Você está na página 1de 7

AVALIAÇÃO DA TECNOLOGIA DE INJEÇÃO PARA OBTENÇÃO DE

COMPÓSITOS DE CASCA DE ARROZ


Michel Vinicius Flach1, Eduarda Kraspenhar1, Fernando Dal Pont Morisso1, Carlos
Leonardo Pandolfo Carone1, Vanusca Dalosto Jahno1
1
Universidade Feevale, Novo Hamburgo, Brasil
flachmichel@gmail.com

O estudo tem como objetivo desenvolver compósitos poliméricos com casca de arroz e
avaliar a tecnologia de injeção. Foram processados compósitos de PEBD e casca de arroz,
variando-se o percentual entre 20 e 50% de casca. A partir dos resultados se verificou que
os materiais desenvolvidos possuem propriedades potenciais para diversas aplicações por
apresentarem fluência adequada para injeção, absorção de água inferior a 2%, dureza entre
49 e 54 Shore D e resistência à tração de até 9,46 N/mm2.

Palavras-chave: Compósitos Poliméricos; Casca de Arroz; PEBD.

INTRODUÇÃO de casca de arroz é especialmente relevante, pois a


casca apresenta abrasividade relativamente alta e alto
O desenvolvimento de novos materiais e tecnologias
conteúdo de sílica em sua composição (SCHIRP e
de processamento são temas de grande relevância na
BARRIO, 2018).
atualidade. Somado a isto, existem diversos desafios
para serem superados quanto a aplicação de resíduos Assim, existem desafios técnicos e necessidade de
lignocelulósicos em compósitos poliméricos.O desenvolvimento tecnológico de compósitos
desenvolvimento de metodologias de processamento e poliméricos com materiais de fontes renováveis. Neste
a seleção de materiais devem servir para a otimização sentido, verificam-se resultados promissores sobre a
das propriedades e adequação para a aplicação aplicação de cargas de reforço, constituídas de
desejada. materiais lignocelulósicos, como substitutos aos
materiais de fontes não renováveis. Estas cargas
A utilização de materiais lignocelulósicos como carga
permitem modificar e aprimorar propriedades
em compósitos poliméricos é uma perspectiva
mecânicas da matriz polimérica como a rigidez, o
interessante para a inclusão destes materiais, que
módulo de elasticidade, a tenacidade e a resistência à
apresentam propriedades como baixo custo e baixa
fratura (SAJITH et al. 2017). Então, tecnicamente, a
densidade (YUSUF et al. 2017; KUMAR et al. 2019).
aplicação de resíduos celulósicos como a casca de
O desenvolvimento destes compósitos deve ser arroz, pode contribuir para a modificação das
conduzido com atenção aos parâmetros afetados pela propriedades de polímeros.
inclusão da carga. O tamanho de partícula,
Com relação a casca de arroz, existe atualmente uma
propriedades da carga, compactação do material,
grande quantidade disponível, já que a casca
estrutura interfacial e compatibilidade da carga com a
corresponde a aproximadamente 20% do arroz bruto.
matriz, por exemplo, afetam diretamente as
A casca é rica em sílica e possui superfície abrasiva, o
propriedades do compósito obtido. Erdogan e Huner
que dificulta sua decomposição e sua queima.
(2018), apontam que as propriedades mecânicas destes
Economicamente, o desuso do material é uma forma
compósitos são afetadas principalmente pela
de desperdício, pois este é altamente disponível, é
molhabilidade e a qualidade da interação interfacial
biodegradável, possui baixa densidade e apresenta
entre a carga e a matriz.
baixo custo, portanto, trata-se de um resíduo que pode
No que diz respeito a seleção dos materiais de matriz, ser incluído em cadeias de valor (SOUZA et al. 2017;
existem vantagens e desvantagens relacionadas a cada HUNER, 2017).
tipo de polímero escolhido. Com relação aos
Considerando estes desafios ambientais e as
polímeros termoplásticos, as vantagens estão ligadas a
propriedades e possibilidades de aplicação da casca de
reciclabilidade e a possibilidade de inclusão de
arroz, diversos pesquisadores realizaram estudos para
matérias-primas recicladas. Como desvantagens,
a introdução deste material de fonte renovável em
observa-se a diminuição do desempenho estrutural e a
cadeias de valor, aplicando diferentes metodologias
redução da fluência. Com relação a fluência, a adição
para a preparação da casca e processamento dos método foi semelhante, porém aplicando PP como
materiais, além de uma gama de materiais de matriz matriz polimérica nos compósitos.
