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Geografia do Brasil

Regina Luiza Gouvea


Talita Cristina Zechner Lenz

2018
Copyright © UNIASSELVI 2018

Elaboração:
Regina Luiza Gouvea
Talita Cristina Zechner Lenz

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

918.81
G719g Gouvea, Regina Luiza

Geografia do Brasil / Regina Luiza Gouvea; Talita


Cristina Zechner Lenz Indaial: UNIASSELVI, 2018.

222 p. : il.

ISBN 978-85-515-0148-1

1.Geografia - Brasil.
I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
Apresentação
Olá, acadêmico!

Inicia-se a disciplina Geografia do Brasil.

Ao cursar esta disciplina, você compreenderá o processo de


construção do território brasileiro, território fisiograficamente distinto, cuja
história também ocorreu de modo igualmente diferenciado. Ao conhecer a
posição do Brasil no mundo e na América do Sul, você compreenderá porque
o território apresenta diferentes paisagens naturais, resultado, dentre outros
fatores, da variação da incidência da luz solar e a importância atribuída ao
aproveitamento desta luz solar para a economia do país. As diferentes fontes
de energia geradas e consumidas no país também são um tema explorado
neste livro de estudos.

Na Unidade 2 deste livro didático, você irá estudar a geografia


da população brasileira. Inicialmente será explicado porque os estudos
populacionais compõem uma área de estudo da geografia e quais elementos
são levados em conta neste tipo de análise. Posteriormente será analisado o
processo de formação da população brasileira. Neste sentido, serão discutidos
temas como miscigenação e diversidade cultural. Avançando nos estudos
sobre o processo de formação do povo brasileiro, vamos estudar alguns
aspectos relevantes relacionados à dinâmica demográfica da população
brasileira ao longo das últimas décadas. Na sequência serão analisados
aspectos recentes da dinâmica populacional no contexto brasileiro. A ênfase
será destacar quais são os movimentos mais relevantes no tocante à dinâmica
populacional recente no Brasil e quais fatores são responsáveis por estimular
a “saída” ou a “retenção” de parcelas significativas da população brasileira.

Na Unidade 3, o tema central serão as redes geográficas. Para começar


a unidade, será discutido o conceito de redes no campo da Geografia, e na
sequência, será analisada a rede urbana brasileira. Ainda, nesta unidade ,você
vai conhecer o conceito de regiões de influência e sua relevância para os
estudos geográficos atuais. Ao fim da Unidade 3, a temática a ser estudada é
a rede de transportes no Brasil, incluindo os distintos modais de transportes
e seus impactos e entrelaçamentos em diversos setores econômicos e, por
conseguinte, sua imbricação com outras disciplinas.

Desejamos que sua caminhada de estudos seja profícua e proveitosa!

Prof.ª Regina Luiza Gouvea


Prof.ª Talita Cristina Zechner Lenz

III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto


para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS.................... 1

TÓPICO 1 – O BRASIL E O MUNDO.................................................................................................. 3


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 3
2 A FORMAÇÃO TERRITORIAL DO BRASIL ................................................................................. 3
2.1 A FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO ....................................................................... 3
2.2 EVOLUÇÃO ADMINISTRATIVA DO BRASIL .......................................................................... 13
3 O BRASIL E O MUNDO .................................................................................................................... 17
3.1 POSIÇÃO DO BRASIL NO GLOBO TERRESTRE . .................................................................... 20
3.2 O BRASIL NA AMÉRICA DO SUL . ............................................................................................. 22
3.3 FUSOS HORÁRIOS ......................................................................................................................... 26
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 30
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 31

TÓPICO 2 – AS PAISAGENS NATURAIS DO BRASIL.................................................................. 33


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 33
2 OS GRANDES DOMÍNIOS PAISAGÍSTICOS BRASILEIROS.................................................. 33
2.1 DOMÍNIO DAS TERRAS BAIXAS FLORESTADAS DA AMAZÔNIA................................... 35
2.2 DOMÍNIO DAS DEPRESSÕES INTERPLANÁLTICAS SEMIÁRIDAS DO NORDESTE..... 36
2.3 DOMÍNIO DOS “MARES DE MORROS” FLORESTADOS ...................................................... 37
2.4 DOMÍNIO DOS CHAPADÕES CENTRAIS RECOBERTOS POR CERRADOS,
CERRADÕES E CAMPESTRES E PENETRADOS POR FLORESTA GALERIA..................... 38
2.5 DOMÍNIO DOS PLANALTOS DE ARAUCÁRIAS..................................................................... 39
2.6 DOMÍNIO DAS PRADARIAS MISTAS DO RIO GRANDE DO SUL....................................... 40
3 A BASE GEOLÓGICA DO RELEVO BRASILEIRO ...................................................................... 41
4 BIOMAS DO BRASIL........................................................................................................................... 43
5 CLIMA ..................................................................................................................................................... 45
6 HIDROGRAFIA .................................................................................................................................... 52
6.1 BACIAS HIDROGRÁFICAS DO BRASIL .................................................................................... 53
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 59
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 60

TÓPICO 3 – FONTES DE ENERGIA.................................................................................................... 63


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 63
2 ENERGIA HIDRÁULICA ................................................................................................................... 64
3 PETRÓLEO E DERIVADOS ............................................................................................................... 66
3.1 GÁS NATURAL ............................................................................................................................... 69
3.2 CARVÃO NATURAL....................................................................................................................... 70
4 BIOCOMBUSTÍVEL ............................................................................................................................ 71
5 ENERGIA NUCLEAR........................................................................................................................... 73
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 75
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 76
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 77

VII
UNIDADE 2 – GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO
DA POPULAÇÃO BRASILEIRA E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS
RECENTES..................................................................................................................... 79

TÓPICO 1 – A POPULAÇÃO BRASILEIRA....................................................................................... 81


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 81
1.1 A RELAÇÃO ENTRE GEOGRAFIA E POPULAÇÃO................................................................ 81
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 87
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 88
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 89

TÓPICO 2 – FORMAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA E DIVERSIDADE CULTURAL........ 91


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 91
1.1 A FORMAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA E O PROCESSO DE MISCIGENAÇÃO . .... 91
1.2 A CONFIGURAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA E AS DINÂMICAS
POPULACIONAIS............................................................................................................................ 99
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 108
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 109

TÓPICO 3 – DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES NO CONTEXTO BRASILEIRO......... 111


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 111
2 APORTES CONCEITUAIS.................................................................................................................. 112
2.1 MIGRAÇÃO...................................................................................................................................... 112
2.2 TIPOS DE MIGRAÇÃO................................................................................................................... 113
2.3 MIGRANTE....................................................................................................................................... 115
2.4 EMIGRANTE..................................................................................................................................... 115
2.5 IMIGRANTE...................................................................................................................................... 115
2.6 MOVIMENTOS PENDULARES..................................................................................................... 117
2.7 ARRANJOS POPULACIONAIS..................................................................................................... 120
3 O CONTEXTO DAS MIGRAÇÕES NO BRASIL........................................................................... 127
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 133
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 134

TÓPICO 4 – APONTAMENTOS SOBRE AS IMIGRAÇÕES INTERNACIONAIS


RECENTES NO BRASIL.................................................................................................. 135
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 135
2 QUAIS SÃO OS FATOS MARCANTES NA ATUALIDADE NO ÂMBITO DAS
IMIGRAÇÕES INTERNACIONAIS?................................................................................................ 135
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 141
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 147
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 148

UNIDADE 3 – ESTUDOS DA REDE URBANA BRASILEIRA, DAS REGIÕES DE


INFLUÊNCIA E DAS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL.......................... 149

TÓPICO 1 – NOTAS SOBRE O USO DO TERMO “REDE”............................................................ 151


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 151
2 DISCUTINDO O CONCEITO DE REDES....................................................................................... 151
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 155
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 156

VIII
TÓPICO 2 – A REDE URBANA BRASILEIRA................................................................................... 157
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 157
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 168
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 169

TÓPICO 3 – O ESTUDO DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA........................................................... 171


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 171
1.1 O QUE SÃO REGIÕES DE INFLUÊNCIA DAS CIDADES - REGIC?...................................... 171
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 181
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 182

TÓPICO 4 – AS REDES DE TRANSPORTES NO BRASIL............................................................. 183


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 183
1.1 DEFINIÇÕES CONCEITUAIS........................................................................................................ 183
1.2 TRANSPORTE FERROVIÁRIO...................................................................................................... 185
1.3 TRANSPORTE RODOVIÁRIO....................................................................................................... 189
1.4 TRANSPORTE HIDROVIÁRIO .................................................................................................... 195
1.5 TRANSPORTE AEROVIÁRIO........................................................................................................ 201
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 207
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 210
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 212
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................................... 213

IX
X
UNIDADE 1

BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO
MUNDIAL E AS PAISAGENS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta unidade tem por objetivos:

• compreender o processo de construção do território brasileiro;

• conhecer a posição do Brasil no mundo e na América do Sul;

• compreender a história do surgimento dos fusos horários no Brasil e no


mundo;

• explicar os fatores que servem de referência para afirmar que o Brasil é um


país continental;

• conhecer os domínios paisagísticos do país, assim como diferentes classi-


ficações climáticas;

• conhecer as diferentes fontes de energia gerada e consumida no país.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – O BRASIL E O MUNDO

TÓPICO 2 – AS PAISAGENS NATURAIS DO BRASIL

TÓPICO 3 – FONTES DE ENERGIA

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

O BRASIL E O MUNDO

1 INTRODUÇÃO
O Brasil é um país de grandes dimensões territoriais. Possui uma
superfície de 8.515.759,090 km2 e 5.570 municípios (IBGE, s.d.). Essa grande
extensão territorial, segundo Santos e Silveira (2003), é uma das características
mais marcantes do país, mas não é a única.

Outra característica marcante do território brasileiro é seu clima. O Brasil


é considerado um país tropical e, segundo Sachs (2010), países tropicais possuem
uma grande biodiversidade e climas propícios à produção de biomassa, com
exceção dos locais onde as restrições hídricas não criam obstáculo. Porém, apesar
da riqueza de recursos dos países tropicais, Sachs (2010) ressalta que é importante
que estes possam remediar a crise social e o déficit de oportunidades de trabalho
decente. Mas este é um assunto para outro momento.

Vamos estudar agora a formação territorial do Brasil.

2 A FORMAÇÃO TERRITORIAL DO BRASIL


Acadêmico! Neste tópico, você entenderá, de forma sucinta, o processo
de formação de território brasileiro, desde a colonização até a configuração atual,
assim como a evolução administrativa do país.

É importante que você aprofunde seus conhecimentos, recorrendo à


literatura empregada na elaboração deste tópico, referenciada no final desta
unidade, dentre eles, Milton Santos e Antonio Carlos Robert Moraes.

2.1 A FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO


Após a colonização do Brasil, durante os primeiros quatro séculos,
as áreas de domínio português e brasileiro se ampliaram com a conquista dos
sertões. A ultrapassagem da linha de Tordesilhas, o avanço na Bacia Amazônica, a
modificação das fronteiras na Bacia do Prata e a conquista do Acre determinaram
os lineamentos do mapa do país. Assim, desse ponto de vista, segundo Santos e
Silveira (2003), o século XX foi marcado por um período de estabilidade.

3
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

Para os referidos autores, é desse modo que hoje o Brasil dispõe de um


território fisiograficamente distinto, com uma grande diversidade de sistemas
naturais sobre os quais a história foi acontecendo de um modo igualmente
diferenciado. Santos e Silveira (2003) ainda ressaltam que a conquista de áreas feitas
por atividades econômicas modernas (ciclos da economia) mostra a escolha, em
cada período, de áreas diversas de implantação. Inicialmente o litoral é ocupado,
seguindo-se as diversas frentes pioneiras. Contudo, somente na segunda metade do
século XX é que o nosso território pôde ser considerado inteiramente apropriado,
apesar de descontinuidades do território, principalmente na região amazônica.

Só para recordar, a primeira divisão interna do Brasil foi realizada


a partir da doação de 14 capitanias hereditárias, entre os anos de 1534 a 1536.
Os donatários eram, em sua maior parte, originários da baixa nobreza e eram
responsáveis economicamente pela empresa colonizatória (IBGE, 2011).

A materialização deste modo de produção no espaço geográfico pode ser


observada na figura a seguir:

FIGURA 1 – A ECONOMIA E O TERRITÓRIO NO SÉCULO XVI

Natal
Filipéia
Olinda

São Cristóvão

Salvador

São Joige dos Ilhéus


Santa Cruz
Porto Seguro

N. Sra. da Vitória
Espírito Santo
São Paulo

Santos São Sebastião do Rio de Janeiro


Meridiano de Tordesillas Sra. da Conceição de Itanhaém
Pau-brasil Cananéia
Cana-de-açúcar
Pecuária
Limites das capitanias hereditárias N
Capitanias reais O L
Cidades e vilas
S
0 573 km
Fonte: baseado em Manoel Maurício de
Albuquerque, Atlhas histórico. © HT-2003 MGM-Libergéo
FONTE: Adaptado de Thèrry e Melo (2005)
4
TÓPICO 1 | O BRASIL E O MUNDO

Segundo Moraes (2001), para entender a formação do território brasileiro


é necessário entender o que se passava na Europa naquele momento e, por outro
lado, comparar com a forma como se deu a colonização na América Latina. Para o
autor, ao realizar um estudo dos países de formação colonial, a dimensão espacial
ganha um peso muito maior pela seguinte razão: a colonização é uma relação
sociedade-espaço.

Então, eis a indagação do autor: na verdade, o que é colonização? Para


Moraes (2001), colonização é a relação entre uma sociedade que se desenvolve e
os lugares onde ocorre esse desenvolvimento. Ela é, em si mesma, uma conquista
territorial. A colonização diz respeito a uma anexação de território ao seu
patrimônio territorial. A situação colonial apresenta uma relação entre sociedade
e espaço, com interesse à própria conquista do espaço. Portanto, para o referido
autor, a colônia pode ser percebida como a efetivação da conquista territorial. É
a internalização do agente externo, que implica na consolidação desse domínio
territorial, na apropriação de terras, na submissão das populações defrontadas,
assim como na exploração dos recursos presentes no território colonial. Segundo
Moraes (2001), a noção de conquista pode explicar tudo isso, o que traz o traço de
violência comum em todo período colonial.

As três dimensões na formação dos territórios destacadas por Moraes


(2001) são:

• o território é uma construção bélica/militar;


• é uma construção jurídica;
• é uma construção ideológica.

Esse processo não acontece necessariamente nessa sequência, conforme


Moraes (2001) destaca. Então, vamos esclarecer melhor os diferentes tipos de
formação dos territórios. Há casos em que:

• primeiramente vem o pleito ideológico, seguido da conquista militar, depois a


legalização jurídica;
• primeiramente se faz a legalização política e depois a efetivação da conquista
militar, como o caso de Israel;
• primeiramente se faz a conquista e depois se impõe um processo ideológico de
afirmação da nova identidade;
• o ideológico antecede e anima esse processo.

Agora vamos conhecer as bases da formação do território brasileiro,


descrita por Antônio Robert de Moraes. Moraes é graduado em Geografia e
Ciências Sociais e possui livre docência em Geografia Humana pela Universidade
de São Paulo. Trabalhou nas áreas de Metodologia e História da Geografia,
publicando mais de uma dezena de livros sobre o tema e também atuou no campo
das políticas territoriais dentro e fora do Brasil.

5
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

ATENCAO

Para compreender melhor o tema, leia o texto do referido autor intitulado “Bases
da formação territorial do Brasil”.

De acordo com Moraes (2001), a princípio, o Brasil não possuía atrativos.


Ele foi descoberto para ser esquecido. Portanto, não seria correta a ideia de que o
colonizador chegou aqui para se apropriar de alguma coisa que estava disponível.
Isso se justifica pela ausência de um investimento de capitais, inclusive, as
capitanias que obtiveram êxito foram aquelas que tiveram disponibilidade de
capital para empreender na colônia.

E a ocupação do território, como se deu?

Foi por volta de 1570 que começou o período definido pelos historiadores
como o século do açúcar no Brasil, que ocasionou a primeira ocupação.

FIGURA 2 – BRASIL COLÔNIA – CICLO DA CANA-DE-AÇÚCAR

FONTE: Disponível em: <http://hstparatodolado.blogspot.com.br/2011/07/


conjuntura-do-ciclo-da-cana-de-acucar.html>. Acesso em: 31 jul.
2017.

Em 1580, a Coroa portuguesa foi reivindicada pelo rei espanhol e o Brasil


passou a ser uma colônia da Espanha. Segundo Moraes (2001), isso não é muito
divulgado na história brasileira. Bem como menciona o referido autor, isso deve
ter provocado alguma consequência. Mas qual?

Diante deste cenário, o Tratado de Tordesilhas deixou de fazer sentido,


pois, de um lado havia súditos do rei da Espanha e, do outro, também. Assim,

6
TÓPICO 1 | O BRASIL E O MUNDO

uma linha que não serve para demarcar nada, não tem sentido. Contudo, se a
unificação das coroas ibéricas não tivesse ocorrido, dificilmente o mapa brasileiro
seria o atual. Nos 1960 anos de unificação, houve pessoas que nasceram, viveram
e morreram num Brasil hispânico. Este foi um período de grande expansão
territorial e de segmentação da soberania portuguesa sobre o território brasileiro.

E por falar na expansão do território, o autor salienta que, ao norte, a


expansão ocorreu em função da expulsão dos franceses do Maranhão, quando
tropas saíram de Pernambuco e foram esquadrinhando o litoral cearense até São
Luís para expulsá-los. A fundação de Belém ocorreu neste contexto, em 1616,
originando uma situação típica da geopolítica: quem domina a foz de um rio
tem condições de dominar a bacia inteira, e foi o que consumou na história da
Amazônia.

E quanto ao índio que habitava o território brasileiro?

Segundo Moraes (2001), essa foi uma situação interessante, em que a


Igreja discutia se o índio era gente ou não, até que o Concílio de Trento chegou à
conclusão de que o índio era gente. Então outra questão foi levantada: eles podiam
ser escravizados ou não, pois a escravidão era vista como uma espécie de castigo
àqueles que eram desleais. Mas este não é um assunto que será discutido neste
item. Vamos prosseguir com os estudos de Moraes voltados para a expansão do
território brasileiro.

A expansão territorial continua e com isso houve também fracionamento


da soberania, com a invasão holandesa. O auge do domínio holandês no Brasil
foi o momento da restauração portuguesa. Os holandeses dominavam desde o
Maranhão até a barranca do São Francisco, praticamente toda a Zona da Mata.

Na metade do século XVII, Portugal voltou a existir como reino autônomo.


O Brasil estava fracionado e assim permaneceu naquele momento. Este período
foi marcado pelo processo de recuperação da soberania portuguesa sobre essas
terras divididas. Somente ao final do século XVII, a soberania sobre o território
brasileiro estava definida, quando a soberania portuguesa se recompôs, se
consolidou e se expandiu.

Um fenômeno fundamental para o processo da formação territorial


ocorreu na última década do século XVII: a descoberta do ouro, pois levou a
uma maior interiorização da colonização. Além de contribuir com a formação
do território brasileiro, a mineração foi uma atividade urbanizadora, porque em
qualquer lugar de ocorrência de mineração surgiam cidades, gerando assim a
primeira rede de cidades do Brasil.

Em função da demanda da mineração, a pecuária avançou, chegando às


barrancas do Araguaia e do Tocantins no início do século XVIII. A pecuária nos
campos de São Pedro, sul do Brasil, também se voltou para o abastecimento da
zona mineira. A segunda metade deste século, entre 1700 a 1750, é marcada pelo

7
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

ouro pelos tratados internacionais que legitimaram as fronteiras: como o Tratado


de Madri e o Tratado de Santo Idelfonso, que praticamente definiram as atuais
fronteiras do Brasil. O auge da crise do sistema colonial inicia-se a partir de 1750.
As Figuras 3, 4, 5 e 6 são ilustrações do Brasil colônia.

FIGURA 3 – DETALHE DE SANTOS - 1765/1775 - “VILLA E PRAÇA DE


SANTOS”

FONTE: Reis Filho (2007)

FIGURA 4 – ALBERT DUFOURCQ (DETALHE DA BAÍA DE TODOS OS


SANTOS, ANTIGA CAPITAL DO BRASIL-1782)

FONTE: Reis Filho (2007)

8
TÓPICO 1 | O BRASIL E O MUNDO

FIGURA 5 - DUCHÉ DE FARNEY (DETALHE DE FLORIANÓPOLIS –


NOSSA SENHORA DO DESTERRO – 1785 – “VISTA DA ILHA
DE SANTA CATARINA”)

FONTE: Reis Filho (2007)

FIGURA 6 - FRANCISCO ANTÔNIO MARQUES GIRALDES - DETALHE


DE FORTALEZA - 1811 - “PERSPECTO DA VILLA DA
FORTALEZA DE N. SNR. D’ASSUMPÇÃO OU PORTO DO
SEARÁ”

FONTE: Reis Filho (2007)

9
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

Moraes (2001) destaca que é muito importante analisar a própria questão da


independência. Para o autor, dificilmente se entenderia a independência brasileira
sem considerar um aspecto central do ponto de vista da formação territorial:
a existência de grandes fundos territoriais no momento da independência. No
momento da independência, apenas 1/5 do território ocupado, no Brasil, era
ocupado pela economia colonial. O restante eram fundos territoriais.

FIGURA 7 – VICE-REINO DO BRASIL

FONTE: IBGE (2011)

O final do século XVIII foi marcado por revoltas no Brasil visando à


separação da Metrópole. As conjurações abaixo são exemplos típicos dessas
revoltas:

• conjuração de Minas Gerais (1789);


• conjuração do Rio de Janeiro (1794);
• conjuração da Bahia (1798);
• conjuração de Pernambuco (1801).

10
TÓPICO 1 | O BRASIL E O MUNDO

Esses movimentos culminaram na independência do Brasil, em 1822, sem


afetar o território brasileiro. Cabe ressaltar que o grande desafio enfrentado pelo
Império (1822-1889) foi o de manter e consolidar a unidade territorial, superando
as forças das inúmeras revoltas locais (IBGE, s.d.). A configuração do território
brasileiro para a época da independência pode ser observada na Figura 8.

FIGURA 8 – IMPÉRIO DO BRASIL

FONTE: IBGE (2011)

Em 1889, com a proclamação da República, as províncias do Império


foram transformadas em estados da República Federativa do Brasil, mantendo
as mesmas fronteiras. O Império do Brasil passou então a denominar-se Estados
Unidos do Brasil, adotando o modelo americano de governo. O Decreto nº 1, de
15 de novembro de 1889, previa que as províncias do Brasil estariam reunidas
pelo laço da federação, constituídas a partir dali em Estados Unidos do Brasil
(IBGE, 2011). Contudo, a região do Acre somente foi incorporada ao Brasil em
1903, com a assinatura do Tratado de Petrópolis, negociado pelo Barão do Rio
Branco (IBGE, s.d.). Observe a configuração do Brasil na época da proclamação
da República.

11
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

FIGURA 9 – BRASIL NA ÉPOCA DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA

FONTE: IBGE (2011)

A Figura 10 mostra a atual configuração territorial do Brasil após a


incorporação do Acre.

12
TÓPICO 1 | O BRASIL E O MUNDO

FIGURA 10 – TERRITÓRIO BRASILEIRO

FONTE: IBGE (2011)

2.2 EVOLUÇÃO ADMINISTRATIVA DO BRASIL


Agora vamos conhecer um pouco sobre a evolução administrativa do
Brasil, a partir de um trabalho produzido pelo IBGE, no ano de 2011, intitulado
“Evolução da divisão territorial do Brasil 1872-2010”.

13
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

E
IMPORTANT

Antes de iniciarmos o estudo baseado na obra mencionada e referenciada


neste livro, leia o fragmento de texto extraído do site do IBGE, é importante destacar que
a partir de 1872, ano de ocorrência do primeiro recenseamento com cobertura de todo o
território nacional, o país apresentava uma situação consideravelmente estável no que se
referia às províncias e às Unidades da Federação. Este período foi marcado pela ocorrência
de algumas mudanças de nomes e de grafias. Algumas unidades foram criadas a partir da
divisão de outras, principalmente na Região Norte do país. “A única exceção é o atual Estado
do Acre, cujas terras pertenciam à Bolívia e, em 1903, foi anexado ao Brasil pelo Tratado de
Petrópolis como Território Federal, tendo, em 1962, sido elevado à condição de Estado do
Acre” (IBGE, 2011, s.p.).

Em 1872, como podemos observar, o Estado do Acre ainda não pertencia


ao território brasileiro (Figura 11).

FIGURA 11 – BRASIL – 1872

FONTE: IBGE (2011)

De acordo com o IBGE (2011), em 13 de setembro de 1943 foram criados,


pelo Decreto-Lei nº 5.812, cinco Territórios Federais:

• Guaporé com área dividida dos Estados de Mato Grosso e Amazonas;


• Rio Branco com área do Amazonas;
• Amapá, originário do Estado do Pará;
• Ponta Porã desmembrado do Mato Grosso;
• Iguassu formado com terras do Paraná.
14
TÓPICO 1 | O BRASIL E O MUNDO

O objetivo da criação desses territórios era atender à política do governo


federal na defesa das fronteiras nacionais em regiões que, à época, se mostravam
vulneráveis a invasões estrangeiras. Vamos conhecer suscintamente cada
processo:

• o Território Federal de Guaporé teve sua designação alterada para Território


Federal de Rondônia em 1956 e em 1982 foi elevado à categoria de Estado;
• o Território Federal de Rio Branco passou a chamar-se Território Federal de
Roraima em 1962 até 1988, quando a Constituição Federal o elevou a Estado de
Roraima;
• o Território Federal do Amapá conserva-se assim até 1988, quando foi
transformado em estado federado pela Constituição Federal;
• os territórios de Ponta Porã e Iguassu apresentaram uma duração curta, sendo
extintos pela Constituição Federal de 1946.

O arquipélago de Fernando de Noronha, de grande beleza, em 1872,


pertencia ao Império e era utilizado como presídio. Em 1891, o arquipélago
passou ao domínio do Estado de Pernambuco, que manteve o mesmo uso. Em
1938 tornou ao âmbito federal conservando a função. No dia 9 de fevereiro
de 1942 foi elevado a Território Federal pelo Decreto-Lei nº 4.102. A condição
administrativa de Território Federal foi mantida até 1988, quando a Constituição
Federal o dirigiu à situação de distrito estadual de Pernambuco.

E
IMPORTANT

Durante o Império, a capital do Brasil situava-se na atual cidade do Rio de Janeiro,


que, naquele período, localizava-se no Município Neutro. Com o surgimento da República,
em 1889, este município foi transformado em Distrito Federal formado para abrigar a capital
do País. Em 1960, com a criação da cidade de Brasília, o Distrito Federal foi transferido para
o Planalto Central e o Distrito Federal foi transformado em Estado da Guanabara, também
conhecida como Lei San Tiago Dantas, permanecendo até 1975, quando sofreu a fusão com
o Estado do Rio de Janeiro. A mesma região, que abrigou a capital do País desde a chegada
da Família Real ao Brasil em 1808, foi transformada no Município do Rio de Janeiro, retirando
do Município de Niterói as funções políticas e administrativas que exercera durante muitos
anos como capital estadual (IBGE, 2011).

Outras mudanças ocorreram na configuração do território nacional, como


veremos a seguir. Podemos observar nos mapas dos anos de 1911 e 1950 (Figura
12) que o Estado do Mato Grosso abrangia os atuais Mato Grosso e Mato Grosso
do Sul. O antigo Estado de Mato Grosso foi dividido pela Lei Complementar nº 31,
de 11 de outubro de 1977, gerando os Estados de Mato Grosso, que permaneceu
com a capital Cuiabá, e Mato Grosso do Sul, que passou a ter como capital a
cidade de Campo Grande.

15
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

FIGURA 12 – BRASIL 1911 (A) E 1950 (B)

FONTE: IBGE (2011)

A mais recente mudança no quadro das Unidades da Federação aconteceu


com o antigo Estado de Goiás, que, por decisão da Constituição Federal de 1988,
foi desmembrado, dando lugar aos Estados de Goiás, que permaneceu com a
capital Goiânia, e do Tocantins, com capital na cidade de Palmas (Figura 13).

FIGURA 13 – BRASIL 1960(A) 1991(B)

FONTE: IBGE (2011)

Duas áreas do território brasileiro constituíram-se em áreas litigiosas: uma


delas, entre os Estados do Piauí e Ceará, que surgiu na década de 1880, quando,
por acordo entre as partes, o então Município de Amarração, atual Luís Correia,
passou a pertencer ao Piauí em troca dos Municípios de Independência e Crateús;
outra localiza-se entre os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, na serra dos

16
TÓPICO 1 | O BRASIL E O MUNDO

Aimorés. Esta área apareceu pela primeira vez no mapa de 1940, tendo surgido
provavelmente a partir da delimitação dos municípios exigida pelo Decreto-Lei
nº 311, de 2 de março de 1938 (IBGE, 2011).

3 O BRASIL E O MUNDO
Como mencionado anteriormente, o Brasil é um país de grande extensão
territorial. Sua superfície territorial é de 8.515.759,090 km2, ocupando a quinta
posição entre os maiores países do mundo (Figura 14). Com uma área desta
grandeza, apresenta uma diversidade de formas de relevo, clima e grande
diversidade biológica. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, o Brasil
abriga a maior biodiversidade do planeta. Com uma abundante variedade de
vida – mais de 20% do número total de espécies da Terra –, o Brasil se eleva ao
posto de principal nação entre os 17 países megadiversos (BRASIL, 2018).

FIGURA 14 – PAÍSES MAIS EXTENSOS DO MUNDO

FONTE: Disponível em: <http://mapas.ibge.gov.br/escolares/publico-infantil/mundo.html>.


Acesso em: 3 ago. 2017.

Vamos conhecer as distâncias entre os pontos extremos do Brasil. Já que


é um país de grandes dimensões, de ponta a ponta, espera-se que as distâncias
também sejam consideráveis.

17
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

Ao traçar-se uma linha reta no sentido norte-sul obtém-se 4.394,7 km,


e no sentido leste-oeste, 4.319,4 km. Mas, como sabemos, a superfície terrestre
possui inúmeros acidentes geográficos, o que torna estas distâncias maiores. Em
função destas distâncias, algumas viagens se tornariam exaustivas por terra e
mais viáveis de avião. Para visualizar melhor, observe a Figura 15.

FIGURA 15 – PONTOS EXTREMOS DO BRASIL

FONTE: Disponível em: http://www.editoradobrasil.com.br/jimboe/galeria/imagens/index.


aspx?d=geografia&a=5&u=2&t=imagem. Acesso em: 6 ago. 2017.

Sobre os pontos extremos do país, uma reportagem da Revista


Superinteressante, de Guilherme Campos, responde às seguintes questões:

18
TÓPICO 1 | O BRASIL E O MUNDO

1. Quais são eles, ao norte e ao sul?


Diversamente do que muitos pensam, o Brasil não vai do Oiapoque ao Chuí
– mas do Caburaí, no Estado de Roraima, ao Chuí, no Rio Grande do Sul. O
extremo norte verdadeiro fica na divisa entre o Brasil e a Guiana, no alto do
monte Caburaí, que possui 1.456 metros de altitude.

2. Por que o engano?


Até o século XVIII, a fronteira em Roraima não havia sido delimitada. Como
a cartografia tinha o mar como referência, o Oiapoque (Amapá), ponto mais
setentrional da costa brasileira, era citado como o ponto extremo do norte do
país. Assim, a expressão “do Oiapoque ao Chuí” ganhou fama e perdura até
os dias atuais, ainda que nos mapas oficiais conste o monte Caburaí.

3. Como se determina onde termina um país e começa outro?


Quando há um rio separando os territórios, fica simples. Caso contrário,
satélites e GPS (Sistema de Posicionamento Global) auxiliam na tarefa. Todavia
é necessário que uma comitiva com representantes dos dois lados visite o
local e eles cheguem a um consenso, para que não haja conflitos posteriores.
Além de serem registradas as coordenadas desses pontos, são erguidos
monumentos que indicam a localização exata das linhas demarcatórias.

ATENCAO

A reportagem da revista Superinteressante está disponível em: <https://super.


abril.com.br/comportamento/extremos-do-brasil/>. Acesso em: 20 ago. 2017.

Como é possível observar no mapa dos pontos extremos do Brasil, o


país possui também uma grande extensão de fronteiras terrestres com alguns
países da América do Sul, além de um litoral bastante extenso: entre 7.000 e 9.000
quilômetros.

Os pontos extremos do território do Brasil são:

 ao Norte – o Rio Ailã, em Roraima, na divisa com a Guiana;


 ao Sul – o Arroio Chuí, no Rio Grande do Sul;
 a Leste – a Ponta do Seixas, na Paraíba;
 a Oeste – Rio Moa, no Acre, na divisa com o Peru.

Algumas informações sobre os estados e municípios brasileiros foram


pontuadas pelo IBGE (2017). Vamos ver quais são. De acordo com o referido
instituto:

19
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

1. O maior estado brasileiro continua sendo o Amazonas, com 1.559.146,876


km², superando a soma dos territórios das regiões Sul e Sudeste. O menor
estado é Sergipe, com 21.918,443 km², e o Distrito Federal apresenta área de
5.779,997 km².
2. O maior município brasileiro é Altamira, no Pará, com 159.533,328 km², e
dimensão territorial que supera vários estados brasileiros.
3. O município mineiro de Santa Cruz de Minas, com extensão de 3,565 km², é
o menor do país, acompanhado de Águas de São Pedro, em São Paulo, com
área de 3,612 km². Suas áreas são menores que a da Ilha de Fernando de
Noronha, distrito estadual de Pernambuco, que tem 17,017 km².
4. No Estado do Rio Grande do Sul, a área alusiva à Lagoa Mirim, incorporada
desde 2002 à área do Estado, de acordo com a Constituição Estadual de
1988, passou por alteração nos valores territoriais em 2015, em função dos
ajustes na fronteira com o Uruguai, possuindo 2.832,194 km².

Quanto aos traçados das fronteiras internacionais do Brasil com os países


vizinhos Uruguai e Argentina, foram atualizados conforme deliberado pela
Segunda Comissão Brasileira Demarcadora de Limites (SCDL). As informações
podem ser acessadas em: <http://scdl.itamaraty.gov.br/pt-br/scdl.xml>. Ressalta-
se que a fronteira com o Paraguai foi parcialmente atualizada em 2015, na seção
limítrofe com o Estado do Paraná.

E
IMPORTANT

Para conhecer um pouco mais sobre o ponto mais ao norte do Brasil, assista
ao vídeo intitulado “IBGE explica – Extremo norte do Brasil”, disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=EyPzFjoIJGg>. Acesso em: 20 ago. 2017.

3.1 POSIÇÃO DO BRASIL NO GLOBO TERRESTRE


Observando a posição do Brasil no globo, podemos deduzir porque ele é
conhecido como um país tropical. Como nosso país, em sua maior parte, localiza-
se entre os trópicos de Câncer e de Capricórnio, encontra-se na zona intertropical,
sendo então considerado um país tropical. Esta posição no globo terrestre é
relevante para entendermos porque o nosso país apresenta um clima e vegetação
diversificados de norte a sul.

Como podemos observar na Figura 16, o território brasileiro está situado


em duas zonas térmicas: a Zona Tropical, pois é cortado pelo Equador e pelo
Trópico de Capricórnio; e a Zona Térmica Temperada do Sul. Localizam-se na
zona temperada parte dos estados do Mato Grosso e de São Paulo e todos os
estados da Região Sul.

20
TÓPICO 1 | O BRASIL E O MUNDO

FIGURA 16 – ZONAS TÉRMICAS DA TERRA

FONTE: Ísola e Caldini (2007)

À medida que nos afastamos do Equador, as estações do ano tornam-se


mais acentuadas e a diferenciação entre elas torna-se máxima nos polos (Figura
17).

Essa variação na incidência de raios solares influencia não somente no


clima, como também na distribuição da vegetação, consequência da diversidade
climática; na formação do solo, em função dos processos de intemperismo; na
morfologia, devido ao processo de erosão ao longo dos anos; dentre outros, como
veremos no Tópico 2, “As paisagens naturais do Brasil”.

FIGURA 17 – INCLINAÇÃO DO EIXO TERRESTRE

FONTE: Disponível em: <http://astro.if.ufrgs.br/tempo/mas.htm>. Acesso em: 6 de ago. 2017.

Os gráficos climatológicos de diferentes capitais brasileiras (Figura 18)


exemplificam esta diferenciação.

21
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

FIGURA 18 – GRÁFICOS CLIMATOLÓGICOS DE BELÉM, SALVADOR, SÃO PAULO, PORTO


ALEGRE.

FONTE: <http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=clima/graficosClimaticos>. Acesso em: 6


ago. 2017.

3.2 O BRASIL NA AMÉRICA DO SUL


Vamos entender um pouco mais sobre a posição do Brasil na América do
Sul, importância, relevância política e estratégica.

Como é possível observar na Figura 19, o Brasil ocupa uma área


considerável da América do Sul. Os países que fazem fronteira com o Brasil são:
Guiana Francesa, Suriname, Guiana, Venezuela e Colômbia, ao norte; Uruguai e
Argentina, ao sul; e Paraguai, Bolívia e Peru, a oeste. Os dois únicos países sul-
americanos que não têm divisas com o Brasil são o Equador e o Chile. Por se tratar
de um país com grandes dimensões territoriais, as fronteiras e zonas especiais são
objeto de vigilância do Exército brasileiro, da Polícia Federal, da Receita Federal
e da Vigilância Sanitária. Nas zonas especiais encontram-se os portos secos e as
áreas de livre comércio.

Veja a localização do Brasil na América do Sul.

22
TÓPICO 1 | O BRASIL E O MUNDO

FIGURA 19 – O BRASIL NA AMÉRICA DO SUL

FONTE: Disponível em: <ftp://geoftp.ibge.gov.br/produtos_educacionais/


mapas_tematicos/mapas_do_mundo/politico/america_sul_pol.pdf>.
Acesso em: 3 ago. 2017.

Antes de entendermos sobre os limites do território brasileiro, leia o


fragmento de texto de Machado (2001):

[...] se é certo que a determinação e defesa dos limites de uma possessão


ou de um Estado se encontram no domínio da alta política ou da alta
diplomacia, as fronteiras pertencem ao domínio dos povos. Enquanto o
limite jurídico do território é uma abstração, gerada e sustentada pela
ação institucional no sentido de controle efetivo do Estado territorial,
portanto, um instrumento de separação entre unidades políticas
soberanas, a fronteira é lugar de comunicação e troca. Os povos podem
se expandir para além do limite jurídico do Estado, desafiar a lei
territorial de cada Estado limítrofe e às vezes criar uma situação de
facto, potencialmente conflituosa, obrigando a revisão dos acordos
diplomáticos [...] (MACHADO, 2000, s.p.).

De acordo com o referido autor, na segunda metade do século XVIII, o


perímetro das fortalezas e casas-fortes estava concentrado ao longo da linha de
costa, mas foi se expandindo e incorporando as margens das terras do Estado
do Brasil e do Estado do Grão-Pará. A linha de fortificações pombalinas foi
formalizada pela primeira vez no Tratado de Madri (1750), mas só foi concretizada
após a revogação do tratado.
23
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

E
IMPORTANT

O Período Pombalino corresponde aos anos em que o Marquês de Pombal


exerceu o cargo de primeiro-ministro em Portugal, durante o reinado de Dom José I, entre
1750 e 1777.

De acordo com Machado (2000), apesar de o Tratado de Madri ter sido


anulado em 1761, constitui uma referência válida para o estudo do processo
histórico de legitimação dos limites das terras brasileiras, tendo em vista:

 as inovações introduzidas devido às negociações diplomáticas;


 os lugares de povoamento, especialmente as terras sob domínio das missões
religiosas jesuíticas, fundamentais para traçados de limites;
 os acidentes físicos, ou seja, a fronteira natural, principalmente as fronteiras
fluviais, pois não havia reconhecimento do direito indígena ao território.

Nesta época, estava sendo desenvolvida na Europa uma relação entre


limite e fronteira territorial. Cabendo lembrar que, até o século XVIII, os limites
das possessões eram, com frequência, imprecisos. Este também foi o século em
que se propagou na Europa a noção de “murofronteira” (MACHADO, 2000). Em
meados do século XVIII, segundo o autor, o interesse das Coroas Ibéricas pela
definição de limites e, especialmente, a Coroa Portuguesa em investir na ocupação
das fronteiras, tinha motivos concretos e imediatos: a economia do ouro. Ouro foi
responsável pela propagação dos caminhos de contrabando no interior da colônia
e aumento geral do comércio para a colônia e para a metrópole.

Observe as rotas do contrabando e fortificações setecentistas na colônia


(Figura 20) e os circuitos ilegais e lugares de comunicação em 1998 (Figura 21).

24
TÓPICO 1 | O BRASIL E O MUNDO

FIGURA 20 – ROTAS DO CONTRABANDO E FORTIFICAÇÕES SETECENTISTAS

FONTE: Machado (2000)

FIGURA 21 – CIRCUITOS ILEGAIS E LUGARES DE COMUNICAÇÃO EM 1998

FONTE: Machado (2000)


25
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

Alguns acordos feitos por ocasião do Tratado de Madri foram quebrados,


como a negação de Portugal em ceder a Nova Colônia de Sacramento à Espanha
em troca da proposição lusitana das fronteiras fluviais como princípio da
demarcação; a aliança entre Portugal e Inglaterra durante a Guerra dos Sete
Anos (1758-63); e a manutenção da rede de contrabando do Rio da Prata foram
importantes para a revogação do Tratado de Madri. Como lembra Machado
(2000), tanto naquela época, como agora, as ramificações do contrabando são
questões delicadas. Neste sentido, o autor destaca que o papel das fortificações
na configuração dos limites do Brasil foi primordial pelas funções simbólica e
estratégica, garantindo o controle dos passos de comunicação na fronteira oeste.

Consolidadas as fronteiras, hoje, o que se pretende alcançar é a integração


entre países através de blocos. Com a América do Sul não é diferente. Vamos
conhecer a visão de Costa (2009) sobre as articulações que abrangem este
subcontinente.

De acordo com Costa (2009, s.p.), do ponto de vista político (ou geopolítico),
é relevante o conjunto de iniciativas e articulações que envolvem o continente sul-
americano e que estão promovendo-o rapidamente para a posição de uma região
geopolítica, ou seja, ressalta o autor, “uma entidade política transnacional dotada
de unidade mínima e arcabouço institucional baseados em princípios e macro-
objetivos comuns nas relações internacionais”. Para Costa (2009), considerando
sua formatação inicial e do seu desenvolvimento atual, o modelo de arranjo
regional constitui-se um projeto que procura reproduzir em seus aspectos
gerais a experiência europeia “de conjugar o máximo de integração econômica
a uma macroconformidade político-institucional de natureza transnacional”.
Dessa forma, a análise feita pelo autor revela o distanciamento pronunciado
do modelo convencional adotado pela maioria dos blocos regionais, em que
os limites da conformidade entre os seus estados-membros estão previamente
definidos e os objetivos estão circunscritos aos assuntos econômico-comerciais.
Neste caso, a integração sul-americana tende a reproduzir o percurso seguido
pela União Europeia com a constituição e a consolidação de um sistema regional-
transnacional de governança.

3.3 FUSOS HORÁRIOS


Segundo Montalvão (2005), desde os primórdios da humanidade, a posição
e o movimento aparentes do Sol foram referências para a contagem do tempo. O
que era feito antigamente através do uso do relógio solar, ajustado em função da
observação do movimento diário e anual do Sol. Com os avanços na tecnologia e
a construção de relógios mecânicos, houve uma maior precisão na contagem das
horas, mas não houve a redução da multiplicidade de horários locais. Chegou a
haver, no século XIX, 27 horários locais diferentes na Europa e 74 horários locais
diferentes na América do Norte, de acordo com o referido autor. Para citar um
exemplo, no Brasil, até 1913, quando, no Rio de Janeiro, eram 12 horas, em Recife
eram 12h33min, e em Porto Alegre eram 11h28min. Nos EUA, os relógios locais

26
TÓPICO 1 | O BRASIL E O MUNDO

se referiam à hora solar do meridiano do Observatório Naval em Washington; na


França, a do meridiano do Observatório de Paris; e, no Brasil, a do meridiano do
Observatório Nacional, no Rio de Janeiro (MONTALVÃO, 2005).

De acordo com o referido autor, essa pluralidade de horários não


apresentava problemas, pois os deslocamentos eram lentos e distâncias das
viagens dificilmente eram superiores a algumas centenas de quilômetros, até
que, com os avanços tecnológicos no final do século XIX, especialmente com o
advento da ferrovia e do telégrafo, aumentaram as velocidades de deslocamento
e de comunicação entre cidades e países, e, consequentemente, as diferenças de
horários passaram a complicar a adaptação dos usuários à hora local e apresentar
transtornos na logística e segurança requeridas pelas indústrias nascentes. Um
exemplo citado pelo autor é dos Estados Unidos, onde cada ferrovia tinha o
seu horário, prevalecendo o horário da cidade terminal. Dessa forma, a solução
recomendada foi padronizar os horários, primeiramente, em alguns países e,
posteriormente, em todo o mundo. Foi com esse objetivo que decidiu-se adotar o
sistema de fusos horários, em conferência realizada em 1883, na cidade de Roma.
Em 1884, 27 países reunidos em uma conferência realizada em Washington,
incluindo o Brasil, adotaram o meridiano que passa pelo Observatório de
Greenwich 6 (Inglaterra) como sendo o meridiano zero grau, e sua hora solar
como sendo a referência da hora oficial mundial, também denominada “hora
universal”. Além do meridiano zero, era necessário criar também o fuso zero,
que foi formado pela área entre 7,5° a leste (ou meia hora adiantada) e 7,5° a oeste
(meia hora atrasada) do meridiano de 0° (meridiano de Greenwich). No Brasil, o
sistema de fusos horários só foi adotado em 1913 (MONTALVÃO, 2005).

