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GESTÃO E COORDENAÇÃO DA FORMAÇÃO.

MÓDULO 1

Gestão e Coordenação da Formação

Manual de Formação

O Sistema de Formação Profissional em Portugal

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GESTÃO E COORDENAÇÃO DA FORMAÇÃO. MÓDULO 1

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FICHA TÉCNICA

Curso Gestão e Coordenação da Formação

Módulo O Sistema de Formação Profissional em Portugal

Carga horária 10 horas

Objetivo geral Refletir sobre a especificidade do contexto formativo português

Conteúdos gerais Sistemas/subsistemas da educação e formação

Enquadramento legal da formação profissional

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ÍNDICE

ÍNDICE .............................................................................................................................................................. 4

INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................... 5

SISTEMAS/SUBSISTEMAS DA EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO................................................................................... 6

1.1. POLÍTICAS EUROPEIAS E NACIONAIS DE EDUCAÇÃO/FORMAÇÃO.................................................................................. 6


1.2. PRINCIPAIS OFERTAS DISPONÍVEIS ........................................................................................................................ 9
1.3. O SISTEMA E O CATÁLOGO NACIONAL DE QUALIFICAÇÕES ...................................................................................... 14
1.4. PROCESSOS DE RVCC E QUALIFICA ................................................................................................................. 18
1.5. CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL.................................................................................... 19
1.6. TIPOS DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL ................................................................................................................... 22
1.7. MODALIDADES DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL ....................................................................................................... 24
1.8. FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DA FORMAÇÃO .......................................................................................................... 27

ENQUADRAMENTO LEGAL DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL ............................................................................ 28

2.1. PRINCIPAIS DIPLOMAS LEGAIS APLICADOS À FORMAÇÃO GERAL ................................................................................ 28


2.2. PRINCIPAIS DIPLOMAS LEGAIS APLICADOS À FORMAÇÃO FINANCIADA ......................................................................... 29
2.3. PRINCIPAIS DIPLOMAS LEGAIS APLICADOS AO SNQ ................................................................................................ 30

SÚMULA CONCLUSIVA ................................................................................................................................... 31

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................................ 32

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INTRODUÇÃO
A formação profissional tem vindo a sofrer alterações estruturais e conteudísticas nos

últimos anos, lançando os profissionais de formação em redes formativas cada vez mais
complexas e desafiantes. Neste sentido, o conhecimento do enquadramento da formação

profissional em Portugal surge como uma exigência para os futuros gestores da formação.

O presente manual insere-se no contexto do curso de Gestão e Coordenação da Formação

e consiste na compilação de um conjunto de indicações teóricas e práticas que tem como


finalidade fornecer um itinerário pedagógico que se traduza numa formação estruturada e

na consolidação de aprendizagens através de um método ativo.

Considerando que o aproveitamento no Curso de Gestão e Coordenação da Formação


certifica o indivíduo para o exercício profissional das funções de gestor da formação, este

primeiro módulo tem como objetivo familiarizar o formando com as especificidades do


sistema formativo português e o seu enquadramento legal.

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Sistemas/subsistemas da educação e formação

1.1. Políticas europeias e nacionais de educação/formação


Nos últimos anos, a educação/formação tem vindo a assumir um papel de relevo no âmbito
das políticas europeias, sobretudo desde o lançamento da Estratégia de Lisboa (2000) e do

Programa “Educação e Formação 2010” (EF 2010). A implementação da nova Estratégia


Europa 2020 (que visa o crescimento e o emprego) veio comprovar esse papel e solidificar

os esforços empreendidos nesta área, resultando na elaboração de objetivos e iniciativas


comuns que integram todos os tipos de ensino e formação e todas as etapas da

aprendizagem ao longo da vida (ALV).

Com o objetivo de aumentar a eficácia da cooperação europeia encetada com o EF 2010,


o Conselho Europeu de 12 maio de 2009 definiu um quadro estratégico para o

desenvolvimento dos sistemas de educação e formação dos países da União Europeia (UE)
até 2020 (EF 2020), estando previstos objetivos e métodos comuns de trabalho para os

Estados-Membros. A ALV constitui o princípio orientador deste quadro estratégico,


abrangendo a aprendizagem nos seus variados contextos (formal, não-formal e informal) e

níveis (não só os níveis que abrangem a educação pré-escolar e o ensino superior mas
também a educação e formação profissionais e a educação de adultos).

Numa breve síntese, os quatro objetivos estratégicos definidos para o período de 2010-

2020 são os seguintes https://www.dges.gov.pt/pt/pagina/quadro-estrategico-educacao-


e-formacao-2020):

• Tornar a ALV e a mobilidade uma realidade;

• Melhorar a qualidade e a eficácia da educação e da formação;

• Promover a igualdade, a coesão social e a cidadania ativa;

• Incentivar a criatividade e a inovação, incluindo o espírito empreendedor, a todos os


níveis da educação e da formação.

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A concretização destes objetivos será acompanhada por benchmarks1 europeus que


preveem as seguintes áreas:

• Educação pré-escolar: frequência de pelo menos 95% das crianças entre os 4 anos
e a idade de início do ensino primário obrigatório;

• Competências básicas: percentagem de alunos de 15 anos com fraco

aproveitamento em leitura, matemática e ciências inferior a 15%;

• Abandono precoce da educação e formação: percentagem de abandono inferior a

10%;

• Conclusão do ensino superior: percentagem de adultos de 30-34 anos com nível de


ensino superior de pelo menos 40%;

• Participação de adultos na ALV: pelo menos 15% de adultos entre os 25 e os 64

anos.

O desenvolvimento de uma Europa competitiva e global exige uma educação/formação de

qualidade, mediante o estabelecimento de objetivos comuns e a troca de boas práticas


entre os países da UE (apesar da liberdade de decisão de cada país sobre a sua própria

política de educação/formação). Neste contexto, o financiamento da UE promove


programas (colocados sob o chapéu da Yes Europe desde 2013) que permitem aos

cidadãos estudar, realizar ações de formação ou fazer voluntariado noutros países,


nomeadamente os seguintes:

─ Leonardo Da Vinci (ações de formação profissional, estágios e projetos de cooperação

entre estabelecimentos de formação profissional e empresas);

─ Erasmus (mobilidade de estudantes universitários);

─ Grundtvig (apoio à educação para adultos, através de parcerias, redes e ações de

mobilidade transnacionais);

1 Indicadores e critérios de referência para o desempenho médio europeu.

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─ Comenius (cooperação entre escolas e professores escolas através da Internet);

─ Marie Curie (apoio à formação profissional e mobilidade de investigadores);

─ Jean Monet (educação e formação à escala europeia).

