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Oeste 03
Elizabeth Lowell
SINOPSE
Eve sentiu uma suave brisa sobre sua pele úmida quando
acabou de se lavar. Tremia, mas não era de frio. Como os
cautelosos mustangs meio selvagens, percebeu que já não
estava sozinha e se apressou a colocar o vestido feito com
sacos.
— Acabou?
A voz de Reno chegou de apenas alguns centímetros de
distância.
Assustada, Eve se virou para ele com os olhos muito
abertos. Viu-o ali de pé, muito perto dela, com roupas limpas
em uma mão.
— Sim. — sussurrou — Acabei.
— Então, não se importará se eu usar a panela.
— Oh...
Eve respirou agitadamente e pensou que não estava
decepcionada diante do fato de que Reno a seguira,
simplesmente, porque também desejava se refrescar depois da
longa viagem.
— Aqui está. — Ela disse, alcançando-lhe a pequena
panela com rapidez.
— Posso usar seu pano também?
O rouco tom da voz dele fez com que Eve fosse ainda mais
consciente de sua presença e que sentisse cálidas cócegas por
sua pele, como se a tivesse acariciado.
— Sim, claro. — Respondeu com voz trêmula.
— E seu sabão?
O gesto de assentimento que ela fez com a cabeça soltou
seus cabelos, que prendera descuidadamente, e a luz da lua se
enroscou entre os escuros cachos que caíram por suas costas
como uma cascata.
— E suas mãos? Posso usá-las também?
Reno escutou como Eve ficou sem fôlego e desejou poder
ver seus olhos. Queria saber o que causava aquela suave e
esmagadora reação em sua respiração, curiosidade ou o terror,
a sensualidade ou o medo?
— Sei que não faz parte de nosso acordo, — continuou
dizendo — mas agradeceria um bom barbear.
— Oh! Sim, claro. — Respondeu atropeladamente.
— Já barbeou um homem alguma vez?
A luz da lua brilhou e percorreu, como se fosse prata
líquida, os cabelos de Eve quando ela assentiu.
— Também sei cortar os cabelos. — Ela acrescentou — E
fazer a manicure.
— Outro modo de ganhar a vida, não é assim?
O tom da voz de Reno fez com que estremecesse.
— Sim. — Consciente do que ele estava pensando,
esclareceu: — E nenhum daqueles homens me tocou.
— Por quê? O preço era mais alto, então?
— Não. A razão era que eu segurava uma navalha muito
perto de suas gargantas. — Respondeu com a voz seca.
Reno recordou como a vira alguns minutos, antes, nua
sob a luz da lua. Era sem dúvida a mulher mais bonita que ele
já vira, e suas curvas deixariam qualquer homem louco.
Deus, como desejava acreditar que era tão pura quanto
parecia!
Mas não conseguia.
— Nunca me vendi pistoleiro.
Ele sorriu tristemente. Desejava acreditar nela com a
mesma intensidade que desejava respirar. Teria renunciado ao
paraíso e teria se condenado ao inferno, se com isso
conseguisse que Eve fosse a metade de inocente do que parecia
enquanto permanecia nua, brilhando sob a luz da lua.
A intensidade de seu desejo por acreditar que Eve nunca
fora comprada, nem vendida, comoveu Reno. No entanto, não
conseguia negar o vão desejo, mais do que controlar sua
primitiva reação a algo tão simples quanto observá-la andar
pelo acampamento.
Também não conseguia entender sua resposta diante de
sua proximidade. Ele não se sentia atraído pelas jovens de
salão e nunca usara seus serviços, mas desejava Eve com
todas as suas forças, sem se importar com quantos homens ela
estivera ao longo de sua jovem vida.
Aquela fora a razão pela qual se sentara para jogar
naquela maldita mesa do salão Gold Dust. Somente um olhar
na determinação refletida nos olhos de Eve e aos seus trêmulos
lábios, fora suficiente para fazê-lo atravessar todo o salão. Não
se importara que os dois foragidos sentados com ela
protestassem por terem de jogar algumas mãos de pôquer com
um desconhecido. Teria lutado para conseguir se sentar junto
a ela. Teria matado por isso.
E o fizera.
Em uma tentativa de se livrar de seus pensamentos, Reno
se virou bruscamente e deixou a panela sobre uma suave e
plana pedra. Sentou-se sobre uma beirada, deixou as roupas
limpas de um lado, junto ao revólver, e começou a desabotoar a
camisa com rápidos movimentos cheios de raiva.
— Você trouxe alguma coisa para se barbear? — Eve
perguntou.
Reno estendeu a mão até o bolso da calça e pegou uma
navalha. Sem dizer uma palavra, a estendeu para Eve, pois não
confiava que sua voz não revelasse quanto estava irritado em
pensar nas mãos dela se movendo sobre o rosto de outros
homens, sobre seus cabelos, suas mãos; e que, durante todo
aquele tempo, aqueles homens ficaram contemplando seus
lábios e seus seios, inspirando o perfume de lilás de sua pele,
deixando-a nua mentalmente, abrindo suas coxas...
