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Actividade física de mulheres idosas da zona urbana em Moçambique

Article · January 2016

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5 authors, including:

Timóteo Daca António Prista


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Francisco Tchonga
Eduardo Mondlane University
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artigos originais

Actividade física de mulheres idosas da


zona urbana em Moçambique

Timóteo Daca1, António Prista1; Francisco Tchonga1, Paulo Farrinatti2, Go Tani3

1
Núcleo de Investigação em Actividade Física e Saúde, CIDAF, FEFD - Universidade Pedagógica, Moçambique;
2
Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Brasil; 3Universidade de São Paulo, Brasil

Autor para correspondência: Timóteo Daca


Núcleo de Investigação em Actividade Física e Saúde - Universidade Pedagógica, Moçambique
Tel: +25821426678 | Email: dacajunior@gmail.com

Resumo idosas do presente estudos apresentaram elevados


níveis de AF, mesmo tendo prevalência elevada de
Não obstante a actividade física (AF) ser reconhecida sobrepeso e obesidade.
como importante contributo para a qualidade de saúde
das mulheres idosas são escassos na literatura estudos Abstract
com medidas objectivas realizados em idosas Africanas.
O objectivo deste estudo foi de avaliar o nível de AF de Although physical activity (PA) recognized as an
idosas moçambicanas residentes em diferentes áreas da important factor for the health and quality of life
cidade e província de Maputo e determinar a diferença of aging people, studies with objective measures
nos níveis dessas actividades em função do estatuto conducted with elderly African populations are scarce.
sócio-económico e da composição corporal. Foram The aim of this study was to assess the level of PA of
avaliadas 72 mulheres idosas (66,6±6,6 anos) residentes Mozambican elderly women living in different areas
na Cidade e Província de Maputo (16,7% residentes of Maputo as well as its differentiation with socio-
na zona urbana central e 83,3% zona suburbana). O demographic indicators and body composition.
grau de escolaridade, rendimento mensal e o local de Seventy-two older women (66.6 ± 6.6 years) residents in
residência foram obtidos por meio de entrevista. Foram Maputo (16.7% living in central urban area and 83.3%
determinadas a estatura e massa corporal utilizando suburban area) were evaluated. Level of education,
protocolos padronizados. A classificação nutricional monthly income and place of residence were obtained
foi estabelecida mediante o critério da OMS, usando o by interview. Height and weight determined by
Índice de Massa Corporal (IMC). Para determinação da standardized protocols. The nutritional classification
AF, as participantes usaram, de forma contínua e por 7 established by WHO criteria, using the Body Mass
dias, um acelerómetro (ActiGraph- modelo GT3X) ao Index (BMI). For determination of PA, the participants
nível da cintura. Para determinação do tempo em AF wear for seven consecutive days, an accelerometer
moderada e vigorosa (AFMV) foi estabelecido o valor (model ActiGraph- GT3X) at the waist. To determine
de corte de 1,952 contagem por minuto. A percentagem the time in moderate to vigorous intensity (MVPA)
de participantes com sobrepeso foi de 31,9% e de cutoff value of 1952 counts/minute established. The
obesidade de 40,3%. O tempo médio despendido em percentage of participants with overweight was 31.9%
AFMV foi de 1,02 horas/dia, correspondente a 4,2% do and obesity 40.3%. The average time spent to MVPA
tempo total. A proporção de participantes com mais de was 1.02 hours/day, equivalent to 4.2% of the total
30 minutos diários em AFMV foi de 88,9% e com mais time. The proportion of participants with more than
de uma hora de 47,2%. A comparação por grupos de 30 minutes per day in MVPA was 88.9% and with over
residência e grau educacional não revelou diferenças an hour was 47.2%. The comparison of time spending
significativas, mas as participantes classificadas in MVPA by groups of residence and educational level
como de IMC normal apresentaram tempo médio revealed no significant differences, but the participants
despendido em AFMV mais elevado que as idosas classified having a normal BMI showed average time
obesas (p=0,01). Em comparação com a literatura, os spent in MVPA higher than older obese (P = 0.01).
valores encontrados indicam que os níveis de AF desta This ​​suggests high levels of PA in this population even
população são elevados. Concluiu-se que as mulheres with high prevalence of overweight and obesity.