Neste contexto, também importa referir os documentos Europass, que permitem apresentar
as competências e as qualificações num formato estandardizado, facilitando a procura de

emprego fora do país e o entendimento das qualificações obtidas pelos empregadores.


Alguns exemplos destes documentos incluem o modelo europeu do curriculum vitae

(Europass CV), o passaporte de línguas (Europass Language Passport), o registo de

competências adquiridas noutros países (Europass Mobility), o suplemento ao certificado


de formação profissional (Europass Certificate Supllement) e o suplemento ao diploma

universitário (Europass Diploma Certificate).

Com o propósito de harmonizar e fazer convergir os sistemas de qualificações, existe um

Quadro Europeu de Qualificações para a ALV (Europass Qualifications Framework – EQF).


O Quadro Europeu de Qualificações (QEQ) define oito níveis de qualificação e cada nível é

definido por um conjunto de indicadores que especificam os resultados da aprendizagem,


caracterizados em termos de conhecimentos, aptidões e competências.

No âmbito das políticas europeias existem mais três documentos de relevo:

─ O Quadro Europeu de Competências-Chave, que identifica oito competências que

todas as pessoas devem ter para alcançar o emprego, a realização pessoal, a inclusão
social e a cidadania ativa: comunicação na língua materna, comunicação em línguas

estrangeiras, competências matemáticas e competências básicas em ciência e


tecnologia, competências digitais, aprender a aprender, competências sociais e cívicas,

sentido de iniciativa e empreendedorismo e consciência e expressão cultural;

─ Quadro de Garantia de Qualidade na Formação, através do European Quality


Assurance Reference Framework for Vocational Education and Training (EQAVET), que
é um instrumento destinado a promover e monitorizar o aperfeiçoamento contínuo

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dos sistemas de ensino e formação profissional com base em referências comuns. O


Cedefop (European Centre for the Development of Vocational Training) é o organismo

europeu dedicado à garantia de qualidade na formação profissional;

─ O Sistema Europeu de Créditos, mediante o European Credit System for Vocational


Education and Training (ECVET), que permite que se transfira créditos de um sistema

de qualificação para outro. No ensino superior, a transferência de aprendizagens entre


diferentes instituições tem como base o European Credit Transfer and Accumulation

System (ECTS), que é o instrumento central do Processo de Bolonha.

No que se refere às políticas nacionais, os seus objetivos consistem em aproximar o padrão


de desenvolvimento português à média da UE, elevar o nível de qualificação da população

e promover a inserção no mercado de trabalho, destacando-se:

─ O Sistema Educativo Português2;

─ O Sistema Nacional de Qualificações (SNQ);

─ O Quadro Estratégico Comum (QEC) 2014-2020);

─ Os programas de apoio à investigação e as bolsas de mestrado, doutoramento e pós-

doutoramento;

─ O plano tecnológico da educação.

1.2. Principais ofertas disponíveis


As ofertas de formação profissional podem estar inseridas no sistema educativo ou no
mercado de trabalho, estando sob a tutela de ministérios diferentes, o MEC e o Ministério

da Economia e do Emprego (MEE), respetivamente.

O SISTEMA EDUCATIVO é regulamentado pela Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE)


(Lei 46/86 de 14 de outubro), organizando-se em três subsistemas: a educação pré-

2 Para conhecer o Sistema Educativo Português, sugere-se a leitura do último relatório do Centro Europeu para o
Desenvolvimento da Formação Contínua (CEDEQP) sobre o Sistema de Educação e Formação e o último relatório sobre a
Educação e Formação em Portugal, criado pelo Ministério da Educação e Ciência (MEC).

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escolar (complementar à ação educativa da família), a educação escolar (ensino básico,


secundário e superior) e a educação extraescolar (iniciativas de natureza formal e não-

formal que incluem atividades de alfabetização e de educação de base, atividades de


aperfeiçoamento/atualização cultural e científica e atividades de

reconversão/aperfeiçoamento profissional). A LBSE contempla ainda um conjunto de


modalidades especiais de ensino, onde se destaca o ensino recorrente, a formação

profissional realizada nas escolas profissionais, a educação especial, o ensino a distância e


o ensino de português no estrangeiro.

Figura 1. Organização do Sistema Educativo Português

Educação pré-escolar. A educação pré-escolar marca a entrada da criança no sistema

educativo, destinando-se a crianças entre os 3 e os 6 anos de idade. Neste campo a Lei


n.º 65/2015, de 3 de julho – primeira alteração à Lei n.º 85/2009, de 27 agosto, estabelece
a universalidade da educação pré-escolar para as crianças a partir dos 4 anos de idade.

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Ensino básico: escolaridade obrigatória. O ensino básico é constituído por três níveis de
escolaridade (Tabela 1):

─ 1.º Ciclo. Aquisição de competências básicas (monodocência).

─ 2.º Ciclo. Organização em várias áreas do saber (pluridocência).

─ 3.º Ciclo. Preparação para prosseguimento de estudos ou entrada na vida ativa


(pluridocência).

Tabela 1. Níveis de escolaridade do ensino básico.

Níveis Anos de escolaridade Idade

1.º Ciclo 1.º ao 4.º 6 aos 10 anos


2.º Ciclo 5.º ao 6.º 10 aos 12 anos

3.º Ciclo 7.º ao 9.º 12 aos 15 anos

Ensino secundário. O ensino secundário dispõe de diferentes modalidades dependendo do

objetivo:

─ Cursos cientifico-humanísticos para prosseguir estudos no ensino superior (realização

de exames nacionais);

─ Cursos tecnológicos para entrada no mercado de trabalho;

─ Cursos artísticos especializados para entrada no mercado de trabalho;

─ Cursos profissionais para entrada no mercado de trabalho, organizados por módulos

de diferentes áreas.

Ensino pós secundário (não superior). Neste contexto, encontramos os Cursos de


Especialização Tecnológica (CET), que permitem a entrada no mundo do trabalho ou a

continuação para o ensino superior (atribuição de créditos no ensino superior). A conclusão


com aproveitamento confere um diploma de especialização tecnológica (DET).

