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Argumentum

E-ISSN: 2176-9575
revistaargumentum@yahoo.com.br
Universidade Federal do Espírito Santo
Brasil

Dias CARCANHOLO, Marcelo


Desafios e Perspectivas para a América Latina do Século XXI
Argumentum, vol. 6, núm. 2, julio-diciembre, 2014, pp. 6-24
Universidade Federal do Espírito Santo
Vitória, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=475547143002

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DEBATE

Desafios e Perspectivas para a América Latina do Século XXI

Challenges and Prospects for Latin America XXI Century

Marcelo Dias CARCANHOLO1

Introdução Latina como se fosse mera unidade, sem


diferenciação. Defender que não, e alterna-

I
nicialmente talvez a primeira questão tivamente restringir-se à especificidade de
que se apresenta, quando se procura cada nação, é também cair na mistificação,
fazer qualquer tipo de análise sobre a mas desta vez de dupla natureza: (i) desco-
América Latina, diz respeito à própria cate- nhecer qualquer similaridade na formação
goria América Latina. É possível tratá-la co- histórico-social de nossos povos; (ii) tratar a
mo uma unidade categorial? As sociedades realidade social da região a partir de uma
e países que a compõem, em que pesem categoria de falsa abstração, a Nação2.
suas especificidades, podem ser tratadas
com alguma homogeneidade? A segunda Na realidade, a América Latina é uma uni-
questão, decorrente da primeira, obviamen- dade contraditória, e não poderia ser por
te quando se pensa a região a partir do Bra- acaso, uma vez que sua formação sócio-
sil, é como este último se insere na América histórica, nos tempos modernos, se confun-
Latina. de com a explicitação do caráter mundial
da lógica social capitalista. Aricó (1987, p.
Para a primeira questão, sustentar apenas 420) constata
que sim é desconsiderar as especificidades
nacionais, locais e sub-regionais, caindo em A problematicidade da categoria “América
uma mistificação da América Latina” tem, assim, fundamento e explicação
em sua necessidade de dar conta de uma rea-
lidade não pré-constituída, mas em formação,
cuja morfologia concreta pode ser concebida
não como a “mundanização” de um a priori,
1 Graduado em Ciências Econômicas. Doutor em mas como produto histórico de um prolonga-
Economia pela Universidade Federal do Rio de Ja- do processo de constituição, que pode ser es-
neiro (UFRJ, Brasil). Professor Associado da Facul- tudado graças à presença de um substrato his-
dade de Economia da Universidade Federal Flumi- tórico comum que remonta a uma matriz con-
nense (UFF, Brasil), Membro do Núcleo Interdisci- traditória, porém única.
plinar de Estudos e Pesquisas em Marx e Marxismo
(NIEP-UFF), Pesquisador do Núcleo de História 2É uma falsa abstração considerar uma nação, cujo
Econômica da Dependência Latino-americana (HE- modo de produção repousa no valor e que, além
DLA-UFRGS), Professor Colaborador da Escola disso, está organizado capitalistamente, como sendo
Nacional Florestan Fernandes (ENFF-MST), Presi- um corpo coletivo que trabalha apenas para as ne-
dente da Sociedade Latino-americana de Economia cessidades nacionais” (Marx, 1985, vol. III, tomo 2, p.
Politica e Pensamento Crítico (SEPLA). 293).
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Argumentum, Vitória (ES), v. 6, n.2, p.6-25, jul./dez. 2014.
Marcelo Dias CARCANHOLO

Em que pese a linguagem vacilante, típica gundo lugar, as fortes diferenças na evolu-
de um marxismo, talvez, arrependido3, Ari- ção sócio-econômica do Brasil, que certa-
có percebe que a América Latina constitui mente atingiu o maior grau de industriali-
uma região em formação histórica contradi- zação e desenvolvimento de sua economia
tória. Cada país e/ou localidade possui, capitalista, quando comparado com os ou-
evidentemente, suas especificidades, que tros. Em terceiro lugar, em decorrência do
não podem ser sublimadas em uma con- anterior, o caráter subimperialista do Brasil,
cepção social realmente crítica. Isto consti- se observada sua relação com as outras
tui o caráter contraditório das economias economias. Por atuação, o papel criminoso
que compõem a América Latina. Por outro do Brasil na Guerra do Paraguai, a atuação
lado, esta última tem uma inserção específi- brasileira no processo de “negociação” e
ca na divisão internacional do trabalho, fru- manutenção do “acordo” de Itaipu, sua co-
to da formação histórica do capitalismo nivência com os produtores brasiguaios de
mundial, que confere a todas suas econo- soja6, a atuação da Petrobrás na Bolívia e
mias, em distintos graus, um mesmo cará- Equador e liderança das “forças de paz” da
ter, um caráter dependente frente à lógica Minustah no Haiti, dentre outros, são
de acumulação de capital mundial. A de- exemplos claros. Mas além da atuação, o
pendência é o que constitui a unidade da papel subimperialista do Brasil na região
América Latina, o que não exclui as especi- pode ser entendido também pela sua omis-
ficidades de seus membros. são, isto é, na falta de maior apoio a proces-
sos mais radicais anti-imperialistas que,
Quanto à segunda questão pode-se consta- historicamente, surgiram na América Lati-
tar que o Brasil tem uma tradição histórica na.
em não se sentir parte da América Latina4.
Há razões para isso. Em primeiro lugar, Esses fatores explicam o porquê do Brasil
isso decorre das diferenças no processo de não se sentir parte da região latino-
colonização, o que inclui não apenas o fato americana. Entretanto, parece que chega-
do Brasil ter sido colonizado por Portugal, mos a uma contradição. Se o Brasil é tão
enquanto o resto da região, em sua imensa específico, ao ponto de assumir um caráter
maioria, o foi pela Espanha, o que se traduz subimperialista na região, como é possível
em diferenças de língua, mas também na tratá-lo dentro daquilo que dá certa simila-
própria constituição de seu povo5. Em se- ridade às economias da região, isto é, seu
caráter dependente frente ao capitalismo
3 Para uma análise crítica da inserção intelectual de
mundial? Em outras palavras, como é pos-
José Aricó dentro do marxismo latino-americano, sível ser subimperialista e dependente, ao
ver Correa e Miranda (2013). mesmo tempo? Esta contradição é mera
4 Esta tradição histórica vem diminuindo, princi-
aparência, e fruto de uma concepção equi-
palmente a partir deste século, por razões que esca-
vocada, tanto do que significa dependência,
pam ao escopo deste trabalho.
5 A constituição contraditória do povo brasileiro com

base nos índios originários, negros escravizados tos disto, em algo muito específico na região, se
(nem todos os países da região tiveram esta impor- comparado com outros países.
tante presença), português colonizador, imigrantes 6 Para o sub-imperialismo brasileiro no Paraguai ver

tardios, torna seu povo, com todos os desdobramen- Vuyk (2013).


