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ANTEPROJETO DE PESQUISA

A) Título do projeto
Violência linguístico-discursiva, estratificação social e hate speech: a criminalização do
discurso de ódio como dever fundamental implícito na ordem constitucional brasileira
B) Linha de pesquisa
“Sociedade, novos direitos e transnazionalização”
C) Escolha do tema
Considerando o eixo temático sobre o qual circunda a linha de pesquisa “Sociedade,
novos direitos e transnacionalização”, percebe-se que este Programa de Pós-Graduação em
Direito (PPG), no que tange à perspectiva in casu, propõe-se a descortinar o surgimento de
novas prerrogativas existenciais, os direitos humanos fundamentais e, principalmente, as
formas de as instituições/tecnologias lidarem com tais disciplinas. Esse objeto está na
centralidade do quantum pesquisado pelo candidato desde 2017, o qual dirige seus esforços
acadêmicos numa visão teórica fulcrada, principalmente, na Teoria dos Direitos Humanos
Fundamentais e na Sociologia do Direito; tal materialidade, neste PPG, destinar-se-á à análise
da (in)existência de um dever fundamental implícito na Constituição Federal de 1988 à proteção
linguístico-simbólica das minorias sociais por meio da criminalização do discurso de ódio.
Analisados os 30 grupos de pesquisa que compõem o PPG da Universidade do Vale do
Rio dos Sinos (UNISINOS), sobreleva-se o intitulado “Direito da Antidiscriminação, proibição
de discriminação por sexo, gênero, sexualidade e raça, e sociedade do ódio”, cujo coordenador
é o Professor Doutor Roger Raupp Rios. Salienta-se, inclusive, que o âmbito investigado por
este grupo igualmente se caracteriza como disciplina eletiva da linha de pesquisa in fine, o que
reforça o total encontro entre esta seara e o tema escolhido pelo candidato.
Percebe-se, dessa maneira, uma contribuição cíclica entre o PPG e a pesquisa que será
desenvolvida pelo futuro estudante. Por consequência, ao mesmo tempo, haverá, de um lado, a
clara contribuição para os avanços investigativos no bojo desta universidade, ao passo que, e
outro, um salutar aprofundamento de uma matéria de interesse pessoal e social.
D) Delimitação do tema
A dignidade da pessoa humana estabelece-se como um conceito deveras antigo,
possuindo raízes que remontam à Idade Média e/ou ao período anterior a gênese do Estado
Liberal, fato ocorrido no fim do século XVIII. Na temporalidade supramencionada, em que a
desigualdade se fazia latente, de forma diversa ao entendimento contemporâneo, o instituto era
dirigido à nobreza, possuindo uma clara conotação de atribuição de privilégios para esse recorte
social específico (BARROSO, 2014, p. 14).
No entanto, o decorrer da narrativa histórica e a eclosão do período iluminista dotou à
dignidade da pessoa humana uma perspectiva pretensamente universal, visando igualar, pelo
menos na teoria, os diversos sujeitos de direito. Como bem estabelece Daniel Sarmento (2016,
p. 40), a compreensão hodierna do instituto, principalmente a posteriori as trágicas experiências
totalitárias na Itália e na Alemanha, se dispôs a representar pela vinculação da ordem
comunitária para com um tratamento equânime, visando, assim, efetivar a todos os
componentes da sociedade uma concreta existência digna, independentemente de suas
particularidades existenciais.
No contexto brasileiro, com a promulgação da Constituição Federal de 1988 (CF/88), a
dignidade da pessoa humana – estabelecida, logo em seu início, no bojo do artigo 1º, inciso III
(BRASIL, 1988) –, definiu-se como vetor axiológico da ordem normativa pátria. Esta noção
caracteriza-se como importante conquista ideológica, posto que, após 21 (vinte e um) anos de
regime autocrático militar, o qual fora responsável pelo abrupto tolhimento de basilares
prerrogativas vivenciais, a norma-vetor supramencionada passou a ser o ponto de partida e o
objetivo de tudo quanto efetivado no território nacional.