polimérica em seus estudos (Kumar et al. 2019;
A aplicação de polímeros termoplásticos reciclados
Debnath et al. 2019; Souza et al. 2017; Schirp e Barrio
como matriz polimérica em compósitos com casca de
2018; Zhang et al. 2019; Erdogan e Huner 2018; Chen
arroz é uma alternativa de incorporação do resíduo
et al. 2016; Salazar e Salinas 2019; Azevedo et al.
lignocelulósico. Chen et al. (2016), utilizaram como
2016; Aridi et al. 2016; Huner 2017; Das et al. 2019).
matriz polimérica o composto denominado pelos
Uma das formas mais simples de obtenção dos autores como rTPB, mistura termoplástica reciclada
compósitos é a mistura com diferentes materiais e a de HDPE reciclado e PET reciclado na proporção de
moldagem manual. Kumar et al. (2019) por exemplo, 75/25. Os autores utilizaram extrusão, peletização e
desenvolveram compósitos pela mistura de casca de posterior prensagem, com quantidades de 50, 60, 70 e
arroz sem tratamento, com um ligante epóxi. No 80% de carga de casca de arroz. Os resultados
estudo, os autores produziram painéis, por meio da demonstraram que a carga melhorou a resistência à
mistura dos materiais em um agitador manual, tração e o módulo de elasticidade, até a utilização de
vertendo gradualmente a mistura resultante em um 70% de casca. Com relação à absorção de água, a
molde para cura. Debnath et al. (2019), também variação foi pequena entre os compósitos contendo,
realizam a mistura da casca de arroz sem tratamento também, até 70% de casca.
com um ligante epóxi, adicionando, ainda, fibras de
Entre os estudos, que utilizam a tecnologia de
vidro. Estes autores, porém, obtiveram painéis por
moldagem por injeção, pode ser citado o trabalho de
meio da mistura e posterior prensagem hidráulica.
Salazar e Salinas (2019), que desenvolveram
Nestas metodologias, verificou-se que não há compósitos de PP e casca de arroz micronizada. A
necessidade de temperatura para a obtenção dos proporção da casca de arroz nos compósitos foi de 10,
produtos. Mas, mesmo com o uso de um ligante epóxi, 20 e 30%. Estes compósitos foram processados por
a prensagem à quente pode ser utilizada, como pode extrusão, peletização e posterior injeção. Os autores
ser visto no estudo de Souza et al. (2017). A verificaram que a resistência à tração não foi alterada
metodologia que estes autores aplicaram, trata da significativamente em função do aumento do teor de
utilização de casca de arroz na forma natural ou casca e a conclusão apresentada foi que tais
micronizada, em misturas com o ligante tanino- compósitos possuem alto potencial para a produção de
formaldeído. A prensagem foi realizada com materiais termoplásticos por injeção.
aquecimento, obtendo-se chapas com diferentes
Azevedo et al. (2016), desenvolveram compósitos
massas específicas para cada compósito. Para estes
com 10, 20 e 30% de casca de arroz micronizada,
materiais, foram avaliadas a influência do tamanho de
aplicando a metodologia de extrusão, peletização e
partícula e da massa específica das chapas, verificando
posterior injeção. A diferença deste estudo é a
que ambas as características influenciam nas
utilização do polímero termoplástico verde Ecobras
propriedades dos compósitos.
RD 704, uma blenda de 48% de PBAT e 52% de
A tecnologia de extrusão é outra metodologia amido em massa. Os autores observaram o aumento da
encontrada em diversos estudos para a obtenção de resistência à tração em função do aumento do teor de
compósitos com a casca de arroz. Esta tecnologia é carga, como consequência da boa adesão entre a casca
aplicada para realizar a mistura dos materiais, por de arroz e a matriz polimérica, observada por análise
meio de temperatura e cisalhamento, que, em seguida, morfológica da superfície de fratura.
são submetidos a processos de injeção ou prensagem.
