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Desafios e Progressos da Educação Inclusiva no Brasil: Uma

Análise das Políticas, Práticas e Movimentos Sociais

Edson Lessa dos Santos1

Resumo

Este artigo examina a trajetória e os desafios da educação inclusiva no Brasil, destacando as


iniciativas legislativas e as dificuldades práticas enfrentadas no caminho para alcançar um
sistema educacional verdadeiramente inclusivo. A partir da Declaração de Salamanca até as
políticas nacionais recentes, o Brasil tem demonstrado um compromisso crescente com a
inclusão educacional, refletindo esforços globais para promover igualdade de oportunidades
para todos os estudantes. O artigo discute a importância de superar barreiras infraestruturais,
pedagógicas e culturais, sublinhando a necessidade de transformações significativas nas
práticas educacionais e na cultura escolar. Ademais, analisa-se o papel dos movimentos
sociais e das políticas públicas na promoção da inclusão e na superação dos desafios
relacionados à formação de professores, à infraestrutura e ao preconceito. A inclusão é
apresentada não apenas como uma questão de políticas públicas, mas como uma
transformação cultural e social necessária para valorizar a diversidade e garantir a igualdade
de acesso à educação de qualidade.

Palavras-chave: Educação Inclusiva, Políticas Públicas, Barreiras à Inclusão, Movimentos


Sociais, Formação de Professores, Diversidade.

Abstract
This article examines the trajectory and challenges of inclusive education in Brazil,
highlighting legislative initiatives and practical difficulties encountered on the path to
achieving a truly inclusive educational system. From the Salamanca Statement to recent
national policies, Brazil has shown an increasing commitment to educational inclusion,
reflecting global efforts to promote equal opportunities for all students. The article discusses
the importance of overcoming infrastructural, pedagogical, and cultural barriers, emphasizing
the need for significant transformations in educational practices and school culture.
Furthermore, it analyzes the role of social movements and public policies in promoting
inclusion and overcoming challenges related to teacher training, infrastructure, and prejudice.
Inclusion is presented not just as a matter of public policy, but as a necessary cultural and
social transformation to value diversity and ensure equal access to quality education.

Keywords: Inclusive Education, Public Policies, Barriers to Inclusion, Social Movements,


Teacher Training, Diversity.

1
Acadêmico do 2º período do curso de Mestrado Internacional em Ciências da Educação da Ivy Enber Christian
University. E-mail: edilessa2408@gmail.com
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1. INTRODUÇÃO

A educação inclusiva no Brasil é contextualizada por compromissos internacionais


significativos, sendo a Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994) um marco essencial que
delineou as diretrizes para a criação de sistemas educacionais inclusivos globalmente. Este
documento ressaltou a importância de adaptar as escolas para satisfazer as necessidades de
todas as crianças, com ênfase particular naquelas com necessidades educacionais especiais. A
adesão do Brasil a esses princípios demonstra uma sintonia com as diretrizes internacionais,
refletindo um esforço contínuo para promover uma sociedade que valorize a diversidade e
ofereça igualdade de oportunidades educacionais.
A evolução da educação inclusiva no país é marcada por progressos legislativos e
enfrenta desafios práticos, que se alinham às aspirações da Declaração de Salamanca. A
Constituição de 1988, ao assegurar a educação como um direito universal (Brasil, 1988), e a
implementação da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva em 2008 (Brasil, 2008), representam etapas fundamentais na materialização dos
ideais de inclusão. No entanto, a realização plena desses ideais esbarra na superação de
obstáculos infraestruturais, pedagógicos e culturais, sublinhando a complexidade da inclusão
no âmbito nacional.
Este compromisso com a educação inclusiva reflete a dedicação do Brasil ao
desenvolvimento de um sistema educacional abrangente, que acolha todos os estudantes,
independentemente de suas particularidades. A jornada desde a promulgação da Constituição
até a atualidade evidencia avanços significativos em direção à inclusão.
O papel da educação inclusiva na sociedade brasileira, conforme discutido por
Carvalho (2004), é caracterizado por transformações que ilustram tanto progressos quanto
desafios. Apesar das políticas afirmativas, a implementação enfrenta barreiras como a
escassez de recursos, deficiências infraestruturais e a insuficiência na formação de
professores, que impactam a eficácia da inclusão.
A análise do discurso sobre educação inclusiva apresenta um panorama de contrastes.
Enquanto autoridades governamentais e acadêmicas salientam os avanços normativos a favor
da inclusão, pesquisadores como Mantoan (2003) apontam discrepâncias entre os ideais
proclamados e a prática nas escolas, sugerindo a necessidade de revisões críticas nas
abordagens pedagógicas e na cultura escolar para que a inclusão se concretize efetivamente.
Os aspectos históricos e políticos são cruciais para entender os avanços e desafios
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enfrentados pela educação inclusiva no Brasil. A transição da educação especial para um


