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CURSO DE LICENCIATURA EM ENFERMAGEM

ANDREEA OLESEA MELECA N.º 85976


CYNTHIA SOLANGE PASCOAL BERNARDO N.º 85343
MARIANA VIANA MAGALHÃES GOMES N.º 83363
ORLANDO JOSÉ DE BASTOS MARQUES N.º 85366
RITA RIBAS GONÇALVES COSTA N.º 84987

PERSPECTIVAS ÉTICAS, DEONTOLÓGICAS E


JURÍDICAS NO CUIDADO DE ENFERMAGEM À
PESSOA IDOSA
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FARO, OUTUBRO 2023

CURSO DE LICENCIATURA EM ENFERMAGEM

ANDREEA OLESEA MELECA N.º 85976


CYNTHIA SOLANGE PASCOAL BERNARDO N.º 85343
MARIANA VIANA MAGALHÃES GOMES N.º 83363
ORLANDO JOSÉ DE BASTOS MARQUES N.º 85366
RITA RIBAS GONÇALVES COSTA N.º 84987

PERSPECTIVAS ÉTICAS, DEONTOLÓGICAS E


JURÍDICAS NO CUIDADO DE ENFERMAGEM À
PESSOA IDOSA

TRABALHO DE PESQUISA BIBLIOGRÁFICA


ENFERMAGEM NO IDOSO

DOCENTE: MARIA DA CONCEIÇÃO SILVA FARINHA


Escola Superior de Saúde, Universidade do Algarve

ENFERMAGEM NO IDOSO
PERSPECTIVAS ÉTICAS, DEONTOLÓGICAS E JURÍDICAS NO CUIDADO DE ENFERMAGEM À PESSOA IDOSA
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FARO, OUTUBRO 2023


RESUMO

Este trabalho académico, realizado no contexto da disciplina de Enfermagem do

Idoso visa analisar a temática sobre as perspectivas éticas, deontológicas e jurídicas no

cuidado de enfermagem à pessoa idosa, debruçando-se sobre um conjunto de documentos

internacionais e nacionais que ao longo das últimas décadas, foram enquadrando, reunindo

e catalisando conceitos morais sobre a terceira idade, em formato jurídico e deontológico.

Nesta temática, a enfermagem assume o seu papel social, construindo os seus

estatutos, espelhando e assumindo um papel social, de proteção sobre os mais vulneráveis,

defendendo e apoiando os direitos da pessoa idosa.

Palavras-chave: deontologia, responsabilidade social, proteção, idoso, direitos.

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PERSPECTIVAS ÉTICAS, DEONTOLÓGICAS E JURÍDICAS NO CUIDADO DE ENFERMAGEM À PESSOA IDOSA
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ABSTRACT

This academic work, carried out in the context of the Elderly Nursing discipline, aims to

analyze the theme of ethical, deontological and legal perspectives in nursing care for the elderly,

focusing on a set of international and national documents that, over the last few decades, were

framing, gathering and catalyzing moral concepts about old age, in a legal and deontological format.

In this theme, nursing assumes its social role, building its statutes, mirroring and assuming a

social role, protecting the most vulnerable, defending and supporting the rights of the elderly.

Keywords: deontology, social responsibility, protection, elderly, rights.

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PERSPECTIVAS ÉTICAS, DEONTOLÓGICAS E JURÍDICAS NO CUIDADO DE ENFERMAGEM À PESSOA IDOSA
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ÍNDICE GERAL

LISTA DE ABREVIATURAS..........................................................................Erro! Marcador não definido.


INTRODUÇÃO...........................................................................................Erro! Marcador não definido.
PERSPECTIVAS ÉTICAS, DEONTOLÓGICAS E JURÍDICAS NO CUIDADO DE ENFERMAGEM À PESSOA
IDOSA.......................................................................................................Erro! Marcador não definido.
3. DESENVOLVIMENTO.............................................................................Erro! Marcador não definido.
3.1 Questões Éticas, Deontológicas e Jurídicas.........................................Erro! Marcador não definido.
9. BIBLIOGRAFIA.......................................................................................Erro! Marcador não definido.