Ainda, Aridi et al. (2016) desenvolveram compósitos
Mas, a extrusão pode também ser aplicada diretamente
de PP e casca de arroz sem tratamento, mas com o uso
para a obtenção de perfis, como no trabalho de Schirp
do agente de acoplamento Struktol. Estes verificaram
e Barrio (2018). Os autores discutiram a extrusão e
a resistência à tração semelhante para compósitos
peletização com posterior prensagem à quente, bem
contendo 35, 40, 45, 50 e 55% de casca.
como a extrusão de perfis a partir dos materiais
obtidos. Os compósitos foram desenvolvidos a partir O uso de agentes de acoplamento ou o pré-tratamento
de misturas de partículas lignocelulósicas de madeira, da casca de arroz é motivado pelas características
palha de trigo, bambu, cânhamo e cascas de arroz, intrínsecas da casca de arroz, como a presença de
utilizando o polipropileno (PP) como material de grupos apolares em sua composição, além da presença
matriz termoplástica. de ceras, lignina, pectina e hemicelulose na superfície
da casca (BISHT e GOPE, 2018).
Para Zhang et al. (2019), a extrusão e peletização foi
utilizada na preparação dos compósitos para posterior Neste sentido, cita-se o trabalho de Huner (2017). O
prensagem à quente, utilizando o PEAD como matriz autor descreve que a casca de arroz é hidrofílica,
polimérica. Enquanto para Erdogan e Huner (2018), o enquanto boa parte dos polímeros sintéticos como o
PP, são hidrofóbicos. Neste sentido, o autor conduziu Os materiais foram submetidos a secagem em estufa,
a avaliação das propriedades de compósitos em função para remoção da umidade. Em seguida foi realizada
do tratamento da casca de arroz com NaOH, propil- pesagem das amostras conforme as formulações
trimetoxi-silano e utilizando o agente de acoplamento descritas na Tabela 1. As amostras C20.1, C30.1,
polipropileno modificado com anidrido maleico C40.1 e C50.1, foram pesadas e misturadas
(MAPP). O autor concluiu que não houve diferença manualmente e submetidas, em seguida, ao processo
significativa das propriedades de resistência à tração e de injeção.
flexão, utilizando a casca de arroz tratada e não
Tabela 1. Formulações dos Compósitos em Peso.
tratada. Verificou ainda, que somente a utilização do
agente de acoplamento MAPP, gerou compósitos com Casca de PEBD
melhor resistência à tração e flexão, com relação ao Amostra
Arroz BC818
compósito de PP e casca de arroz sem tratamento.
C20.1 20 (%) 80 (%)
O trabalho de Das et al. (2019), trata sobre outro
aspecto das propriedades da casca de arroz, sua C20.2 20 (%) 80 (%)
homogeneidade de características mesmo que obtida a
C30.1 30 (%) 70 (%)
partir de diferentes origens geográfica. Os autores
prepararam compósitos com PP por extrusão, C30.2 30 (%) 70 (%)
peletização e injeção, utilizando casca de arroz de 5
C40.1 40 (%) 60 (%)
locais diferentes. Como resultado foi verificado que
não há diferença significativa de propriedades dos C40.2 40 (%) 60 (%)
compósitos, com relação às diferentes origens da
C50.1 50 (%) 50 (%)
casca e ainda, indicam que os compósitos possuem
alto potencial para a fabricação de materiais C50.2 50 (%) 50 (%)
termoplásticos pelo método de injeção.
A injeção dos compósitos foi realizada em uma
Esta homogeneidade é importante quando se injetora Bonmaq, modelo APTA 80, com
desenvolvem tecnologias para processamento de temperaturas de processamento de 180°C, 190ºC,
materiais, pois garante que a aplicação do que foi 190°C, nas três zonas de aquecimento e 200°C no bico
desenvolvido em diferentes locais irá manter-se, de injeção. Para a injeção foi utilizado um molde com
independentemente de onde o material for preparado diferentes cavidades e, assim, foram obtidos os
(DAS et al. 2019). corpos-de-prova adequados para os ensaios de tração,
Quanto ao método de injeção, uma gama de produtos dureza e absorção de água.