modelo inclusivo reflete um paradigma em mudança, buscando substituir a segregação por um
sistema que valorize a diversidade e promova oportunidades educacionais iguais para todos.
Assim, a educação inclusiva destaca-se como um elemento central na política
educacional do Brasil, representando um desafio contínuo para as políticas públicas, as
práticas pedagógicas e a cultura das escolas. A inclusão eficaz demanda mais do que a
observância das leis; requer uma transformação nas percepções e atitudes em relação à
diversidade e ao aprendizado, assegurando que todos os estudantes, sem exceção, desfrutem
de um ambiente educativo que seja ao mesmo tempo acolhedor e propício ao
desenvolvimento.

2. A EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO BRASIL: CONTEXTO


HISTÓRICO E POLÍTICO

A evolução da educação inclusiva no Brasil, embasada nas contribuições de Maria


Teresa Eglér Mantoan e outros teóricos, reflete um processo histórico e político de
significativas transformações no campo da educação especial e inclusiva. Desde a
promulgação da Constituição Federal de 1988, que garantiu educação como direito de todos,
até a implementação de políticas e leis específicas, como a Política Nacional de Educação
Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva de 2008, o Brasil tem buscado adequar-se aos
princípios de uma educação que acolha todas as diferenças.
O contexto histórico da educação inclusiva no Brasil é marcado por marcos legais que
visam promover o acesso e a permanência de todos os alunos nas escolas regulares,
independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou
outras. Essa trajetória reflete um paradigma educacional que se afasta da visão
segregacionista, em direção a uma concepção mais abrangente e integradora, que considera a
diversidade como um aspecto enriquecedor e essencial ao processo educativo.
A educação inclusiva no Brasil representa um compromisso inadiável com o
desenvolvimento de uma sociedade fundamentada na justiça e na igualdade de oportunidades.
Mantoan (2003) sublinha a necessidade de transcender a mera integração de alunos com
deficiência em classes regulares, advogando por uma transformação abrangente que englobe
práticas pedagógicas, currículos e a estrutura organizacional das escolas. O objetivo é
assegurar que todos os estudantes, valorizando suas singularidades e potenciais, aprendam
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conjuntamente. Este enfoque implica um compromisso ético e político com a criação de um


contexto social mais equitativo, onde a educação é a força motriz para a inclusão social e para
a celebração das diferenças. Como enfatiza Mantoan (2021, p. 112), "É urgente que nossas
escolas sejam espaços de acolhimento e respeito às diferenças, onde cada aluno possa
encontrar caminhos para o seu desenvolvimento integral."
Assim, a educação inclusiva emerge como um pilar na construção de um futuro
promissor para o Brasil, desafiando gestores públicos, educadores, famílias e a sociedade em
geral a abraçarem essa transformação. Ela é uma obra em progresso, que vai além da
implementação de políticas e legislações, demandando uma revolução cultural que reconheça
e exalte a diversidade como um ativo educacional significativo e um direito inalienável de
todos os cidadãos. Portanto, a posição da educação inclusiva na sociedade brasileira é
proeminente, representando um desafio contínuo que requer dedicação, reflexão e ação
coletiva para sua plena realização.

