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Ministério Público dá razão à população e considera ilegal a Declação de Impacte

Ambiental (DIA) para a Mina do Barroso

No seguimento da ação judicial iniciada pela Junta de Freguesia de Covas do Barroso para
anular a Declaração de Impacte Ambiental (DIA) atribuída ao projeto da Savannah
Resources, o Ministério Público (MP) enviou um requerimento ao Tribunal Administrativo e
Fiscal de Mirandela no qual considera que “o ato administrativo corporizado no DIA erra
manifestamente de facto e de Direito e padece de vício conducente à anulabilidade”. Em
causa estão vários erros graves na Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) e na DIA, que
dizem respeito a vários âmbitos analisados e que aqui enumeramos:

1 - A DIA reconhece o impacto da atividade mineira no Sistema Agro-Silvo-Pastoril do


Barroso e aponta para o risco de desclassificação do estatuto de Património Agrícola
Mundial (SIPAM) que lhe foi atribuido em 2018. Por este motivo, a decisão favorável
condicionada viola as obrigações assumidas pelo Estado junto da Organização das Nações
Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) (ponto 29 do requerimento). O Ministério
Público considera que a DIA deve mover-se no quadro dos compromissos existentes e não
pela vontade política do Executivo. Na mesma linha, a DIA não identifica os impactos nos
financiamentos europeus em curso no SIPAM, nem os pondera à luz do Plano Estratégico
da Política Agrícola Comum (PEPAC) (ponto 47).

2 - A DIA favorável condicionada viola legislação em vigor que não permite a revelação e
aproveitamento de recursos minerais em território SIPAM (ponto 51). Legislação essa que
foi considerada em avaliações ambientais precedentes, nomeadamente as Avaliações
Ambientais Estratégicas ao PEPAC e ao Programa de Prospeção e Pesquisa de Lítio, e que
a DIA não refere (pontos 95, 96, 98).

3 - A AIA para a ampliação apresenta uma situação de referência para a atividade mineira
existente a partir de um contrato prévio (2016) que não foi sujeito a avaliação ambiental. A
DIA recente deveria confrontar a atividade viabilizada com a única DIA precedente (2005)
com a que agora se pretende realizar (ponto 112).

4 - A área necessária para o projeto (851 ha) é superior à que foi considerada como área de
afetação imediata (593ha) (ponto 123). Falta avaliar o que acontece na área mais ampla e
ainda os impactos cumulativos com outros projetos (ponto 128). Considera-se ainda que
apresentar o projeto como uma ampliação desvirtua e minimiza a avaliação de impactes
negativos (ponto 165).

5 - A DIA não pondera o impacto cumulativo do projeto conjuntamente com a Mina do


Romano, no município de Montalegre (pontos 260, 275) nem os resultantes da nova estrada
de acesso ao projeto, produzindo um fraccionamento da avaliação de impacte ambiental
(pontos 302 e 303).

6 - O MP considera que a DIA não faz uma correta avaliação da gestão de resíduos de
extração mineira e viola o regime aplicável (ponto 234). A DIA posterga um aspecto fulcral
da avaliação - a gestão dos resíduos - para uma fase posterior à avaliação, o procedimento
de verificação de conformidade (RECAPE).
7 - Face à admissão de perigosidade dos resíduos de extração e as soluções apresentadas
para a sua eliminação, a conclusão da DIA em matéria de recursos hídricos é insustentável
pelo risco de poluição de águas subterrâneas e superficiais (ponto 312). O MP defende que
deve prevalecer o princípio de prevenção, o qual conduziria a um parecer desfavorável
(ponto 321).

8 - A AIA não define o risco de vulnerabilidade a acidentes e catástrofes das 6 barragens


previstas (ponto 256).

9 - A DIA não considera o factor de incerteza associado aos recursos geológicos (44%
corresponde a recursos inferidos e não a reservas provadas (ponto 290) nem o pondera
face aos impactos socio-económicos negativos da exploração, nomeadamente o perigo de
desclassificação do SIPAM ou a inutilização de financiamento público na região (ponto 291).
Também desconsidera a perda de oportunidade de o SIPAM poder vir a ser declarado
património classificado da UNESCO (ponto 292).

10 - As medidas propostas para mitigar e compensar os efeitos sobre o lobo ibérico


carecem de demonstração de efetividade, sendo remetidas para o procedimento de
verificação de conformidade (RECAPE) (pontos 327 e 328), o que constitui uma violação do
regime jurídico de proteção do lobo ibérico (ponto 329).

11 - Finalmente, o MP considera que a DIA viola legislação em vigor por ausência de


elementos que permitam ao público interessado, titular do direito de participação na
consulta pública, compreender o projeto e expressar as suas opiniões e preocupações
(ponto 348).

Face ao exposto, o Ministério Público não só aderiu à posição manifestada pela Junta de
Freguesia como ainda alargou o âmbito das ilicitudes do projecto. Dá assim razão à tese
que a associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso (UDCB), a Junta de Freguesia e
a Comunidade Local dos Baldios de Covas do Barroso têm vindo a defender: a DIA resultou
mais de uma vontade política que de um processo de avaliação transparente, plural e
realizado dentro dos parâmetros legais estabelecidos.

A comunidade de Covas do Barroso continuará a lutar pelo futuro da região e apela às


gentes do Barroso para que não aceitem ser sacrificadas em nome de uma transição que
apenas serve umas poucas indústrias europeias e os interesses do poder político que delas
se beneficia. O futuro do Barroso passa por defender e valorizar o Património Agrícola
Mundial, não pelo seu fim.

Nelson Gomes
Presidente da UDCB
udcovasdobarroso@gmail.com
Lúcia Dias da Mó
Presidenta da JF de Covas do Barroso
jfcovasdobarroso@boticas.pt

Aida Alves Fernandes


Presidenta do Conselho Diretivo da Comunidade Local dos Baldios de Covas do Barroso
cdbcovasdobarroso@gmail.com

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