é fabricada por meio desta tecnologia. E assim, o Após a injeção de 500g do compósito C20.1, foram
objetivo deste trabalho foi desenvolver compósitos separados os corpos-de-prova para os respectivos
poliméricos de polietileno de baixa densidade (PEBD) ensaios físicos e mecânicos e o restante do material
contendo casca de arroz, bem como avaliar a injetado foi encaminhado para micronização no
tecnologia de injeção na obtenção destes materiais. moinho de facas com peneira de 4 mm. Este material
Além disso, os compósitos são caracterizados por em formato de grânulos, foi novamente submetido ao
meio de análises físicas e mecânicas. Também são processo de injeção, mantendo-se os parâmetros de
avaliadas as propriedades dos compósitos processamento. Obtiveram-se então, os corpos-de-
reprocessados. prova do compósito denominado C20.2. Esta
MATERIAL E MÉTODOS metodologia foi empregada também para os
compósitos C30.1, C40.1 e C50.1, dando origem aos
Para obtenção dos compósitos foi utilizado como compósitos C30.2, C40.2 E C50.2.
matriz polimérica o PEBD, código BC818, fabricado
pela Braskem S/A, com índice de fluidez (IF, Para os compósitos C50.1 e C50.2, não houve a
190°C/2,16kg) de 8,3 g/10 min, densidade de 0,918 injeção completa na cavidade do molde, ou seja, não
g/cm³ e dureza Shore D de 49. houve fluência suficiente destes compósitos para
preenchimento completo do molde de injeção e
A casca de arroz utilizada como carga nos compósitos, obtenção dos corpo-de-prova adequados para as
foi obtida de produtores de arroz do estado do Rio caracterizações.
Grande do Sul, Brasil. Foi recebida na sua forma
original e preparada para os processamentos pela Os ensaios de tração foram realizados em uma
micronização em moinho de facas Seibt, modelo máquina universal de ensaios marca Maqtest, de
MGHS 1.5/85. Foram utilizadas as cascas de arroz acordo com a norma ASTM D 638-14. A velocidade
passantes na peneira de 4 milímetros (mm) do moinho. de ensaio foi de 50 mm/min, utilizando os corpos-de-
prova do tipo IV.
Os ensaios de dureza dos materiais foram realizados está ligada as características da casca como sua
por meio de um durômetro Shore D marca Pantec, abrasividade e ao percentual de sílica em sua
conforme norma ASTM D 2240-15. Para cada composição (Schirp e Barrio, 2018).
compósito, o resultado foi obtido pela média de nove
Com relação aos ensaios de resistência à tração, os
9 medições de dureza.
dados indicam que o percentual de carga de casca de
A propriedade de absorção de água dos compósitos foi arroz nos compósitos altera esta propriedade dos
determinada através do método disposto na norma materiais. Conforme pode ser verificado na Tabela 2,
ASTM D570-98. As amostras foram secas em estufa o aumento da quantidade de casca de arroz, diminui da
pelo período de 24 horas, sob temperatura constante resistência à tração dos compósitos.
de 50°C. Decorrido este período, cada amostra foi
A redução de resistência à tração em compósitos
retirada da estufa e imediatamente pesada em uma
contendo a casca de arroz como carga, foi também
balança semi-analítica com precisão de 0.001 g. Em
verificada por Hidalgo-Salazar e Salinas (2019). O
seguida, as amostras foram colocadas em recipientes
trabalho dos autores tratou de compósitos de casca de
contendo água ultrapura, permanecendo imersas
arroz micronizada e o polímero termoplástico PP. As
durante 24 horas, em temperatura de 23°C. Decorrido
proporções de cascas incorporadas foram de 10, 20 e
este período, cada amostra foi retirada do recipiente,
30%, processadas inicialmente por extrusão,
seca nas suas superfícies e, imediatamente, se realizou
peletização e, posteriormente, injeção. Como
a pesagem. Para cada compósito, o percentual de
resultados do estudo, os autores verificaram uma
absorção de água foi obtido pela média de diferença
redução na resistência à tração em função do aumento
entre o peso seco e o peso após imersão, para 4
do teor de casca. Com o aumento de 10% para 20% de
amostras de cada compósito.
casca no compósito, a redução da resistência à tração
RESULTADOS E DISCUSSÃO foi de 5,1%. Com relação a diferença entre os
compósitos contendo 10% e 30% de casca, a redução
Neste estudo foram avaliadas as propriedades de
da resistência à tração foi de 12,3%.
resistência à tração, dureza e absorção de água de
compósitos de casca de arroz e PEBD, obtidos por No presente estudo, a redução percentual da
meio de processos de injeção. Na Tabela 2, podem ser resistência à tração foi de 11,5% entre as amostras
observados os resultados dos ensaios das amostras de C20.1 e C30.1. E, entre as amostras C20.2 e C30.2, foi
cada um dos compósitos. de 13,2%. Enquanto, entre as amostras C20.1 e C40.1,
a redução da resistência foi da ordem de 17,1% e para
Tabela 2. Resultados dos Ensaios Físicos e Mecânicos.
as amostras C20.2 e C40.2, foi de 16,1%. Neste
Resistência Absorção sentido, verifica-se que ao dobrar a quantidade de
Dureza casca de arroz de 20% para 40%, a redução da
Amostra à Tração de Água
(Shore D) propriedade de tração foi de somente 17,1% e 16,1%
(N/mm2) (%)
respectivamente.
