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Material Teórico - Módulo Função Quadrática

Função Quadrática: Definições, Máximos e Mı́nimos

EP
Primeiro Ano do Ensino Médio

Autor: Prof. Fabrı́cio Siqueira Benevides


Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

BM
O
al
rt
Po
1 Função quadrática A forma canônica da função quadrática
f (x) = ax2 + bx + c é:
Neste material, apresentamos a definição de função
2
quadrática e sua forma canônica. Esta última é utilizada

b ∆
no estudo de máximos e mı́nimos de funções quadráticas. f (x) = a x + − . (8)
2a 4a
Aqui, vamos utilizar bastante o que aprendemos no módulo
sobre equações do segundo grau do nono ano, de forma que Comparando a definição acima com (1), concluı́mos que
recomendamos fortemente que você revise o que aprendeu
lá. b ∆
k=− em=− .

EP
Uma função quadrática, ou de segundo grau, é uma 2a 4a
função f : R → R cuja lei de formação é da forma f (x) =
Entretanto, frisamos novamente que, com um pouco de
ax2 + bx + c, onde a, b e c são números reais dados, sendo
prática em exemplos práticos, muito melhor do que decorar
a 6= 0. Observe que, se tivéssemos a = 0, obterı́amos uma
as expressões acima é repetir os cálculos algébricos que
função afim, que já estudamos em módulos anteriores.
levaram a (8). Vejamos um exemplo.
Exemplo 1. A seguir, listamos alguns exemplos de funções
Exemplo 2. Obtenha a forma canônica da função de se-
quadráticas e identificamos o coeficiente de x2 , o coefici-
gundo grau f (x) = 2x2 − 3x + 7.
ente de x e o termo independente, que chamaremos respec-

BM
tivamente de a, b e c, como acima. Solução. Conforme comentamos acima, repetiremos a
(a) f (x) = 2x2 + 3x + 5: temos a = 2, b = 3 e c = 5. dedução geral nesse caso particular:

(b) f (x) = x2 − 4x: temos a = 1, b = −4 e c = 0. f (x) = 2x2 − 3x + 7


 
3
(c) f (x) = −x2 + 5: temos a = −1, b = 0 e c = 5. = 2 x2 − x + 7
2
 
3 9 9
2 Forma canônica = 2 x2 − 2x · + − +7
4 16 16
 2
A forma canônica é uma outra maneira de expressar uma 3 9
O
=2 x− − +7
função quadrática dada. Ela é uma expressão do tipo 4 8
 2
f (x) = a(x − k)2 + m, (1) 3 9 − 56
=2 x− −
4 8
onde a, k e m são constantes e a 6= 0. No material  2
3 47
teórico referente à próxima vı́deo-aula, veremos que a =2 x− + .
4 8
forma canônica destaca um importante ponto do gráfico
al

da função quadrática: seu vértice. Por ora, para expressar Portanto, a forma canônica da função quadrática dada
os valores de k e m em termos dos valores de a, b e c, execu- 2
é f (x) = 2 x − 43 + 47
8 .
taremos os cálculos algébricos mostrados a seguir. Observe
que, da linha (3) à linha (5), utilizamos a técnica de com-
pletamento de quadrados para o termo entre parênteses: 3 Máximos e mı́nimos
rt

Voltando à expressão geral (8) para a forma canônica, note


f (x) = ax2 + bx + c (2) b 2

  que o termo x + 2a é sempre maior ou igual a zero.
b b 2

= a x2 + x + c (3) Assim, quando a > 0, temos que a x + 2a ≥ 0 para
a
Po

todo x ∈ R. Por outro lado, quando a < 0 temos que


b2 b2 b 2
 
b

= a x2 + 2x + 2 − 2 + c (4) a x + 2a ≤ 0 para todo x ∈ R. De qualquer modo, como
2a 4a 4a a 6= 0 em ambos os casos, a igualdade ocorre somente para
b b

b
2
b 2
4ac x + 2a = 0, isto é, quando x = − 2a .
=a x+ − + (5) Fixemo-nos no caso a > 0, sendo a análise do caso a < 0
2a 4a 4a b 2

 2 2
totalmente similar. Então, a x + 2a ≥ 0 para todo x ∈
b b − 4ac R, de sorte que, graças a (8), temos
=a x+ − (6)
2a 4a
 2

b
2
∆ b ∆ ∆
=a x+ − . (7) f (x) = a x + − ≥− ,
2a 4a 2a 4a 4a
b
Chegamos, então, à seguinte expressão: com igualdade se e só se x = − 2a .

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Podemos, então, enunciar o resultado a seguir, o qual ex- Logo, S(x) = 10x − x2 , e temos uma função quadrática em
plica quando funções quadráticas atingem valores máximos que a = −1, b = 10 e c = 0. Dessa forma, ∆ = b2 − 4ac =
ou mı́nimos, e em que ponto(s) o fazem. 100 + 0 = 100 e, como a < 0, o resultado anterior garante
que S(x) possui um valor máximo, que é igual a
Se a > 0, então o valor mı́nimo da função
f (x) = ax2 + bx + c, ao variarmos x em R, é −∆ −100
= = 25.
obtido somente quando x = − 2a b
. Ademais, 4a 4 · (−1)
esse valor mı́nimo é igual a 4a .
−∆
Portanto, a maior área possı́vel para o retângulo é 25 m2 ,
e concluı́mos que não é possı́vel construir um cercado de

EP
Se a < 0, então o valor máximo da função 26 m2 .
f (x) = ax2 + bx + c, ao variarmos x em R, é
obtido somente quando x = − 2a b
. Ademais, Exemplo 5. Mostre que, se dois números positivos têm
esse valor máximo é igual a 4a .
−∆ soma constante, então seu produto é máximo somente
quando eles forem iguais.
O resultado acima é bastante importante em aplicações. Solução. Sejam x e y os dois números e s = x + y sua
A fim de tornar patente tal importância, examinamos al- soma. Estamos assumindo que s é fixo e que x e y podem
guns exemplos a seguir, a começar por uma aplicação mais variar, e queremos encontrar o valor máximo do produto

BM
simples. p = xy. Como y = b − x, temos que:
Exemplo 3. Calcule o valor de c na função p = xy = x(s − x) = sx − x2 .
x2 Veja agora que, na função de segundo grau f (x) = sx −
y= − 3x + c
2 x2 , o coeficiente de x2 é a = −1, ao passo que o coeficiente
de x é b = s. Como a < 0, a função assume um valor
para que seu mı́nimo seja 1/2. b s
máximo, o fazendo somente quando x = − 2a = − 2·(−1) =
Solução. Temos uma função quadrática na qual a = 1/2 e s/2. Mas, quando tivermos x = s/2, seguirá de x + y =
b = −3. Como a > 0, vimos que a função realmente atinge s que y = s − x = s − 2s = 2s . Assim, quando f (x) é

O
um valor mı́nimo, e que tal valor é igual a − 4a . Como é máximo, temos que x = y = s/2; em particular, x e y
dado que o valor mı́nimo em questão é igual a 1/2, temos serão iguais.

− 4a = 21 . Portanto, − 4·(1/2)

= 21 , o que fornece ∆ = −1.
Por outro lado, Observe, agora, a relação entre o resultado do exemplo
anterior com o do próximo.
1
∆ = b2 − 4ac = (−3)2 − 4 · · c = 9 − 2c, Exemplo 6. Mostre que, se o produto de dois números po-
2
sitivos é constante, então sua soma é mı́nima quando eles
al

e daı́ forem iguais.


9 − 2c = −1 =⇒ 2c = 10 =⇒ c = 5.
Solução. Sejam x e y os dois números positivos, e p seu
produto. Estamos assumindo que p é dado e que x e y
podem variar, mas sujeitos ao vı́nculo xy = p.
A sequência dos próximos cinco exemplos mostra que,
rt

Se s = x + y, temos que x e y são raı́zes da equação de


para aplicar a teoria de máximos e mı́nimos de funções
segundo grau (em u) u2 − su + p = 0. Como sabemos que
quadráticas, uma etapa preliminar de modelagem é fre-
tal equação possui raı́zes reais, devemos ter ∆ ≥ 0. Daı́,
quentemente necessária. √
s2 − 4p ≥ 0 ou, o que é o mesmo, |s| ≥ 2 p.

Exemplo 4. Tenho material suficiente para erguer 20 m de Como x e y são positivos, temos que s ≥ 2 p. Por fim,
Po


cerca. Com ele pretendo construir um cercado retangular veja que o valor mı́nimo 2 p para s pode ser obtido apenas
de 26 m2 de área. É possı́vel fazer isso? Se for, quais as se ∆ = 0. Mas, sendo esse o caso, a equação u2 −su+p = 0
medidas dos lados deste retângulo. terá raı́zes iguais, de sorte que x = y = 2s .

Solução. Seja x o comprimento e h a altura do retângulo. Exemplo 7. Certa empresa transporta 2400 passageiros por
A fim de fazer o retângulo maior possı́vel, devemos usar mês, da cidade A para a cidade B. A passagem custa 20
todo o material de que dispomos para a cerca. Sendo as- reais e a empresa deseja aumentar o preço. No entanto,
sim, 2x + 2h = 20 ou, o que é o mesmo, h = 10 − x. o departamento de pesquisa dela estima que, a cada 1 real
Por outro lado, a área do retângulo pode ser obtida em de aumento no preço da passagem, 20 passageiros deixarão
função de x pela expresão: de viajar pela empresa. Neste caso, qual deve ser o preço
da passagem, em reais, para maximizar o faturamento da
S(x) = x · h = x(10 − x). empresa?

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Solução. Vamos chamar de x o valor, em reais, do Simplificando, temos que
acréscimo no preço da passagem. O faturamento da em-
presa é uma função que depende do valor de x, que cha- F (x) = 1200 + 100x − 2x2 .
maremos de F (x). Conforme dito no enunciado, quando o
acréscimo é igual a x, estima-se que 20x pessoas deixarão Por outro lado, o custo C(x) para produzir os 200 + 20x
de usar o transporte. Assim, restarão 2400 − 20x passagei- sanduı́ches é C(x) = 4,5 · (200 + 20x) = 900 + 90x.
ros e cada um deles irá pagar 20 + x pela viagem. Logo, o Assim, o lucro L(x) é igual a
faturamento será: F (x) = (20 + x) · (2400 − 20x). L(x) = F (x) − C(x)
Simplificando, temos que:

EP
= 300 + 10x − 2x2 .
2
F (x) = 48000 − 400x + 2400x − 20x
O valor máximo de L(x) será atingido quando
= −20x2 + 2000x + 48000.
−10 10
Como o coeficiente de x2 é negativo, o valor de x que x= = = 2,50.
2 · (−2) 4
maximiza o faturamento realmente existe, sendo:
Assim, para que o lucro seja maximizado, a redução no
b 2000 preço do sanduı́che deve ser de 0,1 · 2,50 = 0,25 reais (i.e.,
x=− =− = 50.

BM
2a 2 · (−20) 25 centavos). Sendo este o caso, o novo preço pelo qual o
sanduı́che deverá ser vendido é 5,75 reais.
Como x é o valor do acréscimo, temos que o valor da pas-
sagem (que maximiza o faturamento) é 70 reais. Antes de concluir este material, observamos que nem
todo problema envolvendo funções de segundo grau e em
Exemplo 8. Uma indústria produz mensalmente x lotes de cujo enunciado aparecem referências a valores máximos ou
um produto. O faturamento mensal resultante da venda mı́nimos deve ser resolvido com o resultado obtido no inı́cio
destes lotes é v(x) = 3x2 − 12x e o custo mensal de desta seção. Esse é o caso do nosso último
produção é dado por c(x) = 5x2 − 40x − 40. Qual é o
número de lotes mensais que essa indústria deve vender Exemplo 10. A temperatura T de um forno (em graus
para obter lucro máximo? centı́grados) é reduzida por um sistema a partir de seu des-
O
ligamento (instante t = 0). Mais precisamente, controlada
Solução. O lucro pode ser obtido subtraindo-se o custo por um mecanismo, ela varia de acordo com a expressão
mensal de produção do faturamento mensal pela venda. 2
T (t) = − t4 + 400, com t medido em minutos e T (t) em
Assim, para cada x lotes produzidos, a empressa lucra graus Celsius. Por motivos de segurança, a trava do forno
só é liberada para abertura quando ele atinge a temperatura
f (x) = −2x2 + 28x + 40.
de 39 ◦C. Qual o tempo mı́nimo de espera, após se desligar
Esta é uma função quadrática para a qual a = −2, b = 28 o forno, para que a porta possa ser aberta?
al

e c = 40. Como a < 0, ela atinge seu valor máximo quando Solução. Veja que, à medida que t aumenta (a partir de
b 28 28 0, obviamente), o valor de T (t) apenas diminui. Sendo
x=− =− = = 7. assim, o forno poderá ser desligado no instante t ≥ 0 em
2a 2 · (−2) 4
que T (t) = 39. Dessa forma,
rt

Logo, a empresa deve produzir mensalmente 7 lotes do


t2
produto. − + 400 = 39 =⇒ t2 = 4 · 361
4
Exemplo 9. Uma lanchonete vende, em média, 200 =⇒ t2 = 382
sanduı́ches por noite, ao preço de 6,00 reais cada um. O =⇒ t = 38 min.
Po

proprietário observa que, para cada dez centavos de real que


ele diminui no preço, a quantidade média de sanduı́ches Veja que no último passo foi onde usamos t ≥ 0.
vendida aumenta em 20 unidades. Considerando o custo
de 4,50 reais para produzir cada sanduı́che, calcule o preço
de venda que dará o maior lucro possı́vel ao proprietário.
Dicas para o Professor
Ideia da solução. Suponha que o valor na redução do
preço do sanduı́che tenha sido de 0,10x reais. Neste caso, Sugerimos que o conteúdo desta aula seja tratado em pelo
serão vendidos 200 + 20x sanduı́ches. Se F (x) é o valor do menos dois encontros de 50 minutos, com amplo tempo
faturamento após essa redução, então: alocado para resolução de exercı́cios. Nossa experiência diz
que, ainda um ou mais alunos compreendam relativamente
F (x) = (6 − 0,10x) · (200 + 20x). rapidamente o porquê de uma função quadrática assumir

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seu valor mı́nimo (resp. máximo) quando a > 0 (resp.
a < 0), a passagem desse ponto para a modelagem de
problemas de máximos e mı́nimos com funções quadráticas
é uma etapa bastante difı́cil de ser transposta.
As referências abaixo contém vários outros exemplos e
problemas propostos envolvendo máximos e mı́nimos de
funções quadráticas.

EP
Sugestões de Leitura Complementar
1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Vo-
lume 1: Números Reais. SBM, Rio de Janeiro, 2013.
2. G. Iezzi Os Fundamentos da Matemática Elementar,
Volume 1: Números Reais e Funções. Atual Editora,
Rio de Janeiro, 2013.

BM
O
al
rt
Po

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Material Teórico - Módulo Função Quadrática

Gráfico da função quadrática e inequações de segundo grau

EP
Primeiro Ano do Ensino Médio

Autor: Prof. Fabrı́cio Siqueira Benevides


Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

BM
O
al
rt
Po
1 A parábola que partem dele possuem o mesmo comprimento, mas este
comprimento pode ser diferente de um ponto para outro.
Enquanto o gráfico de uma função de primeiro grau é uma Temos, ainda, o eixo (de simetria) ω (aqui represen-
reta, o gráfico de uma função quadrática é uma parábola. tado pela letra grega ômega), que é a reta perpendicular
Antes de continuarmos, vejamos precisamente o que é uma a d e que passa por F . Veja que ω funciona como um
parábola. “espelho” para os pontos da parábola.
Assim como outras formas geométricas como retas,
cı́rculos e elipses, as parábolas são conjuntos de pontos de ω
um plano, dispostos de uma maneira bastante especı́fica.

EP
Por exemplo, para construir um cı́rculo (em um plano fi- R
xado) precisamos escolher dois parâmetros: o centro O e
o raio r; com isso, podemos definir o cı́rculo de centro O e P
F
raio r como o conjunto dos pontos (do plano) cuja distância
até O é igual a r (veja a figura abaixo).
V
Q
d

BM
O T

Por fim, veja que o ponto V na figura é bastante especial;


ele é o ponto de interseção do eixo de simetria ω com a
parábola, e é chamado de vértice da parábola. Como V
Por outro lado, para construir uma parábola, no lugar de
pertence à parábola, também vale que a distância entre V
escolher um centro e um raio, precisaremos escolher outros
e F é igual à distância entre V e a diretriz. Dessa forma, se
parâmetros: uma reta d, que chamaremos de diretriz, e um
chamarmos de T o ponto de interseção entre ω e d, temos
ponto F , que chamaremos de foco.
que V será o ponto médio do segmento F T .
O
É importante observar que, conhecendo apenas o foco
A parábola de foco F e diretriz d é o con-
e o vértice, já podemos desenhar a parábola. Realmente,
junto dos pontos do plano que contém d e F ,
a partir destes elementos podemos facilmente encontrar o
tais que sua distância para F é igual a sua
eixo e a diretriz: o eixo é a reta que passa por F e V , e
distância para d.
a diretriz é a reta perpendicular ao eixo e passando pelo
ponto T a ele pertencente, tal que T V = V F .
A figura abaixo mostra o icônico formato de um arco
al

Aplicações práticas para a parábola são encontradas em


de uma parábola. Veja que ele não se parece muito com
diversas áreas da Fı́sica e da Engenharia, como no pro-
um arco de cı́rculo (mesmo se colarmos várias cópias de
jeto de antenas parabólicas, radares e faróis de automóveis.
pedaços dele, não formaremos um cı́rculo). A parábola
Basicamente, isso se deve ao fato de que todo espelho pa-
possui comprimento infinito, por isso o que desenhamos
rabólico concentra em seu foco um feixe de raios de luz
aqui é apenas um pedaço (arco) dela. A vı́deo-aula deste
rt

(ou outras ondas eletromagnéticas) paralelos a seu eixo,


módulo possui uma animação exibindo como a parábola é
mas isso é assunto para outra estória. Outro exemplo rele-
gerada à partir de F e d, e como ela muda ao variarmos as
vante é a trajetória descrita por uma bala de canhão ao ser
posições de d e F .
lançada, de acordo com sua direção e velocidade iniciais,
considerando o efeito da força de gravidade mas despre-
Po

zando os efeitos da resistência do ar e da curvatura da


Terra.

1.1 O gráfico de uma função quadrática é


uma parábola
Na figura seguinte temos uma parábola com vários ou-
tros elementos destacados, entre eles: seu foco F e sua Nesta subseção, vamos demonstrar porque o gráfico de
diretriz d. Marcamos também alguns pontos, P , Q, R e V uma função quadrática é, de fato, uma parábola. Além
pertencentes à parábola, juntamente com os segmentos que disso, calcularemos as coordenadas do foco e do vértice
determinam a distância de cada um deles para F e para em termos dos coeficientes a, b e c da função quadrática
a diretriz. Veja que, para cada ponto, os dois segmentos f (x) = ax2 + bx + c.

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Considere, inicialmente, o caso em que b = c = 0, ou Queremos encontrar p tal que as expressões (1) e (2)
seja, f (x) = ax2 . Vamos assumir que a > 0, já que o caso sejam iguais para todo x real. Como a expressão dentro
a < 0 é análogo. Queremos mostrar que existe um ponto da raiz em (1) é não-negativa, temos que (1) e (2) são
F e uma reta d tais que todo ponto do gráfico de f , ou iguais se, e somente se, seus quadrados forem iguais:
seja, todo ponto da forma (x, ax2 ), é equidistante de F e
d. (Lembre-se de que ser equidistante significa possuir a x2 + (ax2 − p)2 = (ax2 + p)2 .
mesma distância).
Então, devemos ter
A fim de encontrar tais F e d, comece observando que,
como x2 = (−x)2 para todo x real, temos que f (x) = x2 = (ax2 + p)2 − (ax2 − p)2

EP
f (−x) e, portanto, o eixo-y funciona como um eixo de si-
= (ax2 + p) + (ax2 − p) (ax2 + p) − (ax2 − p)
 
metria para os pontos do gráfico de f (de fato, o ponto
(−x, ax2 ) é o simétrico de (x, ax2 ) em relação ao eixo- = (2ax2 )(2p)
y). Sendo assim, o foco (caso exista) precisa estar sobre = 4apx2 ,
o eixo-y; logo, F deve possuir coordenadas (0, p), para al-
gum número real p (que precisamos determinar). Como de sorte que a única escolha possı́vel é 4ap = 1, isto é,
(0, 0) é o único ponto do gráfico que está sobre o eixo de 1
p= . Concluı́mos, portanto, o que segue (observe que,
simetria, ele é nosso único candidato para ser o vértice V 4a
no quadro a seguir, consideramos simultaneamente os casos

BM
de nossa parábola. Por fim, lembrando que a diretriz é
perpendicular ao eixo de simetria, aqui ela precisa ser uma a > 0 e a < 0):
reta paralela ao eixo-y. E, como a distância da diretriz
para V = (0, 0) é igual à distância de V a F , temos que a O gráfico de f (x) = ax2 , onde a 6= 0, é uma
diretriz só pode ser a reta y = −p. parábola cujo foco é o ponto
Considere, agora, um ponto qualquer do gráfico de f , 
1

digamos Q = (x, ax2 ), e vamos calcular a distância dele F = 0,
4a
até F e até a diretriz. A figura abaixo mostra o que temos
até o presente momento. e cujo vértice é o ponto

y
O
V = (0, 0).

y = ax2 Ademais, sua diretriz é a reta que possui


1
equação y = − 4a .

Consideremos, agora, o caso geral em que a função


F = (0, p) quadrática é da forma
Q = (x, ax2 )
al

f (x) = ax2 + bx + c.
V = (0, 0) x
Denotando f (x) por y e escrevendo a equação acima em
sua forma canônica (veja a aula anterior), obtemos
rt

(0, −p) diretriz  2


b ∆
y =a x+ − . (3)
2a 4a
Por fim, fazendo a mudança de variáveis
Figura 1: gráfico de y = ax2 .
Po

b ∆
X =x+ e Y =y+ ,
Uma aplicação simples do Teorema de Pitágoras garante 2a 4a
que a distância entre os pontos Q e F é igual a
obtemos Y = aX 2 .
p
(x − 0)2 + (ax2 − p)2 . (1) Já provamos que o conjunto dos pontos (X, Y ) que satis-
fazem Y = aX 2 é uma parábola. Por outro lado, observe
Por outro lado, pela Figura 1, a distância entre o ponto que sob nossa mudança de variáveis o conjunto dos pontos
Q e a diretriz é igual à soma da distância entre Q e o eixo- (x, y) que satisfazem (3) é apenas uma traslação desse con-
x com a distância entre o eixo-x e a diretriz. O resultado junto de pontos (X, Y ). Mais precisamente, o ponto (x, y)
b
desta soma é, claramente, é obtido transladando o ponto (X, Y ) de 2a unidades para
b ∆
a esquerda (pois x = X − 2a ) e de 4a unidades para baixo
ax2 + p. (2) (pois y = Y − 4a ∆
). Concluı́mos, daı́, o seguinte:

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O gráfico de f (x) = ax2 + bx+ c, onde a 6= 0, forma, a direção da “boca da parábola” é determinada ape-
é uma parábola cujo foco é o ponto nas pelo sinal de a, não importando os valores de b e c. Os
  matemáticos chamam essa “boca” de concavidade.
b 1−∆
F = − , Quando a > 0, dizemos que a parábola pos-
2a 4a
sui concavidade voltada para cima. Neste
e cujo vértice é o ponto caso, o valor mı́nimo de f (x) é atingido no
  vértice.
b ∆
V = − ,− .

EP
2a 4a Quando a < 0, dizemos que a parábola pos-
sui concavidade voltada para baixo. Neste
Ademais, sua diretriz é a reta que possui
−1 − ∆ caso, o valor máximo de f (x) é atingido no
equação y = . vértice.
4a

Denotaremos sistematicamente as coordenadas do 2.2 Abertura


vértice do gráfico de f (x) = ax2 + bx + c por (xv , yv ).
O valor absoluto do coeficiente de x2 está ligado à abertura
Dessa forma, acabamos de demonstrar que
da boca da parábola. De forma precisa, quanto maior for

BM
b ∆ o valor de |a|, menor será tal abertura: a parábola será
xv = − e yv = − . mais fechada, pois irá crescer mais rapidamente, ou seja,
2a 4a
de forma mais acentuada/inclinada.
Recorde agora que, na aula passada, mostramos que se
a < 0 (resp. a > 0) a função quadrática sempre atinge seu Exemplo 1. A figura abaixo mostra os gráficos de funções
valor máximo (resp. seu valor mı́nimo) quado x = − 2a b
. do tipo y = ax2 , para diferentes valores de a.
Isso quer dizer que o máximo (resp. mı́nimo) é atingido

a = 1/2
a = 1/3
a = 1/4
y
justamente no vértice da parábola.

a=4

a=1
Variando o coeficiente de x2
O
2
Nesta seção, vamos examinar o que acontece com o gráfico
da função quadrática f (x) = ax2 + bx + c ao variarmos o
valor de a (evidentemente, mantendo-o não nulo).

2.1 Concavidade
al

Como antes, suponha primeiro que f (x) = ax2 . Neste


caso, lembre-se de que o vértice é o ponto (0, 0). Por outro
lado, como o foco tem coordenadas F = (0, 1/(4a)), temos x
que ele está acima do vértice quando a > 0, e abaixo do
rt

vértice quando a < 0 (até agora todas nossas figuras mos-


traram parábolas em que a > 0). Isso determina a direção 3 Esboço do gráfico
da “boca” da parábola, pois o foco sempre se encontra
“dentro” da parábola (veja a figura seguinte). A maneira mais prática de esboçar o gráfico de uma função
de segundo grau é marcando no plano alguns de seus
Po

a>0 a<0 pontos-chave. Como sempre, suponha f (x) = ax2 + bx + c.


Seguimos os passos abaixo:
1. Marque, se houver, as interseções do gráfico com o
eixo-x. Estes pontos são aqueles em que y = f (x) = 0;
assim, basta encontrar as raı́zes, digamos r1 e r2 , da
equação de segundo grau ax2 + bx + c = 0. Porém,
quando ∆ < 0 tal equação não possui raı́zes reais, e
isso implica que a parábola não intersecta o eixo-x.
Quando ∆ = 0, temos r1 = r2 e a parábola tangencia
No caso geral, em que f (x) = ax2 + bx + c, já vimos o eixo-x. Quando ∆ > 0, a parábola corta o eixo-x em
que temos apenas uma translação das figuras acima. Dessa dois pontos distintos: (r1 , 0) e (r2 , 0). Veja a Figura 2.

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a>0 que leva o vértice desta última parábola ao ponto (k, m).
a>0 ∆<0 Observe que:
a>0 ∆=0
1. Quando k > 0, a parábola y = ax2 é transladada em
∆>0 k unidades para a direita.

2. Quando k < 0, a parábola y = ax2 é transladada em


x x x
k unidades para a esquerda.

EP
3. Quando m > 0, a parábola y = ax2 é transladada em
m unidades para cima.
x x x
4. Quando m < 0, a parábola y = ax2 é transladada em
m unidades para baixo.
a<0
∆>0 a<0 Exemplo 2. Desenhe os gráficos das seguintes funções
∆=0 a<0 quadráticas:
∆<0

BM
• f (x) = x2 .

Figura 2: interseções com o eixo-x e concavidade, de • g(x) = (x − 2)2 .


acordo com os sinais de a e ∆.
• h(x) = (x − 2)2 + 1.

2. Marque a interseção da parábola com o eixo-y. Este • i(x) = (x + 1)2 − 1.


é o ponto em que x = 0. Como f (0) = c, temos então
que o ponto é (0, c). Solução. Veja que, em todas estas funções, temos a =
1. Em particular, todas possuem concavidade para cima.
3. Marque o vértice. Como vimos, ele possui coordena- Partindo da parábola y = f (x) = x2 , podemos obter o
O
b ∆
das (xv , yv ) = (− 2a , − 4a ). Como já conhecemos as gráfico de g(x) fazendo uma translação de 2 unidades para
raı́zes, é interessante observar que também vale que a direita. Em seguida, h(x) pode ser obtida transladando
xv = (r1 + r2 )/2, já que provamos na aula anterior g(x) em 1 unidade para cima. Por sua vez, i(x) é obtida de
que r1 + r2 = −b/a. f (x) transladando-a uma unidade para a esquerda e uma
4. (Opcional) Se necessário, escolha mais alguns valores unidade para baixo.
arbitrários para x e marque outros pontos (x, f (x)),
al

para facilitar a visualização. Isso costuma ser ne-


y
cessário quando ∆ ≤ 0, pois neste caso poucos pontos
terão sido marcados até o momento. Marque, ainda,
os simétricos dos pontos já marcados em relação ao h(x)
eixo de simetria.
rt

i(x) f (x)
5. Observando a direção da concavidade (de acordo com
g(x)
o sinal de a), desenhe a parábola passando pelos pon-
tos marcados.
Po

3.1 Alternativa
No caso em que já conhecemos a forma canônica da função
quadrática, pode ser mais simples esboçar seu gráfico fa-
zendo apenas uma translação do gráfico de f (x) = ax2 .
Por exemplo, suponha que a função é dada no formato
(cuidado com os sinais de k e m): x
f (x) = a(x − k)2 + m.
Veja que, neste caso, xv = k e yv = m. Basta, então, de-
senhar a parábola y = ax2 e, em seguida, fazer a translação

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Observação 3. No exemplo anterior, os gráficos de g(x) e Problema 6 (CFTRJ adaptada). Um objeto é lançado do
h(x) nunca irão intersectar. Apesar da “ilusão de ótica”, topo de um muro de altura h, atingindo o solo após 5 se-
os três segmentos pontilhados verticais possuem compri- gundos. A trajetória parabólica do objeto é representada
mento igual a 1. Por sua vez, os três
√ segmentos√pontilha- pela equação y = −0,5x2 + bx + 2,5, cujo gráfico está re-
dos oblı́quos possuem comprimento 12 + 12 = 2. presentado na figura a seguir, onde y indica a altura em
metros atingida pelo objeto em relação ao solo, após x se-
Terminamos esta seção discutindo alguns exemplos en- gundos do lançamento.
volvendo gráficos de funções de segundo grau.
(a) Calcule a altura h e o coeficiente b da equação da tra-

EP
Exemplo 4. Um corpo arremessado tem sua trajetória re- jetória.
presentada pelo gráfico da função quadrática esboçado na
figura a seguir. Qual é a altura máxima atingida por esse (b) Calcule a altura máxima, em relação ao solo, atingida
corpo? pela objeto.
y
f (x)

48
h

BM
0 1 4 x

Solução. Os zeros da função são r1 = 0 e r2 = 4. Usando x


a forma fatorada que estudamos no módulo sobre equações
do segundo grau, segue que Solução. Seja f (x) = −0,5x2 + bx + 2,5.

f (x) = a(x − r1 )(x − r2 ) (a) Temos que h é a altura do objeto no instante em que
x = 0. Sendo assim,
= a(x − 0)(x − 4)
O
= ax(x − 4). h = f (0) = −0,5 · 02 + b · 0 + 2,5 = 2,5.

Como f (1) = 48, temos que a · 1 · (1 − 4) = 48, de sorte Sabemos, ainda, que após 5 segundos o objeto encon-
que −3a = 48 e, portanto a = −16. Logo, tra-se no solo, ou seja, f (5) = 0. Dessa forma, obtemos

f (x) = −16x(x − 4). −25 5


−0,5 · 52 + b · 5 + 2,5 = 0 =⇒ + 5b + = 0
2 2
al

O valor máximo de f (x) é atingido no vértice (xv , yv ). =⇒ 5b = 10


Temos que xv = (r1 + r2 )/2 = 2. Portanto, yv = f (2) = =⇒ b = 2.
−16 · 2 · (2 − 4) = 64. Logo, a altura máxima do corpo
projetado é 64. Dessa maneira, temos que y = −0,5x2 + 2x + 2,5.
rt

Exemplo 5. Por três pontos, P1 = (x1 , y1 ), P2 = (x2 , y2 ) (b) Agora, é fácil encontrar o vértice (xv , yv ) da parábola,
e P3 = (x3 , y3 ), tais que x1 , x2 e x3 são distintos, passa pois a = −0,5, b = 2 e c = 2,5. Logo, xv = −b 2a = 2 e
no máximo uma parábola.
yv = f (xv ) = f (2) = −2 + 4 + 2,5 = 4,5.
2
Prova. Precisamos demonstrar que se f (x) = ax + bx + c
Concluı́mos, pois, que a altura máxima atingida pelo
Po

e g(x) = px2 +qx+r passam pelos pontos P1 , P2 e P3 , então


a = p, b = q e c = r. Observe que a equação f (x) = g(x) objeto foi de 4,5 m.
possui pelo menos três raı́zes distintas (x1 , x2 e x3 ) e veja
que:

f (x) = g(x) =⇒ (a − p)x2 + (b − q)x + (c − r) = 0. 4 Inequações do segundo grau


Se a fosse diferente de p, terı́amos uma equação do segundo A visualização do gráfico de uma função de segundo grau
grau com três raı́zes distintas, o que não é possı́vel. Logo, também nos ajuda a resolver problemas sobre inequações
a = p. Temos então que (b − q)x + (c − r) = 0. Pelo de segundo grau. Nesse caso, no lugar de equações vamos
mesmo motivo, temos que b = q e também que c = r, estudar inequações, de forma que substituı́mos o sinal “=”
como querı́amos demostrar. por um dos sinais “<”, “>”, “≤” ou “≥”. A forma canônica

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de uma inequação do segundo grau é uma expressão do tipo Observação 8. No exemplo anterior, veja que os números
ax2 + bx + c ≥ 0, onde a, b e c são dados e a 6= 0 (aqui, 1 e 4 não fazem parte da solução, pois a inequação do
podemos substituir o “≥” por “>”, se necessário). problema é estrita (i.e., temos o sinal ‘>’). Por outro
Uma vez que queremos que ax2 + bx + c ≥ 0, concluı́mos lado, se a equação original fosse x2 − 5x + 4 ≥ 0, a solução
que a solução de uma tal inequação corresponde aos valores seria x ≤ 1 ou x ≥ 4.
de x para os quais o gráfico de f (x) = ax2 +bx+c encontra-
se acima do eixo-x ou sobre ele. Vejamos alguns exemplos. Conforme mostrado no próximo exemplo, nem sempre
uma inequação de segundo grau é dada em sua forma re-
Exemplo 7. Encontre todos os valores de x para os quais duzida (como ax2 + bx + c ≥ 0). Contudo, em muitos casos

EP
x2 − 5x + 4 > 0. basta fazer uma manipulação algébrica para, então, seguir
os passos do exemplo anterior.
Solução. Primeiramente, vamos seguir os passos indica-
dos na Seção 3 para desenhar o gráfico de f (x) = x2 − 5x+ Exemplo 9. Encontre todos os valores reais de x que sa-
4. Veja que a = 1, b = −5 e c = 4. tisfazem a inequação (x − 2)2 ≤ 2x − 1.

1. Temos ∆ = (−5)2 − 4 · 1 · 4 = 9. Como ∆ > 0, te- Solução. Como (x − 2)2 = x2 − 4x + 4, a inequação dada
mos duas raı́zes reais. Lembrando o que aprendemos é sucessivamente equivalente a
sobre equações de segundo grau, por exemplo usando a

BM
fórmula de Bháskara, podemos encontrar que as raı́zes x2 − 4x + 4 ≤ 2x − 1 ⇐⇒ x2 − 6x + 5 ≤ 0.
de x2 − 5x + 4 = 0 são r1 = 1 e r2 = 4. Assim, o gráfico
passa pelos pontos (1, 0) e (4, 0). No lugar de desenhar todo o gráfico, desta vez vamos con-
centrar nossa atenção apenas nos elementos que nos aju-
2. Como f (0) = 4, o gráfico contém o ponto (0, 4). dam a resolver o problema. De fato, não é importante aqui
saber quais as coordenadas do vértice. Basta observar que
3. O vértice possui coordenadas xv = (2 + 3)/2 = 2,5 a equação x2 − 6x + 5 = 0 possui ∆ = 4 > 0 e raı́zes r1 = 1
e yv = −∆/(4a) = −9/4. Logo, o vértice é o ponto e r2 = 5. Veja, ainda, que a concavidade é para cima.
(5/2, −9/4). Assim, temos o esboço simplificado a seguir para o gráfico
4. A concavidade da função é para cima. da função x 7→ x2 − 6x + 5:
O
Coletando os fatos acima, temos o gráfico a seguir:
+ +
f (x)
0 1 2 3 4 5 6 x

al

Desta vez, a solução corresponde ao trecho do domı́nio


4 em que a função é menor ou igual a zero, ou seja,

1 ≤ x ≤ 5.
rt

Exemplo 10. Encontre todos os valores reais de x que sa-


+ + tisfazem a inequação −x2 + 2x − 2 ≥ 0.
Po

Solução. Considerando a equação −x2 +2x−2 = 0, temos


x que ∆ = 22 − 4 · (−1) · (−2) = −4. Sendo assim, ela não
1 2 3 4 5
possui raı́zes reais, de forma que o gráfico de f (x) = −x2 +
− 2x−2 não toca o eixo-x. Ademais, como o coeficiente de x2
é igual a −1, temos uma parábola com concavidade para
baixo (observe o caso em que a < 0 e ∆ < 0 na Figura 2).
Concluı́mos, então, que a função f (x) é sempre negativa;
(5/2, −9/4) logo, não existe qualquer valor real de x que satisfaça a
inequação do enunciado.
Veja que marcamos no gráfico as regiões onde a função é
positiva e onde ela é negativa. Em particular, vemos que Exemplo 11. Encontre todos os valores reais de x tais que
f (x) é positiva quando x < 1 ou x > 4. x2 − 2x + 1 ≤ 0.

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Solução. Neste caso, podemos ver que ∆ = 0, de forma
que temos uma única raiz real, x = 1, para a equação
subjacente. Uma vez que o gráfico tangencia o eixo-x (caso
a > 0 e ∆ = 0 da Figura 2), concluı́mos que o único ponto
em que a função é menor ou igual a zero é aquele em que
ela é zero. Logo o único valor possı́vel para x é 1.

EP
Dicas para o Professor
Sugerimos que o conteúdo desta aula seja tratado em pelo
menos quatro encontros de 50 minutos, com amplo tempo
disponibilizado para resolução de exercı́cios. Estes po-
dem ser encontrados no próprio Portal, assim como nas
referências listadas abaixo.
A Seção 1.1 requer conhecimentos básicos sobre coorde-
nadas no plano. Essencialmente, é preciso entender bem

BM
sistemas de coordenadas cartesianas e saber calcular a
distância entre dois pontos. Isso pode ser estudado ra-
pidamente antes do inı́cio desta aula, e também é tratando
em detalhes no módulo “Geometria Analı́tica”, do terceiro
ano do Ensino Médio. Caso os alunos não tenham familia-
ridade com sistemas de coordenadas cartesianas, pode ser
preferı́vel pular as demonstrações da Seção 1.1 e apenas as-
sumir que o gráfico da função quadrática é uma parábola,
informando que isso será provado no futuro.
O
Sugestões de Leitura Complementar
1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Vo-
lume 1: Números Reais. SBM, Rio de Janeiro, 2013.
2. G. Iezzi Os Fundamentos da Matemática Elementar,
al

Volume 1: Números Reais e Funções. Atual Editora,


Rio de Janeiro, 2013.
rt
Po

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Material Teórico - Módulo de Lei dos Senos e dos Cossenos

Razões Trigonométricas em Triângulos Retângulos

EP
Primeiro Ano do Ensino Médio

BM
Prof. Antonio Caminha M. Neto

O
l da
rta
Po
1 Recordando triângulos retângu- A
los
Em tudo o que segue, dado um triângulo ABC, denotamos
os comprimentos de seus lados por AB = c, AC = b e B C
BC = a. Recordamos que ABC é retângulo em A se
o ângulo ∠A é reto, quer dizer, se A b = 90◦ (cf. figura

EP
1). Nesse caso, dizemos que A é o vértice do ângulo reto Figura 2: um triângulo isósceles.
e os lados AB e AC são os catetos do triângulo. Já o
lado oposto ao vértice A, isto é, o lado BC, é chamado de
hipotenusa do triângulo ABC. figura 2). Nesse caso os ângulos opostos aos lados iguais
(os ângulos ∠B e ∠C, na figura 2) também são iguais.
C Exemplo 1. Seja ABC um triângulo retângulo em A e
isósceles (cf. figura 3). Então, como a hipotenusa BC é

BM
a o maior lado de ABC, os lados iguais de ABC devem ser
b seus catetos AB e AC. Denotando AB = AC = ℓ, o
teorema de Pitágoras fornece
2 2 2
A c B BC = AB + AC = ℓ2 + ℓ2 = 2ℓ2 .

Portanto, BC = ℓ 2, e mostramos que
Figura 1: o triângulo retângulo ABC.
se os catetos de um triângulo retângulo e
isósceles medem ℓ, então sua hipotenusa mede
Seja ABC retângulo em A. Como a soma das medidas
dos ângulos de todo triângulo é 180◦ , temos
b+B
A b+C
b = 180◦ .
O √
ℓ 2.
Ainda sobre o triângulo ABC, retângulo em A e
isósceles, precisaremos mais adiante do seguinte fato:
como AB = AC, temos que B b = C;
b mas, como B b+C b=
b = 90◦ , segue da relação acima que
Mas, como A ◦
90 , segue que
da
b+C
b = 180◦ − A
b = 180◦ − 90◦ = 90◦ . b=C
B b = 45◦ .
B
Assim, concluı́mos que, C
em todo triângulo retângulo, a soma das me-
didas dos ângulos diferentes do ângulo reto é

igual a 90◦ .
l

Sendo ABC ainda retângulo em A, o Teorema de


Pitágoras ensina como calcular o comprimento da hipo- A ℓ B
rta

tenusa BC em termos dos comprimentos dos catetos AB


e AC: Figura 3: a hipotenusa de um triângulo retângulo isósceles.
2 2 2
BC = AC + AB .
De outra forma, sendo (como acima) a = BC, b = AC
e c = AB, o Teorema de Pitágoras diz que a2 = b2 + c2 . Para o próximo exemplo, recorde (cf. figura 4) que um
Assim, triângulo ABC é equilátero se seus lados forem todos
Po

a2 = b 2 + c2 > b 2 , iguais. Nesse caso, a igualdade BC = AC implica a


igualdade A b = B,
b enquanto a igualdade AC = AB im-
de modo que a > b. Analogamente, a > c, e concluı́mos b = C.
b Portanto, Ab=B b=C b e, como
plica a igualdade B
que b b b ◦
A + B + C = 180 , temos
em todo triângulo retângulo, a hipotenusa é o b=B
b=C
b = 60◦ .
A
lado de maior comprimento.
Exemplo 2. Se ABC é equilátero e M é o ponto médio do
Vejamos dois exemplos de aplicação do teorema de
lado BC (cf. figura 5), então, para os triângulos ABM e
Pitágoras que nos serão úteis mais adiante. Para o pri-
ACM , temos
meiro deles, recorde que um triângulo ABC (não necessari-
amente retângulo) é isósceles se tiver dois lados iguais (cf. AB = AC e BM = CM .

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A 2 Trigonometria em triângulos re-
tângulos
Consideremos novamente um triângulo ABC retângulo em
A, como na figura 6. Denotando B b = β (lê-se beta) e
B C
b = γ (lê-se gamma), sabemos que β + γ = 90◦ , logo,
C
0◦ < β, γ < 90◦ . Assim, os ângulos ∠B e ∠C de ABC são

EP
Figura 4: um triângulo equilátero.
agudos.

C
Como AM é lado de ambos esses triângulos, concluı́mos, γ
pelo caso LLL de congruência de triângulos, que eles são a
triângulos congruentes: ABM ≡ ACM . Em particular, b
segue que AM cB = AM cC. Mas, como AM cB + AM cC =

BM

180 , devemos ter β
A c B
cB = AM
AM cC = 90◦ .
Figura 6: o seno, o cosseno e a tangente dos ângulos agudos
Dizemos que AM é uma altura do triângulo equilátero de um triângulo retângulo ABC.
ABC. (Observe que ABC tem mais duas alturas; faça
uma figura e desenhe essas outras duas alturas.)
Agora, sendo AB = AC = BC = ℓ, temos BM = A seguir, associaremos a cada um dos ângulos ∠B e
CM = 2ℓ . Aplicando o Teorema de Pitágoras ao triângulo ∠C de ABC três números reais positivos, conhecidos como
ABM (o qual sabemos ser retângulo em M ), obtemos

2 2
AM = AB − BM = ℓ2 −
2
 2

2
=
3ℓ2
4
O seus arcos trigonométricos. Conforme veremos ao longo
desse módulo, a introdução desses números muitas vezes
simplificará bastante o estudo da geometria de triângulos,
mesmo daqueles que não são retângulos.
O primeiro dos arcos trigonométricos associados a um
√ ângulo agudo de ABC é seu seno, o qual é definido como
da
ℓ 3
e, daı́, AM = 2 o quociente
comprimento do cateto oposto ao ângulo
A seno = .
comprimento da hipotenusa do triângulo
O cosseno desse ângulo é definido como o quociente
a
comprimento do cateto adjacente ao ângulo
cosseno = .
comprimento da hipotenusa do triângulo
l

B M a C
2 Por fim, a tangente desse mesmo ângulo é definida como
rta

o quociente
Figura 5: alturas de um triângulo equilátero.
comprimento do cateto oposto ao ângulo
tangente = .
comprimento do cateto adjacente ao ângulo
Como um raciocı́nio análogo é válido para as outras duas Abreviando seno por sen, cosseno por cos e tangente
alturas de ABC, acabamos de mostrar a seguinte proprie- por tg, temos, nas notações da figura 6, que
dade:
b c c
Po

sen β = , cos β = e tg β = , (1)


a a b
se os lados de um triângulo equilátero medem
√ ao passo que
ℓ, então suas alturas medem ℓ 2 3 .
c b b
sen γ = , cos γ = e tg γ = . (2)
Ainda sobre o triângulo equilátero ABC, precisaremos a a c
mais adiante do seguinte fato: como ABM ≡ ACM , te- Veja que, como b, c < a (pois a é o comprimento da
mos também que B AM b b ; mas, como B AM
= C AM b + hipotenusa), temos 0 < ab , ac < 1, isto é,
b b ◦
C AM = B AC = 60 , segue que
0 < sen β, cos β < 1.
b = C AM
B AM b = 30◦ . (Evidentemente, também temos 0 < sen γ, cos γ < 1.)

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Exemplo 3. Se, na figura 6, tivermos b = 3 e c = 4, então Por fim, podemos calcular o seno, o cosseno e a tangente
o Teorema de Pitágoras garante que de 30◦ ou como acima (usando o fato de que B AM b = 30◦
p p √ – faça isso!), ou invocando as relações (3), com β = 30◦ e
a = b2 + c2 = 32 + 42 = 25 = 5. 90◦ − β = 60◦ :

Portanto, nesse caso, teremos 1 3
◦ ◦ ◦ ◦
sen 30 = cos 60 = , cos 30 = sen 60 =
3 4 2 2
sen β = = cos γ, cos β = = sen γ

EP
5 5 e
1 1
e tg 30◦ = ◦ = √ .
3 4 tg 60 3
tg β = , tg γ = .
4 3 Para uso futuro, resumimos na tabela abaixo os valores
A igualdade de senos e cossenos do exemplo acima não calculados no exemplo anterior:
é mera coincidência. De fato, as relações (1) e (2) nos dão
β 30◦ 45◦ 60

BM
1 √1 3
sen β = cos γ, cos β = sen γ e tg β = , (3) sen β
tg γ √2 2 2
3 √1 1
cos β 2 2 √2
Como β + γ = 90◦ , temos γ = 90◦ − β, de modo que tg β √1 1 3
3
muitas vezes escrevemos as igualdades acima como
 Nos cálculos do exemplo anterior, tomando um compri-
sen β = cos(90◦ − β) 1 mento ℓ qualquer, obtivemos sempre os mesmos valores
e tg β = . (4)
cos β = sen (90◦ − β) tg (90◦ − β) para o seno, o cosseno e a tangente de 30◦ , 45◦ e 60◦ . Isso
Resumimos em palavras as igualdades acima da seguinte sugere a validade da seguinte propriedade:
forma:
o seno de um ângulo agudo é o cosseno de seu
complemento, e vice-versa; a tangente de um
ângulo é o inverso da tangente de seu comple-
O os arcos trigonométricos de um ângulo agudo
só dependem da medida do ângulo, e não do
tamanho do triângulo retângulo utilizado para
calculá-los.
mento.
Para entender porque a afirmação acima é verdadeira,
da
Retomemos, agora, os exemplos 1 e 2. tomemos (cf. figura 7) dois triângulos ABC e A′ B ′ C ′ ,
b=B
retângulos em A e A′ e tais que B b ′ = β. Como A b=
Exemplo 4. Nas notações da figura 3, seja ABC retângulo
em
√ A e isósceles, com AB = AC = ℓ. Vimos que BC =
b=C b = 45◦ . Portanto, C′
ℓ 2eB C a′
b′
b = AC = √
sen 45◦ = sen B
ℓ 1
= √ , β
BC ℓ 2 2 a A′ B′
b c′
l

b = AB = √
ℓ 1
rta

cos 45◦ = cos B = √ β


BC ℓ 2 2
A c B
e
tg 45◦ = tg Bb = AC = ℓ = 1.
AB ℓ Figura 7: arcos trigonométricos só dependem do ângulo.
Nas notações da figura 5, se ABC é equilátero de lado ℓ
e M é o ponto médio de BC, vimos que A b=B b=C b = 60◦
√ Ab′ = 90◦ e Bb=B b ′ = β, os triângulos ABC e A′ B ′ C ′ são
Po

ℓ 3
e AM = 2 . Como o triângulo ABM é retângulo em M
semelhantes, pelo caso AA (ângulo-ângulo) de semelhança
b = 60◦ , temos
e tal que ABM de triângulos. Portanto,
√ √
◦ AM ℓ 3/2 3 AB BC AC
sen 60 = = = , = ′ ′ = ′ ′. (5)
AB ℓ 2 AB
′ ′ BC AC
BM ℓ/2 1 Trocando os meios da proporcão dada pela primeira
cos 60◦ = = =
AB ℓ 2 igualdade acima, obtemos
e √
AM ℓ 3/2 √ AB A′ B ′
tg 60◦ = = = 3. = ′ ′
BM ℓ/2 BC BC

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ou, o que é o mesmo, ac = ac ′ . Portanto, a definição de o formato aproximado de uma rampa retilı́nea, inclinada
cos β, aplicada ao triângulo ABC ou ao triângulo A′ B ′ C ′ , de 30◦ em relação à horizontal. Ele caminhou por aproxi-
dá como resultado números reais iguais ( ac no primeiro caso madamente 10 minutos, à velocidade média de 4km/h, até

e ac ′ no segundo caso). chegar ao topo da colina. Ao chegar lá, ele olhou para baixo
Trocando os extremos da proporção dada pela segunda e ficou impressionado com a altura em que se encontrava.
igualdade em (5), obtemos Calcule, aproximadamente, o valor dessa altura.
Solução. Como 10 minutos equivale a 61 de hora, Marcos

EP
A′ C ′ AC
= caminhou aproximadamente 4 km 1 2
h · 6 h = 3 km. Na figura 8,
BC
′ ′ BC

ou, o que é o mesmo, ab ′ = ab . Portanto, a definição de C
sen β, aplicada ao triângulo ABC ou ao triângulo A′ B ′ C ′ ,
também fornece dá números reais iguais como resultado. 2
3 km
Por fim, também segue de (5) que AAB ′ B′
= AAC
′C′
. Tro-
cando os extremos dessa proporção, obtemos

BM
30◦
A′ C ′ AC A B
=
A′ B ′ AC
e concluı́mos que a definição de tg β também independe Figura 8: a caminhada de Marcos.
do triângulo que considerarmos, ABC ou A′ B ′ C ′ .
A discussão acima dá uma maneira simples de, conhe- B representa o pé da colina, C seu topo e A o ponto, ao
cendo o seno ou o cosseno de um ângulo, calcular seus ou- nı́vel de B, imediatamente abaixo de C. Então, conforme
tros dois arcos trigonométricos. Vejamos como fazer isso mostrado na figura, temos que A b = 90◦ e AC é a altura
no próximo exemplo.

Exemplo 5. Sabendo que sen β = 13 , calcule cos β e tg β.


Solução. Pela discussão acima, para calcular cos β e tg β
O do topo da colina.
Como B
seno de B
b = 30◦ e sen 30◦ = 1 , aplicando a definição do
2
b ao triângulo ABC, obtemos

podemos tomar um triângulo ABC de tamanho qualquer, AC 1


b = 90◦ e B b = β. Suponhamos, pois (cf. = sen 30◦ = .
da
contanto que A BC 2
figura 1), que AC = 1, e sejam BC = a e AB = c. Como
Mas, como BC ≈ 32 km, segue que
AC 1
sen β = = , 1 2 1
BC a AC ≈ · km = km = 333m.
2 3 3
temos a1 = 31 , de modo que a = 3. Portanto, pelo Teorema
de Pitágoras, segue que
l

2 2 2
c2 = AB = BC − AC = 32 − 12 = 8 3 A relação fundamental da Trigo-
rta

√ √
e, daı́, c = 8 = 2 2. Logo,
nometria
√ Voltando a (1), observe que (nas notações da figura 6)
c 2 2 1 1
cos β = = e tg β = = √ .
a 3 c 2 2 sen β b/a b a b
= = · = = tg β.
cos β c/a a c c
Po

Portanto, se já tivermos calculado o seno e o cosseno de


Conforme o próximo exemplo deixa claro, o fato de os
um ângulo, podemos calcular sua tangente simplesmente
valores do seno, cosseno e tangente de β não dependerem
calculando o quociente entre o seno e o cosseno, respecti-
do triângulo ABC retângulo em A escolhido, mas somente
b = β, também é uma das razões da im- vamente. Em suma,
do fato de que B
portância prática do estudo da Trigonometria (i.e., dos ar- sen β
tg β = . (6)
cos trigonométricos) de um triângulo retângulo. cos β
Exemplo 6. Em uma manhã de domingo, Marcos saiu para A seguir, isolamos outra propriedade importante do seno
um passeio no campo e, no meio do caminho, decidiu su- e do cosseno de um ângulo agudo, a qual é conhecida como
bir o flanco menos ı́ngreme de uma grande colina, que tem a relação fundamental da Trigonometria.

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Proposição 7. Seja ABC um triângulo retângulo em A. Para simplificar a notação, escrevamos x = sen β e y =
b = β, então
Se B cos β, de modo que

(sen β)2 + (cos β)2 = 1. (7) x 1


= √ e x2 + y 2 = 1.
y 2 2
Prova. Novamente nas notações da figura 6, temos
y
sen β = ab e cos β = ac . Por outro lado, pelo Teorema A primeira igualdade nos dá x = 2√ 2
. Substituindo essa
de Pitágoras, também temos b2 + c2 = a2 . Portanto, relação na segunda igualdade, obtemos

EP
 2   2 
2 2 b c 2 b2 c2 2 y 2
(sen β) + (cos β) = + = 2+ 2 1 =x +y = √ + y2
a a a a 2 2
2 2 2
b +c a y2 y2
= = 2 = 1. = √ + y2 = + y2.
a2 a (2 2)2 8
2 2 2

BM
Como y8 + y 2 = 9y8 , segue que 1 = 9y8 ou, ainda, y 2 = 89 .
As relações (6) e (7) são importantes, dentre outras Portanto, lembrando que y é positivo, obtemos
razões, porque elas nos permitem utilizar Álgebra elemen- r √ √
tar para calcular o seno, o cosseno e a tangente de um 8 8 2 2
y= =√ = .
ângulo se conhecermos somente um desses números. Ve- 9 9 3
jamos como fazer isso em dois exemplos, o primeiro dos
quais revisita o exemplo 5. Então,
√ √
Exemplo 8. Em um triângulo ABC retângulo em A, temos y 2 2/3 2 2 1 1
b = β. Sabendo que sen β = 1 , calcule cos β e tg β. O x= √ = √ = · √ = .
B 3 2 2 2 2 3 2 2 3
Solução. Segue de (7) que

(cos β)2 = 1 − (sen β)2 . Terminamos essa aula apresentando mais um exemplo,
que mostra como podemos utlizar o que aprendemos até
Substituindo sen β = 13 , obtemos
da
aqui para calcular sen 15◦ , cos 15◦ e tg 15◦ .
 2
2 1 1 8 Exemplo 10. Na figura 9, temos BC √ b = 30◦ .
= 2 e ABC
(cos β) = 1 − =1− = √
3 9 9 Portanto, AB = BC · cos 30◦ = 2 · 23 = 3 e AC =
BC · sen 30◦ = 2 · 21 = 1.
e, daı́, r √ √
8 8 2 2
cos β = = √ = . C
9 9 3 E
l

Por fim, segue de (6) que x


rta

2
D
sen β 1/3 1 3 1
tg β = = √ = · √ = √ . 1−x
cos β 2 2/3 3 2 2 2 2 30◦
A √ B
3

Exemplo 9. Em um triângulo ABC retângulo em A, temos Figura 9: calculando tg 15◦ .


Po

b = β. Sabendo que tg β = √
B 1
, calcule sen β e cos β.
2 2

Solução. Nesse caso, (6) e (7) nos dão as igualdades Seja D o ponto sobre o segmento AC tal que BD bissecta
b = DBC
esse ângulo, isto é, tal que ABD b = 15◦ . Também,
sen β 1 seja E o pé da perpendicular baixada do ponto D à hipo-
= √ e (sen β)2 + (cos β)2 = 1.
cos β 2 2 tenusa BC, de sorte que o triângulo CDE é retângulo em
E. Como DCE b = ACB b = 90◦ − ABC
b = 90◦ − 30◦ = 60◦ ,
Portanto, para calcular sen β e cos β, temos de ver es- a trigonometria do triângulo CD nos dá
sas duas igualdades como um sistema de equações cujas
incógnitas são sen β e cos β; em seguida, temos de resolver CE 1
esse sistema, lembrando que sen β, cos β > 0. = cos 60◦ = .
CD 2

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Logo, fazendo CD = x, segue da igualdade acima que 2. O. Dolce e J. N. Pompeu. Os Fundamentos da Ma-
temática Elementar, Volume 9: Geometria Plana. São
1 x
CE = CD · = . Paulo, Atual Editora, 2013.
2 2
Por outro lado, nos triângulos ABD e EBD, temos que
BD é um lado comum, ABD b = E BDb = 15◦ e DAB b =
b ◦
DEB = 90 . Portanto, tais triângulos são congruentes,

EP
pelo caso ALA √ de congruência de triângulos. Segue que
BE = AB = 3 e, daı́,
x √
2 = BC = CE + BE = + 3.
2

Resolvendo a equação acima, obtemos x = 2(2 − 3).
Por fim,

BM
AD = AC − CD = 1 − x
√ √
= 1 − 2(2 − 3) = 2 3 − 3,
e a trigonometria do triângulo ABD fornece

◦ AD 2 3−3 √
tg 15 = = √ = 2 − 3.
AB 3
A partir daı́, deixamos como exercı́cio para você imitar
o exemplo anterior para obter

sen 15 =◦

3−1

2 2

e cos 15 =

3+1
√ .
2 2
O
da
Dicas para o Professor
Reserve uma sessão de 50min para a primeira seção e
duas sessões de 50min para cada uma das outras duas
seções. Na segunda seção, enfatize que as relações (4) e
a tabela de valores do seno, cosseno e tangente de ângulos
notáveis devem ser memorizadas, para uso futuro. Você
também deve chamar a atenção dos alunos para a im-
l

portância da independência dos arcos trigonométricos em


rta

relação a dois triângulos retângulos semelhantes, uma vez


que essa propriedade é que realmente dá flexibilidade de
aplicação à Trigonometria de triângulos retângulos. Por
fim, a terceira seção traz um resultado muito importante,
que é a relação fundamental da Trigonometria. Junto com
ela, os três exemplos da seção devem ser resolvidos em
detalhe.
Po

A referência [2], a seguir, contém exemplos e exercı́cios


simples, que podem ajudá-lo na condução das sessões. A
referência [1] (também a seguir) expande o material aqui
discutido, trazendo vários problemas mais difı́ceis.

Sugestões de Leitura Complementar


1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Vo-
lume 2: Geometria Euclidiana Plana. Rio de Janeiro,
Editora S.B.M., 2012.

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Material Teórico - Módulo de Lei dos Senos e dos Cossenos

Leis dos Senos e dos Cossenos

EP
Primeiro Ano do Ensino Médio

BM
Prof. Antonio Caminha M. Neto

O
l da
rta
Po
Nesta segunda aula, estudaremos a Lei dos Senos e a Lei de modo que
dos Cossenos para triângulos quaisquer (isto é, triângulos b · sen γ = c · sen β
não necessariamente retângulos). Tais leis são dois con-
juntos de relações métricas que, conforme veremos, fun- ou, ainda,
b c
cionam, para triângulos quaisquer, como substitutos da = . (1)
Trigonometria em triângulos retângulos. sen β sen γ
Vejamos uma aplicação interessante da igualdade acima.

EP
1 A Lei dos Senos I Exemplo 1. Na figura 3, os pontos A, B e C representam
cidades de um paı́s, e a porção acinzentada representa uma
Comecemos observando que, dado um triângulo ABC, sua lagoa. Para encurtar o deslocamento entre as cidades A e
altura relativa ao vértice A é o segmento AHa , tal que C, o governador da região do paı́s em que ficam as cidades
←→ ←→ ←→
Ha é um ponto sobre a reta BC para o qual AHa ⊥ BC determinou que uma ponte fosse construı́da sobre a lagoa.
(figura 1). Nesse caso, dizemos que Ha é o pé da altura No começo do planejamento da construção, os engenheiros
relativa a A. do governo precisaram calcular a distância exata entre as

BM
cidades A e C. Sabendo que a distância da cidade A à
A beC
cidade B é igual a 8 quilômetros, e que os ângulos B b do
triângulo ABC (medidos com o auxı́lio de um teodolito1 ),
são respectivamente iguais a 60◦ e 45◦ , explique como os
engenheiros puderam calcular a distância entre as cidades
A e C.

B C
Ha A

Figura 1: altura de um triângulo ABC, relativa a A.

Evidentemente, podemos definir, de maneira análoga, as


O B
alturas de ABC relativas aos vértices B e C. Assim, todo
da
triângulo tem exatamente três alturas.
Se ABC é um triângulo tal que B, b C
b < 90◦ (como é o
caso do triângulo da figura 1), então Ha é um ponto sobre C
o lado BC (para ver o que ocorre se A b > 90◦ , observe a
figura 6). Figura 3: medindo distâncias com obstáculos.
Denotemos AB = c, AC = b, AHa = ha , B b = β e
b
C = γ (figura 2). Segue da Trigonometria dos triângulos
l

A Solução. Eles utilizaram a relação (1), com AC = b,


b = β = 60◦ e C b = γ = 45◦ . Com tais
rta

AB = c = 8, B
valores, (1) fornece a igualdade
c b
ha b 8
= ,
sen 60◦ sen 45◦
β γ
B C de maneira que
Ha
Po


8 sen 60◦ 8 · 23 √ √ √
Figura 2: primeiro caso da Lei dos Senos. b= ◦ = 1 =4 3· 2=4 6∼
= 9, 79.
sen 45 √
2

retângulos ACHa e ABHa que Portanto, a distância entre as cidades A e C é de aproxi-


madamente 9, 79km.
ha ha
sen γ = e sen β = .
b c b B,
Se o triângulo ABC for acutângulo, isto é, se A, b Cb<

Calculando o valor de ha em ambas as igualdades acima, 90 , então os pés Hb e Hc , das alturas respectivamente re-
obtemos lativas aos vértices B e C, também estão sobre os lados AC
ha = b · sen γ e ha = c · sen β, e AB (também respectivamente). Na figura 4, traçamos a

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A e, como β = 90◦ , se quisermos que (3) continue a valer
Hb para triângulos retângulos, devemos definir o seno de 90◦
α
(observe que não fizemos isso na aula passada) de tal forma
c b
que = b.
hb sen 90◦
Em resumo, definindo
γ sen 90◦ = 1, (4)
B a C

EP
concluı́mos que (3) continua verdadeira para triângulos
Figura 4: altura relativa a B, para ABC acutângulo. retângulos.
Vejamos, agora, o que ocorre se ABC tiver ângulos mai-
ores que 90◦ . Para tanto, recorde que a soma dos ângulos
internos de todo triângulo é igual a 180◦:
altura relativa a B, de forma que Hb ∈ AC. Calculando os
senos de α e γ nos triângulos retângulos ABHb e CBHb , b+ B
A b+C
b = 180◦ .
obtemos

BM
hb hb Portanto, no máximo um dentre A,b B
b ou C
b pode ser maior
sen γ = e sen α = ◦
que 90 .
a c
Suponhamos (figura 6) que A b = α > 90◦ (os casos em
e, daı́, hb = a · sen γ e hb = c · sen α. Portanto,
que Bb > 90 ou C
◦ b > 90 podem ser analisados de forma

a · sen γ = c · sen α b=β eC


completamente análoga). Então, fazendo B b = γ,
temos β, γ < 90◦ e, de acordo com (1),
ou, ainda,
a c b c
= . (2) = . (5)
sen α sen γ sen β sen γ
Então, combinando as relações (1) e (2), obtemos a Lei
dos Senos para triângulos acutângulos: se ABC é um
triângulo acutângulo com lados AB = c, AC = b, BC = a
e ângulos Ab = α, Bb = β, C
b = γ, então
O B
β
a
a b c hb c
= = , (3)
da
sen α sen β sen γ
θ α γ
Suponhamos, agora, que ABC é um triângulo retângulo
Hb A C
em B, conforme mostra a figura 5. Como sen α = ab e

Figura 6: altura relativa a um angulo obtuso.


A
α
Agora, como α > 90◦ , o ponto Hb , pé da altura relativa
l

b
c b b = θ, então θ = 180◦ −
a B, é tal que A ∈ Hb C. Se B AH
rta


α < 90 . Denotando BHb = hb , a Trigonometria dos
β γ triângulos retângulos BCHb e BAHb fornece as igualdades
B a C
hb hb
sen γ = e sen θ = .
a c
Figura 5: Lei dos Senos em triângulos retângulos.
Resolvendo ambas as igualdades acima para hb , obtemos
Po

hb = a · sen γ e hb = c · sen θ.
sen γ = cb , temos
a a c c Portanto,
= =b e = = b. a · sen γ = c · sen θ
sen α a/b sen γ c/b
ou, ainda,
Então, a c
a c = .
= =b sen θ sen γ
sen α sen γ
Combinando essa última igualdade com (5), obtemos
1 Um teodolito é um instrumento utilizado em construção civil,
que permite calcular com precisão o ângulo entre dois pontos de a b c
referência, medido a partir de um ponto fixado. = = .
sen θ sen β sen γ

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Então, se quisermos manter a validade de (3) também nesse da segunda, obtemos
caso, devemos definir o seno de α (observe que, na aula x sen α sen α
passada, também não definimos o seno de ângulos obtusos) = = .
b sen (180◦ − θ) sen θ
de tal forma que sen α = sen θ.
Em resumo, lembrando que θ = 180◦ − α < 90◦ , e defi- Portanto,
x y
nindo = .
sen α = sen (180◦ − α), (6) b c

EP
Reobtemos, assim, o Teorema da Bissetriz Interna:
chegamos à seguinte formulação geral da Lei dos Senos:
se ABC é um triângulo com lados AB = c, AC = b, Em um triângulo ABC, seja P o pé da bisse-
BC = a e ângulos Ab = α, B
b = β, C b = γ, então triz interna de ABC relativa ao vértice A. Se
AB = c, AC = b, BP = y e CP = x, então
a b c
= = . (7) x y
sen α sen β sen γ = .
b c
Antes de apresentarmos algumas aplicações da Lei dos

BM
Senos, colecionemos uma consequência útil das definições
(4) e (6). 2 A Lei dos Senos II
Em (6), fazendo 180◦ − α respectivamente igual a 60◦ ,
45◦ e 30◦ , e levando em conta os valores de sen 30◦ , sen 45◦ Nesta seção, refinamos o estudo da seção anterior, sobre a
e sen 60◦ , calculados na Aula 1, obtemos a tabela abaixo: Lei dos Senos. Antes, contudo, precisamos discutir alguns
fatos preliminares sobre triângulos e ângulos no cı́rculo.
α 90◦ 120


135◦ 150◦ Dado um cı́rculo Γ (lê-se Gama) de centro O (figura 8),
sen α 1 3 √1 1 um ângulo central em Γ é um ângulo de vértice O e que
2 2 2

No exemplo a seguir, utilizamos a lei dos senos para de-


duzir o Teorema da Bissetriz Interna de uma maneira com-
pletamente diferente daquela da segunda aula do Módulo
Semelhança de Triângulos e Teorema de Tales, do nono
ano.
O α
B

A
Exemplo 2. Nas notações da figura 7, seja P o pé da bis- O
da
A

αα

c b
Figura 8: cordas de ângulos centrais iguais.
l

θ
rta

tem dois raios do cı́rculo por seus lados. Nas notações


y x ⌢
B P C da figura 8, ∠AOB é um ângulo central e o arco AB em
a negrito é o arco subentendido pelo ângulo central AOB.
Figura 7: revisitando o Teorema da Bissetriz Interna. Denotando por AOB b a medida do ângulo central ∠AOB,
temos por definição que

setriz interna de ABC relativa ao vértice A, isto é, o ponto b = m( AB),
AOB
Po

sobre o lado BC tal que B APb = C AP b .



b b
Se AP B = θ, então AP C = 180◦ − θ. Faça B AP b = b = α,
a medida do arco AB subentendido. Assim, se AOB
b
C AP = α, BP = y e CP = x. Aplicando a Lei dos ⌢
então é porque m( AB) = α também.
Senos aos triângulos ABP e ACP , obtemos Se AB e AC são cordas de um cı́rculo Γ de centro O
y c x b (figura 9), dizemos que ∠BAC é um ângulo inscrito em
= e = . Γ. Nesse caso, dizemos ainda que ∠BOC é o ângulo central
sen α sen θ sen α sen (180◦ − θ)
correspondente ao ângulo inscrito ∠ABC.
Da primeira igualdade acima, obtemos Mais adiante nesta seção, precisaremos do seguinte fato
y sen α importante sobre ângulos inscritos, conhecido como o Te-
= ; orema do Ângulo Inscrito:
c sen θ

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Γ
Daı́,
B
b = B OA
B OC b ′ + C OA
b ′ = 2α + 2β
b
= 2(α + β) = 2B AC.
A O Isso justifica a igualdade (8).

EP
Voltemo-nos, agora, à discussão de outro tema.
C
Dados pontos distintos A e B, definimos a mediatriz
←→
do segmento AB como a reta r, perpendicular a AB e
passando pelo ponto médio de AB (figura 11).
Figura 9: ângulo inscrito e ângulo central correspondente.

BM
Se ∠BAC é um ângulo inscrito em um cı́rculo
de centro O, então a medida de ∠ABC é igual
B
à metade da medida do ângulo central corres-
pondente ∠BOC. Em sı́mbolos, M
A
b = 1 b
B AC B OC. (8)
2 r
Justifiquemos a propriedade acima no caso em que o
ângulo ∠BAC contém o centro O em seu interior (figura 9
– os casos em que o ângulo ∠BAC não contém o centro O
ou em que o centro O está sobre um dos lados de ∠BAC
podem ser tratados de forma muito semelhante).
O Figura 11: P ∈ r ⇒ P A = P B.

A importância da mediatriz do segmento AB se deve a


que, para todo ponto P ∈ r, temos
da
B
AP = BP . (9)

De fato, sendo M o ponto médio de AB, os triângulos


O P AM e P BM são tais que
A A′
cA = P M
P M é comum, P M cB = 90◦ , AM = BM .

C Portanto, os triângulos P AM e P BM são congruentes,


l

pelo caso de congruência de triângulos LAL. Logo, a


rta

relação (9) é válida.


A propriedade da mediatriz de um segmento discutida
Figura 10: ângulo inscrito quando o centro pertence ao mesmo. acima tem a seguinte consequência importante:

Para todo triângulo, existe um cı́rculo pas-


Como AO = BO e AO = CO, concluı́mos que os sando por seus vértices. Tal cı́rculo é o cı́rculo
triângulos OAB e OAC são isósceles, de bases respectiva- circunscrito ao triângulo e seu centro é o cir-
b = OBA b e
Po

mente iguais a AB e AC; portanto, temos OAB cuncentro do triângulo.


OACb = OCA. b
Denotando OAB b = OBAb = α e OAC b = OCA b = β, Realmente (figura 12), dado um triângulo ABC, se r e
temos s são as mediatrizes dos lados AB e BC, então r e s não
b = OAB
B AC b + OAC b = α + β. são paralelas (pois r⊥AB e s⊥BC); por outro lado, sendo
r ∩ s = {O}, segue de (9) que
Por outro lado, segue do Teorema do Ângulo Externo que
b ′ = OAB
B OA b + OBA
b = 2α O ∈ r ⇒ OA = OB e O ∈ s ⇒ OB = OC.

e Portanto,
b ′ = OAC
C OA b + OCA
b = 2β. OA = OB = OC

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C s A

α
A′
R α
O O
Γ
R

EP
A B B a C

Figura 12: circuncentro e cı́rculo circunscrito a um triângulo. Figura 13: a Lei dos Senos.

BM
e, denotando por R essa distância comum, concluı́mos que Por outro lado, como BA′ é diâmetro de Γ, temos
′b = 90◦ . Então, no triângulo retângulo BA′ C, te-
A CB
o cı́rculo de centro O e raio R passa por A, B e C.
Estamos finalmente em condições de enunciar a versão mos
mais geral possı́vel da Lei dos Senos. b′ C = BC = a .
sen α = sen B A
BA′ 2R
Proposição 3 (Lei dos senos). Seja ABC um triângulo de
lados AB = c, AC = b, BC = a e ângulos A
e C

a
sen α
=
b
sen β
=
c
sen γ
= 2R.
b = α, B
b=β
b = γ. Se R é o raio do cı́rculo circunscrito a ABC,
então
(10)
O Conforme mostrado no exemplo a seguir, a versão geral
da Lei dos Senos fornece uma maneira simples de calcular
o raio do cı́rculo circunscrito a um triângulo, contanto que
conheçamos as medidas de um lado do triângulo e do seno
do ângulo oposto a esse lado.
A seguir, justificaremos a validade das relações (10), o
da
que implicará, em particular, que reobteremos as igualda- Exemplo 4. Sejam ABC um triângulo equilátero cujos la-
des (7). Entretanto, agora nosso argumento será comple- dos têm comprimento ℓ, e R o raio de seu cı́rculo circuns-
tamente diferente do que utilizamos anteriormente. Por crito. Como Ab = 60◦ , segue da Lei dos Senos que
simplicidade, consideraremos somente o caso em que ABC
é um triângulo acutângulo (a análise dos demais casos – BC ℓ 2ℓ
2R =
b
= ◦ = √ .
nos quais ABC é retângulo ou obtusângulo – é totalmente sen A sen 60 3
análoga).
√ℓ .
l

Portanto, R = 3
Prova. É suficiente provar que
rta

Exemplo 5. Em um triângulo acutângulo ABC, o raio de


a b c seu cı́rculo circunscrito é igual ao comprimento do lado
sen α = , sen β = e sen γ = . b
BC. Calcule os possı́veis valores do ângulo A.
2R 2R 2R
Provemos a primeira igualdade acima, sendo a prova das Solução. Denotando BC = a, temos R = a. Denotando
outras duas completamente análoga. Ab = α, segue da Lei dos Senos que a = 2R = 2a.
sen α
Nas notações da figura 13, seja O o centro do cı́rculo Portanto,
1
Po

Γ, circunscrito a ABC. Se A′ é a outra extremidade do sen α = = sen 30◦


diâmetro de Γ que passa por B, então o Teorema do Ângulo 2
Inscrito garante que e, como α < 90◦ , temos α = 30◦ .

b′ C = 1 ⌢
b = 1 m( BC).

BA m( BC) e B AC
2 2 3 A Lei dos Cossenos

Portanto, denotando a medida do arco BC em negrito por Sejam ABC um triângulo de lados AB = c, AC = b e
2α, concluı́mos que BC = a, e Hb o pé da altura relativa ao lado AC, com
BHb = hb .
b′ C = B AC
BA b = α. b < 90◦ e C
Se A b < 90◦ (figura 14), então o ponto Hb está

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A A

Hb c b
c
hb
B a C

EP
B a C Figura 15: a lei dos Cossenos para ângulos retos.

Figura 14: a Lei dos Cossenos. Hb

A
hb
sobre o lado AC. Calculando o cosseno e o seno do ângulo c

BM
Ab no triângulo retângulo BAHb , obtemos
B a C
b = hb e cos A
sen A b = AHb ,
c c
Figura 16: a Lei dos Cossenos para ângulos obtusos.
de maneira que

hb = c sen A b
b e AHb = c cos A. (11)
vértice A pertence ao segmento CHb . Por simplicidade de
Por outro lado, aplicando o Teorema de Pitágoras ao b b = θ, de modo que θ = 180◦ − A
notação, faça B AH b < 90◦ .
triângulo BCHb , segue que
2
a2 = h2b + CHb = h2 + (b − AHb )2
b 2 + (b − c cos A)
b2
O Então, calculando o cosseno e o seno de θ no triângulo
retângulo BAHb , como em (11), obtemos
hb = c sen θ e AHb = c cos θ.
= (c sen A)
Aplicando novamente o Teorema de Pitágoras ao
b 2 + (cos A)
= b2 + c2 ((sen A) b 2 ) − 2bc cos A.
b
da
triângulo BCHb e prosseguindo como fizemos no caso
Ab < 90◦ , C
b < 90◦ , obtemos sucessivamente
Agora, segue da relação fundamental da trigonometria
2
(veja a Aula 1 deste módulo) que a2 = h2b + CHb = h2b + (b + AHb )2
b 2 + (cos A)
b 2 = 1. = (c sen θ)2 + (b + c cos θ)2
(sen A)
= b2 + c2 ((sen θ)2 + (cos θ)2 ) + 2bc cos θ.
Então, substituindo essa igualdade nos cálculos acima, ob-
temos a relação Por fim, invocando novamente a relação fundamental da
l

Trigonometria, temos (sen θ)2 + (cos θ)2 = 1 e, daı́,


rta

b
a2 = b2 + c2 − 2bc cos A, (12) a2 = b2 + c2 + 2bc cos θ.
conhecida como a Lei dos Cossenos. Então, se quisermos que (12) continue válida também nesse
Observe que, se ABC for acutângulo, então argumen- caso, temos de definir cos Ab = − cos θ, quer dizer, temos
tos análogos aos que utilizamos acima nos dão mais as ◦
de definir que, para 90 < A b < 180◦, tenhamos
outras igualdades abaixo, também conhecidas como a Lei
b = − cos(180◦ − A).
cos A b (14)
dos Cossenos:
Po


b Definindo cos 90 = 0 e o cosseno de ângulos obtusos
b2 = a2 + c2 − 2ac cos B
2 2 2 b . como em (14), segue que a relação (12) é válida para todos
c = a + b − 2ab cos C b Obtemos, assim, a versão geral da Lei
os valores de A.
b = 90◦ (figura 15), o Teorema de Pitágoras garante dos Cossenos.
Se A
que a = b2 + c2 . Portanto, a única maneira de (12) con-
2
Proposição 6 (Lei dos Cossenos). Se ABC é um triângulo
tinuar verdadeira nesse caso é definindo de lados AB = c, AC = b e BC = a, então

cos 90◦ = 0. (13) b


a2 = b2 + c2 − 2bc cos A
2 2 2
b = a + c − 2ac cos B b . (15)
b > 90◦ . Nesse caso (figura 16), o
Suponha, por fim, que A 2 2 2
c = a + b − 2ab cos C b

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Em (14), fazendo 180◦ − A b respectivamente igual a 60◦ , b = DEA.
forma que DAE b b = 150◦ , obte-
Mas, como ADE
45 e 30 , e levando em conta os valores de cos 30◦ , cos 45◦
◦ ◦
mos
e cos 60◦ , calculados na Aula 1, obtemos a tabela abaixo, b + DEA
DAE b = 180◦ − ADE
b = 30◦ .
complementar àquela obtida anteriormente para os senos
do um ângulo reto e de ângulos obtusos notáveis: Portanto,
b = DEA
DAE b = 15◦ .
b
A 90 ◦
120 ◦
135 ◦
150 ◦

b
√ Aplicando a Lei dos Senos ao triângulo ADE, e utili-

EP
cos A 0 − 12 − √12 − 23
zando o valor de DE calculado no item (a), obtemos
A seguir, vejamos alguns exemplos de aplicação da Lei
DE AE
dos Cossenos. =
b
sen DAE b
sen ADE
Exemplo 7. Na figura 17, ABCD é um quadrado e CDE é
um triângulo equilátero. A esse respeito, faça os seguintes ou, ainda, p √
itens: ℓ ℓ 2+ 3
= .

BM
sen 15◦ sen 150◦
(a) Sendo ℓ = AB, calcule, em função de ℓ, o compri-
mento do segmento AE. Substituindo sen 150◦ = 21 e resolvendo a igualdade ante-
rior para sen 15◦ , obtemos
(b) Use o resultado do item (a) para calcular sen 15◦ . p √
1 2− 3
sen 15 = p

√ = .
2 2+ 3 2
A D
(Verifique que tal valor coincide com aquele calculado no

B

C
E
O Exemplo 10 da Aula 1.)

Exemplo 8. Em um triângulo ABC, temos AB = 2,


AC = 4 e BC = 3. Marcamos um ponto P sobre o lado
BC, tal que BP = 1 e CP = 2. Calcule o comprimento
do segmento AP .
Figura 17: justapondo quadrado e triângulo equilátero.
da
Prova. Nas notações da figura 18, sejam AP = x e
APb C = θ, de forma que APb B = 180◦ − θ.
Solução.
b = 90◦ e C DE
b = 60◦ , temos A
(a) Como ADC

b = ADC
ADE b + C DE
b = 90◦ + 60◦ = 150◦.
l

2 4
Por outro lado, como os lados de um quadrado e de um x
rta

triângulo equilátero são todos iguais, temos AD = AB =


ℓ e DE = CD = AB = ℓ.
Aplicando a Lei dos Cossenos ao triângulo ADE, obte-
mos B 1 P 2 C
2 2 2
AE = AD + DE − 2 AD · DE cos 150◦ 3
√ !
3
Po

2 2
= ℓ + ℓ − 2ℓ · ℓ − Figura 18: calculando o comprimento AP .
2
√ !
2 3 √
= 2ℓ 1 + = ℓ2 (2 + 3). Aplicando a Lei dos Cossenos ao triângulo AP C para
2
calcular AC = 4, obtemos
Portanto, q
√ 42 = x2 + 22 − 2 · 2x cos θ
AE = ℓ 2 + 3.
e, daı́,
(b) Nas notações da figura 17, como AD = DE, con- x2 − 12
cluı́mos que o triângulo ADE é isósceles de base AE, de cos θ = .
4x

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Por outro lado, aplicando a Lei dos Cossenos ao
triângulo AP B para calcular AB = 2, e usando que 2 2 2
cos(180◦ − θ) = − cos θ, obtemos AC = AT + CT − 2 AT · CT cos 120◦
 
2 2 1
22 = x2 + 12 − 2x cos(180◦ − θ) = 10 + 40 − 2 · 10 · 40 · −
2
= x2 + 1 + 2x cos θ, = 1700 + 400 = 2100

EP
de modo que e
3 − x2
cos θ = . 2 2 2
BC = BT + CT − 2 BT · CT cos 120◦
2x
 
Igualando as duas expressões para cos θ obtidas acima, 2 2 1
= 20 + 40 − 2 · 20 · 40 · −
e cancelando o fator x que aparece no denominador delas 2
duas, segue que = 2000 + 800 = 2800.
2 2
x − 12 3−x Então, no triângulo ABC, temos

BM
= .
4 2
2 2 2
Resolvendo a equação acima, chegamos facilmente a x = BC = AC + AB ,

6.
de forma que esse triângulo é retângulo em A, que é a
Exemplo 9. Os três mosqueteiros, Athos, Porthos e Ara- posição de Athos.
mis, discutiram certo dia numa taverna. Imediatamente
Gostarı́amos de terminar essa aula observando um ponto
após a discussão, cada um deles seguiu seu caminho, ca-
muito importante: as extensões dos conceitos de seno e
valgando em linha reta, em direções que formavam 120◦
cosseno a ângulos retos e obtusos preservam a relação fun-
uma com a outra. Sabendo que suas velocidades eram
10km/h, 20km/h e 40km/h, respectivamente, mostre que,
exatamente uma hora após a discussão, as posições dos
três mosqueteiros formavam os vértices de um triângulo
retângulo, com o ângulo reto na posição ocupada por Athos.
O damental da Trigonometria, vista na Aula 1 para ângulos
agudos:

Para 0◦ < θ < 180◦, temos

sen 2 θ + cos2 θ = 1.
Solução. Considere a figura 19 como representativa da
da
situação, onde T denota a localização da taverna e A, B e Realmente, para 0◦ < θ < 90◦ , a relação fundamental
C as posições de Athos, Porthos e Aramis uma hora após da Trigonometria foi vista na Aula 1. Para θ = 90◦ , temos
eles terem deixado a taverna.
sen 2 θ + cos2 θ = 12 + 02 = 1.
B
Por fim, para 90◦ < θ < 180◦ e pondo α = 180◦ − θ, temos
0◦ < α < 90◦ , de modo que
l

(sen θ)2 + (cos θ)2 = (sen α)2 + (cos α)2 = 1.


