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E-ISSN: 2176-9575
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Universidade Federal do Espírito Santo
Brasil
I
nicialmente talvez a primeira questão tivamente restringir-se à especificidade de
que se apresenta, quando se procura cada nação, é também cair na mistificação,
fazer qualquer tipo de análise sobre a mas desta vez de dupla natureza: (i) desco-
América Latina, diz respeito à própria cate- nhecer qualquer similaridade na formação
goria América Latina. É possível tratá-la co- histórico-social de nossos povos; (ii) tratar a
mo uma unidade categorial? As sociedades realidade social da região a partir de uma
e países que a compõem, em que pesem categoria de falsa abstração, a Nação2.
suas especificidades, podem ser tratadas
com alguma homogeneidade? A segunda Na realidade, a América Latina é uma uni-
questão, decorrente da primeira, obviamen- dade contraditória, e não poderia ser por
te quando se pensa a região a partir do Bra- acaso, uma vez que sua formação sócio-
sil, é como este último se insere na América histórica, nos tempos modernos, se confun-
Latina. de com a explicitação do caráter mundial
da lógica social capitalista. Aricó (1987, p.
Para a primeira questão, sustentar apenas 420) constata
que sim é desconsiderar as especificidades
nacionais, locais e sub-regionais, caindo em A problematicidade da categoria “América
uma mistificação da América Latina” tem, assim, fundamento e explicação
em sua necessidade de dar conta de uma rea-
lidade não pré-constituída, mas em formação,
cuja morfologia concreta pode ser concebida
não como a “mundanização” de um a priori,
1 Graduado em Ciências Econômicas. Doutor em mas como produto histórico de um prolonga-
Economia pela Universidade Federal do Rio de Ja- do processo de constituição, que pode ser es-
neiro (UFRJ, Brasil). Professor Associado da Facul- tudado graças à presença de um substrato his-
dade de Economia da Universidade Federal Flumi- tórico comum que remonta a uma matriz con-
nense (UFF, Brasil), Membro do Núcleo Interdisci- traditória, porém única.
plinar de Estudos e Pesquisas em Marx e Marxismo
(NIEP-UFF), Pesquisador do Núcleo de História 2É uma falsa abstração considerar uma nação, cujo
Econômica da Dependência Latino-americana (HE- modo de produção repousa no valor e que, além
DLA-UFRGS), Professor Colaborador da Escola disso, está organizado capitalistamente, como sendo
Nacional Florestan Fernandes (ENFF-MST), Presi- um corpo coletivo que trabalha apenas para as ne-
dente da Sociedade Latino-americana de Economia cessidades nacionais” (Marx, 1985, vol. III, tomo 2, p.
Politica e Pensamento Crítico (SEPLA). 293).
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Marcelo Dias CARCANHOLO
Em que pese a linguagem vacilante, típica gundo lugar, as fortes diferenças na evolu-
de um marxismo, talvez, arrependido3, Ari- ção sócio-econômica do Brasil, que certa-
có percebe que a América Latina constitui mente atingiu o maior grau de industriali-
uma região em formação histórica contradi- zação e desenvolvimento de sua economia
tória. Cada país e/ou localidade possui, capitalista, quando comparado com os ou-
evidentemente, suas especificidades, que tros. Em terceiro lugar, em decorrência do
não podem ser sublimadas em uma con- anterior, o caráter subimperialista do Brasil,
cepção social realmente crítica. Isto consti- se observada sua relação com as outras
tui o caráter contraditório das economias economias. Por atuação, o papel criminoso
que compõem a América Latina. Por outro do Brasil na Guerra do Paraguai, a atuação
lado, esta última tem uma inserção específi- brasileira no processo de “negociação” e
ca na divisão internacional do trabalho, fru- manutenção do “acordo” de Itaipu, sua co-
to da formação histórica do capitalismo nivência com os produtores brasiguaios de
mundial, que confere a todas suas econo- soja6, a atuação da Petrobrás na Bolívia e
mias, em distintos graus, um mesmo cará- Equador e liderança das “forças de paz” da
ter, um caráter dependente frente à lógica Minustah no Haiti, dentre outros, são
de acumulação de capital mundial. A de- exemplos claros. Mas além da atuação, o
pendência é o que constitui a unidade da papel subimperialista do Brasil na região
América Latina, o que não exclui as especi- pode ser entendido também pela sua omis-
ficidades de seus membros. são, isto é, na falta de maior apoio a proces-
sos mais radicais anti-imperialistas que,
Quanto à segunda questão pode-se consta- historicamente, surgiram na América Lati-
tar que o Brasil tem uma tradição histórica na.
