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CIÊNCIAS SOCIAIS
Desigualdades persistentes
e políticas afirmativas no
horizonte de incertezas
Aloisio Ruscheinsky
(Organizador)
Editora CirKula
Av. Osvaldo Aranha, 522 - Bomfim
Porto Alegre - RS - CEP: 90035-190
e-mail: editora@cirkula.com.br
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Desigualdades persistentes
e políticas afirmativas no
horizonte de incertezas
Aloisio Ruscheinsky
(Organizador)
2020
CONSELHO CIENTÍFICO
Parte I
Questões sociais contemporâneas
e desigualdades persistentes
Introdução
Aloisio Ruscheinsky
Organizador
20
Introdução
Da Sociedade de Risco
1 O termo pandemia aqui compreendido como qualquer aspecto que pode ser con-
creto material ou imaterial, mas que se difunda com rapidez e possui uma grande
extensão de atuação ou influência sobre a forma como se organiza a vida e suas
respectivas relações sociais.
2 Ulrich Beck iniciou seus estudos universitários na Faculdade de Direito, em
Freiburg, mas foi no campo da Sociologia que conclui sua formação. Entre as ati-
24 vidades profissionais foi professor na universidade de Münster, entre outras, até
se tornar diretor do Instituto de Sociologia da Universidade de Munique.
Aloisio Ruscheinsky - Organizador
limites do seu próprio modelo até o grau exato em que eles não se
modificam, não se refletem sobre seus efeitos e dão continuidade a
uma política muito parecida”.
A “modernidade reflexiva” possui grande relevância, pois
que se aponta que a própria sociedade contemporânea se tornou
um problema para ela mesma, com acentos sobre a reinvenção de
incertezas, de ambivalências, forjando-se inclusive novas ondas de
alienação. Os indivíduos, querendo ou não, passam a viver e agir em
novos patamares de incerteza ou difusos riscos. Isto ocorre inde-
pendentemente inclusive de sua percepção como tal ou não, ocor-
re um imbricamento nas problemáticas dos riscos. No prefácio da
obra “Modernização Reflexiva”, elaborado de forma conjunta por
Beck, Giddens e Lash (1997, p. 7) apontam para a relevância estra-
tégica da noção e do espaço dedicado à reflexão sobre reflexividade.
Considerações finais
42
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Pp.159-184. 43
44
Introdução
ral, o sujeito acaba, por causa da falta de atores, por ser extinto em
nome da liberdade e, nas neo-comunidades, o sujeito perde o direito
de agir com liberdade devido ao encarceramento em suas crenças.
Diante deste quadro, tal qual defende Amartya Sen em seus
estudos sobre a pobreza e a defesa das liberdades em seus variados
aspectos, Touraine defende que os intelectuais exerçam suas funções
no sentido de relacionar liberdade e justiça e entre razão e sujeito,
para que assim possam realizar um trabalho útil à população com
mudanças necessárias à expansão de suas liberdades, caso contrário,
seus trabalhos não terão relevância diante da modernidade em crise.
Ainda, de acordo com Touraine (1996), a liberdade depende
da Educação que leva o indivíduo a considerar-se igual aos outros
no sentido de exercer seus direitos e adquirir suas capacidades, uma
vez que todos são dotados de capacidades para interferir em seu
meio. Assim, a liberdade depende também de valores morais e da
consciência de que há diferenças entre os indivíduos apenas em ter-
mos culturais e sociais.
Portanto, o importante é ampliar a liberdade de cada um e
fazer com que a política represente, de fato, as demandas sociais,
ou seja, o autor considera fundamental o fortalecimento das capa-
cidades de intervenção de cada um sobre sua própria vida. Para o
autor, o que precisa ser trabalhado na sociedade pós-industrial é o
direito de participação na gestão da sociedade, com uma consciência
política comum a todos para que os indivíduos acreditem em sua
capacidade de ação.
Considerações Finais
60
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61
Introdução
As prioridades do programa
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Aloisio Ruscheinsky - Organizador
A Estrutura Operacional
7 Barra do Piraí, na época, era uma cidade de 110 mil habitantes “onde havia 20 mil
pessoas pobres e subnutridas”. In: SEMENTES DE SOLIDARIEDADE: Beti- 69
nho e o Ibase na Ação da Cidadania – 1993/97. Rio de Janeiro, 1998. CD-ROM.
Aloisio Ruscheinsky - Organizador
11 O CONSEA foi presidido por Dom Mauro Morelli - então Bispo de Duque de
Caxias – RJ - e era composto por 7 ministros de Estado e 21 representantes da
72 sociedade civil – dentre esses 19 indicados pelo MEP. (GOHN, 1996).