C20.1 9,46 48,78 1,1
Neste trabalho não foram utilizados aditivos químicos
C20.2 9,08 49,44 0,77 nem sintéticos. Estes aditivos podem atuar na
modificação das propriedades dos materiais, mas, esta
C30.1 8,37 51,78 1,52
modificação pode não ser significativa, como pode ser
C30.2 7,88 52,11 0,92 visto no estudo de Aridi et al. (2016). Estes autores
processaram misturas de PP e diferentes porcentagens
C40.1 7,84 54,11 1,92
de casca de arroz, 35, 40, 45, 50 e 55%, por
C40.2 7,61 54,89 1,29 extrusão/peletização/injeção. Para alterar as
propriedades dos compósitos, os autores utilizaram o
C50.1 - - -
agente de acoplamento Struktol, que é um aditivo
C50.2 - - - químico sintético, que possibilitou a obtenção de
materiais com resistência à tração semelhantes.
A partir das informações da Tabela 2, observa-se
inicialmente que as amostras C50.1 e C50.2, que Neste sentido, a obtenção de compósitos contendo
contêm 50% de casca de arroz em sua composição, casca de arroz para avaliação da influência de
não possuem dados com relação as propriedades. Isto tratamentos da casca na resistência à tração, foi
ocorre, pelo fato de que não foi possível a obtenção de realizada por Huner (2017). O autor avaliou
corpos-de-prova adequados destes compósitos, devido compósitos de PP, obtidos em misturas com casca de
a fluência inadequada para preenchimento do molde arroz sem tratamento, cascas tratadas com NaOH,
de injeção. A redução da fluência dos compósitos casca tratadas com propil-trimetoxi-silano e, ainda,
termoplásticos contendo a casca de arroz como carga, utilizando o agente de acoplamento MAPP. A
quantidade percentual de casca de arroz permaneceu
fixa em todas as amostras. O autor concluiu a partir Para Kumar et al. (2019), a casca de arroz foi aplicada
dos resultados dos experimentos, que não houve na obtenção de painéis, com o uso de ligante epóxi e
diferença significativa das propriedades de resistência estes autores verificaram que o aumento da quantidade
à tração, entre a casca de arroz tratada e não tratada. de casca, promoveu aumento da dureza dos materiais.
Verificou ainda, que somente a utilização do agente de
No presente estudo, a dureza Shore D dos materiais
acoplamento MAPP, gerou compósitos com melhor
obtidos, contendo 20% de casca de arroz, foi de 48,78
resistência à tração, com relação ao compósito de PP
para o compósito C20.1 e 49,44 para o compósito
e casca de arroz sem tratamento.
C20.2. Aumentando o percentual de carga para 30% a
No presente estudo, os resultados demonstram que a dureza foi de 51,78 para o compósito C30.1 e 52,11
resistência à tração dos compósitos contendo 40% de para o compósito C30.2. Com o percentual de casca de
casca de arroz é de 7,84 N/mm2 e 7,61N/mm2. Este é arroz em 40% de peso, a dureza foi de 54,11 para o
um dado promissor com relação ao uso da casca de compósito C40.1 e 52,11 para o compósito C30.2.
arroz em compósitos poliméricos. Verifica-se
Na pesquisa de Singh et al. (2019), de maneira
também, que um alto aumento percentual da carga, de
semelhante, as propriedades de dureza dos compósitos
20% para 40% de casca nos compósitos, gerou uma
desenvolvidos aumentaram com relação ao aumento
alteração de propriedades inferior a 18%.
do teor de casca. Estes autores desenvolveram
Conforme os dados da Tabela 2, a diferença de materiais utilizando como ligante o amido de milho,
propriedade de resistência a tração dos compósitos, para obtenção de painéis de partículas a partir de casca
com relação a metodologia de processamento, pode de arroz e casca de noz, por meio de prensagem à
também ser verificada. As amostras C20.1, C30.1 e quente.