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como do sentido original que se deu ao su-


bimperialismo. É possível afirmar que os condicionantes
estruturais da dependência se refletem em
1 Dependência da América Latina em rela- diversas formas pelas quais parte do (mais)
ção à Acumulação Mundial valor produzido na economia dependente
não é apropriado nela, mas nas economias
Marini (2005, p.141) sintetiza a condição centrais, passando a fazer parte da dinâmi-
dependente como “uma relação de subor- ca de acumulação de capital destas últimas,
dinação entre nações formalmente inde- e não da primeira.
pendentes, em cujo marco as relações de
produção das nações subordinadas são No plano da circulação de mercadorias
modificadas ou recriadas para assegurar a (mercado mundial), essa dialética produ-
reprodução ampliada da dependência”. ção/apropriação de valor ficou conhecida
Isso significa que as economias dependen- como troca desigual. Por um lado, conside-
tes apresentam suas dinâmicas de acumula- rando que distintos capitais podem produ-
ção definidas pela lógica mundial capitalis- zir uma mesma mercadoria, com diferentes
ta e, portanto, suas possibilidades e limita- graus de produtividade, e que a mercadoria
ções estão circunscritas pelas tendências é vendida pelo valor de mercado, segundo
dessa última. Isso significa que as economi- o tempo de trabalho socialmente necessário,
as dependentes devem estar, de alguma os capitais com produtividade acima da
forma, em maior ou menor grau (de de- média (geralmente operando nas economi-
pendência), atreladas à forma histórica es- as centrais) venderiam suas mercadorias
pecífica em que se dá essa acumulação pelo valor de mercado, apropriando-se,
mundial. portanto, de uma mais-valia (produzida nas
economias dependentes) para além daquela
Em outras palavras, se a condição depen- que eles mesmos produziram.
dente faz parte da unidade dialética que é a
acumulação capitalista mundial7, devem Por outro lado, no plano da concorrência
existir condicionantes estruturais dessa de- dos capitais em distintos setores, temos o
pendência (característica do mercado mun- aparecimento de um lucro extraordinário
dial capitalista) e determinantes conjuntu- para aqueles setores que produzem com
rais históricos da dependência. Esses com- maior produtividade em relação à média da
ponentes, estruturais e conjunturais, con- economia. Setores que produzem suas mer-
forme sua articulação, permitem entender a cadorias específicas com composição orgâ-
dialética da dependência. nica do capital (produtividade) acima da
média apresentarão um preço de produção
de mercado acima dos valores de mercado
7O capitalismo mundial é uma totalidade composta
e, portanto, venderão suas mercadorias por
pela contradição entre as economias centrais e as
economias dependentes, de forma que tanto as pri-
um preço que lhes permitirão apropriar-se
meiras como as segundas só se definem e, portanto, de mais valor do que produzirem. Como os
são entendidas na sua relação (dialética) de uma capitais nas economias dependentes ten-
com outra, e na complexidade formada pela totali- dem, em média, a possuir produtividades
dade do mercado capitalista mundial.
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abaixo da média da economia mundial, pendentes tendem a crescer (em preço e/ou
ocorre a transferência de uma parte da quantidade), pela demanda da economia
mais-valia produzida nas economias de- mundial em crescimento, e as condições de
pendentes, que será apropriada pelos capi- financiamento das contas externas tendem
tais operantes nas economias centrais. a ser menos onerosas em função da abun-
dancia de oferta nesse mercado de crédito
Por último, quando determinados capitais mundial. Essa situação externa favorável,
possuem certo grau de monopólio em seus entretanto, é meramente conjuntural, sujei-
mercados específicos, podem, por determi- ta aos ciclos do capitalismo mundial.
nado tempo, manter preços de mercado por Quando este está em crise, apresenta-se
sobre os preços de produção de mercado. uma situação externa desfavorável, que
Como os preços de mercado estariam, nessa agrava os condicionantes estruturais da
situação, acima dos preços de produção, dependência. A economia mundial cresce
para além das oscilações conjunturais, esses pouco, diminuindo a demanda pelos pro-
capitais poderiam se apropriar de um lucro dutos exportados pelas economias depen-
efetivo acima do médio, uma massa de va- dentes. Por outro lado, tende-se a retrair o
lor apropriado além daquele que, de fato, mercado de crédito mundial, agravando as
foi produzido por esses capitais. condições de financiamento das contas ex-
ternas dessas economias, justamente em um
Além desses mecanismos de transferência momento em que esse financiamento é mais
de valor das economias dependentes para necessário, tendo em vista o agravamento
as economias centrais, no plano do comér- da restrição externa.
cio de mercadorias, outros condicionantes
estruturais são as distintas maneiras de re- Mais além do alívio ou agravamento con-
messa de valores, na forma de pagamento juntural da condição dependente, o que
de juros e amortizações de dívidas, lucros e esta última representa para os capitalismos
dividendos pela atuação de capitais exter- dependentes é que uma parte da mais-valia
nos nas economias dependentes. Tanto os produzida nessas economias não faz parte
primeiros mecanismos como estes segun- da dinâmica de acumulação interna, o que
dos contribuem para a estrutural restrição obriga esses capitalismos a aumentarem a
externa que as economias dependentes produção da mais-valia e possibilitar o de-
apresentam em suas dinâmicas de acumu- senvolvimento capitalista de suas economi-
lação. as. É por isso que a superexploração da for-
ça de trabalho é uma categoria própria da
Esses condicionantes estruturais da depen- dinâmica de acumulação de capital depen-
dência são complexificados pela conjuntura dente8. Ela é necessária para contornar os
da economia mundial. Em momentos favo- mecanismos de transferência de valor para
ráveis, de alguma forma aliviando os efei- as economias centrais, e as formas em que
tos estruturais da dependência, quando a ela se apresenta (arrocho salarial, prolon-
economia mundial está crescendo e existe gamento da jornada de trabalho, elevação
uma grande oferta de crédito no mercado
mundial, as exportações das economias de- 8Para maiores esclarecimentos sobre esta categoria
ver Carcanholo (2013).
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da intensidade do trabalho, redução de di- O importante a destacar é exatamente isso.


