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Publicado: PAIXÃO: PARA SEMPRE EM SEU CORAÇÃO, 16

Lynne Graham
HERANÇA ITALIANA, N° 1522 - 25.8.04
Título original: The Banker's Convenient Wife

O banqueiro Roel Sabatino sofria Perda parcial de cor depois de um


acidente de carro e se sentia um pouco confuso... pois tinha uma
esposa com quem não recordava haver-se casado.
Hilary era formosa, doce, singela... e virgem! Isso não deixava de ser
alarmante para um homem acostumado a ter amantes. Mesmo
assim, Roel sempre reconhecia um bom trato quando o via: por que
não desfrutar de todos os prazeres que podia oferecer aquele
matrimônio, fossem quais fossem as razões que o provocaram?
,
Não recordava por que se havia casado com ela... mas não lhe
importava.

Capítulo 1
É OBVIO que não vamos renovar lhe o contrato. O Banco Sabatino
não é lugar para diretores de recursos que não sabem realizar seu
trabalho disse Roel Sabatino com o cenho franzido. Magro, alto, de
cabelo escuro, bonito embora de rasgos duros, o senhor Sabatino
era um banqueiro internacional e um homem muito ocupado que
considerava aquela conversação uma perda de tempo.
Nielan, seu diretor de recursos humanos, Pigarreou
Tinha pensado que... possivelmente falando com o Rawlinson
conseguiríamos que voltasse para bom caminho ..
Eu não dou segundas oportunidades a ninguém -interrompeu-o Roel
com voz cortante-. Se por acaso não te deste conta, nossos clientes,
tampouco. Está em jogo a reputação de meu banco.
Nielan Weber se disse que também estava em Jogo a reputação do
Roel como um dos banqueiros mais inteligentes do mundo. Roel
Sabatino, milionário suíço descendente de nove gerações de
banqueiros era considerado por muitos como o mais brilhante de
todos eles.
Apesar de sua inteligência e de seu enorme êxito profissional, não
tinha piedade com os empregados que tinham problemas pessoais.
De fato, sua falta de humanidade dava pânico.
Mesmo assim, Stefan fez um último esforço para interceder pelo
empregado cansado em desgraça.
-Sua mulher o deixou o mês passado...
-Sou seu chefe, não seu psicólogo -respondeu Roel-. Sua vida privada
não é meu assunto.
Uma vez esclarecido aquilo, Roel se meteu em seu elevador privado e
se dirigiu ao estacionamento. Enquanto conduzia seu Ferrari seguia
zangado.
Que classe de homem deixava que a perda de uma mulher
interferisse em sua meteórica carreira? Roel decidiu que seu
empregado tinha que ser um homem débil e sem disciplina.
Certamente, um homem que choramingava enquanto contava seus
problemas pessoais e que esperava que o tratasse de maneira
especial por isso era um anátema para ele.
A vida era toda uma provocação em si mesmo e Roel sabia porque
tinha tido uma infância de felicidade austera quando sua mãe se
partiu de casa quando ele tinha dois anos. Com ela se desvaneceram
as esperanças de criar-se com amor e carinho.
Quando contava cinco anos, tinha ingressado em um internato e só
tinha recebida permissão para ir a casa quando suas notas tinham
completo as elevadas expectativas de seu pai.
Desde pequeno lhe tinham ensinado que tinha que ser duro e forte e
que jamais devia pedir favores nem ter esperanças de nenhum tipo.
Enquanto estava no entupo da hora de comer de Genebra, soou o
telefone de seu carro. Era Paul Correro, seu advogado.
Acredito que é meu dever, como seu representante legal. te recordar
que temos certo assunto pendente lhe disse em tom divertido.
Paul e Roel tinham ido juntos à universidade e Paul se - permitia com
o Roel certas brincadeiras que nenhum outra pessoa se permitia.
Entretanto, Roel não estava hoje de humor.
Vê o grão -urgiu-o.
Levo um tempo querendo lhe dizer isso... mas estava esperando a
ver se tirava você o tema. passaram já quatro anos. Não vai sendo
hora já de que termine com seu matrimônio de conveniência?
Aquela notícia o pilhou de surpresa, e ao Roel lhe impregno o carro
provocando que outros condutores lhe insultassem e lhe apitassem,
mas ele não fez nem caso.
Acredito que deveríamos ficar esta semana porque eu vou de férias
na segunda-feira -continuou Paul..
Esta semana é impossível -respondeu Roel.
Espero não te haver importunado recordando lhe disse isso Paul.
Não me tinha esquecido desse assunto, o que passa é que me
pilhaste por surpresa -riu Roel.
Acreditei que isso não era possível -brincou Paul.
Já te chamarei logo... o tráfico está fatal -respondeu Roel dando por
finalizada a conversação.

Paul fazia bem tirando o tema de seu matrimônio, um matrimônio de


conveniência no que Roel não tinha tido mais remedeio que
embarcar-se fazia quatro anos.
Como ia se esquecer de que tinha que romper aquele vínculo com um
divórcio? Recordou como se havia visto imerso naquela ridícula
situação que o tinha levado a casar-se com uma mulher a que não
amava para cumprir com as condições do testamento de seu avô.
Clemente, seu avô, tinha sido um homem entregue ao trabalho
durante toda a vida, mas quando se aposentou se apaixonou por uma
mulher a que lhe dobrava a idade e tinha começado a ver a vida de
outra maneira.
Inclusive tinha chegado a casar-se com ela, o que lhe tinha granjeado
a inimizade de seu próprio filho, o pai do Roel, que era um homem
muito conservador. Entretanto, Roel nunca tinha quebrado as
relações com seu avô.
Clemente tinha morrido fazia quatro anos e Roel se ficou de pedra
quando o advogado tinha lido as condições de seu testamento. Em
uma delas, Clemente tinha deixado escrito que, se seu neto não se
casava em um prazo de tempo estipulado, o Castello Sabatino, a
ancestral mansão familiar, passaria ao Estado.
Naquele mesmo instante, Roel se tinha arrependido de haver dito a
seu avô que não acreditava no matrimônio e que não pensava casar-
se nem ter filhos até, pelo menos, os cinqüenta anos.
Embora não era uma pessoa sentimental, o Castello Sabatino
significava muito para ele pois tinha bonitas lembranças de sua
infância ali. Se tivesse querido, teria se podido comprar cem castellos
iguais, mas queria esse.
Sua família levava habitando-o muitos séculos e a repentina ameaça
de lhe perdê-lo tinha chegado à alma.
Um par de meses depois, estando em Londres em uma viagem de
negócios, enquanto lhe cortavam o cabelo estava falando com o Paul
do móvel sobre os problemas que lhes tinha ocasionado o testamento
de seu avô.
Como estavam falando em italiano, acreditou que ninguém os ia
entender, mas se equivocava. Quando pendurou o telefone, a
cabeleireira lhe deu o pêsames pela perda de seu avô e se ofereceu a
casar-se com ele para que não perdesse o Castello Sabatino.
Hilary Ross se casou com ele única e exclusivamente por dinheiro.
Quantos anos teria agora? Sim, tinha completo vinte e três o dia de
São Valentín. Seguro que seguia parecendo uma adolescente.
Quando a conheceu, ia sempre vestida de negro, com grandes
expulsa e maquiagem de vampiresa. Roel sorriu ao recordá-lo. Uma
vampiresa muito atrativa.
antes de que o semáforo ficasse verde, tirou-se a carteira do bolso e
extraiu a fotografia que Hilary lhe tinha entregue e em que tinha
escrito em brincadeira: «Sua esposa, Hilary» e seu número de
telefone.
-Assim, lembrará-te de mim -havia-lhe dito pressentindo que Roel
não ia se pôr em contato com ela se não fora por assuntos legais.
«me beije», tinham-lhe suplicado seus olhos.
Entretanto, Roel não o tinha feito porque Paul lhe tinha advertido
que, se se deixava levar e se deitava com ela, Hilary poderia
demandá-lo logo e obter uma cuantiosa pensão de manutenção.
Em qualquer caso, Roel se disse que jamais se havia sentido atraído
por ela. Como ia se sentir atraído por uma garota que tinha deixado o
colégio aos dezesseis anos e que era cabeleireira?
Quão único tinham em comum era que ambos eram seres humanos.
Por fim, Roel olhou a fotografia. Hilary não era bonita, recordou
exasperado por seus próprios pensamentos. Tinha as sobrancelhas
muito retas e povoadas e o nariz um pouco grande.
Mesmo assim, Roel não pôde apartar o olhar de seu viva sorriso e
seus preciosos e enormes olhos.
-Quando era adolescente, trabalhava os sábados, e me gastava tudo
o que ganhava em sapatos —lhe tinha confessado Roel uma vez lhe
fazendo entender que tinham tido vistas muito diferentes.
-Quando minha avó conheceu meu avô, soube que era o amor de sua
vida antes de que falassem... em qualquer caso, não podiam falar
porque ela não sabia inglês e ele não sabia italiano. Não te parece
romântico?
Roel não tinha respondido a aquela pergunta. De fato, mostrou-se
como um muro de pedra ante os intentos da Hilary por flertar com
ele. Sim, era um esnobe tão social como intelectualmente e aquela
garota não pertencia a seu mundo.
Além disso, não pensava seguir a tradição da família de casar-se com
cazafortunas. Ele se tinha por um homem muito mais preparado que
seu pai e seu avô. Por isso, tinha suprimido aquela inadequada e
perigosa atração que sentia por uma mulher que não era a correta.
Mesmo assim, não podia esquecer a última vez que a tinha visto.
Naquela ocasião, Hilary o tinha cuidadoso com um brilho especial nos
olhos e um sorriso desafiante, como lhe dizendo que estava segura
de que ia encontrar um homem que acreditasse no amor.
O teria encontrado? Talvez por isso não tinha pedido o divórcio
ainda?
Enquanto se fazia aquelas perguntas, Roel teve apenas um segundo
para reagir quando uma menina irrompeu no meio-fio seguindo a um
cão. Freou em seco e deu um volantazo para não atropelá-la.
O Ferrari se estrelou contra um muro, mas não lhe tivesse acontecido
nada se outro carro não o tivesse golpeado. Quando a segunda
colisão se produziu, Roel sentiu uma forte dor no pescoço e se
deprimiu.
Levaram-no a hospital com a fotografia da Hilary apertada na mão e
avisaram a Batista, a irmã de seu pai. Quando a mulher de sessenta
anos chegou ao hospital, bastante zangada, encontrou-se com que
Roel tinha recuperado a consciencia mas tinha amnésia.
-avisou você à esposa do senhor Sabatino? -perguntou-lhe o médico.
-Roel não está casado -respondeu sua tia.
-Então, quem é esta mulher? -disse-lhe o médico surpreso lhe
mostrando a fotografia.
Batista, também surpreendida, estudou a fotografia e leu a
dedicatória. Roel se tinha casado com uma inglesa? minha mãe, que
secretos tinha aquele homem!
Batista entendia que não tivesse feito público seu enlace porque
odiava à imprensa, mas, quando pensava dizer-lhe a sua família?
Em qualquer caso, recebeu a notícia com alegria pois isso queria dizer
que ela se podia partir ao dia seguinte com seu noivo, Dieter, a
inaugurar uma galeria de arte de Melam como tinham previsto.
Com aquilo em mente, correu a chamar à misteriosa esposa de seu
sobrinho.
Quando Hilary entrou em casa e viu sua irmã Emma preocupada,
sentiu um calafrio pelas costas.
-O que acontece? -perguntou-lhe deixando o periódico sobre a mesa.
-chamou uma mulher minta estava fora... quero que se sente antes
de lhe dizer isso disse Emma com maturidade apesar de seus
dezessete anos.
-Não fique melodramática -respondeu Hilary com o cenho franzido-.
Você está aqui, de uma peça, e é a única família que tenho. Quem
chamou e o que te há dito?
-Roel Sabatino teve um acidente de carro.
Hilary sentiu que empalidecia.
-morreu? -conseguiu perguntar.
-Não -respondeu sua irmã lhe passando o braço pelos ombros e
fazendo que se sentasse no sofá-. A que chamou era sua tia, mas
não falava quase nada de inglês...
-Está grave? -perguntou Hilary tremendo de pés a cabeça.
-Tem uma lesão cerebral e me pareceu que sim era grave.
Transladaram-no a outro hospital, conforme me há dito sua tia -
respondeu Emma lhe apertando a mão a sua irmã maior-. Olha-o
pelo lado positivo. Está vivo e amanhã poderá estar junto a ele.
Hilary sentiu que morria por dentro. Roel, seu amor secreto, seu
marido... ao que nem sequer tinha beijado. Roel, tão alto e vital,
debatia-se naqueles momentos entre a vida e a morte em um
hospital.
Hilary rezou para que se recuperasse, mas sete anos antes seus pais
se mataram em um acidente de tráfico e aquilo a fez estremecer-se.
Tinham esperado um milagre no hospital, mas esse milagre jamais se
produziu.
-Você crie que deveria ir estar a seu lado?
atrevia-se a fazê-lo? Só era sua esposa de conveniência, mas isso
não queria dizer que não se preocupasse com seu bem-estar. Ao fim
e ao cabo, sua tia a tinha chamado. Obviamente, isso queria dizer
que sua família sabia que estava casado e que acreditavam que sua
relação era algo mais que um papel.
-Conheço-te bem e sabia que foste querer estar a seu lado, assim
que te tirei um bilhete a Genebra Por internet para amanhã pela
manhã -disse-lhe Emma.
-É obvio que quero estar a seu lado, mas...
-Nada de peros -interrompeu-a sua irmã-. Não quero que o orgulho
te impeça de correr a seu lado. É sua esposa e seguro que quando
estiverem juntos arrumarão seus problemas. Agora me dou conta de
quanto dano fiz a sua relação.
Hilary ficou de pedra para ouvir como sua irmã se jogava a culpa de
sua aparente ruptura com o Roel.
-Minha relação com o Roel não foi bem, mas você não teve nada que
ver nisso -protestou.
-Deixa de me proteger. Sempre fui uma egoísta. Tínhamos perdido a
papai e a mamãe e como você sabia que só tinha a ti, nem sequer te
atreveu a me apresentar isso Hilary se dio cuenta de que había
llegado el momento de sacar a su hermana de su error.
Hilary se deu conta de que tinha chegado o momento de tirar sua
irmã de seu engano.
-Equivoca-te, Emma, as coisas não foram assim.
-Claro que foram assim. Deixou que te danificasse as bodas e o
matrimônio. Mostrei-me horrivelmente mal educada com o Roel e te
ameacei indo de casa se me obrigava a ir a viver a outro país.
Coloquei-me entre vós dois! -insistiu Emma-. Não me posso acreditar
quão cruel fui contigo tendo em conta quão apaixonada estava...
Hilary decidiu que não era o momento oportuno para lhe contar a sua
irmã a verdade.
-O que te há dito a tia do Roel?
-perguntou por ti -mentiu Emma cruzando os dedos à costas com a
esperança de que aquela mentira animasse a sua irmã a correr ao
lado de seu marido.
Roel tinha perguntado por ela? Hilary não dava crédito, mas se sentiu
feliz. De repente, sentiu uma força sobre-humana e se deu conta de
que seria capaz de fazer o que fora por ele.
Roel a necessitava!
O fato de que um homem tão duro como ele pedisse ajuda só podia
querer dizer que estava muito grave, assim Hilary correu a fazer a
mala.
E a barbearia? -lamentou-se enquanto guardava a roupa-. Quem vai
se fazer cargo dela? Sally -sugeriu sua irmã refiriéndose à mão direita
da Hilary-. Não disse que o fez de maravilha quando você teve a
gripe?
Depois de ter falado com a Sally e com outra cabeleireira que estava
acostumado a ir ajudar as quando estavam transbordadas de
trabalho, Emma abraçou a sua irmã com força enquanto recordava
que Roel as tinha ajudado economicamente.
O certo era que lhe devia muito. quatro anos atrás, ambas as irmãs
viviam em um minúsculo apartamento de um bairro cheio de
delinqüência. Emma sempre tinha sido uma garota inteligente e
Hilary não queria que ficasse sem estudar pela repentina morte de
seus pais.
Hilary sentiu que tinha fracassado quando sua irmã começou a
freqüentar más companhias e a não ir ao colégio. Naquela época, ela
estava começando a formar-se como cabeleireira e não tinha dinheiro
nem para ir-se viver a um bairro melhor nem tempo para tentar
domesticar a aquela adolescente rebelde.
A generosidade do Roel lhes tinha trocado a vida. Ao princípio, Hilary
não tinha querido aceitar seu dinheiro, mas logo se deu conta de que
aquele dinheiro lhe podia dar a possibilidade de que sua irmã voltasse
para bom caminho.
Com o que Roel lhe tinha dado, mudaram-se ao bairro do Hounslow e
abriu uma barbearia. Sua vida tinha trocado grandemente, mas não
assim sua relação com ele. O certo era que, do mesmo instante no
que aceitou seu dinheiro, algo entre eles se quebrado.
-Prefiro pagar pelos serviços emprestados -havia-lhe dito Roel
fazendo-a sentir como uma prostituta-. Assim, não há maus
entendidos.
Quando no meio da amanhã do dia seguinte o doutor Lerther recebeu
aviso de sua secretária de que a senhora Sabatino já tinha chegado,
foi a seu encontro e, ao ver a miúda mulher de cabelo loiro e olhos
cinzas, deu-se conta de que não era o que ele tinha esperado.
-Tentei lhe chamar antes de sair da Inglaterra, mas não pude
encontrar o número -desculpou-se nervosa.
Hilary nunca tinha estado em um hospital tão impressionante e,
embora tinha tido que repetir uma e outra vez quem era para que a
deixassem entrar, ninguém lhe tinha dado notícias de como estava
Roel.
Além disso, surpreendeu-se muito ao comprovar que Batista, a tia do
Roel, não a estava esperando. Não lhe tinha gostado de nada ter que
apresentar-se como a mulher do senhor Sabatino, mas não lhe tinha
ficado mais remédio.
-Que tal está Roel? -perguntou retorcendo-os dedos.
-Fisicamente, só tem uma enorme dor de cabeça e uns quantos
moratones -sorriu o médico-. Entretanto, sua memória sofreu danos.
Hilary tomou assento e o olhou surpreendida.
-Sua memória?
-O senhor Sabatino se deu um forte golpe na cabeça e esteve
inconsciente várias horas. depois de um golpe assim, o normal é
sentir-se desorientado durante um tempo, mas por desgraça em seu
caso parece que vai ser mais comprido do normal.
-O que quer dizer isso? -perguntou Hilary com a boca seca.
-Temo-lhe feito umas quantas provas e todas arrojam o mesmo
resultado: Roel confunde as datas.
-As datas?
-esqueceu os últimos cinco anos de sua vida -informou-lhe o médico-.
Está perfeitamente restabelecido e recorda todo o resto sem nenhum
problema, mas esses últimos cinco anos estão apagados.
-Está você seguro? -perguntou Hilary com incredulidade.
-Sim, nem sequer se lembra do acidente.
-Como lhe pôde acontecer uma coisa assim? -perguntou Hilary
preocupada.
-Não é estranho perder a memória depois de um golpe forte na
cabeça. Às vezes, nem sequer é necessário um golpe, basta com um
trauma emocional ou um estresse prolongado para que se produza
um episódio de amnésia, mas não é o caso de seu marido. Em
qualquer caso, irá recuperando a memória pouco a pouco.
-Como o tomou?
-Quando lhe informamos que sua cabeça omitia cinco anos inteiros de
sua vida, mostrou-se muito surpreso.
-Não 0sente saudades...
-antes de dizer-lhe o senhor Sabatino queria que lhe déssemos o alta
para voltar a trabalhar. É óbvio que para um homem com um caráter
tão forte e uma mente tão trabalhadora é difícil aceitar um incidente
inexplicável.
Hilary ficou de pedra ao dar-se conta de que, se Roel tinha esquecido
os últimos cinco anos de sua vida, nem sequer se lembraria dela.
-É uma sorte para nós que tenha vindo você porque lhe vai ser de
grande ajuda -disse o médico.
-Batista não está?
-Acredito que se foi esta manhã para ir a um compromisso social -
respondeu o doutor Lerther.
Atônita, Hilary tragou saliva. «Muito obrigado, tia Batista!», pensou
para si. Era evidente que naquela família não se queriam muito.
Então, Hilary se sentiu ainda muito mais em dívida com ele e se deu
conta de que morria por vê-lo.
Pareceu-lhe desonesto por sua parte seguir fazendo-se passar por
sua esposa, mas não podia fazer nada porque lhe tinha prometido
que jamais revelaria a ninguém as condições nas que se casaram.
Por isso, decidiu dizer a verdade pela metade.
-Roel e eu estivemos... distanciados -declarou.
-Agradeço-lhe sua sinceridade e lhe asseguro que isto não sairá
daqui, mas eu gostaria de lhe pedir que não lhe contasse você ao
paciente nada que o pudesse preocupar -rogou-lhe o médico-.
Embora ele não quer admiti-lo, ainda está em observação e não
queremos que nada límpida sua completa recuperação.
Hilary assentiu.
-É uma sorte que você esteja aqui porque seu marido necessita a
alguém perto em quem poder confiar. Não se deixe enganar, está
débil.
-Não me posso imaginar ao Roel débil -respondeu Hilary com um nó
na garganta.
-Rogo-lhe que você faça de escudo protetor entre ele e todos os
empregados que vão querer lhe encher a cabeça de preocupações. O
Banco Sabatino deve sobreviver de momento sem ele. O senhor
Sabatino necessita tranqüilidade e, além disso, já suporá você que é
melhor que sua condição não chegue à imprensa para que o mundo
financeiro não se cambaleie.
A Hilary o mundo financeiro importava muito pouco, mas Roel lhe
importava muito e se prometeu a si mesmo que ia estar a seu lado
até que tivesse recuperado a memória.
-Posso-o ver?
O médico recordou a surpresa de seu paciente quando lhe informou
que estava casado e, ante a pergunta da Hilary, imaginou a uma
adorável cristã a que estavam a ponto de atirar aos leões.
Rezou para que Hilary Sabatino fora mais forte do que aparentava.
Possivelmente, com um pouco de sorte, fora capaz de lhe fazer frente
a seu despótico marido. O certo era que o doutor Lerther não tinha
muitas esperanças de que assim fora.
Hilary tomou ar e seguiu à enfermeira. Estava a ponto de voltar a ver
o único homem que a tinha feito chorar na vida...

