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Vigas: tipos e diagramas

Apresentação
Nesta Unidade de Aprendizagem veremos o que são vigas, como é o seu comportamento e como
são traçados os diagramas referentes ao esforço normal, esforço cortante e momento fletor.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Reconhecer os tipos de vigas mais comuns.


• Resolver o cálculo das equações para o esforço normal, esforço cortante e momento fletor.
• Construir os diagramas das solicitações internas.
Infográfico
Neste esquema você pode observar os tipos mais comuns de vigas.
Conteúdo do livro
Neste capítulo Vigas I da obra Teoria das estruturas, aborda como identificar e projetar uma viga
para que ela possa resistir aos esforços solicitantes provocados pelas cargas aplicadas
perpendicularmente ao seu eixo longitudinal.

Boa leitura.
TEORIA DAS
ESTRUTURAS

Douglas Andrini Edmundo


Vigas I
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Reconhecer os tipos de vigas mais comuns.


„„ Resolver o cálculo das equações para esforço normal, esforço cortante
e momento fletor.
„„ Construir os diagramas das solicitações internas.

Introdução
Neste capítulo, você vai ver como identificar e projetar uma viga para
que ela possa resistir aos esforços solicitantes provocados pelas cargas
aplicadas perpendicularmente ao seu eixo longitudinal. Por meio da
resolução das equações de equilíbrio, você pode desenvolver o projeto
de uma viga prismática e construir os diagramas dos esforços solicitantes
internos.

Conceito de vigas
Vigas são elementos estruturais constituídos de uma barra horizontal, na qual
a dimensão longitudinal predomina sobre as demais dimensões, como você
pode ver na Figura 1.
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Figura 1. Viga.

As vigas são projetadas para suportar cargas aplicadas perpendicularmente


ao seu eixo longitudinal que provocam tensões de cisalhamento e momentos
fletores devido a esforços de flexão (Figura 2). Também podem surgir esforços
axiais, ou esforços normais, porém os efeitos dessas forças axiais são muito
menores que os efeitos provocados pela força cortante e pelo momento fletor,
podendo ser desprezados em alguns casos.

Figura 2. Viga em estrutura metálica de uma ponte sendo instalada na


Rodovia Transpantaneira MT-060 (MT). Vigas biapoiadas são comuns
em estruturas de pontes rodoviárias.
Fonte: Logística (2017)
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Tipos de vigas mais comuns


A distribuição dos esforços internos solicitantes em uma viga depende das
condições de contorno que envolvem o projeto dessa viga. Ela também de-
pende da posição dos apoios e do tipo de cada apoio, dos vãos entre os apoios,
da existência de trechos em balanço ou não, bem como da configuração do
carregamento aplicado sobre a viga.
As configurações de vigas mais comuns em edificações são as mostradas
na Figura 3.

Figura 3. Configurações mais comuns de vigas.

Esforços solicitantes
O projeto de uma viga tem o objetivo de determinar uma seção transversal
que atenda às condições de resistência aos esforços internos provocados pelas
cargas aplicadas. Também é necessário haver inércia suficiente para vencer
os vãos entre os apoios.
Os esforços internos solicitantes, ou somente esforços solicitantes, são
esforços que surgem na seção transversal de uma viga. Eles são provocados
pelas cargas aplicadas, pelo comprimento dos vãos entre os apoios e pela
inércia, para limitar as deformações.
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Para determinar o valor dos esforços internos nas vigas, você deve utilizar
as equações de equilíbrio da estática para as vigas isostáticas, ou seja, vigas
que possuem o número de reações de apoio igual ao número de equações.

A partir do cálculo dos esforços solicitantes, é possível traçar os diagramas de esforços


solicitantes ou linhas de estado.
Os diagramas de esforços solicitantes representam graficamente a variação dos
esforços solicitantes ao longo do eixo de uma estrutura submetida à ação de esforços
externos (cargas, apoios e vãos).

