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LAGOA-SECA.
2022.
EM CAMPINA GRANDE, JOVENS DO CAMPO ENCONTRAM ALIADOS PARA
RESISTIREM ÀS INDÚSTRIAS DE ENERGIA.
A 9ª Feira Agroecológica e Cultura da Juventude do Polo da Borborema realizada hoje pela
manhã (2), na praça da Bandeira, no centro de Campina Grande, atraiu algumas pessoas que
trabalhavam ou passavam pelo setor. As barracas diversificadas de produtos cultivados sem
agrotóxicos e plantados a partir de sementes crioulas enchiam os olhos de quem se preocupa
com uma alimentação saudável. Adquirindo alimentos, mudas de plantas ou fazendo um
lanchinho nas barracas, muitas pessoas tomaram conhecimento do lado oculto da produção de
energia renovável em larga escala.
É que os/as jovens rurais, vindos de comunidades e sítios de 10 municípios que fazem parte
do Polo da Borborema, chegaram com vontade de vender, mas também de contar uma
história. Uma história que, propositadamente, não é contada pelas empresas que investem na
produção de energia a partir dos ventos e do sol. O que os jovens vieram contar é que seus
territórios, onde produzem o alimento, as mudas de plantas, criam os animais e as famílias
vivem há gerações, estão sendo ameaçados por verdadeiras indústrias de geração de energia.
MARCOS VIEIRA LIMA, FUNCIONÁRIO PÚBLICO ESTADUAL.
Marcos Vieira Lima, funcionário público estadual, passou na feira para comprar uns
alimentos e comentou que sabia de alguns impactos provocados pela indústria de energia, mas
afirmou estar surpreso quando se inteirou um pouco mais da gravidade dos danos provocados
pela produção centralizada da energia renovável.
“Muitas pessoas que moram nas cidades estão fugindo para o campo. E a gente saber que tudo
isso está acontecendo por lá, nos deixa preocupados”, exclamou ele. “A gente precisa de
eletricidade, mas se tem gente sofrendo a partir da geração dessa energia, não está certo. É
preciso pensar em uma solução que seja boa para todos e não para uma minoria e outros
fiquem de fora”, complementou.
AS IRMÃS ROSÂNGELA BEZERRA, DE CAMPINA GRANDE, E ANA MARY
BEZERRA.
As irmãs Rosângela Bezerra, de Campina Grande, e Ana Mary Bezerra, de São Paulo, que
deram uma passadinha feira foram outras que ficaram admiradas com os impactos negativos
trazidos com o modelo centralizado de produção de energia eólica e solar. “É muito
importante esclarecer a população o que está por trás desses empreendimentos. Para nós é
muito importante termos essa oferta de alimentos naturais, sem agrotóxicos que estamos
vendo aqui nessa feira”, comentou Rosângela.
DAYANE MONTEIRO, DE 22 ANOS, DE UMA COMUNIDADE DE ESPERANÇA.
Entre os jovens rurais visitantes, estava Dayane Monteiro, de 22 anos, de uma comunidade de
Esperança. Ela mora com o marido, numa propriedade onde vivem também os pais com a
irmã mais nova e a avó. São 8,5 hectares para atender às necessidades das três famílias. Na
comunidade deles, com cerca de 50 famílias, tem escola rural, posto de saúde, campos de
futebol, cisternas de água de beber e tecnologias que guardam a água da chuva para a
produção de alimentos e criação dos animais. Além disso, as famílias se organizam em grupos
que gerenciam uma espécie de poupança coletiva para a aquisição de animais, como galinhas
e ovelhas, e também para a construção de fogões ecológicos, que funcionam bem com uma
menor quantidade de lenha e são mais saudáveis para as mulheres que, em geral, se
encarregam das comidas em casa. O endereço de Dayane está na rota dos ventos e no mapa de
instalação de parques eólicos. “Se a gente não conseguir barrar a chegada desse parque, vai ter
muita migração, porque os parques limitam muito o uso das nossas terras, vai atrapalhar que
as nossas crianças sigam estudando na escola da comunidade e vamos perder nosso sossego.
