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CAPÍTULO I

O PODER DA PALAVRA FALADA

Poderíamos dizer que há poder na palavra falada? Inicialmente pensemos


na “Palavra de Deus”. Ao lermos esta expressão, sempre nos lembramos da Bíblia
Sagrada ou Escrituras Sagradas. Contudo a Palavra de Deus pode também ser falada.
Em Gênesis 1:1 “No princípio, criou Deus os céus e a terra” nos indica que
antes dessa ocasião não havia tempo nem lugar, somente Deus. E as coisas foram
criadas pela Palavra de Deus. E como isso aconteceu? Salmos 33:6 e 9 nos dá uma
alusão com clareza sobre o assunto: “Os céus por sua palavra se fizeram, e, pelo sopro
de sua boca, o exército deles. Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a
existir”. E também podemos perceber em Hebreus 11:3 que o Universo foi “... formado
pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não
aparecem”.
Não há nenhum outro relato de um acontecimento mais fantástico do que
este. Deus simplesmente falava e tudo acontecia surgindo, conforme a Sua vontade e
planos que haviam em Sua mente. “Disse Deus: Haja luz”, “Haja firmamento”, “Haja
luzeiros no firmamento”, “apareça a porção seca”, “produza a terra seres viventes”.
Sim, Deus disse: “Haja... e houve...” (Gn 1) exatamente como disse a Palavra de Deus.
A Palavra de Deus é o elemento mais poderoso que há no Universo. Ela é
tão igualmente poderosa quanto a que veio por intermédio dos Seus servos. E isso é
verdade não apenas com à Palavra que escreveram, também com a Palavra que
proferiram. Mas voltando um pouco na história, vemos que a Palavra Escrita surgiu a
partir de Moisés ao passo que anteriormente, ela era de forma oral dita de pai para filho
ao longo dos séculos. Mas após a escrita, os profetas (NABI em hebraico) antes de
escreverem as Palavras de Deus muitas vezes as proclamavam de viva voz. Assim, a
Palavra na boca dos mensageiros de Deus era a Palavra de Deus.
Relembremos alguns exemplos bíblicos. Quando Moisés foi comissionado
por Deus para liderar o Seu povo, disse-lhe: “Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca
e te ensinarei o que hás de falar” (Êx 4:12). A partir de então, tudo o que Moisés falava,
acontecia exatamente do mesmo modo e por ele indicados. A palavra proferida por
Moisés para o Faraó, o Egito e para Israel eram as Palavras de Deus.
Certa vez Josué, líder do povo de Deus, em meio a uma batalha, ordenou
aos astros “... E o Sol se deteve” no meio do céu, “... e a Lua parou” e isso tudo por
quase um dia inteiro (Js 10:12 e 13). Esse acontecimento foi por causa da Palavra de
Deus por intermédio de Seu mensageiro.
Outro episódio elucidativo é o que aconteceu com Elias. Ele “disse a
Acabe: Tão certo como vive o SENHOR, Deus de Israel, perante cuja face estou, nem
orvalho nem chuva haverá nestes anos, segundo a minha palavra” (I Rs 17:1). E veio,
então, um período de terrível estiagem, até que três anos e meio depois ele se ajoelhou
no cume do Carmelo e falasse a Deus, para que a chuva voltasse e “dentro em pouco os
céus se enegreceram, com nuvens e vento, e caiu grande chuva” (I Rs 18:41-46; Tg 5:17
e 18).
Não poderíamos deixar de mencionar o poder da Palavra de Deus nos lábios
de Jesus. Em certa ocasião, “... trouxeram-lhe muitos endemoninhados; e ele
meramente com a palavra expeliu os espíritos e curou todos os que estavam doentes;”
(Mt 8:16). Outra vez “veio à Sua presença um homem coberto de lepra” que “suplicou-
Lhe: Senhor, se quiseres, podes purificar-me”. Jesus então falou: “Quero, fica limpo!
E, no mesmo instante, lhe desapareceu a lepra” (Lc 5:12 e 13).

1
Para um centurião que desejava a cura de seu servo, o qual estava a certa
distância de Jesus, este lhe disse: “Vai-te, e seja feito conforme a tua fé. E, naquela
mesma hora, o servo foi curado” (Mt 8:13). Ao enfrentar uma forte tempestade numa
pequena embarcação, Ele “repreendeu o vento e disse ao mar: Acalma-te, emudece! O
vento se aquietou, e fez-se grande bonança” (Mc 4:39).
Verificamos, portanto, que a Palavra de Deus quer ela seja diretamente
proferida por Ele, quer tenha vindo por Cristo ou por intermédio de Seus mensageiros, é
tremendamente poderosa. Sendo assim, o que dizer da palavra falada pelo homem?
Isto é, a palavra falada por uma pessoa comum, sobre assuntos seculares, e que não é
fruto da inspiração divina? Tem ela algum poder? É claro que sim! A palavra
meramente humana pode entristecer, angustiar, animar, alegrar, convencer, persuadir,
provocar mudanças, fazer as coisas acontecerem.
Quer falemos a uma única pessoa, quer falemos a um auditório, nossa
palavra tem poder. Este poder varia de indivíduo para indivíduo, de modo que, quanto
mais importante for uma pessoa aos olhos dos homens, quanto maior autoridade
possuir, maior será o peso, o poder de sua palavra. Assim, um cidadão comum pode
expressar sua opinião sobre determinado assunto e como resultado pouco ou nada
acontecerá. Contudo, se uma importante autoridade expressar o mesmo ponto de vista,
algo vai acontecer.
É de suma importância saber a que público irá atingir. Tal palavra pode ter
um grande efeito para o bem ou para o mal. Com o poder da palavra alguns indivíduos
conseguiram até alterar o curso da História. Entre eles podemos citar Jesus Cristo que
usou o poder da Palavra para transformar vidas, Maomé que era analfabeto e disse ter
escrito o “Livro Sagrado dos Mulçumanos” com o poder da palavra arrebatou uma
grande legião de seguidores, Hitler que era carismático e com o poder da palavra
persuadiu muitas pessoas para fazerem suas vontades, etc.
Se a palavra meramente humana pode ser tão poderosa, recordemos que
nossas palavras terão ainda maior poder se estiverem a serviço de Deus. Segundo a Sra.
Ellen G. White: “de todos os dons que recebemos de Deus, nenhum é capaz de se tornar
maior bênção do que este. ... Cada cristão... deve procurar perfeição no falar. (...) Isto
se aplica especialmente aos que são chamados para o ministério público. (...) E para
algumas almas a maneira de alguém apresentar a mensagem determinará sua aceitação
ou rejeição Seja pois falada a verdade de modo que apele ao arrependimento e
impressione o coração. Seja ela pronunciada compassada, distinta, e solenemente, mas
com toda a sinceridade que sua importância requer. A cura e uso conveniente do dom
da palavra relaciona-se com todos os ramos da obra cristã... Devemos acostumar-nos a
falar em tom agradável, usando linguagem pura e correta, com palavras amáveis e
corteses”1.
Uma vez que você escolheu servir a Deus, aproveite a oportunidade de educar bem sua
voz de modo que ela possa ser mais poderosa e efetuar um maior bem à Igreja e à
humanidade.

1
Ellen G. White, Parábolas de Jesus (Santo André, SP: Casa Publicadora
Brasileira, s/dt.), 336.

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CAPÍTULO II

A HISTÓRIA DO DISCURSO2

Não se sabe quem foi o primeiro homem a discursar, nem qual o conteúdo
de sua mensagem, mas sabemos que foram os gregos os primeiros a descobrir as
melhores técnicas para falar em público. Quando, na sociedade democrática em que
viviam, os cidadãos gregos se reuniam nas praças para analisar e decidir sobre os
problemas urbanos comuns, havia alguns que se destacavam, que eram mais admirados
e cujas ideias eram mais seguidamente acatadas. Percebeu-se que eles possuíam alguns
pontos em comum, algumas técnicas, quanto à maneira de falar e de se expressar, que
aos poucos foram sendo estudados e transformados em regras. Surgiu, assim, uma nova
arte, chamada por eles de “retórica”, palavra esta derivada de “rêtos”, que em grego
significa “palavra falada”. Falar em público tornou-se a “coqueluche” do momento, e
por todo o país surgiram mestres dispostos a ensinar os que estivessem interessados.
Isso aconteceu justamente quando a Grécia alcançava seu apogeu, com a
consolidação da democracia, por volta do ano 500 a.C. O primeiro homem a propor as
normas de um discurso foi Córax, da cidade de Siracusa. Ele era um sofista, um mestre
popular de filosofia, sem muita profundidade e ética, que ensinava com objetivos
financeiros. Talvez, por essa razão – o receio de que a retórica fosse utilizada por gente
leviana e mal intencionada – foi que os grandes filósofos gregos – Sócrates, Platão e
Aristóteles – preocupavam-se em que ela estivesse sempre à serviço da verdade. A
retórica grega abrangia as áreas política, forense e epidítica (demonstrativa), mas nunca
foi utilizada para propagar a religião. O maior orador grego foi Demóstenes.
Tempos depois, quando os romanos conquistaram os gregos e tornaram-se
um império mundial, acabaram assimilando muito da cultura grega, interessando-se
também pela retórica, que passaram a empregar com o nome de “oratória”, derivado de
“oris” que significa boca, em latim, a língua romana.
O maior orador romano foi Cícero (106 – 43 a.C.). Era um estudioso
incansável e tornou-se erudito em vários ramos do saber. Graças ao seu conhecimento e
à sua eloqüente oratória tornou-se um célebre advogado e renomado estadista. Também
ficou famoso pelas teorias que expôs sobre a oratória. Contudo, o maior teórico foi
Quintiliano (c. 35 – 95 A.D.), natural da Espanha. Lecionou oratória por vinte anos e
escreveu a melhor e mais completa obra de oratória da antigüidade, “Instituição
Oratória”. Assim como os gregos, os romanos nunca fizeram uso da oratória para
divulgar a religião.
As religiões pagãs nunca se interessaram por divulgar suas crenças através
de discursos e em seus rituais não havia espaço para a pregação. Entre os judeus,
embora houvesse algo nesse sentido, era em pequena escala e bastante informal. Temos
o caso dos profetas que, de tempos em tempos, faziam certas proclamações nas cidades
e no pátio do templo e a prática empregada nas sinagogas, de ler uma parte das
Escrituras e efetuar comentários simples sobre o conteúdo. Assim, podemos afirmar
que as técnicas da oratória não foram conscientemente utilizadas para propagar a
religião, qualquer religião, até o advento do cristianismo.
Mesmo os primeiros cristãos, limitavam-se, em seus cultos, a seguir o
procedimento que haviam aprendido nas sinagogas. Nos sermões dos tempos
apostólicos, mais especificamente nos de Paulo, podemos perceber a presença de

2
Adaptado de Plínio Moreira da Silva, A arte de pregar o Evangelho (Mogi das
Cruzes, São Paulo: Sociedade Literária e Religiosa ABECAR, 1982), 16-21.

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algumas técnicas de oratória. Possivelmente, já que ele era um doutor, tivesse
conhecimento dessa arte e a utilizasse para propagar a fé cristã.
Mas foi apenas no IV século que os pregadores cristãos começaram a
estruturar suas mensagens, seguindo as regras da retórica grega e da oratória romana.
Entre os mais destacados citamos os pregadores gregos Basílio e Crisóstomo e os
latinos Ambrósio e Agostinho. Assim surgiu a oratória sacra, que, no século XVII –
quando se convencionou dar nomes gregos às disciplinas teológicas – passou a se
chamar homilética. Esta palavra é derivada de homilia, que originalmente equivalia a
“conversa” e que, com o decorrer do tempo, veio a significar “discurso”.
Assim, homilética é um ramo da retórica ou da oratória que trata do preparo e da
apresentação de sermões e, como disciplina, pertence à área da teologia aplicada. Suas
regras visam a facilitar a propagação do evangelho feita pelo pregador e o entendimento
e a aceitação por parte dos ouvintes.

CAPÍTULO III

A CULTURA FÍSICA DA VOZ

Cada pessoa tem uma voz tão própria, tão inconfundível, quanto o rosto ou as
impressões digitais. Ela é um produto de todo o organismo e não apenas do aparelho
fonador. Através dela todo o nosso ser se revela. A voz mostra a saúde, a cultura, a
região de origem, o grau de segurança, o temperamento, a emoção e outras
informações daquele que está falando. De fato, ela é a própria expressão sonora da
personalidade. Diz um provérbio: "Fala para que eu te veja".
Um dos elementos mais importantes para se viver bem e para se alcançar
sucesso é ter uma voz bem modulada e que revele e possa gerar confiança e
solidariedade. Infelizmente, são muitos os que fazem um mau uso da voz. Isto pode
ocorrer por vários motivos: respiração errada, falta de abrir bem a boca, forçar as cordas
vocais, ataque vocal defeituoso, tom inadequado, intensidade excessiva, deficiência de
articulação e de ressonância. Além disso, quando não se utiliza uma boa técnica vocal,
muita energia é gasta inutilmente.
A voz que ouvimos de nós mesmos pode não ser a mesma que os outros ouvem. Isto
ocorre porque os outros captam a nossa voz através do ar, ao passo que nós a
ouvimos através do ar e da transmissão óssea. Esta é a razão porque quando
ouvimos uma gravação de nossa própria voz, nós a estranhamos. Seja qual for o
timbre de nossa voz e o uso que dela tenhamos feito, o certo é que ela pode ser
aperfeiçoada. Qualquer voz pode ser melhorada, contanto que façamos, com
dedicação e paciência, os exercícios apropriados. A educação física da voz
compreende três elementos:

Emissão vocal

É o ato de expelir a voz. O orador é um emissor. Ele emite ou envia sua


voz. A emissão deve ser regulada e pausada. É necessário colocar a voz, aprendendo a
respirar de modo a não ser interrompido pela falta de fôlego. A boa empostação vocal
consiste numa série de adaptações que tornam possível uma emissão correta, de boa
qualidade, sem sacrifício, aproveitando da melhor maneira as potencialidades e
possibilidades sonoras.

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Nosso Aparelho Respiratório

Os órgãos que compõem o aparelho respiratório são responsáveis pelo


trabalho de trazer o oxigênio do ar para o organismo, a fim de pô-lo em contato com o
sangue. O aparelho respiratório compreende as vias aéreas e os pulmões.

Vias Aéreas
As vias aéreas são os canais por onde passa o ar atmosférico até chegar aos pulmões.
Elas abrangem as seguintes estruturas:
(a) Fossas nasais
Elas se comunicam com o meio exterior pelos orifícios das narinas. O interior delas
está dividido em duas metades pelo septo nasal; a porção superior de cada fossa
nasal, em contato com a base do crânio, tem função olfativa; a porção inferior tem
função respiratória e é revestida por um epitélio rico em glândulas mucosas, cuja
secreção umedece e filtra o ar inspirado.
(b) Faringe
Sendo uma continuação das fossas nasais, constitui a passagem comum do ar em
direção à traqueia, e dos alimentos em direção ao esôfago.
(c) Laringe
Situada entre a faringe e a traqueia; durante a deglutição, a laringe eleva-se ao
mesmo tempo que a epiglote fecha o orifício de comunicação com a faringe,
impedindo que o alimento entre na traqueia. No interior da laringe encontram-se as
cordas vocais.
(d) Traqueia
É um tubo de aproximadamente l2cm de comprimento e 2cm de diâmetro, formado
por uma série de anéis cartilaginosos, que o mantêm aberto.
(e) Brônquios
São as duas ramificações da traqueia, direita e esquerda, que penetram nos
pulmões. No interior deles, os brônquios se ramificam em tubos cujo diâmetro vai
diminuindo à medida que eles se subdividem, reduzindo-se finalmente a finíssimos
canais, denominados bronquíolos. Estes terminam nos alvéolos pulmonares.
O funcionamento das cordas vocais. O ar, expelido dos pulmões pela
traqueia, provoca a vibração das cordas vocais, que se assemelham a pequenas lâminas
e não a cordas propriamente ditas. A vibração das cordas produz som. A voz resulta da
articulação dos sons da laringe. Esta articulação é feita principalmente pela língua,

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pelos lábios e pelos dentes. A faringe, a cavidade bucal e as fossas nasais servem como
ressoadoras, isto é, reforçadores do som.

(f) Pulmões
Os pulmões são dois órgãos de consistência esponjosa, situados no tórax.

Há entre eles um espaço denominado mediastino. É nos pulmões que o


oxigênio do ar passa para o sangue e o gás carbônico do sangue passa para o ar
atmosférico. Por esta razão, os dois pulmões são considerados os órgãos essenciais da
respiração. As últimas ramificações dos bronquíolos terminam nos alvéolos
pulmonares. Nos dois pulmões há mais de 700 milhões de alvéolos, abrangendo uma
superfície total de aproximadamente 7m2.

Todos os alvéolos pulmonares são percorridos por uma densa rede de vasos
sanguíneos (rede capilar). Através das delgadas paredes desses alvéolos, o sangue

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elimina gás carbônico e recebe oxigênio em seu lugar. Envolvendo os pulmões,
encontram-se duas membranas superpostas, denominadas pleuras.
(g) Fisiologia e Respiração
A renovação do ar contido nos pulmões é feita através dos movimentos
respiratórios. Cada movimento respiratório completo consta de duas fases: inspiração e
expiração.

