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Resumo
O presente artigo teórico discute o papel do grupo focal na pesquisa qualitativa para além de seu uso
como técnica em sessão única. Ele é apresentado como método, capaz de gerar contribuições relevantes
e frutíferas. São reunidas e comparadas as principais contribuições de textos brasileiros selecionados,
principalmente em virtude da singularidade na apresentação de o que sejam grupos focais. São
esclarecidas as diferenças entre grupo focal e entrevista em grupo, uso em pesquisa, preparação,
registro, roteiro, amostragem, estrutura, moderador, condução do debate, elementos pré- e pós-debate,
dentre outros aspectos. Dois autores estrangeiros tradicionais, David Morgan e Rosaline Barbour, são
acrescidos ao debate, contribuindo com posições semelhantes e distintas sobre a finalidade e
características do grupo focal. Experiências com a aplicação, o ensino e o treinamento do método
fundamentam as considerações traçadas. A intenção é que tenham sido esclarecidas dúvidas e
dissolvidas preconcepções acerca do uso de grupo focal na pesquisa, focalizando a abordagem
qualitativa, mas com recomendações que devem acompanhar sua aplicação na abordagem quantitativa.
Palavras-chaves: Metodologia; Métodos de pesquisa; Grupos focais.
Resumen
El presente artículo teórico discute el papel del grupo focal en la investigación cualitativa además de
su uso como técnica en sesión única. Se presenta como método, capaz de generar contribuciones
relevantes y fructíferas. Se recogen y comparan las principales contribuciones de textos brasileños
seleccionados, principalmente en virtud de la singularidad en la presentación de lo que sean grupos
focales. Se aclaran las diferencias entre grupo focal y entrevista grupal, uso en investigación,
preparación, grabación, guión, muestreo, estructura, moderador, conducción del debate, elementos
previos y posteriores al debate, entre otros aspectos. Dos autores extranjeros tradicionales, David
Morgan y Rosaline Barbour, se agregan al debate, contribuyendo con posiciones similares y distintas
sobre la finalidad y características del grupo focal. Las experiencias con aplicación, enseñanza y
entrenamiento del método basan las consideraciones descritas. La intención es que hayan sido
aclaradas dudas y diluidas preconcepciones acerca del uso de grupo focal en la investigación,
enfocando el abordaje cualitativo, pero con recomendaciones que deben acompañar su aplicación en
el abordaje cuantitativo.
Materiais de apoio ao grupo focal obrigatória, a não ser, claro, que a análise
envolva a contagem de ocorrência de palavras
De boa base ao GF são uma mesa ou análises semelhantes que requeiram
redonda ou retangular, de bom tamanho para transcrição verbatim. Não sendo essas as
garantir espaço a todos, carteiras individuais ou opções, a análise pode ser realizada diretamente
cadeiras com braço. Isso é importante caso o a partir do áudio ou do áudio-vídeo. Softwares
pesquisador ofereça folhas de papel ou outros que organizam dados para análises qualitativas
materiais. permitem a codificação diretamente nos trechos
de interesse, marcando as janelas de
Quando os integrantes do grupo não se
segundos/minutos e registrando o conteúdo de
conhecem, é de bom auxílio e facilitador da
destaque sobre o qual o trecho trata. É a
comunicação entre todos, o fornecimento de
codificação diretamente nos arquivos de áudio
crachás para os nomes, incluindo a equipe de
ou vídeo, sem transcrições.
pesquisa. No caso de grupos com crianças ou
adolescentes, pode ser um eficiente quebra- Recomenda-se que o pesquisador que
gelo apresentar materiais para que eles mesmos coordena o debate (facilitador, moderador) faça
confeccionem seus próprios crachás. É preciso anotações rápidas e de destaque, em papel, que
considerar, no entanto, que a atividade de colaborarão para retomada de tópicos durante a
confecção ocupa tempo da programação do GF, mesma sessão e etapas posteriores da pesquisa
mas pode se constituir em geração de dados (próximas sessões, análise dos dados). Também
para a pesquisa. é fundamental um auxiliar de pesquisa com a
tarefa específica de realizar anotações das
Em grupos para os quais não se planeja
principais falas, bem como momentos em que
uso de materiais, pode ser de auxílio, e
há embates, discordâncias, uso de estratégias
surpreendentemente gerador de dados,
para interferir na discussão, mudanças de tema,
disponibilizar sobre a mesa folhas de papel em
dentre outros movimentos do grupo, e
branco e canetas para livre uso. Podem ser
elementos não verbais (p. ex., expressões
utilizadas por participantes para rabiscar
faciais).