reitos que compõem o valor da força de O caráter subimperialista de uma economia
trabalho, etc.) levam ao agravamento da não exclui a sua condição dependente. Até
distribuição regressiva de renda e riqueza por conta de uma redivisão internacional
nas economias centrais, com todos os refle- do trabalho, a economia brasileira passou, a
xos que isso acarreta para as condições so- partir dos anos 50/60 do século passado, a
ciais da população dessas economias. internalizar etapas do processo produtivo
que fizeram com que sua composição orgâ-
Essa breve caracterização da dependência já nica do capital subisse em relação à das ou-
nos permite pensar o que há de comum en- tras economias da região. Isso não diminuiu
tre as diversas economias que compõem a seu atraso frente ao desenvolvimento das
América Latina, em que pesem todas as forças produtivas nas economias centrais e,
especificidades dessas economias. Todas portanto, o processo de transferência de
elas, inclusive as mais “desenvolvidas” valor produzido por ela, mas apropriado
apresentam essa dinâmica dependente de naquelas. A novidade é que esse processo
acumulação capitalista. Mas, se é a transfe- de entrada do capital estrangeiro no pro-
rência de valor o que acaba definindo essa cesso produtivo replicou, sob novas formas,
condição estrutural, e esta é dada, dentre o processo de transferência de valor produ-
outras coisas, no plano do comércio mundi- zido nas economias menos desenvolvidas
al, pela produtividade dos capitais instala- da região para os capitais (não necessaria-
dos nessas economias, é possível então pen- mente brasileiros) que operam na economia
sar em distintos graus de dependência. Ou brasileira.
seja, em economias em que o desenvolvi-
mento das forças produtivas (refletido na O subimperialismo da economia brasileira
composição orgânica do capital) se proces- não nega seu caráter (ainda) dependente.
sou mais do que em outras, como é o caso Ao contrário, o reforço dialético de sua
da economia brasileira, temos um duplo condição dependente é que criou seu cará-
movimento: (i) esses mecanismos de trans- ter subimperialista.
ferência de valor para as economias centrais
não é tão acentuado como em outras eco- 2 Capitalismo e Dependência Contempo-
nomias com menores produtividades; e (ii) rânea
passa a existir uma diferenciação na com-
posição orgânica de capital (dentro e entre Assim como as leis gerais do capitalismo
setores) inclusive entre as distintas econo- conformam uma tendência que, dependen-
mias dependentes, o que pode replicar (pa- do da conjuntura e do momento histórico,
ra dentro da relação entre economias de- se manifestam de formas diferentes em dis-
pendentes) formas de transferência de va- tintos momentos e regiões, a dependência
lor. É exatamente isso que permite o apare- também apresenta uma historicidade, rela-
cimento do subimperialismo, mesmo em cionada ao momento histórico do capita-
economias que mantém a condição depen- lismo. Desta forma, se é possível pensar um
dente. capitalismo contemporâneo, em que essas
leis se manifestam com uma especificidade

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contemporânea, as formas como as econo- (ii) intensificação das transferências de va-