Observe a Figura 22, que mostra o sistema de fusos adotado no Brasil. O


nosso país fica a oeste do meridiano de Greenwich e, em função de sua grande
extensão territorial, compreende quatro fusos horários, variando entre duas e
cinco horas a menos que a hora do meridiano de Greenwich:

 o primeiro fuso que compreende o território brasileiro – as ilhas oceânicas


(Trindade, Atol das Rocas, Abrolhos, São Pedro, São Paulo, Fernando de
Noronha) – tem duas horas a menos que o fuso zero (fuso -2);
 o segundo fuso (fuso -3) é o horário oficial de Brasília e está três horas atrasado
em relação ao fuso zero;
 o terceiro fuso (fuso -4) tem quatro horas a menos que o fuso zero.

27
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

FIGURA 22 – FUSOS HORÁRIOS DO BRASIL

FONTE: Disponível em: http://www.horadebrasilia.com/fuso-horario.php


Acesso em: 22 out. 2017.

Com o intuito de aproveitar ao máximo essa maior insolação proporcionada


por dias mais longos, adota-se o Horário de Verão, que consiste em adiantar os
relógios em uma hora, em relação ao horário oficial dos fusos horários do país
adotante. A ideia do Horário de Verão surgiu com Benjamin Franklin, em 1784,
até que foi adotado pela primeira vez na Alemanha, em 1916. Logo outros países
seguiram o exemplo alemão. Ele é adotado durante a primavera e o verão, período
em que os dias são mais longos do que as noites (MONTALVÃO, 2005).

Como esse consumo de energia é reduzido com o Horário de Verão?

Segundo Montalvão (2005), com essa medida, o nascer do Sol passa a


ocorrer antes das sete horas da manhã e o pôr-do-sol ocorre após as 19 horas.
Geralmente, a população brasileira começa a chegar em casa perto das 18 horas.
Quando não há Horário de Verão, as pessoas chegam em casa, ligam a luz, tomam
banho, normalmente com chuveiro elétrico. Isso acontece ao mesmo tempo em que
a iluminação pública é acionada. Esse consumo, somado ao consumo industrial,
provoca um pico de consumo no Sistema Elétrico Interligado, mantendo-se, de
modo geral, até às 19 horas, quando o consumo industrial começa a se reduzir e
a maioria dos chuveiros elétricos já estão deligados. Com a adoção do Horário de
Verão, a iluminação pública e parte do consumo de energia residencial se alteram
para após as 19 horas, reduzindo a intensidade do pico de consumo de energia.
Essa alteração no horário oficial, em inglês, denomina-se daylight saving time,
expressão que retrata adequadamente aquela redução (to save = economizar).

O texto abaixo apresenta fragmentos do artigo de Montalvão (2005), sobre


a adoção do Horário de Verão no Brasil.

28
TÓPICO 1 | O BRASIL E O MUNDO

Horário de Verão no Brasil

O Horário de Verão foi adotado no Brasil, pela primeira vez, no verão


de 1931/1932. Ele é implantado por decreto do Presidente da República,
sempre respaldado legalmente pelo Decreto-Lei nº 4.295, de 13 de maio
de 1942, e fundamentado em informações encaminhadas pelo Ministério
de Minas e Energia, que toma por base os estudos técnicos realizados pelo
Operador Nacional do Sistema Elétrico - ONS, que indicam quais unidades da
Federação deverão ser abrangidas e o período de duração da medida. [...] entre
1931 e 1985, ele foi implantado apenas 11 vezes, e com abrangência em todo o
território nacional. Nesse período, o verão de 1967/1968 foi o último em que
foi adotado. A partir de 1986, esse instituto passou a ser utilizado anualmente,
mas com variações em sua abrangência. No verão de 1985/1986, e nos dois
verões seguintes, todo o território nacional ainda foi abrangido. A retomada
dessa prática, na década de 1980, foi parte de um elenco de medidas tomadas
pelo governo devido ao racionamento ocorrido na época por falta d’água nos
reservatórios das hidrelétricas. Em 1988/1989 e 1989/1990, os decretos já não
incluíram os estados do Norte do Brasil. Na década de 1990, com fugazes
exceções, também ficaram de fora os estados do Nordeste. Entretanto, no verão
de 1999/2000, os estados do Nordeste foram novamente incluídos no Decreto
do Horário de Verão. [...] o Governo Federal já sabia do risco de uma crise de
energia no Sistema Elétrico Interligado, e incluiu o Nordeste no esforço pela
economia de energia. [...] O Norte ficou de fora, porque não faz parte do Sistema
Interligado Nacional. A inclusão do Nordeste foi efetivada com fortes reações
contrárias. No verão de 2000/2001, que antecedeu a crise de energia de 2001,
o Governo tentou, mais uma vez, incluir o Nordeste no Decreto do Horário
de Verão. Mas, diante de reiteradas reações, lastreadas em decisões judiciais
liminares, decidiu retirar a Região. Por outro lado, o Decreto para o verão
de 2001/2002, em plena crise de energia, incluiu o Nordeste, dessa vez sem
grande resistência dos formadores de opinião, que se submeteram à decisão
do Supremo Tribunal Federal sobre a constitucionalidade das resoluções da
Câmara de Gestão da Crise de Energia. Nos verões seguintes, já superada a
crise de energia, o Nordeste voltou a ficar de fora do Horário de Verão.

29
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O Brasil é um país de dimensões continentais e seu território foi construído ao


longo de 500 anos, através de disputas e conquistas.

• Por possuir uma ampla extensão territorial, o território brasileiro abrange


quatro fusos horários e, por se encontrar no hemisfério ocidental, possui o
seu horário atrasado em relação ao meridiano de Greenwich, cuja demarcação
oficial (a hora legal) é estabelecida de acordo com mapa estudado.

• A posição geográfica do Brasil no globo terrestre, localizado quase em sua


totalidade no Hemisfério Sul, esclarece a expressão “país tropical”.

• O Brasil é o país mais extenso da América do Sul, apresentando vastas áreas


transfronteiriças com quase todos os países do continente.

30
AUTOATIVIDADE

1 (NerdProfessor-Adaptado) Disponível em: <http://nerdprofessor.com.br/


exercicios-sobre-a-formacao-do-territorio-brasileiro/>. Acesso em: 21 ago.
2017.

Leia as afirmações a seguir:

I- No ano de 1904, a configuração do território brasileiro já apresentava os


limites conhecidos na atualidade.
II- Em 1750, Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Madri, acertando as
fronteiras entre as terras portuguesas e espanholas na América do Sul.
III- No final do século XIX e início do XX, os governos brasileiros resolveram
pendências de fronteiras que ainda existiam, através de tratados e conversas
diplomáticas.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Apenas a alternativa I está correta.
b) ( ) Apenas a alternativa II está correta.
c) ( ) Apenas as alternativas I e II estão corretas.
d) ( ) As alternativas I, II e III estão corretas.

2 (UFV) Suponha que sejam 9 horas em Viçosa (MG) e que você, estando nessa
cidade, precisa planejar uma ligação interurbana para uma pessoa em Boa
Vista (RR), que poderá ser encontrada, nessa cidade, às 11 horas, hora local
desse estado.

Com base no mapa abaixo, o procedimento CORRETO para efetuar essa ligação é:

31
a) ( ) Aguardar duas horas para fazer sua ligação, porque no Brasil, embora
sejam reconhecidos os limites teóricos dos fusos horários de 15° de longitude,
consideram-se apenas os limites práticos definidos pelas fronteiras estaduais.
b) ( ) Aguardar uma hora para fazer sua ligação, porque no Brasil, embora
sejam reconhecidos os limites teóricos dos fusos horários de 15° de longitude,
consideram-se apenas os limites práticos definidos pelas fronteiras estaduais.
c) ( ) Fazer sua ligação imediatamente, porque o horário do fuso em que se
encontra o Estado de Minas Gerais é o mesmo em que se encontra o Estado
de Roraima.
d) ( ) Aguardar três horas para fazer sua ligação, porque no Brasil, embora
sejam reconhecidos os limites teóricos dos fusos horários de 15° de longitude,
consideram-se apenas os limites práticos definidos pelas fronteiras estaduais.

3 O Brasil é um país tropical. Discorra sobre esta afirmativa a partir dos


conhecimentos obtidos sobre a posição do Brasil no globo terrestre.

32
UNIDADE 1
TÓPICO 2

AS PAISAGENS NATURAIS DO BRASIL

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico!

Neste tópico vocês conhecerão os domínios paisagísticos brasileiros


abordados por Aziz Ab’Saber em seu livro “Os domínios de natureza do Brasil:
potencialidades paisagísticas”. Neste tópico, vocês conhecerão ainda: a base
geológica do relevo brasileiro, os biomas do brasil, sistemas de classificação
climática e climas do Brasil, hidrografia; e bacias hidrográficas do brasil.

Se quiser se aprofundar mais sobre os espaços herdados da natureza,


assim denominados pelo autor, consulte a obra de Aziz Ab’Saber, referenciada
no final desta unidade, e bom estudo!

2 OS GRANDES DOMÍNIOS PAISAGÍSTICOS BRASILEIROS


Segundo Ab’Saber (2003), devido à magnitude espacial do Brasil, seu
território comporta um mostruário completo das principais paisagens e ecologias
da região tropical. Para o autor, apesar de a maior parte das paisagens do nosso
país estar sob a situação de duas organizações opostas e interferentes (homens
e natureza), ainda há possibilidade de caracterizar os espaços naturais, numa
tentativa de reconstrução da estruturação espacial original dessas paisagens.

No trabalho de Ab’Saber (2003), os domínios morfoclimáticos e


fitogeográficos formam um conjunto espacial de certa ordem de grandeza
territorial, com um traçado coerente de feições de relevo, tipos de solos, formas
de vegetação e condições climático-hidrológicas. O autor esclarece que esses
domínios espaciais ocorrem em uma espécie de área principal onde as condições
fisiográficas e biogeográficas formam um complexo relativamente homogêneo e
extensivo. Mas ainda há espaços de transição entre um domínio e outro.

Leia o texto na caixa a seguir para uma melhor compreensão destas áreas.

33
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

Entre o corpo espacial nuclear de um domínio paisagístico e ecológico


e as áreas nucleares de outros domínios vizinhos – totalmente diversos – existe
sempre um interespaço de transição e de contato, que afeta de modo mais sensível
os componentes da vegetação, os tipos de solos e sua forma de distribuição e,
até certo ponto, as próprias feições de detalhe do relevo regional. Cada setor das
alongadas faixas de transição e contato apresenta uma combinação diferente de
vegetação, solos e formas de relevo. Num mapa em que sejam delimitadas as áreas
core, os interespaços transacionais – restantes entre os mesmos – aparecem como
se fossem um sistema anastomosado de corredores, dotados de larguras variáveis.
Na verdade, cada setor dessas alongadas faixas representa um combinação sub-
regional distinta de fatos fisiográficos e ecológicos, que podem se repetir ou não
em áreas vizinhas e que, na maioria das vezes, não se repetem em quadrantes
mais distantes.

Ab’Saber (2003)

Foram reconhecidos seis grandes domínios paisagísticos e macroecológicos


no Brasil: quatro intertropicais, que ocupam uma área superior a sete milhões de
quilômetros quadrados; e dois subtropicais, ocupando cerca de quinhentos mil
quilômetros quadrados em território brasileiro. As faixas de transição e contato
equivalem a cerca de um milhão de quilômetros quadrados. Os domínios são:

1- domínio das terras baixas florestadas da Amazônia;


2- domínio das depressões interplanálticas semiáridas do Nordeste;
3- domínio dos “mares de morros” florestados;
4- domínio dos chapadões centrais recoberto por cerrados, cerradões e campestres;
5- domínio dos planaltos de araucárias;
6- domínio das pradarias mistas do Rio Grande do Sul.

34
TÓPICO 2 | AS PAISAGENS NATURAIS DO BRASIL

FIGURA 23 – DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS DO BRASIL

BRASIL
Domínios Morfoclimáticos

Linha do Equador

OCEANO
PACÍFICO

Terra baixas e florestas OCEANO


AMAZÔNICO equatoriais ATLÂNTICO
Chapadões tropicais
CERRADO Interiores com cerrados
e florestais - galerias
Áreas mamelonares
DOMÍNIOS

MARES DE MORROS tropicais - atlânticas Trópico de


florestadas capricórnio
Depressões intermontanas
CAATINGAS e interplanálticas semi-
áridas
Planaltos subtropicais
ARAUCÁRIAS com araucárias
N
Coxilhas subtropicais
PRADARIAS com pradarias mistas

FAIXAS DE TRANSIÇÃO (Não diferenciadas)


0 547km

FONTE: Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/provas-e-gabaritos3>. Acesso em: 15 ago. 2017

2.1 DOMÍNIO DAS TERRAS BAIXAS FLORESTADAS DA


AMAZÔNIA

Esta é uma região carregada de umidade e, geralmente, encoberta por
nuvens baixas. Nela encontra-se a mata de “igapós”. Compõem esta paisagem,
algumas exceções às terras baixas, as encostas florestadas de blocos montanhosos.

35
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

FIGURA 24 – DOMÍNIO DAS TERRAS BAIXAS FLORESTADAS DA


AMAZÔNIA

FONTE: Disponível em: <http://www.mma.gov.br/biomas>. Acesso


em: 8 ago. 2017.

2.2 DOMÍNIO DAS DEPRESSÕES INTERPLANÁLTICAS


SEMIÁRIDAS DO NORDESTE
Segundo Ab’Saber (2003), esta é a região semiárida subequatorial e
tropical de posição azonal. É uma região de depressões interplanálticas reduzidas
a planícies de erosões. Possui fraca decomposição de rochas, com mantos de
alteração que variam, geralmente, de 0 a 3m. Mares de pedras costumam aflorar
em meio às caatingas mais rústicas. Há presença de vertissolos e eventuais
aridissolos ao longo das planícies sertanejas. As drenagens intermitentes sazonais
são marcantes na região. Isto ocorre devido ao ritmo desigual e pouco frequente
das precipitações, que variam de 300 a 600mm anuais. As irregularidades no
volume anual das precipitações podem ocasionar anos secos, como também anos
em que as precipitações são capazes de provocar inundações. São encontradas:

 estreitas matas ciliares ao longo dos diques marginais dos rios intermitentes;
 largas galerias ao longo das várzeas dos baixos cursos d’água do Rio Grande
do Norte e do Ceará;
 casos raros de manchas de solos salinos nos aluviões dos baixos cursos d’água
do Rio Grande do Norte;
 enclaves de brejos na forma de microrregiões úmidas e florestadas, com solos
de boa fertilidade natural, contudo frágeis, dependendo da posição topográfica
e tipo de uso do solo.

De acordo com Ab’Saber (2003), o semiárido nordestino é a área que


apresenta as mais bizarras e rústicas paisagens morfológicas e fitogeográficas do
país. Destaque para os campos de inselbergs, que figuram como atrativo turístico:
Milagres (Bahia), Quixadá (Ceará), Patos (Paraíba), Caicó-Pau dos Ferros (Rio
Grande do Norte).

O semiárido, destaca Ab’Saber (2003), é uma região de velha ocupação


baseada no pastoreio extensivo. Foi sujeita a forte degradação da vegetação e
dos solos nas regiões de brejos de encostas e de cimeiras onduladas, além de
apresentar eventuais casos de desertificação antropogênica nas colinas sertanejas.

36
TÓPICO 2 | AS PAISAGENS NATURAIS DO BRASIL

FIGURA 25 – SEMIÁRIDO NORDESTINO

FONTE: Disponível em: <http://www.mma.gov.br/biomas>. Acesso em:


8 ago. 2017.

2.3 DOMÍNIO DOS “MARES DE MORROS” FLORESTADOS


Este domínio possui cerca de 650 mil quilômetros quadrados de área ao
longo do Brasil Tropical Atlântico, com distribuição geográfica azonal. Possui
relevo de colinas em todos os níveis topográficos no sudeste do Brasil. Esta é uma
região com presença de forte decomposição de rochas cristalinas e de processos
de convexização em níveis intermontanos. Também são encontradas planícies
meândricas e predomínio de depósitos finos nas calhas aluviais. É comum a
presença de solos superpostos e precipitações que variam de 1100 a 1500mm
e de 3000 a 4000mm na Serra do Mar, em São Paulo. Observa-se, segundo o
autor, florestas tropicais recobrindo os morros costeiros, escarpas tipo “Serra
do Mar” e setores serranos mamelonizados dos planaltos compartimentados e
acidentados do Sudeste do Brasil; florestas biodiversas, com diferentes biotas, que
originalmente recobriam 85% do espaço total; enclaves de bosques de araucárias
em áreas mais altas, como Campos do Jordão e campos de Bocaina; cerrados em
diversos compartimentos dos planaltos interiores de São Paulo e norte do Paraná
(AB’SABER, 2003).

Com exceção de Campos do Jordão e campos de Bocaina, são encontrados


mares de morros alternados com “pães de açúcar”, nas regiões costeiras do Rio
de Janeiro ou nas áreas interiores do Espírito Santo e nordeste de Minas Gerais.

No subdomínio dos chapadões interiores florestados, Ab’Saber (2003)


destaca a presença de padrões de paisagens e ecossistemas na frente e reverso
das altas cuestas basálticas ou arenítico-basálitcas; agrupamentos de morros-
testemunho, pro parte florestados; eventuais topografias ruiniformes na frente de
escarpas areníticas; setores de vales, com esporões sucessivos ou escalonados.

37
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

FIGURA 26 – MATA ATLÂNTICA

FONTE: Disponível em: <http://www.mma.gov.br/biomas>. Acesso


em: 8 ago. 2017.

2.4 DOMÍNIO DOS CHAPADÕES CENTRAIS RECOBERTOS


POR CERRADOS, CERRADÕES E CAMPESTRES E
PENETRADOS POR FLORESTA GALERIA
Essa região ocupa entre 1,7 e 1,9 milhão de quilômetros quadrados.
Quanto à sua posição pode ser considerada zonal, assemelhando-se ao domínio
das savanas na África. Contudo, o caráter latitudinal e o grau de interiorização
das matas atlânticas quebram a possibilidade de uma distribuição leste-oeste
marcada pelo domínio dos cerrados. É uma região de maciços planaltos de
estrutura complexa e planaltos sedimentares ligeiramente compartimentados,
como destaca Ab’Saber (2003), entre 300 e 1700m de altitude; cerradões, cerrados
e campestres nos interflúvios e florestas galerias sucessivas, no fundo e nas
encostas baixas de vales; predomínio de latossolos; drenagens perenes para
os cursos d’água principais e secundários; interflúvios muito largos e vales
simétricos, geralmente espaçados entre si; área de menor densidade de drenagem
e densidade hidrográfica do país; enclaves de matas em regiões de solos ricos ou
áreas de nascente, formando “capões” de diferentes tamanhos.

Ab’saber (2003) descreve esta paisagem como monótona, especialmente


no que se refere às suas feições geomórficas e fitogeográficas comuns. Contudo,
apresenta algumas peculiaridades, como:

 canyons de diferentes amplitudes com sítios de águas termais;


 topografias ruiniformes, nas torres do Rio Bonito, no Planalto dos Acantilados
e nos “altos” da Chapada dos Guimarães;
 paisagens cársticas, na Serra da Bodoquena;
 montanhas em blocos, ilhadas na planície do Alto Paraguai, na zona de fronteira
com a Bolívia.

O autor ainda destaca que, em geral, os solos são pobres, mas em algumas
condições topográficas e climáticas são favoráveis. No caso dos capões de matas
ou “matos grossos”, o uso irracional levou à eliminação desta cobertura vegetal
e danificou os solos de modo quase irreversível em algumas regiões, como os
situados ao norte de Anápolis e na região de Ceres, em Goiás.

38
TÓPICO 2 | AS PAISAGENS NATURAIS DO BRASIL

FIGURA 27 – CERRADO

FONTE: Disponível em: <http://www.mma.gov.br/biomas>. Acesso em: 8


de ago. 2017.

2.5 DOMÍNIO DOS PLANALTOS DE ARAUCÁRIAS


Possui aproximadamente 400 mil quilômetros quadrados, sob o domínio
de climas subtropicais úmidos de planaltos com invernos relativamente amenos.
Segundo Ab’Saber (2003), coincide, em sua acepção mais ampla, ao setor do
Planalto Meridional brasileiro. São planaltos de altitude média, que variam
de 800 a 1300m, revestidos de bosques de araucárias e mosaicos de pradarias
mistas e bosquetes de pinhais que aparecem nas galerias ou nas encostas e, ainda
eventualmente, nas cabeceiras de drenagens. As rochas sedimentares e basálticas
possuem manto de alteração de profundidades variadas. As vertentes dos
chapadões tendem para um modelo convexo suave, não muito regular. Observa-
se uma mamelonização nos terrenos cristalinos gnáissicos que envolvem a bacia
de Curitiba, onde o domínio vegetal inclui o “pinhão-bravo”. Ocorrências de
stone lines são observadas em algumas regiões deste domínio. Estes locais de solos
superpostos, segundo o autor, devem corresponder a um período mais seco que
afetou a paisagem regional, como a área que se estende do sul de Lages, em Santa
Catarina, ao norte do Planalto de Vacaria, no Rio Grande do Sul.

As matas de araucárias são mais densas nos planaltos basálticos de médio


grau de movimentação do relevo. Manchas de campos são encontradas nas áreas
de afloramentos eventuais de arenitos. Quanto aos cerrados legítimos, ocorrem
em enclaves, no norte do Planalto de Purunã, nos chamados “gerais” do Paraná,
região fronteiriça a São Paulo.

Para Ab’Saber (2003) este domínio é marcado por diferenças pedológicas


e climáticas em relação aos demais planaltos similares no centro-sul do Brasil. As
precipitações são relativamente bem distribuídas o ano inteiro, garantindo um
caráter perene à sua rede de drenagem regional. A atuação de massas polares
é responsável por temperaturas mais baixas no sul do Brasil e, nas regiões mais
altas, como São Joaquim, Curitibanos e Lages, ocorrem fortes geadas e eventuais
precipitações de neve.

39
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

Este domínio possui as paisagens menos tropicais do país. Com a


devastação das áreas onde as araucárias possuíam maior biomassa, houve uma
ampliação dos campos subtropicais unidos aos enclaves de pradarias mistas
existentes na área. No nordeste do Rio Grande do Sul, na região conhecida como
“aparados” da Serra, as altas cornijas rochosas na beirada oriental da Serra Geral
e os pequenos canyons que talham as escarpas criam um belo quadro paisagístico,
como ressalta o autor.

2.6 DOMÍNIO DAS PRADARIAS MISTAS DO RIO GRANDE DO


SUL
Segundo Ab’Saber (2003), essa região possui algumas designações, como:
zona das coxilhas, região das campinas meridionais, Campanha Gaúcha e, de
uma forma equivocada, também é chamada de região dos Pampas.

Essa área possui cerca de 80 mil quilômetros quadrados e é considerada


uma área ecológica típica de zona temperada cálida subúmida, sujeita à estiagem
no final do ano. Trata-se de uma região de colinas pluriconvexizadas, chamada
de coxilhas. Possui prados mistos e região de drenagem perene, porém menos
densa e volumosa do que aquela encontrada no planalto basáltico sul-brasileiro.
Seus rios possuem pouco volume d’água e com uma rede hidrográfica pouco
densa. A vegetação ciliar, as chamadas “sangas” (córregos), foi muito devastada,
levando a um forte processo de aceleração da erosão fluvial. Segundo o autor,
áreas atualmente intermitentes das cabeceiras de drenagem parecem ter sido
perenes em um passado recente.

No domínio morfoclimático das pradarias mistas observam-se terrenos


sedimentares de diferentes idades, terrenos basálticos e pequenas áreas
metamórficas inseridas no escudo uruguaio-sul-rio-grandense. Ainda segundo
Ab’Saber (2003), também foram encontrados eventuais enclaves de araucárias
nas encostas do maciço de Caçapava do Sul e também ocorrência de cactáceas,
herança aparente de um paleoclima mais seco.

FIGURA 28 – PAMPAS

FONTE: Disponível em: <http://www.mma.gov.br/biomas>. Acesso


em: 8 ago. 2017.

40
TÓPICO 2 | AS PAISAGENS NATURAIS DO BRASIL

3 A BASE GEOLÓGICA DO RELEVO BRASILEIRO


Segundo Ross (2013), o território brasileiro é formado por estruturas
geológicas antigas, excetuando algumas bacias de sedimentação recente, como
a do Pantanal mato-grossense, parte ocidental da bacia amazônica e trechos do
litoral nordeste e sul, do período Terciário e do Quaternário (Cenozoico). O restante
do território tem idades geológicas que vão do Paleozoico ao Mesozoico, para as
grandes bacias sedimentares, e ao Pré-cambriano (Arqueozoico-Proterozoico),
para os terrenos cristalinos. O autor destaca que, apesar do território brasileiro
apresentar estruturas e formações litológicas antigas, as formas do relevo são
recentes, resultado dos desgastes erosivos que ocorrem constantemente, e por
isso estão permanentemente sendo reafeiçoadas. Assim, as formas grandes e
pequenas do relevo brasileiro têm como mecanismo genético:

 as formações litológicas e os arranjos estruturais antigos,


 os processos mais recentes associados à movimentação das placas tectônicas e
ao desgaste erosivo de climas pretéritos e atuais.

Grande parte das rochas e estruturas que sustentam as formas do relevo


brasileiro são antecedentes à atual conformação do continente sul-americano.
Segundo Ross (2013), esse formato é posterior à orogênese andina e a abertura
do oceano Atlântico, a partir do Mesozoico. Para o autor, pode-se dizer de forma
simplificada que as grandes estruturas que definem os macrocompartimentos de
relevo encontrados no Brasil são três:

 em plataformas ou crátons: correspondem aos terrenos mais antigos e


arrasados por inúmeras fases de erosão; possuem grande complexidade
litológica, prevalecendo as rochas metamórficas muito antigas (Pré-cambriano
Médio a Inferior); ocorrem rochas intrusivas antigas (Pré-cambriano Médio a
Superior); e resquícios de rochas sedimentares do Pré-cambriano Superior. São
três as áreas de plataformas ou crátons:

ᵒ a plataforma Amazônica;
ᵒ a do São Francisco;
ᵒ a Uruguaio-sulriograndense.

 cinturões orogênicos: são muito antigos, com diversas idades ao longo do Pré-
cambriano, como o do Atlântico, de Brasília e o Paraguai-Araguaia. Segundo
Ross (2013), essas são antigas cadeias montanhosas muito desgastadas pelas
várias fases erosivas, mas com aspecto serrano em grandes extensões. O autor
destaca que essas faixas foram no passado bacias sedimentares dobradas por
pressões da crosta. Tais sedimentos que passaram por dobramentos sofreram
metamorfização, intrusões e efusões vulcânicas. No caso do cinturão do
Atlântico, passaram por até três fases de dobramentos, acompanhados de
metamorfismo e intrusões alternados por longas fases erosivas (ROSS, 2013).

41
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

 grandes bacias sedimentares: sendo elas a Amazônica, do Parnaíba ou


Maranhão, do Paraná e do Parecis, formadas ao longo do Fanerozoico, com
sedimentos são do Paleozoico, do Mesozoico e do Cenozoico.

Vamos conhecer mais sobre macrocompartimentos de relevo brasileiro,


através da leitura do trecho da obra de Jurandyr Ross.

[...] Quando essas bacias se organizavam, os terrenos do continente


sul-americano encontravam-se em posições altimétricas bem mais
baixas. Os depósitos marinhos e continentais formaram as rochas
sedimentares das três grandes bacias. Assim, nelas são encontrados,
sobretudo, arenitos de diferentes idades e granulações, às vezes
intercalados por siltitos, argilitos, conglomerados e calcários.
Especificamente, na bacia do Paraná ocorreu, no Jurássico, extensivo
derrame de lavas vulcânicas, que se acomodaram sobre as camadas
sedimentares em planos horizontais e estratificados. Os depósitos do
Cenozoico – período Terciário – são encontrados mais extensivamente
na parte ocidental da bacia amazônica e no litoral. Já os sedimentos
Cenozoicos – período Quaternário – são mais extensivos no Pantanal
do Mato Grosso, no litoral do Rio Grande do Sul, na ilha do Bananal
no rio Araguaia e nas planícies que margeiam o rio Amazonas e os
baixos cursos de seus afluentes. No Mesozoico (período Cretáceo)
ocorreu a última fase de deposição extensiva nas bacias sedimentares
do Brasil, com exceção da amazônica, que recebeu sedimentos
ao longo do Terciário. No Cenozoico (Terciário) o continente sul-
americano sofreu em seu conjunto soerguimentos orogenéticos na
borda ocidental (cordilheira dos Andes) e epirogenético em todo o
restante. Esse soerguimento atingiu o território brasileiro de modo
desigual, sendo que algumas áreas foram mais levantadas e outras
bem menos. Esse processo, associado à tectônica de placas, soergueu
tanto as áreas dos crátons como os antigos cinturões orogênicos e
as bacias sedimentares. Foi através da epirogênese cenozoica que
as bacias sedimentares ficaram em níveis altimétricos elevados. A
partir desse processo tectônico desencadeou-se um prolongado e
generalizado desgaste erosivo que atuou sobre as bacias sedimentares,
originando em suas bordas as depressões periféricas. Desse modo,
parte dos terrenos sedimentares ficou em posição mais elevada do que
os terrenos cristalinos das áreas serranas dos cinturões orogênicos. Os
processos erosivos que ocorreram tanto na fase de epirogênese, no
Terciário e Quaternário, foram de diferentes características. Ao longo
de mais de 70 milhões de anos o desgaste erosivo processou-se em
ambientes climáticos oscilando entre quentes e úmidos, e áridos ou
semiáridos [...] ROSS (2013, s.p.).

A figura a seguir apresenta o mapa de Ross (2013), elaborado considerando


os conceitos de Morfoestrutura e Morfoescultura, a divisão do relevo do Brasil
em Unidades Morfoesculturais (incluindo o morfoestrutural).

42
TÓPICO 2 | AS PAISAGENS NATURAIS DO BRASIL

FIGURA 29 – UNIDADES MORFOESTRUTURAIS DO BRASIL

FONTE: Disponível em: <https://blogdoenem.com.br/relevo-brasileiro-geografia-enem/>.


Acesso em: 7 ago. 2017.

4 BIOMAS DO BRASIL
As formações campestres são constituídas por tipologias de vegetação
abertas, mapeadas como: savana, correspondente ao Cerrado que predomina no
Brasil central, mas também encontrada em pequenas áreas em outras regiões do
país; savana estépica que abrange a caatinga nordestina, os campos de Roraima,
o Pantanal mato-grossense e uma pequena ocorrência no extremo-oeste do Rio
Grande do Sul; estepe que corresponde aos campos do planalto e da campanha, no
Sul do Brasil; e a campinarana, tipo de vegetação decorrente da falta de nutrientes
minerais no solo e que ocorre na Amazônia, na bacia do rio Negro (IBGE, 2004).

O bioma brasileiro de maior extensão é a Amazônia e o de menor extensão


é o Pantanal, ocupando juntos mais de metade do território brasileiro: o Bioma
Amazônia, com 49,29%, e o Bioma Pantanal, com 1,76% do território brasileiro.
Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica e Pampa são os demais biomas do Brasil.

Na época do descobrimento, observava-se a ocorrência de dois grandes


conjuntos vegetacionais no Brasil: um florestal, ocupando mais de 60% do
território nacional, e outro campestre.

As formações florestais são constituídas pelas  florestas ombrófilas  (em


que não falta umidade durante o ano) e estacionais (em que falta umidade num
período do ano) situadas tanto na região amazônica quanto nas áreas extra-

43
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

amazônicas, mais precisamente na Mata Atlântica. Na Amazônia, predominam


as florestas ombrófilas densas e abertas, com árvores de médio e grande porte,
com ocorrência de cipós, bromélias e orquídeas. Quanto às florestas extra-
amazônicas, compõem a Mata Atlântica, com predomínio das florestas estacionais
semideciduais, em que 20% a 50% das árvores perdem as folhas no período seco
do ano; e as florestas ombrófilas densas e mistas, com araucária. Nesses conjuntos
florestais ocorrem, em menor proporção, as  florestas estacionais deciduais,  em
que mais de 50% das árvores perdem folhas no período seco (IBGE, s.d.).

As formações campestres são constituídas por tipologias de vegetação


abertas, mapeadas como: savana, correspondente ao Cerrado que predomina no
Brasil central, mas também encontrada em pequenas áreas em outras regiões do
país; savana estépica que abrange a caatinga nordestina, os campos de Roraima,
o Pantanal mato-grossense e uma pequena ocorrência no extremo-oeste do Rio
Grande do Sul; estepe que corresponde aos campos do planalto e da campanha,
no Sul do Brasil; e a  campinarana, tipo de vegetação decorrente da falta de
nutrientes minerais no solo e que ocorre na Amazônia, na bacia do rio Negro.

FONTE: Disponível em: <https://ww2.ibge.gov.br/home/presidencia/


noticias/21052004biomashtml.shtm>. Acesso em: 25 jan. 2018.

Outros tipos vegetacionais observados no país são as áreas das formações


pioneiras, que compreendem a vegetação das restingas, dos manguezais e dos
alagados, além das  áreas de tensão ecológica, nas quais acontecem os contatos
entre tipos de vegetação e os refúgios vegetacionais, onde a vegetação em geral é
constituída por comunidades relíquias.

Vamos agora conhecer brevemente algumas características dos biomas do


Brasil mapeados pelo IBGE.

O Bioma Amazônia é definido pela unidade de clima, fisionomia florestal


e localização geográfica. A Amazônia é também a maior reserva de diversidade
biológica do mundo. O Bioma Mata Atlântica ocupa a faixa continental atlântica
leste brasileira, se estendendo para o interior no Sudeste e Sul do país. Esse bioma
é definido pela vegetação florestal predominante e relevo diversificado. O Pampa
é o bioma restrito ao Rio Grande do Sul. Se define por um conjunto de vegetação
de campo em relevo de planície. O Cerrado é o segundo bioma do Brasil em
extensão, cuja vegetação predominante dá nome de Cerrado. Este bioma se
estende desde o litoral maranhense até o Centro-Oeste. O Bioma Caatinga é típico
do clima semiárido do sertão nordestino. A figura a seguir apresenta os biomas
brasileiros. Observe:

44
TÓPICO 2 | AS PAISAGENS NATURAIS DO BRASIL

FIGURA 30 – BIOMAS BRASILEIROS

FONTE: Disponível em: <http://7a12.ibge.gov.br/vamos-conhecer-o-brasil/nosso-territorio/


biomas.html>. Acesso em: 7 ago. 2017.

5 CLIMA
Como vimos anteriormente, o território brasileiro possui sua maior
parte localizada na zona térmica tropical e uma porção na zona temperada, ou
seja, grande parte do território está localizada entre o Equador e o Trópico de
Capricórnio. Contudo, existem outros fatores que influenciam o clima, além da
posição astronômica, como as massas de ar que atuam no Brasil, continentalidade,
maritimidade e altitude.

45
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

Neste tópico, vocês conhecerão algumas classificações climáticas, baseadas


no panorama dos sistemas de classificação realizado por Nascimento, Luiz e
Oliveira (2016). Segundo os autores, as classificações climáticas se baseiam na
delimitação e descrição de diferentes parâmetros climáticos. Contudo, ressaltam
que não é possível delimitar com exatidão os limites climáticos, porque o que se
constata é uma transição gradual de um tipo climático para outro.

Os primeiros escritos sobre diferentes climas do mundo são de autoria


de filósofos, matemáticos, astrônomos e pensadores gregos. Devido ao
desenvolvimento de instrumentos meteorológicos, observou-se um incremento
na quantidade de classificações climáticas, após o século XVII, realizadas por
diferentes abordagens (NASCIMENTO; LUIZ; OLIVEIRA, 2016).

Segundo os referidos autores, e de acordo com a literatura sobre o tema,


dentre os sistemas de classificação climática há duas abordagens principais: a
empírica e a genética.

1 Empírica: fundamentada na descrição de um elemento ou da combinação de


vários elementos ou características do clima, como a de Koppen-Geiger (1961),
Miller (1965) e Thornthwaite e Matter (1955).
2 Genética: baseada nos controladores ou fatores climáticos, como as classificações
propostas por Flohn (1950) e de Strahler (1951).

Em 1918, Wladimir Koppen publicou um sistema de classificação


climática e, em 1961, Rudolf Geiger propôs uma modificação para o sistema de
Koppen, passando a ser considerada como classificação Koppen-Geiger. Essa
classificação relaciona o clima com a vegetação e se baseia em critérios numéricos
da temperatura média do mês mais frio para definir cinco regiões climáticas
principais: tropical, árida, temperada, fria e polar, representadas por letras
maiúsculas – A, B, C, D e E, respectivamente. Com base na distribuição sazonal da
precipitação e nas características de temperatura, este sistema divide-se em tipos
e subtipos representados por letras minúsculas. Os critérios para determinação
das regiões, tipos e subtipos climáticos indicados na classificação, e as letras
correspondentes, são detalhados no quadro a seguir.

46
TÓPICO 2 | AS PAISAGENS NATURAIS DO BRASIL

QUADRO 1 – CRITÉRIOS EMPREGADOS NA PROPOSTA DE KOPPEN-GEIGER (1961), PARA


DEFINIÇÃO DA REGIÃO CLIMÁTICA. TEMPERATURA DO MÊS MAIS FRIO

Critérios empregados na proposta de Koppen-Geiger (1961), para definição


da região climática. Temperatura do mês mais frio
O mês mais frio tem temperatura média superior a
A Clima Tropical 18°C. A isoterma de inverno de 18°C é crítica para a
sobrevivência de certas plantas tropicais.
A evapotranspiração potencial média anual é maior do
que a precipitação média anual. Não existe excedente
B Clima Árido
de água, por isso nenhum rio permanente origina-se
aqui.
O mês mais frio tem temperatura média entre -3°C e
18ºC. O mês mais moderadamente quente tem uma
temperatura média maior do que 10°C. A isoterma
de 10°C no verão correlaciona-se com o limite, na
C Clima Temperado
direção do polo, do crescimento de árvores e a
isoterma de -3°C indica o limite na direção do Equador
do permafrost (subcamada do solo constantemente
congelada).
O mês mais frio tem temperatura média abaixo de -3°C
D Clima Frio e o mês mais moderadamente quente tem temperatura
média maior que 10°C.
O mês mais moderadamente quente tem
temperatura média menor do que 10°C. O mês mais
E Clima Polar moderadamente quente de ET tem temperatura média
entre 0°C e 10°C. O mês mais moderadamente quente
de EF tem temperatura média menor do que 0°C.
Nenhuma estação
f seca, úmido o ano
todo
w Chuva de verão
Com uma breve estação seca e com chuvas intensas
m De monção
durante o resto do ano.
Estação seca de
w
inverno
Estação seca de
s
verão
FONTE: Adaptado de Nascimento, Luiz e Oliveira (2016)

47
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

Critérios empregados na proposta de Koppen-Geiger (1961), para definição do


subtipo climático. Características adicionais de temperatura
O mês mais quente tem temperatura
a Verão quente
média maior do que 22°C
O mês mais quente tem temperatura
b Verão moderadamente quente
média inferior a 22°C
Verão breve e moderadamente Menos do que quatro meses têm
c
frio temperatura média maior do que 10°C
O mês mais frio tem temperatura
d Inverno muito frio
média menor do que -10°C
Temperatura média anual maior do
h Quente
que 18°C
Temperatura média anual menor do
k Moderadamente frio
que 18°C
FONTE: Nascimento, Luiz e Oliveira (2016). Adaptado de Ayode (2003)

A classificação climática de KoppenGeiger foi atualizada com dados de


1951 a 2000 por Kottek e colaboradores (2006), como pode ser observado na figura
a seguir.

48
TÓPICO 2 | AS PAISAGENS NATURAIS DO BRASIL

FIGURA 31 – CLASSIFICAÇÃO CLIMÁTICA KOPPEN-GEIGER

FONTE: Disponível em: <http://www.forest-gis.com/2013/02/classificacao-climatica-de-koppen.


html>. Acesso em: 8 ago. 2017.

49
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

De acordo com Nascimento, Luiz e Oliveira (2016), para o território


brasileiro destacam-se como principais sistemas de classificação climática os
propostos por Morize, Delgado de Carvalho, Peixoto, Guimarães e Bernardes.
Contudo, pela simplicidade de sua proposta e grande abrangência das zonas
climáticas definidas, o sistema de Bernardes é um sistema de classificação
climática amplamente empregado em atlas geográficos e livros didáticos.

A figura a seguir apresenta a classificação de Bernardes (1951), baseada


nos princípios de Koppen, empregando os critérios de temperatura, precipitação e
sua distribuição durante as estações do ano. A classificação dos climas brasileiros
de Bernardes (1951) apresenta cinco zonas:

 equatorial;
 tropical zona equatorial;
 tropical nordeste oriental;
 tropical brasil central;
 temperado.

50
FIGURA 32 – CLASSIFICAÇÃO CLIMÁTICA DO BRASIL PROPOSTA POR BERNARDES (1951)
Clima
-70° -60° -50° -40° Legenda
Quente (média > 18º C em todos os meses do ano)
O Superúmido sem seca/subseca
Boa Vista C
E
A
AMAPÁ N
O Úmido com 1 a 3 meses secos
RORAIMA
Macapá
Equador Semi-úmido com 4 a 5 meses secos
0° A 0°
T
L

Â
Belém Semi-árido com 6 a 8 meses secos

N
T
I
São Luís
Semi-árido com 9 a 11 meses secos

C
O
Fortaleza Atol
Manaus das Rocas
MARANHÃO Subquente (média entre 15º C e 18º C em pelo menos 1 mês)
CEARÁ RIO GRANDE Arquip. de
AMAZONAS Fernando
DO NORTE de Noronha Superúmido sem seca/subseca
Teresina
Natal
Úmido com 1 a 3 meses secos
PARAÍBA
P A R Á João Semi-úmido com 4 a 5 meses secos
PIAUÍ Pessoa
PERNAMBUCO Recife
ACRE Porto Mesotérmico Brando (média entre 10º C e 15º C)
Velho
ALAGOAS
Rio Branco
Palmas Maceió Superúmido sem seca/subseca
-10° -10°
TOCANTINS
Aracaju Úmido com 1 a 3 meses secos
RONDÔNIA SERGIPE
M ATO GROSSO
BAHIA Semi-úmido com 4 a 5 meses secos

51
Salvador
Mesotérmico Mediano (média < 10º C)
Cuiabá DF Úmido com 1 a 3 meses secos
GOIÁS
BRASÍLIA
Goiânia

MINAS GERAIS Arquip. de Abrolhos

MATO GROSSO
Belo
DO SUL Horizonte
ESPÍRITO SANTO Climas zonais
Campo Grande
-20°
Vitória
-20°
SÃO PAULO O
C
I
T
RIO DE JANEIRO N
Â
Rio de Janeiro L
T
A
São Paulo

P A C Í F I C O
Trópico
PARANÁ de Ca
pricórn
io

Curitiba

O
SANTA CATARINA N
A
Florianópolis E
C
O

RIO GRANDE DO SUL


Equatorial

O C E A N O
Porto Alegre
Tropical Zona Equatorial
120 0 240 km Tropical Nordeste Oriental
-30°
-30°
Projeção Policônica
Nota: Atualizado pela Diretoria de Geociências, Coordenação Meridiano de Referência: -54º W. Gr Tropical Brasil Central
Paralelo de Referência: 0 º
de Recursos Naturais e Estudos Ambientais, em 2002.
-70° -60° -50° -40° -30° Temperado
Fonte: Mapa de clima do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2002. 1 mapa. Escala 1:5 000 000. Disponível em: <http://mapas.ibge.gov.br/tematicos.html>. Acesso em: abr. 2016.
www.ibge.gov.br 0800 721 8181
TÓPICO 2 | AS PAISAGENS NATURAIS DO BRASIL

FONTE: Disponível em: <http://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/mapas_brasil/brasil_clima.pdf>. Acesso em: 7 ago. 2017.


UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

DICAS

Caro acadêmico! Se quiser conhecer mais sobre as diversas classificações


climáticas, consulte a obra “Panorama dos sistemas de classificação climática e as diferentes
tipologias climáticas referentes ao Estado de Goiás e ao Distrito Federal (Brasil)”, referenciada
no final desta unidade. Bom estudo!

6 HIDROGRAFIA
Agora vamos falar das principais bacias hidrográficas do Brasil. Para isso,
vamos usar o conceito de bacia de um dos maiores estudiosos dessa área, Carlos
Tucci.

Segundo Tucci e Mendes (2006), para cada seção de um rio existirá uma
bacia hidrográfica. Considerando esta seção, ressaltam os autores, a bacia é toda
a área que contribui por gravidade para os rios até chegar à seção que define a
bacia. Ela é definida pela topografia da superfície, mas a geologia do subsolo
pode fazer com que parte do escoamento que infiltra escoe para fora da área
delimitada superficialmente. Para uma melhor compreensão do que é uma bacia
hidrográfica, Tucci e Mendes mencionam suas características principais. São elas:

 a área de drenagem;
 o comprimento do rio principal;
 a declividade do rio; e
 a declividade da bacia.

