Você está na página 1de 13

6

151
Capítulo

Delimitação da área
de influência de
shopping centers
6.1 n Considerações iniciais
6.2 n Quadro de referências
6.3 n Metodologia para traçado da área de
influência
6.4 n Aplicação da metodologia adotada:
delimitação da área de influência do
Shopping Itaguaçu
6.5 n Considerações finais
Bibliografia
152 Delimitação da área de influência de shopping centers

6.1 n Considerações iniciais


Uma das etapas elementares na avaliação dos impactos causados no sistema viário é o tra-
çado da área de influência do empreendimento. Esse estudo é fundamental no processo que
antecede a implantação de macropolos, permitindo detectar as áreas com possíveis focos
de congestionamento, garantindo o planejamento adequado do uso do solo e determinando
as características socioeconômicas da população residente nos diversos locais afetados pelo
shopping center, o que permitirá, assim, uma análise de viabilidade econômica de implanta-
ção do futuro pólo gerador de tráfego (PGT).
Dessa forma, objetiva-se, no presente capítulo, apresentar uma revisão sucinta dos
trabalhos disponíveis sobre esse tema, bem como evidenciar uma metodologia, destinada
a técnicos e planejadores de transportes, para delimitação da área de influência de um de-
terminado shopping center a ser implantado em cidade de porte médio. Essa metodologia
é resultado de levantamento de dados realizados em dois shopping centers de Florianópolis
(SC) e também de estudos existentes na bibliografia.

6.2 n Quadro de referências


A área de influência, segundo Hirschfeldt (apud Carvalho, 1994), é um dado que permite
avaliar o potencial mercadológico da área geográfica onde reside a maior parte dos futuros
clientes do shopping center.
Já para Mussi et al. (1988), a área de influência é definida como o espaço geográfico
sobre o qual o shopping center exercerá a atração da população para fazer suas compras
ou atender a suas necessidades de diversão e serviços.
Entretanto, de acordo com Marco (1994), a área de influência é definida como a região
geográfica onde o poder de atração, limitado por determinada distância, é responsável por
grande parte das vendas do shopping center, isto é, algo em torno de 95%. Esse poder de
atração é função inversa da distância necessária para alcançar o empreendimento, ou seja, é
máximo nas regiões mais próximas, com reduções progressivas na medida do afastamento
do centro de referência.
Segundo o Urban Land Institute (1971), o termo “área de influência” ou “área de mer-
cado” é normalmente definido como aquela área em que se obtém a maior proporção de
clientela contínua necessária para a manutenção constante do shopping center.
Os critérios para delimitação da área de influência variam entre autores. Usualmente,
a área de mercado é dividida em três categorias: área primária, área secundária e área
terciária. Os limites dessas áreas são determinados por fatores como: natureza e tamanho
do próprio empreendimento, acessibilidade, densidade e características socioeconômicas da
população, barreiras físicas, limitações de tempo e distância de viagem, poder de atração e
competição do futuro shopping center, distância do centro da cidade e dos principais con-
correntes.
Quadro de referências 153

