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OBJETIVO: Identificar fatores que podem determinar o período de internação superior a dez dias, assim como aqueles que
contribuem para a mortalidade de idosos internados. MÉTODO: Realizamos entrevistas com pacientes ou cuidadores principais
e levantamos dados epidemiológicos, uso de medicamentos, funcionalidade prévia à internação e o índice de Charlson. Incluímos
pacientes internados pelo pronto-socorro. Excluímos os internados eletivamente e aqueles dos quais não obtivemos
todas as informações. Inicialmente, os pacientes foram distribuídos em dois grupos: um com internação inferior a dez
dias (G < 10) e outro com mais (G ≥ 10). Em seguida foram comparados dois grupos de acordo com o desfecho óbito.
RESUMO
Utilizamos os testes do χ2 e o de Mann-Whitney U. RESULTADOS: Foram levantados 201 casos. No grupo G < 10 foram
classificados 77 pacientes, 56% mulheres. O tempo médio de internação foi de 16 dias, a média de idade de 87 anos, 46,0%
faziam uso de até 4 medicamentos e 47,5%, mais de 4. No momento da internação, 37,8% faziam uso de psicotrópicos e 37,3%
apresentavam delirium, 26,4% evoluíram a óbito. Referente ao tempo de internação, nenhuma das variáveis mostrou diferença
significativa. Para o desfecho óbito, as variáveis delirium, Escala de Katz e o índice de Charlson foram capazes de identificar
os pacientes com maior risco. CONCLUSÃO: As variáveis analisadas não permitiram identificar o paciente com maior risco
de internação prolongada. A presença de delirium, maiores valores do índice de Charlson e menores valores da escala de Katz
tiveram uma associação positiva com mortalidade.
PALAVRAS-CHAVE: idoso; tempo de internação; risco.
OBJECTIVE: To identify factors that can determine hospitalization for a period of more than ten days, and those contributing to the
death of elderly inpatients. METHODS: We conducted interviews with patients or primary caregivers and compiled epidemiological
data, medication use, functionality prior to hospitalization and the Charlson index. We included patients admitted to the emergency
room and excluded patients who were admitted electively and those from which we did not obtain complete information. Initially,
patients were distributed into two groups: one with hospitalization for less than ten days (G < 10) and the other with more than
ABSTRACT
ten days (G ≥ 10). The two groups were compared according to the outcome death. We used χ2 test and the Mann-Whitney
U test. RESULTS: We identified 201 patients. In the G < 10 group, we classified 77 patients, 56% women. The average length of
stay was 16 days, the average age was 87 years, 46.0% were using up to 4 medications and 47.5% were using over 4 medications.
At admission, 37.8% were using psychotropic drugs and 37.3% had delirium, 26.4% progressed to death. Concerning the length of stay,
none of the variables showed significant difference. For the outcome death, the variables delirium, Katz scale and the Charlson index were
able to identify patients with higher risk. CONCLUSION: The analysed variables did not allow us to identify patients at increased risk
of prolonged hospitalization. The presence of Delirium, higher Charlson index values and lower values in the Katz scale showed
a positive association with mortality.
KEYWORDS: aged; length of stay; risk.
a
Departamento de Geriatria, Hospital do Servidor Publico Estadual (HSPE) – São Paulo (SP), Brasil.
faziam uso de psicotrópicos, 37,3% apresentavam delirium Em relação à mortalidade, observamos uma diferença
e 13,9% já tinham úlcera por pressão prévia. estatisticamente significativa no G ≥ 10 (p = 0,0002). Na Tabela 2
Ao analisarmos a funcionalidade dos pacientes presentes demonstramos que, no que diz respeito a gênero, estado civil,
no estudo, 50,8% tinham dependência parcial ou total em polifarmácia, uso de psicotrópicos e presença de úlcera por
relação à escala de atividade de vida diária de Katz, já em pressão, não houve diferença estatisticamente significativa.
relação à atividade instrumental de Pfeffer, 76,1% eram total- Houve diferença quando na presença de delirium, com uma
mente dependentes e 59,7% dos pacientes tinham 3 ou mais mortalidade significativamente maior (p = 0,0002). A análise
pontos em relação ao índice de comorbidade de Charlson. da mortalidade na aplicação do índice de comorbidades de
Quanto ao tempo de permanência, observamos que, como Charlson e das escalas de atividades de vida diária de Katz
demonstrado na Tabela 1, em relação ao gênero, estado civil, mostrou diferenças estatisticamente significativas, sendo os valores
polifarmácia, uso de psicotrópicos, diagnóstico de delirium de p, respectivamente, 0,014 e 0,034. Por outro lado, quando
e presença de úlcera por pressão não houve diferença esta- da aplicação da escala de atividades instrumentais de Pfeffer,
tisticamente significativa entre os dois grupos. Da mesma não houve diferença estatisticamente significativa (p = 0,249).
