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Departamento de História

Semestre: 2022.1
Disciplina: Sociologia Geral
Professora: Vanda Souto
Equipe: Maria Denise Rodrigues da Silva, Danilo Oliveira, Marcello Júlio, Rute
Alves Duarte, Guilherme de Souza Feliciano.
Relatório da aula de campo da Lyra Nordestina.
Maria Denise Rodrigues da Silva
Dissertarei, ainda que de maneira breve sobre minha experiência, vivenciada
na Lyra Nordestina, comentando como os aprendizados e a riqueza imaterial
desta aula, contribuiu para minha formação acadêmica e individual.
De início o que mais me chamou atenção e me afeiçoou ao local, foi um dos
principais protagonistas da história da Lyra, o Zé Lourenço. A simplicidade é
uma virtude escassa atualmente, em um mundo onde a tudo se dá preço, mas
lançam-se fora o que é realmente rico e belo, com uma facilidade
amedrontadora. O Zé me pareceu manter algo que pelo seu próprio relato, foi
forjado pelo meio, histórico, social e cultural no qual ele estava. Pois ao relatar
de forma até emocionada suas dificuldades, desde muito jovem e como a vida
na Lyra tem significado e essência para os caririenses, ao fazer sua primeira
xilogravura, garantia a renda da sua família e um futuro a se percorrer.
Mas me deterei agora a falar sobre o aprendizado sobre a xilogravura e o
cordel, fazendo um paralelo entre o texto “Lyra Popular; o cordel de Juazeiro” e
a fala do Zé Lourenço, que disse: “Poque o cordel foi bem sucedido? Ele não
era um simples folheto para ler, era como se fosse um jornal da época... Muitas
vezes o homem do campo sabia das noticias das grandes cidades através do
cordel...”
Não por simplesmente ser o cordel, mas porque a linguagem em prosa como
era escrito essa arte, era uma linguagem simples, de fácil entendimento para
as pessoas com pouco letramento que viviam no campo. A importância da
xilogravura e do cordel, exercem vários papeis, noticiar, entreter, e gerar
trabalho para as classes menos abastadas, evidenciando assim a luta, as
conquistas e a resiliência deste povo capaz de superar os entraves da vida,
tantas vezes negligenciadas dos trabalhadores nordestinos.
Guilherme de Souza Feliciano
Juazeiro do norte, capital da fé, refúgio dos que correm da secura e da fome,
cidade de trabalho e também de cultura, assim se propagou a cultura dos
cordéis, uma mídia popular e democrática, onde através de folhetins a
informação de maneira mais palatável é absorvida. Assim se deu o
desenvolvimento da cultura de cordéis, uma espécie de jornal popular,
denunciavam ou noticiavam acontecimentos, de linguagem informal e popular
ganhou o público. É através de cordéis em que uma população não letrada e
marginalizada pelo estado, se alfabetizou e obteve informação em locais
remotos. Zé Lourenço relata que com a demanda dos cordéis se fez necessário
uma criação artística de forma resumida sobre o que seria os cordéis, veio
então a xilogravura, nada mais que a arte na madeira impressa a folha de
papel, assim se fez as capas dos cordéis, dotada de técnicas para entalhar e
todo um manejo especial, Lourenço conta sua história, seu início na xilogravura
data ainda de muito jovem, em sua mesinha de santo, muito popular na cultura
nordestina, ali começou a fazer sua história, entalhou sua primeira xilogravura
para um cordel de são João, uma noiva, um noivo e um jumentinho. Relata
ainda um pouco sobre o José Bernardo da silva, negro de origem humilde e
romeiro considerado um dos maiores xilógrafos, assim fundando a lira
nordestina, uma das mais renomadas editoras de cordéis em seu tempo, que
perpetua em atividade até os dias atuais. A partir da revolução da gravura em
cordéis, a demanda de cordéis com capas se torna maior, por ser até mais
atrativo para vendas e de melhor entendimento no popular, mais tarde essa
cultura da xilogravura se expande com os trabalhos do mestre noza. Contudo,
como todo oficio da profissão tem suas mazelas, Lourenço relata a grande taxa
de mortes devido ao câncer de artistas por contado contato excessivo ao
chumbo, e a dificuldade da continuação da cultura da xilogravura, devido aos
avanços tecnológicos, e o avanço gráfico, hoje capas podem ser muito bem
feitas em computadores, porém a técnica e todo o manejo em talhar na
madeira se faz praticamente perdida, pela pouca procura das novas gerações
sobre essa cultura, como tentativa de reparação e buscar a continuidade da
cultura xilográfica e do cordel, Zé Lourenço almeja um projeto com jovens onde
o mesmo ensina técnicas de se fazer cordéis e xilogravura.
Danilo Oliveira
Parecia o avô e seus netos de férias, reunidos na sala às 13h após o almoço, o
sábio via a oportunidade de contar a história da família. Todos ali empolgados
diante de Zé Lourenço, em uma aula arranjada, com a mente aberta e
reconhecendo a figura ilustre de um artesão da cultura popular cearense. Eu e
minha equipe podemos perceber sua importância ao entrar na oficina e nos
depararmos com xilogravuras, cordéis, banners de fotografias de família,
placas de gravar, máquinas antigas de impressão em larga escala, um aparato
mais modesto e de igual relevância é seu armário com grandes gavetas de
ferramentas para trabalho manual, por todos os lados, cantos, parecia museu.
Foi uma experiência incrível e despertava sensação parecida a estar com meu
avô pois a linguagem de Zé é simples, está gravada em seus trabalhos e, como
alerta a professora e é evidente nos textos, a linguagem nos dois momentos
(da aula e da confecção), é uma linguagem dos trabalhadores. Por meio dela,
as mazelas do interior nordestino são desenhadas simbolicamente sob olhares
críticos nas madeiras e folhas à expressão de opiniões coletivas.
Rute Alves Duarte
A Liga Nordestina é um local de trabalho e de memória histórico-cultural
brasileiro, pois desde a sua criação teve e tem por intuito desenvolver o diálogo
entre as classes, através de jornais, folhetos, cordéis e da xilogravura. Esta
instituição é de grande valia já que gerou e gera oportunidades de emprego
para alguns artistas da região. Estes operam um maquinário que atravessou
um grande espaço de tempo. Estas ferramentas teve e tem um sentido todo
especial para criação da produção jornalística e artística da região caririense,
pois atravessou décadas. É valorosos o incentivo à produção literária dos
escritores da localidade, além do trabalho de reprodução da literatura clássica
brasileira e internacional em seus escritos.