T
rta

A C Dicas para o Professor


Cada uma das três seções deste material merece pelo
Figura 19: as trajetórias dos mosqueteiros. menos duas, mas idealmente três, sessões de 50min para ser
discutida adequadamente. Um ponto muito importante,
Po

que atravessa as três seções e que você deve enfatizar, é


Como as velocidades dos mosqueteiros eram constantes,
o fato de como as leis dos senos e dos cossenos permitem
temos que AT = 10km, BT = 20km e CT = 40km.
estender o conceito de seno e cosseno para ângulos retos
Agora, aplicando a Lei dos Cossenos a cada um dos
e obtusos. Alerte também os alunos para o fato de que a
triângulos ABT , ACT e BCT , obtemos respectivamente
relação fundamental da trigonometria continua válida para
2 2 2 tais extensões do seno e do cosseno. Esses fatos formarão
AB = AT + BT − 2 AT · BT cos 120◦
  uma base para o aluno, sobre a qual construiremos, em
2 2 1 aulas futuras, a teoria geral de Trigonometria.
= 10 + 20 − 2 · 10 · 20 · −
2 Outro ponto muito importante é que você deve apresen-
= 500 + 200 = 700, tar cuidadosamente todos os argumentos das propriedades

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discutidas ao longo do texto. Por um lado, o aluno deve
perceber que Matemática não é uma matéria decorativa,
mas sim dedutiva; por outro, em que pese o fato de que
o texto discute o porquê da validade das propriedades, a
experiência mostra que, após uma explanação inicial por
parte do professor, o aluno terá muito mais facilidade em,
relendo o material em casa, apreender os detalhes e o qua-

EP
dro geral da teoria que foi exposta em sala.
Observe que a referência [2] contém vários exemplos mais
simples de aplicação das leis dos senos e dos cossenos,
os quais você pode explorar. Novamente, a referência [1]
contém exemplos e problemas mais avançados, os quais po-
dem instigar os alunos que apresentarem maior facilidade
com o conteúdo deste material.

BM
Sugestões de Leitura Complementar
1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Vo-
lume 2: Geometria Euclidiana Plana. Rio de Janeiro,
Editora S.B.M., 2012.
2. O. Dolce e J. N. Pompeu. Os Fundamentos da Ma-
temática Elementar, Volume 9: Geometria Plana. São
Paulo, Atual Editora, 2013.
O
l da
rta
Po

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Material Teórico - Círculo Trigonométrico

Radiano, Círculo Trigonométrico e Congruência de arcos

EP
Primeiro Ano do Ensino Médio

Autor: Prof. Fabrício Siqueira Benevides


Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

BM
22 de setembro de 2018
lO
ta
r
Po
1 Arcos e ângulos mesmo tamanho, sempre obtendo uma quantidade inteira
de objetos em cada grupo. Isso torna o uso da medida
Dado um círculo e dois pontos (distintos) A e B sobre ele, “graus” muito prática para o dia a dia. Além disso, apren-
um conjunto de pontos sobre o círculo que forma a curva demos isso tão jovens que esse sistema torna-se habitual
que vai de um dos pontos ao outro é chamado de arco. e instintivo. Por exemplo: surfistas e skatistas falam da
Veja que dois pontos sobre o círculo determinam dois arcos: manobra 360 para indicar uma rotação completa e quando
pensando sempre no sentido anti-horário, temos um arco alguém diz que vai dar um 180 nos negócios, entendemos
que vai de A até B e outro que vai de B até A. Quando que ela vai mudar os planos e passar a andar na direção
o segmento AB é um diâmetro do círculo, AB é um eixo oposta a que vinha.

EP
de simetria e, portanto, divide o círculo em dois pedaços Contudo, o número 360 é completamente arbitrário.
congruentes (chamados semicírculos); neste caso, os dois Porque não dividir o círculos em 400 partes no lugar de
arcos possuem o mesmo comprimento. Mas, quando AB 360? Na verdade, existe uma unidade de medida de ân-
não é diâmetro, esses dois arcos possuem comprimentos gulos que faz justamente isso. Ela é chamada de grado
diferentes, então um deles (o de maior comprimento) é o e já foi muito usada na navegação1 , mas caiu em desuso.
chamado arco maior e o outro (o de menor comprimento) E porque não dividir o círculos em 100 partes iguais, de
é o arco menor. Todo arco AB ˜ determina um ângulo forma que pudéssemos pensar em cada ângulo como um
central, que é o ângulo ∠AOB que o contém, onde O é o certo percentual de uma volta completa?

BM
centro do círculo. Acontece que, ao estudar Trigonometria e boa parte das
matérias de cursos universitários em Matemática, o uso do
D “grau” como unidade de ângulo não é conveniente. Há ou-
A tra unidade de medida de ângulos, que chama-se radiano.
C Ela é definida de uma maneira mais fundamental e não
α depende da escolha de um número arbitrário de pedaços.
O O
Um radiano é a medida do ângulo central
B de um arco cujo comprimento é igual ao raio
do círculo (ao qual o arco pertence). Abre-
lO
viamos 1 radiano para 1 rad.
Figura 1: arcos AB
˜ e CD
˜ (em vermelho) e seus ângulos
centrais. Pelo exposto acima, quando α = 1 rad, temos que
Carco = r. Logo,
Como podemos calcular o comprimento de um arco em α 360◦ ∼ ◦
um círculo? Lembre-se de que o comprimento de um cír- 2π r · = r =⇒ 1 rad = = 57 , (2)
360◦  2π
culo de raio r, onde r é qualquer número real positivo, é
igual 2πr (isso vem da definição de π, que é a razão en- ou seja, 1 radiano vale aproximadamente 57 graus. A Fi-
gura 2 mostra como obter um ângulo de 1 radiano2 .
ta

tre o comprimento do círculo pelo diâmetro); por outro


lado, temos que o comprimento de um arco é proporcional Da equação (2) acima, também obtemos a importante
à medida de seu ângulo central. Assim, lembrando que relação:
a medida (em graus) de uma volta completa no círculo é
2π rad = 360◦ . (3)
360◦ e denotando por α (também em graus) a medida do
ângulo central correspondente ao arco, concluímos que o
r

Equivalentemente, dividindo ambos os lados por 2, obte-


comprimento desse arco é mos π rad = 180◦ . De modo geral, para qualquer valor
α em radianos, basta multiplicar esse valor por 180/π para
Po

Carco = 2πr · . (1)


360◦ obter o valor em graus. De modo semelhante, para fazer
Ao usar a unidade de medida “graus” nós partimos o a conversão de graus para radianos devemos multiplicar a
círculo em 360 arcos de mesmo comprimento. O ângulo medida do arco (dada em graus) por π/180.
de 1◦ (um grau) é o ângulo central de qualquer um desses Ao estudar funções trigonométricas (como seno, cosseno
arcos. Mas porque 360 pedaços? Isso é uma herança da e tangente), usualmente assumimos que o ângulo é dado
antiga civilização babilônica, que também nos legou horas, 1 O motivo é que navegar um grado sobre um meridiano terrestre
minutos e segundos como unidades de medida de tempo corresponde a navegar aproximadamente 100 km. Contudo, como a
(veja que uma hora possui 60 minutos ou 60 · 60 = 360 Terra não é uma esfera perfeita, essa aproximação não é tão boa e,
hoje em dia, há instrumentos de navegação bem mais precisos.
segundos). Uma das vantagens do número 360 é que ele 2 A esse respeito, veja a animação encontrada no endere-
possui muitos divisores inteiros. Por exemplo, podemos di- ço https://tex.stackexchange.com/questions/443298/how-do-i-bend-
vidir 360 objetos em 2, 3, 4, 5, 6, 8, 9, 10 ou 12 grupos de a-line-onto-a-circle.

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A figura acima serve apenas para consulta rápida ou
para conferir suas respostas. De outra forma, seu intuito
r não é nos fazer memorizar todos esse valores, uma vez que a
conversão entre graus e radianos pode ser feita facilmente,
r r como nos exemplos seguintes.

(a) (b) Exemplo 1. Transforme as medidas dos ângulos a seguir,


de graus para radianos:
(a) 150◦ .

EP
r (b) 240◦ .
Solução 1.
1 rad (a) Seja x a medida do ângulo em radianos que equivale a
150◦ . Como π radianos equivalem a 180◦ e essas medidas
(c) (d) são proporcionais, temos que:
x 150◦ 150π 5π
Figura 2: construção de um ângulo de 1 radiano. Todos = ◦ =⇒ x = = .

BM
π 180 180 6
os segmentos vermelhos possuem o mesmo comprimento:
(a) um círculo de raio r; (b) rotação de um raio; (c) entor- (b) Seja y a medida do ângulo em radianos que equivale a
tando o raio sobre o círculo; (d) marcando o ângulo central 240 graus. De forma semelhante ao item anterior, temos
de 1 rad. que
y 240◦ 240π 4π
= =⇒ y = = .
π 180◦ 180 3
em radianos. É interessante observar que a maioria das cal- Veja que esses valores são realmente os indicados na fi-
culadoras científicas trabalham com radianos por padrão gura anterior.
(algumas conseguem trabalhar com graus ou grados, mas é Solução 2. Conforme havíamos comentado, para realizar
preciso mudar o modo de operação). Nesta aula, usaremos
lO
a conversão de graus para radianos basta multiplicar por
as duas medidas (graus e radianos) para nos acostumarmos π/180. Assim, o ângulo que corresponde a 150 graus é
à transição entre uma e outra.
Para facilitar, listamos abaixo os valores de alguns ân- π 5π
150 · = rad,
gulos comuns em graus e em radianos. 180 6
π ao passo que o ângulo que corresponde a 240 graus é
2π rad = 360◦ , π rad = 180◦ , rad = 90◦ ,
2 π 4π
π π π 240 · = rad.
rad = 60◦ , rad = 45◦ , rad = 30◦ . 180 3
3 4 6
ta

A equivalência entre medidas em graus e radianos de al-


guns outros ângulos comuns pode ser vistas na figura se- Exemplo 2. Transforme as medidas dos ângulos seguintes,
guinte: de radianos para graus:
π
2 (a) 3π/2 rad.
r

2π π
3 3
3π π (b) 2π/3 rad.
4 4
Po

5π 90◦ π (c) 3 rad.


6 120◦ 60◦ 6

150◦ 30◦ (d) π 2 /4 rad.


Solução. Para converter de radianos para graus, devemos
π 180◦ 0◦ ◦
360 2π
multiplicar a medida em radianos por 180/π. Assim fa-
210◦ 330◦ zendo, temos que:
(a)
7π 240◦ 300◦ 11π
3π 180◦ 3 · 180◦
6 270◦ 6 3π
rad = · = = 270◦ .
5π 7π 2 2 π 2
4 4
4π 5π (b)
3 3
3π 2π 2π 180◦ 2 · 180◦
2 rad = · = = 120◦ .
3 3 π 3

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Observação: nos dois itens acima, para fins práticos 12 cm
poderíamos simplesmente substituir π rad por 180◦ . Mas, 2 rad
A B
cuidado, pois isso só é válido quando o valor do ângulo em
radianos é um número real multiplicado por π. Nos dois
itens seguintes, não há como apenas substituir π por 180◦ .
Solução. Como o ângulo está expresso em radiados e cada
(c) A figura a seguir mostra um ângulo de 3 radianos.
radiano nos dá um arco cujo comprimento é igual ao raio,
Lembre-se de que π ∼ = 3,14, de forma que uma ângulo
de 3 radianos é um pouco menor do que π radianos, ou concluímos que o comprimento do arco AB
˜ é 2·12 = 24 cm.

EP
seja, pouco menor do que 180◦ . Mais precisante, ele mede:
180◦ 540◦ ∼
3 rad = 3 · = = 171,88◦ .
π π 2 O círculo trigonométrico
O círculo trigonométrico é o círculo de raio 1 e centro na
origem, (0,0), do plano cartesiano. É interessante observar
que, usando a fórmula deduzida no Exemplo 3 com r = 1,
concluímos que o comprimento de um arco desse círculo é

BM
3 rad igual à medida do seu ângulo central em radianos.
Os eixos do plano cartesiano dividem o círculo trigono-
métrico em quatro partes. Cada parte é chamada de qua-
drante e os quadrantes são numerados de I até IV (um a
quatro em algarismos romanos), em sentido anti-horário,
(d) sendo que o primeiro quadrante é aquele formado pelos
π2 π 2 180◦ 180◦ π ∼ pontos em que as ambas coordenadas são positivas (veja a
rad = · = = 141,37◦ .
4 4 π 4 Figura 3).
Observação: os valores dos dois últimos itens podem ser
y
lO
obtidos com o auxílio de uma calculadora. +
π =
2 π
a
Uma das vantagens de se trabalhar com radianos é que a 2π

nt
3 3

i- h
fórmula para o comprimento do arco torna-se mais simples, + +

orá
conforme explica o próximo
5π + + π

rio
6 6
Exemplo 3. Se AB ˜ é um arco de um círculo de raio r, II + + I
cujo ângulo central mede θ radianos, então o comprimento
+ +
deste arco é − − − − + + + + x
Carco = rθ.
ta

π − − − − + + + + 0 = 2π
− −
Prova. De fato, se o ângulo central mede θ radianos, te-
360 III − − IV
mos que este ângulo mede θ · graus. Substituindo α 7π 11π
2π 6 − − 6
por esse valor na equação (1), obtemos
− −
r

360 4π 5π
θ·2π 3 3π 3
Carco = 2πr · = rθ. 2
360
Po

A fórmula do enunciado do exemplo anterior também Figura 3: o círculo trigonométrico e alguns arcos positivos.
pode ser vista da seguinte maneira: para encontrar a me-
dida (em radianos) do ângulo central de um arco de círculo, Observe que, cada quadrante determina exatamente se a
basta dividir o comprimento do arco pelo raio do círculo. abcissa e/ou a ordenada de todos os seus pontos são positi-
O exemplo acima é apenas um, dentre muitos outros, em vas ou negativas. De fato, nos quadrantes I e IV temos que
que usar radianos simplifica os cálculos. a abcissa é positiva (pois estes quadrantes estão à direita
do eixo-y e, portanto, seus pontos possuem coordenada x
Exemplo 4. Observe o desenho a seguir. Ele representa positiva); por outro lado, nos quadrantes II e III a ab-
o esquema de um pêndulo de um relógio “cuco”. Qual o cissa de todo ponto é negativa. De forma semelhante, nos
comprimento do arco AB.
˜ quadrantes I e II temos que a ordenada de cada ponto é

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positiva (pois os pontos do círculo situados nesses quadran- tam ângulos. Um ponto crucial é que podemos obter o
tes estão acima do eixo-x, ou seja, na direção positiva do seno, cosseno e tangente desses ângulos usando o círculo
eixo-y), enquanto que nos quadrantes III e IV a ordenada trigonométrico, como veremos a seguir (Figura 5).
é negativa. No módulo “Razões Trigonométricas no Triângulo Re-
Na verdade, não apenas os quadrantes são listados no tângulo: Seno, Cosseno e Tangente” do Nono Ano, já ha-
sentido anti-horário. Conforme indicado na Figura 3, sem- víamos definido o que é o seno, cosseno e tangente de um
pre iremos considerar o sentido anti-horário como o sen- ângulo entre 0◦ e 90◦ , usando o triângulo retângulo. Tra-
tido positivo, ou seja, o sentido em que, caminhando duzindo aquela definição para radianos, seja α um dos ân-
sobre o círculo, medimos arcos positivos. Naturalmente, gulos de um triângulo retângulo, de forma que, em radia-

EP
o sentido horário será considerado o sentido negativo, nos, 0 < α < π/2. Então, temos
ou seja, o sentido em que, caminhando sobre o círculo, medida do cateto oposto a α
medimos arcos negativos. sen α = ,
medida da hipotenusa
Mais precisamente, observe inicialmente que, como to-
dos os pontos do círculo estão à distância 1 do ponto medida do cateto adjacente a α
O = (0,0), temos que esse círculo intersecta o eixo-x no cos α = ,
medida da hipotenusa
ponto A = (1,0). Então, partindo de A e caminhando so-
bre o círculo no sentido anti-horário (positivo), marcamos medida do cateto oposto a α
tg α = .

BM
os valores que aparecem da Figura 3 (π/6, π/3, π/2, . . .). medida do cateto adjacente a α
Por outro lado, partindo de A e caminhando sobre o cír- A Figura 5, nos mostra um ponto P associado ao ân-
culo no sentido horário (negativo), marcamos os valores gulo α (ou ao arco AP ˜ , o que é o mesmo). Como 0 <
que aparecem da Figura 4 (−π/6, −π/3, −π/2, . . .). α < π/2, temos que P pertence ao primeiro quadrante do
círculo trigonométrico. Traçando a perpendicular de P ao
y
eixo-x, obtemos um triângulo retângulo; como a hipote-
− 3π
2 nusa deste triângulo é um raio, ela mede 1. Dessa forma,
− 4π
3 − 5π
3 pela fórmula de cos α acima, o valor de cos α é igual ao
+ + comprimento do cateto adjacente a α. Note, pela figura,
− 7π + + − 11π que este comprimento também é igual a abcissa do ponto
6 6
lO
II + + I P , ou seja, a coordenada x desse ponto. Analogamente, o
valor de sen α é igual à coordenada y de P . Ou seja,
+ +
− − − − + + + + x
−π − − − − + + + + 0 = −2π P = (cos α, sen α).
− −
III − − IV
− 5π − π6 sen
6 − −
rio

(0,1)
− −

ta ho

− 2π − π3 II I
-=
3
− π2
P
sen α

1
Figura 4: o círculo trigonométrico e alguns arcos negativos.
r

α
Como o comprimento do círculo trigonométrico é 2π, (−1,0) cos α (1,0) cos
Po

cada ponto P sobre ele determina um arco positivo AP ˜


que possui ângulo central ∠AOP , seguindo de A a P no
sentido anti-horário, de medida menor que 2π. Sempre
que falarmos do arco e do ângulo associados a P , salvo
menção explícita em contrário, estaremos nos referindo a III IV
AP
˜ e ∠AOP , respectivamente. Por outro lado, se formos
(0, −1)
de A até P seguindo o círculo no sentido horário, temos um
único arco negativo determinado por P , de medida maior
que −2π.
Figura 5: círculo e razões trigonométricas.
Como observado anteriormente, o comprimento de AP ˜é
igual à medida de ∠AOP em radianos. Assim, os números Por essa razão, renomeamos os eixos de nossa figura como o
indicados sobre o círculo da Figura 3 também represen- eixo dos cossenos (horizontal) e o eixo dos senos (vertical).

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(Na próxima aula, veremos também como obter a tangente 3 Congruência de arcos
de α usando o círculo trigonométrico).
Conforme a discussão anterior já sugere, muitas vezes será
Veja que as definições de seno, cosseno e tangente com
conveniente trabalharmos com ângulos/arcos maiores do
base no triângulo retângulo se aplicam apenas para ân-
que 2π, bem como com ângulos/arcos negativos. Por exem-
gulos (ou arcos) entre 0 e π/2 radianos. Dado um arco
plo, o que significa um arco de 450◦ ? Como 450 = 360+90,
α fora deste intervalo, define-se o seno e o cosseno de α
percorrer um arco de 450◦ sobre o círculo é o mesmo que
estendendo o que fizemos acima. Mais precisamente, con-
percorrer 360◦ seguido de 90◦ , ou seja, dar uma volta com-
sideramos o ponto P do círculo trigonométrico associado
pleta seguida de um quarto de volta. Assim, um arco

EP
a α e simplesmente definimos cos α como a abcissa de P e
(no sentido anti-horário) que mede 450◦ e possui o ponto
sen α como a ordenada de P .
A = (1,0) como extremidade inicial terá sua extremidade
Assim é que, para um arco α = π/2, temos que o ponto final no ponto B = (0,1) – que também é a extremidade
P associado a α é P = (0,1); logo, definimos cos(π/2) = 0 final de um arco de 90◦ , medido no sentido anti-horário a
e sen(π/2) = 1. Da mesma forma, cos π = −1 e sen π = 0, partir de A.
cos(3π/2) = 0 e sen(3π/2) = −1, cos(2π) = 1 e sen(2π) = Evidentemente, toda a discussão do parágrafo anterior
0. também faz sentido em radianos: como 450◦ = 5π/2 e
Agora, a Figura 6 mostra um exemplo com P no segundo 5π/2 = 2π + π/2, percorrer um arco de 5π/2 radianos no

BM
quadrante, isto é, com π/2 < α < π. Veja que, neste caso, sentido anti-horário e a partir de A = (1,0) nos leva ao
temos cos α < 0 e sen α > 0. Em geral, os sinais de cos α ponto B = (0,1) como extremidade final, ponto este que
e sen α correspondem aos sinais das abscissas e ordenadas também é a extremidade final de um arco de π/2, medido
em cada quadrante, conforme mostrado na Figura 3. no sentido anti-horário a partir de A.
Quando (como acima) dois ângulos/arcos possuem as
Ainda nas notações da Figura 6, se β = π − α, então mesmas extremidades, dizemos que eles são congruentes.
0 < β < π, de modo que cos β > 0 e sen β > 0. Por outro Perceba que o arco AB ˜ também é congruente ao BA ˜ e
lado, observando o triângulo retângulo sombreado, temos este último pode ser obtido partindo de A e percorrendo
sen β = sen α e cos β = | cos α|, de sorte que sen β = sen α 360 − 90 = 270 graus no sentido horário.
e cos β = − cos α. Como arcos congruentes possuem as mesmas extremida-
lO
des, a diferença entre eles corresponde a um certo número
sen de voltas completas em torno do círculo trigonométrico,
e isso vale mesmo no caso em que um ou ambos os arcos
(0,1)
são negativos. Por exemplo, outra maneira de perceber
P
II I que −3π/2 e π/2 são arcos congruentes é observando que
π/2 − (−3π/2) = 2π, o que corresponde a uma volta com-
pleta em torno do círculo trigonométrico. Assim, um arco
|sen α|

1
de π/2 radianos pode ser obtido primeiro percorrendo um
arco de −3π/2 radianos e, em seguida (e a partir da extre-
ta

β α midade final desse arco), percorrendo um arco, no sentido


(−1,0) |cos α| (0,0) (1,0) cos anti-horário, de 2π radianos.
Para outro exemplo, ângulos de medidas 780◦ e 60◦ são
congruentes. Realmente, como 780 = 60 + 2 · 360, temos
que um ângulo de 780◦ é obtido percorrendo 60◦ e mais
r

duas voltas completas, como indicado na figura abaixo.


III IV
sen
Po

(0, −1)
P
780◦

Figura 6: seno e cosseno no segundo quadrante.


60◦ A
Uma análise similar, com α pertencente a outro qua- O cos
drante qualquer do círculo trigonométrico, mostra que as
fórmulas acima valem sempre, isto é, que

sen(π − α) = sen α e cos(π − α) = − cos α.

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De modo geral, se α e β são as medidas em radianos de Solução. Primeiramente, veja que, em radianos, o ângulo
dois arcos (positivos ou negativos), temos α e β congruen- de 1500◦ corresponde a
tes se, e somente se, 1500 25π
· 2π =
α − β = 2π · k, 360 3
radianos.
para algum número inteiro k. Para calcular a menor determinação positiva desse arco,
Em particular, se AP˜ = α e AQ ˜ = β são dois arcos dividimos 25 por 3, obtemos
congruentes no ciclo trigonométrico, então P = Q e, dessa
25π π π

EP
forma, arcos congruentes possuem os mesmos senos e os = 8π + = 2π · 4 + .
mesmos cossenos. Em símbolos, 3 3 3
π
 Portanto, a menor determinação positiva é 3 e a maior
sen α = sen β determinação negativa é
α − β = 2π · k, k ∈ Z =⇒ .
cos α = cos β
π 5π
− 2π = − .
Exemplo 5. Seja A = (1,0). Encontre o comprimento do 3 3
arco AP
˜ , entre 0 e 2π, que é congruente a 27π/4 radianos.
Em seguida, indique em qual quadrante do círculo trigono-

BM
métrico se encontra o ponto P e calcule o seno e o cosseno
de 27π/4.
Dicas para o Professor
Solução. Veja que
Os objetivos dessa aula são: apresentar a definição de
27π 24π 3π 3π 3π radiano, mostrar como converter de graus para radianos e
= + = 6π + = 2π · 3 + . vice-versa e apresentar o círculo trigonométrico. Não in-
4 4 4 4 4
cluímos neste texto muitos exercícios, porque este módulo
Isso quer dizer que, saindo do ponto A e percorrendo contém um outro arquivo com vários exercícios e esboços
sobre o círculo um comprimento de 27π/4 no sentido de soluções. Recomendamos que o professor resolva alguns
anti-horário, damos 3 voltas completas no círculo e, de- desses exercícios com maiores detalhes no decorrer da aula.
lO
pois, ainda percorreremos 3π/4 (também no sentido anti- À primeira vista, a noção de radianos pode parecer es-
horário). Logo, AP˜ mede 3π/4. tranha para os alunos, pois no nosso dia a dia é muito
π 3π mais comum medirmos ângulos em graus. Contudo, no
Por fim, veja que ≤ ≤ π, de sorte que o ponto P
2 4 Ensino Superior e em pesquisa científica a unidade padrão
está situado no segundo quadrante (ou seja, no quadrante
de medida de ângulos é o radiano. Um dos motivos é que
II) do círculo trigonométrico.
o uso de radianos simplifica não apenas a fórmula para o
Por fim, veja que π − 3π/4 = π/4 radianos, que corres-
comprimento de arcos no círculo unitário, como mostrado
pondem a 45 graus. Pelo que estudamos na seção anterior,
aqui, mas também inúmeras outras fórmulas (como as de-
fazendo α = 3π/4 e β = π/4 temos:
ta

rivadas de funções trigonométricas e suas séries de Taylor,



27π
  
3π  π  √2 para citar apenas dois exempos). O uso de radianos tam-
sen = sen = sen = , bém simplifica o uso de várias fórmulas em Física, como
4 4 4 2
    π √ por exemplo as que descrevem movimento rotacional, pois
27π 3π 2 simplifica as unidades de medidas expressas em tais fór-
cos = cos = − cos =− .
4 4 4 2 mulas.
r

A referência [1] desenvolve os rudimentos de Trigonome-


tria necessários a aplicações geométricas. A referência [2]
Po

A menor determinação positiva de um arco α é o va- traz um curso completo de Trigonometria.


lor do menor arco não-negativo β que é congruente a ele.
De outra forma, devemos ter 0 ≤ β < 2π e α − β = 2π · k,
para algum inteiro k. Por outro lado, a maior deter- Sugestões de Leitura Complementar
minação negativa de α é o arco γ < 0 de menor valor 1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Vo-
absoluto tal que, (saindo de A e) percorrendo o compri- lume 2: Geometria Euclidiana Plana. SBM, Rio de
mento |γ| no sentido horário, chegamos a P . Evidente- Janeiro, 2013.
mente, β − γ = 2π.
2. G. Iezzi Os Fundamentos da Matemática Elementar,
Exemplo 6. Calcule o arco, em radianos, equivalente a um Volume 3: Trigonometria. Atual Editora, Rio de Ja-
ângulo de 1500◦ . Em seguida, encontre a menor determi- neiro, 2013.
nação positiva e a maior determinação negativa desse arco.

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Material Teórico - Círculo Trigonométrico

Seno, cosseno e tangente.

EP
Primeiro Ano do Ensino Médio

Autor: Prof. Fabrício Siqueira Benevides


Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

BM
20 de outubro de 2018
lO
ta
r
Po
1 Seno, cosseno e tangente Lembremos que quando α e β são ângulos congruen-
tes, ou seja, α − β = 2kπ, com k ∈ Z, eles determinam
Na aula passada, vimos que se A = (1,0) e P é um ponto um mesmo ponto P sobre o círculo trigonométrico. Dessa
qualquer sobre o círculo trigonométrico, ou seja, o círculo forma, temos que:
de raio 1 e centro O = (0,0), então a abscissa e a orde- (
nada de P são, nessa ordem, o cosseno e o seno do ângulo sen α = sen β,
∠AOP . Em símbolos, se α é a medida do ângulo ∠AP O α = β + 2kπ =⇒
cos α = cos β.
em radianos, ou seja, o comprimento do arco AP˜ , então
Assim, vamos no concentrar inicialmente em calcular senos

EP
P = (cos α, sen α). (1) e cossenos de arcos de 0 a 2π.

De fato, usamos isso para definir os valores de sen α e Exemplo 2. Como observado na aula passada, boa parte
cos α de um número real α qualquer: para encontrar cos α das calculadoras científicas trabalham com radianos por pa-
e sen α basta percorrer (partindo do ponto A) um arco de drão. Assim, se digitarmos 60 numa calculadora e teclar-
comprimento |α| sobre o círculo trigonométrico, no sentido mos “sen”, é possível que o resultado obtido não seja o
anti-horário quando α > 0 e horário quando α < 0, marcar seno de 60◦ , mas sim o seno de 60 rad (é provável que a
o ponto P e encontrar suas coordenadas. Dessa forma, calculadora tenha uma tecla para definir o modo de ope-

BM
podemos ver seno e cosseno como funções com domínio ração, “rad” ou “deg”, então é necessário ficar atento).
igual ao conjunto de todos os números reais. (Lembre-se Suponha que a calculadora está no modo “rad”. O que
de que estamos medindo arcos em radianos.) representa o valor obtido?
Vamos calcular, como na aula passada, a menor deter-
Exemplo 1. Calcule sen(0), cos(0), sen(π/2) e cos(π/2). minação positiva de 60 radianos. Dividindo 60 por 2π obte-
mos, aproximadamente, 9,549. Assim, o arco entre 0 e 2π
Solução. Considere A = (1,0), P como em (1) e seja
congruente a 60 tem comprimento 60 + (−9) · 2π, que vale
α = AP
˜ . Quando α = 0, o ponto P coincide com A (o
aproximadamente 3,451. Isso é um pouco maior do que π,
arco percorrido tem comprimento zero, logo, não saímos logo, está no quadrante III. Fazendo esse experimento, na
do ponto A). Assim, P = (1,0) e, lembrando que a abcissa calculadora, obtemos
representa o cosseno de α e a ordenada representa o seno,
lO
temos: sen(60) = sen(60 − 18π) ∼ ∼ −0,304.
= sen(3,451) =
sen(0) = 0 e cos(0) = 1.
Por outro lado, quando α = π/2, como o círculo possui Isso faz sentido, uma vez no quadrante III o seno é nega-
comprimento 2π, teremos percorrido 1/4 do círculo. Dessa tivo. Por outro lado, veja que
forma, estaremos parados no ponto P = (0,1), de sorte que √
◦ 3∼
sen(60 ) = = 0,866.
sen(π/2) = 1 e cos(π/2) = 0. 2
No Módulo “Triângulo Retângulo, Lei dos Senos e Cos- Neste texto, sempre que omitirmos a unidade, é porque
ta

senos, Polígonos Regulares” do nono ano do EF, aprende- estamos usando radianos.
mos como calcular os valores de seno, cosseno e tangente
dos arcos equivalentes a 30◦ , 45◦ , 60◦ . Juntamente com Exemplo 3. Para todo arco α, vale que
os valores obtidos no exemplo anterior, e lembrando que
tg(α) = sen(α)/ cos(α) só está definida quando cos α 6= 0, sen(−α) = sen(α) e cos(−α) = cos(α).
r

agrupamos os valores na seguinte tabela.


Solução. Suponha que, partindo de (1,0) e percorrendo
Ângulo Ângulo um arco de medida α, paramos no ponto P = (x,y), de
Po

sen cos tg forma que sen(α) = y e cos(α) = x. Perceba que percorrer


(graus) (radianos)
o arco −α significa percorrer α no sentido oposto. Ao
0◦ 0 0 1 0 fazermos isso, pararemos no ponto P 0 , simétrico de P em
√ √ relação ao eixo-x. Dessa forma, P 0 = (x, −y), e temos que
π 1 3 3
30◦
6 2 cos(−α) = x = cos(α) e sen(−α) = −y = − sen(α).
2 3
√ √
π 2 2
45◦ 1
4 2 2 2 Redução ao primeiro quadrante
√ √
◦ π 3 1
60 3
3 2 2 Para qualquer ângulo α do primeiro quadrante, ou seja,
π 0 < α < π/2, existe um triângulo retângulo que possui
90◦ 1 0 6∃
2 α como um de seus ângulos. As medidas dos catetos e

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da hipotenusa de um tal triângulo podem ser usadas para
sen
calcular o seno, cosseno e tangente de α.
Por outro lado, para outros valores de α isso não é possí-
vel (já que a soma das medidas dos dois ângulos não retos P
II I
de um triângulo retângulo é π/2), mas podemos comparar
os valores do seno, cosseno e tangente de α com aqueles de

|sen α|
um ângulo β, este entre 0 e π/2. 1
Para entendermos como fazer isso, seja P o ponto do
α
círculo trigonométrico associado ao arco α, seja B o pé da β

EP
perpendicular traçada de P ao eixo-x e O = (0,0). Con- B |cos α| O A cos
sideremos o triângulo retângulo BP O, de hipotenusa OP
(de medida 1) – veja as figuras 1a, 1b e 1c, para α nos
quadrantes II, III e IV respectivamente, onde α = AP˜ está
marcado em verde. Seja, ainda, β = ∠P OB.
Como P = (cos α, sen α), o fato de BP O ser retângulo de III IV
hipotenusa 1 garante que, para α em qualquer quadrante,
vale:

BM
(a) seno e cosseno no segundo quadrante.
BO = | cos α| = cos β > 0, (2) sen
BP = | sen α| = sen β > 0. (3)

Contudo, a relação entre α e β, assim como os sinais de II I


cos α e sen α, variam de um quadrante para outro (lembre-
se de que estudamos os sinais em cada quadrante na aula
passada).
α
• α no quadrante II: pela Figura 1a, temos β = π−α, B |cos α|
sen α > 0 e cos α < 0. Assim, as equações (2) e (3)
lO
O A cos
β
fornecem
|sen α|

sen α = sen(π − α), 1


cos α = − cos(π − α).
III P IV
• α no quadrante III: pela Figura 1b que β = α − π,
sen α < 0 e cos α < 0. Assim, pelas equações (2) e (3),
vem (b) seno e cosseno no terceiro quadrante.
ta

sen
sen α = − sen(α − π),
cos α = − cos(α − π).
II I

• α no quadrante IV: pela Figura 1c, temos β = 2π−


r

α, sen α > 0 e cos α < 0. Assim, segue das equações (2)


e (3) que
Po

α |cos α| B
sen α = − sen(2π − α),
O β A cos
cos α = cos(2π − α).
|sen α|

Observação 4. É possível demonstrar que as relações 1


acima, por exemplo, sen(α) = sen(π − α), valem para todo
α, não apenas para o quadrante indicado. Contudo, a se- III P IV
paração em casos por quadrante tem o intuito que garantir
que β seja um ângulo entre 0 e π/2.
(c) seno e cosseno no quarto quadrante.
Exemplo 5. Calcule o seno e o cosseno de cada um dos
seguintes arcos.

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π
2

3
π
3
1 sen(x)

5π π
6 6
0.5

π 2π

π π π 2π 5π π 7π 4π 3π 5π 11π 2π
6 3 2 3 6 6 3 2 3 6

EP
7π 11π −0.5
6 6

4π 5π
3

3 −1
2

Figura 2: gráfico da função sen(x) quando x varia de 0 a 2π, com alguns pontos marcados e seus correspondentes no
círculo trigonométrico.

BM
(a) 2π/3. x varia de 0 a 2π: do lado esquerdo temos uma cópia
do círculo trigonométrico com alguns pontos marcados;
(b) 5π/4. do lado direito temos o gráfico desejado. Para obtê-lo,
(c) 11π/6. veja que cada ponto sobre o eixo horizontal do grá-
fico representa a medida de um arco (em radianos).
Solução. Selecionamos alguns valores de arcos para ilustrar,
(a) Seja α = 2π/3. Veja que α está no segundo quadrante. marcamos os pontos correspondentes no círculo, obser-
Observando a Figura 1a, temos sen α > 0 e cos α < 0, e vamos que a altura de cada ponto marcado corresponde
lO
β = π −2π/3 = π/3 é o ângulo que satisfaz (2) e (3). Logo, ao seno do arco e marcamos a mesma altura no grá-
√ fico. Sobre isso, veja também a animação no endereço
3 https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Circle_cos_sin.gif.
sen(2π/3) = sen(π/3) = ,
2 Observe que entre 0 e π/2 o valor de seno aumenta até
1 atingir seu valor máximo, igual a 1. De π/2 até π ele di-
cos(2π/3) = − cos(π/3) = − .
2 minui até chegar a zero. De π a 3π/2 continua diminuindo
(b) Para α = 5π/4, note que α está no terceiro quadrante. até chegar a seu valor mínimo, igual a −1. Por fim, de
Observando a Figura 1b, temos sen α < 0 e cos α < 0, e 3π/2 a 2π ele volta a aumentar, até chegar novamente a
β = 5π/4 − π = π/4 é o ângulo que satisfaz (2) e (3). zero. Neste momento, completamos uma volta inteira no
ta

Assim, temos circulo, de forma que o gráfico da função passa a se repe-


tir. Do mesmo modo, para valores negativos de x o padrão

2 mantido é o mesmo. Isso é mostrado na curva em azul da
sen(5π/4) = − sen(π/4) = − , Figura 3, que representa o gráfico de sen(x) quando x varia
√2 de −10 até 10.
2
r

cos(5π/4) = − cos(π/4) = − . Por sua vez, a curva em vermelho da Figura 3 é o gráfico


2
de cos(x). Como podemos perceber isso? Considerando
(c) Sendo α = 11π/6, temos α no quarto quadrante. Ob- um triângulo retângulo qualquer, se um de seus ângulos
Po

servando a Figura 1c, vemos que sen α < 0 e cos α > 0, e não retos tiver medida α, o outro terá medida π2 −α. Como
β = 2π − 11π/6 = π/6 é o ângulo que satisfaz (2) e (3). o cateto adjacente a α é o cateto oposto a β, temos que
Dessa vez, temos que cos α = sen β. Logo,
1 π
sen(11π/6) = − sen(π/6) = − , 
cos(α) = sen −α . (4)
√ 2 2
3
cos(11π/6) = cos(π/6) = .
2
Apesar de que a argumentação acima só funciona para
Como isso, para qualquer número real α de 0 a 2π, 0 < α < π/2, é possível provar que a equação (4) também
podemos calcular sen(α). A Figura 2 nos mostra como é valida para qualquer α real. Deixamos como exercício
desenhar o gráfico da função f (x) = sen(x), quando analisar o que acontece quando α pertence a cada um dos

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y y = sen(x)
y = cos(x) 1

x
−3π − 5π −2π − 3π −π − π2 π π 3π 2π 5π 3π
2 2 2 2 2

−1

Figura 3: gráficos de seno e cosseno de −10 a 10.

EP
outros quadrantes. C
Dessa forma, o gráfico da função cos(x) nada mais é do
que uma translação do gráfico da função sen(x), e é dessa sen
forma que a curva vermelha da Figura 3 pode ser obtida a
partir da curva azul. P
II I

|tg α|
BM
3 Tangente

|sen α|
1
Como já sabemos, a tangente de um ângulo α pode ser de- β
α
finida como a razão entre o seno e o cosseno deste ângulo,
O |cos α| B A cos
desde que o cosseno seja diferente de zero. Também é pos-
sível visualizar a tangente usando o círculo trigonométrico.
Como antes, considere A = (1,0) e seja P um ponto
qualquer sobre o círculo trigonométrico; também como an-
tes, seja B o pé da perpendicular traçada de P ao eixo-x. III IV
Agora, tracemos a reta perpendicular ao eixo-x passado
lO
pelo ponto A (veja que, como essa reta é perpendicular ao
raio OA, ela é tangente ao círculo trigonométrico), e cha-
←→
memos de C o ponto de interseção da reta P O com tal Figura 4: eixo das tangentes.
reta. Veja que a abcissa do ponto C é igual a 1. Vamos
mostrar que sua ordenada é igual a tg(α). Primeiramente,
mostremos que o comprimento do segmento AC é igual ao reta que contém o segmento AC de eixo das tangentes.
valor absoluto de tangente de α, ou seja, AC = |tg(a)|. Note que, quando α = π/2, o valor de tg(α) não está
Na Figura 4, consideramos o caso em que α está no definido. Isso segue tanto porque a reta que passa por
ta

primeiro quadrante, mas não é difícil verificar que o mesmo (0,0) e (0,1) (este último ponto correspondendo a P quando
vale para os demais quadrantes. Veja que os triângulos α = π/2) não intersecta o eixo das tangentes, quanto por-
AOC e BOP são semelhantes, pois ambos são triângulos que tg(α) = sen(α)/ cos(α) mas cos(π/2) = 0, de sorte
retângulos e possuem o ângulo α em comum. Então, temos que não podemos realizar uma divisão por zero. De forma
que: geral, sempre que cos(α) = 0 o valor de tg(α) não está
AC BP
r

definido. Isso acontece precisamente quando α = π/2 + kπ


= .
AO BO onde k é um número inteiro: quando k é par temos um
arco congruente a π/2 e quando k é ímpar temos um arco
Po

Substituindo AO = 1, BP = |sen α| e BO = |cos α| na


igualdade acima, temos que congruente a 3π/2.
Com as observações acima, podemos construir o gráfico
|sen α| sen α da função tg(x) (veja a Figura 5). Para cada número real
AC = = = |tg α| .
|cos α| cos α x, consideremos α = x e observamos o que acontece com o
ponto C sobre o eixo das tangentes.
Por fim, veja também que quando o ponto C está acima Dessa vez, vamos começar com x sendo um número nega-
do ponto A é porque P está no quadrante I ou III; neste tivo um pouco maior que −π/2 (veja que quando x = −π/2
caso, temos que tg(α) é positiva, pois sen(α) e cos(α) o valor de tg(x) não está definido). Neste caso, o ponto C
possuem o mesmo sinal. Da mesma forma, quando C estará muito abaixo de A, de modo que tg(x) será um nú-
está abaixo de A, temos tg(α) é negativa, pois P está mero negativo de grande valor absoluto. À medida que x
no quadrante II ou IV. Por conta disso, chamaremos a aumenta de −π/2 até π/2, o valor de tg(x) só aumenta,

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y y = tg(x)
3

x
−2π −π − π2 π π 2π

EP
− 5π
2
− 3π
2 2

2

2

−1

−2

−3

Figura 5: gráfico da tangente no intervalo de −5π/2 a 5π/2.

passado por 0 quando x = 0 e crescendo indefinidamente


quando x se aproxima de π/2. Porém, quando x = π/2
o valor de tg(x) novamente não está definido. Repentina-
mente, para x um pouco maior que π/2, o valor de tg(x)
volta a ser negativo e grande em módulo e o processo se
repete, sempre em intervalos de comprimento π.
BM
lO
Dicas para o Professor
Nesta aula, estendemos as noções de seno, cosseno e tan-
gente de arcos entre 0 e π/2 para arcos em geral. Mos-
tramos ainda como são os gráficos de cada uma dessas
funções. É importante que os alunos estejam confortáveis
com o conteúdo da aula anterior e, em especial, estejam
ta

habituados a usar medidas de arcos em radianos. Outro


pré-requisito geral desta aula é ter boa familiaridade com
o sistema cartesiano e saber (genericamente) esboçar e in-
terpretar gráficos de funções.
As referências colecionadas abaixo contém mais sobre
funções trigonométricas.
r
Po

Sugestões de Leitura Complementar


1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Vo-
lume 2: Geometria Euclidiana Plana. SBM, Rio de
Janeiro, 2013.

2. G. Iezzi Os Fundamentos da Matemática Elementar,


Volume 3: Trigonometria. Atual Editora, Rio de Ja-
neiro, 2013.

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Material Teórico - Círculo Trigonométrico

A relação fundamental da Trigonometria

EP
Primeiro Ano do Ensino Médio

Autor: Prof. Fabrício Siqueira Benevides


Autor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

BM
17 de novembro de 2018
lO
ta
r
Po
1 A relação fundamental da Trigo- que
nometria 2
|sen(α)| = sen2 (α) e
2
|cos(α)| = cos2 (α),

Para qualquer arco de medida α radianos a seguinte equa- o que, conjuntamente com a igualdade anterior, nos fornece
ção, que relaciona o seno e o cosseno de α, é satisfeita: a relação fundamental.
A relação fundamental nos diz que, se conhecermos o
valor do cosseno de um arco, então o valor absoluto de seu
sen2 (α) + cos2 (α) = 1. (1)
seno está determinando; se, adicionalmente, soubermos o
quadrante do arco, então poderemos encontrar também o

EP
Essa é a relação fundamental da Trigonometria. sinal de seu seno. Da mesma forma, se conhecermos o seno
Observação 1. Note que sen2 (α) representa o quadrado do e o quadrante de um arco, poderemos calcular seu cosseno.
valor do seno de α, número que também pode ser escrito O exemplos a seguir exercita tais procedimentos.
como (sen(α))2 , mas que é diferente√do seno de α2 , ou Exemplo 3. Seja β um arco cujo comprimento é tal que
2 2
2
√ ). Por exemplo, sen((√π) ) = sen(π) = 0,
seja, de sen(α π < β < 3π/2. Sabendo que cos(β) = 0,6, calcule sen(β).
mas sen ( π) > 0, uma vez que 0 < π < π.
Solução 1. Substituindo cos(β) = 0,6 na relação funda-
O caso particular dessa relação em que 0 < α < π/2 já mental da Trigonometria (ou seja, fazendo α = β na equa-

BM
havia sido estudado na primeira aula do módulo “Triângulo ção (1)), temos que:
Retângulo, Lei dos Senos e Cossenos, Polígonos Regulares”
sen2 (β) + (0,6)2 = 1.
do Nono Ano. Na aula passada estendemos a noção de
seno e cosseno para arcos de quaisquer medidas. Agora, Logo,
mostraremos que a relação fundamental continua válida
sen2 (β) = 1 − (0,6)2
para todo arco α.
Nas aulas 1 e 2 do módulo atual, vimos que se O = (0,0), = 1 − 0,36
A = (1,0) e α é um arco qualquer, então cos(α) e sen(α) = 0,64.
são, nesta ordem (veja que o cosseno vem primeiro), a abs- √
cissa e a ordenada do ponto P sobre o círculo trigonomé- Temos que 0,64 = 0,8. A princípio, isso nos dá dois
possíveis valores para sen(β):
lO
trico tal que AP
˜ = α (com a convenção de que o arco AP˜é
medido, a partir de A, no sentido anti-horário). Em outras sen(β) = 0,8 ou sen(β) = −0,8.
palavras, sob tal convenção, temos
Mas o enunciado no diz que π < β < 3π/2, ou seja, β está
˜ = α ⇒ P = (cos(α), sen(α)).
AP no terceiro quadrante. Com isso, temos que sen(β) < 0,
logo, sen(β) = −0,8.
Na aula passada vimos desenhos em que P pertence a
cada um dos quadrantes e, em cada um deles, encontra- Uma decorrência útil de (1) é a seguinte: suponha que α
mos um triângulo retângulo cujos catetos medem |sen(α)| e α0 sejam arcos distintos, tais que cos(α) = cos(α0 ). En-
ta

e |cos(α)| e cuja hipotenusa mede 1. (Veja que precisamos tão, aplicando a relação fundamental duas vezes, obtemos
tomar os valores absolutos do seno e cosseno, pois, depen-
p
|sen(α)| = 1 − cos2 (α)
dendo do quadrante ao qual o ponto P pertença, podemos p
ter sen(α) < 0 ou cos(α) < 0; contudo, os comprimentos = 1 − cos2 (α0 )
dos lados do triângulo sempre são números positivos.) = |sen(α0 )| ,
r

Exercício 2. Antes de consultar as figuras da aula passada, de sorte que


para cada quadrante do círculo trigonométrico, escolha um
cos(α) = cos(α0 ) =⇒ sen(α) = ± sen(α0 ). (2)
Po

ponto qualquer P = (x,y) e desenhe um triângulo retângulo


cujos catetos possuem medidas |x| e |y| e cuja hipotenusa Portanto, se soubermos os sinais de sen(α) e sen(α0 ) (por
é OP , onde O = (0,0). Seja α = AP ˜ , onde A = (1,0). exemplo, se soubermos os quadrantes aos quais os arcos α
Interprete quais segmentos possuem comprimentos |cos(α)| e α0 pertencem), descobriremos facilmente qual das duas
e |sen(α)| no seu desenho. igualdades acima ocorre.
Evidentemente, também vale que
Aplicando o teorema de Pitágoras a tal triângulo retân-
gulo, obtemos que, para qualquer α, vale sen(α) = sen(α0 ) =⇒ cos(α) = ± cos(α0 ),
2 2
|sen(α)| + |cos(α)| = 12 . com observações análogas às feitas acima sobre a escolha
entre os sinais + ou −.
Para concluir, basta observar que independentemente do De posse de tais comentários, temos a seguinte solução
seno e cosseno de α serem positivos ou negativos, temos alternativa para o problema anterior.

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7
Solução 2. Construamos um triângulo retângulo que pos- Então, sen(α) = − 24 cos(α) e, substituindo essa igual-
sui um ângulo de medida β 0 tal que 0 < β 0 < π/2 e dade em (1), obtemos
cos(β 0 ) = 0,6. (Isto é possível, uma vez que  os valores 2
cos(β 0 ), com β 0 variando no intervalor 0, π2 , preenchem
 7
− cos(α) + cos2 (α) = 1.
todo o intervalo (0,1).) Como cos(β 0 ) = 0,6 = 10 6
, uma 24
maneira de construir tal triângulo é tomar um cateto de 2
+242
Isso é o mesmo que 7 24

medida 6 e a hipotenusa de medida 10. 2 cos2 (α) = 1 ou, ainda,
 24 2
cos2 (α) = .

EP
25
Como cos(α) < 0, temos cos(α) = − 24
25 e, daí,
10
6
7 7  24  7
sen(α) = − cos(α) = − − = .
24 24 25 25
β0
x
Os últimos dois exemplos são mais elaborados.

BM
Seja x a medida do outro cateto do triângulo. Aplicando Exemplo 6. Qual o valor máximo que cos(x) · sen(x) pode
o Teorema de Pitágoras, temos assumir quando x varia sobre todos os números reais.
x2 + 62 = 102 =⇒ x2 = 100 − 36 = 64. Solução. Ao elevar qualquer número real ao quadrado,
obtemos um número não negativo. Assim, para qualquer
Como x > 0, segue que x = 8. valor real de x, vale que
Ainda observando o triângulo, veja que
(sen(x) − cos(x))2 ≥ 0.
0 8
sen(β ) = = 0,8.
10 Desenvolvendo o lado esquerdo da inequação acima, ob-
lO
Como cos(β) = cos(β 0 ), aplicando (2) com β e β 0 no lugar temos
de α e α0 , obtemos
sen2 (x) − 2 sen(x) cos(x) + cos2 (x) ≥ 0
sen(β) = ±0,8.
ou, o que é o mesmo,
Mas como β está no terceiro quadrante, seu seno é nega-
tivo. Logo, sen(β) = −0,8. sen2 (x) + cos2 (x) ≥ 2 sen(x) cos(x).

Observação 4. Ao construir o triângulo acima, note que Agora, a relação fundamental fornece a igualdade
ta

há várias possibilidades para os comprimentos dos catetos; sen2 (x) + cos2 (x) = 1, o que reduz a última desigualdade
por exemplo, poderíamos ter escolhido 0,6 e 1 no lugar de a
1
6 e 10. A escolha que fizemos foi apenas para facilitar os sen(x) cos(x) ≤ .
cálculos, uma vez que 6 e 10 são números inteiros. Outra 2
ótima escolha seria 3 e 5, o que resultaria no “famoso” Para que 21 seja o valor máximo de sen(x) cos(x), resta
triângulo retângulo de lados 3, 4 e 5. checar que ele é atingido, isto é, que existe um valor real
r

de x tal que sen(x) cos(x) valha, de fato, 12 . Para tanto,


Um outro tipo de problema-padrão envolvendo a relação observe que teremos sen(x) cos(x) = 12 exatamente quando
Po

fundamental é o descrito pelo exemplo a seguir. tivermos


Exemplo 5. Calcule sen(α) e cos(α), sabendo que α per-
tence ao segundo quadrante e sen2 (x) + cos2 (x) = 2 sen(x) cos(x),

sen(α) 7 isto é, exatamente quando ocorrer a igualdade


= .
cos(α) 24
(sen(x) − cos(x))2 = 0.
Solução. Como α pertence ao segundo quadrante, temos
Então, para que sen(x) cos(x) = 21 , devemos ter sen(x) =
sen(α) > 0 e cos(α) < 0. Portanto, sen(α)
cos(α) < 0, de sorte cos(x). Testando x = π4 radianos, temos que sen(x) =
que √
sen(α) 7 cos(x) = 22 , o que nos dá a igualdade desejada.
=− . Dessa forma, o valor máximo de sen(x) cos(x) é 21 .
cos(α) 24

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Vale observar que, quando progredirmos um pouco mais 2 Sobre os propósitos da Trigono-
em nossa aprendizagem de Trigonometria, poderemos dar
uma solução muito mais simples para o exemplo anterior.
metria
Realmente, veremos que para todo real x vale a igualdade É instrutivo terminar este material tecendo uma observa-
sen(2x) = 2 sen(x) cos(x). ção genérica sobre os propósitos da Trigonometria.
Historicamente, a ideia por trás da criação da Trigo-
Dessa forma, e lembrando que todo seno vale no máximo nometria foi a de obter ferramentas que tornassem mais
1, obtemos imediatamente simples a análise de problemas de Geometria. Isso pode
parecer contraditório quando olhamos para a segunda solu-

EP
1 1
sen(x) cos(x) = sen(2x) ≤ . ção do Exemplo 3, na qual fizemos exatamente o contrário:
2 2
utilizamos argumentos geométricos para resolver um pro-
Para haver igualdade, devemos ter sen(2x) = 1, e uma
blema trigonométrico. Contudo, a razão é simplesmente
possibilidade é que seja 2x = π2 , o que fornece x = π4 .
que, até o momento, desenvolvemos muito pouca Trigono-
Uma modificação esperta da primeira solução do exem-
metria. À medida que avançarmos mais, ficará claro o quão
plo anterior resolve o próximo.
poderosa a Trigonometria é, como auxiliar à Geometria.
Exemplo 7. Encontre o valor máximo da expressão Posteriormente, com advendo da Física Newtoniana e
do conceito de função, ficou evidente que as funções trigo-

BM
9 sen(x) + 12 cos(x) nométricas sen e cos eram as ferramentas adequadas para
quando x varia nos reais. descrever uma série de fenômenos físicos, como por exem-
plo o movimento harmônico simples (MHS), no qual uma
Solução. Primeiramente, observe que 92 +122 = 152 . En- massa presa a uma mola presa a uma parede oscila na
tão, escrevemos direção do eixo definido pela mola, apoiada sobre uma su-
9 12  perfície suficientemente grande e sujeita a um atrito ciné-
9 sen(x) + 12 cos(x) = 15 sen(x) + cos(x) .
15 15 tico desprezível (veja a figura abaixo). De fato, pode ser
Veja agora que, para todo x real, temos
9 2  12 2
− sen(x) + − cos(x) ≥ 0.
lO
15 15
Expandindo os quadrados do primeiro membro, obtemos
92 + 122 2
2
+sen2 (x)+cos2 (x)− (9 sen(x)+12 cos(x)) ≥ 0.
15 15
Usando a relação fundamental, ficamos com
2
(9 sen(x) + 12 cos(x)) ≤ 2
15
ta

Figura 1: o movimento harmônico simples.


ou, ainda,
9 sen(x) + 12 cos(x) ≤ 15.
Como no exemplo anterior, para ver que o valor máximo mostrado (veja a referência [1] por exemplo) que
é 15, temos de mostrar que a igualdade ocorre para algum v0
x(t) = x0 cos(ωt) + sen(ωt), (3)
valor real de x. Também como antes, para a igualdade ω
r

devemos ter em que x(t) é a elongação da mola no instante t, medida


9 2  12 2
em relação a partir do repouso como mostrado na figura, e
− sen(x) + − cos(x) = 0,
Po

15 15 x0 , v0 e ω são parâmetros ligados às condições iniciais de


de sorte que movimento e à natureza da mola.
Dados a, b ∈ R e argumentando
√ como no Exemplo 7,
9 12 veremos posteriormente que a2 + b2 é o maior valor pos-
sen(x) = e cos(x) = .
15 15 sível para a sen(u) + b cos(u), à medida que u varia em R,
Ora, uma vez que de forma que
 9 2  12 2 p
+ = 1, |a sen(u) + b cos(u)| ≤ a2 + b2 .
15 15
12 9
 Aplicando este fato a (3), com a = vω0 , b = x0 e u = ωt,
o ponto 15 , 15 pertence ao primeiro quadrante do círculo obtemos r
trigonométrico, de forma que realmente existe um valor de v2
9
x tal que sen(x) = 15 e cos(x) = 12 |x(t)| ≤ x20 + 02 ,
15 . ω

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o que já ilustra bem a importância da Trigonometria (e da
relação fundamental)qcomo ferramenta matemática para a
v02
Física. A constante x20 + ω2 é conhecida como a ampli-
tude do MHS.

Dicas para o Professor


O objetivo aqui é continuar trabalhando com as fun-

EP
ções seno e cosseno, pensando no parâmetro dessas funções
como um número real qualquer. Vimos que a célebre rela-
ção fundamental da trigonometria continua valendo e que,
sabendo o quadrante do arco, o seno de um ângulo deter-
mina seu cosseno e vice-versa; da mesma forma, a razão
entre o seno e o cosseno determina cada um deles.
Recomendamos que esse material sejam apresentado em
dois encontros de 50 minutos, reservando o segundo encon-

BM
tro para a discussão dos dois últimos exemplos da primeira
seção, bem como para a discussão da segunda seção.
A referência [2] desenvolve os rudimentos de Trigonome-
tria necessários a aplicações geométricas. A referência [3]
traz um curso completo de Trigonometria.
A lista de exercícios, anexa a essa aula, traz vários exer-
cícios resolvidos, incluindo várias maneiras de utilizar a
relação fundamental para simplificar fórmulas trigonomé-
tricas. Assim, eles aprofundam o material dessa aula. Su-
gerimos que o leitor tente resolvê-los e verifique as soluções
lO
e em um segundo momento.

Sugestões de Leitura Complementar


1. A. Caminha. Fundamentos de Cálculo. SBM, Coleção
Profmat, Rio de Janeiro, 2014.
2. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Vo-
ta

lume 2: Geometria Euclidiana Plana. SBM, Rio de


Janeiro, 2013.

3. G. Iezzi Os Fundamentos da Matemática Elementar,


Volume 3: Trigonometria. Atual Editora, Rio de Ja-
neiro, 2013.
r
Po

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Material Teórico - Círculo Trigonométrico

Secante, cossecante e cotangente

EP
Primeiro Ano do Ensino Médio

Autor: Prof. Fabrício Siqueira Benevides


Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

BM
15 de dezembro de 2018
lO
ta
r
Po
1 Inversas numéricas: cossecante, (b) Para α = 3π/2, temos um arco que determina o ponto
P = (0, −1) no círculo trigonométrico. Assim,
secante e cotangente
sen(3π/2) = −1 e cos(3π/2) = 0.
As funções cossecante, secante e cotangente são conhecidas
como as inversas numéricas das funções seno, cosseno e Neste caso, como o cosseno é zero, tg(3π/2) e sec(3π/2)
tangente, nessa ordem. não estão definidas (ou seja, não existem). Mas, podemos
Lembre-se de que inverter um número real não nulo x calcular
significa calcular 1/x, ou seja, dividir 1 por x. Com isso, 1 1
csc(3π/2) = = = −1

EP
definimos sen(3π/2) −1
1 e
csc(α) = , desde que sen(α) 6= 0 cos(3π/2) 0
sen(α) ctg(3π/2) = = = 0.
sen(3π/2) −1
e
1 Vejamos, agora, como os valores de csc(α), sec(α) e
sec(α) = , desde que cos(α) 6= 0, ctg(α) aparecem geometricamente ao visualizarmos α no
cos(α)
círculo trigonométrico. Veremos também uma visualização
onde os símbolos csc(α) e sec(α) são lidos como “cossecante alternativa (à da aula passada) para tg(α).

BM
de alfa” e “secante de alfa”, respectivamente. Seja P = (cos(α), sen(α)) o ponto sobre o círculo trigo-
Ao definir a cotangente devemos ter mais cuidado. nométrico correspondente ao arco α. Como de costume,
Lembre-se de que tg(α) = sen(α)cos(α) , que só está definida sejam O = (0,0) e A = (1,0). Defina ainda B como o pé
quando cos(α) 6= 0. Por conta disso, definimos da perpendicular de P ao eixo dos cossenos e C o ponto de
encontro de OP com o eixo das tangentes (veja a Figura
cos(α) 1). Na aula 2 desse módulo vimos que C = (1, tg(α)).
ctg(α) = , desde que sen(α) 6= 0,
sen(α)
C
onde o símbolo ctg(α) é lido como “cotangente de alfa”.
Veja que quando sen(α) 6= 0 e cos(α) 6= 0, temos sen
E
lO
|ct
1 gα
tg(α) = . |
P

|tg α|
ctg(α)
|csc|

Contudo, há valores de α para os quais ctg(α) existe mas |tg


|sen α|

α|
tg(α) não existe, e vice-versa. 1

Exemplo 1. Escreva os valores de sen(α), cos(α), tg(α), α


sec(α), csc(α) e ctg(α) em cada item abaixo: O |cos α| B A D cos
ta

(a) α = π/6. |sec α|

(b) α = 3π/2.

Solução.
(a) Para α = π/6 (e lembrando que π/6 rad = 30◦ ), vimos
r

na aula 1 que
Figura 1: principais razões trigonométricas.
√ √
Po

1 3 3
sen(π/6) = , cos(π/6) = e tg(π/6) = . Também nas notações da Figura 1, trace a reta r, que
2 2 3 passa por P e é tangente ao círculo trigonométrico. Veja
Como todos esses valores são diferentes de zero, para cal- que OP é perpendicular a r (pelo fato de r ser tangente ao
cular os demais valores basta inverter as frações correspon- círculo e OP ser raio dele). Seja D o ponto de interseção
dentes: de r com o eixo dos cossenos (eixo horizontal) e E o ponto
de interseção de r com o eixo dos senos (eixo vertical).
2 3 Como ∠OBP = ∠OP D = 90◦ , os triângulos OP B,
csc(π/6) = 2, sec(π/6) = √ e ctg(π/6) = √ .
3 3 ODP são semelhantes, pelo caso “ângulo, ângulo” (já que
ambos também possuem α como ângulo). Logo,
(Note que a cossecante é a inversa numérica do seno e não
do cosseno.) OD OP OD 1
= =⇒ = =⇒ OD = |sec(α)|
OP OB 1 |cos(α)|

http://matematica.obmep.org.br/ 1 matematica@obmep.org.br
e A função inversa de uma função f : A → B foi definida
no módulo “Funções - Noções Básicas” do Nono Ano. Con-
DP BP DP |sen(α)| forme estudamos, a função inversa de f só existe quando
= =⇒ = =⇒ DP = |tg(α)| .
OP OB 1 |cos(α)| f é bijetiva. Nesse caso, a inversa é a função f −1 : B → A
tal que, para todos x ∈ A e y ∈ B,
Pelo menos raciocínio, considerando o pé da perpendi-
cular de P ao eixo dos senos, conclui-se que f (x) = y ⇐⇒ f −1 (y) = x.

OE = |csc(α)| e EP = |ctg(α)| . Consideremos primeiramente a função sen. Sua inversa

EP
em y é usualmente representada como sen−1 (y) ou como
Se considerados também os casos em que P se encon- arcsen(y) (lê-se arco-seno de y). Enquanto a função sen
tra nos demais quadrantes, as relações acima continuam recebe um arco x e nos informa uma razão trigonométrica
satisfeitas. Além disso, sempre vale que D = (sec(α), 0) e (variando de −1 a 1), temos que a função arcsen recebe
E = (0, csc(α)). Note que, nas coordenadas de D e E, ao um número y no intervalo [−1, 1] e nos informa um arco
contrário das expressões anteriores, não tomamos o valor cujo seno é igual a y. Contudo, há um problema: para
absoluto. cada valor de y, se considerássemos o domínio da função
seno como o conjunto de todos os números reais, existiriam
Exemplo 2. Mostre que tg2 (α) + 1 = sec2 (α), sempre que
vários arcos que possuiriam seno igual a y (como mostra o

BM
tg(α) e sec(α) estiverem definidas, ou seja, sempre que
exemplo seguinte), enquanto a função arcsen deve escolher
cos(α) 6= 0.
apenas um deles.
Solução 1. Isso é consequência imediata do teorema de Exemplo 3. Encontre todos os arcos α que satisfazem
Pitágoras aplicado ao triângulo OP D da Figura 1. sen(α) = 1/2.
Solução 2. Na aula passada, vimos que Solução. Conforme podemos perceber no círculo trigono-
métrico abaixo, para que um arco possua seno igual a 1/2
sen2 (α) + cos2 (α) = 1, ele deve ser congruente a um arco de medida π/6 ou 5π/6
(os quais equivalem a 30◦ e 150◦ , respectivamente).
igualdade obtida aplicando o teorema de Pitágoras ao tri-
lO
ângulo OBP da Figura 1. Como estamos considerando π
2
que cos(α) 6= 0, podemos dividir ambos os lados da equa-
ção acima por cos2 (α). Daí,
1
5π 2 π
2 2 6 6
sen (α) cos (α) 1
+ =
cos2 (α) cos2 (α) cos2 (α)

ou, o que é o mesmo, π 2π


ta

 2  2
sen(α) 1
+1= .
cos(α) cos(α)

Por fim, a última igualdade acima é claramente equivalente


a 3π
2
r

tg2 (α) + 1 = sec2 (α).


Assim, sen(α) = 1/2 se, e somente se, existe um inteiro
Po

k tal que:
2 As funções inversas: arcoseno,
π 5π
arcocosseno, arcotangente. α=
6
+ 2kπ ou α =
6
+ 2kπ.

Em contraste com a seção anterior, dessa vez estamos in- Voltando à discussão anterior, o problema é essencial-
teressados em definir (com domínios apropriados) as fun- mente que a função seno, com domínio R, não é bije-
ções inversas das funções cosseno, seno e tangente. Essas tiva. Para resolver essa situação, a solução é restringir
funções são chamadas, respectivamente, de funções arco- o domínio da função seno, considerando apenas arcos va-
cosseno, arcoseno e arcotangente. riando de −π/2 a π/2. O motivo da escolha do intervalo
Por exemplo, não estamos mais interessados no inverso I = [−π/2, π/2] é que este é o maior intervalo ao qual per-
do número cos(α), mas sim na função inversa da função tence o número 0 e tal que sen : I → [−1,1] é bijetiva.
cosseno. Isso pode ser evidenciado observando o gráfico da função

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seno na Figura 2: apagando a parte que está pontilhada, o Agora, consideremos a função cos. Assim como fizemos
gráfico que sobra é tal que toda reta horizontal que corta com a função seno, se considerarmos o domínio de cos como
o eixo-y de −1 a 1 intersecta o gráfico em exatamente um o conjunto de todos os números reais, essa função não será
ponto (com abscissa situada de −π/2 a π/2). bijetiva. Observando o gráfico da função cosseno (veja a
Figura 4), dessa vez o intervalo I que contém o número
y y = sen(x) zero e é tal que cos : I → [−1, 1] é bijetiva é I = [0,π].
1
y
x 1 y = cos(x)

EP
− 3π −π − π2 π π 3π
2 2 2

−1 x
− 3π −π − π2 π π 3π
2 2 2

−1
Figura 2: gráfico da função seno, de −5 a 5.

Figura 4: gráfico da função cosseno, de −5 a 5.


Com isso, podemos definir a função

BM
arcsen : [−1, − 1] → [−π/2, π/2] Com isso, podemos definir a função

da seguinte forma: arccos : [−1, − 1] → [0, π]

( de modo que
sen(x) = y e
arcsen(y) = x ⇐⇒
−π/2 ≤ x ≤ π/2. (
cos(x) = y e
arccos(y) = x ⇐⇒
0 ≤ x ≤ π.
Por construção, o valor de arcsen(x) está unicamente
determinado, para todo x tal que −1 ≤ x ≤ 1. O grá-
lO
fico dessa função é exibido na Figura 3; como ocorre com Seu gráfico é mostrado na figura a seguir (novamente, ob-
os gráficos de funções inversas em geral, o gráfico da fun- serve sua relação com o gráfico da função cosseno no inter-
ção arcsen é obtido refletindo o gráfico da função seno, no valo [0,π]).
intervalo de −π/2 a π/2, em relação à reta x = y.
y
y
π
π/2
ta

y = arcsen(x)
π/2
x y = arccos(x)
−1 1

x
r

−1 1
−π/2
Po

Figura 5: gráfico de arcocosseno.


Figura 3: gráfico da função arcoseno.
Problema 5. Mostre que, para todo x ∈ [−1, 1], vale a
igualdade
Exemplo 4. Encontre o valor de arcsen(1/2). π
arcsen(x) + arccos(x) = .
2
Solução. Queremos encontrar um arco de medida x tal
que sen(x) = 1/2 e −π/2 < x < π/2. Observando a Por fim, faremos uma discussão análoga à acima para ob-
solução do Exemplo 3, temos que único valor de x que ter a inversa da função tg. O intervalo do domínio ao qual
satisfaz isso é x = π/6. Logo, ela será restringida é o intervalo aberto (−π/2, π/2), o que
pode ser evidenciado pela Figura 6, levando em conside-
arcsen(1/2) = π/6. ração que a tangente não está definida quando x = −π/2

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ou x = π/2, de modo que −π/2 e π/2 não pertencem tg, eles são bem diferentes. A principal diferença é que
ao domínio de tg. Uma diferença fundamental é que, seus domínios e contra-domínios são diferentes; em espe-
mesmo quando x varia apenas entre −π/2 e π/2, o va- cial, o valor máximo atingido no gráfico de arcsen é π/2,
lor de tg(x) varia sobre todos os números reais. Assim, enquanto que o gráfico de tg pode assumir valores tão gran-
a função inversa, arctg, possui como domínio o conjunto des quanto se queira. Por isso, não há como desenhar to-
de todos os reais e como contra-domínio o intervalo aberto dos os pontos desse gráfico no papel e, na Figura 6, temos
(−π/2, π/2). que imaginar que o gráfico se estende infinitamente para
cima, assim como para baixo. Além disso, as curvaturas
y y = tg(x) desses dois gráficos não são as mesmas. Apesar de serem

EP
3 parecidas a olho nu, o gráfico de tg é bem mais alongado
que o de arcsen. A diferença fica clara nas Figuras 2 e 7,
2 quando comparamos suas inversas sen e arctg.

Exemplo 7. Quais os valores de arccos(−1/2) e arctg(1)?


1
Marque o ponto (−1/2, arccos(−1/2)) no gráfico da Fi-
gura 5 e o ponto (1, arctg(1)) no gráficos da Figura 7.
− 3π −π − π2 π π 3π x
2 2 2
Demonstração. Se arccos(1/2) = x, então x é um arco tal

BM
−1 que cos(x) = −1/2 e 0 ≤ x ≤ π. Como cos(x) é negativo,
temos que x pertence ao segundo ou ao terceiro quadrante.
−2 Mas, como 0 ≤ x ≤ π, podemos concluir que x pertence ao
segundo quadrante. Observando o círculo trigonométrico
−3 abaixo, temos que cos(π − x) = − cos(x) = 1/2.

Figura 6: gráfico de tangente no intervalo de −5π/2 a 5π/2. π


2π 2 π
3 3

Formalmente, definimos a função


lO
arctg : R → (−π/2, π/2)

de modo que π 2π
−1 1
( 2 2
tg(x) = y e
arctg(y) = x ⇐⇒
−π/2 < x < π/2.
ta

Seu gráfico, mostrado na figura a seguir, é obtido pela 3π


reflexão, em torno da reta y = x, da porção 2
 do gráfico da
função tangente no intervalo − π/2,π/2 .
Por outro lado, o ângulo entre 0 e π/2 cujo cosseno é
y 1/2 é π/3. Logo,
r

π/2 y = arctg(x) π − x = π/3 =⇒ x = π − π/3 = 2π/3.


Po

π/4 Deixamos a cargo do leitor, marcar o ponto (−1/2, 2π/3)


na Figura 5.
x
−4 −3 −2 −1 1 2 3 4 Agora, vamos calcular arctg(1). Queremos encontrar um
−π/4 arco β tal que tg(β) = 1 e −π/2 < β < π/2. Veja que
tg(β) = 1 equivale a sen(β) = cos(β), e sabemos que o
−π/2 ângulo que satisfaz isso é β = π/4 (que corresponde a 45
graus e nós dá um triângulo retângulo isósceles). Para fi-
nalizar, pedimos que o leitor marque o ponto (1, π/4) no
Figura 7: gráfico de arcotangente, de −4 a 4. gráfico da Figura 7. Veja que o valor do ângulo em graus
não deve ser considerado ao fazer isso, pois em todos os
Observação 6. Apesar de que o formato do gráfico da fun- gráficos consideramos apenas medidas de arcos em radia-
ção arcsen lembra um pouco o formato do gráfico função nos.

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Sugerimos que o leitor consulte a lista de exercícios
anexa a esse material, pois ela aprofunda o que estuda-
mos na primeira seção com vários exercícios resolvidos.
Problema 8. Utilize a relação fundamental da trigonome-
tria para mostrar que, para todo x ∈ [−1, 1], tem-se:
p
cos(arcsen(x)) = 1 − x2 ,
p

EP
sen(arccos(x)) = 1 − x2 ,
x
tg(arcsen(x)) = √ .
1 − x2

Dicas para o Professor


Neste módulo, vimos apenas os conceitos básicos neces-

BM
sários para entender como as funções sec, csc, ctg, arcsen,
arccos e arctg são definidas, fazendo a distinção entre in-
versa numérica e função inversa. Além da relação funda-
mental, estudada na aula anterior, existem inúmeras ou-
tras relações entre essas funções. Há várias aplicações des-
sas funções, tanto em Matemática como em outras ciências,
que não abordamos aqui. Recomendamos que o leitor inte-
ressado continue seu estudos em Trigonometria pelas refe-
rências abaixo. Esse conhecimento será muito importante
em disciplinas mais avançadas, durante o Ensino Superior.
lO
A referência [1] desenvolve os rudimentos de Trigonome-
tria necessários a aplicações geométricas. A referência [2]
traz um curso completo de Trigonometria.

Sugestões de Leitura Complementar


1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Vo-
ta

lume 2: Geometria Euclidiana Plana. SBM, Rio de


Janeiro, 2013.
2. G. Iezzi Os Fundamentos da Matemática Elementar,
Volume 3: Trigonometria. Atual Editora, Rio de Ja-
neiro, 2013.
r
Po

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Material Teórico - Redução ao Primeiro Quadrante e Funções Trigonométricas

Redução ao Primeiro Quadrante

EP
Primeiro Ano do Ensino Médio

Autor: Prof. Fabrício Siqueira Benevides


Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

BM
19 de janeiro de 2019
lO
r ta
Po
1 Redução ao Primeiro Quadrante sen
(0,1)
Nó módulo “Círculo Trigonométrico”, também do primeiro
ano, aprendemos que esse círculo é aquele de raio 1 com II I
centro na origem, o ponto O = (0,0), do plano cartesiano. P
Consideramos o ponto A = (1,0) e, dado um comprimento

|sen β|
β de um arco, marcamos o ponto P sobre o círculo trigo- 1
nométrico tal que AP
˜ mede β. Assim fazendo, definimos
β
os números cos β e sen β de tal sorte que

EP
(−1,0) |cos β| (1,0) cos
P = (cos β, sen β). (1)

Note que, aqui, escrevemos simplesmente sen β no lugar


de sen(β), apenas pelo fato de a primeira notação ser mais III IV
compacta. Ambas essas notações têm o mesmo significado, (0, −1)
mas a primeira deve ser usada com cautela, especialmente
em expressões longas, para não haver risco de ambiguida-

BM
Figura 1: seno e cosseno no primeiro quadrante.
des.
Quando 0 < β < π/2, podemos construir um triângulo
retângulo com um ângulo interno de medida β radianos romanos, respectivamente) em sentido anti-horário, sendo
e, portanto, com os outros dois ângulos internos medindo o primeiro quadrante aquele formado pelos pontos em que
π/2 e π/2 − β (lembre-se de que π/2 radianos corresponde ambas as coordenadas são positivas (veja os numerais I, II,
a 90◦ ). III, IV na Figura 1).
Conforme estudado no módulo “Razões Trigonométricas Sem perda da generalidade, assuma que 0 < β < 2π.
no Triângulo Retângulo: Seno, Cosseno e Tangente” do (Não sendo esse o caso, podemos substituir β por sua me-
Nono Ano do EF, em um tal triângulo temos: nor determinação positiva, conforme estudado na primeira
lO
medida do cateto oposto a β aula do módulo “Círculo Trigonométrico”.) Como antes,
sen β = , assuma que β = AP ˜ e vamos considerar separadamente
medida da hipotenusa
os casos em que P se encontra em cada um dos quatro
medida do cateto adjacente a β quadrantes. Em cada caso, definiremos um ponto Q e to-
cos β = ,
medida da hipotenusa maremos α = AQ. ˜ Com uma escolha adequada de Q,
teremos
medida do cateto oposto a β
tg β = .
medida do cateto adjacente a β |sen β| = sen α e |cos β| = cos α.
ta

Ademais, se escolhermos tal triângulo de modo que a me- Observe que podemos encontrar os sinais de sen β e cos β
dida de sua hipotenusa seja igual a 1, teremos sen β e cos β dependendo do quadrante de P .
como as medidas do cateto oposto e do cateto adjacente
a β, respectivamente. A Figura 1, mostra como escolher
tal triângulo fazendo com que sua hipotenusa coincida com 1.1 Do segundo ao primeiro quadrante
um raio do círculo trigonométrico. A Figura 2 mostra um exemplo com P no segundo qua-
r

Contudo, quando β não pertence ao intervalo aberto drante, isto é, com π/2 < β < π. Veja que, neste caso,
0, π2 , não existe triângulo retângulo com um ângulo in-

temos cos β < 0 e sen β > 0. Denotando por B o pé da
Po

terno de medida β radianos. Neste caso, podemos usar perpendicular baixada de P ao eixo x, temos
a técnica de redução ao primeiro quadrante para calcu-
lar o seno, o cosseno e a tangente de β. Essa técnica já P B = sen β e OB = − cos β.
foi esboçada no módulo Círculo Trigonométrico, mas a re-
petiremos aqui adicionando mais detalhes e exemplos. A Vamos escolher o ponto Q como sendo o simétrico de
ideia é, a partir de β, obter um certo ângulo α entre 0 e P em relação ao eixo y (veja a Figura 2); assim, como
π/2 e relacionar os valores de sen β e cos β com os de sen α P = (cos β, sen β), temos Q = (− cos β, sen β). Por outro
e cos α. lado, sendo α = AQ,
˜ também temos Q = (cos α, sen α).
Lembre-se de que os eixos do plano cartesiano dividem Comparando as duas expressões para as coordenadas do
o Círculo Trigonométrico em quatro partes. Cada parte é ponto Q, obtemos
denominada um quadrante e, por convenção, os quadrantes
são numerados de I até IV (um até quatro em algarismos sen β = sen α e cos β = − cos α.

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Agora, seja B 0 o pé da perpendicular baixada de Q ao Desta vez, vamos escolher Q como sendo o simétrico
eixo x (observe novamente a Figura 2). A simetria entre P de P em relação à origem O do plano cartesiano (veja a
e Q em relação ao eixo y assegura a simetria de B e B 0 em Figura 2). Em particular, Q pertence ao primeiro qua-
relação ao mesmo eixo, de modo que os triângulos OP B e drante e os pontos P , O e Q são colineares. Assim,
OQB 0 são congruentes, pelo caso “lado, lado, lado”. Logo, como P = (cos β, sen β), temos que Q = (− cos β, − sen β).
P OB
“ = QOB “ 0 . Por outro lado, P OB
“ = π − β. Portanto, Agora, sendo α = AQ,˜ também podemos escrever Q =
(cos α, sen α). Comparando novamente as duas expressões
α = AQ “ 0 = P OB
˜ = QOB “ = π − β.
acima para as coordenadas de Q, obtemos

EP
Substituindo essa expressão para α nas expressões que sen β = − sen α e cos β = − cos α.
relacionam sen α com sen β e cos α com cos β, concluímos
que Também como antes, seja B 0 o pé da perpendicular de
Q traçada ao eixo x. Veja que P OB “ = QOB “ 0 , pois estes
sen β = sen(π − β) e cos β = − cos(π − β). (2) são ângulos opostos pelos vértice. Por outro lado, P OB
“ =
β − π, de sorte que
sen
α = AQ “ = β − π.
˜ = P OB

BM
II P Q I Substituindo essa expressão para α nas relações entre
sen α, sen β e cos α, cos β, chegamos a

1 1
sen β = sen(β − π) e cos β = − cos(β − π). (3)
β
α α A(1,0)
sen
B O B0 cos

Q
II I
lO
III IV 1
β
B α A(1,0)

α O B0 cos
Figura 2: seno e cosseno no segundo quadrante.

1
Observação 1. É possível mostrar que as equações em (2)
ta

são válidas para qualquer valor de β (contudo, apenas no


caso em β está no segundo quadrante é que temos π − β III P IV
situado no primeiro quadrante).
A partir das fórmulas (2) e levando em consideração a
observação acima, temos também Figura 3: seno e cosseno no terceiro quadrante.
r

sen β sen(π − β) Temos também que


tg β = = = − tg(π − β),
cos β − cos(π − β)
Po

sen β − sen(β − π)
para todo valor de β tal que cos β 6= 0. tg β = = = tg(β − π).
cos β − cos(β − π)

1.2 Do terceiro ao primeiro quadrante Uma vez que β = π + α, isso também equivale a

A Figura 3 mostra um exemplo com P no terceiro qua- tg(π + α) = tg(α).


drante, isto é, com π < β < 3π/2. Assim sendo, temos
cos β < 0 e sen β < 0. Logo, para o ponto B como antes Observação 2. O argumento deste caso é essencialmente
(isto é, para B sendo o pé da perpendicular baixada de P o mesmo do caso anterior. Porém, o fato de P estar no
ao eixo x), temos terceiro quadrante faz com que os sinais de sen β e cos β
sejam diferentes comparados ao caso anterior, assim como
P B = − sen β e OB = − cos β. a relação entre β e α é diferente.

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Também é possível mostrar que as equações em (3), as- Temos também que
sim como a relação entre tg α e tg β são válidas para qual- sen β − sen(2π − β)
quer valor de β (a última delas contanto que cos β 6= 0. tg β = = = − tg(2π − β).
cos β cos(2π − β)
Mas, apenas no caso em β está no terceiro quadrante, te-
mos que β − π está no primeiro quadrante. Observação 3. Como nos outros casos, as equações em (4)
também valem para qualquer arco β (no caso da tagente,
contanto que cos β 6= 0. Contudo, o caso em que β está
1.3 Do quarto ao primeiro quadrante
no terceiro quadrante é interessante pois 2π − β está no
Como último caso, a Figura 4 mostra um exemplo com P primeiro quadrante.

EP
no quarto quadrante, isto é, com 3π/2 < β < 2π. Veja que,
Antes de examinarmos alguns exercícios, cumpre tra-
desta feita, temos cos β > 0 e sen β < 0. Logo, definindo o
duzirmos as fórmulas obtidas nas subseções anteriores, de
ponto B como antes, temos
radianos para graus. Fazemos isto no exemplo a seguir.
P B = − sen β e OB = cos β. Exemplo 4. Traduza de radianos para graus as relações
(2), (3) e (4) obtidas nas subseções acima.
Escolhendo o ponto Q como o simétrico de P em relação
Solução. Lembre-se de que π radianos equivalem a 180◦ .
ao eixo x (veja a Figura 4), temos Q situado no primeiro
Assim, para β no segundo quadrante temos, em graus,
quadrante. Ainda pela simetria, juntamente com o fato

BM
90◦ < β < 180◦ . Ao reduzir ao primeiro quadrante, esco-
de que P = (cos β, sen β), obtemos Q = (cos β, − sen β).
lhemos α = 180◦ − β, de modo que
Por outro lado, sendo α = AQ, ˜ também temos Q =
(cos α, sen α). Assim, comparando as duas expressões para sen β = sen(180◦ − β) e cos β = − cos(180◦ − β).
as coordenadas de Q, vem
Quando β está no terceiro quadrante, temos em graus
que 180◦ < β < 270◦ . Neste caso, α = β − 180◦ está no
sen β = − sen α e cos β = cos α.
primeiro quadrante e satisfaz
Neste caso, o pé B 0 da perpendicular baixada de Q ao sen β = − sen(β − 180◦ ) e cos β = − cos(β − 180◦ ).
eixo x coincide com o ponto B. Então, os triângulos OP B
e OQB são congruentes pelo caso “lado, lado, lado”, de Por fim, quando β está no quarto quadrante, temos em
lO
sorte que P OB
“ = QOB. “ graus que 270◦ < β < 360◦ . Também, o arco α = 360◦ − β
Por outro lado, P OB = 2π − β. Portanto,
“ está no primeiro quadrante e satisfaz
sen β = − sen(360◦ − β) e cos β = cos(360◦ − β).
α = AQ
˜ = QOB “ = 2π − β.
“ = P OB

Concluímos, pois, que

sen β = − sen(2π − β) e cos β = cos(2π − β). (4) 2 Exercícios


ta

Para os exercícios seguintes sugerimos que, antes de ler


sen suas soluções, o leitor desenhe os ângulos envolvidos sobre
o Círculo Trigonométrico e use as devidas simetrias, no
lugar de simplesmente utilizar as fórmulas apresentadas
II Q I na seção anterior. Abaixo, relembramos os valores do seno,
r

cosseno e tangente de alguns ângulos notáveis.