em não se sentir parte da América Latina4.
Há razões para isso. Em primeiro lugar, Esses fatores explicam o porquê do Brasil
isso decorre das diferenças no processo de não se sentir parte da região latino-
colonização, o que inclui não apenas o fato americana. Entretanto, parece que chega-
do Brasil ter sido colonizado por Portugal, mos a uma contradição. Se o Brasil é tão
enquanto o resto da região, em sua imensa específico, ao ponto de assumir um caráter
maioria, o foi pela Espanha, o que se traduz subimperialista na região, como é possível
em diferenças de língua, mas também na tratá-lo dentro daquilo que dá certa simila-
própria constituição de seu povo5. Em se- ridade às economias da região, isto é, seu
caráter dependente frente ao capitalismo
3 Para uma análise crítica da inserção intelectual de
mundial? Em outras palavras, como é pos-
José Aricó dentro do marxismo latino-americano, sível ser subimperialista e dependente, ao
ver Correa e Miranda (2013). mesmo tempo? Esta contradição é mera
4 Esta tradição histórica vem diminuindo, princi-
aparência, e fruto de uma concepção equi-
palmente a partir deste século, por razões que esca-
vocada, tanto do que significa dependência,
pam ao escopo deste trabalho.
5 A constituição contraditória do povo brasileiro com
base nos índios originários, negros escravizados tos disto, em algo muito específico na região, se
(nem todos os países da região tiveram esta impor- comparado com outros países.
tante presença), português colonizador, imigrantes 6 Para o sub-imperialismo brasileiro no Paraguai ver
abaixo da média da economia mundial, pendentes tendem a crescer (em preço e/ou
ocorre a transferência de uma parte da quantidade), pela demanda da economia
mais-valia produzida nas economias de- mundial em crescimento, e as condições de
pendentes, que será apropriada pelos capi- financiamento das contas externas tendem
tais operantes nas economias centrais. a ser menos onerosas em função da abun-
dancia de oferta nesse mercado de crédito
Por último, quando determinados capitais mundial. Essa situação externa favorável,
possuem certo grau de monopólio em seus entretanto, é meramente conjuntural, sujei-
mercados específicos, podem, por determi- ta aos ciclos do capitalismo mundial.
nado tempo, manter preços de mercado por Quando este está em crise, apresenta-se
sobre os preços de produção de mercado. uma situação externa desfavorável, que
Como os preços de mercado estariam, nessa agrava os condicionantes estruturais da
situação, acima dos preços de produção, dependência. A economia mundial cresce
para além das oscilações conjunturais, esses pouco, diminuindo a demanda pelos pro-
capitais poderiam se apropriar de um lucro dutos exportados pelas economias depen-
efetivo acima do médio, uma massa de va- dentes. Por outro lado, tende-se a retrair o
lor apropriado além daquele que, de fato, mercado de crédito mundial, agravando as
foi produzido por esses capitais. condições de financiamento das contas ex-
ternas dessas economias, justamente em um
Além desses mecanismos de transferência momento em que esse financiamento é mais
de valor das economias dependentes para necessário, tendo em vista o agravamento
as economias centrais, no plano do comér- da restrição externa.