Capítulo 2
ESTOU casado, pensou Roel. Não era de sentir saudades que sua
memória tivesse eleito esquecer o pior que lhe podia passar a um
homem além de estar doente.
Apesar de que só tinha trinta anos, pareceu-lhe que tinha sacrificado
sua liberdade. Tinha terminado cometendo o mesmo engano que seu
pai e seu avô.
Sempre lhe tinham gostado das mulheres e tinha tido incontáveis
companheiras de cama, mas jamais tinha acreditado no amor, assim
tinha a esperança de que seu matrimônio não tivesse nada que ver
com isso.
Estava seguro de que sua esposa seria uma mulher alta e castanha
porque esse era o tipo de mulher que gostava, proviria de boa família
e teria dinheiro. Talvez, fora economista ou trabalhasse em banca.
Aquilo o aliviou em certa maneira.
Possivelmente, deu-se conta trabalhando com ela de que eram almas
as gema no terreno profissional. Aquilo seria perfeito pois se trataria
de uma mulher calada e distante que saberia respeitar seu apertado
horário de trabalho e não se queixaria por não vê-lo.
Naquele momento, bateram na porta. Roel, estava olhando pela
janela e se girou.
-Importa-te fechar os olhos para que entre? -perguntou uma vocecilla
em inglês.
Primeira surpresa. casou-se com uma estrangeira com acento
popular. Segunda surpresa. Falava como uma adolescente e pedia
coisas estúpidas.
-Roel?
Roel apertou os lábios com impaciência e acessou.
-Suponho que você também está nervoso por minha presença, mas
não tem nada do que preocupar-se -acrescentou Hilary.
Roel se voltou a girar para a janela. Terceira surpresa. Uma mulher
que não fazia nem um minuto que acabava de chegar e já o tinha
posto dos nervos.
-Emocionei-me quando me hão dito que tinha perguntado por mim...
-disse Hilary fechando a porta e abrindo os olhos.
-Quem te há dito que eu perguntei por ti? -respondeu Roel com
incredulidade-. Como ia perguntar por ti se nem sequer me lembrar
de ti?
-meu deus, o que faz fora da cama? -perguntou Hilary preocupada.
-Tem uma lista de comentários estúpidos ou lhe saem sem esforço? -
espetou-lhe Roel girando-se para ela.
Ao estar tão perto dele, a Hilary pareceu que sua altura era
ameaçadora, mas, apesar disso e da horrível pergunta que lhe
acabava de fazer, sentia-se irremediavelmente atraída por ele.
Não tinha esquecido o incrivelmente bonito e o surpreendentemente
sexy que era aquele homem, mas isso não impediu que ficasse
olhando-o com a boca aberta.
Roel não sorriu e aquilo não a surpreendeu. Não estava acostumado a
sorrir freqüentemente e, além disso, naqueles momentos não devia
ter nenhum motivo para sorrir. Embora jamais o tivesse reconhecido,
Hilary estava segura de que devia estar muito assustado.
-Detesto o sarcasmo -disse-lhe.
-E eu detesto as perguntas estúpidas -respondeu Roel.
Aquela mulher era muito mais baixa que ele e não devia ter mais de
vinte e três ou vinte e quatro anos. Tinha uns olhos cinzas da cor do
mar durante a tormenta e o cabelo loiro com as pontas tintas de
rosa.
De rosa? Roel decidiu que devia ser o efeito da luz.
Tinha sardas pelo nariz e uns lábios carnudos de cor cereja que
tivessem tentado a um santo, Roel sentiu que lhe endurecia a
entrepierna e se surpreendeu sobremaneira pois sempre tinha
controlado as reações de seu corpo, inclusive sendo um adolescente.
fixou-se no impressionante corpo em forma de relógio de areia de
sua esposa e a ereção se fez ainda mais urgente. Tinha peitos
volumosos e bem formados, cintura de vespa e quadris do mais
femininas.
Quarta surpresa. Sua mulher não ia bem vestida, mas tinha um
potencial sexual que era pura dinamite. Roel acreditou compreender
por que se casou com ela.
-Deveria estar na cama -disse Hilary encontrando-se com aqueles
olhos cor mel que jamais tinha esquecido.
-Revista me dizer sempre o que tenho que fazer?
-Você o que crie? -respondeu Hilary olhando-o aos olhos.
Hilary sentiu que a boca lhe secava e que as pernas lhe fraquejavam.
Sentiu que o ar não chegava aos pulmões e que o prendedor lhe
estava pequeno. Os peitos lhe tinham inchado e sentia os mamilos
eretos e uma cascata entre as pernas.
Hilary sabia o que lhe estava ocorrendo, mas não podia fazer nada
por controlá-lo. Estava ante o homem que tinha estado a ponto de
fazer que lhe oferecesse sua virgindade por uma noite de sexo sem
ataduras.
Desejou-o do primeiro momento em que o viu e, se o tivesse
mostrado qualquer interesse por ela, o orgulho e a dignidade não lhe
tivessem impedido de lhe entregar sua virgindade.
Fazendo um esforço sobre-humano, Roel conseguiu deixar de olhar a
sua esposa.
-Uma mulher que pretendesse me dizer o que tenho que fazer seria
uma idiota -murmurou-. E não acredito que você seja dessas.
Não, mas tampouco me deixo manipular facilmente -respondeu Hilary
com a cabeça muito alta-. depois de tudo o que te passou, deveria
estar na cama.
Já não necessito aos médicos -assegurou-lhe Roel-. Sinto-o muito se
tiver estado preocupada, mas me volto para trabalho.
-Não o dirá a sério -disse Hilary com os olhos muito abertos.
-Eu sempre falo a sério, deveria sabê-lo. Em qualquer caso, não
necessito sua opinião —insistiu roel com frieza.
-Você goste ou não, lhe vou dar -espetou-lhe Hilary-. Ao melhor crie
que te fazendo o duro me vais convencer de que não te passa nada,
mas me parece que te está comportando como um imbecil!
-Não te consinto... -disse Roel olhando-a com fúria.
-Tem amnésia e não pensa com claridade.
-Eu sempre penso com claridade -respondeu Roel.
-Se voltar a trabalhar, será como dizer que não tem nenhum
problema e não penso consentir que o faça.
-me responda a uma pergunta -sorriu Roel-. Antes do acidente de
carro, estávamo-nos divorciando?
-Que eu saiba, não! -respondeu Hilary com as mãos sobre os
quadris-. É um homem muito inteligente, mas também muito
cabezota e pouco prático. de agora em diante, devo me encarregar
de que não faça nada do que te possa arrepender, assim volta para a
cama e te tranqüilize.
Roel a olhou como se se tornou louca.
-Ninguém me diz o que tenho que fazer. Não sei como te atreve a
pensar que você tem esse direito.
-Talvez, porque sou sua esposa -espetou-lhe Hilary-. Não penso te
pedir perdão por tentar te proteger de ti mesmo. Se voltar para
banco, os empregados se vão dar conta de que te acontece algo...
-Não me passa nada, só estou atravessando por uma fase temporária
de leve desorientação...
-Sim, já me hão dito que te esqueceste que boa parte de sua vida -
respondeu Hilary acalorada-. Não me parece nenhuma tolice e
acredito que é muito mais perigoso do que você te crie. vai haver
empregados e clientes que não vais reconhecer, situações que não
vais entender e ocasiões nas que vais colocar a pata. Além disso, se
por acaso não te deste conta, não vais ter nem idéia do que estiveste
fazendo estes últimos cinco anos no trabalho. A quem lhe vais confiar
seu trabalho para não fazer o ridículo? A ninguém, verdade? Você,
Roel, não confia em ninguém mais que em ti mesmo.
Hilary ficou olhando-o com atitude desafiante e se deu conta de que
Roel se levava a mão à frente e de que lhe tremiam os lábios.
-Sente-se -disse-lhe aproximando-se dele e levando-o para a
poltrona que tinha detrás.
-Não necessito...
- te cale e sente-se! -ordenou-lhe Hilary observando-o enquanto se
sentava.
Só me dói um pouco a cabeça -protestou ele.
Muito tarde. Hilary já tinha apertado o mando que avisava à
enfermeira e o doutor Lerther já estava ali.
Roel se tinha dado conta de que sua esposa estava realmente
preocupada com ele. A aquela mulher lhe via o que pensava na cara.
Tinha os olhos cheios de preocupação e se mordia as unhas enquanto
esperava a que o médico lhe dissesse algo.
Roel não podia deixar de olhá-la. Parecia realmente assustada, até o
ponto de que se estava estremecendo. Devia-lhe ter gritado
precisamente por isso. via-se que o apreciava.
<Seguro que aprecia mais meu dinheiro», pensou Roel.
Tinha visto muito boas atrizes, mas o certo era que qualquer das
mulheres com as que tinha saído se tivessem deixado torturar antes
de morder uma unha.
Sua esposa era mais complicada e menos predecible do que tinha
imaginado. Baixo aquela associação de Futebol-fachada feminina se
escondia um gênio e uma paixão exacerbados.
Roel estava acostumado a que as mulheres dissessem a todo que
sim, nunca as tinha visto com uma mulher que se atreveu a lhe
gritar.
O certo era que jamais discutia com ninguém, homem ou mulher; as
discussões não formavam parte -de sua vida porque ninguém queria
vê-lo furioso.
Hilary se sentia terrivelmente culpado. Roel ainda não se recuperou
do acidente e ela se zangou com ele. Como tinha podido fazê-lo?
Normalmente, nunca se zangava. O que lhe tinha acontecido? ficou-
se olhando-a como se não se pudesse acreditar que estivesse lhe
gritando. Não devia estar acostumado a que ninguém lhe gritasse.
Hilary tomou ar e o olhou.
Seguia sendo tão bonito, elegante e masculino como fazia quatro
anos. Hilary recordou o preciso instante no que o tinha visto pela
primeira vez. Foi quando tinha entrado falando pelo móvel na
barbearia onde ela trabalhava.
Ao ver como ia vestido e como se comportava, Hilary compreendeu
em seguida que, como já tinha passado a outras pessoas, confundiu-
se de barbearia porque havia uma muito mais exclusiva na mesma
rua.
No mesmo instante no que Roel se dispunha a ir-se, algo tinha feito
que Hilary fora para ele. Algo? O fato de que fora tão
impresionantemente bonito que tivesse sido capaz de ficar uma
semana sem comer para ter uma foto dela.
Não podia permitir que saísse de sua vida de qualquer jeito.
-Siga falando por telefone enquanto lhe corto o cabelo -havia-lhe dito
ficando diante da porta para que não se fora.
Tal e como tinha esperado, por não reconhecer que tinha cometido
um engano, Roel se deixou levar.
Olhou-a perplexo, mas seguiu falando por telefone enquanto se
sentava e Hilary começava a lhe cortar o cabelo.
Quando terminou, entregou-lhe um cheque e saiu do
estabelecimento. Ao olhar o cheque, Hilary não podia dar crédito ao
que estava vendo. Saiu correndo atrás dele, mas Roel lhe disse que
era a gorjeta.
-É muito... -murmurou Hilary enquanto Roel se encolhia de ombros e
se introduzia em uma limusine com chofer.
Hilary voltou para presente e viu que Roel tinha recuperado a cor e
estava de novo em pé.
-Não estaria melhor sentado? -disse-lhe enquanto ele pendurava o
telefone.
-Vamos a casa —respondeu Roel ignorando sua pergunta.
-Doutor? -insistiu Hilary.
-O certo é que não há razão física para que seu marido siga na clínica
-sorriu o homem.
-Fisicamente estou muito bem e o outro... já me passará -anunciou
Roel muito seguro de si mesmo.
«Vamos a casa», havia dito.
A que casa? Não era o momento de perguntá-lo, diante do médico e
da enfermeira, assim Hilary não teve mais remedeio que seguir ao
Roel até o elevador. Uma vez na planta baixa, informaram-lhe que
sua bagagem já estava no carro que os ia levar.
-Onde estava ontem quando tive o acidente? -perguntou-lhe Roel.
-Em Londres... né... tenho um negócio ali -respondeu Hilary
perguntando-se que guia ia seguir.
Estava-os esperando uma limusine de cristais tintos. O chofer se tirou
a boina e lhes abriu a porta. Ao ver-se em um carro tão luxuoso,
Hilary teve que fazer um grande esforço para não ficar com a boca
aberta.
-Quanto tempo temos casados? -perguntou-lhe Roel.
-Acredito que seria melhor que não te desse muitos dados -
respondeu Hilary.
-Quero sabê-lo tudo -insistiu ele lhe pondo a mão no braço.
Surpreendida pela facilidade com a que a havia meio doido, Hilary se
estremeceu.
-Seu médico há dito que terá que ir te dizendo as coisas pouco a
pouco.
-Isso o há dito o médico, mas eu não opino o mesmo.
-Sinto muito te dizer que não penso me arriscar a que não te
recupere, assim vou seguir os conselhos do doutor Lerther -insistiu
Hilary.
-Isso é uma tolice.
-dentro de uns dias, terá recuperado a memória por completo -
recordou-lhe Hilary-. Será muito melhor assim.
-E enquanto isso? -perguntou Roel olhando a à boca e deixando-a
sem fôlego.
Hilary sentiu uma descarga elétrica por todo o corpo e a mente ficou
em branco.
-Enquanto isso? -repetiu como um louro.
-Você e eu -esclareceu-lhe Roel olhando-a com interesse e fazendo-a
avermelhar-. O que se supõe que devo fazer com uma esposa a que
não recordo?
-Não faz falta que faça nada. Simplesmente, tem que confiar nela
porque vai cuidar de ti respondeu Hilary sentindo-se como uma
adolescente enamoriscada.
por que estava pendente de todas e cada uma de suas palavras? por
que o olhava assim? enfureceu-se consigo mesma por ser tão débil.
Tinha que apoiá-lo como uma amiga, nada mais. E nada menos.

-Me vais cuidar? -disse Roel divertido.
Ninguém o tinha cuidado em sua vida porque não necessitava que
ninguém o cuidasse. Jamais tinha ouvido algo tão ridículo, mas não
disse nada porque se deu conta de que Hilary o havia dito com
sinceridade e boa intenção.
-Para isso vim... -respondeu Hilary sentindo-se fora de controle ao o
ter tão perto.
Enquanto falava, Roel lhe acariciou o lábio inferior fazendo que a
temperatura corporal lhe subisse pelas nuvens.
-Está tremendo -murmurou Roel com voz rouca aproximando-se
dela-. por que não? Ao fim e ao cabo, esta situação resulta do mais
estimulante.
-Como diz? -disse Hilary surpreendida.
-Uma esposa a que não recordo -respondeu Roel-. Uma mulher com
a que tive que compartilhar mil momentos íntimos, mas que nestes
momentos resulta uma perfeita desconhecida. É uma situação erótica
do mais estimulante, minha cara. O que outra coisa ia ser?
Capítulo 3

Hilary sentiu que se ruborizava de pés a cabeça. Uma situação erótica


do mais estimulante? Uma mulher com a que tinha compartilhado mil
momentos íntimos?
Roel se acreditava que era uma esposa normal, claro. Corno ia
imaginar as circunstâncias nas que se casaram fazia quatro anos?
É uma maneira de vê-lo -respondeu tentando que não lhe notasse
quão incômoda estava.
-Ruboriza-te como uma adolescente -comentou Roel divertido.
-Só contigo! -respondeu Hilary furiosa porque sabia que estava como
um tomate.
No colégio, aquela facilidade para ruborizarhavia lhe valido as
brincadeiras de seus companheiros. Menos mal que tinha conseguido
controlá-lo ao fazer-se maior. Entretanto, parecia que com o Roel não
lhe funcionava.
-Não devemos levar muito tempo casados comentou ele abraçando-a.
-Não! -exclamou Hilary.
Roel sorriu. Aquela mulher era pequeñita, mas tinha caráter.
-Não se preocupe... por beijar a minha mulher não vou recair.
-Como sabe? -perguntou Hilary como uma parva-. Não acredito que
seja boa idéia que nos beijemos... ainda...
-Não passa nada -insistiu Roel divertindo-se pela preocupação de sua
esposa ante a possibilidade de que um pouco de sexo lhe sentasse
mau-. Tome o como um experimento. Pode que me faça recordar
coisas, bela minha.
-Roel...
Hilary não queria que se tornasse atrás, morria por experimentar o
que uma vez lhe tinha sido negado, assim inclinou a cabeça e deixou
que a beijasse.
Imediatamente, sentiu que o corpo lhe convertia em fogo líquido e,
ao pouco tempo, encontrou-se gemendo de prazer.
-chegamos a casa -anunciou Roel apartando-se e olhando-a aos
olhos.
Surpreendida por sua própria reação apaixonada, Hilary tentou
recuperar a compostura. No mais profundo de si, teria preferido que
não tivessem chegado ainda. Teria deixado que lhe tivesse feito o
amor ali mesmo, na limusine, e Roel se devia ter dado conta.
sentia-se envergonhada por ter chegado tão longe. Como ia voltar a
olhá-lo à cara? comportou-se como uma morta de fome.
A que estava jogando? Roel se tinha fiado dela e, precisamente por
essa confiança, ela tinha que comportar-se com cabeça e manter as
distâncias entre eles.
Quando o chofer lhe abriu a porta, Hilary olhou disimuladamente a
seu redor. Roel vivia em uma inmisión rodeada de altos muros em
cujo vestíbulo havia estátuas antigas, móveis preciosos e chãos de
mármore.
Hilary notou que o mordomo que tinha ido a lhes dar a bem-vinda a
olhava com curiosidade.
meu deus! -exclamou Roel nesse momento.
Hilary o olhou. Havia algo que o tinha surpreso.
Vamos acima -urgiu-o.
Enquanto a seguia, Roel se perguntou que fazia o quadro, o favorito
de seu avô, no vestíbulo de sua casa.
Agora estou contigo... acabo-me de acordar de uma coisa -disse-lhe
Hilary ao chegar à planta de acima.
Ato seguido, baixou correndo as escadas e foi em busca do mordomo.
-Olá, deve estar você perguntando-se quem sou -disse-lhe em voz
baixa.
-Não, é você uma amiga do senhor Sabatino respondeu o homem.
-Bom... o certo é que sou sua esposa -confessou Hilary-. Meu nome é
Hilary, e você?
-Eu sou Humberto, senhora -respondeu o mordomo visivelmente
surpreso.
-Por favor, Humberto, não quero que meu marido receba chamadas
de nenhum tipo, nem profissionais nem pessoais.
Humberto a olhou com incredulidade.
-Faça o que lhe digo -ordenou-lhe Hilary.
Ato seguido, voltou junto ao Roel, que tomou em braços e a beijou na
boca.
-Roel? -exclamou Hilary surpreendida-. Que demônios está fazendo?
Roel riu de maneira sensual e abriu a porta do dormitório principal.
-Não quero mais interrupções -respondeu.
-Por favor, baixa me... -rogou Hilary-. Supõe-se que tem que
descansar.
Roel a deixou em uma enorme cama.
-Isso é exatamente o que vou fazer, mas contigo, cara.
Hilary ficou em pé.
-Assim não descansará -disse ruborizando-se.
Roel se desabotoou a gravata e a tirou.
-Embora não me lembre dos últimos cinco anos de minha vida, sei
que não sou uma pessoa tranqüila e que, quando não estou
trabalhando, preciso fazer algo.
-Mas não isto -respondeu Hilary com a respiração entrecortada-. Crie
que te quer deitar comigo, mas em realidade não é assim, de
verdade.
-Não me posso acreditar que me tenha casado com uma mulher que
lhe dá tanta importância ao sexo -burlou-se Roel.
-Preocupo-me com ti, por isso lhe digo isso -insistiu
Hilary retorcendo-as mãos nervosa —. Agora mesmo, isto não te vem
bem...
Deixa que eu seja o que dita isso -sorriu Roel.
De repente, seu sorriso se tornou uma careta de dor.
-O que te passa? -perguntou-lhe Hilary preocupada.
Roel a olhou intensamente.
-Clemente, meu avô, morreu... por isso o quadro do Matisse está em
minha casa em lugar de estar no Castello. morreu?
Hilary empalideceu.
Não me oculte informação -advertiu-lhe seu mando.
Hilary assentiu.
-Sim, sinto muito. Seu avô morreu faz quatro anos...
-Como morreu?
-De um ataque ao coração. Acredito que foi muito repentino -
respondeu Hilary rezando para que não perguntasse mais detalhes.
Roel se separou dela e se dirigiu aos ventanales. Era óbvio que queria
estar sozinho, mas Hilary tentou aproximar-se dele.
-Roel... -murmurou sentindo lástima por ele.
-Vete a ver o que tem que jantar -respondeu Roel secamente.
-Importa-me um nada o que tenha que jantar. Por favor, não me
separe de ti. Eu também o passei muito mal quando morreu minha
avó...
-Eu não gosto de falar de meus sentimentos com a gente -espetou-
lhe Roel.
-Está bem -disse Hilary saindo da habitação enfurecida.
Uma vez no corredor, encontrou-se com o Humberto e com outro
homem que levava sua bagagem.
-Senhora -disse-lhe o criado lhe abrindo a porta com uma inclinação
de cabeça.
Hilary entrou em seu dormitório, uma habitação além da do Roel, e
ficou maravilhada pelos móveis. Entretanto, o aborrecimento não lhe
tinha passado e, ao olhar-se ao espelho, comprovou que tinha
lágrimas nos olhos.
Como podia ser tão parva para deixar que uma palavra fora de tom
do Roel a pusesse assim?
Hilary tomou ar para acalmar-se e seguiu ao Humberto fora da
habitação.
-Agradeceria-lhe que me ensinasse a casa -disse-lhe com um sorriso.
Estava segura de que Roel começaria a recuperar a memória em um
par de dias e se perguntou se então lhe agradeceria sua ajuda.
Se pelo Humberto tivesse sido, lhe teria ensinado o interior de todos
e cada um das despensas da casa, mas Hilary lhe disse que se desse
pressa. Assim, visitou todas as estadias, que eram muitas, e
chegaram à cozinha.
Ali, Humberto lhe apresentou ao cozinheiro francês, que lhe beijou a
mão e saiu ao jardim para lhe trazer uma flor amarela que Hilary se
colocou no cabelo antes de subir a tomar banho para baixar para
jantar.
Uma vez em sua habitação, comprovou que lhe falam desfeito a
bagagem e que sua roupa já estava pendurada no armário. Ato
seguido, deu-se uma ducha de sonho enquanto sorria ante o luxo que
a rodeava.
Quando voltou para a habitação, encontrou-se com que- Roel a
estava esperando e aquilo a fez parar-se em seco
eu adoro a rosa que leva no cabelo -murmurou Roel.
Me deu de presente isso seu cozinheiro -respondeu Hilary Tocando-a
flor.
Roel se tinha tirado o traje e se pôs umas calças informais e uma
camisa azul. Estava tão bonito que Hilary não podia parar de olhá-lo.
Roel arqueou uma sobrancelha. Era óbvio que o que tinha feito o
cozinheiro lhe parecia uma rabugice, mas entendia por que o tinha
feito. Sua esposa tinha uma pele de porcelana, olhos cinzas como
uma tormenta do norte e uma boca tão provocadora como uma
cereja.
Roel sentiu que todo o corpo lhe esticava e se perguntou se sempre
que a via a desejava assim porque naqueles momentos o único no
que podia pensar era em mergulhar-se dentro daquele maravilhoso
corpo.
Hilary só tinha posto um penhoar e se sentiu vulnerável de repente,
mas ao encontrar-se com a acalorado olhar do Roel o acanhamento
se tornou desejo. O fogo abrasador que percorria suas veias era tão
intenso que lhe impedia de mover-se.
O ambiente estava carregado de eletricidade.
-Desejo-te, cara -declarou Roel.
Aquela confissão lhe fez sentir prazer e dor a partes iguais. Muitas
vezes tinha fantasiado com aquele momento mágico, o momento no
que Roel a olharia milagrosamente como a uma mulher desejável.
E agora aquele sonho se estava convertendo em realidade. Roel
acabava de dizer que a desejava, mas Hilary não podia correr para
ele, como fazia em seus sonhos, porque em realidade Roel não a
desejava.
O que lhe ocorria era que acabava de expressar um desejo natural
por uma mulher que em realidade era uma ilusão: sua esposa, a
mulher com a que ele acreditava ter um matrimônio normal e em
quem acreditava que podia confiar.
Mas Hilary não era essa esposa, só era uma mulher a que Roel tinha
pago para que se casasse com ele, uma mulher que não lhe
interessava o mais mínimo. E, para cúmulo, não era de sua classe
social nem tinha tanto dinheiro como ele.
-Hilary... -disse Roel franzindo o cenho ao vê-la duvidar.
-Não temos este tipo de relação -protestou Hilary.
Roel a tirou da boneca.
-Não te entendo...
Hilary sentiu que lhe formava um nó na garganta, mas sabia que
tinha que renunciar a aquilo pelo bem do Roel.
-Olhe, não é importante, assim não te deve preocupar com isso. Não
sou uma pessoa importante em sua vida e, quando recuperar a
memória, dará-te conta de que estou dizendo a verdade e eu me
alegrarei de não ter baixado o guarda.
Roel a olhou com curiosidade.
-O que tem feito para que te trate assim?
-Não tenho feito nada! -defendeu-se Hilary.
Roel lhe apertou a boneca sem dar-se conta.
-Está-me fazendo mal...
Roel a soltou imediatamente e lhe pediu desculpas, mas não
esqueceu do que estavam falando.
-me explique isso que há dito de que não é uma pessoa importante
em minha vida.
-Passa-te o dia inteiro ocupado com o trabalho e não revista reparar
em mim -murmurou Hilary.
-Se me foste infiel, diga-me isso faz a bagagem e vete.
-Não diga tolices, é obvio que não te fui infiel -respondeu Hilary
dando-se conta de que em lugar de ajudá-lo a estar tranqüilo o
estava preocupando cada vez mais.
-Os homens de minha família temos o cacoete de nos casar com
mulheres infiéis apontou Roel com brutalidade-. Claro que tampouco
duvidamos muito em nos divorciar.
-Me tomo como uma advertência -respondeu Hilary tentando sorrir e
entrando no banheiro.
Uma vez a sós, Roel recordou o que Hilary lhe acabava de dizer e não
dava crédito.
«Não temos este tipo de relação».
«Não sou uma pessoa importante em sua vida».
«Passa-te o dia ocupado com o trabalho e não revista reparar em
mim».
Mas que classe de matrimônio tinham? E por que tinham habitações
separadas? O teria eleito ele? Por isso Hilary havia dito, sua relação
era o que Roel queria que fosse.
Aquilo o enfurecia pois supunha um fracasso e a palavra fracasso não
ia com ele. O era perfeccionista, mas parecia que seu matrimônio
estava muito longe de ser perfeito. Sua esposa acabava de lhe
sugerir que era um viciado no trabalho indiferente a suas
necessidades.
Custava-lhe acreditar que não se deitava com ela, mas, o que outra
coisa podia pensar? Talvez, por isso se havia sentido tão
surpreendida quando a tinha beijado na limusine. Roel recordou que
depois da surpresa tinha chegado a paixão e se disse que tudo tinha
solução.
Hilary ficou uma saia negra por cima do joelho e um Top verde e
chamou a sua irmã, a que tinha decidido lhe contar a verdade de seu
matrimônio com o Roel quando todo aquilo terminasse.
Quando baixou, Humberto a acompanhou ao comilão, no que luzia
esplêndida a luz das velas e em cuja mesa se dispôs uma magnífica
baixela de porcelana, uma estupenda cristalería e um precioso
faqueiro de prata.
-Isto é precioso -estava-lhe dizendo Hilary ao mordomo quando
chegou Roel. -O que celebramos?
-Que lhe deram o alta -respondeu Hilary levantando sua taça de
vinho com mãos trementes.
-Me ocorreu um tema de conversação normal -informou-lhe Roel—.
me Fale de sua família.
A Hilary não importava lhe falar dos seus, assim que se sentou
disposta a fazê-lo.
-Meus pais morreram em um acidente de carro na França quando eu
tinha dezesseis anos -explicou-. Minha irmã, Emma, tinha onze.
-E quem se fez cargo de vocês?
-A prima de meu pai -respondeu Hilary omitindo que aquela tinha
sido uma etapa de sua vida espantosa-. Agora, minha irmã está em
um internato.
-Aqui, na Suíça?
-Não, na Inglaterra.
-E tem mais família?
-Não. Tinha a minha avó, mas morreu. Era italiana e ela me ensinou
a falar italiano.
-E por que não fala em italiano comigo?
-Porque o entendo quase tudo, mas me dá vergonha falar...
-chegou o momento de trocar isso -declarou Roel com decisão.
-Não sei -insistiu Hilary-. Já te riu uma vez de como falo italiano!
Disse-me que parecia uma paleta porque muitas das palavras que
usava já estavam obsoletas.
-Estaria tomando o cabelo, cara -respondeu Roel.
Não, não lhe estava tirando o sarro. Em realidade, Roel se tinha
zangado porque a cabeleireira tinha entendido uma conversação em
italiano que ele acreditava confidencial.
-A verdade é que terminamos discutindo, mas não quero falar disso
agora.
Era melhor permanecer em silêncio e concentrar-se na comida, que
estava deliciosa. Hilary tomou três taças de vinho, mas não tomou
café e anunciou que se ia logo à cama porque estava muito cansada.
-Mas se não serem nem as oito -apontou Roel com amabilidade.
-Nunca me deito tarde -respondeu Hilary ficando em pé.
Roel também ficou em pé e a tirou da mão.
-Quero te fazer uma pergunta que deve responder.
Hilary o olhou assustada.
-A quem lhe ocorreu que dormíssemos em habitações separadas?
-A ti -respondeu Hilary pensando que era a única resposta lógica.
Roel sorriu e Hilary sentiu que o coração lhe acelerava. Quando Roel
lhe soltou a mão, deu um passo atrás e, embora lhe tremiam as
pernas, conseguiu lhe dar as boa noite e ir-se a sua habitação.
Dez minutos depois, com os dentes já escovados e a cara poda de
maquiagem, Hilary apagou a luz e se meteu na cama com um
suspiro, mas o certo era que não tinha sonho e, sem poder evitá-lo,
recordou os primeiros encontros com o Roel.
apaixonou-se por um homem que nunca a tinha convidado a sair.
Havia tornado aproximadamente uma vez ao mês à barbearia onde
ela trabalhava. Ao ver a limusine que tinha e as gorjetas que deixava,
a proprietária da barbearia tinha insistido em atendê-lo pessoalmente
a próxima vez que fora, mas para surpresa da Hilary Roel tinha
insistido em que queria que o atendesse ela.
-Lembrava-te de como me chamava? -perguntou-lhe emocionada.
-Não, mas lhe hei dito como foi.
-E como sou?
-Sempre fala tanto?
-Se me disser como me há descrito, calo-me.
-Baixa, com os lábios pintados de arroxeado e botas de pocero.
Certamente, não era uma descrição que adulasse precisamente a
uma mulher, mas aos cinco minutos Hilary já se esqueceu e lhe
estava perguntando quantos anos tinha e tentando averiguar se
estava casado ou não.
Roel nunca falava com ela, mas não lhe importava que ela falasse.
Quando lhe perguntou como ganhava a vida, ele respondeu que
trabalhava em um banco. Pouco depois, Hilary viu no periódico que
Roel não trabalhava em um banco mas sim era o dono do Banco
Sabatino.
Em outra de suas visitas, Hilary o tinha ouvido falar por telefone
lamentando-se da morte de seu avô e da possibilidade de perder o lar
familiar, que adorava. Quando pendurou o telefone, ela se ofereceu a
casar-se com ele para impedir aquilo.
-por que não? -tinha insistido vermelha da cabeça aos pés quando ele
a tinha cuidadoso com as sobrancelhas arqueadas.
Não sabia de onde tinha tirado o valor para fazer uma sugestão
parecida, mas estava disposta a fazer ou a dizer o que fora com tal
de que Roel se fixasse nela.
-Me ocorrem muitas razões -respondeu ele com dureza.
-Certamente porque é um homem muito prudente que se dedica a
complicar as coisas -insistiu Hilary-. O certo é que tem um problema
singelo de resolver porque quão único precisa é uma esposa de
mentira para que não lhe tirem sua casa e eu estou disposta a te
ajudar.
-Não vou seguir falando deste tema contigo. Além disso, colocaste-te
em uma conversação privada.
-Então, lhe peça a alguma amiga que te ajude. Não seja tão
orgulhoso -tinha-lhe aconselhado Hilary.
-Onde aprendeste a falar italiano como uma paleta?
-Como? O que acontece com meu italiano? -tinha-lhe espetado Hilary
ante aquele insulto.
-Utiliza palavras arcaicas e expressões da Idade Média -riu Roel.
-Às vezes, é incrivelmente mal educado!
-interrompeste uma conversação confidencial e me tem proposto algo
completamente fora
do normal -respondeu Roel a modo de desculpa-. O que esperava que
te dissesse?
-Só queria te ajudar...
-por que? Não nos conhecemos de nada.
-Tem razão -respondeu Hilary doída mas encolhendo-se de ombros-.
Não hei dito nada.
-Quando te zanga fica feia.
-Não há nada em mim que você goste? —perguntou Hilary com
esperança.
-Não -respondeu Roel com secura.
-Venha, com certeza que sim —insistiu ela.
Roel sorriu, algo que fazia em contadas ocasiões, e Hilary sentiu que
lhe acelerava o coração, mas ali se terminou tudo.
Três semanas depois, chamou-a por telefone e a citou no restaurante
de um hotel, mas para que não se fizesse ilusões lhe esclareceu que
foram falar de negócios.
Enquanto lhe explicava as condições do matrimônio de conveniência,
Hilary se deu conta de que lhe tinha tirado o apetite. Quando Roel lhe
ofereceu uma enorme soma de dinheiro como compensação a aquele
favor que estava disposta a lhe fazer, Hilary se negou.
-Pensa-o atentamente e já falaremos.
-Se tivesse querido dinheiro, não me teria devotado a fazer isto. Não
me parece bem aceitar dinheiro por me casar. Você o único que quer
é não perder a casa que pertenceu a sua família durante gerações e
não me parece bem aceitar dinheiro para te fazer esse favor.
Entretanto, durante os seguintes dias o pensou melhor e se deu conta
de que o dinheiro que Roel lhe oferecia lhes faria a vida mais fácil a
sua irmã e a ela. Poderiam mudar-se a um bairro melhor e poderia
abrir sua própria barbearia para estar mais tempo com a Emma.
Ao final, Hilary acabou aceitando uma décima parte da quantidade
que Roel lhe tinha devotado em um princípio. Em quando aceitou o
cheque, deu-se conta de que tinha perdido seu respeito.
Hilary suspirou, pois o passado já ninguém podia trocá-lo e voltou
para presente. Uns segundos depois, ouviu uma porta que se abria e
Roel acendeu a luz.
Hilary ficou olhando-o fixamente enquanto lhe apartava a colcha e
tomava em braços.
-O que faz? -perguntou-lhe mortificada.
-A partir de agora, vamos dormir juntos, cara -respondeu Roel
levando-a a seu dormitório.
-Não me parece uma boa idéia -murmurou Hilary.