Além dessas variáveis, alguns autores utilizam o traçado de isócronas e isócotas, que
permitem uma melhor visualização de acessibilidade de um shopping center em função
do tempo e da distância de viagem. As isócronas são linhas de tempos iguais, marcados
de 5 em 5 minutos até um dado tempo, tendo em vista o porte e o tipo do empreendi-
mento, mas que usualmente equivalem a 30 minutos. São traçadas pelas principais rotas
de um shopping center, procurando-se o horário de fluxo normal, evitando-se o horário
de pico ou os períodos sem movimento de tráfego, além de se observarem os limites de
velocidade de regulamentação das vias. As isócotas são linhas de distâncias iguais, traça-
das normalmente de 1 em 1 quilômetro, como um círculo, cujo centro é o local onde se
situa o shopping center. São normalmente traçadas de 1 a 8 quilômetros, para o caso de
shopping centers.
Em relação a parâmetros para traçado da área de influência de shopping centers,
destacam-se os estudos da CET-SP (1983), de Grando (1986), de Mussi et al. (1988),
de Silveira (1991), de Soares (1990), de Goldner (1994), de Cox Consultores (1984), de
Marco (1994) e de Martins (1996), todos para a realidade brasileira de shopping centers.
Na Tabela 6.1, mostram-se resumidamente os parâmetros citados nos estudos brasileiros.
De maneira geral, os estudos brasileiros estudam shopping centers com diferentes
características: já implantado ou a ser implantado; dentro da área urbana (central) ou fora
da área urbana (periférico), em cidades de médio ou de grande porte, destinados a lazer ou
compras e serviços. Essas particularidades fazem com que os valores encontrados para os
parâmetros de traçado de área de influência variem entre si.
Ainda sobre critérios de delimitação de área de influência para shopping centers, só
que localizados em outros países, destacam-se os estudos de Keefer (1966), de Dunn
& Hamilton (1971), do Urban Land Institute (1971) e de Roca (1980). Na Tabela 6.2,
apresentam-se resumidamente os critérios para traçado da área de influência de diversos
estudos estrangeiros.
No geral, os estudos disponíveis na bibliografia internacional apresentam como crité-
rios para traçado de áreas de influência as variáveis distância e tempo de viagem, havendo
diferenças nos valores adotados pelos distintos estudos. Observa-se, entretanto, que, tanto
no Brasil como no exterior, os estudos indicam limites da área de influência que variam
entre 10 e 30 minutos ou entre 8 e 24 km.
154 Delimitação da área de influência de shopping centers

TABELA 6.1 Área de influência de shopping centers, parâmetros de alguns


estudos brasileiros

Autores Área Primária Área Secundária Área Terciária Variáveis utilizadas

CET-SP 60% das viagens estende-se a em uma de distância de até 5 km


Distância de viagem
(1983) 80% das viagens estende-se a em até 8 km do shopping center

Grando Atrai 45% das viagens Atrai 40% das viagens Atrai 8,3% das viagens Atratividade; tempo e
(1986) de até 10 min de 10 a 20 min de 20 a 30 min distância de viagem

Forte polarização De 15 a 20 min a Distância e


Polarização moderada
Mussi et al. comercial numa área atração vai se tempo de viagem
numa área entre 10 a
(1988) distante até 10 min reduzindo sensivelmen- Competitividade
15 min de viagem
de viagem te até se esvair Barreiras físicas

Atrai 24,5% das Atrai 20,8% das


Silveira Atrai 37,7% das Atratividade; tempo e
viagens de 10 a 20 viagens de 20 a 30
(1991) viagens de até 10 min distância de viagem
min min

Cox Consul- Atrai 45% Atrai 40% Atrai 8,3%


Atratividade
tores (1984) das viagens das viagens das viagens

Soares De 4 a 8 km; até 10 De 8 a 11 km; De 10 Até 24 km; De 20 a Distância de viagem


(1990) min de viagem a 20 min de viagem 30 min de viagem Tempo de viagem

*Atrai 20,1% das *Atrai 18,3% das


*Atrai 48,3% das viagens de até 10 a viagens de 20 a 30
Atratividade
Goldner viagens de até 10 min 20 min min
Tempo de viagem
(1994) **Atrai 55,4% das ** Atrai 36,2% das ** Atrai 7,2% das
Distância de viagem
viagens de até 10 min viagens de 10 a 20 viagens de 20 a 30
min min

Área imediata: até 5 min de viagem


Renda familiar
Marco Área primária: de 5 a 10 min de viagem
Segmento populacional
(1994) Área expansão: fora dos limites da área de influência
Comércio concorrente
(mais de 10 min de viagem)

#
83% das viagens estende-se a até 2 km
## Padrão construtivo
34% das viagens são de até 1 km; 17% de 1 a 3 km
Martins do pólo e do bairro
18% de 3 a 5 km e 29% de 5 a 17 km
(1996) ### de origem do usuário
25% das viagens são de até 1 km; 20% de 1 a 3 km
Distância de viagem
16% de 3 a 5 km e 34 % de 5 a 17 km

Legenda:
*shopping fora da área urbana (periférico);
**shopping dentro da área urbana (central);
#
shopping center com torre de escritórios em bairro residencial nobre;
##
shopping center com torre de escritórios em centro de comércio e serviços;
###
shopping center com centro de comércio e serviços.
Metodologia para traçado da área de influência 155