mias dependentes, nesse momento, enfren- lor, sob distintas formas, das economias
tam essa condição definem uma dependên- dependentes para as economias centrais
cia contemporânea. Isto significa que os (aprofundando os mecanismos que consti-
mecanismos de transferência de valor e a tuem as condições estruturais da depen-
forma como essa capitalismo dependente dência); (iii) pressão, por todas as partes da
faz frente aos mesmos, pela via da superex- economia mundial, por abertura dos mer-
ploração da força de trabalho, possuem cados, garantindo novos e ampliados espa-
uma especificidade contemporânea. ços de valorização para o capital; (iv) au-
mento da rotação do capital com a introdu-
O capitalismo contemporâneo nada mais é ção de uma ampla reestruturação produtiva
do que a resposta cíclica que a economia e logística na compra das mercadorias ne-
capitalista construiu para sua última gran- cessárias para a produção e distribuição das
de crise estrutural, no final dos anos 60 e mercadorias produzidas, possibilitando
início dos 70 do século passado9. As crises elevação da taxa anual de lucro10; (v) a ex-
da economia capitalista ocorrem em razão pansão da lógica fictícia de valorização do
da superprodução de capital, em todas suas capital. Todos esses elementos articulados
formas, de maneira que uma massa de capi- com uma interpretação e uma prática neo-
tal que foi produzida não encontra como liberais da economia que passam a caracte-
realizar-se, portanto, valorizar-se. Isso se rizar as estratégias de desenvolvimento di-
expressa na redução das taxas de lucro, o tas modernas, a partir desse momento.
que tende a retrair o processo de acumula-
ção de capital. Dessa forma, qualquer saída É fundamental aqui constatar que a reto-
capitalista para as suas crises implica não mada do processo de acumulação do capi-
apenas formas de elevar a produção de tal, a partir dos anos 70 do século passado,
(mais) valor, mas também (re) criar (novos) que constitui o chamado capitalismo con-
espaços de valorização para essa massa temporâneo, compreende a articulação dia-
crescente de (mais) valor produzido. lética desses cinco elementos. Portanto,
qualquer interpretação que se reduza a
A resposta do capitalismo para sua crise identificar em apenas alguns deles a expli-
que se iniciou no final dos anos 60 do sécu- cação para a saída da crise naquele momen-
lo passado incluiu: (i) elevação da explora- to estará simplificando e mistificando o fe-
ção da força de trabalho nos países centrais,
por intermédio da liberalização e desregu- 10Na seção II do livro II de O Capital, Marx demons-
lamentação trabalhista ali implementada, tra que faz parte das leis gerais de funcionamento da
junto a uma política tributária regressiva e economia capitalista o simples fato de acelerar o
concentradora, levando à elevação das ta- tempo de rotação do capital (que inclui tanto o tem-
po de produção quanto o tempo em que ele perma-
xas de mais-valia nos capitalismos centrais;
nece na esfera da circulação de mercadorias), pois
uma redução do tempo de rotação do capital leva ao
9 Maiores detalhes a respeito da crise estrutural dos aumento do número de rotações por período que,
anos 60 do século passado e a forma como se cons- por sua vez, expande a taxa anual de mais-valia e,
trói o capitalismo contemporâneo podem ser encon- dada a composição orgânica do capital, a taxa anual
trados em Carcanholo e Baruco (2011). de lucro.
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nômeno11. Mas, justamente por isso, tam- mo. Alguns autores a confundem com o
pouco se pode cometer o mesmo erro com capital a juros13, e com alguma razão, uma
sinal contrário, isto é, desconsiderar o papel vez que o capital fictício é o desdobramento
do capital fictício no capitalismo contempo- dialético deste.
râneo porque uma interpretação teórica
(keynesiana) se limitou a tratar dos aspec- O capital a juros se caracteriza pela possibi-
tos financeiros do capitalismo. Cair neste lidade de uma determinada massa de valor-
segundo tipo de equívoco equivale a inter- capital (normalmente na forma-dinheiro),
pretar a economia capitalista como se fora que poderia comprar meios de produção e
apenas um processo de produção, descon- força de trabalho para iniciar um processo
siderando toda a importância que o próprio de circulação do capital, sob a propriedade
Marx deu para os momentos objetivos e de um determinado capitalista, só inicia
necessários do capital no processo de com- esse processo de circulação ao ser repassa-
pra e venda de mercadorias, até para garan- do (emprestado, sob o pagamento de um
tir as possibilidades de (re) produção do preço, os juros14) para um capitalista funci-
capital em momentos subseqüentes. Não se onante que, depois de pagar o empréstimo
pode mistificar o capitalismo nem por con- acrescido dos juros, espera se apropriar de
siderá-lo mera apropriação na circulação, um lucro. A unidade produção/apropriação
desconsiderando a produção, nem tampou- do capital está intermediada pela relação
co por entendê-lo como mera produção, mercantil entre o capitalista funcionante
como se seu par dialético, a realiza- (produção de valor) e o proprietário (apro-
ção/apropriação, não fizesse parte da tota- priação de valor), aprofundando a contra-
lidade capitalista. dição presente nesta unidade, mas sem
rompê-la.
A segunda observação diz respeito à neces-
sária diferenciação entre o que Marx cha- O capital fictício é a exacerbação dessa in-
mou de capital fictício e o que normalmente termediação, portanto da contradição pro-
se entende por capital financeiro12. Capital dução/apropriação presente no capital a
fictício é uma categoria que sintetiza a juros, o que nos explica porque alguns au-
complexificação da dialética entre produção tores confundem as duas categorias. En-
e apropriação de valor, dialética esta que
está no próprio cerne do que é o capitalis-
13Fontes (2010) é uma das mais conhecidas.
14 Marx entende esta transação como a compra-
11 Este cuidado é importante para que não se caia em venda da mercadoria-capital, isto é, da massa de
interpretações pseudo-marxistas que reduzem o valor que tem a potencialidade de se transformar em
capitalismo contemporâneo a uma mera financeiri- capital, e o preço dessa mercadoria (irracional, pois
zação da vida econômica, o que caracteriza muito não tem valor, no sentido de um tempo de trabalho
mais uma interpretação de viés keynesiano, forte- socialmente necessário) são os juros. O autor desen-
mente contrária à teoria marxista. volve isto com minúcias na seção V do livro III de O
12 A crítica à transposição direta, sem mediações, da Capital. A mercadoria-capital, aliás, para Marx, é a
categoria capital financeiro para o capitalismo con- terceira mercadoria especial no capitalismo, além do
temporâneo, desconsiderando as especificidades do dinheiro e da força de trabalho. As mercadorias no
capital fictício, pode ser encontrada em Sabadini capitalismo são especiais em função de seus valores
(2013) e Carcanholo e Sabadini (2008). de uso específicos (Carcanholo, 1998).
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quanto no capital a juros a propriedade de dência. Por um lado, os mecanismos de


um capital, existente, permite ao seu pro- transferência de valor produzido nas eco-
prietário apropriar-se de uma fração da nomias dependentes, mas apropriados e
mais-valia produzida pelo capital funcio- acumulados nas economias centrais, se
nante, o capital fictício, ao exacerbar a con- acentuaram, até como forma de reverter os
tradição produção/apropriação chega a in- problemas de valorização nas economias
verter essa causalidade. Não se trata mais centrais. Por outro lado, a dependência con-
de que uma produção efetiva seja realiza- juntural que as economias da região apre-
da/apropriada, mas que a possibilidade sentam frente ao crescimento da economia
desta permita a produção. A mera expecta- mundial e ao ciclo do mercado de crédito
tiva de que um capital possa vir a ser pro- internacional se aprofundaram, fazendo
duzido (pela produção da mais-valia) no com que as economias latino-americanas
futuro faz com que títulos de dívida pos- respondessem mais intensa e rapidamente
sam ser emitidos no presente, prometendo aos ciclos da economia mundial. Isso tudo
a participação futura nos resultados da fez com que se exacerbasse a necessidade
mais-valia produzida. Esses títulos de dívi- dos capitalismos dependentes elevarem a
da serão vendidos pelos preços de merca- superexploração da força de trabalho para
do, de acordo com as condições de oferta e garantir alguma dinâmica de acumulação
demanda nos mercados financeiros. Dessa interna15.
forma, a mera expectativa de apropriação
futura de uma fração da mais-valia consti- A dependência contemporânea está dire-
tui um capital (fictício), que na realidade tamente ligada à aplicação da estratégia
(ainda) não existe. Esta lógica de financia- neoliberal de desenvolvimento nas econo-
mento do processo de circulação do capital mias latino-americanas, desde os anos 70,
é que se exacerbou a partir dos anos 70 do com as experiências pioneiras no cone sul,
século passado, dando ao capitalismo con- os anos 80, com os programas de ajuste es-
temporâneo a lógica da valorização fictícia. trutural liderados pelo FMI e Banco Mun-
Vale ressaltar que isso não significa que dial, anos 90, com a implementação do
essa lógica se restrinja aos mercados finan- Consenso de Washington em nossas eco-
ceiros, como se o capital produtivo estives- nomias, e o século XXI, onde os reflexos
se imune, mas que o capital (em qualquer estruturais de todos esses períodos foram
esfera) passou a se constituir, em sua gran- acentuados em um momento histórico de
de maioria, a partir desta lógica, fictícia, crise (mas não término) da ideologia neoli-
mesmo na esfera produtiva. beral. Esse processo todo (liberalização e
abertura de mercados, privatização de seto-
O que nos importa aqui é que este capita- res estratégicos de nossas economias, des-
lismo contemporâneo, sob a égide da estra- nacionalização de vários desses setores,
tégia neoliberal de desenvolvimento, apro- aprofundamento da vulnerabilidade exter-
fundou a dependência das economias lati-
no-americanas, justamente porque comple- 15Um bom tratamento da relação que existe da de-
xificou a articulação dialética dos condicio- pendência contemporânea como uma necessidade
nantes estruturais e conjunturais da depen- dialética do capitalismo contemporâneo pode ser
encontrado em Amaral (2012).
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na de nossas economias, etc.) pode ser re- cia em 2005, mas é conseqüência dos ajustes
sumido no tripé transnacionalização- estruturais do neoliberalismo desde os anos
desindustrialização-reprimarização de nos- 80/90, e se acentua neste século. O que se
sas economias. deve destacar é que esse processo de repri-
marização das exportações é crescente em
O capitalismo contemporâneo, fruto da ten- todo o período para a América Latina,
tativa do capital de recuperar sua valoriza- mesmo após o estouro da crise mundial em
ção, impôs para a América Latina um ajuste 2007/2008, saltando de 49,8% das exporta-
estrutural que fez com que a economia vol- ções na forma de produtos primários em
tasse a um padrão de inserção na divisão 2005 para 57,3% em 2010, 60,7% em 2011, e
internacional do trabalho caracterizado pela recuando um pouco para 55,6% em 2012,
especialização de sua estrutura produtiva, e mas ainda superior aos patamares do pré-
da pauta exportadora, em produtos primá- crise. Além disso, é de destacar que a prin-
rios, baseados em recursos naturais, com cipal economia da região, o Brasil, não só
baixas produtividades, em média, e ainda apresenta a mesma tendência de forma
com forte presença de capital estrangeiro. acentuada, mas, a partir de 2009, passa a
Em poucas palavras, um tripé que acentua superar a média da região, com 60,9% de
os mecanismos de transferência de valor e, suas exportações em produtos primários,
portanto, a dependência de nossas econo- chegando a 65,3% em 2012.
mias.