C40.1, foram obtidas pela mistura manual dos
Com relação a metodologia de processamento,
materiais e injeção dos corpos-de-prova. Parte de cada
conforme dados da Tabela 2, não se verificam
um destes compósitos foi micronizado e novamente
diferenças significativas de dureza dos materiais.
injetado, originando-se as amostras C20.2, C30.2 e
Bisht e Gope (2018), apontam que a minimização de
C40.2.
vazios e a dispersão da carga na matriz polimérica
Com base nos dados dos ensaios, a resistência à tração aumentam a dureza dos materiais. Desta forma, como
dos compósitos obtidos pela mistura e injeção, são não houve significativa diferença de dureza,
superiores aos compósitos resultantes da comparando-se cada um dos compósitos pelo
micronização destes primeiros e novamente injetados. processamento e reprocessamento, pode-se inferir que
Nas amostras contendo 20% de casca de arroz, a a compactação dos materiais é semelhante com
diferença é de 9,46 N/mm2 do compósito C20.1 para relação a metodologia de processamento.
9,08 N/mm2, do compósito C20.2. Para as amostras
Avaliou-se ainda, a propriedade de absorção de água
contendo 30% de casca de arroz, a diferença é de 8,37
dos materiais. Na Tabela 2, podem ser observados os
N/mm2 do compósito C30.1 para 7,88 N/mm2, do
dados de absorção de água dos compósitos obtidos. Os
compósito C30.2. Já, as amostras contendo 40% de
resultados demonstram que o percentual de carga de
casca de arroz, tem uma diferença de 7,84 N/mm2 do
casca de arroz nos compósitos gera um aumento da
compósito C40.1 para 7,61 N/mm2, do compósito
absorção de água dos compósitos. O aumento da
C40.2.
absorção de água é devido principalmente a presença
Verifica-se que o reprocessamento dos compósitos, da casca, porque esta é hidrofílica (Huner, 2017).
gera redução da propriedade de resistência à tração.
Verifica-se a partir dos dados, que mesmo o material
Esta situação pode estar ligada à degradação dos
com maior absorção de água, C40.1, que contêm 40%
materiais devido aos dois ciclos de exposição à
de casca de arroz, apresentou menos de 2% de
temperatura.
absorção de água. Este é um dado promissor com
Com relação as propriedades de dureza dos materiais, relação ao uso da casca de arroz nos compósitos
assim como para as propriedades de resistência à poliméricos desenvolvidos, já que a absorção de água
tração, verifica-se a influência do percentual de casca baixa, amplia as aplicações potenciais dos compósitos
de arroz nos compósitos. Na Tabela 2, podem ser desenvolvidos. A absorção de água dos demais
observados os dados de dureza, identificando-se que o compósitos foi da ordem de 1,10%, 1,52% e 1,92%,
aumento da quantidade percentual de casca de arroz, para as amostras C20.1, C30.1 e C40.1. Enquanto,
gera um aumento na dureza dos materiais. para as amostras C20.2, C30.2 e C40.2, os valores de
absorção de água foram respectivamente de 0,77%,
O aumento da dureza de compósitos é observado em
0,92% e 1,29%.
outros estudos. No trabalho de Sabbatini et al. (2017),
foi realizada a adição de casca micronizada ao Como visto, encontraram-se valores de absorção de
PMMA, promovendo maior dureza do compósito. água abaixo de 2% nos compósitos obtidos. Dados
semelhante foram obtidos no estudo realizado por por base as conclusões de Souza et al. (2017), pode-se
Sabbatini et al. (2017), que desenvolveram inferir que a compactação dos compósitos injetados
compósitos de casca de arroz e PMMA, obtendo C20.1, C30.1 e C40.1 e C20.2, C30.2 e C40.2, são
absorção de água com valores inferiores a 0,6%. semelhantes.
Com relação ainda a estudos sobre compósitos de CONCLUSÃO
casca de arroz e polímeros termoplásticos, Chen et al.
