Você está na página 1de 7

A entrada triunfante do Messias

Confirmação, Aclamação & Contraste


Mateus 21: 1-11
Pregação da Palavra – Culto – Domingo de Ramos IPA (10/04/2022)
Seminarista Gabriel Almeida

Introdução:
► A entrada triunfal, como popularmente conhecemos, é o episódio
bíblico que relata Jesus entrando em Jerusalém no dia que conhecemos
como o Domingo de Ramos, o domingo antes da crucificação (João 12:
1,12);
► Uma vez que era a Páscoa dos judeus, havia provavelmente cerca de
dois milhões de pessoas dentro de Jerusalém e nas cercanias da cidade
(judeus de Jerusalém, multidões que vinham da Galileia e o povo que viu
Jesus ressuscitar a Lázaro).
► Essa foi a única ocasião em seu ministério que Jesus planejou e promoveu
uma manifestação pública. Até então, advertia as pessoas a não dizer
quem ele era e deliberadamente evitava situações do tipo que vemos
nesta passagem.
► Naquele dia, Jesus entrou em Jerusalém montado na parte traseira de
um jumentinho emprestado, um que nunca tinha sido montado antes e
os discípulos colocaram as suas vestes sobre o jumento para que Jesus
pudesse montá-lo, e as multidões saíram para recebê-lo, colocando
diante dele os seus mantos e os ramos de palmeiras. As pessoas
saudaram e louvaram-no dizendo: Hosana! "Bendito o que vem em nome
do Senhor", enquanto ele seguia rumo ao templo, onde ensinou as
pessoas, as sarou, e expulsou os cambistas e comerciantes que tinham
feito da casa de seu Pai um "covil de salteadores" (Marcos 11:17).
► Ocorre que, embora tenham em alvoroço (vs. 10) ovacionado a
chegada de Jesus na cidade santa, ao grito de Hosanas, e com pompas
e circunstâncias, os judeus não reconheceram Jesus como Rei. "Não
temos rei, senão César!", era a confissão que faziam cegamente. (Jo
19.15)
► A história da entrada triunfal é um dos poucos incidentes da vida de Jesus
que aparece em todos os quatro relatos dos Evangelhos (Mateus 21:1-17;
Marcos 11:1-11; Lucas 19:29-40; João 12:12-19).
► Ao combinar as quatro narrativas, torna-se claro que a entrada triunfal
foi um evento significativo, não só para o povo da época de Jesus, mas
para os cristãos ao longo da história.
► Hoje, nós celebramos o “Domingo de Ramos” para lembrar essa
momentosa ocasião, mas quais as lições que podemos recolher deste
texto para melhor compreender os significados por detrás da pomposa
recepção do Messias em Jerusalém, no primeiro dia da semana em que
seria crucificado no calvário?

1. Majestade e realeza confirmada


► O propósito de Jesus em seguir a Jerusalém foi de tornar pública a sua
afirmação de que era o Messias e Rei de Israel, em cumprimento da
profecia do Antigo Testamento.
► Mateus diz que o Rei montado em um jumentinho foi um cumprimento
exato de Zacarias 9: 9: "Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de
Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador, humilde, montado em
jumento, num jumentinho, cria de jumenta."
► Ao cumprir essa profecia, Jesus realizou dois propósitos: (1) declarou-se
Rei e Messias de Israel; (2) desafiou deliberadamente os líderes religiosos.
Essa provocação desencadeou a conspiração oficial que levou a sua
prisão, seu julgamento e sua crucificação.
► Jesus cavalga à sua capital como um Rei conquistador e é aclamado
pelo povo como tal, de acordo com os costumes da época. As ruas de
Jerusalém, a cidade real, estão abertas para Ele, e como um rei Ele sobe
ao seu palácio, não um palácio temporal, mas o palácio espiritual que é
o templo, porque o seu é um reino espiritual.
► Warren Wiersbe1 comenta que: “Na época, era costume o povo colocar
seus mantos e ramos festivos no caminho para dar boas-vindas a um rei
(2 Rs 9:13). "Hosana!" quer dizer "Salva agora!" e vem de Salmos 118:25,
26. Claro que Jesus sabia que o povo estava citando um salmo
messiânico (relacionar SI 118:22, 23 com Mt 21:42-44 e At 4:11), mas
permitiu que continuasse com seu clamor. Afirmava abertamente sua
realeza como Filho de Davi”.