Ensino superior. O ensino superior estrutura-se de acordo com os princípios de Bolonha,


estando o acesso sujeito a numerus clausus. O acesso ocorre mediante um exame nacional

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ou específico para maiores de 23 anos. Organiza-se em universidades e politécnicos, sendo


atribuídos os graus de licenciado, mestre e doutor.

Entende-se por FORMAÇÃO PROFISSIONAL INSERIDA NO MERCADO DE TRABALHO a


que é destinada especificamente a ativos, por conta própria ou de outrem, podendo

também ser destinada a candidatos ao primeiro emprego ou desempregados. O objetivo


principal é o exercício qualificado de uma atividade profissional. Esta formação é promovida

por empresas, associações empresariais, centros de formação e outras entidades


empregadoras ou formadoras.

No âmbito da formação profissional inserida no mercado de trabalho, podemos destacar

as escolas tecnológicas, as escolas de hotelaria e turismo e as escolas de saúde. As escolas


tecnológicas têm o objetivo de promover a formação inicial e a valorização dos quadros

médios empresariais de setores caracterizados pela tecnologia existente e proporcionar a


requalificação dos técnicos já ativos e contribuir, por essa via, para a inovação tecnológica.

Estas escolas são privadas e contam com a participação de associações empresariais e


entidades com representação industrial. Existem oito escolas tecnológicas em Portugal.

As catorze escolas de hotelaria e turismo existentes em Portugal procuram responder a dois

desafios: a qualificação de novos profissionais para a entrada no mercado de emprego e o


aperfeiçoamento de ativos.

Também podemos destacar a formação promovida pelo IEFP, que é o serviço público de
emprego nacional e tem como missão promover a criação e a qualidade do emprego e

combater o desemprego, através da execução das políticas ativas de emprego e formação


profissional. As principais ofertas formativas disponíveis podem ser consultadas na página

oficial do IEFP (www.iefp.pt), de acordo com a sua rede de centros.

A oferta poderá ainda ser consultada na página do POCH (Programa Operacional Temático
Capital Humano - https://www.poch.portugal2020.pt), segundo os seus cinco eixos de
intervenção prioritários:

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─ Promoção do sucesso educativo, do combate ao abandono escolar e reforço da


qualificação dos jovens para a empregabilidade;

─ Reforço do ensino superior e da formação avançada;

─ Aprendizagem, qualificação ao longo da vida e reforço da empregabilidade;

─ Qualidade e inovação do sistema de educação e formação;

─ Assistência técnica.

A formação contínua da administração pública é levada a cabo pelo Instituto Nacional de

Administração (INA) e pelo Centro de Estudos e Formação Autárquica (CEFA).

Para além das intervenções formativas promovidas pelas instituições públicas, há que
destacar a emergência de inúmeras iniciativas e de entidades privadas com atuações

relevantes na formação inicial e contínua. Podemos identificar como entidades igualmente


formadoras as associações sindicais, patronais e instituições de solidariedade social. Com

os apoios dos quadros comunitários e do atual POCH, um número crescente de empresas


tem vindo a organizar ações de formação dirigidas aos seus ativos, através de estruturas de

formação próprias ou recorrendo a terceiros.

Refira-se também a existência de um conjunto diversificado de cursos de formação inicial


homologados/certificados por diferentes entidades setoriais. A homologação/certificação

de cursos promove o reconhecimento da capacidade técnico-pedagógica das entidades


formadoras por instituições públicas, garantindo a qualidade dos cursos que desenvolve e

a sua adequação ao exercício de diferentes profissões. Os cursos de Formação Pedagógica


Inicial de Formadores (homologado pelo IEFP), de Técnico Superior de Segurança e Higiene

do Trabalho (homologado pela ACT – Autoridade para as Condições do Trabalho) ou de


Formação Inicial de Maquinistas (homologados pelo IMTT) constituem alguns exemplos de

cursos homologados e que permitem o acesso a diversas profissões.

Ainda a este respeito, atente-se na publicação do Decreto-Lei nº 92/2011 de 27 de Julho,


que veio simplificar o acesso a várias profissões, mediante a eliminação da necessidade de

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obtenção de uma carteira profissional para o desenvolvimento de atividades como


cabeleireiro, massagista de estética, manicuro, cozinheiro, pasteleiro, operador agrícola,

técnico de eletrónica, entre outras. Pode, assim, optar-se pela frequência de formação
profissional em entidades certificadas.

1.3. O Sistema e o Catálogo Nacional de Qualificações


As exigências da economia do conhecimento e o défice de qualificações apresentado pelo

mercado laboral português levaram à criação do Sistema Nacional de Qualificações (SNQ),


através do Decreto-Lei 396/2007 de 31 de dezembro, que assume o objetivo de aumentar

o nível de qualificação da população portuguesa sob um novo enquadramento institucional.

Este sistema veio promover a reorganização da formação inserida no sistema educativo e


no mercado de trabalho, integrando-a num único sistema com objetivos e instrumentos

comuns.

O mesmo foi posteriormente alterado pelo Decreto-Lei n.º 14/2017, de 26 de janeiro

Mais tarde em 2021 com o Despacho n.º 12818/2021 criou-se a comissão interministerial de

coordenação do sistema de educação e de formação profissional no âmbito do Sistema


Nacional de Qualificações.

A estratégia de desenvolvimento do SNQ passa por assegurar o cumprimento de alguns

objetivos, entre eles:

─ A generalização do ensino secundário como patamar mínimo de qualificação;

─ A progressão escolar e profissional da população ativa;

─ A aposta na dupla certificação e na diversificação de oportunidades de qualificação

para jovens e adultos;

─ A flexibilização das ofertas de formação para os adultos e a valorização,


reconhecimento e certificação das competências adquiridas;

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─ A estruturação de uma oferta de formação (inicial e contínua) adequada às


necessidades das empresas e do mercado de trabalho;

─ A promoção da coerência, transparência e comparabilidade das qualificações a nível

nacional e internacional.

No âmbito do SNQ foram criados o Quadro Nacional de Qualificações (QNQ), o Catálogo

Nacional de Qualificações (CNQ) e o Passaporte Qualifica.