cio de mercadorias, outros condicionantes
estruturais são as distintas maneiras de re- Mais além do alívio ou agravamento con-
messa de valores, na forma de pagamento juntural da condição dependente, o que
de juros e amortizações de dívidas, lucros e esta última representa para os capitalismos
dividendos pela atuação de capitais exter- dependentes é que uma parte da mais-valia
nos nas economias dependentes. Tanto os produzida nessas economias não faz parte
primeiros mecanismos como estes segun- da dinâmica de acumulação interna, o que
dos contribuem para a estrutural restrição obriga esses capitalismos a aumentarem a
externa que as economias dependentes produção da mais-valia e possibilitar o de-
apresentam em suas dinâmicas de acumu- senvolvimento capitalista de suas economi-
lação. as. É por isso que a superexploração da for-
ça de trabalho é uma categoria própria da
Esses condicionantes estruturais da depen- dinâmica de acumulação de capital depen-
dência são complexificados pela conjuntura dente8. Ela é necessária para contornar os
da economia mundial. Em momentos favo- mecanismos de transferência de valor para
ráveis, de alguma forma aliviando os efei- as economias centrais, e as formas em que
tos estruturais da dependência, quando a ela se apresenta (arrocho salarial, prolon-
economia mundial está crescendo e existe gamento da jornada de trabalho, elevação
uma grande oferta de crédito no mercado
mundial, as exportações das economias de- 8Para maiores esclarecimentos sobre esta categoria
ver Carcanholo (2013).
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nômeno11. Mas, justamente por isso, tam- mo. Alguns autores a confundem com o
pouco se pode cometer o mesmo erro com capital a juros13, e com alguma razão, uma
sinal contrário, isto é, desconsiderar o papel vez que o capital fictício é o desdobramento
do capital fictício no capitalismo contempo- dialético deste.
râneo porque uma interpretação teórica
(keynesiana) se limitou a tratar dos aspec- O capital a juros se caracteriza pela possibi-
tos financeiros do capitalismo. Cair neste lidade de uma determinada massa de valor-
segundo tipo de equívoco equivale a inter- capital (normalmente na forma-dinheiro),
pretar a economia capitalista como se fora que poderia comprar meios de produção e
apenas um processo de produção, descon- força de trabalho para iniciar um processo
siderando toda a importância que o próprio de circulação do capital, sob a propriedade
Marx deu para os momentos objetivos e de um determinado capitalista, só inicia
necessários do capital no processo de com- esse processo de circulação ao ser repassa-
pra e venda de mercadorias, até para garan- do (emprestado, sob o pagamento de um
tir as possibilidades de (re) produção do preço, os juros14) para um capitalista funci-
capital em momentos subseqüentes. Não se onante que, depois de pagar o empréstimo
pode mistificar o capitalismo nem por con- acrescido dos juros, espera se apropriar de
siderá-lo mera apropriação na circulação, um lucro. A unidade produção/apropriação
desconsiderando a produção, nem tampou- do capital está intermediada pela relação
co por entendê-lo como mera produção, mercantil entre o capitalista funcionante
como se seu par dialético, a realiza- (produção de valor) e o proprietário (apro-
ção/apropriação, não fizesse parte da tota- priação de valor), aprofundando a contra-
lidade capitalista. dição presente nesta unidade, mas sem
rompê-la.
A segunda observação diz respeito à neces-
sária diferenciação entre o que Marx cha- O capital fictício é a exacerbação dessa in-
mou de capital fictício e o que normalmente termediação, portanto da contradição pro-
se entende por capital financeiro12. Capital dução/apropriação presente no capital a
fictício é uma categoria que sintetiza a juros, o que nos explica porque alguns au-
complexificação da dialética entre produção tores confundem as duas categorias. En-
e apropriação de valor, dialética esta que
está no próprio cerne do que é o capitalis-
13Fontes (2010) é uma das mais conhecidas.