Neste estudo foram desenvolvidos compósitos de
(2016), desenvolveram painéis a partir de 50, 60, 70 e
PEBD e casca de arroz, obtidos por meio da tecnologia
80% de casca de arroz, processados por extrusão e
de injeção. Foram realizados processamentos
prensagem, em misturas com rTPB (mistura
variando-se o percentual de casca de arroz entre 20 e
termoplástica reciclada - HDPE reciclado e PET
50%, além de realizar-se o reprocessamento das
reciclado na proporção de 75/25). Neste estudo,
amostras injetas para avaliar as propriedades dos
verificaram que a absorção de água não aumenta
materiais obtidos. Verificou-se que a quantidade de
muito com variações de 50, 60 e 70% de casca, mas
casca de arroz nos compósitos deve ser inferior a 50%.
que, com 80% de casca há uma absorção muito maior
Com 40% de casca de casca de arroz, foram obtidas
de água. No trabalho de Erdogan e Huner (2018), a
amostras com adequada fluência e compactação. As
mistura de PP e casca micronizada, foi realizada por
amostras contendo 20% de casca de arroz,
extrusão e posterior compressão à quente, concluindo
apresentaram os melhores resultados de resistência à
a partir dos resultados, que a absorção de água
tração, com 9,46 N/mm2 para a amostra C20.1. A
aumenta, conforme o aumento do conteúdo da carga.
resistência à tração dos compósitos reduziu com o
A seleção do ligante e a proporção de casca de arroz aumento do percentual de casca de arroz, com uma
tem influência sobre a propriedade de absorção de redução inferior a 18% de resistência à tração, quando
água dos materiais. Outro fator que influência a se dobra de 20% para 40% o percentual de casca nos
absorção de água é o tamanho de partícula da casca de compósitos. A dureza e a absorção de água dos
arroz. Neste estudo, foi utilizada matriz de PEBD, com compósitos aumentaram com o aumento do percentual
proporção de até 40% de casca de arroz nos de casca. A absorção de água de todos os compósitos
compósitos submetidos aos ensaios de absorção de foi inferior a 2% e dureza destes fica na faixa de 49 a
água. O tamanho de partícula de casca de arroz 54 Shore D. A partir destes resultados conclui-se que
utilizado, foi obtido com a peneira de 4 mm do moinho os materiais desenvolvidos possuem propriedades
de facas. potenciais para aplicações diversas, devido as
propriedades obtidas e por apresentarem fluência
Para compreender a influência do tamanho de
adequada para a fabricação por meio da tecnologia de
partícula nos compósitos, podem ser observados os
injeção.
resultados do estudo de Souza et al. (2017). Estes
autores desenvolveram chapas prensadas à quente, da AGRADECIMENTOS
mistura de casca de arroz e adesivo a base de tanino-
Os Autores agradecem ao CNPq, a Universidade
formaldeído. No estudo, foram utilizadas cascas no
Feevale e a empresa Marina Tecnologia pelo apoio
tamanho natural e cascas micronizadas, além de
recebido.
produzirem chapas com três diferentes massas
específicas. Os autores concluíram a partir dos REFERÊNCIAS
resultados, que a absorção de água é maior nas chapas
com partículas micronizadas, comparando-se chapas ARIDI, N. A. M.; SAPUAN, S. M.; ZAINUNDIN, E.
com mesma massa específica e teor de adesivo. S.; AL-OQLA, Faris M. Mechanical and
Morphological Properties of Injection-Molded Rice
Segundo os autores, a maior superfície de contato das
Husk Polypropylene Composites. International
partículas processadas, influenciou para a maior
Journal of Polymer Analysis and Characterization,
absorção de água. Com relação a massa específica, a
menor absorção de água foi encontrada para as chapas v. 21, n. 4, p. 305-313, 2016.
com maior densidade específica, neste caso, ligado a AZEVEDO, Joyce B.; VIANA, Josiane D.;
diminuição dos espaços vazios das amostras mais CARVALHO, Laura H.; CANEDO, Eduardo L.
densas. Characterization of Composites Made From
Biodegradable Polymer and Rice Husk Using Two
A diferença da absorção de água dos compósitos, em
Processing Techniques. Revista Matéria, v. 21, n. 2,
função da metodologia de processamento, pode
também ser observadas, mas as diferenças são p. 391-406, 2016.
pequenas, entre 0,5% e 1%, não sendo um dado BISHT, Neeraj; GOPE, P. C.Effect of Alkali
significativo com relação as metodologias de injeção Treatment on Mechanical Properties of Rice Husk
utilizadas. Estes resultados, se correlacionam aos Flour Reinforced Epoxy Bio-Composite. Materials
dados dos ensaios de dureza deste estudo, e, tomando
Today - Procedings, v. 5, n. 11, p. 24330-24338, Effect of Rice Husk/Walnut Shell on
2018. Physicomechanical, Biodegradable and Thermal
Properties. Materials Research Express, v. 6, n. 4,
CHEN, Ruey S.; AHMAD, Sahrim; GAN, Sinyee.
