi a vivência acadêmica, que me deu a certeza de
mercado de trabalho. E isso é o que faz do Centro Inter- ideia de fazer pesquisa dentro de uma faculdade particular que tão importante quanto pesquisar é divulgar o resul- que quero ser professora. Amadureci como pesquisadora:
disciplinar de Pesquisa (CIP) uma espécie de oásis para era tão inusitada que só duas pessoas se inscreveram, con- tado”, pontua Cilene Victor, professora que coordenou o agora sei como escolher o recorte de um tema, como fa-
professores e alunos da Cásper Líbero. Durante 10 meses, ta Luís Mauro de Sá Martino, orientador no CIP, professor CIP de 2013 a março de 2017. Professores e bolsistas são zer um projeto e, pesquisar”, diz.
eles podem se dedicar a projetos de pesquisa do campo co- da Faculdade e um dos corajosos desbravadores da primei- estimulados a apresentarem seus artigos em congressos O ex-aluno Tiago Mota fez a iniciação científica no CIP
municacional com apoio e suporte financeiro da Faculda- ra turma. “Não existia na Cásper, ou existia bem pouco, dentro e fora da Cásper. em 2012 e hoje é pesquisador e mestre na área de Comuni-
de. Em 17 anos, o CIP já fomentou mais de 200 trabalhos a vivência de área acadêmica. Então, a iniciação científica Em 2014, o CIP passou por uma grande mudança cação e Semiótica pela PUC-SP. Tiago conta que o conhe-
acadêmicos. “A Cásper Líbero tem um espaço privilegiado era algo bem inédito”, lembra. Foi por meio da iniciação ao procurar estreitar o diálogo com a pós-graduação cimento adquirido durante sua pesquisa na Faculdade o
que dá voz, tempo e incentivo para esses pesquisadores re- que ele descobriu a vocação para a docência. “Um dia o stricto sensu da Cásper Líbero. Os professores desse de- ajudou a elaborar seu projeto de mestrado. Ele pesquisou
alizarem projetos dentro da Comunicação Social”, diz Eric meu orientador me disse ‘você tem que ser professor, o seu partamento também foram convidados a participar da a relação entre jogos eletrônicos e a comunicação mediada
de Carvalho, professor e coordenador do CIP. lugar é na academia’, e então me mostrou na teoria e na orientação dos projetos de iniciação científica de alunos pelo computador. “Cheguei com boa parte da bibliografia
O incentivo à pesquisa surgiu de professores como Cló- prática o que é o mundo acadêmico.” da graduação. De acordo com Antônio Roberto Chiachiri básica do meu atual grupo de pesquisa, o Centro Interdis-
vis de Barros Filho. Em 2000, seu terceiro ano lecionando, Naquele ano e em parceria com alguns professores, Filho, vice-diretor da Faculdade e orientador no centro, a ciplinar de Semiótica da Cultura e da Mídia, já lida e revi-
ele iniciou uma seleção para pesquisadores na graduação o então diretor Erasmo de Freitas Nuzzi viu a necessi- troca é ótima não só para os alunos, mas também para os sada. Isso graças ao meu tempo no CIP”, afirma.
NOVO CONVIVEM
os pilares teóricos da
Faculdade
POR CAROLINA MORAES
Os 28 mil livros distribuídos entre guardam textos de sua própria autoria recebiam senhas para apenas uma
o quarto e quinto andar da Faculdade e dedicatórias de grandes nomes, como hora de consulta à internet, agora têm
começaram a partir de uma doação da o do amigo Martins Fontes. nove computadores disponíveis e le-
família de Cásper Líbero. Na revista A O homem que dá nome à biblioteca vam seus notebooks, tablets e celula-
Imprensa do mesmo ano, 1948, um representa a essência da relação biblio- res para as salas de estudos.
anúncio pedia outras doações para teca-faculdade: José Geraldo Vieira in- O espaço também ganhou títulos
ampliar o acervo que, ano a ano, che- tegrou a Academia Paulista de Letras, atuais de comunicação, área ainda
garia à biblioteca Prof. José Geraldo foi crítico de artes plásticas no jornal com pouca produção acadêmica na
Vieira de hoje: uma coleção de 130 Folha de S. Paulo e professor da Facul- década de 1950. O professor de Teoria
mil itens entre DVDs, CDs, VHS, pe- dade Cásper Líbero por 15 anos. Em da Comunicação José Eugênio Mene-
riódicos, revistas e dissertações. 1977, ano de seu falecimento, a congre- zes comenta que a obra de Christoph
Daniela Bisolato, atual coordena- gação da Faculdade homenageou-o ba- Wulf escrita em italiano é rara em
dora do espaço, começou como estagi- tizando o espaço com seu nome. outros acervos e fundamental para
ária em 1998, período em que a biblio- Desde os anos 2000, quando o o rumo de suas pesquisas atuais. O
teca passava por um dos processos mais espaço onde hoje é a Secretaria de Re- livro The Wealth of Networks, ainda
importantes de ampliação. O acervo gistros acadêmicos deixou de ser sufi- sem tradução para o português, tam-
quase dobrou de tamanho e muitas as- ciente para abrigar os exemplares e o bém compõe o acervo e é a principal
sinaturas de revistas foram feitas. Nes- acervo migrou ao quarto andar, a bi- obra do professor de Harvard Yochai
sa época, descobriram e catalogaram blioteca foi cenário de grandes trans- Benkler, que estuda o surgimento da
os livros pertencentes a Cásper Líbero formações. A chegada da internet foi economia de uma sociedade em rede.
- hoje dispostos nas reservadas estantes uma delas. O primeiro computador As revistas, jornais e periódicos
do mezanino. Entre livros de literatu- instalado na biblioteca causava filas totalizam 133 itens, que são mudados
ra, economia e direito, os exemplares intermináveis. Os alunos, que antes todos os dias. Se os exemplares expos-
tos são importantes para se
Em 2000, foi inaugurado o espaço em dois andares da biblioteca
informar dos acontecimen-
tos atuais, os exemplares
antigos são preciosos itens
de consulta. Na biblioteca,
a coleção da Veja e da Re-
alidade, revista inovadora
da Abril que circulou até
1976, estão quase com-
pletas e disponíveis para
consulta. Os periódicos são
o que há de mais atual no
espaço. A biblioteca conta
com uma base específica
de comunicação, a EBSCO
(Communication & Mass
Media Complete), que
disponibiliza mais de 850
títulos escritos desde 1915
na área da comunicação.
GIULIA GAMBA
QUIZ
Qual desses profissionais da
4. comunicação não se formou na Cásper?
a) Maria Júlia Coutinho
b) Carla Jimenez
c) Gugu Liberato
CÁSPER
d) Sonia Abrão
e) Evaristo Costa
1.
b) Jornalismo
Quantos andares tem o prédio da
c) Direito
Fundação Cásper Líbero?
d) Medicina
a) 12 e) Magistério
b) 15
c) 17
d) 19
e) 20 6. Qual o professor mais antigo em
atividade na Faculdade?
a) Welington Andrade
7.
Alternativa Onde eram distribuídas as primeiras
edições da revista Esquinas?
a) Pelos estudantes nos corredores da faculdade
3.
Qual figura política nunca b) Os moradores de rua distribuíam pelas esquinas da cidade
participou de eventos na c) Era comercializada pelos estudantes e a verba revertida para
Faculdade Cásper Libero? o Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua
a) Lula d) Os estudantes compravam diretamente no Núcleo Editorial
b) Gilberto Maringoni e) Nenhuma das alternativas anteriores
c) Paulo Maluf
d) Luciana Genro
e) Ivan Valente Respostas: 1. b; 2. d; 3. d; 4. e; 5. c; 6. b; 7. b.
CÁSPER
investindo na boa apuração e no debate de ideias.
© FELIPE FRAZAO
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COMUNICACIONAIS
88 maio • junho • julho • agosto 2017 CÁSPER 89
PUBLICIDADE RÁDIO, TV
E PROPAGANDA E INTERNET
1 1
REALIDADE VIRTUAL/VÍDEO 360°
GAMIFICAÇÃO Para o professor Roberto D’Ugo, os vídeos em 360° e de
Tendência mais citada entre os professores da Faculdade Cásper
realidade virtual, dentro das possibilidades digitais, abrem
Líbero como forma de estratégia em comunicação, a gamificação
perspectivas novas para o roteiro e lançam o desafio para o
tem sido utilizada no meio publicitário para o desenvolvimento
desenvolvimento de novas narrativas. Há uma maior sensação de
de projetos e campanhas. O lado lúdico dos games estimula o
realidade nas narrativas audiovisuais.
engajamento de grupos de pessoas que buscam resultados.
2 2
USER EXPERIENCE STORYTELLING
Para vender um conceito ou um produto, é O sucesso estrondoso dos seriados e
preciso levar em conta as percepções e reações narrativas televisivas é um forte indicador
psicológicas dos consumidores. O mundo de que a arte de contar histórias cativa e
publicitário se baseia na chamada experiência do impacta o público de maneira intensa.
usuário para formular suas estratégias.