TABELA 6.2 Área de influência de shopping centers, segundo estudos estrangeiros

Autores Área primária Área secundária Área terciária Variáveis utilizadas

Área de influência de um shopping center cobre até 8 km Distância e tempo


Keefer (1966)
de raio ou 20 min de viagem de viagem

Urban Land Institute De 15 a 20 min de Até 25 min de Distância e tempo


Até 5 min de viagem
(1971) viagem viagem de viagem

Distância e tempo de
viagem
De 4,8 a 8 km De 8 a 11 km Até 24 km
Comércio
Roca (1980) Até 10 min de Não superior a Não superior a
concorrente
viagem 20 min de viagem 30 min de viagem
Estudo do segmento
populacional

Dunn & Hamilton Até 10 min de De 10 a 20 min de De 20 a 30 min de


Tempo de viagem
(1971) viagem viagem viagem

6.3 n Metodologia para traçado da área de influência


A metodologia desenvolvida por Corrêa (1998) é destinada à delimitação de áreas de in-
fluência de shopping centers isolados — sem um shopping center concorrente dentro da
isócrona dos 20 minutos —, com área total construída entre 30.000 e 85.000 m2, a serem
implantados em cidades de médio porte. Entretanto, os procedimentos propostos podem
servir como guia para outros shopping centers e mesmo para outros tipos de empreendi-
mentos, feita a introdução dos devidos ajustes relativos a suas especificidades.
O traçado da área de influência de um shopping center auxiliará técnicos e planejadores
de transportes que atuam no setor a visualizarem os impactos causados por esses centros
em áreas urbanas, tornando possível, mediante um estudo minucioso da região, um relato
sobre a viabilidade de implantação do pólo, quanto a aspectos econômicos, de tráfego e de
transportes. A Figura 6.1 esquematiza a estrutura da metodologia proposta.
Esse procedimento é decorrente da análise de diversos estudos voltados ao assunto,
surgindo de aperfeiçoamentos nas metodologias descritas por Roca (1980), Mussi et al.
(1988) e Marco (1994) e de levantamentos de dados realizados nos Shopping Centers
Itaguaçu e Beiramar, localizados na Grande Florianópolis (SC).
Os dados obtidos foram coletados nas administrações e principalmente por meio de en-
trevistas com os usuários dos shoppings. Foram levantados dados sobre sexo, idade, esco-
laridade, atividade profissional, endereço, origem da viagem, modo de transporte utilizado
para chegar ao estabelecimento, número de automóveis que possui, posse de carteira de
habilitação, número de pessoas no domicílio, posição dentro da família, número de pessoas
economicamente ativas na família, renda familiar, padrão da residência, número de vezes
156 Delimitação da área de influência de shopping centers

que costuma freqüentar o local e o principal concorrente, supermercado de que costuma se


utilizar, distribuição das viagens por isócrona, opinião a respeito do transporte coletivo que
serve a região e das condições de tráfego para atingir o shopping.

1 Estudo para a localização


do shopping center

2 Informações gerais sobre


o shopping center

3 Definição do sistema
viário principal

4 Divisão da região de
implantação, em bairros ou zonas

5 Estudo do sistema de
transportes da região

6 Traçado de isócronas

7 Traçado de isócotas

8
Localização espacial do principal centro de comércio
da cidade e definição dos principais pólos geradores
de tráfego concorrentes da região

9 Divisão da área de influência

9.2
9.1 Definição da área de 9.3
influência secundária
Definição da área de Definição da área de
influência primária 9.2.1 influência terciária
Subdivisão da área de influência
secundária em A/B/C
9.3.1
Subdivisão da área
de influência terciária
10 Sugestão para o tenant mix
em A/B/C

Estudos
anteriores
11 Análise de viabilidade de implantação Aperfeiçoamentos
propostos
do shopping center

FIGURA 6.1 Estrutura esquemática da metodologia proposta.