O QNQ (Portaria 782/2009, de 23 de Julho) consiste num quadro de referência único que
classifica todas as qualificações do sistema educativo e formativo nacional com referência

aos princípios do QEQ. O QNQ adota os oito níveis de qualificação do QEQ, assim como
os mesmos descritores e resultados de aprendizagem, valorizando as aprendizagens

adquiridas por vias formais, não-formais e informais e a dupla certificação de nível


secundário. O QNQ inclui o ensino básico, secundário e superior, a formação profissional e

os processos de reconhecimento, validação e certificação de competências (RVCC) (obtidas


por via não-formal e informal). Quanto à estrutura, que pode ser consultada em

www.catalogo.anqep.gov.pt/Home/QNQ, esta é a seguinte (Tabela 2):

Tabela 2. Estrutura do QNQ.

NÍVEIS DE
QUALIFICAÇÕES
QUALIFICAÇÃO

Nível 1 2.º Ciclo do ensino básico

3.º Ciclo do ensino básico obtido no ensino básico ou por percursos de


Nível 2
dupla certificação

Ensino secundário vocacionado para prosseguimento de estudos de nível


Nível 3
superior

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Ensino secundário obtido por percursos de dupla certificação ou ensino


Nível 4 secundário vocacionado para prosseguimento de estudos de nível superior

acrescido de estágio profissional – mínimo de 6 meses

Qualificação de nível pós-secundário não superior com créditos para


Nível 5
prosseguimento de estudos de nível superior

Nível 6 Licenciatura

Nível 7 Mestrado

Nível 8 Doutoramento

Fonte: Portaria nº782/2009, de 23 de Julho.

No que diz respeito ao CNQ, que se encontra disponível em www.catalogo.anqep.gov.pt,

este constitui-se como um instrumento de gestão estratégica que integra as qualificações

de nível não superior (Portaria 781/2009 de 23 de julho), regulando as modalidades de


educação e formação de dupla certificação e promovendo a eficácia do financiamento

público (regula o acesso aos fundos sociais europeus para a educação e formação).

Os objetivos principais do CNQ são os seguintes:

─ Promover a produção de qualificações e de competências críticas para a

competitividade e modernização da economia e para o desenvolvimento


pessoal/social do indivíduo;

─ Contribuir para o desenvolvimento de um quadro de qualificações legível e flexível que

favoreça a comparabilidade das qualificações de nível nacional e internacional;

─ Promover a flexibilidade na obtenção da qualificação e na construção do percurso


individual de ALV;

─ Facilitar o reconhecimento de qualificações;

─ Melhorar a eficácia do financiamento público à formação.

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A organização do CNQ está em conformidade com a Classificação Nacional de Áreas de


Educação e Formação (CNAEF), com mais de 250 qualificações que incluem todos os

setores de atividade e se encontram distribuídas por 40 áreas de educação e formação que


vão do nível 2 ao nível 5. A cada qualificação corresponde um perfil profissional, um

referencial de formação (plano de formação estandardizado que discrimina as


componentes de formação de base e tecnológica e está organizado em unidades de

formação de curta duração – UFCD de 25 e 50 horas capitalizáveis e certificáveis de forma


autónoma) e um referencial de competências profissionais (conjunto de instrumentos de

avaliação que devem ser usados nos processos de RVCC).

A conclusão de uma qualificação prevista no CNQ é comprovada por um diploma de


qualificação que reflete uma qualificação definida no QNQ. A conclusão das UFCD

desenvolvidas com base nos referenciais do CNQ que não permitam de imediato uma
qualificação dão direito a um certificado de qualificações.

O CNQ apresenta um mecanismo de consulta aberto, permanente e alargado a todas as

entidades do SNQ, permitindo a submissão de propostas de atualização que podem


contemplar a integração de novas qualificações, a revisão das qualificações existentes, a

alteração ao perfil profissional, a alteração ao referencial de formação e a extinção de


qualificações.

Por fim, o Passaporte Qualifica é um instrumento de orientação e registo individual de


qualificações e competências que regista todas as qualificações e competências que o

indivíduo adquire ou desenvolve ao longo da vida. (Portaria 47/2017 de 4 de fevereiro). Este


documento também contempla as ações de formação profissional que, apesar de não se

encontrarem integradas no CNQ, pressupõem a sua conclusão com aproveitamento. Este

documento promove uma apresentação mais eficaz das formações e competências


adquiridas ao longo da vida e permite aos empregadores apreender mais facilmente a

adequação das competências dos candidatos aos postos de trabalho.

As redes de entidades formadoras do SNQ são as seguintes (http://portal.iefp.pt):

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─ Centros Qualifica;

─ Estabelecimentos de ensino básico e secundário do Ministério da Educação e Ciência


(MEC);

─ Centros de formação profissional e de reabilitação profissional de gestão direta e


participada do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP);

─ Escolas profissionais;

─ Estabelecimentos de ensino particular e cooperativo com paralelismo pedagógico;

─ Entidades formadoras de outros ministérios;

─ Entidades com estruturas formativas certificadas do sector privado.

A obtenção de qualificações pode ocorrer através da formação inserida no CNQ, do


reconhecimento, dos processos de RVCC e do reconhecimento de títulos adquiridos

noutros países por parte da Agência Nacional para a Qualificação e Ensino Profissional, IP.

1.4. Processos de RVCC e QUALIFICA


O processo de RVCC permite a indivíduos com mais de 18 anos de idade o reconhecimento,
a validação e a certificação de competências adquiridas e desenvolvidas ao longo da vida

(artigo 3.º do Decreto-Lei 396/2007 de 31 de dezembro). A qualificação pode ainda resultar


do reconhecimento de títulos adquiridos noutros países.

O RVCC escolar certifica competências escolares associadas a habilitações de nível básico

e nível secundário de ensino (Portaria 370/2008 de 21 de maio) e o RVCC profissional


certifica competências profissionais associadas a qualificações de nível 2 e nível 4 (Portaria

211/2011 de 26 de maio).

Ainda neste âmbito, é importante fazer referência aos Centros Qualifica regulados pela
Portaria Portaria 232/2016 de 29 de agosto. Uma das suas funções é assegurar a qualidade

do funcionamento dos centros e a qualidade no desenvolvimento dos processos de


reconhecimento, validação e certificação de competências, assente em critérios de

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exigência e rigor, nomeadamente no que respeita aos procedimentos avaliativos. Procurou-


se simplificar os processos de criação e autorização de funcionamento dos Centros

Qualifica, designadamente possibilitando uma maior autonomia na definição de critérios e


orientações por parte da Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional, I. P.,

mas mantendo-se os períodos de concessão da autorização e da renovação de criação e


autorização de funcionamento dos centros.