3
GAMIFICAÇÃO
3
TRANSMÍDIA A indústria de games já ultrapassa a
hollywoodiana evidenciando seu forte impacto
Hoje, o consumidor é atingido por diferentes plataformas na sociedade contemporânea. Frente a essa
de comunicação. Contar cada história de forma realidade, cada vez mais as obras audiovisuais
diferente, tornando-as mais dinâmicas e adaptadas ao estudam e incorporam elementos da
meio, é o que o permite o conceito de transmídia, explica gamificação em suas narrativas.
o professor Marcelo Rosa de Publicidade e Propaganda.
4 4
TRANSMÍDIA
O professor Marco Vale afirma que a transmídia
STORYTELLING aplicada nas áreas de rádio, TV e internet
A arte de contar histórias vem despontando representa “não mais uma tendência, mas uma
como a estratégia publicitária por seu
persistente realidade”. A internet propiciou à
poder de impacto e envolvimento entre os
consumidores. Não é novo, mas é eficiente. convergência das mídias e abriu o campo para
novas e potenciais narrativas.
1
FACT-CHECKING BIG DATA/MINING DATA
1
“A tecnologia possibilitará que os drones e Trabalhar com mineração de dados possibilita, para a
inteligências artificiais façam todo o processo de professora Carla Almeida, um melhor desempenho no
apuração e divulgação de notícias, restando ao planejamento e execução das ações de comunicação.
jornalista a tarefa de checar o conteúdo”, explica Com informações mais filtradas, há uma clareza maior
o professor Jorge Tarquini. As agências de fact- na hora de identificar estratégias assertivas e de se
checking despontam como grande novidade. relacionar com stakeholders.
2 2
JORNALISMO DE DADOS GOVERNANÇA NA COMUNICAÇÃO
O meio digital possibilita um ambiente de circulação Há uma demanda crescente de credibilidade e
de informações quase inesgotável. Segundo o professor legitimidade das organizações por parte da sociedade.
Eduardo Nunomura, o jornalismo de dados representa “um Em momentos de crise, em que a imagem é colocada
nível de aprofundamento do processo de apuração que em risco, a gestão da reputação por meio da
poucos ainda conseguem enxergar”. comunicação se faz altamente necessária.
3 3
TRANSMÍDIA O NOVO INFLUENCIADOR
Com a ampliação dos meios digitais, aumenta o trabalho
As plataformas digitais possibilitam ao público
do profissional de relações públicas na gestão de imagem
diversas maneiras de consumir conteúdo
de figuras públicas e influenciadores, como youtubers e
jornalístico. Como em Publicidade e Rádio, TV
outros formadores de opinião.
e Internet, segue como tendência por permitir a
ubiquidade de informações e conteúdo.
RETORNO SOBRE ENGAJAMENTO
4 4
Para o professor Sérgio Andreucci, a sociedade espera muito mais
STORYTELLING das marcas e das organizações, e muito além de bons produtos
Ao jornalista cabe – e sempre coube – a e serviços. “Os consumidores e os cidadãos desejam uma postura
missão de construir boas narrativas sobre a socialmente responsável das empresas e, por sua vez, as empresas
realidade. A crescente falta de leitores deve desejam ser vistas como engajadoras de causas sociais, culturais,
ser encarada como um desafio para que se ambientais, esportivas, entre outras”, afirma.
melhore a maneira de narrar, evidenciando
a importância do storytelling.
CHECAGEM
ca Latina, três delas brasileiras:
Cada agência de fact-checking possui uma metodologia própria, com
Agência Lupa, Agência Pública e
Aos Fatos. “O objetivo da checa- selos que verificam as falas de figuras públicas. Veja como funciona o
gem é empoderar quem precisa de Truco da Agência Pública com frases sobre o tema:
informação”, afirma Cristina Tar-
dáguila, jornalista e diretora da
EM XEQUE
Lupa. Desde seu lançamento, no “A checagem é o futuro do jornalismo”
fim de 2015, a agência acompa-
nhou o processo de impeachment Exagerado. Por mais
de Dilma Rousseff, os Jogos Olím-
picos e as eleições municipais. importante que sejam os
O trabalho dos checadores vir- fact-checkers, há ainda
tuais consiste em analisar objeti-
lacunas que outros veículos
vamente falas de figuras públicas,
A reação dos jonalistas em tempos de proliferação de notícias falsas atestando sua veracidade ou não.
Cada agência possui um méto-
preenchem: notícias hard-
news, reportagens de fôlego e
POR GUILHERME GUERRA do de classificação que vai muito
além de “verdadeiro” ou “falso”. entrevistas
Por exemplo, o candidato afirmou
sem contextualizar? “Impreciso”.
Utilizou dados errados para pro-
var um ponto correto? “Exagera- “Notícias falsas são um fenômeno norte-
Os jornalistas das antigas lembram da temível figura do checa- do”. Entrou em contradição com americano”
dor. A reportagem poderia passar por um redator, um editor de texto algo dito anteriormente? “Con-
e um revisor, mas só seria publicada depois do escrutínio daquele traditório”. Para chegar a essas
profissional com olhos de lince. Mas hoje ele está em vias de extin- conclusões, os repórteres buscam
Falso. Embora as eleições
ção. O enxugamento das redações e a caça por cliques que levaram a origem das informações e vão
os veículos de imprensa a acelerarem a produção de notícias fizeram a fundo em relatórios, planilhas, norte-americanos e Donald
com que a checagem deixasse de ser prioridade. Publica-se qualquer leis, especialistas e até mesmo na Trump tenham incitado um
coisa. Se estiver errado, corrige-se o que já estiver no ar. O que im- própria fonte da fala.
porta é publicar antes de todos. Natalia Viana, co-diretora da debate sobre notícias falsas e
Não é preciso ser estudante de jornalismo para perceber que notí- Agência Pública, pontua que a checagens, o Brasil também
cias falsas circulam livre e impunemente nas redes sociais. Em abril de checagem, utilizando-se de técni-
2016, semana do impeachment de Dilma Rousseff, três de cada cinco cas do jornalismo investigativo, foi bastante afetado pelo
reportagens mais compartilhadas no Facebook eram falsas. A cons- consegue resumir e transmitir problema, desde 2014
tatação foi do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas de Acesso à uma informação com segurança e
Informação da Universidade de São Paulo (USP). O nível da mentira muito rapidamente. Essa caracte-
em escala global se tornou tão patente que até empresas como Google rística faz com que o fact-checking
e Facebook tornaram a checagem de fatos como uma de suas pautas esteja perfeitamente formatado “Fact-checkers podem vender seu serviço a
prioritárias para 2017.
O que os pesquisadores da USP detectaram é que a dinâmica viral
aos tempos de mídias sociais, em
que a objetividade é fator essen-
outras empresas”
do Facebook, favorecido pelo fácil compartilhamento de postagens, cial para chegar ao público.
acaba por reforçar as polêmicas em detrimento de outros assuntos. Desde 2011 no ar, a Pública Sim. Cada veículo
Essas polêmicas muitas vezes confirmam uma ideia pré-concebida produziu extensas matérias pau-
decide sua forma de
dos nichos de usuários da rede e, ainda que sejam falsas, acabam vi- tando sobretudo direitos huma-
ralizando. E é o crime que compensa: uma página que propaga uma nos. Em setembro de 2014, foi negócio, inclusive vender
mentira ganha mais seguidores, criando um ciclo de propagadores de lançado o Truco, seção de fact-che- checagens a jornais,
notícias falsas. Onde está o velho e bom checador das redes sociais? cking para acompanhar a eleição
Talvez sejam as agências de fact-checking, que já somam mais de presidencial brasileira daquele revistas e canais de
uma centena de organizações espalhadas pelo mundo. Acompanhan- ano. O Truco permanece até hoje televisão
do essa tendência, o Google passou a mostrar um selo de “verificação como seção fixa do veículo. “As
Nesse exato instante, dezenas de reza, não há problema. Mas, concen- camento, o app sabe que no meio do
empresas sabem exatamente onde trado, se torna radioativo. Pode ser caminho não há pedras, mas anun-
você está, se é homem ou mulher, uma bomba atômica. É o que está ciantes. Empresas compram espaço
quantos anos tem e algumas prefe- acontecendo com os dados que esta- no Waze para oferecer seus serviços a
rências pessoais que seus amigos nem mos disponibilizando com os diversos partir da proximidade entre seu espa-
desconfiam. Se é de manhã, tarde ou aparelhos eletrônicos. Como estamos ço físico e o carro do usuário. Pode ser
noite, comeu alguma coisa e começou cada vez mais interativos, a quantida- um posto de gasolina, uma padaria ou
a se deslocar para o trabalho ou a fa- de de informação fornecida pelo usu- uma loja de decoração. No primeiro
culdade, elas também estão a par dis- ário não para de crescer, criando um caso, pode ser conveniente. Nos dois
so. E nem é preciso que esteja com o perfil extremamente refinado de cada últimos, não demorará muito para
celular na mão. Se bobear, o aparelho pessoa. Quando falamos de milhões que os aplicativos saibam que você
está largado no bolso da calça, porque ou bilhões de indivíduos conectados, estava louco por um pãozinho ou pre-
o filme que está vendo já começou. essa miríade informativa revela pa- cisava comprar cortinas novas.