3. ENUNCIADOS HISTÓRICOS QUE MOLDARAM A EDUCAÇÃO INCLUSIVA

A trajetória da educação inclusiva no Brasil é marcada por uma série de


transformações significativas ao longo do tempo, que refletem mudanças nas percepções
sociais, políticas públicas e abordagens pedagógicas em relação às pessoas com deficiência.
Este percurso histórico pode ser compreendido por meio da análise de documentos legais,
teorias educacionais e práticas pedagógicas que, conjuntamente, contribuíram para o atual
paradigma da inclusão escolar.
No século XIX, as primeiras iniciativas de educação para pessoas com deficiência no
Brasil foram caracterizadas pela criação de instituições especializadas, como o Instituto dos
Meninos Cegos (atual Instituto Benjamin Constant) em 1854, e o Imperial Instituto de
Surdos-Mudos (hoje Instituto Nacional de Educação de Surdos), fundado em 1857. Essas
instituições, embora representassem um avanço no atendimento educacional especializado,
também refletiam uma abordagem segregacionista, que isolava os alunos com deficiência do
convívio com a sociedade mais ampla.
A partir da década de 1960, observou-se uma mudança de perspectiva com o
reconhecimento da Educação Especial como um campo de conhecimento específico, o que
estimulou o desenvolvimento de políticas e práticas educacionais voltadas para a integração
desses alunos. No entanto, foi com a Constituição Federal de 1988 que se estabeleceu um
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marco legal importante para a educação inclusiva no país, ao garantir o direito à educação
para todos, sem discriminação, promovendo a igualdade de oportunidades educacionais.
Autores como Mantoan (2003) e Sassaki (1997) têm sido fundamentais para a
construção teórica e prática da educação inclusiva no Brasil. Mantoan destaca que a inclusão
escolar exige mudanças profundas no sistema educacional, não apenas para adaptar as
estruturas físicas e curriculares, mas também para promover uma cultura de valorização das
diferenças e de respeito à diversidade. Ela assevera que:

É inegável que os velhos paradigmas da modernidade continuam sendo contestados


e o conhecimento, matéria-prima da educação escolar, mais do que nunca, passa por
uma reinterpretação. As diferenças culturais, sociais, étnicas, religiosas e de gênero,
entre outras, são cada vez mais desveladas e destacadas, sendo esse descortinar
condição imprescindível para entender como aprendemos e compreendemos o
mundo e a nós mesmos (MANTOAN, 2003, p. 13).

A formação de professores é apontada por Carvalho (2004) como um dos maiores


desafios para a efetivação da educação inclusiva, indicando a necessidade de investimentos
significativos na capacitação docente e na revisão de práticas pedagógicas. Freitas (2010)
aborda as barreiras atitudinais, evidenciando que preconceitos e estigmas sociais ainda
constituem obstáculos significativos à inclusão.
Por fim, Caraçato (2016) ressalta a importância de políticas públicas robustas que
sustentem os esforços individuais de escolas e professores, destacando a necessidade de uma
integração efetiva entre iniciativas governamentais e práticas escolares para a promoção de
uma educação verdadeiramente inclusiva.
Portanto, a educação inclusiva no Brasil é um processo em constante evolução,
marcado por avanços significativos e desafios persistentes. A superação desses desafios exige
um compromisso coletivo com a transformação das estruturas educacionais, das práticas
pedagógicas e das atitudes sociais, em prol de um sistema educacional que acolha a todos,
respeitando suas individualidades e promovendo a igualdade de oportunidades.

4. FATORES SEGREGATÓRIOS E A INDEFINIÇÃO DO DIREITO À EDUCAÇÃO


INCLUSIVA

Ao longo da história brasileira, a segregação na educação foi marcada por diversos