A inspiração resulta do aumento da caixa torácica. A expiração se dá


quando o tórax volta ao tamanho inicial. Esses movimentos do tórax são produzidos
pela contração e distensão de certos músculos, principalmente do diafragma. No adulto,
em média, são realizadas 16 a 18 inspirações por minuto.
(h) Volumes pulmonares
Em cada movimento respiratório normal, o volume de ar que entra e sai dos pulmões
é de aproximadamente meio litro. Existe uma quantidade de ar que nunca sai dos
pulmões, mesmo quando houver uma expiração forçada ao máximo. É chamado de
“ar residual” e equivale a cerca de l a 1,5 litros.
Tanto numa inspiração forçada ao máximo, como numa expiração forçada máxima o
volume de ar que entra e sai é de 1,5 litros. O volume de ar que pode ser expirado
forçadamente, após uma inspiração também forçada é de aproximadamente 3,5 litros
em um indivíduo normal, enquanto que um atleta pode chegar a 5,5 litros. A
capacidade respiratória total de um adulto normal, i.e., o volume máximo de ar que
ele pode ter em seus pulmões é na média de 4,5 a 5 litros.
(i) A limpeza dos pulmões
Os pulmões são órgãos delicados, sujeitos à infecção ou a danos por contaminação.
No bebê, os pulmões são róseos e no adulto apresentam cor cinza escuro, devido à
acumulação de poeira e outros poluentes. Os alvéolos não dispõem de mecanismos
eficientes para eliminar os poluentes, o que explica os efeitos prejudiciais do fumo.
Calcula-se que o habitante das grandes cidades absorva muitos milhões de partículas
de sujeira por dia. Muitas delas prendem-se aos brônquios ou aos bronquíolos. Essa
sujeira é removida por um fluxo de muco mantido em movimento pela ação dos
cílios (pelos diminutos) situados nas células que forram as vias aéreas. A fumaça do

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cigarro paralisa a ação dos cílios, provocando a acumulação de muco e impurezas,
principalmente o alcatrão.
Os pulmões têm outros meios de eliminação de corpos estranhos além do fluxo de
muco. A tosse representa uma contração reflexa repentina do diafragma e dos
músculos do peito, fazendo o ar ser expelido com violência e removendo assim
obstruções das vias respiratórias. Outro meio é o espirro, durante o qual o ar
expelido sai principalmente pelas fossas nasais. Acredita-se que o ar expelido pelo
espirro tenha velocidade supersônica, o que explicaria o ruído alto que provoca.
A voz começa com uma coluna de ar, produzida pela caixa torácica
músculos respiratórios e principalmente pelo diafragma, que é o músculo que separa o
tórax do abdômen. Este ar entra em vibração à altura das cordas vocais, vibração esta
que é de pouca intensidade e sem qualidade e timbre. Ao continuar sua trajetória, a
coluna de ar chega à faringe, às cavidades da face e à boca, que formam o sistema de
ressonância, e é aí que a voz ganha qualidade, volume e personalidade.
Depois disto entram em cena os órgãos articuladores que transformam a coluna de ar
em sons da fala ou fonemas. São eles: os lábios, os dentes, a língua, o palato duro e
o mole. As diferentes posições destes órgãos produzem os diferentes sons da fala.
Em condições normais, o diafragma é responsável por 75% de nosso esforço nos
movimentos respiratórios. Quando participamos de uma partida de futebol ou de
qualquer outra modalidade esportiva, às vezes sentimos uma “pontada” do lado.
Essa “pontada” é o resultado do excesso de trabalho do diafragma.
A respiração é a ciência da própria vida, é a ciência da saúde, do prolongamento da
juventude e da beleza. É através dela que absorvemos o oxigênio do ar, tão
indispensável à vida e expelimos o gás carbônico que nos é prejudicial. Uma vez
que o som é produzido pelo ar, a respiração correta é o primeiro passo para quem
pretende educar a voz.

Exercícios de Respiração

Primeira Fase:

 Deite-se com as costas para baixo.


 Deixe a cintura livre de qualquer aperto. Afrouxe o cinto.
 Com a boca fechada inspire o ar pelas narinas, sem fazer barulho.
 Segure a respiração e conte (mentalmente) até três.
 Expire pelo nariz, suavemente, soltando aos poucos.
OBS: Repita este exercício várias vezes durante alguns minutos. Faça-o pelo menos
por uns dez dias antes de passar para a próxima fase.
Segunda Fase:
 Fique em pé, ereto, com a cabeça erguida, olhando para a frente.
 Deixe os braços caírem suavemente ao longo do corpo.
 Inspire o ar pelo nariz procurando abrir bem as narinas. Faça isto lentamente.
 Segure o ar inspirado e, erguendo os braços, forme um círculo, tocando as mãos
atrás da cabeça.
 Logo em seguida volte a posição anterior e expire pela boca com um sopro rápido e
forte.
OBS: Repita este exercício por alguns minutos. Pratique-o por uns dez dias antes de
passar para a próxima fase.

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Terceira Fase
 Enquanto caminha, mantenha o corpo ereto, os braços livres e o passo regular.
 Inspire lentamente pelo nariz, contando mentalmente até sete.
 Ainda caminhando, prenda a respiração e conte mentalmente até sete.
 Sempre caminhando, expire lentamente, também contando até sete.
OBS: Repita este exercício várias vezes. Depois de alguns dias você poderá ir
aumentando o tempo, isto é, contando até mais do que sete.

Dicção

É a pronúncia, a articulação correta dos sons das palavras. Exige posição e


movimentos dos lábios, da língua e da mandíbula. Para que a pronúncia seja boa, o
orador deve saber proferir bem as vogais e as consoantes e observar corretamente os
acentos tônicos.
As vogais são fonemas que saem livremente pelo tubo ou canal vocal. Apenas a
forma do tubo é modificada para cada vogal. As consoantes são fonemas produzidos
com obstáculos à passagem da corrente de ar expirado, através do aparelho fonador.
Podemos dizer que as vogais são sons e as consoantes são ruídos, ou, em outras
palavras, a vogal é um som perfeito e a consoante imperfeito.
A voz deve ser empostada, isto é, colocada no lugar certo, sem esforço, com
naturalidade, aproveitando ao máximo as condições oferecidas pelos órgãos
articuladores.
Os exercícios de dicção, praticados com perseverança, serão de grande ajuda
para aquele que quiser possuir uma pronunciação clara, correta e distinta das palavras.
Ao praticar os exercícios que seguem procure estar relaxado, sem forçar os músculos do
pescoço. Empenhe-se para que cada vogal, sílaba ou palavra seja pronunciada da forma
mais correta possível. Procure perceber o movimento da língua, dos lábios e da
mandíbula.

Exercícios de Dicção

Para um melhor aproveitamento os exercícios l e 2 deverão ser realizados


com um bastonete de 2 cm que poderá ser de madeira, cortiça ou borracha. Coloque-o
entre os dentes enquanto se exercita.

Exercício nº 1 – COM VOGAIS

Com os lábios na forma de um sorriso:


i, i, i, i, i, i, i, i, i, i ,i ...
e, e, e, e, e, e, e, e, e, ...
é, é, é, é, é, é, é, é, é, ...

Com os lábios na forma arredondada:


a, a, a, a, a, a, a, a, a, a, ...
ó, ó, ó, ó, ó, ó, ó, ó, ó, ...

Com os lábios na forma ovalada:


u, u, u, u, u, u, u, u, u, ...

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o, o, o, o, o, o, o, o, o, ...

Exercício nº 2 – COM CONSOANTES


Faça o mesmo exercício anterior mas acrescente uma consoante de cada vez. Assim:
di, di, di, di, di, di, di, ...
pe, pe, pe, pe, pe, pe, ...

Exercício nº 3 – COM POESIA RÍTMICA


(Leia em vos alta esta poesia de Emílio de Menezes: Parece Peta)
Parece peta. A peta aporta a praça
e pede ao Pupo que lhe passe o apito.
Pulado palco e, pálida prepasse,
por entre um porco, um prato e um periquito.

Após, papando, em pé, pudim com passas,


depois de paios, pombos e palmitos,
precipite por entre a populaça,
passa picando a ponta de um palito.

Peças compostas por um poeta pulha,


que a papalvos perplexos empulha,
prestando apenas para apanhar os paios.

Permuta a Pepa por pastéis, pamonha, ...


- Que a Pepa apupe o Pupo e à popa ponha,
papas, pipas, pepinos, papagaios.

OBS: Leia esta poesia, primeiro devagar e em ritmo. Depois vá aumentando a


velocidade da leitura.

Exercício nº 4 – COM FRASES RÍTMICAS


Repita algumas vezes cada frase, destacando bem a(s) consoante(s) que aparece(m)
no início de cada uma.
(l) BILABIAIS
M - O moleque maluco move a manivela da maquina de moer milho.
P - Pedro Paulo Pinto Pereira pula o pato papudo papando pipoca e pia o pinto e pinga a
pipa.
B - Bebê bebe a bebida no bico do bule da bandeja e baba na aba do boné do bobo.
(2) LABIO-DENTAIS
V - A ave da viúva voava na viola da vovó.
F - Fifi fez de fato, com esta faca afiada, um bife. Flávio tomou o café e um fofo bolo
de fubá.
(3) LINGUO-DENTAIS
N - Norberto, na sua mania, nada perto do navio, e nenê, numa janela, nunca deixa a
boneca, sua caneca, seu canudo.
D - Duvido que o dedo do dedal doa! Didi, Dedé e Dudu dizem ter direito de dormir de
dia deitados em dada cadeira.
T - Titia teimou e tocou na toca de tatu.
L - Carlos levou o livro, a mala, a bola, e a cola à escola. Olhe o Olavo e a agulha do
agulheiro da Marília.

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LR - Por que palavras palras pardão, perdão? Palro, palre e palrarei, porque sou o
pardal pardo, palrador-mor d’el rei.
Qualquer jornal ao verificar a burla entregar-lhe-á o melro
(4) LINGUO-PALATAIS
R - O rato roeu a rede rubi da roseira da rua das rosas.
O raro guerreiro da guerra tocou guitarra em Araraquara.
O urubu ficou jururu na parede de fora.
O rato roeu a rica rede e a rica roupa do rei de Roma, e a rainha de raiva morreu no
rio Reno arrebentada.
(5) PALATAIS
J - Juju jogou a cajuada da jarra bojuda e ajudou o judeu a judiar da judia e do jacaré do
japonês.
X - Xexé e Xaxá mexiam a faixa de peixe no coxo de Xerxes.
(6) PALATAIS-NASAIS
NH - Nhonhô apanhou o ninho no galinheiro do vizinho e nenhuma galinha do lenheiro
seguiu seu caminho.
LH - O coelhinho orelhudo e abelhudo recolheu à colheita de milho e a palha do
palheiro da palhinha na palhoça.
(7) ALVEOLARES
SS - Essa pessoa assobia enquanto amassa e assa a massa da passoca.
S - Osmar usa fósforos, isqueiros, iscas e cigarros, vendo os cisnes de Célia comerem as
caixas de biscoitos.
Z - Zezé, Zizi, Zazá, Zozó e zuzu, ouviram a zoada do zabumba da gazeta do Zeca e do
Zaqueu.
(8) GUTURAIS
C - Carlos comeu uma caixa de biscoitos de coco e bebeu o cacau na cuia.
Q - O moleque quer um leque de coqueiro e uma cota de quilos de queijo de qualidade.
G - O gato gosta de figos, goiabas e guaco e sai em fuga ao ver o fogo e a água.
BR/FR - O braço do frade encontrou na fronha do travesseiro do dragão o escravo
prateado da gravura que livrou o livreiro.
BL/FL - Flávio com sua blusa e seu blusão de flanela, olha a gloriosa placa do atleta.
RR - É um erro pensar que as barras de ouro na jarra bizarra estejam na carreta de terra
que sobe a serra.
CR - O sepulcral sepulcro sepulcrório é sepultura de Cronos.
Exercício nº 5 – COM VELOCIDADE
(l) O tênue fio de água do arroio levou o níveo chapéu do irmão de João. Não,
alemão, alemães, piões, pião, irmão, irmã, irmãos, cidadão, cidadã, cidadãos,
tabelião, anciães, não são fáceis de articulação.
(2) Sou um original que não se dosoriginalizará, nem mesmo quando os originais
estiverem desoriginalizados.
(3) Traze treze pratos de trigo para três tigres comerem.
(4) Caiu, quase caiu, Pedro Prado pedroso.
(5) Rui raivoso é rústica torrente.
(6) O cri-cri do grilo cria clamor para o frade, as freiras e o padre que quebrou o
braço.
(7) Um ninho de mafagafos com cinco mafagafinhos, quem os mafagafar bom
mafagafador será.
(8) Os cônjuges de Araraquara e os de Itaquaquecetuba, injuriados, requereram
divórcio no Uruguai e viajaram pela Araraquarense.
(9) Um material bem materializado quando desmaterializar-se será um mau material.

11
(lO) As mais brilhantes aparências podem encobrir as mais medíocres realidades.
(l l) Aranha arranha o jarro. Aranha arranha o jarro bizarro.
(l2) Toco preto, porco crespo, toco preto porco crespo.

Inflexão

É a mudança do tom e do volume da voz, permitindo obter efeitos variados,


coloridos, capazes de provocar a emoção, o temor, a ansiedade, o entusiasmo, a
indignação, a ironia, a angústia e o amor, atingindo assim a inteligência e o coração dos
ouvintes. Ter boa inflexão é saber colocar o sentimento na voz. Através de uma
inflexão podemos desmentir a palavra ou emprestar-lhe nova significação.
Um bom exercício para quem deseja possuir uma boa inflexão é a leitura de
poesias em voz alta, procurando interpretar o sentimento com a respectiva mudança de
tom e de altura, conforme o caso.

CAPÍTULO IV

A ESTRUTURA DO SERMÃO

O Tema

Quando alguém quer preparar um sermão a primeira coisa a fazer é decidir


sobre o que vai falar, o que nem sempre é fácil. Para escolher o tema com acerto é
melhor fazer uma análise da situação, utilizando uma série de perguntas.

Análise da Situação3

Análise do Auditório
 O que os ouvintes já sabem sobre o tema que vou abordar?
 Qual a atitude deles em relação a esse assunto?
 Qual a atitude deles em relação a mim como orador?
 Quais são as ocupações deles?
 Qual o seu nível educacional?
 Qual a idade deles?
 Quantos serão os ouvintes?
 Quais são as necessidades deles?

Análise da Ocasião
 Qual a finalidade da reunião?
 Onde a reunião será realizada?
 Quais os recursos que estarão à minha disposição?

3
Leon Fletcher, Como falar como um profissional (Rio de Janeiro: Record,
s/dt.), 33-47.

12
 Quais as outras partes da programação que ocorrerão antes e depois da minha
palestra?

Análise do Orador
 Conheço suficientemente o assunto que pretendo falar?
 Tenho tempo suficiente para preparar o assunto?
 Estou realmente interessado no assunto?
 Qual é a minha reputação como orador e como autoridade no assunto?

Agora que eu analisei a mim mesmo como orador, analisei os meus ouvintes
e a ocasião em que lhes falarei, posso escolher com mais segurança o tema que convém
ser tratado.
O Objetivo

Um sermão sempre tem como objetivo levar os ouvintes a uma determinada


ação. Nunca se prega um sermão só para ensinar ou explicar uma verdade. Assim,
antes de escolher o tema e começar a pesquisar e a colher o material que irá utilizar, o
pregador deve se perguntar: o que eu espero como resultado deste sermão? Que ação
específica eu quero que meus ouvintes efetuem? Agora, sabendo claramente qual é seu
propósito, determinará o tema. Além disso, o objetivo servirá de guia para decidir o que
será incluído no sermão ou não. Cada texto, ilustração, comentário e outros dados
apenas serão incluídos no sermão se servirem de ajuda para alcançar a meta proposta.

O Título

È o nome que se dá ao sermão, ou seja, seu cabeçalho. Enquanto que o


tema revela o conteúdo do sermão, o título é uma simples frase cujo objetivo é despertar
o interesse, sem revelar, necessariamente o que vai ser tratado.
Como exemplo citamos o caso de um evangelista que decidiu fazer uma
conferência sobre o tema da conversão, mas, para atrair mais pessoas para a reunião,
mandou distribuir alguns convites impressos que traziam o título “O homem que nasceu
duas vezes”.
Um bom título deve possuir as seguintes características: ser breve, chamar a
atenção para o presente ao invés do passado e focalizar os problemas religiosos e
práticos da atualidade.

A Introdução

Durante a introdução os ouvintes obtêm uma impressão do orador que


frequentemente determina se aceitarão ou não o que ele diz. Se ele parece nervoso,
hostil ou despreparado, estão dispostos a rejeitá-lo. Se ele parece amistoso e
interessante terá boas chances de cativá-los.
Há três tipos de pregadores: Aqueles que os ouvintes não podem escutar,
aqueles que eles podem escutar e aqueles que eles precisam escutar. Durante a
introdução geralmente os ouvintes resolvem qual o tipo de pregador está se dirigindo a
eles no momento.
O objetivo da introdução é conquistar o interesse dos ouvintes de modo que
eles simpatizem com o orador, estejam dispostos a ser conduzidos e ensinados por ele e
prestem atenção à mensagem que será proferida. Assim, se ela for bem feita tornará os

13
ouvintes atentos, dóceis e benévolos. Como o orador pode cativar assim o auditório?
Eis algumas maneiras:
 Despertando a curiosidade dele;
 Deixando-o intrigado;
 Demonstrando claramente a importância e utilidade do tema que será
apresentado;
 Recorrendo a novidades;
 Fazendo referência à ocasião;
 Definindo um termo;
 Demonstrando conhecer bem o assunto que será tratado;
 Mostrando-se bondoso;
 Dando boas notícias;
 Prometendo ser breve;
 Elogiando-o;
 Mostrando-se humilde.
Uma introdução deve ser breve, apropriada, interessante e simples. Na
introdução o pregador conquista ou perde a atenção dos ouvintes. Ela deve ser
suficientemente longa para captar a atenção, levantar as necessidades e orientar o
auditório para o tema. Antes de ser feito isto, a introdução é incompleta, e, depois disto
é longa demais.

Tipos de Introdução
1. Ler um texto e apresentar o seu contexto literário ou histórico. Pode
incluir os aspectos geográficos e históricos, costumes da época, etc.
2. Apresentar um paradoxo. Pode ser uma contradição aparente nas
Escrituras. Exemplo: Declarações de Paulo e Tiago quanto à justificação (Rm 3:28 e
Tg 2:24).
3. Apresentar uma pergunta retórica (só para pensar). Exemplos: “Se fosse
possível Deus morrer, e Ele morresse hoje de manhã, quanto tempo levaria para
você ficar sabendo?” ou “Uma mulher que trabalha fora de casa pode ser uma boa
mãe?”.
4. Apresentar um fato ou estatística alarmante. Exemplo: “Um casamento
em três acaba no tribunal do divórcio. Apenas um casamento em seis é feliz”.
5. Fazer referências a um acontecimento atual (local/ nacional /
internacional).
6. Fazer referência a ocasião, quando esta for especial. Exemplo:
Congressos, concílios, lançamento de pedra fundamental, inauguração, campais,
formaturas, etc.
7. Contar uma história que de algum modo tenha ligação com o tema ou
com a ocasião e circunstância.
8. Fazer uma referência ao tema, mostrando sua importância ou historiando-
o.
9. Fazer referência à alguma parte precedente do programa.
10. Identificar-se de alguma maneira com os ouvintes.
O orador sempre deve fazer uma introdução ao assunto que vai apresentar, a
não ser que seja bem conhecido e bem aceito como orador, pois, neste caso, antes dele
começar a falar o auditório já está cativo e atento e até ansioso para ouvi-lo. Na
introdução o pregador deve responder à pergunta do ouvinte: “Por que preciso
escutar?”