Seus pais nem desconfiam que está drões, comportamentos e tendências. O que é compartilhado, curtido
na casa de amigos assistindo Netflix É o chamado big data. (um dado teoricamente privado) e
numa confortável sala com uma smart “Ao permitirmos o acesso, concor- postado nas redes sociais permite tra-
TV. Mas as corporações que pagam damos que entrem no nosso telefo- çar um perfil assustadoramente pre-
caro por informações de potenciais ne e usem esses dados da forma que ciso de cada indivíduo. A reportagem
consumidores sabem de tudo. A vida quiserem”, explica Fernanda Becker, The Data That Turned the World Up-
de qualquer um de nós nunca esteve membra do coletivo Actantes, que side Down, publicada por Grassegger
tão escancarada. E a responsabilidade milita pela comunicação livre nas re- e Krogerus na revista Motherboard,
por essa exposição também é nossa. des digitais no Brasil. Ela conta que mostra como a coleta de dados em re-
Tudo o que fazemos quando es- o jogo Pokemon Go, por exemplo, des sociais foi fundamental para ma-
tamos conectados deixa rastros: os “é uma coleta de dados coletiva, um pear os potenciais eleitores de Donald
cliques que damos, os aplicativos que mapeamento de interiores, algo que Trump e garantir o sucesso publicitá-
acessamos, quanto tempo ficamos em o Google Street View não consegue rio da campanha presidencial.
um determinado site, o preenchimen- fazer”. Basta colocar um Pikachu no A privacidade se tornou uma ilu-
to de formulários online. Se acessa- local em que se quer mapear e o usu- são no mundo digital. E enquanto
mos o site O Globo para ler notícias, ário acaba disponibilizando imagens estivermos liberando acesso a nossos
apenas para citar um exemplo, outros do lugar desejado. Com um simples dados porque os aplicativos parecem
nove sites são notificados de acordo jogo, mania mundial que durou algu- úteis, funcionais ou divertidos perde-
VOCÊ
a engenhosa websérie Do Not Track, mas semanas, a população mundial mos de vista que há riscos em deixar
Não faltam denúncias sobre a vigilância um retrato alarmante de como ope- conectada forneceu pelo celular infor- nossas vidas expostas. Informações
de cidadãos comuns por corporações e ra a privacidade e a economia digital
da rede. Entre eles, Google, Facebook
mações de seus contatos, localização,
câmera e microfone.
relacionadas à saúde, um prontuário
ou a compra de remédios, podem es-
agências governamentais. Apesar delas, e Twitter que, juntos, são capazes de O Waze, aplicativo que facilita a tar sendo usadas no cálculo de uma
ESTÁ
monitorar seu trajeto de navegação na vida dos motoristas, é, também, um apólice de seguro. “As pessoas com
estamos nos preocupando com a nossa rede. Em uma pesquisa sobre o mer- grande coletor de dados. Como cada dados mais expostos podem acabar
privacidade na rede? cado de dados pessoais feitas por Sér-
gio Amadeu, Rodolfo Avelino e Joyce
condutor está em constante deslo- sendo mais taxadas por algum tipo de
problema que se imagina que ela te-
NU
POR CAROLINA MORAES
Souza, pesquisadores da Universida-
de Federal do ABC, os 100 sites mais (Temos que) nha”, explica Francisco Cruz, diretor
do InternetLab, centro que pesquisa
acessados do País enviam microinfor-
mações de navegação (os chamados
pegar o que direito e tecnologia. “E isso não se es-
gota nas corporações. O governo tam-
cookies) de seus visitantes para outros
956 sites. E os usuários raramente
é nefasto e bém pode utilizá-los para reproduzir
tratamentos discriminatórios.”
desconfiam desse compartilhamento.
Um paralelo muito usado pelos
transformar em Cruz também alerta para a falta
de regulamentação dos dados pesso-
que militam pela privacidade ajuda
a entender o tamanho do problema:
algo positivo ais no Brasil, mesmo com a imple-
mentação do Marco Civil da Internet
os dados são como urânio. Se esse Sérgio Amadeu de 2014. “Estamos devendo aos cida-
elemento está espalhado pela natu- dãos brasileiros uma lei geral de pro-
1
Senhas Fortes
da CIA com códigos de soais são cada vez
Use senhas longas, com diferentes caracteres e as troque periodicamente. É
programação que per- mais simples. Há
importante não usar a mesma em diferentes plataformas
mitem espionar celu- uma comunidade
lares com sistema An- que desenvolve fer-
2
Buscadores alternativos
droid (do Google), iOS É possível migrar para buscadores como o DuckDuckGo, que não armazena seus ramentas mais fá-
(da Apple), Windows dados e utiliza as informações de origem Crowdsourcing, como o Wikipédia ceis para o usuário
(da Microsoft) e smart final. Não se trata
TVs da Samsung, todos mais de saber pro-
3
Navegação anônima
intensamente presen- Usar o Tor como navegador, uma rede global descentralizada, garante que quem fundamente sobre o
tes no nosso dia-a-dia. recebe os dados enviados não consiga rastrear sua origem. Baixe em torproject.org algoritmo que está
Quatro anos antes, em por trás, mas sobre
maio de 2013, Edward o que está em jogo
4
Snowden revelou à im-
Navegação criptografada quando somos vi-
Para garantir que o navegador acesse sites sem que nossas informações sejam ser
prensa programas do lidas por qualquer um, baixe o HTTPS Everywhere, um adicional de navegador
giados e como agir.
sistema de vigilância “Temos que hackear
global construído pelos a lógica de merca-
5
Estados Unidos. O que Chats criptografados do, no sentido de
os hackers do mundo Assim como a navegação, é importante que as mensagens sejam criptografadas. inverter essa lógica.
inteiro não cansavam O TextSecure (Android) e Signal (iPhone) são exemplos de chats seguros Pegar o que é nefas-
de falar era verdade: to e transformar em
somos monitorados. *Essas dicas foram feitas a partir da conversa com membros do coletivo Actantes e do algo positivo”, diz
Com a potencialização guiaTem Boi Na Linha, disponível em temboinalinha.org
Sérgio Amadeu.
JOGAR
PARA
lidade de controlar jogadores virtuais. modelo em 2008 e, em 2012, ganhou zer da pessoa para transformar a
A pergunta é: por que não usar essas o Prêmio Abril de Jornalismo na cate- comunicação publicitária, ela mes-
características nas profissões? goria Uso de Redes Sociais com o jogo ma, em uma fonte de prazer para o
Mesmo ao aplicar a técnica a Filosofighter. O intuito era criar um consumidor: isso é o advergame ou
diferentes áreas, as características game que demonstrasse as diferenças o ingame ad.”
APRENDER
próprias dos jogos se preservam: no pensamento de nove filósofos por Nas relações públicas, os games
deve haver regras, contexto, objeti- meio de recursos como o perfil dos também abrem novas portas. Além
vo e sistema de pontuação, explica personagens no Twitter e um teaser de motivar e agregar diversos setores
o mestre em comunicação pela Fa- explicativo no Youtube. de uma empresa, são mais uma ferra-
culdade Cásper Líbero Luiz Augus- O professor da Cásper Líbero menta para relacionar e interagir com
to Barna. Assim, as tarefas não es- Marcelo Santos, estudioso do tema, o público, ajudando na formação de
A gamificação chega à área de comunicação Brincar é coisa antiga. No século tabelecem apenas uma meta e uma afirma que a aceitação de modelos imagens e reputação. De acordo com
4 a.C., Platão já apontava a impor- recompensa, mas se tornam um de- gamificados ainda é um problema Barna, uma empresa que investe em
e ressignifica processos desgastados ao tância das atividades lúdicas para o safio e uma atividade mais engaja- para a mídia tradicional: “Pelo gran- uma comunicação gamificada e lú-
transformá-los em atividades lúdicas desenvolvimento da personalidade
e do aprendizado. Jogar bola, pega-
dora e eficiente. “Trabalhar com essa
motivação intrínseca do ser humano
de risco que sempre se viu de apro-
ximar jornalismo do entretenimento,
dica “reforça sua cultura interna de
uma maneira muito mais prazerosa e
-pega, pular corda, rodar peão, brin- permite que as pessoas tenham mais demorou muito para se permitir essa eficiente”. A produção de audiovisual
POR BEATRIZ FIALHO
car de bonecas, as brincadeiras de liberdade para testar novas pers- gamificação do conteúdo noticioso”. também se apropria dos jogos e ex-
rua sempre despertaram a imagina- pectivas e encontrem soluções mais Outra ferramenta de gamificação plora o seu potencial interativo como
ção. Hoje, certo ou errado, os jogos criativas, de uma maneira mais pra- muito aplicada ao jornalismo são uma forma de construir novas narra-
eletrônicos ocupam esse espaço des- zerosa”, diz Barna. os quizzes e as palavras cruzadas. tivas. O próprio modelo de realidade
de os primeiros anos de vida de uma O potencial dos games em atrair a Embora não sejam inovadoras e tão virtual abre um horizonte de novas
criança. Em um mundo que exige atenção e direcioná-la já foi captado pouco narrativas digitais, as opções possibilidades fortemente atreladas
cada vez mais soluções criativas, o lú- por sistemas educacionais e escolas. se mostram efetivas. aos jogos. Certeiras ou não, o impor-
dico está em alta. E os games podem Agora é a vez de empresas em fases As agências de publicidade já in- tante é arriscar e entrar no jogo.