1
WIERSBE, Warren W.; EXPOSITIVO, W. Comentário Bíblico. Novo Testamento. Traduzido por Susana E.
Klassen, v. 1, 2006. Pág. 192.
► Ele recebe a adoração e louvor das pessoas porque só Ele merece, não
mais repreendendo o louvor de seus súditos na entrada da cidade.
► Jesus já não mais diz a seus discípulos que fiquem quietos sobre Ele
(Mateus 12:16, 16:20), mas que gritem louvores e o adorem abertamente.
A disseminação de mantos era um ato de homenagem para a realeza
(veja 2 Reis 9:13). Jesus estava abertamente declarando ao povo que
era o seu rei e o Messias por quem estavam esperando.
► O que se passava na cabeça dos romanos durante essa manifestação
festiva?
► Comentaristas bíblicos destacam que um "triunfo romano" era um
acontecimento e tanto. Quando um general romano voltava a Roma
depois da conquista completa de um inimigo, era recebido com um
pomposo desfile oficial. Nesse desfile, exibia seus troféus de guerra e os
prisioneiros ilustres que havia capturado. O general vitorioso andava
numa carruagem de ouro, enquanto sacerdotes queimavam incenso em
sua homenagem, e o povo gritava seu nome e o louvava. A procissão
terminava na arena de Roma, onde o povo era entretido com
espetáculos nos quais os prisioneiros lutavam com animais selvagens. Esse
era o "triunfo romano".
► A "entrada triunfal" de Jesus em Jerusalém foi muito diferente, mas, ainda
assim, foi um triunfo. Ele era o Rei ungido de Deus e o Salvador, mas sua
conquista seria espiritual, não militar. Um general romano precisava matar
pelo menos cinco mil soldados inimigos para ser digno de um "triunfo";
mas em poucas semanas, o evangelho "conquistaria" cerca de cinco mil
judeus e transformaria completamente suas vidas (At 4:4).
► O "triunfo" majestático de Cristo seria a vitória do amor sobre o ódio, da
verdade sobre o erro, da vida sobre a morte.

2. Adoração certa pelos motivos


errados
► Infelizmente, o louvor que o povo derramou sobre Jesus não foi porque o
reconheceram como o Salvador dos seus pecados. Eles o saudaram
devido ao seu desejo por um libertador messiânico, alguém que iria guiá-
los a uma revolta contra Roma.
► Esse era um desejo antigo do povo judeu, após sucessivos cativeiros e
opressões de nações vizinhas, sentimento esse reaquecido com a revolta
e revolução dos Macabeus entre os anos de 167 e 37 a.C. após os
decretos de Antíoco Epifânio (rei Seleucida) que afrontavam a religião
judaica;
► Havia muitos que, embora não cressem em Cristo como Salvador, ainda
esperavam que talvez Jesus seria para eles um grande libertador
temporal, conforme vemos em Lucas 24.21 no relato dos discípulos no
caminho de Emaús: “Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de
redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde
que tais coisas sucederam”.
► Estes são os que o saudaram pomposamente como Rei com seus muitos
hosanas e gritos de júbilo, reconhecendo-o como o Filho de Davi que
veio em nome do Senhor.
► Por isso mesmo registra Mateus no verso 11 que: “E as multidões
clamavam: Este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galileia!”.
► Mas quando Jesus falhou em atender às suas expectativas, quando se
recusou a guiá-los em uma grande revolta contra os ocupantes romanos,
as multidões rapidamente se voltaram contra Ele.
► Dentro de poucos dias, os hosanas se transformariam em gritos de
"Crucifica-o!" (Lucas 23: 20-21).
► Aqueles que o saudaram como um herói em breve iriam rejeitar e
abandoná-lo, e alguns destes até o cuspindo e desferindo-lhe tapas na
via crucis até o morro da caveira.
► J.C. Ryle2 comenta em sua obra “Meditações nos Evangelhos” que:
“Finalmente, observemos nestes versículos uma notável demonstração de que o
favor humano não tem valor algum. Dentre toda a multidão que cercava ao
Senhor Jesus quando Ele entrou em Jerusalém, ninguém ficou ao lado dEle
quando foi entregue às mãos de homens iníquos. Muitos gritaram “Hosana!”, e
quatro dias mais tarde: “Fora! Fora! Crucifica-o!” (Jo 19.15). Mas este é um retrato
fiel da natureza humana. É uma prova da tamanha insensatez que é dar maior
valor ao louvor do homem do que ao louvor que vem de Deus. Na verdade, coisa
alguma é tão inconstante e incerta quanto a popularidade. Ela está aqui hoje,
mas amanhã já desapareceu. A popularidade é como um alicerce sobre a
areia, que certamente transtornará quem sobre ela construir. Que nós não
façamos caso dela. Pelo contrário, busquemos o favor d Aquele que “ontem e
hoje é o mesmo, e o será para sempre” (Hb 13.8). Jesus nunca muda”.
► A adoração dos judeus na entrada triunfante era correta, mas não era
sincera, era louvor oportunista e não desejoso de exaltar o Messias!
► Por esta razão, Jesus já havia advertido claramente seus discípulos em
Mateus 7.21-23: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino

2
RYLE, J. C. Meditações no evangelho de Mateus. Tradução de Expository thoughts on the gospels
Mathews. São José dos Campos: Fiel, 2018. Pág. 176.
dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.
Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não
temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos
demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi
explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais
a iniquidade”.