Cuidadosa Eve se aproximou do perigoso homem que a
observava com olhos que à luz da lua pareciam sem cor. Os
anos vividos na carroça dos Lyon a ensinaram a lavar a si
mesma e aos outros, com o mínimo desperdício de água
possível, assim, umedeceu os cabelos e a incipiente barba de
Reno e começou a ensaboá-los.
Normalmente, sempre se colocava às costas do homem ao
qual devia barbear, mas Reno estava sentado sobre uma rocha
que sobressaía de um precipício, o que a obrigava a
permanecer em frente a ele. Mesmo precisando reconhecer em
silêncio que não sentia nenhum desejo de ficar em nenhum
outro lugar. Gostava de observar os olhos fechados de Reno e
saber que seu contato o satisfazia.
Devagar, sutilmente, Reno foi mudando de posição
enquanto Eve continuava com seu trabalho e, antes que ela
pudesse compreender o que acontecia, encontrou a si mesma
de pé entre suas pernas. Ao notar, Eve deu um gemido de
surpresa e, acreditando que havia tropeçado, Reno levantou as
mãos para ajudá-la a manter o equilíbrio.
— Maldição. — Ela sussurrou.
— Disse algo? — Perguntou, abrindo os olhos.
— Eu...
Reno ergueu as sobrancelhas enquanto comprovava com
suas mãos o exuberante volume dos quadris femininos e o
calor que emanava de seu corpo, porque somente o simples
vestido de sacos separava sua pele dele.
Eve respirou precipitadamente e não o soltou até notar
que começava a ficar atordoada. Nunca imaginara poder sentir
prazer ao notar o contato das mãos de um homem sobre seus
quadris.
— Suas... suas mãos. — Disse à dura pena.
Reno sorriu enquanto acariciava devagar e com infinita
suavidade suas nádegas.
— Sim, são minhas mãos. — Sem piedade, se inclinou
para frente e sussurrou contra seus seios: — Em que outro
lugar gostaria de senti-las?
— Agora não, por favor. — Suplicou, se afastando
rapidamente.
Olhando-a com ironia, Reno deixou cair as mãos
pensando quanto tempo conseguiria mantê-las afastadas
daquelas quentes curvas.
Mais tranquila Eve se dedicou a espalhar sabão pelos
negros cabelos de Reno, conseguindo com suas carícias que
invisíveis correntes de sensualidade percorressem o poderoso
corpo masculino. Em silêncio, Reno amaldiçoava sua rebelde
resposta diante daquela mulher, mas não disse nada em voz
alta. Se Eve preferia ignorar sua ereção, não seria ele quem
atrairia sua atenção para ela. Não desejava lhe conceder mais
poder sobre ele do que já lhe dera. O contato de seus dedos
afundando-se em seus cabelos, esfregando sua cabeça, estava
levando sua excitação ao ponto de ficar muito dolorosa.
— Sente frio? — Perguntou quando percebeu um fraco
tremor em Reno.
— Não.
A voz dele soava muito rouca, mas Reno não podia fazer
nada para impedir, assim como não podia evitar observar
fascinado o oscilante jogo de luz e sombras que a lua projetava
sobre o rosto de Eve, fazendo-o parecer quase etéreo.
Muito tarde, se lembrou das chagas que vira nas suas
palmas dela após ter enterrado os Lyon. Com rapidez, pegou
suas mãos e as virou para observá-las. Mesmo estando quase
curadas, era possível ver ainda, na pele as cruéis marcas da
pá.
— Dói ainda? — Perguntou em voz baixa.
— Agora não.
Reno soltou suas mãos com suavidade sem dizer nada.
Eve o olhou, desconfiada, antes de pegar a navalha. O
fraco som que a lâmina fez quando a desdobrou, ecoou quase
com muita força na silenciosa noite. Eve comprovou o fio da
navalha com delicadeza e, apesar do cuidado com que o fez, o
fio deixou uma fina linha superficial marcada sobre sua pele.
— Maldição. — sussurrou — Não faça nenhum movimento
brusco. A navalha está muito afiada.
— Cal a afiou para mim. —Reno comentou com um
sorriso. — Aquele homem poderia afiar até um ladrilho.
Mesmo Eve mantendo o rosto impassível, Reno sentiu
como o corpo dela ficava tenso.
— E agora, o que acontece? — Inquiriu com voz rouca.
Ela o olhou com receio, pensando quando Reno havia
aprendido a captar tão bem suas reações.
— Não faça nada que... que me altere. — Eve lhe pediu
finalmente.
— Como o quê?
— Como me tocar.