fatores, tais como preconceitos enraizados, infraestrutura física inadequada nas escolas e
resistência às mudanças por parte de alguns educadores. Esses elementos contribuíram para a
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indefinição e a lenta aceitação do direito à Educação Inclusiva, que ainda enfrenta desafios
consideráveis para sua plena realização. Sassaki descreve a trajetória da inclusão em fases
distintas, cada uma refletindo o estado da sociedade e suas disposições para com as pessoas
com deficiência. A resistência observada no contexto brasileiro pode ser vista como reflexo
de uma transição da "Fase de Segregação Institucional" para a "Fase de Inclusão", onde a
educação inclusiva começa a ser vista não apenas como uma abordagem pedagógica, mas
como um direito humano fundamental.
Carvalho (2004) ressalta a importância da formação de professores para superar os
desafios da inclusão, indicando que "a capacitação e o preparo docente são imprescindíveis
para a transformação das práticas pedagógicas e a promoção de um ambiente escolar
inclusivo" (CARVALHO, 2004, p. 103).
Neste cenário, a reflexão sobre a integração e a superação da segregação histórica se
faz necessária. Sassaki (1997) discute a natureza da integração como uma resposta à exclusão
social prolongada das pessoas com deficiência, afirmando que:

A ideia de integração surgiu para derrubar a prática da exclusão social a que foram
submetidas as pessoas deficientes por vários séculos. A exclusão ocorria em um
sentido total, ou seja, as pessoas portadoras de deficiência eram excluídas da
sociedade para qualquer atividade porque eram consideradas inválidas, sem utilidade
para a sociedade e incapazes de trabalhar, características estas atribuídas
indistintamente a todos que tivessem alguma deficiência (SASSAKI, 1997, p. 01).

Sassaki traz à luz o histórico de marginalização enfrentado por pessoas com


deficiência, realçando a segregação como uma prática arraigada e resistente ao tempo. Essa
segregação não é apenas um resquício de um passado distante, mas um desafio
contemporâneo que persiste em diversas formas, muitas vezes menos explícitas, mas
igualmente limitadoras. A trajetória da Educação Inclusiva, portanto, não pode ser
compreendida sem reconhecer e desmantelar os resquícios dessa segregação.
Dessa forma, o autor sublinha a urgência de repensar e reestruturar as práticas
educacionais e sociais para garantir que todos possam participar plenamente da sociedade. A
educação, sendo um direito fundamental, deve ser um dos primeiros espaços a refletir essa
inclusão, criando ambientes que aceitem e celebrem as diferenças, e que sejam acessíveis e
acolhedores para todos os alunos.
Portanto, ao abordar a segregação e a indefinição do direito à educação inclusiva, é
fundamental considerar as contribuições de Sassaki, que não apenas retratam um panorama
histórico de exclusão, mas também fornecem uma direção para a construção de uma
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sociedade verdadeiramente inclusiva.


Nesse contexto, a Educação Inclusiva no Brasil é compreendida como um direito que
vem sendo construído e redefinido ao longo do tempo, demandando um compromisso
contínuo com a eliminação dos fatores segregatórios e com a promoção de uma sociedade que
valoriza a diversidade e garante igualdade de oportunidades para todos.

4.1 Formação de Professores e Desafios da Inclusão

A implementação eficaz da educação inclusiva no Brasil enfrenta desafios notáveis,