O Gráfico 1 exibe a proporção das exporta-


ções de produtos primários, em função do
total, desde 2005 até 2012. O processo de
reprimarização das exportações não se ini-
Gráfico 1: Exportações de Produtos Primários como % do total (2005-2012)

Fonte: Cepal (2013, p.111).


com diferentes produtos, em anos compa-
A Tabela 1, por sua vez, exibe as exporta- rados desde meados da década de 90 do
ções das economias da América Latina e século passado. Em primeiro lugar, no que
Caribe para diferentes regiões e de acordo se refere às exportações intra-regionais, ve-

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Marcelo Dias CARCANHOLO

rifica-se uma redução do comércio interno, que as economias da América Latina e Ca-
significando uma maior dependência de ribe acentuam seu caráter dependente não
outros mercados. Por outro lado, para ou- apenas em relação às economias centrais,
tros países em desenvolvimento (economias mas também no que se refere a outras regi-
dependentes fora da América Latina e Ca- ões dependentes passam a ter maior parti-
ribe) e para a cipação de suas exportações nesses merca-
dos, e cada vez mais centradas em produtos
China, cresce consideravelmente a partici- primários.
pação dos produtos primários na pauta ex-
portadora. O que essa tabela evidencia é

Tabela 1: Exportações da América Latina e Caribe, por região e categoria de produtos (% do total do co-
mércio Sul-Sul)
Região 1995 2000 2005 2007 2010 2012
Exportações Intraregionais
Total 7,7 7,7 6,3 6,2 5,2 5,0
Manufaturas 6,1 5,9 5,3 5,4 4,8 4,9
Produtos primários 11,6 11,7 8,7 7,9 6,1 5,6

Exportações Para outros países em desenvolvimento

Total 3,2 2,3 3,5 3,8 4,8 5,1


Manufaturas 1,4 0,9 1,4 1,3 1,0 1,1
Produtos primários 7,3 5,3 8,0 8,7 11,7 11,7
Exportações para a China
Total 0,4 0,5 1,2 1,4 2,2 2,3
Manufaturas 0,1 0,1 0,3 0,3 0,3 0,4
Produtos primários 1,3 1,2 3,0 3,6 5,6 5,5

Fonte: Unctad (2013, p. 31).


trabalho, e de todas as promessas dos de-
O aprofundamento das condições da de- fensores do neoliberalismo, as economias
pendência levou as economias dependen- da região não cresceram. Isto ocorreu, basi-
tes, em específico da América Latina, a ele- camente, por causa da dialética inerente à
varem a necessidade de superexplorar a valorização fictícia do capital.
força de trabalho16. Isto permitiria a essas
economias uma dinâmica de crescimento Se, por um lado, ele possui uma funcionali-
da acumulação de capital, mesmo com a dade ao acelerar a rotação do capital total e,
intensificação dos mecanismos de transfe- portanto, contribui para elevar a taxa anual
rência de valor. Entretanto, especificamente de lucro, por outro, ao especializar-se uni-
nos anos 90 do século passado, mesmo com camente na apropriação, sem contribuir
a elevação da superexploração da força de diretamente para a produção da mais-valia,
possui uma disfuncionalidade. Quando uma
16No que se refere ao caso brasileiro, uma boa tenta- massa de capital apenas se apropria de uma
tiva de medição do aumento da superexploração da
fração crescente da mais-valia produzida,
força de trabalho pode ser encontrada em Araújo
(2013) e Luce (2012).
15
Argumentum, Vitória (ES), v. 6, n.2, p.6-25, jul./dez. 2014.
Desafios e Perspectivas para a América Latina do Século XXI

