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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO

ISCED-HUÍLA

O Casamento dos Nyaneka Nkumbi, do Subgrupo Ovankumbi da


Matala: Um Estudo Exploratório.

Autora: Gizela Salomé Tunguila Lusitano

Lubango,

2021
INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO

ISCED-HUÍLA

O Casamento dos Nyaneka Nkumbi, do Subgrupo Ovankumbi da


Matala: Um Estudo Exploratório.

Trabalho apresentado para a obtenção do


Grau de Licenciado em Ensino da História

Autora: Gizela Salomé Tunguila Lusitano

Orientador: Antunes Pinto, Msc.

Lubango,

2021
Dedicatória

Dedico aos meus pais e à minha avó (de feliz memória).

De modo muito especial dedico às minhas filhas e outros familiares pelo apoio
incondicional.

i
Agradecimentos

Agradecer, embora não seja possível retribuir totalmente o esforço e a ajuda que
os outros nos prestaram, acaba mesmo assim, sendo um gesto nobre de
humildade e consideração. Nesta conformidade, reconhecemos que sozinhos
seriamos uma gota neste oceano e não seria possível levar acabo uma tarefa
tão árdua e complexa quanto esta. Assim, agradecemos a Deus, que
acreditamos ser o artífice da vida e de tudo o que nela existe.

Agradeço de forma ímpar o Professor, Antunes Pinto, que com sapiência e


paciência, orientou este trabalho.

Estendo estes agradecimentos a todos aqueles que contribuíram para a


materialização deste sonho, com especial realce aos meus familiares, amigos,
colegas e aos nossos entrevistados.

ii
INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO DA HUÍLA

ISCED-HUÍLA

DECLARAÇÃO DE AUTORIA DO TRABALHO DE LICENCIATURA

Tenho consciência que a cópia ou o plágio, além de poderem gerar


responsabilidade civil, criminal e disciplinar, bem como reprovação ou retirada
do grau, constituem uma grave violação da ética académica.

Nesta base, eu GIZELA SALOMÉ TUNGUILA LUSITANO, estudante finalista


do Instituto Superior de Ciências de Educação da Huíla (ISCED-Huíla) do Curso
de HISTÓRIA, do Departamento de Ciências Sociais, declaro, por minha honra,
ter elaborado este trabalho, só e somente com o auxílio da bibliografia que tive
acesso e dos conhecimentos adquiridos durante a minha carreira estudantil e
profissional.

Lubango, __ de Novembro de 2022

A Autora
______________________________________
GIZELA SALOMÉ TUNGUILA LUSITANO

iii
Resumo

O presente trabalho de licencuatura com o tema: “O Casamento dos Nyaneka


Nkumbi, do Subgrupo Ovankumbi da Matala. Um Estudo Exploratório”, é
um requisito para a obtenção do grau de licenciatura. Para tal, abordamo-lo em
três capítulos.

No primeirocapítulo (da revisão da bibliografia), trouxemos uma discussão de


diferentes perspectivas teóricas que analisam questões relacionadas ao nosso
tema. .

No segundo capítulo, fizemos uma caracterização socio-histórica e geográfica


do Município da Matala, onde trouxemos informações sobre a delimitação da
superfície e divisão administrativa do território, o clima, o solo, principais recursos
naturais, caracterização demográfica entre outros assuntos importantes sobre o
Município.

No terceiro capítulo, fizemos um estudo de caso, nele recolhemos informações


de pessoas que achamos serem as mais visadas sobre o assunto, através de
entrevistas do tipo não estruturada.

Realçar que trouxemos um tema actual e actuante, por tratar sobre um assunto
de capital importância socio-cultural no seio dos ovankumbi, sendo que também,
consta dos nossos propósitos propor o enriquecimento do programa curricular
da 11ª classe, aquando da abordagem sobre, as sociedades africanas face à
mudança, especificamente no subtema 1.5.6- “O reino de Nyaneka Humbe”, já
que o referido programa apresenta conteúdos bastante sintéticos e limitados à
investigação do autor, tendo em conta que o mesmo tratou sobre o referido grupo
etnolinguístico de forma generalizada, daí que urge a necessidade de se abordar
este tema que achamos ser bastante sugestivo, de forma específica e/ou
parcelar. Pois achamos tratar-se de um assunto imprescindível para o referido
programa curricular, visto que contribui para um conhecimento científico
aprofundado dos alunos sobre este aspecto de tamanho valor cultural.

iv
Abstract

The present licensing work with the theme: “The Wedding of the Nyanka Nkumbi,
from the Ovankumbi da Matala Subgroup. An Exploratory Study”, is a
requirement for the reservation of the licentiate degree. To this end, we approach
it in three chapters.

In the first chapter (of the bibliography review), we brought a discussion of


different theoretical theories that analyze the issues related to our theme. .

Without characterization of important resources, characterization of a socio-


historical and geographic division of the Municipality of Matala, where we brought
the about the delimitation of the surface and the administrative division of the
territory, the territory, the soil, main natural ones, among other subjects about the
municipality.

In the third chapter, we carried out a case study, in which we collected information
from people who we think are the most targeted on the subject, through
unstructured interviews.

To emphasize that we have brought a current and active theme, as it deals with
a subject of fundamental socio-cultural importance within the Ovankumbi, and it
is also part of our purposes to propose the enrichment of the 11th grade
curriculum, when approaching, the societies African women in the face of change,
specifically in sub-theme 1.5.6- “The kingdom of Nyaneka Humbe”, since the
mentioned program presents quite synthetic contents and limited to the author's
research, taking into account that it dealt with the aforementioned ethnolinguistic
group in a generalized way, hence the urgent need to address this topic. that we
found to be quite suggestive, specifically and/or in installments. Because we
believe that it is an essential subject for the mentioned curricular program, since
it contributes to an in-depth scientific knowledge of the students about this aspect
of such cultural value.

v
ÍNDICE

Dedicatória .................................................................................................................................. i
Agradecimentos ....................................................................................................................... ii
DECLARAÇÃO DE AUTORIA DO TRABALHO DE LICENCIATURA ........................... iii
Resumo .......................................................................................................................................iv
1- Introdução .......................................................................................................................... 1
1.1- Motivação da escolha do tema ................................................................................. 2
1.2- Relevância da pesquisa .............................................................................................. 2
1.3- Identificação do problema ......................................................................................... 3
1.4- Delimitação temporal e espacial do tema ............................................................. 4
1.5- Objectivos da Investigação ....................................................................................... 4
1.5.1- Objectivo geral .................................................................................... 4
1.5.2- Objectivos específicos ....................................................................... 4
1.6- Quadro metodológico ..................................................................................................... 4
1.7- Definição de conceitos chave ................................................................................... 7
CAPÍTULO I - REVISÃO DA LITERATURA ......................................................................... 9
2- Revisão da Literatura ...................................................................................................... 9
2.1- O casamento ...................................................................................................................... 9
2.2- O casamento à luz do direito positivo angolano ..................................................... 9
2.3- O casamento religioso/cristão .................................................................................... 11
2.4- O casamento Bantu ....................................................................................................... 13
2.5- OKUTONENA ................................................................................................................... 16
2.6- O Casamento Poligâmico............................................................................................. 18
2.7- Enquadramento Jurídico do casamento Bantu ..................................................... 20
2.8- A Problemática da Herança Matrimonial.................................................................. 22
2.9 - Caracterização do grupo etno-linguístico Ovanyaneka Nkumbi ...................... 24
CAPÍTULO II- CARACTERIZAÇÃO SOCIO-ADMINISTRATIVA DO MUNICÍPIO DA
MATALA .................................................................................................................................... 30
3- Caracterização socio-histórica e geográfica do Município da Matala ............. 30
3.1- Delimitação da superfície e divisão Administrativa............................................. 33
3.2- Clima, Solo e Principais recursos naturais ............................................................. 34
3.3- A Fauna ................................................................................................. 35
3.4- Caracterização demográfica........................................................................................ 35
CAPÍTULO III- O CASAMENTO DOS OVANKUMBI: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO
NO MUNICÍPIO DA MATALA. ............................................................................................... 37

vi
4- O CASAMENTO DOS OVANKUMBI, UM ESTUDO EXPLORATÓRIO NO
MUNICÍPIO DA MATALA ....................................................................................................... 37
Conclusão ................................................................................................................................ 46
Sugestões................................................................................................................................. 48
Bibliografia ............................................................................................................................... 50
Anexo: 1 – Termos de Autorização ................................................................................... 54
Anexo: 2- Guião de entrevista ............................................................................................ 55
Professores de História .............................................................................. 55
Funcionários da Administração ......................................................................................... 55
Jurista........................................................................................................................................ 55
Anexo: 3- Mapa Administrativo do Município da Matala ............................................. 55
Imagem 1- Entrevistado Manuel Tchilulu Ntchongolola e a autora do
trabalho. ........................................................................................................ 55
Anexo: 4- Imagens dos entrevistados ............................................................................. 55
Imagem 2- Entrevistado Tiago Michel Pinto, assessor do Administrador
Municipal da Matala e a autora do trabalho. ................................................ 56
Imagem 3- António Calei, Chefe do gabinete Municipal das Autoridades
Tradicionais da Matala a autora do trabalho ................................................. 56
Imagem 4: Jeremias Alfredo, Chefe do gabinete do contencioso jurídico da
Administração Municipal da Matala............................................................... 57
Anexo: 5- Alguns objectos utilizados no acto matrimonial ........................................ 56
TEMA GERAL DE CONTEÚDOS ......................................................................................... 57

vii
INTRODUÇÃO
1- Introdução

Na presente monografia,intitulada: “O Casamento dos Nyaneka Nkumbi, do


Subgrupo Ovankumbi da Matala: Um Estudo Exploratório”, procuramos
abordar sobre este tema que pensamos ser actual e actuante, dado o seu
impacto socio-cultural, que começou logo nos primórdios da existência do
homem cujos relatos mais antigos podem ser encontrados na bíblia sagrada,
como ilustram as páginas a seguir.

Ademais, atendendo atransversalidade do assunto em pesquisa, preferimos


tratá-lo não apenas à luz da religião, mas também do direito positivo angolano
que traz uma vasta abordagem sobre o casamento, bem como da cultura bantu,
que constitui o nosso foco de abordagem, onde destacamos vários autores que
se propuseram em falar do assunto em livros, assim como aqueles que se
sujeitaram às nossas entrevistas.

Tratando-se de um assunto cultural, pretendemos entre as mais diversas


intenções com esta temática, incentivar a valorização da tradição e o respeito
pela cultura de outrem.

1
1.1- Motivação da escolha do tema

Para a escolha do tema, tivemos as seguintes motivações: pessoal e


profissional.

Motivação pessoal, visto que fomos movidos pelo facto de ser um fenómeno real
e infelizmente com uma realidade vista sobre vários olhares, pensamos, pois,
que, por se tratar de um elemento que ocupa um espaço de destaque na nossa
cultura, é necessário torná-lo mais desvendado a luz da ciência. Quanto a
motivação profissional, tivemos em conta o desejo de contribuir para o
enriquecimento do programa curricular da 11ª classe, dada a nossa
responsabilidade enquanto académicos, formados na especialidade de História.

Sabe-se pois que, o casamento está presente em todas as culturas, pese


embora o modo de formalizá-lo seja distinto em cada uma delas, por esta razão
procuramos abordar sobre esta questão o mais profundo possível, de maneiras
a desvendar várias questões que muitas vezes são colocadas e que não têm
encontrado respostas a altura, dada a escassez de pesquisas. E para tal
elaboramos as seguintes perguntas de investigação:

- Que indicadores fundamentamocasamento Nyaneka Humbe?


- Que relações e diferenças existem entre o casamento Nyaneka Nkumbi
com outros grupos etno-linguísticos?
- A luz do direito costumeiro quais são os seus procedimentos legais?
- Existe um consenso entre o direito costumeiro e o positivo face a esta
problemática?

A procura pelas respostas destas e muitas outras questões que se levantam


comumente em torno do assunto, constituem o nosso grande desafio neste
trabalho.

1.2- Relevância da pesquisa

Sendo o casamento dos Nyaneka Nkumbi, uma realidade tangível na nossa


sociedade e com a qual nos debatemos frequentemente, cujas particularidades
explicam-se através de questões culturais ligadas ao povo em causa, torna-se
um assunto curioso de se explorar ainda mais com profundidade, primeiro por

2
tratar-se de uma questão que pensamos merecer uma abordagem a sol aberto
dado o seu impacto sociocultural, segundo por inerência do preconceito com que
é olhado este tipo de casamento por indivíduos pouco avisados sobre o assunto
ou aqueles que julgam haver culturas superiores à outras.

Outrossim, sendo que «Angola é um estado multicultural» José Serra Van-


Dúnem (2007, p.20), é importante que se abram estudos sobre os mais
diversificados traços culturais, de maneiras a que se conheçam os diferentes
hábitos e costumes para depois haver respeito pela cultura de outrem e
finalmente uma coexistência ou convivência na diversidade baseada na
harmonia e no respeito pelas diferenças.

A presente pesquisa é de capital importância, numa altura que muito se fala


sobre o resgate dos valores morais e culturais, com esta pesquisa, também
constam das nossas intenções constituir acervos bibliográficos sólidos, que
sirvam não só de referência à futuras pesquisas sobre o assunto, mas também
como um meio pelo qual, qualquer um (a) que estiver interessado (a) a dissipar
as suas dúvidas relativamente ao assunto, faça-o com ajuda do nosso contributo
e principalmente conservar a tradição africana.

Desejamos com efeito, contribuir para o desafio de fazer respeitar cada vez mais
os usos e costumes ligados a tradição negro-africana através da busca e
fundamentação da origem de certos costumes como é o caso do casamento dos
Ovankumbi do grupo Nhaneka Nkumbi.

1.3- Identificação do problema

O nosso maior foco de abordagem dentro do casamento dos Ovankumbi, é o de


investigar sobre as principais características deste, bem como as especificidades
que o tornam particular e diferente dos outros, assim sendo, o cerne da pesquisa
ou investigação, consiste na forma como este se realiza, pois este é a nossa
situação problemática tal como veremos a seguir:

Como se realiza o casamento dos Nyaneka Nkumbi do subgrupo Ovankumbi


da Matala?

3
1.4- Delimitação temporal e espacial do tema

O trabalho encontra-se subordinado ao tema: «O Casamento dos Nyaneka


Nkumbi, do Subgrupo Ovankumbi da Matala: Um Estudo Exploratório», cujo
campo de acção é a Comuna Sede do Município da Matala. O estudo cingiu-se
temporalmente do período que vai desde o ano de 1975, quando a Matala foi
elevada à categoria de Município e consequentemente passou a ser
demograficamente mais populosa, até no ano de 2021.

1.5- Objectivos da Investigação

Para esta investigação traçamos os seguintes:

1.5.1- Objectivo geral

Investigar sobre o casamento na cultura Nyaneka Nkumbi.

1.5.2- Objectivos específicos

Definimos os seguintes objectivos específicos:

- Caracterizar o casamento Ovankumbi, do ponto de vista da Antropologia


Cultural;

- Relacionar e diferenciá-lo com os dos outros grupos;

- Descrever a importância do casamento dos Ovankumbi;

1.6- Quadro metodológico

1.6.1- Métodos e Técnicas empregues na elaboração do trabalho

Para a perseguição dos nossos objectivos, buscamos apoio à metodologia


qualitativa, que segundo Minayo apudMarconi & Lacatos (2011, p. 271), em
ciências sociais preocupa-se com um nível de realidade que não pode ser
quantificado, ou seja ele trabalha com um nível de significados, motivos,
aspirações, crenças, valores, atitudes, o que corresponde a um espaço mais
profundo das relações, dos processos e dos fenómenos que não podem ser
reduzidos à operacionalizações de variáveis.