Considere uma viga simplesmente apoiada (biapoiada) submetida a uma


carga concentrada P, aplicada no meio do seu vão. Observe as Figuras 4 e 5,
a seguir.

Figura 4. Viga biapoiada na posição indeformada. A seção S está perpendicular ao eixo


da viga.
Vigas I 81

Figura 5. Viga biapoiada na posição deformada. A seção S permanece perpendicular ao


eixo da viga.

Devido à aplicação das cargas, a viga sofre deformação. Você pode observar
que os esforços externos (cargas e reações de apoio) estão atuando apenas
em algumas seções da viga, porém todas as suas infinitas seções sofrem
deformação. Como as deformações ocorrem ao longo de toda a viga, você
pode concluir que os esforços internos são responsáveis pelas deformações.
Os esforços internos recebem a denominação de esforços solicitantes e são
divididos em quatro categorias. Duas das categorias são em forma de força e
outras duas em forma de momentos, todas atuantes nos centros de gravidade
das seções transversais da viga.

A análise dos esforços internos é feita considerando-se que ambas as faces de uma
mesma seção transversal possuem esforços positivos e negativos, garantindo dessa
forma o equilíbrio da seção transversal.
A maior atenção deve ser dada à convenção de sinais adotada. Assim, a somatória
das forças pode ser feita de forma correta e é possível a determinação do valor correto
dos esforços.
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Força normal (N)


A força normal é o esforço solicitante que atua em forma de força e tem sua
linha de ação perpendicular ao plano transversal da viga, ou seja, atua no
sentido longitudinal, paralelo ao eixo da viga. Você pode entender melhor
observando a Figura 6.

Figura 6. Força normal.

Considere a Figura 6. A força P atuando na viga em balanço irá provocar o


surgimento de esforços internos de força normal na viga. Seccionando a viga
em uma seção qualquer, será possível analisar os esforços internos para cada
seção da barra, como você pode ver na Figura 7.
Vigas I 83

Figura 7. Viga seccionada e esforços internos.

Aplicando a equação de equilíbrio das forças horizontais na seção S, po-


sicionada a uma distância qualquer x do engaste da barra, você pode analisar
o trecho à direita do corte da seção.

+ → ΣFx = 0
-N+P=0
N=+P

Convenção de sinais:
+ N = Tração
- N = Compressão
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Força cortante (V)


A força cortante é o esforço solicitante que atua em forma de força e tem sua
linha de ação paralela ao plano transversal da viga, ou seja, atua no sentido
perpendicular ao eixo da viga. Agora observe as Figuras 8 e 9 a seguir.

Figura 8. Viga em balanço sob ação de carga vertical.

Figura 9. Corte na seção S-S para análise dos


esforços internos.
Vigas I 85

Utilizando a equação de equilíbrio das forças verticais, você pode deter-


minar o valor de V na seção S, posicionada a uma distância x do engaste da
viga. Essa análise pode ser feita em qualquer posição ao longo do eixo da viga.
Cálculo da reação de apoio em A:

+ ↑ ΣFy=0
VA – P = 0
VA = + P

Face à esquerda da seção S:

+ ↑ ΣFy = 0
– V + VA = 0
V = + VA

Face à direita da seção S:

+ ↑ ΣFy = 0
V–P=0
V=+P

Convenção de sinais:
A força cortante é positiva na face direita da seção transversal e negativa
na face esquerda da seção transversal, como você pode ver na Figura 10.

Figura 10. Convenção de sinais.


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Momento fletor (M)


O momento fletor é o esforço solicitante que atua em forma de momento e
tem seu plano de ação perpendicular ao plano transversal da viga. Observe
a Figura 11, a seguir.

Figura 11. Viga em balanço e cortada para análise.