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PERSPECTIVAS ÉTICAS, DEONTOLÓGICAS E JURÍDICAS NO CUIDADO DE ENFERMAGEM À PESSOA IDOSA
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LISTA DE ABREVIATURAS

OMS – Organização Mundial de Saúde

ONU – Organização Nações Unidas

EOE – Estatuto da Ordem dos Enfermeiros

CRP - Constituição da República Portuguesa (1976)

DUDH - Declaração Universal dos Direitos Humanos

Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia

Convenção sobre os Direitos o Homem e a Biomedicina

Lei de Base da Saúde (Lei n.º 95/2019)

Resolução do Concelho de Ministros n.º 63/2015

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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho de grupo académico, realizado na unidade curricular de

Enfermagem do Idoso, da Licenciatura de Enfermagem, na Escola Superior de Saúde, da

Universidade do Algarve, vem por sua vez dar resposta ao desafio lançado pela docente

Maria da Conceição Farinha, em realizar uma análise sobre a referida publicação, que se

foca sobre a documentação, emitida nas últimas décadas que procura proteger e enquadrar

a pessoa idosa, numa sociedade cada vez mais dinâmica e veloz, que muitas vezes não se

coaduna com os mais vulneráveis.

Neste contexto, a carreira da Enfermagem sempre procurou abraçar esta missão,

procurando escudar a pessoa idosa sob um manto de conceitos éticos, deontológicos e

jurídicos, protegendo os seus reais interesses, familiares e acompanhantes.

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2. PERSPECTIVAS ÉTICAS, DEONTOLÓGICAS E JURÍDICAS NO


CUIDADO DE ENFERMAGEM À PESSOA IDOSA

Este estudo visa alertar-nos para os aspetos éticos, deontológico e jurídicos dos

cuidados de enfermagem em relação à pessoa Idosa.

Atualmente deparamo-nos com uma realidade díspar, que aponta para uma

“demografia global de envelhecer” (Bloom & Luca, 2016), onde um aumento galopante da

esperança média de vida.

Organização Mundial da Saúde (OMS), referência a terceira idade com inicio aos 65

anos. Este valor esteve associado empiricamente ao termino da vida laboral e questões não

fundamentadas. Com base nos poucos estudos realizados sobre o envelhecimento, é

assumido como artificial e abstrato, tratando-se de um processo heterogéneo, longe da

singularidade de cada indivíduo.

A primeira vez que foi abordado esta temática a nível mundial foi na Assembleia

Geral das Nações Unidas em Viena (1982), tendo sido aprovado um Plano Internacional de

Ação.

Logrado vinte anos, durante a Segunda Assembleia Geral das Nações Unidas

(2002), desta vez em Madrid, dedicada ao tema do Envelhecimento, com o principal objetivo

de avaliar o progresso feito, tendo sido aprovado em agenda, para intervenção no séc. XXI,

estas três principais áreas: (1) pessoas idosas e desenvolvimento, (2) saúde e bem-estar

avançados na velhice e (3) garantia de ambientes de capacitação e suporte aos idosos.

O Plano enfatiza os direitos das pessoas idosas como elementos ativos na

sociedade, independentes, com papel participativo e ao qual se preserva o direto ao acesso

de cuidados de saúde e de dignidade.

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Toda esta temática, volta a ser reavaliada pela ONU (2016), ao mandatar o

Concelho de Direitos Humanos, para a realização de uma auditoria externa, que incidia

sobre da efetividade dos instrumentos existentes dos estados membros sobre a pessoa

idosa. Em resultado disto, assume-se o insucesso inicial desta convenção universal. Em

resultado deste estudo, foi possível constatar várias posições, assumindo-se que a nossa

realidade nacional se insere num grupo pró-activo. Fruto desta estratégia, procura-se

instituir um instrumento especifico que permita criar um sistema de informação e

monitorização que permita aplicar os direitos instituídos, atribuindo contexto jurídico a

valores morais (C. A. Gomes, 2020, p.11_12).