CAP 4
ROEL deixou a Hilary sobre a cama. O desejo lhe ruborizava as
bochechas e a camisola azul que levava não era precisamente
modesto. O certo era que a Hilary gostava de levar lingerie refinada
estando sozinha porque a fazia sentir uma mulher glamurosa, mas
não estava acostumada a ter público, assim que se apressou a
sentar-se e tampá-las pernas com o lençol.
Roel se desabotoou a camisa e se tirou os sapatos. Hilary ficou sem
fôlego. disse-se que devia apartar o olhar, mas não pôde. Tinha vinte
e três anos e nunca tinha visto um homem nu. Jamais tinha estado a
sós na mesma habitação com um homem.
por que? Porque seguia sendo virgem. Em certo sentido, estava
convencida de que seguia sendo-o precisamente porque tinha
conhecido ao Roel e tinha decidido que queria o que não podia ter.
Aos dezenove anos tinha descoberto que o desejo físico cortava como
uma faca e aniquilava o raciocínio e o orgulho. Embora quando se
conheceram ele não sentia por ela quão mesmo ela por ele, quando
se separaram Hilary tinha comparado a todos os homens que tinham
aparecido em sua vida com o Roel.
Nenhum tinha dado a talha. -Me vou tomar banho, bela minha... -Não
sou bonita, assim não me chame assim -respondeu Hilary apartando
os olhos daqueles músculos perfeitos e bronzeados.
Roel se ajoelhou junto à cama e a olhou. -Se te disser que é bonita é
porque o é -assegurou-lhe. -Mas...
-Tem um corpo precioso... -Sou baixa...
-Sim, mas suas curvas são maravilhosas. Desde que te vi, quis te
agarrar em braços e te depositar em minha cama e aqui está.
Roel ficou em pé e se baixou a cremalheira das calças.
-Deveria descansar -insistiu Hilary apartando o olhar muito a seu
pesar.
-Durma e deixa de discutir -riu Roel. ria, sorria. Parecia feliz e aquilo
a Hilary se o fazia estranho. girou-se e se disse que não passava
nada por compartilhar a cama. Além disso, era uma cama maior,
mas... e se Roel se aproximava de seu lado em metade da noite e
ficava carinhoso?
Rechaçaria-o? Sabia que não. Lágrimas de raiva se incrustaram em
seus olhos e piscou furiosa
para acabar com elas.
A voz de sua consciência lhe recordou que Roel recuperaria a
memória logo e Hilary se perguntou como se sentiria se tivesse
havido algo físico entre eles para então. Era um homem solteiro e
sofisticado e certamente o sexo para ele não seria nada sério. Se ela
conseguia comportar-se de maneira também casual, Roel acreditaria
que para ela tampouco tinha significado nada.
Hilary se deu conta de repente de que estava tentando convencer-se
a si mesmo de que não passaria nada por deitar-se com o Roel.
-Segue acordada, cara?
Para ouvir sua voz, Hilary tirou a cabeça de debaixo do travesseiro e
o olhou.
Só levava uma toalha atada à cintura e as gotas de água lhe
escorregavam do cabelo e lhe caíam pelo torso.
Hilary assentiu pajo o atento olhar do Roel, que se sentou no bordo
da cama e apartou o lençol.
-Quero verte -disse-lhe com voz rouca.
Hilary sentiu que o coração lhe acelerava.
-Quero verte tudo... -acrescentou Roel.
Hilary ia dizer que não, de verdade, ia negar se, mas então cometeu
o engano de olhar-se naqueles impressionantes olhos castanhos e
perdeu a razão.
-Roel...
-eu adoro como diz meu nome -respondeu ou I beijando-a nos lábios
com delicadeza.
Ato seguido, sua língua pediu aconteço e se introduziu em sua boca.
Hilary não pôde evitar gemer e lhe acariciar o cabelo.
-Tem uma boca incrível -disse Roel tomando-a em braços e
colocando-a escarranchado sobre seus quadris.
-Não deveríamos... -advertiu-lhe Hilary surpreendida-. Não podemos
fazê-lo.
-Ah, não? -respondeu Roel lhe desabotoando a camisola e deixando
seus peitos ao descoberto-. Santo céu... é preciosa...
Hilary se ruborizou de pés a cabeça enquanto Roel brincava com seus
mamilos. sentia-se intimidada e emocionada de uma vez por suas
carícias. Nesse momento, Roel inclinou a cabeça e seus lábios
seguiram o mesmo rastro que seus dedos.
-OH... -exclamou Hilary surpreendida enquanto uma deliciosa
sensação, entre prazenteira e doo-rosa, apoderava-se dela.
Era uma sensação que nascia no mamilo e viajava por todo seu corpo
até seu entrepierna. Hilary deixou cair a cabeça sobre seu ombro em
sinal de rendição.
-Desde que te vi na clínica, sonhei com este momento, te tendo em
minha cama -confessou Roel-. Ocorreu o mesmo quando nos
conhecemos?
-Nunca me há isso dito -murmurou Hilary escondendo o rosto em seu
ombro.
-Assim não compartilho meus segredos quando me acordado a seu
lado, não?
-OH...
Roel a apoiou contra os travesseiros para poder admirá-la e beijá-la
bem. Quando se deu conta de que Hilary movia ritmicamente os
quadris, sorriu satisfeito.
-Deseja-me, bela minha.
Era inútil negá-lo. Hilary sentia todo seu corpo em tensão, jamais se
havia sentido tão viva. Não podia pensar com claridade, só podia
sentir. Alargou o braço para atrai-lo para ela.
-Não tenha pressa -disse Roel com voz sensual enquanto lhe tirava a
camisola e se fixava nos cachos loiros de seu púbis.
-Roel...
Ao saber-se imperfeita e não podendo agüentar o escrutínio, Hilary se
deu a volta e se tampou com o lençol. Ato seguido, Roel ficou em pé
e se tirou a toalha. O que viu deixou a Hilary sem fôlego.
Roel estava completamente excitado.
Sem lhe dar importância, tombou-se junto a ela na cama e Hilary
acreditou que se ia derreter de desejo.
-Desejo-te -rugiu Roel beijando-a com força-, mas também quero te
atormentar de prazer...
Hilary se regozijou ao sentir o peso de seu corpo em cima, passou-lhe
os braços pelo pescoço e o beijou com paixão. Aqueles beijos e
aquela situação eram muito melhor do que jamais tinha sonhado.
O certo era que se sentia perdida em um novo mundo de
sensualidade e Roel não fazia mais que fazê-la gozar lhe acariciando
os peitos.
-Eu gosto de te olhar -disse-lhe.
Hilary sentiu uma pontada de desejo entre as pernas que a fez abrir
os olhos e, compreendendo seu desejo, Roel lhe tocou a entrepierna,
descobriu a umidade que ali se escondia e percorreu a entrada de seu
corpo fazendo-a gemer.
-Roel, por favor... -rogou-lhe Hilary completamente excitada.
Roel acessou a seus desejos e se introduziu em seu corpo.
-Está muito tensa, minha cara -rugiu de prazer enquanto Hilary se
surpreendia ante aquela invasão.
Roel voltou a tentá-lo e aquela vez conseguiu chegar ao centro de
seu corpo. Hilary gritou de dor e lhe saltaram as lágrimas.
Roel ficou olhando-a fixamente com incredulidade.
-É virgem ou são minhas imaginações?
O corpo da Hilary se estava ajustando ao invasor e a dor tinha
remetido. Sempre tinha sonhado com que Roel fora o primeiro
homem com o que se deitasse e o tinha conseguido, assim não podia
permitir-se parar agora.
-Não sabia que ia ser assim... não pares...
-Minha esposa é virgem... -comentou Roel algo nervoso.
Hilary lhe aconteceu os braços pelo pescoço convidando-o a seguir.
-Por favor...
Roel voltou a introduzir-se em seu corpo e logo seus quadris se
compassaram em cíclicos movimentos que os levaram a
convulsionar-se até alcançar o clímax.
Surpreendida por aquela sensação, Hilary se deixou cair contra os
travesseiros e ficou em silêncio. deu-se conta de que não deveria
haver-se deixado levar e de que, além disso, ao haver-se deitado
com o Roel se apanhou ela sólita.
Não se tinha dado conta de que Roel ia se precaver de que era
virgem e aquilo não encaixava, pois se supunha que era sua mulher.
Nesse momento, Roel a abraçou e a olhou aos olhos.
-É incrível... -comentou-. Como é possível que fosse virgem?
Hilary empalideceu e se deu conta de que Roel se estava
perguntando se se acabavam de casar. Estava tão envergonhada que
não se atrevia a olhá-lo aos olhos.
tornou-se louca?
-Está muito calada... -comentou Roel.
-Morro por tomar banho ! -exclamou Hilary levantando-se da cama
de um salto.
Quão único podia pensar era em fugir, mas de repente se deu conta
de que estava completamente nua e se ajoelhou no chão com pouca
graça para recolher sua camisola e ficar o a toda velocidade.
Uma vez vestida de novo, recuperou a compostura e saiu da
habitação com dignidade. Roel a olhou com incredulidade.
-O que te passa?
-O que quer que me passe? -respondeu Hilary forçando um sorriso e
voltando para sua habitação para encerrar-se no banheiro.

O que ia pensar Roel dela quando recupera a memória? A vergonha


se apoderou dela. Lhe ia parecer uma mulher patética por haver-se
deitado com ele naquelas circunstâncias.
Possivelmente, desse-se conta de que só uma mulher completamente
apaixonada se entregaria precisamente naquelas circunstâncias
porque o desespero a levaria a agarrar-se a um prego ardendo.
Em qualquer caso, lhe ia parecer patética e aquilo a mortificava.
Na habitação do Roel soou o telefone e Humberto o informou em tom
pouco menos que confidencial de que tinha uma visita.
-De quem se trata? -perguntou Roel enquanto começava a vestir-se.
O mordomo não quis dizer-lhe por telefone, assim Roel se viu
obrigado a baixar.
-A que vem tanto mistério? -perguntou ao Humberto em tom seco.
-veio a vê-lo-a senhorita Céline Duroux -respondeu o mordomo.
Roel apertou as mandíbulas porque aquele nome não lhe dizia nada e
aquilo o frustrava sobremaneira.
-Fiz mal em deixá-la entrar? -lamentou-se Humberto.
Roel se perguntou por que teria que ter feito mal o mordomo em
deixar entrar naquela mulher, mas o orgulho lhe impediu de
confessar-se com um empregado, assim não disse nada.
limitou-se a passar ao salão das visitas onde Humberto tinha
agasalhado à convidada. tratava-se de uma mulher de cabelo
castanho e olhos verdes, muito bonita, que foi para ele e o abraçou
com força.
-Faz-te uma idéia do preocupada que me tinha? -perguntou aquela
fémina de corpo escultural-. Tínhamos ficado ontem e, como não
apareceu, pensei que estaria muito ocupado, mas quando me inteirei
de que tinha tido um acidente decidi vir.
Desconcertado por sua saudação, Roel se separou dela e a olhou com
receio.
-Como pode observar, não há motivo de preocupação. Estou muito
bem.
-Não seja tão frio comigo -protestou Céline.
-Estou sendo frio? -perguntou Roel para ganhar tempo. ,
A modelo fez uma panela e o olhou de maneira provocadora.
-Está bem -suspirou-. Não deveria ter vindo porque sei que crie que
seu amante deve ser ultra discreta, mas não estamos no século XIX.
Roel conseguiu manter a compostura ante aquela revelação. Então,
compreendeu por que Humberto não sabia se tinha feito bem
deixando-a entrar. Céline Duroux era seu amante e tinha o descarado
de ir a sua casa apesar de que sabia que era um homem casado.
Por desgraça, a conduta de seu amante lhe revelava que sua própria
conduta para com sua mulher não devia ter sido muito acertada.
Era óbvio que, antes do acidente de carro, não tinha emprestado
atenção a seu matrimônio nem a sua mulher.
-Tem razão. Acredito que tivesse sido muito melhor que não tivesse
vindo -espetou-lhe-. Já que está aqui, aproveito para te dizer que
nossa relação terminou.
Céline o olhou zangada enquanto Roel se desculpava com o único
objetivo de que aquela mulher saísse dali antes de que Hilary se
inteirasse de sua presença. Não lhe estava gostando de nada inteirar-
se de que sua vida era um caos.
Agora compreendia por que Hilary se mostrava tão tensa com ele!
Saberia que existia Céline? É obvio que sim! Esse devia ser o motivo
pelo que seu matrimônio não se consumou. negou-se Hilary a deitar-
se com ele enquanto tivesse uma amante?
Sem dúvida, lecionada pelo doutor Lerther, sua esposa não tinha
querido lhe dar nenhuma informação que o pudesse preocupar.
Se não tivesse sido pelo nervosa e confundida que a tinha visto
depois de haver-se deitado com ela, teria pensado que seguia sendo
virgem porque se acabavam de casar.
O certo era que seguia sendo virgem porque ele era um bastardo.
Imediatamente, sentiu-se culpado, algo que era novo para ele.
Os homens de sua família se orgulhavam de ser pessoas honestas,
eram suas mulheres as que eram infiéis, ambiciosas, promíscuas e
débeis. Entretanto, Hilary não era assim absolutamente.
Céline tentou fazê-lo trocar de opinião e, ao ver que não o conseguia,
acusou-o de ser incrivelmente cruel e insensível.
Roel não respondeu.
Ao final, Céline se deu por vencida e saiu ao vestíbulo justamente
quando Hilary baixava as escadas procurando o Roel. ficou petrificada
no sítio, observando a aquela beleza de cabeleira castanha e pernas
tão largas como todo seu corpo.
Teria ido ver o Roel? Seria sua noiva? Como demônios não lhe teria
ocorrido pensar que Roel pudesse ter noiva?
Confusa e nervosa, Hilary se apressou a voltar para a cama. antes de
ficar dormida, pensou que, se Roel tivesse tido uma mulher em sua
vida, sua tia não se teria posto em contato com ela.
Dez minutos depois, Roel observava a sua esposa dormida.
Tinha as pestanas pegas e os olhos um pouco inchados, como se
tivesse estado chorando. amaldiçoou-se a si mesmo e recordou que
nunca se preocupou muito pelos sentimentos das mulheres que o
rodeavam.
Jamais se tinha apaixonado por nenhuma e sempre tinha sido o que
tinha posto ponto final às relações, mas aquela mulher era diferente
porque era sua esposa e a estava fazendo infeliz.
Hilary não se merecia aquilo.
Não lhe tinha falado do Céline e isso queria dizer que era uma mulher
razoável. Roel decidiu não falar daquele tema tampouco. Havia coisas
das que era melhor não falar.
Quão único importava era que Hilary era sua esposa. Roel decidiu que
aquele era um bom momento para começar de novo...
Quando Hilary despertou, sentiu um desconhecido dor entre as
pernas e recordou tudo o que tinha acontecido a noite anterior.
Consultou o relógio e comprovou que era mais de meio-dia. Tinha
tido pesadelos e não tinha dormido bem. levantou-se da cama
recordando a cara do Roel enquanto faziam o amor.
estremeceu-se. Pensar nele fazia que lhe falhassem as pernas.
O que mais gostava de era poder fingir que Roel era seu homem. Era
ridículo, mas era seu sonho feito realidade.
A noite anterior se arrependeu por haver-se deitado com ele, mas
agora, enquanto abria as cortinas, decidiu que não era para tanto.
deitou-se com ele, sim, mas não acreditava que para aquilo Roel
tivesse sido muito importante. Ao fim e ao cabo, não se lembrava
dela, mas não tinha perdido o tempo. Tinha-a levado a sua cama
assim que tinha podido e o certo era que Hilary não se arrependia.
Para ser completamente sincera consigo mesma, morria de vontades
porque aquilo voltasse a repetir-se, por voltar a sentir aquele
extraordinário prazer.
tornou-se louca? Não, estava desesperadamente apaixonada por
aquele homem e não se podia imaginar compartilhar algo tão íntimo
com outro que não fora ele.
O que tinha que mau em querer ter uns quantos boas lembranças
para o futuro? Quando Roel tivesse recuperado a memória e se
desfeito dela, ao menos teria as lembranças para seguir vivendo.
Além disso, sabia que não ia ser capaz de encontrar a outro homem
pois Roel era superior a todos. Por isso não se apaixonou nunca e
nunca voltaria a apaixonar-se.
Naquele momento, ouviu um ruído a suas costas enquanto se pintava
os lábios no banheiro.
-Ah, é você -murmurou ao ver entrar em seu marido.
-Espreguiçadeira -respondeu ele.
Hilary ficou olhando-o aos olhos pelo espelho.
-Não lhe fazem falta essas coisas -assegurou-lhe Roel franzindo o
cenho e olhando a incrível coleção de maquiagens que Hilary tinha-.
Atira-os.
-Eu gosto de me pintar -respondeu Hilary com atitude desafiante
porque não lhe tinha gostado que lhe falasse em tom tão dominante.
-Pois a mim, não -informou-lhe Roel.
-Me alegro então de que não te maquie -brincou Hilary.-Eu não gosto
do que é falso.
Hilary terminou de pintá-los lábios de cor fresa e lhe sorriu.
-É um homem incrível... mas muito controlador e mimada...
-Mimada? -repetiu Roel estupefato.
-Está acostumado a dar ordens a todo mundo, ao serviço de sua
casa, aos empregados de seu banco, a todo mundo. Qualquer diria
que te vais cansar qualquer dia de dar ordens, mas parece que cada
vez você gosta mais.
-Expressar minhas preferências não é o mesmo que dar ordens -
respondeu Roel com frieza.
-Fala em um tom que parece que dá ordens, mas te advirto que não
vou deixar de me pintar porque você não goste da maquiagem. O
traje que leva é muito bom, mas muito aborrecido. O vais atirar ao
lixo porque me pareça de homem maior?
-É perfeito para ir ao banco -respondeu Roel.
-Mas agora não está no banco -recordou-lhe Hilary olhando-o
provocadora.
Roel se tirou as mãos dos bolsos e a agarrou pelos quadris.
-Está muito graciosilla esta manhã...
Hilary o olhou aos olhos e Roel a apertou contra seu corpo.
-Excita-me -confessou-. Se as donzelas não estivessem em sua
habitação te fazendo a bagagem, tomaria aqui mesmo. eu adoraria
fazer o de maneira selvagem e rápida e acredito que também ia
gostar, bela minha.
Hilary se ruborizou. Não podia acreditar o que acabava de ouvir, mas
lhe tinha gostado. Tremiam-lhe as pernas. Estava completamente
excitada. De fato, os mamilos ameaçavam lhe brocando a camiseta.
-Acredito que poderia fazê-lo sem te danificar a maquiagem -
acrescentou Roel.
-Não o duvido...
-Mas acredito que me vou esperar a que lhe tire isso -sorriu olhando-
a com paixão.
-Pois vais esperar sentado! -exclamou Hilary mortificada por sua
brincadeira e apartando-se dele.
Olhou-o de novo e se lançou.
-Ontem à noite vi uma mulher sair do salão e me estava perguntando
quem era...
-Que mulher? -respondeu Roel algo tenso.
-Tinha o cabelo comprido e era muito bonita.
-Ah, sim... -disse Roel encolhendo-se de ombros-. É uma empregada.
Hilary sentiu um tremendo alívio. Tinha sido parva por sentir medo
pelo mero feito de ver uma mulher bonita em sua casa.
Nesse momento, uma das donzelas reclamou a atenção do Roel.
-Hilary, a donzela me está dizendo que não encontra sua roupa -
disse-lhe Roel-. Pelo visto, aqui não há mais que um par de trajes.
Hilary ficou de pedra. Obviamente, Roel esperava que tivesse uma
impressionante coleção de roupa, como todas as mulheres de
homens ricos.
Como demônios lhe ia explicar que os armários e as gavetas
estivessem vazias?
-Decidi fazer limpeza -respondeu encolhendo-se de ombros.
-Mas é que me está dizendo que só tem dois vestidos, cara.
Hilary se mordeu o lábio inferior e baixou o olhar.
-Talvez, excedi-me um pouco...
fez-se o silêncio e Hilary ficou cada vez mais nervosa.
-vou ter que ir às compras -murmurou olhando-o.
-Qualquer diria que estiveste vivendo em outro sítio -comentou Roel.
-Como te ocorre dizer algo assim?
-me explique, então, por que os armários estão vazios.
Hilary tomou ar.
-Tivemos uma discussão estúpida porque você não gosta de como
visto e me zanguei tanto contigo que o atirei tudo -explicou-lhe.
-Conhecendo o gênio que tem, acredito-te -sorriu Roel.
-por que estão fazendo as donzelas minha bagagem? Onde vamos?
-Ao Castello Sabatino.