ser a ponte entre a criatividade natu- de treinamento e recrutamento pas- vestem em jogos há pelo menos três
ral dos pequenos e a necessidade de sarem pelo mesmo processo. A Opus- décadas. Ainda em 1983, a Atari,
resolver os problemas da vida adulta. phere, empresa brasileira de gamifica- empresa de jogos, desenvolveu uma
Há um nome para essa tendência: ção, fez uma pesquisa pelo termo em releitura de Space Invaders a pedido
gamificação, do inglês gamification. perfis do Linkedin em 2015 e elencou da Coca-Cola em que os alvos eram
Vendida como a promessa de ser a as dez companhias que mais aparece- substituídos pelo logo da Pepsi como
última Coca-Cola do deserto, a gami- ram nesses perfis. Entre elas, estão as forma de reforçar a cultura da empre-
ficação consiste em usar a lógica de gigantes Totus, Itaú e Samsung. sa entre os funcionários.
jogos, eletrônicos ou analógicos para A área da comunicação também A alocação de conteúdo publi-
resolver problemas. Um jogo de car- está nesse jogo. O newsgame é um citário dentro do contexto do game
tas em duplas demanda cooperação. formato em expansão que consiste em também é uma técnica comum, que
O xadrez exige concentração e pen- transformar grandes reportagens em ganhou repercussão com os banners
samento alargado. Uma partida de jogos nos quais o leitor-jogador dire- da campanha do ex-presidente ame-
futebol, basquete ou vôlei é lazer, mas ciona a própria leitura, e por sua vez ricano Barack Obama, posicionado
também competição. Os games enga- obtém informações em uma ordem no jogo de futebol americano Mad-
jam as pessoas e as motivam. No Fifa personalizada. A Revista Superin- den 13. Segundo Santos, o modelo
17, qualquer um pode fazer um gol de teressante, uma das pioneiras nesse funciona bem. “Para comunicar, a
bicicleta, mas desde que tenha a habi- subgênero, começou a adotar esse marca deixa de interromper o pra-
TEIRAS
DA DA VI
M FRON
MOMENTOS
MÍLIA SE
SHARE
DIVERSIDADE
ND
/MELHORES
AÇÃO/F
AVEL A
DIVULG
R
AÇÃO/T
LGAÇ ÃO
DIVULG
DIVU
EIRAS
MÍLIA SEM FRONT
DIVULGAÇÃO
/TRAVEL AN
D SHARE
DIVULGAÇÃO/FA
DIVULGAÇÃO/MELHORE
S MOMENTOS DA VIDA
Os destinos de uma parisiense e A francesa Allyson Natier, de 25 sal era poder explorar o mundo. Mas hora do parto, foram para Paris, onde um segundo bebê. Noam nasceu em balhando em casa ou em qualquer lu-
de um carioca se cruzaram na inter- anos, e o brasileiro Bruno Pinheiro, de era preciso ter alguma fonte de renda. Ella nasceu. Após algumas semanas, 2016, também em Paris. A família gar do mundo. “Elas têm seu negócio
net. E ganharam a estrada. Em uma 34, se conheceram três anos atrás no Decidiram apostar nos conhecimen- prosseguiram a viagem e seguiram aumentou, mas isso não foi motivo pequeno e não conseguem resultado.
conexão que une amor e trabalho, Couchsurfing, um site de acomodação tos do brasileiro sobre marketing para Espanha, Noruega, Turquia e para abandonar a estrada. Desta vez, Ensino tudo com base em três tipos
eles carregam na bagagem apenas o grátis na casa de moradores locais. digital. Depois de atuar na Europa e Marrocos. Ella completava oito me- o destino foi o Brasil, para tratar de de liberdade, de tempo, financeira e
desejo de conhecer o mundo. Se no Num certo dia, Pinheiro recebe uma percorrer 23 países, Pinheiro decidiu ses de vida, quando o trio iniciou uma negócios. Nascia o projeto ‘Família geográfica”, explica ele, que lançou o
passado, ser mochileiro era a única mensagem inusitada. “Ela tinha vindo trabalhar como consultor, selecionan- viagem pela Ásia. Sem Fronteiras’. livro Empreenda Sem Fronteiras.
opção, hoje, ele é um nômade digital. para o Brasil e queria continuar falan- do poucos clientes. “A limitação está na cabeça dos O mundo online trouxe ao cario- Allyson cuida de Noam e Ella, e
Graças à tecnologia e à rede mundial do português. Namoramos online por Durante os preparativos para a pais. Você consegue aproveitar da ca uma família e uma carreira de su- também escreve para o site deles, o
de computadores, trabalhar, ganhar uns seis meses”, relembra. Primeiro, grande viagem, Allyson engravidou. mesma forma. As crianças se adap- cesso como consultor. Ele abriu uma ‘Família Sem Fronteiras’. O objetivo
dinheiro e ter experiências fantásticas ele foi para França, conhecê-la pesso- Mas os planos não mudaram. Em tam onde elas estiverem”, diz Pi- empresa de treinamento de negócios do blog é pagar os custos de trans-
explorando o planeta virou um novo almente. Depois, ela veio para o Rio. 2014, o casal iniciou uma viagem pela nheiro. Durante essa viagem, Ally- online para ensinar as pessoas a ga- porte e alimentação, já que vivem
modelo de negócio e de vida. Um dos sonhos traçados pelo ca- América do Sul. Quando chegou a son descobriu que estava esperando nharem dinheiro com a internet, tra- de hotel em hotel. “A gente faz uma
SHARE
em nível global. Traduz um momento tra, eles entram em contato com as lândia. O casal começou a aventura,
L AND
de transformação no mercado de tra- empresas via Linkedin, mandam pro- encontrando culturas, pessoas e indo
balho com mais autonomia e inde- postas e fazem reuniões por Skype. a lugares desconhecidos da Oceania.
/TRAVE
pendência. Para a profissional, não Nunca precisaram se encontrar pes- Fizeram parcerias com empresas de
é uma solução que sirva para todos. soalmente com um cliente para fechar turismo, albergues, hotéis e pousa-
AÇÃO
“Tem que ter competências não só na um negócio. “O pagamento da viagem das. Eles ofereciam exposição no site, Buscando fugir de escritórios,
DIVULG
área de comunicação, mas de outros desde o dia 1 foi produção de conteúdo, nas redes sociais e em uma websérie Bárbara e Vagner foram para
a Nova Zelândia e os próximos
idiomas e capacidade de lidar com as nunca tiramos das nossas economias”, em troca de algumas noites no lugar.
destinos do casal incluem a
culturas. Tem que ter softskills, que explica a jovem. O canal no Youtube Em um ano e sete meses, não paga- Austrália e os Estados Unidos
são competências de relacionamen- recebe atualizações diárias. O foco é a ram nenhuma acomodação na Nova
to, parte social e psicológica para dar rotina, as dificuldades, as pessoas e as Zelândia. “É um país incrível para
conta de tudo isso”, explica. belezas que encontram no caminho. fazer parcerias. As pessoas gostavam
Funcionários de multinacionais, Com milhares de seguidores, as redes da história que a gente estava con-
Rômulo Wolff e Mirella Rabelo resol- sociais do Travel and Share passaram a tando porque era uma ideia de viver
veram largar a vida em São Paulo para ser um local de desejo das marcas por de uma forma mais livre com menos
explorar os continentes. Eles já acumu- conta da audiência do canal. estresse, menos capitalismo, mais
lavam experiências de terem morado Segundo Rômulo, cerca de 80% saudável”, conta ela.
em outros países. Mas o que os uniu foi do dia é destinado à produção de con- Mas as parcerias não seriam sufi-
o aplicativo de relacionamentos Tinder. teúdo. “A gente chega em uma praia, cientes para cobrir as despesas. O jeito
A mineira de Poços de Caldas instalou tem que saber o que vai gravar, pegar foi trabalhar em outros ramos, o que le-
o programa e encontrou o rosto do as imagens, contar a história, voltar vou o casal a viver momentos surpreen- Rômulo e Mirella já viajam juntos pelo
mundo há mais de dois anos
gaúcho. Ele tinha voltado para o Brasil para o carro para editar o vídeo para dentes. “Ficamos três meses colhendo
após nove anos na Europa. O bate-papo subir no dia seguinte. Não tem aqui- flores em Tauranga, que foi uma expe-
virtual virou namoro, uniu sonhos e de- lo de sentar na praia e ficar três horas riência muito legal. Trabalhos como ge-
pois o projeto Travel and Share. vendo a água”, explica. Mirella não rentes de um albergue e vendemos ce-
O casal mandou e-mails para mais nega que estar o tempo em viagem reja no Natal. Foi maneiríssimo. Uma
de 150 empresas para pedir patrocí- cansa, mas o trabalho acaba sendo o grana forte para seguir viagem. A gente
DIVUL
GAÇÃ
O/MEL
HORES
MOME
NTOS
DA VID
106 A
maio • junho • julho • agosto 2017 CÁSPER 107
P L A N E J A M E N TO V I S UA L
“Chamá-lo de
PENSAR
momentaneamente, mas essa medida pautar em três valores principais: em-
emergencial não funcionaria no longo patia, colaboração e experimentação.