destacando-se a formação e a preparação contínua dos professores. Caraçato (2016) destaca
que o sucesso na inclusão de alunos com necessidades especiais depende crucialmente de
práticas pedagógicas adaptativas e abrangentes. Todavia, as escolas ainda carecem de
recursos, infraestrutura e, sobretudo, de capacitação profissional dos educadores para lidar
com a diversidade em sala de aula.
A evolução da inclusão escolar, tanto nacional quanto internacionalmente, reflete um
avanço significativo em conceitos, práticas e desafios, alinhada às premissas de Mantoan
(2003) sobre a necessidade de uma educação genuinamente inclusiva. Desde os movimentos
iniciais no século XVI, a inclusão escolar tem visado à superação de barreiras que segregam
alunos com necessidades educacionais especiais, rumo a um sistema educacional que acolha
todos indiscriminadamente.
A pesquisa de Araújo e Linhares (2014) sublinha a Declaração de Salamanca como
um marco nas políticas de inclusão, enfatizando a urgência de mudanças profundas nas
estruturas e práticas pedagógicas. Esta transformação implica uma mudança de paradigma que
transcende a integração física, ecoando os argumentos de Mantoan (2003) sobre a valorização
das diferenças como potenciais educativos.
A formação contínua dos professores surge como pilar essencial para a efetivação da
inclusão escolar. O artigo enfatiza que, além de reformulações curriculares e organizacionais,
é vital que os educadores estejam equipados para receber a diversidade em suas salas de aula,
o que engloba conhecimento teórico sobre deficiências e uma abordagem reflexiva sobre suas
práticas pedagógicas.
Concordando com Mantoan (2003), Araújo e Linhares (2014) salientam a importância
de um ensino que promova a aprendizagem colaborativa e valorize as experiências de todos
os alunos, mostrando que a educação inclusiva não beneficia apenas alunos com necessidades
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especiais, mas enriquece o ambiente de aprendizagem para todos. Com base no contexto
histórico e nas abordagens modernas discutidas, o artigo ressalta a necessidade de uma
transformação ampla na educação que acolha a diversidade de todos os alunos. Esse processo
requer um compromisso com a criação de uma sociedade mais justa e inclusiva, onde as
diferenças são vistas como um valor adicional.
Considerando a análise de Araújo e Linhares (2014) e integrando as visões de
Mantoan (2003) sobre a essencialidade do acolhimento e respeito às diferenças no ambiente
escolar, propõe-se reflexões e iniciativas para avançar na prática da inclusão escolar. Essas
iniciativas abrangem a formação continuada de professores, colaboração, flexibilização
curricular, ambientes escolares acolhedores, políticas públicas efetivas e ações de
sensibilização sobre inclusão. Conclui-se que a inclusão escolar é um processo complexo que
demanda uma abordagem holística, envolvendo mudanças estruturais, culturais e práticas no
contexto escolar e na sociedade. O trabalho de Araújo e Linhares (2014), juntamente com as
contribuições de Mantoan (2003) e Caraçato (2016), fornece um marco teórico e prático
valioso para o progresso na construção de sistemas educacionais inclusivos.

5. CONTEXTO TERRITORIAL E REPRESENTAÇÃO POLÍTICA DA EDUCAÇÃO


INCLUSIVA

A Educação Inclusiva no Brasil, enquanto política educacional, transcende as barreiras


territoriais, estendendo-se por todo o território nacional. Esta política é implementada e
supervisionada pelo Ministério da Educação (MEC), bem como pelas Secretarias Estaduais e
Municipais de Educação, que atuam em colaboração para assegurar que alunos com
necessidades educacionais especiais sejam contemplados de maneira adequada e efetiva.
A Educação Especial, um segmento da Educação Inclusiva, visa especificamente
atender a este grupo de alunos. A inclusão, nesse sentido, não é apenas um termo, mas uma
prática que implica a adaptação da sociedade para atender às necessidades das pessoas com
deficiência. Isso permite que esses indivíduos tenham a oportunidade de desenvolver
plenamente suas capacidades em todas as esferas da vida.
Sassaki (1997) argumenta que o princípio da inclusão reside na adaptação da
sociedade às "necessidades das pessoas com deficiência para que estas possam desenvolver-se
em todos os aspectos de sua vida" (p. 167).
Segundo o autor, inclusão é um processo pelo qual a sociedade se ajusta para ser capaz
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de incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com deficiência e, ao mesmo tempo, estas
se preparam para assumir seus papéis na sociedade. Conforme Sassaki, a inclusão acontece
quando se reconhece a necessidade de mudanças tanto nas pessoas quanto nas estruturas
sociais, e se trabalha para eliminar barreiras e criar ambientes que acomodem as diferenças
individuais e promovam a igualdade de oportunidades.
A partir dessa perspectiva, torna-se claro que a inclusão é um compromisso coletivo
que engloba não apenas as instituições educacionais, mas também todos os setores da
sociedade. Trata-se de uma responsabilidade compartilhada entre governo, escolas, famílias e
a própria comunidade.
Além disso, a representação política da Educação Inclusiva no Brasil evidencia o
comprometimento do país com os princípios da Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994) e
com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável (ONU, 2015), que preconiza uma
educação de qualidade e equitativa para todos, assegurando aprendizagem inclusiva e
equitativa. Nesse contexto, a legislação brasileira tem se desenvolvido para apoiar este
movimento, com a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Brasil, 2015) e o
Plano Nacional de Educação (Brasil, 2014), que estabelecem metas claras para a inclusão.
Estas legislações são reflexo de um esforço contínuo para garantir que todos tenham seu
espaço na sala de aula e fora dela, permitindo que a diversidade seja não apenas aceita, mas
valorizada como um aspecto enriquecedor da experiência educacional e social.
Portanto, o desafio permanente é transformar a inclusão de um conceito ideal em uma
realidade concreta, através da implementação de políticas, práticas e atitudes que favoreçam a
verdadeira participação de todos os cidadãos na vida social, econômica e cultural do país.