Capítulo 5
O CASTELLO Sabatino era um castelo medieval que se elevava sobre
um remoto vale perto da fronteira italiana.
Rodeava-o um precioso lago de águas cristalinas nas que se refletia
sua imensa silhueta e os picos nevados que o circundavam.
Tanto o edifício como os arredores eram incríveis e Hilary entendeu
imediatamente que Roel tivesse estado disposto a casar-se com ela
com tal de não perder aquele lugar.
O helicóptero que tinham tomado em Genebra aterrissou no heliporto
que havia junto ao castelo. Roel a ajudou a sair do aparelho, agarrou-
a pela mão e a conduziu para o interior.
De repente, Hilary se deu conta de que franzia o cenho ante a
claridade do dia.
-Está bem? -perguntou-lhe.
-Sim, só estou um pouco cansado -respondeu Roel molesto por não
estar em plena forma-. É que esta manhã me fui a trabalhar às
cinco...
-Como? -interrompeu-o Hilary parando-se em seco.
-Eu sou o Banco Sabatino. O banco não funciona sem mim -
respondeu Roel bruscamente-. Tinha que me familiarizar com o que
aconteceu recentemente, me assegurar de que as operações
seguissem sem mim e me ocupar do que não entendia.
-Não me posso acreditar que faça tão somente vinte e quatro horas
que seu médico te disse que necessitava repouso absoluto e você já
tenha ido trabalhar ao amanhecer! -espetou-lhe Hilary.
-Fiz o que devia fazer.
Hilary o olhou e viu que estava apertando os dentes. Aquele homem
era um cabezota exímio, mas parecia esgotado.
-Não respeita sua saúde.
-Crie-te que posso desaparecer como se nada? -respondeu-lhe Roel
entrando no castelo-. Tinha que dar uma explicação. Do contrário, o
pânico tivesse prejudicado a minha empresa.
-E o que lhes há dito?
-Hei-lhes dito que, como conseqüência do acidente, vejo dobro e que
tenho que descansar a vista. Assim, minhas secretárias me deram
toda a informação que lhes pedi sem suspeitar nada.
-Muito preparado -concedeu Hilary admirada.
-Além disso, hei-lhes dito que ia aproveitar para desfrutar de umas
bem merecidas férias com minha esposa.
-meu deus! Terá-os deixado com a boca aberta...
Hilary estava convencida, depois de ter visto a reação do Humberto,
de que exceto sua tia Batista ninguém devia saber que estava
casado.
portanto, ouvir falar dela assim, de repente, devia ter sido uma
comoção para seus empregados.
-Sim, surpreenderam-se porque nunca me estou acostumado a ir de
férias -admitiu Roel-. Por certo, deveria me haver consultado antes
de lhe dizer ao Humberto que não me passasse chamadas.
Hilary se ruborizou.
-Houvesse dito que queria te fazer carrego delas -defendeu-se.
-Pareceu-me uma boa idéia a curto prazo -respondeu Roel saudando
com respeito a Florenza, o ama de chaves que tinha saído a recebê-
los-, mas não volte a dar ordens em meu nome sem haver me
consultado isso primeiro.
Hilary abriu a boca para defender-se, mas Roel lhe pôs um dedo nos
lábios para que se calasse. Hilary se estremeceu.
-Sabe que tenho razão...
-Não, não sei. O que te passa?
Roel ficou olhando-a uns segundos e enrugou o cenho.
-Saiu correndo à rua detrás de mim...
Hilary não compreendeu o que lhe estava dizendo, mas, ao ver que
se secava o suor que lhe corria pela frente, assustou-se.
-Roel, por favor, sente-se.
-Não... -negou-se Roel agarrando a da cintura—. Vamos acima a falar
disto em privado.
-Falar do que? -murmurou Hilary nervosa.
Então, compreendeu-o.
«Saiu correndo à rua detrás de mim».
-recordaste algo -disse-lhe tensa-. recordaste algo sobre mim.
-foi como se alguém me tivesse posto uma fotografia velha diante -
explicou-lhe Roel abrindo uma porta com impaciência-. Queria me
devolver a gorjeta que te tinha deixado...
-Sim... -respondeu Hilary retorcendo-os dedos. Roel a olhava atônito.
-por que te tinha deixado uma gorjeta? Era nossa brincadeira ou algo
assim?
Hilary empalideceu. Entre eles se estava abrindo um abismo
impossível de fechar. Roel estava começando a compreender que ela
não pertencia a seu privilegiado mundo.
-Tinha-te talhado o cabelo -explicou-lhe. -O cabelo? -repetiu Roel
estupefato. Hilary apertou os lábios e assentiu. -Sou... cabeleireira.
Aquela vez em que me deu essa gorjeta foi a primeira que nos vimos.
-\lnferno\ Lembrança perfeitamente o que estava pensando e
sentindo nesse preciso instante! Estava completamente excitado -
admitiu Roel com brutal sinceridade-. Queria te colocar na limusine, ir
a um hotel e não sair em todo o fim de semana. Hilary se ruborizou
de pés a cabeça. Bom, pelo menos não lhe estava mentindo. Por uma
parte, era adulador que a tivesse encontrado atrativa, mas Hilary não
se sentia adulada. sentia-se furiosa.
E depois desse fim de semana o que? Nada, verdade? Para ele, só
teria sido uma fresca com a
que passar um par de noites. Como se atrevia a pensar que se foi
com ele se não o conhecia de nada?
O que a estava chamando?
De repente, sentiu uma imensa angústia. O certo era que, talvez, foi-
se com ele. Não o primeiro dia, é obvio, mas se Roel o tivesse pedido
mais adiante teria acessado porque estava completamente aniquilada
com ele e estava disposta a fazer o que fora com tal de estar a seu
lado.
Inclusive deitar-se com ele.
Sentiu que a raiva fazia que lhe saltassem as lágrimas.
-Perdão, não deveria haver dito isso -desculpou-se Roel apoiando-se
na parede.
Obviamente, estava esgotado.
-Não se preocupe, não sou uma mulher débil -mentiu Hilary tentando
soar natural-. Por favor, te tombe um momento. Está muito cansado.
Roel se afrouxou a gravata e se desabotoou a camisa enquanto
avançava para o dormitório contigüo.
-Acredito que vou chamar ao médico -disse Hilary da porta.
-Não me passa nada! —espetou-lhe Roel—. Deixa de me dar a lata.
Hilary o observou enquanto se deixava cair sobre a cama e apoiava a
cabeça sobre os travesseiros. Nem sequer se tinha tirado os sapatos.
Hilary fechou as persianas e o olhou. Roel estendeu uma mão para
ela em um gesto reconciliador.
-Deveria saber, minha cara, que tomo minhas próprias decisões.
-Nenhum problema -assegurou-lhe Hilary com ternura sentando-se
no bordo da cama e entrelaçando os dedos com os seus.
Não, que Roel tomasse suas próprias decisões não era nenhum
problema sempre e quando coincidissem com as conclusões da
Hilary.
-O que te hei dito... recordar assim, de repente, pilhou-me por
surpresa e fui um besta.
-Não diga isso -respondeu Hilary com ternura-. foste um pouco
brusco, isso sim, mas te perdôo porque revista ser o homem mais
romântico do mundo.
Roel lhe soltou a mão e abriu os olhos.
-Romântico? -sorriu-. Está-me tirando o sarro...
-Não, disso nada -assegurou-lhe Hilary.
Roel lhe aconteceu o braço pela cintura e a agarrou com força.
-Fica até que durma.
Hilary esteve a ponto de lhe perguntar se sua mãe estava
acostumada fazer isso, mas se mordeu a língua a tempo. Era
impossível que tivesse lembranças assim de sua infância pois sua
mãe se fugiu com seu amante quando Roel só tinha um ano e não
havia a tornado a ver.
Hilary esperou a que dormisse e baixou a falar com o ama de chaves.
Continuando, comeu em um delicioso comilão cheio de flores.
Apesar de que o entorno era incrível, ela só podia pensar no Roel e
em quão difícil ia ser voltar para casa sem ele, havendo-o perdido
para sempre. Já tinha começado a recordar, assim que aquilo era
imparable.
Quando o doutor Lerther lhe havia dito que a amnésia do Roel ia ser
temporário e que logo recuperaria a memória, Hilary tinha pensado
que o médico era muito otimista, mas agora se dava conta de que
tinha razão.
Roel não ia demorar para recordar os cinco anos que lhe tinham
apagado e deixaria de necessitá-la. É que acaso a tinha necessitado
em algum momento? Não tinha sido ela a que se feito aquela ilusão?
Voltou junto a ele depois de comer e se sentou em uma cadeira a
observá-lo enquanto dormia. disse-se que sua relação tinha que ser
estritamente platônica. O que pensaria dela quando tivesse
recuperado a memória?
Pareceria-lhe estranho que se deitou com ele? Talvez, nem lhe
importasse.
«É um homem», disse-lhe uma voz interior.
Efetivamente. Roel não ia passar se muito tempo lhe dando voltas à
cabeça sobre ela. Não, quão único ia querer ia ser voltar para sua
vida normal. Seguro que se sentiria muito aliviado de saber que
estavam casados só por conveniência.
Seguro que riria.
Hilary abriu os olhos e viu que estava tombada na cama. Os
primeiros raios do sol entravam pela janela e recortavam a silhueta
do Roel, que a estava olhando.
Estava nu e junto a ela. -Que horas são? -murmurou Hilary
surpreendida de ver-se de novo na mesma cama que ele.
-As sete e cinco -respondeu Roel-. dormi um montão e me sinto
muito bem.
-Não recordo me haver metido na cama... -Não te colocou você.
Ficou dormida na cadeira -explicou-lhe Roel-. Não deveria preocupar-
se tanto por mim, cara. Sei me cuidar sozinho.
Hilary sentiu um calafrio pelas costas e se encontrou aproximando-se
um pouco mais a ele. Presa do pânico, pensou que aquilo era como
estar poseída. «Não mais sexo», recordou-se sentando-se. Sem
duvidá-lo, Roel a agarrou, voltou-a a tombar e a olhou com
intensidade.
-Você não vai se mover daqui, senhora Sabatino. Que a chamasse
assim não fez a não ser lhe doer. -Mas...
-Está muito inquieta hoje -riu Roel colocando uma coxa entre suas
pernas-. Não pode te levantar até que eu te dê permissão.
Hilary o olhou aos olhos e se deu conta de que o desejava com todo
seu corpo. Enquanto o pensava, Roel a beijou com sensualidade e, ao
perceber seu desejo, o da Hilary se acrescentou sobremaneira.
Roel a olhou e, ao ver que estava igual a ele, começou a brincar com
seus mamilos. Hilary sentiu uma pontada entre as pernas e o instinto
lhe fez jogar os quadris para diante.
-Deseja-me -disse Roel muito satisfeito.
-Sim... —admitiu Hilary.
Como era possível que não fora capaz de resistir a ele quando tinha
tomado a firme decisão de fazê-lo?
morria por beijá-lo e seu corpo sentia falta daquelas mãos peritas que
sabiam lhe dar agradar. Aquilo esmagou a vocecita que lhe dizia que
não estava atuando com prudência.
Hilary o beijou com paixão, colocou os dedos entre seu cabelo e lhe
acariciou os ombros. Lambeu-lhe o torso e sentiu que o desejo era
superior a suas forças.
-Desejo-te -rugiu Roel tombando-se sobre ela e penetrando-a sem
prévio aviso.
A surpresa se tornou prazer rapidamente e Hilary sentiu um vivo fogo
entre as pernas. O êxtase se deu procuração dela e não deixava sítio
para a vergonha nem o orgulho.
Hilary alcançou o clímax com um grito e, poucos segundos depois,
Roel a seguiu. Hilary sentiu lágrimas de felicidade nos olhos, apoiou-
se nos almofadões e abraçou ao Roel, que a beijou lentamente
enquanto ela tentava recuperar o fôlego.
Olhou-o e se maravilhou ante sua beleza masculina ao tempo que
uma imensa quebra de onda de amor e de aprecio por ele se
apoderava dela.
Os olhos do Roel se olharam nos seus e se deu conta de que o estava
olhando com ternura, mas mesmo assim Hilary não quis negar o
prazer de olhá-lo.
Era incrivelmente bonito.
-Deixa-me sem fôlego... -sussurrou com voz trêmula lhe acariciando
os lábios.
Roel lhe agarrou a mão e lhe olhou os dedos surpreso.
-E sua aliança?
Hilary ficou geada.
-Eu... né... nunca quis levá-la... -improvisou.
-por que? -perguntou-lhe Roel com curiosidade.
Hilary se ruborizou.
-Eu... bom, sempre me pareceu que as alianças estavam acontecidas
de moda e não gostava de levá-la.
-Eu não gosto -opinou Roel sem duvidá-lo-. É minha esposa e quero
que leve aliança.
-Pensarei-me isso -respondeu Hilary sentindo-se fatal consigo mesma
por lhe mentir de novo.
-Não, não há nada que pensar. Te vou comprar uma aliança e a vais
levar. acabou-se a discussão -sentenciou Roel levantando-se da cama
e ficando-os cueca.
parou-se quando estava cruzando a habitação, girou-se para ela e a
olhou com intensidade.
-Agora que o recordo, ainda não me há dito por que seguia sendo
virgem -espetou-lhe.
-E não lhe penso dizer isso se me falar nesse tom -respondeu Hilary
sentando-se e tampando-se com os lençóis.
-cedo ou tarde, dirá-me isso -insistiu Roel. Hilary o olhou furiosa e
lhe falou em italiano. Disso, nada! Quando recuperar a memória,
dará-te conta de que minha falta de experiência não é nenhum
mistério.
-De verdade?
-Além disso, vai dar igual! -assegurou-lhe Hilary.
-Eu gostaria de saber por que me casei contigo?
Hilary ficou de pedra.
-Casou-te comigo pelas mesmas razões pelas que se casa qualquer
homem com qualquer mulher -murmurou Hilary.
-Está-me dizendo que me apaixonei por ti?
-Eu não hei dito isso... -respondeu Hilary-. Bom, sim, apaixonou-te
por mí-acrescentou decidindo que era melhor lhe dar a razão e deixar
o tema.
Roel deu um passo para ela.
-Queria um conto com final feliz?
-por que não? -defendeu-se Hilary.
-Por nada -respondeu Roel tomando-a em braços-. Se me apaixonei
por ti, seguro que foi porque você gostava de tomar banho comigo -
brincou. -Está-me desafiando? -respondeu Hilary.
Enquanto tomavam o café da manhã em uma preciosa terraço
coalhada de flores de vivas cores, Hilary perguntou ao Roel pela
história do castelo, um lar que era óbvio que adorava.
Tentou não pensar nas mentiras que lhe tinha contado pois Roel
tinha parado de fazer perguntas e já não parecia preocupado por sua
relação.
O doutor Lerther lhe havia dito que não devia lhe dizer nada que
pudesse preocupá-lo, assim tinha feito o correto, não?
Hilary se disse que por um par de mentirijillas não passava nada.
-Preparei-te uma surpresa -disse-lhe Roel ao terminar de tomar o
café da manhã.
-Que surpresa?
-Me ocorreu que já ia sendo hora de pôr solução ao problema de seu
vestuário -respondeu abrindo a porta de um salão.
Roel tinha convidado a vários desenhistas de roupa para que fossem
ao castelo com uma seleção de suas coleções.
Hilary se encontrou rodeada de modistas que tomavam medidas.
Estava aterrada. Como ia permitir que Roel se gastasse uma fortuna
em comprar roupa? Era impossível pois tinha visto com seus próprios
olhos a pouca roupa que tinha.
Minutos depois, puseram-na de novo ante seu marido vestida com
um traje de saia e jaqueta à última moda.
Roel a olhou atentamente. A cor aguamarina elogiava a brancura de
sua pele e os objetos, tanto a saia como a jaqueta, realçavam sua
figura.
-Impressionante -disse-lhe ao ouvido.
Pela primeira vez em sua vida, Hilary se sentiu o centro de atenção.
Ao ver que Roel a olhava com aprovação, deixou de pensar em suas
imperfeições.
Estava muito orgulhosa de si mesmo e se esqueceu de que sempre
tinha pensado que lhe faltava altura e lhe sobravam curvas.
A partir daquele momento, provou-se vários conjuntos encantada.
viu-se com um delicioso vestido de festa, um incrível traje calça e
uma série preciosa de vestiditos de jornal que fizeram as delícias do
Roel. Também havia bolsas e sapatos a jogo.
Aquilo era maravilhoso. Era como um sonho feito realidade. Todas
aquelas pessoas se puseram de acordo para que ela jogasse ao que
mais lhe tinha gostado de jogar de pequena: a disfarçar-se.
Em poucas horas, tinha mais roupa da que tinha tido jamais. deu-se
conta de que não ia dar tempo a estrear muitas das coisas que Roel
lhe tinha comprado, mas se disse que, quando se tivesse ido, Roel
poderia as devolver.
Não pôde negar-se a adquirir também várias camisolas e conjuntos
de lingerie.
-Parece-me que me estou passando -disse de repente.
-É minha esposa e quero que tenha tudo o que você goste -
respondeu Roel.
Hilary sentiu que algo lhe retorcia no coração e não pôde evitar fazer
uma careta de desgosto.
-Hilary?
-É muito generoso -respondeu com um nó na garganta.
-Mas você sabe como me dar as obrigado, verdade? -sorriu Roel com
malícia e sensualidade.
Hilary sentiu que o coração lhe pulsava rapidamente. Aquele homem
era tão bonito que a fazia estremecer-se. Tinha um poder sobre ela
que a angustiava e a atraía de uma vez.
-Se não souber, já te darei eu alguma pista, bela minha -
acrescentou.
Hilary teve que apertar as pernas, surpreendida pela intensidade de
sua reação física ante suas palavras.
Roel se aproximou dela e a abraçou. Ao sentir sua potente ereção,
Hilary se ruborizou e desejou senti-lo dentro dela imediatamente.
-Está preciosa com essa roupa, mas eu gostaria que lhe tirasse isso -
disse-lhe Roel.
Hilary se separou dele e fez algo que jamais tivesse sonhado fazendo.
tirou-se a blusa, baixou-se a cremalheira da saia e deixou que caísse
ao chão.
-Parece-me que me casei contigo porque não deixa de me
surpreender -comentou Roel abraçando-a com força e beijando-a
com paixão.
-É preciosa -disse Hilary-. Não sei o que dizer... não me esperava
isso.
Enquanto Roel lhe colocava no dedo anelar a delicada aliança de
platina, ela o olhava com gratidão.
Uma aliança. Aquele detalhe lhe tinha chegado ao coração porque
Roel queria que levasse algo que significava que estavam casados.
-Não te vou falhar, cara -disse Roel olhando-a aos olhos-. Quero que
nosso matrimônio vá bem.
Aquilo fez que o véu de fantasia no que Hilary estava vivendo caísse.
Levava quatro dias sem pensar no futuro, desfrutando de do
presente, do tempo que passava com o Roel.
Estava completamente apaixonada por ele.
Incômoda por sua sinceridade e ferida pelo que sabia que não podia
ter, Hilary desviou o olhar e olhou a seu redor.
Fazia um dia maravilhoso e a paisagem era espetacular. Estavam
sentados em uma terraço de pedra de um exclusivo restaurante
situado no lago de Candelabro. O céu estava espaçoso e a pitoresca
cidade medieval estava a seus pés.
-Hilary...
Nesse momento, um homem forte e loiro se aproximou deles.
-Roel? -disse-lhe com alegria.
Roel sorriu e ficou imediatamente de pé para saudá-lo. Hilary
reconheceu imediatamente ao Paul Correro, uma das testemunhas de
suas bodas. O pânico se apoderou dela e o intenso escrutínio do
advogado a paralisou.
Aquele homem sabia que não era uma esposa de verdade, que se
tinha casado com o Roel em troca de dinheiro.
Devia estar atônito de vê-los juntos na Suíça!