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Introdução De facto, existe uma enorme dificuldade em en-
contrar um método válido, fiável, não reactivo e
A actividade física (AF) é hoje reconhecida aplicável em grandes amostras.21 Em estudos de
como um elemento de intervenção não farma- larga escala, o questionário tem sido o instrumen-
cológica para a prevenção de doenças crónico- to mais utilizado, o que se reveste de limitações
-degenerativas e preservação da independência importantes na acuidade da medida, uma vez que
funcional na população em geral.1-3 No caso das é impossivel medir o dispendio energético (DE)
pessoas idosas, os benefícios advindos da prática com esse tipo de instrumento. Por outro lado, a
da AF são multidimensionais, incluindo a dimen- pesquisa sobre a AF tem-se debruçado sobre a in-
são biológica, psicológica, social e cultural, que se fluência da intensidade, duração e frequência do
manifestam de forma interdependente. Estudos exercício , procurando estabelecer níveis necessá-
prévios mostram que a AF reduz a incidência de rios para a obtenção de benefícios e estabelecen-
eventos de doença cardiovascular,4 depressão e do pontos de corte.22,23 Nesse sentido, o desenvol-
ansiedade,5 produz melhorias cognitivas, da me- vimento dos acelerómetros e pedómetros veio a
mória e atenção,6 bem como da auto-valoriza- possibilitar uma medida mais objectiva, que per-
ção7,8 em pessoas de idade avançada. Assim, de mitiu o estabelecimento de critérios de intensida-
uma forma geral a AF constitui um importante de e, principalmente, volume de AF associados a
contributo na minimização do impacto de condi- beneficios para a saúde.24 Sendo o método padrão
ções mórbidas comuns nessa faixa etária. de medida do DE o consumo de oxigênio (VO2),
Entre muitos factores que contribuem para a procurou-se estabelecer valores correspondentes
AF no idoso encontram-se a composição corpo- de VO2 com quantidades de movimento medi-
ral e o estatuto socioeconómico, elementos que das pelo acelarómetro em “contagem por mi-
interagem de forma expressa com a AF. Embora nuto”.25,26 Com base nesta referência podem ser
o mecanismo desta interacão, bem como as rela- estabelecidos pontos de corte que definem níveis
ções causa-efeito ainda estejam por explicar com de intensidade e volume de AF relacionados a
precisão, é reconhecida a tendência natural e cul- desfechos para diferentes marcadores de risco
tural para que o idoso se torne sedentário o que epidemiológico.
justifica a realização de estudos com diferentes A possibilidade de medir intensidades na
abordagens.9,10 unidade de tempo permitiu investigar as rela-
O estudo das determinantes de prática regular ções de níveis de intensidade, na sua relação
da AF têm sido uma questão central de pesquisa, com frequência e duração, em contextos distin-
procurando-se avaliar os factores que determi- tos da prática da AF, em diferentes populações.
nam a tendência para um maior ou menor seden- Independentemente da existência de várias limi-
tarismo.11,12 O meio ambiente, zona de residência, tações, é hoje possivel determinar, com alguma
infraestruturas, suporte social, instrutores, líderes acuidade, o tempo dispendido pelos sujeitos em
dos grupos, coesão do grupo, estado de saúde são, actividades sedentárias, ligeiras, moderada e de
entre outros, considerados como determinantes vigorosa intensidade. Isso permitiu avanços sig-
da adesão à AF.13-15 O impacto relativo de cada nificativos na pesquisa epidemiológica e expe-
determinante da AF, seja adesão ou regularida- rimental sobre as relações entre as AF e saúde.
de, não está ainda completamente compreendido. No tocante aos níveis de intensidade, o tempo
Parece, contudo, haver consenso sobre a impor- dispendido em AF moderada e vigorosa (AFMV)
tância de alguns factores, como a proximidade de parece ser um aspecto de particular importância,
infra-estruturas para a prática de exercício,16,17 o pelo facto de se considerar que existem patamares
apoio familiar,18 o nível de escolaridade19 ou o ren- mínimos a atingir para se otimizarem os efeitos
dimento salarial.20 protetores das AF à saúde.27,28
Independentemente das abordagens e ênfases Estes avanços deram um contributo determi-
encontradas nos estudos disponíveis, um proble- nante no esclarecimento do padrão do compor-
ma que parece ser comum diz respeito às limita- tamento do idoso, relativamente às AF e ao se-
ções dos métodos utilizados para quantificar a AF. dentarismo. Vários estudos foram desenvolvidos