Nessa linha de raciocínio, a liberdade de expressão e/ou de manifestação do pensamento
se colocou como importante ferramenta de atribuição da dignidade humana, haja vista a sua
possibilidade de contribuição à pluralização de ideias, perspectiva decorrente da variabilidade
de sujeitos de direito num mesmo território (SARLET, 2015). Como atribui Edilsom Pereira de
Farias (1996, p. 128), a relevância do instituto aqui discorrido ilustra-se na sua promulgação
em diversos instrumentos legislativos, desde os mais remotos – a exemplo da Declaração de
Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, e da Constituição dos Estados Unidos da América
(EUA), de 1787 –, aos mais contemporâneos – caso da Declaração Universal de Direitos
Humanos, de 1948, e do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, de 1966.
Não sem motivo, o artigo 5º, incisos IV e IX, da Carta Magna de 1988 (BRASIL, 1988),
dentre outras passagens, a estabeleceram como circunstância basilar da ordem constitucional
brasileira. Acertadamente, percebeu o Constituinte a necessidade de, após longo tempo de
censura política, assegurar um ambiente confortável para que os cidadãos dispusessem
ideologicamente sua existência e sua visão de mundo.
No entanto, em que pese a importância in fine dissertada, os próprios ordenamentos,
antecipando-se a possibilidade de uso desarrazoado e/ou abusivo da liberdade de expressão,
dispôs perspectivas limitadoras, visando equilibrá-la à necessidade de proteção de grupos
minoritários (STRECK, 2004, p. 49). Esta é a orientação do artigo XXX da Declaração
Universal de Direitos Humanos (ONU, 1948), o qual dispôs que nenhuma prerrogativa
existencial – incluso aí o instituto em debate – poderia ser utilizada para destruir direitos e
liberdades estabelecidas no próprio Documento.
A razão fundante desta escolha jurídico-ideológica foi a trágica experiência perpassada
pelo nazismo, na Alemanha, e pelo fascismo, na Itália, regimes que, por grande parte do século
XX, utilizaram o plano discursivo para facilitar o genocídio de grupos sociais minoritários, a
exemplo de judeus e ciganos (GORDON, 1992, p. 10-11). Esse episódio serve para ilustrar
como a liberdade de expressão, num contexto de claras divisões sociais, pode ser utilizada de
maneira ideologicamente dirigida à animalização de sujeitos de direito e/ou para a sua supressão
do plano existencial, nuança que pode ser nomeada como violência linguístico-discursiva
(PÊCHEUX, 2009, p. 162).
Nesse diapasão, numa dinâmica historicamente estabelecida, as classes sociais são
sobrepostas de acordo com o resultado dos conflitos ocorridos em determinado território,
estabelecendo-se o que se entende como grupos hegemônicos e subalternos numa relação
estratificada de poder. A consequência prática da realidade em contento é a gênese do poder
simbólico, o qual, de acordo com Pierre Bourdieau (1989, p. 13), permite que os coletivos
majoritários pratiquem diversos atos de dominação, de modo a possibilitar a segregação
institucional.
Nessa conjuntura de opressão linguística, contribui Michel Foucault (1970, p. 10) ao
aduzir que nenhum discurso se caracteriza por ser ideologicamente neutro. Muito pelo
contrário, estar-se-ia, a partir dele, sempre buscando novas perspectivas de dominação,
legitimando-se assim o apoderamento de recursos linguísticos para a prática de atos de
subjugação social das classes inferiores (VAN DIJK, 2005).
A linha presentemente aduzida permite inferir que, numa determinada ordem
comunitária, os conflitos emergentes – e o consequente estabelecimento das classes
hegemônicas – possibilitam que uma cultura dominante utilize o discurso de forma
ideologicamente dirigida à opressão social (BOURDIEU, 1989, p. 14). Noutras palavras, uma
prerrogativa pretensamente positiva como a liberdade de expressão, no plano das vicissitudes
histórico-culturais de uma nação, pode fundamentar (e assim o faz) a busca pela gênese de um
consciente coletivo segregacionista.
Neste introito de violência linguística, o discurso de ódio desponta como preocupante
fenômeno comunitário, principalmente após a popularização da internet e o aumento
vertiginoso da velocidade de informação. É possível conceitua-lo como a existência de “um
discurso agressivo e incitador ao ódio para com determinados grupos étnicos, sociais,
históricos, culturais e religiosos” (MEYER-PFLUG, 2009, p. 97), reproduzindo assim uma
manifestação ideológica baseada em claras perspectivas discriminatórias.