Estes centros têm por objetivo o desenvolvimento, validação e certificação de competências

de adultos e jovens, bem como a integração profissional de pessoas com deficiência e


incapacidade, os quais serão distribuídos pelo ensino de nível básico, secundário e

profissional.

1.5. Conceitos e fundamentos da formação profissional


Na atualidade, a formação profissional assume um papel central perante desafios como a
globalização, o envelhecimento populacional, a utilização progressiva das novas

tecnologias e a consequente premência de aquisição e atualização de competências. O


conceito de formação profissional refere-se ao “conjunto de atividades que visam

proporcionar a aquisição de conhecimentos, capacidades práticas, atitudes e formas de


comportamento exigidas ao bom desempenho de uma determinada profissão ou grupo

de profissões num determinado contexto de organização produtiva económica e social”


(www.dgert.mtss.gov.pt/).

A aposta na formação profissional decorre da necessidade de investimento no capital

humano e conduz à estruturação e competitividade do mercado de trabalho e da


economia. Ao permitir que os indivíduos adquiram/adotem competências, atitudes e

comportamentos adequados ao bom desempenho profissional, a formação assume um


papel decisivo na transição para uma sociedade e economia baseadas no conhecimento. A
formação profissional exige, deste modo, que as competências a adquirir ou desenvolver

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GESTÃO E COORDENAÇÃO DA FORMAÇÃO. MÓDULO 1

através de uma intervenção formativa correspondam às funções que o indivíduo


desempenha ou pode vir a desempenhar.

A formação profissional pode, assim, assumir diversas formas e visar diversas finalidades,

entre elas:

─ A integração e realização socioprofissional dos formandos;

─ A adequação do trabalhador ao posto de trabalho;

─ A promoção da igualdade de oportunidades no acesso à profissão;

─ A modernização e desenvolvimento integrado das organizações, da sociedade e da

economia;

─ O fomento da criatividade, da inovação e do espírito de iniciativa e capacidade de

relacionamento.

A formação tem uma terminologia própria, pelo que é importante reter alguns conceitos
(http://certifica.dgert.msess.pt/):

─ AÇÃO DE FORMAÇÃO. Atividade concreta de formação que visa atingir objetivos

de formação previamente definidos;

─ APRENDIZAGEM. Processo mediante o qual se adquirem conhecimentos, aptidões

e atitudes, no âmbito do sistema educativo, de formação e da vida profissional e


pessoal;

─ ÁREA DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO. Conjunto de programas de educação e

formação agrupados em função da semelhança dos seus conteúdos principais


(CNAEF, de acordo com a Portaria 256/2005 de 16 de Março);

─ COMPETÊNCIA. Capacidade reconhecida para mobilizar os conhecimentos, as

aptidões e as atitudes em contextos de trabalho, de desenvolvimento profissional,


de educação e de desenvolvimento pessoal;

─ DUPLA CERTIFICAÇÃO. Reconhecimento de competências para exercer uma ou


mais atividades profissionais e de uma habilitação escolar, através de diploma;

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─ ENTIDADE FORMADORA CERTIFICADA. Entidade com personalidade jurídica,


dotada de recursos e capacidade técnica e organizativa para desenvolver processos

associados à formação, objeto de avaliação e reconhecimento oficiais de acordo


com o referencial de qualidade estabelecido para o efeito;

─ FORMAÇÃO INICIAL. Atividade de educação e formação certificada que visa a

aquisição de saberes, competências e capacidades indispensáveis para poder iniciar


o exercício qualificado de uma ou mais atividades profissionais;

─ FORMAÇÃO CERTIFICADA. Formação desenvolvida por entidade formadora

certificada para o efeito ou por estabelecimento de ensino reconhecido pelos


ministérios competentes;

─ FORMAÇÃO CONTÍNUA. Atividade de educação e formação empreendida após a


saída do sistema de ensino ou após o ingresso no mercado de trabalho que permita

ao indivíduo aprofundar competências profissionais e relacionais, tendo em vista o


exercício de uma ou mais atividades profissionais, uma melhor adaptação às

mutações tecnológicas e organizacionais e o reforço da sua empregabilidade.

─ FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DA FORMAÇÃO. Modos de operacionalização da


formação, determinados pela utilização integrada de itinerários de aprendizagem,
metodologias e tecnologias pedagógicas adequados à natureza dos objetivos a
atingir; consideram-se neste descritor as formações presencial, em alternância, a

distância, em contexto de trabalho/“on job training”, a formação assistida por


computador e a formação-ação;

─ MODALIDADE DE FORMAÇÃO. Organização da formação definida em função em

função de características específicas, nomeadamente objetivos, destinatários,


estrutura curricular, metodologia e duração. A principal divisão assenta em formação

inicial e contínua;

─ PLANEAMENTO DA FORMAÇÃO. Atividade que consiste em ordenar e estruturar as


tarefas a desenvolver, de modo a que se alcancem os objetivos previamente fixados

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GESTÃO E COORDENAÇÃO DA FORMAÇÃO. MÓDULO 1

para a formação, sendo um processo de organização baseado na resposta a


questões como: o quê, quem, como, onde, porquê, para quê, quando;

─ RECURSOS TÉCNICO-PEDAGÓGICOS. Todo e qualquer conteúdo de informação e

conhecimento, disponível em suporte físico, em formato digital ou configurando um


objeto tecnológico, subordinável a objetivos de formação, podendo ser explorado

em contexto específico de aprendizagem e com valor para o reforço ou


desenvolvimento de competências específicas de determinada população-alvo;

─ RECONHECIMENTO, VALIDAÇÃO E CERTIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIAS. Processo

que permite ao indivíduo com, pelo menos, 18 anos de idade o reconhecimento, a


validação e a certificação de competências adquiridas e desenvolvidas ao longo da

vida;

─ REFERENCIAL DE FORMAÇÃO. Conjunto da informação que orienta a organização

e desenvolvimento da formação, em função do perfil profissional ou do referencial


de competências associado, referenciada no CNQ.

1.6. Tipos de formação profissional


A formação profissional divide-se em duas grandes categorias: a formação inicial e a
formação contínua.