O patamar dos 65, estipulado pela OMS e pela ONU, enfrenta resistência perante a

individualidade de cada pessoa. O envelhecimento necessita de uma visão social que lhe

reconheça desigualdades na distribuição de riscos e vulnerabilidades (viuvez,

desestruturação familiar, solidão, iliteracia).

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3. DESENVOLVIMENTO

3.1 Questões Éticas, Deontológicas e Jurídicas

Na nossa realidade nacional, os direitos da pessoa idosa encontram enquadramento

no quadro jurídico em saúde e Enfermagem, numa relação estreita entre fundamentos

éticos e deveres deontológicos. São realçados o princípio da dignidade humana, o

reconhecimento da singularidade, autonomia e vulnerabilidades das pessoas idosas.

Estes fundamentos éticos encontram lugar sobre a deontologia profissional, criado

sobre o quadro jurídico vigente em cada país. O enfermeiro é obrigado a zelar e cumprir a

legislação que enquadra a sua profissão, patentes no Estatuto da Ordem dos Enfermeiros

(EOE). Idade não é sinónimo de circunstâncias idênticas. É fundamental manter a liberdade

e autonomia da pessoa idosa, levando em conta as suas crenças, valores e independência.

O enfermeiro tem o dever deontológico e a responsabilidade social, de proteger o

idoso e, de defender os seus direitos.

A dignidade é reconhecida em Constituição da República Portuguesa (CRP), como

“princípio dos princípios” (Novais, 2020, p. 20), sendo considerada um vetor orientador e

fundamental da proteção da pessoa.

Na 1.º Constituição da República Portuguesa (CRP), podemos ler no n.º1 do artigo

13.º: “todos têm a mesma dignidade social”, garantindo proteção e acesso a cuidados de

saúde, respeitando a autodeterminação e independência. Em relação à Terceira idade, é

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reconhecido à pessoa idosa o “direito à segurança económica e a condições de habitação e

convívio familiar e comunitário que respeitem a sua autonomia pessoal e evitem e superem

o isolamento ou a marginalização social” (CRP, 1976).

Integrada na ordem jurídica nacional, podemos constatar a Declaração Universal dos

Direitos Humanos (DUDH), que vincula o estado ao cuidado de todos como iguais e

reconhecimento pelo direito à saúde, bem-estar, segurança “na doença, na invalidez, na

viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias

independentes da sua vontade” (OMS, 1985, artigo25).

O vazio existente da figura do idoso na convenção universal, não deve ser assumido

como um entrave para que se enquadre legalmente, o respeito da sua dignidade. O Estado,

baseado nos Princípios da Nações Unidas para as Pessoas Idosas (1991) realça o direito

de acesso a cuidados de saúde, que lhes permita manter ou optimizar o bem-estar físico,

mental, emocional e, acesso a serviços sociais e jurídicos, premissas que devem reforçar a

autonomia, proteção, dignidade, convicções, necessidades e direito a papel ativo na tomada

de decisões.

Podemos também encontrar na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia

(2000), que consagra o direito das pessoas idosas a uma existência condigna e

independente e à sua participação na vida social e cultural, protegendo-os de qualquer tipo

de descriminação.

Também na Convenção sobre os Direitos do Homem e a Biomedicina podemos

encontrar este conceito de proteção da pessoa idosa, no contexto das disciplinas da

biologia e medicina. Baseado neste documento, é aprovada a Lei de Base da Saúde (Lei n.º

95/2019), que delibera a promoção do bem-estar e qualidade de vida durante o

envelhecimento, valorizando o poder de decisão e controlo sobre a sua vida,

proporcionando igualdade no acesso a cuidados de saúde de qualidade em tempo útil e

manutenção de equidade na distribuição e utilização de recursos.

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Em seguimento, podemos consultar o Estatuto da Ordem dos Enfermeiros (EOE),

onde é sustentada a deontologia profissional, com base nos deveres do enfermeiro e

direitos da Pessoa cuidada, realçando o papel social da enfermagem como regulador da

equidade e igualdade no acesso a cuidados de saúde em todas a s fases da vida.