14
O Uso da voz na Introdução
Ao chegar o momento de falar, o orador deve se dirigir ao púlpito e, durante
uns poucos segundos, em silêncio, contemplar todo o auditório. Esta postura inicial é
uma homenagem indireta aos ouvintes.
Deve então começar falando mais vagarosamente e com pouco volume de
voz e ir aumentando gradualmente a velocidade e o volume até atingir a normalidade no
final da introdução. Este procedimento traz algumas vantagens: permite ao orador
dominar-se emocionalmente; possibilita-lhe prestar atenção à sua própria voz e graduá-
la de acordo com a acústica local e contribui para que os ouvintes fiquem em silêncio
para poder ouvi-lo.

O Que Não Fazer na Introdução4


 Pedir desculpas;
 Começar com palavras vazias, desprovidas de objetividade;
 Firmar posição sobre assunto polêmico;
 Usar chavões5;
 Lançar perguntas esperando respostas do auditório.
Vocativo
Derivado do vocábulo latino vocare, que significa chamamento, o vocativo
é a parte do discurso em que chamamos ou interpelamos o auditório ou parte dele. É
utilizado para chamar a atenção. Seu emprego não é obrigatório, a não ser em discursos
formais.
Vejamos alguns conselhos úteis para se fazer um bom vocativo:
 Começa a referir-se do mais importante ao menos importante. Preste
atenção neste exemplo, feito por paraninfo, numa formatura do SALT: Digníssimo
senhor diretor desta casa de ensino, Pastor V. M. O.; ilustre representantes das várias
organizações da Igreja, que aqui estão; distintos colegas professores, caros afilhados;
senhoras e senhores.
 Se for referir-se por nome às pessoas que deseja destacar, deverá
mencionar a todas. Se não quiser ou não lembrar do nome e da função exercida por
todas, deverá mencionar nominalmente apenas a principal e generalizar as demais –
como foi feito no exemplo acima.
 Num vocativo sempre se menciona as mulheres antes dos homens. Veja
estes exemplos: “Senhoras e senhores!”, “irmãs e irmãos!”

A Argumentação

Depois que se escolheu o tema é necessário pesquisar e recolher as


informações possíveis para a compreensão e exposição do assunto. Tendo isto em mãos
se prepara um esboço.

O Esboço
Todo sermão, à semelhança de um corpo humano, deve possuir um
esqueleto que dê sustentação a todas as suas partes. A este esqueleto chamamos de

4
Reinaldo Polito, Como falar corretamente e sem inibição, 22ª ed. (São Paulo:
Saraiva, 1989), 106-110.
5
Usar sentença ou provérbio muito batido pelo uso.

15
esboço. Ele consiste de alguns tópicos (geralmente de 2 a 5) mais salientes e
abrangentes, que são as divisões, e de outros tópicos, menos importantes mas
necessários, aos quais denominamos de subdivisões. Alguns esboços admitem apenas
divisões, enquanto que outros necessitam de subdivisões e até de outras divisões
menores. Observe o exemplo abaixo, baseado em Lucas 9:23-24, onde há apenas
divisões.

I. PRECISAMOS NEGAR A NÓS MESMOS


II. PRECISAMOS TOMAR NOSSA CRUZ
III. PRECISAMOS SEGUIR A JESUS

Vejamos outro exemplo, agora com divisões e subdivisões, extraído de


Marcos 5:24-34.
I. O HOMEM NECESSITA DE CRISTO
1. Ele está sob a ação do mal
2. Ele se encontra numa situação em que nenhum homem o pode
salvar
3. Ele vai de mal a pior
II. O HOMEM PRECISA BUSCAR A CRISTO
1. Ele precisa ouvir falar de Cristo
2. Ele precisa crer em Cristo
3. Ele precisa se aproximar de Cristo
III. O HOMEM SERÁ ABENÇOADO POR CRISTO
1. Ele receberá salvação
2. Ele receberá a paz de Jesus

A Disposição dos Tópicos


Os dados que foram colhidos precisam ser colocados numa ordem lógica
e psicológica que facilite tanto a apresentação do sermão quanto a compreensão e
aceitação por parte dos ouvintes. Deve ser feito assim6:
 Determinar as linhas gerais e os pormenores;
 Estabelecer um plano progressivo:
 Do conhecido para o desconhecido,
 Do simples para o complexo,
 Do menos importante para o mais importante;
 Colocar os argumentos da razão antes dos argumentos para o
coração;
 Eliminar e simplificar o que for necessário.
Ao colocar os tópicos em ordem podemos seguir um dos quatro principais
modelos que seguem7.

6
Osmar Barbosa, A arte de falar em público (Rio de Janeiro: Tecnoprint, s/dt.),
89-97.
7
Fletcher, 78.

16
Modelo de Tempo
É o melhor quando se apresenta um tema histórico ou quando se quer
mostrar como se realiza uma determinada atividade. O último esboço da página anterior
serve de exemplo. Também o que segue:

I. A MORTE DE JESUS
II. A RESSURREIÇÃO DE JESUS
III. A INTERCESSÃO DE JESUS
IV. O RETORNO DE JESUS

Modelo de Espaço
Serve para organizar os tópicos em uma seqüência física ou geográfica.
Exemplo 1 (Palestra ou relatório):
I. O CRESCIMENTO DA IASD EM SÃO PAULO
II. O CRESCIMENTO DA IASD EM MATO GROSSO
III. O CRESCIMENTO DA IASD EM GOIÁS
IV. O CRESCIMENTO DA IASD EM TOCANTINS
Exemplo 2:
I. O MINISTÉRIO DE JESUS EM CAFARNAUM
II. O MINISTÉRIO DE JESUS EM NAZARÉ
III. O MINISTÉRIO DE JESUS EM JERUSALÉM

Modelo de Tema
É também chamado de vale-tudo. Adapta-se a qualquer assunto. É o mais
utilizado.
Exemplo 1:
I. PRECISAMOS COMBATER A CARNE
II. PRECISAMOS COMBATER O MUNDO
III. PRECISAMOS COMBATER A SATANÁS
Exemplo 2:
I. O QUE SÃO OS DONS ESPIRITUAIS?
II. QUEM OS RECEBE?
III. COMO DEVEM SER UTILIZADOS?

Modelo de Solução de Problema


É muito útil quando se quer propor alguma mudança ou melhoramento de
algo, quando se oferece uma ideia nova ou se recomenda um plano de ação. Os
argumentos são bastante claros e a sequência, lógica. Exemplo (palestra aos pais):
I. PROBLEMA: As moças da igreja estão quase todas casando com
jovens não adventistas.
1. Embora haja muitas moças na igreja, há apenas dois rapazes.
Isto ocorre porque quase todos os meninos abandonam a igreja
na adolescência.
2. Não tem havido qualquer tipo de integração entre nossos jovens
e os de outras igrejas ASD.
II. SOLUÇÃO: A liderança da igreja deve se empenhar, juntamente
com os pais, para resolver essa questão.
1. Precisamos incentivar e ajudar os meninos a permanecerem na
igreja. Isto pode ser feito com a criação de um clube de
Desbravadores e de um coral de crianças e outro de adolescentes.

17
2. Precisamos promover encontros de integração entre a
juventude de nossa igreja com os jovens de outras igrejas ASD.
Isto pode acontecer através de excursões, de acampamentos e de
congressos.

Os Materiais de Apoio

Uma vez que temos os tópicos do sermão bem definidos e bem distribuídos
em um certo modelo, o esqueleto está pronto. Precisamos, agora, colocar a carne, os
tendões, os músculos, o sangue, a pele e tudo mais que for necessário; precisamos
completar e dar consistência. Isto é realizado utilizando em cada tópico alguns dos
materiais de apoio que seguem:
 Citações,
 Comentários,
 Definições,
 Ilustrações,
 Estatísticas,
 Etc.

A Conclusão

Uma conclusão é o clímax do sermão. Deve ser bem pensada e planejada.


Tudo que foi dito antes, teve como objetivo conduzir os ouvintes até este ponto. Agora
os ouvintes precisam saber o que a verdade exige da parte deles. Na conclusão o orador
deve dizer qual a ação que os ouvintes devem realizar, como consequência natural da
mensagem que acabam de receber.

Maneiras de Concluir8

1. Apresentar de modo resumido os pontos principais


2. Usar uma ilustração que resume a ideia ou que mostra com a verdade
apresentada no sermão, funciona na vida.
3. Apresentar uma citação bem escolhida que declara a ideia do sermão em
palavras mais eficazes e mais vívidas do que o próprio pregador consegue achar
sozinho. É bom que seja curta e que o pregador a saiba décor. Podem ser uma poucas
linhas de uma poesia ou de um hino ou até uma única frase da Bíblia que resuma ou
aplique tudo que foi estudado. Fazer uma pergunta ou uma série de perguntas.
4. Efetuar uma oração.
5. Apresentar uma orientação específica ou prática, de como traduzir a
verdade estudada em experiência de vida.
6. Fazer uma visualização. Nem todas as verdades podem ser postas em
prática de imediato. Algumas podem servir para um futuro indefinido. A visualização
projeta a congregação para o futuro e retrata uma situação na qual poderá se aplicar
aquilo que aprendeu. O ouvinte é levado a imaginar-se naquela situação antes de ela
ocorrer.

8
Haddon W. Robinson, A pregação bíblica (São Paulo: Vida Nova, 1983), 111-
114.

18
O Que Não Fazer na Conclusão9

(1) Não diga a seus ouvintes que esqueceu algum tópico; (2) não pare
abruptamente ao final de seu discurso (Lembre-se de um automóvel em movimento e
que deve diminuir a velocidade aos poucos até parar); (3) não se desculpe; (4) não
estique; (5) não coloque novos argumentos.
Por meio deste capítulo aprendemos que o sermão possui três partes: introdução,
argumentação e conclusão; e também as diferentes maneiras de preparar cada uma
delas. Aprendemos ainda a diferença entre tema e título, e para que servem. Na
sequência descobriremos como escolher um texto bíblico e transformá-lo num esboço
bem organizado que serva de roteiro para a pregação.

CAPÍTULO V

RECURSOS TÉCNICOS DA ORATÓRIA

COMO USAR ILUSTRAÇÕES

Ilustrações são recursos utilizados pelo pregador para criar interesse e


prender a atenção do auditório. Além de quebrar a monotonia elas tornam claro o
assunto que está sendo exposto e marcam o sermão, no sentido de ajudar a lembrar a
aplicação feita. São uma maneira de apresentar a verdade mais uma vez, sem cansar os
ouvintes. Servem ainda para fortalecer os argumentos racionais e emotivos,
contribuindo dessa forma para atrair a vontade.

Tipos de Ilustração

Ilustração inclui histórias e, também, outras maneiras igualmente válidas de


se ilustrar uma mensagem. Os bons pregadores empregam vários dispositivos para
facilitar o entendimento do sermão. Vejamos agora, alguns dos mais utilizados.

Figuras de Linguagem
Uma boa maneira para chamar a atenção para nossa mensagem é utilizar
uma linguagem diferente da corriqueira onde as ideias são expressas por meio de
palavras e construções incomuns – que comunicam mais força e colorido, intensidade e
beleza – chamadas de linguagem figurada10. As figuras não são enfeites inúteis, pois
conseguem maior expressividade. Foram muito utilizadas por Jesus e Seus apóstolos e
também pelos escritores do Antigo Testamento. Existem dezenas de tipos de figuras,
que podem ser encontradas em uma boa gramática. Mencionamos a seguir algumas das
mais utilizadas.
(1) Símile:

9
Polito, Ibid.

10
Carlos Emílio Faraco e Francisco Marto de Moura, Gramática, 14ª ed. (São
Paulo: Ática, 1995), 430.

19
É uma comparação expressa. Utiliza as palavras SEMELHANTE ou
COMO. Enfatiza a semelhança entre duas ideias, objetos, ações, etc. O sujeito e a
coisa com a qual ele está sendo comparado, são mantidos separados11. Exemplo: “Não
é a Minha palavra [COMO] fogo, diz o Senhor, e [COMO] martelo que esmiúça a
penha?” (Jr 23:29).
(2) Metáfora:
É uma comparação não expressa. Portanto, não usa as palavras
SEMELHANTE ou COMO. Nela o sujeito e aquilo com o que ele é comprado
possuem algum ponto de semelhança e estão entrelaçados12. Exemplos: “Eu sou o pão
da vida” (Jo 6:35), “Eu sou a videira verdadeira” (Jo 15:1), “vós sois a luz do mundo”
(Mt 5:14) e “vós sois o sal da terra” (Mt 5:13).
(3) Antítese:
É a colocação, lado a lado, de idéias opostas13. Exemplos: morte e vida (Rm
6:23); carne e Espírito (Rm 8:9) e luz e trevas (I Jo 1:5).
(4) Hipérbole:
É o exagero intencional de uma verdade com o intuito de realçá-la.
Exemplo: “Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez. Se todas elas fossem
relatadas uma por uma, creio eu que nem no mundo inteiro caberiam os livros que
seriam escritos” (Jo 21:25). Este é o último versículo do evangelho de João e ele
simplesmente está dizendo que não escreveu tudo que Jesus ensinou ou fez, mas apenas
uma amostra que, apesar disso, é suficiente para crermos e sermos salvos (veja 20:30 e
31).
Outros exemplos são: “Minha mãe é a melhor mãe do mundo” e “o
professor lhe havia dado mil vezes o mesmo conselho”.
(5) Alegoria:
É uma metáfora ampliada. Nela a história e sua aplicação acham-se
entrelaçadas. A interpretação está em seu próprio conteúdo14. Exemplos: Gálatas 4:2-
31 e Salmo 80:8-16.
(6) Parábola:
É um símile ampliado. Geralmente mantém a história e sua aplicação de um
modo distinto e esta acompanha aquela15. Exemplos: Mateus 13:3-8, 18-23; 24-30; 36-
43; 47-50 e Isaías 5:1-7.
(7) Alusão Histórica:
É uma referência a um fato histórico de importância local, nacional ou
mundial. Pode se referir a uma batalha, uma descoberta ou outro evento que se julga
relevante. Exemplo: Salmo 95:7-11.
(8) Incidente Biográfico:
É um episódio na vida de um personagem. Pode ele ter sido um líder
religioso, um estadista, um cientista ou outro indivíduo qualquer cujo incidente

11
Henry A. Virkler, Hermenêutica – Princípios e Processos de Interpretação
Bíblica (Miami, Flórida: Vida, 1987), 122.
12
Ibid.
13
Faraco, 435.
14
Virkler, 122.
15
Ibid.

20
contenha alguma importante lição espiritual. Em Hebreus 11, encontramos traços
biográficos de diversos personagens bíblicos. Veja também Lucas 4:25-27.
(9) Experiência Pessoal:
É contar algo que aconteceu em sua vida. Este é o melhor tipo de ilustração
que há. Quando falamos de algo que vivenciamos o efeito de nossas palavras sobre os
ouvintes é maior, talvez por causa do tom de voz e de um maior empenho, mesmo
inconsciente, de nossa parte. Cícero, grande orador romano, dizia que sempre que
puder, o orador deve dar exemplos pessoais, porque junto com o exemplo vem o
testemunho, o que serve de garantia e reforça a credibilidade. O apóstolo Paulo
seguidamente falava de suas experiências pessoais. Veja Atos 22; 24; 26; e II Coríntios
11:22-30.

Propriedades de Uma Boa Ilustração

Uma boa ilustração precisa ser apropriada. Isto significa que deve ter
relação com o assunto ou com as circunstâncias e o auditório. Deve ser tão
compreensível que não necessite de explicação e ser contada de tal maneira que apele à
imaginação do ouvinte, fazendo-o ver. Ao contá-la devemos ser breves, não entrando
em detalhes irrelevantes nem exagerando os relevantes. De preferência deve ser inédita
para aqueles que nos ouvem e, se for algo espetacular, será interessante darmos a fonte
ou especificarmos a data, o local e o nome de quem esteve envolvido, de modo que se
torne digna de crédito.

O que Evitar no uso das Ilustrações

1. Precisamos cuidar para que o sermão não seja apenas um colar de ilustrações.
Elas são recursos que facilitam o entendimento a mensagem. Portanto, em si
mesmas, não são a mensagem. Devem chamar a atenção para a verdade e não
para si.
2. A ilustração não deve servir como base do sermão. A base é sempre o texto
bíblico. No caso de prepararmos um sermão sobre uma história bíblica, esta não
funciona como mera ilustração e sim como texto.
3. Nunca devemos empregar uma ilustração que desvia a atenção dos ouvintes do
assunto principal do sermão. Uma única frivolidade ou esquisitice que ela
contenha pode prender de tal modo a atenção dos ouvintes que eles não mais
consigam acompanhar o restante do sermão.
4. Ao contarmos casos pessoais, envolvendo nós mesmos ou nossa família,
devemos ser modestos. É preciso estar alerta para não causar a impressão de
que somos os melhores. O objetivo é a glorificação de Cristo e não a
glorificação pessoal.
5. Quando cortarmos uma ilustração real devemos certificar-nos de que as
informações são verdadeiras.
6. Uma ilustração não deve constranger nem comprometer as pessoas. Por isso é
necessário cuidar para não propagar coisas que nos foram confidenciadas. Seria
constrangedor falar de assuntos que alguém tenha depositado confiança em nós,
vê-lo sendo revelado em público.

21
Fontes de Ilustração

Se estiver atento, o pregador poderá extrair ilustrações de tudo o que


acontece em sua vida e de suas leituras regulares. A própria Bíblia contém muitas e
belas histórias que poderão ser contadas com bastante proveito. Ao preparar um sermão
sobre Efésios 6:10-18, que trata da armadura do cristão, o pregador poderá necessitar de
uma ilustração que mostre claramente que precisamos usar a armadura completa; que a
falta de uma única arma pode causar nossa derrota espiritual.
Nada melhor do que a história relatada em I Samuel 17, em que Golias, o
mais bem equipado guerreiro dos tempos bíblicos, foi derrotado porque num momento
deixou de utilizar seu capacete.
Em suas leituras, o pregador deve anotar e separar tudo o que possa ser
empregado para ilustrar suas mensagens. Algumas obras devocionais como Meditações
Matinais e Inspiração Juvenil costumam ter excelentes ilustrações. É importante ter
uma pasta ou arquivo para guardar as ilustrações que for acumulando.
Há muitas ilustrações também nas coisas da natureza, no dia-a-dia das
crianças e na História nacional e mundial.