Aplicando a equação de equilíbrio para os momentos fletores, você pode


determinar o valor de M.
Cálculo da reação de apoio em A:
+↑ ΣMA = 0
VA – P.L = 0
VA = P.L
Face à esquerda da seção S:
+ ↑ ΣMs = 0
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– MA – M = 0
M = – MA
Face à direita da seção S:
+↑ ΣMs = 0
M – P.(L – x) = 0
M = P.(L – x)

Convenção de sinais:
O momento fletor é positivo quando tende a tracionar as fibras inferiores
da barra e negativo quando tende a tracionar as fibras superiores da barra.
Observe a Figura 12.

Figura 12. Convenção de sinais.

Momento de torção (T)


O momento de torção é o esforço solicitante que atua em forma de momento e
tem seu plano de ação no próprio plano da seção transversal da viga. Observe
a Figura 13, a seguir.
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Figura 13. Viga em balanço e momento de torção.

Neste exemplo, você vai analisar e determinar os esforços internos da viga a seguir,
submetida à ação de uma carga uniformemente distribuída.

Diagrama de Corpo Livre (DCL):


Vigas I 89

No DCL, você pode observar as reações de apoio, as cargas e a seção escolhida para
análise dos esforços internos.
Reações de apoio:

+ → ΣFx = 0
HA = 0
+ ↑ ΣFy = 0
VA + VB – (15.5) = 0
VA + VB = 75 kN
+ ↑ ΣMA = 0

VB = 37,50 kN
VA + 37,50 = 75 kN
VA = 37,50 kN

Esforços solicitantes: 0 ≤ x1 ≤ 5,0 m


DCL da seção x1:

+ → ΣFx = 0
HA – H1 = 0
HA = H1
H1 = 0
+↑ ΣFy = 0
90 Vigas I

37,50 – (15 . x1) – V1 = 0


V1 = – 15x1 +3 7,50
+↑ ΣMx1 = 0

M1 = – 7,5x12 + 37,5x1

Agora, você deve traçar o diagrama de esforços solicitantes da viga.


Para 0 ≤ x1 ≤ 5,0 m

H1 = 0
V1 = – 15x1 + 37,50
M1 = – 7,5x12 + 37,5x1

Para x1 = 0

V1 = – 15 * 0 + 37,50
V1 = 37,50 kN
M1 = – 7,5 * 02 + 37,5 * 0 = 0
M1 = 0 kN.m

Para x1 = 2,5 m

V1 = –15 * 2,5 + 37,50


V1 = 0 kN
M1 = – 7,5 * 2,52+37,5 * 2,5 = 0
M1 = 46,88 kN.m

Para x1 = 5,0 m

V1 = – 15 * 5,0 + 37,50
V1 = – 37,50 kN
M1 = – 7,5 * 5,02 + 37,5 * 5,0 = 0
M1=0 kN.m
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Diagramas de esforços solicitantes


Os diagramas de esforços solicitantes representam graficamente a distribuição
dos esforços ao longo de uma viga. Primeiramente, você deve determinar
as reações de apoio. Em seguida, calcular os esforços solicitantes em cada
elemento. Por fim, desenhar os diagramas para cada um dos esforços que
atuam na estrutura.
O cálculo dos esforços solicitantes pelo método das seções possibilita
determinar o valor dos esforços em qualquer ponto ao longo da viga. Isso é
possível pois o método resulta em equações que representam as curvas dos
diagramas, seja uma reta ou uma parábola. Além disso, em casos de cargas
distribuídas não uniformemente, a equação de momento fletor pode ser uma
equação de terceiro grau. Em resumo, as curvas dos diagramas podem ser
expressas em equações que as representem conforme cada tipo de carregamento
aplicado a uma viga.
Os diagramas de esforços solicitantes ou linhas de estado são representados
individualmente para cada tipo de esforço, como você pode ver a seguir.