sem participar em sua produção, isso faz econômico competitivo que promoveria o
com que a parte que cada capital recebe, a crescimento, distribuição e desenvolvimen-
to econômicos (Carcanholo e Baruco, 2011).
taxa de lucro, caia. Foi isto o que aconteceu Por isso é que o novo-desenvolvimentismo
nos anos 90 do século passado nas econo- nada mais é do que uma nova roupagem do
mias da região, o que foi, inclusive, sinali- neoliberalismo, uma vez que não se propõe
zado pelo fato de que as taxas de juros su- a romper com as reformas neoliberais. Ao
peravam em muito as taxas de lucro, o que contrário, em alguns de seus defensores,
definia uma espécie de acumulação travada essas reformas seriam até aprofundadas.
do capital.
Uma primeira real alternativa seria, justa-
Quais são as alternativas? A primeira, e ób- mente, a ruptura com as reformas neolibe-
via, é justamente alterar essa composição na rais. Isto implicaria, além da mudança da
apropriação da mais-valia produzida, re- política econômica, reverter os processos de
duzindo as taxas de juros para patamares liberalização e abertura dos mercados, re-
inferiores aos da taxa de lucro, sinalizando troceder nas privatizações, renacionalizan-
para o capital uma apropriação que garan- do setores estratégicos da economia. Esta
tisse a reprodução do capital de forma am- alternativa, ao romper com as reformas ne-
pliada, gerando uma acumulação de capital oliberais, reduziria o peso dos mecanismos
virtuosa, com uma dinâmica de crescimen- de transferência de valor, reduzindo a ne-
to sustentado17. Mas esta é uma falsa alter- cessidade de elevar a superexploração da
nativa ao neoliberalismo. Esta última é uma força de trabalho e, portanto, propiciando a
estratégia de desenvolvimento que se defi- possibilidade (não é uma necessidade) de
ne em outro nível de abstração, para além redistribuição de renda e riqueza. Esta úl-
da política econômica (responsável pela tima, aliás, ainda contribuiria para a cria-
manipulação das taxas de juros – plano em ção/ampliação de um mercado interno, ne-
que se restringe o novo- cessário para compensar a redução do mer-
desenvolvimentismo). O neoliberalismo cado externo (via exportações) como pa-
apresenta dois componentes. Em primeiro drão de acumulação das economias da re-
lugar, seria uma condição necessária a esta- gião.
bilização macroeconômica, pouco impor-
tando a forma da política econômica (se Além desta primeira real alternativa ao
ortodoxa ou heterodoxa) que consiga esse neoliberalismo, que poderiamos chamar de
objetivo. Em segundo lugar, e isto é o deci- anti-neoliberal, ou anti-imperialista, poder-
sivo, as reformas estruturais de abertura, se-ia também questionar não apenas o grau
liberalização e privatização seriam as res- da exploração da força de trabalho, mas a
ponsáveis pela construção de ambiente própria lógica social que pressupõe que
determinada parte da população viva da
17Em síntese, é exatamente esta a proposta do cha-
apropriação de um valor produzido por
mado novo-desenvolvimentismo. A caracterização e, outra classe social, ou seja, questionar a
principalmente, a crítica desta pseudo-alternativa ao própria sociabilidade capitalista. Mais além
neoliberalismo pode ser encontrada em Castelo de propor uma outra política econômica,
(2013).
16
Argumentum, Vitória (ES), v. 6, n.2, p.6-25, jul./dez. 2014.
Marcelo Dias CARCANHOLO

uma outra estratégia de desenvolvimento, a tividade para as economias da região, prin-


alternativa socialista questiona adicional- cipalmente da América do Sul, e, por outro
mente a estrutura social onde as relações lado, a economia brasileira passou a impor-
sociais são intermediadas pela instância tar produtos primários e baseados em re-
mercantil, não sendo, portanto, diratemente cursos naturais. Sinteticamente, o que ocor-
sociais. reu foi uma replicação dos mecanismos de
transferência de valor para dentro do co-
Qualquer uma destas alternativas ao neoli- mércio intraregional, de forma que valores
beralismo se torna mais viável e robusta produzidos nas outras economias são reali-
quanto maior for a quantidade de países da zados/acumulados a partir do Brasil, o que
região que nelas se inserirem. Isto significa não significa necessariamente que passem a
que o tema da integração regional, para fazer parte da dinâmica de acumulação na
além de um mero discurso de união dos economia brasileira, pois esta, apesar de
povos, representa também a maior ou me- subimperialista, continua sendo dependen-
nor concreticidade dessas alternativas. Por te das economias centrais (Saludjian e Car-
isso é que as formas de integração regional canholo, 2014).
são importantes. Na atualidade, até em con- Toda esta reconfiguração da dependência
formidade com as estratégias de desenvol- contemporânea – incluindo o subimperia-
vimento implementadas em boa parte da lismo brasileiro – foi promovida pelas ca-
região, a lógica da integração que predomi- racterísticas do capitalismo contemporâneo,
na é a neoliberal, com base na liberalização neoliberal, com base na lógica de valoriza-
e abertura dos mercados, em prol da maior ção fictícia do capital. Mas este padrão de
e melhor acumulação de capital. Essa inte- acumulação entrou em crise em 2007/2008.
gração regional com base no neoliberalis- Vive-se uma nova crise estrutural do capi-
mo, algo que vem já desde o século passado talismo, uma nova historicidade dentro da
(Saludjian e Carcanholo, 2014), redundou economia capitalista.
em dois aspectos já mencionados.
3 Crise Contemporânea do Capitalismo e
Em primeiro lugar, a integração regional Nova forma da Dependência
neoliberal aprofundou a reprimarização das
exportações das economias latino- Se pudermos entender o capitalismo con-
americanas, intensificando os mecanismos temporâneo pela lógica da valorização fictí-
de transferência de valor e, consequente- cia do capital, a crise atual da economia
mente, o grau de dependência das mesmas. capitalista só pode ser uma crise dessa
Em segundo lugar, junto com a entrada do mesma lógica. Em termos do capitalismo
capital externo na economia brasileira em mundial, enquanto a funcionalidade do
alguns setores-chave, processo que vem capital fictício prevaleceu, junto com os ou-
desde os anos 50/60 do século passado, tros componentes da forma como esse capi-
acentuou o caráter subimperialista da eco- talismo se reconstruiu depois de sua última
nomia brasileira. Capitais a partir do Brasil grande crise estrutural nos anos 60/70 do
– não necessariamente brasileiros – passa- século passado, a economia obteve alguma
ram a exportar produtos com maior produ- dinâmica de crescimento.

17
Argumentum, Vitória (ES), v. 6, n.2, p.6-25, jul./dez. 2014.
Desafios e Perspectivas para a América Latina do Século XXI

Tabela 2: Taxas médias de Crescimento da Produção em algumas regiões do mundo


Região 2003-2007 2008-2012
Mundo 3,7 1,7
Economias 2,6 0,3
Desenvolvidas
Economias em 7,6 1,8
Transição *

Economias em 7,0 5,3


Desenvolvimento
América Latina e 4,8 3,0
Caribe
Fonte: Unctad (2013, p.24). * Economias em Transição inclui leste europeu e a Comunidade de Estados Inde-
pendentes, conforme a classificação das Nações Unidas (UNSO).