14 Marx entende esta transação como a compra-
11 Este cuidado é importante para que não se caia em venda da mercadoria-capital, isto é, da massa de
interpretações pseudo-marxistas que reduzem o valor que tem a potencialidade de se transformar em
capitalismo contemporâneo a uma mera financeiri- capital, e o preço dessa mercadoria (irracional, pois
zação da vida econômica, o que caracteriza muito não tem valor, no sentido de um tempo de trabalho
mais uma interpretação de viés keynesiano, forte- socialmente necessário) são os juros. O autor desen-
mente contrária à teoria marxista. volve isto com minúcias na seção V do livro III de O
12 A crítica à transposição direta, sem mediações, da Capital. A mercadoria-capital, aliás, para Marx, é a
categoria capital financeiro para o capitalismo con- terceira mercadoria especial no capitalismo, além do
temporâneo, desconsiderando as especificidades do dinheiro e da força de trabalho. As mercadorias no
capital fictício, pode ser encontrada em Sabadini capitalismo são especiais em função de seus valores
(2013) e Carcanholo e Sabadini (2008). de uso específicos (Carcanholo, 1998).
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na de nossas economias, etc.) pode ser re- cia em 2005, mas é conseqüência dos ajustes
sumido no tripé transnacionalização- estruturais do neoliberalismo desde os anos
desindustrialização-reprimarização de nos- 80/90, e se acentua neste século. O que se
sas economias. deve destacar é que esse processo de repri-
marização das exportações é crescente em
O capitalismo contemporâneo, fruto da ten- todo o período para a América Latina,
tativa do capital de recuperar sua valoriza- mesmo após o estouro da crise mundial em
ção, impôs para a América Latina um ajuste 2007/2008, saltando de 49,8% das exporta-
estrutural que fez com que a economia vol- ções na forma de produtos primários em
tasse a um padrão de inserção na divisão 2005 para 57,3% em 2010, 60,7% em 2011, e
internacional do trabalho caracterizado pela recuando um pouco para 55,6% em 2012,
especialização de sua estrutura produtiva, e mas ainda superior aos patamares do pré-
da pauta exportadora, em produtos primá- crise. Além disso, é de destacar que a prin-
rios, baseados em recursos naturais, com cipal economia da região, o Brasil, não só
baixas produtividades, em média, e ainda apresenta a mesma tendência de forma
com forte presença de capital estrangeiro. acentuada, mas, a partir de 2009, passa a
Em poucas palavras, um tripé que acentua superar a média da região, com 60,9% de
os mecanismos de transferência de valor e, suas exportações em produtos primários,
portanto, a dependência de nossas econo- chegando a 65,3% em 2012.
mias.
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rifica-se uma redução do comércio interno, que as economias da América Latina e Ca-
significando uma maior dependência de ribe acentuam seu caráter dependente não
outros mercados. Por outro lado, para ou- apenas em relação às economias centrais,
tros países em desenvolvimento (economias mas também no que se refere a outras regi-
dependentes fora da América Latina e Ca- ões dependentes passam a ter maior parti-
ribe) e para a cipação de suas exportações nesses merca-
dos, e cada vez mais centradas em produtos
China, cresce consideravelmente a partici- primários.
pação dos produtos primários na pauta ex-
portadora. O que essa tabela evidencia é
Tabela 1: Exportações da América Latina e Caribe, por região e categoria de produtos (% do total do co-
mércio Sul-Sul)
Região 1995 2000 2005 2007 2010 2012
Exportações Intraregionais
Total 7,7 7,7 6,3 6,2 5,2 5,0
Manufaturas 6,1 5,9 5,3 5,4 4,8 4,9
Produtos primários 11,6 11,7 8,7 7,9 6,1 5,6
sem participar em sua produção, isso faz econômico competitivo que promoveria o
com que a parte que cada capital recebe, a crescimento, distribuição e desenvolvimen-
to econômicos (Carcanholo e Baruco, 2011).