De modo geral, os rios apresentam um trecho superior, onde a declividade


não é muito grande, seguido e por um trecho médio de grande declividade e
declividade pequena no seu trecho inferior onde o rio tende a meandrar (TUCCI;
MENDES, 2006).

E
IMPORTANT

Para esclarecer melhor, vamos ver outro conceito de bacia extraído do caderno
de capacitação dos recursos hídricos, da Agência Nacional de Águas. De acordo com a ANA,
Bacia hidrográfica é a região compreendida por um território e por múltiplos cursos d’água.
Da precipitação que cai no interior da bacia, parte escoa pela superfície e parte infiltra no
solo. A água superficial escoa até um curso d’água (rio principal) ou um sistema conectado
de cursos d’água afluentes; tais águas, geralmente, são descarregadas por meio de uma única
foz (ou exutório) situada no ponto mais baixo da região. Da parcela que foi infiltrada, uma
parte escoa para os leitos dos rios, outra parte é evaporada por meio da transpiração da
vegetação e outra é contida no subsolo compondo os aquíferos subterrâneos (ANA, 2011).

52
TÓPICO 2 | AS PAISAGENS NATURAIS DO BRASIL

De acordo com Jacobi e Francalanza (2005), o modelo brasileiro de gestão


das águas foi inspirado principalmente no modelo francês, no qual a participação
da sociedade na gestão das águas estruturou-se em 1964. Para exemplificar, na
França, pela Lei das Águas de 1964 foram delimitadas seis áreas territoriais para
gerenciamento das águas, com base nas bacias hidrográficas do país. Para cada
área de gestão foram implantados um Comitê e uma Agência financeira de bacia,
sendo que a Agência financeira foi nomeada em novembro de 1991 como Agência
de Água. Em 1992, a nova Lei da Água aperfeiçoou e descentralizou o sistema,
formando um procedimento de planejamento que passou a funcionar a partir
da elaboração de Planos-diretores de Aproveitamento e Gestão das Águas que
levam em consideração os programas definidos pelas coletividades públicas.

Então, o comitê de bacia hidrográfica (CBH) significa o fórum em que


um grupo de pessoas se reúne para discutir sobre um interesse comum – o uso
d’água na bacia.

6.1 BACIAS HIDROGRÁFICAS DO BRASIL


As características gerais de cada uma das principais bacias hidrográficas
brasileiras foram extraídas do Portal Brasil.

QUADRO 2 – CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS PRINCIPAIS BACIAS HIDROGRÁFICAS

Bacia hidrográfica Características


Considerada a rede hidrográfica mais extensa do mundo.
Ocupa uma área total de 7.008.370 km2, desde as nascentes,
nos Andes Peruanos, até sua foz no Oceano Atlântico. Em
Bacia Amazônica
território brasileiro ficam 64,88% (ou 3.843.402 km2) desse
total e o restante está dividido entre a Colômbia (16,14%),
Bolívia (15,61%), Equador (2,31%), Guiana (1,35%), Peru
(0,60%) e Venezuela (0,11%).
Com uma área total de 967.059 km², ocupa 11% do território
nacional. O Tocantins nasce no planalto de Goiás, a cerca
Bacia Tocantins-
de 1.000 metros de altitude. Possui 1.960 km de extensão
Araguaia
até sua junção com o rio Araguaia. Em seus 2.600 km, o
Araguaia abriga a maior ilha fluvial do mundo – a Ilha do
Bananal –, com 350 km de comprimento e 80 km de largura.
O rio Paraguai nasce na Chapada dos Parecis, no Mato
Grosso. Sua bacia hidrográfica abrange uma área de
1.095.000 km², sendo 33% no Brasil e o restante na Argentina,
Bacia do Paraguai Bolívia e Paraguai. A região se divide em duas áreas
principais hidrográficas: Planalto (215.963 km²), com terras
acima de 200 metros de altitude, e Pantanal (147.629 km²),
que são terras abaixo de 200 metros de altitude, com baixa
capacidade de drenagem e sujeitas a grandes inundações.

53
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

Localizada no Estado do Maranhão e em uma pequena


Bacia Atlântico
porção oriental do Pará, possui uma área de 254.100 km2.
Nordeste
A bacia abrange 233 municípios, sendo 9% no Pará e 91%
Ocidental
no Maranhão.
Essa bacia não tem grandes rios, portanto, apresenta baixa
disponibilidade de água em relação à demanda local,
principalmente em períodos de estiagem. Os 287.348 km2 (3%
Bacia Atlântico
do território brasileiro) dessa bacia atingem cinco Estados do
Nordeste Oriental
Nordeste e suas capitais, dezenas de núcleos urbanos e um
grande parque industrial. A região reúne diversas bacias
costeiras de pouca extensão. O litoral de Alagoas inclui o
delta do rio São Francisco, compartilhado com Sergipe.
A região é de grande importância para o Brasil e tem o
maior desenvolvimento econômico do país, atingindo 32%
da população brasileira. Esta bacia ocupa 10% do território
nacional (879.860 km²). O rio Paraná possui uma extensão
Bacia do Paraná de 2750 km até sua foz e é seu principal formador. A bacia
do Paraná também é a que possui a maior capacidade de
produção (59,3% do total nacional) e demanda (75% do
consumo nacional) de energia do país. Existem 176 usinas
hidrelétricas na região, com destaque para Itaipu, Furnas,
Porto Primavera e Marimbondo.
Com 344.112 km2 de área (3,9% do território nacional), a
Bacia do Parnaíba ocupa 99% do Piauí, 19% do Maranhão
e 10% do Ceará. No Piauí, a água subterrânea representa a
principal fonte de abastecimento da população. Em áreas
semiáridas, nas quais muitos rios são intermitentes, é a única
Bacia do Parnaíba
alternativa para os habitantes. Parte da bacia do Parnaíba é
marcada por um elevado índice de pobreza. Nessa região, a
utilização média de água por hectare é superior à média do
Brasil. Um dos motivos para isso é a intensa perda de água
para a atmosfera, causada pela evaporação a partir do solo
e pela transpiração das plantas.
Conhecido como o rio da integração nacional, o São Francisco
tem sido cenário de fatos históricos do país. Sua região
hidrográfica abrange sete Estados: Minas Gerais, Distrito
Federal, Goiás, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe.
Com cerca de 2.700 km de extensão, o São Francisco nasce
na Serra da Canastra (MG) e corre para o norte, seguindo
Bacia do São
até Pernambuco, onde muda o percurso para o Sudeste
Francisco
e deságua no Oceano Atlântico entre Alagoas e Sergipe.
Ao todo são 168 afluentes, dos quais 99 constantes e 69
intermitentes. As hidrelétricas da bacia do São Francisco
são responsáveis por grande parte do abastecimento de
energia da Região Nordeste. São 33 usinas em operação –
nove no próprio rio São Francisco. Além disso, as barragens
também são usadas para abastecimento, lazer e irrigação.

54
TÓPICO 2 | AS PAISAGENS NATURAIS DO BRASIL

Com uma área que corresponde a 8% do país (374.677 km²),


Bacia do Atlântico a região hidrográfica do Atlântico Leste inclui parte dos
Leste Estados de Sergipe, Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo.
Atinge 526 cidades, alguns grandes núcleos urbanos e um
parque industrial.
Região mais populosa do país, o Sudeste também possui
o maior polo econômico e industrial do Brasil. Por isso, a
região hidrográfica do atlântico sudeste – distribuída pelos
Bacia do Atlântico Estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São
Sudeste Paulo e o litoral do Paraná - possui grande importância no
cenário econômico nacional. Com uma área de 229.972 km2,
equivalente a 2,7% do território brasileiro, seus principais
rios são o Paraíba do Sul e Doce, com respectivamente 1.150
e 853 km.
A região hidrográfica Atlântico Sul tem início na divisa
dos Estados de São Paulo e Paraná e se estende até o
Arroio Chuí, no extremo sul do país. Com uma área total
Bacia do Atlântico de 185.856 km2 (2% do país), a região abrange partes dos
Sul Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Na
bacia do Atlântico Sul, predominam rios de pequeno porte
que escoam diretamente para o mar. As exceções mais
importantes são os rios Itajaí e Capivari, em Santa Catarina,
que apresentam maior volume de água.
Com 2.200 km de extensão, o rio Uruguai nasce na junção dos
rios Pelotas e Peixe, e segue em direção ao oeste dividindo
os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Em
seu caminho, ele também se une com o rio Peperi-Guaçu,
servindo de fronteira entre Brasil e Argentina. Seguindo
na direção sudoeste, o Uruguai se une com o rio Quaraí
(que limita o Brasil e o Uruguai) e daí toma a direção sul,
Bacia do Uruguai
passando a dividir Argentina e Uruguai até a sua foz. A
região hidrográfica do Uruguai tem grande importância
para o país, pois atende a agroindústria e tem grande
potencial hidrelétrico. Junto com as regiões hidrográficas
do Paraná e Paraguai, ela forma a grande bacia do Prata. A
bacia do Uruguai se divide entre os Estados do Rio Grande
do Sul e Santa Catarina. Sua área total 385.000 km2, sendo
que 45% em território nacional.
FONTE: Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2009/10/rios-e-bacias-do-
brasil-formam-uma-das-maiores-redes-fluviais-do-mundo>. Acesso em: 25 jan. 2018.

O Atlas Brasil, desenvolvido pela Agência Nacional de Águas (ANA),


traça o panorama nacional do abastecimento urbano de água no país desde o ano
de 2005. As figuras a seguir trazem alguns resultados dos estudos realizados pela
ANA sobre as demandas médias para abastecimento urbano, disponibilidade
hídrica das regiões hidrográficas, e os principais sistemas aquíferos para

55
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

abastecimento urbano de água. Os índices de aproveitamento hidrelétrico das


bacias hidrográficas brasileiras foram obtidos da Eletrobrás. O mapa das bacias
hidrográficas brasileiras está representado na figura a seguir.
QUADRO 3 – DEMANDAS MÉDIAS PARA ABASTECIMENTO URBANO

FONTE: ANA (2010)

QUADRO 4 – DISPONIBILIDADE HÍDRICA DAS REGIÕES HIDROGRÁFICAS

FONTE: ANA (2010)

56
TÓPICO 2 | AS PAISAGENS NATURAIS DO BRASIL

QUADRO 5 – PRINCIPAIS SISTEMAS AQUÍFEROS PARA ABASTECIMENTO URBANO DE ÁGUA

Fonte: ANA (2010)

QUADRO 6 – ÍNDICES DE APROVEITAMENTO HIDRELÉTRICO DAS BACIAS


HIDROGRÁFICAS BRASILEIRAS
Capacidade
Bacia
Instalada (MW)
Bacia do Rio Amazonas 667,3 0,010077
Bacia do Rio Tocantins 7729,65 0,11673
Bacia do Atlântico Norte/Nordeste 300,92 0,004544
Bacia do Rio São Francisco 10289,64 0,15539
Bacia do Atlântico Leste 2589 0,039098
Bacia do Rio Paraná 39262,81 0,592931
Bacia do Rio Uruguai 2859,59 0,043184
Bacia do Atlântico Sudeste 2519,32 0,038046
Brasil 66218,23 1
FONTE: Eletrobras (2003)

57
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

FIGURA 33 – BACIAS HIDROGRÁFICAS DO BRASIL

FONTE: Disponível em: <http://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/mapas_brasil/brasil_bacias.


pdf>. Acesso em: 7 de ago. 2017.

DICAS

Para visualizar os mapas e as outras imagens de forma colorida, acesse a trilha


da disciplina em seu AVA e busque a versão em pdf desse livro!

58
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você estudou que:

• A diversidade das paisagens naturais do Brasil, explicada pela grande variação


no relevo, da geologia, dos tipos de solos e das condições climáticas.

• As diferentes formações vegetais e os principais biomas brasileiros: Amazônica,


Mata Atlântica, Cerrado, Pantanal, Caatinga, Pantanal e Pampa.

• Os diferentes elementos que compõem uma paisagem (relevo, clima, vegetação,


hidrografia, solo, fauna etc.) explicam os distintos domínios morfoclimáticos
no Brasil.

• Os domínios morfoclimáticos do Brasil são: Domínio Amazônico, Domínio das


Caatingas, Domínio dos Cerrados, Domínio dos Mares de Morros, Domínio
das Araucárias, Domínio das Pradarias e faixas de transição.

• Uma breve história dos primeiros escritos sobre diferentes climas do mundo e
as diferentes classificações climáticas.

• As principais bacias hidrográficas, as demandas médias para abastecimento


urbano, disponibilidade hídrica das regiões hidrográficas e os principais
sistemas aquíferos para abastecimento urbano de água.

59
AUTOATIVIDADE

1 ENADE (2014) A noção de escala é inseparável do estudo das paisagens.


Cada disciplina especializada no estudo de um aspecto da paisagem se
apoia em um sistema de delimitação mais ou menos esquemático formado
de unidades homogêneas (ao menos em relação à escala considerada) e
hierarquizadas, que se encaixam umas nas outras. A esse respeito, Bertrand
(2004) e Ab’Saber (1967) propõem classificações de unidades de paisagem.

ENADE (2014). Adaptado de Bertrand (2004)

60
ENADE (2014). Adaptado de Ab’Saber (1967)

Com base na classificação proposta por Bertrand e na classificação de Ab’Saber,


avalie as afirmações a seguir.

I- Embora diversos fatores contribuam para a configuração da paisagem,


como vegetação, clima, relevo e solos, tanto a classificação de Bertrand,
como a dos domínios morfoclimáticos de Ab’Saber, têm como eixo
principal o solo, pois esse atua sempre como uma variável independente.
II- A classificação de Bertrand considera diferentes escalas espaçotemporais
para a análise da paisagem; enquanto a classificação dos domínios
morfoclimáticos de Ab’Saber é limitada a um nível escalar específico de
análise.
III- Os domínios morfoclimáticos brasileiros segundo a classificação de
Ab’Saber se enquadrariam nos níveis de unidade de paisagem “zona” ou
“domínio” da classificação de Bertrand, sendo o domínio amazônico um
exemplo do primeiro caso, e os mares de morros exemplo do segundo
caso.

61
É correto o que afirma em:
a) ( ) I, apenas.
b) ( ) III, apenas.
c) ( ) I e III, apenas.
d) ( ) I, II e III

2 (ENADE, 2014) A atual proposta de identificação das macrounidades do


relevo brasileiro, elaborada por Jurandyr Ross, é composta por 28 unidades
que, divididas por critérios geomorfológicos, apresentam três tipos que
refletem suas gêneses: os planaltos, as depressões e as planícies. Os planaltos
e serras do Atlântico leste e sudeste, dentro da unidade dos planaltos e
serras do Atlântico leste e sudeste, compõem o domínio dos(das):

a) ( ) mares de morros.
b) ( ) araucária.
c) ( ) pradarias.
d) ( ) caatingas.
e) ( ) cerrados.

3 Pesquisa sobre o potencial para a geração de energia dos rios da Bacia


Amazônica e dos rios da região Centro-Sul do Brasil e discorra sobre as
características principias das bacias em questão quanto ao potencial
hidrelétrico.

62
UNIDADE 1
TÓPICO 3

FONTES DE ENERGIA

1 INTRODUÇÃO
O Brasil possui uma diversidade de fontes de energia, porém quase 70%
da energia gerada e consumida no país vem da energia hidráulica (cerca de 40%),
seguida do petróleo (cerca de 30%). As demais fontes de energia são a biomassa,
o carvão mineral, o gás natural e a nuclear.

Com o aumento da população e dos padrões de consumo, aumentam


também os debates envolvendo as questões energéticas. No Brasil, a base
energética gira em torno das hidrelétricas, tendo em vista que o país possui uma
disponibilidade hídrica considerável.

 De acordo com Martins e Guerra (2016), o consumo final de energia por fonte
no Brasil é da seguinte forma:
 os combustíveis fósseis respondem por 57,7%, com destaque para o petróleo
com 39,3%, gás natural com 12,8% e carvão mineral com 5,6%;
 outras fontes, como biomassa da cana com 16,1%, a hidráulica com 12,5%,
lenha e carvão vegetal com 8,3% e lixívia e outras renováveis com 4,2%.

Dessa forma, afirmam os autores que as energias renováveis na matriz


energética brasileira têm a participação mais elevada do mundo, com 41%, sendo
que a média mundial é de 13%. É interessante notar a queda da energia hidráulica.
Sua participação foi menor devido à irregularidade das chuvas, fazendo com
que a participação das energias renováveis caísse de 42,3% da matriz energética
brasileira para 41%.

Sobre a geração de energia elétrica no Brasil, é importante conhecer


algumas estatísticas. De acordo com Brasil (2015), a geração de energia elétrica
no Brasil em centrais de serviço público e autoprodutores atingiu 590,5 TWh
em 2014, resultado 3,4% superior ao de 2013. As centrais elétricas de serviço
público contribuíram com 84,1% da geração total, ficando como principais
contribuintes. O balanço energético nacional também mostrou que a principal
fonte de geração de energia elétrica foi a hidráulica, embora tivesse apresentado
uma redução de 4,5% em relação ao ano anterior. A geração elétrica a partir de
não renováveis representou 26,9% do total nacional, contra 23,3% em 2013. A
geração de autoprodutores (APE) teve uma participação, em 2014, de 15,9% do
total produzido, alcançando um montante de 94,0 TWh. Desse total, 52,2 TWh
são produzidos e consumidos pela própria instalação geradora, usualmente

63
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

denominada como APE não injetada na rede elétrica. A autoprodução não


injetada reúne as mais variadas instalações industriais que produzem energia
para consumo próprio, como os setores de Papel e Celulose, Siderurgia, Açúcar e
Álcool, Química, entre outros, além do Setor Energético (BRASIL, 2015).

A figura a seguir refere-se à matriz energética brasileira, cujo ano base


é 2014. Para obter maiores informações sobre o balanço energético nacional,
consulte “Balanço energético nacional: ano base 2014”.

FIGURA 34 – MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA

FONTE: Brasil (2015)

2 ENERGIA HIDRÁULICA
Em termos absolutos, os cinco maiores produtores de energia hidrelétrica
no mundo são Canadá, China, Brasil, Estados Unidos e Rússia, respectivamente.
Em 2001, esses países foram responsáveis por quase 50% de toda a produção
mundial de energia hidrelétrica. No Brasil, pouco menos de 60% da capacidade
hidrelétrica instalada está na Bacia do Rio Paraná. Outras bacias importantes
são a do São Francisco e a do Tocantins, com 16% e 12%, respectivamente, da
capacidade instalada no país. As bacias com menor potência instalada são as do
Atlântico Norte/Nordeste e Amazonas, que somam apenas 1,5% da capacidade
instalada no Brasil (BRASIL, 2017).

De acordo com Silva (2014), o Brasil, uma das maiores potências


econômicas do planeta, para manter e avançar esse desenvolvimento econômico
demanda grande quantidade de energia elétrica. Portanto, questiona o foco dado
à construção de usinas hidrelétricas com pequenos reservatórios, ou seja, com
pequena reserva de energia elétrica.

Silva (2014) menciona as vantagens e desvantagens da implementação de


reservatórios procedentes do barramento do curso d’água, elencadas por Tundisi
(2003), que representa uma das grandes alterações do ciclo hidrológico e de

64
TÓPICO 3 | FONTES DE ENERGIA

impactos ambientais no meio ambiente.

Quanto aos impactos ambientais positivos, Silva (2014) aponta:

• produção de energia – hidroeletricidade;


• retenção de água no local;
• fonte de água potável e para sistemas de abastecimento;
• maior prosperidade para setores das populações locais;
• criação de oportunidades de recreação e turismo;
• proteção contra cheias das áreas a jusante;
• aumento das possibilidades de pesca;
• armazenamento de água para períodos de seca;
• aumento do potencial para irrigação;
• geração de empregos;
• promoção de novas alternativas econômicas regionais;
• controle de enchentes;
• aumento de produção de peixes por aquicultura.

Dentre diversos impactos ambientais negativos apontados pelo autor, figuram:

• deslocamento das populações;


• problemas de saúde pela propagação de doenças hidricamente transmissíveis;
• perda de espécies nativas de peixes de rios;
• perda de terras férteis e de madeira;
• perda de várzeas e ecótonos terra/água; perda de terrenos alagáveis e alterações
em habitat de animais;
• perda de biodiversidade (espécies únicas); deslocamento de animais selvagens;
• demasiada imigração humana para a região do reservatório, com os
consequentes problemas sociais, econômicos e de saúde;
• Degradação da qualidade hídrica local;
• Redução das vazões a jusante do reservatório e aumento em suas variações.

Para Silva (2014, p. 90), “O maior impacto de uma usina hidrelétrica


independe do tamanho do reservatório, ele vem do desmatamento e dos conflitos
gerados pela chegada de milhares de pessoas atraídas pelas obras. O polo de
devastação ilegal é o entorno das obras da usina hidrelétrica”. Contudo, evidencia
que os prejuízos ambientais e sociais podem ser evitados com programas de
mitigação, que envolvem:

• relocação de infraestrutura;
• relocação de propriedades e povoados;
• mitigação da previsão sobre o mercado de trabalho;
• riscos à saúde;
• atividade minerária;
• desmatamento;
• recuperação do canteiro de obras, recuperação de ecossistemas;
• manejo da fauna terrestre (mamíferos) e aquática (peixes);
• manejo das bacias hidrográficas.
65
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

3 PETRÓLEO E DERIVADOS
Segundo Martins e Guerra (2016), em 2014, o Brasil atingiu na produção de
petróleo a média de 2 milhões 126 mil barris/dia (bpd). Quanto à produção de gás
natural, a produção no Brasil em julho totalizou 115 milhões de metros cúbicos
por dia (m3/d), superando os 111,8 MMm3/d registrados em dezembro de 2016
(ANP, 2018). Os autores ressaltam a participação expressiva do gás natural na
matriz energética brasileira. No ano de 2014 o maior consumo foi para a geração
de energia elétrica.

O petróleo é encontrado em regiões de bacias sedimentares e na


plataforma continental. A maior parte das reservas nacionais de petróleo está
em campos marítimos, o que tem levado nossas atividades de perfuração a
atingirem profundidades cada vez maiores. A Petrobras espera alcançar uma
produção total de óleo e gás (Brasil e internacional) de 3,41 milhões de boed
(barris de petróleo equivalente) em 2021.

FONTE: Disponível em: <http://www.petrobras.com.br/pt/nossas-atividades/areas-de-


atuacao/exploracao-e-producao-de-petroleo-e-gas/>. Acesso em: 25 de jan. 2018.

O Brasil, com suas dimensões continentais, conta com uma área sedimentar
de 6.436.000 km2. Na parte terrestre a área é de cerca de 4.880.000 km2, contando
com mais de 20 bacias de diferentes histórias e idades de formação, distribuídas
desde o Sul-Sudeste até o Nordeste e Amazônia (LUCCHESI, 1998). A Bacia de
Campos é a principal área sedimentar já explorada na costa brasileira. Ela se
estende das imediações da cidade de Vitória (ES) até Arraial do Cabo, no litoral
norte do Rio de Janeiro, em uma área de aproximadamente 100 mil quilômetros
quadrados.

A exploração e a produção de petróleo e gás natural são atividades centrais


da Petrobras. Com a tecnologia, os desafios de extração em águas profundas
foram superados na Bacia de Campos. Atualmente, a produção do  pré-sal, em
águas ultraprofundas, já é uma realidade consolidada. As bacias sedimentares
brasileiras podem ser visualizadas na figura a seguir.

66
TÓPICO 3 | FONTES DE ENERGIA

FIGURA 35 – BACIAS SEDIMENTARES BRASILEIRAS

FONTE: Lucchesi (1998)

QUADRO 7 – BACIAS DE EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO NO BRASIL

Bacias Descrição
Bacia de Campos Nesta bacia foram testadas as principais tecnologias
offshore experimentadas no desenvolvimento de projetos
de produção a profundidades d'água nunca testadas
anteriormente no mundo.
Bacia de Santos A maior bacia sedimentar offshore do país, com uma
área total de mais de 350 mil quilômetros quadrados e
que se estende de Cabo Frio (RJ) a Florianópolis (SC).
Os primeiros investimentos em estudos referentes à
exploração e produção nesta bacia são dos anos 1970.
O início da produção remonta ao final dos anos 1960, tendo
sido registradas importantes descobertas desde o fim dos
anos 1990. Na parte marítima há grande potencial para
Bacia do Espírito óleo leve e gás, cuja produção de gás é importante para o
Santo fornecimento ao mercado nacional. A primeira produção
de óleo em águas rasas teve início em 1978 e a primeira
descoberta em águas profundas em 2002, com óleo leve e
gás associado.
67
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

Bacia do Solimões Localizada a 650 quilômetros a sudoeste de Manaus (AM),


a província petrolífera de Urucu é referência mundial de
convivência harmoniosa entre a atividade de exploração e
produção e o meio ambiente.
Bacia Potiguar Com campos em águas rasas e campos terrestres, a região
de Rio Grande do Norte e do Ceará está entre as maiores
produtoras de petróleo onshore (em terra) do Brasil.
Bacia do O óleo e gás natural das bacias da Bahia, ao contrário
Recôncavo Baiano do que se possa supor, ainda estão longe de esgotar. O
volume dos reservatórios ainda é maior que a produção
acumulada desde a década de 1940. Candeias, o primeiro
campo comercial descoberto no país, em 1941, permanece
em atividade.
FONTE: Disponível em: <http://www.petrobras.com.br/pt/nossas-atividades/principais-
operacoes/bacias/>. Acesso em: 2018.

FIGURA 36 – MAIORES RESERVAS DE PETRÓLEO DO MUNDO

FONTE: Disponível em: <http://educacao.globo.com/geografia/assunto/atualidades/geopolitica-


do-petroleo.html>. Acesso em: 14 ago. 2017.

68
TÓPICO 3 | FONTES DE ENERGIA

FIGURA 37 – ÁREA DE EXPLORAÇÃO DO PRÉ-SAL

FONTE: Disponível em: <http://educacao.globo.com/artigo/petrobras.


html>. Acesso em: 14 ago. 2017.

3.1 GÁS NATURAL


Segundo Martins e Guerra (2016), o primeiro registro de utilização do gás
natural no Brasil foi em 1828. Após essa introdução no século XIX, somente em
1940 começa de forma mais expressiva o mercado brasileiro de gás, que teve seu
início na Bahia, com as descobertas de reservas de gás natural. Contudo, somente
em 1950 foram exploradas, atendendo às indústrias das cidades do Recôncavo
Baiano. A exploração desses campos foi realizada pela Petrobras, tanto no
Recôncavo, como em Sergipe e Alagoas.

Apesar de a exploração de gás natural ter tido início na metade do século


XIX, os autores destacam que a indústria de gás natural do Brasil começou
efetivamente em 1960, na Bahia, iniciando o fornecimento de gás para indústrias
petroquímicas. Na década de 80, o segundo polo de utilização de gás natural foi
criado, no Estado do Rio Grande do Norte, para aproveitamento de gás natural
produzido na região.

Em 1993, o governo brasileiro assinou um acordo com a Yacimientos


Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) da Bolívia, através da Petrobras, para
comprar e vender gás natural, conhecido também como GASBOL. A Petrobras
teve exclusividade na operação do trecho brasileiro, com a ampliação da oferta
do produto. O GASBOL atravessou o Pantanal, onde a fragilidade do sistema
apresentava uma dificuldade ao projeto, mas o gasoduto foi avaliado como
um sucesso ambiental, tendo a sua operação iniciada em 1999. Os cenários de
uso do gás natural fornecido pelo GASBOL foram fundamentados no consumo
industrial, porém foi direcionado para o consumo termoelétrico, devido aos
avanços da tecnologia para a produção de eletricidade. Com o objetivo de investir
na geração termelétrica a gás natural, reduzindo, dessa forma, a dependência do
sistema hidráulico, foi criado o Programa Prioritário de Termelétricas (PPT), em

69
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

1999. O programa impulsionou o mercado consumidor de gás natural, crescendo


de 12,4% entre 1995 a 2000, passando a 13,6% entre 2000 a 2005. A partir de 2004
as reservas de gás natural expandiram ainda mais, com as descobertas feitas no
pré-sal, em Santos, São Paulo e Rio de Janeiro.

3.2 CARVÃO NATURAL


Este combustível é muito abundante no continente americano e também
no mundo. Segundo Hinrichs, Leinbach e Reis (2010), nos Estados Unidos é
conhecido como “a Arábia Saudita do Carvão”.

O carvão se forma a partir de material vegetal acumulado no fundo


de pântanos há milhões de anos. Em um primeiro estágio, esta vegetação se
decompõe em forma de turfa e, à medida que o terreno se sedimentou, foi coberta
por lama e areias, transformando-se nos xistos e no arenito encontrados no topo
dos veios de carvão na atualidade. Com o passar de milhares de anos, a turfa foi
se compactando devido às pressões geológicas, tornando-se veios de carvão. De
acordo com a quantidade de carbono contida no carvão, este recebe uma dentre
as quatro classificações:

QUADRO 8 – CLASSIFICAÇÃO DO CARVÃO DE ACORDO COM A QUANTIDADE DE


CARBONO.

Classificação Carbono (%) Conteúdo Energético (Btu/lb)


Lignito 30 5.000-7.000
Sub-betuminoso 40 8.000-10.000
Betuminoso 50-70 11.000-15.000
Antracito 90 14.000
FONTE: P. Averitt, U.S.Geological Survey Bulletin, 1412 (1975)

Os carvões chamados lignitos são mais jovens. Como as pressões


geológicas exercidas pelo solo e as temperaturas são mais baixas, neste caso,
os lignitos possuem alto teor de água e baixo teor calorífico. O carvão sub-
betuminoso forma-se com pressões e temperaturas maiores. Possui um alto
teor de água, porém possui pouco enxofre e custos de mineração mais baixos.
Com mais calor e pressão, forma-se o carvão betuminoso, que também é o mais
abundante. Seu poder calorífico é elevado, assim como o teor de enxofre também
tende a ser elevado. O antracito, por sua vez, é um carvão bastante duro, com
alto valor calorífico. Este carvão foi bastante utilizado para aquecimento, por
não apresentar poeira nem fuligem, mas suas fontes são limitadas (HINRICHS;
LEINBACH; REIS, 2010).

No Brasil, os depósitos de carvão fóssil estão localizados nos estados de


Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, distribuídos em oito grandes jazidas,
sete das quais no Rio Grande do Sul e uma em Santa Catarina, além de várias

70
TÓPICO 3 | FONTES DE ENERGIA

outras de menor porte. De acordo com Gomes et al. (1998), as reservas mundiais
de carvão são aproximadamente o quádruplo da soma de seus dois principais
concorrentes: petróleo e gás natural.

No que se refere à questão ambiental, destacam Gomes et al. (1998) que a


extração, o transporte e a conversão de combustíveis fósseis estão entre as maiores
fontes de agressão ambiental. No Brasil, medidas de fiscalização e controle são
tomadas, atenuando grande parte dos efeitos nocivos da exploração. As mudanças
observadas são: recuperação de áreas lavradas a céu aberto; disposição adequada
dos rejeitos de beneficiamento; controle da emissão de particulados nas chaminés
das usinas termoelétricas.

FIGURA 38 – CINTURÃO CARBONÍFERO

FONTE: Adaptado de Teixeira (2000)

4 BIOCOMBUSTÍVEL
Andrade e Carvalho (2010) rememoram o cultivo da cana-de-açúcar no
Brasil colônia. Os autores destacam que, após 500 anos, o cultivo da cana-de-
açúcar ainda tem relevância na economia na produção de açúcar, porém, o produto
figurou como um arrojado esforço de libertação da dependência do petróleo, que
se ansiava com a criação do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), em 1975. O
Proálcool visava ao desenvolvimento das técnicas e aperfeiçoamento dos insumos
para a produção de álcool etílico. Em um primeiro momento houve um empenho
na produção de álcool etílico anidro, que deveria ser acrescentado à gasolina. Isso
ocorreu de 1975 a 1979. Os primeiros carros movidos totalmente a álcool etílico

71
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

hidratado somente começaram a circular em 1978, após transformações técnicas


nos motores. Porém, com a crise do petróleo, em 1973, o preço teve um aumento
de 428%, empurrando o governo brasileiro para essa decisão de investir neste tipo
de combustível. Observe a figura a seguir sobre a produção brasileira de etanol.

FIGURA 39 – PRODUÇÃO BRASILEIRA DE ETANOL

FONTE: Disponível em: <http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/05/producao-de-etanol-


cresceu-4-em-2014-e-bate-recorde-diz-epe.html>. Acesso em: 15 ago. 2017.

Segundo nota do jornal O Globo, a produção de etanol no Brasil


cresceu 4% em 2014, atingindo 28,6 bilhões de litros, o que ultrapassou o
recorde histórico de 27,9 bilhões de litros alcançado em 2010. Estes dados são
de estudo divulgado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Para a EPE,
essa expansão foi movida pelo baixo preço internacional do açúcar, levando o
produtor a direcionar a maior parte da produção de cana para a fabricação de
etanol.

FONTE: Disponível em: <http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/05/producao-de-


etanol-cresceu-4-em-2014-e-bate-recorde-diz-epe.html>. Acesso em: 25 jan. 2018.

Leia estes fragmentos de texto extraídos da obra de Fernandes (2015, s.p.):

[...] Desde a década de 1920, o Brasil vem desenvolvendo pesquisas


sobre a utilização de óleos vegetais como combustível, que foram
intensificadas após os choques do petróleo em 1973 e 1979. Foi
implementado o Programa Nacional de Óleos Vegetais para Produção
de Energia (Pro-Óleo) e seus subprogramas, sendo descontinuado em
meados da década de 1980. Somente na segunda metade da década de
2000 o interesse em biodiesel foi retomado, devido à reestruturação da
matriz energética brasileira [...] Pautado em argumentos econômicos,
como diminuir a dependência do diesel importado; ambientais,

72
TÓPICO 3 | FONTES DE ENERGIA

para auxiliar na redução das emissões de gases geradores do efeito


estufa; e sociais, pela oportunidade de reduzir as desigualdades
regionais, foi colocado em execução em 2005 o Programa Nacional de
Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), que estrutura a cadeia produtiva
e regula o mercado desse biocombustível no Brasil [...] Dez anos
após o lançamento do PNPB, o programa alavancou o número de
investimentos privados no setor de biodiesel em praticamente todo o
Brasil e o mercado brasileiro deste biocombustível deixou de ser quase
inexistente para figurar entre os maiores do mundo juntamente com
Estados Unidos e Alemanha [...] (FERNANDES, 2015, s.p.).

5 ENERGIA NUCLEAR
Descoberta em 1939, sua liberação em grande quantidade foi um evento
histórico (HINRICHS; LEINBACH; REIS, 2010). Este foi o ano em que se iniciou
a Segunda Guerra Mundial, portanto, segundo os autores, o desenvolvimento de
uma bomba nuclear foi o primeiro objetivo daqueles que estavam familiarizados
com a fissão. Finda a guerra, acreditava-se que a disponibilidade de urânio
combustível fosse grande e que havia tecnologia disponível. E, na década
de 1960, foi observado um forte otimismo quanto à capacidade de geração de
energia barata, comparada à obtida pelo carvão e petróleo. Mas, na década de
1970, aumentou a inquietação quanto à segurança da energia nuclear. Em 1979
ocorre então o primeiro acidente em uma usina comercial nos Estados Unidos,
no reator de Three Mile Island, na Pensilvânia. Apesar de não haver vítimas
fatais, milhares de pessoas foram evacuadas por vários dias após o evento inicial.
Em 1986, um acidente mais grave ocorreu na usina nuclear de Chernobyl, no
que era a União Soviética. Mais de 100 mil pessoas foram evacuadas. Alimentos
foram contaminados devido à propagação da nuvem radioativa pelo norte da
Europa. Segundo os referidos autores, embora o projeto do reator de Chernobyl
fosse diferente daqueles utilizados em outros países, o acidente ainda ocasiona
reavaliações de segurança da energia nuclear.

Para ter uma noção da geração da energia nuclear no mundo entre os anos
de 2010 e 2014, observe a figura a seguir:

73
UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS

FIGURA 40 – GERAÇÃO NUCELAR, POR PAÍS (2010 E 2014)

FONTE: Adaptado de Eletrobras (2016)

Quanto ao Brasil, observe no quadro abaixo algumas informações sobre a


capacidade e geração de energia nuclear.

QUADRO 9 – CAPACIDADE E GERAÇÃO DE ENERGIA NUCLEAR NO BRASIL

Energia
Usinas Capacidade % do total
Capacidade Usinas em gerada
País em em gerado em
atual (MW) construção em 2014
operação construção 2014
(TWh)
Brasil 2 1.990 1 1.405 15,385 2,86
FONTE: Eletrobras (2016)

O Brasil é o décimo consumidor mundial de energia e a oitava economia


do mundo em termos de Produto Interno Bruto. Possui duas usinas nucleares
em operação, Angra I e Angra II, cuja produção de energia elétrica, em 2014,
corresponde a 2,86% da energia elétrica do país. Possui ainda a usina Angra
III, cujas obras foram iniciadas em 2010, com conclusão prevista para 2021. A
construção de Angra III iniciou suas obras após uma negociação com a Prefeitura
de Angra dos Reis com relação à licença de uso do solo e compensações ambientais
e sociais (ELETROBRAS, 2016).

74
TÓPICO 3 | FONTES DE ENERGIA

ATENCAO

Para saber mais sobre a energia nuclear no Brasil e no mundo, consulte a


obra “Panorama da energia nuclear no mundo” – Edição 2016, publicada pela Eletrobrás.

LEITURA COMPLEMENTAR

Entenda como foi formado o pré-sal

O pré-sal é uma sequência de rochas sedimentares formadas há mais de 100


milhões de anos no espaço geográfico criado pela separação do antigo continente
Gondwana. Mais especificamente, pela separação dos atuais continentes
Americano e Africano, que começou há cerca de 150 milhões de anos. Entre os
dois continentes formaram-se, inicialmente, grandes depressões, que deram
origem a grandes lagos. Ali foram depositadas, ao longo de milhões de anos, as
rochas geradoras de petróleo do pré-sal. Como todos os rios dos continentes que
se separavam corriam para as regiões mais baixas, grandes volumes de matéria
orgânica foram ali se depositando.

À medida que os continentes se distanciavam, os materiais orgânicos


então acumulados nesse novo espaço foram sendo cobertos pelas águas do
Oceano Atlântico, que se formava. Dava-se início, ali, à formação de uma camada
de sal que atualmente chega até 2 mil metros de espessura. Essa camada de sal
depositou-se sobre a matéria orgânica acumulada, retendo-a por milhões de anos,
até que processos termoquímicos a transformasse em hidrocarbonetos (petróleo
e gás natural).

No atual contexto exploratório brasileiro, a possibilidade de ocorrência do


conjunto de rochas com potencial para gerar e acumular petróleo na camada pré-
sal encontra-se na chamada província pré-sal, um polígono de aproximadamente
800 km de extensão por 200 km de largura, no litoral entre os estados de Santa
Catarina e Espírito Santo.

As jazidas dessa província ficam a 300 km da região Sudeste, que concentra


58,2% do Produto Interno Bruto (soma de toda a produção de bens e serviços do
país). A área total da província do pré-sal (149 mil km²) corresponde a quase três
vezes e meia o estado do Rio de Janeiro.

FONTE: Disponível em: <http://www.petrobras.com.br/pt/nossas-atividades/areas-de-atuacao/


exploracao-e-producao-de-petroleo-e-gas/pre-sal/>. Acesso em: 26 de jan. 2018.

75
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• As diversidades de fontes de energia e consumo final dos combustíveis fósseis


e biomassa no Brasil. Além disso, você também conheceu algumas estatísticas
sobre a geração de energia elétrica no Brasil.

• Os maiores produtores de energia hidrelétrica no mundo.

• Onde se localiza a maior parte das reservas nacionais de petróleo no Brasil e a


exploração e a produção de petróleo e gás natural no país.

• O processo de formação do carvão a partir de material vegetal acumulado no


fundo de pântanos e as diferentes classes de carvão.

• As causas do investimento em biocombustível pelo governo brasileiro e a


criação do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), em 1975.

• O otimismo quanto à capacidade de geração de energia nuclear no país, assim


como a preocupação com a segurança na geração deste tipo de energia.

76
AUTOATIVIDADE

1 Danos ambientais à vida selvagem e aos peixes foram ocasionados pelo


derramamento de petróleo no Alasca em 1989. Pesquise sobre o sucesso dos
esforços de limpeza da área.

2 A produção de carvão vegetal, no Brasil, é destinada ao atendimento da


demanda de diversos segmentos da indústria, como também para uso
residencial urbano e rural. Contudo, a principal utilização se faz ver na
indústria de siderurgia. Pesquise e discorra sobre a prática de produção
de carvão vegetal e o bioma mais afetado por ela. É importante abordar o
processo de recomposição da vegetação após a interferência.

3 (EPE-Adaptado) O gráfico abaixo apresenta a participação, em valores


percentuais, de fontes de energia para a produção de eletricidade no Brasil,
segundo o Relatório Final do Balanço Energético Nacional de 2013.

A distribuição, em ordem decrescente de valores, dessas fontes está


apresentada em:

a) ( ) hidráulica – biomassa – derivados do petróleo – outras – gás natural.


b) ( ) hidráulica – derivados do petróleo – gás natural – biomassa – outras.
c) ( ) hidráulica – gás natural – biomassa – outras – derivados do petróleo.
d) ( ) derivados do petróleo – hidráulica – biomassa – gás natural – outras.

4 (UDESC) A procura por novas fontes renováveis de energia surge como


alternativa importante para superar dois problemas atuais: a escassez de
fontes não renováveis de energia, principalmente do petróleo, e a poluição
ambiental causada por essas fontes (combustíveis fósseis). Assinale a
alternativa que apresenta um tipo de recurso energético não renovável.

77
a) ( ) Hidrogênio, usado como célula combustível.
b) ( ) Biomassa, massa dos seres vivos habitantes de uma região.
c) ( ) Carvão mineral, extraído da terra pelo processo de mineração.
d) ( ) Biogás, utilização das bactérias na transformação de detritos orgânicos
em metano.

78
UNIDADE 2

GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM
OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO
DA POPULAÇÃO BRASILEIRA E
AS DINÂMICAS POPULACIONAIS
RECENTES

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade, você será capaz de:

• Estudar a relação entre Geografia e população.

• Compreender o processo de formação da população brasileira à luz dos


conceitos de miscigenação e diversidade cultural.

• Entender as dinâmicas populacionais recentes observadas no Brasil.

• Analisar as imigrações internacionais em curso no Brasil.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos e em cada um deles você en-
contrará atividades visando à compreensão dos conteúdos apresentados.

TÓPICO 1 – A POPULAÇÃO BRASILEIRA

TÓPICO 2 – FORMAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA E


DIVERSIDADE CULTURAL

TÓPICO 3 – DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES NO CONTEXTO


BRASILEIRO

TÓPICO 4 – APONTAMENTOS SOBRE AS IMIGRAÇÕES


INTERNACIONAIS RECENTES NO BRASIL

79
80
UNIDADE 2
TÓPICO 1

A POPULAÇÃO BRASILEIRA

1 INTRODUÇÃO
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2017)
revelam que a população brasileira conta oficialmente com 207,7 milhões de
habitantes. Em termos mundiais, o Brasil ocupa a quinta posição, obedecendo
à seguinte ordem decrescente: China, Índia, Estados Unidos, Indonésia e Brasil
(GEOGRAFIA OPINATIVA, 2017).

A respeito das dinâmicas populacionais brasileiras, Théry e Mello (2005)


observam que distintos processos ocorrem no território brasileiro, sendo que os
comportamentos demográficos variam de uma região para outra, inclusive entre
a cidade e o campo — ainda que na mesma região. Ademais, ressaltam que a
distribuição da população é espacialmente muito irregular.

Observar, estudar e compreender estes processos de transformação


da população constitui-se em relevante objeto de estudos para os geógrafos e
pesquisadores de áreas correlatas. Neste tópico, iremos analisar a relação entre
geografia e população.

1.1 A RELAÇÃO ENTRE GEOGRAFIA E POPULAÇÃO


Para iniciar o estudo da Geografia da população do Brasil, é adequado
mencionar alguns conceitos fundamentais para conduzir as análises. Araujo,
Taveira e Fogaça (2016, p. 15) definem que: “população é um conjunto de habitantes
em dado lugar num certo tempo”. Os mesmos autores lembram que é necessário
extrapolar a visão simplista da população e reconhecer que as relações humanas
podem ser consideradas um fenômeno complexo no conjunto espaço-tempo. Isto
porque “pensar em população é pensar em unidade na diversidade, pois uma
população é composta por indivíduos que possuem características próprias, mas
que, em grupos, trazem uniformidade para o conjunto populacional” (ARAÚJO;
TAVEIRA; FOGAÇA, 2016, p. 15).

Welty (1998, apud ARAÚJO; TAVEIRA; FOGAÇA, 2016, p. 15) comenta


que: “o conceito de população é inseparável do espaço geográfico, pois tanto
os indivíduos quanto os fatos demográficos são localizados espacialmente e
normalmente se distribuem de maneira heterogênea”.

81
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA P. B. E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES

Neste sentido, diferentes variáveis podem ser levadas em conta ao


se pensar em estudos de Geografia da população, tendo em vista os vários
entrelaçamentos e relacionamentos que as populações estabelecem no contexto
espacial onde vivem. Afinal, diferentes aspectos distinguem as populações, a
figura a seguir ilustra algumas destas variáveis.