Capítulo 6
Hilary sentia que o coração lhe pulsava rapidamente, mas se deu
conta de que não tinha mais remedeio que tentar sair bem parada
daquela situação.
-Anya e eu estamos com uns amigos -estava-lhe dizendo-Paul ao
Roel, que estava saudando a preciosa e grávida ruiva que estava
junto ao advogado.
Roel olhou a Hilary, que se apressou a ficar em pé apesar dos nervos.
-Hilary... -saudou-a Paul com um morno sorriso que a fez
estremecer-se-. Me alegro muito de verte.
Hilary sentiu que as pernas lhe falhavam como se estivesse ante seu
verdugo, mas Roel lhe perguntou algo e começaram a afastar-se para
falar de suas coisas.
Imediatamente, a esposa do Paul se aproximou da Hilary.
-Sou Anya, a mulher do Paul -apresentou-se com frieza.
-Sim -respondeu Hilary muito nervosa sem saber o que dizer.
Olhou ao Roel e ao Paul e se perguntou do que estariam falando. Não
podia suportar aquela situação, assim pôs uma desculpa e fugiu ao
banho.
Como se atreviam Paul e Anya Correro a olhá-la como se fora uma
delinqüente? deu-se água fria nas bonecas e tentou controlar suas
emoções.
Fazia o que tinha feito pelo bem do Roel. Estaria-lhe contando seu
advogado naquele preciso instante que seu matrimônio tinha sido de
conveniência?
Ao sair do banho, Paul a estava esperando.
-A que joga? -perguntou-lhe-. Roel me acaba de contar por que não o
vimos depois do acidente.
-Me alegro de que se confiou a alguém mais -murmurou Hilary
perguntando-se se Roel já se teria informado de que não era a
esposa que ele acreditava.
Sentiu que o coração caía aos pés.
-Não me trate como se fora idiota -espetou-lhe Paul-. Ontem me
chamou o chefe de segurança do Roel para me perguntar o que devia
fazer. Imagine minha surpresa quando me disse que te tinha
apresentado na clínica dizendo que foi a senhora do Sabatino! Não é
coincidência que nos tenhamos encontrado aqui. interrompi minhas
férias para vir a Suíça. Acreditava-te que te foste sair com a tua, que
foste poder enganá-lo?
Hilary se estremeceu. Roel tinha um chefe de segurança? Devia ser
extremamente discreto pois ela não se deu conta de sua existência.
-Eu não estou enganando a ninguém -defendeu-se-. Contaste ao Roel
a verdade sobre nosso matrimônio?
-Em um restaurante? Não, chamarei a sua casa esta tarde.
Hilary fechou os olhos se desesperada.
-Deixa que o eu conte -suplicou-lhe-. Me deixe até manhã...
-Não, tem até esta noite. É tempo mais que suficiente e, se não
cumprir sua promessa, o contarei eu.
-Não sou como você crie -defendeu-se Hilary-. Quero-o. Sempre o
quis...
-O que você queira -interrompeu-a o advogado--. Jamais te perdoaria
esta traição.
Hilary voltou junto ao Roel completamente aturdida. Naquele
momento, Anya lhe estava pedindo que desse um discurso em um
evento de caridade. Paul chegou aos poucos segundos e Roel disse
que chegavam tarde a uma entrevista e indicou a sua mulher que se
fossem para a limusine.
-Paul estava estranho -comentou-lhe com o cenho franzido-. por que
estava tão incômodo contigo?
-Já o conhece -murmurou Hilary.
-Sim, conheço-o bem e por isso precisamente sei que lhe dá muito
mal dissimular. Hei sentido certa falta de respeito para ti e me parece
ofensivo.
Hilary se sentiu culpado. Não disse nada porque lhe pareceu que,
dadas as circunstâncias, não havia nada que dizer.
Roel era um grande observador e se deu conta da hostilidade de seu
advogado, mas logo recuperaria a memória e entenderia por que Paul
tinha sido incapaz de dissimular seu desprezo.
Uma mescla de medo e de desespero se apoderou da Hilary. Como ia
dizer ao Roel que seu matrimônio não era um matrimônio de
verdade?
Quando a limusine parou ante uma exclusiva barbearia, Hilary
recordou que no dia anterior tinha pedido hora ali para que lhe
tirassem as pontas rosas porque lhe pareciam muito juvenis.
« por que não é sincera contigo mesma?», disse-lhe a voz de sua
consciência.
O certo era que queria que lhe tirassem os reflexos rosas em um
intento por estar mais elegante para o Roel, mas já não importava.
-Hilary? -disse-lhe Roel.
-Poderia-lhe dizer ao condutor que desse uma volta? -respondeu ela
tão confusa que não se atrevia a olhá-lo aos olhos.
Não queria separar-se dele pois durante uma semana tinha sido tão
ingênua para deixar-se levar pela situação. Tinha vivido seu sonho.
Tinha fingido ser a verdadeira esposa do Roel e tinha sido
imensamente feliz, mais feliz do que jamais tinha imaginado porque o
homem de que estava apaixonada a tratava como se fora a mulher
com a que se casou.
Entretanto, a verdade era que ela não era a mulher que Roel queria e
que, por muito que o desejasse, jamais o seria.
Paul Correro tinha quebrado sua patética borbulha e lhe tinha deixado
claro que havia gente a que não lhe parecia bem o que estava
fazendo, mas suas intenções sempre tinham sido boas.
Jamais tivesse feito mal ao Roel porque o adorava!
Recordou como a tinha cuidadoso o advogado e se estremeceu. Seu
mundo de fantasia, que só habitavam Roel e ela, quebrado-se e
estava extremamente confundida.
-Não quer ir à barbearia? -perguntou-lhe Roel algo impaciente.
Hilary se perguntou o que ia pensar aquele homem de caráter tão
forte quando se inteirasse de seu engano. Desprezaria-a como lhe
tinha dado a entender Paul?
Aquela idéia lhe doía sobremaneira, mas à medida que foram
acontecendo os segundos se deu conta de que aquilo tinha que
terminar.
Aquilo tinha ido muito longe do mesmo instante no que tinha deixado
que Roel lhe fizesse o amor.
-E bem?
-Não, já tomei uma decisão e vou à barbearia -respondeu Hilary
tentando sorrir enquanto o olhava.
Separar-se dele era terrível, mas Hilary devia fazê-lo, assim que o
beijou com um ardor agridoce e saiu do carro.
-passei uns dias maravilhosos... -murmurou pendurando a bolsa do
ombro.
Isolada do familiar ruído da barbearia, Hilary se deu conta de que
tinha chegado o momento de sair da vida do Roel.
Devia ir-se quanto antes. Para que ia voltar para castelo? Para lhe
contar o que tinha feito? Se o fazia, quão único ia conseguir era
desencadear uma desagradável discussão que não ia beneficiar a
nenhum.
Hilary decidiu que seria mais fácil ir-se diretamente a Londres. Por
sorte, levava o passaporte na bolsa, assim, assim que terminasse de
arrumar o cabelo, iria ao aeroporto do Lugano.
Deixaria-lhe uma carta explicando-lhe tudo na limusine. Aquilo lhe
pareceu o mais razoável. Quando se inteirasse do que tinha feito, ia
se enfurecer e provavelmente ia pensar que lhe tinha tirado o sarro.
Então, a boa opinião que tinha sobre ela ia se desvanecer e ia ficar
destroçada.
Hilary sentiu um nó na garganta.
Tinha ido em ajuda do Roel, mas tinha deixado que suas vontades
por que a relação entre eles fora de determinada maneira a cegasse.
Tinha que pagar por seu engano e o preço ia ser muito alto pois não
ia voltar a ver o Roel jamais.
-Ainda não te tomaste um descanso? —perguntou- Sally Witherspoon
a Hilary.
-Não tenho fome -respondeu Hilary deixando uma pilha de toalhas
podas junto aos lavabos.
-Pois deveria tê-la -respondeu-lhe seu ajudante preocupada-. Não
pode trabalhar tanto com o estômago vazio. Parece esgotada.
-Não se preocupe por mim, estou bem -assegurou-lhe Hilary
tampando todos os frascos de xampu como se o fora a vida nisso.
Em certa medida, assim era. A atividade a mantinha viva pois,
quantas mais costure fizesse, menos tempo tinha para pensar.
Era consciente de que tinha olheiras e de que não estava em seu
melhor momento porque não estava dormindo bem e lhe tinha tirado
o apetite. Era incrivelmente infeliz, mas não gostava de compadecer-
se de si mesmo, assim estava tentando comportar-se com
normalidade.
O que parecia, feito estava. Fazia duas semanas que havia tornado
da Suíça. Roel tinha sido o centro de sua vida durante sete dias, mas
não ia voltar a vê-lo e devia aprender a viver sozinha.
Entretanto, a lição mais dura de assimilar era que o que tinha vivido
com ele naquela semana tinha sido falso e irreal.
-chegou seu cliente das onze -murmurou Sally-. É um homem
incrivelmente bonito. Que sorte tem.
Hilary levantou a cabeça. Roel estava no centro da barbearia. Ao vê-
lo, o xampu lhe caiu pelo lavabo.
A impressão de vê-lo-a fez afogar um grito de surpresa e o olhou com
uma intensidade que a fez enjoar-se. Levava um impecável traje azul
e olhava a um lado e a outro como se tentasse reconhecer a
barbearia.
girou-se para ela e seus olhares se encontraram. Ato seguido, dirigiu-
se a ela.
-É meu cliente das onze? -sussurrou Hilary.
Roel assentiu e a olhou de uma maneira que fez que Hilary se
ruborizasse. Levava uma camiseta de algodão branca e umas calças
de camuflagem que lhe penduravam dos quadris.
Aquela irônica inspeção fez que se desse conta de quão imperfeito
era seu corpo e de quão bem Roel o conhecia. Algo tinha trocado
nele, mas Hilary não sabia o que era.
Quão único sabia era que se sentia envergonhada.
-Vamos a outro sítio porque temos que falar —murmurou Roel.
Sem saber por que, Hilary sentiu que lhe gelava o sangue nas veias.
-Eu... né... tenho que trabalhar -murmurou sentindo-se incrivelmente
covarde.
—Bene... então, suponho que não te importará que suas empregadas
e sua clientela ouçam o que te tenho que dizer -respondeu Roel com
frieza-. Para começar, direi-te que não me impressiona o negócio que
puseste com meu dinheiro.
Hilary se estremeceu. Obviamente, Roel tinha recuperado a memória.
Agora, recordava tudo o que tinha acontecido entre eles no passado.
Nervosa, girou-se para a Sally e lhe pediu que se encarregasse da
barbearia até a hora de comer.
-Vamos acima -disse ao Roel-, Quando recuperaste a memória?
-Quando foi. Acredito que isso me ajudou. Ao fim e ao cabo, tinha-me
vivendo uma vida que não era a minha -respondeu Roel com ironia.
Hilary empalideceu e abriu a porta de seu apartamento com mãos
trementes.
-Surpreende-me que tenha vindo, acreditei que não quereria voltar
para ver-me.
Roel não disse nada. limitou-se a fechar a porta e a olhar a sua redor
com cara de asco.
-É mais pobre do que eu acreditava. Este sítio é um lixeiro -disse com
frieza-. Agora entendo que quando a idiota de minha tia Batista ficou
em contato contigo do hospital a tentação de te aproveitar de meu
acidente pudesse contigo...
-Não foi assim! -defendeu-se Hilary-. Como pode dizer isso?
Preocupei-me com ti. Acreditei que te podia morrer!
Roel tinha tomado uma carta que havia sobre a mesa e a estava
lendo.
-Deve dinheiro...
Envergonhada ao dar-se conta de que era a carta que o banco lhe
tinha enviado lhe pedindo que reembolsasse o descoberto que tinha
em sua conta, a tirou das mãos.
-te coloque em seus assuntos!
-Tudo o que a ti respeita é meu assunto -declarou Roel.
Hilary não sabia o que se propunha, mas estava disposta a defender-
se.
-Te vou explicar por que lhe devo dinheiro ao banco. Gastei-me tudo
o que tinha em um bilhete de ida e volta a Suíça e em pagaras horas
extras a minhas empregadas para que me cobrissem enquanto
estava fora. Meu salário não dá para extravagâncias assim.
Roel arqueou uma sobrancelha.
-Sua única desculpa para te colocar em minha cama sem pensar lhe é
isso que não tem dinheiro?
Hilary apertou os punhos.
-Foi você o que me meteu em sua cama...
-Claro, e você não queria, verdade? -burlou-se Roel-. É uma vigarista
profissional que sabia em todo momento o que estava fazendo. Sabia
perfeitamente que consumando o matrimônio poderia pedir uma
suculenta pensão quando nos divorciássemos.
Hilary ficou e pedra. Aquilo a fez sentir-se terrivelmente humilhada.
-Não te vou pedir nada nem agora nem nunca. Não entendo por que
pensa isso de mim. Parece-te um delito querer verte quando me
disseram que tinha tido um acidente? Já te disse na carta que te
deixei que o sentia muito...
-Refere às quatro linhas que me escreveu? -respondeu Roel rendo
com sarcasmo-. Nessa carta não me esclarecia nada. Limitou-te a
desaparecer sem nenhuma explicação.
-Quando chegou o momento, a verdade é que não soube o que te
dizer -murmurou Hilary.
-Não soube me dizer que tinha estado compartilhando minha cama
com uma fresca mentirosa?
-Não me insulte! -defendeu-se Hilary zangada.
-É uma atriz maravilhosa, bela minha -insistiu Roel olhando-a com
dureza-. Sabia como chegar a meu coração... Passou-te uma semana
inteira me confundindo, me ocultando as respostas cada vez que te
perguntava algo!
Em um arrebatamento de cólera, Hilary lhe lançou a taça que havia
sobre a mesa.
-Não foi assim. Eu não fiz isso!
Roel arqueou uma sobrancelha ao ver que a taça se estrelava contra
a parede.
-Comporta-te como uma menina pequena, mas isso não me importa.
Tampouco me emocionam as lágrimas, advirto-lhe isso.
-Não penso chorar por ti! -gritou-lhe Hilary-. Teria-me que torturar
para conseguir que derramasse lágrimas por ti!
-Não posso suportar as lágrimas, as escenitas nem as baixelas
voando e, acima de tudo, prefiro que arrumemos estes assuntos em
privado. Se fizer isto em público outra vez, você Mato.
-A que te refere? por que diz «outra vez»?
Roel se tirou algo do bolso da jaqueta e o deixou sobre a mesa. Era
uma folha de uma revista e Hilary se reconheceu rapidamente na
fotografia. Estava chorando a mares enquanto ia para o aeroporto do
Lugano e não se deu conta da presença do fotógrafo.
-O que diz? -perguntou ao Roel porque o pé de foto estava em
francês.
-«Muito dinheiro não dá a felicidade» -traduziu Roel.
Hilary se cruzou de braços.
-Sinto muito te haver envergonhado, mas isso demonstra que não o
passei bem quando o nosso terminou...
-O nosso? -espetou-lhe Roel-. Quem criou essa situação? Quem disse
que era minha mulher? Quem mentiu para meter-se em minha casa e
em minha vida?
-Olhe, tenta me entender -respondeu Hilary-. Deixei-me levar pela
situação. Quando cheguei a Suíça, acreditava de verdade que estava
muito mal e queria verte. Além disso, haviam-me dito que tinha
perguntado por mim...
-por que demônios ia perguntar por uma mulher a que não tinha
visto em quase quatro anos e que não significava nada para mim?
Como ia perguntar por alguém se estava inconsciente?
Hilary assimilou aquela informação com desgosto. Nunca se tinha
parado a pensá-lo. Era certo. Se estava inconsciente, era impossível
que tivesse perguntado por ela.
Lhe teria mentido sua irmã? O teria feito com boa vontade para que
se fora a Genebra para estar ao lado de seu marido?
«Uma mulher que não significa nada para mim». As palavras do Roel
ressonaram em sua cabeça. Acabava-as de dizer. Isso era o que
pensava dela.
E o que se esperava? Durante uma semana, seu comportamento
tinha feito que Roel acreditasse que a queria e por isso se mostrou
tenro com ela, mas isso já tinha terminado.
Hilary decidiu não deixar que a dor se apoderasse dela e tentou voltar
para o que estava dizendo antes de que Roel tivesse falado com
aquela cruel sinceridade.
-O doutor Lerther me disse que não te contasse nada que pudesse
preocupar-se.
-Por isso me deixou acreditar que estava casado? Não te parece que
isso pode ser muito preocupam-se para um homem que acredita que
é solteiro? —espetou-lhe Roel.
-Espero que aprecie sua liberdade agora que sabe que nunca a
perdeu.
-Eu nunca perdi minha liberdade, roubou-me isso você -respondeu
Roel olhando-a com asco-. Fez-me acreditar que foi minha esposa e
agora todo mundo crie assim. O certo é que, sobre o papel, sou um
homem casado, assim não posso negar esses rumores e os
jornalistas conseguiram te tirar fotos.
Hilary se sentiu terrivelmente culpado.
-Suponho que isso será uma vergonha para ti.
-Não é fácil me envergonhar -respondeu Roel com secura.
-Sinto-o muito -murmurou Hilary.
-Senti-lo não é suficiente para me satisfazer. Queria ser minha
esposa, verdade?
Hilary empalideceu.
-Queria ser minha esposa e não duvidou em mentir para te situar
nesse papel -burlou-se Roel.
Hilary se sentiu envergonhada e humilhada.
-Sei que parece que fiz mau, mas...
-Não quero escutar suas desculpas. Parece que fez mal porque fez
mau. Tem desfeito minha vida. Deixei a meu amante por ti...
-Como? -respondeu Hilary olhando-o com os olhos muito abertos.
-A preciosa mulher que foi ver-me a casa… era meu amante e a
deixei porque você me fez acreditar que era um homem casado.
Hilary fechou os olhos.
Como tinha sido tão parva de acreditar que um homem como Roel
Sabatino não ia ter a outra mulher em sua vida e em sua cama? Não
tinha querido aceitar aquela possibilidade porque, se o tivesse feito,
sua posição tivesse sido insustentável.
Por isso, tinha eleito acreditar que Roel não tinha nenhuma confusão
de saias. Como tinha sido tão ingênua e tão egoísta? O certo era que
lhe tinha complicado a vida. A culpa e a vergonha fizeram que lhe
formasse um nó na garganta.
-Agora, minha cama está vazia e quero que você encha esse espaço.
-Perdão?
-vais voltar para a Suíça comigo.
-por que ia fazer uma coisa assim? Hilary surpreendida.
-Não tem opção. Deu-me você acaso opção quando me fez acreditar
que vivia em um matrimônio de conto de fadas? -espetou-lhe Roel
com brutalidade.
Hilary empalideceu como se a tivesse esbofeteado e desviou o olhar.
-Não me ocorre uma boa razão pela que quisesse que volte para a
Suíça contigo.
-Quero te utilizar como você me utilizaste e logo te abandonar
quando me aborrecer. Fica claro? -espetou-lhe Roel olhando-a com
dureza.
-Não o diz a sério -riu Hilary.
-vamos comer com sua irmã, assim será melhor que faça as malas.
Hilary ficou de pedra.
-Como que vamos comer com a Emma? Seu colégio está a vários
quilômetros de Londres...
-Enquanto você e eu falamos, meu chofer foi a procurá-la.
-por que foste querer comer com minha irmã?
-Tenho minhas boas razões. Crie-te que você é quão única pode
fingir? Eu sou um professor da manipulação, bela minha. Sua irmã
acredita que nos reconciliamos e está encantada, assim mais te vale
sorrir e sorrir para que se cria que é feliz.
-pode-se saber como demônios localizaste a minha irmã?
-Resulta que me chamou esta semana e se desculpou com ternura
por sua hostil atitude quando nos casamos.
-OH, não... -gemeu Hilary ao dar-se conta de que todo aquilo tinha
sido culpa dela.
Depois de voltar da Suíça, tinha falado com sua irmã várias vezes por
telefone e tinha esquivado suas perguntas sobre o Roel.
-Nunca lhe contei por que nos casamos porque me deu medo...
-Medo de que deixasse de te respeitar por te haver casado por
dinheiro? -disse Roel com crueldade-. Para que saiba, não lhe hei dito
a verdade. Disse-me que sentia muito que estivéssemos vivendo de
novo separados e me perguntou se era culpa dela.
-E o que lhe há dito? Há-lhe dito que nos reconciliamos?
-Efetivamente, reconciliamo-nos. vamos viver uma reconciliação, mas
com minhas condições. Se resultar que é uma reconciliação negativa
por minha parte já sabe que lhe ganhaste isso em pulso.
-depois de te ouvir dizer o que opina de mim, que crie que sou uma
pessoa mentirosa e horrível, estaria louca para ir contigo -respondeu
Hilary.
-Muito bem. Se preferir, me vou comer eu sozinho com sua irmã e o
conto esta preciosa história desde o começo até o final.
-Isso seria asqueroso por sua parte! -exclamou Hilary horrorizada.
-A diferença de ti, eu só estaria contando a verdade. Me alegro de
que te dê conta de que sua conduta foi indesculpável -disse Roel
saindo da habitação.
Hilary o seguiu.
-Se quiser que te suplique, farei-o, mas não coloque a minha irmã
nisto...
Roel a olhou com sarcasmo.
-Suplicar é de paletós e deveria saber que, quando eu quero algo,
simplesmente tomo. vais aprender a te comportar como uma mulher
Sabatino e me vais economizar o tempo e o esforço de escolher a
outra amante porque você vais assumir esse papel.
-Não! -gritou Hilary.
-Ganhaste-lhe isso, mas não te cria que é indispensável —lhe
respondeu Roel com secura abrindo a porta.
-Não te atreverá a contar-lhe a Emma.
-claro que sim.
-Isso não te beneficiaria absolutamente. por que é tão cruel?
-Porque lhe merece isso -respondeu Roel olhando-a com dureza-.
Enganou-me e inclusive cheguei a comprar uma aliança e, antes de
te dar uma patada para que saia de minha vida, te vou fazer o
mesmo.
-Eu não te enganei... eu não te fiz acreditar...
-Passará uma limusine a te recolher dentro de uma hora e meia e te
deixará no hotel onde ficamos comendo com sua irmã. Veremo-nos
ali. Tenho que passar pelo primeiro despacho.
Hilary sentiu que o pânico se apoderava dela.
-Se me voltar a ausentar da barbearia, enfrento-me à bancarrota e
não me posso permitir isso porque...
-Eu me farei cargo de suas dívidas.
-Tenho duzentas e cinqüenta libras de descoberto, é certo que as
devo, mas deixa de falar como se...
-Recorda que sou banqueiro. Um descoberto que não está autorizado
é uma dívida.
-Não me faça isto, Roel -disse Hilary se desesperada seguindo-o ao
patamar-. Se for de Londres, quem vai se encarregar da barbearia?
-Contrata a alguém. Já me encarregarei eu de pagá-lo.
Hilary viu que Roel começava a baixar as escadas.
-Se utilizar a relação com minha irmã para me ameaçar, jamais te
perdoarei -advertiu-lhe.
-E te crie que me importa?
Hilary se teve que apoiar na parede e tomar ar várias vezes para
acalmar-se. Não se podia permitir o luxo de correr o risco de que Roel
contasse tudo a Emma.
Estava segura deque sua irmã entenderia por que se casou por
dinheiro quando quatro anos atrás sua situação tinha sido tão
desesperada, mas ia se sentir terrivelmente doída porque Hilary lhe
tinha feito acreditar que seu matrimônio era de verdade.
Seria capaz Roel de lhe contar a sua irmã que se deitaram? Hilary se
estremeceu ao pensar e» a imagem que sobre ela se podia formar
sua irmã pequena. supunha-se que lhe tinha que dar exemplo.
Roel tinha sabido escolher a ameaça que fazia que Hilary dançasse ao
ritmo que ele tocasse.