A Tabela 2 mostra as taxas médias de cres- A partir desse momento a superacumula-


cimento da produção em distintas regiões ção de capital (fictício) se explicitou e a
do mundo. Entre 2003-2007, no início deste economia mundial entrou em forte crise,
século, a economia mundial apresentou revertendo todo o cenário externo favorável
relativo crescimento (3,7% em média), prin- que tinha prevalecido entre 2002 e 2007.
cipalmente em razão do crescimento das Toda a economia mundial sofreu os impac-
economias em desenvolvimento e em tran- tos da crise e a partir desse momento, os
sição, conforme a classificação das Nações fatores conjunturais da dependência se
Unidas. Entretanto, a partir do terceiro tri- agravaram. Na última coluna da tabela 2
mestre de 2007, começa a prevalecer a dis- isso fica claro.
funcionalidade do capital fictício na econo-
mia mundial18.
Deve-se destacar que o maior impacto da
crise se fez sentir nas economias desenvol-
vidas, mas as dependentes, em específico a
18Maiores detalhes do desenrolar da crise e como a América Latina, também sofreram os efei-
lógica do capital fictício levou à crise do capitalismo
tos da crise atual do capitalismo.
mundial contemporâneo podem ser encontrados em
Painceira e Carcanholo (2009).
18
Argumentum, Vitória (ES), v. 6, n.2, p.6-25, jul./dez. 2014.
Marcelo Dias CARCANHOLO

Tabela 3: Taxa de Crescimento do PIB per capita 2005-2012 (países selecionados)


País 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Argentina 8,2 7,5 7,7 5,8 0,0 8,2 7,9 1,0
Brasil 2,0 2,9 5,1 4,2 -1,2 6,6 1,9 0,2
México 1,8 3,7 1,9 0,1 -5,9 4,0 2,6 2,8
América 3,2 4,3 4,3 2,8 -2,7 4,6 3,2 2,0
Latina e
Caribe
América 3,2 4,2 4,3 2,9 -2,6 4,7 3,2 2,0
Latina
Fonte: Cepal (2013, p.88).

A Tabela 3, além de toda a região da Amé- Em termos das taxas de desemprego, a ta-
rica Latina e Caribe, apresenta as taxas de bela 4 mostra que, embora o desemprego
crescimento do PIB per capita para as prin- tenha aumentado em 2008 e 2009 na região,
cipais economias da região, entre 2005 e como impacto da crise, essa elevação não
2012. O impacto mais visível se deu sobre a foi muito pronunciada, e as taxas começam
economia argentina, que vinha apresentan- a se recuperar para as principais economias
do elevadas taxas de crescimento até 2007 e, da região logo em seguida. Portanto, os
a partir da crise, entra em profunda reces- efeitos da crise sobre o desemprego, ao me-
são. Os elevados patamares de 2010 e 2011 nos nas principais economias da região,
são rapidamente revertidos em 2012. A ainda não se fizeram sentir. Isto indica que
economia brasileira, apesar de todo o recor- um dos tradicionais mecanismos de recupe-
rente discurso de pretensa imunidade de ração da economia capitalista, a reconstitui-
sua economia aos efeitos da crise, claramen- ção do exército industrial de reserva, ainda
te é impactada a partir de 2008, e até a atua- pode apresentar possibilidades para uma
lidade não consegue construir um cresci- dinâmica de recuperação cíclica nessas eco-
mento sustentado. A queda mais acentuada nomias.
se deu na economia mexicana, que já vinha
com baixas taxas de crescimento, fenômeno
seguramente explicado pela forte depen-
dência que tem da economia americana, um
dos centros onde estourou a crise econômi-
ca atual.

Tabela 4: Taxa de Desemprego 2006-2012 (países selecionados)


País 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Argentina 10,2 8,5 7,9 8,7 7,7 7,2 7,2
Brasil 10,0 9,3 7,9 8,1 6,7 6,0 5,5
México 4,6 4,8 4,9 6,7 6,4 6,0 5,8
América Latina e 8,6 7,9 7,3 8,1 7,3 6,7 6,4
Caribe
Fonte: Cepal (2013, p.56).
Tabela 5: Balanço de Pagamentos da América Latina 2005-2012, em US$ bilhões (contas selecionadas)
Conta 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

19
Argumentum, Vitória (ES), v. 6, n.2, p.6-25, jul./dez. 2014.
Desafios e Perspectivas para a América Latina do Século XXI

Transações 35,8 46,5 12,3 -35,7 -21,1 -60,1 -75,9 -102,9


correntes
Conta de 1,8 5,2 4,1 2,1 3,2 9,5 3,2 -0,8
Capital
Conta Finan- 31,1 8,5 115,8 69,4 75,8 163,5 198,5 183,4
ceira
Balanço Glo- 59,4 62,4 123,7 35,7 46,1 85,7 105,2 58,3
bal
Fonte: Cepal (2013, p. 107).

Do ponto de vista das relações com o exte- transações correntes, seria um alívio para as
rior, a Tabela 5 mostra o balanço de paga- economias da região. Ao contrário, embora
mentos da América Latina, em suas princi- no curto prazo represente o fechamento das
pais contas. É nítido que, em 2008, a Améri- contas externas, a entrada de capital exter-
ca Latina volta a apresentar déficits eleva- no eleva o passivo externo das economias, o
dos em transações correntes, que chegam que, em períodos seguintes, implicará em
em 2012 a US$ 102,9 bilhões. A entrada de saída de valores produzidos nestas econo-
capitais para financiar esses déficits apre- mias na forma de juros, amortizações, lu-
senta forte recuo no imediato pós-crise, mas cros, dividendos, dentre outras formas do
volta a se recuperar após isso. serviço do passivo externo.

Do ponto de vista das relações com o exte- Em síntese, o que a crise econômica mundi-
rior, a Tabela 5 mostra o balanço de paga- al provocou na região foi uma reversão do
mentos da América Latina, em suas princi- cenário externo favorável, que perdurou até
pais contas. É nítido que, em 2008, a Améri- 2007, agravando não apenas a conjuntura,
ca Latina volta a apresentar déficits eleva- mas também os determinantes estruturais
dos em transações correntes, que chegam da dependência da América Latina em rela-
em 2012 a US$ 102,9 bilhões. A entrada de ção à economia mundial. Os indicadores de
capitais para financiar esses déficits apre- vulnerabilidade externa da região são cla-
senta forte recuo no imediato pós-crise, mas ros nesse sentido.
volta a se recuperar após isso.