1 Ângulo Ângulo
Po

sen cos tg
α A(1,0)
(graus) (radianos)
β B
O α cos 0◦ 0 0 1 0
√ √
π 1 3 3
30◦
1 6 2 2 3
√ √
π 2 2
45◦ 1
4 2 2
III P IV √
π 3 1 √
60◦ 3
3 2 2
π
Figura 4: seno e cosseno no quarto quadrante. 90◦ 1 0 6∃
2

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sen

Exemplo 5. Calcule os valores de sen 120◦ e cos 120◦ .


II I
Solução. Veja que 120◦ pertence ao segundo quadrante,
Q
pois 90◦ < 120◦ < 180◦ . Assim, de acordo com a Fi-
gura 2, ao reduzir 120◦ para o primeiro quadrante, obte-
1
mos um ângulo
√ de 60◦ . De acordo com a tabela anterior,
144◦
sen 60 = 3/2 e cos 60◦ = 1/2. Mas, como sen 120◦ > 0

A0 (−1,0) A(1,0)
36◦
e cos 120◦ < 0, temos que:

EP
36◦ O cos

◦ ◦ 3
sen 120 = sen 60 = 1
2
e
1 P
cos 120◦ = − cos 60◦ = − .
2 III IV
Exemplo 6. Calcule os valores de sen(5π/6) e cos(5π/6).
Solução. Veja que 5π/6 pertence ao segundo quadrante,

BM
pois está entre π/2 e π. Como no problema anterior, ob-
servando a Figura 2, reduzimos esse arco ao arco do pri-
meiro quadrante π − 5π/6 = π/6. Por√outro lado, sabemos Exemplo 9. Se R = sen 130◦ + cos 130◦ . Decida, com
que sen(π/6) = 1/2 e cos(π/6) = 3/2. Então, como justificativa, se R é positivo, negativo ou igual a zero.
sen(5π/6) > 0 e cos(5π/6) < 0, temos:
√ Solução. A figura seguinte nos mostra um ângulo de 130◦ ,
1 3 juntamente com o arco correspondente sobre o Círculo
sen(5π/6) = e cos(5π/6) = − .
2 2 Trigonométrico. Veja que sen 130◦ > 0 enquanto que
Exemplo 7. Qual o valor de tg(5π/4)? cos 130◦ < 0. Se B é o pé da perpendicular de P traçada
ao eixo x, temos
Solução. Veja que π < 5π/4 < 3π/2, logo, 5π/4 pertence
lO
ao terceiro quadrante; então, tg(5π/4) > 0. De acordo com P B = sen 130◦ e BO = − cos 130◦ .
Figura 3, ao reduzir 5π/4 ao primeiro quadrante, obtemos
α = 5π/4 − π = π/4. Logo, Logo,
tg(5π/4) = tg(π/4) = 1. R = P B − BO.

Exemplo 8. Encontre o ângulo α tal que 0◦ ≤ α < 360◦ , “ = 180◦ − 130◦ =


No triângulo P BO, temos que P OB
◦ ◦
50 , de sorte que B P O = 40 . Como o menor lado de um

sen α = − sen 216◦ e cos α = cos 216◦ . triângulo é o oposto ao seu menor ângulo, concluímos que
BO < P B. Logo, R > 0.
ta

Solução. Essa pergunta é diferente das anteriores, mas


podemos atacá-la de maneira similar. Primeiro, vamos
sen
identificar o quadrante de 216◦ . Como 180◦ < 216◦ <
270◦ , temos sen(216) < 0 e cos(216) < 0. Então, as igual-
dades do enunciado garantem que sen(α) > 0 e cos(α) < 0. II P I
Isso, juntamente com 0◦ ≤ α < 360◦ , indica que α pertence
r

ao segundo quadrante.
Sejam A = (1,0), A0 = (−1, 0) e P o ponto do Cír- 1
Po

culo Trigonométrico tal que AOP “ = 216◦ (com o arco


130◦
AP medido no sentido anti-horário, de A para P ). Agora,
˜ 50◦ A(1,0)

observe que a redução de 216◦ ao primeiro quadrante é B O cos


216◦ − 180◦ = 36◦ .
A fim de obter o ponto do segundo quadrante corres-
pondente a α, tomemos Q como o simétrico de P em
relação ao eixo x (veja a figura a seguir). Temos que
“ 0 = A0 OP
QOA “ = 36◦ . Daí, AOQ“ = 180◦ − 36◦ = 144◦ . III IV
Por fim, veja que α = 144◦ satisfaz as condições do
enunciado, pois
sen 144◦ = − sen 216◦ e cos 144◦ = cos 216◦ .

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Exemplo 10. Calcule os valores de sen 1410◦ , cos 1410◦ e Exemplo 13. Na figura a seguir, temos um círculo de raio
tg 1410◦ . 1, com centro em O, e sabemos que os pontos P , O e
Solução. Neste caso, vamos primeiro calcular a menor de- Q são colineares. Sabendo que o arco trigonométrico AP
˜
terminação positiva de 1410◦ . Para isso, começamos divi- mede 2π/3 radianos, calcule a área do triângulo OCD.
dindo 1410 por 360, obtendo
sen
1410 = 3 · 360 + 330.
P
Logo, 1410◦ e 330◦ são congruentes, de modo que II C I

EP
sen 1410◦ = sen 330◦ e cos 1410◦ = cos 330◦ .
1
Agora, basta reduzir 330◦ ao primeiro quadrante. Ob-
servando que 270◦ < 330◦ < 360◦ , vemos que o arco cor- 120◦
D A(1,0)
respondente a 330◦ pertence ao quarto quadrante. En-
O cos
tão, revisitando a Figura 4, vemos que devemos tomar B
α = 360◦ − 330◦ = 30◦ . Dessa forma, segue que
1
1
sen 1410◦ = sen 330◦ = − sen 30◦ = − ,

BM
√ 2
3 III IV
cos 1410◦ = cos 330◦ = cos 30◦ = . Q
2√
3
tg 1410◦ = tg 330◦ = − tg 30◦ = − .
3
Solução 1. Inicialmente, observe que 2π/3 radianos cor-
Exemplo 11. Lembre-se de que arcos complementares são respondem a 120◦ . Então, temos
aqueles cuja soma é igual a π/2 e suplementares são aque-
les cuja soma é igual a π. Sabendo que α e β são comple- OC = |sen(120◦ )| e OB = |cos(120◦ )| .
mentares e que β e γ são suplementares, com cos γ 6= 0,
lO
calcule a razão entre sen α e cos γ. Conforme calculado no Exemplo 5, tais igualdades forne-
Solução. Como α e β são complementares, temos que α+ cem √
β = π2 . No Módulo “Círculo Trigonométrico” vimos que 3 1
OC = e OB = .
isso implica que sen α = cos β. 2 2
Agora, β e γ satisfazem β + γ = π, de sorte que (2) Como P , O e Q são colineares, temos P OB
“ = DOQ,

fornece cos β = − cos γ. Então, sen α = − cos γ e a razão pois são opostos pelo vértice. Consequentemente, seus
pedida é igual a complementos também são iguais, isto é, B P“O = DQO.

sen α sen α Mas, como P O = QO, segue que os triângulos OP B e
ta

= = −1.
cos γ − sen α QOD são congruentes, pelo caso “ângulo, lado, ângulo”.
Logo, OD = OB.
Exemplo 12. Sabendo que sen α = 3/5 e que α pertence
Assim, a área do triângulo OCD é igual a:
ao segundo quadrante, calcule os valores de cos α e tg α.
√ √
Solução. Recordemos que, pela relação fundamental, 1 1 3 1 3
· OC · OD = · · = .
r

tem-se 2 2 2 2 8
sen2 α + cos2 α = 1.
“ = 120◦ − 90◦ = 30◦ . Como
Solução 2. Temos C OP
Po

Logo,
OP = 1, observando o triângulo COP temos
 2
3 9 16
+ cos2 α = 1 =⇒ cos2 α = 1 − = . P C = sen 30◦ e OC = cos 30◦ .
5 25 25
Como α pertence ao segundo quadrante, temos cos α < Logo,
0. Assim, √
1 3
PC = e OC = .
r
16 4 2 2
cos α = − =− .
25 5
Como na solução anterior, concluímos que os triângulos
Por fim, temos
COP e DOQ são congruentes. Então, OD = P C e po-
3/5 3 demos calcular a área de OCD da mesma forma que na
tg α = =− . primeira solução.
−4/5 4

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Exemplo 14. Sabendo que α, β e γ são os ângulos de um Sugestões de Leitura Complementar
triângulo não retângulo, calcule o valor numérico da ex-
pressão 1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Vo-
lume 2: Geometria Euclidiana Plana. SBM, Rio de
sen(α + β) Janeiro, 2013.
R= + tg(α + β + 2γ) ctg(α + β)
sen γ
2. G. Iezzi Os Fundamentos da Matemática Elementar,
Solução. Temos que α + β + γ = π. Logo, Volume 3: Trigonometria. Atual Editora, Rio de Ja-
neiro, 2013.
sen(α + β) = sen(π − γ) = sen γ

EP
e, daí,
sen(α + β) sen γ
= = 1.
sen γ sen γ
Por outro lado,

tg(α + β + 2γ) = tg(π + γ) = tg γ,

BM
ao passo que
1 1 1
ctg(α + β) = = = .
tg(α + β) tg(π − γ) − tg γ

(Note que os cálculos acima têm sentido, uma vez que γ 6=


90◦ ⇒ cos γ 6= 0.) Combinando os dois últimos resultados,
temos que
tg γ
tg(α + β + 2γ) ctg(α + β) = = −1.
− tg γ
lO
Então, a expressão do enunciado vale

R = 1 − 1 = 0.

Dicas para o Professor


ta

Este módulo tem como pré-requisitos o bom entendi-


mento das noções geométricas de simetria (em relação a
uma reta ou a um ponto) e conhecimentos básicos sobre
congruência de triângulos. É imprescindível fazer várias fi-
guras e exemplos para que a redução ao primeiro quadrante
se torne natural. Observe que as escolhas do ângulo α em
r

função de β, feitas na Seção 1, são consequências naturais


das simetrias encontradas. Por isso, melhor do que memo-
Po

rizar as relações (2), (3) e (4) é sempre tentar visualizá-las.


De toda forma, após usá-las várias vezes, elas acabarão
sendo memorizadas.
Recomendamos que o professor aborde o conteúdo desta
aula em dois ou três encontros de 50 minutos. A referência
[1] desenvolve os rudimentos de Trigonometria necessários
a aplicações geométricas. A referência [2] traz um curso
completo de Trigonometria.

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Material Teórico - Redução ao Primeiro Quadrante e Funções Trigonométricas

A Lei dos Cossenos Revisitada

EP
Primeiro Ano do Ensino Médio

Autor: Prof. Fabrício Siqueira Benevides


Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

BM
23 de março de 2019
lO
r ta
Po
1 A Lei dos Cossenos Revisitada medidas dos outros dois lados, ou seja, dos catetos). Por
outro lado, no módulo “Círculo Trigonométrico”, defini-
Nas vídeos aulas “Lei dos Senos e dos Cossenos” do mó- mos que o cosseno de π/2 radianos é igual a zero. Assim,
dulo de mesmo nome, a lei dos cossenos é apresentada e se substituirmos α por π/2 na equação (1), também obte-
demonstrada em dois casos distintos. Lembre-se de que, mos a2 = b2 + c2 . Ou seja, a equação (1) também é válida
para aplicar a lei dos cossenos, devemos escolher um tri- para α = π/2.
ângulo e um de seus ângulos. Assim é que, lá, tínhamos A conclusão é que (1) vale para todo α que é ângulo
duas equações, a depender do ângulo escolhido ser agudo de um triângulo e que os dois resultados da Proposição 3,
ou obtuso. Abaixo, recordamos o enunciado do resultado assim como o Teorema de Pitágoras, podem ser unificados

EP
que obtivemos. como segue.
Proposição 1 (Lei dos Cossenos). Seja ABC um triângulo Proposição 3 (Lei dos Cossenos). Seja ABC um triângulo
de lados com medidas AB = c, AC = b e BC = a, e cujo de lados com medidas AB = c, AC = b e BC = a, e
ângulo do vértice A mede α (radianos). Temos que: cujo ângulo do vértice A mede α (radianos). Então, para
qualquer α temos que:
(a) Se 0 < α < π/2, então

a2 = b2 + c2 − 2bc cos α. (1) a2 = b2 + c2 − 2bc cos α. (3)

BM
(b) Se π/2 < α < π, então Dessa forma, sabendo calcular cossenos de ângulos mai-
ores ou iguais a π/2, só precisamos memorizar uma versão
a2 = b2 + c2 + 2bc cos(π − α). (2) da lei dos cossenos. É claro que, para os demais ângulos
do triângulo ABC, vales as relações análogas:

A A
b2 = a2 + c2 − 2ac cos(β),
α α
c c2 = a2 + b2 − 2ab cos(γ).
b c b
Exemplo 4. Encontre o valor de x na figura abaixo.
lO
C a B C a B A

(a) caso 0 < α < π/2. (b) caso π/2 < α < π. 120◦
7 8
Figura 1: ilustrações de possíveis triângulos de acordo com
a medida do ângulo α = ]BAC.
B x C
ta

Observação 2. No módulo “Lei dos Senos e dos Cossenos”


a medida de α era tomada em graus, de modo que no lugar Solução. Aplicando a lei dos cossenos em relação ao ân-
de cada ocorrência de π na Proposição 3 era usado 180◦ . gulo Â, temos que:

Pelo que estudamos na aula anterior, temos que x2 = 72 + 82 − 2 · 7 · 8 cos(120◦ ).


= 49 + 64 − 112 cos(120◦ )
r

cos(π − α) = − cos α.
= 113 − 112 cos(120◦ ).
Com isso, temos que
Po

Agora, lembre-se de que


2bc cos(π − α) = 2bc(− cos α) = −2bc cos α. 1
cos(120◦ ) = − cos(60◦ ) = − .
2
Se substituirmos o que acabamos de encontrar na equa-
ção (2), o resultado obtido é justamente a equação (1). Logo,
Isso que dizer que a equação (1) é válida em ambos os  
1
casos. x2 = 113 − 112 · −
Há, ainda, o caso em que α = π/2, que não foi consi- 2
derado na Proposição 3. Neste caso, lembrando que π/2 = 113 + 56
corresponde a 90◦ , usando o Teorema de Pitágoras temos = 169.
que a2 = b2 + c2 (já que a é a medida do lado oposto ao √
ângulo α, ou seja, a medida da hipotenusa, e b, c são as Como x > 0, temos que x = 169 = 13.

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Exemplo 5. O paralelogramo da figura abaixo está dividido
em triângulos equiláteros congruentes, de lados unitários.
Calcule a medida do segmento M N .

EP
M P

Figura 2: teodolito usado na construção de Brasíli-


a. Fonte da figura: https://commons.wikimedia.org/
Solução. Observe que, no triângulo M N P da figura, te- wiki/File:Teodolito1.JPG.
mos que M P = 4 e N P = 2, já que cada triângulo possui
lados de medida 1. Além disso, como cada triângulo uni-

BM
C
tário possui todos os seus ângulos medindo 60◦ , temos que
o ângulo ]M P N mede M P “N = 2 · 60◦ = 120◦ . Seja
x = M N a medida procurada. Aplicando a leis dos cosse-
nos no triângulo M N P , temos que:
A B
x2 = 42 + 22 − 2 · 4 · 2 · cos(120◦ ).
Assim como no exemplo anterior, basta usar que
cos(120◦ ) = − 12 para encontrar o valor de x. Temos que Figura 3: três pontos na floresta.
 
−1
lO
x2 = 16 + 4 − 16 = 20 + 8 = 28
2 Solução. Com auxílio de um Teodolito, é possível calcular
√ √ as distâncias de C até A e de C até B. Também podemos
e, como, x > 0, segue que x = 28 = 2 7.
calcular a medida do ângulo ]ACB. Com isso, basta apli-
A lei dos cossenos também pode ser usada para calcular car a lei dos cossenos para o ângulo Ĉ do triângulo ABC
distâncias fisicamente inacessíveis. Quando desejamos cal- e calcular o comprimento de AB.
cular a distância (em linha reta) entre dois pontos de um
Observação 7. Usando a lei dos senos (e, se necessá-
terreno, no caso em que é possível visualizar um ponto a
rio, uma calculadora), podemos calcular também os ângu-
partir do outro, há várias maneiras de se calcular a distân-
ta

los ]BAC e ]ABC. Como conhecemos a direção da reta


cia entre eles. Por exemplo, se a distância não for muito
AC, podemos determinar a direção da reta AB, ou seja,
longa, podemos ligar um ponto a outro por uma trena.
em que direção devemos construir a estrada. Partindo de
Para distâncias maiores, diversos instrumentos, como por
A podemos, então encontrar na rocha onde será a entrada
exemplo o teodolito – que funciona através de um disposi-
do túnel. De modo semelhante, podemos determinar onde
tivo ótico –, podem ser utilizados; há também instrumentos
será a saída do túnel. Subtraindo da medida de AB os
r

que funcionam por ultrassom ou laser. Contudo, quando


comprimentos da estrada de A até a rocha e de B até a
um dos pontos não pode ser alcançado ou mesmo visto a
rocha, podemos estimar também o comprimento do túnel.
partir do outro, esses métodos não funcionam. Por exem-
Po

plo, o que fazer se há um grande objeto, como uma rocha, Exemplo 8. Considere que, na Figura 3, as distâncias AC
entre os pontos cuja distância se deseja medir? Em casos e CB medem 300 e 600 metros, respectivamente, e que
como esse, precisamos recorrer a outras ideias. ]ACB mede 3π/4. Calcule o comprimento de AB.
Exemplo 6. Entre os pontos A e B da Figura 3 existe Solução. Seja x = AB. Aplicando a lei dos cossenos
uma grande rocha. Queremos construir uma estrada em usando o ângulo ]C do triângulo ABC e lembrando que

linha reta de A até B, passando por um túnel dentro da cos(3π/4) = − cos(π/4) = − 2/2, obtemos
rocha. O terreno possui, ainda, algumas árvores, mas foi
possível encontrar um ponto específico C de onde é possível 2 2
x2 = AC + BC − 2 · AC · BC cos(3π/4)
enxergar tanto A como B. Explique como podemos calcular  √ 
o comprimento da estrada dispondo de um Teodolito e de 2
= 3002 + 6002 − 2 · 300 · 600 − .
um instrumento de medição de ângulos. 2

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Com o auxílio de uma calculadora, obtemos A
√ α
x2 = 450.000 + 180.000 2

= 450.000 + 254.558 √ b
2
= 704.558.

Assim, x = ∼ 839,38 (ou seja, AC mede quase
704.558 = β
30◦
840 metros!). B 2 C

EP
De forma inversa, também podemos usar a lei dos cosse- Solução. Seja b = AC, como na figura. Como não co-
nos para calcular os ângulos de triângulos quando conhe- nhecemos nem b nem β, vamos precisar aplicar a lei dos
cemos as medidas de todos os lados. cossenos duas vezes. Primeiro calculamos b aplicando-a em
relação ao ângulo Ĉ:
Exemplo 9. No triângulo da figura abaixo, determine se o √
( 2)2 = 22 + b2 − 2 · 2b cos(30◦ ).
ângulo ]BAC é agudo ou obtuso.
√ √
Como cos(30◦ ) = 3/2, temos 2 = 4 + b2 − 2 3 · b, o que

BM
A nos dá a equação de segundo grau
α

b2 − 2 3 · b + 2 = 0.

Resolvendo essa equação, temos ∆ = 4 e b = 2 23±2 =
√ √
3 ±√1, ou seja, há duas possibilidades: b = 3 + 1 ou
7 b = 3 − 1. Da figura, fica claro que b > 2 (o maior
5 lado√de um triângulo é oposto a seu maior ângulo); logo,
b = 3 + 1.
Agora, aplicando a lei dos cossenos para o ângulo ]B,
lO
substituindo o valor de b e simplificando, temos:
√ 2 √
C 6 B b2 = 2 + 22 − 2 · 2 · 2 cos β
√ √
( 3 + 1)2 = 6 − 4 2 cos β
Solução. Aplicando a lei dos cossenos em relação ao ân- √ √
3 + 2 3 + 1 = 6 − 4 2 cos β
gulo ]A, temos: √ √
4 2 cos β = 2 − 2 3
√ √ √
62 = 52 + 72 − 2 · 5 · 7 · cos(α) 2−2 3 2− 6
cos β = √ = .
ta

=⇒ 36 = 25 + 49 − 70 cos(α) 4 2 4
=⇒ 70 cos(α) = 38
Isso determina β de forma única (podemos, por exemplo,
=⇒ cos(α) = 38/70 ∼
= 0,543. encontrá-lo usando uma calculadora). Porém, é possível
que o leitor não saiba, de cabeça, qual ângulo possui tal
Veja que, como sabemos que α está entre 0 e 180◦ e como cosseno.
r

cos(α) > 0, concluímos que α é um ângulo agudo (está en- Vamos, então, a uma outra solução: encontrar primeiro
tre 0◦ e 90◦ ). (Da mesma forma, se tivéssemos encontrado α usando a lei dos cossenos para o ângulo ]A e, depois,
que cos(α) < 0, concluiríamos que α seria obtuso.) usar que β = 180◦ − 30◦ − α = 150◦ − α. Temos que:
Po

√ √
22 = ( 2)2 + b2 − 2 · b 2 · cos α
Observação 10. Com auxílio de uma calculadora cien- √ √ √
tífica, podemos descobrir que o ângulo α que satisfaz 4 = 2 + ( 3 + 1)2 − 2( 3 + 1) 2 cos α
cos(α) = 38/70 mede aproximadamente 57,12◦ . Para isso, √ √ √
4 = 6 + 2 3 − 2( 3 + 1) 2 cos α.
basta usar a função arccos ou cos−1 da calculadora. É inte-
ressante que 57,12◦ corresponde a 57,12π/180 radianos, ou Logo,
seja, mede aproximadamente 0,996 radianos, o que está √ √ √ √
muito próximo de 1 radiano! 2( 3 + 1) 2 cos α = 2 + 2 3 = 2(1 + 3),

Exemplo 11. Calcule o ângulo o que nos diz que cos α = √12 = 22 .
√ obtuso β da figura abaixo,
sabendo que BC = 2, AB = 2 e ]ACB = 30◦ . Portanto, α = 45◦ e, daí, β = 150◦ − 45◦ = 105◦ .

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Observação 12. No exemplo
√ √
anterior, provamos indireta-
mente que cos(105◦ ) = 2− 4
6
. Consequentemente, como
cos(75◦ ) = − cos(180◦ − 75◦ ) = − cos(105◦ ), demonstra-
mos que √ √
◦ 6− 2
cos(75 ) = .
4
Outra curiosidade é que
√ √
6+ 2

EP
cos(15◦ ) = .
4
Esta última igualdade pode ser obtida usando que

cos(15◦ ) = sen(90◦ − 15◦ ) = sen(75◦ )

em conjunto com a relação fundamental

sen2 (75◦ ) + cos2 (75◦ ) = 1.

BM
Deixamos os cálculos necessários como exercício para o
leitor.

Dicas para o Professor


O material desta aula é uma aplicação breve e imediata
do conteúdo visto na aula anterior. Se os alunos tiveram
aulas sobre lei dos cossenos recentemente, o conteúdo dessa
lO
aula pode ser apresentado muito rapidamente, digamos em
único encontro de 50 minutos. Caso contrário, cabe ao
professor decidir se deve fazer uma breve revisão da lei dos
cossenos (por exemplo, seguindo o Módulo “Leis dos Senos
e dos Cossenos”) ou se simplesmente “pula” o material
atual (a aula “A Lei dos Cossenos Revisitada”), retornando
a ele em momento oportuno futuro, quando o tópico lei dos
cossenos voltar a ser abordado.
ta

A referência [1] desenvolve os rudimentos de Trigonome-


tria necessários a aplicações geométricas. A referência [2]
traz um curso completo de Trigonometria.

Sugestões de Leitura Complementar


r

1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Vo-


lume 2: Geometria Euclidiana Plana. SBM, Rio de
Po

Janeiro, 2013.

2. G. Iezzi Os Fundamentos da Matemática Elementar,


Volume 3: Trigonometria. Atual Editora, Rio de Ja-
neiro, 2013.

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Material Teórico - Redução ao Primeiro Quadrante e Funções Trigonométricas

As Funções Trigonométricas e seus Gráficos

EP
Primeiro Ano do Ensino Médio

Autor: Prof. Fabrício Siqueira Benevides


Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

BM
20 de abril de 2019
lO
r ta
Po
1 Paridade de funções Solução. Se a função em questão fosse par, deveríamos ter
que f (−x) = f (x), ou seja, (−x)3 − (−x) + 1 = x3 − x + 1,
Uma função f com valores reais é chamada de função par para todo x real. Mas isso implicaria −x3 + x = x3 − x ou,
(ou simplesmente par) quando para todo x no domínio o que é o mesmo, 2(x3 − x) = 0, ou ainda 2x(x2 − 1) = 0.
de f temos que −x também está no domínio e vale que Veja que existem apenas tr s valores de x que satisfazem
f (−x) = f (x); e ela é chamada de função ímpar (ou apenas essa equação: 0, 1 e −1. Mas o fato disto valer para esses
ímpar) quando para todo x em seu domínio temos −x no tr s valores, não garante que a função seja par, pois para
domínio e f (−x) = −f (x). outros valores de x teremos f (x) 6= f (−x). Por exemplo
Observe que esse conceito é bem diferente do uso mais f (2) = 8 − 2 + 1 = 7 e f (−2) = −8 + 2 + 1 = −5. Logo,
comum das palavras par e ímpar , mas é inspirado por f (−2) 6= f (2).
ele, conforme veremos no exemplo abaixo. Lembre-se de Agora, vamos veri car que a função também não é
que um número inteiro é chamado de par quando ele é ímpar. Se fosse, deveríamos ter que f (−x) = −f (x),
múltiplo de 2 (ou seja, é duas vezes um número inteiro) ou seja, (−x)3 − (−x) + 1 = −(x3 − x + 1), ou ainda
e é chamado de ímpar caso contrário. Assim, os números −x3 + x + 1 = −x3 + x − 1. Isso é falso para qualquer
do conjunto {. . . , −2, 0, 2, 4, 6, . . .} são pares, enquanto os valor de x, já que 1 6= −1. Logo, a função também não é
do conjunto {. . . , −3, −1, 1, 3, 5, . .√.} são ímpares. Porém, ímpar.
números não inteiros, como 1/2, 2 ou π, não são consi-
derados pares nem ímpares. Mostre que a função f (x) = x2 + x, com do-
mínio nos reais, não é par nem é ímpar.
Seja n um número inteiro positivo. Considere
a função pot ncia f (x) = xn , com domínio R. Quando n é Solução. Veja que f (1) = 12 + 1 = 2 enquanto f (−1) =
um número par, temos que f (x) é uma função par; quando (−1)2 + (−1) = 0. Logo, f (−1) 6= f (1) e f (−1) 6= −f (1).
n é um número impar, a função f (x) é ímpar. O argumento acima é su ciente para garantir que f não
é par nem ímpar. Por outro lado, se tivesse acontecido
Solução. Para veri car isso, lembre-se primeiro de que a
dos valores de f (−1) e f (1) serem iguais, isto por si não
lei dos sinais nos diz que
garantiria que f é par, pois teríamos que considerar todos
( os outros possíveis valores para x.
n 1, quando n é par,
(−1) =
−1, quando n é ímpar. Devemos tomar cuidado também para não confundir os
conceitos de número par com função par (ou de número
Agora, seja x um número real qualquer. Queremos com- ímpar com função ímpar).
parar os valores de f (x) e f (−x). Temos que,
A função f : R → R tal que f (x) = 2x + 10
f (−x) = (−x)n = (−1)n · xn não é uma função par nem ímpar. Por outro lado, para
todo número inteiro x temos que 2x + 10 é um número
(
n f (x), quando n é par,
= (−1) f (x) = par.
−f (x), quando n é ímpar.
Solução. De fato, veja que f (1) = 12 e f (−1) = 8. Como
Em resumo, f (−x) = f (x) para n par e f (−x) = −f (x) 12 6= 8 e 12 6= −8, temos que f (−1) 6= f (1) e f (−1) 6=
para n ímpar. Como isso vale para qualquer valor de x, o −f (1). Logo a função não é nem par nem ímpar.
resultado está provado. Por outro lado, para qualquer número inteiro x, temos
que 2x + 10 = 2(x + 5), o que é duas vezes o número inteiro
Em particular, o exemplo acima nos diz que f (x) = x2 x + 5. Logo, 2x + 10 é um número par, sempre que x for
é uma função par e a função g(x) = x3 é ímpar. inteiro.
Veja que testar se f (x) é uma função par involve veri car
a condição f (x) = f (−x) para todos os possíveis valores Decida, com justi cativa, se a função f (x) =
de x no domínio da função, não apenas para alguns valores x
com domínio R − {−1,1}, é par ou ímpar.
x2 −1 ,
(e o análogo vale para testar se f (x) é ímpar). Por isso,
na solução do exemplo acima precisamos fazer os cálculos Solução. Suponha que x esteja no domínio de f , de sorte
de forma genérica, com a variável x, no lugar de apenas que x 6= ±1. Então, −x 6= ±1, o que nos permite calcular
substituir x por um valor especí co (como 1 ou 2). Por ou- f (−x). Temos que:
tro lado, para mostrar que uma função não é par, bastaria
exibir um exemplo de um valor de x tal que f (−x) 6= f (x). −x x
f (−x) = =− 2 = −f (x).
(−x)2 − 1 x −1
A função f : R → R dada por f (x) = x3 −x+1
não é par nem ímpar. Logo, a função é ímpar.

http://matematica.obmep.org.br/ 1 matematica@obmep.org.br
2 Interpretação grá ca Agora, considerando o número −x (onde x > 0), a ele
corresponde o ponto P 0 , obtido percorrendo um arco de
Dizer que uma função é par signi ca dizer que o eixo-y comprimento x no sentido horário (veja a Figura 1).
do plano cartesiano é um eixo de simetria para o grá co Por um lado, temos P 0 = (cos(−x), sen(−x)). Por outro,
de y = f (x). Ou seja, o eixo-y funciona como um espelho. como P 0 é claramente o simétrico de P em relação ao eixo-
Para entender porque, suponha que f (x) é uma função par x, temos que P 0 = (cos(x), − sen(x)) (perceba que, no caso
qualquer. Se (x0 , y0 ) é um ponto que pertence ao grá co da Figura 1, em que P está no primeiro quadrante, temos
da função, então y0 = f (x0 ). Mas, como a função é par, que P 0 está no quarto quadrante; portanto, sua abscissa é
temos que −x0 também pertence ao domínio da função e positiva e sua ordenada é negativa). Assim, obtemos
f (−x0 ) = f (x0 ), isto é, f (−x0 ) = y0 . Portanto, (−x0 , y0 )
também pertence ao grá co. Acontece que, como mostrado (cos(−x), sen(−x)) = (cos(x), − sen(x)),
na gura abaixo, (−x0 , y0 ) é justamente o ponto simétrico
a (x0 , y0 ) em relação ao eixo-y. ou seja,

cos(−x) = cos(x)
(−x0 , y0 ) (x0 , y0 )
sen(−x) = − sen(x).

Por m, as últimas igualdades acima signi cam que cos(x)


é uma função par e sen(x) é uma função ímpar.

sen
(0,1)
Dizer que uma função é ímpar signi ca que a origem
do plano cartesiano, o ponto (0,0), é um centro de sime-
cos x P
tria para o grá co de y = f (x). O argumento aqui é se-
melhante ao que zemos acima. Supunha que f (x) seja
1

sen x
ímpar e tome um ponto (x0 , y0 ) em seu grá co. Então,
y0 = f (x0 ) e, como f é ímpar, temos f (−x0 ) = −f (x0 ), x
ou seja, f (−x0 ) = −y0 . Logo, (−x0 , −y0 ) também é um
(−1,0) x (1,0) cos
ponto do grá co, o qual é justamente o simétrico do ponto

sen x
(x0 , y0 ) em relação a (0,0) (veja a gura abaixo). 1
cos x P0

(x0 , y0 )
(0, −1)

(−x0 , −y0 )
Figura 1: pontos P e P 0 sobre o Círculo Trigonométrico,
simétricos em relação ao eixo-x (eixo dos cossenos).

Uma boa maneira de lembrar qual dentre as funções


3 A paridade das funções seno e cos(x) e sen(x) é par e qual é ímpar é lembrar da Figura 1
cosseno e observar que, nela, as projeções de P e P 0 no eixo dos
cossenos coincidem, enquanto suas projeções no eixo dos
Nesta seção, veri caremos que cos(x) é uma função par e senos são simétricas em relação à origem.
sen(x) é uma função ímpar.
Inicialmente, observemos o Círculo Trigonométrico. Uma segunda maneira de perceber que cos(x) é par e
Lembre-se de que para cada x > 0 representando o valor sen(x) é ímpar é observar seus grá cos, os quais foram
do comprimento de um arco, a ele fazemos corresponder apresentados em uma aula anterior (veja a Figura 2). Es-
um único ponto P sobre o o Círculo Trigonométrico, de sas funções são periódicas e possuem grá cos em forma de
tal forma que o arco partindo do ponto (1,0) até P pos- ondas. Contudo, o grá co de cos(x) passa pelo ponto (0,1)
sua comprimento x. Como vimos nas outras aulas, P é enquanto o grá co de sen(x) passa pelo ponto (0,0).
o ponto de coordenadas (cos(x), sen(x)). Além disso, ar- Levando em consideração as observações da seção ante-
cos positivos são sempre medidos no sentido anti-horário. rior, veja que o grá co de cos(x) é simétrico em relação

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y
y = cos(x) 1

x
−3π − 5π −2π − 3π −π − π2 π π 3π 2π 5π 3π
2 2 2 2 2

−1

y y = sen(x)
1

x
−3π − 5π −2π − 3π −π − π2 π π 3π 2π 5π 3π
2 2 2 2 2

−1

Figura 2: grá cos de seno e cosseno de −10 a 10.

Calcule o valor de tg − 35π



ao eixo-y, enquanto que o de sen(x) é simétrico em rela- 4 .
ção ao ponto (0, 0). Logo, cos(x) é (função) par e sen(x) é
(função) ímpar. Solução. Seguindo os mesmos passos do Exercício 7
Veja que as duas maneiras acima de estabelecer que conclui-se que tg(x) é uma função ímpar. Logo,
cos(x) é par e sen(x) é ímpar são coerentes com o fato    
35π 35π
de que o ponto P 0 da Figura 1 também é o ponto que tg − = − tg .
corresponde ao arco de comprimento 2π − x (no sen- 4 4
tido anti-horário) no Círculo Trigonométrico; logo, P = A m de encontrar a primeira determinação positiva do
(cos(2π − x), sen(2π − x)). Por outro lado, como as fun- arco 35π/4, dividimos 35 por 4, obtendo quociente 8 e resto
ções cos x e sen x possuem período iguai a 2π, temos que 3; assim,
cos(2π − x) = cos(−x) e sen(2π − x) = sen(−x). 35π (8 · 4 + 3)π 3π
= = 8π + .
4 4 4
4 Exercícios resolvidos Como a função tg(x) possui período π, temos que
   
A função f (x) = 3 sen(x) é par ou ímpar? 35π 3π
tg = tg .
4 4
Solução. Temos que
Para terminar, invocamos novamente o fato de que tg(x)
f (−x) = 3 sen(−x) = 3 · (− sen(x))
é ímpar e de período π para calcular
= −3 sen(x) = −f (x).
 3π   3π   π π
(Veja que, na segunda igualdade usamos o fato de que tg = tg − π = tg − = − tg = −1.
4 4 4 4
sen(x) é impar). Logo, f (x) é uma função ímpar.
Então,
 35π   3π 
A função f (x) = 7 tg(x) é par ou ímpar?
tg − = − tg = 1.
4 4
Solução. Primeiramente, recorde que o domínio da fun-
ção tg(x) (e, portanto, o de f (x)) é R \ ± π2 , ± 3π

2 , ±

2 , . . . , simétrico em relação a 0. Agora, temos que A soma
Pn
cos(α + kπ), para qualquer α,
k=0
vale:
f (−x) = 7 tg(−x) =
sen(−x) − sen(x) (a) − cos(α), quando n é par.
=7· =7·
cos(−x) cos(x)
(b) − sen(α), quando n é ímpar.
sen(x)
= −7 · = −7 tg(x) = −f (x).
cos(x) (c) cos(α), quando n é ímpar.

Logo, a função f (x) é ímpar. (d) sen(α), quando n é par.

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(e) 0, quando n é ímpar.
Solução. Observe inicialmente que, percorrendo um arco
de comprimento π a partir de um ponto P qualquer sobre
o Círculo Trigonométrico, iremos parar no ponto P ∗ , si-
métrico de P em relação ao ponto (0, 0). Dessa forma, as
coordenadas de P ∗ são os negativos das coordenadas de P ,
o que implica cos(x + π) = − cos(x) para qualquer número
real x.
Usando o fato deduzido acima, concluímos que

cos(α + π) = − cos(α), cos(α + 2π) = cos(α),

cos(α + 3π) = cos(α + π) = − cos(α)


e, em geral,

cos(α + kπ) = (−1)k cos(α).

Portanto,
n
X
cos(α + kπ) = cos(α) − cos(α) + . . . + (−1)n cos(α),
| {z }
k=0 n + 1 parcelas

com os sinais das parcelas da soma do segundo membro se


alternando entre positivo e negativo.
Com isso, quando n for par (inclusive no caso em que n =
0) o resultado da soma é cos(α). Por outro lado, quando n
for ímpar, temos uma quantidade par de parcelas, logo, o
resultado da soma é igual a 0. Assim, a alternativa correta
é o item (e).

Dicas para o Professor


Este módulo complementa o estudo das funções seno
e cosseno. Ele pode ser apresentado em dois encontros
de 50 minutos. A refer ncia [1] desenvolve os rudimentos
de Trigonometria necessários a aplicações geométricas. A
refer ncia [2] traz um curso completo de Trigonometria.

Sugestões de Leitura Complementar


1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Vo-
lume 2: Geometria Euclidiana Plana. SBM, Rio de
Janeiro, 2013.
2. G. Iezzi Os Fundamentos da Matemática Elementar,
Volume 3: Trigonometria. Atual Editora, Rio de Ja-
neiro, 2013.

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Material Teórico - Módulo Progressões Aritméticas

Definição e Lei de Formação de uma PA

EP
Primeiro Ano

BM
Autor: Prof. Ulisses Lima Parente
Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

O
l da
rta
Po
1 Sequências elementares e pro- onde a e r são números reais conhecidos. O número r =
a2 − a1 = a3 − a2 = . . . é denominado a razão da PA.
gressões aritméticas Por exemplo, as sequências dos números naturais ı́mpares
Uma sequência infinita de números reais é uma lista (1, 3, 5, . . .) e dos números naturais pares (0, 2, 4, . . .) são
ordenada infinita (a1 , a2 , a3 , . . .), em que cada ak ∈ R, ambas PAs de razão igual a 2. A sequência dos múltiplos
para cada k ∈ N. De outro modo, podemos definir inteiros positivos de 3, isto é, (3, 6, 9, . . .), é uma PA de
uma sequência infinita de números reais como uma função razão 3. Mais geralmente, dado um número natural p, a

EP
a : N −→ R. Denotando ak = a(k) para cada k ∈ N, temos sequência (p, 2p, 3p, . . .), formada pelos múltiplos positivos
que as duas definições dadas acima coincidem. Doravante, de p, é uma PA de razão p.
denotaremos uma sequência infinita qualquer de números Costumamos classificar uma PA (ak )k≥1 como:
reais por (ak )k∈N ou (ak )k≥1 . (i) Crescente, se ak+1 > ak , ∀k ≥ 1.
Uma sequência finita de números reais é uma lista or-
denada finita (a1 , a2 , a3 , . . . , an ), para algum n ∈ N. Nesse (ii) Decrescente, se ak+1 < ak , ∀k ≥ 1
caso, n é denominado o número de termos da sequência.

BM
Se denotamos por In o conjunto In = {1, 2, 3, . . . , n}, (iii) Constante, se ak+1 = ak , ∀k ≥ 1.
também podemos definir uma sequência finita de n termos
Uma vez que a diferença ak+1 − ak é sempre igual à razão
reais como uma função a : In −→ R, em que a(k) = ak
r, concluı́mos imediatamente que a PA em questão é:
para cada k ∈ In .
Em ambos os casos acima, cada um dos números reais (i)’ Crescente, se r > 0.
ak é um termo da sequência, por vezes denominado o k-
ésimo termo (em alusão ao fato de que ele é o termo que (ii)’ Decrescente, se r < 0.
ocupa a posição k).
Uma sequência (ak )k≥1 é dada por uma fórmula po- (iii)’ Constante, se r = 0.
sicional se ak for dado por uma fórmula em k. Vejamos
dois exemplos.
Exemplo 1. A sequência infinita (1, 2, 3, . . .) dos números
naturais satisfaz a fórmula posicional ak = k para todo
O Os três exemplos a seguir exercitam os conceitos acima.

Exemplo 4. Encontre todas as PAs crescentes, formadas


por três termos tais que sua soma seja 24 e o seu produto
k ∈ N. seja 440.
da
Exemplo 2. A sequência infinita (12 , 22 , 32 , . . .) dos Solução. Geralmente, utilizamos a notação (x−r, x, x+r)
números naturais obedece a fórmula posicional ak = k 2 para denotar uma PA de três termos e com razão r. Como
para todo k ∈ N. a soma desses termos é igual a 24, obtemos:
Uma fórmula posicional para os termos de uma
(x − ✁r) + x + (x + ✁r) = 24 =⇒ 3x = 24 =⇒ x = 8.
sequência dada é um exemplo de lei de formação de
uma sequência. Outra possibilidade é que uma sequência
Agora, como o produto dos três termos é igual a 440, te-
venha definida por recorrência. Nesse caso, são dados
mos:
l

um ou mais termos no inı́cio da sequência, assim como


uma fórmula que permite calcular um termo qualquer em 440
rta

(8 − r) · 8 · (8 + r) = 440 =⇒ (8 − r) · (8 + r) =
função dos termos anteriores a ele. 8
Exemplo 3. Considere a sequência (ak )k≥1 definida por =⇒ 64 − r2 = 55
 =⇒ r2 = 9
 a1 = 1
a2 = 1 . =⇒ r = 3.

ak+2 = ak+1 + ak , ∀k ≥ 1
Observe que, na última implicação acima, obterı́amos r =
Po

Fazendo k = 1, obtemos a3 = a2 + a1 = 1 + 1 = 2; fa- 3 ou r = −3; entretanto, como a PA procurada é crescente,


zendo k = 2, obtemos a4 = a3 + a2 = 2 + 1 = 3. Prosse- devemos ter r > 0, o que elimina a possibilidade r = −3.
guindo dessa forma, podemos encontrar qualquer termo da Portanto, a PA procurada é (5, 8, 11).
sequência a partir dos dois termos imediatamente anterio-
res, uma vez que estes tenham sido calculados. A fim de que você possa apreciar adequadamente a sim-
Uma progressão aritmética, ou abreviadamente PA, plificação algébrica que a notação (x − r, x, x + r) traz para
é qualquer sequência de números reais (finita ou infinita), a solução do problema anterior, sugerimos que o refaça
dada por uma recorrência do tipo: denotando a PA por (a, a + r, a + 2r).

a1 = a Exemplo 5. Obtenha 5 números em PA de tal modo que a
, sua soma seja 25 e a soma dos seus cubos seja 3025.
ak+1 = ak + r, ∀k ≥ 1.

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Solução. Denotaremos os cinco termos em PA por x − 2r, A seguir, estabelecemos algumas propriedades impor-
x − r, x, x + r e x + 2r, de sorte que r seja a razão. Dessa tantes das PAs, começando por uma caracterização recur-
forma, temos: siva das PAs que não envolve sua razão.
2✚
(x − ✚ 2✚
r) + (x − ✁r) + x + (x + ✁r) + (x + ✚r) = 25 Proposição 7. Uma sequência (ak )k≥1 é uma PA se, e
somente se,
=⇒ 5x = 25 =⇒ x = 5.
Por outro lado, temos: ak+2 + ak = 2ak+1 , ∀k ≥ 1.

EP
(x − r)3 = x3 − 3x2 r + 3xr2 − r3 , Prova. De fato, se (ak )k≥1 é uma PA de razão r, temos:
3 3 2 2 3
(x + r) = x + 3x r + 3xr + r , ak+2 − ak+1 = r = ak+1 − ak , ∀k ≥ 1.
(x − 2r)3 = x3 − 6x2 r + 12xr2 − 8r3
Mas isso é o mesmo que
e
(x + 2r)3 = x3 + 6x2 r + 12xr2 + 8r3 . ak+2 + ak = 2ak+1 , ∀k ≥ 1.

BM
Somando membro a membro as cinco igualdades acima,
efetuando os cancelamentos que são evidentes e usando a Reciprocamente, se ak+2 + ak = 2ak+1 , ∀k ≥ 1, então,
hipótese de que a soma dos cubos dos cinco termos é igual reescrevendo tal igualdade como ak+2 − ak+1 = ak+1 −
a 3025, obtemos: ak , ∀k ≥ 1, concluı́mos que:

5x3 + 30xr2 = 3025. a2 − a1 = a3 − a2 = a4 − a3 = . . . .


Substituindo x = 5 na equação acima, chegamos a Assim, (ak )k≥1 é uma PA de razão r = a2 − a1 .
2400
150r2 = 3025 − 625 =⇒ r2 = = 16. Observe que, em palavras, podemos resumir o resultado

Portanto, r = 4 ou r = −4.
150

Por fim, com r = 4, concluı́mos que os números pro-


curados são 5 − 2 · 4 = −3, 5 − 4 = 1, 5, 5 + 4 = 9 e
O anterior dizendo que as PAs são exatamente as sequências
tais que, para cada trs termos consecutivos, o do meio é a
média aritmética dos outros dois.
Finalizamos esta seção com a seguinte proposição, que
5 + 2 · 4 = 13. Observe que, se tomássemos r = −4, ob- será útil para o cálculo da soma de uma quantidade ar-
terı́amos os mesmos números, mas escritmos em ordem bitrária n de termos de uma PA.
da
decrescente. Contudo, é importante você perceber que
(−3, 1, 5, 9, 13) e (13, 9, 5, 1, −3) são PAs distintas; apenas Proposição 8. Sejam (ak )k≥1 uma PA e n ≥ 1 um inteiro.
os conjuntos de seus termos são iguais!
(i) Se n é ı́mpar, digamos n = 2m − 1, então:
Exemplo 6. Seja (ak )k≥1 uma PA de razão r. Mostre que
as sequências (bk )k≥1 e (ck )k≥1 , definidas por bk = a2k e a1 + an = a2 + an−1 = . . . = 2am .
ck = a2k−1 para todo k ≥ 1, também são PA’s, mas ambas
de razão igual a 2r. (ii) Se n é par, digamos n = 2m, então:
l

Solução. Inicialmente, observe que não há mistério a1 + an = a2 + an−1 = . . . = am + am+1 .


rta

nas leis de formação das sequências (bk )k≥1 e (ck )k≥1 .


Elas são simplesmente as sequências (a2 , a4 , a6 , . . .) e Para dar uma ideia da demonstração da proposição
(a1 , a3 , a5 , . . .). acima, suponha que n = 7 = 2 · 4 − 1. Temos:
Note agora que, para todo k ≥ 1 inteiro, temos:
a1 + a7 = (a2 − r)
✁ + (a6 + ✁r) = a2 + a6 ;
bk+1 − bk = a2(k+1) − a2k = a2k+2 − a2k .
por sua vez,
Po

A fim de utilizar o fato de que (ak )k≥1 é uma PA de razão


r, somamos e subtraı́mos o termo a2k+1 à diferença a2k+2 − a2 + a6 = (a3 − ✁r) + (a5 + r)
✁ = a3 + a5
a2k , obtendo:
e, finalmente,
bk+1 − bk = a2k+2 − a2k
= (a2k+2 − a2k+1 ) + (a2k+1 − a2k ) a3 + a5 = (a4 − ✁r) + (a4 + ✁r) = 2a4 .
= r + r = 2r.
O caso geral segue exatamente a mesma linha de ra-
Portanto, (bk )k≥1 é uma PA de razão 2r. ciocı́nio, e será novamente deixado como exercı́cio. (Al-
A prova de que (ck )k≥1 também é uma PA de razão 2r ternativamente, o leitor pode consultar uma qualquer das
é análoga e será deixada como exercı́cio. referências listadas no final do material.)

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2 A fórmula para o termo geral de o número que o ocupa, na centésima linha, a centésima
posição, da esquerda para a direita.
uma PA
1
Esta seção aborda o problema de calcular o termo de
3 5 7
uma PA que ocupa uma certa posição, sem a necessidade
5 7 9 11 13
de calcular todos os termos anteriores a ele. Nesse sen-
7 9 11 13 15 17 19
tido, a fórmula da proposição abaixo é conhecida como a

EP
fórmula do termo geral de uma PA.
Solução. É fácil perceber que a primeira coluna forma
Proposição 9. Se (ak )k≥1 é uma PA de razão r, então: uma PA (ak )k≥1 , de termo inicial 1 e razão 2. Portanto, o
termo inicial da centésima linha é
ak = a1 + (k − 1)r, ∀k ≥ 1.
a100 = a1 + (100 − 1) · 2 = 1 + 198 = 199.
Prova. Observe as k − 1 igualdades abaixo, que ocorrem
porque (ak )k≥1 é uma PA: Agora, a centésima linha é uma PA (bk )k≥1 , de termo

BM
 inicial 199 e razão também 2. Certamente ela tem mais de

 a2 − a1 = r cem termos, de forma que



 a 3 − a2 = r

 a4 − a3 = r b100 = b1 + (100 − 1) · 2 = 199 + 199 = 398.
..


 .



 a k−1 − ak−2 = r

ak − ak−1 = r. Nosso último exemplo é consideravelmente mais elabo-
rado, podendo ser omitido numa primeira leitura.
Adicionando-as membro a membro, obtemos O √ √ √
Exemplo 12. Mostre que os números 2, 3 e 5 não
(a2 + · · · + ak−1 + ak ) − (a1 + a2 + · · · + ak−1 ) = são termos de uma mesma PA.
√ √ √
= r + r + ··· + r. Prova. Suponha, por absurdo, que 2, 3 e 5 são ter-
| {z } mos de uma PA, digamos (ak )k≥1 . Sem perda de generali-
n−1 vezes
dade, podemos supor que (ak )k≥1 é crescente. Assim, de-
da
Em seguida, cancelando no primeiro membro a soma a2 + vem existir m, n√e p inteiros
√ √ positivos tais que m < n < p e
· · · + ak−1 (que aparece duas vezes, com sinais opostos), e am = 2, an = 3, ap = 5. Agora, utilizando a fórmula
observando que do termo geral, obtemos:

r + r + · · · + r = (n − 1)r, 2 = am = a1 + (m − 1)r,
| {z }
n−1 vezes √
3 = an = a1 + (n − 1)r
obtemos
l

ak − a1 = (k − 1)r, e √
5 = ap = a1 + (p − 1)r.
rta

conforme desejado.
Manipulando as equações acima, obtemos:
A seguir, discutimos algumas aplicações da fórmula aci- √ √
ma, começando por uma bem imediata. a✚
3 − 2 = [✚1 + (n − 1)r] − [✚a✚
1 + (m − 1)r] = (n − m)r

Exemplo 10. Calcule o vigésimo termo da PA cujo pri- e, analogamente,


meiro termo é 5 e cuja razão é 3. √ √
5 − 2 = (p − m)r.
Po

Solução. Utilizando a fórmula da Proposição 9, temos:


Daı́, segue que
a20 = a1 + (20 − 1) · 3 = 5 + 19 · 3 = 5 + 57 = 62.
√ √
3− 2 n−m
√ √ = .
5− 2 p−m
Exemplo 11. Mostramos, abaixo, as quatro primeiras li-
nhas de uma tabela infinita, formada por números natu- Agora, sendo o quociente de dois inteiros, o número n−m p−m
rais, onde, para i > 1, a linha i começa à esquerda por um é racional.√ Portanto,

os cálculos acima nos levaram a con-
número duas unidades maior que aquele que inicia a linha cluir que √3− √2 é um número racional. Os argumentos que
5− 2
i − 1, e tem dois números a mais que a linha i − 1. Calcule apresentaremos a seguir mostrarão que isso é um absurdo.

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Começamos observando que Sugestões de Leitura Complementar
√ √ √ √  √ √ 
3− 2 3− 2 5+ 2 1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar Vo-
√ √ = √ √  √ √  lume 1: Números Reais, 2a Edição. Rio de Janeiro,
5− 2 5− 2 5+ 2
√ √ √ SBM, 2013.
15 + 6 − 10 − 2
= 2. G. Iezzi, S. Hazzan. Os Fundamentos da Matemática
5−2
√ √ √ Elementar, Volume 4: Sequências, Matrizes, Deter-

EP
15 + 6 − 10 − 2
= . minantes, Sistemas. São Paulo, Atual Editora, 2012.
3
√ √ √
Logo, temos que √3−
5−
√2 é racional se, e somente se,
2
15 +
√ √ √ √ √
6 − 10 é racional. Mas, se fosse 15 + 6 − 10 = a,
com a racional (e positivo), terı́amos:
√ √ √ √ √ √

BM
15 + 6 − 10 = a ⇔ 15 + 6 = a + 10
√ √ 2  √ 2
⇔ 15 + 6 = a + 10
√ √
⇔ 15 + 6 + 2 90 = a2 + 10 + 2a 10

⇔ (2a − 6) 10 = 10 − a2 .

Há, agora, duas possibilidades:

(i) 2a = 6 √
= 0: isso é o mesmo que a = 3, e fornece o
absurdo 0 · 10 = 10 − 32 .

(ii) 2a − 6 6= 0: então, a partir da última equivalência


O
acima, obtemos
√ 10 − a2
da
10 = .
2a − 6

Por sua vez, isso também é um absurdo, uma vez que 10
2
é irracional mas 10−a
2a−6 é racional (uma vez que a é ele
mesmo racional).
l
rta

Dicas para o Professor

Recomendamos que seja utilizada uma sessão de 50min


para discutir cada uma das seções que compõem este mate-
rial. Na Seção 1, chame a atenção dos alunos para o modo
de escrever uma pequena quantidade de termos em PA
(pelo menos as que foram utilizadas nos exemplos 4 e 5),
Po

pois, conforme mostrado, isso facilita bastante a solução de


certos problemas). Na Seção 2, antes de mostrar a fórmula
do termo geral de uma PA qualquer, tente fazer com que
os alunos a descubram por meios próprios (possivelmente
com a sugestão de contar o número de incrementos r ne-
cessários para, saindo de a1 , chegar a an (aqui, r repre-
senta a razão da PA).
As referências colecionadas a seguir contém muitos
exemplos e problemas, de variados graus de dificuldade,
relacionados ao conteúdo do presente material.

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Material Teórico - Módulo Progressões Aritméticas

PAs Inteiras e Soma dos Termos de uma PA

EP
Primeiro Ano

BM
Autor: Prof. Ulisses Lima Parente
Autor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

O
l da
rta
Po
1 A soma dos termos de uma PA de sorte que
n
Começamos este material calculando a soma dos termos X n(a1 + an )
de uma PA finita. Nesse sentido, a fórmula colecionada na Sn = ak =
2
k=1
proposição abaixo é conhecida como a fórmula da soma
dos k primeiros termos de uma PA. n[2a1 + (n − 1)r] (2)
=
Para seu enunciado, é conveniente introduzirmos a 2
n(n − 1)r

EP
notação = na1 + .
Xn 2
ak (1)
k=1 A seguir, discutimos algumas aplicações das fórmulas
acima para a soma dos termos de uma PA.
para denotar a soma a1 + a2 + · · · + an (ou simplesmente
a1 , quando n = 1). Aqui, a letra grega maiúscula Σ (lê-se Exemplo 2. Calcule a soma dos quinze primeiros termos
sigma) corresponde ao nosso S (de soma), de sorte que (1) da PA (3, 7, 11, . . .).
denota a soma dos termos ak , com k variando de 1 a n.

BM
Solução. Observe que a1 = 3 e r = 7 − 3 = 4. Agora,
Proposição 1. Se (ak )k≥1 é uma PA de razão r, então:
pela observação feita logo após a Proposição 1, temos:
n
X n(a1 + an ) 15 · 14
ak = , ∀n ≥ 1. S15 = 15a1 + ·r
2 2
k=1
15 · ✚1✚
4
n = 15 · 3 + ·4 =
X ✁2
Prova. Se Sn = ak , temos: = 45 + 15 · 7 · 4
k=1

Sn = a1 + a2 + · · · + an−1 + an .

Por outro lado, escrevendo os mesmos termos na ordem


O = 45 + 420 = 465.

inversa, temos: Exemplo 3. Calcule a soma dos n primeiros números


ı́mpares.
da
Sn = an + an−1 + · · · + a2 + a1 .
Solução. Queremos calcular a soma Sn , dos n primeiros
Somando membro a membro as duas igualdades acima, termos da PA (1, 3, 5, . . .). Como a1 = 1 e r = 3 − 1 = 2,
chegamos a temos:
2Sn = (a1 +an )+(a2 +an−1 )+. . .+(an−1 +a2 )+(an +a1 ). an = a1 + (n − 1) · 2 = 1 + (n − 1) · 2 = 2n − 1
Agora, utilizando o resultado da Proposição 8 do mate-
l

e, daı́,
rial teórico da aula anterior, obtemos (quer seja n par ou
rta

ı́mpar):
= ✁ = n2 .
(a1 + an )n (1 + (2n − 1))n 2 n2
Sn = =
2 2 2✁
2Sn = (a1 + an ) + (a1 + an ) + . . . + (a1 + an ) + (a1 + an )
| {z }
n vezes Alternativamente, utilizando uma vez mais a fórmula
alternativa para Sn , deduzida logo após a prova da pro-
=⇒ 2Sn = n(a1 + an ) posição anterior, obtemos:
Po

n(a1 + an ) n(n − 1)
=⇒ Sn = . Sn = na1 + ·r
2 2
n(n − 1)
=n·1+ · ✁2
2✁
Uma maneira alternativa de expressar a fórmula acima = n + n(n − 1) = n2 .
n
X
para a soma Sn = ak é obtida substituindo a expressão
k=1
para o termo geral da PA. Assim,
 Revisitemos o Exemplo 11 do material teórico da aula
a1 + an = a1 + a1 + (n − 1)r = 2a1 + (n − 1)r, anterior.

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Exemplo 4. Mostramos, abaixo, as quatro primeiras li- onde 13n é o maior múltiplo de 13 que é menor ou igual a
nhas de uma tabela infinita, formada por números natu- 1000. Agora,
rais, onde, para i > 1, a linha i começa à esquerda por um
1000
número duas unidades maior que aquele que inicia a linha 13n ≤ 1000 ⇐⇒ n ≤ .
i − 1, e tem dois números a mais que a linha i − 1. Calcule 13
a soma dos números escritos na centésima linha. Dividindo 1000 por 13, obtemos:
1

EP
1000 = 76 · 13 + 12,
3 5 7
5 7 9 11 13 de forma que o maior múltiplo de 13 que é menor ou igual
7 9 11 13 15 17 19 a 1000 é 13 · 76 = 988. Portanto, há 76 múltiplos positivos
de 13 menores do que 1000.
Solução. Como no material da aula anterior, a primeira Para calcular a soma S = 13 + 26 + · · ·+ 988, utilizamos
coluna forma uma PA (ak )k≥1 , de termo inicial 1 e razão a fórmula para a soma dos termos de uma PA:
2. Portanto, seu termo inicial é

BM
(13 + 988)76
a100 = a1 + (100 − 1) · 2 = 1 + 198 = 199. S= = 1001 · 38 = 38038.
2
Agora, as quantidades de termos das linhas, 1, 3, 5, 7,
. . . , também formam uma PA de termo inicial 1 e razão 2,
de sorte que a centésima linha também tem 199 termos. O próximo exemplo é uma variação do anterior.
A centésima linha é, pois, uma PA (bk ) de 199 termos, Exemplo 6. Quantos são os múltiplos de 7 compreendidos
com termo inicial 199 e razão também 2. Logo, (2) fornece entre 1000 e 2000? Quanto vale a soma dos mesmos?
199(199 − 1) · 2 Solução. Como no exemplo anterior, os múltiplos positi-
b1 + b2 + · · · + b199 = 199 · b1 +
2
= 1992 + 199 · 198 = 79003.
O vos de 7 formam a PA

7, 14, 21, 28, . . . , 7n, . . . .


1000
Como 7n ≥ 1000 ⇔ n ≥ 7 e
da
2 Progressões aritméticas de ter- 1000 = 142 · 7 + 6,

mos inteiros concluı́mos que o menor múltiplo de 7 que é maior ou igual


a 1000 é 7 · 143 = 1001.
Se uma PA (ak )k≥1 é tal que a1 ∈ Z e r ∈ Z, então, pela Por outro lado, temos também 7n ≤ 2000 ⇔ n ≤ 2000 7 ,
fórmula do termo geral, temos e
2000 = 285 · 7 + 5;
an = a1 + (n − 1)r ∈ Z,
l

portanto, 7 · 285 = 1995 é o maior múltiplo de 7 que é


uma vez que o produto e a soma de números inteiros ainda menor ou igual a 2000.
rta

são inteiros. Em palavras, se o primeiro termo e a razão Os cálculos acima garantem que queremos calcular a
de uma PA forem números inteiros, então todos os seus soma
termos também o serão. S = 7 · 143 + 7 · 144 + · · · + 7 · 285,
Reciprocamente, se (ak )k≥1 é uma PA cujos elementos
na qual, há 285 − 143 + 1 = 143 parcelas. Podemos cal-
são todos inteiros, então temos que r = a2 − a1 ∈ Z. De
cular S novamente com o auxı́lio da fórmula para a soma
fato, para que uma PA (ak )k≥1 seja formada somente por
dos termos de uma PA. Pondo o fator 7 em evidência por
inteiros, é necessário e suficiente que ela possua dois termos
Po

simplicidade, obtemos:
consecutivos inteiros (verifique este fato!). Abaixo seguem
alguns exemplos que tratam de PAs formadas por termos S = 7 · (143 + 144 + · · · + 285)
inteiros.
(143 + 285) · 143
=7·
Exemplo 5. Quantos são os múltiplos positivos de 13 me- 2
nores do que 1000? Quanto vale sua soma? = 214214.
Solução. Os múltiplos positivos de 13 menores do que
1000 formam a PA
No próximo exemplo, o fato de que os termos da PA são
13, 26, 39, 52, . . . , 13n, inteiros é utilizado de forma decisiva.

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Exemplo 7. A professora de João pediu que ele calculasse Solução. Veja que as sequências
o décimo primeiro termo de uma progressão aritmética de
números naturais. Infelizmente, ele esqueceu qual era o (3, 7, 11); (41, 71, 101, 131);
termo inicial e a razão. As únicas informações das quais (31, 37, 43) e (23, 41, 59)
ele lembrava eram que os termos da progressão não eram
consecutivos, o primeiro termo era um múltiplo da razão e são PAs formadas por números primos. Portanto, 7 e 11,
41 e 131, 31 e 43, 23 e 41 são pares de números primanos.
Por outro lado, se os números primos 13 e 53 perten-

EP
a4 + a7 + a10 = 207.
cessem a uma PA formada somente por números primos,
Quanto vale o termo que João teria que calcular? terı́amos que a razão r dessa PA deveria ser um divisor
da diferença 40 = 53 − 13. Sem perda de generalidade,
Solução. Aplicando a fórmula do termo geral de uma PA podemos assumir r > 0. Daı́ temos as possibilidades:
várias vezes, a primeira igualdade acima se transforma em: r = 1, r = 2, r = 4, r = 5, r = 8, r = 10, r = 20 ou
r = 40. Entretanto, é fácil checar que, em qualquer um
(a1 + 3r) + (a1 + 6r) + (a1 + 9r) = 207 =⇒ dos casos acima, apareceriam termos compostos (i.e., não

BM
primos). Façamos algumas de tais verificações:
=⇒ 3a1 + 18r = 207
(i) r = 2: 13 + 2 = 15, composto.
ou, o que é o mesmo,
(ii) r = 4: 13+4 = 17 é primo, mas 17+4 = 21 é composto.
a1 + 6r = 69. (3)

Como o primeiro termo é um múltiplo da razão, pode- (iii) r = 10: 13 + 10 = 23 é primo, mas 23 + 10 = 33 é
mos escrever a1 = mr, para algum natural m. Portanto, composto.

69 = a1 + 6r = mr + 6r = (m + 6)r

e, daı́, r divide 69. Como 69 = 3 · 23, devemos ter r = 1,


3, 23 ou 69. Por outro lado, como os termos da PA não
O Falando um pouco mais sobre progressões aritméticas
que contêm números primos, a PA dos números ı́mpares
(1, 3, 5, . . .) contém infinitos números primos, pois o con-
junto dos números primos é infinito e o único número primo
par é o 2.
são consecutivos, devemos ter r > 1. Por fim, uma vez que
O próximo exemplo mostra que nenhuma PA infinita e
tais termos são naturais, devemos ter a1 = 69 − 6r > 0, o
da
não constante de naturais pode ser composta inteiramente
que descarta as possibilidades r = 23 ou 69. Assim, r = 3 por primos.
e, daı́,
a1 = 69 − 6r = 69 − 6 · 3 = 51. Exemplo 9. Se (a, a + r, a + 2r, . . .) é uma PA infinita e
não constante de naturais, prove que pelo menos um de
Segue da fórmula para o termo geral que seus termos é composto.

a11 = a1 + 10r = 51 + 10 · 3 = 81. Prova. Podemos escrever o termo geral da PA como a +


(n − 1)r. Como a PA é não constante, temos r > 0. Por
l

outro lado, como ela é infinita e seus termos são todos


rta

naturais, temos a + (n − 1)r > 0 para todo n ∈ N. Então,


Exemplo 8. Dois números inteiros são chamados prima- não podemos ter r < 0, pois, se esse fosse o caso, terı́amos
nos quando pertencem a uma progressão aritmética de a + (n − 1)r < 0 para n suficientemente grande. Logo,
números primos com pelo menos três termos. Por exem- r > 0.
plo, os números 41 e 59 são primanos, pois pertencem Agora, basta mostrarmos que, dados a, r ∈ N, é possı́vel
à progressão aritmética (41, 47, 53, 59), a qual contém so- escolher n de forma que a + (n − 1)r seja composto. Para
mente números primos. Assinale a alternativa com dois tanto, veja que, se n = 2a + 1, então
Po

números que não são primanos.


a + (n − 1)r = a + 2ar = a(1 + 2r).
(a) 7 e 11. Esse número é composto se a > 1, mas pode ser primo se
a = 1. Entretanto, se a = 1, então a + r > 1, e podemos
(b) 13 e 53.
repetir o argumento acima escolhendo n = 2(a + r) + 2.
(c) 41 e 131. Veja:
a + (n − 1)r = (a + r) + (n − 2)r
(d) 31 e 43.
= (a + r) + 2(a + r)
(e) 23 e 41. = 3(a + r),

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o qual é composto. As referências colecionadas a seguir contém muitos
exemplos e problemas, de variados graus de dificuldade,
Apesar do exemplo anterior, trazemos ao conhecimento relacionados ao conteúdo do presente material.
do leitor o seguinte resultado, devido a Johann Peter Gus-
tav Lejeune Dirichlet, matemático alemão que viveu du-
rante o século XIX: Sugestões de Leitura Complementar
Teorema 10. Sejam a e r números naturais primos entre

EP
si, isto é, tais que mdc (a, r) = 1. Então, a PA infinita 1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar Vo-
lume 1: Números Reais, 2a Edição. Rio de Janeiro,
(a, a + r, a + 2r, a + 3r, . . .) SBM, 2013.

possui infinitos números primos entre seus termos. 2. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar Vo-
lume 6: Polinômios, 2a Edição. Rio de Janeiro, SBM,
Uma vez que o conjunto dos naturais é uma PA infinita 2016.
cujo primeiro termo (igual a 1) e razão (também 1) são pri-

BM
mos entre si, vemos que o teorema de Dirichlet generaliza o 3. G. Iezzi, S. Hazzan. Os Fundamentos da Matemática
teorema usualmente atribuı́do a Euclides, que garante que Elementar, Volume 4: Sequências, Matrizes, Deter-
há infinitos primos. Ele também garante que há infinitos minantes, Sistemas. São Paulo, Atual Editora, 2012.
primos de cada uma das formas 3k + 1, 3k + 2, 4k + 1,
4k + 3, etc, haja vista que as PAs

(1, 4, 7, 11, . . .), (2, 5, 8, 12, . . .)

(1, 5, 9, 13, . . .), (3, 7, 11, 15, . . .)


enquadram-se em suas hipóteses.
A demonstração do Teorema de Dirichlet é bastante
difı́cil, e foge amplamente ao que podemos fazer aqui. De
fato, mesmo o caso em que a = 1, isto é, aquele da PA
O
(1, 1 + r, 1 + 2r, . . .)
da
tem demonstração bem difı́cil (que pode ser encontrada em
[2]).
Talvez o leitor ache surpreendente saber que vale
também o resultado a seguir, conhecido como o Teorema
de Green-Tao e provado em 2004 pelo matemático inglês
Ben Green e pelo matemátic australiano Terence Tao (de
fato, esse teorema coroou a brilhante carreira de Terence
l

Tao, que ganhou a Medalha Fields – considerada o Prêmio


Nobel de Matemática – em 2006).
rta

Teorema 11. Dado n > 2, existe uma PA (a1 , a2 , . . . , an )


tal que todos os seus termos são primos.
A solução do Exemplo 8 mostra PAs formadas por 3 e 4
primos. Você consegue exibir uma formada por 5 primos?
Po

Dicas para o Professor


Recomendamos que sejam utilizadas duas a três sessões
de 50min para discutir todo o conteúdo deste material. O
professor pode dedicar uma sessão para cada uma das duas
primeiras seções, e uma terceira para apresentar o último
exemplo da segunda seção, juntamente com os enunciados
dos teoremas de Dirichlet e Green-Tao, discutindo casos
particulares até certificar-se de que os estudantes compre-
enderam seus significados.

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Material Teórico - Módulo Progressões Aritméticas

Exercı́cios de Fixação

EP
Primeiro Ano

BM
Autor: Prof. Ulisses Lima Parente
Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

O
l da
rta
Po
1 Exercı́cios de Fixação Assim, temos:

Colecionamos neste material alguns exemplos mais ela- an = bm ⇐⇒ 2 + 13(n − 1) = 7 + 5(m − 1)


borados, a fim de exercitar o material sobre PAs abordado ⇐⇒ 5m = 13(n − 1)
nas aulas anteriores. =⇒ 13 | 5m
Exemplo 1. Os números naturais são dispostos em tabelas =⇒ 13 | m.
3 × 3, do seguinte modo:

EP
Desse modo, se um natural x pertence às duas PAs,
então x = b13k , para algum inteiro k ≥ 1, ou seja,
1 2 3 10 11 12 19
... x = b13k
4 5 6 13 14 15
= 7 + 5(13k − 1)
7 8 9 16 17 18
= 65k + 2.

BM
Reciprocamente, é fácil ver que, para qualquer k ≥ 1, o
Por exemplo, o número 15 está na segunda linha e na número 65k + 2 pertence às duas PAs. De fato, já vimos
terceira coluna da segunda tabela. Calcule a linha, a coluna que 65k + 2 = b13k . Por outro lado,
e a tabela em que se encontra o número 800.
65k + 2 = 2 + 13 · 5k
Solução. Observe que a sequência cujo n−ésimo termo é = 2 + 13 ((5k + 1) − 1)
o elemento que está na primeira linha e na primeira coluna
= a5k+1
da tabela de número n é uma PA de razão 9. Portanto,
dividindo 800 por 9 podemos obter a linha em que esse Portanto, os termos comuns das duas PAs também for-
número se encontra. De fato, temos O mam uma PA, que possui primeiro termo igual a 67 e razão
igual a 65:
800 = 88 · 9 + 8, (67, 132, 197, . . .).
o que significa que o número 800 pertence à 89a tabela.
Agora, dividimos o resto 8 por 3, pois cada tabela possui
Exemplo 3. Uma soma finita de (pelo menos dois) intei-
3 colunas, para obtermos a linha e a coluna, da 89a tabela,
da
ros ı́mpares e consecutivos é igual a 73 . Encontre esses
às quais o número 800 pertence. Como 8 = 2 · 3 + 2, segue
números.
que o número 800 pertence à 3a linha e 2a coluna da 89a
tabela. Apresentamos, abaixo, a 89a tabela: Solução. Uma lista finita de números ı́mpares e consecu-
tivos é dada por uma PA (a1 , a2 , . . . , an ) cuja razão vale
793 794 795 2. Portanto, fazendo r = 2 na fórmula alternativa para a
soma dos termos de uma PA discutida anteriormente (cf.
796 797 798
equação (2) do material referente à aula anterior), obte-
l

799 800 801 mos:


rta

7 3 = a1 + a2 + · · · + an

= na1 + ✁
2n(n − 1)
Exemplo 2. Encontre todos os termos comuns das PAs ✁2
(2, 15, 28, 41, . . .) e (7, 12, 17, 22, . . .). = n(a1 + n − 1).

Solução. Denotamos por (an )n∈N e (bm )m∈N as PAs Como 73 = n(a1 + n − 1), temos que n | 73 , de forma
Po

(2, 15, 28, 41, . . .) e (7, 12, 17, 22, . . .), respectivamente. que n = 7, n = 72 ou n = 73 . Analisemos cada uma dessas
Como an tem razão 13 e bm tem razão 5, utilizando a possibilidades separadamente:
fórmula do termo geral, obtemos:
(i) Fazendo n = 7, obtemos:
an = 2 + 13(n − 1)
73 = 7(a1 + 6) =⇒ a1 + 6 = 72 = 49
e =⇒ a1 = 43.
bm = 7 + 5(m − 1).
Logo, neste caso, a lista procurada é
Agora, fazemos an = bm com o objetivo de encontrar
condições sobre m e n para que ocorram termos comuns. (43, 45, 47, 49, 51, 53, 55).

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(ii) Agora, se n = 49, obtemos (c) Somando os resultados de todos os números em for-
mato de L, chegaremos ao mesmo resultado que so-
73 = 72 (a1 + 72 − 1) =⇒ a1 + 48 = 7 mando os números em todas as linhas. Utilize este
=⇒ a1 = −41. fato para calcular o valor da expressão:

Neste caso, a fórmula do termo geral nos dá 13 + 23 + 33 + · · · + 1003 .

EP
a49 = −41 + (49 − 1) · 2 = 55,
Solução.
de sorte que a lista dos números procurados é (a) Observe que os números na linha k são os números de
1 até n multiplicados por k. Portanto, a sua soma é:
(−41, −39, −37, . . . , 53, 55).
k + 2k + 3k + · · · + nk = k(1 + 2 + 3 + · · · + n)
(iii) Finalmente, se n = 73 , terı́amos
n(n + 1)
=k· .
73 = 73 (a1 + 73 − 1) =⇒ a1 + 342 = 1

BM
2
=⇒ a1 = −341.
Agora, podemos calcular a soma dos números de todas as
3
Como 7 = 343, invocando novamente a fórmula do termo linhas pondo o fator comum n(n+1)
2 em evidência. Assim
geral, obtemos fazendo, obtemos:

a343 = −341 + (343 − 1) · 2 = 343. n(n + 1) n(n + 1) n(n + 1) n(n + 1)


+2· +3· +· · ·+n· =
2 2 2 2
Portanto, a lista dos números procurados é

(−341, −339, . . . , 339, 341, 343).


O =
n(n + 1)
2
· (1 + 2 + 3 + · · · + n) =

n(n + 1)

(b) Observando a simetria das parcelas que compõem a


2
2
.

Exemplo 4 (Banco OBMEP). Considere a tabela de primeira linha a seguir, temos:


números a seguir. A primeira linha traz os números de 1
da
até n. A segunda traz os números de 1 até n, cada um mul- k + 2k + · · · + (k − 1)k + k 2 + (k − 1)k + · · · + 2k + k =
tiplicado por 2. As linhas seguem esse padrão até a última,
a qual apresenta os números de 1 até n, todos multiplicados = k 2 + 2k + 4k + · · · + 2(k − 1)k
por n.
= k 2 + 2k (1 + 2 + · · · + (k − 1))
1 2 3 ... n
k(k − 1)
l

2 4 6 ... 2n = k 2 + ✁2k ·
2✁
rta

3 6 9 ... 3n
= k 2 + k 2 (k − 1) = k 3 .
... ... ... ... ...
(c) Construindo a tabela para n = 100, teremos 100 linhas
n 2n 3n ... n 2 e 100 pedaços em forma de L. Uma vez que a soma de
todos os números da tabela pode ser obtida somando-se os
resultados das somas dos números de cada uma das 100
Po

camadas, concluı́mos a partir dos itens anteriores que


(a) Calcule a soma de todos os números da linha de
número k. Com isto, obtenha uma expressão para a 
100 · 101
2
soma de todos os números da tabela. 13 + 23 + 33 + . . . + 1003 =
2
(b) Observe os pedaços destacados na tabela, todos em = 5.0502
forma de L. Os números do k−ésimo L são: = 25.502.500.
k, 2k, . . . , (k − 1)k, k 2 , (k − 1)k, . . . , 2k, k.

Calcule a soma dos mesmos em função de k.

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Dicas para o Professor
Recomendamos que seja utilizada uma sessão de 50 minu-
tos para desenvolver os exemplos contidos nesse material.
Na primeira metade da sessão, sugerimos que o professor
estimule os alunos a pensarem nos problemas propostos,
possivelmente dando dicas à medida que perceber suas di-

EP
ficuldades. As referências [1] e [2] contém vários outros
problemas propostos de calibre igual ou superior aos cole-
cionados aqui.

Sugestões de Leitura Complementar


1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar Vo-

BM
lume 1: Números Reais, 2a Edição. Rio de Janeiro,
SBM, 2013.
2. G. Iezzi, S. Hazzan. Os Fundamentos da Matemática
Elementar, Volume 4: Sequências, Matrizes, Deter-
minantes, Sistemas. São Paulo, Atual Editora, 2012.

O
l da
rta
Po

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Material Teórico - Módulo Progressões Aritméticas

PAs de Segunda Ordem

EP
Primeiro Ano

BM
Autor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

O
l da
rta
Po
1 PAs de segunda ordem e para o termo geral de PAs para obter

Dizemos que uma sequência (ak )k≥1 é uma PA de se- (b1 + bn−1 )(n − 1)
b1 + b2 + · · · + bn−1 =
gunda ordem1 se a sequência (bk )k≥1 , dada para k ≥ 1 2 
por bk = ak+1 − ak , for uma PA não constante. b1 + (b1 + (n − 2)r) (n − 1)
Para construir uma PA de segunda ordem (ak )k≥1 , po- =
2
demos começar com uma PA não constante, por exemplo (n − 1)(n − 2)r
= b1 (n − 1) + .

EP
2
(3, 7, 11, 15, 19, 23, 27, . . .);
Mas, como b1 = a2 − a1 , segue dos cálculos que fizemos
em seguida, estipulamos o termo inicial da PA de segunda acima que
ordem, digamos a1 = 2, e, a partir daı́, calculamos a2 , a3 ,
. . . utilizando as relações an = a1 + (b1 + b2 + · · · + bn−1 )
(n − 1)(n − 2)r
a2 − a1 = 3, a3 − a2 = 7, a4 − a3 = 11, . . . . = a1 + b1 (n − 1) +
2

BM
Assim fazendo, obtemos a PA de segunda ordem (n − 1)(n − 2)r
= a1 + (a2 − a1 )(n − 1) + .
2
(2, 5, 12, 23, 38, 57, 80, . . .). Por fim, resta notar que
O exemplo acima deixa claro que uma PA de segunda r = b2 − b1
ordem só fica totalmente determinada se conhecermos seus
três primeiros termos. De fato, só sabendo seus três pri- = (a3 − a2 ) − (a2 − a1 )
meiros termos é que teremos os dois primeiros termos da = a3 − 2a2 + a1 .
PA não constante formada pelas diferenças. O
A proposição a seguir mostra como calcular o termo ge-
ral de uma PA de segunda ordem O exemplo a seguir mostra que, o mais das vezes, melhor
Proposição 1. Dada uma PA de segunda ordem (ak )k≥1 , que tentar decorar (1) é repetir o argumento da demons-
temos tração.

Exemplo 2. Seja (ak )k≥1 a sequência definida por a1 = 1


da
(n − 1)(n − 2)r
an = a1 + (a2 − a1 )(n − 1) + , (1) e an+1 = an + 3n − 1 para todo inteiro positivo n. Calcule,
2
em função de n, o n−ésimo termo dessa sequência.
onde r = a3 − 2a2 + a1 é a razão da PA não constan-
te formada pelas diferenças entre termos consecutivos da Solução. Veja que (ak )k≥1 é uma PA de segunda ordem,
sequência (ak )k≥1 . pois an+1 − an = 3n − 1 e a sequência n 7→ 3n − 1 é a PA
não constante (2, 5, 8, 11, . . .).
Solução. Denote bk = ak+1 − ak , para todo k ≥ 1, de Para calcular an em função de n, em vez de aplicar dire-
l

sorte que (bk )k≥1 é uma PA de razão r. Somando membro tamente o resultado da proposição anterior, seguiremos os
a membro as igualdades passos de sua prova. Para tanto, começamos escrevendo
rta

a2 − a1 = b 1 a2 − a1 = 2
a3 − a2 = b 2 a3 − a2 = 5
a4 − a3 = b 3 a4 − a3 = 8
(2)
... ...
an−1 − an−2 = bn−2 an−1 − an−2 = 3(n − 2) − 1
Po

an − an−1 = bn−1 an − an−1 = 3(n − 1) − 1.


e efetuando os cancelamentos possı́veis no primeiro mem- Em seguida, somamos as igualdades acima membro a mem-
bro, obtemos bro e efetuamos os cancelamentos possı́veis para obter

an − a1 = b1 + b2 + · · · + bn−1 .

an − a1 = 2 + 5 + 8 + · · · + 3(n − 1) − 1

Agora, como (bk )k≥1 é uma PA de razão r, podemos 2 + (3n − 4) (n − 1)
=
utilizar sucessivamente as fórmulas para a soma dos termos 2
(3n − 2)(n − 1)
1 Este material é um extrato do Capı́tulo 4 de [1]. = .
2

http://matematica.obmep.org.br/ 1 matematica@obmep.org.br
Por fim, como a1 = 1, chegamos a Em seguida, fazemos k variar de 1 a n, obtendo as igual-
dades
(3n − 2)(n − 1)
an = a1 +
2 23 − 13 = 3 · 12 + 3 · 1 + 1
(3n − 2)(n − 1)
=1+ 33 − 23 = 3 · 22 + 3 · 2 + 1
2
1 43 − 33 = 3 · 32 + 3 · 3 + 1
2

= 3n − 5n + 4 .
2 ...