— Então você se altera... — Reno disse arrastando as
palavras.
— Não me referia a isso. — Protestou ela
precipitadamente, enquanto retrocedia e ficava fora de seu
alcance. — Bom, sim, mas não da forma que imagina.
— Decida-se.
— A única coisa que queria dizer é que não deveria me
tocar.
Reno ficou totalmente imóvel.
— Fizemos um acordo. Lembra-se?
— Sim — Respondeu fechando os olhos. — Lembro. Na
verdade, apenas penso em outra coisa.
Apostas sobre a mesa. Uma mão de cinco cartas. Posso ter
uma sequência de corações coloridos ou ficar com um único
coração solitário e inservível.
Devo me arriscar ou abandonar a partida.
— Não estou tentando voltar atrás com nosso acordo, —
Eve continuou. — mas se começar a me tocar, ficarei
nervosa..., e esta navalha está incrivelmente afiada.
Com cuidado, ela observou o homem que a observava com
um desejo que nem mesmo a noite poderia ocultar.
— Ficarei muito quieto. — Prometeu com voz profunda.
Eve inspirou profundamente para relaxar e soltou o ar
devagar. Reno mal ocultou o calafrio que o percorreu ao sentir
o cálido fôlego contra seu peito nu.
— Preparado? — Perguntou.
Reno riu baixo.
— Não faz nem ideia de como estou preparado.
Tentando ignorar suas palavras, Eve se inclinou e
começou a barbeá-lo com movimentos destros, limpando a
lâmina com o pano a cada poucas passadas. Enquanto fazia
aquilo, tentava se convencer que aquela vez não era diferente,
em nada, das muitas outras nas quais barbeara seu patrão.
Don jurava que suas mãos eram seu amuleto secreto da boa
sorte. Sempre lhe pedia que o barbeasse antes de começar uma
partida usando sua lábia, com pouco mais que seu bom
aspecto aristocrático e um punhado de moedas de prata que
não passariam em um exame mais exaustivo.
— Agora, fique muito quieto. — Avisou-o em voz baixa,
antes de levantar seu queixo e lhe passar a navalha pela
garganta com movimentos leves e uniformes.
Quando acabou, viu que Reno tocava o pescoço com
cuidado e deixava escapar o ar que estivera contendo.
— Não o cortei. — Eve afirmou rapidamente.
— Só queria me certificar. Essa navalha está incrivelmente
afiada e não saberia se tivesse me cortado o pescoço até que
visse o sangue cair sobre a fivela do meu cinturão.
— Se estava tão preocupado com a minha destreza, —
replicou ela com aspereza — porque me pediu para fazer isso?
— Eu também estive me perguntando isso.
Eve ocultou seu sorriso enquanto enxaguava o pano com
água fresca. Ainda sorria quando começou a limpar o rosto dele
deixando-o livre de espuma.
A respiração de Reno se tornou entrecortada, ficando mais
profunda à medida que ela continuava com sua tarefa.
Pequenas gotas de água resvalaram pelo rosto masculino e
chegaram até seu amplo peito. Eve observou que quando Reno
respirava, as gotas tremiam e brilhavam como pérolas
translúcidas. A tentação de tocar uma daquelas gotas se
tornou tão grande que a surpreendeu.
— Acontece algo? — Ele perguntou com a voz rouca.
Eve negou com a cabeça muito bruscamente, fazendo seus
cabelos se espalharem sobre seus ombros e pelo peito de Reno,
que deu um leve assovio ao respirar, como se tivesse se
queimado.
— Lamento. — disse ela.
— Eu não.
Eve o olhou, admirada, recolhendo seus cabelos e fazendo
um coque na altura da nuca.
— Gosto mais quando está solto. — Reno comentou.
— É um estorvo.
— Não para mim.
— Feche os olhos. — Pediu enquanto enchia a panela com
água limpa.
Reno obedeceu e desfrutou enquanto Eve o enxaguava
cuidadosamente desde a cabeça até os ombros.
— Nem um só corte. — Anunciou satisfeita ao terminar. —
Enquanto acaba seu banho, buscarei algumas ervas
aromáticas.
Antes que Reno pudesse fazer alguma objeção, Eve já
havia saído.
A ideia de tomar banho e esperar seu retorno nu o tentou.
Mas ao recordar as profundas marcas de cascos de cavalos
junto à nascente, se lembrou de que seria uma estupidez até
mesmo considerar aquela ideia.
Amaldiçoando em silêncio, Reno retirou o restante das
roupas, lavou-se e depois, vestiu a roupa íntima limpa que
trouxera e as calças. Estava pegando a camisa limpa quando
ouviu a voz de Eve surgindo da escuridão.
— Aproxime-se. Já estou quase pronto.
Eve se aproximou o suficiente para ver seu amplo peito nu
e a escura silhueta de suas calças.