Não sem razão, a teórica Judith Butler (1997, p. 15) estabelece que a situação de fala
não se caracteriza como um simples contexto facilmente definido por limites espaciais e
temporais. No entanto, muito pelo contrário, a seara linguística pode ser utilizada – e assim o
é, em várias oportunidades – para animalizar sujeitos específicos e retirar-lhes a inerente
dignidade humana, fazendo, assim, com que verbetes prejudiciais lesionem todo um contexto
comunitário.
Na linearidade acima, observando-se que a CF/88 proclamou diversas regras que visam
diminuir as consequências da historicidade segregacionista brasileira – como se percebe pelo
repúdio ao racismo no plano internacional, bem como pela imprescritibilidade deste crime na
seara interna – e que há, no bojo do artigo 3º, incisos I, III e IV, respectivamente, os objetivos
de “construir uma sociedade livre, justa e solidária”, de “erradicar a pobreza e a marginalização
e reduzir as desigualdades sociais regionais”, além de “promover o bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”
(BRASIL, 1988), tem-se como consequência inarredável desta assertiva a necessidade de erigir
uma rede de resguardo das minorias sociais em todos os âmbitos. No que tange a seara
linguística, a vedação do discurso de ódio passaria pelo dever fundamental de tipifica-lo
criminalmente e criar uma cultura constitucional efetivamente eficaz de proteção dos grupos
minoritários.
Não obstante o quadro sociológico e jurídico exposto, diferentemente da Alemanha –
que, em sua Carta Magna, bem como no seu Código Criminal, estabelece uma série de tipos
penais voltados à punibilidade do discurso de ódio –, tem-se claro que o Brasil não se
desincumbiu do ônus e/ou do dever fundamental de legislar neste âmbito. A contrario sensu,
mesmo ocorrendo preocupantes episódios de hate speech, a exemplo do célebre Caso Ellwanger
(2003), e havendo o posicionamento do Supremo Tribunal Federal (STF) no bojo da Ação
Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) nº 26/DF, no qual declarou a mora do
Poder Público para com a proteção da população LGBTTQIA+, o Estado mantém-se inerte.
Hodiernamente, os diversos substratos fáticos envolvendo a temática são enquadrados
no artigo 20, caput, da Lei Federal n 7.716/1989, passagem responsável por tipificar o delito de
“praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional” (BRASIL, 1989). Malgrado o tímido tratamento implementado pelo seu
§ 1º, que traça nuanças criminais sobre a divulgação do nazismo no país, percebe-se a completa
ausência de segurança jurídica, posto que o racismo pode configurar-se como um dos
fundamentos do hate speech, no entanto, essa problemática possui inúmeros outros substratos
fáticos – a exemplo do machismo, da aporofobia, do capacitismo, da condição de migrante, da
situação de rua etc – que não são abarcadas pela materialidade supracitada.
Nesse sentido, a omissão inconstitucional de o Estado brasileiro posicionar-se à vedação
da violência linguística vai de encontro à perspectiva da teoria tridimensional do Direito.
Miguel Reale (1994, p. 57), responsável por erigir esta percepção no âmbito jurídico, dispõe
que um fato, recepcionando a devida valoração pelo corpus social, demanda uma tomada de
posição normativa pelo Poder Público, seja no viés permissivo, proibitivo e/ou imperativo –
noção que, como se observa, quanto ao hate speech, ainda não recebeu a devida interdição.
Não obstante a tentativa da Deputada Federal Maria do Rosário, em 2014, de erigir uma
legislação sobre crimes de ódio, o Projeto de Lei nº 7.582/2014 – o qual, em sua materialidade,
abarcou a proteção das minorias sociais para com o fenômeno do discurso opressivo no bojo
do artigo 4º – não recebeu o devido tratamento material pela Câmara dos Deputados. Este
documento teve por suspensa a sua tramitação desde 13 de outubro de 2021, quando, por força
do Parecer da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, foi acolhida
na integralidade a visão do Relator, o Deputado Federal Delegado Éder Mauro.