12 http://www.acaodacidadania.com.br/. Acesso em 04 nov. 2019.
Aloisio Ruscheinsky - Organizador
Prioridades desenhadas
Diretrizes
Considerações finais
82
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84
Introdução
Considerações finais
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106
Introdução
Princípio da legalidade
Princípio da isonomia
mia tributária, uma vez que não faz acepção de rótulos para agrupar
entre si os iguais. Esta é a razão por quenão se considera ter havido
afronta ao princípio da isonomia quando a norma jurídica dispensar
tratamento diferenciado que guarde relação de pertinência lógica com
o motivo do tratamento discriminatório. Igualmente, não se fala em
afronta quando a Lei considera “determinada situação objetivamente
considerada para prescrever a inclusão ou exclusão de determinado
benefício, ou a imposição de certo gravame” (HARADA, 2017, p. 272).
A isonomia, portanto, possui uma dupla acepção: vertical e
horizontal. Aquela diz respeito às pessoas que se apresentam em si-
tuações diferentes, devendo ser tratadas de forma diferenciada. Já a
segunda se refere às pessoas que, dentro de um estrato de igualdade,
devem ser tratadas de forma igual.
114
Isso quer dizer que, mesmo dentro do grupo daqueles que de-
pendem da renda do capital, a concentração de renda é gritante. Ou
seja, concentra-se nos super-ricos. Assim, segundo Pinheiro, Wal-
tenberg e Kerstenetzky (2017), enquanto o centésimo mais rico da
população acumula 22% da renda, o milésimo concentra 10%.
Outra fonte de manifesta injustiça tributária no Imposto de Ren-
da brasileiro – talvez a maior – seja no que se refere à (não) tributação
sobre os lucros e dividendos ao nível pessoal. No Brasil, atualmente
o lucro é taxado via IRPJ (Imposto de Renda da Pessoa Jurídica) e
CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido). Após a incidência
do imposto, o lucro é distribuído entre os sócios, não incidindo mais
nenhum imposto sobre este lucro. Este favorecimento ao rendimento
do capital se deu na década de 1990, em meio à difusão do modelo
liberal econômico e à ideia de mundialização do capital.
Em atendimento a esse movimento de mundialização do capi-
tal, foi editada a Lei 9.249/1995 – para o ano-exercício de 1996 –,
que considerou isentos os rendimentos de lucros e dividendos, es-
tabelecendo o Brasil, ao lado da Estônia, como os dois únicos países
do mundo em que não se taxa lucros e dividendos. Antes desta lei,
após a distribuição dos lucros, os sócios eram taxados (linearmente)
em 15% sobre a parcela do lucro que recebiam. Tratava-se de uma
tributação ao nível pessoal, posterior à tributação ao nível empre-
sarial. Além disso, esta mesma lei introduziu no Brasil a figura dos
“juros sobre capital próprio” (JSCP), que se constitui numa maneira 119
129
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131
Considerações Finais
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151
Giovane Santin
Aloisio Ruscheinsky
Introdução
1 Rafael Garófalo, por sua vez, se destacou pelo seu ceticismo quanto à readaptação
dos criminosos, circunstância que justificava suas posições a favor da pena de morte.
156 Sua preocupação fundamental não era a recuperação social do delinquente, mas sim
demonstrar a incapacitação instaurada ao enfatizar a necessidade de sua eliminação.
Aloisio Ruscheinsky - Organizador
uma vez que nem todos os acontecimentos podem ser tidos como
fato social na acepção do autor, pois como Durkheim (1999, p. 1 e 4)
“[…] todo o indivíduo come, bebe, dorme, raciocina, e a sociedade
tem todo o interesse em que essas funções se exerçam regularmen-
te”. Por conseguinte, o objeto sociológico requer a apreensão de re-
gras, procedimentos, estruturas, preceitos morais, pois “[…] só há
fato social quando existe uma organização definida”. A partir destes
princípios fato social se delineia como
5 Santos (2010, p. 427) destaca dois defeitos graves da Teoria da Coação Psicoló-
gica: “primeiro, a falta de critério limitador da pena transforma a ameaça pena em
terrorismo estatal – como indica a lei de crimes hediondos, essa infeliz invenção
do legislador brasileiro; segundo, a natureza exemplar da pena como prevenção
geral negativa viola a dignidade humana porque os acusados reais são punidos de
forma exemplar para influenciar a conduta de acusados potenciais – em outras
164 palavras, aumenta-se injustamente o sofrimento dos acusados reais para desesti-
mular o comportamento criminoso de acusados potenciais”.