distraidamente, para tomarem notas de aspectos
que lhes chamam à atenção, que precisam O observador deve ser apresentado,
memorizar ou que necessitam demonstrar deixando claro que não participará das
graficamente junto a suas verbalizações. discussões. Pode se posicionar em local que
facilite a observação do grupo, ainda que o
O registro do grupo focal: observadores e rosto de ao menos um participante ficará fora
equipamentos de áudio e vídeo de seu campo de visão. Garantida a boa audição
de o que todos dizem, a posição do observador
O GF pode ser gravado em áudio ou
e da câmera de vídeo, quando esta for usada,
áudio e vídeo. Nesses casos, recomenda-se
podem se complementar. Em contraste,
posicionar os equipamentos em local adequado,
Dall’Agnol e Trench (1999), seguindo os
evitando constranger os participantes. Em cima
pressupostos teóricos que adotam, consideram
da mesa, dois microfones captando o debate
que a observação no GF é uma observação-
serão mais eficazes que um.
participante, e que, portanto, intervém no
É comum o entendimento de que é grupo. Essa intervenção deve ocorrer em
mandatória a gravação de sessões de GF. No sintonia com o moderador, em casos nos quais
entanto, isso depende dos objetivos da pesquisa maiores esclarecimentos são necessários, mas
e da experiência do moderador do grupo. As não notados pelo moderador.
gravações, quando feitas, deverão tomar parte,
Kind (2004) lembra que um dos
de algum modo, da análise dos dados. Caso
objetivos do observador é registrar falas e
contrário, trata-se de um desperdício de
comportamentos do moderador. A autora
recursos. Sua transcrição, porém, não é
destaca que, ao término do grupo, observador e
moderador se reúnem para discutir os dados, experiente. Uma das estratégias para lidar com
trocando informações e gerando, também, a incerteza que um guia de tópicos breve pode
dados para posterior análise. Alguns criar é antecipar a discussão que pode ocorrer
pesquisadores, inclusive, recomendam mais de no grupo, em uma espécie de ensaio. Com este
um auxiliar de pesquisa: um para ser o imaginam-se as possíveis respostas, embates,
observador do GF, outro para lidar com consonâncias e mudanças temáticas que podem
equipamentos, material de trabalho e desviar o debate do tópico principal. Aliado a
imprevistos (recepção de atrasados, isso, Barbour enfatiza a vantagem de um grupo-
interrupções, etc.). Iervolino e Pelicioni (2001) piloto.
recomendam um observador e um relator: o
primeiro para registrar a comunicação não Outro ponto importante quanto ao GF
verbal no grupo, e o segundo para “anotar os diz respeito aos materiais de estímulo. Gaskell
acontecimentos de maior interesse para a (2002) destaca que o GF possibilita a inclusão
pesquisa” (p. 118). Há, ainda, a condução de de “recursos de livre associação, figuras,
GF relatada por Gui (2003), no qual estiveram desenhos, fotografias e mesmo dramatizações”
presentes um moderador, um comoderador, um (p. 80) para iniciar e/ou estimular um
responsável pelos equipamentos de gravação e determinado debate. É preciso deliberar sobre a
dois observadores e “controladores do tempo” pertinência de incluir esses materiais no grupo,
(p. 149). pois eles podem conduzir o debate para um foco
ou outro. Ademais, geram dados para análise,
Roteiro e materiais de trabalho para o que não podem ser ignorados. Barbour (2009)
grupo focal destaca o valor agregado de se utilizar
exercícios escritos dentro de uma sessão de GF.
O roteiro é o segundo elemento mais Com eles, é possível comparar dados
importante, após o moderador. O roteiro, ou individuais dos membros do grupo com as
guia de temas ou tópicos, deve ser breve, discussões coletivas sobre o mesmo tópico.
contendo pontos ou questões fundamentais à
pesquisa. Uma das sugestões para a estrutura do Há outras maneiras de se aproveitar
roteiro é iniciá-lo por questões mais gerais, materiais de estímulo no GF. Pode-se distribuir
seguidas de específicas (Borges & Santos, um material estruturado, p. ex., uma folha com
2005; Gondim, 2002; Kind, 2004; Trad, 2009). uma tabela pedindo três aspectos positivos e
Outra envolve um detalhamento em temas, três negativos sobre um determinado tema, ou
objetivo, duração do GF, questões de vantagens e desvantagens. É possível utilizar
orientação para a discussão, e planejamento recursos presentes na Internet (vídeos curtos,
propriamente dito (cada tema, técnica, postagens, etc.) para estimular debates. Outro
procedimento e duração) (DeAntoni et al., recurso interessante é a apresentação de um
2001). O exemplo de roteiro apresentado em dilema moral, catalizador de debate e
Gui (2003), bastante estruturado, contém, ao oportunidade de os integrantes do GF
lado de cada tópico, o tempo estimado para explicarem-se com justificativas para decisões,
tratá-lo (dez minutos, cinco minutos, 15 bem como contrastarem argumentos (ver sobre
minutos, etc.). Este não é um procedimento debates de dilemas morais em Souza, 2008).