EP
(n + 1)3 − n3 = 3 · n2 + 3 · n + 1.
Voltando à Proposição 1, podemos utilizar (1) para cal- Por fim, somamos tais igualdades membro a membro e
cular a soma dos n primeiros termos de uma PA de se- efetuamos os cancelamentos possı́veis para obter
gunda ordem (ak )k≥1 , cuja PA das diferenças tenha razão
r = a3 − 2a2 + a1 . Para tanto, começamos escrevendo (1) (n + 1)3 − 13 = 3(12 + 22 + · · · + n2 )
com k no lugar de n: + 3(1 + 2 + · · · + n) + n

BM
(k − 1)(k − 2)r n(n + 1)
ak = a1 + (a2 − a1 )(k − 1) + . = 3S + 3 + n.
2 2
Em seguida, utilizando a notação Σ e a fórmula para a Portanto,
soma dos termos de uma PA, obtemos
n n  1 n(n + 1) 
X X (k − 1)(k − 2)r  S = (n + 1)3 − 13 − 3 −n
ak = a1 + (a2 − a1 )(k − 1) + 3 2
2 1 3 3n 2
+ 3n 
k=1 k=1
n n = n + 3n2 + 3n − −n
rX 3 2
= na1 + (a2 − a1 )

= na1 + (a2 − a1 )
X

k=1
(k − 1) +

n(n − 1) r
2
+
2
2
(k − 1)(k − 2)

n
X
k=1

k=1
(k − 1)(k − 2).
O =

=
1  2n3 + 3n2 + n 
3
1
6
2
2
n(2n + 3n + 1)
1
Vemos, portanto, que calcular a soma dos n primeiros = n(n + 1)(2n + 1).
6
da
termos de uma PA de segunda ordem requer calcularmos,
em função de n, a soma
n
Dicas para o Professor
X
(k − 1)(k − 2).
k=1
Para a média dos alunos, este material pode servir como
Para fazer isso, podemos começar escrevendo ilustração da ideia de somar membro a membro igualdades
como em (2): tanto podemos utilizá-las para calcular an
l

n
X n
X
(k − 1)(k − 2) = (k 2 − 3k + 2) em função de n, se conhecermos a1 e soubermos calcular
rta

k=1 k=1 b1 +b2 +· · ·+bn−1 , quanto para calcular b1 +b2 +· · ·+bn−1 ,


Xn n
X n
X se conhecermos an e a1 . Para alunos mais interessados em
= k2 − 3 k+ 2 Matemática, uma continuação natural deste material é o
k=1 k=1 k=1 estudo de recorrências lineares de segunda ordem, as quais
n
X n(n + 1) podem ser encontradas no Capı́tulo 4 de [1].
= k2 − 3 + 2n,
2
k=1
Po

de sorte que nos resta calcular Sugestões de Leitura Complementar


n
1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar Vo-
X
S= k2
k=1 lume 1: Números Reais, 2a Edição. Rio de Janeiro,
SBM, 2013.
em função de n.
A maneira mais simples de fazê-lo começa percebendo
que
(k + 1)3 − k 3 = (k 3 + 3k 2 + 3k + 1) − k 3
= 3k 2 + 3k + 1.

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Material Teórico - Módulo Progressões Geométricas

Progressões Geométricas: Definição e Lei de Formação

EP
Primeiro Ano

BM
Autor: Prof. Ulisses Lima Parente
Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

O
l da
rta
Po
1 Progressões geométricas só se, q = 1. Isto porque a1 , q 6= 0 implicam ak 6= 0
para todo k ≥ 1 e, daı́,
Continuando nosso estudo de sequências de números re-
ais, apresentamos, neste material, uma classe particular ak+1 = ak ⇔ ak q = ak ⇔ q = 1.
importante, formada pelas progressões geométricas.
Uma progressão geométrica, ou abreviadamente PG, (iii)’ Para a PG ser oscilatória, devemos ter ak ak+1 < 0
é qualquer sequência de números reais (finita ou infinita), para todo k ≥ 1. Mas, como ak+1 = qak , isso é o

EP
dada por uma recorrência do tipo: mesmo que qa2k < 0 para todo k ≥ 1; então, como
 a2k ≥ 0 sempre, temos qa2k < 0 se, e só se, q < 0.
a1 = a
,
ak+1 = q · ak , ∀k ≥ 1 (iv)’ A PG não pode ser crescente se a1 = 0 (nesse caso,
já vimos que ela seria constantemente igual a 0), nem
onde a e q são números reais dados. O número q é chamado
tampouco se a1 6= 0 mas q = 0 (quando ela seria
razão da PG.
estacionária) ou a1 6= 0 e q < 0 (quando ela seria
Observe que, se uma sequência (ak )k≥1 tem todos os
oscilatória). Então, a fim de que ela seja crescente,

BM
seus termos não nulos, então tal sequência é uma PG se, e
devemos ter a1 6= 0 e q > 0. Consideremos, pois, dois
só se,
a2 a3 a4 casos separadamente:
= = = ....
a1 a2 a3
(a) a1 > 0 e q > 0: é fácil ver que ak > 0 para todo
Ademais, sendo esse o caso, o valor comum das igualdades k ≥ 1. Portanto,
acima é precisamente a razão da PG.
A tı́tulo de exemplos, a sequência das potências de 2 ak+1 > ak ⇔ qak > ak ⇔ q > 1.
com expoentes inteiros e não negativos, (1, 2, 4, . . .), as-
sim como a sequência das potências de 12 com expoentes (b) a1 < 0 e q > 0: é fácil ver que ak < 0 para todo
inteiros e não negativos, (1, 12 , 41 , . . .), são PGs de razões
respectivamente iguais a 2 e 12 .
Mais geralmente, dado um número real p, a sequência
(1, p, p2 , . . .), formada pelas potências de p com expoentes
O k ≥ 1. Portanto,

ak+1 > ak ⇔ qak > ak ⇔ 0 < q < 1.

inteiros e não negativos, é uma PG de razão p. Realmente,


basta observar que 2 A lei de formação de uma PG
da
p p2 p3 pk+1 A proposição abaixo fornece uma importante fórmula
= = 2 = . . . = k = . . . = p.
1 p p p para a continuidade do estudo das PGs, conhecida como a
fórmula do termo geral de uma PG.
Costumamos classificar uma PG (ak )k≥1 como:
Proposição 1. Seja (ak )k≥1 uma PG de razão q. Então,
(i) Estacionária, se ak = 0, ∀k > 1 e a1 6= 0.
vale:
ak = a1 · q k−1 , ∀k ≥ 1. (1)
l

(ii) Constante, se ak+1 = ak , ∀k ≥ 1.


rta

(iii) Oscilante, se cada termo tem sinal contrário ao sinal Prova. Se a1 = 0 ou q = 0, é claro que ak = a1 ·q k−1 , ∀k ≥
do termo imediatamente anterior. 1. (Verifique esta afirmação!) Por outro lado, se a1 6= 0
e q 6= 0, então nossa discussão da classificação das PGs
(iv) Crescente, se ak+1 > ak , ∀k ≥ 1. deixa claro que ak 6= 0 para todo k ≥ 1. Sendo esse o caso,
(v) Decrescente, se ak+1 < ak , ∀k ≥ 1. podemos escrever:
a2
= q,
Tal classificação pode ser expressa em termos do primeiro a1
Po

termo a1 e da razão q da PG. De fato: a3


= q,
a2
(i)’ Se a1 6= 0, então, como a2 = qa1 , temos a2 = 0 ⇔ q =
0. Mas, sendo esse o caso, temos claramente ak = 0 a4
= q,
para todo k > 1. a3
...,
(ii)’ Se a1 = 0, então a PG é constante, independente-
mente do valor de q. Se a1 6= 0, então para a PG ak−1
= q,
ser constante é necessário que q 6= 0 (pois, caso fosse ak−2
q = 0, já vimos que ela seria estacionária). Por outro ak
lado, sendo a1 , q 6= 0, temos (ak )k≥1 constante se, e = q.
ak−1

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Multiplicando as igualdades acima membro a membro, vamos aplicar a fórmula para o termo geral de uma PG, a
obtemos fim de calcular sua razão:
a2 a3 a4 ak−1 ak a8 = a1 · q 8−1 ⇒ 10 = 1280 · q 7
· · · ...· · = q · q · q · . . . · q = q k−1 .
a1 a2 a3 ak−2 ak−1 | {z } 10 1
k−1 vezes ⇒ q7 = =
r 1280 128
Efetuando os cancelamentos possı́veis no primeiro membro, 7 1 1
⇒q= = .

EP
chegamos finalmente a 128 2
ak Portanto, os números reais procurados são
= q k−1 ,
a1 1 1
a2 = 1280 · = 640, a3 = 640 · = 320,
expressão que equivale a (1). 2 2
1 1
a4 = 320 · = 160, a5 = 160 · = 80,
Seguem algumas aplicações simples da fórmula acima: 2 2

BM
1 1
Exemplo 2. Calcule o 10o termo da PG (1, 2, 4, . . .). a6 = 80 · = 40 e a7 = 40 · = 20.
2 2
Solução. A razão da PG é dada por q = 21 = 2. Aplicando
a fórmula para o termo geral, fornecida pela proposição
anterior, obtemos: 3 Taxas de crescimento
a10 = a1 · q 10−1 = 1 · 29 = 512. Dada uma PG (ak )k≥1 de termos positivos e razão
(também positiva) q, gostarı́amos de calcular o crescimento

Exemplo 3. Os números a, b, 31 , 19 , c, d, e, f formam,


nessa ordem, uma PG. Calcule o valor do termo f .
O ou decrescimento percentual de um termo para o termo
seguinte. Genericamente, dois termos consecutivos da PG
são ak e ak+1 , de forma que o incremento de ak para ak+1
é igual a ak+1 − ak . Em relação a ak (i.e., em termos
percentuais), tal incremento foi de
Solução. Como os números em questão formam uma PG,
temos: ak+1 − ak ak+1 ak
da
1 = − = q − 1. (2)
1 1 ak ak ak
q = 91 = · 3 = .
3
9 3 Em particular, o incremento percentual não depende dos
1 termos consecutivos escolhidos, de forma que podemos de-
Daı́, utilizando a fórmula do termo geral para o termo 9, finir a taxa de crescimento da PG em questão como o
que é o quarto termo da PG, obtemos:
número i dado por
 4−1 i = q − 1.
1 1
=a· ⇒ a = 3.
l

9 3 Uma vez que a1 , q > 0, temos


rta

Aplicando mais uma vez a fórmula do termo geral, agora i > 0 ⇔ q > 1 ⇔ ak+1 > ak
para o oitavo termo f , obtemos: para todo k ≥ 1. Da mesma forma,
 8−1
1 1 1 i < 0 ⇔ 0 < q < 1 ⇔ ak+1 < ak
f =3· = 6 = .
3 3 729
para todo k ≥ 1. Portanto, apesar de seu nome, a taxa de
crescimento da PG acima fornece o crescimento percentual,
Po

se q > 1, e o decrescimento percentual, se 0 < q < 1, de


Exemplo 4. Encontre os números reais a2 , a3 , a4 , a5 , a6 um termo para o termo seguinte da PG.
e a7 , tais que a sequência Por exemplo, a PG (1, 2, 4, . . .), que possui razão igual
a 2, tem taxa de crescimento igual a i = 2 − 1, ou seja,
(1280, a2 , a3 , a4 , a5 , a6 , a7 , 10) i = 100%. Por outro lado, a PG (100, 80, 64, . . .) possui
80
razão q = 100 = 45 e taxa de crescimento i = 54 − 1 = − 15 ,
seja uma PG. ou seja, i = −20%. Por fim, a PG (4, 4, 4, . . .) possui razão
igual a 1 e taxa de crescimento i = 1 − 1 = 0, ou seja,
Solução. Observe que queremos encontrar uma PG cujo i = 0%.
primeiro termo é 1280 e cujo oitavo termo é 10. Para tanto, Vejamos alguns exemplos.

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Exemplo 5. A população de certa cidade é de dois milhões cujo primeiro termo representa o valor do empréstimo e ak
de habitantes e decresce 5% a cada dez anos. Qual será a representa o valor devido depois de k − 1 anos. Portanto,
população dessa cidade daqui a 30 anos? utilizando a fórmula do termo geral, obtemos:

Solução. Observe que estamos interessados em estimar a6 = a1 · 1, 25 = 100.000 · 2, 48832 = 248.832,


a população da cidade depois de 3 perı́odos de 10 anos.
Como, i = −5% = −0, 05, o nosso interesse é encontrar o isto é, a dı́vida de João será de R$ 248.832, 00 após 5 anos.
quarto termo da PG

EP
(a1 , a2 , a3 , a4 ), Exemplo 7. Um automóvel novo custa 54 mil reais e depois
de 3 anos de uso passa a custar 16 mil reais. Supondo que
que tem primeiro termo igual a 2.000.000 e razão q = 1 + o valor do automóvel decresça a uma taxa anual constante
i = 1 − 0, 05 = 0, 95. Portanto, mais uma vez invocando a (conhecida como taxa de depreciação, calcule o valor do
fórmula do termo geral, obtemos: automóvel após 1 ano de uso.
Solução. Denotaremos (x1 , x2 , x3 , x4 ) a PG em que cada

BM
a4 = a1 · 0, 953 = 2.000.000 · 0, 857375 = 1.714.750.
xk representa o valor do automóvel após k − 1 anos, para
k ∈ {1, 2, 3, 4}. Temos, então, x1 = 54.000 e x4 = 16.000.
Utilizando a fórmula do termo geral, temos:
A noção de taxa de crescimento é particularmente im-
portante para a análise de situações envolvendo juros com- x4 = x1 q 3 ⇒ 16.000 = 54.000 · q 3
postos, isto é, juros que incidem periodicamente, a uma 16.000 8
⇒ q3 = =
taxa constante i, sobre um montante. Mais precisamente, 54.000 27
r
suponha que empatamos um capital C em uma aplicação 3 8 2
financeira que rende uma taxa percentual i de juros men- O ⇒q= = .
27 3
sais. Após o primeiro mês, o montante de que disporemos
passou de C a Portanto, o valor do automóvel após 1 ano de uso é:

C + i · C = (i + 1)C; 2
a2 = a1 q = 54.000 · = 36.000.
3
concluı́do o segundo mês, teremos agora
da
(i + 1)C + i · (i + 1)C = (i + 1)2 C.

Prosseguindo com o raciocı́nio acima, é fácil perceber Dicas para o Professor


que os valores de que disporemos serão, mês a mês, suces-
sivamente iguais a Recomendamos que seja utilizada uma sessão de 50min
para discutir cada uma das seções que compõem este ma-
C, (1 + i)C, (1 + i)2 C, (1 + i)3 C, . . . ,
l

terial. O principal objetivo da classificação das PGs, dis-


cutida na Seção 1, é simplesmente acostumar os alunos à
rta

sequência que é uma PG de razão 1 + i. Portanto, a taxa definição e a manipulações algébricas simples com PGs.
de crescimento dessa PG é igual a Na Seção 2, antes de mostrar a fórmula do termo geral
de uma PG qualquer, tente fazer com que os alunos a
(1 + i) − 1 = i,
descubram por meios próprios, fazendo alguns exemplos
isto é, coincide com a taxa percentual de juros cobrados. numéricos simples. Na seção 3, evidencie como problemas
envolvendo taxas de crescimento aparecem na vida cotidi-
Exemplo 6. João pediu a uma amigo um empréstimo de ana dos alunos.
Po

R$ 100.000, 00 com juros de 20% ao ano, para começar a As referências colecionadas a seguir contém muitos
pagar em cinco anos. Qual será a sua dı́vida após esse exemplos e problemas, de variados graus de dificuldade,
perı́odo? relacionados ao conteúdo do presente material.

Solução. Observe que i = 20% = 0, 2. Logo, a PG for-


mada pelos valores devidos por João ao amigo ao final de Sugestões de Leitura Complementar
cada ano possui razão dada por q = 1 + i = 1 + 0, 2 = 1, 2.
Veja também que estamos procurando o sexto termo da 1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Vo-
PG lume 1: Números Reais, 2a Edição. Rio de Janeiro,
(a1 , a2 , a3 , a4 , a5 , a6 ), SBM, 2013.

http://matematica.obmep.org.br/ 3 matematica@obmep.org.br
2. G. Iezzi, S. Hazzan. Os Fundamentos da Matemática
Elementar, Volume 4: Sequências, Matrizes, Deter-
minantes, Sistemas. São Paulo, Atual Editora, 2012.
3. E. Lima, P. Carvalho, E. Wagner, A. Morgado, A Ma-
temática do Ensino Médio, Volume 2, 5a Edição. Rio
de Janeiro, SBM, 2004.

EP
BM
O
l da
rta
Po

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Material Teórico - Módulo Progressões Geométricas

Progressões Geométricas: Exercı́cios de Fixação

EP
Primeiro Ano

BM
Autor: Prof. Ulisses Lima Parente
Autor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

O
l da
rta
Po
1 Exercı́cios de Fixação Resolvendo a equação biquadrada acima1 (e levando√
em
conta que q 2 > 0), obtemos sucessivamente q 2 = 1+2 5 e,
Este material discute alguns exercı́cios clássicos envol- daı́,
vendo os conceitos sobre progressões geométricas discuti- s √
dos na aula anterior. 1+ 5
q= .
2
Exemplo 1. Sabendo que a sequência (x+1, x+3, x+4, . . .)
é uma PG de termos não nulos, calcule o seu quarto termo.

EP
A solução do exemplo anterior utilizou, em última
Solução. Como a sequência em questão é uma PG, temos:
análise, o fato de que toda PG de três termos pode ser
x+3 x+4 escrita da forma
= . (x, qx, q 2 x).
x+1 x+3
Daı́, segue que Utilizaremos essa representação já no próximo exemplo,
que também apresenta outras dificuldades algébricas.
(x + 3)2 = (x + 1)(x + 4) ⇒ x2 + 6x + 9 = x2 + 5x + 4

BM
Exemplo 4. A soma de três números em PG é 19 e a soma
⇒ x = −5. dos seus quadrados é 133. Encontre esses números.
Portanto, os três primeiros termos da PG são −4, −2 e Solução. Como comentamos acima, denotamos a PG por
−1, ao passo que sua razão é q = −1 1
−2 = 2 . Desse modo, o
(x, qx, q 2 x). Agora, utilizando as hipóteses do enunciado,
quarto termo é dado por temos:
2
1 1 x + qx + q 2 x = 19 e x2 + (qx)2 + q 2 x = 133
a4 = q · a3 = · (−1) = − .
2 2
ou, o que é o mesmo,

Exemplo 2. Seja (ak )k≥1 uma sequência de números reais


não nulos. Prove que ela é uma PG se, e só se,
O x 1 + q + q 2 = 19 e x2 (1 + q 2 + q 4 ) = 133.


A fim de resolver o sistema de equações formado pelas


duas últimas igualdades acima, começamos elevando am-
(1)

ak+2 ak = a2k+1 , ∀ k ≥ 1. bos os membros da primeira delas ao quadrado, para obter


da
2
Prova. Por definição, a sequência é uma PG (de razão q) x2 1 + q + q 2 = 192 = 361.
se e só se
a2 a3 a4 Em seguida, dividimos membro a membro essa última
= = = · · · = q,
a1 a2 a3 equação com a segunda equação em (1), chegando a
i.e., se e só se, para todo k ≥ 1 inteiro, tivermos
x✚
2
✚ 2
1 + q + q2 361 19
ak+2 ak+1 = = . (2)
= . ✚✚2 2
x (1 + q + q )4 133 7
ak+1 ak
l

A partir desse ponto, não é conveniente simplesmente


Multiplicando em ×, obtemos a relação do enunciado. expandirmos o quadrado do numerador e multiplicar em
rta

Exemplo 3. Os comprimentos dos lados de um triângulo × em seguida; se fizéssemos assim, obterı́amos a equação
retângulo, quando ordenados do menor para o maior, for- completa de quarto grau
mam uma progressão geométrica crescente. Calcule a 6q 4 − 7q 3 − q 2 − 7q + 6 = 0.
razão dessa progressão.
A alternativa é, então, lembrarmos que
Solução. Denotando por x o comprimento do menor lado
q 3 − 1 = q 3 − 13 = (q − 1) q 2 + q + 1
Po


e por q a razão da PG, temos que os comprimentos dos
lados do triângulo retângulo em questão são dados por
x, qx, q 2 x. Como a PG é crescente e a hipotenusa é o maior e
lado, temos q > 1, x e qx são os comprimentos dos catetos q6 − 1 = q2
3
− 13
e q 2 x é o comprimento da hipotenusa.   2 2 
Agora, aplicando o Teorema de Pitágoras, obtemos: = q2 − 1 q + q2 + 1
= q2 − 1 q4 + q2 + 1 .
2  
x2 + (qx)2 = q 2 x ⇒ x2 + q 2 x2 = q 4 x2
1 A esse respeito, veja por exemplo o material teórico da vı́deo-
⇒ x2 1 + q 2 = q 4 x2

aula Equações de Segundo Grau: Outros Resultados Importantes, do
⇒ q 4 − q 2 − 1 = 0. módulo Equações de Segundo Grau do nono ano.

http://matematica.obmep.org.br/ 1 matematica@obmep.org.br
Escrevendo as igualdades acima da forma Solução. No item (a), como o rendimento anual real (taxa
de crescimento) do dinheiro aplicado por João é de 6% −
q3 − 1 q6 − 1 4% = 2%, após n anos o valor real do capital de João será
q2 + q + 1 = e q4 + q2 + 1 = 2
q−1 q −1 de  2 n  51 n
e substituindo tais expressões em (2), obtemos 100.000 1 + = 100.000 .
100 50
2  Queremos encontrar o menor n de forma que esse valor
q3 − 1 q2 − 1
 
19

EP
= seja pelo menos de 200.000. Portanto, é suficiente pedir
q−1 q6 − 1 7 que
 51 n
ou, ainda, ≥ 2.
50
2 Com o auxı́lio de uma calculadora cientı́fica, observamos
q3 − 1 (q − 1)(q + 1) 19
2
· 3 3
= . que o menor valor de n é 36, para o qual
(q − 1) (q − 1) (q + 1) 7
 51 36

BM
Cancelando os fatores q 3 − 1 e q − 1, obtemos a equação 100.000 ∼
= 203.988.
50
q 3 − 1 (q + 1)

19 Em (b), um raciocı́nio análogo ao acima garante que,
= .
(q 3 + 1) (q − 1) 7 após n anos, o valor real dos 100.000 aplicados por João
será de
Agora, utilizando também a fatoração
 3 n  103 n
q 3 + 1 = (q + 1) q 2 − q + 1 ,
 100.000 1 + = 100.000 .
100 100

podemos reescrever a última equação acima como Então, queremos o menor n para o qual

q 2 + q + 1 (q − 1)(q + 1)


(q 2 − q + 1) (q + 1)(q − 1)
=
19
7
O  103 n
100
≥ 2,

e a calculadora mostra que n = 24. Com tal valor de n,


ou, finalmente,
2 João terá após 24 anos (e em valores reais)
q +q+1 19
da
2
= .
q −q+1 7  103 24
100.000 ∼
= 234.497.
Multiplicando em ×, vemos que essa última equação é 100
equivalente à equação de segundo grau
Por fim, na situação do item (c), a depreciação anual
2
6q − 13q + 6 = 0 real (taxa de crescimento) do dinheiro aplicado por João é
de 6% − 10% = −4%. Portanto, após n anos, o valor real
que, resolvida, fornece q = 23 ou q = 23 . Então, substi- do capital de João será de
l

tuindo sucessivamente q = 32 e q = 23 na primeira equação  4 n  24 n


de (1), obtemos respectivamente x = 9 e x = 4. 100.000 1 − = 100.000 .
rta

100 25
Portanto, os números procurados são 9, 9· 23 = 6 e 6· 32 =
4. Para n = 10 (e uma vez mais com o auxı́lio de uma calcu-
ladora cientı́fica), temos
Exemplo 5. Em um paı́s, a taxa de inflação é de 4% ao
ano, enquanto a poupança rende 6% ao ano. Na virada do  24 10
ano, João aplicou 100.000 na poupança. Pergunta-se: 100.000 = 66.483.
25
Po

(a) Após quantos anos ele conseguirá dobrar o valor real


do dinheiro aplicado?
Exemplo 6. Prove que não existe uma PG que tenha os
(b) Mantendo o rendimento anual da poupança em 6%, números 2, 3 e 5 como três de seus termos.
mas reduzindo a inflação para 3% ao ano, qual a nova
resposta do item (a)? Prova. Suponha que (ak )k≥1 seja uma PG de razão q, tal
que am = 2, an = 3 e ap = 5, para certos naturais dois a
(c) E se a inflação média fosse de 10% ao ano (mas nova- dois distintos m, n e p. Então, pela fórmula para o termo
mente mantendo o rendimento da poupança em 6% ao geral, temos
ano), qual seria o valor real do dinheiro aplicado por
João após dez anos? a1 q m−1 = 2, a1 q n−1 = 3 e a1 q p−1 = 5.

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Dividindo membro a membro a primeira e a segunda
igualdades acima, assim como a primeira e a terceira igual-
dades, obtemos respectivamente
2 2
q m−n = e q m−p = .
3 5
Portanto,

EP
 m−p  m−n
2 (m−n)(m−p) 2
=q =
3 5

ou, o que é o mesmo,

2n−p · 5m−n = 3m−p .

BM
Por fim, a última igualdade acima contradiz o fato de
que todo número natural maior que 1 admite apenas uma
fatoração como produto de potências de primos.

Dicas para o Professor


Recomendamos que sejam utilizadas pelo menos duas
sessões de 50min para discutir os exemplos deste material.
Caso o professor não disponha de todo esse tempo, reco-
mendamos resolver pelo menos os exemplos 1, 2, 3 e 5.
Este último é especialmente interessante, por mostrar de
uma maneira simples o impacto negativo de uma taxa de
O
inflação alta na economia.
da
As referências colecionadas a seguir contém muitos
exemplos e problemas, de variados graus de dificuldade,
relacionados ao conteúdo do presente material.

Sugestões de Leitura Complementar


1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Vo-
l

lume 1: Números Reais, 2a Edição. Rio de Janeiro,


rta

SBM, 2013.
2. G. Iezzi, S. Hazzan. Os Fundamentos da Matemática
Elementar, Volume 4: Sequências, Matrizes, Deter-
minantes, Sistemas. São Paulo, Atual Editora, 2012.
3. E. Lima, P. Carvalho, E. Wagner, A. Morgado, A Ma-
temática do Ensino Médio, Volume 2, 5a Edição. Rio
Po

de Janeiro, SBM, 2004.

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Material Teórico - Módulo Progressões Geométricas

Progressões Geométricas: Soma dos Termos de uma PG Finita

EP
Primeiro Ano

BM
Autor: Prof. Ulisses Lima Parente
Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

O
l da
rta
Po
1 A soma dos termos de uma PG A utilização desta última fórmula é, por vezes, mais ade-
quada, porque ela é dada em função do primeiro termo,
finita do número de termos somados e da razão, ao passo que,
Continuando o nosso estudo de PGs, apresentamos a para utilizar a fórmula dada na proposição 1, precisamos
fórmula abaixo, conhecida como fórmula da soma dos calcular primeiro o último termo da soma.
termos de uma PG finita. A seguir, apresentamos um argumento ligeiramente di-
ferente para justificar (1), o qual será útil mais adiante (cf.

EP
Proposição 1. Seja (ak )k≥1 uma PG de razão q 6= 1. Exemplo 8).
Então:
n Segunda prova da proposição 1. Denotando
X an+1 − a1
a1 + a2 + . . . + an = ak = . (1)
q−1 S = a1 + a2 + a3 + . . . + an−1 + an ,
k=1

Antes de iniciar a prova da proposição 1, provaremos o temos


seguinte resultado auxiliar:

BM
qS = q(a1 + a2 + a3 + . . . + an−1 + an )
Lema 2. Se q 6= 1 é um número real, então:
= qa1 + qa2 + qa3 + . . . + qan−1 + qan
2 n−1 qn − 1
1 + q + q + ...+ q = . = a2 + a3 + a4 + . . . + an + an+1 .
q−1
Utilizando as duas expressões acima para calcular (q −
Prova do lema. É suficiente provar que
1)S = qS − S, temos
(q − 1)(1 + q + q 2 + . . . + q n−1 ) = q n − 1.
(q − 1)S = qS − S
Para tanto, efetuando os produtos do primeiro membro e, O a✚
= (✚2 +✚a✚
3 +✚a✚
4 + . . . +✟a✟
n + an+1 )
em seguida, fazendo os cancelamentos possı́veis, obtemos:
a✚
− (a1 + ✚2 +✚a✚
3 + . . . +✘ ✘+✟

an−1 a✟n)
(q − 1)(1 + q + q 2 + . . . + q n−1 ) = = an+1 − a1 .

q✓2 + ✓
= q✁ + ✓ q✓3 + . . . + ✟ ✟✟ + qn
q n−1 Logo, (q − 1)S = an+1 − a1 , expressão que equivale a
✟ − q n−1
✟ ✟
−1 − ✁q − ✓ q✓2 − . . . − ✟
q n−2 ✟✟ (1).
da
= q n − 1. Daremos, agora, alguns exemplos utilizando as fórmulas
apresentadas acima.
Primeira prova da proposição 1. Utilizando a
Exemplo 3. Qual é a soma dos 8 primeiros termos da PG
fórmula do termo geral de uma PG, obtemos:
(4, 12, 36, . . .)?
a1 + a2 + . . . + an = a1 + a1 · q + . . . + a1 · q n−1
Solução. Iniciamos, notamos que a razão da PG é q =
l

= a1 (1 + q + . . . + q n−1 ). 12
4 = 3. Em seguida, utilizando a fórmula alternativa (2)
rta

para a soma dos termos de uma PG finita, e denotando


Agora, utilizando o resultado do lema 2 e, em seguida,
por S a soma dos 8 primeiros termos da PG (4, 12, 36, . . .),
novamente a fórmula para o termo geral, vem que:
obtemos:
qn − 1
a1 + a2 + . . . + an = a1 · q8 − 1 38 − 1
q−1 S = a1 · =4·
a1 · q n − a1 q−1 3−1
= 6561 − 1
q−1 = 4· = 2 · 6560 = 13.120.
Po

an+1 − a1 2
= .
q−1

Exemplo 4. Calcule a soma dos termos da PG


A demonstração da proposição 1 deixa claro que vale a
seguinte fórmula alternativa para a soma dos termos de (5, 15, 45, . . . , 10.935).
uma PG finita:
n Solução. Antes de aplicar a fórmula para a soma dos ter-
X qn − 1 mos de uma PG, dada pela proposição 1, precisamos encon-
a1 + a2 + . . . + an = ak = a1 · . (2)
q−1 trar o termo que sucede 10.935 na PG. Para tanto, perceba
k=1

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que a razão q da PG vale q = 155 = 3, e assim o termo que Solução. Note que
sucede 10.935 é 10.935 · 3 = 32.805. Portanto,
11 . . . 1} = 1 + 10 + 102 + . . . + 10k−1 .
| {z
32.805 − 5 k algarismos
5 + 15 + 45 + . . . + 10.935 =
3−1
32800 Agora, a expressão numérica que aparece do lado di-
= reito da equação acima é a soma dos termos da PG
2
(1, 10, 102, . . . , 10k−1 ), cuja razão é 10 e cuja soma é

EP
= 16.400.
10(k−1)+1 − 1 10k − 1
= .
10 − 1 9
No exemplo anterior, observe que fizemos o cálculo de-
sejado sem ter a menor ideia da quantidade n de termos
da PG. Contudo, se quisermos calculá-la, basta observar Exemplo 7. Calcule o valor da soma de 100 parcelas dada
que abaixo:

BM
10.935 = an = a1 · q n−1 = 5 · 3n−1 . S = 1 + 11 + 111 + . . . + 11 . . . 1.
Portanto, Solução. Vimos no exemplo anterior que
10.935
3 n−1
= = 2.187 = 37
5 10k − 1
11 . . . 1} = , ∀k ≥ 1.
e, assim, n = 8. | {z 9
k algarismos

Exemplo 5. Se S3 = 38 e S4 = 65 são, respectivamente, as


Aplicando essa fórmula a cada uma das cem parcelas de
somas dos três e dos quatro primeiros termos de uma PG
S, reagrupando os termos assim obtidos e, em seguida,
cujo termo inicial é 8, encontre a soma dos 6 primeiros
termos.

Solução. Denotando a progressão geométrica em questão


por (a1 , a2 , a3 , . . .), temos:
O aplicando novamente a fórmula para a soma dos termos de
uma PG finita, temos sucessivamente:

S = 1 + 11 + 111 + . . . + 11 . . . 1
10 − 1 102 − 1 103 − 1 10100 − 1
= + + + ...+
S4 − S3 = (a1 + a2 + a3 + a4 ) − (a1 + a2 + a3 ) = a4 . 9 9 9 9
da
 
10 + 102 + 103 + . . . + 10100 1 1 1
Portanto, a4 = 65 − 38 = 27. = − + + ...+
9 9 9 9
Por outro lado, utilizando a fórmula do termo geral para | {z }
100 parcelas
o termo a4 , podemos encontrar a razão q da PG:
1 10101 − 10 100
27 = · −
27 = a4 = a1 · q 3 = 8 · q 3 ⇒ q 3 = 9 10 − 1 9
r8 10101 − 10 900
= −
l

3 27 3 81 81
⇒q= = .
8 2 10101 − 910
rta

= .
Por fim, aplicando a fórmula da soma dos termos, temos: 81

6 
3 6
X q6 − 1 2 −1
ak = a1 · =8· 3 O exemplo a seguir é bastante importante, pois mos-
q−1 2 −1
k=1 tra que a ideia utilizada na segunda demonstração que
729
−1 665 apresentamos para a fórmula da soma dos termos de uma
64
1✚
Po

=8 =✚6·
1
2 ✚✚
64 PG finita pode, por vezes, ser adaptada a outros tipos de
665 sequências. No caso do exemplo em questão, a sequência
= .
4 1 3 5 99 
, 2 , 3 , . . . , 50
2 2 2 2
é uma progressão aritmético-geométrica (abreviamos
Exemplo 6. Mostre que PAG), isto é, uma sequência (ak )k≥1 tal que, para cada
natural k, temos ak = bk ck , onde (bk )k≥1 é uma PA e
10k − 1
11 . . . 1} = , ∀k ≥ 1. (ck )k≥1 é uma PG. (No caso da PAG acima, temos bk =
| {z 9 2k − 1 e ck = 21k , para 1 ≤ k ≤ 50.)
k algarismos

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Exemplo 8. Calcule o valor da soma Observamos que a técnica utilizada na solução do exem-
50 plo anterior pode ser facilmente adaptada para calcular a
X 2k − 1 1 3 5 99 soma
S= = + + 3 + . . . + 50 . n
2k−1 2 22 2 2 X
k=1 ak
Solução. Começamos multiplicando S pela razão da PG k=1
envolvida na PAG dada (no caso, 12 ): dos n primeiros termos de uma PAG (ak )k≥1 em termos
dos primeiros termos e das razões da PA e da PG. Isto é

EP
 
S 1 1 3 5 99
= · + + 3 + . . . + 50 feito em [1], por exemplo.
2 2 2 22 2 2
1 3 5 99 Dicas para o Professor
= 2 + 3 + 4 + . . . + 51 .
2 2 2 2
Em seguida, subtraı́mos membro a membro as igualda- Recomendamos que sejam utilizadas duas sessões de
des 50min para discutir o conteúdo deste material. Procure
1 3 5 99 fazer alguns exemplos de somas de poucos termos em PG
S = + 2 + 3 + . . . + 50

BM
2 2 2 2 antes de abordar a fórmula geral da proposição 1. Apro-
e veite a ocasião e saliente a importância do lema 2 como
S 1 3 5 99
= 2 + 3 + 4 + . . . + 51 , ferramenta para fatorações.
2 2 2 2 2
As referências colecionadas a seguir contém muitos
e reagrupamos as parcelas assim obtidas de acordo com as
exemplos e problemas, de variados graus de dificuldade,
potências de 21 envolvidas, para escrever
relacionados ao conteúdo do presente material.
S S
=S−
2 2   
1 3 1 5 3 Sugestões de Leitura Complementar
= +
2

+ ... +
1 2
22

− 2 +

99
250
2
2
97

23

− 50 − 51
2
2
− 3

2
2
99

99
O 1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Vo-
lume 1: Números Reais, 2a Edição. Rio de Janeiro,
SBM, 2013.
= + 2 + 3 + . . . + 50 − 51 2. G. Iezzi, S. Hazzan. Os Fundamentos da Matemática
2 2 2 2 2
Elementar, Volume 4: Sequências, Matrizes, Deter-
da
1 1 1 1 99
= + + 2 + . . . + 49 − 51 . minantes, Sistemas. São Paulo, Atual Editora, 2012.
2 2 2 2 2
Agora, observe que a soma dos termos da PG 3. E. Lima, P. Carvalho, E. Wagner, A. Morgado, A Ma-
 
1 1 1 temática do Ensino Médio, Volume 2, 5a Edição. Rio
, , . . . , 49 , de Janeiro, SBM, 2004.
2 22 2
que possui razão 21 , é igual a:
l

1 1 1 1 1
249 · 2− 2 250 − 2 1
= =1− .
rta

1 1 249
2 −1 2 −1

Substituindo esse resultado na última expressão acima


para S2 , chegamos a
S 1  1  99
= + 1 − 49 − 51
2 2 2 2
3 1 99
= − 49 − 51
Po

2 2 2
3 · 250 − 22 − 99
=
251
50
3 · 2 − 103
= .
251
Portanto,
S 3 · 250 − 103
S =2· = .
2 250

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Material Teórico - Módulo Progressões Geométricas

A Soma dos Termos de uma PG Ininita

EP
Primeiro Ano

BM
Autor: Prof. Ulisses Lima Parente
Autor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

O
l da
rta
Po
1 A soma dos termos de uma PG assim,
finita n ≥ 20 =⇒ 2n ≥ 220 > 100.000
1 1
Dando continuidade a nosso estudo de progressões =⇒ n < .
geométricas, concentraremos nossos esforços aqui em obter 2 100.000
uma fórmula que nos permita calcular a soma dos termos Portanto,
de uma PG infinita, desde que tal soma faça sentido.

EP
Vimos nas aulas anteriores que a soma dos termos de 1
n ≥ 20 =⇒ 0 < 1 − Sn < ,
uma PG finita (a1 , a2 , . . . , an ), com razão q 6= 1, é dada 100.000
pela fórmula de sorte que a diferença entre Sn e 1 só aparece na sexta
casa decimal.
an+1 − a1 1 − qn Graças à discussão acima, definimos o valor da soma
a1 + a2 + · · · + an = = a1 · . (1) infinita
q−1 1−q 1 1 1
S = + + + ···

BM
A fim de ilustrar a extrapolação de (1) a certas PGs in- 2 4 8
finitas, apliquemos a fórmula acima ao caso da progressão como sendo igual a 1:

1 1 1
 1 1 1
, , ,... . + + + · · · = 1. (2)
2 4 8 2 4 8
Um outro modo, desta vez geometricamente intuitivo,
Denotando por Sn a soma de seus n primeiros termos,
de ver que a soma S dada acima vale 1 é o seguinte: su-
segue daquela fórmula que
ponha que um quadrado de lado 1cm é dividido em dois
1 1 1 1 retângulos de lados 12 cm e 1cm cada, e que descartamos
Sn =

= ·
2
+ + + ...+ n
2 4 8
1 1 − 21
1 − 12
1
n
2
1 1 − 21
= ·
2 1
2
n
O um desses retângulos, cuja área vale 12 cm2 .
Em seguida, o outro retângulo é dividido em dois qua-
drados de lado 21 cm, e também descartamos um desses
quadrados, cuja área vale 14 cm2 .
= 1 − n. A essa altura, a soma das áreas das figuras descartadas
2 é 12 + 41 (veja a figura 1).
da
Agora, examinemos os valores de 21n e Sn , para n res- 1 cm
pectivamente igual a 2, 3, 4, . . . , 8. Os valores correspon-
dentes (obtidos com o auxı́lio de uma calculadora) estão
colecionados na tabela abaixo:
n 1/2n Sn
2 0, 25 0, 75
l

3 0, 125 0, 875
4 0, 0625 0, 9375
rta

1 1
cm cm
5 0, 03125 0, 96875 2 4

6 0, 015625 0, 984375
7 0, 0078125 0, 9921875
Figura 1: interpretando geometricamente a soma S.
8 0, 00390625 0, 99609375
Da tabela acima, vemos que quanto maior o valor de n Repetindo esse procedimento n vezes, obtemos que a
menor é o valor de 21n . Além disso, à medida que n au- soma das áreas das figuras descartadas é dada por
Po

menta, aparentemente os valores de 21n se aproximam cada 1 1 1 1


vez mais de 0, de sorte que os valores de Sn se aproximam Sn = + + + ···+ n.
2 4 8 2
cada vez mais de 1.
Esse é realmente o caso. De fato, se quisermos que Intuitivamente, percebemos que a área da figura que so-
bra depois de efetuarmos n descartes fique cada vez mais
1 próxima de zero, ou seja, que a soma das áreas das figu-
0 < 1 − Sn < ,
100.000 ras que foram descartadas fique cada vez mais próxima da
área do quadrado, que vale 1cm2 . Isso sugere a validade
por exemplo, basta observarmos que, como como 24 > 10,
da igualdade
temos 5 1 1 1
220 = 24 > 105 = 100.000; + + + · · · = 1.
2 4 8

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Generalizamos a discussão acima com a proposição a Então, se quisermos que a diferença entre os valores de
seguir, cuja demonstração pode ser omitida numa primeira a1
Sn e só apareça a partir da m−ésima casa decimal,
leitura. A fórmula (3) a seguir é conhecida como a soma 1−q
basta pedirmos que
dos termos de uma PG infinita.

Proposição 1. Se (a1 , a2 , a3 , . . .) é uma PG de razão |q| < 1 1


10k · < m,
1, então vale: n 10

EP
+∞
X a1 isto é, que n > 10m+k .
a1 + a2 + a3 + · · · = ak = . (3) Em resumo, o argumento acima mostra que, sendo
1−q
k=1 a1 1
· < 10k , então, dado m ∈ N, temos
1−q a
Antes de provarmos a proposição acima, observamos que
o sentido da igualdade (3) deve ser entendido da mesma
a1 1 1
forma que (2), isto é, pondo Sn − < 10k · < m
1−q n 10

BM
Sn = a 1 + a 2 + · · · + a n ,
para todo n > 10m+k .
a1
temos de mostrar que a diferença entre Sn e se apro-
1−q Logo, podemos tornar as somas Sn tão próximas quanto
xima cada vez mais de 0, à medida que n aumenta. a1
queiramos de , bastando, para tanto, tomar n sufici-
Para conseguirmos mostrar isso, faremos essencialmente 1−q
o mesmo que fizemos na discussão que levou a (2); a dife- entemente grande. Mas, como vimos imediatamente antes
rença é que será mais difı́cil estimar o tamanho de |q|n do da demonstração, esse é precisamente o sentido da igual-
que foi estimar o tamanho de 2n . dade (3).

Prova. Se q = 0, não precisamos fazer nada. Suponha,


portanto, que 0 < |q| < 1. Segue de (1) que

Sn −
a1
= a1 ·
1 − qn

a1
O Observação 2. Quando a razão q de uma PG infinita sa-
tisfaz |q| ≥ 1 e seu primeiro termo a1 é não nulo, não é
possı́vel dar um sentido à soma infinita
1−q 1−q 1−q
(4) a1 + a2 + a3 + · · · .
a1 q n a1
· |q|n .
da
= =
1−q 1−q
Ademais, se a1 > 0 e q > 1, então as somas finitas Sn =
Agora, observe que 0 < |q| < 1 ⇒ 1
> 1, de forma que a1 + a2 + · · · + an ficam tão grandes quanto queiramos,
|q|
podemos escrever bastando tomar n suficientemente grande.
1
= 1 + a,
|q| No restante deste material, discutimos algumas aplica-
ções da Proposição 1.
para algum a > 0. Então, para n > 1, temos
l

1 Exemplo 3. Calcule a soma dos termos da PG


rta

= (1 + a)n = (1 + a) . . . (1 + a)
|q|n | {z }  
n vezes 2 2
2, , , . . . .
= 1 + na + (soma de parcelas positivas) 3 9
> na,
2 1
Solução. Temos a1 = 2 e q = 3 ÷2 = 3. Portanto,
1 utilizando (3), obtemos:
o que é o mesmo que |q|n < .
na
Po

De volta a (4), vemos que 2 2 2 2


2+ + + ··· = 1 = 2 = 3.
a1 a1 a1 1 3 9 1− 3 3
Sn − = · |q|n < · .
1−q 1−q 1 − q na
a1 1
Agora, a constante · é menor do que alguma
1−q a
k
potência de 10, digamos 10 , para alguma constante k; Exemplo 4. Calcule, se estiver definida, a soma dos ter-
isso nos dá mos da PG infinita
√ cujo primeiro
√ e segundo termos são,
a1 1 5 5
Sn − < 10k · . nessa ordem, √ e √ .
1−q n 5+1 5+5

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5 Daı́, obtemos
Solução. Temos a1 = √ e
5+1
7
√ √ 11 − 11q = 4 =⇒ 11q = 7 =⇒ q = .
5 5 11
q= √ ÷ √
5+5 5+1
√ √
✚✚5 5+1
= √ · √
5+5 ✚✚ 5 Para o próximo exemplo, observe que um decimal infi-

EP
√ √
1+ 5 1+ 5 nito
= √ = √ √
5+ 5 5( 5 + 1) 0, a1 a2 a3 . . . , (5)
1
= √ < 1. (isto é, tal que o algarismo an é não nulo para infinitos
5 valores de n) é uma abreviação para a soma infinita
Portanto, a soma S da PG infinita em questão tem sen- a1 a2 a3
tido e, invocando uma vez mais a fórmula da Proposição + + + ··· . (6)

BM
10 102 103
1, obtemos:
√ √ Em Matemática, somas infinitas da forma acima são
√ 5 √ 5 denominadas séries, mas seu estudo está bem além do
5+1 5+1
S= = √
propósito destas notas. Se, contudo, o decimal (5) for uma
1 − √15 √5−1

√ √
5 dı́zima periódica, então (6) se reduz à soma dos termos
5 5 de uma PG infinita, com razão de módulo menor que 1.
=√ ·√
5+1 5−1 Nosso último exemplo esclarece esse ponto.
√ 2
5 5 Exemplo 7. Quais as frações geratrizes das dı́zimas
=√ 2
5 −1 2
= .
4
O periódicas 0, 777 . . . e 0, 4323232 . . .?

Solução. Para a primeira dı́zima, observe que


Exemplo 5. Calcule a soma dos termos da PG infinita 0, 777 . . . = 0, 7 + 0, 07 + 0, 007 + . . .
  7 7 7
da
2 1 1 1 = + + + ··· ,
,− , ,− ,... . 10 100 1.000
5 5 10 20

2 ou seja, a dı́zima 0, 777 . . . é a soma dos termos da PG


Solução. Neste caso, temos a1 = e infinita que tem a1 = 107
e q = 10 1
. Portanto,
5
1 2 1 5 1 7 7
7 10 7
q=− ÷ =− · =− . 0, 777 . . . = 10
= 10
= · = .
5 5 5 2 2 1− 1 9 10 9 9
l

10 10
Observe que |q| < 1, o que permite que utilizemos nova-
rta

mente a Proposição 1: A segunda dı́zima pode ser tratada de modo inteira-


mente análogo:
2 2
2 1 1 5
− + − ··· = 1
= 5 1 0, 4323232 . . . = 0, 4 + 0, 032 + 0, 00032 + . . .
5 5 10 1− − 2 1+ 2
2 4 32 32
5 2 2 4 = + + + ···
= 3 = · = . 10 1.000 100.000
5 3 15 32
2 4
+ 1.0001
Po

=
10 1 − 100
4 32 100
Exemplo 6. Seja (a1 , a2 , a3 , . . .) uma PG infinta tal que = + ·
10 1.000 99
a1 = 2. Se a soma dos termos da PG é igual a 11 2 , encontre 4 32 428
o valor de sua razão q. = + =
10 990 990
Solução. Chamando de S a soma dos termos da PG, se- 214
= .
gue de (3) que 495

11 a1 2
=S= = .
2 1−q 1−q

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Dicas para o Professor
Recomendamos que sejam utilizadas duas sessões de
50min para discutir o conteúdo deste material. Explique
cuidadosamente aos alunos que, quando a razão q de uma
PG tem módulo menor do que 1, então as potências q n se
aproximam de 0, pois esse fato é crucial para o entendi-

EP
mento da fórmula dada na Proposição 1. Entretanto, numa
primeira apresentação, melhor do que tentar fazer os alu-
nos compreenderem a demonstração apresentada para este
resultado, éadaptar o argumento apresentado para a PG
1 1 1
2 , 4 , 8 , . . . para calcular as somas das PGs infinitas
1 1 1   2 4 8 
, , , . . . e 1, , , , . . . .
2 6 18 3 9 27

BM
A análise desses três casos deve bastar para convencer os
alunos de que (3) é válida em geral.
As referências [3] e [4] contém muitos exemplos e pro-
blemas, de variados graus de dificuldade, relacionados ao
conteúdo do presente material. O capı́tulo 1 de [2] traz
uma discussão heurı́stica da relação entre o decimal infi-
nito (5) e a soma infinita (6); tal discussão é colocada em
bases sólidas no capı́tulo 3 de [1].

Sugestões de Leitura Complementar


1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Vo-
O
lume 3: Introdução à Análise, 2a Edição. Rio de Ja-
da
neiro, SBM, 2013.
2. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Vo-
lume 1: Números Reais, 2a Edição. Rio de Janeiro,
SBM, 2013.
3. G. Iezzi, S. Hazzan. Os Fundamentos da Matemática
Elementar, Volume 4: Sequências, Matrizes, Deter-
minantes, Sistemas. São Paulo, Atual Editora, 2012.
l
rta

4. E. Lima, P. Carvalho, E. Wagner, A. Morgado, A Ma-


temática do Ensino Médio, Volume 2, 5a Edição. Rio
de Janeiro, SBM, 2004.
Po

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Material Teórico - Módulo de MATEMÁTICA FINANCEIRA

Introdução: Porcentagem, Aumentos e Descontos

Primeiro Ano do Ensino Médio

Autor: Prof. Francisco Bruno Holanda


Revisor: Prof. Antonio Caminha Muniz Neto
1 Introdução o passar do tempo. Dessa forma, não é possı́vel so-
mar dois valores monetários que correspondam a
Nesta aula inicial, apresentaremos alguns conceitos fun- datas distintas. Portanto, da mesma forma que não po-
damentais para compreender as situações que envolvem demos somar determinada quantia em reais com outra em
questões de Matemática Financeira: o valor do dinheiro dólares sem que haja uma conversão utilizando uma taxa
no tempo, as porcentagens, o fluxo de caixa e os termos de câmbio, também não podemos somar valores monetários
mais técnicos mais utilizados na área. (ainda que expressos na mesma moeda) que sejam relati-
vos a recebimentos em perı́odos diferentes sem utilizar uma
taxa de desconto1 .
2 O valor do dinheiro no tempo
Imagine que Josimar tem um violão que já não usa há 3 Porcentagem
muito tempo. Por conta disso, ele resolve vendê-lo para ar-
recadar um dinheiro para comprar algo que está desejando Muitas questões que tratam sobre Matemática Financeira
muito no momento: uma coleção de livros do escritor Ma- envolvem porcentagens. O objetivo desta seção é relembrar
chado de Assis. Esta coleção está custando R$ 100, 00 e este importante conceito. Lembre-se de que as porcenta-
Josimar decide pôr seu violão a venda pelo mesmo preço. gens podem ser entendidas como frações com denomina-
Ele também fica sabendo que seu amigo Paulo está dis- dor igual a 100. Além disso, o sı́mbolo de porcentagem
1
posto a comprar seu violão, pois fará uma apresentação (%), pode ser pensado como representando a fração 100 .
em um show de talentos em breve, mas que só terá o di- Assim, por exemplo,
nheiro para comprá-lo no próximo mês. Para resolver este 1 5 50
impasse, Josimar permite que seu amigo leve seu violão, = = = 50%;
2 10 100
mas que só o pague no próximo mês, desde que Paulo pa-
gue a ele juros de 10%. Ou seja, Paulo deverá pagar, ao 1 25
= = 25%;
todo, R$ 110, 00. 4 100
Na situação descrita acima, os juros representam o valor 100
do dinheiro no tempo. Enquanto Paulo poderá desfrutar 1= = 100%.
100
do violão imediatamente, Josimar terá que esperar um mês Graças à última igualdade acima, dizemos que o número 1
para comprar e ler as obras de Machado de Assis. Assim, representa uma determinada totalidade.
os dez reais de juros são uma forma “compensar” Josi-
mar pela espera. Usando uma linguagem mais técnica, Exercı́cio 1. Uma pesquisa levantou as cores de cabelo de
podemos interpretar os juros como um custo de oportu- 1200 pessoas. Os resultados obtidos são mostrados no di-
nidade. Porém, esta não é o único fator que justifica a agrama a seguir: Pergunta-se: quantas pessoas entrevista-
existência dos juros. Podemos listar, ainda, os dois fatores
a seguir:

• Risco: quando Paulo se compromete a pagar apenas


no mês seguinte, existe a possibilidade dele não con-
seguir dinheiro suficiente para pagar Josimar. E isso
pode ocorrer por diversos fatores. Por exemplo, Paulo
pode perder o emprego ou sofrer um acidente que lhe
gere altos custos hospitalares. das possuem cabelo preto?
• Preferências intertemporais: imagine que você te- Solução. Para resolver este exercı́cio, observe que 100%
nha preferência por determinada tipo de fruta, em de- representa a totalidade de pessoas entrevistadas, i.e, 1200
trimento de outra. Por exemplo, você gosta mais de pessoas. Então, uma vez que
caqui do que de maçã. É natural pensar que você es-
taria disposto a pagar um pouco mais por um quilo de 6 14 40 60
6% + 14% + 40% = + + = = 60%,
caqui do que por um quilo de maçã. Isso ocorre pois 100 100 100 100
você dá um valor maior ao caqui. O mesmo ocorre concluı́mos que o porcentual de pessoas com cabelo preto
com valores monetários em datas distintas. É comum é
que os seres humanos dêem mais valor a cem reais hoje 60 40
100% − 60% = 1 − = = 40%,
do que daqui a um ano. 100 100
1 Aprenderemos mais sobre esse conceito na aula sobre sistemas
De maneira resumida, em nossa sociedade aceita-se con- de financiamento. Veremos que, de maneira geral, se i é a taxa de
1
sensualmente a ideia de que o dinheiro muda de valor com juros, a taxa de desconto é δ = 1+i .

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ou seja, 40% de uma totalidade de 1200 pessoas. Conse- Solução. Suponhamos que João tem um total de 100 uni-
quentemente, dades monetárias para investir, sendo x delas investidas no
40 fundo A e as 100 − x restantes no fundo B. Ao final do
× 1200 = 480
100 primeiro mês, o fundo A estará com
das pessoas entrevistadas possuem cabelo preto.
x + 50%x = 1, 5x
Um diagrama circular como o apresentado no enunciado
e o fundo B estará com
do exercı́cio anterior, no qual várias porcentagens estão
representadas por setores circulares de aberturas proporci- (100 − x) + 30%(100 − x) = 1, 3 · (100 − x).
onais às mesmas, é conhecido como um gráfico de pizza
ou, ainda, um gráfico de setores. Uma grande vantagem Portanto, ao final deste primeiro mês João terá
de gráficos de pizza reside no fato de que eles transmitem
rapidamente uma ideia das porcentagens envolvidas. 1, 5x + 130 − 1, 3x = 130 + 0, 2x.

No segundo mês, ambos os fundos renderam 20%. As-


Lembre-se de que a porcentagem é uma medida relativa sim, não precisamos nos preocupar em separar os valores
e não absoluta. Portanto, ela deve ser sempre interpre- investidos em cada fundo para calcular os rendimentos se-
tada como parte de uma totalidade. Consequentemente, o paradamente. Então, ao final do bimestre, João terá
aluno deve manter-se ainda mais atento em problemas nos
quais porcentagens diferentes representam diferentes tota- (1 + 20%)(130 + 0, 2x) = 156 + 0, 24x.
lidades, como é o caso das situações descritas nos exercı́cios
a seguir. Sabemos que esse valor corresponde a uma rentabilidade
de 63, 2% sobre o valor inicial de 100 unidades monetárias.
Exercı́cio 2. Em agosto de 2006, Josué gastava 20% de Logo, obtemos a seguinte equação:
seu salário no pagamento do aluguel de sua casa. A partir
de setembro de 2006, ele teve um aumento de 8% em seu 156 + 0, 24x = (1 + 63, 2%) · 100 = 1, 632 · 100 = 163, 2,
salário e o aluguel de sua casa foi reajustado em 35%. Nes-
sas condições, para o pagamento do aluguel após os reajus- de modo que 0, 24x = 7, 2 e, assim, x = 30.
tes, qual porcentagem do salário Josué deverá desembolsar Portanto, de cada 100 unidades monetárias investidas,
mensalmente? João colocou 30 no fundo A. Isso é o mesmo que dizer que
João investiu, neste primeiro fundo, 30% de suas econo-
Solução. Digamos que o salário de Josué seja x. Neste mias.
20
caso, o gasto inicial com o aluguel é de 100 x = x5 .
Exercı́cio 4. Carla investiu nas ações da empresa OMGX
Por outro lado, após o aumento de salário, Josué passará
parte do que tinha guardado, deixando o restante em sua
a receber  8  108 conta corrente. No primeiro mês, as ações da empresa per-
1+ x= x = 1, 08x. deram 40% do seu valor. Qual deve ser o aumento porcen-
100 100
tual no preço das ações, no segundo mês, para que Carla
Por sua vez, com o aumento, o aluguel passará a custar
volte a ter a mesma quantidade de dinheiro que tinha ini-
 35  x 135 x 27 cialmente?
1+ = · = x = 0, 27x.
100 5 100 5 100 Solução. Seja x o preço inicial de cada ação. Ao perder
Queremos, então, calcular quanto o novo valor do alu- 40% do seu valor no primeiro mês, a ação passa a custar
guel (0, 27x) representa, porcentualmente, do novo salário
(1 − 0, 4)x = 0, 6x.
de Josué (1, 08x). Para isso, precisamos expressar a fração
0,27x
1,08x como porcentagem, o que é bastante simples: Para que Carla volte a ter a mesma quantidade de di-
nheiro que possuı́a inicialmente, cada ação deve voltar a
0, 27x 0, 27 27 1 25 custar x. Para tanto, seu preço atual (0, 6x) deve ter uma
= = = = = 25%.
1, 08x 1, 08 108 4 100 taxa de crescimento r tal que

(1 + r)0, 6x = x.
Exercı́cio 3 (FGV). João divide suas economias e as aplica Resolvendo esta equação, obtemos sucessivamente
em dois fundos de investimento: A e B. No primeiro mês,
o fundo A rendeu 50% e o fundo B, 30%. No segundo 1 10
1+r = = ;
mês, ambos os fundos renderam 20%. Se a rentabilidade 0, 6 6
que João obteve no bimestre foi de 63, 2%, que porcentagem 10 4 2
de suas economias foi aplicada no fundo B? r= −1= = ∼= 0, 66.
6 6 3

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Portanto, para que Carla volte a ter a mesma quan- presentadas por setas verticais apontando para cima,
tidade de dinheiro que possuı́a inicialmente, as ações da enquanto que as saı́das (ou pagamentos) são represen-
OMGK devem ter um aumento de aproximadamente 66% tadas por setas verticais apontando para baixo. Cada
no segundo mês. movimentação financeira será chamada simplesmente
de fluxo de caixa.
Como lição geral a ser guardada a partir dos exem-
plos acima, observe que, para se evitar erros, descontos ou Apenas reforçando: a primeira seta corresponde ao fluxo
acréscimos sempre devem ser considerados como operações de caixa do perı́odo t = 0 (ou seja, o momento presente).
de multiplicação. As demais setas representam os fluxos de caixa dos demais
perı́odos t = 1, 2, 3, .... Além disso, a variação de tempo
entre dois fluxos de caixa deve ser constante ao longo de
4 Alguns termos técnicos todo o diagrama.
Nessa seção iremos apresentar alguns termos técnicos que
serão utilizados ao longo deste módulo. Exemplo 5. Suponha que Mariana tomou um empréstimo
Ao colocarmos algum dinheiro em uma aplicação finan- de uma amiga, recebendo R$ 300, 00 no dia primeiro de
ceira, esse dinheiro irá capitalizar-se, ou seja, irá ser mul- janeiro. Ela se comprometeu a pagar esta dı́vida em qua-
tiplicado por um determinado valor a cada perı́odo previ- tro parcelas de R$ 100, 00 cada, sempre no primeiro dia
amente determinado. O valor aplicado inicialmente será de cada um dos meses de fevereiro, março, abril e maio.
chamado de capital inicial ou valor presente, sendo re- Para Mariana, o fluxo de caixa desse acordo financeiro é
presentado pela letra C ou pela sigla V P . Ao final do o seguinte:
perı́odo de aplicação, resgatamos o capital inicial mais os
juros (representados pela letra J) do perı́odo. Esse valor 300
é chamado de montante ou valor futuro, sendo repre-
sentado pela letra M ou pela sigla V Fn , onde n indica o
número de perı́odos (de capitalização) durante os quais o
dinheiro ficou aplicado. Portanto, podemos considerar a
seguinte igualdade tautológica2 :
100 100 100 100
M = C + J.

4.1 Fluxo de caixa Realmente, a primeira seta representa o recebimento de


R$ 300, 00 no mês de janeiro, e por isso está desenhada
Da discussão apresentada na primeira seção, concluı́mos para cima. As demais setas estão desenhadas para baixo,
que ter 100, 00 hoje não é o mesmo que ter 100, 00 reais pois representam saı́das de dinheiro.
daqui a um ano. Dessa forma, em projetos financeiros que
envolvam transações monetárias em dois ou mais perı́odos Exemplo 6. Joana tomou um empréstimo, recebendo
distintos, é importante considerarmos um diagrama que R$ 400, 00 no dia primeiro de janeiro. Ela deve pagar esta
facilite a visão geral sobre todas essas movimentações fi- dı́vida em quatro parcelas de R$ 150, 00 cada, sempre no
nanceiras antes de avaliarmos globalmente o projeto. A primeiro dia dos meses de março, abril, maio e junho.
forma mais difundida de fazermos isso é através do dia- Ou seja, esse empréstimo foi realizado com um mês de
grama de fluxo de caixa. carência. O fluxo de caixa desse acordo financeiro é o se-
guinte:
O diagrama de fluxo de caixa é uma figura que re-
presenta graficamente as movimentações financeiras
ao longo do tempo, relativamente a um determinado 400
projeto financeiro. O tempo é representado por um
segmento disposto na horizontal, dividido em partes
iguais, correspondentes ao número de perı́odos rele-
vantes para análise (i.e., até o último perı́odo que 0
representa uma movimentação não-nula). Por sua
150 150 150 150
vez, a evolução desses perı́odos deve ser observado
da esquerda para a direita (como ocorre com a re-
presentação padrão do eixo horizontal de um sistema Veja que a carência dada à Joana corresponde a uma
cartesiano). As entradas (ou recebimentos) são re- marcação “neutra” na linha do tempo do diagrama. Isso
é necessário para que cada perı́odo esteja representado na
2 Isto é, trivialmente verdadeira. figura, evitando ambiguidades.

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5 Sugestões ao professor
Sugerimos que o professor separe dois encontros de 50
minutos cada para abordar os assuntos deste material.
Na primeira aula, relembre o conceito de porcentagem
e resolva alguns exercı́cios. Aproveite para verificar a
habilidade dos alunos em resolver expressões algébricas
que envolvam multiplicação e adição de frações. No
segundo encontro, introduza o conceito de juros e priorize
os exercı́cios envolvendo aumentos e descontos sucessivos.
É importante que os alunos fixem bem a ideia de que estes
não devem ser somados, e sim multiplicados.

Ao final da aula, solicite aos alunos que comentem


sobre situações reais nas quais eles se depararam com
uma aplicação dos assuntos abordados neste material. Se
possı́vel, elabore exercı́cios que simulem as situações apre-
sentadas pelos alunos.

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Material Teórico - Módulo de MATEMÁTICA FINANCEIRA

Juros Simples e Compostos

Primeiro Ano do Ensino Médio

Autor: Prof. Francisco Bruno Holanda


Autor: Prof. Antonio Caminha Muniz Neto

20 de maio de 2018
1 Introdução ..
.
No material anterior, introduzimos o conceito de juros tra- V Fn = V Fn−1 + i · V I
tando sobre a venda do violão do Josimar. Vimos que
Josimar estava disposto a vender seu violão a vista por Somando todas estas igualdades, os termos intermediários
100 reais, ou por 110 reais que poderiam ser pagos apenas V F1 , ..., V Fn−1 desaparecem, enquanto que o termo i · V I
no mês seguinte. Agora, imagine uma situação na qual o é somado n vezes. Ao final, chegamos à igualdade (1).
comprador do violão pede dois meses de prazo para pagar Perceba também que a sequêcia formada pelos termos
o valor do mesmo. Quanto Josimar deve cobrar neste caso? V F1 , ..., V Fn−1 é uma progressão aritmética.
A princı́pio, ele poderia escolher qualquer valor arbitrário.
Por outro lado, existem dois procedimentos padrão usuais Em diversos textos didáticos, o valor final V F também
que ele pode adotar: é chamado de montante e representado pela letra M ,
enquanto que o valor inicial V I também é chamado de
(i) Cobrar mais 10 reais e pedir 120 reais por uma espera capital, sendo representado pela letra C.
de dois meses.
Ainda em relação a (1), é importante fazermos duas ob-
(ii) Cobrar mais 11 reais e pedir 121 reais por uma espera
servações:
de dois meses.
(i) Para utilizar tal fórmula, a taxa de juros simples de-
No primeiro caso, dizemos que Josimar está utilizando vem ser dadas em forma decimal, i.e. sem o uso de
juros simples de 10% sobre o valor inicial. Segundo esta porcentagens (%).
regra, os juros de 10% ao mês podem ser interpretados
como uma multa pelo não pagamento do valor à vista. (ii) As medidas de tempo t e de taxa de juros i devem ser
Portanto, a cada mês é acrescentada uma nova multa. correspondentes; por exemplo, se o tempo for dado
No segundo caso, dizemos que Josimar está utilizando em anos, a taxa de juros simples também deve ser
juros compostos de 10% sobre o valor inicial. Segundo anual.
esta regra, os juros de 10% devem ser cobrados sobre o
valor de 110 reais, pois é este o valor que deveria ser pago Em geral, usamos abreviaturas para representar as di-
ao final do primeiro mês. Em outras palavras, podemos ferentes periodicidades de taxas de juros (veja a Tabela
interpretar como se Paulo (o comprador do violão de Jo- 1).
simar) tivesse que fazer um novo empréstimo de 110 reais
no final do primeiro mês.
Nas próximas seções, abordaremos problemas em que Tabela 1: abreviaturas mais utilizadas.
uma certa quantidade de dinheiro (capital) é investida du- Abreviatura Significado
rante determinado perı́odo de tempo. a.d. ao dia
a.m. ao mês
2 Capitalização com juros simples a.b. ao bimestre
a.t. ao trimestre
No regime de juros simples (também conhecido como juros a.s. ao semestre
lineares), se i é a taxa de juros por unidade de tempo (dia,
mês, ano) e n é o número de perı́odos (unidades de tempo) a.a. ao ano
que durou a aplicação, temos a seguinte relação entre o
valor final V F e o valor inicial V I (também chamado Além disso, como a quantidade de dias nos diferentes
valor presente): meses não é constante, convencionou-se que, ao resolver
exercı́cios sobre Matemática Financeira, devemos conside-
V F = (1 + i · n) · V I. (1) rar o mês com 30 dias e o ano com 360 dias, exceto quando
for mencionado algum valor diferente.
Podemos deduzir a fórmula 1 através do seguinte ra- Agora, a fim de exercitar os conceitos e convenções
ciocı́nio: Seja V F1 o valor do capital após o primeiro acima, analisemos alguns exemplos.
perı́odo, V F2 após o segundo perı́odo e assim por diante. Exemplo 1. Um cliente de um banco aplicou 100 reais a
Sabemos que uma taxa simples de juros de 2% a.m., ao longo de três
V F1 = V I + i · V I meses. Qual será o valor resgatado ao final da aplicação?
V F2 = V F1 + i · V I
Solução. Uma maneira de resolver o exemplo é calcular
V F3 = V F2 + i · V I mês a mês os valores devidos pelo banco ao cliente:

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• Ao final do primeiro mês, o banco deve acrescentar, Vejamos, agora, alguns exemplos mais elaborados, os
ao valor inicial de 100 reais, 2 reais de juros (que cor- quais não são resolvidos apenas com a aplicação da fórmula
respondem a 2% de 100), totalizando 102 reais. para os juros simples.

• Ao final do segundo mês, acrescenta-se mais dois reais, Exemplo 4. Uma empresa de cosméticos possui um capital
totalizando 104 reais. de R$ 80.000, 00 para investimento. Seu dono aplica 30%
desse dinheiro em um investimento que rende juros simples
• Ao final do terceiro mês, acrescenta-se mais dois reais,
a uma taxa de 3% ao mês, e o faz durante dois meses; o
totalizando 106 reais.
restante ele aplica, também durante dois meses, em outro
Outra solução possı́vel é baseada na aplicação direta da investimento que rende 2% ao mês. Ao fim desse perı́odo,
fórmula de juros simples (1). A fim de podermos utilizá-la, quanto esse investidor possuirá?
observe que o valor inicial é V I = 100, a taxa de juros é
i = 2% = 0, 02 e o número de perı́odos é t = 3 meses. Solução. Calculando 30% de 80.000, encontramos o va-
Portanto, lor de 24.000 que após dois meses na primeira aplicação se
tornará
V F = (1 + 0, 02 · 3) · 100 24.000(1 + 0, 03 · 2) = 25.440.
= 1, 06 · 100 = 106.
Os outros 80.000 − 24.000 = 56.000 reais do capital ini-
cial correspondem aos 70% restantes, os quais se tornarão,
após dois meses na segunda aplicação, em
Note que (1) estabelece uma relação entre quatro
variáveis: o valor inicial V I, o valor futuro V F , a taxa 56.000(1 + 0, 02 · 2) = 58.240.
de juros i e o tempo de aplicação. Dessa forma, sabendo
três destes quatro valores, é possı́vel determinar o quarto. Somando os valores encontrados, obtemos o montante
Os próximos três exemplos ilustrarão essa observação. final, de
25.440 + 58.240 = 83.680
Exemplo 2. Um capital de 230 reais foi aplicado por cinco
meses no regime de juros simples, a uma taxa desconhecida reais.
i de juros. Após este perı́odo, foi resgatado um montante
250 reais. Qual é o valor da taxa? No próximo exemplo, utilizamos a convenção ampla-
Solução. Substituindo os valores na fórmula de juros mente utilizada no sistema financeiro de que, ao nos re-
simples (1), temos: ferirmos a uma taxa linear anual i de juros, a taxa mensal
i
correspondente é igual a 12 .
250
250 = 230(1 + 5i) ⇒ 1 + 5i = = 1, 0870 Exemplo 5. Se uma pessoa precisar de 200.000 reais da-
230
⇒ 5i = 0, 0870 ⇒ i = 0, 0173. qui a 10 meses, quanto ela deverá depositar hoje em um
fundo de poupança que remunera o dinheiro inivestido à
Logo, taxa linear de 12% ao ano?
i = 1, 73%.
Solução. Sejam M = 200.000 reais, n = 10 meses e ia =
12% a.a. os valores do enunciado.
Conforme comentamos acima, a taxa anual de 12% cor-
Exemplo 3. Se alguém aplicar 300 reais no regime de juros responde a uma taxa mensal
simples a uma taxa de 5% ao mês, quanto tempo levará
para que o valor do capital dobre? im = ia /12 = 1%.
Solução. Queremos que V F = 600, partindo de V I =
Mas, uma vez que M = C · (1 + im · n), temos
300. Substituindo tais valores na fórmula de juros simples
(1), temos: M
C= (2)
600 = 300(1 + 0, 05t) ⇒ 2 = 1 + 0, 05t 1 + im · n
⇒ 0, 05t = 1 Portanto, em nosso caso,
100
⇒t= = 20. 200.000 ∼
5 C= = 181.818, 18.
1 + 0, 01 · 10
Então, serão necessários pelo menos 20 meses para do-
brar o capital. Então, é necessário depositar cerca de 181.818, 18 reais.

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Para o exemplo a seguir, note que um tı́tulo é qual-
quer papel negociável, como por exemplo ações, letras
de câmbio, promissórias. Um tı́tulo pode ser vendido, Exemplo 7. Uma pessoa precisa pagar duas dı́vidas, uma
por exemplo, por governos ou empresas a outros gover- de 35.000 reais em 3 meses e outra de 65.000 reais em 5
nos, empresas ou pessoas fı́sicas, para obter recursos para meses. Para fazer o pagamento dessas dı́vidas, o devedor
múltiplos fins (por exemplo, realizar obras de infraestru- utilizará suas reservas financeiras, aplicando-as em uma
tura, comprar máquinas, renovar estoque, abrir uma filial poupança que rende 66% ao ano, no regime de juros sim-
etc). Assim, um tı́tulo pode ser visto como um contrato ples. Qual deve ser o valor aplicado nesta poupança para
de empréstimo, no qual o emissor dos papéis (o lado que que essa pessoa consiga pagar suas dı́vidas?
recebe o dinheiro) faz uma promessa de pagamento ao com-
Solução. A taxa anual dada, de 66%, corresponde a uma
prador.
taxa mensam
O valor nominal de um tı́tulo vem impresso no próprio ia
tı́tulo. O valor atual de um tı́tulo é o valor que ele tem im = = 5, 5% a.m.
12
numa data anterior ao seu vencimento. Colocado a render
Assim, uma parte das reservas da pessoa, aplicada a
juros a partir dessa data, por definição esse valor atingirá,
essa taxa mensal de juros (simples) de 5, 5%, deve gerar
no vencimento do tı́tulo, um montante igual ao valor no-
um montante de 35.000 reais em 3 meses, enquanto outra
minal.
parte, aplicada à mesma taxa e no mesmo regime de juros,
Exemplo 6. Um tı́tulo com valor nominal de 10.000 reais deve gerarl um montante de 65.000 em 5 meses.
vence em 180 dias. Para uma taxa de juros simples de Portanto, capital C imobilizado pela pessoa para saldar
31, 2% ao ano, calcule o valor do tı́tulo: suas dı́vidas corresponde à soma dessas duas partes, cal-
culadas com o auxı́lio de (2) conforme descrito acima:
a) Hoje.
35000 65000
b) Daqui a 30 dias. C = +
1 + 0, 055 · 3 1 + 0, 55 · 5
c) Daqui a 90 dias. ∼
= 30042, 92 + 50980, 39
= 81023, 31.
Solução. Sejam M = 10.000 reais e ia = 31, 2% a.a. os
valores dados no enunciado. Considere im = ia /12 = 2, 6%
a.m. Segue de (2) que
M 10000
C=
1 + im · n
=
1 + 0, 026 · n
. 3 Capitalização com juros compos-
tos
Agora, temos C (capital inicial) como uma função de n
(meses), e nos resta apenas ver qual n nos é pedido. Note No regime de juros compostos, se i é a taxa de juros por
que estamos interessados na distância absoluta entre os 6 unidade de tempo (dia, mês, ano) e n é o número de
meses (180 dias) e o dia que nos é pedido nos vários itens. perı́odos no qual o capital ficou aplicado, temos a seguinte
De outra forma, se quisermos saber o valor do tı́tulo hoje relação entre o valor final V F e o valor presente V P :
devemos ter n = 6 meses, pois de hoje até o vencimento
do tı́tulo ainda existem 180 dias; o mesmo raciocı́nio segue V F = (1 + i)n · V P. (3)
para os demais itens.
Assim, Podemos deduzir a fórmula 3 através do seguinte ra-
ciocı́nio: Seja V F1 o valor do capital após o primeiro
a) n = 6 meses. Temos perı́odo, V F2 após o segundo perı́odo e assim por diante.
10000 Uma vez que o regime de juros é composto, o valor do mon-
C= ∼
= 8650, 52. tante após um certo perı́odo é calculado fazendo a taxa i
1 + 0, 026 · 6
incidir sobre o valor imediatamente anterior. Assim,
180−30
b) n = 30 = 5 meses. Logo, V F1 = V P + i · V P = (1 + i)V P
10000 ∼
C= = 8849, 56. V F2 = V F1 + i · V F1 = (1 + i)V F1
1 + 0, 026 · 5
V F3 = V F2 + i · V F2 = (1 + i)V F2
180−90
c) n = 30 = 3 meses. Então, ..
.
10000 ∼
C= = 9276, 44. V Fn = V Fn−1 + i · V Fn−1 = (1 + i)V Fn−1
1 + 0, 026 · 3

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Multiplicando todas estas n equações, obtemos Conforme a figura acima, após o instante inicial, as cur-
n vas se encontram após transcorrido um perı́odo, pois
V F1 . . . V Fn−1 · V Fn = (1 + i) V P · V F1 . . . V Fn−1 .
Por fim, cancelando o produto V F1 ...V Fn−1 em ambos os (1 + i)1 = 1 + i · 1.
membros da igualdade acima, chegamos na equação (3). Contudo, daı́ pra frente temos
Veja que a sequência V F1 , ..., V Fn−1 dos valores ca-
pitalizados em regime de juros compostos formam uma (1 + i)n > 1 + in.
progressão geométrica, pois cada termo é o anterior De fato, pode ser mostrado (com a ajuda da fórmula do
multiplicado pela constante (1 + i). binômio de Newton) que, para n ≥ 2, tem-se

Comparando-se as demonstrações das fórmulas de juros n(n − 1) 2


(1 + i)n ≥ 1 + in + i ,
simples (1) e de juros compostos (3) notamos que, na pri- 2
meira, os juros são sempre calculados sobre o valor presente de sorte que a diferença entre os montantes obtidos pelos
V I. Por outro lado, na segunda os juros são calculados so- dois regimes de juros cresce cada vez mais, à medida que
bre o valor do capital no perı́odo anterior. Na linguagem o tempo passa.
popular, dizemos que há “juros sobre juros” quando apli-
camos o regime de juros compostos. Isso faz com que o Terminamos esta seção analisando três exemplos repre-
crescimento do capital seja muito mais rápido com juros sentativos.
compostos do que com juros simples.
Mais precisamente partindo de um capital C a uma Exemplo 8. Uma aplicação especial rende 15% ao mês em
mesma taxa i (de certa periodicidade) e calculando o mon- regime de juros compostos. Certa pessoa deseja aplicar a
tante após n perı́odos, obtemos a função afim quantia de R$ 620, 00 durante três meses. Calcule o mon-
tante gerado por essa aplicação.
n 7→ C(1 + in) = C + Cin
Solução. Utilizando a fórmula de juros compostos (3)
no regime de juros simples e a função exponencial 15
com V P = 620, i = 100 = 0, 15 e n = 3, obtemos
n 7→ C(1 + i)n V F = (1 + 0, 15)3 · 620 = (1, 15)3 · 620 = 942, 94.
no regime de juros compostos.
Ilustrando a evolução dos montantes em ambos os
regimes de juros graficamente colocando o número de Exemplo 9. João tomou um empréstimo de R$ 900, 00 a
perı́odos no eixo horizontal e o montante correspondente juros compostos de 10% ao mês. Dois meses depois, João
no eixo vertical, vemos que ambas as curvas partem do pagou R$ 600, 00 e, um mês após esse pagamento, liquidou
ponto (0, C) (uma vez que C é o valor inicial, antes o empréstimo. Qual foi o valor desse último pagamento?
de que qualquer perı́odo tenha decorrido). Entretanto, Solução. Veja que após o primeiro mês, a dı́vida será de
no regime de juros simples a curva obtida é uma reta 900 + 10% · 900 = 990 reais; ao final do segundo mês, ela
(pontilhada, na figura abaixo), ao passo que no regime terá aumentado para 990 + 10% · 990 = 1.089 reais. Como
de juros compostos é uma exponencial crescente (pois João pagou 600 reais neste momento, seu saldo devedor
1 + i > 1 – não pontilhada, na figura abaixo). será de 1.089 − 600 = 489 reais.
Agora, temos de aplicar novamente juros de 10% sobre
1.2 esse valor, a fim de saber o valor devido por João ao final
do terceiro mês. Assim fazendo, obtemos
1
489 + 10% · 489 = 537, 90
reais, que foi o valor pago por João para liquidar o
0.8
empréstimo.

0.6 Nosso último exemplo ilustra o “poder ” dos juros com-


postos comparando-o numericamente com o regime de ju-
ros simples.
0.4
Exemplo 10 (O “poder” dos juros compostos). Considere
dois tipos de investimentos: o primeiro paga uma taxa de
0.2
juros simples de 5% a.m. e o segundo uma taxa de ju-
ros compostos de 2% a.m. Ao fazermos dois depósitos de
1.000 reais, um em cada tipo de investimento, quanto será
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1. 1.2 1.4
o retorno de cada um após um perı́odo de dez anos?

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Solução. Veja que em dez anos existem 120 meses. 1,06 xy 12 =
Usando a fórmula de juros simples, temos:
Para um outro exemplo, se quisermos calcular o valor de
V F120 = (1 + 120 · 0, 05) · 1000 = 7000. (1, 01)36 , digitamos:
Usando a fórmula dos juros compostos e com o auxı́lio de 1,01 xy 36 =
uma calculadora (a esse respeito, veja também a próxima
seção), obtemos: Agora, consideremos mais alguns exemplos.

V F120 = (1 + 0, 02)120 · 1000 = 10.765, 16. Exemplo 11. Camila investiu 10.000 reais em um fundo de
investimento ao longo de cinco anos. Ao fim desse perı́odo,
percebeu que possuı́a 18.500 reais. Qual foi a taxa de ren-
tabilidade média mensal do fundo ao longo desses anos?
O exemplo anterior deixa claro que, mesmo a uma taxa
menor, o investimento sobre uma taxa de juros composta Solução. Primeiramente, veja que cinco anos correspon-
torna-se mais vantajoso quando temos perı́odos suficiente- dem a 5 × 12 = 60 meses. Assim, utilizando a fórmula de
mente longos de tempo. juros compostos, obtemos:

18.500 = 10.000(1 + i)60 ⇒ (1 + i)60 = 1, 85.


4 Usando a calculadora
Para calcular o valor de i, devemos elevar os dois lados
Comparados aos problemas de juros simples, os exercı́cios 1
da equação a 60 , assim obtendo:
de juros compostos possuem contas mais complicadas de
resolver manualmente, pois envolvem operações de poten- (1 + i) = (1, 85)1/60 .
ciação em vez de operações de multiplicação por constan-
tes; isso fica claro no Exemplo 10. Quando a quantidade Digitando
de perı́odos é pequena (t = 2 ou t = 3), as contas não
1,85 xy ( 1 ÷ 60 ) =
se tornam demasiadamente cansativas. Porémm quando
a quantidade de perı́odos é grande (t = 6, 7, ...), é reco- numa calculadora cientı́fica, obtemos 1, 0103 como res-
mendável o uso de calculadoras. posta. Então,
Nesta seção, primeiramente lhe ensinaremos como utili-
zar a calculadora do computador ou celular (ou uma cal- 1 + i = (1, 85)1/60 = 1, 0103 ⇒ i = 0, 0103 = 1, 03%.
culadora cientı́fica de bolso) para efetuar operações de po-
tenciação com valores altos no expoente.
Inicialmente, após abrir o aplicativo calculadora em seu Exemplo 12. Joaquim tem 1.000 reais e deseja aplicar esse
computador ou celular, você deve mudá-lo do modo de sim- valor em um investimento que rende 1% ao mês. Quanto
ples para avançado (ou cientı́fico); caso esteja utilizando tempo ele levará para dobrar seu capital?
uma calculadora cientı́fica de bolso, esse passo será des-
necessário. Após executar essa mudança, você verá uma Solução. Vamos aplicar os valores na fórmula de juros
janela semelhante à mostrada na Figura 1: compostos. Sendo n o número de meses necessários para
dobrar o capital investido, temos a equação
Figura 1: Calculadora em modo cientı́fico. 2000 = 1000(1, 01)n

ou, ainda,
(1, 01)n = 2.
Veja que temos uma equação em n. Para resolvê-la,
aplicamos logaritmos a ambos os lados, de forma que:

(1, 01)n = 2 ⇒ log(1, 01)n = log 2


⇒ n log(1, 01) = log 2
log 2
⇒n= .
log(1, 01)

(Note que, na segunda implicação (⇒), utilizamos a se-


Observe o botão xy , que permite o cálculo de potências. guinte propriedade dos logaritmos: log(ab ) = b log(a).)
Por exemplo, se quisermos calcular o valor de (1, 06)12 , Para executar o cálculo da última expressão acima, di-
digitamos: gitamos:

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( log 2 ) ÷ ( log 1,01 ) = É instrutivo comparar o exemplo anterior com o Exem-
plo para perceber como uma taxa de juros maior fez dimi-
obtendo n = 69, 66 como resultado. nuir, em mais da metade, o tempo necessário para o capital
Portanto, a fim de dobrar o capital investido, serão ne- investido dobrar.
cessários pelo menos 70 meses completos, ou quase oito Para nosso último exemplo, resolvamos a igualdade M =
anos. C(1 + i)n para i:
Argumentando genericamente, suponha que um capi- M
C · (1 + i)n = M ⇒ (1 + i)n =
tal C, investido à taxa i, gera um montante M após n
r C
perı́odos. Partindo de n M
⇒1+i= (5)
M = C · (1 + i)n , C
r
n M
temos ⇒i= − 1.
C
M Exemplo 15. Para uma mercadoria que vale 900 reais,
C · (1 + i)n = M ⇒ (1 + i)n =
C uma loja oferece desconto de 12% se o pagamento for feito
M a vista. Se o pagamento for feito em até noventa dias, a
⇒ log(1 + i)n = log
C loja diz não cobrar juros, mas não oferece desconto. Cal-
M cule o custo efetivo mensal, isto é, os juros embutidos na
⇒ n · log(1 + i) = log compra a prazo.
C
log M
C Solução. Na situação descrita, a loja age como se o preço
⇒n= .
log(1 + i) não fosse 900 reais, e sim

Por fim, recordando que log M (100% − 12%) · 900 = 88% · 900 = 792
C = log M −log C, concluı́mos
que reais.
log M
C log M − log C Ao aceitar receber o pagamento em até 90 dias, a loja
n= = . (4)
log(1 + i) log(1 + i) embute juros compostos a uma taxa mensal i, que faz com
que a capitalização dos 792 reais em juros compostos, por
Os dois exemplos a seguir utilizam a fórmula acima.
três meses, gere 900 reais ao final. Então, a última igual-
Exemplo 13. Uma aplicação de 22.000 reais, efetuada em dade em (5) fornece
certa data à taxa composta de juros de 2, 4% ao mês, pro- r
3 900
∼ 1, 043 − 1 = 0, 043.
p
duziu um montante de 26.596, 40 reais. Qual foi o prazo i= − 1 = 3 1, 136 − 1 =
da operação? 792
Portanto, a taxa de juros efetiva da compra com paga-
Solução. Uma vez que C = 22.000, M = 26.596, 40 e mento em 90 dias é de aproximadamente 4, 3%.
i = 2, 4% = 0, 024, segue da segunda igualdade em (4) que
log 26.596, 50 − log 22.000
n =
log(1 + 0, 024)
4, 4248 − 4, 3424 Sugestões ao Professor
=
0, 0103
0, 0824 Separe dois encontros de 100 minutos cada para abordar
= = 8 meses.
0, 0103 os assuntos deste material. No primeiro encontro, ensine os
conceitos básicos sobre juros simples e resolva os exemplos
aqui reunidos. Também, deixe claro que os juros simples
Exemplo 14. Qual o tempo mı́nimo para que um capital não são usados em aplicações reais; trata-se de um passo
que cresce à taxa de 2, 2% ao mês duplique? didático para que os estudantes possam compreender me-
lhor os juros compostos.
Solução. Note que o montante M esperado pelo No segundo encontro, introduza o conceito de juros com-
exercı́cio é o dobro do capital inicial C, isto é, M = 2C. postos e resolva os exemplos. Aproveite o momento para
Como i = 0, 022, a primeira igualdade em (4) fornece mostrar a diferença entre as duas formas de capitalização.
log 2C No final da aula, solicite aos alunos que comentem so-
C log 2 ∼
n= = = 31, 85. bre situações reais nas quais eles se depararam com uma
log(1 + 0, 022) log 1, 022
aplicação dos assuntos abordados nesta aula. Se possı́vel,
Portanto, são necessários pelo menos 32 meses para que o elabore mais exercı́cios, os quais simulem as situações apre-
capital dobre. sentadas pelos alunos.