CAP 7

QUANTO me alegro por ti! -disse Emma abraçando a Hilary com


entusiasmo entre o primeiro e o segundo prato da comida-. Quando
começar a universidade em setembro, verei-te ainda menos e estava
preocupada porque não queria que estivesse sozinha. Pareço-te uma
egoísta?
-Claro que não -assegurou-lhe Hilary sonriendo tudo o que pôde.
Viver fora de casa, fazia que sua irmã fora uma mulher muito
independente e, embora às vezes lhe doía um pouco, Hilary se sentia
muito orgulhosa dela.
-Hilary precisa divertir-se -disse Emma ao Roel-. renunciou a muitas
coisas por mim. Tenho uma beca, mas cobre só uma parte de meus
estudos. A outra parte a pagou Hilary trabalhando muito. Por isso
nunca tem dinheiro. Quando me inteirei do que lhe custava meu
colégio, tentei convencê-la para que mandasse a outro...
-Estava tirando muito boas notas e isso é o único importante -
interrompeu-a Hilary envergonhada por aquela cascata de informação
que sua irmã lhe estava dando ao Roel-. Emma quer estudar Direito
internacional. Lhe dão muito bem os idiomas.
Roel lhe falou em francês e Emma respondeu com um acento
impecável. Ambos tinham uma segurança em si mesmos que Hilary
tinha invejado muitas vezes.
Quando terminaram de comer, Roel se desculpou para fazer uma
chamada e Hilary e sua irmã tiveram uns minutos para estar a sós.
Emma lhe disse que tinha que voltar para colégio para revisar uns
exames e que logo se ia a Espanha para passar as férias em casa de
uma amiga.
Depois de despedir-se dela, Hilary e Roel subiram na limusine.
-Não terminei que arrumar minhas coisas, assim tenho que voltar
para casa.
-Não temos tempo -respondeu Roel. ,
-Você não, mas eu sim -insistiu Hilary levantando o queixo-. Troca os
bilhetes para amanhã.
-Iremos esta noite.
-Não, necessito mais tempo para organizar minhas coisas. Prefiro ir
amanhã.
-Não penso ir de Londres sem ti -assegurou-lhe Roel observando seu
perfil.
-Não quero ir a Suíça...
-Mentirosa -sussurrou Roel.
-por que diz isso?
Roel lhe acariciou o lábio inferior e Hilary sentiu que ficado sem
fôlego.
-me demonstre o pouco que você gosta do que te faço, bela minha -
desafiou-a.
Embora tentou controlar-se, Hilary se encontrou tornando-se para
diante. Aquele homem a atraía como um ímã. Hilary se revolveu em
seu aroma e sentiu que os mamilos lhe endureciam.
-Não está fazendo bem -censurou-a Roel.
-Como? -respondeu Hilary com a mente em branco.
Roel arqueou uma sobrancelha e lhe acariciou um dos mamilos, que
ameaçava atravessando a camiseta.
Ao sentir suas carícias, Hilary gemeu e sentiu que o coração lhe
acelerava. Jogou a cabeça para trás e sentiu uma cascata entre as
pernas.
Roel deslizou a ponta de sua língua por seu pescoço. Hilary queria
que a beijasse. Roel a olhou aos olhos e Hilary viu desejo neles.
-Sim... —suplicou-lhe.
-Não -respondeu ele-. Eu não gosto do sexo no assento traseiro dos
carros —acrescentou com desprezo.
Hilary sentiu que se ruborizava de pés a cabeça e apertou os punhos.
Tivesse-lhe gostado de esbofeteá-lo, mas se controlou a tempo.
Como tinha sido tão débil? Se seguia servindo-se em bandeja de
prata ao Roel, não demoraria muito em dar-se conta de que estava
completamente apaixonada por ele.
Nada seria mais humilhante. O certo era que preferia que acreditasse
que era uma cazafortunas.
Ao chegar à barbearia, Sally se tomou um descanso e Hilary a
substituiu. antes de fechar, Hilary lhe propôs que se fizesse cargo
outra vez da barbearia e sua empregada disse que estava de acordo
sempre e quando contratasse a outra pessoa para que a ajudasse.
Contente porque deixava a barbearia em boas mãos, Hilary foi casa a
fazer as malas.
Às sete em ponto, chamaram o timbre. Ela acreditava que ia ser
Roel, mas era Gareth, um engenheiro com o que tinha saído um par
de vezes no ano anterior e do que se feito amiga.
-eu adoro como leva o cabelo! riu Gareth ao fixar-se nas pontas
negras que faziam contraste com seu cabelo loiro-. Muito gótico.
-Você gosta? -sorriu Hilary.
Roel nem sequer se deu conta e a verdade é que dava igual pois o
tintura era temporária e se iria a próxima vez que se lavasse o
cabelo.
-Gosta que façamos algo esta noite?
Nesse momento, Roel entrou no vestíbulo.
-Hilary tem outros planos -declarou secamente.
-E você é sua secretária ou algo assim? -burlou-se Gareth.
-Sou seu marido -sentenciou Roel.
Enquanto Gareth baixava as escadas vermelho de ira, Hilary se deu
conta de que não voltaria a vê-lo jamais e olhou furiosa ao Roel.
-Passaste-te.
Roel a olhou com dureza.
-Estava ligando.
-Não estava ligando e embora assim fora, a ti o que te importa? -
espetou-lhe Hilary tentando controlar-se pois o chofer do Roel tinha
chegado para levar-se sua bagagem.
-Tinha ficado com esse homem para sair esta noite -acusou-a Roel
enquanto foram para o carro-. Por isso não te queria ir até manhã.
Hilary já se estava começando a fartar.
-Tem razão. Se por acaso não te deste conta, sou uma mulher muito
demandada. vais ter que me vigiar bem dia e noite na Suíça. Está
seguro de que mereço a pena?
Roel a agarrou pelos ombros e a pôs contra a parede. Foi um
movimento tão rápido que Hilary não pôde evitar afogar um grito de
surpresa.
-Deste-te conta de que não me tem feito graça seu comentário? -
disse-lhe Roel-. Tome cuidado. Como te pilho ligando com outros
homens, te vais inteirar.
Hilary sentiu que lhe secava a boca, mas houve algo em seu
comportamento que a excitou.
-Era uma brincadeira...
-Que não tem nenhuma graça.
-Pelo menos Garret se deu conta de que me tingi as pontas -
comentou Hilary tentando pôr uma nota de humor.
-Sim, mas não se atreveu a te dizer que parece um ouriço -
respondeu Roel baixando as escadas.
Hilary ficou sem fala.
Um ouriço? Que vergonha.
Ao chegar ao aeroporto, olhou-se nas cristaleiras das lojas e se deu
conta de quão baixa era ao lado de um homem tão alto e magro.
Enquanto esperavam para embarcar no avião privado do Roel, soou o
telefone móvel da Hilary.
Quando ouviu a voz de seu amiga Pippa, separou-se do Roel para
falar em privado.
Pippa e seu marido, Andreo D'Alessio, viviam na Itália, mas a
chamava para lhe dizer que foram passar o fim de semana a Londres
e que queriam vê-la.
-Me piíllas no aeroporto porque vou a Suíça -respondeu Hilary-. Além
disso, te vais zangar comigo porque não te contei um segredo. Estou
casada...
-Casada? Não me posso acreditar isso! -exclamou Pippa
surpreendida.
-Não me resulta difícil acreditá-lo porque meu marido está agora
mesmo escutando nossa conversação -respondeu Hilary olhando ao
Roel com desgosto-. Em qualquer caso, a história de nosso
matrimônio é...
Naquele momento, Roel lhe arrebatou o telefone e a deixou com a
boca aberta.
-Um conto com final feliz -disse a toda velocidade-. Sou o marido da
Hilary -apresentou-se-. E você quem é?
Hilary teve que suportar que Roel conversasse um momento com seu
amiga e que terminasse a conversação ao anunciar que seu avião já
estava preparado para decolar.
-Como te atreve? -espetou-lhe Hilary furiosa enquanto se dirigiam à
aeronave.
-Não me deixaste outra opção -respondeu Roel-. Estava a ponto de
soltá-lo tudo.
-Eu não solto as coisas de qualquer jeito -respondeu Hilary apertando
os dentes.
-Como que não? É o cúmulo da indiscrição -espetou-lhe Roel.
Uma vez a bordo, Hilary avançou pelo corredor do luxuoso avião e se
sentou todo o longe que pôde do Roel. Estava furiosa com ele por ter
intervindo em sua conversação e atrever-se, em cima, a acusar a de
ser uma fofoqueira. Como se atrevia?
— Quem te crie que é? -perguntou-lhe quando já tinham separado e
a aeromoça os tinha deixado a sós.
Roel a olhou aos olhos tão tranqüilo.
-Sou um homem muito discreto e quero que o que há entre nós se
leve com total discrição, assim que se acabaram os bate-papos entre
garotas.
Hilary girou a cabeça. Não estava acostumado a chorar, mas de
repente se encontrou com umas tremendas vontades de fazê-lo.
Talvez, era porque estava tão cansada que lhe custava manter os
olhos abertos.
A aeromoça lhe perguntou se queria comer e ela respondeu que não.
Com apenas pensar em comer, lhe revolveu o estômago. O que
realmente queria era discutir com o Roel, mas não tinha forças.
À manhã seguinte, Hilary despertou tarde.
Nada mais pôr um pé no chão, decidiu que tinha chegado o momento
de enfrentar-se ao Roel com todos os argumentos que não tinha
podido lhe lançar no dia anterior.
Entretanto, enquanto tomava o café da manhã, Humberto lhe disse
que Roel se foi ao Banco Sabatino fazia momento.
Ao recordar como tinha chegado à cama a noite anterior, sentiu-se
terrivelmente envergonhada. ficou-se dormida no avião, tinha saído
do aeroporto como uma zombie, tornou-se a ficar dormida na
limusine e tinha permitido que Roel a levasse a sua habitação em
braços.
Nunca se havia sentido tão cansada e agora sentia um imenso alívio
porque tinha recuperado as forças.
Acreditando que tinha muita fome, havia- dito ao Humberto que lhe
servisse um abundante café da manhã, mas quando o teve diante o
apetite desapareceu de repente.
Apartou o prato e se conformou mordiscando um cruasán e tomar
uma taça de chocolate. Ato seguido, decidiu fazer uma visita ao
Banco Sabatino.
alegrou-se ao ver que toda a roupa que Roel lhe tinha comprado
estava em seu armário e escolheu um vestido cor burdeos que
acompanhou com um casaco de flores.
O Banco Sabatino, situado no centro da cidade de Genebra, era um
edifício de dimensões enormes e desenho contemporâneo.
Quando chegou e disse que era a esposa do Roel, produziu-se certo
revôo no mostrador da recepção. Um botões a acompanhou à planta
executiva e a fez passar a um grande despacho.
Em seu interior a estava esperando Roel, espetacularmente vestido e
apoiado no bordo da mesa.
-Não é o aniversário de ninguém, assim, a que se deve esta
interrupção?
-Só queria falar contigo.
-Pois te haver levantado antes -espetou-lhe Roel-. Estou trabalhando
e não permito que ninguém me interrompa por motivos pessoais.
-Parece-me bem porque esta visita não é pessoal -informou-o Hilary
com a esperança de conseguir sua atenção.
-Vêem aqui, quero-te ensinar uma coisa -disse Roel em tom
autoritário.
Desconcertada, Hilary deu um passo à frente e Roel a agarrou pela
mão,
-Onde me leva?
Era um banho.
Roel a colocou ante um espelho e ficou detrás dela. Olhou-a aos olhos
através do reflexo e Hilary sentiu que lhe acelerava o pulso.
-Que vê? -perguntou-lhe Roel enquanto lhe tirava o casaco.
-A nós -respondeu Hilary.
Continuando, Roel lhe baixou os suspensórios do vestido e lhe deixou
os ombros ao descoberto. Suas mãos se deslizaram até seus quadris
e foram subindo por suas costelas até ficar sob seus peitos.
A Hilary lhe parou a respiração. Já não recordava por que tinha ido ao
despacho do Roel. O único no que podia pensar era em suas mãos e
em sua ereção.
-te parece que esta é forma de vestir-se para vir para ver-me?
-O vestido é um pouco atrevido, por isso me pus o casaco -admitiu
Hilary sem fôlego.
-Um vestido assim com um corpo como o tua é uma provocação.
Hilary se apoiou nele e sorriu encantada.
-Você gosta?
-Não era isso o que queria?
-Não o tinha pensado, mas suponho que sim.
-Esta cena deveria desenvolver-se em nosso dormitório e não em
meu banco.
Ante aquelas palavras, Hilary se sentiu furiosa. Roel acreditava que
tinha ido ver o para seduzi-lo!
-vim para manter uma séria conversação contigo -esclareceu-lhe
ficando o casaco e voltando para seu escritório-. Sinto-o muito se não
ser capaz de te controlar pelo mero feito de que uma mulher leve um
vestido bonito.
Roel ficou de pedra.
-Faz quase quatro anos me casei contigo por conveniência e aceitei
em troca certa soma de dinheiro -continuou Hilary-. Devolvi-te duas
terceiras partes dessa cifra quando me dava conta de que não o
necessitava Y...
-Um momento -interrompeu-a Roel levantando uma mão-. Está
dizendo que me devolveu parte do dinheiro? Como?
-Voltei-o a depositar na conta da que me tinha chegado e te fiz
chegar uma carta através de seu advogado.
-Meu advogado já me advertiu que não confiasse em ti e lhe parti o
nariz a semana passada -espetou-lhe Roel.
Hilary ficou olhando-o com a boca aberta.
-Partiste-lhe o nariz? por que?
-Teve a má sorte de me sugerir que, talvez, minha esposa não era a
que eu acreditava, mas o fez antes de que tivesse recuperado a
memória.
Hilary se ruborizou.
-OH... bom, voltemos para tema do dinheiro.
-Não me consta que devolvesse uma parte desse dinheiro.
Hilary se cruzou de braços.
-Pois o fiz. Quando me dava conta de que não havia necessidade de
comprar uma casa pois alugá-la era suficiente, só fiquei com o que
necessitava para alugar um piso e abrir uma barbearia no local
comercial de abaixo. Embora te pareça que minha barbearia não é
grande coisa me serve para pagar o aluguel e as faturas e nunca me
queixei.
-Aonde quer ir parar com isto?
-Quando minha irmã termine a universidade, posso vender a
barbearia e te devolver todo o dinheiro que me deixou. Me ocorreu
que, se te prometer que o farei, estaríamos em paz e poderia voltar
para casa.
-Vestiste-te assim de sexy para vir a me fazer essa oferta?
Hilary tomou ar porque era óbvio que Roel não se estava tomando
aquilo a sério.
-No que a mim respeita, isto não é por dinheiro. Nunca foi por
dinheiro. Não te tinha dado conta? -murmurou Roel apoiando-se na
mesa de novo.
-Entendo que cria que estou em dívida contigo e entendo que não
revista perdoar.
—Te dá muito bem isso de entender —disse Roel divertido.
-O que não entendo é por que te empenha em que siga aqui.
Roel sorriu com ironia.
-Tenho minhas razões. Para começar, o poder de te fazer fazer o que
me dê a vontade.
— Que asco! Deveria te dar vergonha!
-Não produziu a ti uma satisfação similar te aproveitar de minha
amnésia?
-Eu não sou como você —lhe assegurou Hilary-. Eu não me aproveitei
de ti! -acrescentou doída-. Eu só queria que estivesse tranqüilo e que
fosse feliz.
-Asseguro-te que fui muito feliz na cama contigo -sorriu Roel-.
Quanto a isso que há dito de que te obrigo a ficar aqui, não vai sendo
já hora de que enfrente aos fatos?
-A que feitos?
-Não tive que te obrigar em nenhum momento a te deitar comigo.
Você também me deseja.
-Não o suficiente para permitir que me utilize.
Roel deslizou seu dedo indicador entre os peitos da Hilary e se deteve
em seu umbigo.
-Que necessitaria para que fora suficiente?
Hilary apertou os dentes.
-O sexo não é suficiente.
-Eu poderia fazer que o fora -assegurou-lhe Roel com voz rouca.
-Tenho-me em muita mais estima.
-Faz quatro anos não era assim. Se tivesse estalado os dedos, teria
vindo correndo.
Hilary ficou de pedra e recordou o que tinha passado anos atrás.
Então, estava tão desesperadamente apaixonada por ele que tivesse
feito algo para estar com ele. Saber que Roel se deu conta disso e,
mesmo assim, não tinha duvidado em afastar-se de lhe provocou
uma horrível dor.
-Canalha —lhe disse-. Você também se sentia atraído por mim e não
fez nada.
-Fui razoável.
-Você o que é é um esnobe -espetou-lhe Hilary doída-. Aposto-me o
pescoço a que se tivesse sido rica, não lhe teria pensado isso!
-Eu não sou um esnobe. Tenho expectativas em alguns temas e não
me envergonho disso.
-Dava o que queira, mas eu sei que se sentia atraído por mim
exatamente igual a eu por ti -insistiu Hilary entre furiosa e doída-.
Admitiu-o enquanto tinha amnésia.
-Deixei-te porque não teria podido viver comigo. Foi muito jovem.
-Deixou-me porque é mais frio que o gelo.
-Essa é sua definição do sentido comum?
-Deixou-me também porque não era de sua classe social.
-E segue sem sê-lo, mas está aqui -respondeu Roel amarrando a dos
quadris e apertando-se contra ela.
-Crie-te que me beijando vais conseguir que me passe o
aborrecimento? -espetou-lhe Hilary.
Roel a beijou de todas maneiras e Hilary teve que apoiar-se em seus
ombros para não perder o equilíbrio.
-Estou desejando que cheguem as sete -rugiu Roel lhe mordiscando o
lóbulo da orelha.
-OH...
Hilary se deu conta de que se supunha que não deveria estar
beijando-o porque estava furiosa com ele. Nesse momento, Roel lhe
baixou a cremalheira do vestido. *
-Não... não o faça -disse-lhe surpreendida.
-Muito tarde...
Hilary se tampou envergonhada e presa do pânico.
-Estamos em um banco... poderia entrar alguém!
-A porta está fechada com fecho, assim estamos a salvo -respondeu
Roel lhe apartando as mãos e observando seu atrevido conjunto de
lingerie-, mas você não...
Hilary tentou apartar-se para voltar a ficar o vestido, mas Roel tomou
em braços com facilidade e a depositou sobre a mesa.
-Roel! -exclamou Hilary quando tentou lhe desabotoar o prendedor.
-Irresistível... -comentou ele lhe acariciando os mamilos.
Seus olhos se encontraram e quando Hilary viu o desejo nos olhos do
Roel ficou muito surpreendida. Aquele desejo acendeu um fogo em
seu interior.
Embora não a quisesse, desejava-a e isso não o podia negar.
Orgulhosa, tirou-o da gravata e atirou dele para baixo.
-Põe a mil -disse Roel com voz rouca.
Acariciou-lhe os peitos fazendo-a gemer de prazer e brincou com
seus mamilos até fazê-la ofegar. Hilary sentiu uma cascata de líquido
quente entre as pernas e, enquanto Roel lhe lambia o corpo inteiro,
Hilary deixou de pensar com claridade.
Hilary fez um movimento para frente com os quadris e nesse
momento começou a soar o telefone, mas Roel o desconectou.
Acariciou-lhe o cabelo e a voltou a beijar.
-Desejo-te —murmurou Hilary.
-Não tanto como eu a ti, bela minha -respondeu Roel lhe tirando as
braguitas-. Ensinaste-me que duas semanas sem ti podem ser como
duas vistas.
Roel lhe separou as pernas e descobriu seu lugar mais íntimo.
Acariciou-o com dedos peritos e, depois de colocá-la na posição
desejada, penetrou-a de uma só estocada.
Hilary sentiu que perdia o controle. Aquilo era muito excitante. O
prazer era insuportável. Quando chegou ao orgasmo, Roel a beijou
para que não gritasse.
-Não me posso acreditar que tenhamos feito isto
-comentou Roel ao cabo de uns segundos olhando-a aos olhos-. Não
posso acreditar que esteja nua sobre minha mesa.
Hilary se levantou da mesa como uma gata escaldada e se vestiu a
toda pressa com mãos trementes.
-Você prohíbo que volte a vir a meu escritório -disse-lhe Roel.
-Como? -disse Hilary enquanto ficava o vestido.
-Tudo isto o tinha planejado. vieste para ver-me com um vestido
provocador por algo.
De verdade acreditava que se cavou sua própria tumba? De verdade
acreditava que sua idéia ao vir a vê-lo era deitar-se com ele em cima
da mesa de seu escritório? tornou-se louco?
-Desde que me viu entrar por essa porta, não pensaste em outra
coisa, assim agora não me jogue a culpa -defendeu-se Hilary-. Quem
fechou a porta com fecho? Quem me ignorou quando lhe hei dito que
estávamos em um banco? Quem há dito faz uns minutos que duas
semanas sem sexo era como passar dois vistas privadas dele?
-Hilary...
-E assim que tem o que queria, acusa-me de ter sido eu a que me
equilibrei sobre ti -continuou Hilary furiosa indo para a porta-. Em
qualquer caso, não se preocupe, não penso voltar para este banco!
Roel lhe passou seu casaco.
-Tem pintalabios na camisa -disse-lhe ela com satisfação.
-Poderíamos repetir isto?
Hilary ficou olhando-o com os olhos muito abertos.
-depois de que me tenha acusado de havê-lo planejado tudo?
-eu adoraria que o repetíssemos, minha cara.
-Nem o sonhe!
-Não é fácil encontrar um sexo assim -murmurou Roel.
Hilary empalideceu. Aquele homem não tinha sentimentos. Claro que,
como tinha podido esquecer-se do que Roel sentia por ela? Tinha-a
por uma cazafortunas mentirosa que se aproveitou dele em um
momento em que era vulnerável.
Vulnerável. Hilary estudou ao Roel. Um homem de condição física
insuperável, um homem que a olhava com luxúria, um homem capaz
de deitar-se com ela e esquecê-la aos dois minutos.
Resumindo. Um homem que lhe podia fazer muito dano se não
tomava cuidado.
-Isto não vai se voltar a repetir -assegurou-lhe Hilary girando-se e
indo para a porta.
-Certamente, não nas próximas vinte e quatro horas porque vou ao
Zurich esta noite, assim que nos veremos amanhã de noite.
Hilary esteve a ponto de lhe dizer que não tivesse nenhuma pressa
por voltar para casa, mas se mordeu a língua porque, depois de como
se havia comportado com ele fazia uns minutos, pareceu-lhe que era
melhor guardar silêncio.
A sair do despacho do Roel, havia uns quantos empregados de
jaqueta e gravata que lhe fizeram um corredor para deixá-la passar.
Ela se dirigiu ao elevador a toda velocidade pois lhe parecia que tinha
escrito na cara o que acabava de acontecer dentro.
Roel tinha descoberto a combinação mágica para transformá-la em
uma mulher que se comportava como uma fresca. Deveria odiá-lo por
isso, mas ao recordar que lhe tinha proibido a entrada em seu
escritório se deu conta de que isso era porque tinha certo poder
sobre ele.
Jogou a cabeça para trás e sorriu satisfeita.