prazo. Para resolver de maneira mais
humana e visando erradicar de vez a
A empatia é saber se colocar no
lugar do próximo. “Desconstruir cren-
uma ferramenta
subnutrição, implementaram-se aulas ças e valores para conseguir se conec-
é diminuir o
PARA INOVAR
de culinária em uma aldeia para en- tar e ter a sensibilidade para entender
sinar as famílias a aproveitarem me-
lhor os nutrientes em suas refeições.
o que o outro espera”, explica Mario
Rosa, gerente de Negócios da Escola
seu potencial
Os resultados foram significativos: a
subnutrição infantil caiu de 65% para
de Design Thinking Echos. Na cola-
boração, é importante agregar novas
transformador
20%. A essência para a solução foi se mentes no processo e estimular o pen- Mario Rosa
Design thinking chega como uma
abordagem inovadora e focada nas
pessoas para solucionar problemas
POR BEATRIZ FIALHO
REFERÊNCIA DO GRÁFICO: MINI TOOL KIT DE DESIGN THINKING - ESCOLA ECHOS DE DESIGN THINKING
EDICAO
delos de profissão”. -
-
Priscila Gonsales é diretora-executiva do
Instituto Educadigital
EXTRA
110
Todo primeiro domingo do mês
maio • junho • julho • agosto 2017
às 23h30, na TV Gazeta
CINEMA
O GESTOR DA
já que vivemos um momento tão que as pessoas não percebam o que é
bom para o setor? a longa trajetória de construção das
Tive a possibilidade e a felicida- instituições. Políticas públicas são
de de contribuir à frente da Ancine, resultado de conflito, múltiplas von-
contei com a confiança do presidente tades e interesses que se chocam coti-
7ª ARTE
Lula que me indicou para diretor e dianamente e que também encontram
depois me fez presidente da Ancine. O PNE um caminho de serem equacionadas e
Meu mandato chega ao fim, desem- estabelece processadas. É isso que nos fez cons-
metas que
penhei as minhas tarefas dentro dos truir o Plano de Diretrizes e Metas,
garantam a
limites que foram postos e dentro do continuidade aprovado em 2012 por unanimida-
que foi a minha capacidade. Sou grato do crescimento de no Conselho Superior do Cinema,
Em entrevista exclusiva, o presidente da Agência Nacional do Cinema, aos representantes do setor e a todos os do setor até
2020, como
que tinha representantes de todos os
seus agentes econômicos pela contri- setores da atividade. É um plano para
Manoel Rangel, fala do fim de sua gestão que durou uma década buição que deram. É hora de uma re-
a expansão
do mercado dez anos e que constitui uma espécie
novação que permita que outros dêem exibidor de pacto entre o conjunto dos agen-
POR GUILHERME GUERRA continuidade à frente da Ancine, dando tes econômicos do setor audiovisual
conta dos desafios que se apresentarem. na perspectiva de fazer do Brasil um
Em 2007, Manoel Rangel assumia o cargo de presi- sidente da agência e comemorou os vistosos resultados, grande centro produtor e progra-
dente da Agência Nacional de Cinema (Ancine). Cineasta como a de ter feito o número de salas saltar de 1.635 para Houve uma manifestação, em Ber- mador de conteúdos audiovisuais,
mais conhecido pela sua atuação política do que pela pro- 3.005 nos últimos 10 anos de mandato, que termina em lim, de cineastas preocupados com tornando-se uma das cinco maiores
dução artística, Rangel fora convidado por Gilberto Gil, maio de 2017. o futuro da Ancine, que foi criada A Lei do economias de audiovisual do mundo.
então ministro da Cultura, para revolucionar o setor au- Crente de que a consolidação do setor audiovisual só após uma manifestação dos cineas- Audiovisual,
anterior à
diovisual no País. Àquela altura, a produção, distribuição será possível por meio da criação de políticas públicas, tas nos anos 2000. Como analisa E qual foi a política pública decisi-
criação da
e exibição de filmes injetavam R$ 8,7 bilhões ao Produto Rangel vê a regulamentação do serviço de vídeo por de- essa situação? Ancine e que va para que o setor avançasse nesse
Interno Bruto (PIB). Em 2014, apesar da generalizada manda (ou VOD, do inglês), como Netflix e HBO GO, A Ancine foi criada dentro de um retomou a período?
desaceleração da economia, essa cifra saltou para R$ 24,5 como o mais recente e maior desafio a ser enfrentado. A esforço geral do governo e da socieda- capacidade Um dos momentos de grande sal-
do Brasil de
bilhões. Representou um avanço de mais de 8% ao ano, Ancine deve fomentar ainda a produção de jogos eletrôni- de, que acreditaram na importância to foi a criação do Fundo Setorial do
produzir filmes
muito superior ao crescimento anual de outros setores. Se cos, área em que o Brasil hospeda “milhões de jogadores”, de o Brasil voltar a ter uma política Audiovisual, porque ele recuperou a
em 2002 o Brasil lançou 29 filmes nacionais, no ano pas- mas tem muito poucos realizadores. Afinal, se há tantos nacional do cinema e audiovisual. O capacidade de investimento do Esta-
sado esse número saltou para 143. consumidores, por que não incentivar a produção? pessoal do meio audiovisual liderou do no desenvolvimento da política au-
Não há milagre, naquela época toda uma movimenta- diovisual. Nós fizemos com que esse
mas uma década de ção que ajudou a ampliar a consciên- fundo fosse constituído de tal forma
ELZA FIÚZA/AGÊNCIA BRASIL
trabalho capitaneado cia dessa necessidade. A Lei 8.685, a que desenhássemos uma estratégia
por Manoel Rangel e Lei 11.437 e a Lei 12.485 são fruto de multifocal de todos os segmentos,
sua equipe, reconhe- uma consciência da importância de apostando na parceria entre produ-
cem até alguns de seus que o Brasil ocupe um espaço através ção independente e a televisão brasi-
antigos detratores, Criou o Fundo dos filmes e obras seriadas brasileiras. O Lei da TV leira, entre distribuição e produção.
como Cacá Diegues Setorial do Acredito na existência dessas bases Paga, criou as O segundo grande salto é aprovação
Audiovisual obrigações de
(“é verdade que graças sólidas, aprovadas pelo parlamento da Lei da TV Paga. Ela representou
e ampliou a carregamento
ao sistema criado pela capacidade brasileiro envolvendo todo o arco po- de conteúdo a geração de uma enorme demanda
Ancine, alcançamos regulatória da lítico representado pela sociedade. brasileiro e de filmes e obras seriadas brasileiras.
um número inédito Ancine amplicou a A lei permitiu também que o Fundo
capacidade de
de lançamentos, 143 Existe alguma possibilidade de Setorial do Audiovisual ganhasse a
ação do Fundo
filmes”, afirmou para desmonte dessas bases que hoje Setorial do robustez necessária para fazer política
O Globo). Em entre- sustentam a Ancine? Audiovisual pública em escala de Brasil. Há outros,
vista exclusiva à revis- O Brasil tem uma baixa tradição como o Cinema Perto de Você, um pro-
ta CÁSPER, realizada em construir instituições sólidas. A grama que alavancou a expansão do
em março, ele fez um Ancine vem sendo construída ao lon- parque exibidor ao longo dos últimos
balanço das três ges- go de 15 anos e já se revelou em seu anos. Isso permitiu que as empresas
tões como diretor-pre- pleno potencial. Há um corpo técnico brasileiras seguissem competindo nes-
Com Manoel Rangel, setor audiovisual cresceu mais de 8% ao ano se mercado de fortes nomes nacionais.
muito capaz e profissional. Por outro
ALICE FORTES
Uma larga pulseira de miçangas Apesar de instrutor, Portella pri- sociação Filmes de Quintal. No ano
azuis e pretas, discreta sob a manga vilegia o trabalho e as escolhas dos seguinte, teve seu primeiro contato
da camisa branca, é o único elemen- próprios ameríndios. “A gente tem com alguns integrantes do Vídeo nas
to que, à primeira vista, liga aquele que saber o que querem mostrar Aldeias, que fizeram uma retrospec-
homem à cultura indígena. Sentado para eles. Os Baré, por exemplo, tiva de seus filmes no festival.