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Material Teórico - Módulo de MATEMÁTICA FINANCEIRA

Taxas Equivalentes

Primeiro Ano do Ensino Médio

Autor: Prof. Francisco Bruno Holanda


Autor: Prof. Antonio Caminha Muniz Neto

14 de junho de 2018
1 Taxas equivalentes para juros (a) durante na perı́odos (de certa duração por perı́odo), a
uma taxa ia por perı́odo;
simples
(b) durante nb perı́odos (de certa duração por perı́odo,
Em algumas situações, podemos nos deparar com opera- possivelmente diferente da anterior), a uma taxa ib
ções financeiras nas quais o número de perı́odos de capita- por perı́odo.
lização não é um múltiplo inteiro do tempo no qual a taxa
de juros está expressa. Essa é a situação, por exemplo, em Suponha, ainda, que na perı́odos com a primeira duração
um empréstimo no regime de juros simples com taxa de e nb perı́odos com a segunda duração correspondam a um
30% ao ano, mas que foi pago em apenas sete meses. mesmo intervalo total de tempo. Então, as taxas ia e ib
Em casos como este, a fim de obter o montante de juros serão equivalentes se, e somente se,
pagos, devemos calcular uma taxa de juros equivalente à C(1 + na ia ) = C(1 + nb ib )
original, mas expressa em termos da duração dos perı́odos
de capitalização (no exemplo acima, isso significa obter ou, ainda,
nb
uma taxa equivalente à original – que era anual –, expressa ia = · ib . (1)
na
ao mês).
Para entendermos melhor como proceder, analisemos o Exemplo 2. Calcule, no regime de juros simples, a taxa
seguinte exemplo concreto. trimestral correspondente a uma taxa bimestral de 8%?
Solução. Podemos resolver essa questão de duas formas
Exemplo 1. Para consertar seu carro, um taxista realizou
diferentes, a primeira delas utilizando a fórmula acima.
um empréstimo de R$7.000, 00 a uma taxa de juros simples
Para tanto, basta notar que um perı́odo de um ano corres-
de 2, 64% a.m. Se a duração do empréstimo foi de 220
ponde a quatro trimestres (de sorte que a taxa trimestral
dias, qual o montante pago em juros?
será aplicada por 4 perı́odos), e a seis bimestres (logo, a
Solução. Primeiramente, observe que a taxa de juros ci- taxa bimestral será aplicada 6 vezes). Então, denotando a
tada neste exercı́cio é dada “ao mês” enquanto a duração taxa trimestral por it , a relação (1) fornece
do empréstimo é dada em dias. Vamos, então, calcular ini- 6
cialmente a taxa ao dia equivalente à taxa de 2, 64% a.m. it =· 8% = 12%.
4
Recordando que 2, 64% é o mesmo que 0, 0264 e, para
efeitos financeiros, um mês corresponde a 30 dias, basta Outra forma de resolver (que, no final das contas, é equi-
resolvermos a seguinte regra de três, na qual id representa valente à primeira forma acima) é utilizar a proporciona-
a taxa de juros ao dia: lidade das taxas de juros simples, como feito na primeira
parte da solução do Exemplo 1: uma vez que a taxa é de
0, 0264 30 8% em dois meses (um bimestre), para calculá-la em três
= .
id 1 meses (um trimestre) basta resolver a regra de três abaixo:
Ao fazê-lo, obtemos id = 0, 00088 (isto é, 0, 088% a.d.)
Agora, para calcular o montante pago em juros, utiliza- 8% — 2
mos a fórmula de taxa de juros simples: it — 3
V F = (1 + i · t) · V P. 3
Logo, it = 2 · 8% = 12%.
Substituindo os valores que já conhecemos:
As taxas equivalentes têm uma importante aplicação
V F = (1 + 0, 00088 · 220) · 7000 em questões que tratam de operações de desconto. Essas
operações ocorrem quando há um pagamento antecipado
= (1 + 0, 1936) · 7000
de uma dı́vida futura. Neste caso, por definição, o valor
= 8355, 2. do desconto é a diferença entre o valor da dı́vida e o valor
de pagamento antecipado; por sua vez, este é ajustado de
acordo com a taxa de capitalização da dı́vida e com tempo
De maneira formal, duas taxas de juros simples são con- que ainda falta para a data prevista do pagamento dessa
sideradas equivalentes se, aplicadas sobre um mesmo ca- dı́vida.
pital C por um mesmo perı́odo de tempo, gerarem mon- De outra forma, o valor para pagamento antecipado deve
tantes iguais. ser calculado levando-se em conta que o total da dı́vida
Um exemplo útil para você manter em mente, leitor, é corresponde ao valor antecipado, acrescido dos juros sim-
o seguinte: uma taxa de (juros simples de) 30% a.m. é ples calculados sobre tal valor e referentes ao perı́odo de
equivalente a uma taxa de 1% a.d. antecipação.
Mais geralmente, considere um capital C aplicado (a ju- Também aqui, a maneira mais fácil de entender esse tipo
ros simples) em duas situações: de aplicação é pelo exame de uma situação concreta.

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Exemplo 3. Um tı́tulo de valor nominal de R$4000, 00, mesmo capital C por perı́odos equivalentes de tempo,
vencı́vel em um ano, foi liquidado 3 meses antes de seu gerarem montantes iguais.
vencimento. Sendo de 42%a.a a taxa de juros simples do
tı́tulo, calcule o desconto dessa operação. A fim de quantificar a definição acima, considere um
capital C aplicado (a juros compostos) nas duas situações
Solução. Inicialmente, observe que o perı́odo de ante- a seguir:
cipação (um trimestre) corresponde a 14 de um ano. Então,
aplicando novamente a proporcionalidade das taxas de ju- (a) durante na perı́odos (de certa duração por perı́odo), a
ros simples, concluı́mos que uma taxa de (juros simples de) uma taxa ia por perı́odo;
42% ao ano corresponde a uma taxa de 42% 4 = 10, 5% ao (b) durante nb perı́odos (de certa duração por perı́odo,
trimestre.
possivelmente diferente da anterior), a uma taxa ib
Denotando por C o valor da dı́vida em caso de paga-
por perı́odo.
mento antecipado, temos que os 4000 reais devidos inici-
almente devem corresponder a C, acrescido de 10, 5%C = Suponha, ainda, que na perı́odos com a primeira duração
0, 105C, que seria o montante de juros (simples) pago sobre e nb perı́odos com a segunda duração correspondam a um
C, caso não houvesse a antecipação. Isso nos dá a equação mesmo intervalo total de tempo. Então, uma vez que es-
tamos no regime de juros compostos, as taxas ia e ib serão
4000 = C(1 + 0,105), equivalentes se, e somente se,

que resolvida fornece C ∼= 3619,90. C(1 + ia )na = C(1 + ib )nb ,


Portanto, o valor do desconto será de D = 4000 −
3619, 90 = 380,10 reais. ou seja, se, e somente se,
(1 + ia )na = (1 + ib )nb .
2 Taxas equivalentes para juros Extraindo raı́zes de ı́ndice na em ambos os membros nb
da
compostos última igualdade acima, obtemos 1 + ia = (1 + ib ) na , de
sorte que
nb
Quando estamos trabalhando com juros compostos, a ia = (1 + ib ) na − 1. (2)
forma correta para achar taxas equivalentes entre diferen-
Apliquemos a discussão acima a alguns exemplos, sem-
tes perı́odos de tempo não é mais através de uma simples
pre sob o regime de juros compostos.
proporcionalidade.
Para entender o porquê disso, considere o problema de Exemplo 4. Considerando, no regime de juros compostos,
calcular a taxa anual (de juros compostos) equivalente a uma taxa de 45% a.a., calcule, em cada um dos itens a
uma taxa mensal de 1%. Sabemos que uma taxa mensal seguir, a taxa equivalente:
im , aplicada em juros compostos por 12 meses (que é o
a) diária;
mesmo que 1 ano), multiplica um capital inicial por
b) mensal;
(1 + im )12 .
c) bimestral;
Portanto, a taxa anual ia equivalente deve ter o mesmo
efeito sobre o mesmo capital, o que fornece a equação d) trimestral;
e) semestral.
1 + ia = (1 + im )12 .
Solução. Vamos utilizar (2), com ib = 45% = 0, 45 e nb =
Então, tomando im = 0, 01 (isto é, 1%) e usando uma 1 ano.
calculadora, obtemos No item (a), temos na = 360, uma vez que (pare efeitos
financeiros) 360 dias correspondem a 1 ano. Então, com o
1 + ia = (1, 01)12 = 1, 126. auxı́lio de uma calculadora, obtemos
1
Logo, ia = 0, 126 = 12, 6%, e concluı́mos que juros com-
p
ia = (1 + 0, 45) 360 − 1 = 360 1, 45 − 1
postos de 1% a.m. correspondem a uma taxa de 12, 6% ∼
= 1, 00103 − 1 = 0, 00103 = 0, 103%.
a.a.
Note que este valor que é maior do que a taxa equiva- Em (b), temos na = 12, já que 1 ano tem 12 meses.
lente no caso de juros simples, que é de 12% a.a. Logo,
1 p
De maneira mais formal, duas taxas de juros compostos ia = (1 + 0, 45) 12 − 1 = 12 1, 45 − 1
são consideradas equivalentes quando, aplicadas sobre um ∼
= 1, 0314 − 1 = 0, 0314 = 3, 14%.

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Analogamente, como 1 ano é o mesmo que 6 bimestres, solução: nela solução, usamos as taxas anuais equivalentes
4 trimestres e 2 semestres, calculamos: para decidir qual aplicação seria a melhor; mas, nas
√ notações da segunda solução, tais taxas equivalentes
(c) ia = 6 1, 45 − 1 ∼
= 0, 0638 = 6, 38%. seriam aplicadas aos mesmos R$1000, fornecendo os
√ mesmos valores finais. Isso também fica evidente ao
(d) ia = 4 1, 45 − 1 ∼= 0, 0973 = 9, 73%.
√ compararmos numericamente os valores finais obtidos com
(e) ia = 2 1, 45 − 1 ∼
= 0, 204 = 20, 4%. as taxas equivalentes correspondentes.

Por fim, vamos realizar uma operação de desconto en-


Exemplo 5. Enzo recebeu duas propostas de investimentos: volvendo juros compostos.

i. O investimento A, que rende juros de 14% ao trimes- Exemplo 6. Um tı́tulo de valor nominal de R$5000,00 está
tre. sendo liquidado 5 meses antes de seu vencimento. Sendo
de 2%a.m a taxa de juros composta do tı́tulo, calcule o
ii. O investimento B, que rende juros de 9% ao bimestre. desconto dessa operação.

Qual dos dois é mais vantajoso do ponto de vista finan- Solução. Observe que uma taxa de 2% ao mês corres-
ceiro? ponde a uma taxa i em cinco meses (no regime de juros
compostos), onde (novamente com o auxı́lio de uma calcu-
Solução. Basta tomar um perı́odo de tempo que seja si- ladora)
multaneamente um múltiplo de 2 meses (a duração de um i = (1 + 0, 02)5 − 1 = 0, 104,
bimestre) e 3 meses (a duração de um trimestre), diga-
ou seja, i = 10, 4%. Assim, se C é o valor da dı́vida em
mos 1 ano, e calcular as taxas equivalentes às taxas dos
caso de pagamento antecipado, temos que
investimentos A e B.
Para o investimento A, seja ia a taxa anual equivalente C(1 + 0, 104) = 5000 ⇒ C = 4528, 98.
à taxa trimestral ib = 14% = 0, 14. Uma vez que na = 1
ano é o mesmo que nb = 4 trimestres, (2) fornece Portanto, o valor do desconto será D = 5000 − 4528, 98 =
471, 02 reais.
4
ia = (1 + 0, 14) 1 − 1 ∼
= 1, 6889 − 1 = 0, 6889 = 68, 89%.
Finalizemos este material utilizando (2) para comparar
Para o investimento B, seja ia a taxa anual equivalente à taxas equivalentes nos regimes de juros simples e compos-
taxa bimestral ib = 9% = 0, 09. Novamente, temos na = 1 tos. Para tanto, observamos que é possı́vel mostrar que,
ano, mas nb = 6 bimestres. Portanto, (2) fornece quando nb > na , temos
nb nb nb  nb 
6
ia = (1 + 0, 09) 1 − 1 ∼
= 1, 6771 − 1 = 0, 6771 = 67, 71%. (1 + ib ) na > 1 + · ib + − 1 i2b .
na na na
Portanto, a aplicação A é mais vantajosa. Portanto, no regime de juros compostos, temos
Ainda em relação ao exemplo anterior, vale notar que ou-
nb nb nb  nb 
ia = (1 + ib ) na − 1 > · ib + − 1 i2b .
tra possı́vel solução seria analisar quanto renderia um capi- na na na
tal arbitrário (por exemplo de R$1000 reais, para facilitar Comparando a última expressão acima com (1), vemos
os cálculos) sob os investimentos A e B, após um perı́odo que a taxa equivalente no regime de juros compostos ultra-
de tempo que fosse simultaneamente um múltiplo de 2 me- passa a taxa equivalente no regime de juros simples (que é
ses (a duração de um bimestre) e 3 meses (a duração de precisamente nnab · ib ) em pelo menos
um trimestre), digamos, 1 ano.
Observando novamente que 1 ano é o mesmo que 4 tri- nb  nb 
− 1 i2b .
mestres, no investimento A terı́amos na na

V F = 1000(1 + 0, 14)4 ∼
= 1688,96. Imagine, por exemplo, uma taxa anual ia , equivalente a
uma taxa diária ib = 1%. Como na = 1 e nb = 360, a taxa
Por outro lado, como 1 ano corresponde a 6 bimestres, no anual em regime de juros compostos ultrapassará aquela
investimento B terı́amos em regime de juros simples em pelo menos
 
V F = 1000(1 + 0, 09)6 ∼
= 1677,10. 360 360 − 1 0, 012 ∼
= 12, 924 = 1292, 4%.

Portanto, o investimento A é mais vantajoso. Isso dá uma ideia do poder do regime de juros compostos,
No final das contas, o argumento imediatamente acima e de que devemos fugir de dı́vidas em cartão de crédito,
é essencialmente idêntico ao apresentado na primeira por exemplo. A esse respeito, deixamos o seguinte

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Exercı́cio 7. Uma operadora de cartão de crédito cobra
uma taxa anual de 360%. Qual a taxa diária equivalente
(no regime de juros compostos)?

Sugestões ao Professor
Sugerimos separar dois encontros de 100 minutos cada
para abordar os assuntos deste material. No primeiro
encontro, ensine os conceitos de taxas equivalentes so-
bre juros simples e resolva os exemplos reunidos aqui.
Também, deixe claro que os juros simples não são usados
em aplicações reais; lembre os alunos de que eles formam
simplesmente um passo didático para que os estudantes
possam compreender melhor os conceitos de taxas equiva-
lentes para juros compostos.
No segundo encontro, introduza o conceito de taxas equi-
valentes em juros compostos e resolva os exemplos que
apresentamos. Aproveite o momento para mostrar a di-
ferença entre as duas formas de capitalização. Se for o
caso, incentive os alunos a utilizarem calculadoras para os
cálculos mais difı́ceis. No final da aula, solicite aos alunos
que comentem sobre situações reais nas quais eles se de-
pararam com uma aplicação dos assuntos abordados nesta
aula. Se possı́vel, elabore exercı́cios que simulem as si-
tuações apresentadas pelos alunos.

Referências
[1] A. ASSAF NETO. Matemática Financeira e suas
Aplicações. Atlas, 2008.
[2] A. BRUNI and R. FAMA. Matemática Financeira com
HP 12C e Excel. Atlas, 2008.

[3] J. M. GOMES and W. F. MATHIAS. Matemática Fi-


nanceira. Atlas, 2009.

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Material Teórico - Módulo de MATEMÁTICA FINANCEIRA

Inflação e Taxa Real

Primeiro Ano do Ensino Médio

Autor: Prof. Francisco Bruno Holanda


Autor: Prof. Antonio Caminha Muniz Neto

17 de julho de 2018
1 Introdução dólares. Em seguida, sofreu um aumento de 2, 7% em 1995,
passando então para
Suponha que você fique sabendo, através de um amigo, so-
bre uma “oportunidade” de investimento em um determi- 1030 + 2, 7% × 1030 = 1030 + 27, 81 = 1057, 81
nado tı́tulo de renda fixa que rende 30% ao mês. Apesar
dólares.
da tentação inicial, você resolve investigar melhor sobre
este tı́tulo e acaba descobrindo que trata-se de um inves-
(b) Lembrando que aumentar de x% é o mesmo que multi-
timento em tı́tulos da dı́vida de um determinado paı́s, no
plicar por 1 + x% o valor a ser aumentado, de acordo com
qual a inflação mensal média gira em torno de 40%. No
os dados o gasto de US$1000,00 em 1990 passou a ser de
final, você fica feliz em deixar essa “oportunidade” passar.
Após esse pequeno relato, fica fácil entender como a in- (1 + 2, 3%) × (1 + 2, 5%) × (1 + 2, 5%) × (1 + 3, 2%)×
flação é importante na hora de analisarmos uma determi-
nada operação financeira. Portanto, quando incluı́mos a ×(1 + 3, 5%) × (1 + 6%) × 1000
inflação em qualquer operação que envolva taxa de juros, dólares em 1995. Isso totaliza US$1216, 88.
faz-se necessário diferenciarmos entre taxa de juros real
e taxa de juros nominal. Antes de formalizarmos estes (c) Não. De acordo com o item (b), o gasto mensal de
conceitos, considere o seguinte exemplo, baseado em uma US$1000,00 em 1990 aumentou de US$216,88, ou seja, au-
situação real: mentou 21,688%, bem mais que os 14,3% pedidos.
Exercı́cio 1 (Olimpı́ada Paulista de Matemática). Atacando
Esse primeiro exemplo serve bem para ilustrar como a
a defasagem salarial decorrente da inflação, os funcioná-
falta de compreensão sobre a inflação e os juros podem
rios de faculdades de Los Angeles, EUA, assinaram e en-
fazer com que as pessoas tomem decisões ruins do ponto
viaram ao governo a seguinte mensagem:
de vista financeiro.
Prezados Senhores,
Assim, precisamos diferenciar os juros reais (que levam
Estamos unidos num único propósito: queremos um au-
em consideração a perda inflacionária) dos juros nomi-
mento salarial. (Os valores estão em porcentagem).
nais (que são aqueles que geralmente constam nos con-
Ano Aumento Inflação Ganho tratos). A relação entre essas duas variáveis e a taxa de
Salarial Anual inflação é dada pela equação a seguir:
1990 0 6 -6 (1 + iN ) = (1 + π)(1 + iR ). (1)
1991 0 3,5 -3,5
1992 0 3,2 -3,2 onde: e todas as taxas acima referem-se a um mesmo
1993 0 2,5 -2,5
1994 3 2,5 +0,5 iN é a taxa nominal de juros;
1995 2,7 2,3 +0,4 π é a taxa de inflação;
-14,3 iR é a taxa real de juros

Estamos cansados de trabalhar com números negativos! perı́odo de tempo (i.e., são todas mensais, ou todas anuais
Utilizando uma calculadora, responda as perguntas: etc).
É fácil compreender a relação (1) se pensarmos nos efei-
(a) Suponha que em 1990 o funcionário Arnald tinha um tos da inflação e da taxa nominal de juros sobre um capital
salário mensal de US$1.000, 00. Qual é o salário de C. Realmente, após um perı́odo de tempo, a taxa nominal
Arnald no final de 1995? de juros incrementa C em (1 + iN )C, ao passo que a taxa
(b) Suponha que em 1990 o funcionário Bernald tinha um de inflação deprecia (1 + iN )C pelo fator em (1 + π)C, de
gasto mensal de US$1.000, 00. Qual o gasto mensal de sorte que o valor real é
Bernald no final de 1995, levando-se em consideração (1 + iN )C
que ele continua gastando com as mesmas coisas desde .
1+π
1990?
Então, esse deve ser o valor obtido quando aplicamos a C
(c) Baseados na tabela, os funcionários pediram um au- a taxa real de juros, de sorte que devemos ter
mento salarial de 14, 3%. Nesse caso, seriam real-
mente repostas todas as perdas salariais? (1 + iN )C
(1 + π)C = .
1+π
Solução.
(a) O salário sofreu um aumento de 3% em 1994, passando Cancelando C em ambos os membros da última igualdade
para acima, obtemos (1).
1000 + 3% × 1000 = 1000 + 30 = 1030 A seguir, colecionamos mais alguns exemplos.

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Exercı́cio 2. Um investidor aplicou um capital de Solução. Este exercı́cio é uma simples aplicação da
R$10.000, 00 e resgatou o total de R$13.600, 00 ao fim de fórmula 1. Basta vermos o reajuste de 12% obtido por
1 semestre. Se nesse perı́odo a taxa real de juros foi de Joaquim como a “taxa de aumento nominal” (um ganho
32%, calcule a taxa de inflação do perı́odo. nominal sobre o capital – no caso, o salário de Joaquim) e
em iR como a “taxa de aumento real” do salário. Assim,
Solução. O primeiro passo é descobrir qual foi a taxa com π = 0, 20, temos sucessivamente:
de juros nominal iN no perı́odo. Para isso, aplicamos a
fórmula de juros compostos: 1 + 0, 12 = (1 + 0, 20)(1 + iR )

13600 = (1 + iN ) · 10000 ⇒ 1 + iN = 1, 36 ⇒ iN = 0, 36. 1, 12 ∼


1 + iR = = 0, 9333
1, 20
Agora, substituindo os valores iN = 0, 36 e iR = 0, 32 iR ∼
= −0, 0666
em 1, obtemos, com o auxı́lio de uma calculadora,
Então, concluı́mos que Joaquim terá uma perda de
1, 36 = (1 + π)(1, 32) ⇒ 1 + π ∼
= 1, 0303 ⇒ π = 0, 0303. 6, 66% no seu poder de compra. Isso ocorreu devido ao
fato da inflação ter superado a taxa de reajuste.
Em termos percentuais, temos então que π ∼
= 3, 03%.
Exercı́cio 5. Débora investiu 1.000 reais em um fundo de
investimentos de renda fixa, com rentabilidade de 15% ao
Para o próximo exercı́cio, chamamos a atenção do leitor
ano, durante dois anos. A inflação no primeiro ano foi
para o fato de que taxas de inflação seguem o mesmo re-
de 5% e a inflação no segundo ano foi de 6%. Qual foi a
gime dos juros compostos. Portanto, a inflação acumulada
rentabilidade real do investimento feito por Débora?
em um certo perı́odo não é a soma das inflações em cada
subperı́odo. Solução. Em primeiro lugar, vamos calcular a inflação
acumulada π no perı́odo:
Exercı́cio 3. No primeiro mês de um ano, a taxa de in-
flação foi de 1, 27%. No segundo mês, ela foi de 1, 56% 1 + π = (1 + 0, 05) · (1 + 0, 06) = 1, 113 ⇒ π = 11, 3%.
e no terceiro mês foi de 1, 89%. De quanto foi a inflação
acumulada no trimestre? Agora, vamos calcular a rentabilidade nominal acumulada
no perı́odo:
Solução. Para encontrarmos a taxa de inflação acumu-
lada π do perı́odo, observamos que ela corresponde à depre- 1 + iN = (1 + 0, 15) · (1 + 0, 15) ∼
= 1, 322 ⇒ iN ∼
= 32, 2%.
ciação acumulada sobre um capital C, quando aplicamos
ao mesmo, sucessivamente, as taxas de inflação correspon- Por fim, substituindo os valores acima na fórmula 1, te-
dentes aos vários subperı́odos. mos:
Tais depreciações sucessivas fazem C transformar-se em
1, 322 = (1 + iR )1, 113 ⇒ 1 + iR ∼
= 1, 188 ⇒ iR ∼
= 18, 8%.
C/(1 + 0, 0127) no fim do primeiro mês, depois em C/(1 +
0, 0127)(1+0, 0156) no fim do segundo mês e finalmente em Então, observe que 18, 8%, e não 30% = 2 × 15%, é a
C/(1 + 0, 0127)(1 + 0, 0156)(1 + 0, 0189) no fim do terceiro rentabilidade real acumulada em dois anos.
mês. Portanto, devemos ter

C C 2 Medidas de inflação
=
1+π (1 + 0, 0127)(1 + 0, 0156)(1 + 0, 0189)
Podemos entender a inflação de um produto como o au-
ou, ainda, mento no preço desse item. Por exemplo, suponha que o
quilo do arroz custasse 4, 00 reais há um ano, e que hoje
1 + π = (1 + 0, 0127)(1 + 0, 0156)(1 + 0, 0189). custe 4, 40. Nesse caso, dizemos que o preço do arroz sofreu
uma inflação de
Com o auxı́lio de uma calculadora, obtemos
4, 40 − 4, 00 0, 4 1
1+π ∼
= 1, 0479 ⇒ π ∼
= 4, 79%. = = = 10%.
4, 00 4 10
Agora, suponha que o quilo do feijão foi de 5, 00 reais para
5, 10 no mesmo perı́odo. Observe que houve uma inflação
Exercı́cio 4. Joaquim trabalha em uma empresa e obteve de
5, 10 − 5, 00
um reajuste salarial de 12% no inicio de 2018. Admitindo- = 2%
se que a inflação no ano de 2017 tenha atingido 20%, cal- 5, 00
cule qual foi a perda no poder de compra de Joaquim. no preço do feijão.

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Suponha que Carlos sempre comprou dois quilos de Quando os jornais falam em inflação estão, em verdade,
feijão e um quilo de arroz. Veja que, no ano passado, falando sobre um ı́ndice de inflação calculado sobre uma
Carlos comprava essa cesta de alimentos por cesta de bens e serviços padrão, determinada por órgãos
governamentais ou privados. Nesse sentido, os principais
2 × 5, 00 + 1 × 4, 00 = 14, 00 ı́ndices de inflação utilizados no Brasil são:

reais, mas que agora essa mesma cesta custa • IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo): é
elaborado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geogra-
2 × 5, 10 + 1 × 4, 40 = 14, 60. fia e Estatı́stica), com o objetivo de abranger as ces-
tas de produtos e serviços consumidas pelas famı́lias
Então, como com rendimentos mensais compreendidos entre 1 e 40
14, 60 ∼
= 1, 0428, salários-mı́nimos, qualquer que seja a fonte de rendi-
14 mentos, e residentes nas áreas urbanas das diversas
concluı́mos que a cesta de alimentos (com dois quilos de regiões do paı́s. É o principal ı́ndice de inflação bra-
feijão e um quilo de arroz) teve uma inflação de aproxima- sileiro, sendo utilizado pelo Banco Central para esta-
damente 4, 28%. belecer as metas de inflação do governo.
Para facilitar a discussão, vamos organizar essas in-
formações na tabela a seguir: • IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado): ela-
borado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), é uma
média ponderada de outros três ı́ndices de inflação. O
Produto Ano 0 Ano 1 Inflação
IGP-M é utilizado no cálculo do reajuste dos aluguéis.
0,10
Feijão 5,00 5,10 5,00 = 0, 02
• INCC (Índice Nacional de Custo da Construção):
0,40
Arroz 4,00 4,40 4,00 = 0, 10 também elaborado pela FGV, foi concebido com a
Cesta 14,00 14,60 0,60 ∼ finalidade de aferir (isto é, estimar) a evolução dos
14,00 = 0, 0428
custos de construções habitacionais. O INCC é utili-
zado pelas construtoras no financiamento de imóveis
comprados na planta.
Visualizando a tabela, fica claro que a inflação de cada
item é diferente, e que também é diferente da inflação de Para saber mais sobre ı́ndices de inflação, consulte o site
uma cesta de produtos e/ou serviços. o IBGE: ww2.ibge.gov.br
Exercı́cio 6. Tendo por base os preços da tabela anterior,
calcule a inflação da cesta composta por três quilos de arroz
e cinco quilos de feijão.
Sugestões ao Professor
Solução. Vamos calcular o preço da cesta em dois mo-
mentos. No ano zero, ela valia Sugerimos separar dois encontros de 50 minutos cada
para abordar os assuntos deste material. No primeiro en-
3 × 4, 00 + 5 × 5, 00 = 37, 00 contro, ensine os conceitos de taxas de juros reais e no-
minais. Em seguida, resolva os exemplos reunidos neste
reais. No ano um, o novo preço era material. Reforce a importância prática do conhecimento
sobre a inflação em casos com motivações reais, como em
3 × 4, 40 + 5 × 5, 10 = 38, 70
investimentos ou reajustes salariais.
No segundo encontro, introduza o conceito de ı́ndice
reais. Então, como
de inflação. Incentive os alunos a pesquisarem sobre as
38, 70 ∼ séries históricas dos principais ı́ndices de inflação brasilei-
= 1, 0459, ros. No final da aula, solicite aos alunos que comentem
37, 00
sobre situações reais nas quais eles se depararam com uma
concluı́mos que a inflação foi de aproximadamente 4, 59%. aplicação dos assuntos abordados nesta aula. Se possı́vel,
elabore exercı́cios que simulem as situações apresentadas
pelos alunos.
Chamaremos a inflação de cestas de produtos e serviços
de ı́ndice de inflação. Após esse último exercı́cio per-
cebemos que, ao alterarmos a cesta (mesmo que ela ainda Referências
seja composta pelos menos produtos), também alteramos
o ı́ndice de inflação. Portanto, cestas diferentes estão rela- [1] A. ASSAF NETO. Matemática Financeira e suas
cionadas com ı́ndices diferentes. Aplicações. Atlas, 2008.

http://matematica.obmep.org.br/ 3 matematica@obmep.org.br
[2] A. BRUNI and R. FAMA. Matemática Financeira com
HP 12C e Excel. Atlas, 2008.
[3] J. M. GOMES and W. F. MATHIAS. Matemática Fi-
nanceira. Atlas, 2009.

[4] Augusto C. Morgado, Eduardo Wagner, and Sheila C.


Zani. Progressões e Matemática Financeira. SBM,
2015.

http://matematica.obmep.org.br/ 4 matematica@obmep.org.br
Material Teórico - Módulo de MATEMÁTICA FINANCEIRA

Financiamentos

Primeiro Ano do Ensino Médio

Autor: Prof. Francisco Bruno Holanda


Autor: Prof. Antonio Caminha Muniz Neto

20 de agosto de 2018
1 Introdução qualquer sistema de amortização.

Neste material, iremos aplicar os tópicos que aprende- Jk = Sk−1 · i;


mos nos materiais anterior em um tema de extrema im- Pk = Jk + Ak . (1)
portância, não só para aqueles que desejam aprender ma- Sn = 0.
temática financeira, mas também para todas as pessoas
que contraem dı́vidas ou realizam financiamentos para a Delas, decorre também a composição do saldo devedor
compra de bens de alto custo, como automóveis e imóveis. Sk+1 , descrita a seguir:
Quando compramos uma casa, por exemplo, assinamos
um contrato de hipoteca com uma instituição financeira Sk+1 = Sk + Jk+1 − Pk+1
(um banco, por exemplo). Nesse contrato, fica acordado = Sk +   − Ak+1 − Jk+1
Jk+1
 

que a instituição nos emprestará o dinheiro necessário para
= Sk − Ak+1 .
efetivar a compra do imóvel, em troca de pagamentos
periódicos futuros. A seguir, apresentamos a chamada tabela de amor-
Esses pagamentos possuem duas funções: parte deve pa- tização (1), que pode ser construı́da facilmente em Excel
gar os juros correspondentes à atualização monetária da de forma recursiva, utilizando as identidades acima.
dı́vida e o restante serve para amortizar, ou seja, dimi-
nuir o saldo devedor original. A estrutura de pagamentos
ao longo do tempo recebe o nome de sistema de amor- Tabela 1: tabela de amortização.
tização.
Perı́odo Juros Amortiz. Pagam. Saldo Devedor
Ao longo deste material, abordaremos os dois tipos de
0 S0
sistema de amortização adotados no sistema financeiro bra-
1 J1 A1 P1 S1
sileiro: o sistema Price e o sistema de amortização cons-
tante (SAC). Porém, existem ainda o sistema americano, 2 J2 A2 P2 S2
o sistema alemão e o sistema misto. 3 J3 A3 P3 S2
.. .. .. .. ..
Na próxima seção, introduziremos o conceito de tabela . . . . .
de amortização que é a mesma para todos sistemas de n−1 Jn−1 An−1 Pn−1 Sn−1
amortização, independentemente de suas caracterı́sticas n Jn An Pn Sn
próprias.

2 Tabela de amortização 3 Sistema de amortização constan-


Considere a situação na qual um indivı́duo toma empres- te (SAC)
tado uma quantia S0 a uma taxa de juros i, que deve ser
paga nos próximos n perı́odos. O processo de amortização No sistema de amortização constante, todas as amor-
se dará ao final dos perı́odos de 1 a n, e pode ser descrito tizações são iguais, ou seja:
nos seguintes itens:
A1 = A2 = . . . = An = A.
i. O pagamento a ser realizado no perı́odo k será deno-
Iterando a recorrência Sk = Sk−1 − Ak , obtemos
tado por Pk ; o saldo devedor imediatamente após o
pagamento do perı́odo k será denotado por Sk . Sk = S0 − A1 − A2 − · · · − Ak . (2)
ii. Para k ≥ 1, entre os perı́odos k − 1 e k há incidência Fazendo k = n e utilizando o fato de que Sn = 0 e a
de Jk juros sobre o saldo devedor Sk−1 . amortização é constante, temos:
iii. Dessa forma, o pagamento Pk deve suficiente para co- 0 = Sn = S0 − (A + A + A + · · · + A) = S0 − nA,
brir os juros Jk = Sk−1 · i da dı́vida, bem como amor- | {z }
n vezes
tizar parte da dı́vida original. Essa amortização será
denotada por Ak . de modo que
S0
iv. Além disso, os pagamentos devem ser tais que o saldo A= .
n
devedor após o último perı́odo seja igual a zero. Além disso,
As informações acima podem ser prontamente resumi- kS0 S0 (n − k)
das no conjunto de equações (1), as quais são válidas para Sk = S0 − kA = S0 − = .
n n

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Consequentemente, Perı́odo Juros Amort. Pagam. Saldo Dev.
0 1000
S0 (n − (k − 1))i S0 (n − k + 1)i 1 30 250 280 750
Jk = Sk−1 · i = =
n n 2 22, 50 250 272, 50 500
e 3 15 250 265 250
4 7, 50 250 257, 50 0
Pk = Jk + Ak
S0 (n − k + 1)i S0
= +
n n sistema SAC. Tais gráficos são relativos a um empréstimo
S0 (ni + 1) S0 i no valor de S0 = 200.000, financiado em n = 360 meses a
= − (k − 1) . uma taxa de i = 1% ao mês. Como exercı́cio, sugerimos ao
n n
leitor escrever as primeiras linhas da tabela de amortização
Em particular, veja que os valores dos pagamentos são de- correspondente a essa situação, a fim de convencer-se de
crescentes ao longo do tempo e que são termos de uma que os formatos dos gráficos são os apresentados.
progressão aritmética.
Vejamos o sistema SAC em ação nos dois exemplos a
seguir.
Exemplo 1. Geovana contratou um empréstimo de 1.000
reais pelo SAC a uma taxa de juros de 3% ao mês. Ela irá 2000

realizar o pagamento em quatro parcelas mensais. Faça


a tabela de amortização e diga qual é o valor da última Legenda
Juros
prestação.
Amortização

Solução. No primeiro perı́odo o empréstimo é feito, ge- 1000 Pagamento

rando um saldo devedor de S0 = 1.000, porém não há pa-


gamento nesse mês. Sabemos que no SAC as amortizações
são constantes. Sendo assim, cada amortização é igual a
A = 1000
4 = 250. Veja que a taxa de juros é de 3% ao mês,
3 0
gerando um total de J1 = 100 · 1.000 = 30 reais em juros
0 100 200 300
no primeiro perı́odo. Assim, se o saldo devedor ao final do
perı́odo 1 é S1 = 1000 − 250 = 750, o valor do pagamento
será P1 = 250 + 30 = 280. Figura 1: gráfico da tabela SAC.
Perı́odo Juros Amort. Pagam. Saldo Dev.
0 1000
1 30 250 280 750 4 Sistema Price
Continuando para o segundo perı́odo, os juros serão de O sistema Price, também é chamado de sistema francês de
J2 = 3% · 750 = 22, 50 e o pagamento será de P2 = 250 + amortização, recebe este nome em homenagem a Richard
22, 50 = 272, 50. Temos, então, a tabela a seguir: Price, que o apresentou pela primeira vez em 1771 no seu
livro “Observações sobre Pagamentos Remissivos”.
Perı́odo Juros Amort. Pagam. Saldo Dev. No sistema Price de amortização, o valor da parcela é
0 1000 constante. Além disso, sendo i a taxa mensal de juros, n
1 30 250 280 750 o número de perı́odos e S0 o saldo devedor inicial, o valor
2 22, 50 250 272, 50 500 P dos pagamentos é dado pela relação
S0 i
Por fim, para os últimos dois perı́odos, temos sucessi- P = . (3)
1 − (1 + i)−n
vamente J3 = 3% · 500 = 15 e P3 = 250 + 15 = 265;
i
J4 = 3% · 250 = 7, 50 e o pagamento será de P4 = O número 1−(1+i) −n é chamado de fator de recuperação

250 + 7, 50 = 257, 50. A tabela de amortização completa é de capital.


como a seguir: Antes de nos debruçarmos sobre o problema geral do
cálculo de juros, amortizações e saldos devedores no sis-
tema Price, examinemos o seguinte
Exemplo 2. Na Figura 1, apresentamos gráficos que mos-
tram como os valores de juros, amortizações, pagamentos Exemplo 3. Marcos deseja comprar um carro no valor de
e saldos devedores se comportam ao longo do tempo no 20.000 reais e achou um banco que aceitou financiar este

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valor pelo sistema Price, cobrando uma taxa de 2, 5% ao Por fim, uma vez que Jk = Sk−1 · i, segue do que fizemos
mês. Calcule o valor da prestação nos seguintes casos: acima que
a) n = 24 meses.
Jk = S0 i − (P − S0 i)((1 + i)k−1 − 1).
b) n = 48 meses.
Solução. Para encontrarmos o valor do pagamento men- Exemplo 4. Geovana contratou um empréstimo de 1.000
sal, basta aplicarmos os valores S0 = 20.000 e i = 2, 5%, reais pelo sistema Price a uma taxa de juros de 3% ao
juntamente com o respectivo valor de n, na relação (3). mês. Ela irá realizar o pagamento em quatro parcelas men-
Com o auxı́lio de uma calculadora ou computador, obte- sais. Faça a tabela de amortização e diga qual é o valor
mos da última prestação.
20000 · 0, 025 ∼
a) P = = 1.118, 25. Solução. No primeiro perı́odo o empréstimo é feito, ge-
1 − (1 + 0, 025)−24
rando um saldo devedor de S0 = 1.000, porém não há
20000 · 0, 025 pagamento neste mês. Sabemos que no sistema Price os
b) P = = 720, 11.
1 − (1 + 0, 025)−48 pagamentos são constantes. Neste caso, segue de (3) que
cada pagamento é igual a

Ainda em relação ao exemplo anterior, veja que, ao 1.000 · 0, 03 ∼


P = = 269, 03.
dobrarmos o tempo do financiamento (de 24 para 48 1 − (1 + 0, 03)−4
meses), o valor do pagamento mensal não diminui pela
metade, mesmo que mantenhamos a taxa de juros (2, 5%). Veja que a taxa de juros é de 3% ao mês, gerando um
Isto se deve ao fato de um financiamento mais longo 3
total de J1 = 100 · 1.000 = 30 reais em juros no pri-
estar relacionado a um pagamento total de juros maior. meiro perı́odo. Assim, a amortização do primeiro perı́odo
Intuitivamente, isso ocorre porque passa-se mais tempo será A1 = 269, 02 − 30 = 239, 02 e o saldo devedor será
pagando juros ao banco. S1 = 1000 − 239, 02 = 760, 98. Obtemos, portanto, as
duas primeiras linhas da tabela de amortização:
Para calcular os valores dos juros, amortizações e saldos
devedores no sistema Price, partimos da última identidade Perı́odo Juros Amort. Pagam. Saldo Dev.
das amortizações: Sk+1 = Sk +Jk+1 −Pk+1 . Como Jk+1 = 0 1000
Sk ·i e Pk+1 = P , temos Sk+1 = Sk (1+i)−P . Reescrevendo 1 30 239, 03 269, 03 760, 98
essa última relação com k − 1 no lugar de k, obtemos o par
de equações:
Continuando para o segundo perı́odo, os juros serão de
Sk+1 = Sk (1 + i) − P
J2 = 3% · 760, 98 = 22, 83, enquanto a amortização será
Sk = Sk−1 (1 + i) − P de A2 = P2 − J2 = 269, 03 − 22, 83 = 246, 20 e o saldo
Subtraindo uma da outra membro a membro, encontramos devedor de S2 = S1 − A2 = 760, 98 − 246, 20. A tabela de
amortização ganha sua terceira linha:
Sk+1 − Sk = (Sk − Sk−1 )(1 + i),
ou seja (novamente da última identidade das amortizações) Perı́odo Juros Amort. Pagam. Saldo Dev.
Ak+1 = Ak (1 + i). 0 1000
1 30 239, 03 269, 03 760, 98
Então, percebemos que a sequência (Ak )k≥1 é uma pro- 2 22, 83 246, 20 269, 03 514, 78
gressão geométrica (PG) de razão 1 + i. Como A1 =
P − S0 i, temos que
Por fim, para o terceiro perı́odo, temos
Ak = A1 (1 + i)k−1 = (P − S0 i)(1 + i)k−1 . J3 = 3% · 514, 78 = 15, 44, com amortização
Utilizando novamente (2) (que, coforme vimos, é válida A3 = 269, 03 − 15, 44 = 253, 59 e saldo devedor será
para qualquer sistema de amortização), juntamente com a S3 = S2 − A3 = 524, 78 − 253, 59 = 261, 19; para o
fórmula para a soma dos termos de uma PG, obtemos quarto e último perı́odo, temos J4 = 3% · 261, 19 = 7, 83,
A4 = 269, 03 − 7, 83 = 261, 20 e S4 = S3 − A4 =
Sk = S0 − (A1 + A2 + · · · + Ak )
261, 19 − 261, 20 = −0, 01.
Ak (1 + i) − A1
= S0 −
(1 + i) − 1 Observação: o valor residual S4 = −0, 01 ocorre ape-
A1 (1 + i)k − A1 nas devido às aproximações que fizemos ao longo da cons-
= S0 − trução da tabela. Na prática, esses erros residuais são in-
i
(P − S0 i)((1 + i)k − 1) corporados à última parcela.
= S0 − .
i

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Perı́odo Juros Amort. Pagam. Saldo Dev. até mesmo os softwares de planilhas. É possı́vel encontrar
0 1000 mais exercı́cios sobre amortizações nos livros recomenda-
1 30 239, 03 269, 03 760, 98 dos na bibliografia.
2 22, 83 246, 20 269, 03 514, 78
3 15, 44 253, 59 269, 03 271, 19
4 7, 83 261, 20 269, 03 −0, 01 Referências
[1] A. ASSAF NETO. Matemática Financeira e suas
Exemplo 5. Na Figura 2, apresentamos os gráficos que Aplicações. Atlas, 2008.
mostram como os valores de juros, amortizações, pagamen-
[2] A. BRUNI and R. FAMA. Matemática Financeira com
tos e saldos devedores se comportam ao longo do tempo no
HP 12C e Excel. Atlas, 2008.
sistema Price. Tais gráficos são relativos a um empréstimo
no valor de S0 = 200.000, financiado em n = 360 meses a [3] J. M. GOMES and W. F. MATHIAS. Matemática Fi-
uma taxa de i = 1% ao mês. Como exercı́cio, sugerimos ao nanceira. Atlas, 2009.
leitor escrever as primeiras linhas da tabela de amortização
correspondente a essa situação, a fim de convencer-se de [4] Augusto C. Morgado, Eduardo Wagner, and Sheila C.
que os formatos dos gráficos são os mostrados. Zani. Progressões e Matemática Financeira. SBM,
Compare essa figura com a Figura 1. Veja que o valor do 2015.
pagamento é inicialmente maior na tabela SAC em detri-
mento da tabela Price, mas que este valor vai diminuindo
ao longo do tempo e que eventualmente torna-se menor do
que o pagamento fixo da tabela Price.

2000

1500

Legenda
Amortização
1000 Juros
Pagamento

500

0
0 100 200 300

Figura 2: gráfico da tabela Price.

Sugestões ao Professor
Recomenda-se que o professor utilize pelo menos dois
encontros de 100 minutos cada para apresentar o conteúdo
presente neste material. No primeiro encontro, ensine os
princı́pios básicos do sistema SAC e resolva os exercı́cios.
Se possı́vel, preencha as tabelas de amortização utilizando
algum software para criação de planilhas; faça isso passo a
passo, sem pressa. No segundo encontro, repita a mesma
metodologia para o sistema Price.
Um dica interessante é recriar os gráficos presentes neste
material (e outros semelhantes) utilizando o Geogebra ou

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Material Teórico - Módulo de Função Exponencial

Funções Exponenciais e Suas Propriedades

EP
Primeiro Ano - Médio

BM
Autor: Prof. Angelo Papa Neto
Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

10 de outubro de 2018
O
da
al
rt
Po
Nesta aula, começaremos a estudar uma das funções De uma quantidade inicial de 1 unidade de massa, res-
mais importantes da Matemática, a função exponencial. tarão M (t + s) unidades de massa após um tempo t + s.
Tentaremos apresentar, na medida do possı́vel, uma abor- Outra maneira de calcular essa massa é considerar dois
dagem rigorosa, o que nos obrigará a citar, de modo in- intervalos de tempo: após um tempo t, uma unidade de
formal, alguns resultados importantes do Cálculo, como a massa se reduz a M (t) unidades de massa; após um tempo
noção de continuidade e uma versão intuitiva da noção de s, m0 = M (t) unidades de massa no instante t se reduzem
derivada, vista como taxa de variação de uma função. a m0 M (s) = M (t)M (s) unidades de massa no instante

EP
t + s.
Dessa forma, a função M , que controla o decaimento de
1 Dois exemplos massa de uma substância radioativa, satisfaz a identidade

Nesta seção, veremos dois exemplos em que a função que M (t + s) = M (t)M (s),
controla um determinado fenômeno natural satisfaz uma para todos s, t ≥ 0.
identidade especı́fica, cujas consequências estudaremos na
Embora os fenômenos descritos acima sejam de na-
seção posterior.

BM
turezas completamente distintas, ambos são regidos por
Exemplo 1. Em uma cultura de bactérias, uma população funções que satisfazem uma mesma identidade. Na seção
inicial de uma unidade (que geralmente é medida em mi- seguinte, veremos que é possı́vel deduzir, a partir dessa
lhares de indivı́duos) aumenta com o tempo. Denotamos identidade, várias propriedades notáveis desse tipo de
por P (t) a população resultante dessa unidade populacio- função.
nal após um tempo t. Se supusermos que há uma quanti-
dade ilimitada de nutrientes, de modo que essa população
cresça sem restrições, que informações podemos obter so-
2 A propriedade fundamental e su-
bre a função P ?
O as consequências
Como há uma quantidade ilimitada de alimento, o au-
mento de população não provoca competição entre as Usaremos a letra A para indicar um dos conjuntos numé-
bactérias, logo, não retarda o crescimento da população. ricos: Z, Q, R.
Disso, podemos concluir que o tamanho da colônia de Vamos estudar funções E : A → R que têm a seguinte
bactérias é proporcional à sua população inicial. Portanto, propriedade fundamental:
se essa população inicial consistir de p0 unidades, então,
da
E(x + y) = E(x)E(y), (1)
após um tempo t, teremos uma população de p0 P (t) uni-
dades. para todos x, y ∈ A.
Passado um tempo t + s, a população unitária inicial Observe que as funções consideradas nos exemplos 1 e 2
aumenta para P (t + s). Por outro lado, podemos dividir satisfazem tal identidade, para todos os reais não negati-
esse intervalo de tempo em dois intervalos menores: do vos x, y. Aqui, veremos que propriedades uma função que
inı́cio até o instante t, a população aumenta de 1 para P (t) satisfaz (1) deve necessariamente ter.
unidades; do instante t até o instante t + s, a população Primeiramente, se E(0) = 0, então
al

aumenta de p0 = P (t) para p0 P (s) = P (t)P (s). E(x) = E(x + 0) = E(x)E(0) = E(x) · 0 = 0
Dessa forma, a função P satisfaz a identidade
para todo x ∈ A. Dessa forma, para que a função E não
P (t + s) = P (t)P (s), seja identicamente nula, devemos assumir que E(0) 6= 0.
Por outro lado, sendo esse o caso, temos
rt

para todos s, t ≥ 0. E(0) = E(0 + 0) = E(0)E(0)


Exemplo 2. Elementos radioativos mudam com o tempo, e, como E(0) 6= 0, podemos cancelar E(0) em ambos os
transformando-se em outros elementos. Assim, a massa membros da última igualdade para obter E(0) = 1. Resu-
Po

de uma determinada quantidade de material radioativo di- mindo:


minui com o tempo. Denotemos por M (t) a massa de um
Se E : A → R satisfaz a relação (1) e não é
determinado material radioativo que resta, após um tempo
identicamente nula, então E(0) = 1.
t, pela transmutação de uma quantidade inicial de 1 uni-
dade de massa. De um modo mais geral, se existe algum x0 ∈ A tal que
Supondo que os átomos desse material não exerçam in- E(x0 ) = 0, então, para qualquer x ∈ A, temos
fluência uns sobre os outros, podemos concluir que a quan-
tidade restante no instante t é proporcional à quantidade E(x) = E(x0 + x − x0 )
inicial, de modo que uma massa inicial m0 se reduz a = E(x0 )E(x − x0 )
m0 M (t) após um tempo t. = 0 · E(x − x0 ) = 0.

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Assim, 2.1 Expoentes inteiros (A = Z)
Se E : A → R satisfaz a relação (1) e não é Para o que segue, lembre-se de que, para um número na-
identicamente nula, então E(x) 6= 0, para todo tural n, a potência bn é definida por bn = b . . . b, com o
x ∈ A. fator b sendo repetido n vezes. Por outro lado, usualmente
define-se b0 = 1 e b−n = b1n .
Em particular, como E(1) 6= 0, temos E(1) > 0 ou E(1) <
A partir de E(1) = b, obtemos E(2) = E(1 + 1) =
0.
E(1)E(1) = b · b = b2 , E(3) = E(2 + 1) = E(2)E(1) = b2 ·

EP
Continuando, vamos mostrar agora que, se E(1) < 0,
b = b3 . Em geral, se k é um número natural e supusermos
então a função E é “mal comportada” e, por isso, evitare-
que E(k) = bk , então teremos
mos este caso. Se E(1) = b < 0, então
E(2) = E(1 + 1) = E(1)E(1) = b · b = b2 > 0; E(k + 1) = E(k)E(1) = bk · b = bk+1 .
portanto, a função E assume valores com sinais contrários Portanto, pelo Princı́pio da Indução Finita, seguirá que
nos extremos do intervalo [1, 2]. Como queremos, em últi-
ma instância, considerar a função E definida sobre o con-

BM
E(n) = bn , para todo n natural.
junto R dos números reais, é natural pensarmos que, se o
gráfico da função E for uma curva, e se essa curva pas-
Como E(0) = 1 = b0 , a igualdade E(n) = bn continua
sar por pontos separados pelo eixo das abscissas, ela deve
válida para n = 0.
passar por algum ponto pertencente a esse eixo (veja a
Vamos, agora, calcular E para números inteiros nega-
Figura 1 e a Observação 3).
tivos. Se k é um número natural, então E(−k)E(k) =
E(−k + k) = E(0) = 1. Logo,

1 1
E(−k) = = k = b−k ,
O E(k) b

e a igualdade E(n) = bn se mantém válida para todo n ∈ Z.


A discussão acima mostrou que uma função E : Z → R
que satisfaz a condição (1) é dada, para n ∈ Z, por E(n) =
bn , onde b = E(1) > 0.
da
Neste ponto, vale a pena olhar com mais detalhe a ima-
gem dessa função: Im (E) = {E(n) | n ∈ Z}.
Se b = 1, então E(n) = 1, para todo n ∈ Z, logo
Im (E) = {1}. Se b 6= 1, então Im (E) = {bn | n ∈ Z}.
Duas caracterı́sticas importantes desse último conjunto
são:
Figura 1: o gráfico corta o eixo das abscissas. • Se x, y ∈ Im (E), então x = bn = E(n) e y = bm =
al

E(m), para certos n, m ∈ Z, e xy = E(n)E(m) =


E(n + m) = bn+m ∈ Im (E), ou seja, o produto de
Mas isso implicaria que E(a) = 0, para algum a ∈ (1, 2), dois elementos de Im (E) também é um elemento de
e acabamos de ver que, se E não for identicamente nula, Im (E).
rt

então será sempre diferente de zero.


• Se x ∈ Im (E), então x = bn = E(n), para algum
Observação 3. De um modo intuitivo, dizemos que uma n ∈ Z. Logo x−1 = x1 = b1n = b−n = E(−n) ∈ Im (E),
função E é contı́nua se pequenas alterações em x pro- ou seja, o inverso de um elemento de Im (E) também
vocam pequenas alterações em E(x). Assim, o que fize- é um elemento de Im (E).
Po

mos acima foi sugerir que, se E : R → R for uma função


contı́nua, então não podemos ter E(1) < 0. Dessa forma, o conjunto Im (E) é fechado para a multi-
O resultado usado intuitivamente na discussão acima, plicação de R, de sorte que podemos ver a multiplicação de
que garante a existência de a ∈ (1, 2) tal que E(a) = 0 reais como uma operação em Im (E). Essa operação tem
vale para funções contı́nuas definidas em intervalos e é co- as seguintes propriedades:
nhecido como o Teorema do Valor Intermediário. Ele
é um dos resultados fundamentais do Cálculo. (1) é associativa, ou seja, x · (y · z) = (x · y) · z, para
quaisquer x, y, z ∈ Im (E),
Isso justifica a escolha de E(1) = b como sendo um
número real positivo. Esse número b é chamado de base (2) tem elemento neutro: o elemento 1 = E(0) ∈ Im (E)
da função exponencial E. satisfaz 1 · x = x · 1 = x, para qualquer x ∈ Im (E),

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(3) o inverso x−1 de um elemento x ∈ Im (E) em relação de sorte que
à multiplicação ainda é um elemento de Im (E).  m 
m 1 m  √ m √
n n
Um conjunto não vazio sobre o qual é possı́vel definir uma E =E = b1/n = b = bm .
n n
operação que satisfaz as três condições acima, é chamado
de grupo. Se, além disso, a operação for comutativa, ou √
seja, se xy = yx para quaisquer x e y pertencentes ao Denotando expressão n
bm por bm/n , obtemos
conjunto, ele será chamado um grupo abeliano1

EP
E(m/n) = bm/n ,
Em nosso caso, Im (E) é um grupo abeliano, uma vez
que a multiplicação de números reais é comutativa. Outro
para m ∈ Z+ , n ∈ N.
exemplo de grupo abeliano é o conjunto Z dos números
A passagem aos racionais negativos é similar aos argu-
inteiros, com a operação adição “+”; nesse caso, o elemento
mentos que fizemos para passar aos inteiros negativos, na
neutro é 0 e o inverso de x ∈ Z é o inteiro −x. Nesse
subseção anterior. Com efeito, se m < 0, então
sentido, o que está acontecendo aqui é que a função E,
devido à sua propriedade fundamental (1), “transfere” a 
−m
  
m

−m m


BM
estrutura de grupo abeliano aditivo de Z para impor uma E E =E + = E(0) = 1.
n n n n
estrutura de grupo abeliano multiplicativo em Im (E).
−m
= b−m/n =

Exemplo 4. Seja E : Z → R uma função satisfazendo (1), Como m < 0, temos −m > 0, logo, E n
com E(1) = b. Os elementos do conjunto {E(n) | n ≥ 0} = bm/n )−1 . Disso, obtemos
{1, b, b2 , b3 , . . .} formam uma progressão geométrica de
termo inicial 1 e razão m 1 1
n b. Os elementoso do conjunto E = = = bm/n .
1 1 2 1 3 −m
(bm/n )−1

{E(n) | n ≤ 0} = 1, b , b , b , . . . formam uma n E n
progressão geométrica de termo inicial 1 e razão 1/b.

2.2 Expoentes racionais (A = Q)


Continuando nosso estudo, nesta subseção vamos estudar
as propriedades de uma função E : Q → R satisfazendo
O Resumindo o que fizemos até aqui, concluı́mos que

Se E : Q → R satisfaz (1) e é tal que E(1) = b > 0,


então E(r) = br , para todo r ∈ Q.

(1) e com E(1) = b > 0. Primeiramente, notemos que, se Em particular, para r, s ∈ Q e b > 0, podemos reescrever
da
n ∈ N, então a propriedade (1) da seguinte forma:
1  
1 1
E + ··· + =E n· = E(1) = b. br · bs = br+s , ∀ r, s ∈ Q. (2)
|n {z n} n
n
A seguir, veremos tal regra operatória em ação.
Como estamos supondo que E satisfaz a propriedade (1), √ √
podemos escrever, após aplicar (1) n − 1 vezes, Exemplo 5. Calcule 3 16 · 5 128.
al

   
1 1 Solução. Ponha b = 2 em (2), temos
E ...E = b,
n n
√ √ √
3

5
27 = 24/3 · 27/5
3 5
| {z }
n 16 · 128 = 24 ·
n 4 7 41 √
15
ou seja, E n1 = b. Isso nos leva a concluir que E 1 = 23+5 241 .

= = 2 15 =
rt

√ √ n
n
b, ou ainda, usando a notação n b = b1/n , que
 
1
E = b1/n .
n
Po

Agora, seja r = m n um número racional, onde m ∈ Z.


3 Expoentes reais (A = R)
Se m = 0, então r = m 0
n = 0 e E(r) = E(0) = 1 = b . Se
m 1 1
m > 0, então r = n = n + · · · + n , onde a soma tem m Seja E : Q → R uma função que satisfaz (1) e tal que
parcelas. Nesse caso, temos E(1) = b > 0. Vamos analisar dois casos: 0 < b < 1 e
    b > 1; o caso b = 1 fornece uma função E constante igual
m 1 1 1 1
E =E + ··· + =E ···E , a 1 e, por isso, não será considerado aqui.
n |n {z n} n n Afirmamos inicialmente que
| {z }
m m
1 Em homenagem ao matemático norueguês Niels Henrik Abel Se b > 1, a função E : Q → R, dada por E(r) =
(1802–1829). br , é crescente.

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Para justificarmos a afirmação acima, vamos primeiro em f (x) (veja a Observação 3).
relembrar o que é uma função crescente. Dado um con-
junto não vazio I ⊂ R, dizemos que uma função f : I → R Quantificamos essa afirmação da seguinte forma: f
é crescente se, para todos x1 , x2 ∈ I, a condição x1 < x2 é contı́nua quando, para qualquer erro ε > 0, existe
implicar f (x1 ) < f (x2 ). outro erro δ > 0 tal que, se x ∈ (a − δ, a + δ), então
Sejam, pois r1 e r1 dois números racionais tais que r1 < f (x) ∈ (f (a) − ε, f (a) + ε).
r2 . Podemos escrever r2 = r1 + r, com r = r2 − r1 > 0.

EP
Veja que r também é racional, por ser a diferença entre Utilizando os fatos 1 e 2, é possı́vel mostrar que, se b > 0
dois racionais. Assim, e E0 : Q → R é a função dada por E0 (r) = br , então existe
uma única extensão contı́nua E : R → R de E0 . Nesse
E(r2 ) = E(r1 + r) = E(r1 )E(r). (3) caso, definimos a potência bx , com x ∈ R, pela igualdade
bx = E(x), e dizemos que E é a função exponencial de
Escreva r = m
n , onde m, n > 0 são números inteiros. Como base b.
supondo que b > 1, temos bm = b . . . b > 1 e, daı́,
estamos √ Na prática, pensamos em bx como resultado de apro-
E(r) = n bm > 1. Assim, a igualdade (3) fornece ximações sucessivas de números da forma br , com r racio-

BM
nal. Mais precisamente, sendo x irracional, usamos o fato 1
E(r2 ) = E(r1 )E(r) > E(r1 ),
para encontrar racionais r1 < r2 < . . . < x < . . . < s2 < s1
de sorte que E é crescente. e tais que rj e s√
j se aproximam mais e mais de x

Dado um conjunto não vazio I ⊂ R, dizemos que uma (no caso x = 2, por exemplo, poderı́amos tomar r1 =
função f : I → R é decrescente se, para todos x1 , x2 ∈ I, 1, r2 = 1, 4, r3 = 1, 41, etc, e s1 = 2, s2 = 1, 5, s3 = 1, 42,
a condição x1 < x2 implicar f (x1 ) > f (x2 ). Temos, agora, etc). Então, observamos que, se b > 1, tem-se
que
br1 < br2 < br3 < . . . < bs3 < bs2 < bs1 ;
Se 0 < b < 1, a função E : Q → R, dada por
E(r) = br , é decrescente.

Aqui, o argumento é praticamente o mesmo do caso an-


O continuando, mostramos que existe um único número real
y maior que todos os brj e menor que todos os bsj , e defi-
nimos bx como sendo esse número real.
No caso 0 < b < 1 o argumento é essencialmente idêntico
terior. Novamente, consideramos dois números racionais ao acima; a única diferença essencial reside no fato de que,
r1 < r2 e pomos r = r2 − r1 > 0, também racional. nesse caso, temos br1 > br2 > br3 > . . . > bs3 > bs2 > bs1 .
da
Escrevendo r = m n , com m, n > 0 inteiros, vemos que
m
√n m
Em resumo,
0 < b < 1 implica que 0 < b < 1 e 0 < b < 1, ou seja,
0 < E(r) < 1. Agora, a relação (3) implica Escrevendo rj → x e sj → x para significar que
rj e sj se aproximam mais e mais de x, temos
E(r2 ) = E(r1 )E(r) < E(r1 )
que
e, por isso, E é decrescente.  r
b j < bx < bsj

rj < x < sj
⇒ .
al

rj , sj → x brj , bsj → bx
No que segue, queremos considerar E como uma função
de R em R. A primeira coisa que precisamos fazer é definir
o que se entende por bx quando x ∈ R. Já sabemos o que Observação 6. Grosso modo, a maneira descrita acima é
isso significa quando x = r ∈ Q, mas, por exemplo, o que aquela pela qual as calculadoras operam com números irra-
rt

√ cionais: aproximando-os por números racionais e usando


seria b 2 ? Para suprir essa deficiência, necessitaremos de
a continuidade das funções envolvidas nos cálculos que se
dois fatos básicos sobre números reais e funções defini-
quer fazer para ter certeza de que o resultado gerado com
das sobre os reais, os quais utilizaremos sem demonstração:
tais aproximações também é uma boa aproximação do re-
Po

sultado exato.
Fato 1: o conjunto dos racionais é denso no conjunto dos
reais, ou seja, qualquer intervalo de R contém números Uma observação importante é que
racionais.
bx > 0, ∀ b > 0, x ∈ R.
Quantificamos essa afirmação da seguinte forma: dados
a real e δ > 0, existe um número racional r pertencente Realmente, se r, s ∈ Q são tais que r < x < s, então,
ao intervalo aberto (a − δ, a + δ). conforme vimos acima, temos br < bx < bs se b > 1 ou
br > bx > bs se 0 < b < 1. Em qualquer caso, como
Fato 2: uma função f : R → R é contı́nua quando br , bs > 0, é claro que bx > 0 também.
pequenas variações em x produzem pequenas variações Outra observação importante é colecionada no seguinte

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Teorema 7. Seja E : R → R a função exponencial de base Também veremos, em uma aula sobre logaritmos, que o
b. número e é irracional, com

(a) Se b > 1, então E é crescente. e∼


= 2, 718281828459045. (7)

(b) Se 0 < b < 1, então E é decrescente. A discussão acima permite dar uma outra justificativa
para o Teorema 7, a qual é bastante instrutiva para estudos
Prova. Analisemos o caso b > 1, sendo o caso 0 < b < 1

EP
posteriores.
totalmente análogo.
Dados números reais x1 < x2 , queremos estabelecer que Prova alternativa do Teorema 7.
bx1 < bx2 . Ora, a discussão anterior deixa claro que, se
(a) Como b > 1, a restrição da função E aos racionais
r ∈ (x1 , x2 ) é um racional (o qual existe, pelo Fato 1),
é crescente. Isto posto, fazendo s aproximar-se de 0 por
então bx1 < br e br < bx2 . Em particular, bx1 < bx2 .
valores racionais positivos na expressão (5), temos que
A seguir, discutiremos como a função exponencial varia. E(s) − 1

BM
A identidade fundamental (1) nos permite encontrar uma s > 0 ⇒ E(s) > E(0) = 1 ⇒ > 0.
s
relação muito especial entre a taxa de variação de E e a
própria função E. Agora, fazendo s aproximar-se de 0 por valores racionais
Podemos pensar na taxa de variação da função E em negativos, temos, de forma análoga, E(s)−1 s > 0. De qual-
um ponto t como uma “velocidade” de crescimento de E quer modo, a “velocidade” E 0 (0) é positiva.
em um intervalo pequeno que vai de t a t + s. Pensando Observe agora que E(t) > 0 e, pela igualdade (6),
nas variáveis t e s como sendo “tempo”, a razão E 0 (t) = E(t) · E 0 (0) > 0. Portanto, intuitivamente, é de se
esperar que, tendo “velocidade” positiva em cada instante,
E(t + s) − E(t) a função E seja crescente. De um modo um pouco mais
(4)
s
mede a “velocidade média” de E no intervalo que vai de
t a t + s. Se s é muito pequeno, essa velocidade média se
aproxima da “velocidade instantânea” no instante t. De-
O preciso, se x1 < x2 são números reais, denotemos t = x1 e
s = x2 − x1 , ou seja, x2 = t + s. Então,

E(x2 ) − E(x1 )
x2 − x1
=
E(t + s) − E(t) ∼ 0
s
= E (t) > 0,
notamos essa velocidade instantânea por E 0 (t).
Em particular, o quociente
da
onde o sı́mbolo “≈” significa que a fração E(t+s)−E(t)
s é,
E(s) − 1 E(0 + s) − E(0) aproximadamente igual a2 , E 0 (t). Essa aproximação é tão
= (5) precisa quanto se queira, desde que s = x2 − x1 seja sufi-
s s
cientemente pequeno.
mede, para valores pequenos de s, a velocidade instantânea Uma vez que E 0 (t) > 0, podemos considerar E(t+s)−E(t)
s
de E no instante 0, ou seja, E 0 (0). suficientemente próximo de E 0 (t), para que também seja
Da relação E(t + s) = E(t)E(s) segue que E(t + s) − positivo. Assim, E(xx22)−E(x 1)
> 0 e, como x2 − x1 > 0,
−x1
E(t) = E(t)E(s) − E(t), logo,
al

temos que E(x2 ) − E(x1 ) > 0, ou seja, E(x1 ) < E(x2 ) e


E é uma função crescente.
E(t + s) − E(t) E(s) − 1
= E(t) · .
s s (b) Este caso pode ser tratado do mesmo modo que o caso
anterior, com a diferença que, neste caso, E 0 (t) < 0, para
rt

Fazendo s se aproximar de zero, obtemos a igualdade


todo t, ou seja, E tem uma “velocidade” negativa, o que in-
E 0 (t) = E(t) · E 0 (0). (6) dica que E é decrescente neste caso. Deixamos os detalhes
a cargo do leitor.
Quando estudarmos logaritmos, veremos que existe uma
Po

função exponencial E tal que E 0 (0) = 1. Por esse motivo, Observação 8. Como consequência do Teorema 7, segue
essa função exponencial especı́fica ocupa um lugar de des- que a função exponencial é sempre injetiva, ou seja, se
taque entre as funções exponenciais, sendo chamada função x1 6= x2 são números reais, então x1 < x2 ou x2 < x1 , logo
exponencial natural. E(x1 ) < E(x2 ) ou E(x2 ) < E(x1 ), logo E(x1 ) 6= E(x2 ).
Ainda para tal função exponencial, teremos de (6) que Evidentemente, a função E : R → R não é sobrejetiva,
pois E(x) > 0, para todo x ∈ R. Na aula sobre logaritmos,
E 0 (x) = E(x), ∀ x ∈ R. veremos que a imagem de E é o intervalo (0, +∞).
2 Uma demonstração rigorosa desse fato teria que fazer uso de um
É costume denotar a base dessa função exponencial por e, teorema devido ao matemático franco-italiano J. L. Lagrange (1736–
de sorte que E(1) = e e E(x) = ex , para x ∈ R. 1813), conhecido como Teorema do Valor Médio de Lagrange.

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4 De volta aos exemplos iniciais Um livro de Cálculo que trás muitas aplicações interes-
santes da função exponencial é a referência [1].
Nos exemplos 1 e 2, as funções P e M satisfazem a iden- Entendemos que essa necessidade do uso do Cálculo
tidade fundamental (1). Vamos também supor que essas é algo positivo, pois dá motivação para estudos mais
funções são contı́nuas, o que é plausı́vel pois, em inter- avançados, que não são apenas continuação dos assuntos
valos pequenos de tempo, as mudanças, de população de vistos no Ensino Médio, como também servem para jus-
bactérias no Exemplo 1 e de massa de material radioativo tificar de modo rigoroso certos resultados básicos vistos

EP
no Exemplo 2, são pequenas. no Ensino Médio, como a definição geral do que é uma
Primeiramente, vejamos a função P : [0, +∞) → R. Su- potência bx , com expoente real x.
ponhamos que a população inicial de bactérias seja P0 = 1, Quando estudarmos logaritmos, veremos que uma cami-
ou seja, P (0) = 1. Então, P (t) = bt , onde b > 1 porque nho natural e mais acessı́vel para a construção da função
a função P é crescente. Em geral, se a população inicial exponencial com expoente real é sua definição como a in-
P0 de bactérias não for necessariamente igual a 1, temos versa de uma função logarı́tmica, cuja definição envolve o
P (t) = P0 bt . cálculo de áreas de certas regiões do plano delimitadas por
Em uma aula futura sobre logaritmos, veremos que b = segmentos de reta e por um ramo de hipérbole equilátera.

BM
eB , onde e ∼ = 2, 71828 é o número que aparece em (7) e Essa é a abordagem desenvolvida na referências [2] e [3].
B > 0. Assim, a função P pode ser escrita como Se você preferir, pode seguir o tratamento apresentado
nesta aula até a parte em que os expoentes são racionais.
P (t) = P0 · eBt , (8)
Pode, então, assumir que a função se estende, continua-
onde P0 e B são constantes que podem ser calculadas uma mente, de modo único para expoentes reais, adiando a jus-
vez que se conheça a população inicial P (0) e a velocidade tificativa deste fato para quando estudarmos logaritmos.
inicial P 0 (0) de crescimento da população.
Sugestões de Leitura Complementar
Se a função M : [0, +∞) → R é tal que M (0) = 1,
então M (t) = at , onde 0 < a < 1, pois M é uma função
decrescente. Se a massa inicial é M0 , não necessariamente
igual a 1, então M (t) = M0 at .
Assim como no exemplo anterior, a = e−A , onde e ∼ =
O 1. P. Lax, et. al. Cálculo, Aplicações e Programação, vol. 1,
Rio de Janeiro, Ed. Guanabara Dois, 1976.
2. A. Caminha. Topicos de Matematica Elementar, vol.3,
SBM, Rio de Janeiro, 2012.

2, 71828 é novamente o número que aparece em (7) e A > 0. 3. E. L. Lima. Logaritmos, SBM, Rio de Janeiro, 1991.
da
Dessa forma, a função M pode ser escrita como

M (t) = M0 · e−At , (9)

onde M0 e A são constantes que podem ser calculadas a


partir da massa inicial M (0) de material radioativo e de
sua velocidade inicial de desintegração M 0 (0).

Dicas para o Professor


al

A presente aula pode ser coberta em três ou quatro en-


contros de 50 minutos.
Aqui, temos um exemplo tı́pico de função cujo estudo
rt

rigoroso só é possı́vel com o uso dos métodos do Cálculo


Diferencial e Integral. No caso da função exponencial, te-
mos três alternativas para defini-la (com os recursos do
Cálculo):
Po

i. como solução única da equação diferencial y 0 = ay,


com a constante e y(0) = 1;
P∞ n
ii. como a série de potências n=0 tn! (para a base e);

R x função L : (0, +∞) → R, dada pela


iii. como a inversa da
integral L(x) = 1 1t dt (a função logaritmo natural).
Uma vez que nenhum desses recursos está disponı́vel no
Ensino Médio, tivemos que trilhar um caminho mais longo
e trabalhoso.

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Material Teórico - Módulo de Função Exponencial

Equações Exponenciais

EP
Primeiro Ano - Médio

BM
Autor: Prof. Angelo Papa Neto
Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

3 de novembro de 2018
O
l da
rta
Po
No material da aula Funções exponenciais e suas propri- Em casos como esse, uma ideia que por vezes funciona
edades, Observação 8, vimos que uma função exponencial é é separar as potências de bases distintas. Nesse sentido,
sempre injetiva, ou seja, se, para um número real positivo uma primeira simplificação nos leva a
a, tivermos ax = ay , então x = y.
Este fato nos fornece uma ferramenta para a resolução 1 √ 1 √
√ · 4x = 3x · 3 − · 3x · 3 3.
de equações onde a incógnita aparece no expoente de uma 3 4
potência. Aprender técnicas sobre como resolver tais tipos √
Em seguida, multiplicando ambos os membros por 3, ob-

EP
de equações, ditas exponenciais, será o objetivo principal
deste material. temos
9
4x = 3 · 3x − · 3x .
4
1 Exemplos iniciais Multiplicando ambos os membros por 4, vem que

Chamamos uma equação de exponencial se sua incógnita 4 · 4x = 12 · 3x − 9 · 3x ,


aparece como expoente de alguma potência. Vamos come-

BM
çar o estudo de equações exponenciais com alguns exem- ou seja,
plos bem simples. 4 · 4x = 3 · 3x .

Exemplo 1. Resolva a equação Portanto,


4x 3
=
1 6 3x 4
3x = − .
3 27 e, finalmente,
 x  −1
Solução. Simplificando o segundo membro, obtemos 4 4
= .
3 3
9−6 3 1 O
3x = = = . Isso nos leva a x = −1.
27 27 9
Escrevendo 3x = 3−2 e observando que potências iguais Equações exponenciais há nas quais a incógnita aparece
de mesma base têm expoentes iguais, concluı́mos que x = como expoente de uma potência que também é um ex-
−2. poente, como é o caso do próximo exemplo. Conforme
veremos em sua solução, a ideia é considerar a potência
da
Exemplo 2. Resolva a equação do exponente em si como uma incógnita e, em seguida,
resolver uma segunda equação exponencial para obter a
5x + 5x+2 = 650. incógnita inicial
Solução. Podemos simplificar a equação, escrevendo Exemplo 4. Resolva a equação
5x+2 = 5x · 52 = 5x · 25 e, em seguida, colocando 5x em
evidência: 32 = 81.
x

5x (1 + 25) = 650.
l

Solução. Temos que 32 = 34 e isso implica 2x = 4, ou


x

Dividindo ambos os membros por 26, obtemos 5x = 25,


seja, 2x = 22 e x = 2.
rta

equação que pode ser escrita como 5x = 52 . Logo, x =


2. Ainda em relação ao exemplo anterior, podemos tratar
Nos dois exemplos acima, após algumas simplificações, equações exponenciais da forma
conseguimos reduzir a equação a uma igualdade de potên- cx

cias de mesma base, de sorte que igualar os expoentes nos ab =d


levou à solução do problema. Entretanto, algumas vezes,
(ou outras com mais nı́veis de potenciação) de modo aná-
Po

a simplificação exige um pouco mais de esforço.


logo ao que fizemos acima.
Exemplo 3. Resolva a equação
Exemplo 5. Resolva a equação
− 12 x+ 21 1 3
3 · 22x = 3 − · 3x+ 2 . 2 1
4 2x −7x+8
= .
16
Solução. Uma dificuldade inicial com esta equação é que
2
a incógnita aparece como expoente de potências com bases Solução. Podemos escrever 2x −7x+8 = 2−4 . Igualando
distintas (base 2 e base 3), o que não deixa claro, de inı́cio, os expoentes, obtemos x2 − 7x + 8 = −4, ou seja, x2 −
como proceder para reduzir a equação a uma igualdade de 7x + 12 = 0. Essa equação quadrática tem soluções x = 3
potências de mesma base. e x = 4, que são as soluções da equação dada.

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Uma equação exponencial pode não ter solução, como Então, após 2 minutos, a população de bactérias é
mostram os dois exemplos a seguir. P (2) = 1000 · e2 . Usando a aproximação

Exemplo 6. Encontre, se possı́vel, números reais x tais que e2 ∼


= 2, 71828 · 2, 71828 ∼
= 7, 389,
obtemos P (2) ∼= 1000 · 7, 389 = 7389, ou seja, após
5x + 8 = 1.
dois minutos a população é de, aproximadamente, 7389
Solução. Evidentemente, a equação não tem solução real, bactérias.

EP
pois 5x é positivo para qualquer x real, isto é, 5x > 0, e Exemplo 9 (cf. sugestão de leitura complementar 3. p.97).
isso implica que 5x + 8 > 8, ou seja, 5x + 8 não pode ser A meia-vida de um elemento radioativo é o tempo ne-
igual a 1. cessário para que metade da massa de um corpo formado
Outro modo de ver que essa equação não tem solução por átomos desse elemento se desintegre. O carbono 14,
real é observar que ela é equivalente a 5x = −7. Como 5x indicado pelo sı́mbolo C 14 , é um isótopo radioativo do car-
é positivo e −7 é negativo, esses dois números não podem bono, cuja presença nos seres vivos permanece estável du-
ser iguais. rante toda a vida, por conta da ingestão de novos átomos,

BM
mas começa a diminuir a partir do momento em que o
Exemplo 7. Encontre, se possı́vel, números reais x tais que
ser morre. Esse fato é usado para estimar a idade de
(5x )x+1 = 0, 2. fósseis, ou de qualquer artefato feito de madeira, ossos,
ou outras partes de seres vivos, uma vez que comprovou-
Solução. Sabemos que 0, 2 = 15 = 5−1 . Logo, a equação se experimentalmente que a meia-vida do carbono 14 é de
dada é equivalente a 5x(x+1) = 5−1 . Igualando os expoen- 5570 anos. Assumindo que a solução da equação ex = 2
tes, obtemos x(x + 1) = −1, ou seja, x2 + x + 1 = 0. Mas é aproximadamente 0, 6931, descreva um método que per-
essa equação quadrática tem discriminente ∆ = 12 − 4 = mita estimar a idade de um fóssil cuja massa de C 14 é um
1/100 da massa de C 14 em um ser vivo.
−3 < 0, logo, não tem solução real.

2 Algumas aplicações
O Solução. A solução do Exemplo 2 do material da aula
Funções exponenciais e suas propriedades, vista na seção
4 da mesma, nos diz que a função que dá a massa M (t)
de um elemento radioativo após um tempo t é dada pela
A seguir, veremos que os exemplos 1 e 2 do material da expressão
aula Funções exponenciais e suas propriedades dão origem
da
M (t) = M0 · e−At , (1)
a equações exponenciais na base e. No que se segue, ado-
taremos a aproximação 2, 71828 para o número irracional onde M0 é a massa inicial e A é uma constante a ser de-
e. Essa aproximação tem quatro casas decimais exatas. terminada.
De acordo com os dados do problema, a meia-vida do
Exemplo 8. Uma colônia de bactérias tem, inicialmente, C 14 é 5570 anos, isto é, M (5570) = M20 . Substituindo essa
uma população de 1000 indivı́duos. Após 1 minuto, a po- relação em (1), juntamente com t = 5570, obtemos
pulação cresceu para 2718 indivı́duos. Estime qual é a po-
M0
l

pulação após 2 minutos. = M0 · e−5570A ,


2
rta

Solução. Na seção 4 da aula Funções exponenciais e suas ou seja, 2−1 = e−5570A , que por sua vez equivale a e5570A =
propriedades, vimos que a função que rege o crescimento 2.
populacional de uma colônia de bactérias é dada por O enunciado do problema também nos diz que a solução
aproximada da equação ex = 2 é x = 0, 6931. Assim,
P (t) = P0 · eBt ,
e5570A = 2 ⇒ 5570A ∼
= 0, 6931
onde P0 é a população inicial, B é uma constante positiva 0, 6931
⇒A∼ = = 0, 0001244.
Po

a ser determinada e P (t) é a população no instante t. 5570


Em nosso caso, estamos considerando o tempo t medido M0
em minutos e temos P0 = 1000, de forma que Queremos estimar um valor t tal que M (t) = 100 . Subs-
tituı́ndo em M (t) = M0 · e −At
, com A = 0, 0001244, obte-
P (1) = 2718 ⇒ 1000 · eB·1 = 2718 ⇒ eB = 2, 718 ∼
= e. mos
e0,0001244t = 100.
Uma vez que pretendemos somente estimar P (2) (e não Como e =∼ 2, 71828 < 3, temos que e4 < 34 = 81 < 100.
calcular seu valor exato), podemos assumir que a última Por outro lado, e > 2, 7 implica
igualdade acima é eB = e. Logo, B = 1 e, portanto,  5
5 5 27 315 14348907
P (t) = 1000 · et . e > (2, 7) = = 5 = > 100.
10 10 100000

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Assim, uma primeira estimativa é que 4 < 0, 0001244t < 5, Esta equação tem soluções y = −1 ou y = 4. Como 2x
o que nos fornece 32154 < t < 40192. Mesmo com essa é sempre positivo para expoentes reais, a raiz y = −1 não
estimativa grosseira, já podemos concluir que o fóssil tem fornece solução real da equação exponencial. Por outro
uma idade superior a 30 mil anos. lado, da raiz y = 4 vem que 2x = 4 = 22 , logo, x = 2 é a
única solução real da equação dada.
Observação 10. Um dos dados do Exemplo 9 é que uma
solução aproximada da equação ex = 2 é x = 0, 6931.
Quando estudarmos logaritmos, veremos que o número Exemplo 13. Resolva a equação

EP
0, 6931 é um logaritmo. De qualquer modo, uma equação
3x + 3−x
do tipo ex = 2 não pode ser resolvida usando-se os métodos = 1, 25.
que estamos estudando nesta aula, porque não é possı́vel 3x − 3−x
reduzi-la a uma igualdade de potências de mesma base.
Solução. Se escrevemos y = 3x , então 3−x = 1/y. Além
Ainda em relação ao exemplo anterior, no final da
disso, 1, 25 = 54 . Mudando a variável de x para y na
solução somos forçados a fazer aproximações para estimar
equação inicial, obtemos
a solução da equação e0,0001244t = 100. Novamente, isso se

BM
deve a não podermos reduzir tal equação a uma igualdade y + 1/y 5
entre potências de mesma base. = ,
y − 1/y 4

ou seja,
3 Mais algumas técnicas
y2 + 1 5
2
= .
Nesta seção, veremos mais algumas técnicas para resolver y −1 4
equações exponenciais. A primeira delas é o que chamamos
de mudança de variáveis. Multiplicando em ×, segue que 4y 2 + 4 = 5y 2 − 5, isto
O é, y 2 = 9. Então, y = −3 ou y = 3 e, como 3x = −3
Exemplo 11. Resolva a equação é impossı́vel, resta a igualdade 3x = 3, que nos fornece
x = 1.
32x+1 − 10 · 3x+1 + 33 = 0.