taxa de lucro, caia. Foi isto o que aconteceu Por isso é que o novo-desenvolvimentismo
nos anos 90 do século passado nas econo- nada mais é do que uma nova roupagem do
mias da região, o que foi, inclusive, sinali- neoliberalismo, uma vez que não se propõe
zado pelo fato de que as taxas de juros su- a romper com as reformas neoliberais. Ao
peravam em muito as taxas de lucro, o que contrário, em alguns de seus defensores,
definia uma espécie de acumulação travada essas reformas seriam até aprofundadas.
do capital.
Uma primeira real alternativa seria, justa-
Quais são as alternativas? A primeira, e ób- mente, a ruptura com as reformas neolibe-
via, é justamente alterar essa composição na rais. Isto implicaria, além da mudança da
apropriação da mais-valia produzida, re- política econômica, reverter os processos de
duzindo as taxas de juros para patamares liberalização e abertura dos mercados, re-
inferiores aos da taxa de lucro, sinalizando troceder nas privatizações, renacionalizan-
para o capital uma apropriação que garan- do setores estratégicos da economia. Esta
tisse a reprodução do capital de forma am- alternativa, ao romper com as reformas ne-
pliada, gerando uma acumulação de capital oliberais, reduziria o peso dos mecanismos
virtuosa, com uma dinâmica de crescimen- de transferência de valor, reduzindo a ne-
to sustentado17. Mas esta é uma falsa alter- cessidade de elevar a superexploração da
nativa ao neoliberalismo. Esta última é uma força de trabalho e, portanto, propiciando a
estratégia de desenvolvimento que se defi- possibilidade (não é uma necessidade) de
ne em outro nível de abstração, para além redistribuição de renda e riqueza. Esta úl-
da política econômica (responsável pela tima, aliás, ainda contribuiria para a cria-
manipulação das taxas de juros – plano em ção/ampliação de um mercado interno, ne-
que se restringe o novo- cessário para compensar a redução do mer-
desenvolvimentismo). O neoliberalismo cado externo (via exportações) como pa-
apresenta dois componentes. Em primeiro drão de acumulação das economias da re-
lugar, seria uma condição necessária a esta- gião.
bilização macroeconômica, pouco impor-
tando a forma da política econômica (se Além desta primeira real alternativa ao
ortodoxa ou heterodoxa) que consiga esse neoliberalismo, que poderiamos chamar de
objetivo. Em segundo lugar, e isto é o deci- anti-neoliberal, ou anti-imperialista, poder-
sivo, as reformas estruturais de abertura, se-ia também questionar não apenas o grau
liberalização e privatização seriam as res- da exploração da força de trabalho, mas a
ponsáveis pela construção de ambiente própria lógica social que pressupõe que
determinada parte da população viva da
17Em síntese, é exatamente esta a proposta do cha-
apropriação de um valor produzido por
mado novo-desenvolvimentismo. A caracterização e, outra classe social, ou seja, questionar a
principalmente, a crítica desta pseudo-alternativa ao própria sociabilidade capitalista. Mais além
neoliberalismo pode ser encontrada em Castelo de propor uma outra política econômica,
(2013).
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A Tabela 3, além de toda a região da Amé- Em termos das taxas de desemprego, a ta-
rica Latina e Caribe, apresenta as taxas de bela 4 mostra que, embora o desemprego
crescimento do PIB per capita para as prin- tenha aumentado em 2008 e 2009 na região,
cipais economias da região, entre 2005 e como impacto da crise, essa elevação não
2012. O impacto mais visível se deu sobre a foi muito pronunciada, e as taxas começam
economia argentina, que vinha apresentan- a se recuperar para as principais economias
do elevadas taxas de crescimento até 2007 e, da região logo em seguida. Portanto, os
a partir da crise, entra em profunda reces- efeitos da crise sobre o desemprego, ao me-
são. Os elevados patamares de 2010 e 2011 nos nas principais economias da região,
são rapidamente revertidos em 2012. A ainda não se fizeram sentir. Isto indica que
economia brasileira, apesar de todo o recor- um dos tradicionais mecanismos de recupe-
rente discurso de pretensa imunidade de ração da economia capitalista, a reconstitui-
sua economia aos efeitos da crise, claramen- ção do exército industrial de reserva, ainda
te é impactada a partir de 2008, e até a atua- pode apresentar possibilidades para uma
lidade não consegue construir um cresci- dinâmica de recuperação cíclica nessas eco-
mento sustentado. A queda mais acentuada nomias.