FIGURA 41 – GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO: TEMAS RECORRENTES

Diferenças entre as
classes sociais
Desigualdades sociais

Expectativa de vida
Questões Étnicas

Fluxos Migratórios Geografia da População Número de nascimentos

Correntes Imigratórias Relações de trabalho

Evolução Demográfica Questões de Gênero


FONTE: A autora

É pertinente observar que a ampla gama de temas trabalhados no contexto


da Geografia da população incorpora tanto temas clássicos e conhecidos por conta
dos levantamentos censitários, tais como evolução demográfica, expectativa de
vida e número de nascimentos, bem como preocupa-se em acompanhar o debate
contemporâneo, debruçando-se sobre temas emergentes. Entre estes, destacam-
se os estudos sobre questões de gênero, desigualdades, fluxos migratórios e
imigratórios e as discussões étnicas. Verifica-se assim que alguns destes temas
parecem apresentar uma relação mais direta com a geografia, tendo em vista seu
caráter eminentemente espacial, a exemplo da análise dos fluxos migratórios e
imigratórios.

Em outras situações, ocorre um entrelaçamento com assuntos que


tradicionalmente foram tratados por outras disciplinas, como é o caso das questões
de gênero, usualmente estudadas por antropólogos e cientistas sociais. Qual seria,
então, a contribuição dos geógrafos em estudos desta natureza? Esta indagação
permite um amplo leque de respostas, mas, de antemão, convém destacar que
a principal colaboração da geografia é o olhar que procura compreender como
diferentes fenômenos se apresentam no tempo e no espaço. Ademais, se destacam
também pela possibilidade de espacializar como se estabelecem diferentes tipos de
interação em determinado período histórico e num recorte espacial em particular.

Exemplo desta estreita relação entre geografia e população pode ser


observado também na visualização de diversos mapas que mostram representações
espaciais da população brasileira a partir de diferentes perspectivas, observe:
82
TÓPICO 1 | A POPULAÇÃO BRASILEIRA

FIGURA 42 – EXEMPLO DE MAPA SOBRE EXPECTATIVA DE VIDA

FONTE: Disponível em: <http://www.atlassocioeconomico.rs.gov.br/expectativa-de-vida-ao-


nascer>. Acesso em: 8 ago. 2017.

Observem como os mapas permitem expressar um grande volume de


informações quantitativas. Quando dispomos de um amplo volume de informações
numéricas, neste caso, a expectativa de vida ao nascer, uma alternativa utilizada
para construir o mapa é o chamado pelo método corocromático qualitativo.
Seguindo tal método, as ocorrências que se manifestam em determinada área,
neste caso a expectativa de vida ao nascer, são representadas pela intensidade das
cores (MARTINELLI, 2014).

83
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA P. B. E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES

FIGURA 43 – EXEMPLO DE MAPA SOBRE ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO


HUMANO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA

FONTE: Disponível em: <http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/71/


brasil>. Acesso em: 8 de ago. 2017.

Note que na representação é possível comparar os dados de IDH em cada


unidade federativa do Brasil com dados de outros países. Observe, por exemplo,
qual o valor do IDH da unidade federativa onde você reside e compare este valor
com a média nacional, apresentado no gráfico ao lado. Que situação você observa?
O valor apresentado é maior ou menor que a média nacional? Compare também

84
TÓPICO 1 | A POPULAÇÃO BRASILEIRA

o valor do IDH da Unidade Federativa onde você mora com o índice de outros
países. Tais informações podem ser um ponto de partida interessante para outras
reflexões e análises relacionados à qualidade de vida em diferentes espaços.

No âmbito acadêmico, a Geografia da população constitui-se em relevante


área de debates enfatizando a dimensão empírica do fenômeno populacional.
Silva e Fernandes (2016) analisaram a trajetória histórica da chamada Geografia
populacional ou Geografia da população. Esses autores pontuam que a Geografia
da população é uma subárea da geografia que, apesar de transpassar as diferentes
fases da geografia e de ser um tema frequentemente mencionado no conhecimento
geográfico, a institucionalização desta subárea como ciência só ocorreu a partir
da segunda metade do século XX. Apoiando-se no trabalho de Silva e Fernandes
(2016) é possível traçar uma linha do tempo, identificando acontecimentos
importantes relacionados à consolidação da Geografia da população como campo
específico do conhecimento.

FIGURA 44 – LINHA DO TEMPO: TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA SUBÁREA GEOGRAFIA DA


POPULAÇÃO

Zelinsky Bailey

"Geografia da "Novas demandas se


População pautada misturavam a assuntos
em uma escala de clássicos, incluindo:
análise abrangente migração, fecundidade,
em busca de leis, mortalidade, grupos
influenciada pelas etários, casamentos,
ideias positivistas." minorias, gênero."

1950 1980
1970 1990 Anos 2000

Trewartha Pacione Findlay e Hoy


"O grande foco "Em síntese, a "Pluralismo temático
da geografia Geografia da e necessidade de
da população População analisa a compreender problemas
é estudar a interação entre ser globais, complementando
diferença de humano e espaço, os métodos quantitativos
população entre estudando causas e da demografia com os
áreas." efeitos." qualitativos fornecidos
pelas ciências sociais."

FONTE: Adaptado de Lenz (2017)

85
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA P. B. E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES

Conforme se observa na linha do tempo, os principais temas trabalhados


no âmbito da Geografia da população têm variado ao longo do tempo. Estas
variações derivam de diferentes concepções teóricas e conceituais adotadas em
cada período histórico e do contexto no qual encontrava-se inserida a sociedade à
sua volta. Com as mudanças sociais e tecnológicas experimentadas pela sociedade
no período recente, típicas de um mundo em ebulição, mostrou-se necessário
buscar respostas diferentes para os problemas apresentados, bem como passou-
se a exigir diferentes formas de elaborar perguntas e metodologias (SILVA;
FERNANDES, 2016). Assim, na atualidade, o pluralismo temático e metodológico
caracteriza os estudos contemporâneos da Geografia da população, superando as
abordagens exclusivamente quantitativas adotadas pela demografia da década
de 1950.

Agora que você já tomou contato com os acontecimentos que marcaram


a história da Geografia da população do plano teórico e mundial, vamos nos
debruçar especificamente sobre a formação da população brasileira.

Após a conclusão do seu curso de licenciatura, você terá o desafio de


pensar em estratégias e encaminhamentos metodológicos capazes de tornar a
aula de Geografia que você irá lecionar atraente para seus alunos. Para tanto,
uma dica importante é embasar a exposição dos conteúdos em dados empíricos,
isto é, trazer dados da realidade, que façam parte do cotidiano dos alunos para, a
partir deles, trabalhar definições conceituais e teóricas.

Quando pensamos no tema da Geografia da população no Brasil, a base


de dados organizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística é um
importante ponto de partida para montar suas aulas considerando o caráter
diverso, abrangente e fidedigno dos dados apresentados pelo referido instituto.

Pensando em auxiliar o trabalho dos professores de Geografia do Brasil,


o IBGE confeccionou um e-book composto por diversas atividades práticas — já
elaboradas e comentadas — para você trabalhar com seus alunos.

Veja a apresentação do e-book “Da Educação Infantil ao Ensino Médio: 20


propostas do IBGE para trabalhar com Educação Estatística", a seguir:

86
TÓPICO 1 | A POPULAÇÃO BRASILEIRA

LEITURA COMPLEMENTAR

Como despertar o interesse dos alunos a partir de informações concretas


da realidade brasileira? Como partir da realidade para trabalhar conteúdos
propostos nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) (veja o comentário abaixo)?

Como preparar os alunos para compreender e analisar as informações


públicas que são base para o conhecimento e planejamento do Brasil?

Professor, reunimos aqui uma série de propostas de atividades do


Projeto Vamos Contar (http://vamoscontar. ibge.gov.br), do IBGE. Elas trazem
alguns conceitos e informações estatísticas para a sala de aula. As atividades
são organizadas como planos de aula e partem de orientações emanadas dos
PCN. Você pode ler todo o conteúdo ou ir diretamente ao bloco de seu interesse:
Educação Infantil, Ensino Fundamental - Anos Iniciais, Ensino Fundamental -
Anos Finais ou Ensino Médio.

Para acessar o conteúdo, clique aqui: http://vamoscontar.ibge.gov.br/


fale-conosco/inscricao-newsletter-vamos-contar. E para complementar, segue a
explicação sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN):

O que são e qual é a função das diretrizes curriculares?

As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) são normas obrigatórias para a


Educação Básica que orientam o planejamento curricular das escolas e dos sistemas
de ensino. Elas são discutidas, concebidas e fixadas pelo Conselho Nacional de
Educação (CNE). Atualmente, existem diretrizes gerais para a Educação Básica.
Cada etapa e modalidade dela (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino
Médio) também apresentam diretrizes curriculares próprias. [...] As diretrizes
buscam promover a equidade de aprendizagem, garantindo que conteúdos
básicos sejam ensinados para todos os alunos, sem deixar de levar em consideração
os diversos contextos nos quais eles estão inseridos.

As Diretrizes Curriculares Nacionais são um conjunto de definições


doutrinárias sobre princípios, fundamentos e procedimentos na Educação Básica
que orientam as escolas na organização, articulação, desenvolvimento e avaliação
de suas propostas pedagógicas.

As DCN têm origem na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de


1996, que assinala ser incumbência da União "estabelecer, em colaboração com os
estados, Distrito Federal e os municípios, competências e diretrizes para a Educação
Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, que nortearão os currículos e os
seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar a formação básica comum".

FONTE: Todos Pela Educação. Disponível em: <http://www.todospelaeducacao.org.br/


reportagens-tpe/23209/o-que-sao-e-para-que-servem-as-diretrizes-curriculares/>. Acesso em:
12 out. 2017.

87
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• Em termos mundiais, o Brasil ocupa a quinta posição, obedecendo a seguinte


ordem decrescente: China, Índia, Estados Unidos, Indonésia e Brasil.

• População é um conjunto de habitantes em dado lugar num certo tempo.

• Pensar em população é pensar em unidade na diversidade, pois uma população


é composta por indivíduos que possuem características próprias, mas que, em
grupos, trazem uniformidade para o conjunto populacional.

• A Geografia da população constitui-se em relevante área de debates enfatizando


a dimensão empírica do fenômeno populacional.

• Na atualidade, o pluralismo temático e metodológico caracteriza os estudos


contemporâneos da Geografia da população, superando as abordagens
exclusivamente quantitativas adotadas pela demografia da década de 1950.

88
AUTOATIVIDADE

1 No contexto da Geografia da população, a ideia de dinâmica populacional


está vinculada aos estudos que analisam as variações de populações em um
determinado espaço e em um determinado período de tempo. A respeito
das dinâmicas populacionais brasileiras, marque V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas.

( ) Os comportamentos demográficos são similares em todas as regiões


brasileiras.
( ) A população brasileira está espacialmente distribuída de modo regular.
( ) Os padrões de distribuição populacional são homogêneos na América
Latina.
( ) Os comportamentos demográficos são particulares nos espaços rural e
urbano.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:


a) ( ) V – V – V – F.
b) ( ) F – V – F – V.
c) ( ) V – V – F – F.
d) ( ) F – F – F – V.

2 A Geografia da população insere-se no escopo mais abrangente onde situa-


se a Geografia humana, que abarca uma ampla diversidade de temas de
estudo. A respeito dos temas trabalhados pela Geografia da população na
atualidade, assinale a alternativa CORRETA.

a ) ( ) Podem ser descritos como um tratado analítico entre as causas e


efeitos das dinâmicas populacionais.
b) ( ) Caracterizam-se pelo pluralismo temático e a necessidade de
compreender problemas globais.
c) ( ) A Geografia da população apoia-se exclusivamente em análises
quantitativas para mensurar os fluxos populacionais.
d) ( ) Caracterizam-se pelo reducionismo temático, tendo em vista a
necessidade de compreender realidades locais.

3 Segundo Araujo, Taveira e Fogaça (2016, p. 15), “pensar em população é


pensar em unidade na diversidade, pois uma população é composta por
indivíduos que possuem características próprias, mas que, em grupos,
trazem uniformidade para o conjunto populacional”.

Seguindo esta linha de pensamento, disserte sobre a abrangência dos


estudos sobre Geografia da população.

89
90
UNIDADE 2 TÓPICO 2
FORMAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA E
DIVERSIDADE CULTURAL

1 INTRODUÇÃO
Conforme foi apresentado no tópico anterior, os estudos sobre as
populações podem ser conduzidos por distintas lentes teóricas e enfoques
metodológicos. Neste sentido, inicialmente iremos reconhecer alguns
acontecimentos históricos, com destaque para os intensos fluxos imigratórios
ocorridos no Brasil, que ajudam a compreender a formação do povo brasileiro,
caracterizado pela diversidade étnica e pela miscigenação.

1.1 A FORMAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA E O


PROCESSO DE MISCIGENAÇÃO
Bergmann (1978) pontua que o povo brasileiro se compõe dos três grandes
grupos raciais do mundo: o asiático (a população indígena das Américas pertence
ao grupo asiático), o europeu e o africano. Segundo Bergmann (1978), entre tais
grupos ocorreu um intenso processo de cruzamento, chamado de miscigenação,
isto é, a procriação por mistura de raças diversas.

Convém observar que o termo miscigenação, amplamente utilizado na


geografia, pode abarcar mais de um significado ou sentido de uso. De uma maneira
simplificada, no âmbito da geografia, este termo é usualmente empregado quando
se pretende caracterizar ou descrever atributos, especialmente físicos, de uma
determinada população. Exemplo disto são os estudos e levantamentos do IBGE.
Por outro lado, este termo também é utilizado no âmbito do debate de disciplinas
como História e Antropologia. Para melhor compreender a abrangência deste
conceito, recorreu-se ao Dicionário de Termos Históricos, leia a seguir:

91
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA P. B. E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES

UNI

Dicionário de Termos Históricos


Verbete: Miscigenação

Podemos definir miscigenação, ou mestiçagem, como a mistura de seres humanos e de


imaginários. Tal conceito é amplo e pode abranger tanto a chamada mestiçagem biológica, a
mistura de raças, quanto a mestiçagem cultural, e suscita atualmente debates e controvérsias.
No Brasil, a mestiçagem como fato social só começou a ser percebida no século XIX. Mas,
em uma sociedade dominada pela noção da superioridade branca, a miscigenação racial foi
então entendida como um fenômeno negativo, que degradava o povo brasileiro. Apenas na
década de 1930, com a publicação de Casa-grande & Senzala, de Gilberto Freyre, a mistura
de raças passou a ser vista como fenômeno único, original e favorável à sociedade brasileira.
Também em Raízes do Brasil, publicada no mesmo período, Sérgio Buarque de Holanda
abordava a miscigenação de um ponto de vista benevolente. Nas duas obras, os portugueses
eram percebidos como um povo aberto à miscigenação e sem preconceitos raciais.

Mas apesar da visão freyreana de uma democracia racial e de uma escravidão paternalista
ainda influenciar a sociedade brasileira hoje, sua obra passou a ser alvo de críticas justamente
por minimizar o preconceito racial e a violência da escravidão no Brasil. Seu pioneirismo,
no entanto, inspirou uma História sociocultural brasileira a estudar a miscigenação, o que
levou, a partir do final do século XX, a uma revisão da ideia de mestiçagem. Visto que o
conceito de raça sofria cada vez mais críticas severas, a ideia de miscigenação biológica
também começou a perder sentido. A mestiçagem cultural, no entanto, sobreviveu, apesar
das dificuldades teóricas que apresenta para muitos autores.

Para estudiosos como Serge Gruzinski, o conceito de mestiçagem é bastante complexo.


Primeiro porque termos como mestiçagem e miscigenação, e mesmo hibridismo, não
especificam bem quais os fenômenos que englobam. Além disso, essas palavras pressupõem
uma mistura de coisas heterogêneas e bem definidas, o que exigiria que todas as culturas
fossem sistemas fechados e estáveis. E tendo Gruzinski considerado que toda cultura é
aberta, maleável e ela própria fruto de misturas, toda cultura já seria por si só o produto de
uma mestiçagem.

A ideia de mestiçagem, no entanto, em geral se contrapõe ao conceito de identidade, que


significa a manutenção das tradições culturais originais, em oposição às misturas que tendem
a diluir as culturas e identidades. Mas Gruzinski discorda da ideia de uma oposição entre
miscigenação e identidade, visto que defende a tese de que todas as culturas são misturas,
não havendo assim identidades puras. Nesse sentido, identidades e mestiçagem não seriam
termos opostos, mas complementares.

Esses diferentes conceitos, os debates em torno deles, são todos aplicáveis à História, em vista
da grande diversidade de realidades humanas, cabendo ainda acrescentar que a miscigenação
cultural pode ser feita sob a influência de uma cultura dominante que se impõe sobre outras.
Nesse caso, do qual a sociedade colonial é exemplo, a nova cultura, fruto do processo de
imposição, constrói sua base sobre a estrutura da cultura dominante. Tal se deu na sociedade
brasileira, pois, apesar das muitas sobrevivências africanas e indígenas, foi a estrutura cultural
ibérica, seu sistema de valores, códigos e símbolos que predominou no Brasil.

Em vista da configuração da população brasileira, fruto da mistura de indivíduos de origens


étnicas das mais diversas, o debate em torno dos conceitos de raça e miscigenação deve ser
frequente em sala de aula. Desde a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais, os PCN,

92
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA E DIVERSIDADE CULTURAL

que a história das “minorias”, a diversidade cultural e a multiplicidade de realidades regionais


são temas privilegiados por muitos educadores. Isso porque, apesar do preconceito racial, a
sociedade brasileira se considera mestiça, e, a partir do fim do século XX, diversas identidades
minoritárias vêm tentando se afirmar, como negros, índios e descendentes de japoneses, a
despeito da crítica cada vez maior que a ciência faz aos conceitos de raça e miscigenação.
Por outro lado, existe ainda uma negação das origens mestiças por amplos setores populares
que preferem se identificar como “brancos”. É com essas diferentes realidades que o professor
se defronta em sala de aula. Tais questões podem ser mais bem enfrentadas com o auxílio da
discussão acerca dos conceitos de miscigenação, raça e identidade.

FONTE: Dicionário de Termos Históricos. Disponível em: https://uniasselvi.bv3.digitalpages.


com.br/users/publications/9788572442985/pages/1. Acesso em: 18 ago. 2017.

Retomando a perspectiva história de formação do povo brasileiro, o


entrelaçamento das três etnias originalmente predominantes — o branco europeu,
o negro africano e o indígena — desencadeou como resultado uma miscigenação
que marcou profundamente o país, tanto do ponto de vista demográfico quanto
cultural (PORTAL BRASIL, 2009).

A respeito dos conceitos de raça e etnia, é esclarecedora a contribuição de


Silva e Silva (2010, p. 121):

Esses dois conceitos (raça e etnia) são confundidos inúmeras vezes,


mas existem diferenças sutis entre ambos: raça engloba características
fenotípicas, como a cor da pele, e etnia também compreende fatores
culturais, como a nacionalidade, afiliação tribal, religião, língua e as
tradições de um determinado grupo.

O modo como a população está distribuída atualmente, segundo o critério


de cor ou raça, reflete os processos migratórios ao longo da história do país. De
modo resumido, destacam-se alguns estágios no processo de povoamento do Brasil.

Em 1500, quando chegaram os primeiros portugueses, o território onde


está hoje o Brasil era habitado apenas por tribos indígenas (HERMANN, 2007).
Em decorrência do processo de colonização, além dos portugueses, a população
nativa também teve contato com espanhóis e franceses (PORTAL BRASIL, 2009).

Posteriormente, intensificou-se o fluxo de negros africanos que foram


trazidos para trabalhar como escravos nas lavouras de cana-de-açúcar e na
mineração. A estimativa é que entre os anos de 1781 e 1855, o volume de escravos
ingressantes no país tenha se aproximado dos 2 milhões (PORTAL BRASIL, 2009).

No século XIX e início do século XX, chama atenção o notório número de


imigrantes estrangeiros que adentraram no Brasil. De modo geral, as principais
motivações para a vinda dos imigrantes envolviam a fuga de problemas econômicos,
guerras ou perseguições políticas/étnicas. No século XIX, o maior fluxo de imigrantes
aconteceu entre 1880 e 1890. Já no século XX, os maiores fluxos de imigrantes
ocorreram nas décadas de 1920-1929 e 1950-1959 (PORTAL BRASIL, 2009).

93
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA P. B. E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES

No quadro a seguir, apresentam-se os números referentes aos fluxos


imigratórios pormenorizados, realçando a nacionalidade dos imigrantes.

QUADRO 10 – BRASIL: IMIGRAÇÃO POR NACIONALIDADE NO PERÍODO DE 1884 – 1933

Nacionalidade 1884-1893 1894-1903 1904-1913 1914-1923 1924-1933


Alemães 22778 6698 33859 29339 61723
Espanhóis 113116 102142 224672 94779 52405
Italianos 510533 537784 196521 86320 70177
Japoneses - - 11868 20398 110191
Portugueses 170621 155542 384672 201252 233650
Sírios e Turcos 96 7124 45803 20400 20400
Outros 66524 42820 109222 51493 164586
Total 883668 852110 1006617 503981 717223
FONTE: Adaptado de IBGE (2000) 

Ao analisarmos os fluxos imigratórios que engendraram a formação


étnica, isto é, que ajudam a entender como foi formado o povo brasileiro, é
notória a diversidade de nacionalidades. Além disso, chama atenção a variação
no volume dos fluxos dos imigrantes. Ou seja, o deslocamento dos imigrantes
não ocorreu de forma homogênea e gradual. Notam-se picos de deslocamento e
períodos de diminuição. Isto ocorreu, sobretudo, em virtude dos fatores internos
de cada um dos países “emissores”. Interferindo nesta dinâmica aspectos como
guerras, epidemias (as chamadas pestes) e crises financeiras.

FIGURA 45 – DESEMBARQUE DE IMIGRANTES ALEMÃES NO PORTO DE SANTOS (1907)

FONTE: Disponível em: <https://www.estudopratico.com.br/imigracao-alema-para-


o-brasil/>. Acesso em: 2 ago. 2017.

94
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA E DIVERSIDADE CULTURAL

O desembarque de imigrantes europeus era recorrente no porto de Santos,


nos idos de 1900.

FIGURA 46 – JAPONESES TRABALHANDO EM FAZENDAS BRASILEIRAS

FONTE: Disponível em: <http://www.japaoemfoco.com/dia-nacional-da-


imigracao-japonesa/>. Acesso em 2 ago. 2017.

O retrato exposto evidencia as tarefas produtivas realizadas pelos


imigrantes japoneses em fazendas brasileiras.

No quadro a seguir, apresenta-se de modo sintético os números


relacionados à imigração no período mais recente da história brasileira, observe:

QUADRO 11 – BRASIL: IMIGRAÇÃO POR NACIONALIDADE NO PERÍODO DE 1945 – 1959

Períodos Alemães Espanhóis Italianos Portugueses Japoneses Outros


1945-1949 5188 4092 15312 26268 12 29552
1950-1954 12204 53357 59785 123082 5447 84851
1955-1959 4633 38819 31263 96811 28819 47599
FONTE: IBGE (2000)

Com base nesses números referentes à imigração, faça uma reflexão sobre
as origens étnicas no seu município. Quais nacionalidades se destacam na formação
da população do seu município? E quais seriam as implicações históricas deste
processo? O município onde você mora conta com algum monumento, praça ou
parque que recorde o período da imigração? Procure se informar sobre isso e se
existirem tais monumentos ou atrativos, não deixe de conhecer.

95
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA P. B. E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES

DICAS

A vinda dos imigrantes italianos foi relevante no processo de miscigenação do


povo brasileiro. E para contar esta história, foi criado um parque temático em Bento Gonçalves,
RS que apresenta, de forma criativa, atraente e curiosa, como aconteceu este processo.

Veja a seguir a descrição do parque:

Parque Temático Epopeia Italiana

Visitar o parque é embarcar numa verdadeira viagem pelo tempo que conta a história real de
um casal de imigrantes italianos, Lazaro e Rosa. A visita é envolvente e faz sentir as emoções
e necessidades que os imigrantes tiveram, desde que saíram da Itália até chegar ao Brasil.
Em 2.000 metros de área construída, nove ambientes retratam aspectos da vida na Itália, a
viagem ao Brasil e, por fim, a adaptação ao novo continente. É um espetáculo de som e luz
conduzido por atores que convidam o visitante a voltar ao passado e vivenciar a história. O
espetáculo é acompanhado de degustação de vinhos, suco de uva e biscoito típico italiano.

FONTE: Site Serra Gaúcha. Disponível em: <http://www.serragaucha.com/pt/informacoes-


turisticas/atrativos-turisticos/parque-tematico-epopeia-italiana/>. Acesso em: 21 ago. 2017.

Se você puder conhecer o parque, aproveite o passeio para aprofundar seus conhecimentos
sobre a história. No link do vídeo, a seguir, você poderá assistir um pouco deste espetáculo
turístico e histórico.

Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=lAg69eDnLcg>. Acesso em: 21 ago.


2017.

No âmbito da Geografia da população faz-se necessário recorrer a


conceitos e categorias de análises que contribuam com a tarefa de reconhecer,
descrever e analisar os atributos que caracterizam as populações de determinadas
localidades. Neste sentido, conforme foi apresentado, é comum a utilização de
termos como raça, etnia, miscigenação, identidade, ancestralidade, entre outros.
Foi visto também que a utilização de alguns destes conceitos tem sido criticada
ao longo da história. A este respeito, vale reforçar que cada conceito contribui de
alguma forma para tornar conhecida alguma faceta de um determinado objeto de
estudo. O que isso quer dizer, em termos práticos? Significa pensar, por exemplo,
que o fato de adotar o conceito de raça — que está mais atrelado aos aspectos
biológicos, como cor da pele — não implica em negar o debate étnico e cultural
que permeia o universo da miscigenação brasileira. Significa que ele permite
realçar “apenas” determinadas características de uma parcela da população.
Por isso, ao escrever os seus artigos (também chamados de paper) ao longo do
curso de graduação, lembre-se sempre de mencionar quais conceitos-chave serão
utilizados e o que se pretende realçar com cada um deles. Agindo desta forma,
você poderá melhorar no seu processo de escrita científica.

96
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA E DIVERSIDADE CULTURAL

As implicações do processo de imigração ocorrido no Brasil são


particularidades e vêm sendo estudadas ainda na atualidade. Leia a seguir um
fragmento do resumo do artigo publicado pelo geneticista Sérgio Pena, intitulado
“The genomic ancestry of individuals from different geographical regions of Brazil is more
uniform than expected”.

UNI

Muitas cores, um povo

Maria Guimarães

Uma terra habitada por índios, colonizada por portugueses e para onde foram trazidos escravos
de vários países africanos. O resultado as crianças aprendem na escola: cafuzos, mamelucos
e mulatos. “Na época do Império isso não era visto com bons olhos pelos proponentes do
racismo científico, e Dom Pedro II instituiu a política do branqueamento”, lembra o geneticista
Sergio Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Esse programa, que trouxe ao
Brasil 6 milhões de imigrantes europeus, continuou na República e durou até os anos 1970.
“Na superfície não funcionou: gerou uma gradação contínua de tons de tez que vai desde
pessoas com pele alva, olhos azuis e cabelos loiros, até aquelas com pele bem escura e traços
africanos. Mas o geneticista agora mostra, em artigo publicado em fevereiro na PLoS One,
que algo funcionou. Habitantes de quatro regiões do país (o Centro-Oeste ficou de fora) têm
pelo menos 60% de ancestralidade europeia em seu material genético. “Temos europeus
pardos, europeus pretos e europeus brancos”, brinca Pena.

A equipe responsável pelo estudo, que além da UFMG inclui pesquisadores da Bahia, do
Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul, do Ceará, do Pará e de São Paulo, analisou amostras
de habitantes das regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Sul. “Foi uma amostragem benfeita e
sistemática”, explica o geneticista. O grupo analisou a proporção de ancestralidade europeia,
africana e ameríndia em 934 pessoas que se definiam como brancas, pardas ou pretas, em
Belém, Fortaleza, Ilhéus, Rio de Janeiro, Joinville e Porto Alegre.

O estudo lançou mão de 40 trechos do DNA, que outros estudos de Pena já tinham mostrado
serem suficientes para esse tipo de caracterização. São partes do material genético sem
relação com as características usadas para delimitar raças, como a cor da pele e dos cabelos,
mas que são distintas conforme a origem geográfica. Os resultados mostram que não há,
necessariamente, uma correspondência direta entre cor da pele e ancestralidade. Isso não
chegou a ser uma surpresa para o geneticista mineiro, que há tempos descreve o mosaico
que forma o brasileiro (ver Pesquisa FAPESP no 134). Em alguns brancos do Rio de Janeiro,
por exemplo, os trechos do DNA usados como marcadores indicaram uma ancestralidade
africana mais pronunciada do que a europeia; na mesma cidade, alguns dos que se declararam
pretos, conforme terminologia do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são
quase integralmente europeus no que diz respeito a esses marcadores. “Há uma tremenda
variabilidade entre um indivíduo e outro, esses trechos do genoma revelam a individualidade
de cada brasileiro”, comenta o pesquisador.

Os diagramas de ancestralidade também revelam algo da composição da população


nas regiões do país. No Pará e no Rio Grande do Sul nota-se uma presença indígena na
composição genética de parte dos brancos e pardos que participaram do estudo. Já na Bahia
e no Rio de Janeiro, essa presença indígena é quase inexistente, enquanto a ancestralidade
africana é mais comum.

97
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA P. B. E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES

Mas mesmo com essas diferenças, o trabalho encontrou uma homogeneidade surpreendente
entre as regiões. Para isso, foi preciso antes usar uma ferramenta estatística (algo como uma
média ponderada), que os pesquisadores chamaram de “ancestralidade total”, para deixar de
lado as particularidades regionais na percepção da própria cor. “Uma pessoa que se diz parda
no Norte não é geneticamente semelhante à parda do Sul”, explica Pena, “o que pode ser
explicado por uma diferença de exposição ao sol e também por contextos sociais distintos”.
Uma vez eliminada essa variação, revelou-se que as quatro regiões têm, em média, pelo
menos 60% de ancestralidade europeia – o mínimo foi o Nordeste, com 61%, e o máximo, 78%,
está na Região Sul. As heranças africana e ameríndia, por outro lado, são menos expressivas e
mais variáveis de uma região para outra.

É um resultado marcante, mas ainda não consensual entre geneticistas interessados em


populações humanas. O geneticista norte-americano Alan Templeton, da Universidade
Washington, em Saint Louis [...], se preocupa com o uso de raça autodeclarada, a norma
adotada pelo IBGE. “Participei de um estudo com sociólogos e tivemos a surpresa de descobrir
que as mesmas pessoas não se classificam da mesma maneira ao longo do tempo”, conta.
Como o cálculo da ancestralidade total usa o levantamento do IBGE, ele não conseguiria
eliminar discrepância sem autoavaliação. Uma alternativa mais precisa, segundo Templeton,
seria usar um método conhecido como “Marcadores Informativos de ancestralidade” (AIMs,
na sigla em inglês), que inferem contribuições de ancestralidade sem nenhuma referência
a cor. O problema é que esse enfoque puramente genético exigiria muito mais do que 40
marcadores genéticos – o grupo do norte-americano usou quase dois mil. Mesmo assim,
de maneira geral ele concorda com Pena: “A conclusão principal que eu tiraria desses dados
é que categorias raciais autodeclaradas são indicadores pouco confiáveis de ancestralidade
genômica no Brasil [...]”.

FONTE: Revista FAPESP. Disponível em: <http://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/


uploads/2012/05/054-056-181.pdf>. Acesso em: 21 ago. 2017.

Os intensos processos de miscigenação vivenciados ao longo da história


do Brasil, e que seguem em curso na atualidade, engendraram uma diversidade
cultural rica e única em nosso país. O modo como as marcas da colonização e da
imigração se entrelaçaram pode ser observado em distintas regiões do país. Toda
esta troca e combinação de imigrantes desencadeou uma base cultural diversa,
que abarca costumes específicos em cada região, estado e até mesmo, ao nível dos
municípios, incluindo diferentes costumes, maneiras particulares de se vestir,
desenvolvimento de uma culinária local, manifestações religiosas muito diversas
entre si, bem como um amplo espectro de tradições regionais.

98
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA E DIVERSIDADE CULTURAL

DICAS

Você sabia que o Portal do Professor reúne ótimas dicas para auxiliar você,
futuro professor de Geografia, a organizar e elaborar suas aulas? Segundo o MEC, este portal
é um espaço para troca de experiências entre professores do Ensino Fundamental e Médio.
É um ambiente virtual com recursos educacionais que facilitam e dinamizam o trabalho dos
professores. O conteúdo do portal inclui sugestões de aulas de acordo com o currículo de
cada disciplina e recursos como vídeos, fotos, mapas, áudio e textos. No link a seguir, você irá
encontrar um exemplo de planos de aulas relacionados ao tema “Diversidade da População
Brasileira”.

Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=27072>.


Acesso em: 30 out. 2017.

Observe a importância de incorporar atividades de natureza prática em suas aulas, para


despertar nos alunos o interesse e a habilidade de relacionar temas teóricos com elementos
cotidianos de sua vida!

1.2 A CONFIGURAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA E


AS DINÂMICAS POPULACIONAIS
Avançando nos estudos sobre o processo de formação do povo brasileiro,
vamos estudar alguns aspectos relevantes relacionados à dinâmica demográfica
da população brasileira ao longo das últimas décadas. Esta parte da análise
está centrada em um enfoque quantitativo, atento aos fatores que induziram ou
inibiram o crescimento da população brasileira. Para auxiliar na compreensão
deste processo, vamos recordar algumas definições básicas relevantes no estudo
da Geografia da população que serão empregadas ao longo do texto.

QUADRO 12 – DEFINIÇÕES BÁSICAS NO ÂMBITO DA GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

Definições básicas no âmbito da Geografia da População


Taxa de Natalidade É o número de nascimentos que
acontecem em uma determinada área.
Taxa de Mortalidade É o número de óbitos ocorridos em um
determinado local.
Taxa de Fecundidade É o número de nascimentos bem-
sucedidos menos o número de óbitos em
nascimentos.
Crescimento Vegetativo É o crescimento populacional de uma
localidade medido a partir da diminuição
de taxa de natalidade pela taxa de
mortalidade.
FONTE: Adaptado de Pena (2017)

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UNIDADE 2 | GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA P. B. E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES

Com relação ao crescimento recente da população brasileira, algumas


ponderações podem ser feitas com base nas informações disponibilizadas no
último Censo Demográfico, realizado no ano de 2010. De acordo com dados
publicados pelo Portal Brasil (2009), a população brasileira registrou sucessivos
aumentos em seu contingente, e cresceu quase 20 vezes desde o primeiro
recenseamento realizado no país, em 1872, quando tinha 9.930.478 habitantes.

O crescimento contínuo experimentado pela população brasileira é


atribuído a dois fatores principais: queda nas taxas de mortalidade — após
a década de 1940 — e, por outro lado, pelos altos níveis de fecundidade. Em
decorrência de tais fatores, o ritmo do crescimento populacional brasileiro evoluiu
para quase 3,0% ao ano na década de 1950 (PORTAL BRASIL, 2009).

Camarano e Beltrão (2000) estudaram o avanço histórico e quantitativo


da população brasileira e identificaram um primeiro período, que começou por
volta de 1880 e se estendeu até aproximadamente 1930, quando a população
brasileira apresentava taxas de natalidade e de mortalidade relativamente altas
e, consequentemente, pequena taxa de crescimento vegetativo (CAMARANO;
BELTRÃO, 2000). Neste período, observou-se um incremento populacional
significativo. Tal aumento populacional foi resultado de taxas de crescimento
acima de 2% ao ano, favorecidas pela imigração internacional, conforme foi visto
neste tópico (CAMARANO; BELTRÃO, 2000).

Posteriormente, Camarano e Beltrão (2000) reconheceram um segundo


período, que começou a partir de 1940 e se estendeu até o final da década de
1960. Nesta fase, os níveis de mortalidade começaram a declinar e os movimentos
populacionais de origem internacional perderam importância no contexto da
população nacional. Ademais, a mortalidade geral declinou de forma rápida e
sustentável, acarretando em um aumento na esperança de vida ao nascer de 41
anos para aproximadamente 73 anos em 1995 (CAMARANO; BELTRÃO, 2000).

Ao final da década de 1960 se encerrou o segundo período, quando ocorreu


um declínio dos níveis de fecundidade, mais do que contrabalançando a redução,
também em curso, na mortalidade. Desta forma, o crescimento da população
brasileira foi inibido. A taxa de fecundidade total do Brasil passou de 5,9 filhos
no período 1935/40 para 6,3 nos anos 60 e 2,5 no quinquênio 1991/96. Iniciou-se,
no final dos anos 60, o terceiro período, caracterizado por uma redução acelerada
da taxa de crescimento populacional (CAMARANO; BELTRÃO, 2000).

No quadro a seguir é possível observar as variações das taxas de


fecundidade ao longo da história do Brasil. Veja como este indicador vem
declinando ao longo das décadas.

100
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA E DIVERSIDADE CULTURAL

QUADRO 13 – BRASIL: TAXA DE FECUNDIDADE TOTAL ENTRE 1940-2000


Período Taxa de fecundidade total
1940 6,16
1950 6,21
1960 6,28
1970 5,76
1980 4,35
1990 2,85
2000 2,38
FONTE: Adaptado de IBGE (2000)

A taxa de fecundidade é um indicador relevante nos estudos de Geografia


da população. Ao calcular ou estimar o número médio de filhos de mulheres
residentes em determinado país (ou outro recorte geográfico específico) é
possível prever alguns cenários populacionais, relacionados ao crescimento,
encolhimento ou estabilidade da taxa de crescimento da população. Os governos
também utilizam este indicador para auxiliar na concepção de políticas públicas
de um país, pois esta informação interfere na previsão de números de idosos
que passarão a residir no país, ajuda a antecipar e conhecer novos mercados
consumidores que estarão em ascensão, permite refletir sobre o volume de
produção de alimentos necessários para satisfazer uma nação, qual o tipo de rede
de transportes público será adequada para atender esta população, entre vários
outros pontos de reflexão.

Tais indicadores são fundamentais também para conduzir ações na área


de saúde e revelam, em si, um espectro diverso sobre os elementos que pesam
na decisão das famílias sobre quantos filhos elas pretendem ter. Este é um tema
bastante interessante para ser estudado. Considerando que as taxas de fecundidade
de um país não são homogêneas dentro de um mesmo país, alguns estudiosos
têm procurado identificar possíveis fatores que interferem nesta decisão familiar.
Observe no gráfico a seguir as variações nas taxas de fecundidade no Brasil pelas
unidades federativas.

101
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA P. B. E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES

FIGURA 47 – BRASIL: TAXA DE FECUNDIDADE TOTAL SEGUNDO UNIDADES DA FEDERAÇÃO,


EM 2009

FONTE: Disponível em: <http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv45700.pdf>. Acesso


em: 30 out. 2017.

Observe no gráfico qual o indicador médio da taxa de fecundidade do


estado onde você reside. A média do seu estado é superior ou inferior à média
nacional de 1,94 filhos? Você constata variação no planejamento familiar em sua
própria família? Caso você já tenha filhos ou pretenda ter algum, este número de
filhos é similar ao número de filhos que seus pais tiveram? E em relação ao número
de filhos que seus avós tiveram? Estas decisões são particularidades e relacionadas
a valores individuais. Mas quando observamos o comportamento histórico
da população, é possível identificar algumas tendências de comportamento
associadas à conjuntura atual.

Neste sentido, por exemplo, sob a ótica da expectativa de vida e da taxa


de mortalidade dos bebês nos primeiros anos de vida, felizmente, em decorrência
dos avanços da indústria farmacêutica (realçando o papel de destaque das
vacinas), somadas a melhorias nas condições de acesso aos serviços de saúde no
período de gestação e do parto, acrescentando ainda as melhorias de saneamento
entrelaçadas com outros fatores sociais e de infraestrutura, fizeram que a chance
de morte dos bebês diminuísse significativamente ao longo dos últimos anos.
Observe o fragmento da notícia publicada a seguir:

102
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA E DIVERSIDADE CULTURAL

DICAS

Mortalidade infantil continua em queda no Brasil

As mortes de crianças com até 1 ano de idade passaram de 4% do total de óbitos registrados
em 2005 para 2,5% em 2015, segundo a pesquisa Estatísticas do Registro Civil 2015, do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) [...]. Na faixa até 5 anos, esse percentual
caiu de 4,8% para 3% dos óbitos.

A redução da mortalidade infantil nas últimas décadas é evidente: em 1974, os óbitos de


crianças menores de 1 ano representavam 28% do total no Brasil e os de menores de 5 anos,
35,6%. “Cabe enfatizar que a diminuição dos níveis de fecundidade também contribuiu de
forma significativa para o declínio destes percentuais”, lembra o estudo.

O IBGE também atribui o declínio na mortalidade infantil ao aumento da escolaridade


feminina e à elevação do percentual de domicílios com saneamento básico adequado
(esgotamento sanitário, água potável e coleta de lixo), além de maior acesso da população
aos serviços de saúde, o que proporcionou melhoria na qualidade do atendimento pré-natal
e durante os primeiros anos de vida [...].

FONTE: PORTAL BRASIL (2016)

Contudo, este indicador, por si só, não assegura que as famílias tenham
interesse e predisposição em ter uma família maior. Retomando o gráfico
relacionado à taxa de fecundidade pelos estados brasileiros, nota-se que a menor
taxa apresentada é do Estado do Rio de Janeiro, que marcou 1,63 filhos em 2010.
Com o intuito de relacionar os conceitos apresentados, podemos inferir que,
mesmo que, em tese, melhores condições de saúde e habitação experimentadas
pelas famílias cariocas, que fazem com que o risco de morte dos bebês no primeiro
ano de vida siga em redução, não faz com que estas famílias tenham um número
maior de filhos. Embora os indicadores apresentados façam referência a médias,
é importante que você, futuro professor de Geografia, consiga trabalhar com seus
alunos esta base conceitual de um modo prático e vinculado à vida cotidiana
das crianças e dos adolescentes. Podemos pensar, então, quais seriam os fatores
que vêm contribuindo para a formação destas famílias mais “compactas” (com
menos filhos)? Um dos possíveis fatores que interferem nesta dinâmica é o
custo de vida. Muitos adultos demonstram profunda preocupação em como
assegurar as condições indispensáveis para prover uma vida com dignidade para
seus filhos. No período de intensas imigrações internacionais, era como no caso
dos descendentes de alemães no Sul do Brasil, por exemplo, a manutenção de
uma família numerosa, algumas com uma dúzia de filhos (por exemplo), para
assegurar, de certa forma, uma mão de obra familiar para trabalhar no campo.
A lógica era que o sustento vinha da terra e que muitos filhos significam muitos
braços para trabalhar na roça e ajudar na “lida”. Atualmente, o custo de vida
segue em ascensão — sobretudo nas áreas intensamente urbanizadas, como as
metrópoles — fazendo com que a variável custo de vida passasse a ter um peso
importante na equação familiar.
103
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA P. B. E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES

É adequado frisar que, no âmbito do comportamento populacional,


usualmente existe um cruzamento de variáveis determinantes e de conceitos que
ajudam a explicar os processos e movimentos populacionais. Considerando o
exemplo exposto anteriormente, é relevante mencionar o papel desempenhado
pela disseminação dos métodos contraceptivos no contexto do planejamento
familiar.

Tratando ainda dos fatores que ajudam a explicar quais motivos estimulam
o crescimento ou a diminuição da população no Brasil, alguns estudos relacionam
a questão do número de filhos por família com os anos de estudo das mulheres.
Observe na sequência:

FIGURA 48 – TAXAS DE FECUNDIDADE TOTAL, POR NÍVEL DE INSTRUÇÃO DAS MULHERES,


SEGUNDO GRANDES REGIÕES – 2010

FONTE: Disponível em: <https://oglobo.globo.com/opiniao/gravidez-nao-programada-dramas-


sociais-16433530>. Acesso em: 28 ago. 2017.

104
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA E DIVERSIDADE CULTURAL

DICAS

Conforme você pôde compreender, o tema taxa de fecundidade é muito


relevante para os estudos da geografia. Gostaria de aprender mais sobre este assunto?

Assista à entrevista com a demógrafa do IBGE, Leila Ervatti! Em entrevista para o programa
Conexão Futura (do Canal Futura), a demógrafa conversa sobre Taxa de fecundidade,
tomando como base a Síntese de Indicadores Sociais, divulgada pelo IBGE. A duração da
entrevista é de 9 minutos. Confira!!
Link para entrevista:
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=FXlYmswm74A>. Acesso em: 31 out.
2017.

Para finalizar esta etapa do conteúdo, vamos apresentar a evolução total


da população brasileira, no período recente. Veja os números relacionados ao
período de 1980 até 2010.

FIGURA 49 – BRASIL: EVOLUÇÃO POPULAÇÃO BRASILEIRA TOTAL ENTRE 1980 E 2010.

FONTE: Disponível em: <http://brasilemsintese.ibge.gov.br/populacao/populacao-


total-1980-2010.html>. Acesso em: 15 ago. 2017.

105
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA P. B. E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES

Mesmo com a redução das taxas de fecundidade, é notável e expressivo


o incremento da população brasileira. Segundo análise do IBGE, publicada
pelo Portal Brasil (2017) entre 2000 e 2010, o crescimento populacional não foi
homogêneo entre as grandes regiões e unidades da federação. Alguns números
chamaram a atenção. As maiores taxas médias de crescimento anual foram
observadas nas regiões Norte (2,09%) e Centro-Oeste (1,91%). Nestas regiões, o
crescimento populacional esteve vinculado aos fluxos migratórios — conforme
iremos estudar no próximo tópico — e à maior taxa de fecundidade, em
comparação com as demais regiões.