padrão na condução de GF em pesquisa, mas
pode auxiliar o pesquisador pouco ambientado Composição do grupo focal, quantidade de
ao trabalho com grupos. A maioria dos autores sessões e de grupos
propõe um roteiro curto, focalizado e de fácil
Tratar da composição do GF é tratar da
uso.
seleção dos participantes para o grupo. Como
Barbour (2009) qualifica de refere Barbour (2009), “o propósito da
semiestruturado o roteiro mais adequado para amostragem qualitativa é refletir a diversidade
GF. Muitas vezes a brevidade de um roteiro dentro do grupo ou população sob estudo, em
deixa temeroso o pesquisador pouco vez de aspirar ao recrutamento de uma
amostragem representativa” (p. 86). Essa tema, como no caso de pais e mães na discussão
diversidade é propulsora de insights valiosos de práticas de educação dos filhos, igual
para o debate e a geração de dados. A atenção deve ser dada à segmentação: não se
amostragem do GF é teórica ou intencional, ou trata de destacar diferença de sexo, mas
seja, busca antecipar aspectos que relevantes diferença no papel de pai e de mãe na criação
para estimular o debate com diferentes de filhos (Morgan), com suas rotinas e
experiências sobre o tema (Barbour). Essa interações distintas.
antecipação está estritamente ligada com a
literatura. Alguns autores recomendam que não
seja conduzido GF com pessoas que se
As questões da homogeneidade e da conhecem, como amigos, colegas ou familiares
heterogeneidade da composição dos grupos são (Borges & Santos, 2005; Iervolino & Pelicioni,
aspectos que auxiliam a refletir sobre a seleção 2001; Trad, 2009). De outro lado, há vantagem
dos integrantes do GF. É esperada uma no uso desses grupos, chamados de
homogeneidade entre os integrantes, mas há preexistentes ou pré-familiarizados. Em virtude
discrepâncias quanto ao grau. A da proximidade cotidiana que compartilham,
homogeneidade deve estar, no mínimo, na essas pessoas proporcionam a visualização
condição de poder tratar do tema sobre o qual mais detalhada dos processos de dinâmica de
versa o grupo, de compartilhar ao menos uma grupo nos debates. Ao mesmo tempo, há um
característica importante (Barbour, 2009; componente ético extra no trabalho com esses
Borges & Santos, 2005; Dall’Agnol & Trench, grupos quanto à confidencialidade. A vida
1999; Iervolino & Pelicioni, 2001; Trad, 2009) segue após o grupo, e o moderador precisa
ou semelhanças de contexto de vida (DeAntoni garantir tanto a efetividade da
et al., 2001; Morgan, 1997). Morgan alerta para confidencialidade, como a ausência de
o entendimento da homogeneidade no âmbito resquício de sentimentos negativos entre os
do background, e não das atitudes: atitudes integrantes do GF (Barbour, 2009). Outros
semelhantes sobre o tópico do GF gerarão autores apontam que se trata de uma questão
debates improdutivos, se é que gerarão algum. fortemente ligada aos objetivos e finalidades da
pesquisa (Gondim, 2002; Gui, 2003; Kind,
Outro aspecto importante está na 2004; Morgan, 1997). Esta posição moderada
estratégia de segmentação para compor os parece ser a mais esclarecedora para determinar
grupos. Trata-se de “controlar a composição do a composição de um GF. Segundo Morgan, “a
grupo a fim de que combine cuidadosamente noção de que grupos focais devem consistir de
com categorias de participantes escolhidas estranhos, no entanto, é certamente um mito”
previamente” (Morgan, 1997, p. 35, tradução (p. 38, tradução livre).
livre). À primeira vista este procedimento pode
não combinar com a flexibilidade que o GF Sobre a quantidade de participantes, a
parece demonstrar. No entanto, há situações em literatura é variada, recomendando, em
que a segmentação é recomendada, tanto para conjunto, desde 3 até 12 pessoas. Pesquisadores
facilitar a discussão, como para evitar notórios no trabalho com GF recomendam de 3
problemas éticos na pesquisa. Um exemplo a 8 pessoas (Barbour, 2009) e de 6 a 10
simples está na questão de que, se as diferenças (Morgan, 1997). O que parece consenso é que
de sexo deixaram pouco à vontade as pessoas grupos com mais de 12 pessoas não são
para se autorrevelarem ou para o moderador recomendados em função da dificuldade de se
proporcionar comparações frutíferas a partir do manter o foco e de se aproveitar a participação
GF, será preciso conduzir grupos separados por de todos (Gondim, 2002; Trad, 2009).