Solução. Podemos escrever a equação dada como 32x · 3 − Exemplo 14 (cf. sugestão de leitura complementar 2). Re-
10 · 3x · 3 + 27 = 0; dividindo por 3, obtemos solva a equação
da
2 1 81
32x − 10 · 3x + 9 = 0. 3x + x2 = x+ 1 .
3 x
Como 32x = (3x )2 , escrevendo 3x = y transformamos a Solução. A mudança de variável a ser feita na equação
equação exponencial em x numa equação quadrática em y: dada é menos evidente: y = x + x1 . Realmente, elevando
essa igualdade ao quadrado, obtemos
y 2 − 10y + 9 = 0.
 2
1 1 1 1
l

2
Esta última equação tem soluções y = 1 ou y = 9. Uma vez y = x+ = x2 + 2x · + 2 = x2 + 2 + 2,
que 3x = y, temos então que 3x = 1 = 30 ou 3x = 9 = 32 , x x x x
rta

de onde concluı́mos que x = 0 ou x = 2 são as soluções 1


reais da equação dada. de forma que x2 + x2 = y 2 − 2.
2
Substituindo na equação original, obtemos 3y −2 = 381y .
Exemplo 12. Resolva a equação 2 2
Assim, 3y −2 · 3y = 34 , ou seja, 3y +y−2 = 34 . Igualando
22x−1 − 2x−1 − 2 = 2x . os expoentes, obtemos y 2 + y − 2 = 4, que é equivalente
a y 2 + y − 6 = 0. Essa equação tem soluções y = 2 ou
Po

Solução. Assim como no Exemplo 11, a ideia aqui é fa- y = −3.


zer uma mudança de variável para transformar a equação Para y = 2, temos x + x1 = 2, que fornece a equação
exponencial em uma equação quadrática. quadrática x2 − 2x + 1 = 0, equivalente a (x − 1)2 = 0, que
A equação dada pode ser reescrita como tem solução x = 1.
Para y = −3, temos x + x1 = −3, que fornece a equação
(2x )2 · 2−1 − 2x · 2−1 − 2 = 2x . quadrática x2 + 3x + 1 = 0, cujo discriminante é ∆ = 32√−
4 · 1 · 1 = 5. Logo, as raı́zes dessa equação são x = −3−2 5
Escrevendo y = 2x , obtemos a equação quadrática y 2 ·2−1 − √
y·2−1 −2 = y. Multiplicando por 2, obtemos y 2 −y−4 = 2y, ou x = −3+2 5 .
ou seja, Portanto, os √números √
reais que satisfazem a equação
y 2 − 3y − 4 = 0. dada são 1, −3−2
5 −3+ 5
, 2 .

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4 Dois exemplos mais difı́ceis ou seja, existe uma solução real da equação 2x = x2 entre
−1 e 0.
Nesta seção, estudaremos dois exemplos de equações ex- Quando estudarmos o gráfico da função exponenecial,
ponenciais que não podem ser resolvidos usando-se as poderemos justificar porque 2, 4 e a solução negativa são
técnicas desenvolvidas nas seções anteriores. as únicas soluções da equação 2x = x2 .
Exemplo 15. Encontre um valor aproximado para o
número real x que satisfaz a equação

EP
10x = 23.
Dicas para o Professor
Solução. Não é possı́vel reduzir esta equação à igualdade
entre duas potências de mesma base. Por outro lado, pode- A presente aula pode ser coberta em três ou quatro en-
mos estimar o valor de x lembrando que a função exponen- contros de 50 minutos.
cial de base 10 é crescente. Assim, como 10 < 23 < 100, Aqui, exibimos apenas alguns exemplos de equações ex-
temos que 101 < 10x < 102 , logo 1 < x < 2. Essa é uma ponenciais elementares. Uma quantidade substancial de

BM
primeira estimativa para a raiz da equação. exercı́cios envolvendo essas equações pode ser encontrada
Para melhorarmos essa estimativa, consideremos o ponto na sugestão de leitura complementar 2.
médio 3/2 = 1+2 2 do intervalo [1, 2]. Temos: 103/2 = Nos exemplos 9 e 15, temos equações exponenciais que
√ √
10√10 e, como 9 < 10 < 16, 3 < 10 < 4 e 30 < não podem ser reduzidas a uma igualdade entre potências
10 10 < 40. Portanto, 10x = 23 < 30 < 103/2 e isso de mesma base. Como ainda não estudamos logaritmos, ti-
implica que x < 3/2. Com isso, obtemos uma nova esti- vemos de encontrar soluções aproximadas dessas equações.
mativa, 1 < x < 3/2. O método que usamos para resolver as equações daqueles
Consideremos o ponto médio 5/4 = 1+3/2 2 do intervalo exemplos, apesar de suas limitações, é esclarecedor, pois
5/4

4 nos leva a encarar o problema de frente: enquanto escre-
[1, 3/2]. Temos: √ 10 = 10 10.√ Como 1 < 10 < 16, O
temos que 1 < √ 4
10 < 2 e 10 < 10 4 10 < 20. Isso significa ver apenas x = ln 2 ou x = log10 23 não esclarece que
que 105/4 = 10 4 10 < 20 < 23 = 10x, logo 5/4 < x < 3/2 números são esses, o método que apresentamos aqui efe-
é nossa terceira estimativa para a raiz dessa equação. tivamente calcula aproximações das soluções das equações
A continuação desse processo nos levaria a aproximações envolvidas, portanto, valores aproximados dos logaritmos
cada vez melhores da raiz da equação. Nos contentaremos acima. Isso nos leva à conexão fundamental entre exponen-
ciais e logaritmos: calcular um logaritmo é resolver uma
da
com a estimativa dada pelas desigualdades 5/4 < x < 3/2.
O ponto médio desse intervalo é uma aproximação da equação exponencial, e calcular valores aproximados de um
raiz: x ∼ 5/4+3/2
= 11 logaritmo é obter soluções aproximadas de uma equação
= 2 8 = 1, 375. Comparando com a apro-
ximação com três casas decimais exatas, x ∼= 1, 361, vemos exponencial equivalente.
que o valor que obtivemos é razoavelmente adequado. Outras aplicações que envolvem equações exponenciais
podem ser encontradas na sugestão de leitura complemen-
Exemplo 16. Mostre que a equação tar 3, capı́tulo 14.
2x = x2
l

Sugestões de Leitura Complementar


rta

tem pelo menos três soluções reais. 1. D. L. de Menezes. Abecedário da Álgebra, vol. 2, Ciclo
Solução. Por inspeção, vemos que x = 2 e x = 4 são Colegial. Rio de Janeiro, Departamento de Imprensa Na-
soluções da equação dada. cional, 1956.
Para ver que há pelo menos uma solução a mais, note que 2. G. Iezzi, O. Dolce, C. Murakami. Fundamentos de Ma-
a função f : R → R, dada por f (x) = 2x − x2 é contı́nua, temática Elementar, vol. 2, quarta edição. São Paulo, Ed.
isto é, pequenas variações de x provocam pequenas va- Atual, 1985.
riações de f (x) (veja uma breve discussão sobre funções 3. E. L. Lima. Logaritmos. SBM, Rio de Janeiro, 1991.
Po

contı́nuas na aula Funções exponenciais e suas proprieda-


des). Um número real r é solução da equação 2x = x2 se,
e somente se, f (r) = 0.
Como f (−1) = 2−1 − (−1)2 = 12 − 1 = − 12 < 0 e f (0) =
2 − 02 = 1 − 0 = 1 > 0, podemos concluir que a função
0

f muda de sinal no intervalo [−1, 0]. Como f é contı́nua,


existe1 um número real r entre −1 e 0, tal que f (r) = 0,
1 Aqui, estamos aplicando aqui o Teorema do Valor Intermediário;

veja a Observação 3 da aula Funções exponenciais e suas proprieda-


des.

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Material Teórico - Módulo de Função Exponencial

Gráfico da Função Exponencial

EP
Primeiro Ano - Médio

BM
Autor: Prof. Angelo Papa Neto
Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

02 de dezembro de 2018
O
da
al
rt
Po
1 Funções convexas abscissa a+b2 está situado abaixo do ponto da reta s com a
mesma abscissa.
Uma função f : R → R é chamada convexa1 se, para Uma vez que isso ocorre para qualquer par de números
todos a, b ∈ R, com a < b, tem-se reais a < b, concluı́mos que uma função é convexa se, e
  somente se, a porção de seu gráfico em um intervalo qual-
a+b f (a) + f (b) quer [a, b] está sempre situada abaixo da secante ao gráfico
f < . (1)
2 2 passando pelos pontos (a, f (a)), (b, f (b)). Isso significa que

EP
A interpretação geométrica da desigualdade (1) é dada
O gráfico de uma função convexa tem a concavidade
na Figura 1 a seguir.
voltada para cima.

Na Figura 2, podemos ver duas curvas. A curva da


direita tem concavidade voltada para baixo, enquanto a
curva da esquerda tem concavidade ora voltada para baixo,
ora voltada para cima. Nenhuma dessas curvas pode ser

BM
gráfico de uma função convexa, pois, para sê-lo, deveriam
ter suas concavidades sempre voltadas para cima.

Figura 1: gráfico de uma função convexa.


O
da
Nela, a reta s, a secante ao gráfico passando pelos pontos
(a, f (a)) e (b, f (b)), tem coeficiente angular f (b)−f
b−a
(a)
, logo, Figura 2: gráficos de duas funções não convexas.
equação
f (b) − f (a)
y − f (a) = · (x − a).
b−a
O exemplo a seguir mostra como podemos, na prática,
Se x = a+b2 é o ponto médio do intervalo [a, b], então o
al

verificar que uma função dada é, de fato, convexa. (Para


ponto (x, y) sobre a reta s tem ordenada
outros exemplos desse tipo, referimos o leitor a [1].)
 
f (b) − f (a) a+b Exemplo 1. A função f : R → R, dada por f (x) = x2 , é
y = f (a) + · −a
b−a 2 convexa.
rt

f (b) − f (a) b − a
= f (a) + · Solução. Sejam a < b números reais. A desigualdade (1)
b−a 2
é equivalente, para f (x) = x2 , a
f (b) − f (a)
= f (a) +
2 2
Po

a2 + b2

a+b
f (a) + f (b) < .
= . 2 2
2
Por outro lado, o ponto do gráfico de  f com abscissa Expandindo o quadrado do primeiro membro, observamos
x = a+b tem ordenada f (x) = f a+b . Assim, a de- facilmente que a desigualdade acima é equivalente a 2ab <
2 2
sigualdade (1) nos diz que o ponto do gráfico de f com a2 + b2 ou, ainda, a (a − b)2 > 0. Esta última desigualdade
é sempre verdadeira para a 6= b.
1 Por vezes (veja [1], por exemplo), uma função f : R → R satis-

fazendo (1) é dita estritamente convexa.


 Em
 tais casos, f será dita Mostraremos, no Teorema 3 a seguir, que funções expo-
a+b f (a)+f (b)
convexa se, em vez de (1), tivermos f 2
≤ 2
, para todos nenciais são convexas. Para tanto, precisaremos da desi-
a, b ∈ R. Neste material, seguiremos a definição dada em [1]. gualdade constante do seguinte

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Lema 2. Se a e b são números reais positivos, então (2) Como f cresce? Isso depende da base B. No Teorema
√ 7 da aula Função Exponencial e Suas Propriedades,
a+b mostramos que, se 0 < B < 1, então f é decrescente,
ab ≤ . (2)
2 e, se B > 1, então f é crescente.
Além disso, a igualdade ocorre se, e somente se, a = b.
(3) Qual é o comportamento de f quando x fica muito
Prova. Como a > grande, ou quando x é negativo com valor absoluto
√ 0 e√b > 0, podemos extrair (em R) as
muito grande? Veremos que isso também depende do

EP
raı́zes quadradas a e b. Logo,
√ valor de B.

( a − b)2 ≥ 0,
Uma vez que a pergunta (1) já foi respondida na pri-
pois o quadrado de qualquer número real é não negativo. meira seção desta aula e a pergunta (2) foi respondida na
Desenvolvendo esse quadrado, obtemos a desigualdade a− primeira aula deste módulo, passemos à pergunta (3).
√ √ √
2 a b + b ≥ 0 ou, o que é o mesmo, a + b ≥ 2 ab. Essa
última desigualdade é claramente equivalente a (2). 2.1 Caso B > 1

BM
A igualdade
√ em√(2) ocorre se, e somente se, também Suponhamos, de inı́cio, que B > 1. Multiplicando essa
ocorrer em ( a − b)2 ≥ 0. Mas,
igualdade repetidas vezes por B, vemos que
√ √ √ √ √ √
( a − b)2 = 0 ⇔ a − b = 0 ⇔ a = b ⇔ a = b. 1 < B < B 2 < B 3 < · · · < B n < B n+1 < · · · (3)

Além disso, a diferença entre dois termos consecutivos


Podemos finalmente enunciar e provar o resultado co- dessa sequência crescente é B n+1 −B n = B n (B −1), quan-
mentado anteriormente. tidade que aumenta conforme n cresce.
Disso podemos concluir que a sequência (3) não é limi-
Teorema 3. A função f : R → R, dada por

f (x) = B x

onde B > 0 e B 6= 1, é convexa.


O tada, ou seja, dado M > 0 real, existe um natural suficien-
temente grande n (que depende de M ), tal que B n > M .
Então, como f (x) = B x é crescente (porque B > 1) temos
que
x > n ⇒ B x > B n ⇒ B x > M.
Prova. Se x < y são números reais quaisquer, então B x Em palavras, isso significa que podemos tornar B x ar-
da
e B y são números reais positivos e distintos. Aplicando o bitrariamente grande, desde que x seja tomado suficien-
resultado do Lema 2, com B x no lugar de a e B y no lugar temente grande. Costumamos indicar esse fato simbolica-
de b, obtemos: mente escrevendo
√ Bx + By
BxBy < . lim B x = +∞. (4)
2 x→+∞

(Observe que a desigualdade acima é estrita, uma vez que (Lê-se: o limite de B x quando x tende a mais infinito é
al

B x e B y são números distintos.) De outra forma, temos mais infinito.)


Vamos continuar a considerar B > 1. Se x < 0, então
√ √ Bx + By
B
x+y
2 = B x+y = BxBy < . −x > 0 e B x = B1−x . Se ε > 0 é um número real pequeno
2 (positivo mas próximo de zero), então M = 1ε é um número
rt

real positivo e grande. Mais ainda, quanto menor for ε,


Mas isso é o mesmo que f x+y < f (x)+f (y)

2 2 , que por maior será M .
sua vez é precisamente a desigualdade que desejávamos Pelo que vimos no parágrafo anterior, existe um natural
obter. n tal que B n > M . Logo,
Po

1 1
2 Gráfico da função exponencial x < −n ⇒ −x > n ⇒ B x = < = ε.
B −x M
Para esboçarmos o gráfico da função exponencial f : R → Isso significa que, para B > 1, quando x se distancia muito
R, dada por f (x) = B x , onde a base B é um número da origem à esquerda, B x se aproxima mais e mais de zero.
real positivo e diferente de 1, precisamos de algumas in- Indicamos esse fato escrevendo
formações:
lim B x = 0. (5)
x→−∞
(1) Como esse gráfico se curva? O Teorema 3 responde
a essa pergunta pois, sendo f convexa, a concavidade (Lê-se: o limite de B x quando x tende a menos infinito é
de seu gráfico é sempre voltada para cima. igual a zero.)

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Com as informações reunidas até aqui, o gráfico de f :
R → R dada por f (x) = B x , com B > 1, tem o aspecto da
Figura 3 abaixo.

EP
BM
Figura 3: aspecto do gráfico de uma função exponencial
com base B > 1.

Na Figura 3, o gráfico da função dada por f (x) = B x


está totalmente acima do eixo x porque B x > 0, para
qualquer x real, como já vimos na Observação 7 da aula
Função Exponencial e Propriedades. A concavidade do
gráfico está voltada para cima, como esperado, já que a
função exponencial é convexa, conforme demonstramos na
O
seção 1. A função é crescente, o que pode ser visualizado
da
no gráfico como uma “subida” da esquerda para a direita,
ou seja, abscissas maiores correspondem a pontos sobre o
gráfico com ordenadas maiores.
Como B x , com B > 1, tende a +∞ se x tende a +∞, o
gráfico não é limitado superiormente, embora a discussão
que fizemos anteriormente não seja suficiente para decidir- Figura 4: olhando o gráfico mais de perto.
mos o quão rapidamente B x cresce, à medida em que x
cresce.
al

É possı́vel provar que, para qualquer n natural e qual-


quer M > 0 real, tem-se B x > M xn para todo x sufi- Considere a função g : R → R, dada por g(x) = B x ,
cientemente grande. Isso significa que B x cresce “mais onde 0 < B < 1. Seja f : R → R a função dada por
rapidamente” que qualquer função polinomial.
rt

f (x) = g(−x).
Ainda em relação à Figura 3, o gráfico de f aparen- Um ponto (x, y) pertence ao gráfico de f se, e somente se,
temente encontra o eixo x à esquerda. Na realidade, de y = f (x). Mas, como f (x) = g(−x), temos que y = f (x)
acordo com a discussão acima, resumida no limite (5), o se, e somente se, y = g(−x). Isso é equivalente a dizer que
gráfico da função dada por f (x) = B x se aproxima indefi- o ponto (−x, y) pertence ao gráfico de g. Assim, podemos
Po

nidamente do eixo x, sem nunca tocá-lo. afirmar o seguinte:


Realmente, se olharmos o gráfico dessa função mais de
perto (Figura 4), veremos que ele de fato não toca o eixo O ponto (x, y) pertence ao gráfico de f se, e somente
x, por mais que se aproxime dele. se, o ponto (−x, y) pertence ao gráfico de g.

2.2 Caso 0 < B < 1 De outra forma, a afirmação acima significa que os
gráficos de f e g podem ser obtidos um a partir do ou-
Tudo o que fizemos para o caso B > 1 poderia ser repetido tro por uma reflexão em torno do eixo y.
no caso 0 < B < 1. No entanto, há um caminho mais A tı́tulo de ilustração preliminar, consideremos o se-
simples, usando a ideia de reflexão em torno do eixo y. guinte

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Exemplo 4. As funções f e g, dadas por f (x) = x2 +3x+1 Voltemos, agora, à análise do gráfico da função exponen-
e g(x) = x2 −3x+1 são tais que f (x) = g(−x). Os gráficos cial g : R → R dada por g(x) = B x , com 0 < B < 1. Seja
de f e g aparecem na Figura 5 em vermelho e verde, respec- f : R → R dada por f (x) = g(−x). Temos:
tivamente. Conforme antecipado pela discussão anterior,  x
eles podem ser obtidos um a partir do outro por uma re- −x 1 1
f (x) = g(−x) = B = x = = Ax .
flexão em torno do eixo y. B B

Como A = B1 > 1, o que discutimos na subseção 2.1 vale

EP
para f , ou seja, o gráfico de f tem o aspecto mostrado na
Figura 3.
Pela discussão anterior, sobre simetria de gráficos em
relação ao eixo y, a identidade f (x) = g(−x) implica que
o gráfico de g é obtido a partir do gráfico de f por uma
reflexão em torno do eixo y (veja a próxima figura):

BM
Figura 5: simetria, em relação ao eixo y, dos gráficos de
f (x) = x2 + 3x + 1 e g(x) = x2 − 3x + 1.

Ainda com respeito à simetria de gráficos em relação


ao eixo y, dizemos que uma função f : R → R é par se
O Figura 7: o gráfico de g (linha cheia) é o resultado da
f (−x) = f (x). Neste caso, a reflexão do gráfico de f em reflexão do gráfico de f (linha tracejada) em torno do eixo
torno do eixo y coincide com o próprio gráfico, ou seja, o y.
da
gráfico de uma função par é simétrico em relação ao eixo
y. Vejamos um
Exemplo 5. A função f : R → R, dada por f (x) = x4 − Como consequência da discussão acima, temos que, se
4x2 + 1, é par, uma vez que x4 = (−x)4 e x2 = (−x)2 . 0 < B < 1, então:
Portanto, seu gráfico, esboçado na Figura 6, é simétrico
em relação ao eixo y. • O gráfico de g está sempre acima do eixo x, pois
g(x) > 0, para todo x real.
al

• A função g, dada por g(x) = B x , é descrescente


(como, aliás, já tı́nhamos concluı́do na aula Função
Exponencial e Propriedades); o gráfico de g “desce”,
rt

à medida em que x avança para a direita.


• A concavidade do gráfico de g é voltada para cima.
Realmente, os argumentos usados na primeira seção
desta aula independem da base ser maior ou menor
Po

do que 1.
• lim g(x) = 0. Isso se dá porque g(x) = f (−x) =
x→+∞
1
f (x) ; assim,
quando f (x) fica muito grande, g(x) se
aproxima de zero.
1
• lim g(x) = +∞. Isso ocorre porque g(x) = f (x) .
Figura 6: o gráfico de f (x) = x4 − 4x2 + 1 é simétrico em x→−∞
relação ao eixo y. Quando x se afasta da origem para a esquerda, f (x)
1
se aproxima de zero e é positiva, logo f (x) fica cada
vez maior.

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Dicas para o Professor
A presente aula pode ser coberta em três ou quatro en-
contros de 50 minutos.
Uma descrição precisa do gráfico da função exponencial
pode ser feita usando-se recursos do Cálculo Diferencial.
Como já examinamos o crescimento de uma função expo-

EP
nencial na primeira aula deste módulo, conseguimos anali-
sar seu crescimento sem precisar recorrer à noção de deri-
vada. Na primeira seção desta aula, introduzimos a noção
de função convexa e demonstramos que a função exponen-
cial é convexa. Com isso, podemos estudar a concavidade
do seu gráfico sem precisar recorrer à noção de derivada de
segunda ordem.
Ao dicutirmos o comportamento da função exponencial

BM
quando x se distancia da origem, introduzimos as notações
+∞, −∞ e lim. O intuito aqui não é abordar de maneira
rigorosa a noção de limite no infinito, mas simplesmente
estabelecer uma notação que é concisa, eficaz e ampla-
mente utilizada. Os estudantes devem compreender que,
por exemplo, a notação limx→−∞ B x = 0 indica que há
uma tendência a B x se aproximar de zero à medida em que
x se afasta da origem à esquerda, ou, de modo mais pre-
ciso, que B x pode se tornar tão pequeno quanto se queira, O
bastando para isso considerar x suficientemente afastado
da origem à esquerda.
Quando 0 < B < 1, a obtenção do gráfico de uma função
exponencial com base B por reflexão, em torno do eixo y,
do gráfico da função exponencial de base B1 > 1, é uma
boa ilustração da noção de reflexão no plano, e também
da
abre espaço para o estudo das relações entre isometrias
geométricas e algébricas, como no caso das funções pares.

Sugestões de Leitura Complementar


1. A. Caminha, Topicos de Matematica Elementar, vol.
al

3, SBM, Rio de Janeiro, 2013.

2. G. Iezzi, O. Dolce, C. Murakami, Fundamentos de Ma-


temática Elementar, vol. 2, quarta edição, São Paulo,
Ed. Atual, 1985.
rt

3. E.L.Lima, Logaritmos, SBM, Rio de Janeiro, 1991.


Po

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Material Teórico - Módulo de Função Exponencial

Inequações Exponenciais

EP
Primeiro Ano - Médio

BM
Autor: Prof. Angelo Papa Neto
Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

O
da
al
rt
Po

1 Generalidades sobre inequações Por fim, para que a expressão x−1
3
x −x
seja negativa ou
zero, devemos ter x − 1 < 0, pois o numerador é sempre
Recordemos a relação de ordem usual em R: para a, b ∈ R, positivo. Assim, o conjunto solução da inequação dada
tem-se a ≤ b se, e somente se b − a é positivo ou zero. é a interseção de [−1, 0] ∪ (1, +∞) com (−∞, 1), logo, o
Observe que, para x ∈ R, com x 6= 0, temos que x é conjunto solução é S = [−1, 0].
positivo ou −x é positivo. Assim, se a, b ∈ R são distintos
e x = b−a, então x positivo implica que a ≤ b e −x = a−b Em alguns casos, inequações surgem em problemas que

EP
positivo implica b ≤ a. envolvem a existência de soluções de certas equações.
A relação de ordem entre números reais tem as seguintes
propriedades: Exemplo 2. Estabeleça uma condição necessária para que
a equação 2x + x2 = 7x − 12 tenha solução real.
(I) Se a, b, c ∈ R e a ≤ b, então a + c ≤ b + c.
Solução. A equação dada é equivalente a
(II) Se a, b, c ∈ R, a ≤ b e 0 ≤ c, então ac ≤ bc.
2x = −x2 + 7x − 12.
(III) Se a ∈ R, então 0 ≤ a2 .

BM
Foi mostrado na aula Função exponencial e propriedades
Notação: se a ≤ b e a 6= b, escrevemos a < b. Também que 2x > 0 para todo x real. Assim, se a equação tiver
escrevemos b ≥ a para indicar a ≤ b e b > a para indicar alguma solução real x, essa solução deve ser tal que a ex-
a < b. pressão −x2 + 7x − 12 é positiva. Logo, temos de começar
resolvendo a inequação −x2 + 7x − 12 > 0.
Seja D um subconjunto não vazio de R e sejam f : D → Como o coeficiente do termo quadrático é negativo, o
R e g : D → R funções com o mesmo domı́nio D. Supo- gráfico da função dada por f (x) = −x2 + 7x − 12 é uma
nhamos que deseja-se encontrar todos os elementos x ∈ D parábola com a concavidade voltada para baixo. Logo,
tais que f (x) é positivo se x está situado entre as raı́zes de f , ou
f (x) ≤ g(x). (1)
Neste caso, dizemos que (1) é uma inequação. O conjunto

S = {x ∈ D | f (x) ≤ g(x)}
O seja, se 3 < x < 4. Assim, uma condição necessária para
que a equação dada tenha solução é que x pertença ao
intervalo aberto (3, 4).
Embora seja uma condição necessária, o fato de x per-
tencer ao intervalo aberto (3, 4) não garante que uma
é chamado conjunto solução da inequação (1). solução da equação dada efetivamente exista. De outra
da
Escrevendo h(x) = g(x) − f (x), vemos facilmente que a forma, a condição 3 < x < 4 não é suficiente para que a
inequação (1) é equivalente à inequação equação tenha solução. Isso pode ser verificado notando-
se que o valor mı́nimo da função (crescente) g(x) = 2x ,
h(x) ≥ 0. (2)
no intevalo [3, 4] é g(3) = 8, enquanto o valor máximo de
Logo, toda inequação pode ser escrita na forma (2). Neste f (x) = −x2 + 7x − 12 é 1/4. Assim, os gráficos de f e g
caso, o conjunto solução pode ser escrito como (mostrados, na Figura 1, respectivamente em vermelho e
verde) não têm pontos em comum, o que é equivalente a
al

S = {x ∈ D | h(x) ≥ 0}. dizer que a equação dada não tem soluções reais.

Exemplo 1. Encontre o conjunto solução da inequação



x3 − x
rt

≤ 0.
x−1
Solução. Neste exemplo, a função h é dada por 2 Inequações exponenciais

Po

x3 − x Se uma função h é exponencial, dizemos que a inequação


h(x) = . (2) é uma inequação exponencial.
x−1
Algumas inequações exponenciais podem ser transfor-
O primeiro passo é identificar o domı́nio de h. Para que madas em inequações envolvendo apenas os expoentes.
h(x) seja um número real, o denominador da fração não De modo mais preciso, se a > 1, então a inequação
pode ser zero, logo, x 6= 1. Também, a expressão sob a raiz
quadrada deve ser não negativa, logo, x3 − x ≥ 0, ou seja, af (x) > ag(x) (3)
x(x − 1)(x + 1) ≥ 0; não é difı́cil verificar que intervalos
onde a expressão x(x − 1)(x + 1) é positiva ou zero são equivale à inequação f (x) > g(x); isto porque, quando
[−1, 0] e [1, +∞). Como x 6= 1, o domı́nio de h é a união a > 1, a função u 7→ au é crescente, de sorte que a única
[−1, 0] ∪ (1, +∞). maneira de termos af (x) > ag(x) é termos f (x) > g(x).

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que, por sua vez, é equivalente a 3 ≤ x. Portanto, o con-
junto solução da inequação dada é S = {x ∈ R | x ≥
3}.
Exemplo 5. Resolva a inequação

4x+2 · 125x−2 ≤ 5x+2 · 64x−2 .

EP
Solução. Neste caso, aparecem na inequação dada
potências com bases diferentes. Assim, nossa estratégia
inicial será simplificar a expressão dada para obter uma
inequação envolvendo potências de mesma base. Para
tanto, começamos dividindo ambos os membros da ine-
quação por 125x−2 · 5x+2 (que é um número positivo) para
obter
4x+2 64x−2

BM
≤ .
5x+2 125x−2
Como os expoentes dos numeradores e denominadores das
duas frações são os mesmos, podemos escrever a última
Figura 1: os gráficos de f e g não se encontram. inequação acima como
 x+2  x−2
4 64
No caso em que 0 < a < 1, a inequação (3) equivale a ≤ .
f (x) < g(x), ou seja, a desigualdade entre os expoentes é 5 125
“invertida” em relação à desigualdade entre as potências.
Aqui, o que ocorre é que, quando 0 < a < 1, a função
u 7→ au é decrescente, de sorte que a única maneira de
termos af (x) > ag(x) é termos f (x) < g(x).
Evidentemente, se a desigualdade > for substituı́da por
O Uma vez que 125

base:
64
3
= 45 , podemos, enfim, escrever a
inequação de forma a envolver apenas potências de mesma
 x+2   x−2
4

4 3
,
≥, < ou ≤, o procedimento é similar, permanecendo a 5 5
mesma desigualdade entre os expoentes, se a > 1, e apa- que é equivalente a
da
recendo a desigualdade invertida entre os expoentes, se  x+2  3(x−2)
0 < a < 1. 4 4
≤ .
A seguir, vamos discutir alguns exemplos para ilustrar 5 5
essas ideias.
Como 0 < 4/5 < 1, a desigualdade acima é equivalente a
Exemplo 3. Encontre o conjunto solução da inequação
34x−1 < 1. x + 2 ≥ 3(x − 2),
al

Solução. A inequação dada pode ser reescrita como ou seja,


34x−1 < 30 . Como 3 > 1, nossa discussão anterior ga- x + 2 ≥ 3x − 6.
rante que a inequação 34x−1 < 30 equivale a 4x − 1 > 0 Resolvendo essa última inequação, encontramos x ≤ 4, de
e, consequentemente, a x > 1/4. Portanto, o conjunto
rt

forma que o conjunto solução da inequação dada é S =


solução da inequação dada é S = {x ∈ R | x > 1/4}. {x ∈ R | x ≤ 4}.
Exemplo 4. Encontre o conjunto solução da inequação Em alguns casos, a inequação pode ser resolvida usando-
(0, 01)x+1 ≥ (0, 0001)x−1 . se uma mudança de variável e uma inequação auxiliar,
Po

como no exemplo a seguir.


Solução. Note que 0, 0001 = (0, 01)2 . Assim, a inequação
x−1 Exemplo 6. Resolva a seguinte inequação:
dada pode ser reescrita como (0, 01)x+1 ≥ (0, 01)2
ou, ainda, como
25x − 6 · 5x + 5 < 0.
x+1 2x−2
(0, 01) ≥ (0, 01) .
Solução. Observando que 25x = (52 )x = 52x = (5x )2 ,
Uma vez que a base a = 0, 01 é um número real situado percebemos que a mudança de variável y = 5x fornece
entre 0 e 1, a última inequação acima é equivalente à ine- 25x = y 2 e, portanto, transforma a inequação dada em
quação
x + 1 ≤ 2x − 2, y 2 − 6y + 5 < 0.

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O estudo de funções quadráticas garante que a expressão Exemplo 8. Resolva a inequação
y 2 − 6y + 5 se anula para y = 1 ou y = 5, e é negativa entre 2
essas duas raı́zes. Então, para que y 2 −6y+5 seja negativo, 2x +1
> 3x .
devemos ter 1 < y < 5, ou seja, 1 < 5x < 5. Por sua vez,
essas últimas inequações são equivalentes a 50 < 5x < 51 Solução. Como os dois membros da inequação não têm
e, como 5 > 1, a 0 < x < 1. Portanto, o conjunto solução a mesma base, não podemos usar as técnicas anteriores.
da inequação dada é S = {x ∈ R | 0 < x < 1}. Entretanto, como a imagem da função f (x) = 2x é o con-
junto dos reais positivos, existe um número real k tal que

EP
Em alguns casos, a mudança de variável na inequação é 2k = 3. Além disso, como 2 < 3 < 22 , podemos escrever
um pouco mais sofisticada. Por vezes, é necessário que se 21 < 2k < 22 , o que garante que 1 < k < 2.
faça mais do que uma mudança de variável na inequação. Substituindo 3 por 2k na inequação dada, obtemos a
inequação equivalente
Exemplo 7. Resolva a inequação
2 x
22x+1 + 2−2x+1 > 9(2x + 2−x ) − 14. 2x +1 > 2k ,

BM
2
Solução. Denotando y = 2x + 2−x , temos que a qual é sucessivamente equivalente a 2x +1 > 2kx e x2 +
1 > kx. Assim, a fim de resolver a inequação dada, temos
y 2 = (2x + 2−x )2 de resolver a inequação equivalente
= 22x + 2 · 2x · 2−x + 2−2x
x2 − kx + 1 > 0,
= 22x + 2−2x + 2.
Logo, onde 1 < k < 2 é tal que 2k = 3.
Como k < 2, o discriminante a função quadrática x2 −
22x+1 + 2−2x+1 = 2(22x + 2−2x ) = 2(y 2 − 2). kx + 1 é

Voltando à inequação dada, percebemos agora que ela


pode ser reescrita, na variável y, como

2(y 2 − 2) > 9y − 14,


O ∆ = k 2 − 4 < 0.
Também, uma vez que o coeficiente de x2 é positivo, a ne-
gatividade do discriminante significa que x2 − kx + 1 > 0,
para todo x ∈ R. Portanto, o conjunto solução da ine-
quação dada é S = R, isto é, a inequação é válida para
ou seja, todo x real.
da
2y 2 − 9y + 10 > 0.
O Exemplo 8 é uma inequação exponencial do tipo
Uma vez que as raı́zes de 2y 2 − 9y + 10 são 2 e
5/2, sabemos que a expressão 2y 2 − 9y + 5 é positiva Af (x) > B g(x) , (4)
se y < 2 ou y > 5/2. Analisemos essas duas possibilidades:
onde A e B são números reais positivos distintos, diferentes
i. Se y < 2, então 2x + 2−x < 2 ou seja, 2x + 21x − 2 < 0; de 1, e f e g são funções reais de variável real. A desigual-
esta última inequação é equivalente a 22x + 1 − 2 · 2x < 0. dade “>” pode ser substituı́da, em (4), por “<”, “≤” ou
al

Fazendo a substituição z = 2x , obtemos a inequação “≥”.


z 2 − 2z + 1 < 0, que é equivalente a (z − 1)2 < 0. Mas isso Em geral, para resolvermos uma inequação exponencial
não pode ocorrer, porque (z − 1)2 ≥ 0 para todo z real. como (4) com as ferramentas de que dispomos no momento,
Portanto, neste caso, não há solução real. devemos repetir o procedimento adotado no Exemplo 8:
rt

como a imagem da função y = Ax é o conjunto dos reais


ii. Se y > 5/2, então 2x + 2−x > 5/2. Fazendo novamente positivos, existe um número real k tal que Ak = B. Logo,
z = 2x > 0, obtemos z + z1 > 52 ou, ainda, 2z 2 − 5z + 2 > 0.
g(x)
As raı́zes de 2z 2 − 5z + 2 são 2 e 1/2; portanto, para que Af (x) > B g(x) ⇔ Af (x) > Ak ⇔ Af (x) > Akg(x) .
Po

2z 2 −5z+2 seja positivo, devemos ter z < 1/2 ou z > 2, isto


é, 2x < 2−1 ou 2x > 21 . Portanto, x < −1 ou x > 1. Se A > 1, esta última inequação equivale a f (x) > kg(x);
se, por outro lado, 0 < A < 1, a desigualdade entre os
Até aqui, todas as inequações apresentadas puderam ser expoentes é invertida, de sorte que a inequação equivalente
reduzidas à comparação entre potências de mesma base. é f (x) < kg(x).
No exemplo a seguir, examinamos uma inequação tal que O próximo exemplo colocar novamente em ação a dis-
as potências envolvidas não têm uma mesma base. Vere- cussão geral acima.
mos que também é possı́vel resolver esse tipo de inequação
lançando mão de um artifı́cio novo, que exploraremos de Exemplo 9. Encontre o menor valor inteiro de x para o
maneira mais sistemática em aulas posteriores, quando es- qual
tudarmos logaritmos. 3x+1 ≤ 5x−1 .

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Solução. Assim como no Exemplo 8, podemos escrever O Exemplo 2 pode ser utilizado para ilustrar a diferença
3k = 5, onde k é um número real; além disso, como 3 < entre condições necessária e condição suficiente, a qual é
5 < 9, temos 31 < 3k < 32 , logo, 1 < k < 2. objeto de confusão frequente entre os alunos.
A inequação dada pode ser reescrita como Os exemplos 8 e 9 tratam de inequações exponenciais
x−1 que envolvem potências com bases distintas. O número
3x+1 ≤ 3k real k que aparece no método usado na solução dos dois
exemplos é um logaritmo, mas não precisamos da teoria

EP
ou, ainda, como 3x+1 ≤ 3k(x−1) . Uma vez que 3 > 1, essa dos logaritmos para resolver esses problemas. Isso porque,
última inequação é equivalente a x + 1 ≤ k(x − 1), ou seja, nesses problemas especificamente, não há necessidade de
(k − 1)x ≥ k + 1. Mas, como k > 1, a divisão de ambos os sabermos o valor exato de k, mas apenas de estimarmos
membros por k − 1 não altera a desigualdade, de sorte que esse valor.
x ∈ R resolve a inequação original se, e somente se, As referências colecionadas abaixo discutem funções ex-
ponenciais e logaritmos em variados graus de dificuldade e
k+1
x≥ . abrangência. A referência [3] traz uma exposição bastante
k−1 detalhada e elementar, com dezenas de exemplos resolvidos

BM
Voltando ao enunciado, queremos encontrar o menor in- e exercı́cios propostos. As referências [1] e [2] apresentam
k+1
teiro x que é maior ou igual a k−1 . A desigualdade k < 2 exponenciais e logaritmos de maneira integrada ao Cálculo,
nos diz que x deve ser pelo menos 4. Realmente, com vários problemas não padrão, algumas aplicações re-
levantes à Fı́sica e material mais profundo. Por fim, a
k+1 k−1+2 2 referência [4], por sua elegância e simplicidade, é leitura
x≥ = =1+ >3
k−1 k−1 k−1 obrigatória.
e, como queremos x inteiro, devemos ter x ≥ 4.
Uma estimativa melhor para x depende de termos uma
estimativa igualmente melhor para k. Uma tal estimativa
pode ser obtida notando que as desigualdades 81 < 125 e
25 < 27 podem ser escritas como 34 < 33k e 32k < 33 , de
forma que 34 < k < 23 . Portanto, 13 < k − 1 < 12 , logo,
O Sugestões de Leitura Complementar
1. A. Caminha. Tópicos de Matematica Elementar, vol. 3,
segunda edição. Coleção do Professor de Matemática,
SBM, Rio de Janeiro, 2013.
2
6> > 4.
da
2. A. Caminha. Fundamentos de Cálculo. Coleção PROF-
k−1
MAT, SBM, Rio de Janeiro, 2014.
Então, 3. G. Iezzi, O. Dolce e C. Murakami. Fundamentos de Ma-
2 temática Elementar, vol. 2, quarta edição. Ed. Atual, São
x=1+ ∈ (5, 7),
k−1 Paulo, 1985.
e concluı́mos que x = 5 ou x = 6. 4. E. L. Lima. Logaritmos. SBM, Rio de Janeiro, 1991.
Testando esses valores, vemos que x = 5 já satisfaz a
inequação do enunciado:
al

36 = 729 ≤ 3125 = 55 .
rt

Conforme comentamos anteriormente, no módulo se-


guinte, sobre logaritmos, veremos que é possı́vel calcular
o valor de k e, com isso, obter soluções mais precisas de
inequações como as dos exemplos 8 e 9.
Po

Dicas para o Professor


A presente aula pode ser coberta em três encontros de
50 minutos: um primeiro encontro para tratar de gene-
ralidades sobre inequações, um segundo para lidar com
inequações exponenciais envolvendo potências de mesmas
bases e um terceiro para abordar o caso de bases distintas.

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Material Teórico - Módulo de ESTATÍSTICA BÁSICA I

Estatı́stica Básica: O Inı́cio

EP
Primeiro Ano do Ensino Médio

BM
Autor: Prof. Francisco Bruno Holanda
Revisor: Prof. Antonio Caminha Muniz Neto

O
da
al
rt
Po
1 Introdução 3) Utilizar certas medidas estatı́sticas para descrever um
conjunto de dados. Exemplos de medidas estatı́sticas
Podemos dizer que a Estatı́stica é a ciência que coleta, or- são as medidas de tendência central e as medidas de dis-
ganiza e analisa dados visando responder certas questões persão. Medidas de tendência central incluem a média,
cotidianas utizando um método cientı́fico. Sua principal a mediana e a moda. Medidas de dispersão incluem
função é evitar determinados erros analı́ticos que são co- o desvio padrão, a variância, o valor máximo, o valor
muns quando utilizamos métodos heurı́sticos. mı́nimo, a obliquidade e a curtose.

EP
Por exemplo, muitas pessoas resolvem incentivar seus fi-
lhos a treinarem basquete durante a infância esperando que A Inferência Estatı́stica baseia-se na Teoria das Proba-
esse esporte os tornem mais altos quando chegarem à vida bilidades para estabelecer conclusões sobre todo um grupo,
adulta. O raciocı́nio simplista dessas pessoas está baseado ao qual nos referiremos doravante como a população sob
na constatação de que a maioria dos atletas profissionais de estudo. Para tanto, ela baseia-se nas observações coletadas
basquete é formada por atletas muito altos. Na verdade, o apenas de uma parte representativa dessa população, parte
que ocorre é exatamente o contrário, sendo chamado viés esta à qual nos referimos como a amostra da população
de sobrevivência: apenas as crianças que começam a em questão.

BM
ficar mais altas do que os colegas ganham destaque nos Neste primeiro módulo, abordaremos os fundamentos da
times juvenis de basquete e, com isso, têm maiores chan- Estatı́stica Descritiva e o uso de alguns softwares que ser-
ces de chegar às ligas profissionais, enquanto as crianças vem de apoio para essa disciplina.
de estatura mediana tentam escolher outras profissões. De
outra forma, vários estudos médicos comprovaram que a
maioria dos jogadores de basquete que são altos também 3 Coletando e organizando dados
possuem os pais altos, o que aponta fatores genéticos como
principais influenciadores da altura de uma pessoa na vida Quando coletamos dados para realizar um estudo, as ob-
adulta. servações coletadas são chamadas de dados brutos. Um
Outro exemplo comum que podemos destacar é o uso da
Estatı́stica para analisar se determinadas polı́ticas públicas
atingiram ou não seus objetivos.
Hoje em dia, os métodos estatı́sticos são usados em di-
O exemplo de dados brutos corresponde ao número de multas
de trânsito dadas a motoristas de uma determinada região,
em um certo mês.
Os dados foram obtidos em uma pesquisa do DETRAN
versos campos de investigação cientı́fica, como Medicina, e apresentados na forma em que foram coletados (veja a
Demografia, Meteorologia, Economia etc. Tabela 1); por este motivo são denominados dados brutos.
da
Geralmente, este tipo de dado traz pouca ou nenhuma in-
formação ao analista, sendo necessário primeiramente or-
2 Estatı́stica ganizar os dados com o intuito de aumentar sua capacidade
de informação.
A Estatı́stica está dividida em dois ramos principais: a
Estatı́stica Descritiva e a Estatı́stica Inferencial, também
conhecida como Inferência Estatı́stica. Conforme veremos Tabela 1: Dados Brutos
Código da Cidade Número de Multas
al

a seguir, tais ramos correspondem a duas fases distintas da


análise estatı́stica de um conjunto de dados. AB01 230
A Estatı́stica Descritiva objetiva coletar, descrever e su- CD03 187
marizar um determinado conjunto de dados através de um GR23 167
conjunto de tarefas como: FR26 256
rt

GT78 69
1) Encolher um método apropriado de coletar dados FT56 392
numéricos, evitando um viés de seleção. Um viés de AF02 59
seleção é um erro comum, que ocorre quando escolhe- GF02 56
Po

mos uma amostra que não representa uma população AH55 139
como um todo. Por exemplo, suponha que desejamos VT67 408
saber qual é o esporte favorito dos alunos de uma es-
cola, mas, ao entrevistar uma amostra desses alunos,
Em relação aos dados brutos acima, o primeiro passo
selecionamos somente garotos. Nesse caso, teremos cla-
que podemos tomar pode ser colocar os dados em ordem
ramente incorrido em um viés de seleção.
crescente, de acordo com o número de multas.
2) Determinar como os dados serão apresentados: utili- Na Tabela 2, fica claro qual é o menor número de multas
zando uma tabela, um gráfico de pizza, histograma ou (56) e o maior (408). A diferença entre esses dois valores
outra forma na qual o comportamento global dos dados é chamada de amplitude dos dados coletados, que nesse
seja observado com relativa facilidade. caso especı́fico é igual a 408 − 56 = 352.

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A Tabela 3 a seguir é a tabela de distribuição de
Tabela 2: Dados Organizados
frequências de classes relativa aos quartis do conjunto de
Código da Cidade Número de Multas dados sobre multas. Observe a notação utilizada para cada
GF02 56 um dos intervalos de classes de frequência, bem como a
AF02 59 última linha, onde listamos o total dos dados coletados, o
GT78 69 qual sempre corresponde a uma frequência relativa igual a
AH55 139 1.

EP
GR23 167
CD03 187
AB01 230 Tabela 3: Distribuição de Frequência de Classes
FR26 256 Classes Fr. Absoluta Fr. Relativa
FT56 392 56 ` 144 4 0,4
VT67 408 144 ` 232 3 0,3
232 ` 320 1 0,1
320 ` 408 2 0,2

BM
A amplitude representa a medida do intervalo no qual Total 10 1
se encontram os dados coletados. Esse intervalo pode ser
dividido em subintervalos de mesma medida, chamados de
classes de frequência. De posse dos valores encontrados na tabela de
Em relação ao exemplo acima, se quisermos dividir o frequências podemos construir dois tipos de gráficos, os
intervalo de amplitude total em quatro subintervalos de quais nos darão uma perspectiva visual dos dados coleta-
mesmo tamanho, cada um desses intervalos será uma classe dos.
de frequência de amplitude parcial Começamos pelo gráfico de pizza, cuja construção é
O relativamente simples. Lembrando que um cı́rculo corres-
408 − 56 352
= = 88. ponde a um ângulo de 360◦ , representaremos cada classe
4 4
por um setor circular com ângulo central proporcional à
Para evitar ambiguidades, vamos considerar os interva- sua frequência relativa.
los que compõem as classes de frequência como fechados Por exemplo, ainda em relação aos dados sobre mul-
à esquerda e abertos à direita. A exceção será o último tas, a classe 56 ` 144 (cuja frequência relativa é 0, 4)
intervalo, que consideramos como fechado à esquerda e à
da
é representada por um setor circular com ângulo central
direita, a fim de não excluir dado algum. igual a 0, 4 × 360◦ = 144◦ . Calculando os ângulos centrais
Assim, no caso do exemplo que vimos discutindo, as qua- correspondentes aos demais quartis da amostra de forma
tro classes de frequência em que os dados foram divididos análoga, obtemos o gráfico de pizza abaixo:
são os intervalos [56, 144), [144, 232), [232, 320) e [320, 408].
Podemos visualizar esta subdivisão da seguinte forma
56 ` 144
al

56 144 232 320 408

Observação
40%
Quando dividirmos um intervalo total de dados em
rt

quatro classes de frequência, cada uma dessas


classes será chamada de quartil. 30%
20%
Uma vez que tenhamos dividido um conjunto de da- 144 ` 232
dos em classes de frequência, podemos construir a cha- 10%
Po

mada tabela de distribuição de frequências de clas- 320 ` 408


ses, a qual consiste em três colunas: na coluna da es-
querda escrevemos os intervalos que compõem as classes 232 ` 320
de frequência. Na coluna do centro escrevemos a quanti-
dade de observações (denominada frequência absoluta)
que pertence ao intervalo correspondente a cada classe. Outra forma usual de representar os dados graficamente
Por fim, na coluna da direita escrevemos a frequência é através de um histograma, também conhecido como
relativa de cada classe, que corresponde à razão entre um gráfico de barras. Neste tipo de gráfico, cada barra
o número de observações situadas em uma determinada é proporcional à barra mais alta, que por sua vez corres-
classe e o total de observações de que dispomos. ponde à classe de maior frequência.

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40% 1 Pessoa

2 Pessoas
30% 32%
24%
Fr. Relativa

4%

EP
20% 6 Pessoas
4%
20% 16% 5 Pessoas
10%
3 Pessoas 4 Pessoas

BM
32%
56 ` 144 144 ` 232 232 ` 320 320 ` 408
Classes

Revisemos os conceitos aprendidos até aqui resolvendo 24%


o exercı́cio a seguir.
20%
Exercı́cio 1. A tabela a seguir coleciona o número de pes- Fr. Relativa
soas que habitam cada um dos 25 apartamentos de um certo 16%
condomı́nio.

2
1
1
3
4
3
1
2
3
4
1
5
3
2
2
4
4
1
2
2
O 4% 4%

1 1 6 3 1
da
1P 2P 3P 4P 5P 6P
Classes
a) Construa a tabela de frequências absolutas e frequências
relativas, com número de classes igual ao número de (c) A classe de maior frequência é 1. Ou seja, nesse con-
diferentes observações. domı́nio predominam pessoas que vivem sozinhas.
b) Construa um gráfico de pizza e um histograma corres- Observação
pondentes às observações do item (a). Quando construı́mos a tabela de frequências de um
al

determinado conjunto de dados, a classe de maior


c) Informe qual classe possui a maior frequência.
frequência é chamada de moda.
Solução. Nos exemplos anteriores, aprendemos como construir
(a) Existem seis tipos de observações distintas: 1, 2, 3, 4,
rt

uma tabela de frequências simples. Além desse tipo de


5, 6. Daı́, teremos seis classes, organizadas na tabela de tabela de frequências, também podemos construir a cha-
frequências abaixo: mada tabela de frequências acumuladas. Montamos
essa tabela da seguinte forma:
Classes Fr. Absoluta Fr. Relativa
Po

Considere uma tabela de frequências simples com k clas-


1 8 0,32
ses, em que f ai e f ri denotam as frequências absolutas e re-
2 6 0,24
lativas correspondentes à i-ésima classe, respectivamente.
3 5 0,2
A frequência absoluta acumulada para a i-ésima
4 4 0,16
classe, denotada F ai , é definida por
5 1 0,04
6 1 0,04 F ai = f a1 + f a2 + · · · + f ai .
Total 25 1
Por outro lado, a frequência relativa acumulada para
a i-ésima classe, denotada F ri , é dada por
(b) O gráfico de pizza e o histograma correspondentes são
esboçados a seguir: F ri = f r1 + f r2 + · · · + f ri .

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Em palavras, a frequência absoluta (resp. relativa) acumu- que ir a campo coletar dados. A posteriori, esses dados
lada para a i−ésima classe é igual à soma das frequências podem ser organizados em tabelas de frequências e utili-
absolutas (resp. relativas) correspondentes a todas as clas- zados para elaborar gráficos pizza, histogramas e gráficos
ses, desde a classe 1 até a classe i. poligonais. A turma poderá ser dividida em grupos de no
Abaixo, apresentamos a tabela de frequências acumula- máximo cinco alunos, cada grupo ficando responsável por
das relativa ao exercı́cio anterior. coletar dados sobre algum tópico especı́fico, tais como: co-
leta de lixo, nı́vel de escolaridade, acesso à Internet em
Fr. Simples Fr. Acumulada

EP
casa etc. O objetivo principal é fazer com que os alunos
Classes fa fr Fa Fr utilizem os conhecimentos adquiridos para entender me-
1 8 0,32 8 0,32 lhor a comunidade em que vivem, percebendo, assim, a
2 6 0,24 14 0,56 importância da Estatı́stica no cotidiano.
3 5 0,2 19 0,76
4 4 0,16 23 0,92
5 1 0,04 24 0,96
6 1 0,04 25 1

BM
Observe que a frequência absoluta acumulada da última
classe é igual ao total de observações, ao passo que a
frequência relativa acumulada da última classe é sempre
igual a 1.
A partir dessa nova organização dos dados, podemos
construir um gráfico poligonal no plano cartesiano R2
para as frequências relativas acumuladas, marcando e co-
nectando os pontos (i, F ri ) através de segmentos de reta.
Abaixo, mostramos tal gráfico correspondente à tabela de
frequências acumuladas acima.
O
1
da
Fr. Relativa Acumulada

0.8

0.6
al

0.4
rt

1 2 3 4 5 6
Classe
Po

4 Sugestões ao professor
Separe dois encontros de 50 minutos cada para desenvolver
o conteúdo desta aula. No primeiro encontro, apresente as
definições e exemplos. Na segunda, verifique se os alunos
aprederam os conceitos através de exercı́cios propostos.
Do ponto de vista didático, também pode ser interes-
sante elaborar algum projeto no qual os alunos tenham

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Material Teórico - Módulo de ESTATÍSTICA BÁSICA I

Medidas de Posição

EP
Primeiro Ano do Ensino Médio

Autor: Prof. Francisco Bruno Holanda

BM
Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto
lO
ta
r
Po
1 Introdução de forma que sua média x é dada por

Após coletar os dados, organizá-los em tabelas de 193 ∼


frequência e criar gráficos, a Estatı́stica Descritiva também x= = 5, 21.
37
tem como objetivo criar medidas que, de certa forma, re-
presentem de maneira resumida os dados coletados. Isso significa que se ditribuı́ssemos a quantidade total de
Nesta aula abordaremos as principais medidas estatı́s- faltas (193) igualmente entre os 37 alunos da sala, cada

EP
ticas de posição destacando suas propriedades e também um receberia aproximadamente 5, 21 faltas.
os cuidados que devemos ter ao analisar estes dados “re-
presentativos”. Agora, suponha que a mesma pesquisa foi realizada na
turma de segundo ano dessa mesma escola, e verificou-se
que a média de faltas dos alunos dessa turma foi de 5,32.
2 Média Dessa forma, pergunta-se: “será que podemos considerar
A média x de uma lista de n observações (x1 , x2 , ..., xn ) é a que os alunos do segundo ano são em geral mais faltosos
média aritmética simples dos termos da lista, definida por do que os alunos do primeiro ano?”

BM
x1 + x2 + · · · + xn A reposta é NÃO. Lembre-se de que a média é uma
x= .
n medida estatı́stica que resume o conjuto de dados. Dessa
Em palavras, a média é a soma de todos os dados obser- forma, não podemos usar unicamente a média para tirar
vados, dividida pela quantidade de observações realizadas. conclusões gerais sobre uma população. No caso particular
Por exemplo, considere a tabela de frequência a seguir, do número de faltas dos alunos do segundo ano, considere
que reúne as quantidades de faltas registradas dos alunos sua respectiva tabela de frequência, dada a seguir:
do primeiro ano de uma determinada escola:
Tabela 2: Faltas por Quantidade de Alunos
Tabela 1: Faltas por Quantidade de Alunos Faltas Quant. de Alunos
Faltas Quant. de Alunos 0 12
lO
0 2 1 3
1 3 2 5
2 5 3 1
3 0 4 0
4 0 5 0
5 2 6 10
6 10 7 2
7 9 8 0
8 3 9 0
ta

9 2 10 0
10 0 11 ` 90 0
11 0 91 1
12 1
Na tabela de frequência acima, podemos verificar que
existe um dos alunos que faltou 91 vezes. Esta observação.
r

Veja que temos um experimento com um total de


que está muito “distante” das demais, é capaz de distor-
2 + 3 + 5 + 2 + 10 + 9 + 3 + 2 + 1 = 37 cer a média. De fato, ao calcularmos a média da turma
Po

do segundo ano sem levar em consideração essa última ob-


observações, uma vez que há 37 alunos e estamos obser- servação, a média fica:
vando seus números de faltas. Por outro lado, a soma de
todos os dados observados (i.e., das faltas dos 37 alunos) é 90 ∼
x= = 2, 73.
33
1 + 1 + 1 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 5 + 5 + · · · + 9 + 9 + 12,
Veja que o número 2, 73 é bem inferior tanto a 5, 32, que é
em que a quantidade de vezes que cada termo aparece é a média de faltas da turma, quanto a 5, 21, que é a média
dada por sua frequência absoluta. Assim, a soma dos dados de faltas da turma do primeiro ano.
observados é
Dessa forma, tome bastante cuidado ao analisar pesqui-
1 · 3 + 2 · 5 + 5 · 2 + 6 · 10 + 7 · 9 + 8 · 3 + 9 · 2 + 12 = 193, sas focadas apenas em comparar duas médias de duas po-

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pulações distintas. Tirar conclusões gerais utilizando ape- a) Calcule as médias dos salários dos funcionários nos
nas uma medida “resumitiva” dos dados podem gerar con- anos de 2015 e 2016.
clusões falaciosas.
b) Examinando somente as médias calculadas no item (a),
Exercı́cio 1 (ENEM 2011). A participação dos estudan- podemos garantir que os funcionários em geral melho-
tes na Olimpı́ada Brasileira de Matemática das Escolas raram de situação após um ano?
Públicas (OBMEP) aumenta a cada ano. O quadro in-

EP
dica o percentual de medalhistas de ouro, por região, nas Solução. A média dos salários em 2015 é obtida
edições da OBMEP de 2005 a 2009: dividindo-se sua soma (46, 4) pelo total de funcionários
(20), de sorte que vale 2, 32. Calculando de forma análoga
a média dos salários em 2016, obtemos 3, 22.
Tabela 3: Medalhas de Ouro na OBMEP
Olhando apenas para as médias, podemos concluir erro-
Região 2005 2006 2007 2008 2009 neamente que, , de maneira geral, os funcionários melho-
Norte 2% 2% 1% 2% 1% raram seus rendimentos de um ano para o outro. Porém,
Nordeste 18% 19% 21% 15% 19% se examinarmos os dados com mais cuidado, veremos que
Centro-Oeste 5% 6% 7% 8% 9% apenas um funcionário (aquele que já tinha o salário mais
Sudeste 55% 61% 58% 66% 60%

BM
alto em 2015) teve seu rendimento aumentado em 2016;
Sul 20% 12% 13% 9% 11% todos os outros ou permaneceram com o mesmo salário de
2015 ou tiveram uma redução de um ano para o outro.
Em relação às edições de 2005 a 2009 da OBMEP, qual
o percentual médio de medalhistas de ouro da região Nor- O exemplo anterior ilustra um fato geral sobre a média
deste? aritmética de um conjunto de dados, o qual merece ser re-
forçado: a média é muito influenciada por valores discre-
Solução. Para descobrir o percentual médio de medalhis- pantes, isto é, valores muito grandes ou muito pequenos,
tas de ouro de 2005 a 2009 da OBMEP referente à região que sejam marcadamente distantes da maior parte dos de-
Nordeste, é necessário somar os percentuais dessa região mais dados observados. Nesses casos, é necessário utilizar
em cada ano e dividir pelos 5 anos, que nesse caso é o to- uma outra medida estatı́stica de posição para representar o
tal de observações. Esses dados encontram-se na terceira conjunto. Uma medida possı́vel, que veremos na próxima
lO
linha da tabela: seção, é a mediana.
Nordeste: 18%, 19%, 21%, 15% e 19%. Calculando a
média, obtemos
3 Mediana
18% + 19% + 21% + 15% + 19%
= 18, 4%.
5 O primeiro passo para determinar a mediana de qualquer
conjunto de dados é colocá-los em ordem crescente. Dessa
forma, se (x1 , x2 , ..., xn ) é uma lista de dados coletados,
Exercı́cio 2. Considere um estudo realizado sobre os sejam x(1) o menor valor dessa coleção, x(2) o segundo
salários dos funcionários de uma empresa durante os anos
ta

menor e assim por diante, até chegarmos ao maior valor,


de 2015 e 2016, cujos dados coletados encontram-se resu- definido por x(n) . Então, temos
midos nas tabelas a seguir:
x(1) ≤ x(2) ≤ · · · ≤ x(n) ,
Tabela 4: Salários em 2015 (medidos em 1000 reais) e dizemos que
(x(1) , x(2) , . . . , x(n) )
r

1,1 2 1,3 3 1,2


1,3 4,1 2 12,3 2 é a sequência ordenada de dados1 .
1,2 1,1 1,2 3 1,5 Caso o número de observações n seja ı́mpar, a mediana,
Po

1,3 2 2,2 1,4 1,2 denotada pela letra M é definida como o termo que ocupa a
posição central na sequência ordenada de dados. Por outro
lado, caso n seja par, a mediana é definida como a média
aritmética dos dois termos centrais da sequência ordenada
Tabela 5: Salários em 2016 (medidos em 1000 reais)
de dados. Em resumo:
1 2 1,1 3 1,2 1 O leitor não deve confundir-se com o fato de que toda sequência é,
1,3 3,1 2 32,7 2 em si, uma lista ordenada. Aqui, quando dizemos sequência ordenada
1,2 1,1 1,2 3 1,3 de dados, estamos impondo uma ordem aos termos da sequência que,
1,1 2 2 1 1,2 em princı́pio, é distinta da ordem original. Nesse sentido, os exemplos
e exercı́cios discutidos a seguir esclarecerão as eventuais dúvidas que
surjam.

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Tabela 6: Faltas Acumuladas Primeiro Ano
M = x( n+1 ) , se n for ı́mpar
2
Faltas Quant. de Alunos Acumuladas
e 0 2 2
x( n ) + x( n +1) 1 3 5
2 2
M= , se n for par. 2 5 10
2
3 0 10

EP
Por exemplo, considere as observações: 4 0 0
5 2 12
5, 2, 4, 3, 3, 4, 1, 8, 10 6 10 22
Colocando-as em ordem crescente, obtemos a sequência 7 9 31
ordenada de dados: 8 3 34
9 2 36
1, 2, 3, 3, 4, 4, 5, 8, 10. 10 0 36
11 0 36
Como temos um número ı́mpar n = 9 de dados, existe um
12 1 37

BM
dado central, que no caso é o dado que ocupa a posição
n+1
2 = 5. Uma vez que tal dado é igual a 4, concluı́mos que
a mediana M do conjunto de dados em questão é M = 4. Tabela 7: Faltas Acumuladas Segundo Ano
Por outro lado, tomemos como exemplo a seguinte
coleção de dados: Faltas Quant. de Alunos Acumuladas
0 12 12
2, 3, 6, 8, 3, 1, 7, 6, 3, 6, 3, 5, 1 3 15
2 5 20
que em ordem crescente fica
3 1 21
1, 2, 3, 3, 3, 3, 5, 6, 6, 6, 7, 8. 4 0 21
5 0 21
Desta feita, temos um número par n = 12 de dados, de
lO
6 10 31
modo que a mediana é igual à média dos dois termos cen- 7 2 33
trais. Como n2 = 6, concluı́mos que tais termos centrais 8 0 33
ocupam as posições 6 e 7, valendo, portanto, 3 e 5. Assim, 9 0 33
M = 3+52 = 4. 10 0 33
Exercı́cio 3. Calcule as medianas dos dados apresentados 11 ` 90 0 33
nas tabelas 1 e 2. Explique o motivo pelo qual a diferença 91 1 34
entre a média e a mediana no segundo grupo de dados
é bem maior que a diferença correspondente no primeiro
Nesse segundo caso, podemos ver como a presença de
ta

grupo.
valores muito discrepantes faz com que a média e a medi-
Solução. Uma maneira eficiente para descobrirmos a me- ana fiquem bem distantes uma da outra, o que não ocorre
diana é construindo as tabelas de frequências acumuladas tão marcadamente no primeiro caso.
correspondentes às tabelas 1 e 2. Assim procedendo, ob-
temos as tabelas 6 e 7 a seguir. A seguinte pergunta cabe, agora, de maneira natural: se
Na tabela 6 temos 37 oservações, que é uma quantidade a mediana representa melhor a situação geral dos dados
r

ı́mpar. Portanto, a mediana será o termo de ordem 37+1


2 = (desconsiderando os valores discrepantes), por que ela não
19 que, segundo a tabela, vale 6. Nesse caso, a diferença é mais utilizada que a média?
Po

entre a média e a mediana será A resposta é simples: imagine que os dados estejam de-
sorganizados; a média é fácil de ser computada: basta so-
5, 21 − 6 = −0, 79. mar tudo e dividir pela quantidade de observações. Por
Na tabela 7, temos 34 observações, que é uma quanti- outrolado, para obter a mediana, devemos colocar os da-
dade par. Portanto, a mediana será a média entre os dois dos inicialmente em ordem crescente, um processo que é
termos centrais, os quais ocupam as posições 34 computacionalmente bem mais custoso.
2 = 17 e
18. Segundo a tabela, os valores desses termos são ambos À luz dos exemplos discutidos até aqui, o leitor pode
iguais a 2. Logo, a mediana também é igual a 2. Aqui, a pensar que esse argumento não justifica, uma vez que o
diferença entre a média e a mediana será trabalho que tivemos nesses casos para ordenar os dados
foi bem pequeno. Entretanto, cumpre observar que em si-
5, 32 − 2 = 3, 32. tuações reais, como no senso de uma população, por exem-

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plo, o total de dados coletados encontra-se na casa das de- Apesar da moda ser relativamente fácil de ser calculada,
zenas de milhões, o que pode tornar sua ordenação bem sua principal desvantagem é que não podemos assegurar
mais trabalhosa. sua existência em qualquer conjunto de dados. De fato,
Na próxima seção discutiremos uma terceira opção de quando todas as observações são distintas, não há nenhum
medida de posição. valor que represente a moda.

Finalizamos a aula resolvendo alguns exercı́cios para fi-

EP
4 Moda xar as definições aprendidas até aqui.
A moda é o valor que ocorre com maior frequência em um Exercı́cio 4 (ENEM 2010). O quadro seguinte mostra o
conjunto de dados, e será representada por x∗ . (Recorde desempenho de um time de futebol no último campeonato.
que já citamos rapidamente essa medida na aula anterior A coluna da esquerda mostra o número de gols marcados
deste mesmo módulo.) e a coluna da direita informa em quantos jogos o time
Caso os dados ainda não se encontrem agrupados em marcou aquele número de gols.
tabelas de frequência por classes, a moda pode ser facil-
mente identificada após organizarmos os dados em uma tal
Tabela 9: Gols no campeonato

BM
tabela de frequências. Por exemplo, considere o conjunto
de observações a seguir: Gols Marcados Quantidade de Partidas
0 5
5 3 7 6 3 3
1 3
4 5 1 7 5 6
2 4
5 6 5 6 6 2
3 3
1 1 4 5 1 7
4 2
5 2 4 3 5 6
5 2
1 4 5 2 1 3
7 1
Construindo a tabela de frequências correspondente, ob-
Se X, Y e Z são, respectivamente, a média, a mediana
lO
temos:
e a moda dessa distribuição, é correto afirmar que:
Tabela 8: Tabela de frequências a) X = Y < Z.
Valor Frequência
1 6 b) Z < X = Y.
2 3 c) Y < Z < X.
3 5
4 4 d) Z < X < Y.
5 9
ta

6 6 e) Z < Y < X.
7 3
Solução. O primeiro passo é calcular a média de gols por
partida. Como os dados estão agrupados em classes, a
A partir da tabela 8, percebemos facilmente que o valor média é dada pela razão entre o somatório dos produtos dos
que ocorre com maior frequência é 5 (o qual ocorre 9 vezes). valores pelas frequências com que esses valores aparecem e
Portanto, neste exemplo a moda é x∗ = 5.
r

o somatório das frequências:


Observações 0·5+1·3+2·4+3·3+4·2+5·2+7·1
Po

X =
• Quando a série de dados coletados possuir dois 5+3+4+3+2+2+1
valores com a mesma frequência máxima, cada 45
= = 2, 25.
um deles é uma moda, e o conjunto diz-se bi- 20
modal.
Para o cálculo da mediana, note inicialmente que, como
• Se mais de dois valores ocorrerem com a mesma temos um total de 20 observações, ela será a média
frequência máxima, diremos que o conjunto de aritmética dos dois valores centrais (o décimo e o décimo
dados é multimodal. primeiro termos), quando a amostra está ordenada. Em
ordem crescente, os onze primeiros termos são
• Quando nenhum valor é repetido, convenciona-
mos dizer que o conjunto não tem moda. 0, 0, 0, 0, 0, 1, 1, 1, 2, 2, 2;

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portanto, Apresente à turma cada uma das medidas de posição
2+2 em sequência, passando de uma seção para a outra ape-
Y = = 2.
2 nas quando ficar claro que todos compreenderam bem o
Por fim, pela tabela de frequências podemos verificar conteúdo estudado e, principalmente, quando os alunos já
que a moda é Z = 0. tiverem percebido os pontos positivos e negativos de cada
Logo, Z < Y < X, e a resposta correta é a letra E. uma das medidas.

EP
Exercı́cio 5. A tabela que segue é demonstrativa do levan-
tamento realizado por determinado curso de lı́nguas, no
que se refere às idades dos alunos que são fluentes em mais
de duas lı́nguas:

Tabela 10: Alunos Poliglotas


Idade Número de Alunos
25 12

BM
28 15
30 25
33 15
35 10
40 8

Calcule a moda, a média e a mediana dessa distribuição


de frequências.

Solução. A moda é a observação de maior frequência;


nesse caso, x∗ = 30.
lO
Para a mediana, veja que temos um total de

12 + 15 + 25 + 15 + 10 + 8 = 85

observações. Portanto, a mediana corresponderá à ob-


servação de ordem 85+1
2 = 43. Examinando a coluna da
direita, notamos que 12 + 15 < 43 < 12 + 15 + 25; logo,
M = 30.
Por fim, para calcular a média, temos que somar todas
ta

as idades e dividir pela quantidade de alunos:

25 · 12 + 28 · 15 + 30 · 25 + 33 · 15 + 35 · 10 + 40 · 8
x =
12 + 15 + 25 + 15 + 10 + 8
300 + 420 + 750 + 495 + 350 + 320
=
85
r

2635
= = 31.
85
Po

5 Sugestões ao professor
Separe três encontros de 50 minutos cada para desenvolver
o conteúdo desta aula. No primeiro encontro, apresente as
definições e exemplos sobre a média. Na segunda apresente
as definições de mediana e moda. Na terceira, verifique se
os alunos aprenderam os conceitos através de exercı́cios
propostos.

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Material Teórico - Módulo de ESTATÍSTICA

Medidas de Dispersão

EP
Primeiro Ano do Ensino Médio

Autor: Prof. Francisco Bruno Holanda

BM
Revisor: Prof. Antonio Caminha Muniz Neto
l O
rta
Po
1 Introdução em razão dessa medida ser muito sensı́vel a valores disto-
antes (outliers). De fato, considere os conjuntos de dados
Na aula anterior, vimos como as medidas de posição (tam- a seguir:
bém conhecidas como medidas de tendência central) nos
fornecem informações que resumem o conjunto dos dados G1 : 1, 3, 5, 2, 3, 4, 5, 1, 2, 3, 4, 3, 3, 2, 1;
em valores únicos. As principais medidas apresentadas G2 : 1, 3, 5, 2, 3, 4, 5, 1, 2, 3, 4, 3, 3, 2, 1, 55.
foram a média, a mediana e a moda. Apesar do fato de

EP
que tais medidas propiciam uma visão geral dos dados, Veja que, apesar dos dois conjuntos serem semelhantes,
fazer uma análise estatı́stica baseando-se apenas em tais a amplitude do primeiro é A1 = 5 − 1 = 4, enquanto
medidas pode gerar interpretações enganosas. A fim de a do segundo é A2 = 55 − 1 = 54. A grande diferença
ilustrar esse fato, tome como exemplo os dois grupos de constatada nesse exemplo é devida à presença de um valor
dados a seguir: distoante (55) no segundo grupo. Uma forma de dimunir o
efeito de valores distoantes sobre a distorção é considerar
Primeiro grupo: a distância interquartil, conforme descrita a seguir.
Na aula anterior, vimos que a mediana é uma medida
−1, 0, 0, 0, 1. de tendência central na qual metade dos dados é menor

BM
que ela, ao passo que a outra metade é maior que ela.
Segundo grupo: Analogamente, os três quartis do conjunto de dados são
os valores reais que o dividem em quatro grupos, cada um
−16, −9, −7, 0, 0, 0, 7, 9, 16. deles contendo 1/4 do tamanho total da amostra. Mais
precisamente:
Apesar de ambos possuı́rem as mesmas média, mediana
• o primeiro quartil Q1 tem 1/4 dos dados abaixo dele
e moda (todos tais valores são iguais a zero), os dois con-
e 3/4 dos dados acima dele. Ou seja, é a mediana da
juntos de dados são bem distintos. Enquanto o primeiro
primeira metade dos dados;
possui seus valores mais próximos da média, o segunto tem
valores extremos mais distantes. Dessa forma, se quisermos • o segundo quartil Q2 é a mediana;
analisar mais profundamente um conjuto de dados, faz-se
• o terceiro quartil Q3 tem 3/4 dos dados abaixo dele
O
necessário considerarmos outras medidas que não apenas
as de tendência central. Nesse sentido, uma medida de e 1/4 dos dados acima dele. Ou seja, é a mediana da
dispersão para uma variável quantitativa é um indicador segunda metade dos dados.
do grau de espalhamento dos valores da amostra em torno A distância interquartil é definida como DIQ = Q3 −
de uma medida de centralidade. Nesta aula, estudaremos Q1.
algumas de tais medidas.
Exercı́cio 1. Calcule as distâncias interquartis dos conjun-
tos G1 e G2 apresentados anteriormente nesta seção.
l
2 Amplitude e distância interquar- Solução. Primeiramente, reescrevamos os conjuntos de
til dados G1 e G2 na ordem crescente:
rta

G1 : 1, 1, 1, 2, 2, 2, 3, 3, 3, 3, 3, 4, 4, 5, 5;
A forma mais simples de se medir a variabilidade de um
conjunto de dados é calculando sua amplitude, que é de- G2 : 1, 1, 1, 2, 2, 2, 3, 3, 3, 3, 3, 4, 4, 5, 5, 55.
finida como a diferença entre o maior e o menor valores
O primeiro grupo tem 15 elementos de forma que a me-
observados. Por exemplo, considere a série de dados a se-
diana é o elemento central, que é igual a 3. Seu primeiro
guir:
quartil é a mediana dos 15−1 2 = 7 primeiros termos, de
5, 9, 16, 4, 9, 5, 2, 6, 1, 7.
forma que é novamente seu elemento central Q1 = 2. O
Po

Como a maior observação é 16 e a menor 1, a amplitude é terceiro quartil é a mediana dos sete últimos termos, de
forma que Q3 = 4. Portanto, a distância interquartil para
A = 16 − 1 = 15. G1 é DIQ = 4 − 2 = 2.
O segundo grupo tem 16 elementos. Logo, a medi-
Apesar da amplitude ser uma medida bastante simples ana é a média aritmética dos dois elementos centrais, que
do ponto de vista teórico, na prática ela não é considerada nesse caso vale 3. O primeiro quartil é a mediana do con-
uma boa medida de dispersão, principalmente por dois mo- junto formado pelos oito primeiros termos, de sorte que
tivos. O primeiro deles é devido ao custo operacional de Q1 = 2+2 2 = 2. O terceiro quartil é a mediana do con-
se encontrar os valores máximo e mı́nimo das observações junto de dados formado pelos oito últimos termos, logo,
quando temos um grande número de dados (na ordem das Q3 = 4+42 = 4. Portanto, a distância interquartil para G2
dezenas de milhares, em aplicações tı́picas). O segundo é vale DIQ = 4 − 2 = 2.

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No exercı́cio anterior, a distância interquartil é a mesma 4 Variância e desvio-padrão
nos dois grupos, apesar da presença de um valor distoante
no segundo conjunto de dados. Este é um exemplo de como A variância σ 2 de uma população x1 , . . . , xN de N dados
a DIQ é menos sensı́vel à outliers do que a amplitude, e é a medida de dispersão definida como a média aritmética
pode-se mostrar que tal fato é tı́pico. do quadrado dos desvios dos elementos da população em
relação à média x da mesma. De outra forma, a variância
é dada por:

EP
3 Desvio-médio XN
(xi − x)2
σ2 = .
Outra opção de medida de dispersão é a média aritmética i=1
N
dos valores absolutos dos desvios das várias observações Exemplo 3. Considere o conjunto de dados xi , com 1 ≤
em relação à média dos dados. Em sı́mbolos, se x1 , x2 , i ≤ 10, colecionados na primeira coluna da tabela a seguir:
. . . , xn são os dados observados e x é sua média, o desvio
médio (dm) da amostra é definido por: xi xi − x (xi − x)2
1X
n 3 -2,3 5,29
dm = |xi − x|. 0 -5,3 28,09
n i=1

BM
1 -4,3 18,49
Vejamos um exemplo. 9 3,7 13,69
3 -2,3 5,29
Exemplo 2. Considere um conjunto de dados que represen-
12 6,7 44,89
tam as idades nas quais um grupo de pacientes começou a
1 -4,3 18,49
apresentar problemas de saúde:
6 0,7 0,49
65, 72, 70, 72, 60, 67, 69, 68. 4 -1,3 1,69
Para calcularmos o desvio médio, devemos primeiramente 14 8,7 75,69
calcular a média x do conjunto de dados: Soma 53 212,1
Média 5,3 21,21
65 + 72 + 70 + 72 + 60 + 67 + 69 + 68
x= = 67, 875.
8
O
Agora, vamos subtrair x de cada valor da amostra, calcular Para calcularmos a variância do conjunto, o primeiro
o valor absoluto de cada uma dessas diferenças e somá-los. passo é calcular a média do mesmo, dada por x = 5, 3. Em
Para tanto, considere a tabela a seguir: seguida escrevemos uma segunda coluna, na qual listamos
os vários desvios da média xi − x. Na terceira coluna,
xi xi − x |xi − x|
calculamos os quadrados dos desvios, i.e., os números (xi −
65 -2,875 2,875
x)2 . Por fim, obtemos a variâcia como a média aritmética
72 4,125 4,125
desses valores, de sorte que
l
70 2,125 2,125
72 4,125 4,125 σ 2 = 21, 21
rta

60 -7,875 7,875
67 -0,875 0,875 Note que, se as observações forem dadas em uma certa
69 1,125 1,125 unidade de medida, a média virá expressa nessa mesma
68 0,125 0,125 unidade. Por outro lado, variância estará expressa em ter-
Soma 543 23,25 mos dessa unidade ao quadrado. Por exemplo, observações
Média 67,875 2,90625 medidas em metros (m) terão variância medida em metros
quadrados (m2 ).
Então, o desvio médio é dado por: Para mantermos as mesmas unidades de medida no
cálculo de medidas de dispersão, ua estratégia interessante
Po

dm = 2, 90625 é calcularmos o desvio padrão σ da população, que por


Apesar de ser uma medida fácil de ser computada, já definição é igual à raiz quadrada da variância da mesma.
que não envolve a ordenação dos valores, o desvio-médio Dessa forma, o desvio padrão é dado por:
não é muito usado na prática, uma vez que não é tão fácil v
uN
de se estabelecer as propriedades matemáticas de uma me- √ uX (xi − x)2
σ= σ =t 2
dida definida com o uso da função valor absoluto. Para N
i=1
resolvermos esse problema e, ainda assim, mantermo-nos
próximos a uma noção de desvio da média, definiremos a Assim, no exemplo 3, o desvio padrão é
seguir as medidas de dispersão mais populares, quais se-
σ = 21, 21 ∼
p
jam, a variância e o desvio-padrão. = 4, 605.

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Suponha, agora, que temos um conjunto de dados agru- Na segunda parte dessa aula, deduziremos algumas com-
pados em uma tabela de frequência, de forma que as amos- parações entre as medidas de dispersão estudadas aqui,
tras distintas do conjunto valham x1 , . . . , xn , com xi ocor- para um conjunto positivo de dados.
rendo com frequência absoluta f ai e frequência relativa O primeiro resultado que desejamos obter diz que o
f ri . Então, nosso total de observações é desvio-padrão σ é sempre maior ou igual que o desvio
médio dm e menor ou igual que a amplitude, ocorrendo
N = f a1 + f a2 + · · · + f an , a igualdade se, e só se, todos os dados de nossa amostra

EP
de forma que coincidirem. Em sı́mbolos,
f ai
f ri = . dm ≤ σ ≤ A.
N
A média dos dados é calculada por
O segundo resultado diz que, se o desvio médio não
n n
1 X X for
q muito grande, então o desvio padrão não excede
x= f ai xi = f ri xi (1) 2
N i=1 i=1
dm2 + A2 . Em sı́mbolos,

e a variância por r
A A2

BM
n n dm ≤ √ ⇒ σ < dm2 + .
X f ai (xi − x)2 X 2 2
σ2 = = f ri (xi − x)2 . (2)
i=1
N i=1

Para calcular o desvio-padrão basta, obviamente, tirar a


5 Sugestões ao professor
raiz quadrada da fórmula acima. Separe três encontros de 50 minutos cada para desenvolver
Exemplo 4 (FGV 2002). Numa pequena ilha, há 100 pes- o conteúdo desta aula. No primeiro encontro, apresente
soas que trabalham na única empresa ali existente. Seus as definições e exemplos sobre amplitude e distância inter-
salários (em moeda local) têm a seguinte distribuição de quartil. No segundo, apresente as definições de desvio-
frequências: médio, variância e desvio-padrão. Por se tratarem das
medidas de dispersão mais populares, resolva o máximo
Salários Frequência possı́vel de exercı́cios sobre essa seção (recorrendo à bibli-
O
$ 50 30 ografia sugerida, se preciso) em uma terceiro encontro.
$ 100 60
$ 150 10
Referências
a) Qual a média dos salários das 100 pessoas? [1] Pedro A. Morettin e Wilton de O. Bussab. Estatı́stica
Básica. Saraiva, 2010.
b) Qual a variância dos salários? Qual o desvio padrão
l
dos salários? [2] João Ismael Pinheiro et al. Estatı́stica Básica: a Arte
de Trabalhar com Dados. Campus, 2009.
rta

Solução. Veja que as frequências relativas para os salários


de $50, $100 e $150 são, respectivamente, iguais a 30%,
60% e 10%. Assim, utilizando (1), obtemos a média dos
salários:
30 60 10
x = 50 · + 100 · + 150 · = 90
100 100 100
Após termos calculado a média, podemos calcular a va-
riância com o auxı́lio de (2):
Po

30 60 10
σ2 = (50 − 90)2 + (100 − 90)2 + (150 − 90)2
100 100 100
30 60 10
= · 1600 + · 100 + · 3600
100 100 100
= 480 + 60 + 360 = 900.
Portanto, o desvio-padrão será

σ = 900 = 30.