Aloisio Ruscheinsky - Organizador
Considerações finais
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176
178 1 Cf. KRAMER, H.; SPRENGER, J. O martelo das feiticeiras. Rio de Janeiro:
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Aloisio Ruscheinsky - Organizador
2 Para Schmitt (2009), “guerra” é um combate armado entre unidades políticas or-
ganizadas, enquanto “guerra civil” é um combate armado no interior de uma unida-
de organizada (que se torna, por isso problemática). O pensamento aqui é de que um
180 povo não poderia guerrear contra si mesmo e uma “guerra civil” significaria somen-
te autodilaceramento e não formação de um novo Estado ou mesmo de um povo.
Aloisio Ruscheinsky - Organizador
Não por menos, Zaffaroni (2020) afirma que tudo isso faz par-
te de um projeto de um atual ‘totalitarismo financeiro’, de criar uma
sociedade com 30% de incluídos e 70% de excluídos, em que estes
últimos possuem a incumbência de acreditar que estas circunstân-
cias integram a normalidade da paisagem e do imaginário:
Considerações finais
196
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198
Analice Brusius
Carlos A. Gadea
Introdução
ações que se imagina possam vir a ser praticadas pelos indivíduos. Estas
ações passam a ser mensuradas por especialistas em atestar periculosi-
dade dos indivíduos. Foucault (2003, p. 85) demonstra que a
Considerações finais
215
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216
217
Gisela Pelegrinelli
Introdução
eu feminino passa pela injunção das regras que advém dos enca-
deamentos da dominação masculina” (ZAFALON, 2014, p. 7). Para
Touraine (2011) tais contingências vêm, historicamente, impondo
obstáculos para que as mulheres pudessem conviver com a devida
autonomia para configurar a sua existência e suas respectivas trans-
1 Pierre Bourdieu: sociólogo francês, de origem campesina, filósofo de formação.
Desenvolveu, ao longo de sua vida, diversos trabalhos abordando a questão da do-
minação e é um dos autores mais lidos, em todo o mundo, nos campos da antropolo-
gia e sociologia, cuja contribuição alcança as mais variadas áreas do conhecimento
humano, discutindo em sua obra temas como educação, cultura, literatura, arte, mí- 231
dia, linguística e política. Também escreveu muito sobre a Sociologia da Sociologia.
Aloisio Ruscheinsky - Organizador
237
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Aloisio Ruscheinsky - Organizador
239
Clarissa Bottega
Introdução
Reconhecimento político
5 Art. 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocu-
pando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emi-
tir-lhes os títulos respectivos.
6 Nas ciências sociais comunidade e sociedade são dois tipos de organização e de
conduta sociais distintos. Ao se reportar à comunidade entende-se a existência
de “ricas e significativas concepções comunitárias sobre a reciprocidade, a ajuda
mútua, o parentesco, os critérios de distância social, o saudável e o doentio, a me-
dicina popular, a religião e a morte e até o dinheiro, foram identificadas e descritas 249
cientificamente” (Martins, 2020, p. 3).
Aloisio Ruscheinsky - Organizador
255
Considerações finais
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263
Introdução
Eu acho que não resolve nada, porque, assim, se você vai com-
prar uma coisa, por exemplo, um shake, aí você tem que tomar
no café da manhã, no almoço e na janta, claro que emagrece 269
Não tem como não afetar, né? [...] às vezes tem uma propa-
ganda, de uma (pausa breve, tentando lembrar), uma cinta ou
propaganda de um medicamento para emagrecer, e eles colo-
cam uma pessoa de corpo perfeito. Por que eles não colocam
uma pessoa obesa? [...] eles vendem um produto que nem
eles consomem e que eles sabem que não faz efeito. Então, é
complicado (E4).
mídias têm a necessidade de buscar/ ampliar cada vez mais sua au-
diência – da qual dependem para sobreviver em um mercado extre-
mamente competitivo. A entrada de modelos ‘não convencionais’ pode
levar a uma atualização das tradições ou pode, ainda, favorecer o esta-
belecimento de novos padrões de pensamento e de conduta, alterando
o estereótipo que, neste momento, atuaria como “elemento polifuncio-
nal” (LYSARDO-DIAS, 2007, p. 28-29). Ele tanto favorece a percep-
ção do conhecimento que é proposto em termos informacionais, quan-
to apresenta uma ‘leitura’ já assimilada do real, além de aproximar os
sujeitos interlocutores que se sentem familiarizados por partilharem,
de antemão, a mesma visão de mundo ou valores comuns.