1.6.1. Formação inicial

De acordo com o artigo 3.º do Decreto-Lei 396/2007 de 31 de dezembro, a formação inicial

tem como objetivo a aquisição de saberes, competências e capacidades necessárias para


iniciar o exercício de uma profissão.

Na formação inicial ainda se pode distinguir dois formatos: a formação inicial simples e a
formação inicial de dupla certificação.

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GESTÃO E COORDENAÇÃO DA FORMAÇÃO. MÓDULO 1

A formação profissional inicial simples garante uma única certificação. Este formato qualifica
para uma profissão, ao passo que a formação de dupla certificação, para além de qualificar

para uma profissão, também garante uma habilitação escolar.

A formação inicial de dupla certificação é toda a formação inicial integrada no CNQ e


desenvolvida por uma entidade formadora certificada para o efeito ou por estabelecimento

de ensino reconhecido pelos ministérios competentes. A dupla certificação não é mais do


que o reconhecimento de competências para exercer uma ou mais atividades profissionais

e de uma habilitação escolar.

1.6.2. Formação contínua

Ainda de acordo com artigo 3.º do mesmo Decreto-Lei, a formação contínua é uma

atividade de educação e formação empreendida após a saída do sistema de ensino ou após


o ingresso no mercado de trabalho que permita ao indivíduo aprofundar competências

profissionais e relacionais, tendo em vista o exercício de uma ou mais atividades


profissionais, uma melhor adaptação às mutações tecnológicas e organizacionais e o

reforço da sua empregabilidade.

A formação contínua é aquela empreendida após o ingresso no mercado de trabalho ou


após a saída do sistema de ensino. Desta forma, não se destina apenas a jovens em início

da vida ativa, que procuram uma formação base que lhes permita iniciar uma carreira, mas
também a adultos em plena atividade profissional que precisam de se atualizar, aperfeiçoar

ou reconhecer as suas competências para exercerem a sua profissão ou outra.

A formação inicial contínua assume um papel fundamental na acessibilidade a novos


conceitos de organização e gestão e contribui para acelerar as mudanças nas organizações,

para intervir diretamente sob os profissionais que nelas trabalham.

A duração da formação contínua geralmente é mais curta do que a formação inicial e

também é promovida por mais entidades. Entre as iniciativas de formação contínua


existentes podemos destacar:

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GESTÃO E COORDENAÇÃO DA FORMAÇÃO. MÓDULO 1

─ A formação contínua desenvolvida pelas entidades patronais, pelas empresas


formadoras e pelos sindicatos;

─ A formação contínua de dupla certificação inserida no SNQ (ao abrigo do Decreto-Lei

396/2007 de 31 de dezembro), que não é mais do que formação contínua


desenvolvida através de quaisquer módulos integrados no CNQ e desenvolvida por

uma entidade formadora certificada para o efeito ou por estabelecimento de ensino


reconhecido pelos ministérios competentes;

─ A formação contínua desenvolvida pelo IEFP, dirigida principalmente a

desempregados.

1.7. Modalidades de formação profissional


De acordo com o artigo 9.º do Decreto-lei 396/2007 de 31 de dezembro, que estabeleceu
o SNQ, existem seis modalidades de formação de dupla certificação:

─ Cursos profissionais (cursos de nível secundário de educação, vocacionados para a

formação inicial de jovens, privilegiando a sua inserção na vida ativa e permitindo o


prosseguimento de estudos);

─ Cursos de aprendizagem ou alternância (cursos de formação profissional inicial de


jovens, em alternância, privilegiando a sua inserção na vida ativa e permitindo o

prosseguimento de estudos);

─ Cursos de educação e formação para jovens (formação inicial para jovens que
abandonaram ou estão em risco de abandonar o sistema regular de ensino,

privilegiando a sua inserção na vida ativa e permitindo o prosseguimento de estudos);

─ Cursos de educação e formação para adultos (cursos para indivíduos com mais de 18
anos, não qualificados ou sem qualificação adequada, para efeitos de

inserção/reinserção e progressão no mercado de trabalho e que não tenham


concluído o ensino básico ou secundário);

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GESTÃO E COORDENAÇÃO DA FORMAÇÃO. MÓDULO 1

─ Cursos de especialização tecnológica (cursos de nível pós-secundário não superior


que visam conferir uma qualificação com base em formação técnica especializada);

─ Outras formações modulares inseridas no CNQ, no quadro da formação contínua.

O Decreto-Lei 396/2007 de 31 de dezembro refere outras modalidades que têm em comum


o facto de não serem de dupla certificação, na medida em que não dão equivalência a

níveis de qualificação escolar mas podem ter dupla certificação se forem inseridas em
processos de RVCC:

─ A formação-ação, dirigida a empresas e assente na prestação de serviços integrados

de formação e consultoria, regulada por portaria do membro do Governo responsável


pela área da formação profissional;

─ Ações de formação inicial e contínua, nomeadamente as realizadas por empresas e

inseridas em processos de inovação, modernização e reconversão empresarial, bem


como as dirigidas à modernização da Administração Pública.

1.7.1. Educação e Formação de Jovens

Objetivos. Face ao elevado número de jovens em situação de abandono escolar e em


transição para a vida ativa, os cursos de Educação e Formação de Jovens (CEF) visam a

recuperação dos défices de qualificação, escolar e profissional, destes públicos, através da


aquisição de competências escolares, técnicas, sociais e relacionais, que lhes permitam

ingressar num mercado de trabalho cada vez mais exigente e competitivo.

Destinatários. Estes cursos destinam-se a jovens, candidatos ao primeiro emprego, ou a


novo emprego, com idade igual ou superior a 15 anos e inferior a 23 anos, à data de início

do curso, em risco de abandono escolar, ou que já abandonaram a via regular de ensino e


detentores de habilitações escolares que variam entre o 6.º ano de escolaridade, ou inferior

e o ensino secundário.

Componentes de Formação. Os cursos de educação e formação para jovens apresentam


uma estrutura curricular, de carater profissionalizante, que integra quatro componentes de

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GESTÃO E COORDENAÇÃO DA FORMAÇÃO. MÓDULO 1

formação, nomeadamente sociocultural, científica, tecnológica e prática em contexto de


trabalho.

Certificação Escolar e Profissional. A frequência destes cursos, com aproveitamento, garante

a obtenção de uma qualificação de nível 1, 2 ou 4, com equivalência ao 6.º, 9.º ou 12.º anos
de escolaridade.