Metodologia para traçado da área de influência 157

Para caracterizar a área de influência, a metodologia sugere o uso de mapas, em escala


apropriada, de fotografias aéreas e levantamentos complementares de campo. O detalha-
mento de cada uma das etapas da metodologia é descrito a seguir.
1. Localização do shopping center. Indica-se no mapa de logradouros da cidade, nas
escalas 1:7.500, 1:8.000 ou 1:10.000, conforme o tamanho da cidade e a capacidade
de identificação dos nomes das vias, o local destinado à implantação do shopping cen-
ter.
2. Informações gerais sobre projeto do shopping center. A metodologia sugere o le-
vantamento de informações como área bruta locável (ABL), área total construída, área
total do terreno, número de vagas para estacionamento de veículos particulares dos
usuários do pólo, a distribuição e o tipo de comércio das lojas, áreas de lojas âncoras,
entradas e saídas de pedestres e de veículos particulares, local de carga e descarga de
mercadorias e local de estacionamento desses veículos, local de estacionamento de táxi
e ônibus de excursão.
3. Definição do sistema viário principal. Indicam-se no mapa de logradouros as prin-
cipais rotas, fornecendo desta forma uma visualização geral das vias de acesso que
servirão o futuro empreendimento.
4. Divisão da região de implantação em bairros ou zonas. Indica-se no mapa a divi-
são dos bairros ou zonas, localizados em torno da região de implantação.
5. Estudo do sistema de transportes da região. Identificam-se os sistemas de trans-
porte coletivo (ônibus, metrô, barca e trem) existentes na região de estudo, os locais
destinados a embarque e desembarque de passageiros desses meios de transportes e
localizam-se os estacionamentos públicos ou privados situados em torno do local de
implantação.
6. Traçado de isócronas. Sugere-se traçá-las de 5 em 5 minutos, até o tempo de 30
minutos, ou menos, de acordo com as circunstâncias, com base em viagens pelos prin-
cipais itinerários ou rotas que darão acesso ao futuro pólo. As viagens são realizadas
com automóvel, em horário de fluxo normal, excluindo-se períodos sem movimento ou
de pico, dentro dos limites de velocidade das vias.
7. Traçado de isócotas. Sugere-se traçá-las no mapa com o auxílio de um compasso,
atendendo na escala a proporção de 1 em 1 quilômetro. Toma-se o centro do shopping
center como referência e chega-se até o limite da área de influência, o que normalmen-
te significaria atingir a isócrona dos 30 minutos.
8. Localização espacial do principal centro de comércio da cidade e definição dos
principais pólos geradores de tráfego concorrentes. Indica-se no mapa a locali-
zação do principal centro de comércio da cidade e dos principais pólos geradores de
tráfego existentes nos bairros próximos ao shopping center. Serão indicados shopping
centers, centros comerciais, supermercados, hipermercados e outros centros de gran-
de porte, como restaurantes, boates, cinemas e teatros.
158 Delimitação da área de influência de shopping centers

9. Divisão da área de influência. A área de influência poderá ser dividida em área de


influência primária, secundária (A, B, C e outra, conforme for conveniente ao plane-
jador de transportes, de acordo com as características da cidade) e terciária (A, B, C
e outra, conforme for conveniente ao planejador de transportes, de acordo com as
características da cidade). Para facilitar a definição de cada uma dessas subáreas, são
apresentadas a seguir suas características.
9.1 Características da área de influência primária. De qualquer ponto dessa área, con-
sidera-se que o futuro usuário atinja o shopping center entre 5 e 10 minutos de
viagem por automóvel, dependendo das condições apresentadas pelo tráfego e do
acesso da região. O principal centro de comércio da cidade e os pólos geradores de
tráfego que venham a apresentar concorrência direta ao futuro shopping center não
devem fazer parte dessa área. São pontos positivos: população residente com renda
elevada e pertencente às classes sociais média e alta, densidade residencial elevada,
boa oferta de transporte coletivo por ônibus e índice de motorização elevados.
9.2 Características da área de influência secundária. De qualquer ponto dessa área,
considera-se que o futuro usuário vá atinjir o pólo entre 10 e 20 minutos de
viagem por automóvel, com variações dos tempos descritos devidas às condições
apresentadas pelo tráfego e vias de acesso na região.
9.2.1 Características da área de influência secundária A . Normalmente, está inti-
mamente ligada com a região onde se localizará o futuro pólo, ou próxima
ao principal centro de comércio da cidade. Apresenta população com renda
elevada e classe social média e alta, com a alta em menor proporção. O
índice de motorização geralmente é elevado em relação às demais áreas
secundárias. Há boa oferta de transporte coletivo por ônibus. Apresenta al-
guns estabelecimentos comerciais, porém o shopping center ainda exercerá
a mais forte atração sobre a região.
9.2.2 Características das áreas de influência secundárias B, C e outra. Não devem
englobar o principal centro de comércio da cidade, quando este se localizar
dentro da isócrona dos 20 minutos de viagem. Não devem ser constituídas
por pólos geradores de tráfego que venham a concorrer com o empreen-
dimento. Apresentam área residencial densamente povoada e população
pertencente às classes média e baixa, com a média em maior índice. Para se
subdividir a área de influência secundária em B, C e outra, leva-se em conta
que a mais afastada em relação ao pólo será aquela que menos depender
desse em relação ao comércio nele existente, ainda que ele exerça forte
atração sobre a área.
9.3 Características da área de influência terciária. De qualquer ponto dessa área, con-
sidera-se que o futuro usuário atinjará o shopping center entre 20 e 30 minutos
de viagem por automóvel, variando de acordo com as condições apresentadas pelo
tráfego e as vias de acesso na região.
Aplicação da metodologia adotada: delimitação da área de influência do Shopping Itaguaçu 159