4
A metodologia qualitativa, preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais
profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano. Fornece
análise mais detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes, tendências de
comportamento. Difere-se da quantitativa não só por não empregar instrumentos
estatísticos, mas também pela forma de coleta e análise dos dados. (Marconi &
Lacatos, 2011, p. 269)

As ciências sociais usam com prevalência a metodologia qualitativa, que


segundo Marconi & Lacatos «teve origem na prática desenvolvida pela
Antropologia. Depois empregada pela Sociologia e Psicologia. Realçar que o
surgimento da pesquisa qualitativa deu-se quando os antropólogos, que
estudavam indivíduos, tribos e pequenos ágrafos, perceberam que os dados não
podiam ser quantificados, mas sim interpretados». (Marconi & Lacatos, 2011, p.
270)

Nesta conformidade faremos recurso aos seguintes métodos da metodologia


qualitativa:

Método Histórico: partindo do princípio de que as actuais formas de vida social,


as instituições e os costumes têm origem no passado, é importante pesquisar
suas raízes, para compreender sua natureza e função. (Marconi & Lakatos
2011:91).

Durante a nossa investigação fizemos recurso ao método Histórico sempre que


houve a necessidade, de situar historicamente qualquer elemento que se
observouno nosso trabalho. Tratando-se pois de um tema antropológico, cujas
raízes encontram-se no passado, tendo em conta a sua vertente tradicional, este
método nos foi bastante útil.

Método Comparativo: com este método procuramos estabelecer relações e


diferenças de costume entre diversos povos, pese embora sejamos um povo
pluri-nacional ou multicultural na visão de (Van-Dúnem, 2007, p. 10). Existem
muitos aspectos comuns e incomuns entre as culturas, daí que o uso do método
comparativo na nossa pesquisa, ajudou-nos a comparar as perspectivas dos
diversos autores sobre os quais fizemos referência no primeiro capítulo, bem
como das informações recolhidas dos nossos entrevistados.

5
Método Funcionalista: este método segundo Marconi & Lakatos (2011:94), é
um método essencialmente de interpretação. Logo, chegou a ser indispensável
para uma pesquisa qualitativa porque por meio do qual numa sociedade
diferenciada, inter-relacionada e interdependente as partes são mais bem
entendidas compreendendo-se as funções do todo, sendo que este método
estuda a sociedade do ponto de vista da função de suas unidades, isto é, como
um sistema organizado de actividades. O seu uso foi-nos muito útil para a nossa
investigação.

Método de Pesquisa Bibliográfica: “Niquil nobe sub sole1”, nesta perspectiva


este método revestiu-se de grande importância para que a nossa pesquisa se
tornasse mais eficiente já que, tudo quanto existe enquanto assunto, já alguma
vez foi abordado, ainda mais por se tratar de um tema cuja origem é
historicamente remota. Segundo (SILVA, 2005, p. 13) este método permite
utilizar o material já publicado, constituído principalmente de livros e aquele
disponível na internet.

Método de Estudo de caso: Sendo uma pesquisa qualitativa, o nosso estudo


de caso, referente ao IIIº capítulo foi feito à base de entrevistas pelo que, este
método foi bastante recorrente à esta fase do trabalho. Já que, segundo
(Naranjo, 2013, p. 167), «a aplicação deste método é associado a procedimentos
que permitem recolher e interpretar os dados relevantes até lhes dar significado
numa singularidade». Para o efeito utilizamos a técnica de entrevista não
estruturada.

Para (Naranjo, 2013, p. 141), a entrevista é uma técnica de compilação de


informação mediante uma conversa profissional com que, além disso, se adquire
informação acerca do que se investiga, esta pode ser aplicada a todo o tipo de
pessoas, mesmo quando tiverem algum tipo de limitação, como é o caso dos
analfabetos das limitações físicas e orgânicas ou das crianças que tenham
alguma dificuldade que as impossibilite de dar respostas escritas e outras.

Esta, dividida em dois tipos: Estruturadas, a partir de um questionário com


questões previamente elaboradas. E a não estruturada que para o mesmo autor

1
Expressão latina que significa: Nada é novo de baixo do sol.

6
é adaptável, não dependendo assim de um questionário e pode ser aplicada a
toda a espécie de sujeitos e de situações e permite aprofundar o tema.

1.7- Definição de conceitos chave

Casamento, é a união voluntária entre um homem e uma mulher, formalizada


na lei com objectivo de estabelecer uma plena comunhão de vida.2

Casamento: é o modo pelo qual a sociedade humana estabelece as normas


para relação entre sexos. (Marconi & Lakatos, 2008, p.173)

Casamento Bantu, é uma aliança que legitima uma nova família e une linhagens
sem a intervenção de autoridades políticas.(Altuna, 2006, p. 301)

«Nhaneka Humbi, é o grupo etno-linguístico composto por dois sub-grupos: os


Ovanyaneka e os Avankhumbi. Os ovanyaneka dividem-se nas seguintes tribos:
Ovamwuila (situados nos municípios de Lubango, Humpata, Chibia e uma parte
localizada no município de Virei e Bibala na província do Namibe); Ovangambwe, estão
nos municípios do Gambos, Chibia e parte leste do Virei no Namibe; Ovatyilengue,
encontram-se no município de Quilengues, Chongoroi e uma parte no Caimbambo em
Benguela. Os Ovankumbi, compreendem as seguintes tribos: Ovahumbi, localizados
no Município de Quilengues na Huíla; Os Ovahanda, localizados no Município de
Quipungo e região de Cassinga na Huíla; Os Ovatyipungo, localizados no Município de
Quipungo na Huíla; Os Ovankumbi, localizados nos Municípios da Matala na Huíla,
Cahama e Xangongo na província do Cunene». (Capumba, 2016, p. 48).

Código da Família - Lei n.º 1/88, de 20 de Fevereiro


2

7
CAPÍTULO I - REVISÃO DA LITERATURA
CAPÍTULO I - REVISÃO DA LITERATURA

2- Revisão da Literatura

2.1- O casamento

Apesar do casamento fazer parte da cultura de todo o homem, seja do norte, do


sul, do oriente ou ocidente é considerado como transcendental ou transversal a
todas as culturas, cada povo formaliza-o à luz da sua cultura, religião ou lei que
esteja a vigorar no seu país.

Tal como muitas palavras da língua portuguesa, a palavra casamento provém do


latim Casamentum, que significa “terreno com uma habitação instalada”3.O que
pressupõe que, a casa ou habitação onde os cônjuges viverão é o elemento sem
o qual não haverá união, pois que o casamento implica fundamentalmente a
partilha do mesmo teto.

Muito embora o nosso foco de abordagem seja o casamento dos “Ovankumbi”,


para uma visão global sobre o casamento, pensamos ser oportuno olhar para
outras formas ou modalidades de casamentos, assim em seguida faremos uma
análise sobre o casamento em três perspectivas: À luz do direito positivo
angolano, à luz da religião cristã e finalmente do ponto de vista do direito
costumeiro bantu.

2.2- O casamento à luz do direito positivo angolano

O ordenamento jurídico positivo angolano disponibiliza uma vasta abordagem


sobre o casamento nos seus IIIº e IVº títulos do Código da Família, começando
pela sua definição, «O casamento é a união voluntária entre um homem e uma
mulher formalizada nos termos da lei com objectivo de estabelecer uma plena
comunhão de vida»4, que «fundamenta-se na igualdade e reciprocidade de
direitos e deveres dos cônjuges»5.

3
www.casandonocaribe.com.br, assecado aos 13 de Janeiro de 2021.
4Artigo 20º do código da família. Conceitua: o casamento é a união voluntária entre um homem e uma mulher,
formalizada nos termos da lei,com o objetivo de estabelecer uma plena comunhão de vida.
5 Artigo 21º do código da família. Aborda sobre a Igualdade de direitos e deveres, o casamento funda-se na igualdade

e reciprocidade de direitos e deveres dos cônjuges.

9
«A promessa de casamento, seja ou não acompanhada da entrega de bens ou
valores ao outro nubente ou à sua família, não produz quaisquer efeitos jurídicos
e não dá direito a exigir a celebração do casamento»6.O mesmo, tem como
pressuposto de validação do novo, «ser anulado o anterior casamento do
bígamo»7.Realçar que, quanto ao regime económico, os nubentes podem
contrai-lo, quer segundo «o regime de comunhão de adquiridos, quer segundo o
regime de separação de bens».8

Tendo em conta a sua validade, o mesmo código fundamenta que: «O


casamento só é válido quando é celebrado perante os órgãos de registo civil ou
reconhecido de acordo com as regras da presente lei9». Sobre a idade núbil, «só
podem casar os maiores de 18 anos de idade, excepcionalmente, poderá ser
autorizado o homem que tenha completado 16 e a mulher que tenha completado
15 anos de idade, quando ponderadas as circunstâncias do caso e tendo em
conta o interesse dos menores, seja o casamento a melhor solução, esta
autorização será concedida pelos pais, tutores ou por quem tiver o menor a seu
cargo, podendo ser suprida pelo tribunal, ouvido o parecer do conselho de
família, quando a não autorização se mostrar injustificada».10

Constituem impedimentos absolutos: «A demência- quando esta for notória,


mesmo durante os intervalos lúcidos e a interdição ou inabilitação por anomalia
psíquica e o casamento ou união de facto legalmente reconhecida, enquanto o
casamento ou união de facto anterior não forem dissolvidos»11. Constituem
causas da dissolução do casamento: «A morte de um dos cônjuges, a declaração

6
Artigo 22º do código da família. Ineficácia da promessa de casamento, O nubente que injustificadamente
der causa a ruptura deve indemnizar o outro nubente pelas despesas efectuadas e pelas obrigações
contraídas na previsão do casamento a que tiver dado o seu acordo.
7
Artigo 73º do código da família. A opção pelo regime de separação de bens deverá ser feita na declaração
inicial e confirmada pelos nubentes no acto de casamento.
8
Artigo 49º do código da família. Os nubentes podem contrair casamento, quer segundo o regime de
comunhão de adquiridos, quer segundo o regime de separação de bens, nos termos regulamentados na
presente lei.
9
Artigo 27º do código da família. O casamento só é válido quando celebrado perante os órgãos do Registo
Civil ou reconhecido de acordo com as regras da presente lei.
10
Artigo 24º, do código da família. Excepcionalmente, poderá ser autorizado a casar o homem que tenha
completado 16 e a mulher que tenha completado 15 anos, quando ponderadas as circunstâncias do caso
e tendo em conta o interesse dos menores, seja o casamento a melhor solução.
11
Artigo 25º do código da família. a) Demência, quando esta for notória, mesmo durante os intervalos
lúcidos e a interdição ou inabilitação por anomalia psíquica; b) o casamento ou a união de facto legalmente
reconhecida, enquanto o casamento ou união anterior não forem dissolvidos.

10
judicial da presunção de morte de um dos cônjuges e pelo divórcio» 12. Quanto
ao divórcio, «os cônjuges poderão requere-lo sempre que se deteriorem, de
forma completa e irremediável, os princípios em que se baseava a sua união e
o casamento tenha perdido o sentido para os cônjuges, para os filhos e para a
sociedade».13

2.3- O casamento religioso/cristão

O casamento é uma prática sociocultural, institucionalizada desde os primórdios


da existência humana, pois este é presente e recorrentemente relatado na Bíblia
Sagrada desde o surgimento de Eva como companheira de Adão.

«Então, o senhor Deus, fez cair sobre o homem um sono profundo e enquanto
ele dormia, tirou-lhe uma das suas costelas, cujo lugar preencheu de carne. Da
costela que retirara do homem, o Senhor Deus fez a mulher e conduziu-a até ao
homem. Então o homem exclamou: Esta é realmente osso dos meus ossos e
carne da minha carne, visto ter sido tirada do homem! Por esse motivo o homem
deixará pai e mãe, para se unir à sua mulher; e os dois serão uma só carne»14.

«Alguns fariseus, para o experimentarem, aproximaram-se dele e disseram-lhe:


É permitido a um homem divorciar-se da sua mulher por qualquer motivo? Ele
respondeu: Não lestes que o Criador desde o princípio, fê-los homem e mulher,
e disse: por isso, o homem deixará o pai e a mãe e se unirá à sua mulher, e
serão os dois um só? Portanto já não são dois, mas um só. Pois bem, o que
Deus uniu não o separe o homem. Ora eu digo-vos: se alguém se divorciar da

12
Artigo 74º do código da família. O casamento dissolve-se: a) pela morte de um dos cônjuges; b) pela
declaração judicial da presunção de morte de um dos cônjuges; c) pelo divórcio.
13
Artigo 78º do código da família. Os cônjuges poderão requerer o divórcio sempre que se deteriorem, de
forma completa e irremediável, os princípios em que se baseava a sua união e o casamento tenha perdido
o sentido para os cônjuges, para os filhos e para a sociedade.
14
Bíblia Sagrada: Génesis 2: 21-24. Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua
mulher, e serão ambos uma carne.

11
sua mulher – excepto em caso de união ilegal e casar com outra, comete
adultério»15;16.

Ainda no livro de Génesis,17 a Bíblia Sagrada ilustra que desde os tempos mais
remotos, os dotes sempre fizeram parte do casamento e tal como no casamento
bantu, os pais eram imprescindíveis na escolha das esposas/os de seus
filhos/as, e um facto curioso que merece realce é a questão do incesto que era
naturalmente encarada com normalidade pois é desta forma que Adão e Eva
deram continuidade ao processo da criação e reprodução da espécie humana.
Eis que nesta conformidade Abrão orientou ao seu mais antigo servo da casa,
aquele que administrava todos os seus bens, o seguinte: «Quero que jures pelo
Senhor, Deus do céu e da terra, que não escolherás para o meu filho uma mulher
entre as filhas dos Caneus, no meio dos quais resido; mas irás à minha terra, à
minha família, e nela escolherás mulher para o meu filho Isaac». Quanto aos
dotes, ainda na mesma senda, o servo que tivera sido incumbido esta
responsabilidade, «preparou 10 camelos do seu amo e partiu, levando consigo
inúmeros e valiosos presentes, da parte de Abrão18».

Ao chegar ao destino e apresentar as intenções, Labão (irmão) e Betuel (pai) de


Rebeca, responderam dizendo: «é do senhor que tudo isto vem, nós não
podemos dizer-te nem bem nem mal. Aqui está Rebeca; toma-a e parte, e que
ela seja mulher do filho do teu amo (...), ouvindo tais palavras o servo de Abrão,
prostrou-se por terra diante do senhor. Tirando seguidamente, os objectos de
prata, os objectos de ouro e vestuário, ofereceu-os à Rebeca, ofereceu também

15
Bíblia Sagrada: Mateus: 19:3 … Então chegaram ao pé dele os fariseus, tentando-o, e dizendo-lhe: É
lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?
Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Não tendes lido que aquele que os fez no princípio macho e
fêmea os fez,
E disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne?
16
Bíblia Sagrada: Marcos 10:7. Por isso deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á a sua mulher,
... E serão os dois uma só carne; e assim já não serão dois, mas uma só carne.
17
Bíblia Sagrada: Génesis 24:1 .... E era Abraão já velho e adiantado em idade, e o SENHOR havia
abençoado a Abraão em tudo. E disse Abraão ao seu servo, o mais velho da casa, que tinha o governo
sobre tudo o que possuía: Põe agora a tua mão debaixo da minha coxa,
18
Bíblia Sagrada: Génesis 24:10 E o servo tomou dez camelos, dos camelos do seu senhor, e partiu,
pois que todos os bens de seu senhor estavam em sua mão, e levantou-se e partiu para Mesopotâmia,
para a cidade de Naor.