Capítulo 8

AO DIA seguinte, Hilary tampouco teve vontades de tomar o café da


manhã. Tinha náuseas e não era a primeira vez que lhe ocorria nos
últimos dias. Teria algum vírus? O certo era que não se sentia doente
a não ser, mas bem, como se algo não fora bem.
De repente, deu-se conta de que seu corpo se estava comportando
de maneira estranha. Calculou rapidamente com os dedos e se deu
conta de que lhe tinha atrasado o período. Voltou a contar, mas o
certo era que nunca tinha controlado os ciclos e assim era impossível
ter as datas claras.
disse-se que se estava equivocando, mas então se deu conta de que
nunca tinha tomado medidas para não ficar grávida. Roel tampouco.
Jamais lhe tinha ocorrido que pudesse conceber um filho. Ao Roel
tampouco lhe tinha ocorrido? Teria assumido que estava ela tomando
a pílula?
Não passava nada. No último mês se deitou com ele só uma vez. As
possibilidades de haver ficado grávida eram mínimas. Além disso,
tinha lido no periódico que a taxa de fertilidade ia em descida.
Decidiu que o estresse tinha alterado seu ciclo menstrual e que essa
mesma alteração estava fazendo que todo seu sistema se alterasse e
ela se sentisse mau.
Esperaria uns dias e, se seguia sentindo-se mau, faria-se uma prova
de embaraço. Enquanto isso, decidiu não voltar a pensar nesse tema
pois não queria voltar-se louca por algo que não era provável que
acontecesse.
Humberto lhe levou o telefone. Era Roel.
-Queria te haver chamado ontem de noite, mas a reunião terminou
muito tarde -disse-lhe seu marido.
Hilary se enfureceu consigo mesma por alegrar-se de ouvir sua voz.
-Não passa nada. Não esperava que me chamasse.
-Esta noite temos uma festa.
-Vá, assim, tira-me uma noite por aí por me haver levado bem, né? -
burlou-se Hilary.
-Algo assim, mas prefiro que lhe Portes mau -respondeu Roel-.
Advirto-te que eu não gosto de muito as festas.
Enquanto se vestia aquela noite, Hilary esperava com a respiração
entrecortada que se abrisse a porta que comunicava suas duas
habitações.
pôs-se um vestido verde com os ombros ao descoberto que
acentuava a perfeita palidez de sua pele.
A porta nunca se abriu, assim baixou as escadas e se encontrou com
o Roel no vestíbulo.
-Está muito bem -disse-lhe olhando-a de cima abaixo com interesse.
Hilary se ruborizou.
-Não faz falta que pareça que está surpreso.
-Me tinha passado pela cabeça que foste tentar ganhar pontos te
pondo um pouco totalmente inapropriado -admitiu Roel.
-Nunca faria algo tão infantil -respondeu Hilary-. Por certo, tornei-me
a pôr a aliança -pigarreou.
-por que não? Ganhaste-lhe isso -burlou-se Roel.
Hilary se ruborizou como se a tivesse esbofeteado.
-Quando me fala assim, odeio-te!
Roel riu.
-É tradição em minha família que o ódio prolifere entre os casais
casados.
-Sua mãe se apaixonou por outro homem, mas isso não quer dizer
que odiasse a seu pai.
-Ah, não? Já estava apaixonada por esse homem quando se casou
com meu pai. O amor de meu pai se tornou ódio quando se deu conta
da verdade.
-Então, por que diabos se casou com ele?
-Pelo dinheiro -respondeu Roel guiando a à limusine que os estava
esperando-. Minha avó foi igual de ambiciosa, mas tinha mais
princípios. Deu a meu avô, Clemente, um filho e logo lhe disse que
tinha completo com seu dever. Embora seguiram vivendo juntos até
que morreram, não voltaram a fazer vida marital.
-Certamente, parece que sua mãe fez mal ao casar-se com seu pai,
mas talvez houvesse pressões que você não conhece ou pode que ela
acreditasse que estava fazendo o correto e se convencesse de que
algum dia Chegaria a amar a seu pai -disse Hilary tentando que Roel
fora menos duro com os enganos de outros.
-Essa possibilidade alguma vez me tinha ocorrido -respondeu ele com
secura—. E você crie, então, que me teve com a esperança de
aprender a me querer também?
Hilary se deu conta de que estava pondo sua teoria em ridículo.
-O único que te estou dizendo é que em um matrimônio infeliz
sempre há duas versões que escutar e que, além disso, poderia ter
havido circunstâncias que desconhece... só estava tentando te
animar.
-Não necessito que me anime -respondeu Roel com acidez-. Nem
sequer me lembro de minha mãe. Morreu antes de que eu fizesse
quatro anos.
-Como?
Roel se encolheu de ombros.
—afogou-se.
-Sinto muito que não tivesse oportunidade de conhecê-la. Suponho
que pensará que sou uma sentimental, mas se soubesse o que daria
de poder falar com minha mãe durante só cinco minutos... daria o
que fora...
-Se não ser capaz de sofrer em silêncio -interrompeu-a Roel-, prefiro
ir à festa sozinho.
-Acredito que isso seria o melhor -respondeu Hilary com um nó na
garganta-. Parece-me que não quero passar nem um minuto mais em
companhia de uma pessoa tão fria como você.
-Já quase chegamos ao aeroporto, assim te acalme. É muito
emocional.
-Não como você, verdade? -espetou-lhe Hilary-. Para que saiba, eu
não me envergonho de meus sentimentos.
-Eu não te estou dizendo que te envergonhe, só te estou pedindo que
os controles -insistiu Roel.
-Queria muito a meus pais e jogo muito de menos. Ensinaram-me a
pensar o melhor da gente e, embora logo aprendi que o mundo não é
o melhor sítio...
-Quem te ensinou isso?
-Mandy, a prima de meu pai. Assim que se inteirou de que nossos
pais tinham morrido, tomou a iniciativa. Convenceu aos serviços
sociais de que era a pessoa perfeita para fazer-se carrego de nós. Eu
era muito pequena e me dava muito medo que me separassem de
minha irmã. Assim que nos fomos viver com o Mandy a uma casa
alugada muito grande -recordou Hilary.
-E?
-Mandy e seu noivo nos tiraram todo o dinheiro que puderam.
gastaram-se o dinheiro que tinham meus pais, que não era muito,
mas tivesse sido suficiente para que Emma e eu tivéssemos vivido
uns quantos anos sem preocupações. Quando se acabou,
simplesmente se foi e nunca voltou.
-Suponho que chamaria à polícia. Isso é um delito.
-O dinheiro tinha desaparecido e isso já ninguém o ia trocar. Além
disso, tinha coisas mais importantes das que me preocupar... como
encontrar uma casa mais troca e me ocupar de minha irmã -
defendeu-se Hilary.
Em um inesperado gesto de solidariedade, Roel a agarrou pela mão.
-Confiou no Mandy porque era de sua família. Suponho que sua
traição foi espantosa.
-Sim... -respondeu Hilary dando-se conta de que tinha umas horríveis
ganha de chorar.
-Quando tinha amnésia, não tive mais opção que confiar em ti -
murmurou Roel-. Acreditava que foi minha esposa...
Hilary se soltou de sua mão com violência.
-Não faz falta que diga mais... entendi a mensagem. Eu o único que
fiz foi tentar atuar como se fora sua esposa. Não me deitei contigo
por nenhum outro motivo nem tenho intenção de me enriquecer com
nosso matrimônio.
-Só o tempo demonstrará se isso é verdade. , -O que te passa? Tem
algum problema? É um homem incrivelmente bonito, mas parece que
te custa aceitar que as mulheres lhe queiram por ti mesmo -espetou-
lhe Hilary.
-Tampouco tenho mau corpo -brincou Roel.
De repente, Hilary explorou.
-Essa é uma das coisas que não posso suportar de ti. Sempre tem
que dizer a última palavra. Está tão convencido de que você nunca te
equivoca que me joga a culpa de tudo. Se o céu caísse agora mesmo
sobre nós, diria que foi minha culpa!120
-Bom, agora que o diz, gritar provoca avalanches.
Hilary tomou ar para tentar controlar-se e nesse momento o chofer
abriu a porta.
-Odeio-te! -disse-lhe Hilary enquanto se sentava no helicóptero.
Roel se inclinou sobre ela e a beijou.
-Só estaremos meia hora na festa.
Hilary estava alterada e assustada pela intensidade de suas emoções.
Olhou em seu interior e entendeu por que se brigou com ele, por que
tentava manter as distâncias. Roel tinha um incrível poder sobre ela,
poderia lhe fazer danifico e, mesmo assim, ela seguia amando-o.
-Roel...
-Desejo-te com todo meu corpo. Em Londres, logo que dormia, mas
agora volta a ser minha e seguirá sendo-o até que eu o dita.
O helicóptero aterrissou em um impressionante iate ; cujos donos lhes
deram a bem-vinda como se fossem príncipes.
Apesar de que havia muita gente, Hilary só tinha olhos para o Roel,
mas ele se teve que ausentar quando seu anfitrião insistiu em que
queria lhe apresentar a um velho amigo.
A sua vez, a anfitriã apresentou a Hilary a um sem-fim de
convidados. As cores dos vestidos e os brilhos das jóias lhe nublavam
a visão, assim piscou, mas o vaivém do navio a estava enjoando.
Hilary se girou procurando um sítio onde sentar-se, mas já era muito
tarde. Quando recuperou a consciencia, Roel estava a seu lado.
-Tranqüila, cara. Vamos a casa —disse tomando-a em braços e
despedindo-se dos preocupados anfitriões-. Nunca tinha visto uma
atuação tão boa -acrescentou uma vez a sós.
Hilary se deu conta de que Roel acreditava sinceramente que o tinha
fingido tudo porque ele queria ir-se logo da festa.
O movimento do helicóptero não fez a não ser acrescentar suas
náuseas e não gostava de falar. Já tinha suficiente perguntando-se a
si mesmo por que se deprimiu. Jamais se tinha desacordado antes,
mas recordou que seu amiga Pippa lhe havia dito que aquilo era
normal durante os primeiros meses de embaraço.
Ao chegar a casa,, Roel se apressou a ajudá-la a descer do
helicóptero.
-foi um desmaio muito bom -sorriu com sensualidade-. Inclusive eu
me acreditei isso no princípio.
-Não o fingi -respondeu Hilary apoiando-se nele porque as pernas não
a sustentavam-. Enjoei-me porque não estou acostumada aos navios.
-Mas se só estiveste um quarto de hora -disse Roel surpreso.
Uma hora depois, Hilary estava deitada e Roel a estudava com
atenção dos pés da cama.
-Agora já me encontro muito melhor, eu gostaria de me levantar -
disse Hilary.
-A gente sã não se deprime -respondeu Roel-. Assim que a doutora
diga que está bem, poderá te levantar.
-Que doutora?
Nesse momento bateram na porta.
-Suponho que será ela. Chamei-a da limusine para lhe dizer que
viesse a casa.
-Não quero um médico -disse Hilary presa do pânico-. Não necessito
a nenhum médico!
-Isso o dito eu.
-E a ti que mais te dá?
-Sou seu marido e sou responsável por seu bem-estar embora você
não me agradeça isso.
Hilary se sentiu culpado e não disse nada mais enquanto Roel abria a
porta e aparecia uma mulher maior de cabelo grisalho.
-Eu gostaria de estar a sós com a doutora -anunciou Hilary ao ver
que Roel não se ia.
Respondeu às perguntas da doutora com sinceridade e deixou que a
examinasse.
-Acredito que você já suspeita o que lhe ocorre -sorriu a mulher ao
cabo um momento-. Está você grávida.
Hilary empalideceu ao pensar no horror que aquela notícia ia
provocar no Roel.
-Está segura?
A doutora assentiu.
-Prefiro não dizer-lhe ainda a meu marido -confessou-lhe Hilary.
Seu corpo a tinha surpreso. ia ter um filho com o Roel.
Possivelmente, fora um menino de cabelo negro
123
e sorriso irresistível ou uma menina que tivesse seus preciosos olhos
castanhos e a crença de que era a proprietária do mundo.
Sim, ia ter um filho com o Roel e estava convencida de que ele a ia
odiar por isso. De fato, quando entrou na habitação, Hilary não pôde
olhá-lo aos olhos e tentou levantar-se da cama.
-O que faz? -perguntou-lhe.
-Já estou melhor e me vou vestir.
Roel lhe fechou o passo e a obrigou a voltar para a cama.
-Não, a doutora há dito que tem que comer e que dormir muito e me
vou assegurar de que siga seus conselhos.
-A benevolência não fica bem -espetou-lhe Hilary enquanto Roel
vigiava que se tomasse a deliciosa comida que lhe tinham levado em
uma bandeja com flores.
Roel sorriu de uma maneira que fez que a Hilary desse um tombo o
coração.
-Faço-o por mim.
-De verdade?
-vais ter que estar aos cem por cem para cumprir com minhas
expectativas. decidi tomar umas férias...
-Você nunca lhe tirares férias.
—Contigo, uma cama e um ordenador posso tomar as
Hilary se ruborizou de pés a cabeça.
-Estou decidido a me esquecer de ti ou a morrer no intento, cara -
murmurou Roel com voz rouca.
-E logo o que?
-Logo, levarei-te a Inglaterra e voltarei a levar a vida que levava
antes, livre e fácil, a vida de um solteiro.
Hilary teve que fazer um esforço sobre-humano para controlar a dor.
-E a que esperas? por que não o faz já?
-De momento, me sigo passando isso bem contigo. É diferente às
mulheres com as que estava acostumado a sair.
-Há capacidade para como me sinto eu em tudo isto?
-Você se sente maravilhosamente bem porque eu te faço sentir assim
e sabe -recordou-lhe Roel com crueldade e muito seguro de seus
dotes amorosas.
Hilary se deixou cair sobre os travesseiros e fechou os olhos.
disse-se que o melhor era deixar-se levar. Talvez, Roel nunca se
inteirasse de que tinha tido um filho. Devia dizer-lhe O mais seguro
era que não se voltassem a ver e ela queria a esse filho e podia lhe
dar muito amor. Estava disposta a trabalhar tudo o que fora
necessário para lhe dar um bom lar.
Como podia ser tão covarde como para não dizer imediatamente ao
Roel que estava grávida?
-Disse-te que não queria nada -sussurrou Hilary assim que o
vendedor se apartou um pouco-. O que estamos fazendo aqui?
-Não tem jóias -respondeu Roel-, assim que te vou comprar umas
quantas.
-Não é muito inteligente por sua parte -disse Hilary tentando
aparentar naturalidade-. Poderia te sair mau.
-Já me saiu mau. O certo é que qualquer cazafortunas que se aprecie
não deixaria passar uma oportunidade tão boa como esta.
Hilary o olhou surpreendida e Roel a tirou da cintura para que não se
apartasse.
-Se por acaso não te deste conta, acabo de admitir que me
equivoquei contigo faz quatro anos -confessou-. Agora compreendo
que não te casou comigo por dinheiro.
-Diz-o a sério?
-Completamente -respondeu Roel lhe indicando que se sentasse em,
o elegante tamborete que havia junto ao mostrador-. Há homens
patéticos que pedem perdão com flores.
-Ah, sim? -respondeu Hilary confusa.
Custava-lhe pensar com claridade pois se encontrava aliviada e feliz.
-E há homens que jamais pedem perdão e que são capazes de
comprar brilhantes com tal de te fazer acreditar que não estão
suplicando que os perdões.
Aquilo fez sorrir a Hilary, que esteve a ponto de rir a gargalhadas ao
recordar que uma vez Roel lhe disse que suplicar era de paletós.
Uma hora depois, já em casa, Hilary saiu a terraço onde Roel se
estava tomando uma taça.
Uma enorme figueira proporcionava sombra e se agradecia porque
embora já era última hora da tarde seguia fazendo muito calor.
-É certo que tem suas isto vantagens de estar contigo —brincou
Hilary agitando o relógio de platina que lhe tinha comprado.
Roel a olhou com uma sobrancelha arqueada pois ainda não se podia
acreditar que não tivesse aceito nada mais que aquele relógio.
-Eu tivesse preferido te cobrir de diamantes.
-Não me tivessem ficado bem.
-Nua tivesse estado como uma incrível deusa pagã, bela minha.
Hilary sentiu que o coração lhe dava um tombo. Jamais ninguém lhe
havia dito algo assim.
-por que trocaste que opinião sobre mim? por que já não crie que só
procuro seu dinheiro?
-Quando me disse em Londres que me havia devolvido a maior parte
do dinheiro que te dava ao nos casar, não te acreditei, mas o
comprovei e esse dinheiro leva na conta mais de três anos.
-E o que passou com a carta que escrevi a seu advogado?
-Não chegou. Por essas datas, Paul se trocou de despacho e sua carta
deveu chegar à antiga direção e se perdeu. Agora está muito
descontente com tudo este tema porque sabe que é o elo que falhou
e que por isso se produziram muitos maus entendidos entre nós.
Hilary se sentia imensamente aliviada de que o tema do dinheiro
estivesse por fim arrumado.
-Nunca quis aceitar seu dinheiro, mas acabei aceitando-o, assim
suponho que seu advogado tem razões para não ter uma boa opinião
de mim.
-Não tem direito a emitir um julgamento assim.
-Eu gostaria de te explicar um par de coisas. Quando nos
conhecemos, minha irmã e eu vivíamos em uma má zona e seus
amigos eram meninos aos que lhes parecia muito divertido roubar
nas lojas. Emma começou a faltar ao colégio e eu não tinha tempo
para controlá-la.
Roel a escutava com atenção.
-Não sabia que tivesse uma vida tão dura. Sempre estava alegre.
-Pôr má cara não troca nada -respondeu Hilary-. O dinheiro que nos
deu nos permitiu começar de novo. Aluguei outro piso, abri a
barbearia e matriculei a Emma em um colégio melhor. Nossos
problemas se terminaram. Pude deixar de trabalhar pelas noites e
comecei a ficar em casa enquanto minha irmã estudava. Ao ano
seguinte, conseguiu a beca e, após, tudo vai bem.
-Deveria estar orgulhosa de ti mesma. Oxalá me tivesse contado tudo
isto então.
Hilary o olhou aos olhos e teve que desviar o olhar porque ficava sem
fôlego.
-Então, não te interessava o mais mínimo minha vida.
-Não quis te conhecer e você pagou o preço, mas isso foi então e isto
é agora... -disse Roel agarrando a da mão e lhe beijando a palma.
Hilary se estremeceu, sentiu que lhe tremiam as pernas e que lhe
ardia a entrepierna. Então, Roel lhe abriu a camisa e lhe soltou o
prendedor.
-É de dia... -murmurou Hilary.
-Surpreende-te com facilidade -respondeu Roel apoiando-a contra a
parede quente pelo sol e lhe tirando o emparelho que levava como
saia-. Tranqüila, já o faço todo eu.
Hilary o deixou fazer e logo esteve nua.
Estava desejando senti-lo dentro dela muito antes de que Roel
introduzira seus dedos entre a selva loira de seu entrepierna e a
fizesse gemer de prazer.
-Não pares -gritou Hilary.
-eu adoro verte perder o controle -respondeu Roel levantando-a e
penetrando-a.
Hilary ofegou de prazer enquanto seus corpos se imbuíam de paixão
animal. Depois de alcançar o clímax, Roel tomou em braços e a levou
a cama, onde se tombou a seu lado e sorriu encantado.
Hilary queria gritar aos quatro ventos o muito que o queria, queria
que aquele momento não se acabasse nunca.
Roel lhe apartou o cabelo da cara, beijou-a e a abraçou fazendo-a
sentir-se como a mulher mais afortunada do mundo.
-eu adoro seus peitos -confessou Roel pondo-a escarranchado sobre
ele e acariciando-lhe Juraria que lhe cresceram desde a primeira vez
que fizemos o amor.
Hilary desviou o olhar presa do pânico.
-Não me queixo, não me interprete mal -acrescentou Roel-. Já me dei
conta de que você adora o chocolate suíço.
Roel se acreditava que tinha engordado porque estava comendo
muito chocolate! Hilary tentou apartar-se dele, mas Roel o impediu.
-Não seja tão suscetível. Tem um corpo maravilhoso -assegurou-lhe-.
eu adoro estar com uma mulher que come tudo o que lhe vem em
vontade.
além de chamá-la gorda, tinha-a por uma gorrona. Maravilhoso.
Oxalá o culpado de que lhe tivesse aumentado o peito em uma talha
de prendedor fora o chocolate!
-Vou dar uma ducha -anunciou Hilary levantando-se da cama.
-por que tem tão pouca auto-estima? -disse Roel frustrado.
-Vi ao Céline e a seu lado pareço uma vaca leiteira! -respondeu
Hilary.
Roel a olhou furioso e se levantou da cama.
-Miúda idéia! Céline cumpria com minhas necessidades, mas você as
provocava. Não posso deixar de te tocar. Inclusive tive que tomar
umas férias para estar contigo.
Hilary sentiu que os olhos lhe enchiam de lágrimas.
-Isso é só sexo -acusou-o.
fez-se um terrível silêncio durante o qual Hilary rezou para que Roel
lhe levasse a contrária, mas ele se limitou a olhá-la com intensidade
com uma expressão difícil de ler no rosto.
Hilary sentiu que lhe formava um nó na garganta. Roel não lhe tinha
levado a contrária. Como tinha sido tão ingênua para acreditar que o
que havia entre eles era algo mais que sexo?
Conseguiu sorrir como se lhe parecesse muito bem que sua relação
fora puramente sexual, meteu-se no banheiro e fechou a porta com
fecho.
Imediatamente, abriu os grifos da ducha e ficou a chorar. Quão único
lhe tinha devotado desde o começo tinha sido sexo e Roel o tinha
aceito gostoso.
Nesse aspecto, não se tinha queixado. Levavam uma semana na
Cerdeña, sete dias nos que não se separaram. Tinham comido na
praia, tinham nadado no mar de noite, tinham compartilhado jantares
românticos, maravilhosas sestas e incontáveis conversações.
Estar em companhia do Roel era maravilhoso e inclusive quando tinha
que trabalhar um par de horas ela ficava lendo a seu lado.
Aquela semana tinha sido incrivelmente feliz para a Hilary, mas
também tinha sido muito difícil assumir que estava grávida dele.
Fisicamente, sentia-se muito bem, mas tinha que tomar cuidado com
o que comia e tinha que descansar muito. As náuseas se evaporaram
e só se tornou a enjoar em uma ocasião por levantar-se muito às
pressas.
Roel tinha começado a dar-se conta de que seu corpo estava
trocando. lhe ocultar o embaraço não ia ser possível durante muito
mais tempo. A perspectiva de lhe confessar que foram ter um filho se
o fazia insuportável.
Aquela vez, Hilary tinha muito claro que não devia fazer-se ilusões,
que tinha que enfrentar-se à relação que tinha com o Roel tal e como
era.
Por isso, todas as manhãs, quando Roel lhe dava os bom dia
acompanhados de uns quantos beijos, Hilary se recordava uma série
de coisas:
Roel não estava apaixonado por ela. Desejava-a e por isso se
preocupava com ela. O fato de que conversassem durante horas, que
fora tenro e divertido com ela era irrelevante. Ao fim e ao cabo, era
um homem sofisticado e era impossível imaginar o fazendo que uma
mulher se aborrecesse.
Não era sua mulher de verdade. casou-se em troca de dinheiro. Era a
mulher que Roel tinha comprado, não a mulher que tinha eleito.
Além disso, ela jamais cumpriria com o tipo de mulher perfeita que
gostava ao Roel. O certo era que, sem dar-se conta, Roel tinha ido
lhe dando a entender que tipo de mulher gostava.
Gostava das mulheres de cabelo castanho e pernas largas,
exatamente igual a seu último casal. Também gostava das mulheres
de boa família e lhe parecia que os estudos universitários eram muito
importantes.
Hilary não cumpria nenhuma só dessas condições, assim era
impossível que a tivesse eleito jamais como esposa.
Tendo todo isso em conta, quando Roel se inteirasse de que ia ter um
filho seu aquilo ia ser um desastre. Por isso, não o queria dizer. Por
isso tinha aproveitado aqueles sete dias como se fossem os últimos
de sua vida.
Entretanto, tinha chegado o momento de lhe contar a verdade.
Hilary ficou umas calças de seda azuis com um Top de encaixe a
jogo. Aquela cor, o mesmo que o de seus olhos, ficava bem.
A mesa estava disposta na terraço para jantar. Tinham pendurado
farolillos nos ramos da figueira e a luz das velas se refletia na
cristalería.
Roel estava acostumado a ir a aquela casa um par de vezes ao ano
porque tinha muitas casas pelo mundo e não lhe dava tempo de ir a
todas muito freqüentemente.
Não gostava dos hotéis e inclusive ali, em um compartimento rincão
do planeta, Roel tinha contratado a um cozinheiro fabuloso que os
deleitava com suas maravilhosas comidas.
Aquele homem o tinha tudo sempre sob controle, mas, como reagiria
quando Hilary lhe dissesse o que lhe tinha que dizer? Aquela situação
não a ia poder controlar.
-Date a volta -disse-lhe Roel ao sair a terraço.
Hilary obedeceu.
-Está impressionante... poderia te comer aqui mesmo -confessou
Roel excitando-a-. vais ter sorte se consigo me controlar até que
terminemos de jantar.
Hilary se molhou os lábios e bebeu água.
-Uma vaca leiteira, né? -brincou Roel-. Não me parece isso.
Hilary se ruborizou e sentiu desejos de abraçá-lo e de lhe dizer quão
feliz tinha sido durante aqueles dias.
-Está muito estranha ultimamente -acrescentou Roel.
-Né... eu... -disse Hilary desconcertada.
-De repente sorri e ao minuto seguinte te zanga -explicou-lhe Roel-.
Você não é assim, assim suponho que é o síndrome premenstrual.
Hilary teve que fazer um esforço para não ficar a chorar.
-Tenho-te que dizer uma coisa -anunciou.