— Obrigada. — Disse em voz baixa.
— Por quê?
— Por não ofender meu sentido de pudor.
— Uma estranha escolha de palavras para uma...
Reno descobriu que não conseguia acabar a frase. Não
gostava de pensar em Eve como uma jovem de salão. Com um
grunhido de irritação, começou a tentar alisar a camisa antes
que lhe ocorresse uma ideia melhor.
— Ajude-me. — Pediu, estendendo-lhe a peça. Quando ela
hesitou, Reno acrescentou em tom sarcástico: — Não importa.
Não faz parte de nosso trato, certo?
Com um suspiro de raiva, Eve pegou a camisa e a agitou
com força. Reno a observou com atenção; era evidente que a
roupa masculina lhe era quase tão familiar quanto a sua
própria.
— Você se dá muito bem com elas.
— Nos últimos tempos, Don não conseguia vestir as
roupas, sozinho, e muito menos abotoá-las. — Esclareceu ela.
— Então, não se importaria de me ajudar?
Surpresa, Eve respondeu:
— Claro que não. Estenda os braços.
Reno assim o fez e a ela conseguiu deslizar a camisa sobre
seu corpo.
— Abotoa para mim? — Perguntou então, suavemente.
Mas ao ver seu olhar de desconfiança, espetou: — Não precisa
fazê-lo. Não faz parte de...
— Nosso trato. — Eve murmurou, colocando-se em frente
a ele e alcançando o primeiro botão. — Maldição. Penso que a
próxima coisa será me pedir que o dispa.
— Que grande ideia. Apresenta-se como voluntária?
— Não. — Respondeu no instante. — Não é parte de...
— Nosso trato.
Ela levantou os olhos bruscamente e viu que Reno sorria
abertamente. Nervosa, tentou se concentrar nos botões e não
pensar na força que irradiava do enorme corpo dele.
— Porque sua esposa não se ocupava dele? — Reno
perguntou de repente, voltando ao assunto de seu antigo
patrão.
— Donna fazia o que podia, mas a maior parte do tempo
suas mãos estavam pior que as dele.
A destreza com que Eve trabalhava mostrou a Reno que
passara muito tempo cuidando de um homem que não podia
ou não queria se encarregar de si mesmo.
Menos mal que aquele fraudulento explorador de mulheres
está morto, pensou sentindo que a raiva o invadia. A tentação
de matá-lo teria posto à prova meu juízo.
— Pronto. — Eve anunciou.
— Ainda não. Não está dentro das calças.
— Isso você pode fazer.
— O que acontece? Não estou pedindo que tire minhas
roupas. — Quando ela o olhou, cética, Reno sorriu. — Talvez
prefira que comece a tocá-la de novo, não?
— Maldição.
Antes de pensar duas vezes, Eve estendeu as mãos à
cintura dele. Como seu cinturão não estava abotoado, demorou
um segundo para abrir os botões de metal. Movendo-se
rapidamente, começou a enfiar a camisa dentro das calças
começando por trás e seguindo à frente.
De repente, um suave aroma de lilás emergiu dos cabelos
dela, fazendo com que o desejo de Reno aumentasse. Um
momento depois, Reno voltou a assoviar ao respirar quando
sentiu o leve toque dos dedos sobre sua carne excitada.
Eve deu um pequeno grito de espanto e tentou tirar as
mãos de suas calças, mas Reno foi mais rápido. Pegou Eve
pelos punhos e manteve seus dedos onde estavam, onde ele
desejava que estivessem desde tanto tempo que quase perdeu o
controle diante de seu simples contato.
— Solte-me!
— Acalme-se, pequena. Não é algo que nunca tenha
tocado antes.
O horrorizado olhar que Eve lhe deu fez Reno sentir
vontade de rir, mas a dor de seu desejo insatisfeito era muito
forte.
— Estou tentado a deixar que me acaricie um pouco. Mas
me distrairia muito, então me conformarei que me beije... —
Acrescentou.
Eve tentou escapar novamente, mas, seus esforços só
serviram para que seus dedos voltassem a tocar sua rígida
ereção.
Reno não conseguiu reprimir um gemido de prazer e
desejo.
— Não se mova... — Começou a dizer com aspereza,
olhando com avidez os trêmulos lábios que se encontravam
somente a alguns milímetros de sua boca.
— Solte-me...
— ... ou tirarei as calças. — Continuou com dureza. —
Farei você acabar o que começou, e ao inferno se alguém nos
está seguindo.
— O que eu comecei? Foi você quem...
— Fique quieta!
Eve obedeceu no instante e Reno deixou escapar um
reprimido suspiro. Começou a tirar as mãos dela para fora de
suas calças, mas parou porque o fato de que Eve as tivesse
apertadas formando punhos dificultava a tarefa.
— Abra as mãos. — Ordenou.
