Você está na página 1de 5

Programa de Pós-Graduação em Sociologia – PPGS

Nome: Bruna Pereira dos Santos


Disciplina: Tendências, Problemas e Desafios da América Latina
Professores: Gutemberg Silva, Mônica Dias

América Latina, males de origem

Antes de nos debruçarmos sobre a obra citada é interessante pontuarmos quem


foi Manoel Bomfim, um estudioso nascido em 1868 em Sergipe, Aracaju, que foi um
médico, psicológo, professor, sociologo e pedagogo. Conhecido por ser um autor
polêmico, ousado, que não tinha medo de se impor. Ficou conhecido por ter entrado em
conflito com Darcy Ribeiro que acreditva na necessidade de branqueamente da
sociedade brasileira, devido o entendimento de que a miscigenação era o problema do
atraso brasileiro. Tese a qual Bomfim desacreditava totalmente sendo um defensor da
miscigenação (DEISTER, 2019).
Neste texto Bomfim (2008) expõe sua visão a respeito da América Latina, nos
apresentando de modo enérgico, afetuoso, mas também racional, a conjuntura em
estamos concentrados. Apontando as muitas críticas que os países desenvolvidos, como
os Estados Unidos, e países europeus fazem sobre nós, e em que medida podemos
considerar estas críticas como coerentes, justas, honestas, e quando devemos observar a
partir de um entendimento de que estes países têm intenções secundárias, oriundas de
uma tentativa de nos manipular.
Nesse contexto Bomfim (2008) aponta que a condenação europeia em relação à
América Latina está pautada em uma dupla causa, que é interesseira e também
intelectual. Uma vez que sobre os acontecimentos da vida política dos países latinos
somente é observados os maus aspectos, insucessos. Somos colocados como um povo
violento, desorganizado, que necessita do suporte de outros para nos guiar a civilização.
E é interessante mencionar que essas mesmas situações de revoltas sociais, revoluções,
quando ocorridas em países europeus, com foi o caso da Revolução Francesa em 1789,

1
eram encarrados como positivas. Uma vez que estavam construindo uma nova e melhor
forma de organização social, ainda que tenha sido indispensável o uso de violência para
efetua-las.
Bomfim (2008, p.5) afirma “E a Europa, que já não comporta o número de
habitantes, e cuja avidez e ganância mais se acendem à proporção que a população se
engrossa – a Europa não tira os olhos do continente legendário”. Assim, observamos
que a Europa percebe os países da América Latina como uma possivel mão de obra,
local com inúmeras materias primas, como um espaço que pode ser anexo a Europa
onde podem ser encontradas uma série de riquezas e que estas serviram para alimentar
as necessidades deles.
Vemos ainda um carater psicológico dessa manipulação, quando Bomfim (2008)
aponta que a Europa, os Estados Unidos, nos colocam em uma posição semelhante a de
uma criança a qual escuta constantemente que não terá futuro, não terá esperança, e que
por isso para nada servirá. E por meio dessa repetição ocorre a introjeção dessas falas e
passamos a nos considerar um povo, uma nação que é irresponsável, incapaz de se
autogerir. E formando o entendimento de que os países desenvolvidos são superiores a
nós enquanto nação.
Dentro desse prisma surge a questão da soberania nacional, a qual segundo
Bomfim (2008) é anulada quando um país necessita da proteção de outro/s país/es.
Assim sendo, percebemos que a soberania nacional dos países da América Latina é
constantemente posta em cheque. Uma vez que somos vistos como um povo
desorganizado, instável politicamente, somos violentos, pois, fazemos levantes,
revoluções que por vezes duram anos e por conta disso precisamos do gerenciamento
dos países desenvolvidos.
A partir desses apontamentos percebemos que Bomfim (2008) tem por tônica em
seu texto nos orientar a respeito das reais intenções da Europa e dos Estados Unidos no
que diz respeito aos países que compõe a América Latina. Contudo, observamos ainda
que existe também uma compreensão acerca dos problemas dos países latinos, assim,
nos é dito que sim, estamos atrasados em várias questões se comparados aos países
desenvolvidos, é nótorio que temos problemas políticos, sociais, econômicos. Mas,
ainda assim devemos estar atentos aos objetivos das nações que apresentam um discurso
de solidariedade para conosco.
Dentro deesse contexto temos a colaboração de outros autores que estudaram o
funcionamento da América Latina, como o peruano Mariategui (2017), que assim como