Conforme o Portal Brasil (2009), no mesmo período, Amapá e Roraima


ficaram entre os dez estados que mais aumentaram suas populações em termos
relativos: tiveram crescimento médio anual de 3,45% e 3,34%, respectivamente.
As regiões Nordeste e Sudeste apresentaram crescimento populacional similar:
1,07% e 1,05%, respectivamente. Entre 2000 e 2010, a região Sul, que desde o Censo
de 1970 vinha apresentando crescimento anual de cerca de 1,4%, foi a que menos
cresceu, ficando na marca de 0,87%, influenciada pelas baixas taxas observadas
no Rio Grande do Sul (0,49%) e no Paraná (0,89%).

No plano nacional, em 2010, as regiões mais populosas foram a Sudeste


(com 42,1% da população brasileira), Nordeste (27,8%) e Sul (14,4%). Por outro
lado, Norte (8,3%) e Centro-Oeste (7,4%) têm menor concentração de pessoas,
8,3% e 7,4% do total nacional, respectivamente (PORTAL BRASIL, 2011). Por
sua vez, os estados mais populosos do Brasil – São Paulo, Minas Gerais, Rio de
Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul e Paraná – concentram, em conjunto, 58,7% da
população total do país. Realce para o Estado de São Paulo, que possui a maior
concentração municipal de população, em que os 32 maiores municípios (5,0%)
concentram quase 60,0% dos moradores do Estado (PORTAL BRASIL, 2011).

De modo sintético, é possível afirmar que o processo de crescimento da


população brasileira abriga diversidades regionais e estaduais, apresentando
como ponto em comum uma ampla concentração populacional na faixa litorânea
do território brasileiro, conforme evidencia a coleção de mapas apresentada a
seguir.

106
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA E DIVERSIDADE CULTURAL

FIGURA 50 – BRASIL: CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO DOS ESTADOS

FONTE: Hervé e Mello (2005, p. 91)

107
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• O povo brasileiro se compõe dos três grandes grupos raciais do mundo: o


asiático (a população indígena das Américas pertence ao grupo asiático), o
europeu e o africano.

• O termo miscigenação é usualmente empregado quando se pretende


caracterizar ou descrever atributos, especialmente físicos, de uma determinada
população.

• O entrelaçamento entre as três etnias originalmente predominantes — o branco


europeu, o negro africano e o indígena — desencadeou como resultado uma
miscigenação que marcou profundamente o país tanto do ponto de vista
demográfico quanto cultural.

• No século XIX e início do século XX, chama atenção o notório número de


imigrantes estrangeiros que adentraram no Brasil. De modo geral, as principais
motivações para a vinda dos imigrantes envolviam a fuga de problemas
econômicos, guerras ou perseguições políticas/étnicas.

• A taxa de fecundidade é um indicador relevante nos estudos de geografia


da população. Ao calcular ou estimar o número médio de filhos de mulheres
residentes em determinado país (ou outro recorte geográfico específico) é
possível prever alguns cenários populacionais, relacionados ao crescimento,
encolhimento ou estabilidade da taxa de crescimento da população.

• Mesmo com a redução das taxas de fecundidade no período recente, é notável


e expressivo o incremento da população brasileira.
 
• O  processo de crescimento da população brasileira abriga diversidades
regionais e estaduais, apresentando como ponto em comum uma ampla
concentração populacional na faixa litorânea do território brasileiro.

108
AUTOATIVIDADE

1 Uma das principais características relacionadas à formação do povo brasileiro


refere-se ao intenso processo de miscigenação. A respeito do processo de
formação da população do Brasil, assinale a alternativa correta:

a) ( ) O entrelaçamento entre etnias ocorre majoritariamente na Região


Nordeste, prevalecendo a padrões puros nas demais regiões.
b) ( ) O povo brasileiro se formou a partir dos três grandes grupos raciais do
mundo: indianos, italianos e holandeses.
c) ( ) O processo de formação do povo brasileiro envolve o cruzamento entre
descendentes asiáticos, europeus e africanos.
d) ( ) A miscigenação é um processo recente e foi intensificado na década de
1990 em virtude do estímulo à globalização.

2 Os fluxos imigratórios podem ser desencadeados por distintos fatores


econômicos, sociais, políticos, culturais e ambientais. A respeito dos fluxos
imigratórios que engendraram a formação étnica da população brasileira,
marque V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.

( ) Diversas nacionalidades contribuíram na formação do povo brasileiro,


engendrando um rico mosaico cultural.
( ) No processo de formação do povo brasileiro, ocorreram relevantes variações
no fluxo de migrantes.
( ) O deslocamento dos imigrantes estrangeiros com destino ao Brasil ocorreu
de forma constante e estável.
( ) A imigração está atrelada a históricos de vida pessoal, ficando alheia aos
fenômenos políticos e sociais do território de origem.

Agora assinale a sequência CORRETA:


a) ( ) V – V – F – F.
b) ( ) F – V – V – F.
c) ( ) F –V – F – V.
d) ( ) V- V- V – F.

3 Ao escrever sobre a miscigenação na história do Brasil, Guimarães (2017,


p. 1) pontua: “uma terra habitada por índios, colonizada por portugueses e
para onde foram trazidos escravos de vários países africanos. O resultado as
crianças aprendem na escola: cafuzos, mamelucos e mulatos.”

FONTE: Revista FAPESP. Disponível em: <http://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/


uploads/2012/05/054-056-181.pdf>. Acesso em: 21 ago. 2017.

Seguindo esta linha de pensamento, disserte sobre a relação entre


miscigenação e formação cultural do Brasil.

109
110
UNIDADE 2 TÓPICO 3

DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES NO CONTEXTO


BRASILEIRO

1 INTRODUÇÃO
Após analisarmos a relação entre dois relevantes campos de estudos
— a geografia e a população — e, posteriormente, nos debruçarmos sobre o
processo de formação da população brasileira e de sua diversidade cultural,
seguimos estudando a dinâmica populacional do Brasil, buscando compreender
as variações de populações em um determinado espaço e em um determinado
período de tempo. Especificamente neste tópico, a ênfase recairá sobre os
movimentos populacionais recentes, com o intuito de identificar e compreender
como ocorrem os processos de deslocamentos populacionais passado o estágio
de formação do povo brasileiro naquele primeiro momento em que os imigrantes
advindos de diversos países chegaram ao Brasil.

Nesta seção, o objetivo é identificar quais são os movimentos mais


relevantes e expressivos no tocante à dinâmica populacional recente no Brasil
e quais fatores são responsáveis por estimular a “saída” ou a “retenção” de
parcelas significativas da população brasileira. Serão analisados tanto processos
de longa distância, por exemplo, a saída de nordestinos para trabalhar em áreas
intensamente industrializadas no Sudeste, bem como, movimentos de curta
distância, a exemplo dos trabalhadores que residem em Palhoça (município
vizinho à capital catarinense Florianópolis) e que se deslocam diariamente para
Florianópolis para exercer suas atividades profissionais. Vamos em frente?

Para inspirar e descontrair um pouco seus estudos, leia a seguir (e, se


puder, escute em sua casa) um trecho da música Encontros e Despedidas,
cantada por Maria Rita e composta por Milton Nascimento e Fernando Brant.
Uma analogia “poética” entre os movimentos das cidades, das pessoas e da vida
urbana, acompanhe:

“Todos os dias é um vai e vem


A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar 
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar

111
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA P. B. E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES

E assim chegar e partir


São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro
É também despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida...”

2 APORTES CONCEITUAIS
Para conduzir nossa análise acerca dos movimentos populacionais recentes
faz-se necessário e adequado, inicialmente, apresentarmos o aporte conceitual
que norteia os estudos desta temática. Isto é, vamos conhecer conceitos-chave
para o entendimento dos principais movimentos populacionais que acontecem
no Brasil.

2.1 MIGRAÇÃO

Segundo a Organização Internacional para as Migrações (2017, p. 1), tem-


se a seguinte definição sobre migração: “migração é o movimento de população
para outro território, dentro ou fora do Estado de origem e abrange todo
movimento de pessoas, seja qual for o tamanho, sua composição ou suas causas. “

As discussões sobre os fluxos migratórios são relevantes e estratégicas


para compreender a relação entre a dinâmica populacional e o processo de
acumulação do capital, para além da concepção de crescimento natural — e do
excesso de nascimento sobre as mortes (DAMIANI, 1991). Ou seja, ela permite
analisar o processo da formação da população para além da ótica do crescimento
vegetativo e das taxas de fecundidade, reconhecendo que outros elementos de
“atratividade” são responsáveis pelo engendramento da população na atualidade.
Damiani (1991, p. 40) lembra ainda que:

Embora os movimentos de população não tenham necessariamente


o caráter diretamente compulsório, como no caso da mercantilização
do escravo, eles resultam de constrangimentos. Pierre George fala
da migração não só como deslocação humana, mas como irradiação
geográfica de um dado sistema econômico e de uma dada estrutura
social.

112
TÓPICO 3 | DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES NO CONTEXTO BRASILEIRO

DICAS

Pierre George (1909-2006) foi um geógrafo francês que observou intensas


transformações espaciais, políticas, econômicas e ambientais no decorrer do conturbado
século XX. Seu interesse por praticar uma geografia diferente da que havia aprendido é
perceptível; para tanto, seria preciso erigir novos princípios de teoria e de método. Em sua
extensa produção composta por livros, artigos e resenhas, George apresenta um repertório
marcado por abordagens gerais, regionais, urbanas e rurais, tematizando países desenvolvidos,
subdesenvolvidos e também a URSS, além de estudos sobre populações e meio ambiente.
Tais temas estão amalgamados ao redor do conceito de espaço, já que, segundo ele, a
Geografia é uma ciência humana e espacial.

Sua obra intitulada “Geografia da população”, publicada em 1965, é considerada um importante


marco teórico no âmbito da produção científica sobre Geografia da população.

Fonte: RAMÃO, Felipe de Souza. A Geografia de Pierre George e a Questão Ambiental. Revista
Continentes, n. 3, p. 31-51, 2013.

2.2 TIPOS DE MIGRAÇÃO


Existem diferentes causas e condições que interferem nos fluxos
migratórios. Conforme as motivações e condicionantes que interferem nas
migrações, criam-se tipos de migração diferentes. Em geral, a qualificação das
migrações leva em conta o espaço de deslocamento, o tempo de permanência do
migrante, o respeito ou não às condições legais e os motivadores da migração.
Os principais tipos de migração foram sintetizados e estão reunidos no quadro
exposto a seguir.

QUADRO 14 – TIPOS DE MIGRAÇÃO

113
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA P. B. E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES

FONTE: Adaptado de Araújo, Taveira e Fogaça (2016)

114
TÓPICO 3 | DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES NO CONTEXTO BRASILEIRO

2.3 MIGRANTE
Conforme Araújo, Taveira e Fogaça (2016, p. 124), “migrante é aquele
que se desloca de um local para outro, por determinado período de tempo, com
objetivos que se diferem de pessoa para pessoa”. Levando em conta algumas
particularidades dos sujeitos que migram, é possível classificar o migrante, tal
como explicam Araújo, Taveira e Fogaça (2016, p. 125):

Migrante qualificado: É aquele cujas competências e qualificações


(profissionais, por exemplo) são um diferencial e interferem no seu ato de
migrar. Por exemplo, uma empresa busca um empregado com uma qualificação
predeterminada em outro país.

Migrante de curto e longo prazo: o migrante de curto prazo distancia-


se de seu local de origem por, no mínimo, três meses e, no máximo, um ano,
enquanto que o migrante de longo prazo se distancia de seu local de origem por
pelo menos um ano.

2.4 EMIGRANTE
O emigrante está relacionado ao fenômeno da emigração. Por sua vez,
emigração pode ser definida como:

o ato de sair de um Estado com o propósito de assentar-se em outro.


As normas internacionais de direitos humanos estabelecem o direito
de toda pessoa de sair de qualquer país, incluindo o seu. Somente
em determinadas circunstâncias, o Estado pode impor restrições a
esse direito. As proibições de saída do país repousam, em geral, em
mandados judiciais (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL PARA AS
MIGRAÇÕES, 2017, p. 2).

Araujo, Taveira e Fogaça (2016) destacam que esta essa ação pode ocorrer
na escala do município, estado, região ou país.

2.5 IMIGRANTE
Para entender o que é um imigrante, incialmente, remete-se à definição
de imigração, conforme a Organização Internacional para Migrações (2017, p. 2):
“Imigração é o processo mediante o qual pessoas não nacionais ingressam em um
país com o fim de estabelecer-se”.

Em sendo assim, é aquele que se estabelece em local que não é o seu de


origem.

Os termos migrantes e imigrantes são parecidos, não é mesmo? Quer uma


dica para ajudar a memorizar a diferença?
115
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA P. B. E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES

Emigrante: no momento em que o indivíduo deixa seu local de origem


para se estabelecer em outro, caracteriza-se como emigrante. Isto é, é aquele que
sai de um lugar de origem com o intuito de estabelecer-se em outro local.

Imigrante: é assim chamado no momento em que se estabelece em novo


local que difere do seu local de origem. Ou seja, é o indivíduo que chega.

Você já observou que além dos termos migrantes e imigrantes, é recorrente


no noticiário internacional o uso da expressão refugiado? É muito importante
que você, futuro geógrafo, entenda as diferenças entre os termos para evitar
confusão. Para isso, a ONU – Nações Unidas no Brasil elaborou um texto bastante
elucidativo esclarecendo as principais dúvidas e questões recorrentes sobre este
tema. Acompanhe o fragmento a seguir:

DICAS

Qual a diferença entre ‘refugiados’ e ‘migrantes’?

Os termos “refugiado” e “migrante” são substituíveis entre si?


Não. Apesar de ser cada vez mais comum os termos “refugiado” e “migrante” serem utilizados
como sinônimos na mídia e em discussões públicas, há uma diferença legal crucial entre os
dois.
Confundi-los pode levar a problemas para refugiados e solicitantes de refúgio, assim como
gerar entendimentos parciais em discussões sobre refúgio e migração.

2. Qual a especificidade sobre a terminologia “refugiado”?


Refugiados são especificamente definidos e protegidos no direito internacional. Refugiados
são pessoas que estão fora de seus países de origem por fundados temores de perseguição,
conflito, violência ou outras circunstâncias que perturbam seriamente a ordem pública e
que, como resultado, necessitam de “proteção internacional”. As situações enfrentadas são
frequentemente tão perigosas e intoleráveis que estas pessoas decidem cruzar as fronteiras
nacionais para buscar segurança em outros países, sendo internacionalmente reconhecidos
como “refugiados” e passando a ter acesso à assistência dos países, do ACNUR (Alto
Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) e de outras organizações relevantes. Eles
são assim reconhecidos por ser extremamente perigoso retornar a seus países de origem e,
portanto, precisam de refúgio em outro lugar. Essas são pessoas às quais a recusa de refúgio
pode ter consequências potencialmente fatais para suas vidas.

3. De que forma refugiados são protegidos pelo direito internacional?


O regime legal específico que protege os direitos dos refugiados é conhecido como
“proteção internacional dos refugiados”. A lógica que sustenta a necessidade deste regime
reside no fato de que os refugiados são pessoas em uma situação específica que exige
salvaguardas adicionais. Solicitantes de refúgio e refugiados carecem da proteção de seus
países. [...] Refugiados não podem ser expulsos ou devolvidos a situações em que suas vidas
ou liberdade possam estar sob ameaça.

4. A palavra “migrante” pode ser utilizada como um termo genérico para também abranger
refugiados?

116
TÓPICO 3 | DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES NO CONTEXTO BRASILEIRO

Uma definição legal uniforme para o termo “migrante” não existe em nível
internacional. Alguns formuladores de políticas, organizações internacionais e meios de
comunicação compreendem e utilizam o termo “migrante” como um termo generalista que
abarca migrantes e refugiados. Por exemplo, estatísticas globais em migrações internacionais
normalmente utilizam uma definição de “migração internacional” que inclui os movimentos
de solicitantes de refúgio e de refugiados. Em discussões públicas, no entanto, essa
prática pode facilmente gerar confusão e pode também ter sérias consequências para a
vida e segurança de refugiados. “Migração” é comumente compreendida implicando um
processo voluntário; por exemplo, alguém que cruza uma fronteira em busca de melhores
oportunidades econômicas. Este não é o caso de refugiados, que não podem retornar
às suas casas em segurança e, consequentemente, têm direito a proteções específicas
no escopo do direito internacional. Desfocar os termos “refugiados” e “migrantes” tira
atenção da proteção legal específica que os refugiados necessitam, como proteção contra
o refoulement (devolução, em português) e contra ser penalizado por cruzar fronteiras para
buscar segurança sem autorização. Não há nada ilegal em procurar refúgio – pelo contrário,
é um direito humano universal [...].

FONTE: Disponível em: <https://nacoesunidas.org/qual-a-diferenca-entre-refugiados-


migrantes/>. Acesso em: 4 set. 2017.

Notou a diferença entre os termos migrações forçadas e refugiados? Os dois


termos são similares entre si, mas, como mencionado no texto das Nações Unidas,
eles abarcam diferenças entre si. Quando analisamos os fluxos populacionais sob
o plano da geografia, podemos empregar o termo “migração forçada” de modo
mais generalista, abrangendo neste grupo aqueles que migram por situações de
constrangimentos que podem ser de natureza política. A definição de refugiado,
em termos simples, é adequada em situações mais extremas, quando o risco à vida
e aos direitos humanos são relevantes. Reforçado o conteúdo exposto no texto e
fazendo uma reflexão no âmbito do direito internacional, a principal diferença
é que o conceito de refugiado dispõe de um regime legal específico que protege
os direitos humanos fundamentais, o que não ocorre com o termo migrante. Por
isso, dependendo do enfoque e do objetivo do seu texto, lembre-se de utilizar a
terminologia adequada.

2.6 MOVIMENTOS PENDULARES


De acordo com o Observatório das Metrópoles (2009), a expressão
“movimento pendular” é habitualmente utilizada para designar os movimentos
cotidianos das populações entre o local de residência e o local de trabalho ou
estudo. Jardim (2011, p. 67) observa que:

Os movimentos pendulares da população estão diretamente


relacionados com as condições de desenvolvimento econômico e
social, cujo desdobramento contemporâneo está relacionado com os
mecanismos da reestruturação produtiva, responsáveis por novas
formas de trabalho e de mobilidade ou imobilidade espacial da
população.

117
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA P. B. E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES

No tocante às características deste movimento populacional, ele ocorre,


geralmente, na escala urbana ou regional e tem por contexto temporal o
cotidiano dos indivíduos. Na sociedade contemporânea, é comum que as pessoas
transponham os limites territoriais do município em que residem para atenderem
demandas fundamentais como trabalho, estudo e consumo. Quando tais
deslocamentos acontecem diariamente, eles são denominados como movimentos
pendulares (MOURA; CASTELLO BRANCO; FIRKOWSKI, 2005).

FIGURA 52 – MOVIMENTO PENDULAR

FONTE: Disponível em: <http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/


galeria/detalhe.php?foto=296&evento=2>. Acesso em: 31 out. 2017.

DICAS

Já parou para pensar que o termo “movimento pendular” nos remete à imagem
do pêndulo? Lembre-se de que, assim como o pêndulo após se movimentar “volta” ao seu
ponto original — ele volta à origem —, o sujeito que realiza o movimento pendular também
“volta”, ele retorna para sua residência após ter se deslocado para outro município.

118
TÓPICO 3 | DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES NO CONTEXTO BRASILEIRO

FIGURA 53 – MOVIMENTO PENDULAR

FONTE: Disponível em: <https://colcafe.files.wordpress.com/2013/11/


pendulo.jpg>. Acesso em: 17 abr. 2018.

Complementando, Jardim (2011, p. 68) explica que:

Os movimentos populacionais (pendulares ou não) acompanham


o desenvolvimento da economia e da sociedade e, portanto, são
expressões contemporâneas de diferentes fenômenos sociais,
metropolitanos ou não, que vão além da expansão das cidades e do
mercado laboral, seja dentro das metrópoles ou não. São expressões
da reestruturação do capital e do trabalho, responsáveis pelo
surgimento de novas modalidades espaciais da população, a exemplo
da circularidade da força de trabalho especializada, que pode incluir
vários lugares de trabalho e múltiplas residências, especialmente
para as pessoas com altos rendimentos e prestadores de serviços
especializados. A mobilidade pendular associa-se à questão da
infraestrutura urbana, especialmente, em relação aos transportes
urbanos municipal e intermunicipal.

Os movimentos pendulares relacionam-se com a expansão do território


urbano, acabam por engendrar novas territorialidades e estão estreitamente
relacionados com a questão da mobilidade residencial da população nas grandes
aglomerações urbanas-metropolitanas (JARDIM, 2011). No mapa apresentado
na sequência é possível visualizar a intensidade dos fluxos pendulares na
Concentração Urbana de Belo Horizonte.

119
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA P. B. E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES

FIGURA 54 – INTENSIDADE DOS DESLOCAMENTOS PARA TRABALHO NA CONCENTRAÇÃO


URBANA DE BELO HORIZONTE

FONTE: Disponível em: <ftp://geoftp.ibge.gov.br/organizacao_do_territorio/tipologias_do_


territorio/arranjos_populacionais/mapas_2ed/mapa204.pdf>. Acesso em: 5 set. 2017.

Para melhor entender como se formam e a dinâmica dos movimentos


pendulares, faz-se necessário conhecermos o conceito de arranjos populacionais,
conforme será apresentado a seguir.

2.7 ARRANJOS POPULACIONAIS


O modo como os municípios estabelecem relações entre si tem variado ao
longo da história. Conforme vimos, em decorrência da reestruturação produtiva
que segue em curso no Brasil, torna-se relativamente comum que o indivíduo
more em um município e exerça suas atividades profissionais em outro. No Censo

120
TÓPICO 3 | DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES NO CONTEXTO BRASILEIRO

de 2010, o IBGE passou a mensurar também aqueles que se deslocam por motivos
de estudo. Como foi visto, estes deslocamentos são denominados movimentos
pendulares.

Tais movimentos ocorrem de forma mais acentuada nas áreas


metropolitanas. Ademais, “as metrópoles são espaços de vida,  expressões  de
diferentes realidades sociais, econômicas e culturais, em que há a maior
concentração de diversidades e intercâmbios entre as cidades” (OBSERVASINOS,
2015, p. 1). Assim, para entendermos os deslocamentos populacionais, precisamos
analisar também o fenômeno das metrópoles. Isto implica em pensar: onde
estão ocorrendo os deslocamentos pendulares? Quais municípios interagem
espacialmente entre si? Como se configuram estes “arranjos” entre pessoas e
lugares?

Neste sentido, de acordo com IBGE (2016, p. 22): “um arranjo populacional
é o agrupamento de dois ou mais municípios onde há uma forte integração
populacional devido aos movimentos pendulares para trabalho ou estudo, ou
devido à contiguidade entre as manchas urbanizadas principais”.

Para melhor entender a definição exposta pelo IBGE, lembre-se de que


o termo contiguidade remete à ideia de proximidade, vizinhança, contato e
convívio. Por sua vez, “entende-se como mancha urbanizada a área construída com
edificações típicas de áreas urbanas e padrão de arruamento interno que propicia
relações diárias de vizinhança” (IBGE, 2016, p. 22). Observe na representação a
seguir como tais manchas podem ser classificadas.

FIGURA 55 – CLASSIFICAÇÃO DAS MANCHAS URBANIZADAS, SEGUNDO O IBGE


Correspondem às áreas centrais
de grandes aglomerações urbanas,
caracterizando-se por um adensamento
acentuado das construções, com
Muito Densa presença de verticalização e quase
ausência de solo não impermeabilizado.

Caracterizam-se por uma ocupação


Classificação urbana contínua, baixa verticalização,
das Manchas Densa com predominância de casas, com pouco
espaçamento entre as construções,
Urbanizadas porém, com maior presença de solo não
impermeabilizado.

Pouco Densa Caracterizam-se pela presença de feições


urbanas (ruas, quadras, etc.), porém com
uma ocupação esparsa.

FONTE: Adaptado de IBGE (2016)

121
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA P. B. E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES

Na figura a seguir, temos um resumo sobre o conceito de Arranjo


populacional.

FIGURA 56 – DESLOCAMENTOS EM ARRANJOS POPULACIONAIS

FONTE: Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/03/1607736-novo-


conceito-do-ibge-usa-movimento-pendular-para-determinar-se-cidades-se-relacionam.
shtml>. Acesso em: 5 set. 2017.

Diante do exposto, surge a indagação: e quais são os critérios para


delimitar um Arranjo populacional? Conforme o IBGE (2016, p. 22): “a escolha
dos critérios que formam um arranjo populacional está baseada na noção de
existência de relacionamentos cotidianos por grande parte da população entre
dois ou mais municípios”.

A respeito do número de municípios que podem estar abarcados em


determinado Arranjo populacional, é interessante realçar que, de acordo com o
último Censo, este valor pode chegar até 37. Observe no gráfico a seguir:

122
TÓPICO 3 | DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES NO CONTEXTO BRASILEIRO

FIGURA 57 – Composição dos arranjos populacionais – Brasil – 2010

FONTE: Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/geografia/geografia_


urbana/arranjos_populacionais/default.shtm?c=9>. Acesso em: 31 out. 2017.

A respeito das relações cotidianas apontadas pelo IBGE (2016), a


representação exposta na sequência evidencia os principais fatores responsáveis
por desencadear tais relacionamentos entre os municípios.

123
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA P. B. E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES

FIGURA 58 - ARRANJOS POPULACIONAIS E RELACIONAMENTOS COTIDIANOS ENTRE OS


MUNICÍPIOS

Arranjos Populacionais

Presença de relacionamentos
cotidianos entre os municípios

Fatores que desencadeiam


relacionamentos entre os
municípios Localização de
Crescimento Indústrias
de uma cidade

Onde uma
Os casos mais fábrica em
comuns são os um pequeno
metropolitanos, município
onde a capital demanda
Emancipação Processos
Crescimento população dos
costuma atrair Históricos de
de um de uma cidade municípios
a população de Formação
entorno municípios vizinhos

Eventualmente, Devido à formação


embora tenha ocorrido socioespacial e
a emancipação histórica alguns
do município, os municípios,
moradores ainda se tradicionalmente,
reportam ao "município mantêm relações
mãe" para acessar entre si
determinados serviços

FONTE: Adaptado de IBGE (2016)

Lembre-se: como diversos fatores podem desencadear relacionamentos


entre os municípios, ultrapassando os mais recorrentes, anteriormente expostos,
a palavra-chave ao se analisar arranjos populacionais é integração.

No último Censo, realizado em 2010, o IBGE identificou os arranjos


populacionais existentes no Brasil. O resumo de tais resultados foi sintetizado no
quadro exposto a seguir.

124
TÓPICO 3 | DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES NO CONTEXTO BRASILEIRO

FIGURA 59 – ARRANJOS POPULACIONAIS E GRANDES CONCENTRAÇÕES URBANAS DO


BRASIL

FONTE: Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/03/arranjos-


populacionais-e-grandes-concentracoes-urbanas-do-brasil.jpg/view>. Acesso em:
5 set. 2017.
125
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA P. B. E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES

Você observou como é elevado o número de arranjos populacionais na


região Sudeste? A diferença entre a região com maior concentração de arranjos
populacionais e a região com menor concentração é notória. O Sudeste, com 112
arranjos populacionais, apresenta um total que é mais do que seis vezes o número
de arranjos presentes na região Norte, que conta com 17 arranjos populacionais.

Outro dado a ser destacado é a grande parcela da população que realiza


movimentos pendulares regularmente: 55,9% da população. Este percentual é
indicativo das altas taxas de urbanização do nosso país.

No mapa a seguir apresenta-se a distribuição espacial dos arranjos


populacionais brasileiros de maneira pormenorizada.

FIGURA 60 – DISTRIBUIÇÃO DOS ARRANJOS POPULACIONAIS – BRASIL 2010

FONTE: Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/geografia/geografia_


urbana/arranjos_populacionais/default.shtm?c=9>. Acesso em: 13 nov. 2017.

126
TÓPICO 3 | DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES NO CONTEXTO BRASILEIRO

A leitura do mapa evidencia como grande parte dos arranjos populacionais


está situada próximo à faixa litorânea. Caro acadêmico, aproveite este momento
dos estudos para analisar a situação do município onde você vive. Observe
no mapa, ele está inserido dentro de algum arranjo populacional? Em caso
afirmativo, reflita sobre a natureza dos relacionamentos cotidianos que você ou
algum membro da sua família costumam realizar. Em caso negativo, identifique
no mapa qual o arranjo populacional mais próximo do seu local de residência. O
que você sabe sobre ele? Aproveite para conhecer melhor a região de entorno do
seu município.

DICAS

Sentiu alguma dificuldade ou surgiu alguma dúvida no momento em que você


analisou o mapa apresentado? Você pode melhorar suas habilidades em ler, interpretar e
“destrinchar” mapas.

Recomendamos a leitura da obra “O uso de diferentes linguagens na leitura geográfica”,


escrito por Laércio de Mello. Você pode acessar esta obra na Biblioteca Pearson, através do
seu Ambiente Virtual de Aprendizagem.

3 O CONTEXTO DAS MIGRAÇÕES NO BRASIL


Historicamente as populações têm se movimentado pelo globo. No contexto
brasileiro, é notável o papel desempenhado pelos fluxos de diversos imigrantes
ao longo do processo de formação do povo brasileiro, conforme discutimos.
No período recente — desde as últimas décadas do século XX— o fenômeno

127
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA P. B. E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES

da mobilidade populacional vem apresentando importantes transformações


no seu comportamento. Uma das alterações mais relevantes diz respeito ao
redirecionamento dos fluxos migratórios. No Brasil, durante várias décadas, ao se
falar em migração era comum que se remetesse à imagem do homem que sai do
campo para trabalhar na cidade, e nos deslocamentos impulsionados, sobretudo,
pelo processo de intensificação da industrialização, que estimulava as pessoas a
morarem nas grandes cidades. A ida de muitos nordestinos para compor a mão
de obra de São Paulo é emblemática deste processo. Contudo, no período recente,
descortinam-se novos fluxos, caracterizados pelo redirecionamento dos fluxos
migratórios para as cidades médias em detrimento dos grandes centros urbanos,
conforme aponta o estudo do Jardim (2011). Segundo o mesmo estudo (JARDIM,
2011), outro fenômeno que tem chamado a atenção no período recente são os
deslocamentos populacionais de curta duração e a distâncias menores.

Oliveira (2011) identificou que a partir da década de 1980, os deslocamentos


da população brasileira iniciaram uma fase de mudanças no sentido das correntes
principais, com antigos espaços de atração migratória perdendo expressão.
Conforme Oliveira (2011), dentre os novos eixos de deslocamentos se destacam:

a) a inversão nas correntes principais nos estados de Minas Gerais e do Rio de


Janeiro;
b) a redução da atratividade migratória exercida pelo Estado de São Paulo;
c) o aumento da retenção de população na Região Nordeste;
d) os novos eixos de deslocamentos populacionais em direção às cidades médias
no interior do país;
e) o aumento da importância dos deslocamentos pendulares;
f) o esgotamento da expansão da fronteira agrícola;
g) a migração de retorno para o Paraná.

Com relação à inversão nas correntes principais nos estados de Minas


Gerais e do Rio de Janeiro, o que aconteceu no estado mineiro, a alteração da
corrente, que antes saía com direção ao Rio de Janeiro, e agora retorna, muito por
conta da crise no Estado do Rio de Janeiro e do crescimento mineiro (PORTAL
G1, 2017).

A respeito da diminuição da atratividade migratória exercida pelo Estado


de São Paulo, Oliveira (2011) explica que tal fenômeno está atrelado à saturação
dos espaços do início da industrialização no Centro-sul. Por conta disso, houve
uma redução na capacidade de geração de emprego e de novas oportunidades
ocupacionais. Assim, a diminuição da atratividade no quesito oferta de empregos
afetou a circulação dos migrantes no estado paulista. Vale mencionar que embora
tenha ocorrido uma diminuição, permanece a condição de São Paulo — sobretudo
da região metropolitana — como importante ator nas migrações interestaduais
do Brasil.

128
TÓPICO 3 | DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES NO CONTEXTO BRASILEIRO

Sobre o aumento da retenção de população na região Nordeste, o


principal motivo apontado foram as melhorias nas condições sociais, que acabam
melhorando as condições de vida da população (PORTAL G1, 2011). Acerca dos
novos eixos de deslocamentos populacionais em direção às cidades médias no
interior do país, Oliveira (2011) pontua que este movimento está relacionado ao
crescimento das cidades médias, isto é, aquelas com menos de 500 mil habitantes.
Oliveira (2011) explica que as pessoas começaram a migrar para o interior que
está em desenvolvimento, em busca de oportunidades nas cidades médias.
Esta análise vai ao encontro do dado apresentado pelo IBGE (2010) e publicado
pelo Portal G1 (PORTAL G1, 2011), de que entre as cidades com altas taxas de
crescimento (8% do total), nenhuma delas possuía mais de 500 mil habitantes.
Ou a dinâmica das cidades médias tem contribuído para o seu crescimento e
desenvolvimento econômico, contribuindo na sua atratividade como possível
destino para os migrantes que estão em busca de melhores oportunidades de
trabalho.

Sobre o aumento da importância dos deslocamentos pendulares,


conforme discutimos anteriormente, tem se mostrado relevante em diversas
regiões espalhadas pelo Brasil, considerando a grande parcela da população que,
principalmente, trabalha ou estuda em um município diferente daquele em que
reside.

Discorrendo ainda sobre as principais alterações nos movimentos


populacionais no Brasil, Oliveira (2011) menciona o esgotamento da expansão da
fronteira agrícola. De acordo com Frederico (2012, p. 5):

Denomina-se fronteira agrícola moderna as áreas ocupadas, a partir da


década de 1970, por monoculturas intensivas em capital e tecnologia,
em substituição à vegetação original (principalmente de Cerrado), a
culturas tradicionais (praticadas por campesinos e/ou agricultores
familiares) e a áreas de pastagens extensivas. Motivada por fatores
econômicos e geopolíticos, a expansão da fronteira agrícola moderna
ocorreu principalmente em direção às áreas de Cerrado, também
conhecidas como “polígono dos solos ácidos” ou “planaltos tropicais
interiorizados” [...].

No Brasil, a fronteira agrícola abarca, além da região do Cerrado, outras


configurações espaciais, incluindo a região Norte, em contato com a Floresta
Amazônica. Seguindo o pensamento de Oliveira (2011) e a definição de Frederico
(2012), podemos entender que as mudanças relacionadas à fronteira agrícola
interferem na mobilidade espacial da população brasileira porque, quando uma
área é destinada ao uso intensivo pela agricultura, é muito provável que ela passe
a receber um contingente de migrantes interessados em ofertar sua mão de obra
para trabalhar no cultivo da terra. Assim, se por um lado há um esgotamento
de algumas fronteiras agrícolas tradicionais, como aponta Oliveira (2011), por
outro lado, novas áreas assumem posição de destaque no âmbito da agricultura
brasileira. Acompanhe a notícia a seguir:

129
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA P. B. E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES

DICAS

"Matopiba" se consolida como nova fronteira agrícola do País

A região do "Matopiba", formada por 73 milhões de hectares distribuídos pelos estados do


Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, produziu 9,4% das 209,5 milhões de toneladas de grãos
na safra 2014/2015. O Matopiba foi responsável por 19,7 milhões de toneladas de algodão em
pluma, soja, arroz e milho, em uma área de 5,7 milhões de hectares. 
A região conta com quase 6 milhões de habitantes e 324 mil estabelecimentos agrícolas.
Somente na soja, o Matopiba produziu 8,7 milhões de toneladas de soja 2013/2014. 
Com tamanha produção, o Matopiba reforça sua posição como nova fronteira agrícola do
País. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), mais 10 milhões de
hectares podem ser incorporados à área plantada. Atualmente, a área engloba 337 municípios
distribuídos em 73 milhões de hectares.
Na temporada 2014/2015, a produção de soja teve aumento de 21,7% e chegou a 10,5,
milhões de toneladas, equivalentes a 11% da produção nacional de soja. A Bahia se destaca
em produtividade, com 2.940 quilos por hectare e 4,2 milhões de toneladas colhidas.  (...)
No ciclo 2013/2014, o Matopiba colheu 4,42 milhões de toneladas de milho. A produção
subiu para 4,45 milhões de toneladas na safra atual, o que equivale a 5% do total nacional. O
Maranhão se sobressaiu com 1,3 milhão de toneladas. A maior produtividade foi registrada
no Piauí, com 7.186 kg/ha.
A produção de algodão em pluma do Matopiba, em uma área de 315 mil hectares, chegou
a 495 mil toneladas na última safra – a maior parte na Bahia. O volume equivale a 32% da
produção brasileira.
No cultivo de arroz, o Tocantins destaca-se na produção (605 mil toneladas) e na produtividade
(4.745 kg/ha). A região produziu 986 mil toneladas do cereal na safra 2014/2015, equivalentes
a 8% do total nacional.
A área do Matopiba caracteriza-se pelo baixo preço das terras e pela uniformidade do clima,
do solo e do relevo, que facilitam a mecanização agrícola e têm atraído cada vez mais
agricultores.

FONTE: Portal Brasil. "Matopiba" se consolida como nova fronteira agrícola do país. 2015.
Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2015/10/matopiba-se-
consolida-como-nova-fronteira-agricola-do-pais>. Acesso em: 1 set. 2017.

Para entendermos a migração de retorno para o Paraná apontada por


Oliveira (2011), isto é, sua “volta para casa”, inicialmente discorre sobre o processo
de “ida” da população paranaense. Neste sentido, Magalhães e De Ulhoa Cintra
(2012, p. 4) explicam que:

A dinâmica migratória do Paraná nos últimos 40 anos se insere


amplamente nas distintas etapas do processo nacional. As décadas de
1970 e de 1980 foram marcadas por um intenso e acelerado esvaziamento
das áreas rurais do Estado, em dimensões ímpares na história das
migrações no Brasil. Enormes fluxos populacionais abandonaram o
campo seguindo predominantemente três direções. A primeira para
as áreas urbanas do próprio Estado, com grande predomínio da
Região Metropolitana de Curitiba como destino. Um segundo fluxo
expressivo dirigiu-se a algumas áreas industriais do Estado de São
Paulo, com destaque para sua região metropolitana e para Campinas e

130
TÓPICO 3 | DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES NO CONTEXTO BRASILEIRO

adjacências. O terceiro e importante movimento teve como destino as


áreas de fronteira agrícola no Centro-Oeste e Norte do País, então em
franca expansão. Não se deve desconsiderar as perdas populacionais
do Paraná para Santa Catarina e para o Paraguai, naquele período,
mas esses volumes foram de menor monta. Assim, pode-se dizer,
grosso modo, que nessa etapa prevaleceu, no Paraná, a emigração de
longa distância. É claro que nem sempre esses deslocamentos foram
feitos em apenas uma etapa. Com muita frequência a população saía
das áreas rurais permanecendo temporariamente em centros urbanos
menores nas proximidades e só depois realizava os longos trajetos.
Também eram comuns as situações em que apenas parte da família
se arriscava a emigrar para mais distante, ficando os demais no
próprio Estado, muitas das vezes para manter ativas suas pequenas
propriedades agrícolas. (grifo nosso)

As mesmas autoras avançam na explicação dos fatores que estimularam o


retorno dos paranaenses para o seu estado no período mais recente, desencadeando
importantes mudanças no panorama migratório do referido Estado.

[...] é interessante apontar que parcelas expressivas, e crescentes, da


imigração para o Estado referem-se a migrações de retorno. Muitos
daqueles que haviam emigrado em décadas anteriores retornaram,
seja em decorrência de insucessos em suas tentativas de fixação nas
regiões de destino, seja porque conseguiram acumular razoáveis
recursos financeiros e preferiram retornar, para seus municípios de
nascimento ou não (MAGALHÃES; DE ULHOA CINTRA, 2012, p. 6).

No mapa exposto a seguir é possível visualizar as principais alterações


relacionadas com a dinâmica populacional brasileira, com base nos fluxos
identificados por Oliveira (2011).

FIGURA 61 – CORRENTES MIGRATÓRIAS PRINCIPAIS

Correntes migratórias principais


SAÍDA RETORNO À ORIGEM
Nordeste-Sudeste Centro-Oeste e Norte - Paraná Minas - Rio de Janeiro
Nordeste retém população, e Fim do movimento de expansão Inversão do movimento
Sudeste atrai menos migrantes da fronteira agrícola migratório

FONTE: Disponível em: <http://g1.globo.com/brasil/noticia/2011/07/nordeste-e-regiao-com-


maior-retorno-de-migrantes-segundo-ibge.html>. Acesso em: 1 set. 2017.

131
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA P. B. E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES

A partir da discussão apresentada, centrada em alguns movimentos


recentes no tocante à mobilidade espacial da população brasileira, é possível
compreender que os fatores condicionantes dos fluxos migratórios variam ao
longo do tempo e do espaço. Ou seja, os elementos que conferem atratividade para
determinada localidade — no sentido de atrair moradores advindos de outros
lugares — sofrem alterações ao longo do tempo. Tais mudanças são engendradas
por aspectos econômicos, sociais, culturais, ambientais e políticos.

132
RESUMO DO TÓPICO 3
Nesse tópico, você aprendeu que:

• Migração é o movimento de população para outro território, dentro ou fora


do estado de origem e abrange todo movimento de pessoas, seja qual for o
tamanho, sua composição ou suas causas.
 
• A qualificação das migrações leva em conta o espaço de deslocamento, o
tempo de permanência do migrante, o respeito ou não às condições legais e os
motivadores da migração. 

• Migrante é aquele que se desloca de um local para outro, por determinado


período de tempo, com objetivos que se diferenciam de pessoa para pessoa.

• Emigrante: no momento em que o indivíduo deixa seu local de origem para se


estabelecer em outro, caracteriza-se como emigrante. Isto é, é aquele que sai de
um lugar de origem com o intuito de estabelecer-se em outro local.

• Imigrante: é assim chamado no momento em que se estabelece em novo local


que difere do seu local de origem. Ou seja, é o indivíduo que chega. 

• Movimento pendular são os movimentos cotidianos das populações entre o


local de residência e o local de trabalho ou estudo.

• Um arranjo populacional é o agrupamento de dois ou mais municípios em que


há uma forte integração populacional devido aos movimentos pendulares para
trabalho ou estudo, ou devido à contiguidade entre as manchas urbanizadas
principais.

• No período recente — desde as últimas décadas do século XX — o fenômeno


da mobilidade populacional vem apresentando importantes transformações
no seu comportamento. Uma das alterações mais relevantes diz respeito ao
redirecionamento dos fluxos migratórios.

133
AUTOATIVIDADE

1 No escopo dos estudos sobre Geografia da população, as análises das


migrações constituem-se em elemento central para a compreensão das
dinâmicas populacionais. Acerca do conceito de migração, assinale a
alternativa CORRETA:

( ) O termo migração é empregado nos estudos geográficos para referir-se aos


fluxos populacionais motivados por questões sociais no intuito de propiciar
condições de dignidade e segurança para a população.
( ) É o movimento de população para outro território, dentro ou fora do Estado
de origem e abrange todo movimento de pessoas, seja qual for o tamanho,
sua composição ou suas causas.
( ) Diz respeito ao processo mediante o qual pessoas não nacionais ingressam
em um país com o fim de estabelecer-se, organizadas a partir de grupos
comunitários específicos, denominados guetos.
( ) Envolve o movimento de população para outro território com finalidade de
exercer atividade remunerada e qualificada no território de entrada, a fim
de prover o sustento e conforto para si e para sua família.

2 Com a intensificação da urbanização, têm se tornado mais evidentes e


intensos no Brasil os movimentos pendulares. A respeito destes movimentos,
marque V para as sentenças verdadeira e F para as falsas:

( ) Estes movimentos ocorrem na escala urbana e rural de modo similar, além


de serem mais recorrentes entre a parcela da população idosa.
( ) Tais movimentos estão relacionados com as condições de desenvolvimento
econômico e social, com ênfase nos mecanismos da reestruturação
produtiva.
( ) São os movimentos de população para outro território, dentro ou fora do
Estado de origem e abrangem todo movimento de pessoas, seja qual for sua
causa.
( ) Movimentos pendulares designam os movimentos cotidianos das
populações entre o local de residência e o local de trabalho ou estudo.

Agora assinale a sequência CORRETA:


( ) V – V – F – F.
( ) F – V – V – F.
( ) F – V – F – V.
( ) V – V – V – F.

3 No plano político internacional, inúmeras situações de conflito político têm


estimulado moradores a deixarem seu país de origem, face às dificuldades
vivenciadas. Neste sentido, discorra sobre a diferença entre refugiados e
migrantes.

134
UNIDADE 2
TÓPICO 4

APONTAMENTOS SOBRE AS IMIGRAÇÕES


INTERNACIONAIS RECENTES NO BRASIL

1 INTRODUÇÃO
No início desta unidade, buscamos analisar e entender como se deu o
processo de formação do povo brasileiro, dedicando atenção à diversidade de etnias
e nacionalidades que povoaram nosso país. Em seguida, estudamos a dinâmica
populacional recente e analisamos os principais movimentos populacionais que
interferem nesta dinâmica. Seguindo esta linha de pensamento, é pertinente
discutir os fluxos recentes de imigrantes internacionais que escolheram o Brasil
como país para morar. Quem são estes estrangeiros que têm vindo para o Brasil
ao longo das últimas décadas? Por que eles têm vindo para cá? A chegada de
haitianos, venezuelanos, entre outros estrangeiros, tornou-se pauta recorrente
nos noticiários atuais. Vamos analisar juntos este fenômeno recente?