em um café no Centro Cultural São faziam cortes absurdos, algo muito Essa experiência foi o ponto de
Paulo, está apenas de passagem por sofisticado, sozinhos. Não tinham partida para seu mestrado, que rela-
sua cidade natal. Deixou-a aos 17 background para usar isso como a ta 10 anos de sua pesquisa na antro-
anos para estudar artes visuais em gente, que aprendeu numa escola. pologia visual. O trabalho, intitulado
Belo Horizonte. Cumpre ali uma Fizeram isso executando a mon- “Essa máquina não caiu do céu”, em
função intimamente relacionada à tagem que eles pensaram. Aquilo referência à câmera, metaforiza a re-
sua vida e sua carreira: Pedro Por- que o Lévi-Strauss dizia que tanto lação desigual entre homem branco
tella é um dos curadores da Aldeia o cientista como o xamã chegam ao e os ameríndios e foi defendido em
SP, uma mostra de cinema indígena. mesmo ponto através de vias dife- 2014 na UFMG. Aos 41 anos, Por-
Desenterrou a pulseira de seu rentes”, reflete. tella planeja ainda o doutorado na
baú etnográfico apenas para aquela Essa perspectiva é apenas uma Inglaterra, onde passou praticamen-
ocasião. Foi presente de uma tribo das infinitas riquezas que os amerín- te todo o ano de 2016 ministrando
Ikpeng, um dos tantos que Portella dios têm a apresentar. As tradições workshops sobre antropologia visual.
recebeu ao longo de 12 anos em orais, a roçar milenar, a medicina “A máquina é feita com os mi-
que percorreu 30 tribos indígenas tradicional, o conhecimento da ter- nerais que saem do solo, Omama, o
grande deus dos Yanomami. A má-
A IMAGEM DO ÍNDIO
quina não caiu do céu, ela já existia
O antropólogo Pedro na terra, e é como se o homem bran-
Portella ensina os povos co tivesse roubado essa substância
dos indígenas. E os indígenas toma-
indígenas a documentarem ram essa máquina de volta, toma-
ram essa voz de volta, porque o não
suas vidas indígena é como um ladrão de vozes,
POR PAULO HENRIQUE POMPERMAIER
trabalhando com cinema etnográ- ra e da floresta são alguns dos ele- um ladrão de olhares”, explica.
fico. Certa vez foi presenteado com mentos. Perpetuados na imagem, Portella já exerceu outras fun-
ROBERTO KOTIRIA
uma iguaria exótica para os bran- empoderam os índios e resgatam sua ções mais burocráticas, como con-
cos, mas um gesto sagrado para os tradição em um país que ainda não sultor da Unesco e analista do acer-
caçadores Kaxinawá: “Como chego os reconheceu. Tornam-se “registros vo do Museu do Índio, da Funai.
lá ensinando algo novo, uma nova políticos, nessa pátria ainda genoci- Nessas atividades, ficou menos de
tecnologia, eles precisam retribuir e da”, na observação de Portella. um ano, preferindo sempre suas ex-
eu ganho um miolo de anta. Fiquei Entre suas trilhas pelos passos an- periências etnográficas. Ele afirma
emocionado e comecei a perceber cestrais, já percorreu Peru, Colômbia que aprendeu mais com o índio do
como as trocas são importantes en- e Guiana Francesa organizando ofici- que com a sociedade contemporâ-
tre nós e os outros. A gente aprende nas de audiovisual. Chegou a enfren- nea. “Desde o primeiro momento
a trocar”, diz. tar resistência de alguns povos. Foi o aprendi a dormir em rede, a am-
Seu percurso no audiovisual in- caso dos Yanomani, que negaram a pliar nossos gostos, nosso paladar, a
dígena começou em 2004, quando câmera num primeiro momento, mas aprender com as histórias deles, com
integrou o projeto Vídeo nas Aldeias, aos poucos foram aceitando a im- as cosmogonias, com os mitos”, ex-
que organiza oficinas cinematográ- portância do registro imagético para plica, afirmando que foi preciso se
ficas para os povos originários. Co- educar o olhar do homem branco. desapegar de uma visão asséptica,
ordenou, em seu primeiro projeto, Antes de organizar oficinas com que não queria contato com a terra.
encontros com os Kaxinawá do Rio o Vídeo nas Aldeias, Portella já tinha “Ensinar audiovisual consiste mais
Jordão, no Acre. Com algumas câme- projetos nos quais trabalhava com em aprender do que ensinar, e é um
ras e computadores, ficavam de duas arte e vídeo nas periferias. Em 2003, privilégio. A gente deixa de acreditar
a quatro semanas ensinando os índios foi convidado para integrar a equipe que os outros têm crença e nós temos
a manusearamo equipamento: filmar, do Festival do Filme Documentário o saber. O indígena tem seu próprio
fazer foco, criar noções de continui- e Etnográfico de Belo Horizonte, o saber, sua própria ciência, que preci-
dade, descarregar em HD, editar. Forumdoc.bh, organizado pela as- sa ser respeitada.”
NA TORRE
com mais de 120 passageiros que ia do espaço aéreo e integrar o territó-
do Rio de Janeiro a Miami. O piloto rio nacional, com vistas à defesa da
acionou o código de interferência ilí- Pátria” significa que a instituição é
cita no transponder por 17 segundos responsável pela defesa aérea brasi-
DE CONTROLE
logo após a decolagem e os controla- leira, gerenciamento do espaço aé-
dores de tráfego e defesa aérea pas- reo, busca e salvamento aeronáutico,
saram a monitorar a aeronave. Ter- desenvolvimento de tecnologia aero-
rorismo no espaço aéreo brasileiro? espacial, prevenção e investigação de
Caças F-5 Tiger da FAB foram acio- acidentes aeronáuticos. Traduzindo:
Os bastidores da assessoria de imprensa da Força nados para escoltar o voo. Nossa fun-
ção naquele momento era reunir as
cuidar da segurança de quem voa.
Aparentemente essa rotina é
Aérea Brasileira em casos de emergência informações cruas, cheias de jargões uma miscelânea de atuações, prato
e sabíamos que uma ocorrência des- cheio para profissionais de comuni-
sa natureza às vésperas da Copa do cação social sedentos por trabalho
POR SIMONE DANTAS* Mundo seria muito ruim para o país. sem hora, local, previsão ou rotina.
na FAB é quase
crises não é diária e enxerga uma momento em que pude servir à Força milhão. Essa diferença, segundo o nossa atuação. Eles tendem a valori- assunto, por motivo pessoal, seja por
fórmula interessante para lidar com de uma maneira exemplar”, lembra o major, se dá pelo fato de a FAB ter zar a cobertura dos meios tradicio- não ter ciência do tema completa-
um cenário turbulento. “São, na ver-
dade, ápices de divulgação de alguns rotina jornalista que atuou como assessor de
imprensa do projeto que custará cerca
ingressado nas mídias sociais um ano
após as outras armas. Para Ribeiro,
nais como o rádio e a televisão, mas
isso está mudando”, afirma Ribeiro.
mente, e por entender que outras pes-
soas estão mais capacitadas.”
assuntos críticos, sempre envoltos de U$$ 5 bilhões ao Brasil e prome- é importante destacar o processo Para ele, a comunicação será melhor O profissional de relações públicas
em um contexto de interesses, desco- A diversidade de atividades é te um retorno de U$$ 9 bilhões em constante de reavaliação, reinvenção à medida que os gestores entenderem deve estar pronto para superar essas
nhecimento e, algumas vezes, erros”, também o espelho do efetivo que transferência de tecnologia e offset – e renovação que os profissionais de o cenário de convergência e permiti- situações, não abalar a relação com o
explica o jornalista. Para ele, estar atua na comunicação social da FAB. compensações de natureza industrial, mídias sociais se obrigam a passar. rem que as ferramentas de comuni- assessorado e tentar descobrir meios
nesta área e vivenciar os momentos São militares e civis de regiões e for- tecnológica ou comercial. Aviador, Ribeiro atua há 14 anos na cação da instituição trabalhem de de ser ouvido em uma oportunidade
de turbulência lhe deu diversas per- mações diferentes, com experiências Num cenário de convergência área de comunicação social. “Ao fazer maneira complementar. adequada. “Um bom assessor não deve
cepções que facilitam seu dia-a-dia. variadas que enriquecem o dia-a-dia de mídias, a FAB mantém perfis em uma comparação superficial das mi- jamais achar que a instituição está
“Com a organização de informações da instituição. “Nas Forças Arma- mídias sociais que atuam também nhas horas de voo e das minhas horas A diversidade de gerações e for- sempre certa, que o problema é da so-
(algo tão pouco comum entre os jor- das vemos um culto significativo aos como ponto de prestação de infor- de comunicação social, chego à con- mações na instituição também pode ciedade, ‘é dos outros’, ‘é a imprensa’,
nalistas), trabalho duro e entendi- símbolos pátrios, mas o verdadeiro mações na gestão de crises. Abarca- clusão de que já sou um RP (profis- ser um obstáculo e, no caso da comu- etc. Se estivermos ali só para concordar
mento profundo da instituição para sentido disso, me parece, é a diversi- da na Subdivisão de Relações Públi- sional de relações públicas)”, afirma. nicação social, uma grande dificulda- com os chefes, não somos necessários.
a qual você trabalha, é possível atuar dade de origens. Essa diversidade me cas, a gestão de mídias sociais ain- Mestre em Jornalismo e Mídia e de. Segundo o jornalista Humberto Sempre há muito o que melhorar, mui-
bem, e ser respeitado”, ressalta. encanta”, destaca Leite, ao citar que da é coadjuvante em momentos de Especialista em Gestão da Comuni- Leite, há momentos em que as ações to mesmo”, conclui Leite.