Modo de Usar as Ilustrações

As ilustrações podem ser usadas com bastante proveito em qualquer parte


do sermão. Na introdução, servem para atrair a atenção e despertar o interesse; na
argumentação, para tornar claro o argumento, manter o interesse, repetir as idéias e
prover descanso mental; e na conclusão, para repetir as verdades apresentadas, resumir
a ideia central ou mostrar como funciona na vida, para comover os sentimentos e apelar
à vontade16.
Portanto, é fundamental que um sermão contenha ilustrações. Elas são um
poderoso instrumento para atingir o intelecto e as emoções, e mover a vontade dos
ouvintes, ajudando-os, assim, a entender, amar e aceitar a verdade.
Na seqüência, você terá a oportunidade de acompanhar como utilizar algumas técnicas
especiais que se destinam a criar e manter o interesse dos ouvintes, além de contribuir
para melhorar a compreensão do assunto exposto.

CAPÍTULO VI

RECURSOS TÉCNICOS DA ORATÓRIA

Na arte de falar em público precisamos utilizar alguns recursos técnicos que


contribuirão para alcançarmos nossos objetivos. A seguir destacamos alguns deles.

16
James D. Grane, O sermão eficaz, 2ª ed. (Rio de Janeiro: JUERP, 1990), 131
e 132.

22
Definições

Uma definição é uma explicação precisa, é a significação de uma palavra de


modo que ela se torne compreensível. As definições fazem as pessoas pensar. Muitas
vezes as pessoas não entendem um determinado assunto simplesmente porque alguma
palavra-chave empregada pelo orador não foi definida. A melhor maneira de se
conhecer o significado dos vocábulos é fazer uso dos dicionários.

Explicações

As explicações dão a razão de alguma coisa, de uma atitude; elas


esclarecem, desfazem um mal-entendido, justificam certos procedimentos. Ajuda-nos
saber que explicação é o antônimo de complicação. Assim, uma explicação facilita o
entendimento do assunto. Ao fazer uma explicação o pregador deve ser calmo e
paciente, permitindo que os ouvintes tenham tempo suficiente para imaginar o que está
apresentando.

Pormenores

Pormenorizar é fornecer minúcias e detalhes do que estamos descrevendo.


Os pormenores apelam para os nossos sentidos e, ao fazer uso deles, o orador pode
conseguir que os ouvintes sintam e vivam suas palavras.
(1) A Visão:
Dentre os pormenores os que mais chamam a atenção são aqueles que
ajudam os ouvintes a ver. Destacamos os seguintes:
 Tamanho – A arca de Noé media 300 côvados = 150 metros = um
quarteirão e meio = daqui da igreja até a farmácia; os muros de Jericó
eram tão largos como esta igreja;
 Cor – Os cavalos da visão de Zacarias eram vermelhos, baios e brancos.
Qual é a cor de um cavalo baio? É um amarelo acinzentado ou um cinza
amarelado;
 Distância – Os personagens da parábola do Bom-samaritano percorriam
uma estrada que ligava Jerusalém a Jericó. Qual a distância? Cerca de
30 km = a distância do Unasp-CE a Limeira-SP;
 Proporção – Cerca de 85% dos jovens adventistas que frequentam
escolas adventistas permanecem na Igreja = De cada 100 jovens
adventistas que frequentam nossas escolas, 85 permanecem na Igreja.
Outros pormenores que apelam à visão são: forma, localização, perspectiva,
movimento, velocidade, luminosidade, etc.
(2) A Audição:
São dadas informações sobre intensidade, timbre, som, ritmo, pausa,
harmonia, silêncio, etc.
(3) O Tato:
Os detalhes apresentados dizem respeito ao que é macio ou áspero, frio ou
quente, úmido ou seco, sólido, líquido ou pastoso, doído ou prazeroso, etc.
(4) O Paladar:
As minúcias tratam do que é doce ou salgado, amargo, azedo, apimentado,
agradável ou desagradável, etc.

23
(5) O Olfato:
Os pormenores se referem ao que é perfumado ou fétido, inodoro, irritante,
sufocante, etc.

As Analogias e os Contrastes

Estes recursos ajudam no entendimento da mensagem. Enquanto que as


analogias ressaltam as semelhanças, os contrastes salientam as diferenças. Às vezes os
dois são usados em conjunto. Como exemplo, poderíamos fazer uma comparação entre
a ira de Deus e a ira humana, procurando entender as semelhanças e as diferenças.

Os exemplos

Os exemplos estão entre os mais valiosos recursos para conquistar a vontade


dos ouvintes. Frequentemente, é o exemplo de alguém que agiu de certa forma, que
mencionado no sermão, leva os ouvintes a se decidirem e a procederem do mesmo
modo. Os exemplos têm o poder de mover e arrastar as pessoas.
Este capítulo demonstrou o valor dos pormenores, explicações, analogias, contrastes,
definições e exemplos, e como o orador sacro pode usá-los com bastante proveito. O
próximo capítulo discorrerá sobre a importância de o pregador cuidar de sua aparência
pessoal e a influência que o seu visual tem sobre o auditório.

CAPÍTULO VII

A INFLUÊNCIA DE FATORES NÃO VERBAIS

Nossa comunicação acontece não só através das palavras, também


comunicamos por meio da gesticulação, da postura do corpo, da aparência pessoal e do
vestuário que cobre o nosso corpo. Por isso, é necessário que o pregador se preocupe
com estas coisas, para que elas contribuam para alcançar o seu objetivo e não sirvam de
embaraço no cumprimento da missão.

Aparência e Vestuário

Ao escolher e trajar as diferentes peças de seu vestuário e ao tratar de sua


apresentação exterior, a regra que deveria guiar o pregador deveria ser: Não aparentar
nem usar nada que venha a desviar a atenção dos ouvintes da mensagem. Este desvio
pode acontecer porque o pregador está trajado bem demais, elegante demais para a
ocasião, mas, com muito maior frequência, porque deixa a desejar.
Uma vez que o objetivo da pregação é que as pessoas ouçam e entendam a
mensagem para então poder harmonizar a vida com ela, devemos cuidar de nossa
aparência pessoal e de nossa apresentação. A seguir damos algumas sugestões, que são
o resultado de nossa observação, do que parece ser um consenso nessa matéria. Elas
são válidas para o pregador nos momentos em que está expondo sua mensagem.
(1) O Cabelo:
Deve ser cortado regularmente e bem penteado. É bom raspar os pelos atrás
do pescoço.
(2) A Camisa:

24
As camisas de cores claras parece serem as melhores. Atualmente também
estão usando camisas escuras com a gravata da mesma cor, mas de tom diferente. Faz
parte da moda chamada tom sobre tom. Se for listrada, que as listras sejam discretas.
Camisas com listras largas, aquelas com tecido xadrez ou estampado, não combinam
com paletó e gravata.
(3) A Gravata:
Quanto à cor deve combinar com o paletó e com a camisa. Seu tamanho
deve ir até à fivela da cinta. O prendedor deve ficar a uns 20 cm acima da ponta da
gravata.
(4) O Sapato:
Deve estar em boas condições de uso, limpo e engraxado, combinando com
a cor das meias e das calças.
(5) As meias:
Embora não apareçam quando o orador está em pé, ficam à mostra quando
se ajoelha ou está assentado. Devem combinar com a cor das calças e dos sapatos.
(6) As Calças:
As calças em seu comprimento, devem atingir o salto do sapato.
(7) Os Adornos:
O pregador deve cuidar com qualquer adorno que possa salientar-se em sua
aparência. Exemplos: pulseiras de relógio, abotoaduras, prendedores de gravata,
distintivos muito grandes e brilhantes; gravatas com cores muito vivas, etc. Não
estamos sugerindo que estas coisas não sejam usadas, mas sim que não sejam muito
vistosas.
(8) Os Trajes:
Especialmente nos ritos da Igreja, o pregador dá preferência a trajes (ou
ternos) de cor escura e sóbria.
(9) O Material:
Devemos dar preferência a material de boa qualidade e durabilidade, e saber
adequar a nossa vestimenta ao tipo de atividade que estamos realizando.
(10) A Moda:
Se uma moda for decente e boa o pregador não deve ser o primeiro a adotá-
la mas também não o último.
(11) O Bom Gosto:
A religião cristã também afina o gosto das pessoas e espera-se que isto
ocorra especialmente com os pregadores. Devem ser pessoas de bom gosto.

Gestos e Postura17

A postura, a locomoção e a gesticulação do pregador terão seus reflexos no


auditório e contribuirão para a mensagem ser entendida e bem recebida ou não. O
orador normalmente não deveria ficar parado, fixo como se fosse um poste, nem andar
continuamente de um lado para o outro como se fosse um tigre enjaulado. Um pouco de
locomoção fica bem.

17
Adaptado de Reinaldo Polito, Gestos e Postura para Falar Melhor, 15ª ed.
(São Paulo: Saraiva, 1993).

25
As Funções dos Gestos

Os gestos são a movimentação do corpo, em especial da cabeça, dos braços


e das mãos. Devem acompanhar a oratória porque por seu intermédio o orador pode
exprimir mais perfeitamente as ideias e os sentimentos que deseja transmitir, e dar
ênfase a uma determinada informação. Sendo assim, a correta gesticulação ajuda no
entendimento da mensagem18.

Conselhos Para a Correta Gesticulação

1. Gesticular corretamente exige muito mais do que a simples movimentação do corpo.


Os gestos precisam harmonizar com a palavra proferida. Quer dizer que a boca e os
movimentos corporais enviam a mesma mensagem. Infelizmente, com demasiada
frequência, os gestos de um orador nada têm a ver com o que ele está dizendo. Pior
do que isso é o corpo transmitir uma mensagem exatamente oposta ao conteúdo das
palavras. Esse é o caso de um pregador que deu inicio à sua fala proferindo as
seguintes palavras: “É para mim uma grande alegria estar, nesta manhã, ...”,
enquanto que seu corpo tenso e as afeições de seu semblante enviaram aos presentes
outra mensagem: “É para mim uma grande agonia estar aqui, nesta manhã, ...”.
Sempre que há um conflito entre a linguagem verbal e a linguagem do corpo, a
mensagem verdadeira é a do corpo. Assim, no exemplo acima, o verdadeiro
sentimento possuído pelo orador era o de agonia e não de alegria.
2. Como regra o gesto deve acontecer no momento em que se pronuncia a palavra.
Algumas vezes o gesto poderá acontecer imediatamente antes. Depois da palavra,
nunca.
3. A maior parte dos gestos é realizada com os braços e as mãos e eles não deveriam ser
muito amplos, nem ir muito acima da cabeça, nem abaixo da cintura. Por outro
lado, também não deveriam ser miúdos, nem de modo que os braços e os cotovelos
estivessem presos ao corpo, pois tal procedimento demonstra timidez e nervosismo,
e mais prejudica do que ajuda.
4. Quanto menor o número de ouvintes, menor será também a necessidade de
gesticulação.
5. Quanto mais culto for o auditório, menor a necessidade de gesticulação. As pessoas
cultas estão mais interessadas no conteúdo da mensagem e até conseguem prestar
atenção numa leitura mais ou menos longa sem qualquer gesticulação. Isso pode ser
facilmente constatado pelos discursos proferidos por altas autoridades na posse de
um ministro da República, por exemplo. Já o povo menos culto tem maior
dificuldade de acompanhar uma exposição sem arroubos de oratória e bastante
movimentação.
6. Quanto mais livres estiverem as mãos do orador, mais perfeita poderá ser sua
gesticulação. Portanto, segurar a Bíblia ou um microfone na mão o tempo todo não
é procedimento ideal. O microfone fixo, por exemplo, facilita a gesticulação, mas,
por outro, impossibilita a locomoção do orador. O melhor seria utilizar um
microfone de lapela e sem fio. Então o orador poderia se locomover e gesticular
sem impedimento.

18
Reinaldo Polido, Gestos e postura para falar melhor, 15ª ed. (São Paulo:
Saraiva, 1993), 66 e 67.

26
7. Há situações em que as ideias e sentimentos são melhor transmitidos pelo semblante
ou pelo olhar, ou pela combinação destes com os movimentos dos braços e das
mãos.
8. O orador não deve fazer um gesto para cada informação que transmite. Geralmente,
ao pronunciar uma frase, ele efetua um único gesto, que vai se referir àquilo que ele
quer destacar. Por exemplo: Qual seria o gesto correto para acompanhar o verso
bíblico “O Senhor é o meu pastor; nada me faltará”? Este verso permite três
ênfases: Senhor, meu e nada, mas o orador deve escolher apenas uma. Se quiser
destacar a ideia de Senhor, então, ao pronunciar esta palavra, ele apontará seu dedo
indicador para o alto; se preferir salientar o fato de que o pastor é seu – meu pastor –
deverá colocar a mão aberta sobre o peito, indicando assim a relação de posse; se,
contudo, desejar ressaltar que nada vai faltar, posicionará sua mão espalmada na
frente do peito e num gesto rápido a afastará dele para o lado.
9. Os gestos precisam ser aprendidos. É necessário que se façam exercícios, pelo menos
dos gestos que transmitem as idéias e sentimentos mais utilizados, até que eles
sejam incorporados a nós e se tornem parte natural de nossa comunicação. Assim,
depois que forem aprendidos, não importa o sermão que pregue, eles fluirão
naturalmente e, mesmo, inconscientemente.

Os Tipos de Gestos

Os gestos podem transmitir as mais variadas idéias, dentre elas as de:


afirmação, negação, interrogação, tamanho, distância, movimento ( aumentar, diminuir,
girar, mudar, surgir, caminhar), enumeração de partes, separação, união, força, controle,
direção, desconhecimento, acusação, petição, entrega, próprio e pensar, Deus, Céu,
Inferno, perdão, arrependimento e adoração. Esses exemplos podem ser vistos nos
exercícios que seguem. Leia os textos bíblicos selecionados e procure fazer o gesto
correspondente às expressões que aparecem em negrito. Siga a orientação e observe a
figura que ilustra.
(ver cópias dos gestos em apêndice na apostila)

O Olhar:
Ninguém aprecia ouvir um orador que não olha para ele uma única vez
durante todo o tempo do sermão. Quanto mais olharmos para os ouvintes, maior será a
sua atenção e interesse em nossas palavras.
Quando o auditório é pequeno se torna fácil para o pregador olhar as
pessoas nos olhos, mas, quando os ouvintes se contam às centenas, isso é impossível.
Nestes casos, contudo, o orador pode agir de tal modo que os ouvintes sintam que ele
está olhando para eles. Para causar esta impressão ele deve dividir, mentalmente o
auditório em umas poucas seções, digamos, entre ala direita e ala esquerda e cada uma
subdividida em três ou quatro partes, e, então, de vez em quando, lançar um olhar para
cada setor. Quando ele olha para uma seção, de cinquenta pessoas por exemplo, devido
a distância entre ele e elas, cada uma pensa que ele está olhando para ela. Este método
ajuda o orador a granjear o favor do auditório.
Este capítulo revelou que sempre que alguém se apresenta em público e profere uma
mensagem, ocorrem duas comunicações: Uma verbal (seu discurso) e outra não verbal,
que em grande parte é visual (sua aparência, vestuário, a postura e gesticulação de seu
corpo). Salientou também a importância delas estarem em harmonia e como isso pode
ser feito. O capítulo seguinte será analisado a natureza humana e o papel das emoções,
da razão e da vontade.

27
CAPÍTULO VIII

CONHECENDO A NATUREZA HUMANA

Quando desejamos conquistar pessoas para que aceitem nossas idéias,


devemos levar em conta a essência do homem, que é formada por emoção, razão e
vontade.

Emoção

É a energia que leva o homem a realizar coisas. Podemos dizer que o ser
humano é movido por emoções. Assim, é a energia emocional que permite a você sair
da cama pela manhã, vestir-se, alimentar-se, vir para a escola, trabalhar, lutar, etc. Sem
emoção você não faria nada disto, mas permaneceria em repouso19.
As emoções – amor, ódio, medo, inveja, ciúme, ansiedade, ambição, etc. – é
que motivam a conduta humana. Elas vivificam e embelezam a existência, criando a
verdadeira alegria de viver. Mesmo muitas das grandes realizações humanas –
especialmente nas artes – tiveram sua inspiração em fontes emocionais e não em
motivos intelectuais.
Precisamos lembrar que a energia emocional pode ser usada tanto para o
bem como para o mal. Essa força pode ser destrutiva, acarretando sofrimento e
infortúnio às pessoas, ou pode ser construtiva, trazendo paz de espírito, auxiliando na
sobrevivência e promovendo toda sorte de coisa boas20. Qualquer trabalho fica mais
fácil quando feito com amor e entusiasmo, mas também pode tornar-se mais difícil
quando o indivíduo está possuído de emoções negativas21.
A energia emocional que o nosso ser produz, vai se acumulando e, por isso,
deve encontrar saída em atividades exteriores tais como o trabalho, as relações sociais e
os esportes. Se, por alguma razão, essa vazão não acontece, a energia emocional vai se
concentrar nos órgãos internos do corpo, resultando em enfermidades 22. É uma lei da
física que “a energia não desaparece; continua acumulando-se, aumentando sua carga,
até alcançar tais proporções que exigem a descarga”23.
As emoções têm o poder de produzir alterações em nosso organismo. Elas
afetam a respiração, a circulação e a pressão sanguínea, a transpiração e o ritmo do
coração. Podem causar lesões e podem combater as enfermidades24. Também acontece
19
Alberto Montalvão, Psicologia Biblioteca de Ciências Exatas e Humanas
(São Paulo: Novo Brasil Editora Ltda., 1982), 2:28.
20
Ibid., 2:29.
21
Russell Norman Champlin e J. M. Bentes, “Emoções”, Enciclopédia de
Bíblia, Teologia e Filosofia, ed. 1995, 2:354.
22
Montalvão, 2:30.
23
Ibid., 31.
24
Champlin, 2:354.

28
de um indivíduo estar sob o domínio de uma forte emoção sem ter consciência disso. A
tristeza, a perda de concentração, a insônia, uma fraqueza geral no corpo, podem ser
disfarces comuns da cólera, do medo e da ansiedade25.

Razão

É a faculdade de julgar, avaliar, conhecer, compreender, raciocinar. Para


que nossa energia emocional seja uma força construtiva, utilizada para o bem, precisa
ser orientada pela pelo intelecto, pela razão. É esta que indica a direção correta a ser
seguida pela energia emocional, de modo que o indivíduo encontre alívio e satisfação.

