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CURSO

PREPARATÓRIO DE
CONHECIMENTOS
PEDAGÓGICOS

www.PROFDAVI.com.br
TECNOLOGIAS DIGITAIS
INTEGRADAS AO CURRÍCULO
São muitas as formas do currículo ser concebido, pois ele é visto
como o “eixo estruturante da escola” (ROCHA; PEREIRA, p. 215,
2016). Assim foram escolhidas algumas definições apresentadas
por autores da área, sistematizadas a seguir:

 Currículo é fruto do seu tempo [...] numa perspectiva rículo entra, pois, como uma reposta a questões
pós-moderna e ou póscritica, o currículo é compreen- postas pela existência (não tem valor por ele mes-
dido como um artefato cultural, social e histórico [...] mo) (VASCONCELOS, 2011, p. 37)
o currículo é carregado de intencionalidades, de es-
 O currículo é aquilo que nós, professores/as e estu-
colhas. (GESSER; RANGHETTI, 2011, p. 17-18)
dantes, fazemos com as coisas, mas é também aq-
 O currículo não é um elemento inocente e neutro uilo que as coisas que fazemos fazem com nós. O
de transmissão desinteressada do conhecimento currículo tem de ser visto em suas ações (aquilo que
social. O currículo está implicado em relações de fazemos) e em seus efeitos (o que nos faz) [...] o cur-
poder, o currículo transmite visões sociais particu- rículo não é, assim, uma operação meramente cog-
lares e interessadas, o currículo produz identidades nitiva, em que certos conhecimentos são transmitidos
individuais e socais particulares. O currículo não a sujeitos dados e formados de antemão. O currículo
é um elemento transcendente e atemporal – ele tampouco pode ser entendido como uma operação
em uma história, vinculada a formas específicas destinada a extrair, a fazer emergir, uma essência hu-
e contingentes de organização da sociedade e da mana que préexista à linguagem, ao discurso e à cul-
educação”. (MOREIRA; SILVA, 1997, p. 8) tura [...] o currículo não está envolvido num processo
de transmissão ou de revelação, mas num processo
 O desafio na construção do currículo é fazer uma
de constituição e de posicionamento: de constituição
superação por incorporação (e não uma simples
do indivíduo como um sujeito de um determinado
negação) [...] o mais importante são as pessoas.
tipo e de seu múltiplo posicionamento no interior das
O foco está no sujeito, no ser humano [...] o cur-
diversas divisões sociais. (SILVA, 2009, p. 194-195)

Ante ao exposto, é perceptível que se preconiza nos dias atu- Na contemporaneidade, os alunos são considerados
ais um currículo que seja “multi”, “pluri”, “inter”, “trans”, que “nativos digitais” (PRENSKY, 2001, p. 01). Para Prensky,
contemple o ser humano de forma integral, com todas as essa definição ou designação ocorre em função das
suas especificidades, diferenças e igualdades. “Nós fazemos crianças ou adolescentes já terem nascido imersos às
o currículo e o currículo nos faz” (SILVA, 2009, p. 194). tecnologias digitais, que altera a forma como eles en-
tendem e se relacionam com o mundo. O autor ainda postas, na geração que se configura atualmente, ou seja,
afirma que para os “nativos digitais” as tecnologias digi- nos “nativos digitais”, nas suas relações com a sua cultu-
tais são percebidas com “naturalidade”, pois já são iner- ra, com sociedade a qual pertence, emergem as questões
entes ao mundo ao qual eles estão inseridos. E que sua relacionadas ao uso das tecnologias digitais integradas
apropriação diverge completamente daqueles que não as práticas pedagógicas, levando em consideração que
são considerados nativos digitais, que Prensky (2001, p. “a dimensão cultural constitui um elemento configurador
2) denomina de “imigrantes digitais”. fundamental destes novos tempos” (CANDAU, 2006, p.
Pensando nas concepções do currículo anteriormente ex- 35). Nesse sentido, Santomé (2009, p. 165) descreve que:

os programas escolares e, portanto, os professores e cotidiano nas salas de aula. Uma instituição escolar
professoras que rejeitam ou não concedem reconhe- que não consiga conectar essa cultura juvenil que tão
cimento à cultura popular e, mais concretamente, às apaixonadamente os/as estudantes vivem em seu con-
formas culturais da infância e da juventude (cinema, texto, em sua família, com suas amigas e seus amigos,
rock and roll, rap, quadrinhos, etc) como veículo de com as disciplinas acadêmicas do currículo, está deix-
comunicação de suas visões da realidade e, portanto, ando de cumprir um objetivo adotado por todo mun-
como algo significativo para o alunado, estão perden- do, isto é, o de vincular as instituições escolares com o
do uma oportunidade maravilhosa de aproveitar os contexto, única maneira de ajudalos/as a melhorar a
conteúdos culturais e os interesses que essas pessoas compreensão de suas realidades e a comprometer-se
possuem como base da qual partir para o trabalho em sua transformação.