Fui para o intercâmbio em Caetés [no Agreste de Pernambuco] e fiquei apavorada com os
relatos que ouvi da comunidade e também com o que vi e senti no pouco tempo que passei
por lá”, ressalta a jovem agricultora que planta algodão agroecológico, tem hortas ao redor de
casa, cria galinha e ovelhas e cultiva as culturas de sequeiro no roçado: feijão, fava, milho…
Do bairro de Bodocongó, Josilma Silva Izidro, que valoriza muito o alimento agroecológico
por saber que faz bem à saúde, só lembrou do sobrinho que tem autismo que se incomoda
muito com qualquer barulho, quando soube da zuada emitida dia e noite pelas imensas torres.
“Se ele [o sobrinho] não vai sofrer com isso porque mora na Ramadinha, fico imaginando
como vai ser a vida de quem é autista e mora nas zonas afetadas”, dispara e complementa
“Para mim, se causa barulho já provoca um dano grave”.
Enquanto isso, no palco, armado na praça de frente para as duas fileiras com as barracas
repletas de alimentos, artesanatos e mudas de plantas, várias pessoas faziam falas curtas
trazendo novas informações sobre os impactos negativos provocados por essas indústrias que
se instalam nos quintais das casas no campo. E o trio de forró Acauã animava os presentes
com músicas entre as falas.
Em outro espaço da praça, foi encenada uma pequena peça teatral que reproduziu a forma
como os representantes das empresas chegam nas casas das famílias, alertando para as
promessas falsas que são feitas para convencer as pessoas a arrendar as terras para que
principal atividade econômica se torne a produção de energia, em detrimento da produção de
alimentos.
Durante o ato que terminou próximo ao meio dia, havia também uma exposição fotográfica
com imagens de comunidades onde os parques eólicos funcionam há anos. Os danos são
evidentes: casas e cisternas rachadas pela trepidação do solo com a passagem dos pesados
caminhões para a construção do parque; pedaço de hélice no chão que despencou de uma
turbina após uma explosão; casa com aspecto de abandonada por estar sempre com portas e
janelas fechadas devido à poeira que vem das estradas de terra alargadas e pela zuada
constante dos aerogeradores; além de mostrar torres bem próximas às casas, quando a
distância mínima – estabelecida pelas regras que definem as diretrizes para instalação dos
parques – deveria ser de 500 metros.
Sem dúvida, o evento foi mais um momento de demonstração de força e organização social
das famílias agricultoras agroecológicas do território de atuação do Polo da Borborema. O
Polo é um coletivo, formado por 13 sindicatos rurais e cerca de 150 associações comunitárias,
que promove no território onde atua a construção da agricultura familiar agroecológica e
organiza várias resistências a projetos, como esse das indústrias de energia, que ameaçam o
modo de vida das famílias que vivem no campo e cultivam alimentos limpos e saudáveis. A
ação do Polo tem a assessoria da ONG AS-PTA.
Na avaliação dos jovens organizadores, o evento gerou ânimo e mais energia para que outras
ações como essa sigam sendo promovidas no território. Bem como o servidor público Marcos
Lima desejou: “Que continuem com esse movimento, pelo menos, para barrar a chegada delas
[das indústrias] em alguns lugares”. No que depender dos jovens que estiveram na praça hoje,
em pleno dia de jogo do Brasil na Copa do Quatar, a luta seguirá.
Quais são os principais objetivos de um PBA?
O PCA – Plano de Controle Ambiental é um estudo que tem por objetivo identificar e propor
medidas mitigadoras aos impactos gerados por empreendimentos de médio porte. Sua
elaboração se dá durante a Licença de Instalação (LI). O Plano deverá expor, de forma clara,
o empreendimento e sua inserção no meio ambiente com todas as suas medidas mitigadoras e
compensatórias.