— Mas você me disse que não me mo...
— Faça-o. — Interrompeu-a. — Devagar. Muito devagar.
Eve obedeceu e, ao abrir as mãos, se achou percorrendo
milímetro a milímetro a dura carne de Reno.
Reno gemeu como se o estivessem esticando sobre um
potro de tortura. Finalmente, tirou as mãos dela de suas
calças, mas, em vez de soltá-las, colocou-as sobre seus ombros.
— Deixe de resistir. — Disse com voz rouca. — É hora de
me demonstrar como cumpre com sua palavra.
O medo e a lembrança do prazer que descobrira nos beijos
dele, lutavam para tomar o controle de seu corpo.
Talvez quando notar que mantenho a minha palavra, me
olhe com algo mais que não seja desejo. Talvez...
— Você também manterá sua palavra? — Ela perguntou.
— Não a tomarei a não ser que você deseje. — Reno
afirmou com impaciência. — É a isso que se refere?
— Sim, eu...
A frase ficou interrompida quando a boca de Reno se
fechou sobre a dela e sua língua deslizou entre seus lábios,
tornando-lhe impossível falar.
Fora um gemido de surpresa, ela não fez nenhum outro
som de protesto. E apesar de sua evidente força e desejo,
quando Reno compreendeu que Eve não resistiria, não mostrou
rudeza com ela, mas a segurou com suavidade.
Os sensíveis lábios de Eve procuraram inconscientes a
carícia da firme boca de Reno. O perturbador desejo que havia
surgido em seu íntimo, no preciso instante em que conhecera
Reno, se tornou quase incontrolável quando o beijo
inevitavelmente se tornou mais profundo. Era como se seu
inexperiente corpo reconhecesse seu companheiro e lhe desse
as boas-vindas. A onda de calor que contraiu com força seu
estômago, a fez tremer ao tomar consciência de que desejava
Reno, tanto quanto ele a desejava.
Eve abriu os olhos, grandes e curiosos, pensando se Reno
estaria sentindo a mesma onda de paixão que ela, mas só
conseguiu ver dele seus espessos cílios negros. A suavidade,
quase ternura, com que a tratava a reconfortou.
Com cuidado Eve marcou com seus lábios a boca
masculina, redescobrindo as texturas da língua de Reno, o
veludo, a seda... Por um momento, esqueceu por completo os
medos, os acordos e suas esperanças para o futuro. Limitou-se
a viver a magia do momento em meio a um suave e trêmulo
silêncio.
O calor que queimava o ventre de Eve começou a se
expandir como uma maré de sensações por todo seu ser. E de
repente, assustada, sentiu como o beijo enviava correntes de
prazer às partes mais íntimas de seu corpo, descobrindo
coisas, sobre si mesma, que nunca suspeitara.
O lento e tentador toque da língua de Reno sobre a dela
parecia terrivelmente perturbador tornando difícil a respiração,
então, tentou jogar a cabeça para trás.
Reno deu um grunhido de protesto.
— Não posso respirar. — Ela explicou entre ôfegos.
Sua voz rouca revelou mais coisas a Reno, que suas
entrecortadas palavras. Implacável, prendeu entre os dentes o
lábio inferior de Eve e o mordeu com requintada ternura,
absorvendo seu assustado grito.
— Dê-me mais de você, pequena.
— O quê? — Balbuciou apenas.
— Lembra-se do nosso primeiro beijo?
Os braços de Reno se apertaram, fazendo que ela se
arqueasse para aproximá-la ainda mais a sua ávida boca.
— Lembra-se? — Insistiu.
Antes que Eve pudesse responder, ele prendeu seus lábios
e se apossou de sua boca.
A sensual invasão da língua de Reno arrancou de Eve um
pequeno gemido que surgia mais profundamente de sua
garganta. Seu corpo se enrijeceu, mas não em sinal de protesto
pela crescente ferocidade do abraço, pelo contrário. Ela gostou
de se sentir fortemente pressionada contra o musculoso corpo
dele; necessitava-o de uma forma que nem discutiu.
Os hesitantes toques de sua inexperiente língua contra a
dele mudaram quando se entregou ao sensual jogo. Eve
avançou experimentalmente em sua boca, saboreando todas
suas texturas, entregando-se em uma estranha mistura de
ingênua inexperiência e instintiva sensualidade. E
imediatamente, as sensações que a envolviam fizeram tudo
girar. O ar ficou enroscado em sua garganta até que a
intensidade do que estava sentindo provocou-lhe a falta de ar.
Reno deu um grunhido e desejou se fundir no mesmo
instante com a bela mulher que apertava com força entre seus
braços. Era como se os suaves lábios não soubessem beijar,
nem responder a suas exigentes demandas, como se ele fosse o
primeiro a saborear sua doçura.