De acordo com as palavras do parlamentar acima, a legítima tentativa de criminalizar a
as condutas de ódio no país constituir-se-ia um mecanismo de apropriação do contexto
ideológico para supostamente “criminalizar manifestações que divirjam do chamado discurso
do ‘politicamente correto’” (BRASIL, 2021). Ademais, no mesmo Documento, estipulou o
Congressista que o Projeto de Lei “parece destinado a ‘reinventar a ronda’, ainda que sob outra
roupagem” (BRASIL, 2021), posto que, na sua perspectiva, já haveria leis suficientes no
contexto pátrio para a proteção dos grupos minoritários.
Nesse sentido, considerando a importância do tema e a apropriação por grupos
majoritários dos mecanismos de resolução da contenda, torna-se imperioso, por meio da
pesquisa acadêmica a ser desenvolvida neste Programa de Pós-Graduação em Direito (PPG),
entender a relação entre as dinâmicas de poder numa sociedade estratificada – em que as classes
hegemônicas se encontram numa confortável posição de legitimar ideias segregacionistas – e o
aumento vertiginoso de episódios envolvendo discurso de ódio no Brasil. Assim, os pontos a
serem traçados possibilitarão a maturidade de um debate interinstitucional e intersetorial,
capitaneado pelo Poder Legislativo, no qual efetivar-se-á uma cultura constitucional protetiva
de grupos minoritários por meio do cumprimento do dever fundamental implícito de
criminalização do hate speech.
E) Formulação do problema
A temática do discurso de ódio e/ou hate speech é uma das mais caras à
contemporaneidade brasileira, posto que, principalmente com a relevância atribuída pela
Constituição Federal de 1988 (CF/88) à liberdade de expressão e manifestação do pensamento
a posteriori longa temporalidade autocrática militar, a opressão ideológica de grupos sociais
minoritários não recebeu a devida atenção do Congresso Nacional. Pode-se ilustrar a seara por
meio dos diversos casos de discurso de ódio ocorridos nos últimos tempos – contra
LGBTTQIAPN+, nordestinos, mulheres, entre outros – que, malgrado a tímida possibilidade
de encaixá-los criminalmente no artigo 20 da Lei Federal nº 7.716/89, responsável por tipificar
o racismo, não há qualquer segurança jurídica ou efetividade punitiva.
Nesse diapasão, destinar-se-á a futura dissertação de Mestrado Acadêmico a análise de,
frente a ausência de regulamentação legal específica sobre a temática no Brasil, como as
instâncias de poder de dominação ideológica proporcionam (i) um ambiente confortável à alta
incidência contemporânea do discurso de ódio, bem como (ii) o descumprimento de existente
dever fundamental implícito na CF/88 à criminalização do discurso de ódio. Dessa maneira, as
respostas erigidas possibilitarão traçar nuanças sobre a omissão inconstitucional pátria em
desincumbir-se do ônus legislativo de proteção das minorias sociais no plano linguístico-
simbólico, acarretando, assim, que os(as) leitores(as) internalizem aprofundados conteúdos
capazes de erigir um debate interinstitucional e intersetorial de enfrentamento da matéria.
F) Justificativa
Notas sobre a liberdade de expressão sempre suscitaram apaixonados debates na seara
jurídica mundial, sendo tema constante a (im)possibilidade de sua limitação frente à
salvaguarda de direitos fundamentais alheios. In casu, recortando para o ambiente pátrio, a
posteriori larga temporalidade autocrática militar no século XX, tornou-se necessário o
estabelecimento de limites materiais à prerrogativa supramencionada, principalmente no que
toca a sua utilização num ambiente pretensamente plúrimo.
A promulgação da Carta Magna de 1988 no bojo do artigo 3º, incisos I – “construir uma
sociedade livre, justa e solidária” –, III – “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
desigualdades sociais e regionais” – e IV – “promover o bem de todos, sem preconceito de
origem, raça, sexo, cor idade e quaisquer outras formas de discriminação” (BRASIL, 1988) –,
claramente manifestou a necessidade de a República Federativa do Brasil proteger
integralmente os grupos sociais, haja vista que, numa sociedade estratificada, as dinâmicas de
poder moldam condutas ideologicamente perversas. Considerando tal questão, o combate à
violência cultural e a sua manifestação discursiva, qual seja, o hate speech, denota-se como
perspectiva fulcral à consolidação de uma ordem democrática de Direito.