12
ricos presentes ao seu irmão e à sua mãe. Depois comeram e beberam ele e os
seus companheiros, e pernoitaram».19

Curiosamente a mesma forma de casamento sucedeu-se com Jacó que por


circunstâncias de sua vida tornou-se polígamo, pois além das duas filhas de
Labão (seu tio), que às fez esposas com a condição de trabalhar durante 14 anos
para o pai delas, ainda teve filhos com a serva de cada uma de suas esposas
com a devida permissão das mesmas, quando por momentos e razões
específicas estas viram-se incapacitadas de gerar filhos.

2.4- O casamento Bantu

Esta é a forma de casamento sobre a qual incidi o nosso foco de abordagem,


pese embora, estejamos a olhar especificamente para apenas um grupo e nele
um subgrupo, é indispensável fazer-se esta análise mais generalizada tendo em
conta a semelhança e dissemelhança do casamento entre os vários grupos dos
povos bantu.

«O matrimónio é um assunto complexo em que os aspectos económicos, sociais e


religiosos estão por vezes tão intrinsecamente misturados que não se podem separar...
Para nós africanos, o matrimónio é o centro da existência. É o lugar de encontro de todos
os membros de uma comunidade: Os defuntos, os vivos e os que ainda vão nascer. O
matrimonio é o drama em que cada um participa como actor ou como atriz e não como
mero espectador.

Por isso, é um dever, uma experiência fixada pela comunidade e um ritmo de vida em
que cada um deve tomar parte. Quem não participa é uma maldição para a comunidade,
é um rebelde, não só é um anormal como chega a um nível inferior ao humano.

Em geral se um indivíduo não adere, significa que rejeitou a sociedade e a sociedade


rejeitou a ele. A mulher ou o homem, introduzidos pelo matrimónio no novo grupo,
reforçam a amizade e as alianças entre famílias, clãs, tribos e reinos amigos, ou
inauguram-nas se são estranhos, indiferentes ou hostis. Esta aliança entre dois grupos,
constitui o seu valor social e político primário e mais profundo».(Altuna, 2006, p. 301)

19
Bíblia Sagrada: Génesis 24:50-... Então responderam Labão e Betuel, e disseram: Do Senhor procedeu
este negócio; não podemos falar-te mal ou bem.
Eis que Rebeca está diante da tua face; toma-a, e vai-te; seja a mulher do filho de teu senhor, como
tem dito o SENHOR.

13
É pelo casamento, que duas famílias estranhas, conhecem-se plenamente e se
tornam numa única, até mesmo os grupos anteriormente hostis tornam-se
amigos, nos tempos mais remotos e em alguns casos da actualidade, alguns
grupos casavam-se (casam-se) por interesses económicos e políticos, pois por
meio do casamento a família pobre poderia (pode) unir-se e formar uma única
com a rica, também remonta a História de que alguns grupos sobretudo as
famílias reais casavam-se em muitos casos entre si por incesto, para se
perpetuarem no poder, impedindo o contacto afectivo com outros grupos, sob
pena de perderem, desviarem ou partilhar o poder com outras famílias.

Como dissemos anteriormente, o casamento apesar de ser transcendental às


culturas, tendo em conta que faz parte da vida de todo o homem, a sua maneira
de celebração e interpretação, varia de cultura para cultura e de região para
região.

«O casamento bantu, sistematiza e controla a vida social, visto que organiza as relações
entre parentelas e vai fixando a filiação. O matrimónio em África é muito mais englobante
que na Europa. Por ele as linhagens têm direito sobre as descendências e dilatam-se no
tempo e no espaço, depois de ficar fixadas. Os caminhos do casamento são diversos na
África negra, tal como os usos e costumes matrimoniais ou o valor da virgindade. (Altuna,
2006, p. 301)

Infelizmente, este casamento como muitas outas práticas culturais, têm vindo a
registar fraca adesão, em alguns casos por força das leis que sobrepõe os
costumes, por outros pela força da moralização social a luz do cristianismo que
condena tais práticas e em muitos outros casos pelo factor “desenvolvimento”
regido pelo capitalismo cujos ventos assopram para a direcção da globalização
que muitas vezes criam choques conflituosos com a cultura. Tal como André
Lucamba afirma:

«O desenvolvimento de um povo subdesenvolvido de per si, não é compatível com a


conservação dos seus usos e costumes. Um corte nítido representa com tudo isso um
requisito prévio para o progresso económico. Ocorre uma revolução em todos os hábitos
e instituições sociais, culturais, religiosas, nas atitudes psicológicas, na filosofia e no
modo de viver.

Para a maior parte da população mundial, o desenvolvimento representa a destruição


das suas identidades étnicas e representa a destruição das redes de solidariedade com

14
o objectivo de promover a legitimação do interesse pessoal como motivação de base dos
seres humanos. A definição de humanidade dada pelo mercado baseia-se sobre
pouquíssimos assuntos específicos acerca das motivações e dos valores culturais. A
justificação de humanidade vem da busca constante do bem-estar material do desejo de
ter sempre mais objectos à disposição». (Lukamba, 2012, p. 47)

Realmente as causas que beliscam o casamento e outros costumes encontram


maior êxito nas comunidades urbanas cuja tradição cultural não faz muito
sentido, fruto da colonização e principalmente implantação do cristianismo em
África, cuja instalação ficou confirmada com o baptismo de “Nzinga-a-Nkuvu”,
em 1491 em que inclusive passou a ser chamado de“ Don João I”, é nesta infeliz
circunstância que se viu ameaçada a tradição bantu-africana no actual território
angolano, que até então já havia estabelecido os seus usos e costumes tal como
as regras que os observavam. A banalização desta e outras práticas costumeiras
pelos europeus causou muitos tumultos no seio dos africanos entre si e entre
africanos e europeus, tendo inicialmente sido encarada como uma atitude
escandalosa pelos africanos, como veremos abaixo:

«D. João I aceitou facilmente a parte dogmática do cristianismo, mas custava-lhe viver
com uma só mulher e observar a moral evangélica. Apesar das resoluções tomadas, caía
frequentemente na poligamia. Os missionários por sua vez davam-lhe penitências
bastante duras para o absolver das faltas. Isso criou tensão entre os missionários e o rei
D. Afonso, filho mais velho de D. João I, que revelou-se, desde a juventude um cristão
convicto e, discordando das vacilações do pai, caio na desgraça, tendo sido exilado para
o Ducado de Nsundi de que era donatário como príncipe herdeiro. O seu irmão
aproveitou a circunstância para fortalecer a sua posição». (Muaca, 1990)

Tal como dissemos acima, esta análise de Muaca, confirma que de facto a
implantação do cristianismo em África não foi um processo fácil, tal acção causou
muitas contradições em virtude de que alguns traços culturais impostos às
sociedades africanas e a negação dos hábitos e costumes locais, causaram
recorrentes revoltas.

15
2.5- OKUTONENA20

O casamento bantu dos Ovankumbi, tem apenas validade à luz da cultura e do


Direito Consuetudinário quando for precedido ao alambamento, elemento sem o
qual este casamento não se concretiza na plenitude, pois que, é nesta fase em
que a família do noivo apresenta os dotes.

Ghsarian apud Bahu (Bahu, 2013, p. 110), observa que na maior parte das
sociedades tradicionais, o casamento é acompanhado de transações que
marcam as relações entre grupos de parentesco. Estas transações tomam a
forma de um dote ou de uma compensação matrimonial, o dote representa os
bens que a família da rapariga dá ao marido ou à família deste. O sistema dotal
existe sobretudo na Europa e Ásia. Regra geral, quanto mais elevado é o
estatuto do rapaz (nomeadamente devido a sua educação) mais importante é o
dote a pagar. Inversamente, quanto mais elevado é o estatuto da rapariga menor
é o dote. Por sua vez, na mesma conformidade, Ibidem apud (Bahu, 2013, p.
110), acrescenta a ideia segundo a qual, pelo contrário, em diferentes
sociedades africanas, a compensação matrimonial (em inglês, “brid-price”,
expressão impropriamente traduzida por preço da noiva), não se trata
verdadeiramente de uma compra nem de uma transação comercial, face a esta
declaração:

«O alambamento é o sinal, o símbolo e também o instrumento jurídico e social, desta


união entre duas famílias, dois clãs, é no alambamento aonde são feitos este conjunto
de preparativos e entregas que preparam e legitimam o casamento”. Uma família junta
a quantidade de bens necessários para que um membro seu receba uma mulher de outro
grupo, que enriquecerá o grupo com filhos e o trabalho agrícola; a outra família condivide
os bens recebidos.

Este mesmo acto não se transforma em objecto de troca, visto que é propriedade de
quem o constitui enquanto dura o casamento, pois se o casamento se vier a desfazer, a
linhagem que doou a mulher devolve os bens. O alambamento legitima o casamento,
pois serve de instrumento jurídico do contrato. É um acto social e público, legalizador da
futura união que fica salvaguardada pela responsabilidade e compromisso de ambas as
comunidades, serve de prova legal e de certificado matrimonial.

20
Expressão do subgrupo Nkumbi do grupo Nhaneka Humbi que significa Alambamento.

16
As uniões sem alambamento não podem ser ratificadas pelo rito de consagração, não
realizam o fim social e sagrado do casamento nem satisfazem as aspirações do bantu.
A mulher que assim se une fica desprestigiada sem direito e sem nível social, quase
como uma escrava, sendo objecto de escárnio. Outrossim, o alambamento legitima
alguns direitos do marido sobre a mulher, sobretudo no que se refere a sua colaboração
como mulher e agricultora. (Altuna, 2006, p. 323)

Da análise feita por Altuna, é proeminente a mensagem de que é o alambamento


que sacraliza e valida o casamento e é por meio daquele que os nubentes
efectivam compromissos recíprocos.

Realçar ainda que o alambamento dentro da sua essência, não detinha o pendor
que as sociedades hodiernas e sobretudo as menos conservadoras julgam ter,
pois os bens que se davam para o cumprimento desta cerimónia serviam apenas
de um simbolismo, dava-se o mínimo do que a família pretendente pudesse
conseguir, de acordo as suas condições económicas, aliás não havia tanta
rigorosidade nas exigências por parte da família da mulher ou jovem alambada 21.

Pois sabe-se desde já que se tal mulher fosse repudiada por razões justas, a
família teria de devolver os bens outrora recebidos ou mesmo para o grupo
Nyaneka Nkumbi, o homem que interessar-se por esta mulher ora repudiada
teria de retribuir estes gastos económicos a família do anterior marido em forma
do tradicional ovitele22.

Hoje, com o passar dos tempos e o evoluir das sociedades na direção


materialista, vislumbram-se a quase todo o lado abusos que concorrem para a
transformação deste simbolismo cultural num comércio declarado, onde os pais
vêm no alambamento uma imperdível oportunidade de enriquecerem-se, de tal
modo que até se confunde com um contrato de compra e venda entre as duas
famílias.

Tal como a senhora Albertina, entrevistada por (Bahu, 2013, p. 112) salienta: “o
alambamento em cabinda é uma fortuna. É preciso dar 20 grades de cerveja, 10
para cada lado, porque eles pedem tudo a dobrar. Dez para a família paterna e
dez para a família materna. Cada um faz a sua festa. Um fato para o pai, uma

21
A mulher para quem se faz o alambamento.
22
Palavra em Nhaneka que significa, artigos ou bens moveis.

17
peça de pano para a mãe, um par de chinelo para a mãe, dinheiro, vinho, whisky,
aguardente (algumas garrafas), uma ou duas galinhas para cada lado. No meu
pedido assim por alto foram aproximadamente 3000 USD. Realçar que se a
moça ficar grávida antes do casamento, o noivo paga uma multa que deve rondar
os 1000 USD.

Para Bahu, a verdadeira essência da compensação matrimonial consiste na


entrega de alguns bens à família da noiva tais como tecidos, bebidas e animais,
se a família do noivo não tiver bens para ofertar à família da noiva, ele pode
prestar serviços em casa dos parentes desta. Os bens para entregar variam de
região para região, os povos do sudoeste de Angola (“Nyaneka Humbe”, Ambós,
e Hereros) utilizam muito o gado em cerimónias dessa natureza. Por se tratar de
sociedades pastoris, o gado é muito importante e constitui um elemento de
riqueza e prestígio. Os outros grupos etnolinguísticos de Angola também fazem
oferendas por altura do noivado, mas solicitam bebidas, tecidos, um fato e um
chapéu para o avô e uma certa quantia em dinheiro.(Bahu, 2013, p. 110)

Realçar que, os ovankumbi do grupo Nyaneka Nkumbi tal como outros grupos
etnolinguísticos de África e não só, aprovam duas formas de casamento, o
monogâmico e o poligâmico, este último é encarado como uma forma de
casamento muito normal, tendo em conta que existem factores que incentivam
ou impulsionam tais casamentos, um dos quais é a esterilidade da primeira
mulher, tal como veremos mais abaixo.

2.6- O Casamento Poligâmico

Para a África negra é um caso muito característico, pois que, o maior número de
filhos eleva o estatuto social do homem bantu, pelo facto deste factor resultar em
maior número de mão de obra no trabalho agrícola, pois isso só se concretiza
com um número relativamente maior de mulheres dentro do mesmo lar.

«A possessão de várias mulheres é sinal público de distinção e riqueza. Como não existe
a propriedade dos bens de raiz nem a previdência, a principal fonte de riqueza é a mulher,
que produz como lavradora e mãe. O investimento mais lucrativo do bantu é a mulher:
O maior número de mulheres corresponde mais mão de obra e mais riqueza, e a maior
riqueza mais mulheres. Por isso, em muitos grupos é proibido ter mais mulheres que o

18
chefe para não diminuir o seu prestígio e supremacia. A poligamia prestigia o homem
porque aumenta o seu prestigio social.

Os filhos numerosos outorgam autoridade, influência, respeito, admiração, inveja e


veneração patriarcal. Os chefes devem ser polígamos. Além disso, como o trabalho não
pode ser assalariado os notáveis precisam de mais de uma mulher para manter a sua
posição e cumprir os deveres comunitários anexos à sua posição, como a hospitalidade
e a generosidade. Os chefes consolidam o seu poder por meio de alianças matrimoniais
com outros grupos ou com membros de seu grupo, que assim ficam incluídos no círculo
estreito da sua amizade e influência. O chefe, além disso, deve gerar muitos filhos para
assegurar e potenciar a vitalidade do seu grupo. É o melhor modo de expressar e
justificar a sua posição na pirâmide vital». (Altuna, 2006, p. 345)

Partindo desta perspectiva é possível apontar motivações às sociedades


africanas face a poligamia revestidas numa explicação bidimensional
consubstanciada na economia e na política, pois esta explicação parece-nos
convincente, pois que encontra sustentabilidade na sua origem à luz da bíblia
sagrada, segundo a qual esta andou sempre confinada à personalidades
poderosas, como é o caso do rei Salomão.

