Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
BOSCHILIA, Roseli T. Entre fitas, bolachas e caixas de fósforos: a mulher no espaço fabril curitibano
(1940-1960). Curitiba: Artes & Textos, 2010.
preservados dessas fábricas. A obra está dividida em entrevistas para perceber como se davam as
uma introdução, 3 capítulos e considerações finais. relações humanas dentro das fábricas e também
Incorporadas ao texto encontram-se ainda imagens dentro das famílias. Boschilia acentuou a existência
e gráficos. Destaco a riqueza das imagens que, por si de relações paternalistas no ambiente de trabalho.
só, poderiam render uma outra pesquisa. Para finalizar, a autora afirmou que, no decorrer dos
A introdução tem um caráter nitidamente relatos orais, algumas mulheres negavam um
acadêmico. A autora pontuou o contexto da cidade passado de trabalhadoras, enquanto outras
de Curitiba que vivia uma transição entre uma fase remontavam a essa fase da vida de maneira lúdica e
“pré-industrial” e a fase industrial em si, aliada à idealizada. Nesse sentido, os relatos orais servem
política trabalhista do Estado Novo que se estende para a compreensão das próprias mulheres. Isto é,
até 1960. A autora construiu o panorama da enquanto o primeiro capítulo ocupou-se de discursos
historiografia sobre as mulheres no Brasil, justificou sobre o trabalho feminino e o segundo foi pautado
seu recorte temporal, apresentou os conceitos a nos registros das fábricas, o terceiro recorreu às
serem instrumentalizados, apontou o uso de fontes trabalhadoras fabris, traçando uma linha que abarca
documentais e também da história oral. Por fim as subjetividades e os relatos de experiências como
justificou a divisão de capítulos que foi baseada na aspectos de construção desses sujeitos.
natureza das fontes. Ao final, diante da exploração das
O primeiro capítulo intitulado “A vida na categorias mulher, mulheres e gênero, Boschilia
cidade” disserta sobre o momento de pontuou que semelhanças e diferenças
industrialização pelo qual passava Curitiba, aproximavam essas mulheres, porém, segundo a
momento este supervalorizado pela imprensa da autora: “Todas, sem exceção, aspiravam ao
época. Nessa relação com a cidade, Boschilia casamento como forma de obtenção de status
destacou como determinados espaços citadinos econômico e social, demonstrando que a imagem
estavam restritos à condições de classe e de gênero. do feminino direcionada para o espaço privado era
5
Finalizando este capítulo a historiadora salientou os igual para todos os grupos” . Apesar disso, na página
diferentes olhares sobre a mulher trabalhadora que, seguinte, a autora discorre sobre mulheres ajustadas
dentro de uma visão tradicional, deveria estar dentro e insurgentes, sendo que as últimas tenderiam a
do ambiente doméstico e não na fábrica. A partir da maior autonomia. Uma nítida contradição que
reflexão sobre esses olhares, lançados pela imprensa e poderia ter sido explorada no sentido de reforçar a
por médicos, a pesquisadora salientou esses discursos noção de poder circular de Foucault, citada na
como produtores de subjetividades dessas mulheres introdução.
que, ao ingressarem no mundo do trabalho, rompiam Entretanto, indico o livro como de grande
com certas expectativas de gênero. valia para os interessados pelos estudos de gênero e
O segundo capítulo denominado “A vida também pela história do trabalho. A obra tem
nas fábricas” fez uso dos registros das fábricas para relevância temática, ao tratar do tema mulheres
perceber como se dava o dia-dia fabril. Apresentou trabalhadoras; possui grande qualidade narrativa;
dados acerca de submissão ou rebeldia, critérios de elabora interessante relação entre as narrativas
contratação que levavam em conta a boa aparência atuais e os documentos do período analisado;
e a preferência pelas imigrantes e, ainda, o operacionaliza os conceitos apresentados. Entre
problema da especialização em função dos fitas, bolachas e caixas de fósforos: a mulher no
empregos serem abandonados pela ocorrência do espaço fabril curitibano (1940-1960) de Roseli
casamento. Com a utilização dessa documentação a Boschilia, certamente, é uma excelente ferramenta
autora permitiu a leitores e leitoras perceberam as para quem deseja emergir no universo do trabalho
complexas relações que se estabeleciam entre essas de mulheres que entre laços, doces e fogo
mulheres e esse universo do trabalho. marcaram a história dos trabalhadores no Brasil.
O terceiro e último capítulo nomeado
“Trabalho, Memória e Representação” pauta-se
principalmente nas informações extraídas das Resenha Recebida em 24/03/2011
Resenha Aceita em 07/06/2011
5
BOSCHILIA, Roseli T. Entre fitas, bolachas e caixas de fósforos: a mulher no espaço fabril curitibano (1940-1960). Curitiba: Artes
& Textos, 2010, p. 191.
114 Espaço Plural . Ano XII . Nº 24 . 1º Semestre 2011 . ISSN 1518-4196