2 QUAIS SÃO OS FATOS MARCANTES NA ATUALIDADE


NO ÂMBITO DAS IMIGRAÇÕES INTERNACIONAIS?
O número de imigrantes que chega ao Brasil tem aumentado
significativamente nos últimos anos. Segundo dados da Polícia Federal, o número
de imigrantes registrados no Brasil aumentou 160% em dez anos. Conforme
registros da instituição, 117.745 estrangeiros deram entrada no país em 2015 – um
aumento de 2,6 vezes em relação a 2006 (PORTAL G1, 2016). O gráfico a seguir
revela a progressão quantitativa deste fenômeno, observe:

135
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA P. B. E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES

FIGURA 62 – NÚMERO DE IMIGRANTES QUE CHEGARAM AO BRASIL ENTRE 2006


E 2015

FONTE: Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/06/em-10-


anos-numero-de-imigrantes-aumenta-160-no-brasil-diz-pf.html>. Acesso
em: 4 set. 2017. 

O gráfico ressalta o notável incremento das imigrações no período


recente. No âmbito dos estudos geográficos, a discussão acerca deste fenômeno
contemporâneo torna-se relevante, pois este montante de imigrantes interfere na
dinâmica e formação da população brasileira, na medida em que passam a residir
no nosso país e, portanto, passam a requerer condições para prover a satisfação
das suas necessidades fundamentais. Sob a ótica dos gestores públicos, parece
prudente que haja uma leitura e compreensão deste fenômeno, a fim de verificar
se o país dispõe de condições adequadas — ou ao menos razoáveis — para
atender aos requisitos inerentes aos fluxos imigratórios, isto é, o atendimento das
demandas básicas para assegurar condições dignas de vida e de sobrevivência.
Bógus e Fabiano (2015, p. 126) destacam que:

136
TÓPICO 4 | APONTAMENTOS SOBRE AS IMIGRAÇÕES INTERNACIONAIS RECENTES NO BRASIL

o Brasil vive um novo momento no que diz respeito ao tema das migrações
internacionais. Apesar dos registros históricos de diversos ciclos de
imigração para o Brasil, a saída de brasileiros em busca de melhores
condições de vida em outros países tem se mostrado importante desde
o final dos anos 1980. Na virada deste século, a entrada de estrangeiros
no país voltou a se configurar como um movimento crescente, com
grupos advindos tanto de países desenvolvidos quanto de países
pobres, principalmente da América Latina. A maior projeção do Brasil
no exterior, aliada às crescentes restrições à entrada de imigrantes na
Europa e nos Estados Unidos, provocou uma diversificação nos grupos
de estrangeiros que têm optado por viver em terras brasileiras, além
de atrair cada vez mais imigrantes de países vizinhos que fogem de
crises econômicas e conflitos políticos. Observa-se também um aumento
expressivo na chegada de imigrantes e refugiados de nacionalidades
que tradicionalmente não migravam para o país.

No gráfico exposto a seguir são elencados os principais países de origem


dos imigrantes que chegam ao país.

FIGURA 63 - NACIONALIDADES DOS IMIGRANTES QUE CHEGARAM AO BRASIL EM 2015

FONTE: Disponível em: <https://goo.gl/qjggxL>. Acesso em: 4 set. 2017. 

137
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA P. B. E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES

Vamos analisar algumas características dos fluxos imigratórios em


realce no gráfico. Para tanto, comentaremos elementos centrais relacionados aos
imigrantes com nacionalidades situadas nas três primeiras posições do gráfico.

O representativo fluxo de haitianos tornou-se foco de análise dos estudos


populacionais recentes. Na seção “Leitura Complementar” desta unidade, você irá
ler o fragmento de um artigo científico intitulado “Migração de crise:
a migração
haitiana para o Brasil”, escrito por Rosana Baeninger e Roberta Peres, publicado
na primeira edição de 2017 da Revista Brasileira de Estudos de População, que
explica de maneira detalhada as características deste fenômeno recente.

A respeito dos imigrantes bolivianos, Gomes e Pereira (2015, p. 86)


explicam que:

As imigrações internacionais do século XXI constituem um reflexo


das assimetrias das relações socioeconômicas vigentes no ambiente
externo. A imigração boliviana, ligada ao trabalho em condições
precárias no setor de confecção da capital do Estado de São Paulo,
obteve visibilidade a partir da década de 1990 e constitui uma das
tendências dos “novos fluxos migratórios” do Estado boliviano para o
Brasil. Após um passado histórico de recepção e exportação de mão de
obra imigrante estrangeira, nota-se no Brasil um novo fluxo migratório
ligado às diversas questões sociais e econômicas ligadas à sociedade
boliviana. Dessa forma, a Bolívia se constitui em um polo de emigração
de mão de obra, devido à baixa expectativa de desenvolvimento
do país, que se origina em sua estrutura social e econômica, além
disso, a instabilidade política e miséria de determinadas regiões
potencializam os motivos para tal emigração. Desta forma, o Brasil
é estabelecido como um dos mais importantes polos receptores dos
imigrantes bolivianos, os quais buscam oportunidades de trabalho,
ascensão social e melhores condições de vida. (grifo nosso).

FIGURA 64 – IMIGRANTES BOLIVIANOS NO BRASIL

FONTE: Disponível em: <http://historesumo.blogspot.com.br/2016/02/


imigracao-boliviana-no-brasil.html>. Acesso em: 7 de set. 2017.

138
TÓPICO 4 | APONTAMENTOS SOBRE AS IMIGRAÇÕES INTERNACIONAIS RECENTES NO BRASIL

No que tange à entrada de imigrantes colombianos, é pertinente apontar


que o Brasil tem se posicionado de modo a facilitar a retenção de colombianos no
Brasil, acompanhe:

DICAS

ACORDO FACILITA VINDA DE COLOMBIANOS AO BRASIL

Colombianos que quiserem morar no Brasil não precisarão mais de vínculo com instituição
de ensino ou empresa. O mesmo vale para os brasileiros que quiserem viver na Colômbia.
O estímulo à migração resulta de um acordo que já havia sido assinado com Argentina,
Uruguai, Paraguai, Chile, Bolívia e Peru.

A solicitação de residência pode ser feita em consulados do Brasil. Os que já estão no país
podem fazer o pedido na Polícia Federal. Com isso, estrangeiros podem obter visto temporário
por dois anos e, no fim desse período, solicitar autorização permanente. Atualmente, vivem
oito mil colombianos no Brasil. A expectativa do Ministério da Justiça é de que, com o acordo,
aumente a comunidade no país.

Quem já está aqui comemora a decisão. "São só sete horas de avião. As pessoas na Colômbia
ainda não sabem muito bem quantas oportunidades existem aqui em São Paulo", diz o
colombiano Miguel Angel Herrera, de 30 anos, que vive há cinco no Brasil e, nesse tempo, já
teve de voltar a seu país sete vezes para não ser considerado imigrante ilegal. "Já aconteceu
de passar em todos os testes, ser aprovado e, ao chegar ao RH da empresa, descobrirem que
eu era estrangeiro e desistirem de me contratar."

Após obterem visto para morar permanentemente, depois de análise feita pelo Departamento
de Estrangeiros da Secretaria Nacional de Justiça, os estrangeiros garantem direitos trabalhistas
e previdenciários e podem até transferir recursos e nacionalidade para filhos. 

FONTE: Revista Época Negócios. Disponível em: <http://epocanegocios.globo.com/


Informacao/Acao/noticia/2012/08/acordo-facilita-vinda-de-colombianos-ao-brasil.html>.
Acesso em: 4 set. 2017.

Em 2017, um novo fluxo de imigrantes se destacou no plano nacional — a


chegada dos venezuelanos. A respeito da entrada de venezuelanos no período
recente, leia esta notícia publicada no Jornal da USP:

139
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA P. B. E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES

DICAS

Crise na Venezuela faz crescer o número de refugiados no Brasil

O número de refugiados venezuelanos tem aumentado a cada dia. Enfrentando a maior crise
política e econômica de sua história, apenas em 2017 a Venezuela viu 52 mil de seus mais
de 30 milhões de habitantes pedir refúgio em outras nações. Destes, 12.960 fugiram da grave
situação de miséria e perseguição política buscando abrigo no Brasil e estima-se que quase
30 mil estão em situação irregular no nosso país, segundo dados publicados na semana
passada pela Acnur, Agência da ONU para Refugiados.  

Camila Asano, mestre em Ciências Políticas pela USP, revela que muitos chegam ao Brasil
em busca de melhores condições de vida, enquanto outros solicitam refúgio para fugir da
perseguição política naquele país. Os que vêm por conta da crise econômica têm deixado
Roraima — Estado que faz fronteira com a Venezuela e onde os imigrantes costumam se
estabelecer — e ido para outros Estados, como o Amazonas e São Paulo, “mas a principal
dinâmica é de ficarem em Roraima, justamente por não quererem se afastar da fronteira e
não perderem contato com familiares que permaneceram na Venezuela”, aponta Camila, que
é coordenadora do Projeto de Política Externa e Direitos Humanos da ONG Conectas. [...]

FONTE: Disponível em: <http://jornal.usp.br/atualidades/crise-na-venezuela-faz-crescer-o-


numero-de-refugiados-no-brasil/>. Acesso em: 5 set. 2017.

140
TÓPICO 4 | APONTAMENTOS SOBRE AS IMIGRAÇÕES INTERNACIONAIS RECENTES NO BRASIL

LEITURA COMPLEMENTAR

MIGRAÇÃO DE CRISE:
A MIGRAÇÃO HAITIANA PARA O


BRASIL

Rosana Baeninger e Roberta Peres

Introdução

Este artigo compõe as discussões teóricas e metodológicas do Observatório


das Migrações em São Paulo (Nepo/Unicamp-Fapesp-CNPq), pesquisa que
contempla como perspectiva teórica as migrações transnacionais para o estudo das
migrações internacionais contemporâneas. Nesse sentido, o objetivo deste artigo é
apontar a necessidade de se considerar a perspectiva transnacional também para
análise da imigração haitiana no Brasil. O conceito de migração de crise (SIMON,
1995) assume – como conceito teórico – o eixo estruturador das reflexões aqui.

O cenário recente da imigração internacional no Brasil contempla o fluxo de


imigrantes haitianos a partir de 2010. Esta nova imigração representa a inserção do
país na rota das migrações transnacionais no século 21 (GUARNIZO et al., 2003),
refletindo, de um lado, o processo emigratório histórico do Haiti (BRODWIN, 2003;
CHARLES, 1992; LAGUERRE, 1998) e, de outro, as restrições dos Estados Unidos e
Europa para a recepção dessa imigração. Busca-se compreender a entrada do Brasil
na emigração do Haiti, seja como país de destino ou de trânsito (FERNANDES
et al., 2011) no âmbito da migração de crise (SIMON, 1995; CLOCHARD, 2007).

Do ponto de vista metodológico, o estudo da imigração haitiana – cujas


entradas se deram depois do Censo Demográfico de 2010 – exige a exploração de
diferentes fontes de dados, incorporando a perspectiva de metodologias mistas
para sua análise (ARIZA; GANDINI, 2012). As metodologias mistas consistem
em explorar diferentes dimensões que podem ser analisadas a partir de fontes
primárias e fontes de dados secundários para a apreensão da complexidade e
das especificidades do fenômeno migratório, tais como tipo de visto, localidade
de entrada (fronteira ou aeroporto), remessas e características sociodemográficas
de contingentes imigrantes. De fato, tais especificidades do fluxo migratório de
haitianos e haitianas no Brasil exigem a utilização de variadas fontes de dados, bem
como de metodologias qualitativas que permitam nos aproximar justamente das
especificidades dessa imigração. As análises teóricas dialogam com as evidências
empíricas baseadas nos registros administrativos do governo federal – Ministério
da Justiça e Segurança Pública, Departamento da Polícia Federal, Ministério
do Trabalho – e em informações de pesquisa de campo realizada em diferentes
unidades da Federação, contemplando espaços migratórios de norte a sul do país.
[...]

141
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA P. B. E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES

Imigração haitiana no país

As diferentes bases de dados, anteriormente mencionadas, permitem


dialogar com alguns elementos da migração de crise que consideramos
fundamentais para o caso da imigração haitiana para o Brasil, quais sejam: a
transformação da fronteira em espaço da migração transnacional; a menor presença
das mulheres no fluxo migratório; as precárias condições de inserção laboral; e a
centralidade das remessas monetárias.

Entre 2010 e 2015, foi registrada pelo Sincre a entrada no Brasil de 28.866
imigrantes haitianos e haitianas já com visto permanente no país. Quando se
consideram os dados do STI (excluindo turistas e tripulação), que englobam
também os registros de solicitantes de refúgio, o volume de entradas de haitianos
e haitianas, para o mesmo período, passa a ser de 85.079 imigrantes (dentre os
quais já constam os registros do Sincre), sendo que 44.361 imigrantes foram
registrados em postos de controle de fronteiras terrestres, correspondendo a 52%
da imigração haitiana no país, entre 2010 e 2015. A entrada pela fronteira revela
importante aspecto da migração de crise: no Haiti, as dificuldades de acesso ao
visto na Embaixada do Brasil, que levam à utilização de uma trajetória pelos países
latino-americanos até a chegada na fronteira brasileira; e, no Brasil, a solução dada
pelo Estado de oferecer a “solicitação de refúgio”, mas que o trâmite posterior se
dará pelo Ministério do Trabalho (CNIg) para a concessão do visto humanitário.

No total de entradas de homens haitianos (62.944 imigrantes), 54%


ingressaram pelas fronteiras e, portanto, como solicitantes de refúgio. O total
do movimento de entradas e saídas nas áreas de fronteira brasileira, de acordo
com o STI, correspondeu a um volume de 10.148 mulheres haitianas (22% do
total das entradas pela fronteira) e 34.213 homens haitianos, entre 2010 e 2015,
considerando-se os postos de controle nas fronteiras e os postos da receita federal
em estados de fronteira. Há uma predominância da entrada das mulheres haitianas
por aeroportos, com 11.974 do total de 22.135 haitianas; ou seja, 54,1% do total das
haitianas que entraram no Brasil já apresentavam o visto permanente. De acordo
com Pessar e Mahler (2003), as mulheres acessam mais as redes de apoio e de
informação desde o planejamento da viagem até a chegada ao destino, podendo ser
este um elemento importante na seletividade de mulheres haitianas com entrada
já documentada no país.

O movimento segundo postos de controle de fronteiras, no período 2010-


2015, aponta a concentração das entradas em Epitaciolância, no Acre, respondendo
por 88% de haitianos e haitianas que ingressaram pelas fronteiras (39.150
imigrantes), seguida, bem mais distante, pela fronteira de Uruguaiana, no sul do
país, com 1.110 imigrantes, e Pacaraima, na fronteira norte, com 1.027 registros.
Para as áreas da fronteira do sul do Brasil, a proporção de mulheres no movimento
migratório (menos de 20%) é menor do que para as entradas pela fronteira norte
(em torno de 30%).

142
TÓPICO 4 | APONTAMENTOS SOBRE AS IMIGRAÇÕES INTERNACIONAIS RECENTES NO BRASIL

As entradas da imigração haitiana pelas fronteiras terrestres e seus


respectivos postos de controle, a partir dos dados do STI, apontam a evolução do
movimento migratório, entre 2010 e 2015. A entrada de mulheres na imigração
fronteiriça de 2013 a 2015 apresenta maior incremento absoluto do que a de homens:
em 2013, 2.050 mulheres ingressaram no país pelas fronteiras, volume que passou
para 3.235, em 2014, e para 3.542, em 2015, em contraposição ao incremento de
824 homens haitianos entre 2013 e 2014 e o decréscimo de 382 homens no total da
imigração masculina, mesmo que o volume de homens imigrantes seja superior
(em torno de 10 mil entradas em 2014 e 2015).

A fronteira tornou-se o espaço da imigração haitiana em busca do visto não


recebido no Haiti. De fato, 98% das mulheres haitianas e 97% dos homens haitianos
que entraram pela fronteira estavam na condição de solicitante de refúgio. Do
total da imigração haitiana na fronteira, apenas 2% já possuíam visto permanente.
Ressalte-se que 1.827 imigrantes do Haiti (324 mulheres e 1.503 homens) utilizaram
as fronteiras brasileiras para deixar o país, entre 2010 e 2015, revelando a inclusão
do Brasil como um espaço estratégico do processo social da emigração haitiana.

A imigração haitiana entrada pelos aeroportos internacionais respondeu


por 40.650 pessoas, entre 2010 e 2015, representando 47,8% do total do movimento
migratório (Tabela 1). O aeroporto de Guarulhos recebeu 65% das entradas
por aeroportos, seguido dos aeroportos internacionais de Porto Alegre (4.142
migrantes), Rio de Janeiro (3.377), Manaus (2.848), Belo Horizonte (1.925) e Brasília
(1.266).

De forma a complementar as informações e captar as especificidades da


imigração haitiana no Brasil, com os dados do Sincre é possível identificar o lugar
de residência dos imigrantes com registro ativo no país. Como o Sincre capta
imigrantes com registro ativo na Polícia Federal (Registro Nacional de Estrangeiro
– RNE), no caso da imigração haitiana com o visto permanente, notam-se menores
volumes na Região Norte (3.225 imigrantes), por onde entraram imigrantes do Haiti
sem o visto humanitário, e maior concentração no Sudeste (10.844) e Sul (12.734).
O Estado de São Paulo, com 8.775 imigrantes, no período 2010-2015, responde
pelo maior volume da imigração haitiana já com visto permanente (31% do total),
seguido pelos estados do Paraná (2.995 haitianos), Santa Catarina (2.879), Rio
Grande do Sul (2.769) e Minas Gerais (1.210).

Considerando o local de entrada da imigração haitiana residente em São


Paulo, de acordo com os dados do Sincre, cerca de 24% entraram pela fronteira norte
do Brasil – Acre, Amazonas e Roraima – e depois seguiram para São Paulo, entre
2010 e 2015. De fato, a presença haitiana nos municípios brasileiros revela outra
característica importante dessa imigração no Brasil: sua circulação por diferentes
espaços migratórios, ou seja, a expressão da migração interna como fenômeno de
reprodução social dessa população no contexto nacional.

143
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA P. B. E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES

Esgotadas as possibilidades de abrigo e trabalho na fronteira (SILVA; ASSIS,


2016) e com o incremento desse fluxo de imigrantes – quando se passou de 74
imigrantes haitianos/haitianas entrados pela fronteira, em 2010, para 13.572 em
2015 (STI) –, essa imigração se dirigiu para a cidade de São Paulo, e daí para outros
municípios, incluindo os do Sul do Brasil. Amparados pelo visto humanitário, pela
solicitação de refúgio e também pela Carteira de Trabalho e Previdência Social,
homens e mulheres do Haiti têm maior capacidade para essa mobilidade dentro
do país. Trata-se de uma especificidade importante diante de outros contingentes
imigrantes compostos, em grande parte, por pessoas não documentadas e, portanto,
concentradas em espaços migratórios específicos.

Entre 2010 e 2015, os imigrantes haitianos com visto permanente que


entraram no país corresponderam a 20.251 homens e 8.444 mulheres, ou seja, os
homens responderam por 70% da imigração, de acordo com os dados do Sincre.
Embora no período analisado os volumes de entrada de homens haitianos superem
os de mulheres, os anos recentes revelam o aumento da entrada de haitianas,
indicando a possível estratégia da migração tardia das mulheres (PESSAR, 2000)
e não apenas a reunião familiar. De fato, entre 2014 e 2015 houve expressiva
alteração na composição por sexo neste fluxo migratório vindo do Haiti com visto
permanente: os registros de entrada do Sincre para os homens haitianos no Brasil
diminuíram de 6.337 para 5.541, enquanto os de mulheres haitianas ampliaram-se
de 2.590 para 3.728, no mesmo período.

Essa diferença de volumes de imigrantes entre homens e mulheres, segundo


Pessar (2000), acaba por mascarar a participação das mulheres na composição dos
fluxos migratórios e colocando-as sempre em função da reunião familiar, elemento
importante nas migrações de crise. Entretanto, a distribuição da imigração de
mulheres haitianas por status conjugal, de acordo com os registros do Sincre
(Tabela 4), aponta que 25% das mulheres que entraram no Brasil, entre 2010 e 2015,
são casadas e outras 70% são solteiras, sendo que para os homens a proporção de
solteiros é de 76%. Considerando-se que a imigração haitiana, tanto para homens
como para mulheres, concentra-se na faixa de 20 a 34 anos, os dados sugerem que
as mulheres haitianas não vêm ao Brasil no papel exclusivo de cônjuges ou de filhas.

O maior volume de homens na migração internacional acaba por reforçar


o ideal migrante composto por homem, jovem, solteiro e sem filhos e o papel da
mulher no fluxo migratório restrito à unificação familiar (MOROKVASIC, 2002).
No entanto, esses dados de registros de entrada têm apontado que as tendências
da presença haitiana no Brasil revelam um dos aspectos que consideramos cruciais
dessa migração de crise: a crescente importância da presença e permanência das
mulheres nos fluxos migratórios

Outro aspecto importante para a compreensão da inserção laboral da


imigração haitiana no âmbito da migração de crise refere-se à maneira como a
sociedade receptora constrói a noção do outro e sua “inserção” nesta sociedade:
imigrantes haitianos e haitianas foram convertidos em imigrantes trabalhadores

144
TÓPICO 4 | APONTAMENTOS SOBRE AS IMIGRAÇÕES INTERNACIONAIS RECENTES NO BRASIL

com carteira de trabalho. A possibilidade de contar com a carteira de trabalho para


imigrantes do Haiti se refletiu na inserção dessa imigração no mercado formal de
trabalho no Brasil: os vínculos formais de trabalho ampliaram-se de 508, em 2011,
para 23.017, em 2014.

Os estados do Amazonas e Rondônia ilustram a importância da fronteira


para a entrada e inserção laboral formal de imigrantes do Haiti em 2011, que
foram responsáveis pela maioria dos empregos formais para essa imigração. Já
com a migração interna dessa imigração internacional, a partir de 2012, houve
expressiva alocação de haitianos e haitianas no mercado formal de trabalho nos
estados do Sudeste e Sul do país. Entre 2011 e 2014, São Paulo passou de 23 para
5.025 vínculos formais; o Paraná de 6 para 5.063; e Santa Catarina de 15 para 6.357
vínculos formais. Na região Centro-Oeste, que não apresentava nenhum vínculo
formal em 2011, passou a registrar 1.570 em 2014.

Assim, de norte a sul do país assistiu-se à necessidade de implementação de


políticas locais de atendimento e inserção de trabalho dessa população imigrante
nos últimos anos. Ocorre, contudo, que, apesar desses empregos formais, mais da
metade da imigração haitiana encontra-se em atividades precárias ou mesmo sem
emprego. De fato, quando consideramos os dados do Sincre, de imigrantes com
registro ativo, é possível identificar que 35% de imigrantes do Haiti no Brasil, entre
2010 e 2015, se encontravam na categoria sem ocupação ou outra ocupação não
classificada, sendo que em São Paulo esta proporção alcançava 60% da imigração.
Mesmo que a classificação de profissões do Sincre apresente categorias não
compatíveis com o Código Brasileiro de Ocupações, estas informações direcionadas
como sem ocupação ou não classificada revelam as difíceis condições de inserção
laboral da imigração haitiana no mercado de trabalho brasileiro.

A forte presença de haitianos nessas categorias aponta ainda um


descolamento entre a capacitação profissional de imigrantes haitianos e haitianas
– mais de 50% dessa imigração possui ensino médio completo (RAIS, 2013) – e o
mercado de trabalho reservado para este contingente no Brasil, mais um aspecto
da migração de crise no destino migratório.

Os dados do Sincre indicam que na ocupação de pedreiro estavam inseridos


cerca de 20% dos imigrantes do Haiti no Brasil e em São Paulo, entre 2010 e 2015.
O recrutamento desses/dessas imigrantes pelas empresas de construção civil, pelos
frigoríferos, para serviços em restaurantes e de limpeza – quer seja no Acre, quer seja
na Missão Paz em São Paulo – denota se tratar de demanda explícita por essa mão
de obra imigrante, com formas de recrutamento que revelam o processo civilizatório
(ELIAS, 1994) imposto a esses sujeitos migrantes do Haiti (BAENINGER; PERES,
2015). Na Missão Paz, em São Paulo, imigrantes haitianos e haitianas estão à espera
de trabalho, com tempo de estada e entrevistas para um emprego. Este cenário do
século XXI nos remete ao “mercado de homens” nos mesmos moldes em que Pierre
Denis (1909) referiu-se à Hospedaria dos Imigrantes em São Paulo nas últimas
décadas do século XIX e começo do XX, quando os fazendeiros iam buscar seus
colonos e sua força de trabalho para as fazendas de café.

145
UNIDADE 2 | GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA P. B. E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES

Assim, o reflexo dessa forma de inserção laboral é a alocação de imigrantes


do Haiti em atividades, de acordo com a Rais, de produção de bens e serviços
industriais, reparação e manutenção, serviços em geral, vendedores, que
responderam por 92% dos vínculos de empregos formais de haitianos e haitianas
no país, entre 2011 e 2014, em que 75% dos e das imigrantes receberam até dois
salários mínimos mensais.

A pesquisa exploratória de campo revelou que parte considerável dos


salários de haitianos e haitianas entrevistados se transforma em remessas para
familiares no Haiti, mais um elemento estruturante do campo social desta migração
de crise. Binford (2002) destaca que as remessas, antes de serem necessárias apenas
para o contexto familiar, se convertem na economia do país. Segundo Magalhães
(2017, p. 240), no caso do Haiti, “as remessas de migrantes representaram entre 22%
e 26% do PIB nacional nos últimos dez anos”. Assim, essa dependência das remessas
reproduz e alimenta a “síndrome emigratória” (BINFORD, 2002; COVORRUBIAS,
2010; MAGALHÃES, 2014) experimentada por várias décadas no Haiti.

Na pesquisa exploratória qualitativa, realizada entre 2014 e 2015 com 279


imigrantes do Haiti no país, 168 haitianos e 24 haitianas, que se encontravam
ocupados, afirmaram que enviavam remessas mensais (Tabela 6).

Por se tratar de um fluxo imigratório documentado, especificidade


importante do contingente haitiano no país, o envio das remessas por agências
bancárias (para 150 imigrantes) é um fator da financeirização dessa migração. A
finalidade da remessa para o sustento da família (para 180 imigrantes) e o uso
das remessas no Haiti para o consumo da família (para 159 imigrantes) foram as
respostas preponderantes dentre os (as) entrevistados (as). Entre 2014 e 2015, 149
imigrantes enviaram, em média, até R$ 500,00 por mês. Binford (2002) destaca
que, no caso dos países dependentes de remessas, estas estruturam o nível de
consumo das famílias baseado no volume de remessas que recebem e, portanto,
o consumo para ser mantido, em especial nas conjunturas de crise, exige o
aporte de novas remessas e, consequentemente, novas emigrações. De fato, isto
é particularmente importante no que se refere à migração haitiana no Brasil e
às remessas (MAGALHÃES, 2014), considerando-se que, dos entrevistados na
pesquisa entre 2014 e 2015, 80% dos homens haitianos e 75% das mulheres não
mantiveram o mesmo valor da remessa desde que chegaram ao Brasil.

Esta diminuição no montante de remessas pode também ter contribuído


para a emigração de novos contingentes do Haiti para o Brasil, justamente por
manter a dependência das remessas para a reprodução social das famílias no país de
origem; este foi o caso das emigrações do Haiti para os Estados Unidos, o que parece
estarmos vivenciando para o Brasil (MAGALHÃES, 2017). As remessas refletem
experiências transnacionais, que atravessam os Estados-nação, configurando mais
um dos elementos estruturantes do complexo campo social das migrações de crise
entre o Brasil e o Haiti.

FONTE: BAENINGER, Rosana; PERES, Roberta. Migração de Crise: a migração haitiana para o
Brasil. Revista Brasileira de Estudos de População, v. 34, n. 1, p. 119-143, 2017.

146
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• O número de imigrantes que chegam ao Brasil tem aumentado significativamente


nos últimos anos.

• Os estudos sobre os fluxos imigratórios são  relevantes porque o montante


de imigrantes que entram em um país interfere na dinâmica e formação da
população brasileira à medida em que passam a residir no nosso país e, portanto,
passam a requerer condições para prover a satisfação das suas necessidades
fundamentais.
 
• Haitianos, bolivianos e colombianos lideram o ranking das correntes imigratórias
no Brasil.
 
• Em 2017, um novo fluxo de imigrantes se destacou no plano nacional — a
chegada dos venezuelanos.

147
AUTOATIVIDADE

1 Historicamente o Brasil vivenciou importante movimento de imigração.


Acerca dos fluxos imigratórios recentes no Brasil, assinale a alternativa
CORRETA:

( ) Permanecem características similares ao período de formação do povo


brasileiro, com destaque para fluxos oriundos da Europa.
( ) Há um decréscimo no número de migrantes que chegaram ao Brasil nos
últimos 15 anos, em virtude da crise política nacional.
( ) A rota dos imigrantes que chegam ao Brasil envolve principalmente
deslocamentos entre as regiões Centro-Oeste e Sudeste.
( ) O número de imigrantes que chegam ao Brasil tem aumentado
significativamente nos últimos anos, chegando a um aumento de 160% em
dez anos.

2 Em tempos de globalização, além de novos fluxos financeiros e


informacionais, emergem também novos fluxos imigratórios. Com relação
à imigração brasileira, marque V para as sentenças verdadeiras e F para as
falsas:

( ) Nas últimas décadas, a entrada de estrangeiros no Brasil experimentou


crescimento, abarcando grupos advindos tanto de países desenvolvidos
quanto de países pobres.
( ) Acerca dos imigrantes e refugiados que adentraram no Brasil nos últimos
dez anos, destacam-se os japoneses, iranianos e bolivianos.
( ) Entre os fatores que explicam o aumento no número de imigrantes que
chegam ao Brasil, é possível apontar a maior projeção do Brasil no exterior.
( ) Entre os motivos relacionados ao aumento da imigração recente no Brasil,
mencionam-se as crescentes restrições à entrada de imigrantes na Europa e
nos Estados Unidos.

Agora assinale a sequência CORRETA:


( ) V – V – F – F.
( ) F – V – V – F.
( ) F – V – F – V.
( ) V – F – V – V.

3 Segundo dados da Polícia Federal, em 2015, os imigrantes oriundos do Haiti


lideraram a lista de estrangeiros que passaram a residir no Brasil. Tendo
em vista a relevância deste fluxo imigratório, disserte sobre a imigração
haitiana para o Brasil.

148
UNIDADE 3

ESTUDOS DA REDE URBANA


BRASILEIRA, DAS REGIÕES DE
INFLUÊNCIA E DAS REDES DE
TRANSPORTE NO BRASIL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta unidade tem por objetivos:

• introduzir o estudo do conceito de redes no âmbito da Geografia;

• conhecer as principais abordagens adotadas para analisar a rede urbana


brasileira;

• compreender o conceito de regiões de influência;

• analisar alguns elementos da rede de transportes no Brasil.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade, você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresenta-
do.

TÓPICO 1 – NOTAS SOBRE O USO DO TERMO “REDE”

TÓPICO 2 – A REDE URBANA BRASILEIRA

TÓPICO 3 – O ESTUDO DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA

TÓPICO 4 – AS REDES DE TRANSPORTES NO BRASIL

149
150
UNIDADE 3
TÓPICO 1

NOTAS SOBRE O USO DO TERMO “REDE”

1 INTRODUÇÃO
No campo da Geografia é recorrente o emprego da expressão rede
para analisar e estudar a estrutura de determinados processos e elementos que
engendram o espaço geográfico, tal é o caso de definições como Rede Urbana,
Rede Financeira, Rede de Transportes, Rede de Migrações, entre outras. Em
decorrência da ampla utilização deste termo no cotidiano, usualmente, parte-se
da premissa de que se trata de uma definição reconhecida, de fácil significado e de
simples assimilação. Contudo, ao sairmos do campo da geografia, rapidamente
nos vem à mente a utilização deste termo em arenas diversas: falamos de rede
social, rede de colaboração, rede de internet, rede de contatos profissionais
(networking), entre tantas outras.

2 DISCUTINDO O CONCEITO DE REDES


Considerando a problemática exposta na introdução, surge a indagação:
Será que a geografia, ao utilizar o conceito de rede, parte deste uso disseminado
e comum do termo? Estaríamos todos “falando” da mesma rede? E qual seria a
implicação do significado do conceito de rede nos estudos geográficos?

Para responder a esta pergunta, inicialmente, recorre-se ao dicionário


para checar o significado de rede empregado em toda a sociedade. As definições
são diversas, a seleção a seguir sintetiza as principais, segundo o Dicionário
Brasileiro de Língua Portuguesa Michaelis (DICIONÁRIO BRASILEIRO DE
LÍNGUA PORTUGUESA MICHAELIS, 2017, s.p.):

1. Entrelaçamento de fios, cordões, arames etc., formando uma espécie


de tecido de malha com espaçamentos regulares, em quadrados ou
losangos, relativamente apertados, que se destina a diferentes usos.
2. Dispositivo feito em tecido de malha, usado para apanhar peixes,
borboletas, pássaros etc.
3. Qualquer estrutura ou conjunto que se assemelha a um sistema
reticulado.
4. Conjunto de fios, canais, estradas etc. que se entrecruzam e se
ramificam.
5. Conjunto de meios de comunicação ou de informação (telefone,
rádio, televisão) que, por sua estrutura, se assemelha a uma rede.
6. Conjunto de vias de transporte (aéreo, ferroviário, rodoviário) que
mantém a estrutura de uma rede.

151
UNIDADE 3 | ESTUDOS DA REDE URBANA BRASILEIRA, DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA E DAS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL

7. Conjunto de pessoas ou de estabelecimentos comerciais ou


financeiros que mantêm contato entre si e se reportam a uma
administração central.
8. Conjunto de condutores elétricos ou de canalizações que garantem
a prestação de determinados serviços.

Em face a esta diversidade de definições, parece aparente que, tal como


no plano cotidiano, no âmbito científico também existe uma ampla gama de
concepções teóricas em torno do conceito de rede. E embora o uso massivo da
expressão pareça exprimir uma ideia de relativo consenso, é adequado tecermos
alguns esclarecimentos, com o intuito de tornar o debate geográfico sobre as
redes mais assertivo.

Dias (2005, p. 11) esclarece que “nos anos recentes, a rede vem constituindo-
se numa agenda de pesquisa que reúne várias propostas, significados e abordagens
disciplinares diversas”.

Dias (2005) observa que a difusão do conceito de redes perpassa pelo seu
uso enquanto conceito teórico, bem como, uma noção empregada pelos atores
sociais. Particularmente no âmbito da geografia, a espetacular profusão do termo
no período recente está vinculada a um contexto caracterizado pela aceleração de
quatro grandes fluxos que atravessam o espaço geográfico, a saber (DIAS, 2005,
p. 11):

a) os movimentos de pessoas ou fluxos migratórios,


b) os movimentos comerciais ou fluxos de mercadorias;
c) os movimentos de informações ou fluxos informacionais;
d) os movimentos de capitais ou fluxos monetários e financeiros.

O adensamento de fluxos de toda ordem ampliou as necessidades de


circulação e passou a exigir o emprego de técnicas cada vez mais eficazes em sua
análise. “Isto explica em parte o fato de a representação do mundo social integrar
crescentemente a noção de rede, numa perspectiva que procura chamar a atenção
sobre as relações e a complexidade das interações entre os nós.” (DIAS, 2005,
p. 12). O termo “representação” é definido por Kozel (2005, p. 140-141) “como
o processo pelo qual são produzidas formas concretas ou idealizadas, dotadas
de particularidades que podem também se referir a um outro objeto, fenômeno
relevante ou realidade”.

Tendo em vista a amplitude do termo e com o intuito de facilitar a


compreensão sobre as possibilidades de empregar a noção de redes nos estudos
geográficos, a representação a seguir evidencia de modo sucinto como tal conceito
tem sido pensado nas Ciências Humanas.

152
TÓPICO 1 | NOTAS SOBRE O USO DO TERMO “REDE”

FIGURA 65 – O USO DO CONCEITO DE REDES NAS CIÊNCIAS HUMANAS

Uso do conceito de REDES nas Ciências Humanas

Tem sido pensado primordialmente


como forma particular de
organização:

Social (grupos, Transacional-


instituições ou Urbana econômico- Técnica
firmas). política

FONTE: Adaptado de Dias (2005)

Observe que o elemento central das diferentes abordagens sobre as redes


recai sobre a noção de “forma de organização”. Na sequência, serão expostos
exemplos de diferentes estudos situados nestes grupos com vistas a aprofundar
sua compreensão, acompanhe:

QUADRO 15 – ESTUDOS SOBRE REDES GEOGRÁFICAS ATRELADOS À IDEIA DE REDE COMO


FORMA DE ORGANIZAÇÃO
Forma de Exemplos de autores Exemplo prático de estudo:
organização: que trabalham nesta
perspectiva:
Marques (2000): desvenda o peso
Castells (1999) e fundamental do processo de
Social Marques (2000). constituição de redes na explicação da
produção de políticas, determinando
uma trajetória inflexível, mas com
alguns resultados em aberto que vão se
configurando ao longo do tempo.
Côrrea (1989): Analisa a rede urbana
Urbana Santos (1993) e a partir de diversas perspectivas,
Côrrea (1989). enfatizando aspectos como
classificações funcionais das cidades e
hierarquia urbana.
Transacional- Machado (1998) e Cunha (2003): analisa a aplicação
econômico- Cunha (2003). do conceito de redes para o sistema
política agroalimentar.
Benakouche (1995) e Benakouche (1995): trabalha a ideia de
Técnica Dias (1995). rede a partir das redes de comunicação
eletrônica e suas desigualdades
regionais.
FONTE: Adaptado de Dias (2005)
153
UNIDADE 3 | ESTUDOS DA REDE URBANA BRASILEIRA, DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA E DAS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL

Com base no exposto, fica evidente que o alcance metodológico que o


conceito de redes oferece para os pesquisadores é abrangente e multidisciplinar,
tornando-se fundamental enunciar qual o sentido de rede que se está empregando
ao lançarmos nossos olhares sobre os estudos geográficos.

Dias (2005) faz um esforço significativo ao internalizar o conceito de rede


no âmbito da geografia. Para a autora:

[...] Tentar compreender a interação entre as redes e os territórios


pressupõe reconhecer que estamos diante de duas lógicas distintas.
De um lado, a lógica das redes, definidas por atores que a desenham,
modelam e regulam. Parece essencial conhecer suas ações,
identificando as estratégias dos atores e a maneira como as redes são
desenhadas e administradas. De outro lado, a lógica dos territórios
[...] (DIAS, 2005, p. 20) (grifo nosso).

Para Santos (2000, p. 259), territórios podem ser concebidos como “arenas
da oposição entre o mercado — que singulariza — com as técnicas de produção,
a organização da produção, a geografia da produção e a sociedade civil — que
generaliza— e desse modo envolve, sem distinção, todas as pessoas.

Em suma, convém ressaltar que a noção de rede não é estanque e absoluta.


Como pontua Dias (2005, p. 22):

A rede, como qualquer outra intervenção humana, é uma construção


social. Indivíduos, grupos, instituições ou firmas desenvolvem
estratégias de toda ordem (políticas, sociais, econômicas e territoriais)
e se organizam em rede. A rede não constitui o sujeito da ação, mas
expressa ou define a escala das ações sociais. As escalas não são dadas
a priori, porque são construídas nos processos. (...) a rede representa
um dos recortes espaciais possíveis para compreender a organização
do espaço contemporâneo (grifo nosso).

Feitos estes esclarecimentos conceituais, que são relevantes para a sua


formação do professor de Geografia, a seguir, examinaremos especificamente um
tipo de rede: a rede urbana brasileira.

154
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• A rede constitui-se numa agenda de pesquisa que reúne várias propostas,


significados e abordagens disciplinares diversas.

• O adensamento de fluxos de toda ordem ampliou as necessidades de circulação


e passou a exigir o emprego de técnicas cada vez mais eficazes em sua análise.

• O elemento central das diferentes abordagens sobre as redes recai sobre a


noção de “forma de organização”.

• A rede, como qualquer outra intervenção humana, é uma construção social.

• A rede não constitui o sujeito da ação, mas expressa ou define a escala das
ações sociais.

• A rede representa um dos recortes espaciais possíveis para compreender a


organização do espaço contemporâneo.

155
AUTOATIVIDADE

1 A utilização do conceito de redes, na Geografia, observada sob um prisma


mais abrangente, acompanha o movimento de utilização do termo pelas
ciências humanas. A respeito do uso do conceito de redes nas ciências
humanas, assinale a alternativa correta:

a) ( ) O conceito de redes refere-se a uma forma particular de organização, que


inibe a interação espacial e social.
b) ( ) As redes envolvem formas específicas de organização social, técnica,
urbana, econômica e política.
c) ( ) A ideia de redes surge já na Antiguidade, quando o conceito era utilizado
para explicar a organização política.
d) ( ) Para estudar uma rede, é imprescindível conhecer de antemão qual ator
social lidera o grupo e quem são seus subordinados.

2 Geógrafos de diferentes linhas de pesquisa têm adotado o conceito de


rede para analisar como fixos e fluxos geográficos estão espacialmente
organizados. Acerca deste conceito, marque V para as sentenças verdadeiras
e F para as falsas.

( ) A rede é intervenção humana construída academicamente por grupos de


pesquisa qualificados para tal tarefa.
( ) A rede constitui-se numa agenda de pesquisa que reúne várias propostas,
significados e abordagens disciplinares diversas.
( ) A rede não constitui o sujeito da ação, mas expressa ou define a escala das
ações sociais.
( ) O estudo das redes está circunscrito no campo disciplinar da geografia,
tendo em vista o objeto de estudo da geografia.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:


a) V – V –V –F.
b) F –V – V– F.
c) V – V – F – F.
d) F – F – F – V.

3 No campo disciplinar da Geografia é recorrente e crescente o uso da


expressão redes. Tal conceito é utilizado para explicar fenômenos de
diferentes naturezas, tais como a rede urbana ou as redes de transportes.
Neste sentido, disserte sobre, pelo menos, três fatores que contribuíram
para a disseminação do conceito de redes na geografia.

156
UNIDADE 3
TÓPICO 2

A REDE URBANA BRASILEIRA

1 INTRODUÇÃO
A ideia de rede urbana está relacionada a um espaço hierarquizado através
de influências econômicas, sociais, políticas e culturais, uma vez que as cidades
não se distinguem apenas pela concentração de população, mas também pela
quantidade e pela qualidade dos serviços que oferecem, como escolas, hospitais,
bancos, centros culturais, centros de abastecimento, universidades (SILVA;
MACEDO, 2009).

Tamdjian e Mendes (2005, p. 159) explicam que:

À medida que se desenvolvem, as cidades passam a estabelecer fluxos


sociais, econômicos, políticos e culturais entre si. Forma-se, assim, uma
rede urbana, isto é, um conjunto de cidades interligadas por fluxos de
pessoas, ideias, capitais, informações, serviços, mercadorias etc. Tais
fluxos são orientados segundo uma ordem de hierarquia comandada
pelas cidades maiores. Estas destacam-se porque disponibilizam
serviços e comércio com alto grau de sofisticação e especialização,
inexistentes nos centros urbanos menores.

Seguindo esta linha de pensamento, Souza (2003, p. 25) observa que:

Toda cidade é, do ponto de vista geoeconômico, isto é, das atividades
econômicas vistas a partir de uma perspectiva espacial, uma localidade
central, de nível maior ou menor de acordo com a sua centralidade –
ou seja, de acordo com a quantidade de bens e serviços que ela oferta, e
que fazem com que ela atraia compradores apenas das redondezas, de
uma região inteira ou, mesmo, de acordo com o nível de sofisticação
do bem ou serviço, do país inteiro ou até de outros países.

Os estudos sobre a rede urbana estão entrelaçados ao conceito de cidade


— elemento central no processo de análise e leitura dos espaços urbanos. Por
este motivo, é adequado esclarecer a diferença entre cidade e município, termos
muitas vezes empregados como sinônimos. Acompanhe a explicação apresentada
a seguir:

157
UNIDADE 3 | ESTUDOS DA REDE URBANA BRASILEIRA, DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA E DAS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL

E
IMPORTANT

Qual é a diferença entre cidade e município?

A diferença entre cidade e município está na orientação de seus conceitos: um está


relacionado com a ocupação humana no espaço, e o outro, com a delimitação político-
territorial.
É muito comum observarmos e lermos por aí a utilização dos termos cidade e município
como expressões equivalentes. No entanto, são expressões distintas que abrangem diferentes
significados para as apropriações humanas sobre o espaço geográfico.

FIGURA 66 – CIDADE OU MUNICÍPIO? VISTA DO MUNICÍPIO DE


VINHEDO (SP)

FONTE: Disponível em: <https://exame.abril.com.br/brasil/100-cidades-


pequenas-que-dao-um-show-em-infraestrutura/>. Acesso em:
29 set. 2017.

Mas qual é a diferença entre cidade e município?

A diferença entre cidade e município encontra-se, basicamente, no fato de um ser um


conceito referente à ocupação humana e o outro estar associado à delimitação territorial
por meio de divisas.

O município é uma divisão legalmente realizada de um território. São as várias partes


que compõem um mesmo estado. Podemos dizer que todo e qualquer lugar do Brasil,
independentemente de seus domínios, está localizado dentro de uma área municipal, que
é administrada por uma prefeitura.