Diagrama de esforço normal (DEN)


O diagrama de esforço normal (Figura 14) representa as tensões de tração e
de compressão que estão atuando no elemento. Como você viu no exemplo
anterior, a viga analisada não possui cargas horizontais aplicadas, portanto os
esforços normais não existem para esse caso específico de uma viga carregada
apenas com uma carga uniformemente distribuída.

Figura 14. Diagrama de esforço normal.


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Diagrama de esforço cortante (DEC)


O diagrama de esforço cortante (Figura 15) representa a variação, ou a dis-
tribuição, das tensões de cisalhamento ao longo da viga. No caso do exemplo
anterior, o diagrama de esforço cortante é representado por uma reta inclinada.
Essa configuração do diagrama é particular para uma carga uniformemente
distribuída.

Figura 15. Diagrama de esforço cortante.

Diagrama de momento fletor (DMF)


O diagrama de momento fletor (Figura 16) representa graficamente a variação
ou a distribuição das tensões normais devido à flexão da viga, provocada
pelo carregamento. O DMF representa também como deverá ocorrer a flexão
da viga ao longo do seu comprimento, indicando os bordos comprimidos e
os bordos tracionados. A representação dos momentos fletores no diagrama
obedece ao sentido em que ocorre a flexão na viga. Os momentos positivos são
representados para baixo, já que provocam tração nas fibras mais inferiores.
Já os momentos fletores negativos são representados acima do eixo da viga,
já que estão tracionando as fibras mais superiores da seção transversal. No
caso particular do exemplo anterior, a carga distribuída uniformemente está
provocando flexão na viga para baixo, portanto tracionando as fibras inferiores
e comprimindo as fibras superiores da seção transversal.
Vigas I 93

Figura 16. Diagrama de momento fletor.

A seguir, você pode ver os diagramas de esforços solicitantes referentes aos cálculos
apresentados no final da seção anterior.
DEN

DEC

DMF

Confira, no link a seguir, um estudo sobre a análise dos esforços solicitantes e da


resistência de uma estrutura em situação de incêndio. Esse estudo também oferece
uma proposta para revisão das normas brasileiras que regem esse assunto. Acesse:

https://goo.gl/GqEsVH
Vigas I 94

BEER, F. P. et al. Estática e mecânica dos materiais. Porto Alegre: AMGH, 2013.
BEER, F. P. et al. Mecânica dos materiais. 7. edição. Porto Alegre: AMGH, 2015.
LEET, K. M.; UANG, C.; GILBERT, A. M. Fundamentos da análise estrutural. 3. ed. Porto
Alegre: AMGH, 2010.
LOGÍSTICA eficaz. Arquitetura & Aço, Rio de Janeiro, n. 50, nov. 2017. Disponível em:
<http://www.cbca-acobrasil.org.br/site/noticias-detalhes.php?cod=7476&bsc=&ori
g=noticias>. Acesso em: 17 fev.2018.

Leituras recomendadas
HIBBELER, R. C. Análise das estruturas. 8. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2013.
ILKIU, A. M. Teoria das estruturas: parte I. [S.l.]: [s.n.], 1998. Notas de aula.
TIMOSHENKO, S. P.; GERE, J. E. Mecânica dos sólidos: volume I. Rio de Janeiro: LTC, 1983.
Dica do professor
Vamos assistir no vídeo a seguir o cálculo de uma viga. Confira:

Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.
Na prática

As vigas são um dos elementos mais utilizados nas estruturas. Estes elementos recebem,
predominantemente, cargas de forma perpendicular ao seu eixo, tendo como principal função
resistir aos esforços de flexão.

As vigas de uma determinada edificação, por exemplo, têm função de receber os esforços das lajes
e distribuir estas cargas para os pontos de apoio (pilares). Podemos encontrar elementos de viga em
prédios comerciais e residenciais, em estruturas industriais, na construção de portos, aeroportos,
subestações de energia.
Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

Mecânica Vetorial para Engenheiros - Estática

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

Fundamentos da Análise Estrutural

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

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