Vontade

É uma expressão que pode ter diversos significados, sendo que os mais
usados parecem ser:
 Desejo, anseio, aspiração. Exs.: “Estou com vontade de comer um
pedaço de bolo” e “Ele sentiu vontade de rever seus pais”;
 Capacidade de escolha, de decisão. Ex.: “O apóstolo Paulo tinha uma
vontade de ferro” (o que indica que possuía firmeza e energia nas decisões).
É imprescindível não confundir um significado com o outro, i. e., não
confundir vontade com desejo. “A vontade não é o gosto nem a inclinação, mas o poder
que decide”26. Assim, alguém pode passar diante de uma confeitaria e, vendo os doces
expostos na vitrina, desejar comê-los e, contudo, embora tenha tempo e dinheiro, por
alguma razão sua vontade diz “não”, e ele segue seu caminho, sem saboreá-los.
Uma pessoa pode ter uma infinidade de desejos mas a vontade é apenas
uma. A vontade pode combater os desejos ou aliar-se a eles. Ela está acima das
emoções e da razão, e é responsável pelas decisões e pelos caminhos do indivíduo. “A
vontade é o poder que governa a natureza do homem, pondo todas as outras faculdades
sob sua direção”27. As faculdades mentais e as paixões devem ser controladas pela
vontade28.
A razão pode analisar com clareza tudo que está envolvido e apontar o rumo
correto, mas é a vontade que detém o comando. Pode concordar com a razão e decidir
em harmonia com ela; pode render-se á emoção; pode ir contra uma e outra. É como
uma máquina interna que toma decisões. A vontade é livre para escolher e se constitui
na grande capacidade que torna o homem senhor de si mesmo, de seus atos, e, por isso
mesmo, ele é simultaneamente livre e responsável29. A vontade é a própria essência da

25
Montalvão, 2:29 e 30.
26
Ellen G. White, Mente, caráter e personalidade (Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 1998), 2:685.
27
Ibid.
28
Ibid., 1:100 e 2:354.
29
Montalvão, 2:29 e 30.

29
personalidade. É a fonte de todas as ações30.
A vontade tem sido comparada a uma ponte capaz de nos permitir alcançar
o outro lado, onde se encontra o que desejamos obter. Aliás, quase tudo quanto
almejamos se encontra no futuro ou oferece múltiplas dificuldades para ser alcançado.
Assim, é por meio dessa ponte que conseguiremos atingir o outro lado, onde se encontra
o que ambicionamos. É ela que leva um indivíduo a estabelecer objetivos e o mantém
no caminho que conduzirá a eles, apesar das contingências e obstáculos. A vontade
tudo vence. Querer é poder. Quando a vontade decide atingir um objetivo, força o
corpo, a mente e o espírito para alcançá-lo.
Nos vários campos da atividade humana a vontade quase sempre compensa
a falta de maior inteligência ou habilidade manual. É por esta razão que indivíduos
pouco dotados intelectualmente, ocupam lugares que outros mais inteligentes e de
vontade fraca, não conseguem atingir, e que operários pouco hábeis, mas perseverantes,
ultrapassam outros mais engenhosos, mas fracos de vontade31.
A vontade é um dom de Deus a cada ser humano e é algo em que ninguém
pode tocar: nenhum homem e nenhum anjo bom ou mau32. O único que poderia
interferir em nossa vontade é Deus, mas Ele nunca o fez, nem o fará33 – porque não
combina com seu caráter. Ele nos deu o livre-arbítrio, o poder da escolha, e a nós
unicamente compete usá-lo, de um ou de outro modo.
O que acontece, na prática, é que outros seres, dotados de inteligência e de
vontade, tentam nos atrair para que aceitemos suas ideias e procedamos como é do seu
agrado. Assim, os homens fazem suas propagandas, Satanás e seus anjos também, e até
o próprio Deus e seus anjos. Cada um busca nossa adesão mas a decisão é nossa, só
nossa. Assim, se vamos comprar ou não este ou aquele produto, se vamos ceder a
tentação ou, ao contrário, seguir no caminho proposto por Deus, depende apenas de
nossa escolha. Em cada caso nossa vontade deve decidir.

O Ato Voluntário

A atividade humana pode ser de duas espécies: instintiva e voluntária. A


primeira é cega, espontânea e fatal e não requer a cooperação do cérebro para sua
execução34. É uma “reação... involuntária, automática, provocada no sistema
muscular”35. A segunda, inteligente, reflexiva e livre. Esta é chamada de voluntária por
ser um ato da vontade, um ato que o indivíduo é quem decide se, quando e como

30
White, Ibid., 2:685.
31
Montalvão, 2: 202 e 203.
32
White, 2:710.
33
Ibid., 1:325.
34
Montalvão, 2:25.
35
Ibid., 185.

30
realizar. Para realizar um ato voluntário, passamos por algumas fases. São elas:
atenção, consideração, decisão e ação36.
(1) Atenção:
Ao nosso espírito acode um projeto ou um ato que poderemos ou não
realizar. Nesta fase vemos o ato como um todo37. Ex.: Um colportor apresenta a uma
dona de casa o seu prospecto sobre um livro que trata da educação de filhos, e a atenção
dela é chamada para a possibilidade de adquirir a boa literatura que está sendo
oferecida.
(2) Consideração:
Agora analisamos o que está envolvido, os prós e os contras, as vantagens e
desvantagens de realizar o tal ato ou projeto. No exemplo dado, a senhora deveria
pensar nos benefícios que teria: sugestões de como proceder como mãe, de como
melhor compreender e ajudar os filhos, de como guiá-los no bom caminho; mas também
no que o esposo pensaria sobre uma compra assim e se teria o dinheiro necessário no
dia da entrega, etc.
(3) Decisão:
Nesta fase a vontade escolhe um dos caminhos que se lhe oferecem. No
exemplo que estamos usando, a senhora decide encomendar ou não o livro.
(4) Execução:
A vontade decidiu e agora completa sua obra, ordenando ao corpo e ao
espírito que façam o que for necessário para atingir seu objetivo38. Assim, se a dona de
casa decidiu comprar o livro, ela irá tomar a caneta e assinar o pedido. Se ela decidiu
não comprar, provavelmente irá se desculpar e agradecer a visita.
Uma pessoa pode ter uma vontade saudável ou uma vontade enferma. Se
for saudável, ela passará normalmente por estes quatro estágios ao praticar um ato
voluntário. Em alguns casos, todo o processo durará uns poucos segundos, enquanto
que em outros, meses ou anos. Se você estiver dirigindo um carro e logo á frente um
semáforo mostrar a luz amarela, quanto tempo durará até você pisar no freio ou no
acelerador? Se um jovem tem pela primeira vez sua atenção chamada para uma moça,
quanto tempo passará até que eles casem?
Como exemplo bíblico de alguém com vontade sadia encontramos a jovem
rainha Ester. Quando sua atenção foi chamada para a desesperadora condição do povo
judeu, refletiu cuidadosamente sobre o assunto, tomou a firme decisão de fazer o que
era possível e, então, mesmo pondo em risco a própria vida, executou o que planejara,
salvando deste modo o seu povo (Ester 4 e 5:1, 2).

Doenças da Vontade

Mas há pessoas que possuem uma vontade doente. Elas não passam
naturalmente pelas fases acima estudadas. Essas pessoas podem ser classificadas em
três grupos:
(1) Os impulsivos:

36
Ibid., 200.

37
Ibid.
38
Ibid.

31
São os que não gastam tempo para pensar. São incapazes de resistir a certos
impulsos39. São impetuosos, rápidos demais em decidir e agir. “Muitos impulsos são
devidos à influência obscura, mal definida dos instintos”40.
(2) Os indecisos:
Ao contrário dos anteriores, estes pensam demais. Em sua mente, os prós e
os contras assumem grandes proporções e eles não sabem o que decidir. A razão analisa
com clareza mas a vontade não assume o seu papel de comando41.
(3) Os inconstantes:
São os que raciocinam e decidem corretamente mas não são capazes de
executar o que decidiram. Deixam-se dominar pelos acontecimentos, em vez de
dominá-los. Têm medo de agir42.
Na Bíblia encontramos exemplos de indivíduos que, pelo menos em certos
momentos da vida, manifestaram uma vontade doentia. Assim, como exemplos de
impulsivos, temos Ananias e Safira que, levados pelo ímpeto do momento, decidiram
doar para a igreja apostólica todos os recursos adquiridos com a venda de um terreno,
mas que, ao terem o dinheiro em mãos, arrependeram-se da decisão precipitada que
haviam tomado (Atos 5:1-11).
Ló, sendo avisado pelos anjos que Sodoma seria destruída, demorava-se em
tomar a decisão de partir (Gn. 19:1, 12-16). Ele é o exemplo de alguém indeciso.
Pilatos, por sua vez, é apresentado como inconstante, pois, havendo analisado as
acusações feitas contra Jesus, chegou à conclusão e declarou que Ele era inocente e,
havendo decidido soltá-Lo, deixou-se dominar pelos acontecimentos e O entregou para
Ser morto (At 3:13; Lc. 23: 13-25).

A Educação da Vontade

Nossa vontade pode ser treinada e disciplinada, e assim fortalecida, e a


maneira mais acertada de fazer isso é acostumá-la aos revezes e às dificuldades.
Esforçar-se por fazer algo desagradável ou difícil é um ótimo exercício. Quando um
homem aprende a dominar-se, se faz capaz de dominar o mundo exterior. Antes disso,
nunca. Quando uma pessoa aprende a dizer “sim” e “não” a si mesma, saberá também
dizer “sim” e “não” a outros, com maior força. “Quando você aprende a dizer não a
você mesmo, você terá força moral para dizer não ao outros”.
Devemos cuidar para não procurar construir muitas pontes ao mesmo
tempo. Não devemos ter muitos objetivos que envolvam simultaneamente a nossa
vontade. Uma pessoa que tem muitas ambições e acumula em sua mente muitos
projetos, geralmente acaba dispersando sua energia, seus recursos e seu tempo. O
melhor é procurar realizar um plano depois do outro, dando sempre preferência ao que
for mais importante.
Para usarmos corretamente a vontade, há quatro princípios básicos que
devem ser seguidos:

39
Ibid., 2:202.
40
Ibid., 2:193.
41
Ibid., 2:202.
42
Ibid.

32
1. A vontade deve ser colocada sempre ao lado da razão;43
2. A vontade deve ser dirigida sempre em forma contínua;
3. A vontade deve sempre ser aplicada a um trabalho definido e útil;
4. A vontade nunca deve ser colocada em oposição ao nosso dever.
É através da vontade que o pecado conserva seu domínio sobre os homens44.
A vontade que não foi rendida ao domínio de Cristo é governada por Satanás45 e,
embora o homem não possa por si mesmo controlar seus impulsos e emoções como
gostaria46, tem a capacidade de tirá-la do domínio de Satanás e entregá-la a Cristo47.
Quando isto é feito, “a graça de Cristo se apresenta para cooperar com o agente
humano48” transformando a mente e o coração, pela atuação do Espírito de Deus49.
Quando entregamos a Deus nossa vontade, ela é devolvida “purificada e refinada” e tão
em harmonia com Ele que nos tornamos condutos de Seu “amor e poder”50.
Já que a vontade é que detém o comando do homem, o que mais Deus quer
de nós é que Lhe entreguemos nossa vontade. Isto é o que significa tomar a nossa cruz
(Lc 9:23) ou tomar o jugo de Jesus (Mt 11:29). Por isso, todo pregador deve ter como
propósito conquistar a vontade de seus ouvintes, e não apenas seu intelecto ou suas
emoções.
Contudo, em seu trabalho para Deus, deve levar em conta “que as emoções
são mais poderosas que a razão51” e que, por isso, a maioria das pessoas decide mais
pela emoção que pela razão52. Desta forma, quando o sermão é muito argumentativo e
racional e não possui componentes emocionais, poucos decidem. Por outro lado,
quando se manifestam as emoções sem equilibrá-las com os aspectos intelectuais da
verdade, facilmente os ouvintes se decidem, mas são decisões que não perduram.
Tratando desse assunto, a Sra. White escreveu: “A pregação da Palavra
deve apelar para a inteligência, e comunicar conhecimento, mas cumpre-lhe fazer mais
que isso. A palavra do ministro, para ser eficaz, tem de atingir o coração dos
ouvintes”53. Assim, a melhor maneira de se atrair a vontade do ouvinte para que se

43
White, 2:689.
44
Ibid., 693.
45
Ibid., 692.
46
Ibid., 694.
47
Ibid. 686.
48
Ibid., 691.
49
Ibid., 692.
50
Ibid., 693.
51
Champlin, 2:354.
52
Montalvão, 2:155 e 156.
53
Ellen G. White, Obreiros evangélicos (Santo André, SP: Casa Publicadora
Brasileira, sdt.), 152.

33
decida ao lado de Deus, e aí permanecer, é apresentar argumentos que satisfaçam a
razão e argumentos que alcancem as emoções.

Persuasão e Convencimento

O ser humano foi criado por Deus como um ente social, devendo, portanto,
relacionar-se com seus semelhantes. Em nossos relacionamentos estamos
constantemente desejando que nossos interlocutores sejam favoráveis às nossas ideias e,
por isso, fazemos uso da palavra, tentando ou persuadi-los ou convencê-los.
Popularmente, persuadir e convencer têm sido usados como sinônimos, mas,
na realidade, a diferença entre eles é enorme. Persuadir vem do latim “persuadere” e
significa “aconselhar até o fim”, ou melhor, aconselhar até que o outro concorde em
fazer o que pretendemos. Assim, o persuasor é um conselheiro, alguém que aconselha,
que recomenda. Na persuasão não existe violência, nem ameaças, nem coação moral,
nem constrangimento, pois o aconselhado pode seguir ou não a sugestão recebida. Não
precisa haver uma adesão irremediável à verdade.
Já convencer tem outro significado. É derivado do verbo “vencer”. Isso dá
a idéia de combate, luta, disputa. Assim, o convencido, foi, antes de mais nada,
vencido. Vencido pelos argumentos, pela demonstração da verdade do que foi exposto.
Está obrigado moralmente a atuar de acordo com sua convicção. O fato de estar
convicto implica em certeza, conhecimento, verdade e dever de agir de acordo com a
razão.
Portanto, aquele que quer persuadir se preocupa em conquistar a vontade
mas não a inteligência do outro, ele quer que este faça alguma coisa e consegue;
enquanto que quem procura convencer deve conquistar a inteligência do outro.
O persuasor não perde tempo tentando fazer os outros mudar de ideia ou de
opinião. Ele apenas quer que eles pratiquem determinada ação e nada mais. A maneira
mais comum de persuadir alguém é intensificar ou mesmo criar algum desejo na pessoa
que se quer persuadir. Se o desejo dela se tornar mais forte que sua vontade, esta
obedecerá à sugestão recebida. Um bom exemplo de persuasão pode ser visto nas
propagandas de alimentos prontos e bebidas, que são veiculados pelas emissoras de
televisão próximo aos horários das refeições.
Todas as pessoas têm objetivos e necessidades – chamados de bens ou fins –
que buscam alcançar. Para tanto, precisam de meios. É papel da razão mostrar quais
coisas, pessoas ou atividades são meios para atingirmos nossos fins. Toda vez que algo
for, ou parecer ser, um meio para atingirmos um fim, a vontade o prefere e nos obriga a
agir para que ele seja, de fato, usado como um meio para atingirmos nossos propósitos.
Assim, para persuadir alguém, devemos antes descobrir qual é o fim (bem)
mais desejado por ele e, então, bastará mostrar-lhe que aquilo que estamos sugerindo é o
meio para que ele o alcance. Ele seguirá nossa sugestão somente porque por seu
intermédio alcançará aquilo que realmente o interessa.
Podemos classificar os bens em três grupos:
(1) Bens Úteis:
São materiais e visam ao conforto do corpo ou a sua conservação. Podem
ser simbolizados pelo dinheiro. Exs.: casa, carro, alimento, vestuário, medicamento,
etc.
(2) Bens Agradáveis:
São aqueles que dizem respeito aos sentidos e dão prazer. Exs.: alimento,
bebidas, sexo, perfume, beleza, música, etc.
(3) Bens Honestos:

34
São aqueles que respondem aos fins supremos da alma humana e cujo
principal aspecto é o dever. Ex.: socorrer uma pessoa que foi assaltada e ferida. Isto
nos lembra da história do bom-samaritano. Ajudar o homem moribundo não era para
ele nem útil, nem agradável, mas ele o fez porque acreditava ser seu dever.
Para algumas pessoas o que mais interessa são os bens úteis, para outras, os
bens agradáveis, e há aqueles que dão preferência aos bens honestos. Estes são os mais
equilibrados. Assim, cada indivíduo busca mais um destes três tipos de bens, embora,
vez e outra, possa se decidir por outro.
É interessante que os antigos gregos já conheciam essas coisas. Eles, que
tinham o costume de ter um deus para cada sentimento ou situação, possuíam a deusa da
persuasão – chamada Pitho – que era representada pela imagem ou figura de uma
mulher procurando atrair um fabuloso animal de três cabeças: uma de macaco, uma de
gato e outra de cão. Cada cabeça representando uma preferência: a de macaco, pelos
bens úteis; a de gato, pelos bens agradáveis e a de cão, pelos bens honestos. Isso
ilustrava que aquele que se aventurar a persuadir alguém, deve procurar atrair o outro
apelando também para três cabeças, cada qual com sua preferência. Tentará atrair as
três, embora seja mais enfático com uma delas. Assim, para persuadir alguém que dá
prioridade para os bens úteis, deve se insistir no apelo aos bens materiais; para atrair
outro que dá mais valor aos bens agradáveis, enfatiza-se o prazer que ele gozará ao fazer
o que estamos sugerindo; e, para influenciar aquele para quem o mais importante são os
bens honestos, salientaremos o que é honesto e correto.
Persuadir é descobrir o que o outro quer e encaixar o que nós queremos
naquilo que ele quer. O melhor veículo para tanto é a palavra falada. A palavra escrita
é proveitosa quando se quer convencer, mas para persuadir ela é inadequada. Ocorre
que a palavra falada contém mais coisas que a escrita: possui a capacidade de transmitir
emoções, intenções e estados de alma de quem a pronuncia. Além disso, a palavra
falada penetra no ouvinte ainda que ele não queira, ao passo que podemos deixar de ler
algo, se quisermos. A continuação ou interrupção da mensagem não depende da
vontade do ouvinte, mas da nossa. Podemos, ainda mais, alterar completamente o rumo
de nossa mensagem, conforme leiamos na fisionomia de quem ouve, o agrado, a
simpatia, o tédio, o desinteresse ou a curiosidade e atenção. Já a palavra escrita, depois
de entregue, escapa ao nosso domínio. Portanto, a palavra falada é mais palavra que a
palavra escrita. Praticamente as únicas vantagens desta é que atinge distâncias maiores,
quer no espaço, quer no tempo.
Existe uma arte que cuida exclusivamente da persuasão e de como descobrir
o modo de dirigir a conduta humana. Esta arte é a retórica ou oratória. Aristóteles a
chamava de “arte de persuadir”. Ela preocupa-se muito mais com a verossimilhança do
que com a verdade em si. Como exemplo disto temos o caso dos sofistas
contemporâneos de Platão (especialmente Górgia) que falavam sobre qualquer assunto,
tanto a favor como contra, e que, ao final de seu discurso, conseguiam que todos
estivessem de pleno acordo com eles. Embora esses sofistas persuasores fossem
amorais, indiferentes ao bem ou ao mal, ao certo ou ao errado, eles provaram algo muito
importante para a psicologia, i. e., que podemos apenas com palavras, levar os homens
para onde quisermos.
Observe que a moralidade ou imoralidade da persuasão depende
exclusivamente do persuasor, da pessoa que dela faz uso. Ela pode ser usada tanto para
o bem como para o mal. É como um bisturi, que na mão de um médico pode salvar uma
vida, mas na mão de um malfeitor pode ser instrumento para um crime. Alguém disse
que a persuasão é a mais terrível de todas as artes.