A cidade é a área urbana de um município, e não qualquer área urbanizada, mas sim aquela
delimitada por um perímetro urbano (ver definição abaixo), que também é legalmente
estabelecido e separa a cidade do campo.

Portanto, o município é composto pelo campo (área rural) e pela cidade (área urbana).
Além disso, ele também pode conter outras cidades menores além de seu distrito-sede
que não possuem autonomia política suficiente para emanciparem-se. Essas pequenas
aglomerações geralmente recebem o nome de vilas, povoados e outros.

158
TÓPICO 2 | A REDE URBANA BRASILEIRA

Existem cidades que ocupam praticamente toda a área municipal. Há também outras
cidades que unem fisicamente a sua área urbana com a de outro município vizinho,
formando um espaço contínuo, o que é chamado de conurbação. Por outro lado, há
aqueles municípios que são quase totalmente formados por áreas rurais, tendo cidades
muito pequenas comparadas ao seu território.

A maior cidade do Brasil é São Paulo. Sua área urbana está conurbada com várias cidades
pertencentes a outros municípios, a exemplo de Guarulhos e outros, formando uma região
metropolitana composta por dezenas de milhões de pessoas.

Já o maior município do Brasil é a cidade de Altamira, localizada no Pará, com quase 160
mil quilômetros quadrados de extensão. Essa área é maior do que 11 estados brasileiros,
incluindo o Rio de Janeiro, sendo maior também do que vários países, como Portugal,
Grécia, Cuba, Áustria e outros.

FONTE: Portal Mundo Educação. Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/


geografia/qual-diferenca-entre-cidade-municipio.htm>. Acesso em: 29 set. 2017.

DICAS

Para aprofundar seus estudos, leia o livro “O que é cidade?”, escrito por Raquel
Rolnik.

Sinopse: Pare, olhe e pense. Esse conjunto de casas, prédios e vias de tráfego, povoado por
milhares, às vezes milhões de pessoas, como você sabe, é uma cidade. E não faz muito tempo
que elas existem. As primeiras surgiram há apenas 5.000 anos, nos vales da Mesopotâmia.
De lá para cá, muita coisa mudou... Este livro parte da referência a cidades as mais diversas,
para chegar ao que elas têm de mais essencial e comum. Mais do que isso, mergulha nas
metrópoles capitalistas, suas origens e contradições. De Babel a Brasília, o lugar onde a gente
vive, estuda, trabalha e procura ser feliz.

Você pode acessar esta obra clicando no link a seguir:

FONTE: Disponível em: <https://arquiteturaeurbanismosite.files.wordpress.com/2016/03/


rolnik-raquel-o-que-c3a9-cidade-livro-completo.pdf>.

Boa leitura!

159
UNIDADE 3 | ESTUDOS DA REDE URBANA BRASILEIRA, DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA E DAS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL

Notou a diferença entre município e cidade? As palavras-chave para


pensar nesta diferenciação são: ocupação e delimitação. Quando clareamos e
desvendamos os conceitos, podemos melhorar nossa escrita acadêmica. Por isso,
ao elaborar os seus artigos para as disciplinas, escrever as redações e demais
avaliações discursivas, lembre-se de empregar o termo cidade ou município de
maneira adequada, dependendo do sentido do texto que você irá escrever.

Outra questão relevante de ser apontada é a relevância e a necessidade


de conhecermos o significado dos conceitos que são apresentados ao longo do
texto, para que você possa avançar com sucesso na compreensão dos conteúdos.
No caso da modalidade de ensino a distância, esta habilidade é imprescindível e
fundamental para a sua autonomia. Por isso, lembre-se de ter à mão dicionário,
material para registrar dúvidas e outros recursos que possam lhe ajudar.

Ao longo do texto anterior foi mencionado o termo “perímetro urbano”.


Você já conhecia este termo? Caso ele seja novo ou você queira refrescar sua
memória, atente para a explicação de Rangel (2015, p. 1) exposta a seguir:

[...] o perímetro urbano é a linha que contorna e delimita as áreas


urbanas e de expansão e as separa das áreas rurais. A legislação
municipal define se o município é totalmente urbano – como no caso
de alguns municípios sedes de regiões metropolitanas – ou se ele é
dividido em áreas urbanas e rurais. Em tal situação, a lei estabelece
os limites da ocupação urbana, seja no próprio corpo da lei do plano
diretor, seja na lei de perímetro urbano, de acordo com as diretrizes e
coerente com as propostas de ordenamento territorial e expansão da
malha urbana agasalhada no plano diretor. Não é demais explicitar
que na área urbana é cobrado o Imposto Territorial Predial Urbano
(IPTU) e se aplicam as condições de edificação, uso, ocupação e
parcelamento do solo referidas na legislação para as áreas urbanas
consolidadas ou de expansão. Nas áreas urbanas é permitido o
parcelamento do solo para fins urbanos, ao passo que, nas áreas
rurais, as glebas devem observar as normas de utilização empregadas
pelo INCRA, que estabelece os módulos mínimos das unidades de
produção agrícola (grifo nosso).

De maneira bastante resumida, o perímetro urbano é definido por uma lei


municipal que delimita espaços urbanos e regulamenta as formas de uso de tal
espaço e os impostos territoriais que incidem sobre eles.

Retomando a discussão sobre os estudos da rede urbana, De Oliveira


(2011, p. 101) comenta sobre a trajetória histórica do referido conceito:

Os estudos sobre as redes urbanas tradicionais tiveram como respaldo


as teorias clássicas de Walter Christaller (1966) e Losch (1954) sobre
as concepções de “lugar central e área de mercado”, em que uma
cidade polo exerce a função de suprir serviços especializados a centros
menores do seu entorno, formando uma rede urbana hierarquizada,
em que não ocorre complementariedade entre as cidades.

160
TÓPICO 2 | A REDE URBANA BRASILEIRA

As contribuições de Walter Chistaller foram emblemáticas no contexto


dos estudos sobre urbanização. Leia mais sobre as contribuições deste geógrafo
no fragmento de texto selecionado na sequência.

E
IMPORTANT

WALTER CHRISTALLER

FONTE: Disponível em: <http://www-personal.umich.


edu/~copyrght/image/books/Spatial%20
Synthesis2/Walter%20Christaller.htm>. Acesso
em: 12 jan. 2018.

O geógrafo alemão Walter Christaller foi o autor da mais difundida teoria geográfica sobre
a urbanização: a teoria dos lugares centrais, desenvolvida em sua tese de doutoramento
intitulada "Os Lugares Centrais no Sul da Alemanha" (...), defendida em 1932 e publicada em
1933.

Christaller rompeu com o método usual dos geógrafos da época, tradicionalmente


descritivo e indutivo, partindo para uma proposição dedutiva, em busca de uma formulação
genuinamente teórica e pioneira nos estudos sobre a urbanização, que até então se baseavam
em três abordagens: a geográfica, a histórica e a estatística.

Apontando as limitações de tais abordagens, o geógrafo alemão argumentava o seguinte:


primeiro, as condições geográficas naturais não poderiam explicar o tamanho nem a
distribuição das cidades; segundo, as investigações históricas, apesar de revelarem um
material factual abundante, nunca poderiam chegar a leis como as econômicas, e; terceiro,
o uso da estatística poderia estabelecer classes, frequências e médias e encontrar algumas
regularidades, mas também não levaria às leis genuínas, apenas a meras probabilidades.

O desenvolvimento e o declínio das cidades, segundo Christaller, dependeriam de fatores


econômicos, o que incluiria a geografia das localidades no rol da geografia econômica. Desse
modo, a existência de leis econômicas implicaria também na existência de leis da geografia
urbana, as quais seriam, no entanto, de tipo diferente das leis naturais, talvez devendo ser
designadas não como leis, mas como regularidades, pois não seriam tão inexoráveis quanto
as leis naturais [...].

O ponto de partida de sua formulação teórica foi o questionamento sobre a causa da


distribuição aparentemente aleatória das cidades no espaço geográfico [...].

161
UNIDADE 3 | ESTUDOS DA REDE URBANA BRASILEIRA, DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA E DAS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL

Christaller procurou demonstrar, indo além da mera descrição das estruturas urbanas, que a
distribuição das cidades no território não era desordenada, mas que havia uma regularidade
e uma hierarquia em sua disposição. Christaller começou por definir a cidade como uma
"localidade central", ou seja, um lugar cuja função seria a de suprir de bens e serviços um
determinado espaço circundante, sua hinterlândia, sua área de mercado.

Partindo desse conceito, sua explicação para a distribuição das cidades foi formulada em
termos funcionais com base na hipótese de que a rede urbana poderia ser deduzida das
zonas de mercado das localidades centrais, cujas dimensões variariam segundo os produtos
e os serviços ofertados (a medida de sua centralidade). Desse modo, os serviços urbanos
seriam classificados como de ordem superior ou de ordem inferior, e a hierarquia entre as
localidades variaria de acordo com a ordem dos serviços fornecidos (isto é, seu grau de
centralidade) [...].

FONTE: BRAGA, Roberto. Walter Christaller: notas sobre a trajetória intelectual do criador da
teoria dos lugares centrais. In: Encontro Nacional de História do Pensamento Geográfico, 2.,
1999, Rio Claro. Anais... Rio Claro: UNESP,  p. 71-75   1999. Disponível em: <http://geodados-
pg.utfpr.edu.br/busca/detalhe.php?id=26632>. Acesso em: 27 set. 2017.

No Brasil, os estudos sobre as redes urbanas tiveram a contribuição do


geógrafo Roberto Lobato Corrêa, que estudou esta temática desde a de década de
1980. Corrêa (1989) analisa a natureza e o significado da rede urbana, ponderando
fatores como a divisão territorial do trabalho, as relações entre a rede urbana e
os ciclos de exploração e as formas espaciais que engendram as redes urbanas.
Corrêa (1989) entende que é possível estudar o tema da rede urbana a partir
de diferentes abordagens. No quadro a seguir, são elencadas as principais
abordagens identificadas pelo autor e uma breve explicação sobre os elementos
enfatizados em cada uma delas. Acompanhe!

QUADRO 16 – DIFERENTES ABORDAGENS DOS ESTUDOS SOBRE REDE URBANA, SEGUNDO


CORRÊA (1989)

Diferentes abordagens de estudos das redes urbanas


Entende que as cidades possuem diferenças no que
se refere às suas funções e tais estudos enfatizam as
Classificações funcionais diferenças que as cidades apresentam para compreender
sua organização espacial, analisando a divisão territorial
do trabalho no âmbito da rede urbana.
Busca observar e comparar as características que variam
entre cidades segundo as funções que desempenham.
Adota técnicas descritivas que abrangem variáveis como
ritmo de crescimento da população, a estrutura etária,
Dimensões básicas de
a escolaridade, a proporção de homens e mulheres na
variação 
população ativa, as taxas de desemprego e a renda per
capita. Desta abordagem é criticado o fato de que grande
número de variáveis é determinado sem nenhuma base
teórica explícita. 

162
TÓPICO 2 | A REDE URBANA BRASILEIRA

Considera toda a rede urbana de um país, estabelecendo


relações entre o tamanho das cidades de uma rede urbana
e certos aspectos da vida econômica e social, tais como o
seu desenvolvimento, sua difusão espacial, sua influência
Tamanho e desenvolvimento
cultural, e sua capacidade de integração nacional.
Apoia-se na ideia de que é através das cidades que as
ligações com o mercado interno e as relações externas se
estabelecem e se realizam.
Procura compreender a natureza da rede urbana segundo
a hierarquia de seus centros. Usualmente, esses estudos
derivam de questionamentos acerca do número, tamanho
Hierarquia Urbana e distribuição das cidades na rede urbana do país. A teoria
das localidades centrais, de Walter Christaller (1933),
constitui-se em relevante base teórica sobre a questão da
hierarquia urbana.
Trata da relação cidade-campo sob uma perspectiva
Relações entre cidades e geográfica considerando as relações entre uma grande
regiões cidade e sua hinterlândia constituída por centros urbanos
menores e áreas rurais.

FONTE: Adaptado de Corrêa (1989), Silva e Macedo (2009) e Ferreira (2017).

Notou como são diversas as possibilidades de análises da rede urbana?


Tais abordagens seguem se transformando, bem como novas possibilidades
metodológicas são concebidas ao longo dos anos. Se consideramos a cidade como
objeto de estudo, é compreensível que possamos identificar múltiplas teorias para
balizar os estudos sobre este recorte espacial. Lembre-se de que cada abordagem
teórica lança luz sobre determinado elemento ou conjunto de elementos/aspectos
que compõem determinado fenômeno.

Outra abordagem teórica possível para o estudo das redes urbanas foi
proposta por Camagni (2006). A representação apresentada a seguir expõe de modo
resumido os cinco grandes princípios de organização territorial identificados pelo
autor. Para Camagni (2006), cada um dos princípios de organização territorial
permite compreender uma faceta do processo de organização territorial das
cidades, conforme evidencia a representação a seguir.

163
UNIDADE 3 | ESTUDOS DA REDE URBANA BRASILEIRA, DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA E DAS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL

FIGURA 67 – PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ORGANIZAÇÃO TERRITORIAL


RELACIONADOS À NATUREZA, À ESTRUTURA E ÀS LEIS DE
MOVIMENTO DA CIDADE, SEGUNDO CAMAGNI (2006, p. 19-20):

FONTE: Adaptado de Camagni (2006)


164
TÓPICO 2 | A REDE URBANA BRASILEIRA

Agora que já conhecemos distintas possibilidades teóricas adequadas


para estudar as redes urbanas e o processo de urbanização, faz-se necessário
reconhecermos e conhecermos outro conceito relevante para os estudos desta
temática. Trata-se do conceito de escala — termo de uso recorrente nos estudos
geográficos.

Para compreendermos o fenômeno da urbanização, o conceito de escala é


relevante na medida em que ele ajuda a pensar na relação que se estabelece entre
as cidades. Sendo assim, a análise geográfica dos fenômenos precisa ponderar
a escala em que estes são percebidos, pois a escala é a medida que confere
visibilidade ao fenômeno (CASTRO, 1995). Castro (1992, p. 21) explica que:

A análise geográfica dos fenômenos requer a consideração da escala


em que eles são percebidos. Este pode ser um enunciado ou um ponto
de partida para considerar, de modo explícito ou subsumido, que a
escala confere um sentido particular ao fenômeno observado.

Neste sentido, é pertinente realçar que a ideia de escala pode assumir


tanto um sentido dimensional e de projeção gráfica — esta concepção é
emblemática nos estudos cartográficos —, bem como um sentido fenomenal,
isto é, aquele que procura incorporar a noção de aproximação do real (CASTRO,
1992). Swyngedouw (2010) destaca ainda que a escala de um fenômeno é sempre
socialmente construída.

Vejamos alguns exemplos práticos com base nas definições apresentadas.


O sentido dimensional de uma escala pode ser exemplificado, de modo
simplificado, pela ideia de tamanho/alcance. Assim, um mapa pode representar
uma escala local ou estadual, bem como, uma política pública de prevenção de
desastres ambientais pode ter uma “escala de alcance” municipal, apenas para
ilustrar.

Por sua vez, quando afirmamos que a escala pode ter um sentido fenomenal,
isto quer dizer que é o estudo do próprio fenômeno que irá revelar sua própria
escala. Um possível exemplo desta concepção de escala seria o seguinte: imagine
que você tenha a intenção de estudar a influência dos movimentos migratórios em
Foz do Iguaçu. Ao invés de determinar, de antemão, que o “recorte espacial” ou a
escala de análise do seu trabalho será, hipoteticamente, estadual e interestadual,
você pode percorrer um caminho diferente. Outra opção seria, primeiramente,
observar o fenômeno, compreender sua dinâmica, apurar os dados e, perante tais
resultados, construir qual a escala espacial que você identificou. Neste caso, quais
seriam as distâncias dos fluxos populacionais. De certa forma, a lógica se inverte,
sendo que a delimitação da escala passa a ser um resultado do seu estudo.

Outro ponto levantado por Swyngedouw (2010) é o de que as escalas


são socialmente construídas. Como entender esta definição na prática? Algumas
vezes, quando decidimos estudar determinado objeto geográfico, é necessário
utilizar uma referência espacial básica. Pode ser uma região ou uma microrregião,
por exemplo. A opção por fazer um recorte geográfico ajuda a conceber a

165
UNIDADE 3 | ESTUDOS DA REDE URBANA BRASILEIRA, DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA E DAS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL

estrutura do trabalho acadêmico e a coletar dados, entre outras vantagens. A fala


de Swyngedouw (2010) é útil para nos lembrar de que estas escalas “não caem
do céu”, prontas, fechadas e delimitadas. Elas são concebidas por pessoas em
determinado período histórico.

No caso da microrregião, apenas para ilustrar, a definição foi concebida em


1968 pelo IBGE. Para identificar as microrregiões, o IBGE utilizou dois indicadores
básicos: a estrutura da produção e a interação espacial. O primeiro implica
a análise da estrutura da produção primária com base na utilização da terra,
orientação da agricultura, estrutura dimensional dos estabelecimentos, relações
de produção, nível tecnológico, emprego de capital e o grau de diversificação da
produção agropecuária. Já o indicador de interação espacial refere-se à área de
influência dos centros sub-regionais e dos centros de zona enquanto elementos
articuladores dos processos de coleta, beneficiamento e expedição de produtos
rurais e distribuição de bens e serviços ao campo e a outras cidades (IBGE, 1990).

Em face a esta explicação, poderíamos pensar então: esta escala é boa ou


ruim para os estudos geográficos? E a resposta é: depende. Depende de quais
elementos você pretende conhecer e destacar nos seus estudos. Considerando o
exemplo acima, possivelmente, se sua intenção for estudar a formação geológica
de uma localidade, outras escalas ou recortes espaciais serão mais apropriados.

Corrêa (2003) contribui para o debate sobre o tema esclarecendo a relação


entre o urbano e a escala. Leia a seguir um fragmento de uma nota explicativa
escrita pelo autor.

E
IMPORTANT

Uma nota sobre o urbano e a escala

Roberto Lobato Corrêa

[...] A nota objetiva, de modo mais específico, indicar as relações entre os modos como o
urbano pode ser geograficamente analisado, isto é, escala conceitual, as representações
cartográficas e a inteligibilidade do urbano.

1 – As Escalas Conceituais do Urbano

Na tradição geográfica o urbano tem sido analisado segundo três linhas principais de
investigação. A primeira refere-se ao processo de urbanização, isto é, as bases e as formas
de concentração de população em torno de atividades industriais, comerciais e de serviços.
As consequências deste processo coroam esta linha de investigação. A identificação de
formas como a megalópole, a cidade-dispersa, a região metropolitana, o “corredor urbano”,
a conurbação e a aglomeração urbana, expressões vigentes na literatura, constituem
importantes contribuições sobre a temática do urbano. Qualificações como cidade-primaz,
macrocefalia urbana, cidade ortogenética e cidade heterogenética, por outro lado, estão

166
TÓPICO 2 | A REDE URBANA BRASILEIRA

associadas às interpretações relativas à gênese e às consequências do referido processo. Há


uma cartografia do processo de urbanização e a escala adotada é aquela de nossa área
de interesse: internacional, nacional ou regional.

A segunda linha de investigação diz respeito à consideração do urbano na escala da rede


urbana. Esta é uma escala conceitual. De maneira simples, entendemos por rede urbana - ou
sistema urbano, conforme alguns preferem utilizar - o conjunto funcionalmente articulado
de cidades. Este conjunto pode ser analisado em diversas escalas cartográficas. A terceira
linha de investigação refere-se ao espaço urbano, ou espaço intraurbano, como alguns
o denominam. Trata-se de outra escala conceitual que tem suas correspondentes escalas
cartográficas [...].

FONTE: CORRÊA, Roberto Lobato. Uma nota sobre o urbano e a escala. Território, Rio de
Janeiro, ano VII, n. 11, p. 12, 2003.

Compreendeu a diferença entre escala cartográfica e escala de análise?


Estas distinções são relevantes para a tarefa de analisar o processo da urbanização.

Embora estas definições teóricas possam parecer um pouco complicadas,


é importante que você, futuro geógrafo, sinta-se à vontade ao manusear tais
conceitos quando estamos estudando elementos e processos concretos da
realidade e da vida cotidiana. Assim, teoria e prática se complementam.

UNI

Dica de leitura!

Os estudos sobre as cidades também envolvem o debate sobre a sustentabilidade. Se você


quiser conhecer mais sobre esta relação, leia o artigo apresentado no link a seguir:
FONTE: <http://www.unicamp.br/fea/ortega/agenda21/brasil.htm>.

167
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• A ideia de rede urbana está relacionada a um espaço hierarquizado através de


influências econômicas, sociais, políticas e culturais.

• À medida que se desenvolvem, as cidades passam a estabelecer fluxos sociais,


econômicos, políticos e culturais entre si, formando uma rede urbana.

• A diferença entre cidade e município está na orientação de seus conceitos:


um está relacionado com a ocupação humana no espaço, e o outro, com a
delimitação político-territorial.

• O município é uma divisão legalmente realizada de um território. São as várias


partes que compõem um mesmo estado.

• A cidade é a área urbana de um município, e não qualquer área urbanizada,


mas sim aquela delimitada por um perímetro urbano.

• O perímetro urbano é definido por uma lei municipal que delimita espaços
urbanos e regulamente as formas de uso de tal espaço e os impostos territoriais
que incidem sobre eles.

• Segundo Corrêa (1989), existem diferentes abordagens de estudos das redes


urbanas, incluindo as seguintes: classificações funcionais, dimensões básicas
de variação, tamanho e desenvolvimento, hierarquia urbana, e relações entre
cidades e regiões.

• Escala é a medida que confere visibilidade ao fenômeno.

• Conforme Castro (1992), a ideia de escala pode assumir tanto um sentido


dimensional e de projeção gráfica — esta concepção é emblemática nos estudos
cartográficos —, bem como um sentido fenomenal, isto é, aquele que procura
incorporar a noção de aproximação do real.

168
AUTOATIVIDADE

1 A geografia utiliza o conceito de redes para estudar diferentes fenômenos


sociais. Segundo Corrêa (2012, p. 200): “As redes geográficas são redes sociais
espacializadas. São sociais em virtude de serem construções humanas,
elaboradas no âmbito de relações sociais de toda ordem, envolvendo
poder e cooperação, além daquelas de outras esferas da vida.” Tratando-se
especificamente da Rede Urbana, assinale a alternativa correta:

FONTE: CORRÊA, Roberto Lobato. Redes geográficas: reflexões sobre um tema


persistente. Cidades, v. 9, n. 16, 2012.

( ) A rede urbana é fixa e imutável e abriga em si o contexto histórico que a


formou, desde a origem da sua formação.
( ) A ideia de rede urbana está relacionada a um espaço hierarquizado através
de influências econômicas, sociais, políticas e culturais.
( ) A rede urbana resulta da combinação e da presença geográfica de três
elementos: escolas, hospitais e bancos.
( ) Historicamente as cidades se distinguem apenas pela concentração de
população, podendo ser pequenos municípios rurais ou metrópoles globais.

2 A utilização correta e precisa dos conceitos permite alinhar o diálogo entre


diferentes atores do processo educativo, tais como acadêmicos, professores
e pesquisadores. Seguindo esta linha de pensamento, analise as sentenças a
seguir e marque V para as verdadeiras e F para as falsas.

( ) Município e cidade são conceitos equivalentes de recortes espaciais, sendo


que ambos são utilizados no plano político para direcionar ações locais.
( ) A cidade é a área urbana de um município, e não qualquer área urbanizada,
mas sim aquela delimitada por um perímetro urbano.
( ) Município é a divisão legal de um território, são as várias partes que
compõem um mesmo estado.
( ) Tanto o conceito de município como o de cidade são orientados pela
perspectiva política, permanecendo estáticos ao longo do tempo.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:


a) V – V –V –F.
b) F – V – V– F.
c) V – V – F – F.
d) F – F – F – V.

3 Para estudar a Rede Urbana e conhecer sua dinâmica espacial é fundamental


dominar algumas definições conceituais adequadas para estudar as cidades.
Entre tais definições, está incluso o conceito de Perímetro Urbano. Neste
sentido, disserte sobre perímetro urbano.

169
170
UNIDADE 3
TÓPICO 3

O ESTUDO DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA

1 INTRODUÇÃO
Conforme vimos no tópico anterior, diferentes abordagens teóricas podem
ser adotadas para estudar o modo como as cidades estabelecem relações espaciais
entre si. No Brasil, os estudos das Regiões de influência são elementares para a
compreensão da dinâmica das cidades brasileiras. Neste tópico, vamos entender
o que são estas Regiões de influência. Venha conhecer!

1.1 O QUE SÃO REGIÕES DE INFLUÊNCIA DAS CIDADES -


REGIC?
O REGIC (Regiões de Influência das Cidades) é uma publicação
organizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que tem
como objetivo estudar a hierarquia da rede urbana brasileira, com base nos fluxos
de informações, bens e serviços. De maneira bastante direta e resumida, uma
das principais contribuições do REGIC é identificar qual a distância e para qual
município uma pessoa se desloca quando quer acessar determinado serviço.

Como vimos no tópico anterior, o “grau de atratividade” de uma cidade


pode variar dependendo da oferta de serviços que esta dispõe. Iremos, já de
início, apresentar alguns exemplos para que você acompanhe o raciocínio e não
fique com dúvida. Nem todos os municípios brasileiros contam com aeroportos,
por exemplo. Então, quando uma pessoa que mora em um município que não
tem aeroporto, para onde ela se desloca para pegar o seu voo? De imediato, a
resposta que nos vem à mente é: ela se desloca para o aeroporto mais perto da
sua casa. Mas será este o único critério a ser considerado? Tomando este exemplo,
poderíamos pensar em outros dois aspectos que influenciariam na decisão do
sujeito: a facilidade de acesso para chegar ao aeroporto (condições das vias) e a
disponibilidade de voos em cada aeroporto.

Outra situação possível seria a de verificar para qual município a pessoa se


desloca quando precisa acessar determinado serviço de saúde que não se encontra
disponível em seu município. Para qual município você iria, se a situação fosse
com você?

171
UNIDADE 3 | ESTUDOS DA REDE URBANA BRASILEIRA, DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA E DAS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL

Neste sentido, o REGIC analisa estes movimentos da população e,


por conseguinte, estuda as relações espaciais que são engendradas entre os
municípios. Vamos entender isto de modo mais detalhado. Para começar, vamos
situar historicamente esta publicação.

O último REGIC foi publicado em 2008 — apresentando a análise dos


dados referente ao ano de 2007— e segundo o IBGE (2008, p. 8):

Com o lançamento desta publicação, o IBGE dá continuidade à sua


tradicional linha de pesquisa sobre a rede urbana brasileira, cujo marco
fundamental remete ao estudo Divisão do Brasil em regiões funcionais
urbanas, realizado em 1966, através de pesquisa de campo, com o
objetivo de conhecer os relacionamentos entre as cidades brasileiras
com base na análise dos fluxos de bens e serviços. Visando retratar
o novo quadro dessa rede e permitir comparações intertemporais,
novos levantamentos foram efetuados, também via pesquisa de
campo, em 1978 e 1993. Destes, resultaram os estudos  Regiões de
influência das cidades  que, aliados à versão pioneira, trouxeram
importantes contribuições para a compreensão das diferentes
formas de organização espacial da sociedade ao longo do tempo. Na
atualização realizada em 2007 [...] buscou-se definir a hierarquia dos
centros urbanos e delimitar as regiões de influência a eles associadas
a partir dos aspectos de gestão federal e empresarial e da dotação de
equipamentos e serviços, de modo a identificar os pontos do território
a partir dos quais são emitidas decisões e é exercido o comando em
uma rede de cidades. Para tal, foram utilizados dados de pesquisa
específica e, secundariamente, dados de outros levantamentos
também efetuados pelo IBGE, bem como registros provenientes de
órgãos públicos e de empresas privadas (grifo nosso).

Os objetivos do REGIC são os seguintes, conforme Stenner (2013):

Gerais

 Hierarquizar os centros urbanos.


 Delimitar as regiões de influência associadas aos centros urbanos.
 Compreender a articulação entre as cidades.

Específicos

 Subsidiar o planejamento e as decisões quanto à localização das atividades


econômicas de produção e consumo, das atividades culturais, dos serviços
públicos.

A respeito do objetivo de subsidiar o planejamento estatal e as decisões


quanto à localização das atividades econômicas de produção, consumo privado e
coletivo, o mesmo torna-se bastante relevante em país tão extenso como o Brasil,
e sobretudo, com tantas carências. Neste sentido, a localização de serviços de
saúde e educação precisa considerar as condições de acessibilidade da população
aos locais onde estão instalados, para poder melhor atender a população (IBGE,
2008).

172
TÓPICO 3 | O ESTUDO DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA

Verifica-se, assim, a relação entre o REGIC e seu potencial para auxiliar na


confecção de políticas públicas, pois

[...] a estrutura e a organização do território são o substrato que


condiciona, e sobre o qual atuam, as políticas públicas e os agentes
sociais e econômicos que compõem a sociedade. A partir dessas ações,
ainda que nem sempre elas tenham o efeito esperado, reorganiza-se
o território, num dinamismo que cria e recria a rede urbana, em que
pese a tendência de estabilidade estrutural no longo prazo. (IBGE,
2008, p. 9).

Para verificar a região de influência das cidades, o IBGE identificou quais


cidades são relevantes no que tange ao deslocamento de pessoas para acessar
determinados serviços. As cidades selecionadas podem ser visualizadas no mapa
a seguir:

FIGURA 68 – REDE URBANA – BRASIL (2007)

FONTE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2008). Regiões de Influência das
cidades (2007).

173
UNIDADE 3 | ESTUDOS DA REDE URBANA BRASILEIRA, DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA E DAS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL

Observe na legenda a hierarquia dos centros urbanos. Conhecer e saber


interpretar as legendas dos mapas é um passo indispensável para que possamos
interpretá-los de maneira adequada. A ideia de hierarquia dos centros urbanos
nos faz pensar em uma escala de grandeza, que, neste caso, apresenta-se em
ordem decrescente. No quadro a seguir serão expostos os critérios adotados pelo
IBGE para classificar as cidades que constam no mapa. Ademais, as áreas de
influência dos centros foram delineadas a partir da intensidade das ligações entre
as cidades. Observe que as áreas de influência foram representadas por tracejados
de diversas cores, que, dependendo da sua intensidade, acabam formando feixes
de maior ou menor densidade. Acompanhe como as cidades foram classificadas
em cinco grandes níveis, por sua vez subdivididos em dois ou três subníveis.

174
TÓPICO 3 | O ESTUDO DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA

175
UNIDADE 3 | ESTUDOS DA REDE URBANA BRASILEIRA, DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA E DAS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL

FONTE: Adaptado de IBGE (2008)

176
TÓPICO 3 | O ESTUDO DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA

Como você explicaria com suas próprias palavras quais são os elementos
ponderados no IBGE para construir esta classificação hierárquica das cidades?
Colocando em termos bastante simples, observamos que os elementos tomados
em conta envolvem o tamanho da população, a presença de níveis de centralidade
do Poder Executivo e Judiciário — exemplo disso são as capitais estaduais que
contam com uma gama de serviços e uma concentração maior de órgãos públicos,
quando comparadas com municípios interioranos —, presença de empresas
relevantes e a presença de diferentes equipamentos e serviços. A fórmula e a
metodologia em detalhes empregada neste encontram-se pormenorizadas no
REGIC – 2007, elencado nas referências deste livro. Elas não serão discutidas
exaustivamente nesta disciplina.

Vamos conhecer então alguns exemplos que demonstram a utilidade de


tais estudos?

FIGURA 69 – DESLOCAMENTOS PARA AEROPORTOS – BRASIL - 2007

FONTE: IBGE (2008)

177
UNIDADE 3 | ESTUDOS DA REDE URBANA BRASILEIRA, DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA E DAS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL

Ao analisarmos o mapa e os tracejados relacionados às regiões de


influência, observa-se a presença de fluxos longos e, aparentemente, a presença
de um padrão estadualizado, com as fronteiras dos estados exercendo peso na
definição das áreas de influência dos aeroportos. Outra observação que pode
ser feita se refere à centralidade exercida pelas capitais dos estados na atração
da população, o que é explicado pela maior oferta de voos com linha regulares
nesses aeroportos. As exceções são os estados do Norte, onde os aeroportos do
interior exercem alguma atração pela necessidade de deslocamento, frente à
restrita opção de transporte e às barreiras naturais da região (IBGE, 2008).

Verifica-se também que, acompanhando a ocupação populacional do


território, a faixa litorânea, de ocupação mais densa, é mais bem atendida por
aeroportos. Nas outras áreas, a rede é mais esparsa, implicando em longos
deslocamentos para acesso aos aeroportos, por exemplo, nos Estados de Goiás,
Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia (IBGE, 2008).

Observa-se também que o alcance geográfico das Regiões de influência


pode superar as fronteiras estaduais, conforme demonstra a reportagem publicada
pela Gazeta do Povo, a respeito da cidade de Curitiba. Acompanhe.

E
IMPORTANT

Curitiba influencia 666 municípios

A Grande Curitiba consolidou seu poder de atração no Norte do Estado, tradicionalmente


um reduto paulista, e hoje exerce influência em todo o Paraná e em parte de Santa Catarina.
Estão na área de influência de Curitiba 666 municípios, com 16,178 milhões de habitantes –
63% a mais que a população do Paraná (10,284 milhões). Os dados estão no estudo “Regiões
de Influência das Cidades”, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). O estudo agregou informações referentes à presença de órgãos públicos, sedes de
grandes empresas e opções de educação, saúde, lazer, compras e transporte.

Curitiba é uma das 12 metrópoles brasileiras e divide com Porto Alegre a condição de
principal cidade da Região Sul do Brasil. “São cidades com números muito parelhos. Não
dá para colocar uma na frente da outra. Elas têm influência em seus estados e exercem
grande atração sobre Santa Catarina”, explica Ivone Lopes, geógrafa do IBGE e uma das
coordenadoras da pesquisa. 

Segundo ela, o grande diferencial de Curitiba percebido na pesquisa foi a consolidação da


capital na Região Norte do Paraná. A primeira pesquisa do tipo, realizada há exatos 40 anos,
mostrava uma área totalmente associada à influência paulista, com praticamente nenhum
vínculo com Curitiba. “Até o acesso de Curitiba a esses municípios era difícil. A região era
como paulista”, diz Belmiro Valverde, ex-secretário de Planejamento do Paraná e professor do
doutorado em Administração da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

A influência paulista continua, mas cidades classificadas pelo IBGE como capitais regionais,
casos de Londrina e Maringá, passaram a ter em Curitiba uma referência. A pesquisa mostra,
por exemplo, que depois de São Paulo, é Curitiba a cidade que mantém maior relacionamento
empresarial com Londrina. “E a influência não é só econômica. Ela é sociocultural”, ressalta Ivone.

178
TÓPICO 3 | O ESTUDO DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA

Santa Catarina

Da mesma maneira, a influência curitibana se faz presente em todo Estado de Santa Catarina,
incluindo a capital Florianópolis e Criciúma, no Sul do Estado. De acordo com os indicadores
do IBGE, a rede de municípios relacionados a Curitiba é uma das mais estruturadas do Brasil.
O Índice de primazia da capital paranaense é de 8,9, seis vezes menor que o índice de Manaus,
o maior dentre as metrópoles brasileiras. Na prática, segundo Ivone, o índice demonstra uma
maior autonomia das cidades menores em relação à metrópole. “As cidades médias, que
tenham importância local, apresentam uma boa infraestrutura.” Graças a essa autonomia,
Curitiba é a metrópole que apresenta a menor distância média de acesso aos serviços de
saúde, cursos superiores e aeroportos. 

Nacionalmente, outras novidades percebidas na pesquisa foram o fortalecimento de Brasília


e Manaus e o surgimento de centros urbanos que emergiram nas últimas quatro décadas,
localizados, principalmente, nos estados de Mato Grosso, Rondônia, Tocantins, no Oeste do
Amazonas e no Sul e Leste do Pará. Também se destaca, embora com menor intensidade, a
ascensão de capitais do Nordeste (São Luís, Teresina, Natal, João Pessoa, Maceió e Aracaju)
e de novos centros no Maranhão e no Piauí. A rede de Fortaleza também cresceu e passou a
ocupar o mesmo patamar do Recife.

FONTE: Gazeta do Povo. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-


cidadania/curitiba-influencia-666-municipios-b7ygxadnaaluuauddqo5r3vwu>. Acesso em:
15 out. 2017.

179
UNIDADE 3 | ESTUDOS DA REDE URBANA BRASILEIRA, DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA E DAS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL

DICAS

Que tal conhecer um plano de aula que aborda o tema das metrópoles e
que permite relacionar com a temática das regiões de influência? Aproveite este material
disponível no Portal do Professor, site organizado pelo MEC, e se inspire para elaborar seus
planos de aula e propor novas abordagens de trabalhar os conteúdos com seus alunos.
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FONTE: Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.


html?aula=12726>.

180
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• O estudo das Regiões de influência analisa estes movimentos da população


e, por conseguinte, estuda as relações espaciais que são engendradas entre os
municípios.

• Os objetivos do REGIC são: hierarquizar os centros urbanos, delimitar as regiões


de influência associadas aos centros urbanos, compreender a articulação entre
as cidades e subsidiar o planejamento e as decisões quanto à localização das
atividades econômicas de produção e consumo, das atividades culturais, dos
serviços públicos.

181
AUTOATIVIDADE

1 Com vistas a contribuir com o estudo da Rede urbana brasileira, o IBGE


(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) vem realizando e publicando
ao longo dos anos um estudo denominado REGIC (Regiões de Influência
das Cidades). A respeito desta publicação, assinale a alternativa correta:

( ) Diz respeito ao estudo dos problemas de mobilidade urbana das metrópoles


brasileiras, que identifica as principais causas dos congestionamentos.
( ) Refere-se a um estudo pormenorizado dos fatores ecológicos e econômicos
que interferem na qualidade de vida das metrópoles brasileiras.
( ) Diz respeito a uma publicação dos principais setores econômicos e
industriais que engendram a economia dos municípios.
( ) Trata-se de uma publicação que tem como objetivo estudar a hierarquia da
rede urbana brasileira, com base nos fluxos de informações, bens e serviços.

2 A ideia de hierarquia dos centros urbanos nos faz pensar em uma escala
de grandeza. Neste sentido, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística) utiliza um sistema de classificação e hierarquia dos centros
urbanos brasileiros. Com relação à referida classificação, analise as sentenças
a seguir e marque V para as verdadeiras e F para as falsas.

( ) São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador, Manaus, Belém, Curitiba,


Goiânia e Porto Alegre são exemplos de metrópoles brasileiras.
( ) As metrópoles são similares entre si, apresentando os mesmos problemas
ecológicos e sociais, independentemente da região em que estão situadas.
( ) De maneira geral, as metrópoles possuem uma relevante extensão territorial
e caracterizam-se por abarcar uma extensa área de influência direta.
( ) Metrópoles são os principais centros urbanos do país, caracterizadas por
seu grande porte e por forte relacionamentos entre si.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:


a) V – V –V – F.
b) F –V – V– F.
c) V – F – V – V.
d) F – F – F – V.

3 É relevante a contribuição do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística) nos estudos da Rede urbana brasileira. Particularmente, os
estudos das Regiões de influência das cidades que trouxeram importantes
contribuições para a compreensão das diferentes formas de organização
espacial da sociedade ao longo do tempo. Neste sentido, disserte sobre os
objetivos do REGIC (Regiões de Influência das Cidades).

182
UNIDADE 3
TÓPICO 4

AS REDES DE TRANSPORTES NO BRASIL

1 INTRODUÇÃO
Estudar a rede de transporte de um país é um passo fundamental
para compreender o processo de circulação de pessoas e de mercadorias em
determinado território. Para entender como os fixos e os fluxos se articulam no
território, precisamos compreender as redes técnicas de transporte que percorrem
o Brasil para que possamos estabelecer relações com as decisões locacionais
tomadas por indivíduos, empresas, organizações e pelo Estado. Menezes (2016,
p. 1) explica que:

O setor de transporte tem importância fundamental na dinâmica e na


economia do território. A movimentação de pessoas e mercadorias
por meio de rodovias, ferrovias, hidrovias e transporte aéreo gera
fluxos que mostram, por exemplo, características relacionadas à
rede urbana, ao escoamento de produção, à dinâmica populacional
e ao desenvolvimento regional. A gestão do território perpassa o
movimento e pelo fluxo de passageiros, de produtos industriais e
agrícolas, pois, para definir as políticas de desenvolvimento territorial,
é preciso conhecer esse movimento e identificar com que intensidade
os pontos (países, cidades e regiões) se interligam.

Neste tópico, após tecermos algumas definições conceituais de modo


compacto, iremos estudar a rede de transportes brasileira, incluindo os modais
ferroviário, rodoviário, hidroviário e aquaviário.

1.1 DEFINIÇÕES CONCEITUAIS


A análise dos sistemas de transportes constitui-se em um tema de estudo
comum a diferentes áreas do conhecimento, tais como a engenharia civil, a
logística, a economia, entre outras. Para a geografia, a ênfase recai, sobretudo,
sobre o aspecto da distribuição/circulação e seu papel na compreensão dos fluxos,
bem como a questão da distribuição e extensão dos sistemas de transportes.

[...] há tempo a geografia discute e analisa um grande número de redes


inscritas no território (redes urbanas, de comércio, de transportes etc.).
Desde o seu surgimento (e até os dias atuais), estas estruturas reticulares
têm como função primeira a distribuição/circulação de matérias-
primas, objetos, pessoas, sendo o objetivo principal do seu estudo
compreender a lógica e a produção mesma dos movimentos, bem como
a sua distribuição e extensão no espaço geográfico (FACHINI, 2009, p.
122).

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UNIDADE 3 | ESTUDOS DA REDE URBANA BRASILEIRA, DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA E DAS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL

Seguindo esta linha de pensamento, é possível identificar alguns elementos


fundamentais que se articulam entre si para formar o sistema de transportes. A
representação a seguir apresenta estes elementos de maneira resumida, observe:

FIGURA 70 – COMPONENTES BÁSICOS DO SISTEMA DE TRANSPORTE

FONTE: Adaptado de Cardoso (2015)

184
TÓPICO 4 | AS REDES DE TRANSPORTES NO BRASIL

Quando combinados entre si, tais componentes são os elementos básicos


para suprir as necessidades social e econômica de movimentar pessoas e bens.
Dependendo de cada modal de transporte, os referidos componentes assumem
particularidades, conforme veremos a seguir.

1.2 TRANSPORTE FERROVIÁRIO


Transporte ferroviário é o realizado sobre linhas férreas para transportar
pessoas e mercadorias. As mercadorias transportadas neste modal são de baixo
valor agregado e em grandes quantidades, como: minério, produtos agrícolas,
fertilizantes, carvão, derivados de petróleo etc. (BRASIL, 2017).

Em termos históricos, o surgimento do transporte ferroviário esteve ligado


à Revolução Industrial (século XVIII e XIX), sendo este um dos principais inventos
daquela época. O meio de transporte emergiu na Europa, mais precisamente,
na Inglaterra, no século XIX. Por volta do ano de 1850, as locomotivas atingiam
até 70 km/h, uma velocidade alta para aquele momento histórico. Ademais, as
locomotivas eram movidas a vapor, o qual é gerado a partir da queima de carvão.
Paulatinamente, este meio de transporte se espalhou pelo mundo. Atualmente,
o transporte ferroviário é encontrado em todos os continentes do globo e segue
incorporando os avanços tecnológicos que permitem aos trens modernos —
chamados de TGVs — atingirem a velocidade aproximada de 250 km/h (MUNDO
EDUCAÇÃO, 2017).

FIGURA 71 – TREM COM FINALIDADE DE USO TURÍSTICO: TREM DO VINHO –


BENTO GONÇALVES (RS)

FONTE: Disponível em: <https://www.viajali.com.br/passeios-de-trem-para-fazer-


no-brasil/>. Acesso em: 14 out. 2017.

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UNIDADE 3 | ESTUDOS DA REDE URBANA BRASILEIRA, DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA E DAS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL

É possível identificar três formas de uso principais do transporte


ferroviário: o uso para deslocamentos diários (cotidianos), o uso turístico (para
realização de viagens de longa distância, sendo que em muitos casos o próprio
trem torna-se um atrativo em si para a viagem) e o uso para o transporte de
cargas.

No Brasil, destaca-se que grande parte da malha ferroviária do Brasil está


concentrada nas regiões Sul e Sudeste, com predominância para o transporte de
cargas (BRASIL, 2017). No box a seguir são elencadas algumas características do
transporte ferroviário de carga no Brasil, acompanhe:

QUADRO 17 – CARACTERÍSTICAS DO TRANSPORTE FERROVIÁRIO DE CARGA NO BRASIL

FONTE: Adaptado de Brasil (2017)

No mapa exposto a seguir apresenta-se a malha ferroviária relacionada ao


transporte de cargas que se encontra atualmente em operação no Brasil:

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TÓPICO 4 | AS REDES DE TRANSPORTES NO BRASIL

FIGURA 72 – BRASIL – MALHA FERROVIÁRIA – 2017

FONTE: Adaptado de Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (2017)

A leitura do mapa revela o baixo número de ferrovias que recortam o


nosso país. É notável a elevada concentração da malha ferroviária na Região
Sudeste, seguida pela Região Sul. Verificam-se ainda amplos espaços vazios
— desprovidos de infraestrutura férrea —, como é o caso das Regiões Norte e
Centro-Oeste.