2019.
Characterization of Rice Husk-Incorporated Recycled
Thermoplastic Blend Composites. Bioresources, v. SCHIRP, Arne; BARRIO, Aitor. Fire Retardancy of
11, n. 4, p. 8470-8482, 2016. Polypropylene Composites Reinforced With Rice
Husks: From Oxygen Index Measurements and Cone
DAS, Oisik; HEDENQVIST, Mikael S.; PRAKASH,
Calorimetry to Large-Scale Single-Burning-Item
Chaitra; LIN, Richard J.T. Nanoindentation and
Tests. Journal of Applied Polymer Science, v. 135,
Flammability Characterisation of Five Rice Husk
n. 37, 2018.
Biomasses for Biocomposites Applications.
Composites Part A: Applied Science and SOUZA, Joel T.; MENEZES, Walmir M.;
Manufacturing, v. 125, n. 105566, 2019. HASELEIN, Clovis R.; BALDIN, Talita;
AZAMBUJA, Rafael R.; MORAIS, Weslley W. C.
DEBNATH, Kishore; DHAWAN, Vikas;
Evaluation of Physical and Mechanical Properties od
SINGH,Inderdeep.; SRIVATSAN, Tirumalai S. Wear
Rice Husk Panels Glued with Tannin-Formaldehyde.
and Frictional Behaviour of Composites Filled With
CiênciaFlorestal, v. 27, n. 3, p. 1003-1015, 2017.
Agro-Based Waste Materials. Emerging Materials
Research , v. 8, n. 1, p. 84-93, 2019. ZANG, Qingfa; LI, Yukang; CAI, Hongzhen; LIN,
Xiaona; YI, Weiming; ZHANG, Jibing. Properties
ERDOGAN Selcuk; HUNER, Umit. Physical and
Comparison of HighDensity Polyethylene Composites
Mechanical Properties of PP Composites Based on
Filled With Three Kinds of Shell Fibers. Results in
Different Types of Lignocellulosic Fillers. Journal of
Physic, v. 12, p. 1542-1546, 2019.
Wuhan University of Technology - Materials
Science Edition, v. 33, n. 6, p. 1298-1307, 2018.
HIDALGO-SALAZAR, Miguel A.; SALINAS,
Elizabeth. Mechanical, Thermal, Viscoelastic
Performance and Product Application of PP-Rice
Husk Colombian Biocomposites.Composites Part B:
Engineering, v. 176, n. 107135, 2019.
HUNER, Umit. Effect of Chemical Treatment and
Maleic Anhydride Grafted Polypropylene Coupling
Agent on Rice Husk and Rice Husk Reinforced
Composite. Materials Express, v. 7, p. 134-144,
2017.
KUMAR, Sandeep; MER, Krishan K. S.; GANGIL,
Brijesh; PATEL, Vinay K. Synergy of Rice-Husk
Filler on Physico-Mechanical and Tribological
Properties of Hybrid Bauhinia-Vahlii/Sisal Fiber
Reinforced Epoxy Composites. Journal of Materials
Research and Technology, v. 8, n. 2, p. 2070-2082,
2019.
SABBATINI, Alessandra; LANARI, Silvia;
SANTULLI, Carlo; PETTINARI, Claudio. Use of
Almond Shells and Rice Husk as Fillers
ofPoly(Methyl Methacrylate) (PMMA) Composites.
Materials, v. 10, n. 8, 2017.
SAJITH, S.; ARUMOGAM, V.; DHAKAL, H. N.
Comparison on Mechanical Properties of
Lignocellulosic Flour Epoxy Composites Prepared by
Using Coconut Shell, Rice Husk and Teakwood as
Fillers. Polymer Testing, v. 58, p. 60-69, 2017.
SINGH, Tej; GANGIL, Brijesh; PATNAIK, Amar;
BISWAS, Don; FEKETE, Gusztáv. Agriculture
Waste Reinforced Corn Starch-Based Biocomposites:

Você também pode gostar