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demonstrando um claro declínio da AF e aumen- de avaliação para todos os sujeitos independen-
to do sedentarismo ao longo do envelhecimen- temente da proveniência de cada registo.
to.3,29 Contudo, praticamente todos os estudos Sociodemografia: Os dados sociodemográfi-
disponíveis com idosos, que usaram aceleróme- cos incluíram a região de residência, rendimen-
tros, foram realizados em comunidades inseridas to salarial e grau de instrução formal. A idade
em países desenvolvidos, com culturas e compor- foi determinada mediante a apresentação de um
tamentos muito próximos. Muito poucos foram documento oficial (bilhete de identificação civil,
realizados em países em desenvolvimento e, no cartão de eleitor ou uma declaração do bairro de
caso da África, não foi possível localizar descri- residência).
ções do padrão de AF em idosos utilizando pedó- Antropometria: Estatura e massa corporal
metros ou acelerómetros. foram determinadas através de utilização de
Considerando a contribuição da prática regu- técnicas padronizadas30 utilizando um estadió-
lar de AF para a manutenção da independência metro (GPM, Model 101, Suiça) e uma balança
funcional e saúde das pessoas idosas e carência de de Bioimpedância Tanita (BF-350, Japão). A de-
informações sobre o seu padrão em populações terminação da classificação do estado nutricio-
africanas, o presente estudo pretendeu determi- nal foi realizada de acordo com os critérios da
nar o nível de actividade física de idosas moçam- OMS31, utilizando a medida do Índice da Massa
bicanas residentes em diferentes áreas da cidade e Corporal (IMC).
província de Maputo. Adicionalmente, verificou a Actividade Física: O nível de AF das idosas foi
diferenciação dos níveis de AFMV física com in- estimado pela técnica de acelerómetria. As parti-
dicadores sociodemográficos e a composição cor- cipantes foram solicitadas a usar um aceleróme-
poral dessa população. tro (ActiGraph, modelo GT3X, EUA) por 7 dias
consecutivos ao nível da cintura, do lado direito,
Métodos podendo apenas removê-lo quando estivessem
para tomar banho ou em outro tipo de actividade
Amostra: A amostra foi selecionada na base que pudesse obrigar o sujeito a estar em contacto
de dados de acelerómetria existente no Núcleo com água. Foi também pedido que o dispositivo
de Investigação em Actividade Física e Saúde permanecesse no corpo durante a noite no perío-
(NIAFS) a qual constitui a única informação do de sono. Para além disso, foi solicitado que o
em acelerómetria em Moçambique e resulta de sujeito pudesse movimentar o dispositivo do lado
diferentes projectos de investigação. Dessa base direito para o lado esquerdo, apenas se o disposi-
foram selecionadas todas os registos de sujeitos tivo estivesse a causar irritação.
do sexo feminino, de nacionalidade moçambi- Para análise da informação foram selecio-
cana, com idade igual ou superior a 60 anos, nados os pontos de corte de Freedson et al.,32
que possuíssem informação antropométrica e marcando os 3 eixos (vertical, médio lateral e
dados sociodemográficos relativos ao presen- ântero-posterior) e classificando-se o nível per-
te estudo bem como um registo de pelo menos centual de AF em sedentária, ligeira, lifestyle,
7 dias de acelerómetria. Sujeitos com doenças moderada, vigorosa e muito vigorosa. Mediante
impeditivas de realizar actividade fisica de for- esses valores percentuais, foi possível calcular
ma regular não foram incluidos. Um total de o tempo em horas e minutos para cada cate-
72 mulheres, todas residentes em Maputo, com goria de interesse do presente estudo, nomea-
idades compreendidas entre os 60 e 84 anos damente sedentária (AFSED), ligeira+lifestyle
foram encontrados nos registos. Todas as par- (AFL) e moderada+vigorosa+muito vigoro-
ticipantes provinham de projectos de pesquisa sa (AFMV). Para complementar a análise,
de adesão voluntária e com um consentimento foram utilizados valores de corte para o núme-
informado devidamente assinado. Os projectos ro médio de passos por dia, usando-se valores
usaram os mesmos instrumentos e metodologia médios retirados da literatura. 33, 34