forma, com a aplicação das escalas de atividades de vida
diária de Katz, das atividades instrumentais de Pfeffer e do
índice de comorbidades de Charlson, também não houve DISCUSSÃO
diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos Para um hospital de nível de atenção terciário, o que
com p de 0,340; 0,872 e 0,703, respectivamente. é um período de internação prolongado? Essa definição
passa por determinar a partir de qual momento o paciente não foi capaz de determinar uma diferença importante
sofrerá riscos, como perda da funcionalidade, infecções na prevalência de delirium, sabidamente uma causa de
hospitalares e aumento significativo do risco de vir a prolongamento de internação. Possivelmente, deveríamos
falecer.1,12 Nosso estudo não foi desenhado para determinar avaliar um tempo de internação menor, a partir do qual, de
esse período. Nossa proposta foi analisar se características fato, observaríamos uma incidência maior de complicações.
específicas de nossa população poderiam refletir em um Outro dado que procuramos levantar foi relativo ao
tempo de internação superior a dez dias. risco de morte. Aqui sim levantamos três variáveis que
Para tanto, seria importante determinar a funcionalidade interferiram de forma significativa nesse desfecho: presença
prévia à internação desses pacientes. Foi o que buscamos de delirium, comprometimento funcional na escala de
ao elencar as características sociodemográficas dessa atividades básicas de Katz e pontuação no índice de
população, ao determinar o gênero, a média de idade comorbidades de Charlson. A literatura traz que, quando
e o grau de escolaridade. Além disso, estudamos as avaliados os desfechos tempo de internação, mortalidade e
condições de saúde, determinando o número de medicações alta hospitalar, os fatores dominantes que impactam esses
que faziam uso, utilização de psicotrópicos, presença desfechos em pacientes idosos são o status cognitivo e
de delirium e pela aplicação das escalas de avaliação funcional.13-15 Nossa análise concorda com essa afirmação,
funcional Pfeffer e Katz, além do índice de comorbidades visto que o maior número de óbitos ocorreu em pacientes
de Charlson. O que observamos é que nenhuma dessas com maior dependência funcional. O maior índice de
variáveis possibilitou reconhecer um paciente sob risco Charlson também esteve mais relacionado ao desfecho de
de internação prolongada. Diferentemente do estudo de óbito, o que também condiz com a literatura, visto que esse
Incalzi et al.13 em que, na avaliação de 308 idosos em uma índice tem como objetivo medir a gravidade do caso com
unidade de internação de doenças agudas identificaram base em diagnósticos secundários e ponderar seus efeitos
a polifarmácia, definida então pelos autores como o uso sobre o prognóstico do paciente.6 Um outro estudo mostra
de pelo menos seis medicamentos, além da presença de que mesmo entre aqueles que receberam alta hospitalar,
comorbidades, como determinantes de uma internação o comprometimento da funcionalidade e uma pontuação
prolongada. Além disso, Incalzi et al.13 também falharam ao elevada do índice de Charlson foram determinantes de
demonstrar o declínio cognitivo como sendo o responsável uma mortalidade maior durante os 24 meses seguintes.16
por um tempo de internação maior, possivelmente por Como limitação do nosso estudo podemos citar
terem considerado a pontuação no miniexame do estado a realização em um único centro, o curto período de
mental, sem correlacioná-lo a uma causa específica. A avaliação (quatro meses) e a não exclusão dos pacientes
diferença no achado dos estudos provavelmente deve-se em cuidados paliativos exclusivos.
ao nosso objetivo primário de determinar dez dias como
um tempo de internação prolongado. Incalzi et al. 13
abordaram a avaliação por uma sistemática diferente e CONCLUSÃO
não determinaram um tempo mínimo a partir do qual se As variáveis analisadas, gênero, idade, escolaridade,
considera uma internação prolongada. Uma outra diferença estado civil, uso de medicamentos, escalas de avaliação
importante diz respeito à definição de polifarmácia — a funcional e índice de comorbidades de Charlson não permitiram
nossa a partir de quatro medicamentos e a deles a partir identificar quais pacientes apresentaram um risco maior de
de seis —, obviamente associada a uma morbidade maior internação por mais de dez dias.
e, consequentemente, sob maior risco de complicações. As variáveis delirium, comprometimento nas atividades
Em outro estudo, o de Pessoa e Nacul, 14 foi realizada básicas de vida diária e as múltiplas morbidades foram
uma revisão de delirium em pacientes de unidade de determinantes para uma mortalidade maior.
terapia intensiva, demonstrando que de fato o delirium
está associado a um tempo maior de internação naquela
unidade. Portanto, devemos concluir que o período de CONFLITO DE INTERESSES
dez dias não é adequado para que se defina que a partir Declaramos que não há nenhum conflito de interesses
desse a internação torna-se prolongada, visto que ele nesta pesquisa e que nenhum autor recebeu auxílio financeiro.
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