Outra justificativa no que tange o rompimento e a subversão
de certos estereótipos pela mídia, seria uma estratégia utilizada para
captar o público alvo através do estranhamento que chama a atenção
pela presença do inusitado, pelo choque causado por aquilo que foge
às expectativas impostas pelos padrões vigentes, um rompimento
dos automatismos culturais. Dessa maneira, a reprodução que ga-
rante a existência do estereótipo é substituída pela sua descons-
trução; em outros termos, a imagem já consagrada e amplamente
difundida é reformulada, dando origem a uma descaracterização do
convencional, que não perde alguns de seus traços sob pena de não
ser reconhecido. Trata-se de um caso de heterogeneidade discursiva
porque a publicidade estabelece um diálogo entre um dizer conven-
cional e consensual e o novo dizer que ela propõe, que é fruto da
subversão do primeiro.
De uma forma ou de outra, para Lysardo-Dias (2007, p. 30),
a mídia “se serve de estereótipos cuja eficácia depende da maneira
como são mobilizados e do poder de sedução que exercem junto ao
público a que ela se destina”. Se, para muitos, a mídia representa
um poder paralelo, capaz de transgredir estereótipos e auxiliar na
polinização da diversidade, a publicidade poderia reforçar essa tese,
ao promover mensagens capazes de questionar a ordem vigente.
Entretanto, sabe-se que, em larga medida, o compromisso maior da
publicidade é com o lucro que ela pode proporcionar ao anunciante,
por meio da ampliação de sua audiência, garantindo o poder argu-
276 mentativo e persuasivo de sua mensagem para incrementar o con-
Aloisio Ruscheinsky - Organizador
Considerações finais
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Introdução
Evolução do feminismo
As fronteiras de masculinidade
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328
Raça e racismo
1 Apreciação análoga ao que Hall (2003, 335) afirma: “[...] que tipo de momento
é este para se colocar a questão da cultura popular negra? Esses momentos são
sempre conjunturais. Eles têm sua especificidade histórica; e embora sempre exi-
bam semelhanças e continuidades com outros momentos, eles nunca são o mesmo
momento. E a combinação do que é semelhante com o que é diferente define não so-
mente a especificidade do momento, mas também a especificidade da questão [...]”.
340 2 “Racialista no sentido de evocar o carisma da raça negra e de visar a formação
de uma identidade racial negra” (GUIMARÃES, 2005, p. 227).
Aloisio Ruscheinsky - Organizador
Negritude e Identidade
ria a “identidade própria” como para saber-se que ela “está em crise”?
Qual seria a definição a priori sobre “o negro” que não se observa e
que, em definitivo, sente-se como ausência, falta ou perda? Não se
trata de um “artifício” a procura de um “corpo negro” que já teria
uma definição prévia acerca da sua forma e conteúdo? O que significa
“ser negro”? Não é imaginável poder definir “corpos individuais” que
estão em relação recíproca a partir de ingredientes que precederiam
à própria relação social. Se a individualização é um jogo de diferen-
ciação social, a premissa filosófica pragmática não cogitaria assumir
como válida uma sentença que estabeleça propriedades intrínsecas
(essências) à individualidade. Certamente, a busca de uma “história
própria” não é uma atitude ingênua e sabe-se que sua materialização
está na idealização de uma África de múltiplos significados: reduto
de riqueza cultural, de emotividade, de contato com a natureza, de
valentia etc. Os “valores negros africanos” se relacionam com a “exal-
tação” de um suposto passado que procura reverter à narrativa do
colonizador, quer dizer, que procura substituir a “grandeza branca”
(e a sua civilização) pela “grandeza negra”. Imagens de “guerreiros
negros” em peças de arte substituem a de “brancos colonizadores”
na tentativa de dar-lhe uma virada à história e delinear um “destino”
histórico como “metanarrativa” explicativa do presente.
Negritude, então, como aquilo próprio de um “passado ances-
tral”, e que se assume, inevitavelmente, “na comunidade”. Trata-se,
por conseguinte, de uma recuperação que apela a uma forma de so-
ciabilidade e a um conjunto de valorações (éticas, religiosas, estéti-
cas) que ressignificam a coletividade, o “estar junto”, a incorporação
da população negra a um “grupo de pertença” que a liga de uma
maneira clara ao “ser negro”. Mas, é desta maneira que, na atuali-
dade, pode-se entender a negritude? Assim é como experimentam
muitos jovens seu espaço da negritude? Ancestralidade, África, co-
munidade: são termos que remetem, de alguma maneira, ao atual
“corpo negro”? Continua sendo a “comunidade” significativa para
a vida prática da população negra? Certamente, os postulados do
“movimento da negritude” têm sido digeridos culturalmente não
só pela população negra, mas também por aqueles que não se (auto)
346 reconhecem como fazendo parte desse grupo étnico-racial.
Aloisio Ruscheinsky - Organizador
Considerações finais
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Sobre os Autores
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