A deficiência no transporte férreo no Brasil é um problema conhecido


e antigo, tendo em vista a prevalência do modal rodoviário para o transporte
de cargas. Para efeitos de comparação, na figura a seguir são expostos dados
relacionados ao transporte de cargas em outros países com amplas áreas
territoriais, acompanhe:

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UNIDADE 3 | ESTUDOS DA REDE URBANA BRASILEIRA, DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA E DAS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL

FIGURA 73 – COMPARAÇÃO DE MATRIZES DE TRANSPORTE DE CARGA

FONTE: Dados do Plano Nacional de Logística e Transporte do Ministério dos Transportes,


disponibilizados pela Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (2017).

A figura destaca a discreta participação do modal ferroviário para o


escoamento das cargas no Brasil, ainda que as vantagens desta modalidade de
transporte tendam a prevalecer em comparação ao modal rodoviário e levando
em conta a vasta extensão territorial do país. Quais seriam os motivos para esta
baixa participação do modal ferroviário? O fragmento da reportagem publicada
pela Revista Superinteressante expõe de maneira sintética alguns elementos que
interferiram neste quadro. Acompanhe:

NOTA

Por que o transporte ferroviário é tão precário no Brasil?

O país se afastou dos trilhos nos anos 1950, com o plano de crescimento rápido do presidente
Juscelino Kubitschek, que priorizou rodovias. A construção de ferrovias era lenta para fazer o
Brasil crescer “50 anos em cinco”, como ele queria. “Em seis meses, você faz 500 quilômetros
de estrada de terra. Isso em ferrovia leva três anos”, diz Fabiano Pompermayer, técnico de
planejamento e pesquisas do Ipea. Além disso, o lobby das rodovias foi forte. Desde a era JK,
os investimentos e subsídios no setor são grandes, não só para abrir estradas como para atrair
montadoras. Outro responsável foi o café, em baixa desde os anos 1930. Ele era transportado
principalmente por trens, então várias empresas férreas faliram com a falta de trabalho. Em
1957, o governo estatizou as companhias ferroviárias. Desde então, o foco é o transporte
de carga. Por isso, em 2012, os trens carregam só 3% dos passageiros do país (isso porque
incluímos o metrô na conta). [...]

FONTE: Revista Superinteressante (2016).

188
TÓPICO 4 | AS REDES DE TRANSPORTES NO BRASIL

A interdisciplinaridade é uma preocupação que perpassa as diferentes


disciplinas trabalhadas no contexto escolar. E seguindo este pensamento, já
pensou em juntar poesia e geografia? Para despertar sua criatividade e reflexão,
bem como dos seus alunos futuramente, apresentamos o poema de Carlos
Drummond de Andrade, intitulado “O maior trem do mundo”.

O maior trem do mundo


(Carlos Drummond de Andrade)

O maior trem do mundo


Leva minha terra
Para a Alemanha
Leva minha terra
Para o Canadá
Leva minha terra
Para o Japão

O maior trem do mundo


Puxado por cinco locomotivas a óleo diesel
Engatadas geminadas desembestadas
Leva meu tempo, minha infância, minha vida
Triturada em 163 vagões de minério e destruição

O maior trem do mundo


Transporta a coisa mínima do mundo
Meu coração itabirano

Lá vai o trem maior do mundo


Vai serpenteando, vai sumindo
E um dia, eu sei não voltará
Pois nem terra nem coração existem mais.

Este poema também foi musicalizado, convidamos você a assistir


ao pequeno vídeo a seguir: Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=NFyrGbgp_Uw>.

Você observa como este poema abarca o avanço dos transportes com o
tema das migrações, trabalhados na unidade anterior?

1.3 TRANSPORTE RODOVIÁRIO


A matriz de transportes brasileira tem a forte predominância do modo
rodoviário. Observa-se que o processo de desenvolvimento, sobretudo econômico,
de uma nação está estreitamento relacionado com os transportes. Neste sentido,
verifica-se que as regiões mais desenvolvidas do Brasil possuem também melhores
condições de transportes. Além disso, percebe-se que a evolução econômica traz

189
UNIDADE 3 | ESTUDOS DA REDE URBANA BRASILEIRA, DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA E DAS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL

consigo a necessidade de mais infraestrutura de transportes (IPEA, 2009). Ao


discorrer sobre os eventos históricos que ajudam a compreender a predominância
do modal rodoviário no Brasil, Gomes (2006, p. 5) explica que:

No Brasil, a ênfase da análise do transporte rodoviário vem se


consolidando desde a década de 50, associada à implantação da
indústria automobilística no país e às necessidades de interiorização
e integração do território nacional. Em se tratando do transporte de
cargas, o modo rodoviário é responsável por mais de 60% do total de
carga transportada no país. Esta preferência acarretou o desequilíbrio
da matriz de transportes no Brasil, e originando diversos entraves
de ordem logística e econômica no país. A escassez de investimentos
e o desenvolvimento desigual das diversas regiões brasileiras
fizeram com que o desenvolvimento do transporte rodoviário de
cargas no Brasil não ocorresse de forma homogênea. Desta forma, o
desenvolvimento econômico e social foi determinado pela demanda
derivada pelo transporte, originada nas regiões produtivas e nas
regiões que demandam estes produtos. O Estado tenta suprir a
demanda investindo em infraestrutura, embora o planejamento
não acompanhe o aumento neste setor, originado pela evolução da
economia. Os ciclos da economia brasileira tiveram forte influência
nesta relação, contribuindo para o desenvolvimento econômico e
social de determinadas regiões, além de determinar as prioridades
das políticas públicas para o setor de transportes. (grifos nossos)

Com relação aos entraves e deficiências que acometem o modal rodoviário,


um dos elementos de crítica diz respeito à baixa qualidade da pavimentação
das rodovias brasileiras. Em face à precarização das rodovias brasileiras, é
recorrente que o discurso de diversos políticos se sustente em promessas de
duplicação, recapagem e manutenção das rodovias, sendo que pouquíssimas
vezes o cronograma de execução das obras e o orçamento destinado às mesmas
se realizam de modo satisfatório.

FIGURA 74 – PROBLEMAS NAS RODOVIAS BRASILEIRAS

FONTE: Disponível em: <http://www.transportabrasil.com.br/2015/11/


situacao-rodovias-pesquisa-cnt/>. Acesso em: 10 out. 2017.

190
TÓPICO 4 | AS REDES DE TRANSPORTES NO BRASIL

Agregada a essa dificuldade de planejamento e execução de obras, soma-se


o fato de que, em muitos casos, decorrido pouco tempo após a entrega das obras,
as condições da malha viária passam a apresentar sinais de deterioração. Em tais
situações, é comum que se apontem as chuvas como “culpadas” do problema —
lembrando que esta é uma característica típica climatológica de diversas regiões
brasileiras —, enquanto outros fazem alusão aos materiais utilizados nas obras.
Fato é que a “durabilidade” e manutenção da qualidade das rodovias brasileiras
deixam a desejar, como aponta o estudo elaborado pela Confederação Nacional
dos Transportes (2017) intitulado Por que os pavimentos das rodovias do Brasil não
duram? E de modo distinto a diversos países desenvolvidos, que há muito tempo
superaram tais dificuldades. Acompanhe um pequeno fragmento do estudo
selecionado e apresentado na sequência.

E
IMPORTANT

Por que os pavimentos das rodovias do Brasil não duram?

[...] O transporte rodoviário desempenha um papel importante na sociedade e na economia


brasileira, visto que tem sido a principal alternativa para a movimentação de cargas e pessoas
em todo o país. Porém, para que esse transporte seja realizado de forma eficiente, faz-se
necessário que o pavimento das rodovias esteja em boas condições, oferecendo economia,
segurança e conforto aos usuários.
Apesar da grande importância do modal rodoviário no Brasil, tem-se observado que os
investimentos para manutenção e construção dessa infraestrutura são insuficientes ou
pouco efetivos, uma vez que as condições dos pavimentos das rodovias, em geral, estão
insatisfatórias.
De acordo com a Pesquisa CNT de Rodovias 2016, 48,3% da extensão total das rodovias
avaliadas apresentam algum tipo de problema no pavimento, tendo sido avaliado como Regular,
Ruim ou Péssimo. Essa condição aumenta o custo operacional do transporte rodoviário de
cargas em 24,9%, em média, devido à redução da durabilidade dos componentes veiculares
e ao aumento do tempo de viagem e do consumo desnecessário de combustível. Esse uso
excedente de combustível, em 2016, somente em razão da má condição do pavimento,
foi estimado em quase 775 milhões de litros de diesel, o que gera para o transportador um
dispêndio adicional de R$ 2,34 bilhões. Nessas condições, os veículos ainda são obrigados a
trafegar em velocidade mais baixa, o que pode facilitar ações de roubos de cargas e assaltos
a passageiros [...].

FONTE: Disponível em: <http://cms.cnt.org.br/Imagens%20CNT/PDFs%20CNT/Estudos%20


CNT/estudo_pavimentos_nao_duram.pdf>. Acesso em: 23 out. 2017.

Conforme você pode observar ao longo do texto e certamente observa


em sua realidade cotidiana, embora passível de elementos de críticas, o modal
rodoviário é o principal meio de transporte utilizado para escoar a produção
nacional. No quadro a seguir são elencadas de modo sintético as principais
características do transporte rodoviário de carga no Brasil, veja:

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UNIDADE 3 | ESTUDOS DA REDE URBANA BRASILEIRA, DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA E DAS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL

QUADRO 18 – CARACTERÍSTICAS DO TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGA NO BRASIL

FONTE: Adaptado de Brasil (2017)

Considerando a relevância das rodovias para o desenvolvimento de


um país, fez-se necessário criar um sistema de organização do sentido e da
nomenclatura das rodovias brasileiras que permitisse aos planejadores públicos
e usuários das vias melhor se “situarem”, bem como, compreender como elas
estão organizadas. Vamos conhecer como a malha rodoviária brasileira está
estruturada?

Nomenclatura das Rodovias, conforme o DNIT:

a) Rodovias Radiais
São as rodovias que partem da Capital Federal em direção aos extremos
do país.
Nomenclatura: BR-0XX
Primeiro Algarismo: 0 (zero)
Algarismos Restantes:
A numeração dessas rodovias pode variar de 05 a 95, segundo a razão
numérica 05 e no sentido horário.
Exemplo: BR-040.

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TÓPICO 4 | AS REDES DE TRANSPORTES NO BRASIL

FIGURA 75 – EXEMPLOS DE RODOVIAS RADIAIS

FONTE: DNIT (2017)

b) Rodovias Longitudinais
São as rodovias que cortam o país na direção Norte-Sul.
Nomenclatura: BR-1XX
Primeiro Algarismo: 1 (um)
Algarismos Restantes:
A numeração varia de 00, no extremo leste do país, a 50, na Capital, e
de 50 a 99, no extremo oeste. O número de uma rodovia longitudinal
é obtido por interpolação entre 00 e 50, se a rodovia estiver a leste de
Brasília, e entre 50 e 99, se estiver a oeste, em função da distância da
rodovia ao meridiano da Capital Federal.
Exemplos: BR-101, BR-153, BR-174.

FIGURA 76 – EXEMPLOS DE RODOVIAS LONGITUDINAIS

FONTE: DNIT (2017)

193
UNIDADE 3 | ESTUDOS DA REDE URBANA BRASILEIRA, DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA E DAS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL

c) Rodovias Transversais

São as rodovias que cortam o país na direção Leste-Oeste.


Nomenclatura: BR-2XX
Primeiro Algarismo: 2 (dois)
Algarismos Restantes:
A numeração varia de 00, no extremo norte do país, a 50, na Capital
Federal, e de 50 a 99 no extremo sul. O número de uma rodovia
transversal é obtido por interpolação, entre 00 e 50, se a rodovia estiver
ao norte da Capital, e entre 50 e 99, se estiver ao sul, em função da
distância da rodovia ao paralelo de Brasília.
Exemplos: BR-230, BR-262, BR-290.

FIGURA 77 – EXEMPLOS DE RODOVIAS TRANSVERSAIS

FONTE: DNIT (2017)

d) Rodovias Diagonais
Estas rodovias podem apresentar dois modos de orientação:
Noroeste-Sudeste ou Nordeste-Sudoeste.
Nomenclatura: BR-3XX
Primeiro Algarismo: 3 (três)
Algarismos Restantes:
A numeração dessas rodovias obedece ao critério especificado abaixo:
Diagonais orientadas na direção geral NO-SE: A numeração varia, segundo
números pares, de 00, no extremo Nordeste do país, a 50, em Brasília, e
de 50 a 98, no extremo Sudoeste. 
Obtém-se o número da rodovia mediante interpolação entre os limites
consignados, em função da distância da rodovia a uma linha com a
direção Noroeste-Sudeste, passando pela Capital Federal.
Exemplos: BR-304, BR-324, BR-364. 

194
TÓPICO 4 | AS REDES DE TRANSPORTES NO BRASIL

Diagonais orientadas na direção geral NE-SO: A numeração varia, segundo


números ímpares, de 01, no extremo Noroeste do país, a 51, em Brasília,
e de 51 a 99, no extremo Sudeste. 
Obtém-se o número aproximado da rodovia mediante interpolação entre
os limites consignados, em função da distância da rodovia a uma linha
com a direção Nordeste-Sudoeste, passando pela Capital Federal.
Exemplos: BR-319, BR-365, BR-381.

FIGURA 78 – EXEMPLOS DE RODOVIAS DIAGONAIS

FONTE: DNIT (2017)

e) Rodovias de Ligação

Estas rodovias apresentam-se em qualquer direção, geralmente ligando


rodovias federais, ou pelo menos uma rodovia federal a cidades ou
pontos importantes ou ainda a nossas fronteiras internacionais.
Nomenclatura: BR-4XX
Primeiro Algarismo: 4 (quatro)
Algarismos Restantes:
A numeração dessas rodovias varia entre 00 e 50, se a rodovia estiver
ao norte do paralelo da Capital Federal, e entre 50 e 99, se estiver ao sul
desta referência.
Exemplos: BR-401 (Boa Vista/RR – Fronteira BRA/GUI), BR-407 (Piripiri/
PI – BR-116/PI e Anagé/PI), BR-470 (Navegantes/SC – Camaquã/RS), BR-
488 (BR-116/SP – Santuário Nacional de Aparecida/SP).

1.4 TRANSPORTE HIDROVIÁRIO


Transporte hidroviário é o tipo de transporte aquaviário realizado nas
hidrovias (são percursos predeterminados para o tráfego sobre águas) para
transporte de pessoas e mercadorias. As hidrovias de interior podem ser rios,

195
UNIDADE 3 | ESTUDOS DA REDE URBANA BRASILEIRA, DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA E DAS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL

lagos e lagoas navegáveis que receberam algum tipo de melhoria/sinalização/


balizamento para que um determinado tipo de embarcação possa trafegar com
segurança por esta via (BRASIL, 2017).

As hidrovias são de grande importância para este tipo de modal, visto


que através delas consegue-se transportar grandes quantidades de mercadoria a
grandes distâncias. Nelas são transportados produtos como: minérios, cascalhos,
areia, carvão, ferro, grãos e outros produtos não perecíveis (BRASIL, 2017).

FIGURA 79 – TRANSPORTE DE MINÉRIOS POR HIDROVIAS

FONTE: Disponível em: <http://www.tecnologistica.com.br/portal/noticias/72984/hidrovias-do-


brasil-passa-a-atuar-com-cabotagem/>. Acesso em: 19 out. 2017.

Dados da Confederação Nacional de Transportes (2017) revelam que o


modal aquaviário responde por aproximadamente 13% da movimentação de
cargas no Brasil. Nas exportações, a representatividade é ainda maior: mais de
90% das cargas vendidas ao exterior são transportadas em navios.  De modo
similar aos modais de transporte apresentados, organizou-se um quadro-resumo
com as características mais relevantes do transporte hidroviário de carga no
Brasil, observe:

196
TÓPICO 4 | AS REDES DE TRANSPORTES NO BRASIL

QUADRO 19 – CARACTERÍSTICAS DO TRANSPORTE HIDROVIÁRIO DE CARGA NO BRASIL

FONTE: Adaptado de Brasil (2017)

A estrutura do transporte hidroviário no Brasil envolve tanto portos


marítimos como fluviais, conforme evidencia o mapa hidroviário exposto na
sequência.

197
UNIDADE 3 | ESTUDOS DA REDE URBANA BRASILEIRA, DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA E DAS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL

FIGURA 80 – MAPA HIDROVIÁRIO DO BRASIL (2017)

FONTE: Ministério dos Transportes (2017)

Conforme pode ser observado na figura, o modal hidroviário está


estreitamente relacionado às características e particularidades naturais de cada
região. Neste sentido, a presença de portos fluviais apresenta-se de forma
proeminente na região Norte.

198
TÓPICO 4 | AS REDES DE TRANSPORTES NO BRASIL

FIGURA 81 – EXEMPLO DE PORTO FLUVIAL – PORTO DE MANAUS

FONTE: Disponível em: <https://noamazonaseassim.com.br/porto-de-


manaus/>. Acesso em: 17 out. 2017.

FIGURA 82 – BALSA AMARELA NO PORTO DE MANAUS

FONTE: Disponível em: <http://www.acritica.com/channels/cotidiano/news/


pesquisa-visa-melhorar-a-funcionalidade-da-balsa-amarela-no-
porto-da-manaus-moderna>. Acesso em: 24 out. 2017.

Segundo o IBGE (2014), a Região Norte é a que mais depende de hidrovias,


e ainda segundo a publicação:

As hidrovias, assim como as ferrovias, são predominantemente


utilizadas para transporte de commodities, como grãos e minérios,
insumos agrícolas, bem como petróleo e derivados, produtos de
baixo valor agregado e cuja produção e transporte em escala trazem
competitividade. A exceção é a região Norte, onde o transporte
por pequenas embarcações de passageiros e cargas é de histórica
importância. Além das hidrovias do Solimões/Amazonas e do Madeira,
essa região depende muito de outros rios navegáveis para a circulação
intrarregional. Outras hidrovias de extrema importância para o país são
as hidrovias do Tietê-Paraná e do Paraguai, que possuem importante
papel na circulação de produtos agrícolas no Estado de São Paulo e da
Região Centro-Oeste (IBGE, 2014, p.1). (grifos nossos)

199
UNIDADE 3 | ESTUDOS DA REDE URBANA BRASILEIRA, DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA E DAS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL

FIGURA 83 – TRANSPORTE ESCOLAR NO MODAL AQUAVIÁRIO

FONTE: Disponível em: <http://www.rogeriocorreia.com.br/noticia/


municipios-e-estados-podem-pedir-lanchas-escolares/>.
Acesso em: 17 out. 2017.

No âmbito do transporte aquaviário, os terminais são fundamentais


para assegurar a fluidez de pessoas e mercadorias. Acompanhe a seguir o papel
desempenhado pelos portos brasileiros.

E
IMPORTANT

Portos promovem exportação de soja, petróleo e derivados e minério de ferro

Os portos servem primariamente como vias de saída de commodities, principalmente de soja,


minério de ferro, petróleo e seus derivados, que estão entre os principais produtos da exportação
brasileira. Em relação à soja, destacam-se os portos de Itacoatiara (AM), Paranaguá (PR), Rio
Grande (RS), Salvador (BA), Santarém (PA), São Francisco do Sul (SC) e o Porto de Itaqui (MA).

Os combustíveis e derivados de petróleo se destacam em diversos terminais do Nordeste,


especialmente Aratu – Candeias (BA), Itaqui (MA), Fortaleza (CE), Suape – Ipojuca (PE), Maceió
(AL) e São Gonçalo do Amarante-Pecém (CE).

Os portos que mais movimentam minério de ferro são os terminais privados de Ponta da
Madeira, da Vale S.A., em São Luís (MA) e de Tubarão, em Vitória (ES). O primeiro recebe
principalmente a produção da Serra de Carajás, no Pará; o segundo está associado à produção
do Estado de Minas Gerais.

A maior quantidade de carga movimentada nos portos organizados do país está localizada
no Porto de Santos (SP), devido à sua posição estratégica. Ele está em terceiro lugar no
ranking que considera Portos Organizados e Terminais de Uso Privativo (liderado pelos
Terminais Privados de Ponta da Madeira e Tubarão) e movimenta, em grande escala, carga
geral armazenada e transportada em contêiner.

Ele é o ponto de escoamento da produção com maior valor agregado que segue para outras
regiões do país, bem como para exportação, além de ser local de desembarque mais próximo
ao maior centro consumidor do país, onde se destaca a Grande São Paulo.

FONTE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, IBGE mapeia a infraestrutura dos
transportes no Brasil.

200
TÓPICO 4 | AS REDES DE TRANSPORTES NO BRASIL

1.5 TRANSPORTE AEROVIÁRIO


O modal de transporte aeroviário, mais conhecido como aéreo, nos remete
a duas características centrais: rapidez (velocidade) e custo elevado — quando
comparado com os demais modais apresentados. No Brasil, trata-se de uma
modalidade de transporte que vem sofrendo transformações significativas no
período recente. Tais mudanças estão principalmente relacionadas a três aspectos:
regulamentação versus desregulamentação do setor; consolidação de empresas
aéreas de baixo custo e concessão/privatização dos aeroportos. Ao analisarmos
o setor de transportes aéreos brasileiros, a ênfase irá recair sobre as dinâmicas
recentes que envolvem o setor, que inclui tanto o transporte de cargas como o
transporte de passageiros e turistas.

O desenvolvimento histórico do setor aéreo no Brasil remete ao crescimento


e à diversificação da economia brasileira entre 1920 e o início da década de
1960, que estimularam a expansão da demanda pelo transporte aéreo. Após
experimentar um período de crescimento, o setor atravessou uma crise no início
da década de 1960 (BIELSCHOWSKY; CUSTÓDIO, 2011). Os autores comentam
que as pressões exercidas pelas empresas do setor aéreo após a crise da década de
1960 foram atendidas pelo Estado a partir de 1968. Entre 1968 até início da década
de 1980, o setor teve um notável crescimento das empresas, estimuladas pelo
aumento da demanda e protegidas por uma regulação de mercado destinada a
garantir a rentabilidade das empresas.

Na década de 1980, o endividamento das empresas, estimulado por


expectativas de receitas que não se confirmaram, associado ao aumento dos custos
operacionais e financeiros e ao controle tarifário, desencadeou um desequilíbrio
econômico-financeiro nas empresas do setor aéreo (BIELSCHOWSKY;
CUSTÓDIO, 2011).

Como consequência destes problemas, aconteceu a falência de regime


regulatório, decorrente, sobretudo, da situação crítica das empresas do setor e
da incapacidade do Estado em coordenar soluções para a crise. Em face a este
cenário, empresas e governantes optaram pela desregulamentação do mercado na
década de 1990. A liberalização do setor foi realizada em três rodadas: a primeira
em 1992, a segunda em 1997-98, e a terceira em 2001-02. A partir de 2003 observa-
se um retorno da regulação no setor (BIELSCHOWSKY; CUSTÓDIO, 2011).

Vamos conhecer um pouco mais sobre o transporte aéreo? Para isso, leia
o uni a seguir, que apresenta um fragmento do estudo denominado Transporte
e Economia:

201
UNIDADE 3 | ESTUDOS DA REDE URBANA BRASILEIRA, DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA E DAS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL

E
IMPORTANT

Transporte e economia

Desde sua criação, o transporte aéreo evoluiu em ritmo acelerado, reduzindo o tempo de
deslocamento e estimulando o desenvolvimento econômico das regiões integradas à sua
rede de atuação. Suas características intrínsecas de velocidade, segurança e autonomia para
percorrer espaços contribuíram para a disseminação do seu uso para a movimentação de
cargas e pessoas.

O serviço prestado pode ser o transporte de passageiros, cargas ou mala postal, regular ou
não, doméstico ou internacional. [...]

No Brasil, a exploração dos serviços de transporte aéreo público depende de concessão ou


autorização do Estado. É somente com a outorga do poder público que companhias aéreas
podem operar e constituir oferta de serviços de transporte aéreo regular de passageiros, isto
é, serviços que operam em rotas, horários e frequências predefinidos.

Nesse mercado, dois agentes merecem destaque: as empresas aéreas e os aeroportos.


Enquanto as empresas viabilizam a prestação do serviço de transporte propriamente dita,
os aeroportos fornecem a infraestrutura que dá sustentação às operações das companhias
aéreas.

Atualmente, o país detém o terceiro maior mercado doméstico do mundo em número de


passageiros transportados e apresenta um crescimento expressivo e sustentado. Isso pode
ser comprovado por meio do recente desempenho do setor. Entre 2000 e 2014, o número de
passageiros transportados, para voos domésticos e internacionais, teve um incremento real
de 210,8%, enquanto que a oferta cresceu 103,5% no mesmo período.

Dessa forma, observa-se que o serviço de transporte aéreo tem grande potencial de
desenvolvimento e estimulá-lo pode trazer ganhos importantes para a economia do país,
seja na geração de riquezas ou de empregos, seja nos benefícios para todo o sistema de
transporte nacional. [...]

FONTE: Disponível em: <http://cms.cnt.org.br/Imagens%20CNT/Site%202015/Pesquisas%20


PDF/Transporte%20e%20Economia%20Transporte%20Aéreo%20de%20Passageiros.pdf>.
Acesso em: 24 out. 2017.

Notou a relevância deste setor para a economia nacional? Além de


contribuir com o escoamento da produção e permitir deslocamentos turísticos,
sobretudo de longa distância, tal setor também contribui por ser um importante
gerador de empregos, conforme evidencia a representação a seguir:

202
TÓPICO 4 | AS REDES DE TRANSPORTES NO BRASIL

FIGURA 84 – RELEVÂNCIA ECONÔMICA DO SETOR DE TRANSPORTE AÉREO

FONTE: Disponível em: https://www.iata.org/policy/Documents/benefits-of-aviation-


brazil-2017-portuguese.pdf. Acesso em: 23 out. 2017.

Conforme está realçado na representação anterior, o setor de transporte


aéreo cria empregos diretos e indiretos: companhias aéreas, operadoras de
aeroporto, empreendimentos situados dentro do aeroporto (restaurantes e lojas
de varejo), fabricantes de aeronaves e prestadores de serviços de navegação
aérea empregaram 270 mil pessoas no Brasil em 2014 (ORGANIZAÇÃO
DE TRANSPORTE AÉREO INTERNACIONAL, 2017).

Ademais, ao comprar produtos e serviços de fornecedores locais,


o setor empregou mais 400 mil pessoas, sendo que quando essas pessoas
gastaram seus salários, mantiveram o emprego de mais 190 mil pessoas em 2014
(ORGANIZAÇÃO DE TRANSPORTE AÉREO INTERNACIONAL, 2017). Além
disso, 1,4 por cento do PIB do país é gerado pelo setor de transporte aéreo e
por turistas estrangeiros entrando no país por via aérea (ORGANIZAÇÃO
DE TRANSPORTE AÉREO INTERNACIONAL, 2017).

O funcionamento eficiente do transporte aéreo está diretamente


relacionado com a distribuição e qualidade dos aeroportos espalhados pelo Brasil.
É a rede de aeroportos que permite que a circulação de pessoas e mercadorias
ocorra de maneira adequada. Além disso, os aeroportos, enquanto “fixos”
geográficos, são responsáveis por engendrar “fluxos” geográficos, na medida
em que sua presença, ou não, em determinado território, acaba por direcionar o
sentido dos deslocamentos de cargas e pessoas.
203
UNIDADE 3 | ESTUDOS DA REDE URBANA BRASILEIRA, DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA E DAS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL

Na figura a seguir é possível observar a distribuição geográfica dos


aeroportos no Brasil.

FIGURA 85 – DISTRIBUIÇÃO DOS AEROPORTOS NO BRASIL – INFRAERO

FONTE: Disponível em: <http://gestaoindustrial.com/index.php/industrial/logistica/transportes>.


Acesso em: 24 out. 2017.

204
TÓPICO 4 | AS REDES DE TRANSPORTES NO BRASIL

Conforme se observa no mapa, a concentração de aeroportos na porção


leste do país é mais elevada. Nota-se que em muitos casos, operações de transporte
de cargas e passageiros ocorrem concomitantemente. Complementando a leitura
do mapa, dados do IBGE (2014) revelam que a movimentação de cargas por
via aérea, devido ao elevado custo, é mais usada para produtos com alto valor
agregado ou com maior perecibilidade e que exigem maior rapidez e segurança
no traslado.

No Brasil, esse modal é utilizado em poucos trajetos, com mais da metade


do tráfego concentrado em apenas dez pares de ligações entre cidades, sendo que
a ligação São Paulo-Manaus abarcava mais de 20% do total de carga transportada
em 2010. São Paulo também concentra a maior parte do transporte aéreo de
passageiros, com 26,9 milhões de passageiros em voos domésticos e 10,4 milhões
em internacionais em 2010. O segundo lugar ficou com o Rio de Janeiro, com 14,5
milhões e 3,1 milhões, respectivamente (IBGE, 2014).

Embora sejam elementos fundamentais para o transporte aéreo, o processo


de gestão dos aeroportos tem se mostrado desafiador, insuficiente e deficitário
em diversas cidades brasileiras. A este respeito, Menezes (2016, p. 1) explica que:

A infraestrutura inerente a este setor necessita de grandes e eficientes


financiamentos para viabilizar a movimentação de pessoas e
mercadorias, a fim de garantir o escoamento da produção e a conexão
entre diversas localidades. Dessa maneira, os aeroportos são parte da
infraestrutura, funcionando como pontos no território que viabilizam
a entrada e a saída de produtos e cidadãos de um espaço geográfico
a outro, conectando-os. A partir dos anos 2000 o Estado brasileiro
passa a considerar outros modelos de gestão aeroportuária devido
a problemas relacionados ao setor aéreo naquele período: atrasos
e cancelamento de voos (apagões aéreos) e acidentes. O governo
federal constatou por meio de estudos e consultorias contratados
para diagnosticar o setor, que a infraestrutura aeroportuária brasileira
não suportava a demanda por seus serviços. Dessa maneira, o poder
público decidiu pela concessão dos aeroportos à iniciativa privada,
atuando, porém, na regulação econômica, visando à melhoria dos
serviços e mais investimentos no setor.

O texto apresentado na sequência, elaborado pela Agência Nacional


de Aviação Civil, atualiza a situação da concessão dos aeroportos brasileiros,
acompanhe:

205
UNIDADE 3 | ESTUDOS DA REDE URBANA BRASILEIRA, DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA E DAS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL

E
IMPORTANT

Concessões

A concessão de aeroportos tem como objetivo atrair investimentos para ampliar, aperfeiçoar
a infraestrutura aeroportuária brasileira e, consequentemente, promover melhorias no
atendimento aos usuários do transporte aéreo no Brasil. Os níveis de qualidade dos serviços
determinados para esses aeroportos, baseados em padrões internacionais, estão previstos
nos contratos de concessão, que são geridos e fiscalizados pela ANAC.

As concessões de aeroportos foram iniciadas em 2011, com o Aeroporto de São Gonçalo


do Amarante (RN). Em 2012, foram licitados os aeroportos de Brasília/DF, Guarulhos e
Viracopos, em São Paulo; e, em 2013, os Aeroportos Internacionais Antônio Carlos Jobim -
Galeão, no Rio de Janeiro/RJ e Tancredo Neves - Confins, em Minas Gerais. Tais concessões
visaram melhorar a qualidade de serviços desses aeroportos e acelerar a execução das obras
necessárias ao atendimento da demanda pelo transporte aéreo, o crescimento do setor no
país e a realização de grandes eventos, como foi a Copa do Mundo FIFA em 2014 e os
Jogos Olímpicos em junho de 2016. Em 2017, mais quatro aeroportos foram concedidos:
Pinto Martins, em Fortaleza/CE; Luiz Eduardo Magalhães, em Salvador/BA; Hercílio Luz, em
Florianópolis/SC; e Salgado Filho, em Porto Alegre/RS.

Em agosto de 2017, o Governo Federal anunciou a concessão de mais 14 aeroportos, além


da alienação da participação acionária da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária
(Infraero) nas concessionárias dos aeroportos de Brasília, Confins, Galeão e Guarulhos,
nos quais detém 49% do controle. Os aeroportos serão concedidos em blocos, sendo o
Bloco Nordeste formado pelos aeroportos de Maceió/AL, Aracaju/SE, João Pessoa/PB,
Campina Grande/PB, Juazeiro do Norte/CE e Recife/PE. Outro bloco é o Centro-Oeste, com
a concessão dos aeroportos de Cuiabá/MT, Sinop/MT, Barra do Garças/MT, Rondonópolis/
MT e Alta Floresta/MT. Também serão concedidos os Aeroportos de Vitória/ES, Macaé/RJ e
Congonhas, em São Paulo/SP.

FONTE: Disponível em: <http://www.anac.gov.br/assuntos/paginas-tematicas/concessoes>.


Acesso em: 24 out. 2017.

Estamos nos aproximando do final desta unidade e deste livro didático.


Para complementar seus estudos, leia com atenção o fragmento do artigo
Demanda por investimentos em mobilidade urbana no Brasil. Aprenda um
pouco mais sobre a relação entre os sistemas de transporte e mobilidade urbana.
Boa leitura!

206
TÓPICO 4 | AS REDES DE TRANSPORTES NO BRASIL

LEITURA COMPLEMENTAR

Demanda por investimentos em mobilidade urbana no Brasil

Rodolfo Torres dos Santos Anie Gracie Noda Amicci Carlos Henrique Reis
Malburg Filipe de Oliveira Souza
Allan Amaral Paes de Mesentier
Julia Febraro Franca Gomes da Silva Gumersindo Sueiro Lopez Junior Carlos
Frederico Siqueira de Azevedo

Contextualização: mobilidade urbana e urbanização brasileira

Nas últimas décadas, o Brasil se consolidou como um país urbano e


metropolitano. Atualmente, 84% da população brasileira vive em cidades,
sendo que 47% nas regiões metropolitanas (21% em cidades com mais de um
milhão de habitantes) [IBGE (2010)]. Em consequência, as questões relativas
ao funcionamento das cidades, com seus problemas e desafios, têm ganhado
cada vez mais centralidade no debate sobre as políticas públicas voltadas ao
desenvolvimento.

As grandes e médias cidades brasileiras enfrentam problemas crescentes


de poluição, acidentes de trânsito e congestionamentos, levando grande parte
da população a considerar insatisfatória a qualidade dos sistemas de transportes
[IPEA (2009)]. A expansão da renda e do emprego aumenta a demanda da
população por mobilidade e sua taxa de motorização. Além disso, o número
de veículos, principalmente carros e motos, vem crescendo, impulsionado por
estímulos fiscais, crédito favorecido e subsídios aos combustíveis, o que agrava
ainda mais esses problemas.

Entre as diversas causas apontadas para essas deseconomias, é possível


citar: o processo de urbanização extremamente acelerado nas décadas de 1960, 1970
e 1980; a falta de planejamento urbano integrado ao planejamento dos transportes;
a opção rodoviária da matriz de transporte de passageiros; e a insuficiência de
investimentos em infraestrutura. O planejamento urbano, tradicionalmente, deve
contemplar políticas de habitação, saneamento e transporte público, de forma a
orientar os investimentos do Estado, favorecendo o uso e a ocupação racionais
do solo urbano, e permitir o desenvolvimento de cidades mais produtivas e
eficientes.

A mobilidade urbana é reflexo direto das opções e prioridades do gestor


público, tendo por base um planejamento urbano consistente, consubstanciado
nos investimentos em infraestrutura de transporte público, em especial nos meios
de transporte de alta e média capacidades. Por isso, não é possível enfrentar a
agenda da mobilidade urbana sem entendê-lá sob duas perspectivas. A primeira
está ligada à capacidade de se ampliar a oferta de infraestrutura, de modo a
expandir a rede de transportes públicos, garantindo eficiência energética e

207
UNIDADE 3 | ESTUDOS DA REDE URBANA BRASILEIRA, DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA E DAS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL

ambiental, usando tecnologias adequadas ao volume e às características da


demanda a ser atendida, com qualidade na prestação de serviço e respeito ao
princípio da modicidade tarifária. A segunda consiste em repensar as cidades,
tornando-as mais compactas, estimulando a ocupação mista do espaço urbano,
tanto no que se refere às atividades quanto na mescla de estratos sociais, e
investindo na requalificação urbana das áreas já dotadas de infraestrutura. Tudo
isso a fim de reduzir a necessidade de deslocamentos, os horários de vale e as
sazonalidades.

Com relação à capacidade de planejamento, a experiência das regiões


metropolitanas brasileiras não é muito satisfatória. A legislação que institui as
regiões metropolitanas é de 1973, e apenas São Paulo, Belo Horizonte e Porto
Alegre foram capazes de constituir institutos ou empresas de planejamento
urbano regional [Vasconcelos (2012)]. Os instrumentos de planejamento
urbano são relativamente recentes, o que os torna tardios em relação à própria
urbanização. Embora a Constituição de 1988 estabeleça que cabe às cidades
brasileiras elaborar seus planos diretores, com o objetivo de orientar o uso e a
ocupação do solo, muitas ainda não conseguiram fazê-lo ou implementar seus
planos. O Estatuto da Cidade, aprovado em 2001, que avança na regulamentação
dos diversos instrumentos de gestão do espaço urbano, ainda é pouco utilizado.
Vários municípios importantes ainda não regulamentaram alguns desses
instrumentos, como os Estudos de Impacto de Vizinhança. Só recentemente, com
a Lei da Mobilidade Urbana, é que passou a ser obrigatória para municípios com
mais de 20 mil habitantes a elaboração de planos de mobilidade urbana. Desse
modo, os gestores se deparam com regiões metropolitanas já consolidadas e com
um tecido urbano complexo e de difícil governança, o que limita a intervenção do
poder público.

Os investimentos em infraestrutura de transporte de passageiros não


foram contínuos ao longo das décadas, nem acompanharam o crescimento das
cidades. Na década de 1970 até o início da década de 1980, houve investimentos
na implantação dos sistemas metroviários de São Paulo e Rio de Janeiro. Com a
crise fiscal pela qual o Estado brasileiro passou nas décadas de 1980 e 1990, os
investimentos públicos diminuíram e, consequentemente, os investimentos em
infraestrutura também foram reduzidos, o que resultou em pouca expansão dos
sistemas metroviários e na degradação de parte da rede ferroviária de passageiros
em São Paulo e no Rio de Janeiro. No fim dos anos 1990 e nos anos 2000, têm
início as primeiras concessões e a retomada de investimentos públicos no setor
com investimentos na requalificação da malha ferroviária de passageiros, o que,
inclusive, está em curso até hoje (CPTM e SuperVia). Ainda na década de 1990,
realizou-se a maior parte dos investimentos do sistema metroferroviário no
Distrito Federal, o qual, embora tenha contado com o apoio do governo federal,
sofreu atrasos e só entrou em operação em 2001.

Na década passada, a prioridade dos investimentos foi centrada,


inicialmente, em saneamento e habitação, setores que receberam recursos
do Orçamento Geral da União (OGU) e descontingenciamento de crédito
(autorização de endividamento concedida pelo Conselho Monetário Nacional)
208
TÓPICO 4 | AS REDES DE TRANSPORTES NO BRASIL

para estados e munícipios. Já́ o transporte urbano de passageiros voltou para a


agenda federal após a escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014
e dos Jogos Olímpicos de 2016. A partir de então, vieram os PAC Cidades-Sede
da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos, PAC Mobilidade Grandes Cidades e
PAC Mobilidade Médias Cidades, cuja efetividade ficou comprometida em razão
da quase inexistência de estudos e projetos consistentes e maduros para serem
apoiados.

Nos últimos anos, somando-se o esforço de alguns estados, especialmente


São Paulo e Rio de Janeiro, a estruturação das primeiras parcerias público-privadas
no setor de transporte e o aumento das dotações do PAC realizadas pela União,
inaugura-se um novo cenário de investimentos no setor de mobilidade. Hoje, a
perspectiva de investimentos no setor de mobilidade urbana para o período 2015-
2018 é da ordem de R$ 50 bilhões [Perspectivas (2014)].

Embora haja crescente participação privada por meio das concessões e das
PPPs, a maior parcela dos recursos é pública. No entanto, dada a fragilidade fiscal
e financeira dos estados e municípios para fazer frente a esses investimentos, será
indispensável a participação da União com recursos orçamentários e viabilizando
a prestação de garantias aos financiamentos. Além disso, é importante destacar
que a principal dificuldade para realizar os investimentos em mobilidade urbana
está na carência de estudos e projetos de qualidade, como se verificou por ocasião
das chamadas de projeto realizadas nos PACs Mobilidade.

Por fim, é preciso compreender a centralidade das cidades e,


consequentemente, da mobilidade urbana na agenda de desenvolvimento
do século XXI. A concorrência por investimentos em centros de tecnologia e
serviços de alto valor agregado passa pela capacidade das cidades em ofertarem
infraestrutura urbana de qualidade (energia, telecomunicações e mobilidade).
Assim, dar eficiência às cidades não é só melhorar a qualidade de vida de seus
cidadãos, mas também viabilizar infraestruturas de melhor qualidade para os
setores econômicos que têm suas atividades vinculadas à vida urbana, como os
centros de alta tecnologia e o setor de serviços, gerando externalidades positivas
e ganhos de produtividade.

FONTE: DOS SANTOS, Rodolfo Torres et al. Demanda por investimentos em mobilidade urbana
no Brasil. BNDES Setorial, p. 79, 2015. Disponível em: <https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/
bitstream/1408/4281/4/BS%2041_mar_atualizado_P.pdf#page=79>. Acesso em: 25 out. 2017.

209
RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico, você aprendeu que:

• Estudar a rede de transporte de um país é um passo fundamental para


compreender o processo de circulação de pessoas e de mercadorias em
determinado território.

• Os componentes básicos do sistema de transporte são: as vias, os veículos, os


usuários, os bens transportados e os terminais.

• Transporte ferroviário é o realizado sobre linhas férreas para transportar


pessoas e mercadorias e, no Brasil, as mercadorias transportadas neste modal
são de baixo valor agregado e em grandes quantidades, como: minério,
produtos agrícolas, fertilizantes, carvão, derivados de petróleo.

• É possível identificar três formas de uso principais do transporte ferroviário: o


uso para deslocamentos diários (cotidianos), o uso turístico e o transporte de
cargas.

• A matriz de transportes brasileira tem a forte predominância do modo


rodoviário.

• No Brasil, a ênfase da análise do transporte rodoviário vem se consolidando


desde a década de 50, associada à implantação da indústria automobilística no
país e às necessidades de interiorização e integração do território nacional.

• As rodovias brasileiras são classificadas como radiais, longitudinais,


transversais, diagonais e de ligação.

• Transporte hidroviário é o tipo de transporte aquaviário realizado nas hidrovias


(são percursos predeterminados para o tráfego sobre águas) para transporte de
pessoas e mercadorias.

• O modal hidroviário está estreitamente relacionado às características e


particularidades naturais de cada região.

• O modal de transporte aeroviário, mais conhecido como aéreo, nos remete a


duas características centrais: rapidez (velocidade) e custo elevado — quando
comparado com os demais modais apresentados.

• O transporte aéreo evoluiu em ritmo acelerado, reduzindo o tempo de


deslocamento e estimulando o desenvolvimento econômico das regiões
integradas à sua rede de atuação.

210
• No âmbito do transporte aéreo, características como velocidade, segurança e
autonomia para percorrer espaços contribuíram para a disseminação do seu
uso para a movimentação de cargas e pessoas.

• O funcionamento eficiente do transporte aéreo está diretamente relacionado


com a distribuição e qualidade dos aeroportos espalhados pelo Brasil.

211
AUTOATIVIDADE

1 Dentre os temas de interesse da Geografia insere-se o estudo das redes de


transporte. O setor de transporte tem importância fundamental na dinâmica
e na economia do território. Acerca do estudo das redes de transporte,
assinale a alternativa correta:

( ) Embora os estudos das redes de transporte sejam relevantes no âmbito


econômico, eles são limitadores, porque não permitem analisar o processo
de circulação de pessoas e de mercadorias em determinado território.
( ) As redes de transporte são definidas por decisões de natureza política e
por isso não interferem nas decisões locacionais tomadas por indivíduos,
empresas e organizações.
( ) A movimentação de pessoas e mercadorias por meio de rodovias, ferrovias,
hidrovias e transporte aéreo gera fluxos que revelam características da rede
urbana, como o escoamento de produção, a dinâmica populacional e o
desenvolvimento regional.
( ) A circulação de pessoas e mercadorias por meio de rodovias, ferrovias,
hidrovias e transporte aéreo gera fluxos financeiros que independem das
condições de infraestrutura disponíveis em determinado território.

2 O sistema de transportes é formado por alguns elementos fundamentais que


se articulam entre si. Com relação a estes elementos, analise as sentenças a
seguir e marque V para as verdadeiras e F para as falsas.

( ) Os usuários do sistema de transporte são os motoristas, que podem ser


enquadrados como profissionais ou pessoas físicas.
( ) Os terminais são o ponto onde partem as linhas rodoviárias e onde,
obrigatoriamente, as tarifas devem ser cobradas.
( ) As vias são as superfícies por onde transitam veículos, pessoas e animais,
incluindo calçadas, acostamento e canteiro central.
( ) O sistema de transportes é basicamente formado por: vias, veículos,
usuários, bens transportados e terminais.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:


a) ( ) V – V – V – F.
b) ( ) F – V – V – F.
c) ( ) V – F – V – V.
d) ( ) F – F – V – V.

3 No Brasil, parte do transporte de cargas é realizado pelo modal ferroviário,


sendo que grande parte da malha ferroviária do Brasil está concentrada nas
regiões Sul e Sudeste. Neste sentido, disserte sobre três características do
transporte ferroviário de carga no Brasil.

212
REFERÊNCIAS
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