se deu na economia mexicana, que já vinha
com baixas taxas de crescimento, fenômeno
seguramente explicado pela forte depen-
dência que tem da economia americana, um
dos centros onde estourou a crise econômi-
ca atual.
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Desafios e Perspectivas para a América Latina do Século XXI
Do ponto de vista das relações com o exte- transações correntes, seria um alívio para as
rior, a Tabela 5 mostra o balanço de paga- economias da região. Ao contrário, embora
mentos da América Latina, em suas princi- no curto prazo represente o fechamento das
pais contas. É nítido que, em 2008, a Améri- contas externas, a entrada de capital exter-
ca Latina volta a apresentar déficits eleva- no eleva o passivo externo das economias, o
dos em transações correntes, que chegam que, em períodos seguintes, implicará em
em 2012 a US$ 102,9 bilhões. A entrada de saída de valores produzidos nestas econo-
capitais para financiar esses déficits apre- mias na forma de juros, amortizações, lu-
senta forte recuo no imediato pós-crise, mas cros, dividendos, dentre outras formas do
volta a se recuperar após isso. serviço do passivo externo.
Do ponto de vista das relações com o exte- Em síntese, o que a crise econômica mundi-
rior, a Tabela 5 mostra o balanço de paga- al provocou na região foi uma reversão do
mentos da América Latina, em suas princi- cenário externo favorável, que perdurou até
pais contas. É nítido que, em 2008, a Améri- 2007, agravando não apenas a conjuntura,
ca Latina volta a apresentar déficits eleva- mas também os determinantes estruturais
dos em transações correntes, que chegam da dependência da América Latina em rela-
em 2012 a US$ 102,9 bilhões. A entrada de ção à economia mundial. Os indicadores de
capitais para financiar esses déficits apre- vulnerabilidade externa da região são cla-
senta forte recuo no imediato pós-crise, mas ros nesse sentido.
volta a se recuperar após isso.
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América Latina e Caribe 1,4 1,6 0,3 -0,8 -0,6 -1,2 -1,4 -1,9
As tabelas 7 e 8, por sua vez, evidenciam o O que isso nos diz a respeito da dependên-
crescimento da dívida externa dessas eco- cia contemporânea? Em primeiro lugar, é
nomias, tanto em termos absolutos (tabela preciso perceber que existem diferentes
7) como em proporção ao PIB (tabela 8). conjunturas dentro de uma mesma época
Como mencionado, estes desequilíbrios de histórica do capitalismo. O capitalismo con-
estoque se manifestam mais adiante em temporâneo, construído desde os anos 70
aprofundamento dos desequilíbrios de flu- do século passado - trazendo consigo a de-
xo, pois as dívidas devem ser pagas, com pendência contemporânea - apresentou ci-
juros, o que agrava os déficits em transa- clos de acumulação, mais ou menos exten-
ções correntes, aprofundando a necessidade sos, de lá até a atualidade. Em específico,
de financiamentos externos, gerando um entre 2002 e 2007 o cenário externo para a
círculo vicioso, uma armadilha das contas América Latina foi extremamente favorá-
externas. vel, aliviando, conjunturalmente, os deter-
minantes estruturais da dependência. Esse
cenário se modificou com a crise de
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