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Principais Diferenças Entre Convencer e Persuadir

(1) Persuadir:
01. É dar um conselho;
02. É indicar um caminho possível;
03. É suave e delicado;
04. É um apelo á credulidade;
05. Visa somente a uma ação;
06. Lida com os desejos e a vontade;
07. O homem persuadido age;
08. Embora possa discordar de nós, o persuadido faz o que queremos;
09. O persuadido dá mais valor à opinião do que à certeza;
10. A dúvida é a grande aliada;
11. É mais prático e objetivo;
12. Não tenta fazer o outro concordar conosco;
13. É falando que melhor persuadimos;
14. Quem persuade não precisa crer e agir da mesma forma que aconselha;
15. Ao lado da verdade admite aquilo que se parece com ela.

(2) Convencer:
01. É ensinar uma lição;
02. É apontar o único caminho;
03. É autoritário e firme;É um apelo à razão;
04. Dita normas para todas as ações semelhantes no futuro;
05. Lida com a inteligência e com os fatos;
06. O homem convicto pode agir ou não;
07. Embora concordando conosco, o convencido pode agir diferente;
08. O convicto só aceita a verdade;
09. A dúvida é a grande inimiga;
10. É mais teórico e subjetivo;
11. Preocupa-se essencialmente com a concordância do outro;
12. É escrevendo que melhor convencemos;
13. Quem pretende convencer precisa antes estar convencido do que diz;
14. Admite unicamente a verdade.
Em nosso trabalho para Deus, precisamos convencer as pessoas, pois, assim,
estarão colocando a razão ao lado da verdade. Contudo, pode acontecer que a vontade
não acompanhe a razão, de modo que elas se tornam convencidas mas não decidem
favoravelmente. Nesses casos seria útil usar também a persuasão para levá-las à
decisão.
Este capítulo analisou as três características essenciais do homem: emoção, razão e
vontade, com destaque para esta última, demonstrando como o pregador deve agir para
que os ouvintes submetam sua vontade a Cristo. Em continuação, estudaremos sobre as
diferentes maneiras de se apresentar um sermão.

36
CAPÍTULO IX

MANEIRAS DE APRESENTAR UM SERMÃO

Há três maneiras de se entregar aos ouvintes a mensagem de Deus: o


pregador pode ler o sermão, pode apresentá-lo sem usar qualquer anotação ou ainda
proferi-la tendo consigo apenas um esboço que lhe sirva de roteiro.

O Sermão Lido

O sermão é totalmente escrito e, então, lido diante do auditório. Algumas


partes são memorizadas e, mesmo quando o orador olha para os ouvintes, ele se
restringe à pronunciar o que está escrito e que ele decorou. Algumas vantagens são:
a harmonia no conteúdo e na forma, o polimento, a escolha de palavras certas que
produzam o efeito certo e o fato do orador saber com maior exatidão o tempo de
duração de sua fala.
Algumas desvantagens que se percebe são: a maior parte das pessoas não consegue
se interessar e prestar atenção à uma leitura longa, a gesticulação se torna difícil e o
contato visual com os ouvintes é muito pouco. Além disso, em se tratando de um
sermão, o orador fica preso ao papel e pode ser tentado a não atender à voz do
Espírito Santo, se este lhe comunicar algo na hora da pregação.

O Sermão sem Anotações

Este discurso pode ter sido muito bem preparado e até totalmente escrito,
mas nenhuma anotação é ocupada na hora da apresentação. O orador tem completo
domínio do tema. As divisões são bastante lógicas e claras em sua mente ou no próprio
texto bíblico que ele está utilizando. O orador também está alerta a qualquer orientação
do Espírito Santo, no momento da apresentação.

O Sermão Baseado em um Esboço

Contém apenas as divisões e as subdivisões com palavras e frases curtas que


sugerem as idéias que o pregador apresentará. Funciona como um roteiro bem ordenado
e lógico para o pregador se guiar. Ajuda no caso do pregador ter alguma amnésia
temporária. Apenas uma ou duas páginas são suficientes. Neste caso, o discurso
também pode ser totalmente escrito, contudo apenas um esboço é usado na exposição.
Os sermões que se baseiam em textos que abordam histórias, tais como os
encontros de Jesus, seus milagres e suas parábolas, são mais próprios ou mais fáceis
para ser expostos sem o uso de anotações. Já os sermões muito argumentativos
normalmente requerem o uso de um esboço e talvez até um sermão totalmente escrito.
Recomendamos que no preparo do discurso, este seja totalmente escrito e
depois guardado. Tal procedimento é vantajoso pois na próxima vez que tiver que falar
o mesmo assunto para ouro auditório, não precisará pesquisar tudo outra vez,
economizará tempo e o sermão só poderá ser melhorado, sem deixar de fora nenhum
bom argumento já utilizado anteriormente.

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O ideal na apresentação é que o orador tenha tal domínio do tema que não
precise usar qualquer coisa a não ser a Bíblia. Contudo, é bom que tenha consigo,
dentro da Bíblia, um esboço, pois, se houver um esquecimento momentâneo, ele não vai
se atrapalhar: bastará uma olhada rápida para que saiba o que falar na seqüência.
Este capítulo mostrou as três maneiras de se apresentar um sermão, ressaltando as
vantagens e desvantagens de cada uma e o método ideal. O capítulo seguinte ensinará
como fazer apelos e conseguir uma resposta favorável da parte dos ouvintes.

CAPÍTULO X

COMO FAZER APELOS

O apelo ao qual nos referimos neste capítulo é aquele que ocorre logo após a
conclusão de um sermão, sendo uma espécie de cobrança da verdade que foi exposta
pelo pregador. É uma oportunidade e um convite para que o ouvinte manifeste
publicamente sua decisão. Seu objetivo é provocar mudanças de atitude e
comportamento.

Vantagens

1. Permite ao pregador perceber se aquilo que ele diz é entendido e aceito,


desenvolvendo nele a convicção de que de que Deus de fato o escolheu e o está
usando para promover o Seu reino.
2. Serve de motivação para aquelas pessoas que são possuídas por uma indecisão e
que só tomarão uma resolução se forem estimuladas por outro.
3. Oferece ao ouvinte a oportunidade de dar o primeiro passo atravessando a
fronteira do reino das trevas para o reino da luz. Quantos milhares de cristãos
iniciaram com Deus ao apelo feito por um pregador!
4. Dá ocasião aos que já são crentes de se lembrarem do dia em que eles também se
decidiram a favor do evangelho e da grande bênção que isso foi em sua vida.
Essa lembrança os faz refletir em sua jornada cristã e tende a aproximá-los mais
de Deus.
5. Abre espaço para que o Espírito de Deus atue mais direta e eficazmente sobre os
ouvintes, levando-os à conversão ou à entrega de alguma área da vida que ainda
não está submissa ao senhorio de Cristo.
6. Torna aquele que atende muito mais comprometido a seguir o cainho de Deus.
A pessoa que ouve um sermão e toma uma decisão íntima de viver a mensagem
mas não a exterioriza, ao ser tentada a não cumprir o que decidiu, pode
raciocinar que ninguém percebeu sua decisão e, assim tem menos força e
coragem moral para resistir ao mal. Porém, aquele que se manifesta
publicamente – diante de parentes, vizinhos e amigos – a favor de algo, assume
uma grave responsabilidade e sente-se moralmente obrigado a seguir de acordo
com sua decisão. O fato de que outros foram testemunhas do que decidiu será
um poderoso instrumento para ajudá-lo a perseverar.

Características do Apelo Eficaz

1. Um bom apelo é breve. Uns poucos minutos são suficientes. Embora pessoas
tenham se decidido porque algum pregador se alongou no apelo, normalmente

38
este procedimento causa irritação em uns e constrangimento em outros, o que
prejudica a finalidade espiritual. É melhor decidir fazer apelos curtos e só se
alongar se o Espírito de Deus, no momento, sugerir que seja assim.
2. O apelo também deve ser claro. Aquele que se propõem a atendê-lo deve saber
exatamente o significado do que está fazendo.
3. Também precisa ser objetivo, direto, sem rodeios.
4. Outra característica fundamental é a honestidade. O pregador não deve usar de
astúcia para conduzir os ouvintes à decisão. Como exemplo negativo citamos o
caso do pregador que dizia: “Quem atender ao apelo e vier à frente aceitando a
Cristo receberá uma Bíblia de presente” ou “... esta linda camiseta”.
5. O apelo precisa se espontâneo, quer dizer, voluntário, natural. Embora todo
sermão deva ter algum tipo de apelo – ora às emoções, ora ao intelecto, mas
querendo acima de tudo conquistar a vontade – nem todos precisam ser
direcionados para que os ouvintes exteriorizem suas decisões. O pregador deve
estar completamente livre de qualquer pressão humana para, submisso só a
Deus, decidir quando é melhor fazer o apelo.
6. No apelo, o orador não deve fazer uso de gesticulação muito expressiva. O
importante é a inflexão da voz, o semblante, o olhar e o amor pelas pessoas.

Tipos de Apelo

O apelo para que os ouvintes revelem publicamente sua decisão pode ser
realizado de várias maneiras. O pregador deverá escolher a que mais convém na
situação em que se encontra. Ele pode solicitar que eles levantem a mão, ou que fiquem
em pé, ou que venham à frente. O melhor é convidar que venham à frente do auditório,
pois serão mais notados e haverá maior comprometimento. Porém, alguns do auditório,
por serem demasiado tímidos, não teriam tal ousadia.
Para ajudá-los a mostrar o que sentem, o pregador pode inicialmente
solicitar que simplesmente estendam a mão, o que, em geral, não é muito difícil de
conseguir. Depois pode acrescentar: “gostaria de que estes que levantaram a mão se
colocassem em pé, por favor”. Ora, quem levantou a mão já foi visto pelos que estão
mais próximos, e não se esquivará de ficar em pé. Continuando, pode dizer:
“Apreciaríamos que estes amigos viessem à frente para que todos pudessem vê-los...”
ou “Queremos fazer uma oração especial em favor de vocês. Poderiam vir à frente, por
bondade?”. Com certeza alguns que não iriam à frente se o primeiro chamado fosse
para isso, irão quando for seguido o procedimento que acabamos de apresentar.
Há situações em que é impossível ir à frente, simplesmente porque não há
espaço. Nesses casos, o orador deve se contentar e que levantem a mão, ou fiquem em
pé ou se ajoelhem onde estão e acompanhem sua oração, ou que fiquem após o culto por
alguns minutos, para dar alguma orientação extra ou para anotar seus nomes e
endereços.
Enfim, como vimos, o orador pode combinar duas ou mais maneiras para levar
seus ouvintes a uma determinada decisão. Algumas vezes o apelo pode ser planejado,
outras não. O importante, no entanto, é que sempre esteja aberto e submisso à
orientação do Espírito Santo de Deus.

39
CAPÍTULO XI

AS FERRAMENTAS DO PREGADOR

Praticamente qualquer profissão requer instrumentos e ferramentas que


possibilitem a realização de tarefas. Um profissional pode ter muita capacidade e
experiência em sua área de atuação mas, se não possuir as ferramentas adequadas,
pouco ou nada poderá fazer. Algo semelhante acontece com o pregador da Palavra de
Deus. É fundamental que Deus o qualifique para esta importante tarefa e que, com o
passar dos anos, adquira um conhecimento prático no âmbito da pregação. Contudo, o
uso correto das ferramentas hoje disponíveis poderá fazer uma grande diferença no
preparo e na exposição do sermão.
As principais ferramentas são o texto na língua original, os dicionários e
gramáticas referentes a essa língua. Seria formidável se cada pregador conhecesse o
grego e o hebraico o suficiente para ler e compreender as mensagens de Deus nas
próprias línguas em que elas foram escritas! Mas essa não é a nossa realidade.
Vejamos agora outras ferramentas que estão ao nosso alcance.

Bíblia

É a principal ferramenta e deve ser a base de todo sermão. É importante ter


diversas traduções pois, especialmente em textos de tradução difícil, alguns tradutores
conseguem maior correção e clareza que outros.

Concordância Bíblica

Também chamada de chave bíblica. Contém as palavras da Bíblia em


ordem alfabética. Abaixo de cada palavra aparecem os textos bíblicos (livro, capítulo,
versículo e frase) onde ela se encontra. Por exemplo: Se você quer preparar um sermão
sobre oração, procure na concordância bíblica a palavra “oração” e o verbo “orar” e
você encontrará muitos textos sobre o assunto. A melhor concordância é uma completa,
editada pela Sociedade Bíblica do Brasil.

Dicionário Bíblico

Contém palavras da Bíblia em ordem alfabética e o significado


correspondente. Assim, suponhamos que você não saiba o sentido da palavra “graça”.
Procurando no dicionário bíblico você encontrará a explicação. Um bom dicionário é O
Novo Dicionário da Bíblia, da Edições Vida Nova.

Enciclopédia Bíblica

É uma obra de referência que expõem os fatos, as doutrinas, os resultados da


pesquisa na área bíblica e outras a ela relacionadas, e biografias de grandes vultos –
entre outras coisas. É semelhante a um dicionário bíblico, porém bem mais detalhada e
completa. Imaginemos que você queira preparar um sermão sobre a parábola das dez
virgens. Se você consultar uma enciclopédia no verbete “casamento” ou “bodas”, ela
explicará como era realizado um casamento nos dias de Jesus, e isso o auxiliará a
compreender melhor o texto bíblico.

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Comentário Bíblico

Explica a Bíblia toda ou parte dela, verso por verso, e, às vezes, quase que
palavra por palavra. Mostra-nos o que os eruditos da Bíblia descobriram sobre os textos
que estamos estudando. Existe o Comentário Bíblico Adventista (SDABC) somente em
inglês e espanhol. Em português, um dos melhores comentários é a “Série Cultura
Bíblica” e o “O Novo Comentário da Bíblia” da Edições Vida Nova em parceria com a
editora Mundo Cristão. Frëquentemente as lições da Escola Sabatina trazem citações
dos autores desses comentários.

Escritos de Ellen G. White

Dentre os muitos livros, artigos, cartas e manuscritos que ela escreveu,


destacamos aqueles livros cujo propósito, em realidade, é comentar a Bíblia. São eles:
(1) Patriarcas e Profetas
(2) Profetas e Reis
(3) O Desejado de Todas as Nações
(4) Atos dos Apóstolos
(5) O Grande Conflito
(6) História da Redenção
(7) Parábolas de Jesus
(8) O Maior Discurso de Cristo
Em alguns desses volumes, além do índice dos capítulos, podemos
encontrar nas páginas finais um índice remissivo e até um índice das passagens bíblicas
utilizadas, o que será de especial ajuda para se localizar um comentário sobre
determinado texto. Recentemente foi lançado um CD-ROM contendo 66 livros de Ellen
G. White em português, com mais de 27 mil páginas de texto, o qual possui uma série
de facilidades para se localizar aquilo que é o objeto de nosso estudo.
É o Espírito de Deus que nos pode dar o entendimento de Sua Palavra. Ele
pode fazer isso diretamente colocando a compreensão em nossa mente, mas, com
demasiada freqüência, faz uso de outras pessoas (Atos 8:30, 31 e 35) que, falando ou
escrevendo, trazem a luz que nos é necessária. Ora, as ferramentas acima descritas
foram preparadas por servos de Deus, pessoas a quem o Espírito Santo capacitou para
tal tarefa. Algumas delas dedicaram boa parte de sua existência no preparo desses
materiais que agora se acham disponíveis aos pregadores. É adequado e mesmo
necessário que as usemos para nosso próprio crescimento espiritual e para a edificação
de nossos ouvintes.

CAPÍTULO XII

COMO TRATAR O TEXTO BÍBLICO

A Escolha

Como já vimos, umas das preocupações de qualquer pregador é decidir o


que pregar. Se ele tem familiaridade com as Escrituras desde há muito tempo e é um
pregador experiente, possui uma riqueza de material à sua disposição. Mas, se tem
pouco conhecimento bíblico e está sendo iniciado no ofício da pregação, poderá ter
dificuldades para encontrar argumentos para um único sermão.

41
O certo é que o pregador deve ser sensível à voz do Espírito de Deus de
modo que se deixe guiar na escolha do que falar na pregação. Deve orar suplicando que
o Espírito o conduza. Deve também ser sensível às necessidades espirituais de seu
rebanho. Deveria se preocupar em pregar aquilo que é mais necessário à sua
congregação. Por isso, quanto mais conhecer os membros de sua igreja, mais claro se
tornará para ele o conteúdo que deverá abordar em sua pregação.
Uma das maneiras de se preparar um sermão é baseá-lo em um texto
bíblico, contudo deve-se levar em conta que, embora toda a mensagem bíblica seja
inspirada por Deus, existem textos que simplesmente não servem como base de sermões
porque as informações que eles fornecem não possuem relevância espiritual. Em
contrapartida há incontáveis textos que, se bem trabalhados, podem resultar em
excelentes sermões. À guisa de exemplo, citamos alguns: Salmo 32 e 51; Isaías 1:10-
20; 40; 53; Daniel 2 e 7; Mateus 5-7, 24 e 25; Lucas 15; Romanos 8; I Coríntios 12 e
13; Efésios 2, 6; Hebreus 4:14-16; 11; I João; Apocalipse 1-3 e 21.
Quando lemos a Bíblia para proveito pessoal, deparamo-nos com
determinadas passagens que, por alguma razão, falam mais de perto ao nosso coração,
as quais podem ser transformadas em bons sermões. Se elas foram uma grande bênção
para nós, poderão ser para muitos outros mediante a nossa pregação.