«A poligamia brotou em época tardia, quando a evolução das técnicas possibilitou a


acumulação de bens, a venda ou intercâmbio de excedentes e as especializações de
indivíduos destacados socialmente. A princípio era exclusiva destas castas. Só mais
tarde se generalizou. Os factores sociais, económicos, demográficos, fisiológicos e as
crenças mágicas entrecruzam-se, na sua explicação. Uma das mais profundas
motivações brota do desejo de uma prole numerosa. Nestas sociedades natalistas, a
mortalidade infantil pode atingir os 70-80%, de crianças. Além disso a prole numerosa
eleva o estatuto social do homem, solidifica o seu prestígio e autoridade, a sua família
espalha-se pelo espaço e dilata-se no tempo.» (Altuna, 2006, p. 344)

Altuna, nesta explanação, transparece os critérios que comumente levam a


prática da poligamia ligados a factores económicos, sociais, políticos e
demográficos realmente estes são visivelmente os factores que sempre
estiveram na base da poligamia desde a sua origem.

É de realçar na mesma senda que a poligamia não é apenas presente nas


sociedades africanas. Pese embora não seja obrigatória é contemplada pelo
Sagrado Alcorão, acompanhada às condições económicas, convergindo com a
ideia de Altuna acima exposta, pois diz o Sagrado Alcorão: “E, Se temeis não

19
ser equitativos para com os órfãos, esposai as que vos aprazam das mulheres:
sejam duas, três ou quatro. E se temeis não ser justos, esposai uma só”23. Esta
opção dos muçulmanos à poligamia justifica-se pelo facto de Mohamed (profeta
maior do Islão), ter esposado “11 mulheres de diferentes raças e tribos, tal acção
é até hoje interpretada pelos muçulmanos como sendo uma forma demonstrativa
de que o islamismo não admite exclusão, tribal nem racial, todas as pessoas são
iguais perante a Alá”24.

2.7- Enquadramento Jurídico do casamento Bantu

Como dissemos anteriormente, o casamento é um acto jurídico, que para este


caso é regido pelo direito consuetudinário, que vigorou nas sociedades
africanas, antes da chegada dos europeus e ainda continua a ser levado a cabo
pelas sociedades culturalmente mais conservadoras.

Deste modo, para Pahula & Mupinga (2002, p.262) o matrimónio constitui um
acto de grande significado. Revela a maturidade psicossomática do casal, para
uma plena inserção no mundo dos adultos, os homens por exemplo, contraem o
matrimónio a partir dos 18 anos e os mais incautos aos 17 anos, mas
actualmente o gráfico desceu para 16 anos nas áreas rurais.

Os laços matrimoniais são relativamente estáveis neste grupo. O que o homem


mais deseja da sua cônjuge e também a família de ambos, é que ela não tarde
para dar a luz a um filho para a plena inserção na família do cônjuge. Porém
casos de esterilidade absoluta não são motivos suficientes para um homem se
separar da sua esposa e vice-versa.

As mulheres deste grupo abstêm-se de relações extramaritais durante o período


de gravidez, porque segundo a crença, isto provoca complicações na altura do
parto. Com pouco rigor para os homens, impõe-se também uma abstenção
sexual fora do lar durante o período citado, pelos mesmos motivos. A fidelidade
da mulher é relativa como acontece em outros grandes grupos etno-linguísticos

23
Sagrado Alcorão 4:3 Se temerdes ser injustos no trato com os órfãos, podereis desposar duas, três ou
quatro das que vos aprouver, entre as mulheres. Mas, se temerdes não poder ser equitativos para com
elas, casai, então, com uma só, ou conformai-vos com o que tender à mão. Isso é o mais adequado, para
evitar que cometais injustiças.
24
Entrevista com Moma (Árabe-Muçulmano), aos 10 de Janeiro de 2020.

20
que habitam o sul de Angola (Herero e Ambós), quando a infração a lei conjugal
é descoberta, assiste ao marido o direito de exigir uma indemnização (oukondy
ou ukoi) a quem o lesou, e este consiste no pagamento de uma cabeça de gado
bovino ou o equivalente em dinheiro.25

Hoje, fala-se pouco sobre o casamento bantu, nos mais diversos grupos etno-
linguísticos da cultura bantu, pensamos que continuamos neste ciclo vicioso de
marginalização da cultura bantu, que começou com a chegada dos europeus em
África cuja primeira manifestação negativa terá começado com o tráfico de
escravos e posteriormente com a colonização.

«O casamento realiza um dos quatro ritos de passagem fundamentais na vida do bantu.


O matrimónio é um motivo de passagem de um grupo sócio-religioso a outro, o jovem
esposo deixa o grupo dos Célebes para entrar no dos pais de família. A iniciação
realizada no rito de passagem encerra o rito de morte e ressureição, o casamento
inaugura outro modo de ser, depois dos ritos de passagem do nascimento e puberdade.
O casado passa definitivamente ao estado de genitor, de pai ou mãe de família, através
de muitos ritos simbólicos que expressam e realizam o abandono, a passagem de uma
maneira de se a outra nova». (Esterman, 1960, p. 308).

Já que «A lei expressa a presença de um direito ordenado na tradição e nas


práticas costumeiras que mantêm a coesão do grupo social».(Pelagio, 2015, p.
106), seria possível e talvez necessário enquadrar o casamento tradicional
legalmente a luz do direito positivo, pois que toda a lei obedece a parâmetros da
realidade sociocultural da sociedade aonde é aplicada sendo que a cultura e a
lei estabelecem uma estreita relação de acordo à Pelágio:

«Uma lei sem bases costumeiras e tradicionais é uma lei sem fundo; e os costumes e
tradições culturais sem lei também não têm fundo, porque a sua transmissão de
sociedade para sociedade, de geração em geração, deve ter em conta uma série de leis
que possibilitem o seu recto ordenamento na transmissão dos mesmos. Deste modo, o
processo de elaboração de uma lei não deve ter como base as leis ditadas ou copiadas
de outros países, mas sim deve ter como sustentáculo os costumes e as tradições
culturais » (Pelagio, 2015, p. 107).

Pelágio, sugere ou defende uma coexistência do direito costumeiro e o positivo,


baseado no respeito e consideração mútua, mas agrava-se o facto de o

25
1º encontro sobre autoridades tradicionais em Angola Pahula & Mupinga (2002, p.262)

21
casamento tradicional em Angola, apenas encontra sustentabilidade à luz do
direito costumeiro, pois este o defende desde que se observem os trâmites legais
que o fundamentam. E para uma resposta acerca da existência ou não do direito
costumeiro, temos abaixo:

«Não há dúvida de que as instituições políticas e sociais, assim como a actividade


mágica oficial, obedecem às regras estritas, institucionalizadas pelo direito que mesmo
que não esteja codificado, nem por isso deixa de ser jurídico. Pode falar-se de direito em
lugar de costume; o direito não é escrito, mas fielmente é transmitido e observado».
(Altuna, 2006)

Estando ou não escrito, o direito costumeiro existe e coexiste com o positivo, por
este se aplicar nas comunidades mais rurais onde a escrita é pouco conhecida
e o poder da Administração local é exíguo.

2.8- A Problemática da Herança Matrimonial

Sendo uma comunidade onde o boi é sinal de ostentação, prestígio e riqueza, a


herança tem grande importância. Em volta deste assunto, não raras vezes,
gravitam várias contradições e maus entendidos em volta da seguinte questão:
Quem herda de quem?

São tidos como herdeiros legítimos os filhos de irmãs ou primas, algumas vezes
irmãos ou irmãs do próprio falecido, ou seja, numa linguagem única, a herança
é matrilinear, os animais herdados principalmente o gado bovino, são
propriedades comum da família pertencente à linhagem matrilinear, passando
por isso, de geração em geração.26

Após termos abordado sobre o casamento nesta triangular perspectiva, cabe


agora fazermos uma ponte de ligação entre estas distintas formas de
casamentos, tendo em conta que para além dos contrassensos e contradições,
existem semelhanças nestas três formas de casamentos.

De acordo ao nosso jurista entrevistado, o direito positivo coabita com o


costumeiro desde que este último não fira a dignidade da pessoa humana, um

26
1º encontro sobre autoridades tradicionais em Angola Pahula & Mupinga (2002, p.264)

22
exemplo tangível e pontual é que o direito positivo aceita a legalização da união
de facto com vista a amenizar e salvaguardar a questão da herança dentre outras
questões que careçam da intervenção da justiça do ponto de vista do direito
positivo.

Na nossa análise, dos três tipos de casamentos tal como vimos anteriormente,
o religioso e o bantu são os que apresentam mais similitudes pois que os dois
juntos são mais antagônicos ao casamento à luz do direito positivo, todavia
ambos têm o fim único de unir diferentes famílias, pese embora no casamento
religioso-cristão aceitava-se com normalidade o incesto facto que embora
timidamente o casamento bantu também aceita em alguns casos, este chega a
ser o primeiro dissenso entre os dois em relação ao casamento positivo que não
admite a prática do incesto. Uma outra semelhança embora hoje o cristianismo
tenha adoptado outras medidas, é relacionada com à poligamia, como vimos a
Bíblia Sagrada apresenta-nos várias figuras que já optaram por esta forma de
casamento o que para o direito positivo constitui um factor de impedimento
imediato, ou seja, sem que se dissolva o primeiro, não existem chances do
segundo casamento concretizar-se.

Quanto a questão dos dotes e idade núbil os três, quase que apresentam as
mesmas características como vimos acima, neste caso até o casamento à luz do
direito positivo em circunstâncias próprias permite o casamento de menores de
18 anos de idade e destes três tipos ou formas, dá-se sempre alguma coisa
material como dote tal como referimos anteriormente.

De acordo com Altuna (2006, p. 301), se torna possível descrever os traços


fundamentais do casamento bantu, através dos seguintes indicadores: o
casamento fundamenta uma aliança entre grupos, o casamento é um facto
social, o casamento é essencialmente fonte de vida, o casamento é
essencialmente religioso, o casamento é um rito de passagem, o casamento é
uma associação económica, o casamento é um acto jurídico.

Cabe portanto realçar nesta senda que nos dias de hoje, muitos optam em
realizar o “casamento misto”27, em que geralmente começa com o pedido

27
Forma de designar três tipos de casamentos presentes num só.

23
(alambamento tradicional), passa-se pelos órgãos do registo civil e com o
término pela igreja.

2.9 - Caracterização do grupo etno-linguístico Ovanyaneka Nkumbi

De acordo com Estermann (1960, p.27), não é possível tocar, ao de leve que
seja, nos problemas históricos de Angola, sem mencionar os terríveis invasores
conhecidos por Jagas ou Yaka28, nome que designando primitivamente os
chefes, passou a englobar todos os componentes das ordas guerreiras. Vindos
do leste, invadiram e conquistaram, embora transitoriamente, o reino do Congo
em 1568, aliaram-se pouco depois, aos povos de Ndongo e Matamba contra os
portugueses. Fosse pelas derrotas infligidas pelas armas portuguesas, fosse
devido ao seu espírito irrequieto e aventureiro, que não os deixava fixar-se por
muito tempo numa determinada região, o facto é que no princípio do século XVII,
segundo o que consta de várias fontes, um grupo importante de Jagasestende a
sua conquista até às margens do Cunene, onde, como já vimos, formam um
grande estado.

Avelot apud (Esterman, 1960, pp. 27, 28), relata a criação desse império pela
forma seguinte: podemos conjecturar que o reino de Matamam, na bacia do
Cunene, é aniquilado no fim do séc XVI sob os assaltos dados pelos Jagas. É
de facto nesta época que os Cimbembas ou Dâmaras, expulsos do seu país
pelos invasores vindos do norte, passam o Cunene para irem refugiar-se no
Kaoko, donde mais tarde saíram os Vaherero. Os conquistadores, com os
destroços do antigo império, formaram dois novos reinos, o de Huíla e o de Lu-
kumbi, este último governado pelo Humbi-inene, título autenticamente Jaga. O
reino do Grande Humbe, compreendia então toda a bacia do Alto Cunene, até a
sua confluência com o Caculuvar.

A Huíla, Muila ou Hila, mais a poente, ocupava os planaltos entre o Cunene e o


Oceano. O seu chefe (soba) de 1787, o formidável Kanina ou Gonga dominava
tão somente os Ba-nyaneka que ocupam o planalto e que resultam da fusão dos
conquistadores, os Jagas Ka-nyika vindos do norte, com os aborígenes
Chimbemas (Ba- chimba), mas também todas as tribos do litoral, até à terra dos

28
A palavra Yaka, tem o significado de picar ou atingir com flecha.

24
Hotentotes. Conseguiu mesmo subjugar alguns grupos mais setentrionais deste
povo. Um século mais tarde, Huíla e o estado Hûmbi não passavam de uns
distritos insignificantes: o primeiro situado perto da nascente do Caculuvar e o
segundo na confluência deste com o Cunene. Avelot apud (Esterman, 1960, pp.
27, 28)

Da citação acima, ficou patente que o grupo etnolinguístico, hoje conhecido


como Nyaneka Nkumbi, foi criado no sul de Angola pelos guerrilheiros Jagas,
que após invasão do reino do Congo, deslocaram-se gradualmente para o sul,
na sequência da criação de dois reinos nomeadamente Huíla e Lukumbi.

Hoje, segundo Rosa Melo (2005, p.46): No que diz respeito a sua composição,
observam-se algumas discrepâncias nas opiniões de autores como, José
Redinha, Carlos Esterman e Lopes & Capumba. Enquanto José Redinha
classifica os Nyaneka Nkumbi, como um conjunto que integra os Muila, os
Ngambwe, os Nkumbi, os Ndonguena, os Hinga, os Nkwankwa, os Handa da
Mupa, os Handa de Cipungu, os Cipungu e os Cilengue Humbi, Carlos
Estermann considera que sob o mencionado apelativo estão associados dois
ramos populacionais distintos, a saber, os Nyaneka e os Humbi (ovankumbi):

1. Os Nhanekas (ova-nyaneka), que se decompõem em Muílas e Gambos (ova-muíla e


ovangambwé).

2. Os Humbe (ovankumbi), incluindo neles a gente da Camba, Quiteve e Mulondo.


(Nota: em vez de Humbes, devia escrever-se Cumbes, do aportuguesamento da palavra
o-nkumbi. Assim se evitaria a confusão com os Humbes de Quilengues. A primeira forma
prevaleceu, porém, e para distinguir as duas etnias temos de empregar o respectivo
determinativo); Dongoena (ova-ndongoena), em cujo designativo uena ou ona são
sufixos diminutivos. Donguena ou Dongona significa, pois, “pequeno Donga”; Hinga ou
melhor Ehinga (Ova-hinga). É este um núcleo de Donguenas que vivem além Cunene;
Cuâncua (o-nkwankwa); Handa da Mupa (E-handa); Handa do Quipungo (ova-handa);
Quipungo (otyi-pungu); Quilengues-Humbes (otyi-lengue-humbi); Quilengues- Muso
(otyilenge-musó). (Esterman, 1960, p. 20)

Ainda para Estermann (1960, p.20), as tribo Nyaneca dividiam-se antigamente


nos grandes sobados de Huíla e Gambos e nos de segunda ordem de Jau;
Quihita e Pocolo, ocupam a área do concelho de Lubango, nos postos sede,
Huíla, Humpata e Hoque, sendo este já na sua maior parte povoado por Handas.