sexo – isto é, segmentados por sexo. Outras
variáveis a considerar como critério para Há um aspecto importante a considerar
segmentação de grupos é raça, idade, renda no convite a participantes para um GF: as
familiar, status e hierarquia. Ademais, quando desistências. Com essa possibilidade em vista,
papeis sociais se distinguem com respeito a um a expectativa de um grupo com três ou quatro
suporta a pesquisa, e domínio das habilidades para o estabelecimento do clima do grupo, bem
para lidar com os processos de grupo e como para que a discussão ocorra a contento e
comportamentos que afetam o debate são mais dentro das normas éticas em pesquisa. Antes
necessários ao trabalho com GF. mesmo da abertura da sessão, há, p. ex., a
questão de como recepcionar os participantes,
O nível de envolvimento ou de que muito provavelmente chegarão para o GF
diretividade do moderador sobre o grupo flutua em momentos distintos. Pode ser preciso evitar
conforme o momento em que a discussão se que os primeiros participantes a chegar
encontra. Por vezes será preciso retomar o foco comecem a conversar sobre o tópico do grupo,
do debate para que o grupo não prolongue a gerando dados que não estariam sendo
discussão sobre aspectos pouco relativos ao aproveitados para a pesquisa. Uma das formas
tema principal; outras vezes será preciso de se evitar isso é distribuir ao participante, na
permitir que a discussão siga seu rumo, sem chegada, tanto as duas vias impressas do TCLE,
intervir. como um questionário para registrar dados
sociodemográficos. A decisão sobre quando
É importante frisar o papel do
iniciar o trabalho dirigindo-se aos participantes
moderador como facilitador da discussão. Sua
como um grupo é do moderador, que conta com
postura não deve ser a de um observador, como
o auxílio do observador para recepcionar e
em muitos casos ocorre: o coordenador do
melhor encaminhar os participantes atrasados.
grupo decide não interferir no debate para não
contaminar os dados ou influenciar a discussão Na abertura da sessão do GF há as
dos participantes. Todavia é preciso manter a apresentações, iniciando pela equipe de
discussão dentro do tópico e propulsionar as pesquisa (moderador e observadores). Podem
discussões interativas que requerem que os ser distribuídos crachás ou adesivos para a
integrantes expliquem seus pontos-de-vista uns inserção do nome e afixação em local visível na
aos outros, bem como argumentem entre si. própria roupa. O objetivo da pesquisa é
Quando o mínimo de intervenção é feito, sem retomado, e o TCLE é relembrado. Com isso,
que esses processos se apresentem, o que se tem são frisadas normas para o funcionamento do
diante de si é uma entrevista em grupo, que tem debate, como a inexistência de respostas certas
suas vantagens, mas não deve ser tomada como ou erradas, de hierarquia de conhecimentos
GF. entre os participantes e entre equipe e
participantes, e a necessidade de manutenção
Os autores diferem quanto ao modo de
do foco no tópico da pesquisa. São relembrados
estruturar a realização do GF para fins de
os compromissos de privacidade, sigilo,
pesquisa, organizando os mesmos
confidencialidade da pesquisa e entre os
procedimentos em diferentes etapas, com maior
participantes após a participação no grupo. É
ou menor distribuição de atividades por etapa e
pedida honestidade, sinceridade e franqueza
variação de detalhes. De todo modo, é possível
nos depoimentos, destacando-se que há
identificar três momentos relativos à condução
diferentes vivências sobre o tema tratado.
do GF: o pré-debate, o debate e o pós-debate.
Alguns pesquisadores preferem apresentar as
Com esta organização se apresentam a seguir os
normas do debate e os aspectos éticos antes da
passos identificados na literatura estudada
apresentação de cada um, utilizando desta
(Barbour, 2009; Dall’Agnol & Trench, 1999;
última como um quebra-gelo no grupo.