Natural do Ceará e torcedor faná- se cada um de seus colegas de traba- crise. O major Marco Antônio Aidar cação Institucional, Ribeiro procu- não correspondem ao assessoramen-
tico do Fortaleza, Leite também nutre, lho usassem quimonos com as siglas Ribeiro, chefe da Subdivisão de Re- rou nos livros a resposta para a atu- to, porém isso não é muito diferente
desde a adolescência, a devoção pela de seus estados de origem, como nos lações Públicas e responsável pelas ação da FAB nas mídias sociais. Se- em outras instituições públicas e pri-
aviação. “Ser apaixonado por aviação campeonatos de judô, haveria quimo- mídias sociais da Força Aérea, conta gundo ele, o trabalho de redes sociais vadas. “Com o tempo, aprendi ainda a *Simone Dantas é relações
é a parte fácil, amar é manter essa nos com as expressões do ES, RS, CE, que este ainda é um assunto novo, na instituição inova e supera dificul- ter dois comportamentos: o primeiro públicas da Força Aérea
admiração mesmo com a convivência MG, SP, RJ, DF e PE. E não é dife- embora já tenham vivenciado focos dades. “Depois de estudar um pouco é saber que nem sempre o seu asses- Brasileira desde 2011 e aluna da
diária e o contato com eventuais nar- rente nos contatos com a imprensa. de crises nessas redes. sobre o choque de gerações, entendo soramento será seguido, e não morrer
pós-graduação lato sensu em
rativas não muito idealizadoras. E eu Os profissionais de comunicação da O perfil da FAB no Facebook que as gerações mais antigas, dos por causa disso. O segundo é - isso é
Jornalismo da Cásper
amo aviação”. Apesar de não ser um Aeronáutica lidam com pessoas de possui 1,3 milhão de seguidores, en- nossos comandantes, não aceitaram mais difícil de fazer no setor privado
FLAGRAS
O portfólio do
fotojornalista Felipe
Larozza, selecionado
URBANOS
pela agência
Magnum Photos em
sua comemoração de
70 anos
FOTOGRAFIA POR FELIPE LAROZZA
TEXTO POR FELIPE SAKAMOTO
Agora como Editor de Arte da Vice, Larozza fotografa cotidianamente para não perder a
prática. O clique é do verão de 2017, em Salvador (BA)
Em Setembro de 2014, o centro de São Paulo foi tomado por bombas, gás lacrimogêneo e pela fumaça preta de um ônibus incendiado
Apesar dos mais de 10 mil pipeiros se reunirem em Osasco para o combate conhecido com “Rio X SP”, Larozza
foi o único fotógrafo da imprensa a cobrir o evento em setembro de 2015
Depois do incêndio da Favela Portelinha da Penha, Zona Leste de SP, o fotógrafo registrou, em abril
de 2014, as crianças desabrigadas
Nos últimos dois anos, os paulistanos curtem o carnaval em ruas tomadas por blocos e festas
carnavalescas. Larozza registrou em 2017 a euforia que tomou conta da cidade nos quatro dias
CASPERIANAS
A prova deste ano foi programada para passar por três
CASPERIANAS
Para
lhos móveis para estabelecer conexões, o sociólogo alerta da Cásper Líbero aponta para um engajamento e uma pre-
que em algum momento é preciso se desconectar e ini- ocupação da instituição com a cultura da pesquisa.
ciar um diálogo entre pares. Nos outros dias do evento, Para o professor Luís Mauro, ter os trabalhos aprova-
ocorrerão reuniões dos 17 Grupos de Trabalho (GTs) que dos no evento mostra que a Faculdade está, mais uma
discutirão artigos científicos submetidos à Compós. vez, no mapa das discussões acadêmicas. “É importante
entender
Fundada em 16 de junho de 1991, a Compós nasceu também destacar o incentivo da direção e da coordena-
da inquietação de pesquisadores de programas de pós- ção. Sem um direcionamento institucional voltado para o
-graduação (os PPGCOMs de PUC-SP, UFBA, UFRJ, UnB, estímulo de pesquisas científicas, seria difícil realizarmos
Unicamp e Umesp) em qualificar seus cursos e aumentar essas participações”, conta.
a integração do conhecimento que circula nas pesquisas O programa de pós-graduação da Cásper Líbero in-
o economês
comunicacionais. Em pouco tempo, os maiores pensado- gressou, definitivamente, na Compós em abril de 2001.
res de comunicação do País encontraram na Compós o O professor Bernardo Isler, coordenador do PPGCOM, foi
espaço privilegiado para difundir e trocar experiências de um dos pioneiros da Faculdade a participar dos encon-
seus estudos e reflexões. tros antes mesmo do ingresso na associação, para logo
Com critérios rígidos para seleção de trabalhos que em seguida ser acompanhado de Erasmo Nuzzi, o mais
participam nos congressos, o evento se tornou de difícil longevo diretor da Cásper. A entidade, para além do con-
acesso. Nem todos conseguem ter papers aceitos pelos gresso que realiza, também atua na defesa dos interesses
pareceristas. A Cásper contará, este ano, com a participa- dos programas de pós-graduação de seus associados. Foi
Com uma abordagem simples, novo ma- Manual de introdução à Economia
ção de seis professores para apresentar seus artigos: José o que a Compós fez em meados dos anos 2000, quando a nual de Economia busca se aproximar do Jefferson Mariano
Alta Books Editora
Eugênio de Oliveira Menezes, Dimas Antônio Künch, João pós da Cásper teve de funcionar sub judice por 12 meses. público leigo 160 páginas
Alexandre Peschanski, Else Lemos Inácio Pereira, Liráucio A Cásper Líbero, ao longo da história, consolidou uma
Girardi Júnior e Luís Mauro Sá Martino. tradição em congressos acadêmicos. Na sala 1 do quinto
O professor Liráucio Girardi conta que participou pela andar da Faculdade, foi fundada a Sociedade Brasileira
primeira vez em 2015 com um texto sobre Pierre Bourdieu. de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), Por Adalton Franciozo Diniz*
No ano seguinte, sua pesquisa incidiu em outra discussão: em 12 de dezembro de 1977. Com quase 40 anos de exis-
a materialidade. Em um intercâmbio de ideias com outros tência, o congresso tem critérios menos rígidos, se com-
participantes de seu grupo de trabalho, Liráucio acabou se parados com os da Compós. Em 2015 e 2016, alunos do Quando Paul Samuelson lançou o seu livro Economics, brasileira e ao perfil de um público pouco familiarizado
interessando ainda mais pelo tema que estava abordando. segundo ano de jornalismo tiveram a oportunidade de em 1948, ele estabeleceu um novo padrão para os com a linguagem econômica, mas interessado em conhe-
Nesta edição, apresentará uma pesquisa que navega por apresentar trabalhos na Intercom a partir de um projeto manuais de introdução à Economia. O seu sucesso foi tão cer mais sobre o assunto. O resultado foi um livro que
seu objeto central. O professor ressalta que a participação da disciplina de metodologia. extraordinário que a obra ficou conhecida como o “livro- obedece a estrutura de exposição lógica consagrada pela
texto canônico” da Ciência Econômica e foi a base da obra de Paul Samuelson e que, com uma linguagem sim-
formação de três gerações de economistas em todo o mundo. ples e direta, também aborda temas da realidade brasilei-
Luis Mauro Sá Martino e Liráucio Girardi, professores da Faculdade, participam da Compós anualmente
O padrão estabelecido pelo livro de Samuelson tornou- ra. Desse modo, o livro atraiu um público leitor que, até
se incontornável e, até os dias atuais, todos que ousaram então, via o seu interesse por Economia frustrado pelo
CASPERIANAS
ignorá-lo ou subvertê-lo falharam miseravelmente. hermetismo, por vezes dispensável, dos manuais de Eco-
E eis que acaba de chegar às livrarias a nova edição do nomia disponíveis no mercado brasileiro.