25
A população do posto do Jau, pertence ao Concelho da Chibia, é igualmente
desta tribo. Na vasta área da circunscrição dos Gambos, somente o posto sede
e o do Pocolo são povoados por Nhanecas, a circunscrição da Bibala distrito de
Moçamedes, conta relativamente poucos representantes desta gente: são os
que se fixaram na vertente ocidental da Chela e no seu Sopé.

A tribo Humbe (Nkumbi), com as suas subtribos, estende-se a sudoeste do posto


da Cahama, ao longo do rio Caculuvar, até à confluência deste com o rio
Cunene. Depois, seguindo para o Norte, ocupa a parte baixa da Mulola do
Mucope e uma larga faixa ao longo do Cunene. A norte de Quiteve entramos na
área do posto do Mulondo que se estende até ao sul de Capelongo (actualmente
comunapertencente à Matala). As gentes estabelecidas à volta deste último
posto são de fixação relativamente recente e comportam Handas, vindos do sul
de Cassinga e alguns Quipungos. Os Donguena, Hinga e kuânkua, são de fraco
valor populacional, a primeira ocupa uma área pequena a umas dezenas de
quilómetros ao sul do Humbe e a segunda, situada na margem esquerda do
Cunene tem por centro o histórico lugar do Naulila, a terceira encontra-se em
lugares aonde já se nota uma forte influência dos Ambós vizinhos. Quanto aos
Handas, localizam-se ao norte da Mupa, conquanto seja de proporções muito
reduzidas, ainda assim se subdivide em Handa grande e Handa Pequena (oka-
handona).

A abordagem de Lopes & Capumba, relativamente a este grupo, não foge muito
da linguagem de Estermann, tal como nos apresentam:

«Nhaneka Humbi, é o grupo etno-linguístico composto por dois sub-grupos: os


Ovanyaneka e os Avankhumbi. Os ovanyaneka dividem-se nas seguintes tribos:
Ovamwuila (situados nos municípios de Lubango, Humpata, Chibia e uma parte
localizada no município de Virei e Bibala na província do Namibe); Ovangambwe, estão
nos municípios do Gambos, Chibia e parte leste do Virei no Namibe; Ovatyilengue,
encontram-se no município de Quilengues, Chongoroi e uma parte no Caimbambo em
Benguela. Os Ovankumbi, compreendem as seguintes tribos: Ovahumbi, localizados
no Município de Quilengues na Huíla; Os Ovahanda, localizados no Município de
Quipungo e região de Cassinga na Huíla; Os Ovatyipungo, localizados no Município de
Quipungo na Huíla; Os Ovankumbi, localizados nos Municípios da Matala na Huíla,
Cahama e Xangongo na província do Cunene». (Capumba, 2016, p. 48)

26
Já Rosa Melo não acredita na designação “Nyaneka-Nkhumbi (Nhaneka
Humbi)”, pois esta fundamenta que:

Sejam quais forem as razões, que estiverem na base da designação “Nyaneka


Nkhumbi”, o certo é que a confusão se vem aprofundado, a ponto de, hoje,
mesmo em Angola, se pensar nos “Nyaneka Nkumbi” (como grupo étnico) e
(como língua). Não existe nem no primeiro caso (como grupo) nem no segundo
(como língua). Para a mesma, também não é uma expressão socialmente
construída pelos grupos vizinhos nem uma auto denominação dos grupos nele
enquadrado.

Rosa Melo afirma que, é uma expressão que resulta de um arranjo empreendido
por estudiosos Europeus que a criaram, dos missionários que a difundem nas
práticas ritualísticas no seio da igreja, de alguns dirigentes políticos e
governativos que permitem a sua promoção massiva e, também, de alguns
nativos falantes e leitores da língua portuguesa. Uma representação que fluindo
no discurso de alguns missionários, dos agentes da Administração colonial e
daqueles que, mesmo sendo nacionais, são leigos nessa matéria, “distorce” a
identidade dos Handa e os “Dilui” em dois outros grupos, a saber, os Nyaneka e
os Nkhumbi. Uma representação que, formando-se nas cabeças dos estranhos
à cultura e ao grupo mencionado, inclusivamente, na de alguns vahanda
europeizados, e ditos “assimilados”, os impede de identificar cada um dos grupos
envolvidos, de perceber os contornos dessa diversidade cultural, de
compreender a história de Angola.

«Por paradoxal que pareça, é de sublinhar o facto de, em Angola, as dinâmicas sociais,
no seu curso, irem proporcionando a criação de novas e outas identidades étnicas, bem
como o despontar de novos sentimentos indenitários, podendo haver já, neste país,
quem se possa sentir, por exemplo, “Nyaneka Nkumbi”. (Melo, 2005, p. 55)

Na verdade a discussão que se eleva em torno dos Nyaneka Nkumbi, não é uma
tarefa fácil de se colmatar, tendo em conta as diferentes posições que os autores
tomam ao abordarem sobre o assunto, talvez a principal contradição consista no
facto de tais povos, grupos ou subgrupos comunicarem-se de forma muito
semelhante, possuírem hábitos e costumes parecidos e partilharem territórios
geograficamente ligados, facilitando assim a proximidade e convivência de

27
ambos. Porém devemos levar muito a peito a convergência de ideias dos autores
supracitados, que numa única palavra dividem este grupo em dois subgrupos
(Nyaneka e Humbe ou Nkumbi), em que cada um dos quais subdivide-se em
tribos.

A título de exemplo, para o conceito de “casamento” este acto importante na vida


individual: os Nhanekas, Musós e o-hombo dizem otyi-nepo (verbo okunepa), jau
Quipungos, Quilengues-Humbes, handa e Nkumbi. Utilizam o verbo(oku-
hombola), para designar o mesmo acto.

Com excepção dos Humbes e Doguenas, o matrimónio realiza-se sem grandes


cerimónias. Pode dizer-se que passado o rito de efiko, se segue para a rapariga
como um revelar para o estado conjugal. Enquanto mantiver o penteado de efiko
não aceitará, geralmente, intimidades de que lhe possam resultar
consequências, mas passada esta fase muitas delas deparam-se com a primeira
gravidez. É claro: os pais, a quem um tal facto não pode causar grande surpresa,
tratam de interrogar a filha logo que apareçam os primeiro sinais.

Se for um rapaz conhecido e não haver dúvida sobre a mútua vontade de se


unirem em matrimónio, farão tudo para não demorar os modestos preparativos
da celebração das núpcias.

Para os Nyanekas tais núpcias não incluem muitas vezes a menor solenidade.
O rapaz, com o consentimento de seus pais, resolve um dia mandar buscar a
rapariga, servindo-se para esse fim de uma sua irmã ou prima, como
mensageira. Esta chega e diz a mãe da noiva: Venho para levar a tua filha para
a casa do meu irmão. Carrega então a pretendida com os seus poucos haveres:
Panelas, cestinhos, uma enxada e talvez uma manta, tudo metido dentro de um
ou dois cestos grandes, e lá vai com sua carga, acompanhada da mãe e
dacunhada para a casa do pai do noivo. Chamam a isto de oku-twala ovi-tiuma
(transportar os bens). (Esterman, 1960, p. 94)

O complemento deste acto é a entrega pelo pai do noivo, ou pelo próprio noivo
a seu sogro, de um boi, entrega que se pode fazer anterior ou posteriormente a
mudança de domicílio da noiva e transporte de seus trastes. A cabeça de gado
apresentada tem o nome de ononthunya, termo que foram buscar à língua

28
herero. É a isto que se convencionou chamar, num sentido diferente do das
línguas europeias o dote do casamento. (Esterman, 1960, p. 94)

Mas tal como vimos, a nossa abordagem incidirá sobre os Humbe ou


Ovankumbi, sendo que de acordo ao mapa etnográfico, são estes os habitantes
genuínos do Município da Matala.

29
CAPÍTULO II- CARACTERIZAÇÃO SOCIO-
ADMINISTRATIVA DO MUNICÍPIO DA MATALA
CAPÍTULO II- CARACTERIZAÇÃO SOCIO-ADMINISTRATIVA DO MUNICÍPIO
DA MATALA

3- Caracterização socio-histórica e geográfica do Município da Matala

O Município em causa, é de grande valor histórico a nível nacional e


internacional, por ser um dos que conheceu a penetração portuguesa ainda na
segunda década de 1900, pois a 21 de Janeiro de 1918, foi criada a capitania-
mor do Alto Cunene, com sede em Capelongo, da qual faziam parte os postos
militares de Mulondo e Kassinga. Em 1921, a capitania-mor do Alto Cunene
passou a circunscrição Administrativa, com sede no actual Município de
Quipungo (Paiva Couceiro), compreendendo os Postos Administrativos de
Capelongo e de Mulondo. (Relarório, 2009, p. 9)

Entre os anos de 1954 e 1958 foi construída a Barragem Hidroeléctrica da Matala


que significou uma mais-valia para o desenvolvimento do actual município, não
apenas do ponto de vista de infraestruturas, mas também do ponto de vista do
crescimento da densidade populacional, pois nesta época registou-se um fluxo
de pessoas provenientes dos municípios de Chicomba, Chipindo, Quipungo,
Cuvango e Jamba, que procuravam vagas de trabalho na construção da
barragem, montagem do Caminho-de-ferro e nas actividades agrícolas no
perímetro irrigado na actual comuna de Capelongo. (Relarório, 2009, p. 15)

Enfatizar que, o elevado número de trabalhadores que comportava a construção


da barragem deu origem ao aparecimento de pequenos comerciantes. Estes por
sua vez foram se estabelecendo próximo ao empreendimento para fazer a venda
de bens essenciais aos trabalhadores, surgindo assim a primeira aldeia da
Matala. (Relarório, 2009, p. 15)

Em 1955 começou a funcionar o CFM (Caminho de Ferro de Moçâmedes) que


ia do distrito de Moçâmedes (actual Província do Namibe) ao distrito de Serpa
Pinto (actual Província de Cuando Cubango), ressaltar que estes têm até aos
dias de hoje, passagem pela Matala.29

29
Entrevista com António Chilulu, funcionário da Administração Municipal da Matala, aos 8 de Maio de
2020.

30
Todavia, a história do actual Município da Matala ficou muito mais conhecida a
nível internacional, pelo facto de estar interligada à do sonho de Portugal de
querer fazer de Angola uma colônia penal agrícola: Para a instalação dos
degredados foram criadas as chamadas colônias penais agrícolas, como a
Esperança em Malange, a Rebelo da Silva em Benguela, Cela no Kuanza Sul,
Caconda e Matala em Sá da Bandeira (Bender apudBahu 2013, p.51).

Assim, Capelongo esteve nos projectos de Portugal enquanto durou o período


colonial, uma das provas desta afirmação, foi a construção do canal de irrigação,
uma obra de tamanha envergadura para a facilitação da agricultura no perímetro
irrigado da actual comuna de Capelongo.

O fracasso do povoamento branco, numa primeira fase, por degredados,


desterrados vindos das masmorras da metrópole, deveu-se a sua falta de
experiência como agricultores e por isso muitos deles enveredavam pelo
comércio do álcool, registando este fracasso, porém diante disto, o então
governo português não cruzou os braços porque tinha a grande missão de
alavancar a economia colonial com base na agricultura, deste modo pensava-se
agora num povoamento planificado tal como Bender, salienta: «No início dos
anos de 1950, o governo decidiu criar dois grandes colonatos agrícolas em
Angola: Cela, no Planalto Central e na Matala (Capelongo), no vale do rio
Cunene».(Bender, 1980, p. 158)

Nota-se claramente que a esta altura o objectivo do governo metropolitano era o


de substituir a colónia penal por uma colónia habitada por pessoas leais, devotas
ao trabalho e experientes como agricultoras, mesmo assim este sonho voltou a
fracassar porque o governo não conseguiu convencer e trazer para o interior da
colónia de Angola, pessoas livres, que se viessem, preferiam instalar-se no
litoral.

Destacar que até o ano de 1955, a pesar da presença europeia,


administrativamente a região que compreende ao actual município da Matala
pertencia ao actual município de Quipungo, que por sua vez estendia-se à sul
até a actual comuna do Dongo, Município da Jamba Mineira, esta última comuna

31
separou-se do Município de Quipungo com o crescimento económico daquele
município.30

O termo Matala provém da língua local Nkumbi, (pertencente ao grupo étnico-


linguístico Nhaneka Humbe), “Omatala” que veio a ser traduzido para o
português como lagoas, pelo facto desta região ser rica delas, das quais
anteriormente a população praticava a pesca de subsistência e até mesmo
comercial, embora estas nos últimos tempos estejam em via de extinção face as
vicissitudes que acompanham os fenómenos naturais e sociais resultantes do
dinamismo do homem.

«A 27 de Agosto de 1958, a portaria nº 10.313 estabeleceu os novos limites para a


circunscrição Administrativa do Alto Cunene, criando o posto Administrativo da Matala,
data em que se comemoram as festas populares da vila da Matala, a 28 de Outubro de
1959, pela portaria nº14.123, a sede do Conselho de Capelongo foi transferida de Vila
Folgares para a Matala, que havia sido elevada à categoria de Vila, foi no período pós-
independência que a Matala foi reconhecida como município» (Relarório, 2009, p. 37)

A ideia acima, revela que a vila da Matala nem sempre funcionou onde se
encontra actualmente, pois antes funcionara na comuna de Capelongo, à 20 km
a sul da actual vila da Matala.

«A população da Matala é resultado da fusão de diversos povos provenientes dos vários


lugares de Angola que fugindo, do comércio negreiro, de trabalhos forçados perpetrados
pelos europeus, e, também do conflito pós-independência vieram fixar-se nesta região.
Hoje, este município é povoado pelo grupo etno-linguístico predominante Nhaneka-
Nkumbi que imigrou, para trabalhar em grandes empreendimentos que estavam a ser
levados a cabo, como a barragem hidroelétrica da Matala, que fornece energia eléctica
as províncias da Huíla e Namibe»31.

Tal como referimos anteriormente a visão de Manuel não é contrária a de outros


autores e entrevistados, tal facto a nosso ver revela segurança e mais
credibilidade, pois que, fruto do dinamismo do homem o município da Matala
continua ainda hoje a albergar uma variedade de povos em que muitos destes
deslocaram-se das diversas províncias de Angola, tal realidade que registou-se
desde o início da construção da barragem hidroelétrica, voltou a verificar-se no

30
Entrevista com o professor “de História” , Pindali Hangula Tchiteni.
31
António Manuel (dissertação do Mestrado, p.10)

32
decorrer da guerra civil de 1975-2002, e actualmente continua a se verificar
tendo em causa, a busca de melhores condições de vida, sendo que este é o
mais crescido da província da Huíla a seguir do município do Lubango.

Por esta razão é que os mapas etnográficos de Angola devem ser revistos, pois
nos dias que correm, não é legítimo aferir que o município da Matala é terra dos
Nhaneka Humbe, quando este grupo coabita ou divide o território com outros
povos do território angolano, mormente Nganguela, Ovimbundu, Lunda Kokwé,
Kwanhama e um grande número de estrangeiros principalmente congolenses,
chineses, cubanos, vietinamitas e árabes.