Uma análise mais superficial poderia en-


tender que essa retomada da entrada do
capital externo, financiando o déficit em

Tabela 6: Saldo em Transações Correntes como % do PIB2005-2012 (países selecionados)


País 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Argentina 2,9 3,6 2,8 2,1 2,7 0,4 -0,5 0
Brasil 1,6 1,3 0,1 -1,7 -1,5 -2,2 -2,1 -2,4
México -0,7 -0,5 -0,9 -1,4 -0,6 -0,3 -1,0 -1,2

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Argumentum, Vitória (ES), v. 6, n.2, p.6-25, jul./dez. 2014.
Marcelo Dias CARCANHOLO

América Latina e Caribe 1,4 1,6 0,3 -0,8 -0,6 -1,2 -1,4 -1,9

Fonte: Cepal (2013, p.128).

O primeiro deles é justamente o saldo em lor das economias dependentes para as


transações correntes, como proporção do economias centrais.
PIB. A tabela 6 apresenta a evolução desse
indicador para a região e suas principais
economias desde 2005. A reversão em
2007/2008 é clara, sinalizando o agravamen-
to dos mecanismos de transferência de va-

Tabela 7: Dívida Externa Total em US$ milhões 2005-2012 (países selecionados)


País 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Argentina 113,8 108,8 124,5 124,9 116,4 129,3 140,6 141,1
Brasil 169,4 172,5 193,2 198,3 198,2 256,8 298,2 312,9
México 128,2 119 127,6 128,8 165,1 197,7 209,7 229
América Latina e Caribe 675 667,8 739,5 753,4 815,4 978 1.087,7 1.179,5

Fonte: Cepal (2013, p.134).

Tabela 8: Dívida Externa Total como % do PIB 2005-2012 (países selecionados)


País 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Argentina 62,1 50,8 47,5 38 37,7 34,9 31,4 29,6
Brasil 19,2 15,8 14,1 12 12,2 12 12 13,9
México 14,8 12,3 12,2 11,7 18,5 18,8 17,9 19,3
América Latina e Caribe 24,8 20,9 19,6 17,4 20,1 20 19,3 20,9

Fonte: Cepal (2013, p.135).

As tabelas 7 e 8, por sua vez, evidenciam o O que isso nos diz a respeito da dependên-
crescimento da dívida externa dessas eco- cia contemporânea? Em primeiro lugar, é
nomias, tanto em termos absolutos (tabela preciso perceber que existem diferentes
7) como em proporção ao PIB (tabela 8). conjunturas dentro de uma mesma época
Como mencionado, estes desequilíbrios de histórica do capitalismo. O capitalismo con-
estoque se manifestam mais adiante em temporâneo, construído desde os anos 70
aprofundamento dos desequilíbrios de flu- do século passado - trazendo consigo a de-
xo, pois as dívidas devem ser pagas, com pendência contemporânea - apresentou ci-
juros, o que agrava os déficits em transa- clos de acumulação, mais ou menos exten-
ções correntes, aprofundando a necessidade sos, de lá até a atualidade. Em específico,
de financiamentos externos, gerando um entre 2002 e 2007 o cenário externo para a
círculo vicioso, uma armadilha das contas América Latina foi extremamente favorá-
externas. vel, aliviando, conjunturalmente, os deter-
minantes estruturais da dependência. Esse
cenário se modificou com a crise de
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Desafios e Perspectivas para a América Latina do Século XXI

2007/2008. Em segundo lugar, esta crise não Enquanto o descompasso produção-


é uma mera crise conjuntural do capitalis- apropriação de valor não se corrige, é preci-
mo, mas se configura como mais uma crise so ganhar tempo. Por isso é que os bancos
estrutural. Ou seja, trata-se de uma crise do centrais ofertaram enormes quantidades de
capitalismo contemporâneo e, portanto, da dinheiro, de forma que o excesso de oferta
forma contemporânea da dependência. As desses papéis fosse compensado com uma
distintas fases que esta crise vem apresen- maior demanda pelos mesmos, evitando a
tando e a forma como o próprio capitalismo desvalorização desse capital fictício supera-
vem ensaiando a retomada da acumulação cumulado19. Uma das formas que os gover-
de capital é que vão definir os contornos da nos tiveram para financiar esse aumento da
dependência a partir deste momento. oferta de dinheiro foi a emissão de maior
quantidade de títulos de dívida pública.
As distintas fases da crise estão relaciona- Daí a segunda fase da crise, que se manifes-
das com as formas como o próprio capita- tou no maior comprometimento de alguns
lismo vem tentando sair da mesma. Em um países no pagamento do serviço da dívida
primeiro momento, a superacumulação de pública que, em algum momento, não pode
capital (fictício) poderia – e foi em certo mais ser rolada em condições razoáveis.
sentido e no imediato pós-crise – ser desva-
lorizada, uma vez que os títulos de dívida, Ao mesmo tempo, essas medidas sanciona-
com excesso de oferta após o estouro da ram o posicionamento inicial dos capitais
crise, diminuiriam rapidamente seus pre- especulativos, que continuaram aumentan-
ços. Entretanto, esta desvalorização de capi- do seus retornos e, portanto, incentivando
tal significaria a quebra de grandes grupos seus comportamentos. O resultado final é
internacionais, o que foi rapidamente abor- que a lógica de valorização fictícia, com a
tado pela atuação dos principais governos garantia em última instância dos Estados,
da economia mundial. Assim, foram im- via emissão de dívida pública, vem se ex-
plementadas duas medidas. pandindo. A conclusão disso é que uma
terceira fase, análoga à primeira, está sendo
Em primeiro lugar, como a superacumula- gestada. Em algum momento, instituições
ção de capital fictício representa enorme financeiras apresentarão problemas de li-
quantidade de capitais que apenas se apro- quidez/solvência, que podem se propagar,
priam de um valor que eles não produzem novamente, pela economia mundial.
diretamente, tratava-se de elevar sobrema-
neira a produção de valor, o que implica A atual etapa de crise da economia capita-
elevação da exploração do trabalho em es- lista mundial está longe de acabar. Seus
cala mundial. Não é casualidade histórica efeitos sobre a classe trabalhadora (maior
que os ajustes estruturais e as reformas pró- exploração do trabalho) e a condição das
mercado tenham voltado à pauta das tecno- economias da América Latina (aprofunda-
cracias mundiais. Mas o efeito disto para a
maior produção de valor leva tempo, o que 19 Pormenores da atuação dos principais bancos
torna necessária a segunda medida. centrais (FED e Banco Central Europeu) nesse senti-
do podem ser encontrados em Painceira e Carcanho-
lo (2013).
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Marcelo Dias CARCANHOLO

mento dos mecanismos de dependência)


tampouco. Aliás, a tendência é de que se CARCANHOLO, R. A.; SABADINI, M. S.
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