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Material Teórico - Módulo de ESTATÍSTICA

As Diferentes Médias

Primeiro Ano do Ensino Médio

Autor: Prof. Antonio Caminha Muniz Neto


Revisor: Prof. Francisco Bruno Holanda
Nesta aula, pausamos a discussão de Estatı́stica para A desigualdade triangular pode ser estendida a mais de
discutir algumas médias associadas a conjuntos finitos dois números reais. O exemplo a seguir mostra como fazê-
de números reais, assim como algumas desigualdades en- lo para três números.
tre tais médias. Estas, por sua vez, serão utilizadas na
Exemplo 2. Dados números reais u, v e w, temos
próxima aula para obter algumas desigualdades entre as
medidas de dispersão estudadas anteriormente. Para mais |u + v + w| ≤ |u| + |v| + |w|.
sobre desigualdades, remetemos o leitor à referência [1].
Prova. Basta aplicarmos (1) duas vezes:
|u + v + w| = |(u + v) + w|
1 A desigualdade triangular
≤ |u + v| + |w|
Começamos discutindo uma desigualdade entre números ≤ (|u| + |v|) + |w|
reais conhecida como a desigualdade triangular.
= |u| + |v| + |w|.
Teorema 1 (Desigualdade Triangular). Se u e v são núme-
ros reais quaisquer, então:
Tendo em vista (1) e a generalização acima, é relati-
|u + v| ≤ |u| + |v|. (1) vamente simples intuir que vale a seguinte desigualdade
geral, a qual também é conhecida como a desigualdade
Prova. Sabemos que |u| ≥ u e |v| ≥ v. Somando essas
triangular:
duas desigualdades, obtemos
|u1 + u2 + · · · + un | ≤ |u1 | + |u2 | + · · · + |un |, (2)
|u| + |v| ≥ u + v.
para todo natural n ≥ 2 e todos os reais u1 , u2 , . . . , un .
Por outro lado, também é verdade que |u| ≥ −u e |v| ≥ Uma demonstração pode ser encontrada na referência [1].
−v. Somando estas duas desigualdades, obtemos

|u| + |v| ≥ −(u + v). 2 As médias aritmética e quadrá-


Por fim, como |u + v| = u + v ou |u + v| = −(u + v), tica
obtemos
Nesta seção, apresentamos duas médias que serão inter-
|u| + |v| ≥ max{u + v, −(u + v)} = |u + v|. pretadas estatisticamente na próxima aula.

Definição 2.1
Ainda em relação à desigualdade triangular, é impor-
tante considerarmos os três corolários seguintes:
ejam a1 , a2 , ..., an reais positivos. A média aritmé-
I. |u − v| ≤ |u| + |v|: basta observar que tica (MA) deste conjunto de valores é definida por
|u − v| = |u + (−v)| ≤ |u| + | − v| = |u| + |v|, a1 + a2 + · · · + an
MA = .
n
onde, na desigualdade acima, utilizamos a desigual-
dade triangular para u e −v.
Em Estatı́stica, a média aritmética é conhecida apenas
II. |u − v| ≥ |u| − |v|: basta notar que por média, sendo considerada uma medida de tendência
central.
|u| = |v + (u − v)| ≤ |v| + |u − v|, Dividindo ambos os membros de (2) por n, obtemos
onde, na desigualdade acima, utilizamos a desigual- u1 + u2 + · · · + un |u1 | + |u2 | + · · · + |un |
≤ .
dade triangular para v e u − v. n n
III. |u − v| ≥ ||u| − |v||: inicialmente, observando que Em palavras, a desigualdade acima diz que o módulo da
|w| = | − w| para todo real w, e em seguida trocando média aritmética de um conjunto finito de reais é menor ou
os papéis de u e v no item II, obtemos igual que a média aritmética dos módulos desses mesmos
reais.
|u − v| = | − (v − u)| = |v − u| ≥ |v| − |u|. A próxima definição, por outro lado, está relacionada
com o desvio-padrão, por envolver a média de termos
Portanto, quadráticos.
|u − v| ≥ max{|u| − |v|, |v| − |u|} = ||u| − |v||.

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Definição 2.2 Por sua vez, a última desigualdade é obviamente verda-
deira, uma vez que nenhum quadrado de número real é
negativo.
Sejam a1 , a2 , ..., an reais positivos. A média qua-
drática (MQ) deste conjunto de valores é definida (ii) Quando n = 3:
por r
a21 + a22 + · · · + a2n (4) ⇔ 2a21 + 2a22 + 2a23 ≥ 2a1 a2 + 2a1 a3 + 2a2 a3
MQ = .
n ⇔ (a21 + a22 − 2a1 a2 ) + (a21 + a23 − 2a1 a3 )
+ (a23 + a22 − 2a3 a2 ) ≥ 0
Dessa forma, vemos que a média quadrática é a raiz qua- ⇔ (a1 − a2 )2 + (a1 − a3 )2 + (a3 − a2 )2 ≥ 0.
drada da média dos termos, todos elevados ao quadrado.
Vamos, agora, demonstrar como estas duas medidas Como no caso anterior, a última desigualdade é verda-
estão relacionadas através da desigualdade M Q ≥ M A. deira, uma vez que uma soma de quadrados de números
Mostraremos também que a igualdade ocorre se e só se reais nunca é negativa.
todos os termos a1 , ..., an forem iguais.
Teorema 3. Se a1 , a2 , ..., an são reais positivos, então Voltando ao caso geral, podemos raciocinar de modo
análogo aos casos particulares acima. Mais precisamente,
M Q ≥ M A, escrevendo (4) como
X
ocorrendo a igualdade se e só se a1 , ..., an forem todos (n − 1)(a21 + a22 + · · · + a2n ) − 2 ai aj ≥ 0,
iguais. i<j

Prova. Primeiramente, temos a equivalência podemos rearranjar todos os termos do primeiro membro
de forma a completar quadrados, obtendo a seguinte desi-
M Q ≥ M A ⇔ M Q2 ≥ M A2 ,
gualdade equivalente:
a qual também pode ser reescrita (multiplicando ambos os X
lados por n2 ) como (ai − aj )2 ≥ 0.
i<j
n(a21 + a22 + · · · + a2n ) ≥ (a1 + a2 + · · · + an )2 . (3)
Como antes, tal desigualdade é verdadeira, pela não ne-
Agora, veja que podemos expandir o lado direito da de- gatividade de uma soma de quadrados de reais. Além
sigualdade acima da seguinte forma: disso, é também claro que a última soma acima é posi-
X tiva se pelo menos dois dentre os números a1 , . . . , an fo-
(a1 + a2 + · · · + an )2 = a21 + a22 + · · · + a2n + 2 ai aj , rem distintos. Portanto, M Q = M A se e somente se todos
i<j os quadrados acima forem iguais a 0, i.e., se e somente se
todos os termos a1 , . . . , an forem iguais.
ou seja, o quadrado da soma de n termos é igual a soma
dos quadrados desses termos, mais duas vezes a soma dos O próximo resultado relevante para nós é o seguinte:
produtos de tais termos, tomados dois a dois.
Substituindo a última relação acima no segundo mem- Teorema 4. Se a1 , a2 , ..., an são reais positivos, então
bro de (3) e cancelando uma parcela a21 + a22 + · · · + a2n ,
concluı́mos que a desigualdade desejada é equivalente a M Q ≤ max{a1 , . . . , an }.
X
(n − 1)(a21 + a22 + · · · + a2n ) ≥ 2 ai aj . (4) Prova. Seja M = max{a1 , . . . , an }. Pela própria definição
i<j de máximo, temos que

Antes de continuarmos a demonstração é conveniente, a1 ≤ M ⇒ a21 ≤ M 2


para o bem da compreensão por parte do leitor, examinar
como (4) pode ser verificada para os valores particulares a2 ≤ M ⇒ a22 ≤ M 2
n = 2 e n = 3.
..
.
(i) Quando n = 2:
an ≤ M ⇒ a2n ≤ M 2
(4) ⇔ a21 + a22 ≥ 2a1 a2
Em palavras, cada um dos termos é menor que ou igual
⇔ a21 + a22 − 2a1 a2 ≥ 0 ao máximo e, consequentemente, cada um dos termos ao
⇔ (a1 − a2 )2 ≥ 0. quadrado é menor que ou igual ao quadrado do máximo.

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Somando membro a membro todas as desigualdades 3 Exercı́cios
acima, obtemos:
Esta seção exercita as desigualdades estudadas até aqui,
a21 + a22 + · · · + a2n ≤ nM 2 . discutindo alguns exemplos interessantes.

Dividindo ambos os lados por n e tirando a raiz quadrada Exemplo 6. Dado um real positivo a, sabe-se que a média
em seguida, obtemos quadrática dos números a, a − 1 e 2 é menor ou igual a

2. Encontre o maior valor possı́vel para a.
r
a21 + a22 + · · · + a2n √
≤ M, Solução. A condição M Q ≤ 2 equivale a
n
a2 + (a − 1)2 + 4
conforme querı́amos mostrar. ≤ 2.
3

Na próxima aula, também precisaremos do seguinte re- Por sua vez, utilizando um pouco de Álgebra elementar,
sultado. tal desigualdade equivale a

Teorema 5. Sejam a1 , a2 , ..., an reais positivos e ∆ = a2 − a − 1 ≤ 0.


max{|ai − aj |; 1 ≤ i, j ≤ n}. Então:
Então, a teoria de máximos

e mı́nimos de funções quadrá-
  ticas garante que a ≤ 1+2 5 .
1 n
M Q2 − M A2 ≤ 2 ∆2 .
n 2
Exemplo 7. Dados números reais a e b, encontre o menor
Prova. Da demonstração do Teorema 3, sabemos que valor possı́vel para a soma
P |a − 1| + |a + b − 2| + |b − 3|.
2 2 i<j (ai − aj )2
MQ − MA = .
n2
Solução. Começamos aplicando a desigualdade triangular
para três números, de um jeito esperto:
Por outro lado, cada um dos termos |ai − aj | é me-
nor que ou igual a ∆, o qual representa a diferença
|a − 1| + |a + b − 2| + |b − 3| =
máxima, em módulo, entre dois elementos
 quaisquer da
lista a1 , a2 , ..., an . Como temos n2 maneiras de escolher
dois termos dessa lista, devemos ter = |1 − a| + |a + b − 2| + |3 − b|
≥ |(1 − a) + (a + b − 2) + (3 − b)|
X  
2 n = |1 − 2 + 3| = 2.
(ai − aj ) ≤ ∆2 .
i<j
2
Portanto, a expressão do enunciado é sempre maior ou
igual a 2. Para ver que 2 é realmente seu valor mı́nimo,
Por fim, juntando as duas desigualdades acima, obtemos temos de mostrar que ele é atingido, isto é, que existem
a desigualdade do enunciado. valores reais para a e b tais que a soma do enunciado vale
2. Isso é simples: basta tomar a = b = 1, por exemplo.
A partir desse último teorema, podemos fazer duas
observações importantes: Para o próximo exemplo, dados reais positivos a e b, de-
  finimos suas médias geométrica M G e harmônica M H

(i) Veja que n12 n2 = 12 n−1 < 21 para todo natural n > 1. por
n √ 2ab
Dessa forma, M G = ab e M H = .
a+b
∆2
M Q2 < M A2 + . (5) Precisaremos também de alguns fatos elementares de Geo-
2
metria Euclidiana Plana, para os quais remetemos o leitor

(ii) Se M A ≤ √
2
, então a [2], por exemplo.

Exemplo 8. Na figura abaixo, os segmentos AB e BC têm


∆2
M A2 + ≤ ∆2 comprimentos a e b, respectivamente, e o semicı́rculo tem
2 ←→
centro O. A perpendicular a AC passando por B intersecta
e, consequentemente, M Q ≤ ∆. o semicı́rculo em D.

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O uso do sı́mbolo ≥, em vez do sı́mbolo >, vem do fato de
D
que há a possibilidade de que tais triângulos sejam degene-
rados, isto é, que reduzam-se a segmentos de reta. Observe
que tal ocorre se, e só se, os pontos B e O coincidirem, o
E que por sua vez ocorre se e só se AB = BC, quer dizer,
a = b.
A B O C Por fim, substituindo em (6) os valores calculados acima
para DO, BD e DE, chegamos a
Se E é o pé da perpendicular baixada de B ao segmento
DO, faça o que se pede: a+b √ 2ab
≥ ab ≥ .
2 a+b
(a) Calcule, em função de a e b, os comprimentos dos seg-
mentos BD, DE e DO.
(b) Conclua que, para os números reais a e b, vale A desigualdade M A ≥ M G ≥ M H, provada para dois
números reais positivos no exemplo anterior, também é
M A ≥ M G ≥ M H,
válida para n ≥ 2 reais positivos a1 , a2 , . . . , an , se defi-
com uma qualquer das desigualdades tornando-se uma nirmos suas médias geométrica M G e harmônica M H
igualdade se, e só se a = b. respectivamente por

Solução. Para o item (a), note inicialmente que o MG = n
a1 a2 . . . an
diâmetro AC do semicı́rculo vale
e
AC = AB + BC = a + b.  a−1 + a−1 + · · · + a−1 −1
1 2 n
MH = .
Então, como DO é raio do semicı́rculo, temos n
Para uma demonstração, veja [1].
a+b Observamos, contudo, que para n > 2 a média
DO = .
2 geométrica é simplesmente um nome atrelado à expressão
Para os cálculos dos outros dois segmentos, traçamos correspondente, carecendo de uma interpretação verdadei-
AD e CD, obtendo a figura a seguir: ramente geométrica.

D
4 Sugestões ao professor
O material desta aula deve ser apresentado em pelo menos
E três encontros de 50 minutos cada. É importante que, em
um primeiro momento, o professor trate as demonstrações
A B O C das desigualdades no máximo para os casos n = 3 e n = 4.
As demonstrações no caso n = 2, as quais têm as inter-
Como o triângulo ACD está inscrito em um semicı́rculo, pretações geométricas discutidas nas vı́deo-aulas, também
temos ADC b = 90◦ . Então, BD é a altura relativa à hi- deve ser apresentadas. Apesar de as demonstrações serem
potenusa do triângulo retângulo ACD e DE é a projeção, razoavelmente técnicas, a abstração utilizada nas mesmas
sobre a hipotenusa, do cateto BD do triângulo retângulo ajudará bastante o desenvolvimento cognitivo dos alunos,
BDO. Portanto, aplicando as relações métricas usuais em especialmente daqueles mais interessados. Do ponto de
triângulos retângulos sucessivamente a ACD e BDO, ob- vista pedagógico, esta aula ilumina um aspecto interes-
temos: sante da Matemática, o qual se encontra usualmente au-
2 √ sente das salas de aula: Matemática é tanto (e até mais)
BD = AB · BC = ab ⇒ BD = ab
qualitativa quanto quantitativa.
e
2
2 BD 2ab
DE · DO = BD ⇒ DE =
DO
=
a+b
. 5 Sugestões bibliográficas
Para o item (b) recorde que, em todo triângulo [1] A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Vo-
retângulo, a hipotenusa é o maior lado. Assim, anali- lume 1: Números Reais. SBM, Rio de Janeiro, 2013.
sando os triângulos retângulos BDO e BDE, obtemos [2] A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Vo-
DO ≥ BD e BD ≥ DE, ou ainda lume 1: Geometria Plana. SBM, Rio de Janeiro, 2013.
DO ≥ BD ≥ DE. (6)

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Material Teórico - Módulo de ESTATÍSTICA

Tópicos Extras

EP
Primeiro Ano do Ensino Médio

Autor: Prof. Francisco Bruno Holanda

BM
Autor: Prof. Antonio Caminha Muniz Neto
l O
rta
Po
Esta aula discute dois tópicos adicionais, relacionados x1 ≤ x2 ≤ . . . ≤ xn . Dessa forma, xn e x1 são, respec-
a medidas de dispersão. Primeiramente, utilizaremos as tivamente, o máximo e o mı́nimo dos dados observados.
desigualdades estudadas na aula anterior para relacionar Assim, por definição, temos:
algumas das medidas de dispersão estudadas. Depois, ve-
remos uma representação gráfica (o gráfico boxplot) para x1 ≤ x1 ≤ xn
os quartis e medianas de um conjunto de dados.
x1 ≤ x2 ≤ xn

EP
..
1 A média quadrática e as medidas .
x1 ≤ xn ≤ xn
de dispersão
Somando membro a membro tais desigualdades, e divi-
Começamos tratando de maneira mais aprofundada algu- dindo por n em seguida, podemos verificar que
mas propriedades das medidas de dispersão que definimos
na terceira aula. Mais especificamente, demonstraremos x1 ≤ x ≤ xn .
algumas relações de desigualdades que revelam a existência
de uma ordenação bem definida entre as diferentes medidas Assim, a média de um conjunto de observações deve estar

BM
de dispersão. Tais são dadas por entre o o máximo e o mı́nimo dos dados observados.
Agora, veja que a amplitude A é dada por
dm ≤ σ ≤ A, (1)
A = xn − x1 = max{|xi − xj |; 1 ≤ i, j ≤ n}.
em que dm é o desvio médio, σ é o desvio padrão e A é a
Uma vez que a média quadrática de um conjunto finito
amplitude de um conjunto de dados positivos. É impor-
de números não negativos é menor ou igual que o maior
tante destacar que tais desigualdades são válidas apenas
deles, obtemos
quando o conjunto de dados é positivo.
Antes de prosseguirmos, considere o seguinte exemplo σ(xi ) = M Q(ai ) ≤ M,
em que verificamos as desigualdades (1) diretamente.
onde M = max{a1 , . . . , an }.
Exemplo 1. Considere os dados a seguir, sobre as alturas
O
Por outro lado, como A = xn − x1 e x1 ≤ x ≤ xn ,
(em metros) dos 16 alunos de uma determinada turma1 devemos ter M ≤ A. Portanto,
1.65 — 1.61 — 1.46 — 1.66 — 1.49 — 1.48 — 1.70 — σ ≤ A.
1.54 — 1.55 — 1.65 — 1.69 — 1.65 — 1.66 — 1.54 —
1.68 — 1.68 Assim, concluı́mos a demonstração das desigualdades
(1).
Cálculos simples fornecem
l
dm = 0.071, σ = 0.082 e A = 0.24, Finalizamos esta aula apresentando um resultado que
fornece uma cota superior para σ melhor do que A.
rta

valores que refletem as desigualdades (1). Teorema 2. Se x1 , ..., xn são dados positivos, então:
Veremos, agora, como justificar (1). Para tanto, consi- r
A2
dere um conjunto de dados positivos x1 , x2 , . . . , xn , e seja σ < dm2 + .
ai = |xi − x|, para 1 ≤ i ≤ n. Note que a média quadrática 2
dos termos ai é igual ao desvio-padrão de x1 , . . . , xn , en- Prova. Sejam ai = |xi − x| os desvios médios das ob-
quanto a média aritmética dos ai é igual ao desvio médio servações. Pela relação (5) da aula anterior, temos que
de x1 , . . . , xn . Em sı́mbolos,
1
σ 2 < dm2 + ∆2 , (2)
Po

M Q(ai ) = σ, e M A(ai ) = dm. 2

Dessa forma, a desigualdade entre as médias quadrática onde ∆ = max{|ai − aj |; 1 ≤ i, j ≤ n}.


e aritmética, vista na aula passada, garante que dm ≤ σ. Agora, fazendo u = xi − x e v = xj − x e utilizando o
terceiro corolário da desigualdade triangular (veja uma vez
Para demonstrar que σ ≤ A, suponha (sem perda de mais a aula anterior), obtemos
generalidade) que os dados estão ordenados, ou seja, que |ai − aj | = ||xi − x| − |xj − x|| ≤ |xi − xj | ≤ A,
1 Observeque, na tabela a seguir, utilizamos a notação inglesa para
números decimais, com pontos em vez de vı́rgulas. Essa é meramente para todos 1 ≤ i, j ≤ n. Então,
uma questão de conveniência, tendo sido motivada pela rotina de
programação apresentada no final desta aula. ∆ = max{|ai − aj |; 1 ≤ i, j ≤ n} ≤ A. (3)

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Por fim, segue de (2) e (3) que (ii) à direita, do quartil superior Q3 até a maior ob-
servação que seja menor ou igual ao limite superior
1 dos dados (também definido a seguir).
σ 2 < dm2 + A2 .
2
Os segmentos verticais situados à esquerda e à direita da
Para finalizar, basta calcular a raiz quadrada em ambos os caixa menor têm abscissas respectivamente iguais àquelas
membros da última desigualdade acima. da extremidade esquerda da haste mais à esquerda e da

EP
extremidade direita da haste mais à direita da caixa menor.
Exemplo 3. Considere os dados a seguir, obtidos a partir O limite inferior e o limite superior do conjunto de
da produção (em toneladas) de café em nove fazendas: dados são calculados por:
4.28 — 6.53 — 7.46 — 4.19 — 3.70 — 2.84 — 4.67 —
Lim. inferior = max{min(dados); Q1 − 1, 5(Q3 − Q1 )}.
4.42 — 5.51
Lim. superior = min{max(dados); Q3 + 1, 5(Q3 − Q1 )}.
Cálculos fáceis fornecem
Aqui, min(dados) e max(dados) representam, respectiva-
dm = 1.103, σ = 1.432 e A = 4.62, mente, o menor valor e maior valor encontrado nas ob-

BM
servações.
de sorte que Por fim, as observações situadas fora do intervalo for-
r mado pelas abscissas dos segmentos verticais à esquerda
(4.62)2 √ e à direita da caixa menor são considerados valores
1.432 < (1.103)2 + = 1.216 + 10.672 = 3.447.
2 discrepantes (outliers), sendo denotados no boxplot por
pontos (•), marcados nas abscissas adequadas.
2 Gráficos boxplot
Para melhor entender a construção de diagramas box-
Um gráfico boxplot (ou um diagrama de caixas) é uma plot, temos os dois exemplos a seguir.
representação gráfica de um conjunto de dados, a qual nos
permite avaliar rapidamente a dispersão dos mesmos, des- Exemplo 4. Considere as observações a seguir, retiradas
O
tacando também os valores discrepantes presentes. de uma amostra dos valores pagos pelos clientes de um
Para construir o gráfico boxplot correspondente a um restaurante a quilo no almoço.
certo conjunto de dados, necessitamos compilar algumas
informações especı́ficas sobre os quartis Q1 , Q2 e Q3 das 11 23 50 19
observações. (A partir desse ponto, sugerimos ao leitor 49 50 15 41
acompanhar a leitura observando o gráfico boxplot do pri- 49 16 17 22
meiro exemplo a seguir, a fim de melhor compreender a 15 25 50 42
l
descrição de sua construção.) 36 11 20 33
Mais precisamente, para compor o diagrama boxplot, 29 44 150 30
rta

inicialmente desenhamos uma caixa retangular maior, na 29 48 40 28


qual a base é vista como um segmento da reta real, orien- 26 37 15 42
tada da esquerda para a direita. Em seguida, desenhamos o 19 13 24 22
diagrama boxplot em si, o qual consiste em um par de seg- 22 25 25 16
mentos verticais, conectados por hastes horizontais a uma
caixa retângular menor situada entre ambas, e no interior Para construir o gráfico boxplot correspondente, preci-
da qual um terceiro segmento vertical é traçado; eventu- samos calcular os seguintes valores constantes da primeira
almente (e conforme descrito mais adiante), o diagrama coluna da tabela a seguir:
Po

conterá alguns pontos adicionais.


Os lados verticais da caixa menor têm abscissas iguais Primeiro Quartil 19
aos quartis Q1 e Q3 do conjunto de dados, ao passo que o Mediana 25,5
segmento vertical interior a ela tem abscissa igual à medi- Terceiro Quartil 41,25
ana do conjunto de dados. Q1 − 1, 5(Q3 − Q1 ) -14,375
As hastes horizontais que partem da caixa menor são Q3 + 1, 5(Q3 − Q1 ) 74,625
segmentos de reta horizontais, cujas abscissas variam: max(dados) 150
(i) à esquerda, do quartil inferior Q1 até a menor ob- min(dados) 11
servação que seja maior ou igual ao limite inferior dos Limite superior 11
dados (definido a seguir). Limite inferior 74,625

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Deixamos ao leitor a tarefa de verificar os valores cons- Ens. Fund. Ens. Médio Graduado
tantes das sete primeiras linhas, concentrando-nos naque- 1152 902 2480
les das duas últimas. 1152 1447 7560
O valor mı́nimo das observações é igual a 11, i.e., 926 1436 4274
min(dados) = 11; como Q1 − 1, 5(Q3 − Q1 ) = −14, 375, 961 2147 2231
temos então que 1117 1669 4009
1106 1372 4328

EP
1126 981 4128
limite inferior = max{11; −14, 375} = 11. 913 1454 1716
1082 1776 4244
Como não nenhuma observação abaixo do limite inferior, 1014 1081 1905
não há outliers à esquerda da caixa menor.
Da mesma forma, o valor máximo das observações é
max(dados) = 150 e Q3 + 1, 5(Q3 − Q1 ) = 74, 625. Por-
tanto, Graduado

BM
limite superior = min{150; 74, 675} = 74, 625.
Ens. Médio

Nesse caso, há uma observação acima do limite inferior (o


valor máximo 150), de forma que este outlier será identi- Ens. Fund.
ficado, no boxplot, por um ponto (•).
Chegamos assim, ao seguinte diagrama boxplot: 2,000 4,000 6,000 8,000

Note que, apesar de encontrarmos pessoas que possuem


O
o ensino médio completo ganhando menos do que pes-
soas com ensino fundamental completo, a mediana dos
salários aumenta de acordo com o nı́vel de escolaridade.
Também, observa-se prontamente que a dispersão dos va-
0 50 100 150 lores dos salários pagos aumenta com o número de anos
de estudo, incrementando assim as chances de alguém que
possui nı́vel superior ter salários mais elevados.
l
Além de fornecer informações importantes sobre um con-
junto de dados, o diagrama boxplot também pode ser utili- 3 Sugestões ao professor
rta

zado para comparar graficamente, relativamente à média, à


dispersão e à distribuição, mais de um conjunto de medidas O objetivo principal deste material é complementar a
tomadas de uma mesma população (dados multivariados). formação do professor. Por outro lado, se o professor es-
tiver com a matéria adiantada e tiver alunos que venham
Isso pode ser conseguido desenhando-se os gráficos box-
apresentando bons resultados ao longo do módulo, pode ser
plot relativos a cada medida paralelamente, todos dentro
interessante apresentar o material colecionado nesta aula.
de uma mesma caixa maior.
Caso contrário, uma sugestão é preparar uma aula de re-
Faremos isso a seguir, o qual deixará claro como gráficos visão com os conteúdos apresentados até a aula anterior.
boxplot simplificam a análise de dados e a tomada de de-
Po

Uma atividade interessante relacionada a gráficos box-


cisões de dados multivariados. plot é a seguinte: separe a turma em grupos de quatro
ou cinco alunos e peça-os que coletem informações sobre
as distâncias que os alunos da escola percorrem todos os
Exemplo 5. Em um estudo feito sobre os salários de um dias para chegar em suas casas após o dia de estudo, sepa-
grupo de 30 pessoas, separadas em três grupos de acordo rando as observações de acordo com o meio de transporte
com o nı́vel de escolaridade, foram levantados os dados que cada um usa: a pé, bicicleta, transporte público ou
coletados na tabela a seguir: transporte particular. Então, peça que utilizem essas in-
Calculando-se os valores necessários para a construção formações para construir gráficos boxplot em paralelo e
dos Boxplots e desenhando-os em paralelo, obtemos o dia- analisem o resultado em conjunto.
grama a seguir (faça as verificações necessárias):

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Material Teórico - Módulo Inequações Produto e Quociente de Primeiro Grau

Introdução às inequações de primeiro grau

EP
Primeiro Ano do Ensino Médio

Autor: Prof. Fabrı́cio Siqueira Benevides


Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

BM
28 de maio de 2018
lO
r ta
Po
1 Inequações Por fim, multiplicando ambos os lados por 20/7, obtemos
s ≥ 385 · 20
7 = 1100. Logo, Fábio precisa ganhar pelo menos
Em módulos anteriores, já nos deparamos com alguns pro- R$ 1100,00.
blemas sobre inequações. Neste módulo, vamos fazer um
estudo sistemático deste tema. É importante relembrar que o trabalho com inequações
Nesta aula vamos rever inequações de primeiro grau, requer mais cuidado do que o trabalho com equações. Isso
abordando este assunto com uma nova roupagem. Mais porque algumas manipulações que fazemos com frequência
precisamente, discutiremos um procedimento conhecido com equações nem sempre podem ser realizadas com ine-
como estudo da variação do sinal, ou simplesmente, estudo quações. Contudo, algo que podemos fazer normalmente

EP
do sinal. Em aulas seguintes, estudaremos as chamadas ine- é somar ou subtrair um mesmo valor a ambos os lados da
quações produto, as inequações quociente e certos sistemas inequação (como fizemos no exemplo anterior). Em particu-
de inequações. lar, lembre-se de que cancelar uma parcela comum aos dois
Comecemos analisando o exemplo a seguir. lados de uma inequação (ou de uma equação), corresponde
a subtrair tal parcela de ambos os lados; assim, isso pode
Exemplo 1 (PUC). Fábio quer arrumar um emprego de ser feito sem problemas.
modo que, do total do salário que receber, possa gastar 1/4
com alimentação, 2/5 com aluguel e R$ 300,00 em roupas e Exemplo 2. Se quisermos simplificar a inequação
lazer por mês. Descontadas todas essas despesas, ele ainda 3x + 8 > 2x + 29,

BM
pretende que sobre, no mı́nimo, R$ 85,00. Para que suas
pretensões sejam atendidas, seu salário deve ser no mı́nimo podemos primeiro subtrair 8 de ambos os lados (o que
quanto? corresponde a “passar o 8” para o outro lado com sinal
invertido), obtendo
Solução. Vamos representar pela letra s o valor do salário
que Fábio irá receber. As despesas dele totalizam o valor 3x > 2x + 21.

s 2s Em seguida, subtraı́mos 2x de ambos os lados para obter


+ + 300,
4 5 3x − 2x > 21.
sendo s/4 correspondente ao que ele irá gastar com ali- O resultado,
lO
mentação, 2s/5 ao que ele gastará com aluguel e R$ 300,00 x > 21,
a gastos com roupas e lazer. Após realizadas essas despesas,
é uma inequação equivalente à original.
Fábio ficará com
Observação 3. Esse exemplo poderia ter sido resolvido em
s 2s
 
s− + + 300 . um único passo subtraindo-se 2x + 8 de ambos os lados.
4 5
Ao multiplicar ou dividir ambos os lados de uma ine-
Mas, como ele pretende que sobre no mı́nimo 85 reais, a quação por um determinado número (o que também fize-
seguinte inequação precisa ser satisfeita: mos ao final da solução do Exemplo 1), é preciso tomar o
cuidado de verificar se esse número é positivo, negativo ou
ta

s 2s
 
s− + + 300 ≥ 85. zero (no caso de equações basta verificar que o número é
4 5 diferente de zero).
Distribuindo o sinal − no lado esquerdo dessa inequação, Quando o número for positivo, não há problema algum.
ficamos com Mas, quando ele for negativo, é necessário inverter o sinal
da desigualdade. Por exemplo, se soubermos que 3x+6 ≥ 9,
r

s 2s podemos dividir normalmente ambos os lados por 3, pois


 
s− − − 300 ≥ 85.
4 5 3 é positivo, para obter x + 2 ≥ 3. Disso, conclui-se que
Po

x ≥ 1. Mas, se −3y + 6 ≥ −9, então, como −3 é negativo,


Na inequação acima, o número entre parênteses, subtraı́do ao dividirmos ambos os lados por −3 o resultado obtido
de 300, deve ser pelo menos 85. Desse forma, tal número será y − 2 ≤ 3 (observe que, além de inverter os sinais do 6
deve ser pelo menos 385, ou seja, e do 9, o sı́mbolo “≥” passou a ser “≤”). Disso, conclui-se
s 2s que y ≤ 5.
s− − ≥ 385. Lembre-se de que cancelar um fator comum a dois lados
4 5
de uma inequação (ou de uma equação) corresponde a
Agora, vamos simplificar o lado esquerdo, reduzindo dividir ambos os lados da inequação (ou equação) por tal
as frações a um denominador comum. Como o mı́nimo fator. Assim, quando o fator for negativo, devemos inverter
múltiplo comum de 4 e 5 é igual a 20, temos que o sinal da inequação e, quando o fator for zero, não é
20s 5s 8s 7s permitido fazer o cancelamento.
− − ≥ 385 =⇒ ≥ 385. A seguir, exercitamos as observações acima.
20 20 20 20

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Exemplo 4. Resolva cada uma das inequações abaixo, sa- o que, por sua vez, equivale a
bendo que x pertence ao conjunto universo U dado: 19
−10x ≤ − .
(a) 3x − 1 ≥ x + 9, com U = N. 2
Agora, lembre-se de que, ao dividirmos ambos os lados
(b) 4(x − 3) < 5(1 − x), com U = Z. por −10, precisamos inverter o sinal de desigualdade. Assim
(c) 20 − (2x + 5) ≤ 11
+ 8x, com U = Q. fazendo, obtemos
2 19
x≥ .
(d) (5 − x)(7 + x) > 3x − x2 , com U = R. 20
Por fim, como x é um número racional (pois este foi o

EP
Solução. universo dado no enunciado), temos que o conjunto solução
(a) Subtraindo x de ambos os lados, a fim de eliminar a é:
variável x do lado direito da equação, obtemos:
n 19 o
S= x∈Q|x≥ .
20
2x − 1 ≥ 9. (d) Desenvolvendo o produto do lado esquerdo, temos
Agora, somando 1 a ambos os lados, ficamos com 35 + 5x − 7x − x2 > 3x − x2 .

2x ≥ 10. e, daı́ (cancelando a parcela −x2 de ambos os lados),

BM
35 − 2x > 3x.
Como 2 > 0, podemos dividir os dois lados por 2 para obter
x ≥ 5. Logo, x é qualquer número do universo dado (o Dessa vez, somamos 2x a ambos os lados (não há nada
conjunto N dos naturais), maior ou igual a cinco. Dessa de especial no lado esquerdo; podemos muito bem deixar
forma, o conjunto solução é todas as ocorrências de x no lado direito), chegando a

S = {5, 6, 7, . . .}. 35 > 5x.


Então, dividindo os dois lados por 7, ficamos com
(b) A inequação do enunciado equivale a
7>x
4x − 12 < 5 − 5x.
lO
ou, o que é o mesmo,
Este formato facilita o passo seguinte, que, como no item an- x < 7.
terior, tem o objetivo de fazer com que todas as ocorrências Uma vez que nosso universo, nesse caso, é o conjunto R
da variável x estejam num mesmo lado da inequação, en- dos reais, o conjunto solução é:
quanto os termos independentes fiquem do outro lado. Para
isso, uma possibilidade é somar 5x + 12 a ambos os lados, S = {x ∈ R | x < 7} = (−∞, 7).
o que fornece

(4x − 
1
2 ) + (5x + 
1
2 ) < (5 − 
5x
) + (
5x
 + 12)
ta

ou, ainda,
2 Estudo da variação de sinal
9x < 17. Estudar o sinal de uma função f significa descobrir os
Dividindo ambos os lados por 9, chegamos a x < 17/9. valores da variável x (pertencentes ao domı́nio de f e)
Agora, perceba que o enunciado também diz que x deve ser que tornam f (x) positivo, negativo ou zero. De outra
r

um número inteiro. Então, como 17/9 = 1,888 . . ., segue forma, analisar o sinal de f (x) é o mesmo que encontrar
que x ≤ 1. Sendo assim, x é qualquer inteiro menor ou os conjuntos soluções das inequações f (x) > 0 e f (x) < 0,
Po

igual a 1, e o conjunto solução é bem como da equação f (x) = 0.


Nesta seção, vamos considerar que o conjunto universo é
S = {x ∈ Z | x ≤ 1} = {1, 0, −1, −2, . . .}. sempre o conjunto R dos números reais. Quanto ao domı́nio
de cada função tratada aqui, suporemos que ele é o maior
(c) Inicialmente, simplificando o lado esquerdo da inequação, conjunto de reais para o qual a lei de formação da função
temos: está bem definida.
11
15 − 2x ≤ + 8x. A análise de sinal de uma função de primeiro grau é
2
simples, pois o sinal muda exatamente uma vez, à medida
Argumentando como em (b) (dessa vez somando −8x − 15 que a variável x percorre o conjunto dos reais. Mais adiante,
a ambos os lados), ficamos com quantificaremos essa afirmação de maneira mais precisa.
11 Por ora, é conveniente começar examinando um par de
−2x − 8x ≤ − 15, exemplos numéricos.
2

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Exemplo 5. Analise o sinal da função real f , dada por y
f (x) = 0,5x − 2.
Solução. Primeiramente, veja que:
f (x) = 0 ⇐⇒ 0,5x − 2 = 0 ⇐⇒ 0,5x = 2 ⇐⇒ x = 4. (0, 1)
Agora, perceba que f é um função afim, pois é da forma + +
f (x) = ax + b com a 6= 0; neste exemplo, temos a = 0,5 e (1/2, 0)
x
b = −2.
O gráfico de uma função afim é uma reta e, como o − −

EP
coeficiente de x é positivo, o valor f (x) cresce à medida
que x cresce. Então, para desenhá-lo, basta encontrar dois
pontos do gráfico. Pelo que vimos acima, quando f (x) = 0
temos x = 4; logo, a reta passa pelo ponto (4, 0). Ademais,
quando x = 0, temos f (0) = 0,5 · 0 − 2 = −2; logo, a reta
passa pelo ponto (0, −2). Podemos, pois, desenhar o gráfico Neste caso, temos que:
como segue:
• f (x) < 0 quando x > 1/2;

BM
y

• f (x) = 0 quando x = 1/2;


++
x • f (x) > 0 quando x < 1/2.
− − − − (4, 0)

(0, −2)
Observe, pelos dois exemplos anteriores, que o mais im-
lO
portante é, na verdade, obter o ponto onde a função é zero
Perceba que, para todos os valores de x menores que 4, e decidir se a reta que representa o gráfico está subindo ou
a porção correspondente do gráfico de f (a reta azul, na descendo, à medida que o valor de x aumenta. Conforme
figura acima) está situada abaixo do eixo-x, de forma que observamos nos exemplos, quando ela está subindo dizemos
f (x) é negativo para x < 4. Por outro lado, para os valores que a função é crescente e quando está descendo dizemos
de x maiores que 4, a porção correspondente do gráfico está que ela é decrescente.
acima do eixo-x, logo, f (x) é maior que zero para x > 4.
Na prática, para funções afins, o crescimento ou decresci-
Concluı́mos, então, que:
mento pode ser determinado simplesmente olhando para o
• f (x) < 0 quando x < 4; sinal do coeficiente de x:
ta

• f (x) = 0 quando x = 4;
• quando f (x) = ax + b e a > 0 temos que a função é
• f (x) > 0 quando x > 4. crescente (pois quando x aumenta em uma unidade o
valor de f (x) aumenta em a unidades);
r

O próximo exemplo traz uma função de primeiro grau


• quando a < 0, temos que a função é decrescente;
cujo coeficiente de x é negativo. Nessa circunstância, tere-
Po

mos uma função decrescente, o que inverterá os intervalos


nos quais a função é positiva ou negativa. • por fim, igualando f (x) a 0, obtemos
Exemplo 6. Analise o sinal da função f (x) = −2x + 1.
ax + b = 0 ⇐⇒ x = −b/a.
Solução. Como antes, começamos resolvendo a equação
f (x) = 0, o que nos dá x = 1/2. Logo, o ponto (1/2, 0) está
no gráfico da função. Além disso, fazendo x = 0 obtemos Logo, temos uma das duas situações da figura a seguir.
f (0) = 1, de modo que o ponto (0, 1) também está no Aqui não desenhamos o eixo-y, pois o ponto exato onde
gráfico. o gráfico corta o eixo-y não é relevante para a nossa
Agora, uma vez que f (x) = −2x + 1 também é uma análise. Por outro lado, marcamos as regiões em que f (x)
função afim, basta traçar a reta que passa pelos pontos é negativo ou positivo.
(1/2, 0) e (0, 1), como na figura seguinte:

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Caso a > 0 1/2
+ x
x 2x − 1 − 0 +
− −b/a

A função g(x) = −3x + 2 também é uma função afim,


tal que

Caso a < 0 −3x + 2 = 0 ⇐⇒ −3x = −2 ⇐⇒ x = 2/3.


+

EP
x Entretanto, dessa vez o coeficiente de x é negativo, de forma
−b/a − que a função é decrescente, ou seja, quanto maior o valor
de x menor será o valor de g(x). Com isso, para x < 2/3
temos que g(x) > 0 e para x > 2/3 temos que g(x) < 0.
Novamente, esses dados podem ser exibidos de forma
Será conveniente expressar os dados dos gráficos acima no
compacta na seguinte tabela:
formato de uma tabela, similar às seguintes. Na primeira
linha, colocamos o(s) valor(es) de x para o qual(is) a função
é zero; no caso da função afim f (x) = ax + b, temos apenas 2/3

BM
x
o valor −b/a. Na segunda linha, indicamos que função −3x + 2 + 0 −
estamos analisando e em quais intervalos da reta ela é
positiva ou negativa.

−b/a
x
ax + b 3 Revisitando a resolução de ine-
− 0 +
caso a > 0
quações
−b/a
Uma variação simples de inequações é uma f (x) ≥ 0. Ma-
lO
x
ax + b tematicamente, o fato de querermos encontrar os valores
+ 0 −
caso a < 0 de x para os quais f (x) seja maior ou igual a zero significa
que estamos à procura da ocorrência de uma qualquer das
Esse tipo de tabela facilitará bastante o desenvolvimento possibilidades f (x) > 0 ou f (x) = 0. De outra forma, tais
das próximas aulas, onde estudaremos os sinais de duas ou casos não excluem um ao outro.
mais funções ao mesmo tempo. Assim, os valores de x que não satisfazem f (x) ≥ 0 são
Nesse formato, a informação do gráfico do Exemplo 6 justamente os que satisfazem f (x) < 0. Desse modo, ao
seria escrita como abaixo: resolvermos a equação f (x) = 0 e a inequação f (x) ≥ 0
ta

acabamos fazendo (indiretamente) uma análise do sinal de


f (x).
1/2
x Em termos de conjunto solução para a inequação f (x) ≥
−2x + 1 + 0 − 0, devemos tomar o conjunto solução da inequação f (x) > 0,
o conjunto solução da equação f (x) = 0 e, em seguida, unir
r

os dois. Evidentemente, observações análogaas são válidas


Exemplo 7. Estude os sinais das funções f (x) = 2x − 1 e para inequações da forma f (x) ≤ 0.
g(x) = −3x + 2. Vejamos um
Po

Solução. Temos que f (x) é uma função afim, com Exemplo 8. Resolva a inequação 6 − 2x ≥ 0, para x ∈ R.

2x − 1 = 0 ⇐⇒ 2x = 1 ⇐⇒ x = 1/2. Solução. Vamos estudar o sinal da função g(x) = 6 − 2x.


Primeiro, igualamos a função a zero, obtendo:
Como o coeficiente de x é positivo, a função é crescente, ou
seja, f (x) aumenta à medida que x aumenta. Sendo assim, g(x) = 0 ⇐⇒ 6 − 2x = 0 ⇐⇒ −2x = −6 ⇐⇒ x = 3.
para valores de x menores que 1/2, temos que f (x) será
negativo, enquanto que, para valores de x maiores que 1/2, Agora, observe que o coeficiente de x é igual a −2, que é
temos que f (x) será positivo. negativo; sendo assim, a função g é decrescente. A figura
Esses dados podem ser exibidos de forma compacta na seguinte mostra parte do gráfico de g(x) (omitindo o eixo-
seguinte tabela: y).

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+
x
3 −

Concluı́mos, pois, que:

• f (x) > 0 quando x < 3,

EP
• f (x) = 0 quando x = 3 e
• f (x) < 0 quando x > 3.

Em particular, veja que a resposta da inequação do


enunciado é dada pelo conjunto solução

S = {x ∈ R | x < 3} ∪ {3} = (−∞, 3].

Dicas para o Professor


Inequações de primeiro grau são bastante simples, de
forma que é possı́vel apresentar o assunto desta aula em
um único encontro. A diferença crucial entre inequações e
equações de primeiro grau é que devemos tomar o cuidado
de, ao multiplicar ambos os lados por um número nega-
BM
lO
tivo, inverter o sinal da inequação. Isso deve ser bastante
enfatizado.
A resolução de inequações por intermédio da análise
do sinal da função afim correspondente acaba sendo mais
trabalhosa do que a resolução de forma direta (algébrica).
Contudo, entender esse procedimento é um passo impor-
tante, pois ele será muito útil quando o problema for ge-
neralizado para inequações de segundo grau, inequações
ta

produto, inequações quociente ou sistemas de inequações.


As referências listadas abaixo contêm muito mais material
sobre inequações e desigualdades.

Sugestões de Leitura Complementar


r

1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Volume


Po

1: Números Reais. SBM, Rio de Janeiro, 2013.


2. G. Iezzi Os Fundamentos da Matemática Elementar,
Volume 1: Números Reais e Funções. Atual Editora,
Rio de Janeiro, 2013.

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Material Teórico - Inequações Produto e Quociente de Primeiro Grau

Inequações-Produto

EP
Primeiro Ano do Ensino Médio

Autor: Prof. Fabrı́cio Siqueira Benevides


Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

BM
23 de junho de 2018
lO
r ta
Po
1 Introdução f (x) = x

Antes de definir o que são inequações produto, no primeiro 0 + + + + + + + +


x
exemplo desta aula vamos resolver uma inequação de se-
− −
gundo grau. Apesar de que na aula anterior aprendemos a
resolver apenas inequações de primeiro grau, bastam algu-
mas observações para conseguirmos resolver esse primeiro
problema. Na seção 3 faremos um estudo mais geral sobre
inequações de segundo grau. g(x) = x − 3

EP
Exemplo 1. Encontre os valores reais de x que satisfazem + +
3
a desigualdade x2 − 3x > 0. x
2
Solução. A ideia é fatorarmos a expressão x − 3x, colo- − − − − − − − −
cando x em evidência. Dessa forma, obtemos
x(x − 3) > 0. Observe que, conjuntamente, os zeros de f (x) e g(x), ou
Agora, a observação crucial é que, para o resultado do seja, os pontos do eixo-x onde x = 0 ou x = 3, dividem os
eixo-x em três intervalos: (−∞, 0), (0, 3) e (3, ∞) (veja a

BM
produto x(x − 3) ser positivo, é necessário e suficiente que
ambos os fatores sejam positivos ou ambos sejam negati- figura abaixo):
vos. Sendo assim, basta analisarmos separadamente estes
dois casos: 0 3
x
Caso 1. Ambos os fatores são positivos, x > 0 e x − 3 > 0:
como a segunda inequação claramente equivale a Em cada um desses intervalos, podemos determinar fa-
x > 3, concluı́mos que x deve satisfazer simulta- cilmente o sinal de f (x) · g(x). Realmente:
neamente as condições x > 0 e x > 3. Mas, uma
vez que todo número maior que 3 já é automati- i. Quando x < 0, temos que f (x) < 0 e g(x) < 0, logo,
camente maior do que 0, basta que seja x > 3. f (x) · g(x) > 0.
lO
Caso 2. Ambos os fatores são negativos, x < 0 e x − 3 < 0: ii. Quando 0 < x < 3, temos que f (x) > 0 e g(x) < 0,
a segunda inequação equivale a x < 3, de sorte que logo, f (x) · g(x) > 0.
deve ser x < 0 e x < 3. Dessa vez, a restrição mais
forte é x < 0. iii. Quando x > 3, temos f (x) > 0 e g(x) > 0, logo,
f (x) · g(x) > 0.
Note que os dois casos dão soluções válidas e que x é uma
solução quando satisfaz as restrições do Caso 1 ou do Caso Veja ainda que, para x = 0 e x = 3, temos f (x)·g(x) = 0.
2. Temos, então, que x < 0 ou x > 3, e o conjunto-solução Essas informações são resumidas na figura abaixo:
é a união dos intervalos abertos (−∞, 0) e (3, ∞):
ta

Sinal de f (x) · g(x) em cada intervalo:


S = {x ∈ R : x < 0 ou x > 3}
0 3
= (−∞, 0) ∪ (3, ∞). x
+ + + 0 − − − − − 0 + + +
r

Solução alternativa. A técnica que usaremos aqui será Portanto, a expressão f (x) · g(x), ou seja, x(x − 3), é
explorada exaustivamente no restante deste módulo. Como positiva precisamente quando x < 0 ou x > 3.
Po

na solução anterior, temos que resolver a inequação x(x −


3) > 0. Faremos um pouco mais do que isso: vamos A segunda solução parece ser mais complicada do que a
descobrir quando x(x − 3) é positivo, quando é nulo e primeira, mas ela tem a vantagem de poder ser generali-
quando é negativo. Para isso, consideremos separadamente zada para o produto de uma quantidade maior de funções.
as funções f (x) = x e g(x) = x − 3 e façamos o estudo do Como estamos interessados em saber apenas em quais in-
sinal de cada uma delas, conforme aprendemos na aula an- tervalos cada função é positiva, negativa ou nula, a partir
terior. Ambas as funções são de primeiro grau e possuem de agora vamos resumir as informações dos gráficos em ta-
coeficientes de x positivo. Assim, ambas são crescentes. belas chamadas quadros de sinais. Estas tabelas são seme-
Veja que f (x) é nula quando x = 0 e g(x) é nula quando lhantes às da aula passada, mas incluiremos as informações
x = 3, o que nos dá os gráficos das seguintes retas (onde de várias funções simultaneamente. Por exemplo, as in-
não desenhamos o eixo-y, pois sua posição é irrelevante formações dos sinais das funções f (x) = x e g(x) = x − 3
para este problema): do exemplo anterior podem ser resumidas como segue:

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0 3 Como f (x) é uma função de primeiro grau onde o coefici-
x ente de x é positivo, a tabela de variação do sinal de f (x)
x − 0 + + é a seguinte:

x−3 − − 0 + −2
x
x(x − 3) + 0 − 0 + 2x + 4 − 0 +

Análise do sinal de g(x) = 6x−3: como antes, fazemos

EP
Na primeira coluna, indicamos quais funções estão sendo g(x) = 0 para achar a raiz de g:.
estudadas. Na primeira linha, marcamos (em ordem cres-
cente) os pontos do eixo-x que anulam pelo menos uma das 6x − 3 = 0 =⇒ 6x = 3 =⇒ x = 1/2.
funções estudadas. Esses pontos dividem o eixo-x em inter-
Também como acima, g(x) é uma função de primeiro grau
valos, que correspondem às demais colunas da tabela. Em
com coeficiente de x é positivo, de forma que temos o se-
cada linha após a primeira, indicamos se uma das funções
guinte quadro de sinais:
de interesse é positiva ou negativa nesses intervalos. Entre
uma coluna e outra colocamos o sı́mbolo 0 caso a função 1/2

BM
que estamos analisando seja anulada naquele ponto. Por x
fim, aproveitamos também a borda inferior da tabela para 6x − 3 − 0 +
demarcar o conjunto-solução do problema em questão.
Elaboração do quadro de sinais: para finalizar, va-
mos organizar as raı́zes encontradas, neste caso apenas os
2 Inequações-produto números −2 e 1/2, em ordem crescente sobre uma mesma
reta e descrever o sinal das funções f (x), g(x) e f (x) · g(x)
Dadas funções reais f (x) e g(x), chamamos inequação-
em cada um dos intervalos determinados pelas raı́zes. O
produto a toda inequação de uma das seguintes formas:
resultado é a seguinte tabela de sinais (logo abaixo dela,
f (x) · g(x) ≥ 0, explicaremos em detalhes como a construı́mos):
lO
f (x) · g(x) > 0, −2 1/2
f (x) · g(x) ≤ 0, x
f (x) · g(x) < 0, 2x + 4 − 0 + +
f (x) · g(x) 6= 0. 6x − 3 − − 0 +

(2x + 4)(6x − 3) + 0 − 0 +
Para resolvê-las, basta fazer a análise das variações de
ta

sinal de f (x) e de g(x), como na seção anterior, e em se-


guida organizar os resultados para encontrar quais valores Observe primeiro a linha correspondente à função
de x fazem com que o produto f (x) · g(x) tenha o sinal de- f (x) = 2x + 4. A função f (x) é negativa apenas quando
sejado. A seguir, implementamos essa estratégia em alguns x < −2; sendo assim, tanto no intervalo entre −2 e 1/2
exemplos. como no intervalo de 1/2 em diante temos que f (x) é po-
sitiva. De modo semelhante, na linha da função g(x) =
r

Exemplo 2. Encontre todos os valores reais de x que sa- 6x − 3, temos que a mesma é negativa quando x < 1/2,
tisfazem (2x + 4)(6x − 3) > 0. logo, ela também é negativa nos intervalos (−∞, −2) e
Po

(−2, 1/2). Os ‘zeros’ indicam onde cada uma das funções


Solução. Vamos resolver essa inequação de modo seme- é igual a zero. A última linha, correspondente à função
lhante ao que fizemos na solução alternativa do Exemplo 1. (2x + 4)(6x − 3), é obtida usando a regra dos sinais para
Organizaremos diretamente os resultados em quadros de calcular o produto dos sinais em cada coluna: o produto
sinais, como descrito no final da seção anterior. de dois sinais iguais é positivo e o de dois sinais distintos
Sejam f (x) = 2x + 4 e g(x) = 6x − 3. Primeiramente, é negativo.
devemos analisar o sinal de cada uma dessas funções. Por fim, abaixo da última linha, marcamos qual(is)
parte(s) da reta real pertence(m) ao conjunto-solução.
Análise do sinal de f (x) = 2x + 4: começamos fazendo Como a inequação deste exemplo é do tipo “>” (estrita-
f (x) = 0 para encontrar sua raiz: mente maior que), vamos marcar os trechos em que te-
mos o sinal “+” na última linha. Além disso devemos
2x + 4 = 0 =⇒ 2x = −4 =⇒ x = −2. tomar o cuidado de indicar se os extremos do intervalo da

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solução (ou seja, os números −2 e 1/2) pertencem ou não em que o produto é positivo ou zero. Então, neste caso, o
ao conjunto-solução. Neste exemplo, estes valores zeram conjunto-solução é o intervalo fechado [4, 5]. Logo,
uma das funções e, portanto, zeram seu produto (observe
os ‘zeros’ na tabela, que indicam quais funções são zero S = [4, 5] = {x ∈ R : 4 ≤ x ≤ 5}.
naquele ponto).
Se a inequação fosse do tipo “≥” ou “≤” os pontos que
zeram a função produto fariam parte da solução. Mas,
Uma solução diferente para os exemplos anteriores seria
em inequações do tipo “>” ou “<”, estes zeros da função
expandir o produto (2x + 4)(6x − 3) e fazer diretamente a
produto não fazem parte solução. No quadro de sinais, dis-

EP
análise do sinal da função de segundo grau obtida; veremos
tinguimos estes dois casos usando uma bolinha toda preen-
exemplos disso na Seção 3. Em alguns casos, esse método
chida (como ) no primeiro caso (quando os valores fazem
pode ser mais simples, mas em outros ele é inviável pela
parte da solução) e uma bolinha oca (como ) no segundo
quantidade contas ou pelo fato do produto obtido ser uma
caso (quando os valores não fazem parte da solução).
função de grau maior do que 2, como veremos nos exemplos
Dessa forma, os valores de x que satisfazem a inequação
seguintes. Por isso é importante aprender os dois métodos.
original são os que pertencem ao seguinte conjunto:
É possı́vel, também, que a inequação-produto seja formada
por três ou mais fatores.
S = (−∞, −2) ∪ (1/2, ∞)

BM
= {x ∈ R : x < −2 ou x > 1/2}. Exemplo 4. Encontre todos os valores reais de x tais que

(5x − 15)(6 − x)(3x − 12) > 0.

Exemplo 3. Resolva a inequação (5 − x)(2x − 8) ≥ 0. Solução. Neste problema, vamos estudar os sinais de três
funções: f (x) = 5x − 15, g(x) = 6 − x e h(x) = 3x − 12.
Solução. Analisamos separadamente os sinais das funções Veja que 3 é a única raiz de f (x), 6 é a única raiz de
f (x) = 5 − x e g(x) = 2x − 8. Seremos um pouco mais g(x) e 4 é a única raiz de h(x). Dessa vez, vamos cons-
breves no que diz respeito a análise do sinal de cada uma truir diretamente o quadro de sinais final. Conjuntamente,
delas, deixando os detalhes a cargo do leitor. temos que marcar os pontos 3, 4 e 6 (nesta ordem) no eixo-
A função f (x) = 5 − x é decrescente (pois o coeficiente x. A função f (x) é negativa para valores menores que 3,
lO
de x é negativo) e é anulada quando x = 5. Assim, seu a função g(x) é negativa para valores maiores do que 6 e
quadro de sinais é como abaixo: a função h(x) é negativa para valores menores que 4. O
resultado é o quadro de sinais abaixo:
5
x
5−x + 0 − 3 4 6
x
f (x) = 5x − 15 − 0 + + +
Por sua vez, g(x) = 2x−8 é crescente e é anulada quando
ta

x = 4, com o que obtemos o quadro de sinais a seguir: g(x) = 6 − x + + + 0 −

4 h(x) = 3x − 12 − − 0 + +
x
2x − 8 − 0 + f (x) · g(x) · h(x) + 0 − 0 + 0 −
r

Agora, agrupando estas informações em um único qua- Dessa forma, observando os intervalos onde a função pro-
dro de sinais, temos: duto é estritamente positiva, temos o conjunto-solução:
Po

4 5 S = (−∞, 3) ∪ (4, 6)
x
= {x ∈ R : x < 3 ou 4 < x < 6}.
5−x + + 0 −

2x − 8 − 0 + +
Alguns problemas que parecem ser complicados podem
(5 − x)(2x − 8) − 0 + 0 − ser fáceis, se atacados da forma certa.

Exemplo 5. Resolva, em R, a inequação a seguir:


Os valores de x que satisfazem a inequação original (que
é do tipo “‘≥”) são aqueles que correspondem a intervalos (3x − 8)4 (6x − 9)5 (2x + 7) > 0.

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Solução. Sejam f (x) = (3x − 8)4 , g(x) = (6x − 9)5 e Os valores de x que satisfazem a inequação do enunciado
h(x) = 2x + 7. são aqueles em que x < 3 ou x > 3, ou seja, todos os
Aqui, a ideia é lembrar que todo número real não nulo, número reais, exceto o número x = 3. Assim, o conjunto-
quando elevado a um expoente par, resulta em um número solução é
positivo. Sendo assim, a função f (x) ou é igual a zero
ou é positiva. É importante lembrar que ela é igual zero S = {x ∈ R : x 6= 3} = R − {3}.
exatamente quando 3x − 8 = 0, ou seja, quando x = 8/3.
Mas, como a inequação do problema é estrita, o número
8/3 não poderá fazer de seu conjunto-solução. Assim, não

EP
podemos ignorar completamente a função f (x). Solução alternativa. É instrutivo observar que, escre-
Por sua vez, temos g(x) = (6x − 9)4 · (6x − 9), de sorte vendo 3x − 9 = 3(x − 3) e 3 − x = −(x − 3), obtemos
que, por um argumento análogo ao do parágrafo anterior,
(6x − 9)4 é positivo quando 6x − 9 6= 0. Assim, o sinal de (3x − 9)(3 − x) = 3(x − 3) · [−(x − 3)] = −3(x − 3)2 .
g(x) é igual ao sinal de 6x − 9, e é fácil analisar o sinal de
g(x). Veja, ainda, que 3/2 é a única raiz real de g(x). Então, queremos resolver a inequação −3(x − 3)2 < 0, que
Por fim, a função h(x) possui o número −7/2 como única equivale a
raiz e já sabemos como fazer a análise de seu sinal. (x − 3)2 > 0.

BM
Notando que −7/2 < 3/2 < 8/3, resumimos a discussão
acima no seguinte quadro de sinais: Como já observamos, a potência de expoente par (x − 3)2
é positiva se não for igual a zero, e só se anula quando
x − 3 = 0, isto é, x = 3. Então, chegamos novamente ao
−7/2 3/2 8/3
x conjunto-solução S = {x ∈ R; x 6= 3}.
f (x) = (3x − 8)4 + + + 0 +

g(x) = (6x − 9)5 − − 0 + + 3 Estudo da variação de sinal em


h(x) = 2x + 7 − 0 + + +
funções de segundo grau
lO
Uma inequação de segundo grau é uma inequação do tipo
f (x) · g(x) · h(x) + − + +
f (x) > 0, f (x) ≥ 0, f (x) < 0 ou f (x) ≤ 0, onde

f (x) = ax2 + bx + c
Então, o conjunto-solução consiste dos reais x tais que x <
−7/2 ou 3/2 < x < 8/3 ou x > 8/3.
é uma função de segundo grau. Há duas estratégias gerais
para resolver uma inequação de um desses tipos.
É possı́vel que as diferentes funções envolvidas em um
A primeira estratégia funciona no caso em que f (x) pos-
produto sejam anuladas em um mesmo ponto. Esse é o
ta

sui raı́zes reais, digamos r1 e r2 . Neste caso, consideramos


caso do exemplo a seguir, onde veremos que isso não im-
a forma fatorada f (x) = a(x − r1 )(x − r2 ) e resolvemos
pede que o método que estamos utilizando seja aplicado.
a inequação original como uma inequação-produto. Isso é
Exemplo 6. Encontre todos os valores reais de x tais que essencialmente o que fizemos no Exemplo 1.
(3x − 9)(3 − x) < 0. Quando f (x) não possui raı́zes reais, essa estratégia não
funciona. De toda forma, sempre é possı́vel fazer a análise
r

Solução. Seja f (x) = 3x − 9 e g(x) = 3 − x. Temos que de sinal de uma função de segundo grau facilmente, estu-
f (x) é zero apenas quando x = 3, o mesmo valendo para dando os possı́veis tipos de gráficos de f (x). Essa é nossa
Po

g(x). Neste caso, o nosso quadro de sinais tem apenas o segunda estratégia.
ponto x = 3 marcado sobre o eixo-x. Como a função f (x) No caso de funções de segundo grau, a análise de seu
é crescente enquanto que g(x) é decrescente, obtemos: sinal depende tanto do sinal do coeficiente de x2 como do
sinal do seu discriminante ∆ = b2 − 4ac. Complementado
3 o que havı́amos estudado no módulo sobre funções de se-
x gundo grau, a Figura 1 realça como se comporta o sinal da
3x − 9 − 0 + função de segundo grau f (x) = ax2 + bx + c em todos os
possı́veis casos. Como de costume, devemos tomar cuidado
3−x + 0 − também com os pontos em que essa função é zero.

(3x − 9)(3 − x) − 0 − Exemplo 7. Faça a análise da variação do sinal da função


f (x) = x2 − 5x + 4.

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1 4
a > 0, ∆ < 0 x
x−1 − + 0 +
a > 0, ∆ = 0

a > 0, ∆ > 0 x−4 − 0 − +

f (x) = (x−1)(x−4) + 0 − 0 +
+ + + +
+
x x x

EP
− Então, f (x) < 0 se, e somente se, 1 < x < 4.

+ Exemplo 8. Encontre todos os valores reais de x que sa-


− − x x − x tisfazem a seguinte inequação: x(x − 2) > x(2x + 1).
− −
Solução. Veja que não podemos simplesmente cancelar
a < 0, ∆ > 0 x dos dois lados da inequação, pois não sabemos se x é
positivo, negativo ou zero, e o efeito do cancelamento de-

BM
a < 0, ∆ = 0 pende do sinal de x. Assim, para simplificar a inequação
a < 0, ∆ < 0
vamos começar desenvolvendo os produtos dos dois lados,
obtendo
x2 − 2x > 2x2 + x.
Isso equivale a
Figura 1: sinais da função f (x) = ax2 + bx + c de acordo
com os sinais de a e ∆. (x2 − 2x) − (2x2 + x) > 0

ou, ainda, a
Solução. Calculando ∆ = (−5)2 − 4 · 1 · 4 = 9, vemos que
lO
f (x) possui as raı́zes 1 e 4 (em particular, estamos no caso −x2 − 3x > 0.
em que ∆ > 0). Além disso, ela possui concavidade para Como
cima, pois a = 1 > 0. Observando o caso a > 0, ∆ > 0 na −x2 − 3x > 0 ⇐⇒ x2 + 3x < 0,
Figura 1, concluı́mos que:
concluı́mos que basta analisar o sinal da função f (x) =
• f (x) > 0 quando x < 1 ou x > 4; x2 + 3x, descobrindo onde ela é estritamente negativa.
Lembrando do que foi estudado no módulo sobre funções
• f (x) = 0 quando x = 1 ou x = 4; quadráticas, vemos que o gráfico dessa função corta o eixo-
ta

x em x = −3 e x = 0, sendo uma parábola com concavi-


• f (x) < 0 quando 1 < x < 4.
dade para cima. Podemos esboçar tal gráfico como abaixo
Usando um quadro de sinais, este resultado pode ser (novamente, estamos no caso em que a > 0 e ∆ > 0 da
descrito da seguinte maneira sucinta: Figura 1):
r

f (x)
1 4
x
Po

2
x − 5x + 4 + 0 − 0 +
+ +

−3 0 x

Solução alternativa. Assim como na solução anterior, −


iniciamos observando que as raı́zes da equação x2 −5x+4 =
0 são 1 e 4. Então, escrevemos a expressão x2 − 5x + 4 em
sua forma fatorada, (x−1)(x−4), o que mostra que o sinal
de f (x) depende dos sinais das funções x − 1 e x − 4. O re-
sultado desejado segue do quadro de sinais para o produto Então, concluı́mos que f (x) < 0 precisamente quando
f (x) = (x − 1)(x − 4): −3 < x < 0.

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Observação 9. Retomando nossa observação inicial na Note que, desta vez, como a inequação é do tipo “≤”,
solução anterior, veja que, se apenas cancelássemos x na devemos escolher os intervalos com sinal negativo, junta-
inequação original, obterı́amos x − 2 > 2x + 1, o que cor- mente com suas extremidades. Assim, o conjunto-solução
responderia a x < −3. Mas, como sabemos pela solução é:
apresentada, esta resposta está errada.
Contudo, sugerimos ao leitor refazer o exemplo anterior S = [−2, 2] ∪ [3, ∞)
a partir da observação de que = {x ∈ R : −2 ≤ x ≤ 2 ou x > 3}.
x(x − 2) > x(2x + 1) ⇐⇒ x(x − 2) − x(2x + 1) > 0

EP
⇐⇒ x[(x − 2) − (2x + 1)] > 0
Solução alternativa. Fatorando 8 − 2x2 , temos:
⇐⇒ x(−x − 3) > 0
⇐⇒ x(x + 3) < 0. 8 − 2x2 = 2(4 − x2 ) = 2(2 − x)(2 + x).

Exemplo 10. Encontre todos os valores de x que satisfazem Temos também que
a inequação (8 − 2x2 )(6x − 18) ≤ 0.
6x − 18 = 6(x − 3).
Solução. Considere as funções f (x) = 8 − 2x2 e
g(x) = 6x − 18.

BM
Dessa forma, a inequação do exemplo é equivalente a

Análise do sinal de f (x): inicialmente, fazendo f (x) = 2(2 − x)(2 + x)6(x − 3) ≤ 0


0, obtemos
ou, simplesmente,
8 − 2x2 = 0 ⇐⇒ 2x2 = 8 ⇐⇒ x2 = 4
⇐⇒ x = −2 ou x = 2. (2 − x)(2 + x)(x − 3) ≤ 0.

Assim temos duas raı́zes distintas (o que indica ∆ > Agora, essa inequação está no formato adequado para ser
0) e o coeficiente de x2 é negativo. Observando o caso resolvida usando o mesmo método do Exemplo 4.
a < 0, ∆ > 0 da Figura 1, construı́mos o quadro de sinais
lO
abaixo:

−2 2 Dicas para o Professor


x
8 − 2x2 − 0 + 0 − Recomendamos que este assunto seja abordado em dois en-
contros de 50 minutos. É importante que os exemplos re-
solvidos sejam os mais variados possı́veis, para que o aluno
Análise do sinal de g(x): fazendo g(x) = 0, temos: não faça inferências errôneas a respeito do assunto. Em
6x − 18 = 0 ⇐⇒ x = 3. particular, nos exemplos de inequações-produto, tente in-
ta

cluir combinações de fatores que cubram o maior número


Como g(x) é uma função de primeiro grau onde o coefici- possı́vel de casos da Figura 1 – por exemplo, é possı́vel que
ente de x é positivo, estamos na seguinte situação: em certas inequações o conjunto-solução seja vazio ou con-
tenha apenas um ponto. Também seria interessante fazer
3 um exemplo com três fatores de grau dois que possuem al-
x guns zeros em comum. Faremos mais exemplos nas aulas
r

6x − 18 − 0 + seguintes desse módulo.


Apesar de que neste material não desenhamos muitos
Po

Quadro de sinais para o produto: agrupando os re- gráficos, ao resolver os problemas no quadro-negro, fa-
sultados em uma única tabela, como −2 < 2 < 3, ficamos zer um rápido esboço dos gráficos das funções (lineares e
com o quadro seguinte: quadráticas) facilitará bastante a compreensão e o preen-
chimento do quadro de variação dos sinais. Nesse sentido,
−2 2 3 é muito importante que o aluno tenha em mente a forma
x desses gráficos, no lugar de simplesmente memorizar a or-
8 − 2x2 − 0 + 0 − − dem dos sinais nas tabelas.
As leituras complementares abaixo contêm mais mate-
6x − 18 − − − 0 + rial sobre desigualdades e inequações.

(8 − 2x2 )(6x − 18) + 0 − 0 + 0 −

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Sugestões de Leitura Complementar
1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Vo-
lume 1: Números Reais. SBM, Rio de Janeiro, 2013.
2. G. Iezzi Os Fundamentos da Matemática Elementar,
Volume 1: Números Reais e Funções. Atual Editora,
Rio de Janeiro, 2013.

EP
BM
lO
r ta
Po

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Material Teórico - Inequações Produto e Quociente de Primeiro Grau

Inequações Quociente

EP
Primeiro Ano do Ensino Médio

Autor: Prof. Fabrı́cio Siqueira Benevides


Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

BM
27 de julho de 2018
lO
r ta
Po
1 Inequações Quociente
f (x) = 2x + 1
Dadas funções f (x) e g(x), chama-se de inequação-
quociente toda inequação de uma das seguintes formas: −1/2 + + + + + + + +
x
− − −
f (x) f (x) f (x) f (x) f (x)
≥ 0, > 0, ≤ 0, < 0, 6= 0.
g(x) g(x) g(x) g(x) g(x)
Lembre-se de que, em uma fração, a parte de cima é

EP
chamada de numerador e a de baixo de denominador. As- g(x) = x − 2
sim, nos exemplos acima, g(x) representa o denominador. + +
É importante saber que, em toda fração, o denominador 2
x
precisa ser diferente de zero; caso contrário, a fração não − − − − − − −
f (x)
terá sentido matemático. A fração também pode ser
g(x)
escrita como f (x)/g(x), mas quando f (x) é uma expressão Resumindo a informação sobre os sinais de f (x), g(x) que
longa a forma que escrevemos primeiro costuma ser mais observamos nos gráficos e calculando o sinal de f (x)/g(x)

BM
clara. em cada um dos intervalos determinado pelas raı́zes de f
A resolução de inequações-quociente é muito semelhante e g, obtemos o seguinte quadro de sinais (para maiores
à das inequações-produto, mas aqui devemos ter o cuidado detalhes, veja a aula anterior, sobre inequações-produto):
adicional de que o denominador seja diferente zero. Ou
seja, nas inequações acima precisamos ter g(x) 6= 0 para −1/2 2
que x pertença ao conjunto solução, independentemente do x
sinal da inequação. f (x) = 2x + 1 − 0 + +
Exemplo 1. Resolva a inequação g(x) = x − 2 − − 0 +
2x + 1
≤0 f (x)
lO
x−2 + 0 − +
g(x)
no conjunto universo dos números reais.
Solução. Considere f (x) = 2x + 1 e g(x) = x − 2. Que- Por fim, concluı́mos que os valores de x que satisfazem
remos que f (x)/g(x) seja menor ou igual a zero. Vamos a inequação-quociente são aqueles em que −1/2 ≤ x < 2.
primeiro analisar quando as funções f (x) e g(x) são iguais Mais um vez, atente para o fato de que uma das inequações
a zero. Para que f (x) seja zero, devemos ter é estrita e a outra não, pois −1/2 pertence ao conjunto
solução, enquanto 2 não pertence. Assim, em sı́mbolos, o
2x + 1 = 0 =⇒ 2x = −1 =⇒ x = −1/2; conjunto solução é:
ta

para que g(x) seja zero, devemos ter S = {x ∈ R : −1/2 ≤ x < 2} = [−1/2, 2).

x − 2 = 0 =⇒ x = 2.
Observação 2. Na última linha do quadro de sinais, onde
Dessa forma, para que o quociente f (x)/g(x) seja zero, é
r

marcamos o conjunto solução, indicamos com um cı́rculo


necessário que f (x) = 0 e g(x) 6= 0 (lembrando que o deno- preto pontos que pertencem a tal conjunto e com um cı́rculo
minador da fração não pode ser zero). Sendo assim, dentre branco os que não pertencem a ele. Além disso, na linha
Po

os valores acima, apenas x = −1/2 satisfaz a inequação do da função f (x)/g(x), entre um sinal e outro colocamos
enunciado. um algarismo 0 quando f (x)/g(x) é zero e colocamos duas
Resta, ainda, descobrir quando f (x)/g(x) é menor do barras verticais nos pontos onde f (x)/g(x) não está definida
que zero. Pela regra dos sinais, precisamos que f (x) e (o que acontece quando g(x) é zero). Alguns outros livros ou
g(x) sejam não nulas e tenham sinais diferentes, ou seja, professores podem usar sı́mbolos diferentes para indicar isso
uma delas deve ser positiva e a outra negativa. Veja que (por exemplo, nas vı́deo-aulas deste módulo a professora
ambas são funções lineares e o coeficiente de x em ambas é usa o sı́mbolo nd, que significa “não definido”, no lugar
positivo (sendo igual a 2 e a 1, respectivamente, em f (x) das duas barras).
e g(x)). Logo ambas são funções crescentes. Seus gráficos
seguem abaixo (por simplicidade, omitimos o eixo-y em Exemplo 3. Resolva
cada um dos gráficos, mas sugerimos que você o desenhe, 2x − 3
como exercı́cio). ≤0
x−1

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no conjunto universo U = R. 2
(a) ≤ 0.
x−5
Solução. Considere as funções f (x) = 2x−3 e g(x) = x−1.
−2x + 3
Faremos como no exercı́cio anterior, calculando os zeros (b) ≥ 0.
e analisando os sinais de f (x) e g(x). Mas, dessa vez, 2x2 − 2
vamos indicar aqui apenas os quadros de sinais, no lugar Solução.
de desenhar os gráficos.
(a) Como 2 é positivo, para que a fração seja menor ou
Análise do sinal de f (x) = 2x − 2: para que f (x) seja igual a zero, basta que x − 5 seja menor ou igual a
zero. Porém, como x − 5 está no denominador, ele não

EP
igual a zero devemos ter
pode ser igual a zero. Assim, a inequação equivale a
2x − 3 = 0 =⇒ 2x = 3 =⇒ x = 3/2. x − 5 < 0, ou seja, a x < 5.

Como o coeficiente de x é igual a 2, que é positivo, temos (b) Sejam f (x) = −2x + 3 e g(x) = 2x2 − 2. Temos que a
que a função é crescente. Assim, temos os seguintes sinais: única raiz de f (x) é 3/2, e fazendo a análise da variação
de seu sinal, temos que f (x) é positiva quando x < 3/2
3/2 e negativa quando x > 3/2. Por sua vez, a função g(x)
x possui como raı́zes os números −1 e 1, e seu gráfico

BM
2x − 3 − 0 + é uma parábola com concavidade voltada para cima.
Logo, g(x) é positiva quando x < −1 ou x > 1, e
Análise do sinal de g(x) = x − 1: para que g(x) seja negativa quando −1 < x < 1. Organizando todos esses
igual a zero devemos ter dados no quadro de sinais, dispomos os números −1,
1, e 3/2 em ordem crescente e indicamos os sinais das
x − 1 = 0 =⇒ x = 1. funções em cada intervalo delimitado por eles:

Esta função também é claramente crescente, assim temos


os sinais abaixo: −1 1 3/2
x
1
lO
f (x) = −2x + 3 + + + 0 −
x
x−1 − 0 + g(x) = 2x2 − 2 + 0 − 0 + +

f (x)
Elaboração do quadro de sinais do quociente: veja + − + 0 −
que, como 3/2 > 1, na primeira linha o número 3/2 aparece g(x)
à direita do 1. Então, temos de analisar o sinal em três
intervalos: (∞, 1), (1, 3/2) e (3/2, ∞). Novamente, lembre-
se de que devemos ter g(x) 6= 0. Note que os valores −1 e 1 não fazem parte da solução
ta

(pois eles zeram o denominador), mas 3/2 faz parte,


3/2 pois ele zera o numerador e a inequação original permite
1
x valores iguais a zero. Deste modo, o conjunto solução
f (x) = 2x − 3 − − 0 + é:

g(x) = x − 1 − 0 + + S = {x ∈ R : x < −1 ou 1 < x ≤ 2}


r

= (−∞, −1) ∪ (1, 2].


f (x)
+ − 0 +
Po

g(x) Vejamos um exemplo um pouco diferente.


Exemplo 5. Resolva a inequação quociente
Desta vez, os valores que satisfazem a inequação quoci-
ente original são os números reais x tais que 1 < x ≤ 3/2. 2x − 7
Em sı́mbolos, temos que o conjunto solução é ≥3
3x − 5
S = {x ∈ R : 1 < x ≤ 3/2} = (1, 3/2]. em U = R.
Solução. Temos que tomar bastante cuidado, pois o lado
direito da inequação não é igual a zero. Logo, esta inequação
Exemplo 4. Resolva, no universo do conjunto dos reais, não está no formato indicado no inı́cio desta aula. Veja
cada uma das seguintes inequações quociente a seguir: que não é suficiente verificar quando 2x − 7 e 3x − 5 são

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maiores ou menores do que zero, pois isso não irá ajudar a Como 17 < 21 < 23 , segue que 17 < 23 , logo, 87 < 35 .
saber quando o quociente entre eles é maior ou igual a 3. Uma terceira maneira é simplesmente, com o auxı́lio
Dessa forma, precisamos começar subtraindo 3 de ambos de uma calculadora, verificar que 8/7 é aproximadamente
os lados (para que o lado direito passe a ser zero) e, em 1,143, ao passo que 5/3 é aproximadamente 1,667, logo o
seguida, simplificar o lado esquerdo. Temos as seguintes primeiro é menor do que o segundo.
inequações equivalentes. Uma quarta maneira, bastante usual, é considerar o pro-
2x − 7 2x − 7 duto em cruz:
≥ 3 ⇐⇒ −3≥0
3x − 5 3x − 5 8 5
< ⇐⇒ 8 · 3 < 5 · 7 ⇐⇒ 24 < 35.

EP
(2x − 7) − 3 (3x − 5) 7 3
⇐⇒ ≥0
3x − 5 Como a última inequação é válida, temos que todas elas são
2x − 7 − 9x + 15 válidas. Veja que, acima, podemos “multiplicar em cruz”
⇐⇒ ≥0
3x − 5 pois os números envolvidos são todos positivos. Contudo,
−7x + 8 consideramos esta maneira pouco didática, pois acaba-se
⇐⇒ ≥ 0.
3x − 5 perdendo a noção de grandeza dos números envolvidos.
Agora sim, podemos considerar as funções f (x) = −7x+8 Observação 7. No caso da inequação mudar ao longo da
e g(x) = 3x−5 e resolver a inequação quociente f (x)/g(x) ≥ resolução, o cuidado com o problema da divisão por zero

BM
0. deve ser redobrado. Uma divisão por zero em qualquer lugar
Temos que a função f (x) = −7x + 8 é decrescente (pois da resolução pode ser fatal. Por outro lado, e sobretudo, o
ela é linear e o coeficiente de x é negativo) e ela é zero importante é que o conjunto solução seja aquele que satisfaz
quando x = 8/7, pois a inequação original. Assim, na dúvida, é sempre uma boa
−7x + 8 = 0 =⇒ −7x = −8 =⇒ x = 8/7. prática verificar se a inequação original está bem definida
nos pontos que são candidatos a entrarem no conjunto
Por sua vez, a função g(x) = 3x − 5 é crescente (pois ela solução. No exemplo acima, isso não é uma complicação
é linear e o coeficiente de x é positivo) e vale zero quando pois o denominador da inequação final (que usamos na
x = 5/3, uma vez que análise de sinal) é o mesmo da inequação original (3x − 5).
lO
3x − 5 = 0 =⇒ 3x = 5 =⇒ x = 5/3. Exemplo 8. Encontre para quais valores reais vale a ine-
quação
Para terminar, precisamos marcar os números 8/7 1 2
e 5/3 na reta real. Para isso, precisamos saber qual < .
x−1 x−2
desses números é o maior. Reduzindo essas frações a um
denominador comum, temos que 87 = 24 5 35 Solução. Vamos subtrair 2/(x − 2) de ambos os lados, a
21 , enquanto 3 = 21 .
24 35 8 5
Como 21 < 21 , segue que 7 < 3 . fim de tornar o lado direito igual a zero. Temos as seguintes
inequações equivalentes à original:
Elaboração do quadro de sinais: 1 2
ta

− < 0;
8/7 5/3 x−1 x−2
x (x − 2) − 2 (x − 1)
< 0;
f (x) = −7x + 8 + 0 − − (x − 1)(x − 2)
x − 2 − 2x + 2
g(x) = 3x − 5 − − 0 + < 0;
(x − 1)(x − 2)
r

f (x) −x
− + − < 0.
0 (x − 1)(x − 2)
g(x)
Po

Vamos considerar três funções: f (x) = −x, g(x) = x − 1


Interpretando o quadro, temos que o conjunto solução é: e h(x) = x − 2.
 
8 5 Análise do sinal de f (x) = −x: temos que a raiz de
S= x∈R: ≤x< .
7 3 f (x) = 0 é x = 0 e esta função é linear decrescente. Logo,
f (x) é positiva para x < 0 e negativa para x > 0.

Observação 6. Há várias outras maneiras de verificar se Análise do sinal de g(x) = x − 1: a raiz é x = 1 e g(x)
8/7 é menor ou maior que 5/3. Por exemplo, veja que é linear e crescente. Logo, g(x) é negativa para x < 1 e
8 1 5 2 positiva para x > 1.
=1+ e =1+ .
7 7 3 3

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Análise do sinal de h(x) = x − 2: a raiz é x = 2 e h(x) Exemplo 11. Encontre todos os possı́veis valores reais de
é linear e crescente. Logo, g(x) é negativa para x < 2 e x que satisfazem a inequação
positiva para x > 2.
(1 + 2x)5
≤ 0.
Análise dos denominadores da expressão do (3 − x)4 (1 − 3x)
enunciado: para que a expressão do enunciado esteja
Solução. Na aula sobre inequações produto resolvemos
bem definida, precisamos que x − 1 6= 0 e x − 2 6= 0. Assim,
um exemplo parecido com esse. Recordando o tipo de
precisamos que x 6= 1 e x 6= 2.
argumento lá utilizado, veja primeiro que o sinal de (1 +

EP
2x)5 é igual ao sinal de 1 + 2x, enquanto o sinal de (3 −
Quadro de sinais:
x)4 é sempre maior ou igual a zero. Mas aqui, se (3 −
0 1 2 x)4 for igual a zero, temos um problema, pois este termo
x está no denominador. Logo, ele não pode ser ignorado
f (x) = −x + 0 − − − completamente.
Graças à discussão do parágrafo anterior, a inequação
g(x) = x − 1 − − 0 + + original é equivalente a:

h(x) = x − 2 − − − 0 + (1 + 2x)
≤ 0.

BM
(3 − x)4 (1 − 3x)
f (x)
+ 0 − + −
g(x) · h(x) Para resolvê-la, sejam f (x) = 1 + 2x, g(x) = (3 − x)4 e
h(x) = (3x − 1). Como sempre, façamos a análise do sinal
f (x) de cada uma dessas funções.
Lembre-se de que queremos que seja (estri-
g(x) · h(x)
tamente) negativo. Logo, os valores de x que satisfazem Análise do sinal de f (x) = 1 + 2x: temos que f (x) é
a inequação são aqueles em que 0 < x < 1 ou x > 2. Em crescente, sendo negativa para x < −1/2, zero quando
sı́mbolos, temos o conjunto solução x = −1/2 e positiva quando x > −1/2.

S = {x ∈ R : 0 < x < 1 ou x > 2}


lO
Análise do sinal de g(x) = (3 − x)4 : temos que g(x) é
= (0, 1) ∪ (2, ∞). nula quando x = 3 e positiva caso contrário.