3.1- Delimitação da superfície e divisão Administrativa

«O Município da Matala é um dos 14 da Província da Huíla, encontra-se situado a Leste


da mesma, distando 180 km do Lubango (Município Sede), com uma extensão territorial
de 9.065 km2, é limitado a Norte pelo Município de Chicomba (Província da Huíla), a Sul
pelos Municípios da Cahama e Ombanja (Província do Cunene), a Oeste pelos
Municípios dos Gambos e Quipungo (Província da Huíla) a Leste pelos Municípios da
Jamba (Huíla) e Cuvelai (Província do Cunene). O Município da Matala, possui uma
altitude média de 1.230m. Administrativamente está subdividido por quatro comunas
nomeadamente: Sede Matala, Capelongo, Mulondo e Micosse, cada comuna stá
composta por um grupo de aldeias e/ou bairros» (Relarório, 2009, p. 37)

O Município da Matala é constituído por quatro comunas,32 sendo que: A comuna


Sede, tem uma superfície de 1.828 km2, limita-se a Norte pelos Municípios de
Chicomba e Cacula, à Sul pela Comuna de Capelongo, à Leste pela Comuna de
Micosse e à Oeste pelo Município de Quipungo. Compreende 66 localidades,
das quais 5 sectores (Chinhanha, Cuvelai, Bember Amador, Nguendje e a
Castanheira de Pera). Do ponto de vista de crescimento de infraestrutura e
populacional, segue-se a Comuna de Capelongo que localiza-se a 25 km à Sul
da Sede do Município, com uma superfície de 2.545 km 2, limita-se à Norte pelo
rio Calonga, à Sul pela Comuna de Mulondo, à Este pelo rio Cunene e a Oeste
pelo Município de Quipungo. Conta com 76 localidades, das quais 8 são sectores
(Freixiel, Tchipopia, Algés, Calombinga I, Capessela, Vissaca, Maculungungo e
Sede.

32
Ver anexo 2.

33
A comuna de Capelongo que dá acesso a do Mulondo, localiza-se à 125 km da
Vila da Matala. Com uma superfície de 3.642 km2, limita-se à Norte pela Comuna
de Capelongo, à Sul pelo Mucope (Província do Cunene), à Este pelo Chamutete
(Município da Jamba), à Oestepelo pela Chibemba (Município dos Gambos).
Conta com 61 localidades, das quais 6 sectores, sendo eles: Sede, Quiteve,
Sequêndiva, Cahengua, Matuntu e Tchiwacusse. Finalmente, a comuna de
Micosse, é localizada a 20 km a Este da Sede do Município, com uma superfície
de 1.050 km2, limita-se à Norte pelo Município de Chicomba, à Sul pelo sector
de Sequêndiva (Mulondo), à Este pelo Dongo (Jamba) e a Oeste pela Comuna
de Capelongo. Conta com 50 localidades, dentre as quais 6 sectores,
nomeadamente, Sede, Kandjanguite, Chivava, Kau, Bamba e Hossi. (Relarório,
2009, p. 15)

3.2- Clima, Solo e Principais recursos naturais

O clima do Município da Matala é tropical seco, com precipitações médias de


1.000 mm por ano, diminuindo de norte para sul. O período de precipitações vai
de Setembro a Abril, exceptuando a comuna do Mulondo que vai de Dezembro
a Abril do ano seguinte. Encontram-se vários tipos de solos no Município da
Matala, com destaque para os: Ferralíticos, limo, argilosos, fersialíticos e
rochosos. Os mesmos estão distribuídos da seguinte forma:

Na Comuna Sede encontramos umas variedades de solos como os limos


argilosos, os ferralíticos vermelhos e arenosos, sendo todos eles utilizados para
a prática da agricultura. Na Comuna de Capelongo predominam os solos
ferralíticos vermelhos. Os fersialíticos e arenosos são usados para a agricultura
e pecuária. Na Comuna de Micosse encontram-se os argilosos e rochosos e na
Comuna do Mulondo os solos argilosos e arenosos (com destaque para este
último) são utilizados para o pasto do gado.33

O Município possui uma quantidade razoável de recursos ligados à hidrografia,


flora e fauna.Esteque é atravessado por um dos maiores rios do país, o Cunene,
que banha todas as Comunas. Para além do Cunene, existem outros rios (alguns
deles intermitentes), riachos e lagoas em toda a sua extensão. A vegetação

33
Perfil do Município da Matala (2019, p.20)

34
predominante no município é a arbustiva e arbórea, esta última em maior escala
e em toda a sua extensão. O município é coberto por diversos tipos de vegetação
natural de grande, médio e pequeno porte. Encontram-se em todo o território,
árvores como: Muyumba, Mumue, Mupanda, Mussassa, Muissi, Girassonde,
Muvange e Mungolo bem como outras espécies não identificadas. (Relarório,
2009, p. 9)

3.3- A Fauna

A fauna é diversificada, porém em pequenas quantidades. Existem elefantes,


olongos, nunces, búfalos, palanca vermelha, mabecos, hienas, gnus,
guelengues, focacheiros, potamocheiros, leões, leopardos, burros do mato,
cabras do mato, coelhos e outras espécies. O parque nacional do Bicuar abrange
as Comunas de Capelongo e Mulondo, criado com o objectivo de preservar e
defender a fauna do município. (Relarório, 2009, p. 9)

3.4- Caracterização demográfica

O município da Matala é o mais populoso da Huíla a seguir ao município sede


(Lubango), com uma população estimada em 295.457 de habitantes, com uma
densidade populacional de 32,6 habitantes por Km 2.34Tal como vimos acima, a
sua demografia registou grandes movimentações com o início da construção da
barragem hidroelétrica no período colonial, e mais tarde no período da guerra
civil em Angola e actualmente pela procura de melhores condições de vida. Na
época colonial a população da Matala era estimada em 22.018 habitantes com
maior predominância para os africanos.35

Apesar de existirem poucos ou raros escritos sobre o município em referência,


os depoimentos de alguns anciãos desta circunscrição municipal, concordam
com o acima exposto, tendo em conta que muitos deles tomaram parte da feitura
do perfil do município da Matala.

34
Censo. ine.gov.ao (2018)
35
Entrevista com Tiago Miguel Pinto, Assessor do Administrador Municipal da Matala, aos 8 de Maio de
2020.

35
CAPÍTULO III - O CASAMENTO DOS OVANKUMBI: UM ESTUDO
EXPLORATÓRIO NO MUNICÍPIO DA MATALA.
CAPÍTULO III- O CASAMENTO DOS OVANKUMBI: UM ESTUDO
EXPLORATÓRIO NO MUNICÍPIO DA MATALA.

4- O CASAMENTO DOS OVANKUMBI, UM ESTUDO EXPLORATÓRIO NO


MUNICÍPIO DA MATALA

Neste terceiro capítulo, entrevistamos individualidades dos diversos estratos


sociais, mormente alguns dos quais casaram-se à luz da cultura bantu, dos
Ovankumbi. Levamos a cabo a entrevista do tipo não estruturada em que o
entrevistador não se baseia num questionário previamente elaborado, mas
sim utiliza a técnica segundo a qual numa resposta poder fazer nascer outras
perguntas de modo a recolher o máximo de informação possível.

De acordo com o nosso entrevistado Manuel Ntiongolola, nas sociedades


mais conservadoras, da cultura Nkumbi, não são os homens a escolherem
as mulheres com as quais se casam e constroem família e vice-versa.
Eram/são os pais dos futuros noivos que faziam/fazem o contrato, isto é: Os
pais do rapaz, com ou sem o consentimento deste iam até à casa dos pais
da jovem “futura noiva (esposa)”, apresentar suas intenções, que para este
caso eram/ são a de pedir a devida autorização de seu filho namorar a filha
do casal que recebe a proposta, porém com uma prévia análise feita pela
família do rapaz, principalmente sobre o comportamento daquela outra
família.

Nesta conformidade, os familiares mais próximos à jovem “moça”,


principalmente os pais, tios e avós, analisam a proposta outrora recebida,
sendo que o principal objectivo desta análise, consistirá em saber-se, se de
facto aquela família é de trabalhadores, não feiticeiros ou de religiosos.

É de realçar que a falta de uma destas três qualidades pode beliscar a


proposta, chegando mesmo a produzir uma resposta negativa por parte dos
familiares da mulher, que por sua vez pode chegar a anular decisivamente a
intenção.

Passado algum tempo, a família da mulher fruto da análise que faz, apresenta
a sua resposta, se for positiva, declara-se que estes jovens passem a

37
namorar, porém, até então sem a permissão de terem envolvimento sexual,
o qual é reservado para o dia do casamento, que na opinião do nosso
entrevistado, passa a ser uma vantagem, porquanto a ansiedade de se ter a
primeira relação sexual movia/move os dois para um desejo ardente de
casarem-se o mais rápido possível, além disso, deste tipo ou forma de
casamento, raramente advêm traições conjugais, porquanto ambos não
experimentaram antes uma sensação igual e por isso, ainda que um deles
não possuir habilidades para proporcionar um bom acto sexual, o outro não
poderá fazer questões ou comparações, não obstante a isso, o “ukoi” (traição
conjugal), é pago por altas taxas pelo infrator ao lesado.

Depois de algum tempo de namoro, a família do jovem, faz o Okutonena,


ovihondelo ou ovitambelo (alambamento), cujo principal objectivo é o de
ocupar definitivamente a moça, pois feito este ritual nenhum outro homem
deverá conquistar a mesma esse alguém o fizer e a moça por sua vez o
aceitar, este outro homem estará sujeito a pagar o “ovitele” que consiste na
devolução de tudo o que a família do noivo lesado gastar com a família da
moça no acto do alambamento e não só, desta feita a mulher poderá ficar
oficial e legalmente com este último pretendente.36

Para nós e fruto da interpretação feita sobre a entrevista acima, pensamos


ser uma forma plausível de se construir família a partir do casamento, cuja
uma das grandes vantagens é a da mulher ir ao casamento de forma
imaculada (virgem), pois a esta qualidade a Bíblia Sagrada e outros
ensinamentos religiosos tratam de pureza, porquanto o acto sexual à primeira
vez por parte dos dois ou principalmente da menina, acaba sendo um grande
presente de casamento.

Realçar que algumas famílias sobretudo do lado do rapaz, exigem o teste de


lençol, que consiste em estender um lençol branco sobre a cama, na primeira
relação sexual do casal, pelo que se a menina não sangrar durante o acto,
será pelas tias do rapaz que o acompanharem e fiscalizarem o processo,
considerada impura (não virgem), pese embora de acordo com o nosso

36
Entrevista com Manuel Tchilulu Ntchongolola, do grupo Humbi, funcionário da Administração
Municipal da Matala, entrevista feita, aos 08 de Maio de 2020.

38
entrevistado, faz tempo que este teste caiu em desuso, mas ainda assim, a
virgindade da menina, acaba sendo um factor que contribui para um
casamento mais duradoiro em alguns casos.

Por sua vez, António Calei, um outro entrevistado nosso, realça sobre o seguinte:
Antes da cerimônia do “okuhombola”37, a tradição obedece a um leque de
rituaisde grandes significados culturais, como: o Okupopefa, o Okutonena ou
ovihondelo e o okulipola, como veremos a baixo:

a) Okupopefa (ritual de apresentação), este ritual permite o primeiro contacto


entre as duas famílias, a da pretendida e a do pretendente, nesta fase a
família do noivo sobretudo os tios, não se fazem acompanhar de nenhum
bem material,porém apenas de duas cabaças de macau38, que serão
consumidas durante a conversa. O objectivo deste primeiro contacto é
simplesmente o de transmitir a família da pretendida as intenções da família
do rapaz para com a rapariga, esta ocasião é também aproveitada para o
mutuo conhecimento entre as duas famílias;39
b) Okutonena ou ovihondelo (alambamento) – Segue-se ao okupopefa, que
na cultura dos ovankumbi é um ritual sem o qual o casamento tradicional não
é validado à luz do direito costumeiro, como já referimos, uma mulher que
entra no casamento sem antes ser alambada é vista como uma escrava no
lar e acaba sendo totalmente desrespeitada pelas duas famílias e pela
comunidade em geral. Neste âmbito, a família do pretendente leva alguns
bens materiais de acordo as suas condições económicas, aos pais e tios da
rapariga pretendida, mas geralmente não pode faltar o pano, lenço da
cabeça, chapéu e casaco, tais objectos têm os seguintes significados:

- Onanga(pano) - é uma oferta direcionada à mãe, que representa o gesto de


retribuição das peças de pano que a mãe da rapariga terá gasto no transporte
da mesma enquanto bebé;

37
Casamento.
38
Bebida alcoólica caseira, feita de sorgo e fermento e açúcar.
39
Entrevista com António Calei, chefe do Gabinete Municipal das Autoridades Tradicionai- Matala, aos
30 de Abril de 2020.

39
- Ombuneu, ou lungala (chapéu) “de três bicos”, também conhecido como
“cowboy”- representa o chapéu que o pai usava para proteger-se do sol, sempre
que levasse a rapariga ao hospital ou em qualquer outro lugar importante
enquanto criança.

- Kate (casaco) – é também direcionado ao pai, que representa o casaco, o qual


usava pelas madrugadas ou noites de frio sempre que tivesse de levar a rapariga
ao cimbanda (médico) enquanto criança.40

c) Okulipola (autorização), nesta fase a rapariga recebe a autorização dos pais


para frequentar a casa do pretendente, porém, em horário estabelecido pela
família, até então o casal ainda não tem a autorização de relacionar-se
sexualmente, por mais que passem a noite juntos na mesma cama.

Se prestarmos atenção às duas intervenções acima, veremos que os


entrevistados, apresentam pareceres muito comuns e convergentes, pelo
que, tal gesto oferece segurança na crença sobre o que eles disseram,
relativamente ao nosso tema.

d)- Okuhombola (Casamento), segundo António Calei, passado todo este


processo, cabe ao casal decidir a data do casamento que desde já não
envolve tanta cerimónia cultural, ficando desde então tudo a depender das
possibilidades financeiras dos familiares do casal, daí que a possibilidade de
realizar-se ou não uma boda é relativa, porém tal como realçamos
anteriormente, se a menina engravidar-se, a família desta, pressiona a família
do rapaz a um casamento urgente. Pois constitui falta de respeito os netos
nascerem ou crescerem em casa dos avós.

Neste ritual que culmina com a entrega da rapariga, geralmente e de acordo a


tradição, os familiares do casal fazem-se acompanhar dos seguintes objetos:

a)- Familiares da rapariga:

40
Entrevista com Fernando Chilulu, do grupo Humbi, funcionário da Administração Municipal da Matala,
entrevista feita, aos 08 de Maio de 2020.

40
1- Uma quimbala (espécie de pequena cesta, de feitura artesanal), que
simboliza mobiliário para a casa do novo casal;
2- Um pedaço de carvão contido na quimbala, simbolizando que a mulher
deve manter sempre acesa a sua lareira, para não depender do fogo da
vizinhança;
3- Alguns objetos de louça de cozinha.

b)- Os familiares do rapaz:

1- Uma Ecavalanga(enxada), simbolizando meio de trabalho para o


sustento da família;
2- UmaOtenda(cabaça), para colocar a quissángua (suco de milho),
sempre que a casa receber a uma visita especial.
3- Na mesma senda o pretendente faz-se acompanhar de uma Ohandji
(zagaia), que simboliza um meio de defesa para a proteção da casa e da
família.41

Os objectos descriminados, fazem parte dos essenciais para o mobiliário da casa


dos recém-casados.

