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Natureza Jurídica das Universidades

São várias as divergências doutrinárias que se colocam relativamente à natureza jurídica


das universidades. Por um lado, existem autores que consideram que estas integram a
Administração Indireta e, por outro, há quem enquadre as universidades no âmbito da
administração autónoma. Deste modo, para melhor compreensão da temática, é
necessário fazer uma breve contextualização da matéria teórica com esta relacionada.
O Governo é o órgão superior da Administração Pública portuguesa (art.º 182 CRP) e, a
este cabe, no exercício das suas funções administrativas “dirigir os serviços e a
atividade da administração direita do Estado (…) superintender na administração
indireta e exercer a tutela sobre esta e sobre a administração autónoma;” (art.º 199 al. d),
da CRP). O
O Estado prossegue um número variado de fins, sendo que parte desses fins são
prosseguidos de forma Direta enquanto outros são prosseguidos de forma Indireta.
Seguindo de perto as lições dos professores Freitas do Amaral e Marcelo Rebelo de
Sousa, temos que:
 A Administração Direita (imediata), é prosseguida pelo Estado sob direção do
Governo, na sua dependência hierárquica e, portanto, sem autonomia
administrativa.
 A Administração Indireta é ainda uma administração do Estado, constituída
por serviços incorporados no Estado, mas que dispõe de órgãos próprios de
gestão, ou seja, se outro órgão, que não o Estado, prossegue fins do interesse
deste, estamos perante a Administração Estadual Indireta. É uma administração
que existe me consequência do alargamento e crescente complexificação das
funções do estado. É este que detém a responsabilidade financeira e que
disponibiliza, primordialmente, o capital necessário para criar a organização e
que, eventualmente, sustenta os seus prejuízos. Importa salientar que estas
entidades, por disporem tanto de personalidade como de autonomia, respondem
juridicamente pelos seus atos através do seu património próprio.
 A Administração Autónoma, por seu turno, não se submete nem ao poder de
superintendência, nem ao poder de direção, apenas se submete ao poder de tutela
por parte do Estado (art.º 199/4/d; art.º 229 e art.º 242 da CRP). Esta
administração exerce fins próprios de forma própria, ou seja, prossegue fins que
não são os do Estado.

Atualmente, o Professor Freitas do Amaral, propõe um quadro em que separa institutos


públicos de empresas públicas, na medida em que os primeiros se caracterizam por ter
natureza burocrática e funções de gestão pública, enquanto que, as segundas possuem
uma natureza empresarial e desemprenham uma atividade de gestão privada. Neste
quadro, que inicialmente era diferente, o Professor insere as associações públicas na
administração autónoma.
É neste bloco dos institutos públicos que, na perspetiva do Professor Freitas do Amaral,
as universidades públicas se inserem, contrariamente às universidades privadas que, não
só, não pertencem à Administração, como não são pessoas coletivas. A classificação de
universidade pública como sendo um instituto publico justifica-se pelo seu carater
cultural, pela sua organização com serviços abertos ao publico e pela sua realização de
prestações individuais. Porém, esta não é uma direção-geral personalizada nem um
património, daí se encontrar inserida nos estabelecimentos públicos.
Contrariamente ao que refere o Professor Freitas do Amaral, o Professor Vasco Pereira
da Silva considera que as universidades estão inseridas no setor da Administração
Autónoma do Estado, uma vez que estas seguem atribuições próprias, logo, não podem
fazer parte da administração indireta. Não é o ministro do ensino superior que dita as
regras das Universidades, sendo que existe uma ligação de caráter associativo.
As universidades assentam numa estrutura pessoal, o seu substrato consubstancia-se na
relação entre professor e aluno e, consequentemente, a relação entre aprender e ensinar.
Esta logica de ensino implica que o professor tenha uma formação especifica, ou seja, o
substrato da universidade é a relação que que se cria entre professor e aluno e por isso
mesmo, o Professor considera que não existe uma realidade associativa e,
consequentemente, a universidade não deve ser considerada uma associação pública.
Estas são, assim, consideradas entidade que fazem parte da Administração local, mas
não são consideradas associações. São, sim, consideradas entidades que prosseguem
atribuições próprias de forma própria através de órgãos livremente eleitos.
Ainda, numa outra perspetiva, o Professor Paulo Otero atribui à terceira categoria
autónoma de institutos públicos o nome de universidades públicas. O Professor justifica
a criação esta distinção perante as restantes categorias dos Institutos, uma vez que as
universidades públicas possuem existência obrigatória e um estatuto de autonomia
constitucionalmente garantido (art.º 76 nº2 da CRP). O art.º 76 nº2 da CRP refere ainda
que as universidades gozam de “autonomia estatuária, científica, pedagógica e
financeira (…)”.
O Professor, salienta assim a importância das universidades públicas, uma vez que estas
são o único ente público institucional com tripla garantia, observando assim uma
garantia de designação, de existência e de autonomia. Importa referir que, embora as
universidades públicas disponham de diferentes subespécies de autonomia, é necessário
existir harmonia com a lei existente.
Em síntese, podemos concluir que uma parte da doutrina, apoiada pelo Professor Diogo
Freitas do Amaral, considera que as Universidades fazem pate da Administração
Indireta e, por seu turno, as atribuições prosseguidas pelas Universidades
consubstanciam-se em fins que são próprios do Estado. Por outro lado, o Professor
Vasco Pereira da Silva, considera que as Universidades se inserem no âmbito da
Administração Autónoma. Do meu ponto de vista, esta segunda caracterização parece
ser mais adequada à realidade, na medida em que as Universidades prosseguem os seus
próprios fins e não, os fins do Estado.

Indicação Bibliográfica:
DIOGO FREITAS DO AMARAL, “Curso de Direito Administrativo”, Volume I,
4ºedição, Almedina, Coimbra 2015
Apontamentos das aulas teóricas do Professor Vasco Pereira da Silva
PAULO OTERO, «Manual de Direito Administrativo», vol. I, Almedina, Coimbra,
2015

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