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Análise Estatística Física IMC de sobrepeso e obesos estão apresentados
na Tabela 5. A comparação entre os grupos reve-
A análise estatística inclui a inspecção preli- lou diferença estatística entre os grupos Normal
minar da normalidade dos dados e a presença de e Obeso (p=0,0007).
valores extremos. Dado que a normalidade dos
dados não foi violada pela presença de alguns va-
lores extremos, todos os valores foram permane-
Discussão
cidos na análise. Para a comparação entre grupos
O presente estudo constitui um trabalho pio-
foi utilizada a análise de variância (ANOVA) com
neiro na pesquisa sobre as AF em idosas africa-
intervalo de confiança estabelecido por defeito
nas usando acelerómetros. A amostra, não tendo
de 95%. O teste de Bonferroni foi utilizado para
sido aleatória nem estratificada, foi composta por
a comparação de mais de dois grupos. Utilizou-se
idosas voluntárias provenientes de regiões desfa-
o pacote estatiticos SPSS.
vorecidas da cidade, onde vive cerca de 80 % da
população da cidade de Maputo.36 As idosas apre-
Resultados sentaram uma prevalência de 72% de sobrepeso
e obesidade, um nível de educação formal baixo
A idade média da amostra foi de 66,6 ± 6,6 anos,
com um rendimento salarial também abaixo se
sendo a maioria sexagenária (75%). Utilizando o
comparado ao salário mínimo em vigor no país
critério da Organização Mundial de Saúde (35)
(Moçambique). O elevado nível de sobrepeso das
para classificação nutricional, o grau de sobrepeso
mulheres37 e baixo nível socioeconómico38,39 são
(31.9%) e obesidade (40.3%) da amostra pode ser
características típicas das populações adultas e
considerado elevado. O nível de instrução formal
idosas suburbanas Africanas.
e o rendimento salarial expresso por múltiplos do
A utilização de valores de corte em aceleróme-
salário mínimo, indicam uma condição socioeco-
tria tem sido controversa. O valor de corte para
nómica baixa. A maioria dos sujeitos (83.3%) vive
a AFMV é utilizado em quase todos os estudos
em zonas suburbanas (Tabela 1).
As participantes dispenderam, em média, 20,1 referentes à AF com acelerómetros, por se acre-
horas em AFSED, quase 2,86 horas em actividade ditar que este nível de dispêndio energético está
AFL e 1,02 horas em AFMV (Tabela 2). A per- associado a benefícios para a saúde.22,40
centagem de sujeitos que dispenderam mais de Utilizando os valores disponíveis e os critérios
uma hora diária em AFMV é de 47,2%, enquanto e pontos de corte descritos na literatura, ficou evi-
aqueles que realizaram esse tipo de actividade por dente que a população investigada apresenta um
mais de 30 minutos corresponderam a 88,9% do tempo em AFMV muito elevado. A AFMV rea-
total (Tabela 3). lizada pelas idosas do presente estudo, em uni-
Os tempos médios diários dedicados às AFMV, dade de tempo, é considerável aceite para galhos
de acordo com o IMC, grau educacional e região de saúde e é independente da condição nutricio-
de residência são apresentados na Tabela 4. No nal. As idosas classificadas de normais por IMC
grupo com IMC normal observou-se maior tem- foram as que mais AFMV realizaram (p=0,01) o
po médio despendido nesse em AFMV (p=0,01). que era esperado. Num estudo com 560 Idosos
A comparação por grau educacional e região de do Reino Unido, Harris et al.23 utilizaram os va-
residência não revelou diferenças significativas lores de corte de 2,000 contagens por dia para
entre as categorias. classificar a AF como moderada, sendo a média
O número médio de passos por dia foi de diária de passos observada de 6,643 passos/dia, o
17,194 ± 5840, sendo o valor médio máximo de que é 3 vezes menor que o presentemente identi-
32,400 e o mínimo de 5,472. Utilizando valores de ficado. Por outro lado, apenas 2,5% dos sujeitos
corte selecionados, observou-se que a maior par- realizaram 150 minutos de actividade semanal
te das participantes (91,7%) realizou, em média, em nível de intensidade moderada ou superior, o
mais de 10,000 passos por dia. Os valores médios que no caso das moçambicanas foi de 95,5%. Há
de passos diários, de acordo com categorias de a considerar que no estudo com os britânicos só