Responsabilidade, respeito pelos direitos humanos e excelência do exercício, são valores e

princípios assumidos no quadro ético de fundamento do deveres.

É preponderante o enfermeiro procurar ativamente atualizar os seus conhecimentos

com base nas mais recentes evidências cientificas em gerontogeriatria, renegando modelos

ilusórios de idoso tipo/padrão.

A procura incessante da competência passa também pela abordagem da

Responsabilidade Profissional Ética e Legal, quer seja em cuidados gerais ou

especializados.

O enfermeiro tem o dever de cuidar da pessoa sem qualquer tipo de discriminação,

assumindo o direito ao valor de igualdade, consagrado pela ONU (1985).

Com base em critérios de dignidade e de direitos, o enfermeiro deve respeitar o

comportamento da pessoa e, não realizar juízos de valor sobre opções políticas, culturais,

morais e religiosas, “proteger e defender a pessoa humana de práticas que contrariem a lei,

a ética e o bem comum, sobretudo quando carecidas de indispensável competência

profissional” (EOE, artigo 100, alínea c).

O enfermeiro na área da saúde, liga muitas vezes com contextos culturais e de

valores dispares, mas acaba por dissipar essas barreiras pela formação e experiência, que

lhe permitem ter uma percepção multicultural, ajudando a compreender e, respeitar o

próximo.

Apesar do sentido moral que consagra esta temática, existe a percepção que os

referidos direitos emanam de fontes dispersas, devido a um vazio jurídico na consagração

dos direitos da pessoa idosa, que ao ser consagrado poderia acelerar os processos de

aplicabilidade de medidas protecionistas sobre o idoso.

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Neste sentido, podemos consultar na Resolução do Concelho de Ministros n.º

63/2015, o que foi definido com Estratégia de Proteção ao Idoso que se alinha com as

diretrizes emanadas pela Assembleia Geral da ONU, sobre direitos, independência,

participação, assistência, realização pessoal e dignidade. É também reconhecido o dever do

estado, em facultar acesso a informação relevante e adequada ao idoso, atribuindo-lhe

autonomia na tomada de decisões.

A Constituição da República Portuguesa (CRP, 1976, artigo 25.º) e a Lei de Bases

da Saúde (Lei n.º 95/2019), consagram o respeito pela autodeterminação da pessoa idosa,

reforçando o seu poder de decisão sobre o consentimento dos cuidados de saúde que lhe

são propostos, validando diretivas antecipadas, o papel de procurador e o direito a

acompanhante. Estes documentos vêm reforçar o poder de decisão, salvaguardando

juridicamente a sua vontade.

A Lei de Bases da Saúde também se debruça sobre a questão do envelhecimento,

enumerando os direito estabelecidos relativos “à promoção do bem-estar e qualidade de

vida numa perspectiva inclusiva e ativa que favoreça a capacidade de decisão e controlo da

sua vida, através de mecanismos adaptativos de aceitação, de autonomia e independência”

(Lei n.º95/2019 da Assembleia da República, 2019) (base 2, n.º 1, alínea I).

É um dos direitos da pessoa idosa, (salvo a exceção do limite de exercer os seus

direitos) decidir sobre o seu projeto e cuidados de saúde.

No sentido de erradicar todas as formas de discriminação, abuso, maus tratos e

violência com base na idade dos idosos, através da prevenção e repreensão, a Estratégia

de Proteção ao Idoso, tem como objetivos principais:

 Proporcionar oportunidades de envolvimento educativo, cultural e recreativo;

 Assistência em termos de saúde, apoio social e jurídico possibilitando um ambiente

adequado às suas necessidades, digno, seguro e protetor.

O papel do Enfermeiro para com as pessoas idosas, de acordo com a alínea c) do

artigo 102.º do EOE (Lei n.o 156/2015 da Assembleia da República, 2015), visa a promoção

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da sua independência física, psíquica e social e do autocuidado com o intuito de melhorar a

sua qualidade de vida.