6. MOVIMENTOS SOCIAIS NA LUTA PELA EDUCAÇÃO PÚBLICA

No contexto brasileiro, a contribuição dos movimentos sociais para a promoção da


Educação Pública é indiscutível, articulando-se em múltiplas frentes para defender uma
educação inclusiva, igualitária e democrática. Tais movimentos mobilizam pais, professores,
estudantes, ativistas dos direitos das pessoas com deficiência, organizações não
governamentais (ONGs), e associações diversas, cada um trazendo contribuições
significativas para a luta pela inclusão educacional e por direitos mais amplos dentro do
sistema educacional.
Entre os principais agentes dessa luta, destaca-se a Confederação Nacional dos
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Trabalhadores em Educação (CNTE), entidade sindical que representa os trabalhadores da


educação no Brasil. A CNTE tem sido uma força motriz na defesa dos direitos dos
educadores, na busca por condições de trabalho adequadas e na promoção de políticas
públicas que assegurem uma educação de qualidade para todos.
Os movimentos estudantis também têm um papel crucial nesse cenário. Com uma
longa história de atuação no Brasil, organizações como a União Nacional dos Estudantes
(UNE) têm reivindicado políticas educacionais mais inclusivas e democráticas, defendendo a
educação como um direito de todos e um pilar para o desenvolvimento social e individual.
No âmbito da educação popular, movimentos como o dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST) e o dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) têm enfatizado a educação como um
direito humano fundamental, lutando por um acesso mais igualitário à educação,
particularmente para as populações marginalizadas.
A luta pela inclusão e contra a discriminação também é bandeira de grupos
representativos da comunidade LGBTQIA+, que buscam garantir uma educação livre de
preconceitos e que respeite a diversidade. Da mesma forma, o Movimento Negro e o
Movimento de Mulheres têm sido essenciais na promoção da equidade racial e de gênero
dentro do sistema educacional, respectivamente, visando a inclusão de conteúdos que
valorizem a diversidade cultural, histórica e de gênero.
Os movimentos de pessoas com deficiência, por sua vez, têm se dedicado a garantir
que as escolas públicas sejam espaços acessíveis e inclusivos, onde todos os estudantes,
independentemente de suas condições físicas ou cognitivas, possam aprender e se desenvolver
plenamente.
Cada um desses movimentos, com suas demandas e perspectivas específicas, contribui
de maneira significativa para o fortalecimento da Educação Pública no Brasil. Eles
representam uma força coletiva que desafia continuamente o status quo, pressionando por
reformas que garantam uma educação verdadeiramente inclusiva, que respeite as diferenças e
promova a igualdade de oportunidades para todos. A interação entre esses movimentos sociais
e o Estado é fundamental para a construção de políticas educacionais que reflitam os
princípios de justiça social, equidade e democracia.
Referências normativas, como a Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994) e a
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006), fornecem o
arcabouço internacional que respalda essas lutas, reforçando a necessidade de sistemas
educacionais que sejam capazes de atender a diversidade de seus alunos. Assim, a
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mobilização desses movimentos sociais constitui um pilar essencial na construção de uma


sociedade mais justa e igualitária, onde a educação desempenha um papel central como direito
de todos e instrumento de transformação social.

REFERÊNCIAS

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histórico e alguns apontamentos para a prática do professor. Paidéia, Belo Horizonte,
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Especiais, 1994. Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: Acesso e
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