DeAntoni et al., 2001; Gondim, 2002; Gui,
2003; Iervolino & Pelicioni, 2001; Kind, 2004; O moderador deixa claro seu papel no
Morgan, 1997; Trad, 2009). grupo, bem como refere a atividade do
observador e o uso de equipamentos, quando os
Elementos pré-debate há. Além da sinceridade e da receptividade a
diferentes depoimentos, é importante salientar
Previamente ao debate propriamente
que, para que a discussão seja aproveitada, será
dito, há elementos importantes que colaboram
preciso alertar para: (a) A alternância dos
turnos de fala para que todos sejam ouvidos recém-dito, pedir esclarecimento ou
com clareza; (b) A liberdade de todos para aprofundamento, conectar diferentes
emitir opinião; (c) Evitar a coocorrência de depoimentos para fortalecer o clima de grupo,
debates (mais de um debate ao mesmo tempo destacar as principais diferenças e
no grupo); e (d) Evitar a dominância da contextualizá-las como importantes e de
discussão por uma só pessoa. Informa-se sobre mesmo valor no grupo. Dall’Agnol e Trench
o lanche à disposição durante o grupo – listam uma série de perguntas possíveis para
disponibilizado em um canto da sala de fácil debates com grupos. Já Trad (2009) recomenda
acesso e de onde o participante ainda pode que não se utilize a expressão por que a fim de
escutar o debate – e sobre onde se localizam os evitar respostas defensivas, em clima de
banheiros. Por fim, abre-se a oportunidade para interrogatório.
a apresentação de perguntas e dúvidas ou para
a repetição de algum procedimento ou Há boas ilustrações de condução de GF
combinação. em Barbour (2009) e em Gui (2003). Com elas
visualizam-se como inicia uma sessão de GF e
Condução do debate como o moderador articula as opiniões dos
participantes e mantém o debate em
Com o roteiro de tópicos, o moderador andamento. Além disso, Morgan (1997)
inicia o debate. Esse roteiro não deve ser oferece seis técnicas ou instruções para o
distribuído aos participantes – é de uso moderador: (a) Dar legitimidade aos
exclusivo do moderador e observador(es). A participantes para que eles mesmos manejem a
passagem de um tópico a outro é precedida da discussão; (b) Fornecer pistas, quando
síntese de o que foi debatido. pertinente, sobre como lidar com problemas
comuns; (c) Frisar a necessidade de diversidade
Uma maneira de se iniciar a discussão é de perspectivas no debate (a mesma pessoa
apresentar uma pergunta de abertura e pedir que pode apresentar mais de uma visão sobre um
cada participante forneça sua opinião geral assunto); (d) Estimular perguntas entre si para
sobre o tema, destacando que o objetivo é ouvir manter a discussão; (e) Salientar o
a opinião de todos. Dessa forma tem-se uma compartilhamento de experiências pessoais; e
noção do estilo de cada participante, bem como (f) Destacar que todas as experiências são
do clima geral do grupo (Morgan, 1997). igualmente importantes ao moderador.
Para manter um debate em andamento, O encerramento decorre da saturação de
podem-se utilizar perguntas-chave ou deixas ao conteúdos. O moderador, amparado nos
grupo, como: (a) Você pode dar um exemplo?; objetivos da pesquisa e tendo conduzido
(b) Você começou a dizer algo. Gostarias de adequadamente a discussão, apresenta uma
completar?; (c) Algo que sempre ouço as síntese da sessão. Kind (2004) propõe que o
pessoas dizerem é que... O que você(s) encerramento precisa abordar os “temas
pensa(m) sobre isso?; (d) Uma coisa que me principais, consolidar os sentimentos dos
surpreende é que ninguém mencionou que... grupos acerca de algumas questões e identificar
Por que será?; (e) Isso é importante?; (f) Que diferenças principais” (p. 132), sem criar um
aspectos facilitam e dificultam isso, para clima de oposição.
vocês?; (g) Talvez alguém tenha uma
experiência recente de...; (h) Fulana trouxe Tanto durante a discussão como para
outra questão, sobre... Não sei se alguém encerrar o GF, cabe lembrar que é preciso ter
gostaria de comentar sobre isso...; (i) Alguns de clara a diferença entre o que é relevante e o que
vocês afirmaram isso, enquanto outros é interessante. Sem isso, a discussão não
manifestaram o contrário... (Barbour, 2009; encerra, posto que sempre haja algo mais que
Dall’Agnol & Trench, 1999; Kind, 2004; pode ser abordado e discutido.
Morgan, 1997). Pode-se inserir novas questões,
repetir na forma interrogativa algo interessante
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Observação:
Texto originado no minicurso e no workshop ministrados pela autora como consultora em análise
qualitativa de dados no Centro de Análise de Dados em Psicologia (CAD-Psico) do Programa
de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Bolsa de pós-
doutorado UFRGS PNPD-CAPES