2
Bomfim (2008) foi um intelectual que teve a oportunidade de conhecer alguns países
europeus, em comum, ambos conheceram e estudaram na França, porém Mariategui se
atentou mais aos estudos na Itália.
O fato é que os dois estudaram sociedades ditas desenvolvidas, e começaram a
fazer um paralelo com a realidade de seus países de origem. Mariategui (2017) estava
interessado em estudar a crise da democracia liberal, o significado do facismo, a
impotância do marxismo para romper com o imperialismo, capitalismo e também o
facismo. Nesse sentido se considerava um marxista, acreditava na ltuta de classes, e na
necesssidade de uma revolução socialista que propusesse a libertação nacional dos
povos explorados.
Mariategui (2017) morreu no período em que no Peru estava explodindo
conflitos sociais que foram acumulados desde o ínicio do século, sendo um impacto
local de crises que estavam acontecendo internacionalmente. Após sua morte suas
contribuições politicas e intelectuais foram esquecidas propositalmente por quase trinta
anos devido a presença das ditaduras militares no Peru.
O mesmo aconteceu com as obras do uruguaio Galeano (1976) que se dedicou a
analisar a história da América Latina, sob as lentes da exploração econômica e da
dominação política, a partir da colonização europeia até o período contemporaneo. Este
autor se interessou em estudar as ditaduras militares, e sendo um intelectual de esquerda
foi excluído da Argentina, Chile, Brasil e Uruguai durante as ditaduras militares que
estavam vigentes nesses países. O intelectual chegou até mesmo a ser preso no Uruguai
e posteriormente foi obrigado a se exilar na Argentina e depois na Espanha.
E ainda dentro dessa conjuntura temos as contribuições de Marini (2017) um
intelectual e ativista de convicção politica marxista que estudou os processos de
dependência e super exploração dos países da América Latina, criando a teoria da
dependência, apontando que esses países se desenvolveram intimamente conectados ao
capitalismo internacional. Visto que os países latinos contribuiram para o crescimento
da economia capitalista com a entrega de matéria prima, mão de obra, para os países
europeus e estadunidenses.

Nesse sentido Galeano (1976) aponta que a relação estabelecida entre Portugal e
sua colônia, o Brasil, era totalmente desigual, visto que o país europeu retirou uma
grande parte da matéria prima brasileira para conseguir se industrializar e respaldar seus
negócioss com a Inglaterra. Uma frase que exemplifia claramente esssa situação é dita

3
por Galeno (1976, p.57) em Veias Abertas da América Latina “Não era com vinho que
seriam pagos os tecidos ingleses, mas com ouro, o ouro do Brasil”.
Assim, podemos compreender que a industrialização moderna seria muito
prejudicada se não tivesse o contato com os paises dependentes. A partir disso vem a
tona a super exploração dos países em desenvolvimento, com a presença da mais valia
absoluta e relativa, estando está última relacionada ao aumento de produtividade do
trabalhador gerando uma desvalorização da força de trabalho (MARINI, 2017).
Em contrapartida com essas visões ditas nacionalistas temos a concepção de
Anderson (2008) que traz a ideia de que o nacionalismo pode ser considerado negativo.
Porque quando nos detemos a investigar determinado país e nos sentimos pertencentes a
um só povo, o que é interpretado pelo autor como uma utopia, pois, muitas vezes não
conseguimos sequer ter contato com todas as pessoas de uma mesma nacionalidade, e
ainda assim devemos nos considerar parte desse todo homogêneo, prejudicamos o
desenvolvimento da moderno.
Diante do exposto é observado que vários estudiosos se concentraram em
entender a realidade dos países da América Latina, principalmente quando tiveram a
chance de conhecer a conjuntura a política, social e econômica dos países considerados
desenvolvidos. E através disso puderam refletir sobre a nossa produção de
conhecimento, sobre nossas dificuldades enquanto país, e como somos muitas vezes
inferiorizados injustamente, à medida em que até mesmo os países desenvolvidos
apresentam problemas estruturais. E no caso dos países latinos podemos perceber que
de certo modo isso é até justificavel, já que enfrentamos um processo de exploração de
recursos e mão de obra por parte dos países europeus e pelos Estados Unidos.
E observamos que existem concepções que contrariam o ollhar nacionalista
como o apontado por Anderson (2008) que compreende que quando nos focamos em
analisar nossos problemas enquanto nação, estamos dificultando o avanço do todo, do
nível mundial. E que essa ideia de nacionalidade na realidade pode não existir, já que
estamos lidando com uma ficção, pois, o que entendemos por nacional, ou seja,
conjunto de crenças, homogeneas, cultura, é uma criação, que não existe
necessariamente na realidade.

Referência

ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas: reflexões sobre a origem e a


expansão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

4
BOMFIM, Manuel. América Latina, males de origem. Rio de Janeiro: Centro
Edelstein de Pesquisas Sociais, 2008.

GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina, São Paulo, Ed. Paz e
Terra, 1976.

MARIATEGUI, José Carlos. 7 ensayos de interpretación de la realidade peruana.


Caracas: Fundación Biblioteca Ayacucho, 2017.

MARINI, Ruy Mauro. Dialética da Dependência. Germinal: Marxismo e Educação em


Debate, Salvador, v. 9, n. 3, p. 325-356, dez. 2017.

DEISTER, Jaqueline. Conheça Manoel Bomfim, intelectual esquecido e rebelde do


início do século XX, Brasil de Fato. Rio de Janeiro. Abril, 2019.
Disponível em: https://www.brasildefatorj.com.br/2019/04/09/conheca-manoel-bomfim-
intelectual-esquecido-e-rebelde-do-inicio-do-seculo-xx Acesso 30, abr. 2023.

Você também pode gostar