Para o entrevistado Pindali Tchiteni, que por sinal casou-se tradicionalmente à


luz da cultura Nkumbi, os ritos de iniciação efiko e/ou circuncisão, constituem a
preparação para o casamento, pois são durante estes ritos onde tanto o rapaz
como a menina assimilam a forma como estes irão futuramente tratar a mulher
ou o marido. Pois antigamente, as meninas faziam o efiko com uma idade acima
dos 18 anos, tal acto representava um real momento vespertino para o momento
a seguir (o casamento).

Hoje com o passar do tempo e tendo em conta a nova dinâmica social regida
pela globalização que muitas das vezes influencia a que os adolescente
experimentem a vida sexual em tenra idade, os pais tendem a mandar as
meninas para o efiko a partir dos 15 anos, para prevenir que esta não se
engravide antes deste rito de passagem que por sinal é sagrado, pois que o não
cumprimento do mesmo pode acarretar grandes desgraças para a vida da

41
Entrevista com António Calei, chefe do gabinete das autoridades tradicionais da Administração
Municipal da Matala aos 08 de Maio de 2020.

41
rapariga, uma das quais é de esta nunca possuir filho ou seja, todos os seus
filhos morrem enquanto bebés.

Ora, tanto os Nhaneka, Ovangambwe, Mwila, Handa e outros subgrupos do


grupo Nhaneka Humbi, celebram o casamento da mesma forma, apenas a
diferença consiste na forma linguística de denominar os ritos. Tal como os
entrevistados acima, este também referiu que o contrato era feito entre os pais
dos futuros noivos, muitas vezes sem o consentimento dos dois e geralmente
antes da menina passar pelo efiko, posteriormente seguia-se o longo processo
sobre o qual já fizemos referência nas entrevistas anteriores que ia até ao
casamento. Porém é de realçar que depois da família da mulher dar o aval sobre
o início do namoro, a menina já era permitida a frequentar a casa do rapaz num
período de 15 em 15 dias, durante dois anos considerados tempo útil para o
namoro, todavia sempre acompanhada de uma irmã com uma idade
compreendida entre os 7 aos 10 anos, para que na eventualidade da moça
pretendida passar a noite em casa do rapaz, esta sua irmã dormir ao meio entre
os dois, de modo a evitar um possível contacto físico entre o casal que até então
e tal como já referimos não está autorizado para ter relações sexuais, após
alambamento o casal já pode dormir juntos sem a referida rapariga ao meio,
porém até então sem contacto físico, tendo em conta que a primeira experiência
sexual está reservada ao dia do casamento.

A grande vantagem deste tipo de casamento, disse o entrevistado, é que as


famílias se conheciam, aceitavam-se e acima de tudo acompanhavam o
relacionamento do casal, o que hoje não acontece, pois nos dias que correm os
casais geralmente conhecem-se na rua, sem o consentimento dos pais e muitas
vezes acontece que no passado é bem provável que as duas famílias tenham
passado por um conflitos ou contradição que as opôs, ou ainda pode dar-se a
possibilidade de uma das famílias possuir hábitos cuja outra não é de acordo e
estes factores muitas vezes têm sido decisivos na separação de muitos
casamentos hoje, ao contrário do antigamente em que raramente havia divórcio.

Para um estudo abrangente e imparcial sobre o assunto, entrevistamos o jurista


Jeremias Alfredo, que segundo ele: Do ponto de vista jurídico do direito positivo,
o casamento é respeitado e reconhecido como sendo legal, pois apesar de ser

42
um casamento cujo acto se consuma sem a presença de um conservador jurídico
este é ainda considerado pois que em Angola, a lei positiva coabita com a lei
costumeira, apesar dos choques existentes entre as mesmas. Ressaltar que, de
acordo como Artigo 7º da Constituição da República: “Todo o costume que viole
a lei e a dignidade da pessoa humana não tem validade”, o que implica dizer que
todos os costumes que não violem a lei são aceites pelo direito, é nesta
conformidade que o casamento é legal desde que não sejam envolvidos neles
actos que firam a dignidade de um dos cônjuges.

Muitas vezes o casamento e as suas bases, contradizem o princípio da


etariedade prevista no código da família, tendo em conta que em alguns casos
este casamento, não valoriza muito a idade no sentido cronológico mas sim a
idade em sentido social e mental, no sentido de até certa fase da vida do homem
ou da mulher é a própria comunidade que força uma união baseando-se na
estatura física ou na possessão de um espaço para a lavra e alguns animais, até
ali, julga-se que o indivíduo esteja capacitado para contrair o matrimónio, é neste
sentido que choca com o direito positivo, tendo em conta que este direito admite
apenas o casamento de alguém que já tenha atingido a maioridade que para o
caso de Angola adquire-se a partir dos 18 anos, salvo se haver necessidades
especiais pelo que a lei admite que o rapaz se case com os 16 e a menina com
15 anos de idade.

Tal como já referimos acima, do conjunto de pré-passos para se chegar ao


casamento à luz do direito positivo, os mais importantes são a idade e idoneidade
por parte dos cônjuges. A outra zona de conflito tem que ver com o grau de
parentesco, que em muitos casos para o direito costumeiro pouco importa, pois
em muitos casos assiste-se o matrimónio entre primos direitos por exemplo e até
irmãos em alguns casos, o que para o direito positivo constitui impedimento
absoluto, tendo em conta que só é possível o casamento entre pessoas da
mesma família até ao 4º grau da linha colateral; um outro choque revela-se no
âmbito da herança em que neste tipo de casamento quando o homem morre, os
seus irmãos têm o hábito de levar todos os bens do falecido, sem terem de deixar
alguma coisa para os órfãs e a viúva, o que é ilegal e ainda pode originar outros
crimes, como roubo, furto ou abuso de confiança.

43
Destacar que, não obstante os conflitos acima entre os dois ordenamentos
jurídicos (costumeiro e positivo) em relação ao casamento, o direito positivo
reconhece a união de facto de 3 anos consecutivos, desde que seja legalizada
pelo casal, o que pode facilitar na divisão justa da herança.

Segundo o jurista, a grande vantagem do casamento tradicional, é que enquanto


humanos sujeitos a nascermos e morrermos numa colectividade e essa mesma
ter geralmente uma forma própria de viver, alguém que nasce numa
colectividade e aprende a forma de ser e de estar da mesma, para ser aceite
deverá viver como a colectividade impõe. Por exemplo, para um Nhaneka
Nkumbi, ter a aceitação expressa e ampla no seio do grupo deverá se casar
conforme este grupo o faz, sob pena de ser taxado como indisciplinado,
desobediente e até mesmo tal acção pode vir a servir de um factor de exclusão.42

42
Entrevista com Jeremias Alfredo, chefe do gabinete do contencioso jurídico da Administração
Municipal da Matala, aos 10 de Maio de 2020.

44
CONCLUSÕES E SUGESTÕES
Conclusão

Após um aturado e ao mesmo tempo prazeroso trabalho, abrimos a página das


considerações finais convictos de que, nenhuma cultura está acima de outra,
todas as culturas têm o mesmo valor, cada povo define os seus padrões culturais
que passam caracterizá-los porquanto com eles se sentem confortados, poistal
como diziaJulius Nyerere (citação), “... De todos os crimes cometidos pelo
colonialismo, nenhum é pior do que a tentativa de nos fazer acreditar que nós
não tínhamos cultura própria ou aquela que possuíamos não tinha valor”.

É nesta perspectiva que fixamos a nossa atenção sobre este elemento cultural,
cuja finalidade é unir famílias e construir lares. Sobre o casamento bantu, o
nosso ponto de vista é de que este prevaleça para sempre não apenas na cultura
Nkumbi, mas como também nas demais culturas, pois que um povo que descarta
ou ignora a sua cultura, está na clara eminência de perder a sua identidade. Nos
dias que correm assiste-se a uma acentuada tendência dos africanos
abandonarem a sua cultura, recorrendo muitas das vezes a cultura europeia,
porém um facto engraçado é que mesmo as pessoas não se casarem
tradicionalmente e alguns até pela igreja, ainda se lembram e recorrem ao
alambamento muitas vezes pelo interesse de querer lucrar, exigindo assim uma
grande quantidade de bens materiais.

Outrossim, tal como em unanimidade os nossos entrevistados sublinharam,


deste tipo de casamento raramente advém divórcios, tal facto só demonstra
claramente que esta forma de casamento é muito vantajosa, principalmente
porque é preparada e acompanhada pelos parentes mais velhos do casal que
por sinal e fruto da idade são dotados de grande experiência. Enfatizar que este
tipo ou forma de casamento atribui um grande valor à virgindade que na maioria
das culturas não só africanas, constitui uma qualidade de grande valor, assim
como também previne a fuga a paternidade porquanto para esta cultura é
expressamente proibido ter-se filho, ou manter-se relações sexuais antes do
casamento.

Ao longo do nosso trabalho, debatemo-nos com perspectivas diferentes em torno


de um mesmo assunto (o casamento dos ovankumbi), esta discussão começou

46
tão logo no primeiro capítulo, tendo em conta que os teóricos possuem
perspectivas e/ou pontos de vistas diferentes. Geralmente e como salientou o
Jurista entrevistado, a lei positiva não condena tal tipo de casamento, desde que
não acarrete vícios capazes de ferir a dignidade humana, principalmente no que
tange a idade núbil, bem como o grau de parentesco. Merece realce, o facto
segundo o qual, este tipo de casamento pode ser reconhecido pela lei positiva
após três anos consecutivos, o que ajuda a salvaguardar a questão da herança.

47
Sugestões

- Que o governo valorize mais a autoridade tradicional, dando-lhe dignidade a


fim de que não se sinta excluída, sobretudo numa altura em que se fala do
resgate dos valores morais e culturais;

- Que os órgãos competentes de tutela do Direito Positivo não assistam de


braços cruzados a marginalização do direito consuetudinário, de maneiras a que
estes coabitem;

- Que os mais velhos, transmitam e incentivem a juventude à preservação da


cultura;

- Que se concretize o nosso desejo de incluir a presente abordagem na grelha


temática do programa didáctico da 11ª classe, na disciplina de História, aquando
do tema:“1.5- As Sociedades Africanas Face à Mudança”.

48
BIBLIOGRAFIA
Bibliografia

Alcorão Sagrado. O ano, editora?

Administração, A. M. (2009). Perfil do Município da Matala. Huíla: Direcção de


Estudos e Planeamento.

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Bíblia Sagrada O ano, editora?

Capumba, J. M. (2016). História 11ª Classe. Luanda: Texto Editores, Lda-


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Código Civil. (2010). Luanda.editora?

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Angola. Luanda: Mayamba ditora, Lda.

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Manuel, A. (2014). Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção


do grau de Mestre em Estudos Africanos sobre: O Papel do Município na
Emplementação do ensino Superior : Estudo de Caso No Município da
Matala-Huíla (Angola). Lisboa: Instituto Universitário de Lisboa.

50
Manuel, A. (2014). Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção
do grau de Mestre em Estudos Africanos sobre: O Papel do Município na
Emplementação do ensino Superior : Estudo de Caso No Município da
Matala-Huíla (Angola). Lisboa: Instituto Universitário de Lisboa.

Manuel, A. (2014). O Papel do Município na Implementação do Ensino Superior:


Estudo de caso no Município da Matala. Huíla: Dissertação submetida
como requisito parcial para a obtenção do grau de mestre em Estudos
Africanos.

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Muaca, D. E. (1990). História sobre a Evangelização de Angola 1491-1991.


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Namolo, G. (2016). O Homem e o fenómeno cultural. Lubango: Artes


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Naranjo, R. &.... (2013). Metodologia da Investigação Científica. Lobito: Escolar


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Pelagio, A. (2015). Os Constumes e as Fradições Culturais como Fundamento


da Lei. Revista do Centro de Investigação Sobre Ética Aplicada, 106.

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Van-Dúnem, J. O. (2007). Angola, Caminhos e Perspectivas para o Progresso


Cultural , Social e Económico Sustentável. Rio de Janeiro : HP
Comunicação Editora.

52
ANEXOS
Anexo: 1 – Termos de Autorização

Termo de autorização

Eu, Manuel Tchilulo Ntihongolola,“funcionário da Administração púbica do


Estado no Município da Matala”, casado à lúz da cultura Bantu. Entrevistado pela
estudante do ISCED Huíla, Gizela Tunguila Lusitano, no dia 8 de Maio de 2020,
no âmbito do seu trabalho de Licenciatura com o tema: O Casamento dos
Nyaneka Nkumbi, do Subgrupo Ovankumbi da Matala: Um Estudo
Exploratório.

Autorizo que os meus dados pessoais bem como a minha imagem constem do
mesmo trabalho, que será divulgado publicamente.

Por ser verdade e me ter sido solicitado, lavrou-se o presente termo que será por
mim assinado.

Matala, aos 08 de Maio de 2020

54
Termo de autorização

Eu, Tiago Michel Pinto, assessor do Administrador Municipal da Matala.


Entrevistado da estudante do ISCED Huíla, Gizela Tunguila Lusitano, no dia 8
de Maio de 2020, no âmbito do seu trabalho de Licenciatura com o tema: O
Casamento dos Nyaneka Nkumbi, do Subgrupo Ovankumbi da Matala: Um
Estudo Exploratório.

Autorizo que os meus dados pessoais bem como a minha imagem constem do
mesmo trabalho, que será de acesso público.

Por ser verdade e me ter sido solicitado, lavrou-se o presente termo que será por
mim assinado.

Matala, aos 08 de Maio de 2020


Termo de autorização

Eu, António Calei, “Chefe do Gabinete Municipal das Autoridades Tradicionais


– Matala”. Entrevistado pela estudante do ISCED Huíla, Gizela Tunguila
Lusitano, no 30 de Abril de 2020, âmbito do seu trabalho de Licenciatura com o
tema: O Casamento dos Nyaneka Nkumbi, do Subgrupo Ovankumbi da
Matala: Um Estudo Exploratório.

Autorizo que os meus dados pessoais bem como a minha imagem constem do
mesmo trabalho, que será de acesso público.

Por ser verdade e me ter sido solicitado, lavrou-se o presente termo que será por
mim assinado.

Matala, aos 30 de Abril de 2020


Termo de autorização

Eu, Jeremias Alfredo, Chefe do Gabinete do Contencioso Jurídico da


Administração Municipal daMatala. Entrevistado pela estudante do ISCED Huíla,
Gizela Tunguila Lusitano, no dia 10 de Maio de 2020, no âmbito do seu trabalho
de Licenciatura com o tema: O Casamento dos Nyaneka Nkumbi, do
Subgrupo Ovankumbi da Matala: Um Estudo Exploratório.

Autorizo que os meus dados pessoais, bem como a minha imagem constem do
mesmo trabalho, que será de acesso público.

Por ser verdade e me ter sido solicitado, lavrou-se o presente termo que será por
mim assinado.

Matala, aos 10 de Maio de 2020


Termo de autorização

Eu, Pindali Hangula Tchiteni “Professor de História, casado à luz da cultura


Bantu” residente no Município da Matala. Entrevistado da estudante do ISCED
Huíla, Gizela Tunguila Lusitano, no dia 8 de Maio de 2020, no âmbito do seu
trabalho de Licenciatura com o tema: O Casamento dos Nyaneka Nkumbi,
do Subgrupo Ovankumbi da Matala: Um Estudo Exploratório.