CAP 9

ROEL sorriu com irreverência. -Não lhe tome como uma crítica porque
o certo é que eu adoro a veia dramática que tem, mas, importaria-te
que jantássemos primeiro? Estou morto de fome.
Hilary estava nervosa como uma gata sobre um telhado de zinc e se
mordeu o lábio inferior. sentou-se à mesa e sua única contribuição à
conversação durante o jantar foram monossílabos.
-Quando está assim de calada, preocupo-me -comentou Roel.
-Às vezes, falo muito -respondeu Hilary incômoda.
-Agora que me acostumei, eu gosto -disse Roel lhe acariciando a
mão-. Vejo que me equivoquei acreditando que o que me tinha que
contar não era importante.
-Sim... -disse Hilary tragando saliva-. Em qualquer caso, não é algo
que te possa imaginar Y...
-Deitaste-te com aquele homem que estava em sua casa em
Londres? -perguntou-lhe Roel de repente.
-Com o Garret? -exclamou Hilary-. Claro que não!
-Isso era o pior que me podia imaginar e me queria certificar de que
não era assim.
-Importaria-te me escutar antes de voltar a falar? -espetou-lhe Hilary
nervosa.
-Não acostumo a interromper a ninguém.
-Não te zangue... isto não te vai gostar, mas não te zangue comigo -
suspirou Hilary desprezando-se por sua própria debilidade-. Somos os
dois responsáveis.
Roel apertou os dentes.
-O que acontece? Minha paciência tem um limite.
-Estou... -disse Hilary brincando nervosa com o garfo-. Fiquei-me
grávida. Ocorreu a primeira semana que estivemos juntos.
Roel ficou olhando-a atônito.
-Eu também me levei uma boa surpresa -admitiu Hilary.
Roel a olhou de cima abaixo, retirou a cadeira e ficou em pé.
aproximou-se do corrimão e ficou olhando o mar, que foi o único que
se ouviu durante o silêncio que se produziu a seguir.
-Não tinha pensado em me deitar contigo e, quando aconteceu, não
me dava conta de tomar medidas. Tinha muitas coisas na cabeça...
Roel estava de costas a ela e Hilary queria que se desse a volta.
-Suponho que estará zangado e o entendo porque não esperava que
isto acontecesse, mas eu tampouco. Não poderia suportar a idéia de
abortar, assim nem a menções.
Roel se girou para ela e a olhou com dureza.
-Talvez, nem sequer te tinha passado pela cabeça essa opção, mas
preferia deixá-lo claro desde o começo. Embora o filho que vou ter
não entrava em nossos planos, o vou querer igual -assegurou-lhe-.
Embora admita que agora mesmo estou assustada...
Roel se serve um uísque e o tirou de um gole.
Hilary ficou em pé.
-Por favor, dava algo.
-vais ser a mãe de meu filho -respondeu ele em um tom insolente
que fez que Hilary empalidecesse-. Devo ter muito cuidado com o
que te digo. Uma mulher grávida tem muitos direitos e terá que
tomar cuidado com sua situação. Desde quando sabe?
-Desde que veio a doutora quando me deprimi.
-Há tanto? -riu Roel-. E como é que não me há isso dito em toda esta
semana?
-O certo é que tivesse preferido não ter que lhe dizer isso nunca
porque não queria... não quero te perder.
-Nunca me tiveste -assegurou-lhe Roel com dureza-. Só da maneira
mais básica, isso sim.
-Sei -murmurou Hilary-, mas sei que até isso vai se romper.
-Não dê por feito que sabe o que penso, sinto ou o que vou fazer a
seguir -advertiu-lhe Roel.
-me diga o que está pensando, não me vou ofender -assegurou-lhe
Hilary se desesperada por tampar o abismo que se aberto entre eles.
-Muito bem. por que me ia surpreender de seu lucro? Na família
Sabatino os meninos sempre chegaram com uma etiqueta com um
preço muito elevado.
-Nosso filho não... -defendeu-se Hilary.
Roel passou a seu lado como se não existisse e se meteu no salão.
Hilary o seguiu e o alcançou no vestíbulo, justamente quando se
dispunha a sair da casa.
-Nosso filho não -repetiu-. Vai?
-Você o que crie?
-Onde vai?
-E a ti o que te importa?
Hilary ficou sozinha no vestíbulo. Quando conseguiu recuperar-se um
pouco, voltou para a terraço. O serviço já tinha recolhido a mesa,
mas Hilary ordenou que lhe levassem uma taça de chocolate com
torradas porque não queria que seu filho sofresse por sua falta de
apetite.
Durante a seguinte hora, chamou em duas ocasiões ao móvel do Roel
e uma delas ouviu uma risada feminina de fundo que a fez pendurar
mortificada.
Roel voltou para casa perto da uma da madrugada e foi diretamente
à habitação de sua mulher, que tinha deixado a porta aberta para
ouvi-lo chegar e que não duvidou em levantar-se da cama à carreira
para ir abraçá-lo.
Havia tornado e isso era quão único importava naqueles
momentos.138
-Não -advertiu-lhe Roel levantando as mãos.
Hilary se separou dele.
-tomei uma série de decisões -anunciou Roel-. Quero que te examine
um médico para que determine as datas relevantes do embaraço.
antes de que nasça o menino, quero estar todo o seguro que possa
de que é meu.
Hilary o olhou aniquilada.
-Duvida-o? -murmurou doída.
-Há mulheres que matariam por estar em seu lugar porque esse
menino te vai reportar incríveis lucros -respondeu Roel.
-Não acredito que nenhuma mulher matasse por estar em minha pele
neste momento -murmurou Hilary.
-É obvio, quero que lhe façam uma prova de DNA assim que nasça -
continuou Roel como se ela não houvesse dito nada-. Poderia haver
ficado grávida de outro homem durante as duas semanas que esteve
em Londres. Não me parece muito provável, mas seria uma estupidez
por minha parte não me assegurar.
-Sim... -tentou sorrir Hilary-. Como não foste aproveitar a
oportunidade de me humilhar?
-E o que esperava? Não acredito que este embaraço tenha sido um
acidente. Ao fim e ao cabo, ter um filho comigo te assegura uma vida
de sonho.
-Não está sendo justo. Se não confiar em mim, como te vou
demonstrar que te equivoca comigo?
-Não me equivoquei contigo.
-Hoje mesmo me há dito que estava convencido de que não era uma
cazafortunas.
-Isso foi antes de que me dissesse que estava grávida.
-E como ia eu a supor que me ia ficar grávida em uma semana? -
defendeu-se Hilary-. Se por mim tivesse sido, não tivesse eleito ter a
meu primeiro filho assim. por que ia querer ter um filho com um pai
que me odeia?
-Eu não te odeio.
-Ah, não? Odeia-me porque enquanto teve amnésia não te contei a
verdade sobre nosso matrimônio.
-Mentiu-me.
-Por seu bem. É certo que me deixei levar um pouco, estava vivendo
um sonho feito realidade Y...
-Por fim diz a verdade -interrompeu-a Roel com satisfação-. Estava
tão seduzida por meu estilo de vida que não te importou me mentir
para seguir desfrutando dele.
Aquilo fez que Hilary se riera com amargura.
-Para sua informação, meu sonho era ter um matrimônio de conto
com um homem que me tratasse como uma igual... sim, patético
acreditar que esse homem podia ser você. Um homem que nem
sequer me pediu uma entrevista quando era óbvio que eu houvesse
dito que sim! Claro que era meu sonho e não o teu Y...
-Assim que me fez viver sua estúpida fantasia!
-Por muito estranho que te pareça, estava muito feliz vivendo minha
estúpida fantasia -assegurou-lhe Hilary levantando o queixo em
atitude desafiante.
Roel ficou como se o tivesse esbofeteado.
-Falemos do bebê -disse ao cabo de um momento.
-Por favor, me escute -respondeu Hilary se desesperada porque Roel
entendesse que não se ficou grávida de propósito-. Quando me deitei
contigo, não considerei as conseqüências. Nunca antes me tinha tido
que preocupar com isso. Fui ingênua e irresponsável, mas nada mais.
Você tampouco tomou medidas.
-A primeira noite que nos deitamos, abri a gaveta da mesinha em
busca de preservativos e, ao não encontrá-los e dando por feito que
foi minha esposa, assumi que estava tomando a pílula.
-Assim a ti tampouco te ocorreu tomar medidas.
-Sinceramente, então aquele assunto não me preocupava. Tinha
amnésia e uma esposa a que não reconhecia.
-Recordo-te que isso te pareceu do mais excitante -respondeu Hilary.
-Confiei em ti. Esse foi meu engano e sei que vou pagar por ele -
espetou-lhe Roel-. Entretanto, você vais viver comigo tendo muito
claro o que é. Uma asquerosa que se meteu em minha cama em
busca de dinheiro!
-Não me fale assim -gritou Hilary furiosa-. Se segue fazendo-o, vou
dar uma bofetada.
Em um abrir e fechar de olhos, Roel tomou em braços.
-Baixa me!-exclamou Hilary.
-Não, é tarde e tem que dormir.
-Sei ir sozinha à cama.
-por que te crie que tornei? É minha esposa e vamos ter um filho,
assim, apesar do zangado que estou contigo, não quero que te ocorra
nada.
Hilary fechou os olhos com força e deixou que Roel a depositasse
sobre a cama e a tampasse como se fora seu tatarabuela. Ao
recordar a paixão que tinham compartilhado umas horas antes,
sentiu vontades de chorar.
Foi a primeira vez que dormiram em habitações separadas e aquilo
lhe doeu como se lhe tivesse parecido uma faca no coração. Era óbvio
que Roel queria marcar distâncias entre eles.
À manhã seguinte, voltaram para a Suíça. Quando levavam uma hora
de vôo, Hilary decidiu deixar de lado o orgulho e aproximar-se dele,
que estava trabalhando.
Roel a ignorou.
-Muito bem, mensagem recebida. Quer que desapareça, verdade?
Roel a olhou com indiferença.
-Não me olhe assim -disse Hilary com as mãos nos quadris-. Se não
me agüentar, te divorcie de mim!
Roel ficou em pé e se aproximou dela.
-Estava-me perguntando quanto tempo foste demorar para dizer isso.
Sinto muito te decepcionar, mas isso não vai acontecer.
-por que diz isso?
-Te vais ficar na Suíça, onde eu possa te vigiar.
A Hilary pareceu interessante que, embora acreditasse uma
ambiciosa cazafortunas, ao Roel não se
ocorresse-lhe um castigo pior que mantê-la a seu lado. Aquilo a fez
albergar certas esperanças.
-O que opina de ter um filho? -perguntou-lhe armando-se de valor.
-Queria o ter algum dia -confessou Roel com a mesma emoção com a
que diria que queria comprar um carro novo-. O certo é que vai
chegar antes do previsto, mas já me farei à idéia.
Hilary apertou os punhos com força e se cravou as unhas nas Palmas
das mãos. Voltou para seu sítio e decidiu que devia lhe dar tempo.
Roel era um homem muito cabezota e o melhor era tentar
compreendê-lo para ganhar sua confiança.
Amava-o tanto!
Seguro que, ao final, acabava aceitando-a. De verdade? Roel
sabatino ia aceitar ter uma esposa que era cabeleireira?
De momento, parecia preocupado por ela, mas isso era só porque
estava grávida. Poderia divorciar-se dela assim que desse a luz.
O certo era que nunca a tinha aceito como sua esposa, mas não
podia culpá-lo por isso pois, ao fim e ao cabo, nunca lhe havia dito
que se fora a viver com ele e, certamente, nunca lhe tinha pedido um
filho.
Não devia perder de vista a realidade e a realidade era dolorosa. Roel
se sentia apanhado. Preferia recuperar sua liberdade.
O que podia esperar do homem ao que amava?
Sexo? Jóias? Estava disposta a que Roel lhe jogasse em cara
constantemente seus enganos? Estava disposta a que lhe fizesse
sentir-se pequena e vendida?

Capítulo 10
À MANHÃ seguinte, Roel levou a Hilary ao ginecologista. Roel a
desconcertou perguntando um montão de coisas, que o médico
respondeu ao detalhe. Hilary se sentiu como um útero com pernas e
lhe doeu muitíssimo que Roel desse amostras de interesse por seu
filho ante uma terceira pessoa e não ante ela.
perguntou-se se não seria que o tinha feito para guardar as
aparências.
Nos três intermináveis dias seguintes, Hilary se sumiu em uma total
infelicidade. Roel ia se trabalhar ao amanhecer e voltava muito tarde
de noite. Não tomava o café da manhã nem comia nem jantava com
ela e não fazia nenhum esforço por reduzir a tensão que se instalou
entre eles.
Entretanto, chamava-a um par de vezes ao dia para ver que tal
estava. Parecia que isso era o único que lhe importava e que não
estava disposto a fazer nada mais. Certamente, a porta que havia
entre suas habitações estava fechada a cal e canto. Hilary despertou
o quarto dia quando amanheceu, tomou banho e se vestiu para correr
escada abaixo e poder tomar o café da manhã com ele.
-O que faz levantada estas horas? -perguntou-lhe ele franzindo o
cenho.
-Queria verte. Se não tomar o café da manhã contigo, ia ter que ir ao
banco e interromper sua jornada trabalhista, algo que me proibiu faz
tempo -sorriu.
Roel a olhou e sorriu levemente.
-Te vou sentir falta de -confessou Hilary fazendo um esforço.
-Não quero ouvi-lo! -exclamou Roel deixando o periódico a um lado e
ficando em pé.
Hilary o olhou com os olhos muito abertos.
-Não me acredito. Quando queira algo contigo, lhe farei saber isso.
Hilary chorou de humilhação enquanto a limusine se afastava.
Já tinha suportado o bastante. Não ia consentir que Roel a tratasse
como uma prostituta com a que podia compartilhar a cama sempre
que lhe desse a vontade!
Não deveria ter ido com ele a Cerdeña. Tinha sido um grande
engano. Roel já lhe tinha deixado claro para então que a desprezava,
mas ela se negou a ver a realidade.
Decidiu ir-se da Suíça, mas antes de fazê-lo tinha que limpar seu
nome para que Roel entendesse que se equivocou com ela.
Enquanto se passeava por sua habitação, deu-se conta de que só
havia uma maneira de fazê-lo. Tinha que falar com um advogado
para que lhe redigisse um documento legal no que ficasse
claro de uma vez por todas que suas intenções não eram pecuniárias.
Paul Correro estaria muito contente de que assinasse ante ele a
renúncia aos trilhões dos Sabatino antes de ir-se da Suíça com sua
dignidade intacta.
Quando chegou à escrivaninha do advogado aquela mesma manhã,
uma secretária a levou a seu escritório imediatamente. A Hilary
surpreendeu que Paul a recebesse tão depressa e a deixou aniquilada
que o advogado a recebesse com amabilidade e lhe desse as obrigado
por ir.
-Anya queria ir a sua casa para pedir perdão, mas eu me tinha
passado tanto contigo que acreditei que era melhor deixar que a
tempestade passasse -desculpou-se Paul-. Ameacei-te e te assustei,
mas quero que saiba que não estou acostumado a tratar assim às
mulheres.
-Estou segura disso -respondeu Hilary.
-Quando Roel se deu conta de que te tinha ido por minha culpa, ficou
como uma fera e com toda a razão.
-Não foi tua culpa.
-Sim, sim foi -insistiu Paul-. Meti-me em algo que não me concernia.
Agora que o entendo tudo, compreendo que havia algo entre o Roel e
você do que eu não sabia nada. Por isso, fui em seu resgate -riu-.
Como se Roel necessitasse que alguém o resgatasse.
-Houve uma série de maus entendidos, isso foi tudo. Agora, tudo
terminou. Em realidade, vim a verte por um pouco completamente
diferente
-disse-lhe Hilary conseguindo tampar sua dor com uma falsa calma-.
Necessito que um advogado me redija um documento legal e
necessito que o faça bastante depressa.
Depois de lhe haver contado o que queria, Paul a olhou atônito.
-Isto é um conflito de interesses para mim. Não posso te representar
a ti e ao Roel. Necessita outro advogado.
-Muito bem -respondeu Hilary ficando em pé.
-Espero que algum dia sejamos amigos e como amigo te aconselho
que não faça o que me há dito que quer fazer -despediu-se o
advogado-. Temo-me que Roel não o entenderia e se sentiria doído.
Enquanto voltava para casa, Hilary se deu conta de que Paul era um
bom homem. Não tinha nada que ver com o Roel, que era frio e
distante. Era impossível que o advogado entendesse que era
impossível fazer mal ao Roel.
Quão única estava sofrendo ali era ela.
De repente, perguntou-se por que se tomava tantas moléstias para
ficar bem aos olhos do Roel. Ao fim e ao cabo, não a queria, tinha
muito má opinião dela e inclusive vê-la no café da manhã o punha de
mau humor.
Custava-lhe acreditar que poucos dias atrás tivesse sido tão feliz com
ele e o que já lhe resultava impossível de acreditar era que tivesse
pensado que aquilo era um buraco de que poderiam sair bem
parados.
O problema com o Roel Sabatino era que Hilary estava disposta a
aceitar o que fora, embora fossem umas migalhas, e isso era
exatamente o que tinha conseguido.
Entretanto, tinha chegado o momento de atuar como uma mulher
amadurecida e adulta, tinha que pensar em suas necessidades e
tinha que acabar com uma relação que lhe estava fazendo muito
dano.
Agora compreendia que Roel jamais contaria a sua irmã a verdade de
seu matrimônio. Embora queria ocultá-lo porque o via como uma
debilidade, Roel era um homem de honra.
agarrou-se a aquela desculpa para estar com ele, mas tinha chegado
o momento de resolver de uma vez, de tirar a dignidade do armário
no que a tinha encerrado. Roel o fazia danifico e devia separar-se
dele.
Para ouvir o telefone do carro, sentiu mariposas no estômago.
-Por favor não me pergunte como me encontro, porque sei que não
te importa o mais mínimo -espetou-lhe-. Vou e espero que você e seu
dinheiro sejam muito felizes!
Dito aquilo, pendurou o telefone com mãos trementes. Não se podia
acreditar que acabasse de lhe dizer aquilo, mas era o que se merecia.
Era a última vez que jogava com seu amor. Aquele amor o ia levar
seu filho.
O telefone voltou a soar, mas Hilary não respondeu. Então, soou seu
telefone móvel, mas o apagou. Não havia nada mais que dizer.
Meia hora depois, estava em sua habitação fazendo as malas quando
a porta se abriu com um grande estrondo e entrou Roel.
-Não te pode ir! Não o poderia suportar!
Aquilo tomou a Hilary por surpresa.
-Tem idéia de como o passei a outra vez?
Atônita ante aquele arranque de sinceridade em um homem que
jamais demonstrava seus sentimentos, Hilary negou com a cabeça
lentamente.
-A primeira semana, acreditei morrer. Tinha-me abandonado me
deixando uma carta de quatro linhas como quem se desculpa por não
poder ir a um jantar -explicou-lhe-. Não me podia acreditar isso. Não
sabia onde estava. Quase me volto louco!
Hilary não se podia acreditar o que estava escutando.
-Nunca pensei que te fosses sentir assim...
-Deveria me haver contado a verdade sobre nosso matrimônio.
Hilary se deu conta de que tinha razão nisso, mas nunca lhe ocorreu
que sua ausência o ia fazer sofrer.
-Confiava em ti -continuou Roel olhando-a com intensidade-. Admito
que não tinha mais remedeio ao princípio, mas nossa relação ia bem
e baixei o guarda rapidamente. Acreditei que fomos um casal.
Pensava em ti como em minha esposa e, de repente, tudo se acabou.
Hilary sentiu que lhe formava um doloroso nó na garganta.
-Suponho que pensará que sou uma egoísta,150
mas te asseguro que jamais me passou pela imaginação que me
fosses sentir falta de...
-Crie-te que sou um témpano de gelo? -riu Roel com amargura.
-É um homem muito controlado e muito disciplinado.
-Educaram-me para ser forte e para não me mostrar jamais
vulnerável aos olhos de uma mulher. Meu avô e meu pai passaram
por matrimônios desastrosos e me influenciaram enormemente. Para
quando Clemente quis me fazer trocar de opinião, já era muito tarde.
Por isso redigiu aquele testamento de loucos, foi seu último intento
para me abrir os olhos, para me fazer compreender que, se fazia um
esforço e me arriscava, poderia reescribir a história da família e ter
um matrimônio feliz.
-Bom, isso não lhe saiu bem -respondeu Hilary ao bordo das
lágrimas-, mas ao menos não perdeste o Castello Sabatino.
-Quero que saiba que vinha para casa quando me chamou Paul.
-por que os homens sempre lhes aliam?
-Porque temos medo? Quando me detalhou o documento que queria
que te redigisse, compreendi envergonhado até onde te tenho feito
chegar.
-O que te passa? por que não está contente? Não entendo por que
está envergonhado. O que eu queria era deixar por escrito que não
penso te reclamar jamais nada.
-Mas tem todo o direito do mundo a compartilhar o que eu tenho.
-Quero que fique claro que nem quero nem necessito nada de ti!
Roel tomou ar e jogou os ombros para trás.
-Acusei-te de ser uma cazafortunas porque, assim, evitava-me o ter
que me enfrentar ao que realmente sentia por ti.
-Não entendo.
-Quando tinha amnésia, acostumei-me a estar contigo. Quando
recuperei a memória, zanguei-me contigo porque me tinha enganado.
-Não foi essa minha intenção -lamentou-se Hilary-. Em qualquer
caso, para mim não foi isso o que aconteceu nós -protestou.
-Enganou-me e, a partir de então, não confio em mim mesmo no que
a ti respeita. Entretanto, apesar de que não confiava em ti, seguia te
desejando, seguia querendo estar contigo e não somente pelo sexo.
-Pois me disse que era só por isso—respondeu Hilary um pouco
esperançada.
-Era mentira... estava... estava...
-O que?
-Assustado! -admitiu Roel-. Estava assustado. Jamais me havia
sentido assim, mas na Cerdeña voltei a confiar em ti e comecei a me
relaxar.
-E então foi quando te disse que estava grávida.
-De novo me tinha oculto a verdade. Oxalá me tivesse contado isso
imediatamente. Jamais tinha estado tão bem com uma mulher, mas
durante aquela maravilhosa semana você me estava ocultando que
íamos ter um filho. Aquilo me doeu muito e me fez me perguntar o
que outras coisas me' estaria ocultando.
-Dava-me medo sua reação -defendeu-se Hilary.
-Teria que ter sido sincera comigo. Voltei a perder a confiança em ti
e, a partir desse momento, tudo se voltou uma loucura.
-que te voltou louco foi você -corrigiu-o Hilary-. Entretanto, perdôo-
te. Não me ofende que não queira ter um filho que não tinha
planejado; ter comigo...
-Quero ter esse filho, mas me dava medo que me estivesse
enganando de novo -admitiu Roel-. Após, não deixei que lutar
comigo mesmo. Embora te pareça uma tolice,' não posso deixar de
me perguntar se o único pelo que estava comigo era pelo menino.
-me aconteceu o mesmo -murmurou Hilary.
-Isso me levou a te acusar de coisas que sabia que não eram certas -
desculpou-se Roel-. Nunca duvidei de que o menino fora meu, mas
me dava medo que voltasse a me fazer danifico, assim lhe decidi
fazer isso eu primeiro.
Hilary não podia dar crédito ao que estava ouvindo. De verdade Roer
acabava de dizer que lhe tinha feito mal?
-Já não posso seguir lutando contra o que sinto por ti. Dá-me outra
oportunidade?
Hilary sentiu que lhe saltavam as lágrimas e negou com a cabeça.
-Por favor -suplicou Roel lhe estreitando as mãos.
Hilary voltou a negar com a cabeça.
-Não te dá conta de quão importante é para mim? Disse-me isso na
Cerdeña e tinha razão. Fui feliz vivendo seu conto, mais feliz do que
tinha sido jamais.
Hilary o olhou aos olhos surpreendida.
-Imagine minha decepção quando me dava conta de que o conto era
mentira, de que nunca me tinha amado quando eu já me tinha feito à
idéia e eu gostava. ,
-De verdade? -perguntou Hilary com voz trêmula.
-Tinha-me apaixonado por ti, mas nunca me tinha apaixonado antes
e não soube reconhecer o que me estava acontecendo. Pensava em ti
inclusive durante as reuniões mais importantes.
-minha mãe! -exclamou Hilary lhe passando os braços pelo pescoço-.
Eu também te quero. Quero-te tanto... te vou fazer muito feliz.
Roel a abraçou com força e assim permaneceram, fundidos em um
abraço, durante um bom momento, desfrutando de uma proximidade
que ambos tinham acreditado perdida.
-Estou tão a gosto contigo -murmurou Roel.
-Vê como me querer não é tão mau?
—É-o quando desaparece e me ameaça me abandonando.
-Prometo-te que não voltará a acontecer -declarou Hilary
solenemente.
Roel a beijou na boca com ternura.
-Acredito que faz quatro anos me dava conta de quão perigosa
poderia chegar a ser para um solteiro, minha cara.
-Então, era algo imatura para ti, mas me apaixonei assim que te vi.
-Embora não quis admiti-lo nem sequer a mim mesmo, sentia-me
profundamente atraído por ti. Por isso voltei várias vezes à barbearia
em que trabalhava -confessou Roel-. Entretanto, depois de nos casar,
decidi não voltar porque não confiava; de mim mesmo.
-De verdade?
-De verdade. Entretanto, ainda sigo levando sua fotografia na carteira
-murmurou Roel.
Hilary sorriu encantada.
-eu adoraria verte vestida de noiva. Deveríamos nos voltar para
casar.
-eu adoraria... -respondeu Hilary sinceramente-, mas vamos ter que
esperar a que nasça o menino.
-Dá igual -respondeu Roel sem pensar-lhe duas vezes.
Onze meses depois, Hilary e Roel renovaram seus votos em uma
preciosa capela situada muito perto do Castello Sabatino.
O feliz casal só tinha olhos o um para o outro. depois da cerimônia,
seguiu uma maravilhosa comida e uma alegre festa a que assistiram
as melhores amigas da Hilary, Pippa e Tabby, com seus maridos,
Andreo e Christien.
Anya e Paul Correro se sentaram na mesa dos noivos porque no
último ano Hilary e Anya se feito muito amigas.
É obvio, também estava sua irmã Emma e o convidado de honra foi
Pietro, o membro mais jovem da família Sabatino, que logo que
contava três meses de vida e se passou a maior parte das
celebrações dormindo.
Aquela noite, Hilary o agasalhou enquanto observava o cabelo negro
que tinha herdado de seu pai e se dizia que também tinha seu
mesmo sorriso.
O certo era que sua vida era maravilhosa. transladaram-se a viver ao
Castello e Roel viajava cada vez menos para poder estar mais tempo
com sua família.
-Que bonita vista... -disse seu marido a suas costas.
-Já sei que está mal dizê-lo porque é nosso filho, mas, verdade que é
muito bonito?
-Não referia ao Pietro, minha amata.
-Ah, não? -disse Hilary vendo o desejo nos olhos de seu marido e
ficando sem fôlego.
-Está muito bonito e me sinto incrivelmente orgulhoso de que seja
minha mulher -respondeu Roel com satisfação-. Dá-te conta de que
hoje é nossa noite de bodas porque a primeira vez não tivemos?
Hilary o abraçou e o beijou enquanto Roel tomava em braços e a
levava a dormitório.
-Segue-me querendo? -perguntou-lhe emocionada.
-Cada dia te quero mais -sorriu Roel.
Com o coração cheio de felicidade, Hilary lhe aconteceu os braços
pelo pescoço e o atraiu para si.

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