Manual de introdução à Economia, do professor Jefferson Hoje, a quarta edição do livro é a prova do sucesso da
Mariano. Mariano é um pesquisador voltado para a temá- fórmula adotada por Mariano: respeitar aquilo que foi con-
tica do desenvolvimento econômico, com doutorado pela sagrado, todavia, adequando-o ao público brasileiro não ver-
UNICAMP e possui uma vasta experiência como analista sado, mas, interessado no assunto. Além da simplicidade e
nos mais respeitados institutos de pesquisa socioeconômi- da clareza, os aspectos do livro, que podem ser considerados
ca do Brasil: a Fundação Sistema Estadual de Análise de elementos que o diferenciam dos demais textos introdutórios
Dados (Fundação SEADE) e o Instituto Brasileiro de Ge- da disciplina, são o tratamento dos temas Contas Nacionais
ografia e Estatística (IBGE). A sua experiência profissio- e Mercado de trabalho. No tocante as contas nacionais, o li-
nal está coroada por sua brilhante carreira como docente vro incorpora as alterações mais recentes implementadas no
e conferencista. Atualmente, os estudantes, professores e método de levantamento do Produto Interno Bruto do Brasil.
funcionários da Faculdade Cásper Líbero têm o privilégio E, no caso do mercado de trabalho, há uma atualização dos
de desfrutar de suas aulas e de sua companhia. Diaria- conceitos e classificações que ainda não estão presentes nos
mente, podem constatar o quão generosa e pacientemente principais manuais de economia publicados no Brasil.
ele coloca o seu vasto conhecimento de Economia a dispo-
sição de todos aqueles que o cercam.
Há cerca de quinze anos, Mariano publicou um livro *Adalton Diniz é professor titular de Economia da
texto de Economia adaptado à realidade da economia Faculdade Cásper Líbero
REPRODUÇÃO FACEBOOK REPRODUÇÃO FACEBOOK
da escuta
Compartilhados na internet, permi- tes de afetividade, o autor contrapõe
Seu texto não é uma fala cética,
mas também não é uma fala in-
O autor apresenta a relação
entre comunicação e pertenci-
DO OUVIR
engasgos adequados a todo o pes- a necessidade de resgatarmos o
COMUNICAÇÃO
em um tema tão urgente como o ocupam ambientes, podemos dizer que também pertencimento, mas ao mesmo
tos. Menezes não nega essa tensão micas simbólicas, tecnológicas, cola-
da “corresponsabilidade planetá-
ria”, nos convoca a caminhar.
Certamente será preciso ler
geram ambientes comunicacionais nos quais é
impossível não participarmos.
tempo esconde o medo de ser
possuído, de ser rejeitado, da
amplificação da ferida que é ser
por Roberto D’Ugo* e perdas em seus diferentes graus de faz-se necessário um conjunto de
dade Cásper Líbero, instituição
na qual também é professor de
Teoria da Comunicação nos cur-
os degraus em direção ao cor-
po, à vida, à Terra onde toda
nossa aventura se desenrola, o
sos de graduação. Integra o Gru-
vro de José Eugênio O. de Menezes, é um convite ao reen- nários canadenses Harold Innis e Murray Schafer. em que o diálogo com filósofo tcheco- ou habilidades para sobrevivência no
cantamento da vida por meio do som; suas palavras resso- Cultura do ouvir e ecologia da comunicação, é articu- -brasileiro Vilém Flusser faz emergir universo das redes. Cultura do ouvir e ecologia da
am delicadas e avançam com a languidez própria de quem lado em cinco painéis comunicantes entre si. O primeiro uma imagem esperançosa sobre o ce- “Cultura do ouvir, vínculos e am- Comunicação
José Eugenio de O. Menezes
escolhe cultivar organicamente outras formas de pensar a capítulo apresenta as relações entre “Som, corpo e cultu- nário de intensas transformações que bientes comunicacionais”, último ca- UNI Editora
comunicação. Pesquisador no Programa de Pós-graduação ra do ouvir”. Estabelece as premissas da obra: “as inves- experimentamos. O termo “escalada pítulo, aborda pesquisas recentes que 123 páginas
em Comunicação da FCL, instituição na qual também é tigações a partir do som representam uma das portas de da abstração”, explica Menezes, foi ampliaram os horizontes de estudos
professor de Teoria da Comunicação, o autor percebeu acesso a uma perspectiva processual/sistêmica no estudo utilizado por Flusser para descrever ao redor da cultura do ouvir remeten-
há tempos que um dos caminhos do estudo da comuni- da comunicação”. Jogos de pertencimento e vinculação, as mudanças comunicacionais ocor- do-os a uma perspectiva de sustenta-
cação passa pelo corpo e pelos sons que o envolvem. Em capilaridades e dinâmicas comunicacionais apontam para ridas quando o homem, além de usar bilidade dos processos comunicativos.
companhia de Dietmar Kamper e Norval Baitello Jr., não a quebra de paradigmas e desvelam um horizonte há mui- a comunicação tridimensional, com Destacam-se ainda os objetivos do
considera o tempo como um opositor. Acena que “ouvir to esquecido: a ampliação do leque da sensorialidade para todos os sentidos do corpo, passou a projeto de pesquisa Cultura do Ouvir,
implica a lenta aprendizagem do sentir para acolher, tecer além da visão. Menezes parte do axioma de Harry Pross usar a comunicação bidimensional Vínculos e Ambientes Comunicacio-
conexões ou caminhar em busca das relações, dos sentidos (“toda comunicação começa no corpo e nele termina”) e (imagens), depois a comunicação nais, do Grupo de Pesquisa Comuni-
e do sentir”. Este seu livro é a expressão madura de um acolhe o desafio de Dietmar Kamper quando, no contex- unidimensional (escrita linear), e por cação e Cultura do Ouvir, da Cásper.
compromisso afetivo com a alma humana. to da saturação do olhar, ressalta que é “preciso mudar do fim também a comunicação nulodi- Incontestáveis são os méritos des-
A cultura do ouvir, defendida por Menezes, com seu ângulo de vista para o ângulo de escuta”. Eis aí a oportuni- mensional (expressa em forma de nú- sa obra que, ao permitir ser habitada
modelo ecológico de participação na comunicação, extra- dade da cultura do ouvir. meros), no universo digital. Menezes pelo leitor, com quem divide dúvidas
pola a perspectiva funcionalista de troca de informações Ao frisar a interdependência afetiva dos corpos, Me- considera a possibilidade de transitar- em rara franqueza, o transforma; e
e aponta para uma ciência da comunicação probabilística nezes aventura-se a explorar a hipótese da complemen- mos entre as quatro etapas do percur- que articula perspectivas tão promis-
e complexa, que demanda multidisciplinariedade. O que tariedade entre os meios primários (criados pelo próprio so conforme a necessidade, recordan- soras no estudo da comunicação apre-
está em jogo é um processo de ampliação da percepção corpo), secundários (quando um corpo utiliza um suporte do que afetos podem muito bem ser sentando a solidez, a engenhosidade
do outro, uma proposta de pesquisa que não confunde para se comunicar com outro corpo) e terciários (quando trocados, e efetivamente vivenciados, e a beleza algo enigmática de uma
comunicação com conexão. “A atenção à cultura do ouvir os corpos utilizam aparatos eletrônicos no processo co- por mensagens de smartphone. sinfonia de Sibelius. O som é também
permite perceber que estamos enredados em processos co- municativo). A referência retroativa de todos os meios ao “Dinâmicas que atravessam os um lugar, disse alguém.
municativos, participamos de uma teia de vínculos tam- corpo apresenta-se como chave legítima para a compre- estudos da comunicação” constituem
bém sonoros, cada vez mais admirados e espantados com o ensão dos desafios que a contemporaneidade apresenta à o foco do quarto capítulo. Nele, são
fato de que a perspectiva de participação na comunicação pesquisa da comunicação. destacadas pesquisas a respeito da
seja mais fecunda e adequada ao estudos dos fenômenos No segundo capítulo, a noção de “Ecologia da Comu- formação e atuação dos comunicado-
*Roberto D’Ugo é mestre em
comunicacionais do que a perspectiva de reação dos indi- nicação” é usada como “metáfora sistêmica para observar/ res e comunicólogos no contexto dos
Comunicação pela Universidade
víduos às ações de outros”, revela o autor. Em sua trilha investigar/compreender como, a partir do corpo, os pro- estudos da comunicação. Trata-se de
rumo a uma ecologia da comunicação, colhe contribuições cessos de comunicação transbordam por diferentes capi- um gesto a favor da conscientização
Metodista de São Paulo, bacharel
de diferentes correntes, em diálogo com Vicente Romano, laridades comunicacionais. Uma radioarte documental de que “os processos de comunicação em Comunicação Social –
Baitello Jr, Ivan Bystrina, Vilém Flusser, Ashley Montagu sobre uma pequena comunidade rural no México; obser- não se limitam ao que muitos em- RTV pela FAAP. Atualmente
e Christoph Wulf, entre outros. É possível talvez reconhe- vações empíricas das pinturas rupestres da Serra da Capi- pregadores contemporâneos ainda é Coordenador de Ensino do
cer ainda, nos silêncios e ressonâncias discretas do texto, vara (Piauí); e um podcast sobre cantos dos Pigmeus Baka chamam de ferramentas de comuni- Curso de Rádio, TV e Internet da
ecos distantes de Samuel Beckett, poeta da incomunicabi- (República dos Camarões) são os exemplos destacados de cação, em sentido instrumental”. Re- Faculdade Cásper Líbero.
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134 maio • junho • julho • agosto 2017 01010010 PRIVAC I D A D E PRIVAC PRIV
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