Deste modo, o enfermeiro na definição dos cuidados de saúde a prestar as pessoas

idosas independentemente da sua idade, após o consentimento livre e esclarecido e a

informação do estado de saúde do idoso, deverá respeitar a vontade e capacidade da

pessoa, tanto a sua integridade cultural e espiritual.

De acordo com o artigo 105.º e 106º EOE, os deveres a informação e sigilo

profissional, devem ser reforçados tendo em conta a debilidade da pessoa idosa, em que,

previamente resulte na informação aos familiares bem como, do seu estado de saúde

sempre que assim o desejam, o enfermeiro partilha informação só com aqueles que estão

designados no plano terapêutico, regendo pelos interesses do indivíduo e da família:

 bem-estar;

 segurança física, emocional e social.

O Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados, permite o direito à reserva da

intimidade da vida privada e familiar (CRP, 1976) (cf. artigo 26.º, n.º 1), da sua proibição do

acesso a dados pessoais de terceiros, salvaguardando os casos excecionais previstos na

lei (cf. artigo 35.º, n.º 4).

No que concerne ao direito da informação do seu estado clínico e das

terapêuticas a implementar, bem como, os riscos e benefícios, a Lei de Bases da Saúde

(Lei n.o 95/2019 da Assembleia da República, 2019), decreta este respeito, uma vez que,

poderá ter acesso a todo o processo clínico que lhe diga respeito, desde que, seja efetuada

a avaliação da capacidade de a pessoa compreender.

É de realçar que, os deveres do enfermeiro, tendo como base uma profissão que

desempenha um papel fundamental, tanto a nível de cuidados e de proximidade da pessoa

idosa e da família, de garantir a “promoção da saúde, a prevenção da doença, o tratamento

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e recuperação, promovendo a qualidade dos serviços” e actuando “responsavelmente na

sua área de competência” (EOE, artigo 112º).

O enfermeiro tem sempre o dever de respeitar a intimidade da pessoa e protegê-la

de negligência na sua vida e salvaguardar sempre a intimidade e a privacidade da pessoa no

exercício das suas funções e na supervisão das tarefas delegadas por si.

O cuidado à pessoa idosa carece de modelos de abordagem interdisciplinar onde o

enfermeiro desempenha um papel central na relação de maior proximidade à pessoa e

família e pela sua permanência nos cuidados.

A pessoa cuidada tem o seu total dever e direito de participar e colaborar no seu

processo terapêutico, tendo sempre em conta as suas capacidades, uma pessoa

parcialmente ou mesmo totalmente dependente será sempre capaz de realizar alguma das

suas tarefas do seu processo terapêutico.

Uma pessoa que é dependente para realizar tarefas diárias irá necessitar de um

cuidador, sendo ele formal, um familiar, ou informal. O cuidador informal é destinatário dos

nossos cuidados, o cuidador informal deve ter as capacidades de conseguir suportar as

necessidades diariamente da pessoa cuidada e é dever do enfermeiro suportar o cuidador

informal nessa escolha humana e humanizadora, sempre assegurando as suas

competências e condições para a garantia dos direitos da pessoa cuidada.

O enfermeiro responsabiliza-se pelas decisões por si tomadas e pelos atos que

delega, para assim garantir a qualidade e continuidade dos cuidados que presta ou delega. O

enfermeiro tem o dever de ensinar ao cuidador para capacitá-lo nos atos delegados por si.

Na conciliação do direito entre a pessoa cuidada e o cuidador informal, o enfermeiro

deve assumir o seu dever deontologicamente prescrito, eticamente suportado e juridicamente

enquadrado em matéria de informação e no sigilo da pessoa cuidada.

O regime jurídico do Maior Acompanhado é uma forma de dar autonomia ao idoso,

garantindo que seu acompanhamento não anule seu direito de exercer suas atividades

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diárias. A vontade do auxiliado é levada em consideração diferente do modelo antigo onde

um representante legal podia anular a vontade da pessoa auxiliada.

