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De acordo com Pelegrino (2015), importante frisar que a Monarquia não era o avesso da Modernidade ,
tendo como exemplo a França, país que serviu de base para o republicanismo de muitas nações americanas,
o que sustenta o argumento de que uma oscilação entre República e Monarquia foi presente nesse período.
Portanto, um dos principais desafios na adoção das formas republicanas que implicam em
princípios como cidadania e participação era pensar a construção de uma modernidade
política. Como salienta Pelegrino (2015), havia de se pensar na questão da construção de
uma civilização versus a barbárie (do colonialismo), representado pelo atraso econômico,
cultural, político, educacional; o desafio da construção de uma modernidade política era
conseguir libertar-se das ruínas da colonização e de sua mentalidade e caminhar em
direção à civilidade, em um olhar sempre baseado nos exemplos europeus, principalmente
a França2 como referência política e cultural e a Inglaterra como referência econômica.
Outro desafio que envolve os princípios de Cidadania e Participação é a questão
da identidade nacional, pensado pelos republicanos a partir do conceito de Nação, como
ressalta Octavio Ianni,
Saber como e por que os indivíduos se percebem uns aos outros como
pertencentes a um mesmo grupo e se incluem mutuamente dentro das fronteiras
grupais que estabelecem ao dizer “nós”, enquanto, ao mesmo tempo, excluem
outros seres humanos a quem percebem como pertencentes a outro grupo e a
quem se referem coletivamente como “eles”. (ELIAS, Norbert e SCOTSON,
John L. (2000). Os estabelecidos e os outsiders. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
p. 37.)
Na América, esse discurso vai sendo elaborado pela elite – branca – que, tenta
olhar para a realidade, mas apresenta uma harmonia que não existe (a ideia de
miscigenação no Brasil, por exemplo), transformando a identidade nacional em uma
representação (PRADO & PELEGRINO, 2014) – o que sempre é a identidade nacional.
Sobre a identidade nacional, se lançam esforços de enquadramento (HOBSBAWN,
2012), de emolduramento estático, sustentados por fantasias, estórias coletivas, na
tentativa de gerar laços de pertencimento. No entanto, a identidade nacional é um
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A França não teve um papel passivo nesse processo (Pelegrino, 2015), pois trabalhou para ser a grande
referência republicana para a América Latina, principalmente, além de referência cultural, vide a construção
urbanística das cidades e os artigos de consumo apropriados.
elemento sempre em construção e reconstrução, objeto de disputas políticas, pois como
bem aponta Ianni (1988, p.35):
Talvez se possa afirmar que as revoluções burguesas
verificadas nos países latino-americanos não resolveram
satisfatoriamente alguns aspectos básicos da questão nacional.
Em quase todos os países, não se formou o povo, como
coletividade de cidadãos. O operário, camponês, empregado e
outras categorias, muitas vezes como índio, negro ou branco,
não ingressaram de forma ampla nos espaços da cidadania. As
diversidades e desigualdades sociais, raciais, regionais e
culturais, expressas em termos políticos econômicos, mostram
que a fisionomia da Nação burguesa pouco ou nada reflete da
cara do povo.
PRADO, Maria Ligia & PELEGRINO, Gabriela. PRADO, Maria Lígia. “O horizonte
republicano nos Estados Nacionais em Formação”. In: História da América Latina.
Contexto, 2014, p. 43-56.
PRADO, Maria Ligia. História: Século XIX na América Latina - Maria Lígia Prado. Youtube,
26 out. 2015. Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=XxFAMK3gIVw> Acesso
em: 13 jun. 2022