Análise de h(x) = 1 − 3x: temos que h(x) é decrescente,


Observação 9. Um erro comum ao tentar resolver a ine- sendo positiva para x < 1/3, zero quando x = 1/3 e
quação acima é “multiplicar em cruz”. Ao fazer isso, se negativa quando x > 1/3.
um dos denominadores for negativo, o sinal da inequação
deve ser invertido. Assim, para diferentes valores de x, Quadro de sinais:
ta

dependendo dos sinais de x − 1 e x − 2, pode ser necessário


−1/2 1/3 3
inverter o sinal da inequação. Mais precisamente, “multi- x
plicar em cruz” equivale a multiplicar ambos os lados por f (x) = 1 + 2x − 0 + + +
x − 1 e depois por x − 2. Ignorando os sinais, obterı́amos
a inequação g(x) = (3 − x)4 + + + 0 +
x − 2 < 2 · (x − 1),
r

que equivale simplesmente a x − 2 < 2x − 2 ou, ainda, a h(x) = 1 − 3x + + 0 − −


x > 0. Mas essa resposta está errada, conforme a solução f (x)
Po

que apresentamos deixa claro. − 0 + − −


g(x) · h(x)
Pelo mesmo motivo, não podemos resolver o Exemplo 5
simplesmente multiplicando por 3x − 5 dos dois lados.
Assim, o conjunto solução é
Observação 10. Observe que os números 1 e 2 não fazem
parte da solução do exercı́cio anterior, por conta da perda S = (−∞, −1/2] ∪ (1/3, 3) ∪ (3, ∞).
de sentido de uma das frações envolvidas quando x = 1
ou x = 2. Por outro lado, o número 0 não faz parte da
solução simplesmente porque a inequação do enunciado é
Exemplo 12. Resolva a inequação seguinte em R:
estrita (do tipo ‘<’). Caso tivéssemos um inequação do tipo
‘ ≤0 , o número 0 passaria a fazer parte da solução, mas os x2 − 5x + 4
números 1 e 2 permaneceriam fora dela. ≥ 0.
x2 − 4x + 3

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Solução. Considere as funções f (x) = x2 − 5x + 4 e g(x) = Solução alternativa. Sejam f (x) e g(x) como na solução
x2 − 4x + 3. Temos que f (x) e g(x) são funções de segundo anterior. Em suas formas fatoradas (para detalhes, veja o
grau, ambas com concavidade voltada para cima. Vamos módulo sobre equação de segundo grau, Aula 2), podemos
encontrar as raı́zes e analisar o sinal de cada uma delas. escrever: f (x) = (x − 1)(x − 4) e g(x) = (x − 1)(x − 3).
Para que f (x) = 0, temos x2 − 5x + 4 = 0. Como Dessa forma, para x 6= 1 temos que
∆ = b2 − 4ac = (−5)2 − 4 · 1 · 4 = 25 − 16 = 9, segue que
f (x) (x − 1)(x − 4) x−4
= = .
√ √

(5 − 3)/2 = 1, g(x) (x − 1)(x − 3) x−3
−b ± ∆ 5± 9 
x= = = ou Assim, sob a condição x 6= 1, basta analisarmos quando

EP
2a 2 vale x−4 x−4
x−3 ≥ 0. Para que x−3 = 0, devemos ter x = 4. Veja

(5 + 3)/2 = 4.

que x 6= 3, pois o denominador deve ser diferente de zero.
Da mesma forma, resolvendo g(x) = 0 encontramos que Por fim, para que a fração seja estritamente positiva, x − 4
x = 1 ou x = 3. (Uma maneira alternativa é verificar que 1 e x − 3 devem ter o mesmo sinal. Quando x < 3, temos
e 3 são dois números cuja soma é igual a 4 e produto igual que ambos são negativos; quando 3 < x < 4, o numerador
a 3.) é negativo e o denominador positivo; por fim, para x > 4,
Com isso, temos os dois seguintes gráficos: ambos são positivos.
Resumindo, na solução do problema original devemos ter

BM
x 6= 1 e (x < 3 ou x ≥ 4). O conjunto solução, como não
f (x) poderia deixar de ser, é o mesmo da primeira solução.
x2 − 5x + 4
+ + 1 4 + +
x Exemplo 13. Resolva, no universo dos números reais, a
0 − 0
inequação
x2 − 6x + 9
≥ 0.
x−π
g(x)
Solução. Sejam f (x) = x2 − 6x + 9 e g(x) = x − π. Veja
x2 − 4x + 3 que, na forma fatorada, temos f (x) = (x − 3)2 . Logo, f (x)
lO
+ + 1 3 + + é maior ou igual a zero, sendo igual a zero apenas quando
x x = 3. (Geometricamente, isso corresponde ao fato de que o
0 − 0 gráfico de f (x) é uma parábola tangente ao eixo-x e contida
no semiplano superior do plano cartesiano.) Por sua vez,
g(x) é uma função linear crescente, com zero em x = π.
Por fim, vamos elaborar o quadro de sinais. Veja que, Lembre-se de que π é um número real (irracional), que
quando x = 1, temos uma raiz em comum para ambas as vale aproximadamente 3,14. Logo, π > 3. Temos, então, o
funções. Logo, temos apenas três valores de x no quadro seguinte quadro de sinais:
de sinais: 1, 3 e 4.
ta

3 π
x
1 3 4 f (x) = (x − 3)2 + 0 + +
x
f (x) = x2 − 5x + 4 + 0 − − 0 +
g(x) = x − π − − 0 +
r

g(x) = x2 − 4x + 3 + 0 − 0 + + f (x)
− 0 − +
f (x) g(x)
Po

+ + − 0 +
g(x)
Dessa forma, f (x)/g(x) é estritamente positiva apenas
quando x > π. Mas, x = 3 também é uma solução, já
Lembre-se de que 1 e 3 não fazem parte da solução, pois que neste caso f (x)/g(x) é igual a zero. Logo,
zeram o denominador. Portanto, o conjunto solução S é
formado pelos reais que são menores que 3, exceto o número S = {x ∈ R : x = 3 ou x > π}
1, e pelos reais maiores ou iguais a 4. Em sı́mbolos, = {3} ∪ (π, ∞).

S = {x ∈ R : (x < 3 e x 6= 1) ou x ≥ 4} Exemplo 14. Resolva, no universo dos números reais, a


inequação
= ((−∞, 3) − {1}) ∪ [4, ∞)
x2 + 2x + 1
= (−∞, 1) ∪ (1, 3) ∪ [4, ∞). ≤ 0.
x2 + 2

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Solução. Veja que x2 + 2x + 1 = (x + 1)2 é sempre maior Sugestões de Leitura Complementar
ou igual a zero, pois é o quadrado de um número real. Da
mesma forma, x2 é sempre maior ou igual a zero, o que 1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Volume
implica que x2 + 2 é estritamente maior que zero, para todo 1: Números Reais. SBM, Rio de Janeiro, 2013.
número real. Dessa forma, para todo x real temos que
2. G. Iezzi Os Fundamentos da Matemática Elementar,
2
x + 2x + 1 Volume 1: Números Reais e Funções. Atual Editora,
≥ 0. Rio de Janeiro, 2013.
x2 + 2
Assim, a única maneira de satisfazer o enunciado é quando

EP
esta fração for igual a zero. Neste caso, o numerador
tem que ser igual a zero e, como vimos, isso acontece
precisamente quando (x + 1)2 = 0, ou seja, x = −1. Veja
que x = −1 não zera o denominador, logo, o conjunto
solução é o conjunto unitário

S = {−1}.

Exemplo 15. Encontre os valores x reais tais que

BM
x2 − 4
≥ 0.
x−2
Solução. Podemos fatorar o numerador pelo seguinte pro-
duto notável

x2 − 4 = x2 − 22 = (x − 2)(x + 2).

Contudo, a simplificação
x2 − 4 (x − 2)(x + 2)
lO
= =x+2
x−2 x−2
só é válida para x 6= 2. (Quando x = 2, o denominador
x − 2 vale zero e a fração do enunciado não está definida.)
Então, para x 6= 2, a inequação original equivale a x+2 ≥ 0,
ou seja, x ≥ −2.
Logo, os valores de x que satisfazem a inequação original
são aqueles maiores ou iguais a −2 e diferentes de 2.
ta

x
−2 2

S = {x ∈ R : x ≥ −2 e x 6= 2}
= [−2, 2) ∪ (2, ∞).
r
Po

Dicas para o Professor


Recomendamos que este assunto seja abordado em dois
encontros de 50 minutos, em continuidade aos encontros
da aula anterior (sobre inequações produtos). Veja que as
resoluções de inequações quocientes e inequações produto
são muito similares. De fato, a diferença crucial reside no
fato de que o denominador do quociente precisa ser sempre
diferente de zero, independentemente do sinal da inequação
quociente.

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Material Teórico - Inequações Produto e Quociente de Primeiro Grau

Sistemas de inequações

EP
Primeiro Ano do Ensino Médio

Autor: Prof. Fabrı́cio Siqueira Benevides


Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

BM
25 de agosto de 2018
lO
r ta
Po
1 Sistemas de inequações com uma Contudo, em inequações mais complexas, quase sempre
precisamos fazer operações diferentes com cada uma das
variável inequações. Portanto, em geral será necessário trabalhar
Um sistema é um conjunto de equações ou inequações que com cada inequação separadamente.
devem ser satisfeitas simultaneamente. Uma diferença im-
portante entre inequações e equações se dá quando que- (b) Como antes, escrevamos separadamente as duas ine-
remos resolver sistemas de cada um desses tipos. Quando quações: (
temos um sistema com várias equações, podemos usar, sem 0 ≤ 3 − x,
3 − x < 5.

EP
restrições, tanto o método da adição quanto o da substi-
tuição para resolvê-lo. Por outro lado, para sistemas de
Usando a primeira inequação, temos que:
inequações esses métodos devem ser evitados. Se tivermos
duas inequações em direções opostas (por exemplo, uma do 0 ≤ 3 − x ⇐⇒ x ≤ 3.
tipo “≥” e a outra do tipo “≤”), não será permitido somá-
las. Além disso, mesmo quando tivermos duas inequações Para a segunda inequação temos que:
com o mesmo sinal, ao somá-las (o que, nesse caso, é permi-
tido) obteremos uma inequação verdadeira, mas podemos 3 − x < 5 ⇐⇒ 3 < 5 + x ⇐⇒ −2 < x.
perder informação. De outra forma, ao somar duas ine-

BM
quações, o conjunto solução da inequação resultante pode Como essas duas inequações precisam ser satisfeitas
conter valores que não são soluções do sistema original. simultaneamente, segue que −2 < x ≤ 3. Usando a
A fim de evitar esses erros, devemos adotar outras notação de intervalos, o conjunto solução é S = (−2, 3].
técnicas para resolver sistemas de inequações.
Aqui, estudaremos apenas o caso mais fácil, qual seja, Ainda em relação ao item (b), note que podemos repre-
aquele em que todas as inequações do sistema envolvem sentar graficamente a solução da seguinte forma: na pri-
uma única variável. Neste caso, só precisamos encontrar o meira linha, marcamos na reta real os valores de x que sa-
conjunto solução de cada inequação separadamente e, em tisfazem a primeira inequação (x ≤ 3). Na segunda linha,
seguida, fazer a interseção desses conjuntos. marcamos os valores que satisfazem a segunda inequação
(x > −2). Por fim, na última linha, marcamos os valores
lO
Exemplo 1. Em cada um dos itens abaixo, encontre todos de x que satisfazem as duas inequações simultaneamente.
os valores reais de x que satisfazem a inequação dada. 3
x≤3
(a) 2 < 2x < 3.
−2
−2 < x
(b) 0 ≤ 3 − x < 5.
−2 3
Solução. −2 < x ≤ 3
(a) Observe que a expressão 2 < 2x < 3, em verdade,
ta

representa duas inequações separadas, que devem ser sa- Veja que essa marcação dos pontos na reta é bem diferente
tisfeitas simultaneamente: 2 < 2x e 2x < 3. Escrevemos da análise de sinal que vinhamos fazendo nos módulos an-
isso como abaixo: ( teriores. Realmente, não estamos marcando na reta quais
2 < 2x, intervalos são positivos ou negativos e nem estamos tra-
balhando com produtos de sinais. Estamos apenas mar-
2x < 3.
cando os conjuntos de pontos que pertencem à solução de
r

A primeira inequação, 2 < 2x, equivale a 1 < x, pois divi- cada inequação e, depois, tomando a interseção desses con-
dir ambos os lados por 2 não altera o sinal da inequação. juntos; de outra forma, o trecho marcado na última reta
Po

A segunda, pelo mesmo motivo, equivale a x < 3/2. Por- corresponde ao trecho comum marcado em todas as retas
tanto, para satisfazer ambas as inequações, devemos ter anteriores.
1 < x < 3/2, ou seja, x pertence ao intervalo aberto
(1, 3/2). Este intervalo é o conjunto solução procurado:
Exemplo 2. Em cada item, encontre os valores reais de x
S = (1, 3/2) = {x ∈ R : 1 < x < 3/2}. que satisfazem o sistema dado:
(
x + 3 < 3(x + 4),
Observação: neste caso em particular, poderı́amos ter (a)
dividido por 2 simultaneamente ambas as inequações do 4x ≥ 5 − x.
enunciado, obtendo diretamente a solução: (
2x + 12 > 0,
(b)
2 < 2x < 3 ⇐⇒ 2/2 < x < 3/2. −3x − 3 > 0.

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Solução. Solução. Como nos exemplos anteriores, vamos começar
(a) Simplificando a primeira inequação, temos as seguintes analisando separadamente cada uma das inequações. A
inequações equivalentes: primeira, (x − 1)(x − 3) ≤ 0, é uma inequação produto.
Já resolvemos várias delas nos módulos anteriores. Caso
x + 3 < 3(x + 4) necessário, revise algumas dessas soluções antes de prosse-
x + 3 < 3x + 12 guir. Façamos o estudo do sinal das funções f (x) = x − 1 e
−2x < 9 g(x) = x − 3. Como essas funções são lineares com o coefi-
9 ciente de x positivo, ambas são crescentes. A função f (x)
x>− . é zero apenas quando x = 1, é positiva para x > 1 e nega-

EP
2
tiva para x < 1. Por sua vez, a função g(x) é zero quando
(Observe que, no último passo, ao dividir ambos os lados x = 3, é positiva quando x > 3 e é negativa quando x < 3.
da inequação por −2 tivemos que inverter o sinal da desi- Marcando as raı́zes 1 e 3 em uma mesma reta, podemos
gualdade.) Continuando, da segunda inequação do sistema analisar o sinal em cada intervalo determinado por estes
temos as inequações equivalentes pontos. Veja o quadro seguinte:
4x ≥ 5 − x
1 3
5x ≥ 5 x
x−1 − 0 + +

BM
x ≥ 1.
Assim, chegamos a duas restrições que devem ser satisfeitas x−3 − − 0 +
simultaneamente: x > −9/2 e x ≥ 1. Como 1 > −9/2,
todos os x que satisfazem x ≥ 1 também satisfazem x > (x − 1)(x − 3) + 0 − 0 +
−9/2. Uma maneira simples de visualizar isso é marcando
S1
as soluções de cada inequação na reta real e fazendo suas
interseções:
Adicionamos uma última linha ao quadro, onde mar-
1 camos os pontos tais que (x − 1)(x − 3) ≤ 0, ou seja, o
x≥1
conjunto-solução da primeira inequação, S1 = [1,3].
Vamos, agora, resolver a segunda inequação: (x − 2)2 >
lO
−9/2
x > −9/2 0. Lembre-se de que o quadrado de todo número real é não
negativo. Assim, para qualquer valor de x, temos (x−2)2 ≥
1 0. Daı́, a única maneira de um real x não satisfazer a
x≥1
inequação do enunciado é se (x−2)2 = 0, ou seja, se x = 2.
Assim, o conjunto solução é Dessa forma, todo número real diferente de 2 satisfaz a
segunda inequação, e seu conjunto solução é S2 = R − {2}.
S = (1, ∞) = {x ∈ R : x ≥ 1}.
1 3
(b) Resolvendo a primeira inequação, temos S1
ta

2x + 12 > 0 ⇐⇒ 2x > −12 ⇐⇒ x > −6. 2


S2
Agora, resolvendo a segunda temos
1 2 3
S1 ∩ S2
−3x − 3 > 0 ⇐⇒ −3x > 3 ⇐⇒ x < −1.
r

(Novamente, observe a mudança de sinal na última de- Finalmente, os valores de x que satisfazem o sistema
sigualdade acima, ao dividirmos ambos os membros pelo devem estar na interseção de S1 e S2 , daı́, 1 ≤ x ≤ 3 e
Po

número negativo (−3).) x 6= 2. Equivalentemente, como 2 está entre 1 e 3, devemos


Dessa forma, para satisfazer o sistema, devemos satis- ter 1 ≤ x < 2 ou 2 < x ≤ 3. Assim, o conjunto-solução do
fazer x > −1 e, ao mesmo tempo, x < −1. Mas isso é sistema é
impossı́vel, de modo que não existe valor para x que sa- S = S1 ∩ S2
tisfaça o sistema. Assim, seu conjunto solução é o conjunto
= [1,3] − {2}
vazio: S = ∅.
= [1,2) ∪ (2,3].
Exemplo 3. Resolva, no conjunto universo dos números
reais, o sistema de inequações abaixo. Exemplo 4. Encontre o conjunto solução do sistema a se-
( guir em R: (
(x − 1)(x − 3) ≤ 0, −x(4 − x) > 0,
(x − 2)2 > 0. (1 − x)(1 + x) ≤ 0.

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Solução. Assim como no exemplo anterior, podemos re- Solução. Primeiramente, vamos resolver cada inequação
solver a inequação −x(4 − x) > 0 como uma inequação individualmente.
produto, analisando separadamente o sinal de −x e o sinal Sejam f (x) = x2 − 2x − 3 e g(x) = x2 − 2. Para resolver
de 4 − x. Em busca de uma solução alternativa, podemos f (x) ≥ 0, encontramos primeiro as raı́zes de x2 −2x−3 = 0,
observar diretamente que a função f (x) = −x(4 − x) = que são −1 e 3 (para mais detalhes sobre esse ponto, reveja
x2 − 4x é uma função quadrática que possui como raı́zes as aulas sobre equações de segundo grau). Vamos chamar
os números 0 e 4. Veja, ainda, que o coeficiente de x2 é de S1 o conjunto dos valores reais de x que satisfazem
positivo, de forma que o gráfico de f (x) é uma parábola f (x) ≥ 0. Como, f (x) é uma parábola com concavidade
com concavidade voltada para cima. Assim, a variação do voltada para cima, o quadro de sinais de f (x) é como segue

EP
sinal de f (x) segue o seguinte esquema: (já marcamos, na última linha do quadro, o conjunto S1 ):

x2 − 4x
+ + + 0 4 + + + −1 3
x x
0 − − − 0
x2 − 2x − 3 + 0 − 0 +

Como o enunciado pede que −x(4 − x) = x2 − 4x seja S1


maior que zero, temos que x < 0 ou x > 4, ou seja, o

BM
conjunto solução da primeira inequação é o intervalo S1 =
(−∞, 0) ∪ (4, ∞). Agora, a fim de resolver a inequação g(x) < √0,
Considere, agora, a segunda inequação: (1 − x)(1 + x) ≤ começamos
√ notando que a equação x2 − 2 = 0 possui − 2
0. Vamos analisar o sinal da função g(x) = (1 − x)(1 + x). e 2 como raı́zes. O gráfico da função g(x) também é uma
Como g(x) = 1 − x2 e g(x) = 0 ⇔ x = −1 ou x = 1, parábola com concavidade para cima. Logo, seu quadro de
seu gráfico é uma parábola com concavidade voltada para sinais e o conjunto-solução S2 de g(x) < 0 são os indicados
baixo, a qual intersecta o eixo horizontal nos pontos de abaixo:
abscissas −1 e 1 (tente desenhá-lo). Dessa forma, g(x) ≤ 0
quando x ≤ −1 ou x ≥ 1, e o conjunto solução da segunda √ √
inequação é S2 = (∞, −1] ∪ [1,∞). − 2 2
lO
x
Por fim, os valores de x que satisfazem o sistema são x2 − 2 + 0 − 0 +
aqueles que satisfazem ambas as inequações, ou seja, tais
que estão na interseção de S1 com S2 . Neste exemplo, S2
ajuda bastante desenhar os conjuntos S1 e S2 na reta real.
Como nos exemplos anteriores, marcamos S1 em uma reta
e S2 em outra, com o cuidado de que as coordenadas x Para finalizar, marcamos os conjuntos
√ S1 e√S2 em um
fiquem alinhadas de uma reta para outra. Então, em uma único quadro, observando que − 2 < −1 < 2 < 3. A
terceira reta, abaixo das duas primeiras, marcamos a in- solução final, S, consiste dos intervalos marcados na linha
do quadro indicada com S2 ∩S2 . Como não temos interesse
ta

terseção de S1 e S2 .
em fazer produtos de sinais, para não causar confusão é até
0 4 melhor omitir os sinais do quadro, indicando apenas quais
S1 trechos fazem parte de cada conjunto. O resultado é o
seguinte:
−1 1
S2
r

√ √
−1 4 − 2 −1 2 3
S1 ∩ S2 x
Po

S1
Percebemos que a solução do sistema consiste dos valores
reais de x taisq que x ≤ −1 ou x > 4. Assim, o conjunto- S2
solução é
S1 ∩ S2
S = S1 ∩ S2
= (−∞, −1] ∪ (4, ∞).

Exemplo 5. Encontre todos os valores reais de x que sa- S = S1 ∩ S2 = (− 2, − 1].
tisfazem simultaneamente as inequações x2 − 2x − 3 ≥ 0 e
x2 − 2 < 0.

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2 Exercı́cios complementares analisar os sinais de três funções. Contudo, podemos sim-
plificá-la bastante se fatorarmos o fator do meio, x2 −6x+5.
Nesta seção, reunimos mais alguns exercı́cios sobre siste- Como 1 e 5 são as raı́zes de x2 − 6x + 5 = 0, temos que
mas de inequações. x2 −6x+5 = (x−1)(x−5). Substituindo isso na inequação
original, obtemos que ela é equivalente a
Exemplo 6. Quantos números inteiros satisfazem o sis-
tema de inequações a seguir? (x − 1)2 (x − 5)2 ≤ 0.
(
x2 − 7x + 6 ≤ 0, Acontece que, como o expoente de todos os fatores é par,

EP
2x + 1 > x + 5. para todo x real temos

Solução. Resolveremos o sistema como de costume, en- (x − 1)2 (x − 5)2 ≥ 0.


contrando seu conjunto solução e, ao final, contaremos
quantos números inteiros pertencem a tal conjunto. Sendo assim, a única opção para x é satisfazer
Assim, vamos começar resolvendo a inequação x2 − 7x +
6 ≤ 0. Considere a função f (x) = x2 − 7x + 6. Resolvendo (x − 1)2 (x − 5)2 = 0,
inicialmente a equação x2 − 7x + 6 = 0, percebemos que
f (x) possui raı́zes x = 1 e x = 6. Como f (x) possui o que claramente implica x − 1 = 0 ou x − 5 = 0, isto

BM
concavidade para cima, desenhando seu gráfico ou fazendo é, x = 1 ou x = 5. Desse modo, o conjunto-solução da
seu quadro de sinais (tente fazer um deles), vemos que primeira inequação é S1 = {1, 5}.
f (x) ≤ 0 quando x é igual ou está entre as raı́zes, ou seja, Agora, a segunda inequação requer que 2x2 > 20, o que
quando 1 ≤ x ≤ 6. Assim, S1 = [1,6]. equivale a x2 > 10. Para terminar, basta observar que,
Agora, vejamos a segunda inequação, 2x + 1 > x + 5. dentre os números 1 e 5, apenas o número 5 satisfaz 52 >
Subtraindo x − 1 de ambos os lados, obtemos a sequência 10. Logo, x = 5 é a única solução do sistema.
de inequações equivalentes Em alternativa ao último parágrafo, poderı́amos marcar
as soluções das inequações em retas, como vı́nhamos fa-
2x + 1 > x + 5 zendo. Para isso, veja que o conjunto √ solução de x2 √
> 10
(2x + 1) − (x + 1) > (x + 5) − (x + 1) consiste nos valores de x tais que x > 10 ou x < − 10.
lO

x > 4. Ao marcar esses pontos na reta, observe que 3 < 10 < 4.

Assim, S2 = (4, ∞). 1 5


S1
Desenhando S1 e S2 em retas separadas e, em seguida,
marcando sua interseção, obtemos o quadro abaixo: √ √
− 10 10
1 6 S2
S1
ta

4
S2 S1 ∩ S2
5
4 6
S1 ∩ S2 Veja que, na reta correspondente a S1 , não marcamos
nenhum intervalo, pois apenas os pontos 1 e 5 são solução.
Assim, S = S1 ∩ S2 = (4,6]. Veja que o número 4 não
r

faz parte deste intervalo, de sorte que os únicos números


inteiros que fazem parte da solução são 5 e 6. Como o Nosso último exemplo é o de um sistema com três ine-
Po

enunciado pergunta quantos inteiros satisfazem o sistema, quações. O método de resolução é o mesmo: resolver cada
a resposta é dois. inequação separadamente e encontrar os pontos que estão
Exemplo 7. Encontre todos os números reais x que satis- nas soluções de todas elas.
fazem o sistema
Exemplo 8. Encontre o conjunto-solução do seguinte sis-
( tema, onde x é um número real:
(x − 1)(x2 − 6x + 5)(x − 5) ≤ 0,
2x2 > 20. 
2x + 3 > 1,


 2
Solução. Considere primeiramente a inequação produto x
≥ 3x − 4,
(x − 1)(x2 − 6x + 5)(x − 5) ≤ 0. Ela parece que nos dará 

 2
trabalho, pois para resolvê-la terı́amos, em princı́pio, de 10 ≤ 30 − 4x.

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Solução. Resolvendo a primeira inequação, temos as se- Dicas para o Professor
guintes inequações equivalentes:
O conteúdo deste material pode ser apresentado em dois
2x + 3 > 1 encontros de 50 minutos. Pode ser interessante fazer uma
2x > −2 revisão sobre união e interseção de conjuntos e também
sobre a notação utilizada para descrever intervalos de
x > −1.
números reais.
Logo, S1 = (−1, ∞). Neste aulas e nas aulas anteriores deste módulo, prefe-
Quando à segunda inequação do sistema, temos que ela rimos usar as notações (a,b) para intervalos abertos e [a,b]

EP
equivale a para intervalos fechados. Essas são as notações mais usa-
x2 das modernamente em Matemática, mas alguns livros e
− 3x + 4 ≥ 0. as próprias vı́deo-aulas do portal utilizam a notação ]a,b[
2
para intervalo aberto. A única desvantagem que vemos de
Para resolver essa inequação quadrática começamos, como
usar (a,b) é que é necessário distinguir o intervalo (a,b) do
sempre, procurando as raı́zes da equação
par ordenado (a,b). Apesar de usarmos os mesmo sı́mbolos
x2 para as duas coisas, esses são conceitos completamente di-
− 3x + 4 = 0. ferentes e pode-se distinguir um do outro facilmente, a par-
2

BM
tir do contexto em que são utilizados.
Podemos fazer isso usando a fórmula de Bhaskara ou pro- Há uma grande quantidade de variações de problemas
curando dois números cuja soma seja −(−3)
1/2 = 6 e cujo pro-
envolvendo sistemas de inequações, alguns com grau de
4
duto seja 1/2 = 8; adotando essa última estratégia, após dificuldade bastante alto. Nesse sentido, a referência [2]
testar algumas opções vemos que esses dois números são traz muitos problemas que o professor pode utilizar em sala
x2 de aula, ao passo que a referência [1] traz outros tantos,
x = 2 ou x = 4. Analisando o gráfico de f (x) = −3x+4, adequados a sessões de treinamento para olimpı́adas de
2
temos que f (x) ≥ 0 quando x ≤ 2 ou x ≥ 4. Assim, Matemática.
S2 = [−∞, 2] ∪ [4, ∞].
Resolvendo a terceira inequação do sistema original, te-
Sugestões de Leitura Complementar
lO
mos as equivalências

10 ≤ 30 − 4x 1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Vo-


4x ≤ 20 lume 1: Números Reais. SBM, Rio de Janeiro, 2013.
x ≤ 5. 2. G. Iezzi Os Fundamentos da Matemática Elementar,
Volume 1: Números Reais e Funções. Atual Editora,
Dessa forma, o conjunto solução desta última inequação é Rio de Janeiro, 2013.
S3 = (−∞, 5].
Resta apenas encontrar S = S1 ∩ S2 ∩ S3 . Façamos isso
ta

graficamente:

−1
S1

2 4
r

S2

5
Po

S3

−1 2 4 5
S1 ∩ S2 ∩ S3

Então, temos que S = (−1,2] ∪ [4,5].

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Material Teórico - Inequações-Produto e Quociente de Segundo Grau

Introdução às Inequações de Segundo Grau

EP
Primeiro Ano

BM
Autor: Prof. Ulisses Lima Parente
Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

30 de março de 2020
O
da
al
rt
Po
1 Inequações do segundo grau y

Neste material, faremos um estudo introdutório sobre


inequações do segundo grau. Iniciamos com o seguinte 1
exemplo: +
1 2 4 5
Exemplo 1. Para quais números reais x vale x
3

EP
−x2 + 6x − 8 ≤ 0? −1 − −
Solução. Vamos começar “completando quadrados” em
−x2 + 6x − 8: −2

−x2 + 6x − 8 = − x2 − 6x + 8

−3
= − x2 − 2 · x · 3 + 32 − 32 + 8


BM
= − (x − 3)2 − 1


= − (x − 3)2 − 12


= −(x − 3 + 1)(x − 3 − 1) −(x − 2)(x − 4). Para tanto, invocando o que foi estudado
= −(x − 2)(x − 4). no módulo de funções quadráticas, temos que o gráfico de
f é uma parábola com concavidade voltada para baixo,
Assim, com raı́zes x1 = 2 e x2 = 4 e vértice em (3, 1).
Como −x2 +6x−8 ≤ 0 ⇔ f (x) ≤ 0, queremos o conjunto
−x2 + 6x − 8 ≤ 0 ⇐⇒ −(x − 2)(x − 4) ≤ 0 dos x ∈ R tal que o ponto (x, f (x)) do gráfico de f está
⇐⇒ (x − 2)(x − 4) ≥ 0.

Veja agora que, para que tenhamos (x − 2)(x − 4) ≥ 0,


um dos fatores x−2 ou x−4 deve ser igual a zero ou os dois
fatores devem possuir um mesmo sinal, ou seja, devem ser
O sobre o eixo dos x (se f (x) = 0) ou abaixo dele (se f (x) <
0). Olhando para o gráfico, mais um vez concluı́mos que o
conjunto-verdade da inequação −x2 + 6x − 8 ≤ 0 é

V = {x ∈ R|x ≤ 2 ou x ≥ 4} = [−∞, 2] ∪ [4, +∞].


ambos positivos ou ambos negativos.
da
Nesse sentido, o diagrama abaixo usa o estudo dos sinais
dos fatores x − 2 e x − 4 para estudar o sinal do produto
(x − 2)(x − 4): Observe que o que fizemos foi simplesmente
Exemplo 2. Resolva a inequação abaixo em R.
− + +
x−2 4x2 − 4x − 3 < 0
2
− − + Solução. Considere a função quadrática f : R → R, dada
al

x−4
4 por f (x) = 4x2 − 4x − 3. Em relação à notação padrão
+ − + f (x) = ax2 + bx + c para funções de segundo grau, temos
(x − 2)(x − 4)
2 a = 4, b = −4, c = −3. Assim,
rt

usar a regra de produto de sinais para, conhecendo os sinais ∆ = b2 − 4ac


de x − 2 e x − 4, obter o sinal de (x − 2)(x − 4); por = (−4)2 − 4 · 4 · (−3)
exemplo, para x = 3 temos x − 2 > 0 e x − 4 < 0, logo, = 64,
Po

(x − 2)(x − 4) < 0.
O conjunto-verdade V da inequação −x2 + 6x − 8 ≤ 0 de sorte que f tem raı́zes
é o subconjunto de R cujos elementos a tornam verdadeira.
√ √
Como vimos que −x2 +6x−8 ≤ 0 equivale a (x−2)(x−4) ≥ −b − ∆ −(−4) − 64 1
0, podemos declarar V facilmente examinando os sinais na x1 = = =−
2a 2·4 2
última linha do diagrama acima. Então,
e
√ √
V = {x ∈ R|x ≤ 2 ou x ≥ 4} = [−∞, 2] ∪ [4, +∞]. −b + ∆ −(−4) + 64 3
x2 = = = .
2a 2·4 2
Uma maneira alternativa de resolver o exemplo é con-
siderar a função quadrática f (x) = −x2 + 6x − 8 = Agora, veja que a parábola que representa o gráfico de f

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tem vértice no ponto cujas coordenadas são y
   
−b −∆ −(−4) −64
, = ,
2a 4a 2·4 4·4
  2
4 −64
= ,
8 16
 
1

EP
= , −4 .
2 + +
Além disso, uma vez que a = 4 > 0, a parábola possui √ x
concavidade voltada para cima. Observe um esboço do 1 2 2 3
gráfico de f na figura abaixo:

BM
para cima. Na figura acima, vemos um esboço do gráfico
de f . √
+ 1 + Como queremos que x 2
√ − 2 2x + 2 > 0, temos de evitar
2 somente
√ o ponto x = 2, uma vez que, nele, vale x2 −
x 2 2x + √2 = 0. Portanto, o conjunto-verdade da inequação
− 12 3
2 x2 − 2 2x + 2 > 0 é

V = R − { 2}.

O Exemplo 4. Resolva a inequação −x2 + 4x − 5 ≥ 0 em R.
Solução. Uma primeira possibilidade é começar como na
primeira solução do primeiro exemplo, completando qua-
−4 drados:
da
−x2 + 4x − 5 = −(x2 − 4x + 5)
= −(x2 − 2 · 2 · x + 22 + 1)
Portanto, o conjunto-verdade V da inequação 4x2 −4x− = −((x − 2)2 + 1)
3 < 0 é o conjunto das abscissas dos pontos do gráfico que = −(x − 2)2 − 1.
estão situados abaixo do eixo horizontal, de modo que
  Como (x − 2)2 ≥ 0, obtemos que −(x − 2)2 ≤ 0. Daı́, segue
1 3 que
V = x ∈ R| − < x < .
al

2 2 −x2 + 4x − 5 = −(x − 2)2 − 1 < 0


para todo x ∈ R. Portanto, o conjunto-verdade da inequa-
ção −x2 + 4x − 5 ≥ 0 é
Exemplo 3. Para quais valores reais de x vale que
rt

√ V = ∅.
x2 − 2 2x + 2 > 0?
De outro modo, considerando a função de segundo grau
Solução. Considere a função quadrática f : R → R dada f (x) = −x2 + 4x − 5, vemos que ela não possui raı́zes reais,
√ √ 2
por f (x) = x2 − 2 2x + 2. Como 2 = 2 , temos que pois (com a = −1, b = 4, c = −5)
Po

√ ∆ = 42 − 4 · (−1) · (−5)
f (x) = x2 − 2 2x + 2
√ √ 2 = 16 − 20
= x2 − 2 2x + 2 = −4.

= (x − 2)2 ,
Além disso, como a = −1, a parábola que representa o
√ gráfico de f possui concavidade voltada para baixo. Por
logo, 2 é a única raiz real de f . Desse modo, a parábola
fim, o gráfico tem vértice no ponto
que representa o gráfico
√ de f tem vértice no ponto cujas
coordenadas são ( 2, 0) e, uma vez que o coeficiente de x2
   
b ∆ 4 −4
é igual a 1 > 0, essa parábola possui concavidade voltada − ,− = − ,− = (2, −1).
2a 4a 2(−1) 4(−1)

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Assim, o gráfico de f tem a forma a seguir, e claramente ou, de forma equivalente,
não existe x ∈ R tal que f (x) ≥ 0. De outra forma, isso
40 40
− < 3.
2 x−3 x
x
Agora,

− − 40

40
< 3 ⇐⇒
40x − 40(x − 3)
<3

EP
x−3 x x(x − 3)
120
⇐⇒ <3
x(x − 3)
40
⇐⇒ < 1.
x(x − 3)

Uma vez que a quantidade de filhos é maior que 3, obtemos

BM
x(x − 3) > 0. Desse modo, a última inequação acima é
equivalente a

é o mesmo que dizer que o conjunto dos x ∈ R tal que x(x − 3) > 40 ⇐⇒ x2 − 3x − 40 > 0.
−x2 + 4x − 5 ≥ 0 é o conjunto vazio.
Considerando a função quadrática f (x) = x2 − 3x − 40,
Agora que já exercitamos razoavelmente a parte opera- temos que f possui raı́zes x1 = −5 e x2 = 8. Além disso, a
cional da solução de inequações de segundo grau, vejamos parábola que representa o gráfico de f possui concavidade
um exemplo um pouco mais difı́cil. voltada para cima. Assim, temos a seguinte representação
Exemplo 5. Um homem, ao falecer na pandemia da Covid-
19, deixou de herança a quantia de R$ 200.000 para ser
distribuı́da entre seus filhos, de modo que cada um deles
recebesse a mesma parte. Entretanto, três desses filhos re-
O do gráfico de f :

nunciaram às suas partes, fazendo com que os demais filhos


recebessem uma quantia adicional, além da que receberiam
+ +
da
inicialmente. Qual deve ser o número mı́nimo de filhos x
−5 8
que esse homem deve ter para que essa quantia adicional −
seja inferior a R$ 15.000?
Solução. Denotemos por x a quantidade de filhos do ho-
mem. Assim, inicialmente, cada um dos filhos receberia
200.000
.
al

x
Entretanto, com a renúncia de três dos filhos, cada um dos Portanto, a inequação x2 − 3x − 40 > 0 é satisfeita se, e
outros x − 3 filhos deve receber somente se, x > 8. Desse modo, o número mı́nimo de filhos
para que a quantia adicional seja inferior a R$ 15.000,00 é
rt

200.000
. 9.
x−3
Logo, a diferença entre a quantia que cada filho receberia
inicialmente e a quantia recebida depois da renúncia de
Dicas para o Professor
Po

três dos filhos é


200.000 200.000 Recomendamos que sejam utilizadas duas sessões de
− . 50min para expor o conteúdo deste material. O obje-
x−3 x
tivo, aqui, é introduzir as inequações do segundo grau, as
Estamos interessados em calcular o número mı́nimo de quais serão pré-requisitos para resolver inequações-produto
filhos que esse homem deve ter para que essa quantia adici- e quociente envolvendo trinômios de segundo grau. Desse
onal seja inferior a R$ 15.000. Portanto, devemos resolver modo, é fundamental que não restem dúvidas sobre os tipos
a inequação de inequações apresentados neste material. Portanto, re-
200.000 200.000 comendamos aos professores que apresentem os exemplos
− < 15.000, com todos os detalhes e proponham exemplos adicionais
x−3 x

http://matematica.obmep.org.br/ 3 matematica@obmep.org.br
aos alunos, sempre que possı́vel dando algum tempo para
que eles tentem encontrar as soluções por conta própria.
As referências a seguir trazem mais informações e
exercı́cios, de variados graus de dificuldade, sobre inequa-
ções de segundo grau.

EP
Sugestões de Leitura Complementar
1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Vo-
lume 1: Números Reais. SBM, Rio de Janeiro, Edi-
tora, 2013.
2. G. Iezzi. Os Fundamentos da Matemática Elementar,
Volume 1: Números Reais e Funções. Atual Editora,

BM
Rio de Janeiro, 2013.

O
da
al
rt
Po

http://matematica.obmep.org.br/ 4 matematica@obmep.org.br
Material Teórico - Inequações Produto e Quociente do Segundo Grau

Inequações Produto do Segundo Grau

EP
Primeiro Ano

BM
Autor: Prof. Ulisses Lima Parente
Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

27 de abril de 2020
O
da
al
rt
Po
1 Inequações produto do segundo Agora, o diagrama abaixo utiliza os sinais de f (x) e g(x),
os quais estudamos acima, para obter o sinal de f (x)g(x):
grau
Neste material, utilizaremos os conhecimentos adquiri- + − + f (x)
dos sobre inequações do segundo grau para estudar ine- −3 1
quações produto do segundo grau. Iniciamos com o se- − − −
guinte exemplo: g(x)

EP
1
Exemplo 1. Para quais números reais x vale − + −
f (x)g(x)
−3 1
x2 + 2x − 3 −x2 + 2x − 1 > 0?
 

Solução. Comecemos analisando separadamente os sinais Observe que esse diagrama nada tem de misterioso: ele
das funções quadráticas f (x) = x2 + 2x − 3 e g(x) = −x2 + é simplesmente uma maneira organizada de aplicarmos a
2x − 1. Podemos encontrar as raı́zes de f (x) utilizando regra de sinais para o produto.

BM
algum dos métodos que foram estudados no módulo sobre Assim, concluı́mos
 que o conjunto-verdade
 da inequação
funções quadráticas. Aqui, faremos isso fatorando x2 + x2 + 2x − 3 −x2 + 2x − 1 > 0 é:
2x − 3 diretamente. Temos que
V = {x ∈ R| − 3 < x < 1} = (−3, 1).
f (x) = x2 + 2x − 3
= x2 + 3x − x − 3
= x(x + 3) − (x + 3) Exemplo 2. Resolva, em R, a inequação
= (x + 3)(x − 1).
−x2 − 4x x2 + 5 ≤ 0.
 

Assim, f (x) possui raı́zes iguais a −3 e 1. Além disso,


como o coeficiente de x2 na expressão algébrica que define
f é igual a 1, que é um número real positivo, temos que o
gráfico de f é uma parábola voltada para cima:
O Solução. Repetindo o raciocı́nio empregado no exemplo
anterior, começaremos analisando os sinais das funções
quadráticas f (x) = −x2 − 4x e g(x) = x2 + 5. Também
como no exemplo anterior, vamos fatorar a expressão de
f (x) para encontrar as suas raı́zes:
da
f (x) = −x2 − 4x
= − x2 + 4x

+ +
= −x(x + 4).
x
−3 1 Assim, f (x) possui raı́zes iguais a 0 e −4. Como o coefi-
ciente de x2 de f (x) é −1, o gráfico de f é uma parábola

al

que possui concavidade voltada para baixo, logo, possui a


seguinte forma:

Por outro lado, temos que


rt

g(x) = −x2 + 2x − 1
+
= − x2 − 2x + 1 −4 0

x
Po

2
= −(x − 1) .

Assim, o gráfico de g é uma parábola voltada para baixo, − −


a qual tangencia o eixo das abcissas no ponto (1, 0).

1
x
− − Agora, uma vez que x2 ≥ 0, temos que g(x) = x2 +5 > 0,
qualquer que seja o número real x. Uma representação
para a parábola que representa o gráfico de g pode ser
vista na figura a seguir:

http://matematica.obmep.org.br/ 1 matematica@obmep.org.br
Da mesma forma, fatorando g(x) = −x2 + 5, obtemos

g(x) = −x2 + 5
= − x2 − 5

 √  √ 
=− x− 5 x+ 5 .
√ √

EP
+ + Assim, as raı́zes de g(x) são iguais a 5 e − 5. Como
o coeficiente de x2 na expressão de g(x) é −1, a parábola
x que representa o gráfico de g possui concavidade voltada
0 para baixo. A figura a seguir é um esboço desse gráfico:

No diagrama abaixo, utilizamos os sinais de f (x) e g(x),


estudados acima, para obter o sinal de f (x)g(x):

BM
− + − +
f (x) √ √
−4 0 − 5 5
x
+ + + g(x)

− + − − −
f (x)g(x)
−4 0

Portanto, concluı́mos
  que o conjunto-verdade da inequação
−x2 − 4x x2 + 5 ≤ 0 é:

V = {x ∈ R|x ≤ −4 ou x ≥ 0} = (−∞, −4] ∪ [0, +∞).


O O diagrama abaixo traz o estudo do sinal de f (x)g(x) a
partir dos sinais de f (x) e g(x), os quais foram estudados
acima.
da
Exemplo 3. Resolva, em R a inequação + + − − + f (x)
0 4
x2 − 4x −x2 + 5 < 0.
 
− + + − −
√ √ g(x)
Solução. Outra vez, vamos analisar os sinais das funções − 5 5
quadráticas f (x) = x2 + 4x e g(x) = −x2 + 5 separada- − + − + −
mente. Como √ √ f (x)g(x)
− 5 0 5 4
al

f (x) = x2 − 4x = x(x − 4),

f possui raı́zes 0 e 4. Também, uma vez que o coeficiente Concluı́mos


 assim que o conjunto-verdade da inequação
de x2 é igual a 1, a parábola que representa o gráfico de x2 − 4x −x2 + 5 < 0 é
rt

f possui concavidade voltada para cima. Veja na figura


√ √
abaixo um esboço do gráfico de f : V = {x ∈ R|x < − 5 ou 0 < x < 5 ou x > 4}
√ √
= (−∞, − 5) ∪ (0, 5) ∪ (4, +∞).
Po

+ + Exemplo 4. Resolva, em R, a inequação

x2 − 1 x2 − 2 x2 − 4 ≥ 0.
  
x
0 4
Solução. Uma vez mais, analisaremos separadamente os
− sinais das funções quadráticas f (x) = x2 − 1, g(x) = x2 − 2
e h(x) = x2 − 4. Como

f (x) = x2 − 1 = (x − 1)(x + 1),

http://matematica.obmep.org.br/ 2 matematica@obmep.org.br
temos que f (x) possui raı́zes iguais a 1 e −1. Como o No diagrama abaixo, fazemos o estudo do sinal de
coeficiente de x2 na expressão que define f (x) é igual a 1, f (x)g(x)h(x) tendo como base os estudos dos sinais de
a parábola que representa o gráfico de f tem concavidade f (x), g(x) e h(x), feitos acima:
voltada para cima. a figura abaixo mostra um esboço desse
gráfico. ++ + + − − − + + ++
f (x)
−1 1
++ + − − − − − + ++

EP
√ √
g(x)
− 2 2
++ − − − − − − − ++
+ + h(x)
−2 2
x ++ − + − − − + − ++
−1 1 f (x)g(x)h(x)

Desse modo, obtemos o conjunto-verdade da inequação

BM
 
Analogamente, x2 − 1 x2 − 2 x2 − 4 ≥ 0:
√ √ √ √
g(x) = x2 − 2 = (x − 2)(x + 2), V = (−∞, −2] ∪ [− 2, −1] ∪ [1, 2] ∪ [2, ∞).

de√onde concluı́mos que g(x) possui raı́zes iguais a 2 e
− 2. Além disso, o gráfico de g também é uma parábola
côncava para cima.

Dicas para o Professor

+ +
O Recomendamos que sejam utilizadas duas sessões de
50min para expor o conteúdo deste material. Sugerimos
aos professores que apresentem os exemplos com todos os
detalhes e proponham exemplos adicionais aos alunos, sem-
√ √ x pre dando algum tempo para que eles tentem encontrar as
da
− 2 2 soluções por conta própria. Um fato importante que deve
− ser observado é que, para estudar o sinal de uma função
quadrática qualquer, só é necessário saber a concavidade
da parábola e as raı́zes (caso existam). Neste material, op-
De modo semelhante ao que foi feito para as funções tamos por não utilizar fórmulas prontas para encontrar as
f (x) e g(x), temos raı́zes das funções quadráticas que foram tratadas. Uma
boa estratégia é propor aos alunos que tentem encontrar
h(x) = x2 − 4 = (x − 2)(x + 2). as raı́zes utilizando outros métodos.
al

As leituras complementares a seguir contêm material


Assim, h(x) possui raı́zes iguais e 2 e −2 e seu gráfico adicional sobre inequações envolvendo funções quadráticas.
também é uma parábola côncava para cima.
rt

Sugestões de Leitura Complementar


1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Vo-
lume 1: Números Reais. SBM, Rio de Janeiro, 2013.
Po

2. G. Iezzi. Os Fundamentos da Matemática Elementar,


+ + Volume 1: Números Reais e Funções. Atual Editora,
x Rio de Janeiro, 2013.
−2 2

http://matematica.obmep.org.br/ 3 matematica@obmep.org.br
Material Teórico - Inequações Produto e Quociente do Segundo Grau

Inequações Quociente do Segundo Grau

EP
Primeiro Ano

BM
Autor: Prof. Ulisses Lima Parente
Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

25 de maio de 2020
O
l da
rta
Po
1 Inequações produto do segundo −
−1 1
grau x

Neste material, mais uma vez utilizaremos os conheci- + +


mentos adquiridos sobre inequações do segundo grau, mas
agora para estudar inequações quociente do segundo grau.

EP
Iniciamos com o seguinte exemplo:

Exemplo 1. Para quais números reais x vale Agora, o diagrama abaixo utiliza os sinais de f (x) e g(x),
(x)
os quais estudamos acima, para obter o sinal de fg(x) :
x2 − 4
≥ 0? + − − − +
−x2 + 1 f (x)
−2 2

BM
Solução. Assim como procedemos com inequações pro- − − + − −
g(x)
duto, vamos analisar, separadamente, os sinais das funções −1 1
quadráticas f (x) = x2 − 4 e g(x) = −x2 + 1. Veja que − + − + − f (x)
g(x)

f (x) = x2 − 4 = x2 − 22
Assim, concluı́mos que o conjunto-verdade da inequação
= (x + 2)(x − 2). x2 −4
≥ 0 é:
−x2 +1

Desse modo, f (x) possui raı́zes iguais a −2 e 2. Além disso,


como o coeficiente de x2 na expressão algébrica que define
f é igual a 1, que é um número real positivo, temos que o
gráfico de f é uma parábola côncava para cima:
O V = {x ∈ R| − 2 ≤ x < −1 ou 1 < x ≤ −2}
= [−2, −1) ∪ (1, 2].

Note que tivemos o cuidado de excluir os valores x = −1 e


x = 1, uma vez que eles anulam −x2 +1 e, por conseguinte,
x2 −4
tornam sem sentido a fração −x 2 +1 .
da
Observe também que o diagrama acima é idêntico ao que
foi utilizado para resolver as inequações produto, pois as
mesmas regras de sinais que valem para o produto também
+ + valem para o quociente. Entretanto, frisamos que se deve
sempre ter o cuidado de excluir os pontos nos quais o de-
x nominador da inequação quociente é igual a zero, uma vez
−2 2 que eles tornam a fração correspondente sem sentido.
l

− Exemplo 2. Resolva, em R, a inequação


rta

x2 + 6x + 8
< 0.
−x2 − 2x
Solução. Repetindo o raciocı́nio empregado no exemplo
Por outro lado, temos que
anterior, começaremos analisando os sinais das funções
quadráticas f (x) = x2 + 6x + 8 e g(x) = −x2 − 2x. Vamos
g(x) = −x2 + 1 fatorar a expressão de f (x) para encontrar as suas raı́zes:
Po

= − x2 − 1

f (x) = x2 + 6x + 8
2 2

=− x −1
= x2 + 2x + 4x + 8
= −(x + 1)(x − 1).
= x(x + 2) + 4(x + 2)
= (x + 2)(x + 4)
Assim, g possui raı́zes iguais a −1 e 1 e, uma vez que o
coeficiente de x2 na expressão algébrica que define g é −1, Assim, f (x) possui raı́zes iguais a −2 e −4. Como o coe-
que é um número negativo, o gráfico de g é uma parábola ficiente de x2 de f (x) é 1, o gráfico de f é uma parábola
côncava para baixo. A figura a seguir é um esboço desse que possui concavidade voltada para cima, logo, possui a
gráfico: seguinte forma:

http://matematica.obmep.org.br/ 1 matematica@obmep.org.br
Solução. Como nos exemplos anteriores, vamos analisar
separadamente os sinais das funções quadráticas f (x) =
−x2 + 5 e g(x) = x2 + 4x − 5. Fatorando f (x) = −x2 + 5,
+ + obtemos
x f (x) = −x2 + 5 = − x2 − 5

−4 − −2
 √  √ 
= − x− 5 x+ 5 .

EP
Agora, √ √
2 Assim, as raı́zes de f (x) são iguais a 5 e − 5. Como
g(x) = −x − 2x = −x(x + 2),
o coeficiente de x2 na expressão de f (x) é −1, a parábola
logo, g possui raı́zes iguais a −2 e 0. Além disso, uma vez que representa o gráfico de f possui concavidade voltada
que o coeficiente de x2 na expressão que define g é igual a para baixo. A figura a seguir é um esboço desse gráfico:
−1, o gráfico de g é uma parábola côncava para baixo. Um
esboço dessa parábola pode ser vista na figura a seguir:

BM
−2 + 0
x +
√ √
− − − 5 5
x

− −
No diagrama abaixo, utilizamos os sinais de f (x) e g(x),

+ − +
(x)
estudados acima, para obter o sinal de fg(x) :

+ f (x)
O
Por outro lado,
−4 −2
− − −
da
+ g(x) g(x) = x2 + 4x − 5
−2 0 = x2 − x + 5x − 5
− + + − f (x) = x(x − 1) + 5(x − 1)
g(x)
−4 −2 0 = (x − 1)(x + 5),
Portanto, tendo novamente o cuidado de excluir os valo- de sorte que g possui raı́zes 1 e −5. Agora, como o
res de x que anulam o denominador, concluı́mos que o coeficiente de x2 em x2 + 4x − 5 é igual a 1, a parábola
l

2
conjunto-verdade da inequação x−x+6x+8
2 −2x < 0 é: que representa o gráfico de g possui concavidade voltada
rta

para cima. Veja, na figura abaixo, um esboço do gráfico


V = {x ∈ R|x < −4 ou x > 0} de g:
= (−∞, −4) ∪ (0, +∞).

Ainda em relação ao exemplo anterior, uma solução al-


ternativa, ligeiramente mais simples, consistiria em primei-
Po

ramente notar que, para x 6= −2, tem-se


+ +
2
x + 6x + 8 ✘(x✘
+✘2)(x + 4)
✘ x+4 x
= =− .
−x2 − 2x −x✘
(x✘+✘2)
✘ x −5 1

Assim, bastaria resolver a inequação quociente de primeiro −


grau x+4
x > 0.

Exemplo 3. Resolva, em R, a inequação


−x2 + 5
≤ 0.
x2 + 4x − 5

http://matematica.obmep.org.br/ 2 matematica@obmep.org.br
(x)
O próximo diagrama traz o estudo do sinal de fg(x) a
partir dos sinais de f (x) e g(x), os quais foram estudados x
acima. 0

− − + − − − −
√ √ f (x)
− 5 5

EP
+ − − + + g(x)
−5 1
− + − − − f (x)
√ √ g(x) Analogamente, uma vez que
−5 − 5 1 5
g(x) = x2 − 1 = (x + 1)(x − 1),

BM
concluı́mos que g(x) possui raı́zes iguais a −1 e 1. Além
Concluı́mos, assim, que o conjunto-verdade da inequação disso, como o coeficiente de x2 em x2 − 1 é igual a 1, o
−x2 +5
x2 +4x−5 ≤ 0 é gráfico de g é uma parábola côncava para cima. A figura
abaixo é um esboço desse gráfico.

V = {x ∈ R|x < −5 ou − 5 ≤ x 6= 1}

= (−∞, −5) ∪ [− 5, 1) ∪ (1, +∞).
+ +
Mais uma vez chamamos a atenção para o fato de que
as raı́zes da função quadrática que está no denominador
da inequação quociente devem ser excluı́das do conjunto-
verdade, ainda que o sı́mbolo utilizado na inequação não
seja de desigualdade estrita.
O −1
− 1
x

(x)
No diagrama abaixo, fazemos o estudo do sinal de fg(x)
da
tendo como base os estudos dos sinais de f (x) e g(x), feitos
acima:
Exemplo 4. Resolva, em R, a inequação
− − − −
−1 f (x)
> 1. 0
x2 − 1
+ − − + g(x)
Solução. Inicialmente, veja que −1 1
l

− + + − f (x)
rta

g(x)
−1 −1 −1 0 1
> 1 ⇐⇒ 2 −1>0
x2 − 1 x −1
−1 − 1 · x2 − 1

⇐⇒ >0 Desse modo, obtemos o conjunto-verdade da inequação
x2 − 1 −x2
x2 −1 > 1, que é o mesmo da inequação x2 −1 > 0, é igual
−1

−1 − x2 + 1 a:
⇐⇒ >0
x2 − 1
V = {x ∈ R| − 1 < x < 0 ou 0 < x < 1}
Po

−x2
⇐⇒ 2 > 0. = (−1, 0) ∪ (0, 1).
x −1

Desse modo, vamos estudar os sinais das funções f (x) =


−x2 e g(x) = x2 − 1. Veja que f (x) possui uma única Exemplo 5. Resolva, em R, a inequação
raiz, em x = 0, logo, o gráfico de f tangencia o eixo das x x
abcissas nesse ponto. Além disso, como o coeficiente de x2 + ≥ 0.
x−1 x−2
na expressão que define f (x) é igual a −1, a parábola que
representa o gráfico de f tem concavidade voltada para Solução. Inicialmente, vamos transformar a inequação
baixo. A próxima figura mostra um esboço desse gráfico. dada em uma inequação quociente, operando a soma do

http://matematica.obmep.org.br/ 3 matematica@obmep.org.br
primeiro membro: Dicas para o Professor
x x x(x − 2) + x(x − 1) Recomendamos que sejam utilizadas duas sessões de
+ =
x−1 x−2 (x − 1)(x − 2) 50min para expor o conteúdo deste material. Sugerimos
x(x − 2 + x − 1) aos professores que apresentem os exemplos com todos os
= detalhes e proponham exemplos adicionais aos alunos, sem-
(x − 1)(x − 2)
x(2x − 3) pre dando algum tempo para que eles tentem encontrar as
=

EP
. soluções por conta própria.
(x − 1)(x − 2)
Assim como no material sobre Inequações Produto, neste
x x material também optamos por não utilizar fórmulas pron-
Daı́, em vez de resolver a inequação x−1 + x−2 ≥ 0, re-
solveremos a inequação quociente x(2x−3) tas para encontrar as raı́zes das funções quadráticas que
(x−1)(x−2) ≥ 0. Para
foram tratadas. Recomendamos que o professor proponha
isso, analisaremos os sinais das funções quadráticas f (x) =
aos alunos que tentem encontrar as raı́zes utilizando outros
x(2x − 3) e g(x) = (x − 1)(x − 2), repetindo os argumentos
métodos.
utilizados nos exemplos anteriores.
O professor também deve chamar a atenção dos alunos

BM
Assim fazendo, é fácil perceber que os gráficos de f e g
para o fato de que as raı́zes da função quadrática que está
são, respectivamente, as parábolas esboçadas nas figuras
no denominador da inequação não pertencem ao conjunto
seguintes:
verdade, independentemente do sı́mbolo de desigualdade
utilizado.
As leituras complementares a seguir contêm material
adicional sobre inequações envolvendo funções quadráticas.

+ + O Sugestões de Leitura Complementar


1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Vo-
x lume 1: Números Reais. SBM, Rio de Janeiro, 2013.
0 − 3
2
2. G. Iezzi. Os Fundamentos da Matemática Elementar,
Volume 1: Números Reais e Funções. Atual Editora,
da
Rio de Janeiro, 2013.

+ +

− x
1 2
l

f (x)
No diagrama abaixo, fazemos o estudo do sinal de g(x) :
rta

+ − − + + f (x)
0 3
+ + − −
2
+ g(x)
Po

1 2
+ − + − + f (x)
g(x)
0 1 3 2
2

x x
Logo, o conjunto-verdade da inequação x−1 + x−2 ≥ 0 é
 
3
V = (−∞, 0] ∪ 1, ∪ (2, +∞).
2

http://matematica.obmep.org.br/ 4 matematica@obmep.org.br
Material Teórico - Módulo Inequações Mistas e Sistemas

Inequações mistas

EP
Primeiro Ano do Ensino Médio

Autor: Ulisses Lima Parente


Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

BM
29 de junho de 2020
O
al
rt
Po
1 Inequações mistas

Neste material, utilizaremos os conhecimentos adquiridos


nos módulos sobre inequações do primeiro e segundo graus −3
+ 1
para estudar inequações produto e quociente que envol- x
vem funções afins e quadráticas. Iniciamos com o seguinte
exemplo: − −

Exemplo 1. Para quais números reais x vale

EP
(2x − 8)(−x2 − 2x + 3) ≥ 0
Agora, o diagrama abaixo utiliza os sinais de f (x) e g(x),
os quais estudamos acima, para obter o sinal de f (x)g(x):
Solução. Repetindo o procedimento feito nos módulos so-
bre inequações produto e quociente, vamos analisar, sepa-
radamente, os sinais da função afim f (x) = 2x − 8 e da − − − +
função quadrática g(x) = −x2 − 2x + 3. Veja que f (x)
4

BM
− + − −
g(x)
2x − 8 = 0 ⇐⇒ x = 4. −3 1
+ − + −
f (x)g(x)
Desse modo, f (x) tem raiz igual a 4. Além disso, como a −3 1 4
taxa de variação de f é igual a 2 (que é um número real
positivo), temos que f é crescente. Logo, o gráfico de f é
Desse modo, concluı́mos queo conjunto-verdade da ine-
uma reta que tem a seguinte forma:
quação (2x − 8) −x2 − 2x + 3 ≥ 0 é:
O
V = {x ∈ R|x ≤ −3 ou 1 ≤ x ≤ 4}
+ = (−∞, − 3] ∪ [1,4].

x Note que o diagrama acima é idêntico ao que foi utilizado


4
al

para resolver as inequações produto e inequações quoci-


− ente, pois as regras de sinais continuam válidas.
rt

Exemplo 2. Resolva, em R, a inequação


Por outro lado, temos que
5−x
≤ 0.
2 x2 + 2x
Po

g(x) = −x − 2x + 3
= − x2 + 2x − 3

Solução. Repetindo o raciocı́nio empregado no exemplo
= − x2 + 2x + 1 − 4

anterior, vamos começar analisando os sinais da função
= − (x + 1)2 − 22

afim f (x) = 5 − x e da função quadrática g(x) = x2 + 2x.
= −(x + 1 + 2)(x + 1 − 2) Veja que:
= −(x + 3)(x − 1)
f (x) = 0 ⇐⇒ 5 − x = 0
Assim, g possui raı́zes iguais a −3 e 1 e, uma vez que o ⇐⇒ x = 5.
coeficiente de x2 na expressão algébrica que define g é −1,
que é um número negativo, o gráfico de g é uma parábola Assim, f (x) tem raiz igual a 5. Como a taxa de variação
côncava para baixo. A figura a seguir é um esboço desse de f (x) é −1, f é decrescente, logo, o gráfico de f é uma
gráfico: reta que possui a seguinte forma:

http://matematica.obmep.org.br/ P.1
matematica@obmep.org.br
1 1
Desse modo, resolver a inequação x−2 + x−3 ≤ 0 é o mesmo
que resolver
+ 2x − 5
≤ 0.
(x − 2)(x − 3)
x
5 Assim, analisaremos os sinais das funções f (x) = 2x − 5
− e g(x) = (x − 2)(x − 3) separadamente. Como

f (x) = 0 ⇐⇒ 2x − 5 = 0
5
⇐⇒ x = ,
Por outro lado, 2

EP
g(x) = x2 + 2x = x(x + 2), temos que f possui raiz igual a 25 . Além disso, uma vez
que a taxa de variação de f é igual a 2, que é um número
logo, g possui raı́zes iguais a −2 e 0. Além disso, uma vez
positivo, temos que f é crescente. Assim, o gráfico de f
que o coeficiente de x2 na expressão que define g é igual a
tem a seguinte forma:
1, o gráfico de g é uma parábola côncava para cima. Um
esboço dessa parábola está desenhado na figura a seguir:

+
−2 − 0
+

BM x

No diagrama abaixo, utilizamos os sinais de f (x) e g(x),


(x)
estudados acima, para obter o sinal de fg(x) :

5
2
x

Por outro lado,g(x) = (x − 2)(x − 3) possui raı́zes iguais


a 2 e 3. Ademais, como o coeficiente de x2 em g(x) =
O
(x − 2)(x − 3) = x2 − 5x + 6 é igual a 1, a parábola que
+ + + − representa o gráfico de g possui concavidade voltada para
f (x)
5 cima. Veja, na figura abaixo, um esboço do gráfico de g:
+ − + + g(x)
−2 0
al

+ − + − f (x)
g(x)
−2 0 5 + +
Logo, tendo o cuidado de excluir os valores de x que anu-
rt

lam o denominador, concluı́mos que o conjunto-verdade da x


inequação x5−x 2 − 3
2 +2x ≤ 0 é:

V = {x ∈ R| − 2 < x < 0 ou x ≥ 5} O próximo diagrama traz o estudo do sinal de fg(x) (x)


a
Po

= (−2,0) ∪ [5, + ∞). partir dos sinais de f (x) e g(x), os quais foram estudados
acima.

Exemplo 3. Resolva, em R, a inequação


− − + +
1 1 f (x)
+ ≤ 0. 5
x−2 x−3
+ − 2
− +
Solução. Veja que g(x)
2 3
1 1 x−3 x−2 − + − +
+ = + f (x)
x−2 x−3 (x − 2)(x − 3) (x − 2)(x − 3) g(x)
x−2+x−3 2 5 3
2
=
(x − 2)(x − 3)
2x − 5
= Concluı́mos, assim, que o conjunto-verdade da inequação
(x − 2)(x − 3)

http://matematica.obmep.org.br/ P.2
matematica@obmep.org.br
1 1
x−2 + x−3 ≤ 0 é + − − + f (x)
5 −1 1
V = {x ∈ R|x < 2 ou ≤ x < 3} − − + +
 2 g(x)
5 0
= (−∞,2) ∪ ,3 . − + − +
2 f (x)
g(x)
−1 0 1
Mais uma vez chamamos a atenção para o fato de que as
raı́zes da função que está no denominador da inequação
mista devem ser excluı́das do conjunto-verdade, ainda que Desse modo, obtemos o conjunto-verdade da inequação
o sı́mbolo utilizado na inequação não seja de desigualdade x2 −1
> 0 é igual a:

EP
x
estrita.
V = {x ∈ R| − 1 < x < 0 ou x > 1}
Exemplo 4. Resolva, em R, a inequação = (−1,0) ∪ (1,∞).

x2 − 1
> 0.
x

BM
Solução. Mais uma vez, vamos estudar os sinais das Dicas para o Professor
funções f (x) = x2 − 1 e g(x) = x. Veja que
Recomendamos que sejam utilizadas duas sessões de
f (x) = x2 − 1, 50min para expor o conteúdo deste material. Sugerimos
aos professores que apresentem os exemplos com todos os
donde concluı́mos que f possui raı́zes iguais a −1 e 1. Uma detalhes e proponham exemplos adicionais aos alunos, sem-
vez que o coeficiente de x2 em x2 −1 é igual a 1, a parábola pre dando algum tempo para que eles tentem encontrar as
que representa o gráfico de f tem concavidade voltada para soluções por conta própria.
O
cima. A próxima figura mostra um esboço desse gráfico. Assim como no material sobre inequações produto e
quociente, neste material também optamos por não uti-
lizar fórmulas prontas para encontrar as raı́zes das funções
quadráticas que foram tratadas. Recomendamos que o pro-
fessor proponha aos alunos que tentem encontrar as raı́zes
+ + utilizando outros métodos.
al

O professor também deve chamar a atenção dos alunos


para o fato de que as raı́zes das funções (quadráticas ou
x
−1 1 afins) que apareçam no denominador da inequação não po-
− dem pertencer ao conjunto verdade, independentemente do
sı́mbolo de desigualdade utilizado.
rt

Agora, é claro que g(x) = x tem raiz no ponto x = 0 e, As leituras complementares a seguir contêm material
uma vez que g é uma função linear com taxa de variação adicional sobre inequações envolvendo funções quadráticas.
positiva, g é crescente. A figura abaixo é um esboço do
Po

gráfico de g.
Sugestões de Leitura Complementar
1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Vo-
+ lume 1: Números Reais. SBM, Rio de Janeiro, 2013.

x 2. G. Iezzi. Os Fundamentos da Matemática Elementar,


0 Volume 1: Números Reais e Funções. Atual Editora,
− Rio de Janeiro, 2013.

(x)
No diagrama abaixo, fazemos o estudo do sinal de fg(x)
tendo como base os estudos dos sinais de f (x) e g(x), feitos
acima:

http://matematica.obmep.org.br/ P.3
matematica@obmep.org.br
Material Teórico - Módulo Inequações Mistas e Sistemas

Sistemas de inequações do segundo grau

EP
Primeiro Ano do Ensino Médio

Autor: Ulisses Lima Parente


Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

BM
27 de julho de 2020
O
al
rt
Po
1 Sistemas de inequações +
−1 1
x
Neste material, outra vez utilizaremos os conhecimentos
adquiridos no módulo sobre inequações do segundo grau,
desta vez para estudar sistemas de inequações do segundo − −
grau. Iniciamos com o seguinte exemplo:
Exemplo 1. Resolva, em R, o seguinte sistema:
(
x2 − 2x ≥ 0
−x2 + 1 > 0 é o conjunto

EP
Solução. Uma vez que queremos encontrar todos os x ∈ R V = {x ∈ R| − 1 < x ≤ 0} = (−1,0].
que satisfaçam ambas as inequações, o conjunto-verdade
do sistema de inequações é dado pela interseção dos Note que x = −1 foi excluı́do, pois a inequação x2 − 1 > 0
conjuntos-verdade das inequações que o formam. é estrita.
Então, repetindo o procedimento feito nos módulos sobre
inequações produto e quociente, vamos analisar, separada- + +−− + {f (x) ≥ 0}
mente, os sinais das funções quadráticas f (x) = x2 − 2x e 0 2

BM
g(x) = −x2 + 1. − ++− −
Veja que {g(x) > 0}
−1 1

x2 − 2x = 0 ⇐⇒ x(x − 2) = 0. {f (x) ≥ 0} ∩ {g(x) > 0}


−1 0
Desse modo, f (x) tem raı́zes iguais a 0 e 2. Além disso,
como o coeficiente de x2 em x2 − 2x é igual a 1, que é
positivo, o gráfico de f é uma parábola aberta para cima.
Veja um esboço do gráfico de f na figura abaixo: Exemplo 2. Resolva o sistema abaixo em R:
O
(
x2 + 2x − 3 < 0
x2 − 4 > 0
+ +
Solução. Analisemos os sinais das funções quadráticas
f (x) = x2 + 2x − 3 e g(x) = x2 − 4 separadamente.
al

x
0 2 Podemos encontrar as raı́zes de f (x) utilizando algum
− dos métodos que foram estudados no módulo sobre funções
quadráticas. Uma possibilidade é fatorar x2 + 2x − 3 dire-
Por outro lado, temos que tamente:
rt

g(x) = −x2 + 1 f (x) = x2 + 2x − 3


= − x2 − 1 = x2 + 3x − x − 3


= − x2 − 1 2 = x(x + 3) − (x + 3)

Po

= −(x + 1)(x − 1). = (x + 3)(x − 1).

Assim, g possui raı́zes iguais a −1 e 1 e, uma vez que o Assim, f (x) possui raı́zes iguais a −3 e 1. (Outra possibi-
coeficiente de x2 na expressão algébrica que define g é −1, lidade seria utilizar a fórmula de Báskara para obter
que é um número negativo, o gráfico de g é uma parábola p
aberta para baixo. A próxima figura esboça esse gráfico. 2 −2 ± 22 − 4 · 1(−3)
x + 2x − 3 = 0 ⇔ x =
No diagrama seguinte, destacamos os conjuntos-verdade 2·1
das inequações x2 − 2x ≥ 0 e −x2 + 1 > 0. Recordando que ⇔ x = −3 ou 1.)
a interseção desses dois conjuntos é o conjunto-verdade do
sistema, concluı́mos que o conjunto-verdade do sistema Além disso, como o coeficiente de x2 na expressão
( algébrica que define f é igual a 1, que é um número real
x2 − 2x ≥ 0 positivo, temos que o gráfico de f é uma parábola aberta
−x2 + 1 > 0 para cima. A figura a seguir o esboça:

http://matematica.obmep.org.br/ P.1
matematica@obmep.org.br
Solução. Repetindo o procedimento feito nos exemplos
anteriores, vamos analisar, separadamente, os sinais das
funções quadráticas f (x) = x2 + 3x e g(x) = x2 − x.
+ + Primeiramente, uma vez que

x x2 + 3x = 0 ⇐⇒ x(x + 3) = 0,
−3 1
− f (x) tem raı́zes iguais a 0 e −3. Além disso, o coeficiente
de x2 em x2 + 3x é igual a 1, que é positivo, de sorte que
o gráfico de f é uma parábola aberta para cima. Veja um
esboço do gráfico de f na figura abaixo:
De modo semelhante ao que foi feito para a função f (x),

EP
temos
g(x) = x2 − 4 = (x − 2)(x + 2).
Assim, g(x) possui raı́zes 2 e −2 e seu gráfico também é
uma parábola aberta para cima:

+ +

+
−2


2
+
x
BM −3

0

Quanto à função quadrática g, temos que


x
O
x2 − x = x(x − 1).
No próximo diagrama podemos ver, em destaque, os
conjuntos-verdade das inequações x2 + 2x − 3 < 0 e Assim, g possui raı́zes iguais a 0 e 1 e, uma vez que o
x2 − 4 > 0. A interseção dos dois é o conjunto-verdade coeficiente de x2 na expressão algébrica que define g é 1,
do sistema. que é um número positivo, o gráfico de g é uma parábola
aberta para cima. A figura a seguir, esboçamos tal gráfico:
al

+ − − + + {f (x) < 0}
−3 1
+ + − − +
{g(x) > 0}
rt

−2 2

{f (x) < 0} ∩ {g(x) > 0} + +


−3 −2
x
0 − 1
Po

Desse modo, obtemos que o conjunto-verdade do sistema


No diagrama abaixo, vemos em destaque, os conjuntos-
(
x2 + 2x − 3 < 0
verdades das inequações x2 + 3x ≤ 0 e x2 − x ≤ 0, além
x2 − 4 > 0
do conjunto-verdade do sistema:
é igual a
V = (−3, − 2).
+ − + + {f (x) ≤ 0}
−3 0
Exemplo 3. Encontre o conjunto-verdade do seguinte sis- + + − +
tema de inequações em R: {g(x) ≤ 0}
0 1
(
x2 + 3x ≤ 0 {f (x) ≤ 0} ∩ {g(x) ≤ 0}
. 0
x2 − x ≤ 0

http://matematica.obmep.org.br/ P.2
matematica@obmep.org.br
Desse modo, o conjunto-verdade do sistema
(
x2 + 3x ≤ 0
x2 − x ≤ 0
+ +

V = {0}. √ √ x
− 2 2

Exemplo 4. Resolva o seguinte sistema em R:

− + +

EP
(
x2 + 6x + 8 ≤ 0 + + {f (x) ≤ 0}
.
x2 − 2 > 0 −4 −2
+ + + − + {g(x) > 0}
Solução. Mais uma vez, começaremos analisando os sinais √ √
− 2 2
das funções quadráticas f (x) = x2 + 6x+ 8 e g(x) = x2 − 2.
Fatorando a expressão de f (x) para encontrar suas {f (x) ≤ 0} ∩ {g(x) > 0}
raı́zes, temos: −4 −2

BM
f (x) = x2 + 6x + 8
Dicas para o Professor
= x2 + 2x + 4x + 8
= x(x + 2) + 4(x + 2) Recomendamos que sejam utilizadas duas sessões de
= (x + 2)(x + 4) 50min para expor o conteúdo deste material. Sugerimos
aos professores que apresentem os exemplos com todos os
Assim, f (x) possui raı́zes iguais a −2 e −4. Como o coefi- detalhes e proponham exemplos adicionais aos alunos, sem-
ciente de x2 de f (x) é 1, o gráfico de f é uma parábola que pre dando algum tempo para que eles tentem encontrar as
possui abertura voltada para cima, logo, tem a seguinte soluções por conta própria.
O
forma: Assim como nos materiais sobre inequações produto e
quociente do segundo grau e sobre inequações mistas, em
geral aqui também optamos por não utilizar fórmulas pron-
tas para encontrar as raı́zes das funções quadráticas que
foram tratadas. Recomendamos que o professor proponha
+ + aos alunos que tentem encontrar as raı́zes utilizando outros
al

x métodos.
−4 − −2 O professor também deve chamar a atenção dos alu-
nos para o fato de que as extremidades dos intervalos que
compõem o conjunto-verdade devem ser excluı́das deste
rt

Por outro lado, conjunto quando a inequação for estrita.


As leituras complementares a seguir contêm material
g(x) = x2 − 2
√ √ adicional sobre inequações envolvendo funções quadráticas.
= (x − 2)(x + 2),
Po


de√onde concluı́mos que g(x) possui raı́zes iguais a 2 e Sugestões de Leitura Complementar
− 2. Além disso, o gráfico de g também é uma parábola
aberta para cima (veja a próxima figura). 1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Vo-
No diagrama a seguir, obtemos o conjunto-verdade do lume 1: Números Reais. SBM, Rio de Janeiro, 2013.
sistema a partir dos conjuntos-verdade de f (x) ≤ 0 e de
g(x) > 0. Desse modo, obtemos que o conjunto-verdade 2. G. Iezzi. Os Fundamentos da Matemática Elementar,
do sistema ( Volume 1: Números Reais e Funções. Atual Editora,
x2 + 6x + 8 < 0 Rio de Janeiro, 2013.
x2 − 2 > 0
é igual a
V = [−4, − 2].

http://matematica.obmep.org.br/ P.3
matematica@obmep.org.br
Material Teórico - Módulo Inequações Mistas e
Sistemas

Sistemas mistos de inequações

BM Primeiro Ano do Ensino Médio

Autor: Ulisses Lima Parente


Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto
lO

24 de agosto de 2020
ta
r
Po
1 Sistemas mistos
Neste material, mais uma vez utilizaremos os conhecimentos
adquiridos nos módulos sobre inequações de primeiro e se-
gundo graus, agora para estudar sistemas mistos, ou seja, que
envolvem inequações de primeiro e segundo graus. Iniciamos
com o seguinte exemplo:
Exemplo 1. Resolva, em R, o seguinte sistema:

x+1≥0
.
x2 − 1 ≤ 0

BM
Solução. Como nosso interesse é o de encontrar todos os
números reais x que satisfaçam as duas inequações simul-
taneamente, o conjunto-verdade do sistema é dado pela
interseção dos conjuntos-verdade das inequações que o for-
mam.
Desse modo, repetindo o procedimento feito nos módulos
sobre inequações produto e quociente, vamos analisar, sepa-
radamente, os sinais da função afim f (x) = x + 1 ≥ 0 e da
lO
função quadrática g(x) = x2 − 1.
Veja que
x + 1 = 0 ⇐⇒ x = −1.
Logo, f (x) tem raiz igual a −1. Além disso, como a taxa de
variação de f é igual a 1 (que é um número real positivo),
temos que f é crescente. Daı́, o gráfico de f é uma reta que
tem a seguinte forma:
ta

+
r

x
−1
Po

http://matematica.obmep.org.br/ P.1
matematica@obmep.org.br
Por outro lado, temos que

g(x) = x2 − 1 = x2 − 12 = (x + 1)(x − 1).

Assim, g possui raı́zes iguais a −1 e 1 e, uma vez que o


coeficiente de x2 na expressão algébrica que define g é 1, que
é um número positivo, o gráfico de g é uma parábola côncava
para cima. A próxima figura esboça esse gráfico.

BM +

−1
− 1
+
x

No diagrama seguinte, destacamos os conjuntos-verdade


das inequações x + 1 ≥ 0 e x2 − 1 ≤ 0. Recordando que
a interseção desses dois conjuntos é o conjunto-verdade do
lO
sistema, concluı́mos que o conjunto-verdade do sistema

x+1≥0
x2 − 1 ≤ 0

é o conjunto

V = {x ∈ R| − 1 ≤ x ≤ 1} = [−1,1].
ta

−−++++
{f (x) ≥ 0}
−1
++−−++
r

{g(x) ≤ 0}
−1 1
Po

{f (x) ≥ 0} ∩ {g(x) ≤ 0}
−1 1

http://matematica.obmep.org.br/ P.2
matematica@obmep.org.br
Exemplo 2. Resolva o sistema abaixo em R:

−x + 3 < 0
.
−x2 + 4x > 0

Solução. Faremos um estudo dos sinais das funções f (x) =


−x + 3 e g(x) = −x2 + 4x separadamente.
Temos que

−x + 3 = 0 ⇐⇒ x = 3.

Desse modo, f (x) tem raiz igual a 3. Além disso, como a

BM
taxa de variação de f é igual a −1 (que é um número real
negativo), temos que f é decrescente. Logo, o gráfico de f é
uma reta que tem a seguinte forma:

+
x
lO
3

Por outro lado, temos

g(x) = −x2 + 4x = −x(x − 4).


ta

Assim, g(x) possui raı́zes 0 e 4 e seu gráfico é uma parábola


côncava para baixo, pois o coeficiente de x2 em −x2 + 4x é
igual a −1.
r
Po

http://matematica.obmep.org.br/ P.3
matematica@obmep.org.br
+
0 4
x

− −

BM
No próximo diagrama podemos ver, em destaque, os
conjuntos-verdade das inequações −x + 3 < 0 e −x2 + 4x > 0.
A interseção dos dois é o conjunto-verdade do sistema.

+++++−−− {f (x) < 0}


3
−−++++−−
lO
{g(x) > 0}
0 4

{f (x) < 0} ∩ {g(x) > 0}


3 4

Desse modo, obtemos que o conjunto-verdade do sistema



−x + 3 < 0
ta

−x2 + 4x > 0

é igual a
V = (3,4).
r

Exemplo 3. Encontre o conjunto-verdade do seguinte sistema


Po

de inequações em R:
 2
x + 6x + 9 > 0
.
x+3≥0

http://matematica.obmep.org.br/ P.4
matematica@obmep.org.br
Solução. Repetindo o procedimento feito nos exemplos an-
teriores, vamos analisar, separadamente, os sinais da função
quadrática f (x) = x2 +6x+9 e da função afim g(x) = x+3 ≥
0.
Primeiramente, uma vez que

f (x) = x2 + 6x + 9
= x2 + 2 · x · 3 + 3 2
= (x + 3)2 ,

f (x) tem uma única raiz igual a −3. Além disso, o coeficiente

BM
de x2 em x2 + 6x + 9 é igual a 1, que é positivo, o que nos
permite concluir que o gráfico de f é uma parábola côncava
para cima. Veja um esboço do gráfico de f na figura abaixo:
lO
+ +
x
−3 0

Agora, veja que


ta

g(x) = x + 3 = 0 ⇐⇒ x = −3.

Desse modo, g(x) tem raiz igual a −3. Além disso, como a
taxa de variação de g é igual a 1, que é positivo, temos que
r

g é crescente. Logo, o gráfico de g é uma reta que tem a


seguinte forma:
Po

No diagrama abaixo, vemos em destaque, os conjuntos-


verdades das inequações x2 + 6x + 9 > 0 e x + 3 ≥ 0, além
do conjunto-verdade do sistema:

http://matematica.obmep.org.br/ P.5
matematica@obmep.org.br
+
x
−3

++++++ {f (x) > 0}

BM −−−+++
−3

−3

−3
{g(x) ≥ 0}

{f (x) > 0} ∩ {g(x) ≥ 0}

Desse modo, o conjunto-verdade do sistema


lO
 2
x + 6x + 9 > 0
x+3≥0

V = (−3,∞).

Exemplo 4. Resolva o seguinte sistema em R:


ta

 2
x −4<0
.
2x − 7 > 0
Solução. Mais uma vez, começaremos analisando os sinais
das funções f (x) = x2 − 4 e g(x) = 2x − 7.
r

Fatorando a expressão de f (x) para encontrar suas raı́zes,


temos:
Po

f (x) = x2 − 4
= x2 − 22
= (x + 2)(x − 2)

http://matematica.obmep.org.br/ P.6
matematica@obmep.org.br
Assim, f (x) possui raı́zes iguais a −2 e 2. Como o coeficiente
de x2 de f (x) é 1, o gráfico de f é uma parábola que possui
concavidade voltada para cima, logo, tem a seguinte forma:

+ +

BM −2


2
x

Por outro lado,


lO
7
g(x) = 2x − 7 = 0 ⇐⇒ x = ,
2
donde concluı́mos que g(x) possui raiz igual a 72 . Além disso,
a taxa de variação de g(x) é igual a 2, logo, g é crescente.
Podemos ver um esboço do gráfico de g na figura abaixo.
ta

+
x
7
2
r


Po

No diagrama a seguir, obtemos o conjunto-verdade do


sistema a partir dos conjuntos-verdade de f (x) < 0 e de

http://matematica.obmep.org.br/ P.7
matematica@obmep.org.br
g(x) > 0. Desse modo, obtemos que o conjunto-verdade do
sistema  2
x −4<0
2x − 7 > 0
é igual a
V = ∅.

+ + − − − −++++ {f (x) < 0}


−2 2
− − − − − −−−++
BM 7
2
{g(x) > 0}

{f (x) < 0} ∩ {g(x) > 0}

Dicas para o Professor


lO
Recomendamos que sejam utilizadas duas sessões de 50min
para expor o conteúdo deste material. Sugerimos aos profes-
sores que apresentem os exemplos com todos os detalhes e
proponham exemplos adicionais aos alunos, sempre dando
algum tempo para que eles tentem encontrar as soluções por
conta própria.
ta

Assim como nos materiais sobre inequações produto e


quociente do segundo grau, inequações mistas e sistemas de
inequações do segundo grau, em geral aqui também optamos
por não utilizar fórmulas prontas para encontrar as raı́zes
das funções quadráticas que foram tratadas. Recomendamos
r

que o professor proponha aos alunos que tentem encontrar as


raı́zes utilizando outros métodos.
Po

O professor também deve chamar a atenção dos alu-


nos para o fato de que as extremidades dos intervalos que
compõem o conjunto-verdade devem ser excluı́das deste con-
junto quando a inequação for estrita.

http://matematica.obmep.org.br/ P.8
matematica@obmep.org.br
As leituras complementares a seguir contêm material adi-
cional sobre inequações envolvendo funções quadráticas.

Sugestões de Leitura Complementar


1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Vo-
lume 1: Números Reais. SBM, Rio de Janeiro, 2013.
2. G. Iezzi. Os Fundamentos da Matemática Elementar,
Volume 1: Números Reais e Funções. Atual Editora,

BMRio de Janeiro, 2013.


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http://matematica.obmep.org.br/ P.9
matematica@obmep.org.br

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