A Análise

Análise de um Texto Longo

Depois que o texto foi escolhido, precisamos analisá-lo. Primeiro, ele


precisa ser composto em partes. Assim, prepara-se uma lista com todas as informações
que ele contém, de modo que cada linha contenha uma única verdade. Vamos
exemplificar usando o texto de Malaquias 3:7-12.
 Desde a antiguidade Israel não obedeceu aos estatutos de Deus.
 Deus convida Israel a voltar-se para Ele.
 Se Israel fizer isso Deus Se voltará para ele.
 Israel pergunta em que sentido precisa voltar.
 Deus acusa Israel de roubá-Lo.
 Israel parece não reconhecer que roubou a Deus.
 Israel roubou nos dízimos.
 Israel roubou nas ofertas.
 Como resultado de roubarem a Deus estavam sendo amaldiçoados.
 Esse roubo era praticado por toda a nação.
 Deus convida a trazerem todos os dízimos à casa do tesouro.
 Ao fazerem assim haveria mantimento na casa de Deus.
 Depois disto poderiam provar a Deus.
 Ele prometeu abrir as janelas do Céu.
 Ele prometeu derramar sobre o povo bênçãos sem medida.
 Ele prometeu repreender o devorador para que não mais consumisse o fruto da terra.
 Ele prometeu que a vide no capo não mais seria estéril.
 Ele prometeu que todas as nações reconheceriam a felicidade de Seu povo.
 Ele prometeu que teriam uma terra deleitosa.

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Análise de Textos Paralelos

Além desse procedimento, quando há dois ou mais textos bíblicos paralelos,


como é o que acontece com os evangelhos, eles precisam ser comparados, de modo que
fiquem evidentes as semelhanças, as possíveis diferenças e as peculiaridades de cada
um. Feito isso, escolhe-se aquele texto que melhor servirá para alcançar os objetivos
que se pretende com a pregação. Observe, no exemplo que segue, como isto pode ser
feito.
Textos paralelos: Mateus 20:29-34; Marcos 10:46-52; Lucas 18:35-43.
(1) Semelhanças:
Os evangelhos sinóticos concordam em que:
 uma grande multidão acompanhavam a Jesus;
 o(s) cego(s) estava(m) assentado(s) à beira do caminho;
 clamava(m): “Senhor, Filho de Davi, em compaixão de mim(nós)!”.
 Jesus o(s) chamou;
 Jesus perguntou-lhe(s) o que desejava(m);
 sua resposta foi que desejava(m) ver;
 imediatamente recuperou(aram) a vista;
 passou(aram) a segui-Lo;
 a multidão o(s) repreendia para que se calasse(m).
Mateus e Marcos afirmam que o fato ocorreu quando Jesus saía de Jericó.
Marcos e Lucas concordam em que:
 era apenas um cego;
 ele era esmoleiro;
 Cristo lhe disse: “a tua fé te salvou”.
(2) Diferenças:
Mateus declara serem dois cegos.
Lucas declara que Ele se aproximava de Jericó.
(3) Peculiaridades:
Mateus acrescenta que:
 Jesus ficou condoído;
 Jesus tocou-lhes os olhos.
Marcos diz que:
 Jesus estava com os discípulos;
 o cego chamava-se Bartimeu;
 o cego era filho de Timeu;
 algumas pessoas animaram o cego dizendo-lhe: “tem bom ânimo; levanta-te, Ele te
chama”;
 ele lançou de si a capa;
 ele levantou-se de um salto;
 ele foi ter com Jesus.
Lucas escreveu que:
 o cego ouviu o tropel da multidão;
 o cego perguntou o que era aquilo;
 Jesus lhe disse: “recupera a tua vista”;
 após ser curado ele glorificava a Deus;
 também o povo, vendo isto, dava louvores a Deus.

(4) Texto Preferido:

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O texto de Lucas porque os detalhes que ele traz são mais úteis para uma
aplicação espiritual.

O Esboço

Como já foi visto, o esboço tem sido comparado a um esqueleto, o esqueleto


do sermão, pois dá sustentação às diferentes partes que o compõem. Para um melhor
entendimento vamos usar outra ilustração. Imagine que uma senhora tenha em sua casa
uma cômoda com três gavetas que ela usa para guardar os tecidos e colocar à disposição
para serem usados em seu lar. Ela decidiu dispô-los da seguinte maneira:

1ª Gaveta 2ª Gaveta 3ª Gaveta

Em uma tarde, depois de lavar e passar a roupa, ela vai guardá-los no lugar
certo. A primeira peça que ela toma é uma toalha de rosto. Em que gaveta ela a
guardará? A próxima é uma fronha de travesseiro. Qual é o seu lugar? E os
guardanapos? E os lençóis, as toalhas de banho e as toalhas de mesa? Tudo está bem
organizado de modo que cada tecido tenha sua gaveta certa.
Podemos comparar um sermão com uma cômoda, e suas divisões com as
gavetas que ela possui. Os diferentes materiais de apoio tais como textos, comentários,
citações, e ilustrações com os diferentes tecidos. Estes, por sua vez, são empilhados
dentro de uma mesma gaveta. Assim, há uma pilha de lençóis de baixo, há outra de
lençóis para se cobrir e outra de fronhas. Cada uma dessas pilhas, em nossa
comparação, seria uma subdivisão. Enfim, tudo deve ser feito de tal maneira que cada
idéia, cada informação, cada argumento esteja na gaveta certa. Portanto, o sermão é
formado por tópicos que podem ser assim classificados:
 Tópicos primários – chamados de divisões ou “gavetas” – são as ideias e
argumentos mais importantes e abrangentes.
 Tópicos secundários – chamados de subdivisões – consistem em ideias e
informações menores que estão dentro das divisões ou “gavetas”. Se for necessário,
as subdivisões podem conter divisões ainda menores.
Vamos ainda usar outra comparação, onde uma pequena casa representa o
sermão; seus cômodos, as divisões; e os móveis e outros aparelhos, os materiais de
apoio. O esboço ficaria assim:

(1) Tema: Uma Pequena Casa

I. SALA II. QUARTO III. BANHEIRO IV. COZINHA


1. Sofá 1. Cama 1. Chuveiro 1. Fogão
2. Estante 2. Guarda-roupas 2. Vaso sanitário 2. Geladeira
3. Televisão 3. Penteadeira 3. Pia 3. Pia
4. Mesa
5. Cadeiras
6. Armário

Qualquer um que observa esta distribuição concordará que tudo está bem
lógico e organizado. Do mesmo modo, um esboço de sermão deve possuir lógica e

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coerência. Cada informação deve estar no lugar certo. Imagine agora a mesma casa
onde a disposição dos móveis e aparelhos fosse diferente.

(2) Tema: Uma Pequena Casa

I. SALA II. QUARTO III. BANHEIRO IV. COZINHA


1. Chuveiro 1. Cama 1. Mesa 1. Estante
2. Fogão 2. Vaso sanitário 2. Cadeiras 2. Geladeira
3. Pia 3. Penteadeira 3. Televisão 3. Pia
4. Guarda-roupas
5. Sofá
6. Armário

Novamente, qualquer pessoa que olhasse a distribuição acima, mesmo uma


criança, diria que não está certa, que vários elementos estão fora de lugar, e que esta
casa maluca não existe em lugar nenhum. Do mesmo modo, um esboço de sermão pode
ser um esboço maluco, em que não há ordem e os argumentos não estão bem
relacionados. Isso resultará numa pregação confusa e na consequente dificuldade, por
parte dos ouvintes, para entender e praticar.
A seguir estão alguns textos com seus respectivos esboços, bem resumidos,
contendo apenas as divisões:

 Texto: Mateus 28:18-20


I. A autoridade de Jesus
II. A comissão de Jesus
III. A promessa de Jesus

 Texto: Apocalipse 20:1-9


I. Satanás será preso
II. Satanás será solto
III. Satanás será destruído

 Texto: João 3:1-8


I. A necessidade do Novo Nascimento
II. O processo do Novo Nascimento
III. O resultado do Novo Nascimento

 Texto: Isaías 45:22


I. A fonte da salvação
II. O objetivo da salvação
III. O método da salvação

 Texto: I Coríntios 13
I. A necessidade do amor
II. As qualidades do amor
III. A duração do amor

 Texto: Mateus 28:18-20


I. A visão de Deus
II. A visão do pecado

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III. A visão do perdão
IV. A visão do serviço

Como vimos, um bom sermão baseado em um texto bíblico, começa com a


escolha inteligente de um bom texto e segue com uma análise minuciosa das
informações que ele contém, resultando em um esboço bem estruturado com todas as
suas partes unidas e harmônicas, o que servirá de sustentação para a mensagem que será
exposta. O capítulo seguinte tratará dos diferentes tipos de sermões demonstrando
como prepará-los e fornecendo vários exemplos.

CAPÍTULO XIII

TIPOS DE SERMÕES

Podemos afirmar que há muitas maneiras de se compor um sermão, todas


elas válidas e eficientes. Porém, para facilitar o aprendizado de quem é incipiente nesta
arte, vamos restringir à divisão clássica que consiste em sermões temáticos, expositivos
e textuais. Também faremos uma revê referência à homilia. Depois que você aprender
esses tipos básicos, e com a experiência que for adquirindo, poderá criar variações a
partir dos mesmos.

Sermão Temático

É aquele que começa com a escolha de um assunto e então segue com a


busca dos textos necessários para apoiá-lo. Como exemplo, observe os esboços que
seguem, os quais apresentam os dois temas mais característicos de nossa igreja.

Exemplos de Esboços de Sermões Temáticos

(1°) Tema: A VOLTA DE JESUS


 Introdução:
 Argumentação:

I. A PROMESSA DA VOLTA DE JESUS


1. Feita por Jesus – João 14:1-3
2. Feita por anjos – Atos 1:9-11
3. Feita por apóstolos – Hebreus 9:28; I João 5:20

II. A MANEIRA DA VOLTA DE JESUS


1. Ele virá na glória de Seu Pai – Mateus 16:27
2. Ele virá com Seus anjos – Mateus 25:31
3. Ele virá de modo visível – Atos 1:9-11
4. Ele virá corporalmente – Atos 1:9-11
5. Ele virá ao som da trombeta – I Tessalonicenses – 4:16

III. A RAZÃO DA VOLTA DE JESUS


1. Ele virá para ressuscitar os justos – I Tessalonicenses 4:16
2. Ele virá para buscar os que creram – I Tessalonicenses 4:17
3. Ele virá para dar o reino aos justos – Mateus 25:34

46
4. Ele virá para dar aos justos um corpo glorificado – Filipenses 3:20 e 21
5. Ele virá para destruir os que não creram nEle – II Tessalonicenses 1:7-9

IV. O TEMPO DA VOLTA DE JESUS


1. Não podemos saber com precisão – Mateus 24:36
2. Podemos saber sua proximidade através dos sinais – Lucas 21:28

 Conclusão:
(2º) Tema: O SÁBADO

 Introdução:
 Argumentação:

I. A INSTITUIÇÃO DO SÁBADO
1. A instituição na Criação – Gênesis 2:1-2
2. Instituído por Deus – Gênesis 2:3
3. Instituído por causa do homem – Marcos 2:27

II. A SANTIDADE DO SÁBADO


1. Deus o santificou – Êxodo 20:11
2. Deus ordena que o santifiquemos – Êxodo 20:8

III. O PROPÓSITO DO SÁBADO


1. Para adorarmos a Deus – Isaias 66:23
2. Para nos reunirmos em santa convocação – Levíticos 23:3
3. Para fazermos o bem aos outros – Mateus 12:12

 Conclusão:

Passos Para Preparar um Sermão Temático

(1) Escolher o tema (a idéia central).


(2) Com a ajuda de uma concordância bíblica, selecionar os melhores textos para a
compreensão do assunto.
(3) Cuidar para que cada texto seja utilizado de acordo com seu contexto.
(4) Determinar as diversas idéias complementares ou de apoio à ideia central
(divisões e subdivisões).
(5) Preparar o esboço.
(6) Complementar o esboço com os materiais de apoio: comentários, citações,
ilustrações, exemplos, definições, etc.
(7) Preparar a conclusão.
(8) Preparar a introdução.
O sermão temático é bom para ser usado em conferências e na apresentação
de doutrinas e de biografias cujas informações estão esparsas na Bíblia.

Sermão Expositivo

É aquele baseado em um único texto bíblico, geralmente longo. Esse pode


consistir de uns poucos versos, de um ou dois capítulos, ou até de um livro inteiro da
Bíblia. Um pregador experiente e com profundo conhecimento do texto sagrado pode

47
conseguir apresentar em um único sermão toda a essência de um livro, se este for de
cunho histórico, como é o caso de Jonas, Oséias e Jó.
O sermão expositivo começa com um texto, então descobre-se o tema e o
seu desenvolvimento. Observe, como exemplo, o esboço que segue, o qual já inclui a
introdução e a conclusão, e as ideias apresentadas com o texto bíblico. Procure perceber
a lógica e a sequência da estrutura, adotando o seguinte procedimento: primeiro observe
somente as divisões e o relacionamento mútuo que há entre elas; depois, cada divisão
com seu respectivo conteúdo, isolada das demais; e, finalmente, atente para o todo.

(1º) Tema: FIDELIDADE NOS DÍZIMOS E NAS OFERTAS


 Introdução:
1. Texto: Malaquias 3:7-12.
2. Contexto: A igreja de Deus do quinto século a.C. havia dEle se afastado e
estava vivendo de modo errado em muitas áreas da vida. Naqueles dias,
Malaquias foi usado como instrumento de Deus para apontar-lhe os pecados e
convidá-los. A voltarem para o Senhor. O texto que lemos apresenta um dos
pecados daquela época: a desconsideração para com a obra de Deus e a
manutenção de Sua Igreja na Terra.
3. Objetivos: (1) Descobrir o que Deus espera de nós em relação aos dízimos e
ofertas e (2) estimular-nos a ser fiéis a Deus nesta questão e a reclamar a Sua
bênção.

 Argumentação:
I. DEUS REPREENDE SUA IGREJA
1. A igreja é acusada de desviar-se dos estatutos de Deus – 7
2. A igreja é acusada de roubar a Deus – 8
(1) Há roubo nos dízimos – 8
(2) Há roubo nas ofertas – 8

II. DEUS APELA À SUA IGREJA


1. A igreja é convidada a voltar para Deus – 7
2. A igreja é convidada a ser fiel a Deus – 10
(1) Deve ser fiel nos dízimos – 8 e 10
(2) Deve ser fiel nas ofertas – 8 e 10
(3) Deve ser fiel em os trazer à casa do tesouro – 10

III. DEUS FAZ PROMESSAS À SUA IGREJA


1. Deus promete tornar para os que se arrependeram – 7
2. Deus promete remover as dificuldades – 11
3. Deus promete derramar bênçãos sem medida – 10
(1) As janelas do Céu serão abertas – 10
(2) Haverá prosperidade – 12
4. Deus promete fazê-los felizes – 12

 Conclusão:
1. Quando Deus olha para nossa vida e vê que não estamos andando em Seus
caminhos, Ele nos repreende a fim de que sejamos corrigidos. Isto Ele faz
porque nos ama e está interessado em nossa salvação.
2. Deseja que reconheçamos nossos descaminhos e que, arrependidos, voltamos a
Ele em busca de Sua bênção. O convite apresentado neste texto – “tornai-vos

48
para Mim... e Eu Me tornarei para vós outros” (Zc 1:3) – é repetido
continuamente através das Escrituras, e de modo destacado no ministério
terrestre de Cristo (Mt 11:28). Assim, se dermos um passo em direção a Deus,
Ele virá ao nosso encontro e nos abençoará com Sua salvação e também com
tudo o que for necessário a esta vida (Sl 23:1).
3. Em relação específica ao texto que acabamos de estudar, devemos examinar a
nossa própria situação individual, a fim de verificar se estamos sendo fiéis ou
não, quanto aos dízimos e ofertas.
(1) Se estivermos em falta, não hesitemos em voltar ao Senhor, atendendo a Seu
amorável convite e decidindo pela Sua graça a ser fiéis.
(2) Se temos sido fiéis ao Senhor, reconheçamos que é privilégio fazer prova de
Suas promessas.

Alguns textos bíblicos curtos também podem resultar em bons sermões.


Veja o seguinte esboço:

(2º) Tema: A ESCOLHA DA VIDA

 Introdução:
Texto: Mateus 7:13 e 14

 Argumentação:
I. A PORTA LARGA
1. Dá acesso a um caminho espaçoso
2. Conduz à perdição
3. São muitos os que entram por ela
4. Devemos desviar-nos dela

II. PORTA ESTREITA


1. Dá acesso a um caminho apertado
2. Conduz à vida
3. São poucos os que entram por ela
4. Devemos entrar por ela

 Conclusão:

Como Desenvolver o Tema de um Sermão Expositivo

Um mesmo texto bíblico pode resultar em diferentes sermões dependendo


da ênfase que o pregador queira dar. Na verdade, há três maneiras de se desenvolver
um tema a partir de uma passagem bíblica.
(1) A primeira delas é estabelecer que a ideia central do texto será o tema do sermão
e, então, colocar as divisões na mesma ordem em que se encontram na Bíblia. O
esboço anteriores apresentado – sobre a fidelidade nos dízimos e ofertas – é um
exemplo deste procedimento.
(2) Outra maneira consiste em empregar a ideia central do texto como tema do
sermão e apenas alterar a ordem em que as divisões aparecem. Veja o exemplo
abaixo, baseado em Lucas 15:11-24, que narra a história do filho pródigo.

I. A DEGRADAÇÃO DO PECADOR

49
II. AS CAUSAS DE SUA DEGRADAÇÃO
III. DA DEGRADAÇÃO À RESTAURAÇÃO

A única diferença que se percebe entre este esboço e o relato bíblico é que a
ordem na primeira e da segunda divisões foi invertida.
(3) Observe agora outra situação, em que o tema escolhido para o sermão não é
idêntico à ideia central do texto. O exemplo que segue é baseado no mesmo
texto da parábola já citada.

I. QUANDO O HOMEM CAI EM SI, COMPREENDE QUE O MUNDO SEMPRE


DECEPCIONA

II. QUANDO O HOMEM CAI EM SI, COMPREENDE QUE SÓ DEU O SATISFAZ


III. QUANDO O HOMEM CAI EM SI, COMPREENDE QUE SEU DESTINO ESTÁ
EM SUAS PRÓPRIAS MÃOS

A ideia de que “o homem cai em si” não é a ênfase maior do texto bíblico, mas o
autor deste esboço a escolheu como seu tema de pregação. A mensagem é
bastante clara. De um lado encontramos o mundo com seus atrativos, e do
outro, Deus e o que Ele nos oferta. No primeiro caso, o resultado é a decepção;
e no segundo, a satisfação. A última seção do esboço realça que compete a nós
escolher entre Deus e o mundo e que nosso destino final dependerá dessa
escolha.