3. Contrastes de um Rei humilde


► A história da entrada triunfal é uma história de contrastes, de distinções e
percepções que são próprias única e exclusivamente ao reinado de
Cristo, como visto no episódio de sua entrada triunfal em Jerusalém.
► É a história do Rei que veio como um servo humilde em um jumento, e
não um cavalo empinado, não em vestes reais, mas em roupas dos
pobres e humildes. Jesus Cristo não vem para conquistar pela força
como os reis terrenos, mas pelo amor, graça, misericórdia e seu próprio
sacrifício pelo seu povo.
► O seu não é um reino de exércitos e esplendor, mas de humildade e
servidão. Ele não conquista nações, mas corações e mentes. A sua
mensagem é de paz com Deus, não de paz temporal.
► O Reverendo Charlles Haddon Spurgeon3, em célebre sermão sobre a
entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, pregado na manhã de um
Domingo, 18 de Agosto de 1861, no Metropolitan Tabernacle,
Newington– Inglaterra, anotou que:
“[...] você viu que Cristo reivindicou ser um rei; você viu que
tipo de rei ele poderia ter sido e não foi, mas agora você
verá que tipo de rei ele é, e que tipo de rei ele reivindica
ser. Qual era seu reino? Qual sua natureza? Qual era sua
autoridade real? Quais foram seus súditos? Quais suas leis?
Qual seu governo? Agora você perceberá imediatamente
da passagem tomada como um todo, que o reino de Cristo
é um reino muito estranho, totalmente diferente de
qualquer coisa que jamais foi vista ou que ainda será
vista”.
► “Dizei à filha de Sião: Eis aí te vem o teu Rei, humilde, montado em
jumento, num jumentinho, cria de animal de carga”. Mateus 21:5
► No reino do humilde Rei dos Reis e Senhor dos Senhores, os discípulos são
cortesãos e não escravos. Nosso bendito Senhor não tinha príncipes à

3
Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/chspurgeon/Entrada_Spurgeon.htm. Acesso em
10/04/2022.
espera, nem porteiros de bastão negro, nenhuma guarda real que
ocupasse o lugar daqueles altos oficiais? Porque uns poucos pobres e
humildes pescadores, que eram seus discípulos.
► As suas leis não são proclamadas pela boca do arauto, mas escritas no
coração. Você percebe que na narrativa Cristo manda seus servos ir e
pegar seu corcel real, tal qual ele estava, e esta era a lei: "Soltai-o e
deixai-o ir?". Mas onde estava escrita a lei? Estava escrita no coração do
homem a quem pertenciam a jumenta e o jumentinho.
► Este era um reino no qual riquezas incertas não partilham o que quer que
seja de sua glória. Lá vai o Rei, o mais pobre de toda a classe, por que
aquele Rei não tinha onde reclinar a cabeça. Lá vai o Rei, o mais pobre
de todos, sobre o jumento de outro homem que ele tinha emprestado.
Lá vai o Rei, alguém que está para morrer; desprovido de seu manto para
morrer nu e exposto.
► O mais estranho Rei, que não usa nenhuma espada, mas cavalga
adiante no meio deste povo conquistando e para conquistar um
estranho reino, no qual há ramos de palmeiras sem a espada, a vitória
sem a batalha. Sem sangue, sem lágrimas, sem devastação, sem cidades
queimadas, sem corpos mutilados! Rei de paz!
► Um reino que contrasta com os reinos do presente século, com os reinos
terrenos, com os governos humanos, é um Reino da Eternidade, um
reinado que jamais terá fim, como profetizado em Isaías 9.
► É exatamente nessa perspectiva que Jesus, alguns dias depois, quando
indagado pelo governador Pôncio Pilatos se Ele era o “Rei dos Judeus”,
responde: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste
mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse
eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui”. João 18:36

Conclusão

► A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém era apenas o primeiro


capítulo de um drama que se desenrolaria durante toda aquela
semana. Jesus seria traído, julgado e condenado. Seria crucificado e
sepultado, mas o último capítulo haveria de surpreender: ele
ressuscitaria dentre os mortos ao terceiro dia da sua morte.
► Tudo fazia parte de uma obra cujo script/roteiro estava escrito desde
a eternidade, conforme afirma o apóstolo Pedro em 1ª Pe 1.19-21: “[...]
o precioso sangue de Cristo, como de cordeiro sem defeito e sem
mácula foi “conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo,
porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós que, por meio
dele, tendes fé em Deus, o qual o ressuscitou dentre os mortos e lhe
deu glória, de sorte que a vossa fé e esperança estejam em Deus” (I
Pe 1.19-21).
► O Domingo de Ramos não pode ser considerado à parte do Domingo
da Ressurreição; a entrada triunfal em Jerusalém não pode ser
considerada à parte da saída triunfal do túmulo!
► O que está em evidência, portanto, na celebração da Semana Santa,
aberta com a celebração do Domingo de Ramos, é a salvação
garantida pelo sacrifício de Cristo.
► Ao celebrarmos o Domingo de Ramos, declaramos que Jesus é o
nosso Rei! Extravasamos nossa alegria pela certeza de que, em Cristo,
somos visitados pelo Senhor! Reafirmamos a nossa fé no fato de que
Jesus veio a este mundo com um propósito pré-determinado por Deus
e cumpriu sua missão, entregando-se como sacrifício para justificar
todo aquele que nele crê.
► Portanto, podemos declarar alto bom som: “Hosana ao Filho de Davi!
Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas maiores alturas”!

Você também pode gostar