Por tais razões, torna-se imperioso, no plano teórico, investigar a relação entre o
fenômeno do discurso de ódio e a omissão inconstitucional do Poder Legislativo pátrio à gênese
de um maduro instrumento normativo de proteção das minorias sociais no plano simbólico-
discursivo. Desta forma, a Academia facilitará o debate sobre de que maneira o Estado deve se
posicionar perante essa problemática, traçando, assim, pontos a serem levados em consideração
no objetivo de efetivar a cultura constitucional brasileira no que tange a específica proteção in
fine correlacionada.
Noutro giro, no que toca a relevância social do presente tema, tem-se por inegável que
a dissertação contribuirá para o estabelecimento de providências estatais dirigidas à diminuição
e/ou supressão de condutas linguísticas em desconformidade com o quantum querido pela
Constituição Federal de 1988. Assegurar-se-á, dessa maneira, maior possibilidade de existência
digna das minorias sociais pátrias no contexto democrático.
H) Metodologia
A dissertação de mestrado voltar-se-á à utilização do tipo de pesquisa bibliográfica,
especificamente de viés qualitativo, em que se tomará como base diversas referências teórico-
literárias com o fim de alcançar uma conclusão adequada sobre os controversos pontos do hate
speech na circunscrição social brasileira. Fora selecionado o método hipotético-dedutivo,
motivo pelo qual algumas hipóteses serão levadas em consideração para que seja verificado o
grau de falseamento e/ou veracidade existente entre elas.
Optou-se pela delimitação temática em torno da violência cultural e das dinâmicas de
poder, utilizando obras de filósofos da linguagem – Judith Butler, Michel Foucault, Michel
Pêcheux, Mikhail Bakhtin, Pierre Bordieau, Teun Van Dijk, entre outros – para estabelecer
como que numa sociedade estratificada ocorrem discursos ideologicamente perversos como
fruto do estabelecimento de classes hegemônicas.
Num 2º momento, analisar-se-á o contexto histórico-cultural brasileiro, igualmente
mediante viés qualitativo-bibliográfico, para entender o encaminhamento do Estado para com
uma postura permissiva no que toca a opressões especificamente dirigidas a grupos
minoritários. Nesse sentido, serão utilizados autores antropológicos e sociológicos – a título
exemplificativo, João José Reis, Kabengele Munanga, Risomar Alves dos Santos –, no afã de
analisar se, bem como de que forma, o desenvolvimento pátrio caminhou para a marginalização
ideológica de minorias e para a gênese de um ambiente confortável à violência linguístico-
discursiva no país.
A posteriori, devidamente munido dos substratos propedêuticos necessários, será
utilizada bibliografia jurídica – Lênio Streck, Ingo Wolfgang Sarlet, Luís Roberto Barroso, bem
como literatura jurídica estrangeira, a exemplo de Sandra Coliver – para investigar a
(in)existência de um dever fundamental à legislação sobre hate speech por parte do Estado
brasileiro, bem como qual deve ser sua orientação frente a igual importância da liberdade de
expressão e manifestação do pensamento. Nesse sentido, para pluralizar o debate e oferecer
nuanças de ordenamentos que se aproximam da realidade brasileira no sentido protetivo, será
realizada uma abordagem de direito comparado junto a legislação alemã.
Por fim, realizadas as perspectivas supramencionadas, será efetivado um exame das
tentativas de legislação sobre discurso de ódio no Brasil, principalmente o Projeto de Lei nº
7.582/2014, para ilustrar o grau de maturidade existente quanto ao tema. Tal assertiva
metodológica facilitará a colaboração para com técnicas legislativas que (i) assegurem um
ambiente saudável para circulação da liberdade de manifestação do pensamento e que, ao
mesmo tempo, (ii) proteja as minorias sociais no plano linguístico-simbólico.
L) Levantamento bibliográfico inicial

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