1.7.2. Educação e Formação de Adultos

Objetivos. Os cursos de educação e formação de adultos (EFA) visam elevar os níveis de


habilitação escolar e profissional da população portuguesa adulta, através de uma oferta

integrada de educação e formação profissionalizante e que certifique as competências


adquiridas ao longo da vida.

Destinatários. Estes cursos destinam-se a candidatos com idade igual ou superior a 18 anos

à data de início da formação, sem a qualificação adequada para efeitos de inserção ou


progressão no mercado de trabalho ou sem a conclusão do ensino básico ou do ensino

secundário.

Componentes de Formação. Os cursos EFA dividem-se em ensino básico (formação base,

formação tecnológica e módulo de “aprender com autonomia”) e ensino secundário

(funciona da mesma forma, com formação base mais exigente e construção de um


Portefólio Reflexivo de Aprendizagens, PRA).

Certificação Escolar e Profissional. A frequência, com aproveitamento, de um curso EFA, de


dupla certificação, confere um certificado do 3.º ciclo do ensino básico e o nível 2 de

qualificação ou um certificado do ensino secundário e o nível 4 de qualificação.

1.7.3. Formação para Públicos Diferenciados

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GESTÃO E COORDENAÇÃO DA FORMAÇÃO. MÓDULO 1

A formação para públicos diferenciados (como é o caso das pessoas com incapacidade ou
deficiência) tem como objetivo a sua reabilitação profissional e a preparação para uma

profissão ajustada às suas aptidões e capacidades físicas.

1.7.4. Formação em Contexto de Trabalho

─ A formação inserida no mercado de emprego tem como base de referência a empresa

e tem como destinatários a população ativa empregada ou desempregada, incluindo


os candidatos ao primeiro emprego (Decreto-Lei 396/2007 de 31 de dezembro).

─ Ao contrário da formação inserida no Sistema Educativo, esta baseia-se na relação

pedagógica formador/formando, as competências a desenvolver são mais


abrangentes e vocacionadas para o exercício de uma profissão e a formação é

“transportada” para os locais de emprego, o posto de trabalho ou empresas


especializadas em formação.

1.8. Formas de organização da formação

1.8.1. Presencial

Esta modalidade de intervenção formativa caracteriza-se por todos os conteúdos serem


ministrados em contexto de sala, mediante o contacto direto entre os formandos e o

formador.

1.8.2. E-learning

É uma modalidade de ensino a distância que permite a autoaprendizagem, com a mediação


de recursos didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes

tecnológicos de informação, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculado através


da Internet.

1.8.3. B-learning

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GESTÃO E COORDENAÇÃO DA FORMAÇÃO. MÓDULO 1

O blended learning ou b-learning refere-se a um sistema de formação onde a maior parte


dos conteúdos é transmitido em curso a distância, normalmente pela Internet, mas inclui

situações presenciais, daí a origem da designação blended (misto).O b-learning pode


estruturar-se em atividades síncronas ou assíncronas (tal como o e-learning), o que

pressupõe o trabalho conjunto entre formandos e formador num horário predefinido ou


flexível. Geralmente, o b-learning não é totalmente assíncrono, porque exigiria uma

disponibilidade individualizada para encontros presenciais, o que dificulta o entendimento.

Enquadramento legal da formação profissional

2.1. Principais diplomas legais aplicados à formação geral


Ao nível da legislação nacional aplicada à formação na sua generalidade, podemos indicar
os seguintes:

─ PORTARIA 851/2010 DE 6 DE SETEMBRO, ALTERADA E REPUBLICADA NA PORTARIA

208/2013 que estabelece o novo regime de certificação de entidades formadoras e


substitui o sistema de acreditação regulamentado pela Portaria 782/97 de 29 de

agosto;

─ PORTARIA 537/2010 DE 19 DE JULHO, que cria o selo de empresa qualificante;

─ PORTARIA 474/2010 DE 8 DE JULHO, que diferencia certificados de frequência de

certificados de formação profissional e indica os elementos que os certificados devem


conter. Revoga o Decreto-Regulamentar 35/2002 de 23 de abril, que tinha sido

revogado pelo Decreto-Lei 396/2007 de 31 de dezembro, mas que, na prática, vigorou


até à operacionalização desta nova portaria;

─ LEI 7/2009 DE 12 DE FEVEREIRO, que aprova o novo Código de Trabalho e faz

referência à formação profissional. Revoga a Lei 99/2003 de 27 de agosto, que estava


regulamentada pela Lei 35/2004;

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GESTÃO E COORDENAÇÃO DA FORMAÇÃO. MÓDULO 1

─ PORTARIA 782/2009 DE 23 DE JULHO, que regula o QNQ e define os descritores para


a caracterização dos níveis de qualificação nacionais. Revoga o Anexo do Despacho

Normativo 53-A/96 de dezembro, que estipula os níveis de formação;

─ DECRETO-LEI 39/2006 DE 20 DE FEVEREIRO, que cria o Conselho Nacional de


Formação Profissional, em substituição do Conselho Consultivo Nacional para a

Formação Profissional, revogando o Decreto-Lei 308/2001 de 6 de dezembro;

─ PORTARIA 256/2005 DE 16 DE MARÇO, que aprova a nova CNAEF (classificação

nacional de áreas de educação e formação) e revoga a Portaria 316/2001 de 2 de abril;

─ DECRETO-LEI 50/98 DE 11 DE MARÇO, que reformula o regime jurídico da formação


profissional na Administração-Pública. Sofreu alterações, por exemplo, pelo Decreto-

Lei 174/2001;

─ DECRETO-LEI 242/88 DE 7 DE JULHO, que define a obrigatoriedade de redução a


escrito do contrato de formação e os elementos do mesmo.

Para conhecer a legislação associada à formação na função pública, consulte a DGAEP

(Direção-Geral da Administração e do Emprego Público).