9.3.1 Características da área de influência terciária A . Deverá abranger o princi-


pal centro de comércio da cidade quando este se localizar de 20 a 30 minu-
tos do shopping center ou mesmo quando se localizar a tempos menores. A
região é altamente comercial, podendo apresentar áreas residenciais pouco
densas. Apresenta população pertencente às classes sociais média e alta,
com a média em maior proporção.
9.3.2 Características das áreas de influência terciárias B, C e outra. Possuem for-
te comércio local, como hipermercados, supermercados, complexos de lojas
(minishoppings) e outros tipos de comércio em geral, tornando-as, dessa
forma, independentes do comércio existente no shopping center, sendo
portanto áreas altamente competitivas para o pólo. Apresentam população
pertencente às classes sociais média e baixa, com a média em maior propor-
ção, e áreas de elevada densidade residencial. Para subdividi-las em área de
influência terciária B, C e outra, leva-se em conta o tempo de viagem para
se atingir o pólo e, principalmente, o potencial de comércio existente em
cada uma delas. Assim, a área de influência terciária outra, por apresentar
um forte comércio local altamente competitivo para o pólo, deverá ser a
mais afastada em relação ao empreendimento.
10. Sugestão para o tenant mix. Este visa a localizar e distribuir estrategicamente as
lojas que constituirão o shopping center segundo suas atividades de comércio. A carên-
cia ou a abundância de determinado comércio na área de influência, principalmente nas
áreas primária e secundária, pode sugerir tipos de comércio e lojas que poderão fazer
parte do empreendimento.
11. Análise de viabilidade de implantação do shopping center. Com a delimitação
das áreas de influência e de suas subdivisões, avalia-se a viabilidade de implantação
do shopping center no local preestabelecido pelo empreendedor e realiza-se o estudo
de tráfego da região, analisando-se a viabilidade em termos de circulação, acessos e
estacionamento.

6.4 n Aplicação da metodologia adotada: delimitação da


área de influência do Shopping Itaguaçu
Apesar de a metodologia apresentada se destinar a shopping centers a serem implantados,
realiza-se sua aplicação no Shopping Itaguaçu já instalado, localizado no município de São
José, região metropolitana de Florianópolis. Quando esse shopping foi implantado, em
1982, a região circunvizinha encontrava-se praticamente despovoada, sendo necessária
então agora uma reavaliação da área de influência do mesmo, de modo a caracterizar seus
aspectos socioeconômicos e de transportes.
Para tornar possível a aplicação da metodologia nesse caso, é necessário respeitar as
seguintes restrições:
160 Delimitação da área de influência de shopping centers

∑ o local a ser implantado o pólo já fica definido como sendo o atual;