Sem dúvida era uma mulher muito experiente para
conseguir excitá-lo daquela forma, pensou em um momento de
atordoamento. Mas assim era. Eve o fazia sentir que nunca
antes havia realmente beijado uma mulher, não assim, não
com aquele desespero, como se não existisse nada no mundo a
não ser os dois, como se fossem duas ávidas chamas que
ardiam e se atraíam intensamente, além das barreiras da carne
e das roupas, além de qualquer coisa que não fossem seus
corpos ardendo de desejo.
Quando Eve afastou os lábios dos de Reno, respirava
entrecortadamente, e sua boca, inchada por seus beijos,
parecia vazia sem a dele. Atordoada, o olhou. O sorriso
satisfeito dele era escuro, ardente, e tão masculino quanto o
poder que emanava de seu corpo.
Sem lhe dar trégua, seus fortes dedos se afundaram na
tenra carne dos quadris de Eve enquanto a colava contra ele,
deixando-a sentir o fogo que acendera.
Eve sentiu que a noite girava misteriosamente a sua volta
quando a boca de Reno voltou a saquear a sua. Só era
consciente da força dele, de seu calor, das ardentes carícias de
sua língua brincando com a sua, das atormentadoras mordidas
em seu lábio inferior.
Abraçando-o fortemente, ela deixou que seu calor a
invadisse.
— Pequena, está me fazendo arder vivo.
— Não. É você quem me faz arder.
Desejava deitá-la sobre a grama e se afundar em seu
cálido e acolhedor corpo, mas sabia que seria uma loucura.
Poderia ser letal.
Maldito Slater, Reno se enfureceu em silêncio. Deveria tê-lo
matado em Canyon City. Se o tivesse feito, não precisaria
passar todo o tempo olhando por cima do ombro.
De repente, os braços de Reno ficaram tensos e
levantaram Eve segurando-a no ar. Sem interromper o beijo, a
levou em dois breves passos até a erosão do saliente de arenito,
se sentou e a colocou sobre seu colo.
Eve só deu um pequeno gemido de surpresa. O revólver de
Reno ficou esquecido sobre a saliência, mas Jericho Slater
pareceu ficar muito longe. O beijo de Eve, tão selvagem quanto
o de Reno, exigia e cumpria suas sensuais demandas.
Ele nunca estivera com uma mulher que o desejasse tanto
para se esquecer do evasivo jogo de provocação e retirada ao
qual estava tão acostumado. Saber que Eve o desejava tanto
fazia as entranhas de Reno estremecerem com um desejo que
nunca experimentara. O que aquela mulher o fazia sentir
deixava-o aterrorizado, porque nunca sentira aquilo com
nenhuma outra. Suas entranhas ardiam com uma paixão que
ameaçava fazê-lo arder.
— Deus santo. — Reno exclamou. — Menos mal que este
vestido não tenha botões.
— Por... por quê?
— O teria desabotoado e o teria abaixado até a cintura
antes que você pudesse piscar. E isso teria sido um erro.
A selvagem demanda da boca de Reno impediu que Eve
pudesse protestar. O tecido do vestido que usava estava muito
desgastado pelo uso, e com o tempo se tornara tão fino que não
era uma grande barreira para as ardentes carícias das mãos de
Reno. Achava-se completamente indefesa diante dele, porque
nada salvo aquele gasto tecido cobria a suave pele dela.
O juízo de Eve se evaporou, e em vez de se afastar, se
abandonou ao seu contato, ao que ele lhe fazia sentir enquanto
torturava e acariciava seus seios com uma variedade de
sensuais pressões de seus quentes e firmes dedos.
Atordoada pelo desejo que nublava sua mente, não fez
nenhuma objeção quando Reno começou a seduzir seus
generosos seios com os lábios. Seus já tensos mamilos se
endureceram ainda mais quando a umidade da boca de Reno
atravessou o tecido, e gritou quando seus dentes a
atormentaram. Ardentes e inesperadas ondas de prazer
percorreram seu corpo fazendo-a se arquear e se sentir como se
um violento raio a tivesse atravessado.
Os roucos sons que fazia estiveram a ponto de fazer Reno
ultrapassar o limite de seu controle. Suas mãos se apertaram
sobre o frágil corpo de Eve enquanto lutava para controlar a
inesperada fúria de seu desejo, o que fez com que as
desgastadas costuras do vestido se rasgassem na altura do
ombro com um seco ruído. No instante, um pedaço do tecido
caiu, revelando um seio perfeito, ereto e cheio.
Reno grunhiu. Não pretendia tentar a si mesmo daquela
forma, mas uma vez feito, não conseguia resistir.
Inclinou a cabeça e segurou o duro bico de seu seio nu em
sua boca. Eve cheirava como as quentes noites de verão, a
lilás, a nascentes ocultas e a prazeres secretos. Ela era tudo o
que ele sempre necessitara, tudo o que ansiava em suas longas
e solitárias noites no deserto. Não lhe importava o perigo que
pudesse estar espreitando-os na escuridão.