2.2. Principais diplomas legais aplicados à formação financiada


Ao nível da legislação aplicada à formação financiada, destacamos os seguintes diplomas
legais:

─ PORTARIA 148/2016 DE 23 DE MAIO, que procede à terceira alteração ao

Regulamento Específico do Domínio do Capital Humano, aprovado em anexo à


Portaria n.º 60 -C/2015 de 2 de março, alterada pelas Portarias 181 -A/2015, de 19

de junho e 190 -A/2015 de 26 de junho;

─ DESPACHO 6239/2016 DE 11 DE MAIO, que delega no Instituto de Gestão Financeira


da Segurança Social, I. P. (IGFSS, I. P.), a competência da Agência, I. P. para efetuar

pagamentos do Fundo Social Europeu aos beneficiários das operações aprovadas


pelo Programa Operacional Capital Humano;

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─ PORTARIA 190-A/2015 DE 26 DE JUNHO, que constitui a segunda alteração à


Portaria n.º 60 - C/2015;

─ PORTARIA 181-A/2015 DE 19 DE JUNHO, que constitui a primeira alteração à Portaria

n.º 60 - C/2015;

─ DECLARAÇÃO DE RETIFICAÇÃO 307/2015 DE 28 DE ABRIL, que retifica o Despacho

n.º 2702-C/2015;

─ PORTARIA 60-C/2015 DE 2 DE MARÇO, que se refere ao Regulamento Específico do


Domínio do Capital Humano;

─ DESPACHO 2702-C/2015 DE 13 DE MARÇO, que regula a transição do POPH

(Programa Operacional Potencial Humano) para o POCH.

Para obter mais informações sobre a legislação relativa à formação financiada, consulte a

secção de legislação do site do POCH.

2.3. Principais diplomas legais aplicados ao SNQ


Ao nível da legislação aplicada ao Sistema Nacional de Qualificações, destacamos os

seguintes diplomas legais:

─ RESOLUÇÃO DO CONSELHO DE MINISTROS N.º 32/2019, DE 14 DE FEVEREIRO,


aprova o programa Qualifica;

─ PORTARIA 232/2016 DE 29 DE AGOSTO, que regula o funcionamento dos Centros


Qualifica;

─ PORTARIA 47/2017 DE 4 DE FEVEREIRO, que regula a criação do Passaporte Qualifica;

─ PORTARIA 781/2009 DE 23 DE JULHO, que estabelece a estrutura e organização do

CNQ e o modelo de evolução para qualificações baseadas em competências.

─ PORTARIA 370/2008 DE 21 DE MAIO, que regula a criação e o funcionamento dos


Centros Novas Oportunidades, Incluindo o encaminhamento para a formação e o
reconhecimento, validação e certificação de competências;

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GESTÃO E COORDENAÇÃO DA FORMAÇÃO. MÓDULO 1

─ DESPACHO 13456/2008 DE 14 DE MAIO, que aprova a versão inicial do CNQ;

─ PORTARIA 230/2008 DE 7 DE MARÇO, que define regime jurídico dos cursos de


educação e formação de adultos (cursos EFA) e formações modulares previstos no

Decreto-Lei 396/2007 de 31 de dezembro e revoga a Portaria 817/2007 de 27 de julho;

─ DECRETO-LEI 396/2007 DE 31 DE DEZEMBRO, que estabelece o regime jurídico do

SNQ e define as estruturas que asseguram o seu funcionamento (QNQ, CNQ e CIC);

─ RESOLUÇÃO DO CONSELHO DE MINISTROS 173/2007 DE 7 DE NOVEMBRO, que


aprova a Reforma da Formação Profissional, aprova o projeto de Decreto-lei que

estabelece o SNQ e cria o QNQ, o CNQ e a CIC e aprova o projeto de Decreto-lei que
estabelece os princípios do Sistema de Regulação de Acesso a Profissões;

─ ACORDO PARA A REFORMA DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL (14 DE MARÇO DE

2007), acordo celebrado com os parceiros sociais com o propósito de reformar a


formação profissional.

3.

SÚMULA CONCLUSIVA
Os desafios contemporâneos que envolvem a atuação dos gestores da formação exigem
um conhecimento cada mais profundo e abrangente do enquadramento da educação e

formação no nosso país. Através deste manual, procurou-se apresentar os principais


aspetos a considerar relativamente ao sistema de formação em Portugal. Contudo, este
manual não esgota a dimensão e profundidade do tema. Será, podemos dizer, uma
primeira abordagem que não dispensa uma pesquisa e atualização permanentes. Por isso,

aconselha-se que os aventureiros deste curso continuem a percorrer o caminho da


autoaprendizagem ‘mergulhando’ na riqueza da gestão da formação.

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GESTÃO E COORDENAÇÃO DA FORMAÇÃO. MÓDULO 1

BIBLIOGRAFIA
Brent G. W. (2002). Trends and futures of education: Implications for distance education.

Quarterly Review of Distance Education, 3(1).

Cardoso, M. G. (1997). Manual de Apoio à Formação de Formadores. Turim: OIT e IEFP.

Duarte, A. F. (1996) Uma Nova Formação profissional para um Novo Mercado de Trabalho.

Lisboa: IEFP.

Ferrão, L., & Rodrigues, M. (2003). Formação Pedagógica de Formadores. Lisboa: Lidel.

Webgrafia

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http://www.leeds.ac.uk/educol/documents/00003319.htm

Legislação

Portaria 851/2010 de 6 de setembro

Portaria 537/2010 de 19 de julho

Portaria 474/2010 de 8 de julho

Lei 7/2009 de 12 de fevereiro

Portaria 782/2009 de 23 de julho

Decreto-Lei nº 92/2011 de 27 de Julho

Decreto-lei 39/2006 de 20 de fevereiro

Portaria 256/2005 de 16 de março

Decreto-lei 50/98 de 11 de março

Decreto-lei 242/88 de 7 de julho

Despacho 5533/2012 de 24 de abril

Decreto-regulamentar 4/2010 de 15 de outubro

Portaria 1009 – a/2010 de 1 de outubro

Decreto-lei 74/2008 de 22 de abril

Declaração de retificação 5 – a/2008 de 8 de fevereiro

Declaração de retificação 3/2008 de 30 de janeiro

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GESTÃO E COORDENAÇÃO DA FORMAÇÃO. MÓDULO 1

Decreto-regulamentar 84 – a/2007 de 10 de dezembro

Despacho 1709-a/2014

Portaria 135-a/2013

Portaria 475/2010 de 8 de julho

Portaria 781/2009 de 23 de julho

Portaria 370/2008 de 21 de maio

Despacho 13456/2008 de 14 de maio

Portaria 230/2008 de 7 de março

Decreto-lei 396/2007 de 31 de dezembro

Resolução do conselho de ministros 173/2007 de 7 de novembro,

Acordo para a reforma da formação profissional (14 de março de 2007)

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