∑ desconsidera-se a presença do Shopping Beiramar localizado dentro da isócrona
dos 20 minutos.
A partir dessas restrições, é aplicada ao pólo cada uma das etapas descritas na meto-
dologia. São obtidas as conclusões abaixo para cada um dos tipos que constituem a área de
influência.
a) Área de influência primária:
A maior parte da população pertence as classes média e baixa, quanto ao poder aqui-
sitivo, quando de preferência, deveria haver classes média e alta;
essa região não é servida por um sistema satisfatório de transporte coletivo de ônibus,
fato que contribui para diminuir a atratividade pelo pólo.
b) Áreas de influência secundárias:
a secundária A possui fraco comércio local e fortes meios de comércio alternativos em
seu entorno, indicando que a área A não depende totalmente do pólo;
as secundárias B e C são fortemente atraídas para pólo devido ao curto tempo de via-
gem, fraco comércio local e facilidades de acessos;
as secundárias D e E apresentam um fraco comércio local; dependem de outras áreas,
porém, devido ao tempo de viagem e facilidades de acesso, e são fortemente atraídas
pela área de influência terciária A, onde encontra-se o principal centro de comércio da
Grande Florianópolis.
c) Áreas de influência terciárias:
a terciária A foi caracterizada segundo o descrito na metodologia;
as terciárias B e C apresentam forte comércio local, o que representa concorrência
direta para o pólo. Encontram-se muito próximas do pólo, 6 a 12 minutos de viagem,
discordando do descrito na metodologia, atraem populações das áreas primária e se-
cundárias, fato decorrente do diversificado comércio que apresentam.

Como o pólo encontra-se implantado desde 1982, pode-se concluir que sua localização
não inviabiliza o projeto, mas o torna menos atrativo, já que é servido por ônibus em um
sistema de transporte coletivo pouco eficiente. Além disso, apresenta uma área de influ-
ência primária constituída por uma população pertencente às classes sociais média e baixa,
portanto um menor poder aquisitivo.
O traçado da área de influência do Shopping Itaguaçu, segundo Corrêa (1998), pode
ser visualizado na Figura 6.2.
Considerações finais 161

Município
de Biguaçú
30′

Saco Grande
25′ Cacupé
Serraria
Sambaqui
Rio Vermelho
Praia do Santinho
Área de 20′ Ingleses
influência Praia Brava
secundária C Ponta das Canas
Potecas
Canavieiras
15′ Jurerê
Daniela

10′
Agronômica
10′
20′ Município Área de
de São José influência Área de
15′ 5′ primária influência
secundária D
25′
Santa 30′
Área de Mônica
Município
influência de 20′
terciária C Florianópolis
Área de Trindade
Área de
influência influência
terciária A Morro
Colônia terciária 15′ da
Santana Área de Cruz
influência Área de Joaquina
Shopping Córrego Praia Mole
Área de Itaguaçu secundária A influência Grande Barra da
influência secundária B
Lagoa
secundária B Galheta
Limões Lagoa da
10′ José Pantanal Conceição
Mendes

15′
30′
Município Fazenda
de Palhoça Sto. Antônio Costeira do Pirajubaé
20′ Carianos
Ponta Aeroporto Intern.Hercílio Luz
de Tapera
baixo 25′ Campeche
Morro das Pedras
Armação Sem Escala
Pântano do Sul

FIGURA 6.2 Delimitação das áreas de influências primária, secundárias e terciárias.

6.5 n Considerações finais


O traçado da área de influência delimita a área geográfica onde ocorrem os possíveis pro-
blemas de fluidez e segurança do tráfego, devendo ser estudado com detalhes, a fim de
levantar a situação atualizada do sistema viário, quanto à demanda, à capacidade e aos
níveis de serviço.
A partir da divisão da área de influência e de sua localização em relação às isócronas
e isócotas, é possível realizar uma melhor distribuição do tráfego atraído pelo empre-
endimento a ser implantado. Essas são etapas importantes no estudo dos impactos dos
shopping centers no sistema viário. Além disso, o estudo da área de influência determina
as características socioeconômicas da população na região, permitindo que se obtenham
conclusões sobre a viabilidade de implantação do empreendimento.
A metodologia desenvolvida por Corrêa (1998) permite, mediante a execução de seus
passos, que se trace a área de influência do shopping center, obedecendo aos requisitos de
que o empreendimento seja isolado e localizado numa cidade de porte médio, já que o mé-
todo foi desenvolvido com base em levantamentos de dados de shopping centers da Grande
Florianópolis, que possuem essas características.
162 Delimitação da área de influência de shopping centers

Foi realizada uma aplicação da metodologia a um caso específico, para mostrar como
se elabora o traçado da área de influência e para apontar algumas divergências entre a
prática realizada e o método proposto por Corrêa (1998).
De qualquer forma, conclui-se que a metodologia proposta é exeqüível e útil ao pla-
nejador de transportes, além de se mostrar um instrumento importante no processo do
estudo de viabilidade técnica e econômica de um empreendimento.
Por fim, considerando-se a natureza do procedimento de delimitação da área de in-
fluência, envolvendo características espaciais de análise, é recomendável contemplar o SIG
- Sistema de Informações Geográficas como importante ferramenta de apoio.