O resto do vestido cedeu com um suave som que se
perdeu entre os trêmulos gritos que Eve emitia enquanto a
boca de Reno e suas mãos sensibilizavam seus seios ao ponto
da dor. Sabia que deveria protestar por aquelas carícias muito
intimas, mas, pela primeira vez em sua vida, se sentia
protegida e quase amada, mesmo sabendo que ele só queria
seu corpo. No entanto, a tentação de se deixar arrastar, de se
deixar levar por aquele inalcançável sonho, tornava impossível
se negar às demandas masculinas.
Eve não notou que Reno deslizara a mão entre suas
pernas até que os dedos tocaram sua oculta suavidade. Tudo o
que sabia era que o doce e selvagem desejo que sentia a
conduzia por um caminho de fogo para algo desconhecido, algo
feroz e bonito ao mesmo tempo, algo que deveria alcançar ou
não valeria a pena viver. Os dedos de Reno se moviam
habilmente, procurando... e encontrando o lugar que ocultava
o prazer de Eve. Ele a atormentou com diferentes pressões de
seu dedo, a acariciou, a torturou sem piedade até que a paixão
explodiu de repente no íntimo dela.
Chocada, ela se achou indefesa diante das violentas
contrações que se sucediam no mais profundo de seu ser e que
a faziam se retorcer como uma chama sobre o colo de Reno,
procurando uma liberação daquela abrasadora necessidade
que nunca antes havia sentido. Sufocava, seu corpo deixara de
ser seu para ser tomado por um prazer que se tornava cada vez
mais forte até se sentir molhada por um calor líquido que a
assustou, deixando-a inerte entre os fortes braços masculinos.
— Está me matando. — Eve sussurrou entrecortadamente
quando finalmente conseguiu falar.
Reno soltou uma risada rouca.
— Não. Você está me matando. Faça outra vez para mim,
pequena.
— O quê?
Reno moveu seus dedos e acariciou com delicadeza a
suave carne que chorava apaixonadamente diante de sua
carícia.
Eve soltou um grito abafado diante do íntimo contato e
sentiu como o fogo líquido de seu corpo se derramava uma vez
mais sobre a forte mão de Reno.
Sem lhe dar trégua, Reno a levantou com extrema
facilidade e a fez se sentar encavalada sobre suas coxas.
Quando lhe subiu a saia, Eve viu que suas calças estavam
desabotoadas e que a rígida e contundente prova de sua
excitação era mais que evidente sob a luz da lua.
Eve compreendeu muito tarde o que estava ocorrendo.
Sabia muito bem quem pagaria e se lamentaria ao final, por
tudo aquilo.
Um homem só deseja uma coisa de uma mulher, que não
reste a menor dúvida sobre isso.
— Não. — exclamou. — Reno, não!
— Deseja-o tanto quanto eu. Está tremendo de desejo.
— Não! — gritou freneticamente. — Prometeu que não me
tomaria se eu não desejasse. E eu não desejo!
Reno pronunciou entre dentes palavras que fizeram
empalidecer mais o rosto já emaciado de Eve. Sem prévio aviso,
afastou-a de seu colo, com um empurrão, com tal rapidez que
Eve mal pode manter o equilíbrio apoiando-se na beirada da
pedra. Aborrecida pelo ocorrido, subiu o vestido para cobrir
sua nudez e o olhou com uma raiva que era tão grande quanto
fora sua paixão.
— Não tem direito de me insultar! — Disse com voz
agitada.
— Maldição! Desde já que sim! Provocou-me e...
— Como o provoquei? — Interrompeu-o cheia de fúria. —
Eu não tirei sua roupa e enfiei minha mão entre suas pernas
e...
— ... derramou-se sobre mim. — Reno grunhiu,
levantando a voz por cima da dela.
— Eu... não... não tinha intenção... — Eve gaguejou. — Eu
não sei... não sei o que aconteceu.
— Mas eu sim. — Reno replicou impiedosamente. — Uma
manipuladora que se encontra presa em sua própria
armadilha.
— Eu não sou o que você pensa!
— Não para de dizer isso, mas continua se comportando
como uma mentirosa. Você me desejava.
— Você não entende.
— Claro que entendo!
Eve fechou os olhos e apertou o gasto e esfarrapado
vestido contra seu corpo com dedos trêmulos. Sentindo-se
ferida no mais profundo, a única coisa que desejava era gritar.
— Porque os homens só desejam uma coisa de uma
mulher? — Perguntou furiosa.
— Sinceridade? — Reno perguntou com rapidez. — Ao
inferno se eu sei. Não acredito que a sinceridade seja uma de
suas qualidades.