Autorizo que os meus dados pessoais bem como a minha imagem constem do
mesmo trabalho, que será de acesso público.

Por ser verdade, lavrou-se o presente termo que será por mim assinado.

Matala, aos 08 de Maio de 2020


Anexo: 2- Guião de entrevista

Tendo em conta o carácter qualitativo da nossa investigação, para o estudo de


caso fizemos recurso a técnica de entrevista do tipo não estruturada, através.
Onde para o efeito entrevistamos individualidades idóneas conhecedoras do
assunto em investigação, tal como: Professores de História, funcionários da
Administração Pública do Estado do Municipal da Matala, Jurista entre outas.

Apesar de ser uma entrevista não estruturadas, apresentamos abaixo as


perguntas mais recorrentes.

Professores de História

1- O que se entende por casamento Bantu?


2- Quais são os procedimentos para se concretizar este tipo de
casamento?
3- Quais são as vantagens e desvantagens deste tipo de casamento?

Funcionários da Administração

1- O que os vossos Arquivos dizem sobre a História do Município da


Matala?
2- Qual é densidade territorial e populacional do município da Matala?
3- Quais são os principais recursos naturais do Município da Matala?

Jurista

1- Que enquadramento tem o casamento Bantu à luz do direito positivo?


2- Quais são as principais contradições entre o ordenamento jurídico
positivo e o Direito costumeiro face ao casamento?
3- Existe uma coabitação harmônica entre os dois ordenamentos jurídicos
em Angola, até em que ponto?

55
4- Quais são as principais vantagens e desvantagens do casamento Bantu
em Angola?

Anexo: 3- Mapa Administrativo do Município da Matala

Imagem 1- Entrevistado Manuel Tchilulu Ntchongolola e a


autora do trabalho.

Anexo: 4- Imagens dos entrevistados

Fonte: Tirada pela Autora do trabalho;


Imagem 2- Entrevistado Tiago Michel Pinto, assessor do Administrador
Municipal da Matala e a autora do trabalho.

Fonte: Tirada por Agostinho Fengo.

Imagem 3- António Calei, Chefe do gabinete Municipal das Autoridades


Tradicionais da Matala a autora do trabalho

Fonte: Tirada pela autora.


Imagem 4: Jeremias Alfredo, Chefe do gabinete do contencioso jurídico da
Administração Municipal da Matala.

Fonte: Tirada pela Autora.

Imagem 4: Pindali Hangulo Tchiteni, Professor de História.

Fonte: Tirada pela autora.


Anexo: 5- Alguns objectos utilizados no acto matrimonial

Figura 1- Otchimbala(Quimbala) Figura 2- Ohandji (zagaia) e Eonga (purinho)

13.Anexo: 6- Programa Curricular da 11ª Classe


Figura 2- Otenda (Cabaça) Figura 4- Ombuneu ou lungala (Chapéu)

56
TEMA GERAL DE CONTEÚDOS

Tema-Introdutório

1- Apresentação
2- Revisões
3- Avaliação diagonóstica

Tema 1- Do tráfico de escravos ao comércio “Lícito”(1822-1880)

1.1- Contexto histórico da abolição do tráfico de escravos negros


1.2- O fim do ciclo em Angola;
1.2.1- O impácto da independência no Brasil(1822-25) na colónia de Angola;
1.2.2- A repressão ao tráfico;
1.2.3- A diversidade das rotas comerciais;
1.3- Os Avanços na ocupação territorial e os ensaios de uma nova colonização;
1.4- A sociedade colonial: Os colonos e os “Os filhos do pai” a imprensa africana
1.5- As sociedades africanas face à mudança;
1.5.1- Cabinda;
1.5.2- O antigo Reino do Congo;
1.5.2- O Bié e o Bailundo;
1.5.4- O comércio à longa distância dos Ambundo;
1.5.5- O fim da expansão económica e territorial do Cokwe (Luanda);
1.5.6- O Reino de Nyaneka Humbe;
1.5.7
1.5.7- Os Ovambos;
Avaliação(formativa e sumativa)
Tema 2: Angola no período da conquista Europeia de África (1880-1915)

2.1- O novo contexto imperialista, as explorações geográficas e científicas, a


conferência de Berlim e o prelúdio para a partilha europeia de África;
2.2- Panorâmica geral dos modelos coloniais britânico, francês e belga;
2.3- A nova política Portuguesa;

2.3.1- “O Ultimatum” de 1890 e o novo nacionalismo colonial; as suas


contradições ideológicas: racismo e assimilacionismo;

57
2.3.2- A instalação do aparelho político e administrativo colonial e as campanhas
de ocupação; a resistência armada africana: Kongo,Dembos, Bié, Bailundo,
Malange, Leste, Humbe e Ovambo; as revoltas nas regiões recém-ocupadas:
Mutu-Ya Keleva, (Balundo-1902, Álvaro Buta(Kongo), 1913;

2.3.3- A marginalização dos “angolenses” os apelos autonomistas;


2.4- A importância económica de Angola no espaço colonial português;
Tema 3 – A África no Período das Guerras Mundiais(1914-1945)
3.1 As duas Guerras Mundiais no contexto das rivalidades imperialistas;

3.2- O impacto económico das guerras Mundiais em África: O reforço da


exploração, o comércio colonial e o comércio mundial;

3.3- O impacto político das Guerras Mundiais, a mobilização dos africanos e a


politização das elites assimiladas;
3.1.1- A mobilização dos africanos e a aprendizagem das elites assimiladas;
3.3.2- As diferentes raízes do primeiro racionalismo.

Tema 4- O Colonialismo português e a Sociedade angolana na primeira


metade do século XIX (1915-1960)
4.1- Angola(1915-1950)aspectos políticos;

4.1.1- A frustração da expectativa na colónia no período da primeira república


(1910-1926);

4.1.1.1- Os projectos políticos: Os Altos Comissários e o papel de Norton de


Matos;
4.1.1.2- O fracasso económicos;

4.1.2. A primeira política Salazarista(1930-1951): O acto colonial(1930-1951):


“Mistica imperial” e o reforço da exploração colonial;
4.2- Factores do conflito na sociedade colonial;
4.2.1- Trabalho forçado, imposto e expropriação de terras;

4.2.2- Discriminação social e racial, o estatuto dos indígenas e a repressão


política;
4.2.3- A viragem do pós II Guerra Mundial;
4.2.3.1- A “ Provincialização” de 1951 e a política do “fomento ultramarino”;
4.2.3.2- Mudanças económicas e sociais;
4.2.3.3- Assimilacionismo, aumento de tenções entre colonizados e
colonizadores e as primeiras actividades nacionalistas;
Tema 5 A Revolta Anti-colonial e a Luta de Libertação Nacional(1961-1975)
5.1- O contexto internacional da emancipação afro-asiática;
5.1.1- O novo ambiente ideológico;
5.1.2 - A descolonizaçãoda Ásia;
5.1.3- As independências Africanas entre 1960 e depois;
5.2- 1961 O Início da guerra de libertação de Angola;
5.2.2- O “4 de Fevereiro”;
5.2.3- O “15 de Março” e a Revolta generalizada no Nordeste de Angola;

5.3- 1962-1974 Dificuldades, contradições e divisões no Nacionalismo


angolano;

5.3.1- Quadro geral da evolução das lutas de libertação nas colónias


portuguesas;
5.3.2- O impacto da guerra de libertação na sociedade Angolana;

5.3.2.1- A reacção portuguesa ao desencadear da luta de libertação, guerra e


repressão;

5.3.2.2-Transformações económicas e sociais: Abolição da legislação


discriminatória, expansão do ensino, o auge da ideologia do “Lusotropicalismo”
e a da portugalidade;
5.4- A transição para a independência (1974/75);
5.4.1- O 25 de Abril de 1974, a queda do regime salazarista em Portugal e o fim
da guerra colonial;
5.4.2 - Período de transição
5.4.3- A nova guerra e acesso a independência
Desenvolvimento dos conteúdos
Tema introdutório

o Apresentação
o Revisões
o Avaliação diagnóstica
Objectivos específicos:

o Avaliar em forma de diagnóstico;

o Consolidar os resultados da aprendizagem das classes anteriores;

o Reconhecer aimportância desta unidade como elo de ligação entre os


estudos realizados nas classes anteriores e os que virão realizar nesta
classe;

o Reconhecer alguns aspectos gerais dos conteúdos programáticos das


classes eos seus objetivos;

o Reconhecer as formas de avalição e os tipos de controlo a que os alunos


serão submetidos durante o ano lectivo;

o Perceber a importância do estudo dos fragmentos históricos para um


estudo científico da Historia

TEMA 1 – DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AO COMÉRCIO ENTRE “LICITO”


1822-1840.
OBJECTIVO GERAL:

o Compreender as razões históricas do tráfico e comércio dos escravos


negros

OBJECTIVOS ESPECÍFICOS

o Diferenciar tráfico de escravos do comércio “lícito”;


o O contexto histórico da abolição do tráfico de escravos, enumerar os países
que participaram no tráfico de escravos;
o Avaliar a importância histórica do acordo Luso-Britânico;
o Descrever o tipo de relações que existem entre a colónia de Angola e o
Brasil;
o Demonstrar como o predomínio dos interesses Brasileiros criou
contradições entre comerciantes portugueses e estes;
o Descrever a intensificação da preocupação colonial contra vários Estados
ou reinos de Angola;
o Demonstrar as grandes diferenças que existem na estratificação social, da
Sociedade colonial;
o Explorar as mudanças operadas nas sociedades africanas portuguesas,
propondo o fim da expansão económica e territorial dos vários reinos;
Tema 2- ANGOLA NO PERIODO DA CONQUISTA EUROPEIA DE
AFRICA(1880-1915)
OBJETIVO GERAL
o Compreender os principais momentos dos avanços da conquista e
ocupação colonial do território angolano após a conferência de Berlim.

Objectivos específicos:

o Destacar alguns exploradores famosos como Silva Porto, Serpa Pinto,


Stanley, Barth e Livingstone;
o Reconhecer o conteúdo das principais deliberações e das decisões
saídas na conferência de Berlim;
o Realçar o “Ultimatum” do ano de 1890, como ano de viragem na política
do novo nacionalismo colonial;
o Comparar os vários modelos coloniais em África (Britânico, Francês e
Belga);
o Analisar as causas fundamentais das contradições ideológicas e da
política de assimilação;
o Demonstrar alguns episódios relevantes da resistência angolana, africana
e da ocupação colonial;
o Destacar as revoltas de Mutu-ya-Kevela, Álvaro Buta, Ekuikui, Mandume
como exemplos de Patriotismo e de nacionalismo contra a instalação do
aparelho nominativo colonial;
o Realçar a importância económica de Angola no quadro da expansão do
capitalismo na África central e Austral;
o Definir conceitos referentes a matéria em estudo;
o Explicar o papel da imprensa africana no despertar do nacionalismo.

Tema 3 – A ÁFRICA NO PERIODO DAS GUERRAS MUNDIAIS(1914-1945)


Objectivo Geral

Compreender a causa das rivalidades imperialistas que deram origem as duas


guerras Mundiais.
Objectivos Específicos

o Conhecer as repercussões das duas guerras mundiais como a crise


económica mundial e o reforço da exploração colonial para o
estabelecimento do comércio mundial;
o Explicar as causas das rivalidades entre as principais potências
europeias(económicas como no domínio do comércio e politico-
stratégicas como o estabelecimento de zonas de influência em África);
o Explicar o porquê é que os africanos foram obrigados a participar das
duas Guerras Mundiais;
o Explicar as repercussões das duas guerras mundiais: A crise económica
mundial; as rivalidades entre as potências europeias, no comércio e
noestabelecimento de zonas de influência; a crise económica e política
em África;
o Caracterizar os primeiros focos do nascimento em África;
o Identificar quais eram os objectivos dos europeus na politização das elites
Africanas assimiladas;
o Analisar alguns resultados derivados da participação dos africanos nas
duas guerras mundiais;
o Destacar o papel desempenhado por alguns líderes como Kwame
Nkrumah.

Tema: 4- O COLONIALISMO PORTUGUÊS E A SOCIEDADE ANGOLANA NA


PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX (1915-1950)
Objectivo geral
- Compreender a política colonial salazarista no reforço da exploração em
Angola.
Objectivos específicos
o Conhecer as causas do surto do nacionalismo africano e em particular
angolano;
o Realçar alguns aspectos políticos no período compreendido entre(1915-
1950);
o Determinar em que consistiam as relações entre a colónia e o poder
central, no período da 1ª república Portuguesa;
o Explicar em que constitui a acção dos altos comissários, destacando entre
outros o papel desempenhado por Norton de Matos;
o Realçar o papel da política colonial, devido aos mecanismos económicos
e sociais coercivos aplicados aos angolanos;
o Demonstrar a política coerciva do colonialismo para os trabalhadores
africanos;
o Analisar a viragem na política incrementada pelas potências
colonizadoras em África, após a ll Guerra Mundial;
o Analisar o ano de 1951, como ano de viragem na Política colonial
portuguesa no reforço da exploração colonial;
o Caracterizar o aumento de tensões entre colonizados e colonizadores e o
início das actividades nacionalistas.

Sugestões Metodológicas

o Nesta unidade os alunos deverão fazer alguns trabalhos de pesquisa


sobre os conteúdos em estudo.
o Caso seja possível analisaralgumas obras literárias sobre o trabalho
forçado e os impostos em Angola.
o É importante encutir nos alunos a leitura de revistas sobre a discriminação
racial e o estudo dos indígenas em Angola para melhor compreender o
factor exploração e colonização. Caso seja possível pedir alguns anciãos
ainda vivos para falarem do trabalho forçado, dos impostos e do estatuto
do indígenas e o processo de assimilação.

TEMA 5 A REVOLTA ANTI-COLONIAL E A LUTA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL


(1961-1975)
OBJECTIVO GERAL

o Compreender as razões das transformações sócio-económicas dos


governos coloniais após o início da Luta de Libertação em África e em
particular em Angola.

Objectivos específicos

o Proceder as causas do aparecimento de um novo ambiente ideológico no


contexto internacional e regional africano;
o Analisar o aparecimento do novo ambiente ideológico no contexto
internacional e regional africano;
o Comparar o processo de descolonização na Ásia e na África;
o Destacar as independências africanas na década de 1950 e 1960;
o Destacar a importância do ano de 1961 como ano decisivo contra o
domínio colonial Português;
o Caracterizar as causas e efeitos dos protestos do trabalhadores da baixa
de kassange à Política colonial Portuguesa;
o Destacar o 4 de Fevereiro e o 15 de Março de 1961 como acontecimentos
decisivos no combate ao colonialismo português;
o Analisar criticamente as causas vivissecionistas que surgiram no
nacionalismo angolano;
o Avaliar a reacção do governo colonial português no combate à luta de
libertação;
o Analisar as transformações sócio-económicas e políticas realizadas pelo
governo colonial, após o início da luta armada, nomeadamente a
expansão do ensino, a discriminação racial;
o Analisar criticamente a ideologia política lusotropicalismo e da
Portualidade, como forma de manter os seus domínios em África.
o Destacar o 25 de Abril de 1974, como fim do regime Salazarista, Caetano
e da guerra colonial;
o Analisar o período de transição, guerra civil e proclamação da
Independência Nacional;
o A revolta do Icolo-Bengo(Catete).

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