Bibliografia
BACON, R. W. The travel to shop behavior of consumers in equilibrium market areas. Journal of
Transport Economics and Policy, Londres: The London Scholl of Economics and the University
of Bath, 26(3), p. 283-298, 1992.
CARVALHO, B. N. R. Um modelo de acessibilidade explícita na previsão de demanda de viagens à
shopping centers. 1994. Tese (Mestrado) — Programa de Pós-Graduação em Engenharia de
Produção e Sistemas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
CET-SP — COMPANHIA DE ENGENHARIA DE TRÁFEGO. Pólos geradores de tráfego. Boletim Téc-
nico, São Paulo, n. 32, 1983.
CORRÊA, M. M. D.; GOLDNER, L. G. Uma metodologia para delimitação da área de influência de
shopping centers, In: CONGRESSO DA ANPET, 13., 1999, São Carlos, p. 62-71.
CORRÊA. M. M. D. Um estudo para delimitação da área de influência de shopping centers . 1998.
Tese (Mestrado) — Curso de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal de
Santa Catarina, Florianópolis.
COX, R. CONSULTORES. Estudo de tráfego e acesso para o Shopping Center Norte. Rio de Janeiro.
1984.
DUNN, R. C. M.; HAMILTON, E. D. Transportation engineering design of shopping centers. Traffic
Engineering and Control, Londres, 1971.
GOLDNER, L. G. Uma metodologia de avaliação de impactos de shopping centers sobre o sistema
viário urbano. 1994. Tese (Doutorado) — Programa de Engenharia de Transportes, COPPE/
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
GRANDO, L. A interferência de pólos geradores de tráfego no sistema viário: análise e contribuição
metodológica para shopping centers. 1986. Tese (Mestrado) — Programa de Engenharia de
Transportes, COPPE/Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
KEEFER, L. E. Urban travel patterns for airports, shopping centers and industrial plants. Highway
Research Board, Washington, D.C., n. 24, p. 33-39, 1966.
MARCO ESTUDOS & PROJETOS. Shopping Center Itaguaçu – análise socioeconômica. Florianópo-
lis, 1994.
Bibliografia 163

MARTINS, J. A. Transporte, uso do solo e auto-sustentabilidade. 1996. Tese (Doutorado) —. Pro-


grama de Engenharia de Transportes da COPPE/Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro.
MATTAR, F. N. Pesquisa de marketing: metodologia, planejamento, execução e análise. 2. ed., São
Paulo: Editora Atlas, 1994.
MUSSI, C. W.; SACHET, S.; CANALI, R.V.; GRANDO, L.; CARVALHO, J.L.A.; FERREIRA, E.A.; SAL-
VADOR, L.C.A.; FERNANDES NETO, H.; CARDOSO, A.M.C.; JAMUNDÁ, C. Shopping Center
Beiramar – Análise socioeconômica. Florianópolis, 1988
ROCA, R. Market research for shopping centers. Basic Research Procedures, Nova York: Internatio-
nal Council for Shopping Centers, 1980.
SILVEIRA, I. T. Análise de pólos geradores de tráfego segundo sua classificação, área de influência
e padrões de viagem. 1991. Tese (Mestrado) — Programa de Engenharia de Transportes da
COPPE/Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
SOARES, M.V. Método para estabelecimento da capacidade de uma rede viária: Aanálise dos efeitos
da implantação de pólos geradores de tráfego. 1990. Tese (Mestrado) — Programa de Enge-
nharia de Transportes da COPPE/Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
TAGLIACARNE, G. Pesquisa de mercado: técnica e prática. 2. ed. São Paulo: Editora Atlas, 1978.
VEPLAN – RESIDÊNCIA, EMPREENDIMENTOS E CONSTRUÇÕES S.A. Shopping Center Itaguaçu.
Florianópolis, 1979.
URBAN LAND INSTITUTE. The community builders handbook . Washington, D.C., 1971.

Você também pode gostar