Passos Para Preparar um Sermão Expositivo

(01) Escolher o texto;


(02) Ler o texto e contexto várias vezes
(03) Analisar minuciosamente o texto, anotando em um papel todas as informações
fornecidas por ele, em forma de frases curtas, cada qual contendo apenas uma
verdade;
(04) Determinar a ideia central do texto, o assunto principal;
(05) Determinar as diversas ideias complementares ou de apoio à ideia central;
(06) Escolher qual será o tema do sermão – que poderá ser a própria ideia central
do texto ou outra ideia melhor, que desejarmos enfatizar.
(07) Determinar as outras ideias que irão completar e apoiar aquela que foi
escolhida para ser o tema (divisões e subdivisões);
(08) Ler todo o material necessário para correta compreensão do texto;
(09) Preparar o esboço;
(10) Complementar o esboço com os materiais de apoio: comentários, citações,
ilustrações, exemplos, estatísticas, definições, comparações, contrastes, etc.;
(11) Preparar a Conclusão; e
(12) Preparar a Introdução.

O sermão expositivo é o melhor para alimentar os que já são crentes e


ajudá-los a crescer na graça e no conhecimento de Cristo. Tem sido usado para a
explicação continuada e abrangente de um livro da Bíblia e também para exposição de
passagens relacionadas dadas em série. Por exemplo: parábolas de Jesus; milagres de
Jesus; encontros de Jesus; heróis da Bíblia; e as sete igrejas. Mas também pode-se

50
preparar bons sermões expositivos isolados, isto é, que não tenham relação com o
sermão anterior ou com o que virá a seguir.

Sermão Textual

É aquele que é baseado em um texto bíblico curto (cujo tamanho vai desde
uma simples frase até uns poucos versículos). Dele deverão brotar tanto a ideia central
(o tema) como as idéias primárias (as divisões). Este sermão admite usar ideias
secundárias (subdivisões) provenientes de outros textos bíblicos.

Exemplo de Esboço de Sermão Textual


Observe o próximo exemplo em que algumas ideias secundárias ou
subdivisões (em itálico) se originam de outros textos.
(1º) Tema: COMO FIXAR O CORAÇÃO NO CÉU

 Introdução:
Texto: Mateus 6:19-21
 Argumentação:
I. NÃO DEVEMOS ACUMULAR TESOUROS NA TERRA
1. Porque podem ser tirados de nós
2. Porque fixam nosso coração neste mundo
3. Porque podem trazer muitos males – I Timóteo 6:10
4. Porque podem desviar-nos da fé – I Timóteo 6:10

II. DEVEMOS ACUMULAR TESOUROS NO CÉU


1. Isto pode ser feito através da plena confiança em Deus – I Timóteo 6:17-19
2. Isto pode ser feito através da ajuda aos necessitados – I Timóteo 6:17-19
(Mateus 19:21; Lucas 12:33).
3. Isto ninguém pode tirar de nós
4. Isto fixa nosso coração no Céu

 Conclusão:

Passos Para Preparar um Sermão Textual

(01) Escolher o texto;


(02) Ler o texto e o contexto várias vezes para familiarizar-se com seu conteúdo;
(03) Analisar minuciosamente o texto, anotando em um papel todas as informações
fornecidas por ele, em forma de frases curtas, cada qual contendo apenas uma
verdade;
(04) Determinar a ideia central do texto, o assunto principal;
(05) Determinar as diversas ideias complementares ou de apoio à ideia central
(divisões e subdivisões) que o texto fornece;
(06) Selecionar outros textos que possam fornecer ideias secundárias (subdivisões),
levado em conta seus respectivos contextos;
(07) Ler todo o material necessário para correta compreensão dos textos;
(08) Preparar o esboço;
(09) Complementar o esboço com os materiais de apoio: comentários, citações,
ilustrações, exemplos, estatísticas, definições, comparações, contrastes, etc.;

51
(10) Preparar a Conclusão; e
(11) Preparar a Introdução.

Homilia

A homilia é baseada em um texto bíblico longo mas não um estudo


profundo, nem requer uma estrutura especial. Consiste em explicações simples e
populares das lições da Bíblia permeadas de ilustrações e aplicações práticas. Seu uso
teve início nas sinagogas e foi adotada de imediato pelos primeiro cristãos.
Neste capítulo foi apresentando os principais tipos de sermões, suas
diferenças e como cada um deles deve ser elaborado. A seguir mostraremos algumas
das principais qualidades de um pregador do evangelho.

CAPÍTULO XIV

QUALIDADES DE UM PREGADOR

Não é qualquer pessoa que está habilitada a ser um pregador da Palavra de


Deus. Nem mesmo o melhor orador poderia fazê-lo com êxito, se lhe faltassem aquelas
virtudes espirituais que somente o verdadeiro crente possui e aquele dom específico
para pregar que o Espírito de Deus concede. A seguir examinaremos algumas das
principais características que se espera encontrar em um pregador de êxito.

Consagração

É a completa entrega da vida a Deus, sem qualquer reserva. O indivíduo


oferece a Deus tudo que é e tudo quanto possui, desejando pertencer-Lhe para sempre.
É a aceitação de Cristo como Senhor, além de Salvador.
Após essa entrega inicial, a vida continua, e, com o passar do tempo, devido
ao nosso aprendizado cada vez maior das Sagradas Escrituras e à nossa comunhão com
Deus, descobriremos fraquezas e pecados que jamais suspeitávamos. Perceberemos que
somos como uma laranja, que possui diversos gomos e que, na verdade, alguns deles
foram entregues ao domínio de Deus, e outros não. Esses gomos são áreas de nossa
vida, tais como relações familiares, a alimentação, o trabalho, a recreação, a vida sexual,
os bens materiais, etc. Deus espera que – pela Sua graça – todos os pecados sejam
abandonados, todas as fraquezas vencidas, e que Lhe entreguemos todas as áreas de
nossa vida. É por isso que não basta uma entrega completa inicial. Ela precisa ser
renovada a cada dia.
Nenhum cristão deve ser desonesto, mentiroso, intemperante, preguiçoso,
fornicário ou adúltero! E o que esperar de um pregador? Como pode alguém com esses
pecados, ou outros semelhantes, esperar orientar o povo de Deus? Que Deus não
permita!!!
Em seus ensinos, Jesus frequentemente convidava Seus ouvintes a uma
entrega total. Certa vez Ele disse: “Qualquer de vós que não renunciar a tudo quanto
em, não pode ser Meu discípulo” (Lc 14:33). Esse “tudo” pode variar de pessoa para
pessoa, mas sempre se refere a tudo aquilo que, se conservado, nos impediria de manter
um relacionamento adequado, profundo e duradouro com Cristo. Pode ser um objeto,
uma atividade, um relacionamento, um mau hábito, um vício, um pecado – qualquer

52
coisa a qual temos amado mais do que a Jesus. É justamente isso que Deus quer que
abandonemos. Um pregador, mais que qualquer outra pessoa, deve ser alguém
consagrado ao Senhor.

Dependência do Espírito Santo

Além de ser um homem de Deus, continuamente guiado por Seu Espírito, o


pregador precisa de Sua ajuda na tarefa da pregação. Deve depender do Espírito:
1. Na escolha do tema ou texto que servirá de base para sua mensagem, de modo
que supra as necessidades espirituais de seus ouvintes. Somente o Espírito
conhece cada coração e sabe tudo que está envolvido. Somente Ele conhece
plenamente as capacidades e conhecimentos do pregador e sabe como este
pode ser usado com maior eficiência.
2. No preparo da mensagem. É necessário sabedoria para pesquisar e encontrar
os diferentes materiais de apoio e saber colocar tudo isso na ordem que se
mostre a mais eficaz.
3. Na exposição da mensagem. Agora que o sermão está pronto, precisa ser
pregado e, enquanto Seu servo se dispõe a falar, o Espírito Santo deve ungir
seu coração, a mente e os lábios, de modo que profira a mensagem certa
limitando a operação das forças do mal, abrandando o coração, iluminando a
mente e atraindo a vontade. Somente Ele pode causar a conversão. “A
pregação da Palavra não será de nenhum proveito sem a contínua presença e
ajuda do Espírito Santo. Este é o único Mestre eficaz da verdade divina.
Unicamente quando a verdade chega ao coração acompanhada pelo Espírito,
vivificará a consciência e transformará a vida”54.
Identificação com a Mensagem

Um pregador identificado com sua mensagem é aquele que possui três


características:
1. Ele entende a mensagem. Que calamidade é alguém se atrever a
discursar sobre algo que ele mesmo não compreende o suficiente. Seria
como um cego guiando outro cego. Pior ainda, ridículo mesmo, seria
agir como um cego tentando guiar alguém com a visão perfeita. Isso é o
que às vezes acontece quando o pregador não entende bem o assunto
que está explanando mas há entre os ouvintes quem seja mestre na
matéria em questão.
2. Ele crê que aquilo que está expondo é a verdade. Não basta ter
conhecimento do assunto. Precisa crer que as coisas são realmente
assim e que sua mensagem é relevante para os ouvintes.
3. Ele precisa estar procurando viver a mensagem. O pregador também é
um pecador rodeado de tentações e fraquezas, e não alguém perfeito em
si mesmo. Assim, pode não estar vivendo plenamente em uma das áreas
de sua vida. Mas se ele fez uma entrega completa a Deus, está

54
White, O desejado de todas as nações (Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 1998), 396.

53
confiando na graça de Deus, e sua vida é de contínuo crescimento
espiritual, ele pode perfeitamente pregar o ideal de Deus; embora, como
dissemos, ele próprio ainda não tenha atingido esse ideal. Mas, se está
em falta em algum aspecto de sua vida e não reconhecido seu erro, nem
se apropriado da ajuda oferecida pelo Senhor, então não deve se atrever
a pregar o tal assunto. Suas palavras não podem ser um disfarce daquilo
que ele é.
Quando o pregador não crê ou não busca viver a mensagem que está
apresentando, de algum modo (talvez por causa do semblante ou do tom da voz) há
ouvintes que sentem isso e acabam não dando valor à mensagem. Deste modo, “quando
a teoria da verdade é repetida sem que sua sagrada influência seja sentida na alma do
que fala, não tem nenhuma força sobre os ouvintes, mas é rejeitada como erro,
tornando-se o próprio orador responsável pela perda de alma”55. Por outro lado, há
poder na sinceridade.

Humildade

Infelizmente há pessoas que usam o púlpito com propósitos escusos ou


dúbios, quando a intenção ilícita é chamar a atenção para si mesmas. Isso pode ser feito
de muitas maneiras: através de um vocabulário rebuscado, da oratória pomposa, de
argumentos sutis, de ilustrações pessoais que enalteçam o pregador, de vestuário e
adornos ostensivos. Deste modo desviam o foco da mensagem e de Cristo para o
próprio EU. Tal procedimento é tão descabido como visitar um salão de artes onde se
encontra exposto um quadro no valor de 60 milhões de dólares e não prestar atenção à
tela, nem à moldura que a envolve, mas ao prego que segura o quadro. Cristo e sua
verdade são o quadro e a moldura, e nós, os pregadores, não passamos de pregos.
Nossa função é manter o quadro numa boa posição para que possa ser visto e admirado
pelas pessoas. E enquanto isto acontece, ficamos escondidos, atrás do quadro.
É bastante significativo o exemplo de Paulo. Embora tenha sido um dos
mais destacados servos de Deus de todos os tempos, possuía uma visão bastante
humildade de si mesmo. Considerava-se “o principal” dos pecadores e “o menor de
todos os santos”, chegando a afirmar que “nada sou” (I Tm 1:15; Ef 3:8; II Co 12:11).
Seu testemunho como pregador do evangelho também deveria ser o nosso: “Também
jamais andamos buscando glória de homens, nem de vós, nem de outros” (I Ts 2:6),
“porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor e a nós
mesmos como vossos servos, por amor de Jesus” (II Co 4:5).

Sensibilidade

Sensibilidade é a faculdade de sentir, de experimentar os diversos


sentimentos e sensações. Inclui tanto a capacidade de ficar comovido como indignar-se,
conforme o caso, diante das diferentes situações da vida. Ao contrário, o indivíduo
insensível é dotado de uma natureza fria, impassível, sobre a qual nada valem as
impressões do povo, tanto de alegria como de tristeza. A mensagem de um tal pregador
é sem vibração.

55
Ibid., Obreiros evangélicos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1998),
253.

54
Entusiasmo

Essa qualidade está intimamente relacionada com as anteriores. Aquelas


são o fundamento desta. Significa “Deus no íntimo”. O pregador cheio de entusiasmo
move seus ouvintes. Por estar sumamente interessado no assunto, por crer nele, e por
esperar que sua mensagem seja vitoriosa, é que ele fica entusiasmado. Essa é a energia
que o impulsiona a falar.

Conhecimento

Tem conhecimento aquele que possui uma gama de informações e as


entende. Elas podem provir de diversas fontes: leitura, conversação, experiências da
vida, participação de cursos, etc. O pregador deve falar somente aquilo que está no
âmbito de seu conhecimento, e deve conhecer sempre muito mais sobre o assunto do
que aquilo que vai expor. Deve crescer continuamente em conhecimento e buscar
atualizar-se a fim de estar a par da realidade em que está inserido. Embora conheça um
pouco de muitas coisas, deve, sobretudo, conhecer a Bíblia, que é sua principal
ferramenta de trabalho. Precisa estar bem familiarizado com ela.

Inteligência

Inteligência é a facilidade para compreender. O pregador precisa ser


inteligente na escolha do que pregar, em seu preparo e na apresentação diante do
auditório, pois o assunto deve ser apropriado aos ouvintes e à ocasião. Deve ser
inteligente para compreender as necessidades espirituais do povo e qual a melhor
maneira de supri-las.

Memória

A memória é a faculdade de reter as ideias adquiridas anteriormente, de


poder lembrá-las. O pregador precisa recordar números, datas, nomes, textos, etc.
Embora ele possa escrever completamente seus sermões e então lê-los aos ouvintes, este
procedimento, de modo geral, prejudica a receptividade por parte dos ouvintes, pois
poucas pessoas toleram ouvir com interesse uma leitura, especialmente se for longa.
Para ajudar a memória podemos usar alguns métodos:
1. Repetição
2. Mneumônico (relativo à memória)
3. Concentração (tentar localizar e reviver o acontecimento)
4. Associação de ideias
5. Ler imediatamente antes de dormir e depois de acordar

Imaginação

Também chamada de criatividade. Torna os fatos vivos e reais. É ela que dá


colorido à mensagem; sugere as mais belas comparações e as mais formosas e
adequadas figuras para os seus pensamentos. A imaginação transforma velhas verdades
em mensagens atuais. Reveste velhos pensamentos com roupagem nova. A imaginação
do pregador deve ter como objetivo tornar o auditório receptivo à mensagem, com
naturalidade e sem esforço. Assim, ela busca novos caminhos para o entendimento da
mensagem.

55
Vocabulário

É o conjunto de vocabulários que uma pessoa costuma usar. Quando o


vocabulário de alguém é reduzido, pobre, ele não consegue expressar o que pensa. Por
outro lado, quem tem um vocabulário rico é capaz de compreender tudo aquilo que as
pessoas falam ou escrevem. O pregador, porém, deve evitar palavras difíceis, técnicas,
vulgares e chavões (uma ideia, frase ou pensamento que já está desgastado).
O vocabulário ideal é aquele que se adapta ao auditório, de modo que todos
entendem a mensagem. Embora simples, traduz a ideia com clareza. Quanto maior o
vocabulário de um orador, maior será também sua capacidade de adaptação aos
diferentes tipos de auditórios.

Síntese

Consiste em dizer somente o que for necessário. Em vez de ser longa ou


difusa, sua mensagem deve ser concisa. Isso não exclui ou mutila as informações
essenciais.

Fluência

É falar com naturalidade, facilidade, espontaneidade. É ter uma comunicação


tão natural que o auditório nem percebe que o orador está se valendo das técnicas da
oratória. O orador fala sem hesitações ou tropeços e concatena bem as ideias.

Coragem

É firmeza, intrepidez, ousadia. Há certos momentos em que o pregador sabe


que a mensagem que Deus lhe deu para comunicar irá de encontro à conduta, às
expectativas e à opinião geral dos ouvintes, e que proporcionará oportunidade para criar
um clima de desentendimento e de má vontade para com ele. Mas, se é isto que deve
pregar, precisará de muita coragem para fazê-lo.
Observação

O pregador poderá se valer dos mais variados elementos do dia-a-dia para


enriquecer sua mensagem. Para isso, deverá estar atento a todas as coisas que o cercam.
Era assim que Jesus fazia. Seus ensinos eram permeados por parábolas baseadas em
coisas da natureza e do cotidiano das pessoas.

Expressão Corporal

Quer queira, quer não, o pregador não comunica somente com a palavra,
também com sua expressão corporal, que é a gesticulação. Não é apenas movimento. É
movimento que se harmoniza com a mensagem falada e que, quando feita de modo
correto, auxilia na compreensão e receptividade por parte dos ouvintes. O pregador
precisa aprender os gestos próprios para cada ideia e trená-los, de modo que, ao
enunciar sua mensagem, sua gesticulação seja natural, expressiva, adequada, variada e
moderada.

56
Neste capítulo estudamos os atributos pessoais que o pregador deve ter e o
relacionamento apropriado que precisa manter com Deus, com os homens e com a
própria mensagem que transmite.

BIBLIOGRAFIA

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Crane, James D. O Sermão Eficaz. 2ª ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1990.

Fletcher, Leon. Como Falar Como um Profissional. Rio de Janeiro: Record, s. d.

Montalvão, Alberto. Psicologia. Biblioteca de Ciências Exatas e Humanas. Vol. 2. São Paulo: Novo Brasil Editora
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Oliveira, Marques de. Como Persuadir Falando. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1965.

Polito, Reinaldo. Como Falar Corretamente e Sem Inibição. 22ª ed. São Paulo: Saraiva, 1989.

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Silva, Plínio Moreira da. A Arte de Pregar o Evangelho. Mogi das Cruzes, São Paulo: Sociedade Literária e
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_________. Conselhos aos Professores, Pais e Estudantes. 3ª ed. Santo André, São Paulo: Casa Publicadora
Brasileira, 1975.

57
Apêndice

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59
60
61
62
63
64
65
66
67
68
69
CURSO DE ORATÓRIA 2016

HOMILÉTICA
A arte de preparar e pregar sermões bíblicos

IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA

Macapá, AP

70

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