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foram considerados os valores dentro de “bouts” obesidade revelou-se inferior àquele identifica-
superiores a 10 minutos. Considerado este valor do para as que tinham IMC normal.
de corte, apenas 30% das participantes no estudo O presente estudo apresenta um conjunto de
moçambicano atingem o critério, o que mantem limitações por observar. Em primeiro lugar a au-
ainda elevada a diferença. sência de uma amostra estratificada e aleatória re-
Numa outra pesquisa recentemente publicada presentativa da população idosa de Maputo. Em
envolvendo 579 idosos islandeses,26 o tempo mé- segundo lugar a falta de estudos de validação dos
dio diário despendido em AFMV variou entre 2,3 instrumentos utilizados para a população estu-
e 14,5 minutos por dia, conforme o grupo etário dada, incluindo o acelerómetro, o significado do
e género. Isso perfez menos de 1% do tempo do IMC relativamente á composição corporal e os
nível da intensidade moderada e vigorosa de acti- próprios inquéritos e significados dos dados so-
vidade física. Uma vez mais, este valor pressupôs a ciodemográficos. Por ultimo, o facto de não se ve-
utilização de bouts e, nesse caso, o valor médio no rificar a variabilidade no estatuto sócio-económi-
presente estudo foi de 15,4 minutos por dia. co da amostra limitou o estudo da influência deste
Independentemente da medida utilizada, há factor na AF. Considerando contudo o caracter
estudos disponíveis na literatura que revelam ní- pioneiro do estudo, não apenas em Moçambique
veis de actividade física habitual substancialmente mas em África, e os limites da análise e conclusões,
inferiores aos encontrados no presente estudo.28,39 considera-se que os objectivos foram mantidos.
Contudo, todos esses estudos foram realizados
em populações não africanas, o que pode signifi-
car uma determinante cultural ou socioeconómi- Conclusão
ca marcante. Não apenas o facto de as participan-
Dentro dos limites que a amostra do estudo
tes da pesquisa serem africanas, num ambiente
permite pode-se concluir que as mulheres idosas
Africano, pode ter contribuído para este resulta-
da cidade de Maputo apresentam um elevado ní-
do, mas também a sua condição socioeconómica.
A atenção da presente pesquisa recaiu sobre as vel de actividade física, associada provavelmente
AFMV, pela relevância que tem sido dada a esta às suas tarefas de sobrevivência, pese embora os
intensidade do ponto de vista da saúde pública.41 elevados níveis de sobrepeso e baixo rendimento
Contudo, tem também sido sugerido que, em par- salarial. Foi observada uma tendencia para que as
ticular nos idosos, a actividades físicas de nível idosas mais pesadas dipendam menor tempo em
energético ligeiro podem constituir um benefício AF não se tendo encontrado nenhuma diferença
considerável para a saúde. Por exemplo, Buman et relativa ao nível das variáveis socio demograficas,
al.,42 usando acelerómetria e indicadores de saúde provavelemnte por falta de variabilidade da amos-
e bem-estar, verificara que os benefícios da activi- tra nos indicadores deste domínio. A replicação e
dade física ligeira eram idênticos aos da activida- aumento da abrangência deste tipo de estudos são
de física moderada em idosos. No presente estudo fundamentais para que se possa avaliar o impacto
o tempo despendido neste nível de intensidade foi do padrão de AF no bem-estar e saúde pública da
considerável (perto de 3 horas diárias) pelo que população idosa em Moçambique.
será de considerar um dado relevante no efeito
preventivo da AF desta população. Referências Bibliográficas
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Tabela 1: Numero de sujeitos (n) e percentagem (%) por grupo etário, grupo nutricional, grau
educacional, rendimento salarial e região de residência