O mestre que tem o comando da Liga Nordestina se mostra verdadeiramente


apaixonado pelo que faz, pois herdou todo o conhecimento e a instituição de
seus ancestrais. Atua com seus companheiros na produção dos materiais,
além de propagar visitas de campo, vendas dos produtos produzidos na loja ao
lado do maquinário da instituição, palestras dentro e fora dos país com o
objetivo de proporcionar o conhecimento acerca da importância do trabalho ao
longo do tempo.

Na loja é feito a venda dos jornais, cordéis, quadros, desenhos, camisas,


chaveiros, livros em sua maioria com a estampa das xilogravuras. O mestre da
Liga Nordestina tem o amparo da Universidade Regional Do Cariri - URCA,
através do projeto que sustenta a mesma. Logo mais a instituição receberá
desta universidade uma verba para revisão do maquinário e reforma do local
em questão. A xilogravura é patrimônio histórico-cultural brasileiro, portanto é
de extrema necessidade a preservação e continuação desta arte e é claro dos
artistas que assim a fazem. O governo federal, estadual e municipal deve olhar
para isso com respeito e gratidão oferecendo-lhes valores significativos para
perpetuação desta fonte artística.

Marcello Júlio
Eu Marcello Julio, gostei muito da experiência na Lyra Nordestina no dia 17 de
janeiro de 2023. Quando o Zé Lourenço apresentou e começou a falar sobre
como é a produção do Cordel e como se confeccionava, eu fiquei maravilhado.
Foi muito interessante ouvir os relatos e as histórias dele (algumas
emocionantes) sobre quando ele começou a produção dos Cordéis e como não
era fácil fazer um simples Cordel, desde a criação do texto e das histórias, até
a produção dos desenhos para a capa dos cordéis.
O espaço também para a produção dos cordéis como ele relatou, era algo
simples e todos no ambiente de trabalho se comunicavam e trocavam
experiência sobre a produção dos cordéis. O atual espaço aonde nós visitamos
nos deu uma idéia e uma representação de como era o espaço ou os vários
espaços na época da produção dos cordéis.
Os cordéis era uma linguagem acessível em um período que muitos não
sabiam ler e mesmo assim, muitos acabavam se esforçando e aprenderam a
ler e passavam a gostar dessas histórias e sempre ficavam ansiosos para uma
próxima história ou uma continuação de uma mesma história. A influência dos
cordéis foi muita grande dentro da literatura e dentro até de outras produções
como músicas e filmes. Infelizmente com a era digital, os cordéis estão
perdendo o seu valor e a cada dia ficando mais esquecidos, porém, existe
muitos projetos que estão querendo trazer a experiência do cordel para essa
nova era e continuar que esse legado do cordel para que não morra e que
continue.

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