De acordo com Costa, 2019 (p. 160), em casos extremos como incapacidade severa

pode haver a atribuição de um representante legal com medidas de substituição ou em

recurso a medidas assistenciais visando a autorização do acompanhante para a realização

de alguns procedimentos ou atos, ou também consiste em apoio à atuação do

acompanhado.

Os termos previstos no n.º 1, do artigo 145 limitam-se apenas ao necessário ou seja

indica que questões de proporcionalidade. O acompanhado mantém sua autonomia sendo

essa questão variável de acordo com suas próprias necessidades “parte-se da ideia de que

o acompanhado mantém a sua capacidade de exercício” (p. 62) sendo o conteúdo do

acompanhamento “variável de acordo com as necessidades concretamente evidenciadas

pelo sujeito beneficiário” (Barbosa, 2018, p. 60).

Como previsto no artigo 140.º, n.º 1, do Código Civil (Decreto-Lei n.o 47344, 1966)

tem por objetivo “assegurar o seu bem-estar, a sua recuperação, o pleno exercício de todos

os seus direitos e o cumprimento dos seus deveres, salvo as exceções legais ou

determinadas por sentença”.

A decisão judicial aplicada a questão do acompanhamento visa complementar, ou

seja, “a medida não tem lugar sempre que o seu objetivo se mostre garantido através dos

deveres gerais de cooperação e de assistência que no caso caibam” (Código Civil, Decreto-

Lei n.o 47344, 1966, nº 2 do artigo 140º) no que diz respeito a família do acompanhado. A

família cônjuge e filhos tem papel fundamental no que diz respeito às necessidades do

indivíduo e isto é previsto por lei (Código Civil, Decreto-Lei n.o 47344, 1966) (cf. artigo

1674.º) (Código Civil, Decreto-Lei n.o 47344, 1966) (cf. artigo 1874.º).

Segundo o artigo 147.º, n.º 1, do Código Civil (Decreto-Lei n.o 47344, 1966) os

direitos e deveres do acompanhado são salvaguardados por lei e apenas em caso em que

decisão judicial considere o contrário e afete o seu livre exercício isto pode ser revisto. “o

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elenco de direitos pessoais constante do n.º 2 da referida disposição é meramente

exemplificativo, devendo ser entendidos, igualmente, como direitos pessoais cujo exercício

caberá ao acompanhado, salvo disposição em contrário na lei ou quando a decisão judicial

o abranja pela medida de acompanhamento, a generalidade dos direitos de personalidade”

Barbosa (2018, p. 65), onde está garantido o direito à integridade física e psíquica e

estabelece o consentimento em caso de qualquer intervenção em saúde.

A representatividade do acompanhado está intrinsecamente ligada às necessidades

do mesmo, podendo este por exemplo ser representado em função das suas

impossibilidades intelectuais, podendo o tribunal atribuir ao acompanhante poder sobre as

decisões, entre estas questões relacionadas à saúde. Estes poderes não podem ultrapassar

o interesse do acompanhado em nenhuma hipótese. Entende-se, portanto, que apesar o

acompanhante ter algum poder sobre as decisões estas são sempre para o bem do

acompanhado e este poder lhe é atribuído por judicialmente.

É de extrema importância que a fala pessoa acompanhada seja considerada pelo

acompanhante. Segundo o artigo 146.º, n.º 1, do Código Civil (Decreto-Lei n.o 47344,

1966), o acompanhante ao exercer suas funções zelar pelo “o bem-estar e a recuperação

do acompanhado, com a diligência requerida a um bom pai de família, na concreta situação

considerada”. A lei sanciona um contacto permanente do acompanhante com o

acompanhado devendo o visitar com uma periodicidade mensal ou que o for determinado

pelo tribunal (Código Civil, Decreto-Lei n.o 47344, 1966) (cf. artigo 146.º, n.º 2). É vedado

ao acompanhante agir de forma contraditória ou que prejudique o acompanhado caso haja

necessidade deverá ser solicitado em tribunal (Código Civil, Decreto-Lei n.o 47344, 1966)

(cf. artigo 150.º, n.º 3).