Indicador Classes n %
Idade 60-70 Anos 54 75,0%
X= 66.6±6.6 71-80 Anos 16 22,2%
> 80 Anos 2 2,8%
IMC Normal 20 27,8%
X = 29.2±7.9 Sobrepeso 23 31,9%
Obeso 29 40,3%
Grau Educacional Iletrado 23 31,9%
Primário 32 44,4%
Secundário 17 23,6%
Médio 0 0,0%
Superior 0 0,0%
Rendimento Salarial Sem rendimento 1 1,4%
Abaixo do salário mínimo 54 75,0%
Salário mínimo 6 8,3%
Acima do Salário Mínimo 5 6,9%
Região de Residência Urbano Central 12 16,7%
Subúrbios 16,7% 83,3%

Tabela 2: Média de tempo despendido em actividade física por níveis de intensidade

Nível de Actividade Tempo (horas)


Sedentária 20,1±1,16
Ligeira 2,86±0,80
Moderada e Vigorosa 1,02±0,51

Tabela 3: Total e percentagem de sujeitos em função do tempo médio diário despendido em


actividades físicas moderadas e vigorosas.

Tempo n %
<30 min 8 11,1%
30 a 60 min 30 41,7%
> 60 min 34 47,2%

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Tabela 4: Tempo (em horas) médio diário despendido em actividades moderadas e vigorosas
por classe de IMC, grau educacional e região de residência.

Indicador Classe n X±DP p Pos-hoc


IMC Normal (N) 20 1,27±0,59 0,01 N>O
Sobrepeso (S) 23 1,01±0,46
Obeso (O) 29 0,85±0,42
Grau Educacional Iletrado 23 0,94±0,54 0,048 ns
Primário 32 1,09±0,39
Secundário 17 1,08±0,57
Região de Residência Urbano Central 12 0,80±0,40 0,10 ns
Subúrbios 60 1,06±0,52

Tabela 5: Média de passos diários por categoria de IMC e total da amostra.

Indicador Classe n X±DP p Pos-hoc


IMC Normal (n) 20 20,023±6,863 0,0007 n>o
Sobrepeso (s) 23 17,674±4,690
Obeso (o) 29 14,861±5,069
Geral 72 17,194±5,840

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