REFLEXÕES SOBRE TRABALHO E EDUCAÇÃO NA PERSPECTIVA
DA FORMAÇÃO INTEGRAL Beatriz da Silva DE PAULA¹
As relações entre educação formal e formação de trabalhadores podem ser
abordadas por diversas perspectivas, em inúmeras disciplinas e abordagens teóricas. A educação pode ser considerada um meio de preparar os indivíduos para o trabalho e a vida em sociedade, porém, na dinâmica do sistema capitalista e no mundo globalizado em que vivemos, constantes transformações podem exigir novas habilidades e competências aos trabalhadores, o que levanta questões sobre a adequação da educação visando atender às novas demandas. Quando pensamos nas bases conceituais da Educação Profissional e Tecnológica, conceitos como politecnia, omnilateralidade e formação integral são os primeiros que surgem no debate. Na perspectiva da formação integral cabe aos profissionais da educação e dirigentes da sociedade compreender que a formação de trabalhadores vai muito além da preparação técnica para o mercado de trabalho. Implica, na verdade, em uma formação para o mundo do trabalho, considerando as dinâmicas sociais, históricas, políticas e econômicas que envolvem o ser humano e sua atuação profissional na sociedade em que vive. A difusão de ideias tecnicistas na educação profissional revela o que Gramsci afirmava a respeito da não-neutralidades das escolas, considerando que se tratam de espaços que refletem e reproduzem as relações de poder e dominação presentes na sociedade, e o regime de acumulação flexível utiliza da educação profissional como forma de moldar trabalhadores às necessidades mercadológicas, frequentemente afastando o ensino científico do técnico, e contribuindo para a manutenção da alienação do trabalho. Pensar alternativas para a transformação da educação e da formação de trabalhadores implica diretamente no resgate da concepção ontológica de trabalho, pois “formar-se humano só é possível devido ao trabalho [...] não é possível mais confundir trabalho com a ideia de emprego” (DELLA FONTE, 2018, p. 11), por isso a atuação entre teoria e prática, ciência e técnica é algo indissociável durante uma formação adequada, e precisam ser norteados por um currículo integrado, baseado
¹ Aluna do Curso de Especialização em Docência Para Educação Profissional, Científica e
Tecnológica do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul. na unidade entre trabalho, ciência, cultura e tecnologia, que articule os conhecimentos gerais e específicos em uma perspectiva crítica e emancipatória. Em consonância, a politecnia visa superar a dicotomia entre trabalho manual e intelectual, entre teoria e prática, entre formação básica e profissional, com “sentido voltado para a formação humana em todos os aspectos, a educação omnilateral, humanista e científica” (CIAVATTA, 2014, p. 189), a partir dela, pressupõe-se a transformação das relações sociais e de produção, que no mundo atual são marcadas por exploração, alienação e desigualdade. Se o trabalho é a base da existência humana, “o trabalho forma o objeto e o próprio sujeito do trabalho, ao permitir que este se projeta no objeto exteriorizado” (DELLA FONTE, 2018, p. 12), pode-se concluir que a existência humana é resultado do trabalho e das criações realizadas através dele até o momento. Desse modo, ressalta a luta pela formação de trabalhadores uma ação em prol da própria emancipação humana. A busca por espaços pedagógicos que promovam a formação integral dos indivíduos, desenvolvendo suas capacidades cognitivas, afetivas e sociais é a busca pela democratização do conhecimento. Na perspectiva da formação integral, a escola deve ser um espaço de construção do conhecimento crítico, e deve estar à disposição da sociedade (e não do mercado), permitindo que todos os indivíduos tenham acesso ao patrimônio cultural da humanidade, e sejam preparados não apenas para apertar parafusos ou vender produtos, mas também compreenderem-se enquanto seres autônomos e atuantes na sociedade em que vivem.