Ao acompanhado lhe é possibilitado a expressão de seus desejos de forma

antecipada através da regulação, desde 2012, das Diretivas Antecipadas da Vontade e da

nomeação de procurador de cuidados de saúde, pela Lei n.º 25/2012 (2012), de 16 de julho

2023 onde suas preferências individuais sejam respeitadas em caso de incapacidade,

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podendo realizar através de um documento escrito ou na designação de um procurador de

cuidados de saúde.

Ribeiro (2014) refere que “a natureza e efeitos das diretivas restringem-se ao âmbito

dos cuidados médicos e têm em vista constituir uma forma de suprimento privado da

incapacidade para prestar consentimento”, este consentimento deve ser obtido previamente

a realização de qualquer intervenção e isto é dever do profissional de enfermagem. É dever

do profissional de saúde respeitar a vontade do outorgante sob pena de violação do direito,

resultando daquela uma atuação ilícita podendo gerar assim uma indemnização – artigo

483.º, n.º 1, do Código Civil (Ribeiro, 2014, p. 113). O enfermeiro está obrigado a respeitar,

a vontade expressa pela pessoa em face do seu dever deontológico enquanto profissional

deve “respeitar, defender e promover o direito da pessoa ao consentimento informado” (E

O'E, alínea b) do artigo 105º).

A lei publicada em 2018 sobre os direitos das pessoas em contexto de doença

avançada e em fim de vida, refere, “quando padeça de doença grave, que ameace a vida,

em fase avançada, incurável e irreversível e exista prognóstico vital estimado de 6 a 12

meses” (Lei n.o 31/2018 Da Assembleia Da República, 2018, artigo 2º), onde esta lei

concerne a pessoa em estado de doença terminal:

1. Receber informações detalhadas sobre seu estado de saúde. (Lei n.o 31/2018 da

Assembleia da República, 2018, nº 1 do artigo 3º)

2. Participar ativamente do seu plano terapêutico (Lei n.o 31/2018 da Assembleia da

República, 2018, nº 2 do artigo 3º)

3. Consentir livre e esclarecido sobre os procedimentos previamente (Lei n.o 31/2018

da Assembleia da República, 2018) (artigo 5.º)

4. Ser assistido por familiares ou cuidadores durante seu processo terapêutico (Lei n.o

31/2018 da Assembleia da República, 2018, nº 1 do art.º 10º)

5. Recusar tratamento (Lei n.o 31/2018 Da Assembleia Da República, 2018, nº 3 do

artigo 3º)

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6. Contenção química com uso de fármacos prescritos (Lei n.o 31/2018 da Assembleia

da República, 2018, nº 3 do artigo 3º)

No que diz respeito a pessoa em situação de fim de vida o enfermeiro assume o

dever de: “defender e promover o direito da pessoa à escolha do local e das pessoas que

deseja que o acompanhem em situação de fim de vida”; ”respeitar e fazer respeitar as

manifestações de perda expressas pela pessoa, (…), pela família ou pessoas que lhe sejam

próximas” e o ”corpo após a morte” (EOE, alíneas a), b) e c) do artigo 108º).

4. CONCLUSÃO

Apesar de toda a informação reunida, rapidamente percebemos que ainda existe um

grande trabalho pela frente em contexto ético, deontológico e jurídico nos cuidadosos de

Enfermagem ao Idoso.

O envelhecimento natural e comum a todos os seres vivos, individualizado e reflexo

de toda uma vivência que se espelha em processos biológicos e neurofisiológicos.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

Nunes, L., Inês, R. & Constantino, M. (2021). Perspetivas Éticas, Deontológicas e

Jurídicas no Cuidado de Enfermagem à Pessoa Idosa. In M.L.F. Almeida, J.P.A. Tavares &

J.S.S. Ferreira (Eds.), Competências em Enfermagem Gerontogeriátrica: Uma Exigência

para a Qualidade do Cuidado. Série Monográfica Educação e Investigação em Saúde (pp.

65-94). Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem (UICISA: E)/ Escola

Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC).

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