O reconhecimento acerca das tecnologias digitais não dade, pois “é necessário não apenas investir em equi-
significa que deva ser utilizada indiscriminadamente, é pamentos e formação de professores, mas antes de tudo
crucial analisar, ponderar, se desprender da exacerbação, re-inventar a pedagogia com base em estudos e pesqui-
da fetização. É reconhecer que desafios existem, mas que sas que ajudem a compreender como as crianças [jovens
“enfrentamentos não significam a adesão incondicional e adultos] aprendem hoje” (BELLONI; GOMES, 2008, p.
ou a oposição radical” (KENSKI, 1998, p. 61). Ferreira 726). O que não significa que o processo educacional
(2015, p. 133) analisa que “é preciso investir em estudos deva ser obrigatoriamente mediado pelas tecnologias
e refletir sobre a relação entre as crianças e o mundo dig- ou que elas sejam incluídas nos espaços de educação
italizado na atualidade”. Também é de suma importância de maneira impositiva, e sim que sejam integradas sem
que não ocorram generalizações e que a criticidade se uniformidade e com respeito à contextualização social,
faça presente, assim a autora ressalta que “os tempos da econômica e cultural dos alunos.
infância [e não somente] são múltiplos, e não é possível
O currículo e a formação dos professores estão intima-
tomá-la como universal nem absoluta, visto que, na at-
mente ligados, a preparação de professores converge
ualidade, pelos efeitos da globalização, a mudança e a
para a “constatação da importância de que políticas
pluralização das suas identidades é o que se afigura como
públicas criem possibilidades de um desenvolvimento
a marca preponderante” (FERREIRA, 2015, p. 133).
contínuo das competências necessárias para que esse
O currículo deve se apresentar com propostas políticas profissional se sinta de fato à vontade e fortalecido na
pedagógicas que estejam em sintonia com essa reali- sua tarefa diária de mediação do conhecimento” (FREI-
TAS; LEITE, 2011, p. 36). Os mesmos autores comple- mação de cidadãos que deverão produzir e interpretar
mentam que “torna-se necessário preparar o professor as novas linguagens do mundo atual e futuro” (FREITAS;
para utilizar pedagogicamente as tecnologias na for- LEITE, 2011, p. 37).

É importante destacar que “precisamos desenvolver, nec- professor, a fim de contribuir para sua emancipação dig-
essariamente, a fluência técnico-didático-pedagógica do ital” (SCHLEMMER; BACKES, 2014, p. 47).

Da mesma forma...

“é preciso invenção, criatividade, novas formas de trabalho,


novas metodologias, sendo que a principal mudança que
precisamos fazer é na forma de pensar o processo educativo”.
(SCHLEMMER, 2010, p. 103).

Barreto (2003) ressalta que a apropriação do uso das autônomas diante das amplas possibilidades comunica-
tecnologias não significa ter simplesmente acesso a elas tivas e informativas das novas tecnologias”. A formação
(seja no âmbito da formação ou no campo de trabalho) do professor é atravessada pela constituição do mod-
e que ainda é necessária uma “apropriação crítica das elo curricular, pelo desenvolvimento do currículo, onde
tecnologias da informação e da comunicação, de modo as tecnologias digitais precisam estar inseridas de forma
a instaurar as diferenças qualitativas nas práticas ped- integrada, como indicam Almeida e Silva (2011, p. 8)
agógicas” (BARRETO, 2003, p. 284). Também torna-se “não se trata de ter as tecnologias como um apêndice ou
primordial que a apropriação das tecnologias digitais se algo tangencial ao currículo e sim buscar a integração
conceba com autonomia, vivemos uma sociedade mu- transversal das competências no domínio das TDIC com
tante e (pluri) multicultural. Nessa perspectiva, Freitas e o currículo, pois este é orientador das ações de uso das
Leite (2011, p. 32) afirmam que “é importante então o tecnologias”. Definir um modelo curricular, indiferente
direcionamento deste currículo para a implementação dos seus objetivos e intencionalidades, em primeiro per-
do exercício do desenvolvimento de posturas críticas e passa por mecanismos legais oficiais.

Nesse sentido, Grimm e Mendes (2016, p. 49) re- nologias digitais em suas diretrizes como algo nat-
latam que “o Estado brasileiro ocupa uma posição ural e reconhecido. Como se assim fosse suficiente
privilegiada, isto é, conhecida, reconhecida e legíti- para que elas estivessem incorporadas ao processo
ma, no processo de produção, de divulgação e de educativo, o que não acontece e nem seria possível
circulação de discursos pedagógicos e de prop- de ser. Cabe ressaltar que muitos desses dispositi-
osições curriculares”. Assim, a materialização do vos colocam o docente como figura central, como os
currículo vem a priori em documentos, que repre- principais responsáveis por integrar as tecnologias
sentam diferentes dispositivos, e apresentam as tec- digitais as práticas pedagógicas.
Novamente configura-se um equívoco, demonstran- ser concebidos de forma a apresentar um referencial
do falta de entendimento na configuração dos su- para construir uma educação mais justa, mas huma-
jeitos envolvidos no contexto educacional (GRIMM; na, que respeite o desenvolvimento e aprendizado
MENDES, 2016). Apesar dos desafios em se conceber de cada pessoa. Que o processo educativo possa ser
mais coerentemente possível o processo educativo na além da dicotomia “ensino-aprendizagem”, para ser
contemporaneidade, principalmente devido às dispar- um espaço promotor de vivências, de descobertas, de
idades socioeconômicas, o currículo e a incorporação saberes, de respeito, de diversidade numa relação di-
das tecnologias digitais (por conseguinte), podem alógica entre homem e o mundo.

Considerações importantes
Na BNCC a competência geral de
número 5 diz o seguinte:

5
Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação
e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética
nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar,
acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver
problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.

Essa competência é conhecida como competência da “Cultura Digi-


tal”, nela destaca-se o estímulo do desenvolvimento da compreensão e
da utilização de tecnologias com ética e criticidade, para que o aluno
dialogue com o mundo e busque informações. Faz parte de todas as
disciplinas, tanto da matemática, em relação aos algoritmos e regras
dos programas, quanto das linguagens, relacionada à capacidade de
compreensão dos impactos da tecnologia no mundo.

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