— E eu não acredito que tenha nenhum homem que tome
o que deseja e depois não desapareça sem pensar nem por um
segundo no que fez!
— Em que está pensando? Em casamento?
A sarcástica e zombeteira pergunta de Reno explodiu no
silêncio da noite e Eve a sentiu em sua pele como se a tivesse
golpeado com um chicote. Abriu a boca, mas não conseguiu
falar. A dor a atravessou ao perceber que ele tinha razão. Ela
desejava um homem que a amasse o suficiente para construir
uma vida juntos. Mas era muito inteligente para falar de amor
com aquele pistoleiro cujo corpo manifestamente excitado,
resplandecia sob a luz da lua e que só procurava satisfazer seu
escuro desejo em seu corpo.
— Desejo um homem que se preocupe comigo. —
Respondeu por fim.
— Isso era o que eu pensava. — Reno afirmou. — Deseja
alguém que a cubra de luxos e comodidades, e ao inferno com
o que ele desejar.
— Não me referia a isso!
— Mente.
— Falava em ser amada, — protestou apaixonadamente.
— não que me tratasse como uma princesa entre almofadas de
cetim!
Eve se afastou precipitadamente quando Reno se levantou
e começou a abotoar as calças com rápidos e bruscos
movimentos. Amaldiçoava sem cessar, irritado consigo mesmo
e com a jovem de salão que podia fazer com que ele a desejasse
como nunca desejara nenhuma outra mulher.
— Não importa o quanto me excite, — Reno afirmou com
violência. — não suplicarei, nem me deixarei prender pelas
frias cadeias do casamento.
Abaixou-se, recolheu seu revólver e girou o carregador
para comprovar que estivesse cheio. Suas palavras foram como
a própria pistola: frias, duras e implacáveis.
— As mulheres se vendem no casamento da mesma forma
que as prostitutas vendem seu corpo durante uma hora.
— Foi assim no caso de Willow e Caleb? — Desafiou.
A sombria expressão que endureceu de repente os
marcados traços masculinos fez com ela estremecesse.
—Eles são a exceção que confirma a única regra que sigo.
— Reno disse enquanto embainhava o revólver com um rápido
movimento e lhe dirigia um frio sorriso
— E que regra é essa? — Eve perguntou, apesar de
pressentir que não gostaria da resposta.
Tinha razão.
— Não se pode confiar nas mulheres, — respondeu
taxativo — mas sim no ouro.
CAPÍTULO 11
Eve observou como a égua cor de aço subia outra vez pela
íngreme encosta. Era a quinta vez que Reno tentava descer do
planalto por algum lugar diferente nas últimas duas horas. Até
o momento, todos os barrancos acabaram em um precipício
pelo qual os cavalos não podiam descer.
Dessa vez, no entanto, Reno havia demorado no mínimo
meia hora. Ainda que a jovem não dissesse nada, não
conseguiu evitar que uma expressão de esperança surgisse em
seu rosto. Sem perceber, percorreu seus lábios com a língua,
mas ela não deixou nem sinal de umidade a sua passagem.
— Beba um pouco. — Reno sugeriu enquanto subia. —
Está a ponto de se desidratar.
—Não me sinto capaz de beber quando meu cavalo está
tão sedento. Gruda-se em mim como um molusco cada vez que
pego a cantimplora.
— Não permita que o velho truque de fazer cara de pena a
confunda. Deixou seco um daqueles buracos cheios de água
quando você estava a alguns metros tentando não cair por essa
grande fenda.
— Buracos cheios de água? — Eve franziu o cenho antes
de se lembrar das pequenas concavidades na rocha. — Oh!
Refere-se àqueles buracos nas rochas onde a água da chuva
fica presa? E a água era boa?
Os mustangs gostaram.
— Você não bebeu?
— Os cavalos precisavam mais que eu. Por outro lado, —
Reno admitiu com um leve sorriso. — não estava muito sedento
para fazer passar todos aqueles pequenos bichos entre meus
dentes.
A alegre risada dela o surpreendeu. Estava coberta de
poeira, cansada, cheia de arranhões após se arrastar sobre a
rocha... e nunca vira uma mulher que o atraísse mais.
Seguindo um impulso, Reno lhe colocou um escuro cacho por
trás da orelha com ternura, deslizou a ponta do dedo ao longo
de sua mandíbula e tocou seus lábios com a ponta do polegar.
— Suba ao seu cavalo. — Pediu suavemente. —
Precisamos continuar.
Eve montou sobre sua égua e cavalgou junto a Reno
enquanto o caminho permitiu, seguida dos animais de carga.
Para sua surpresa, aquele pequeno barranco que Reno
descobrira não diminuía até desaparecer como os outros. Em
vez disso, se tornava mais e mais largo, descendo com
suavidade através de pinheiros e cedros.
Pouco a pouco, a rocha começou a ficar enterrada debaixo
da terra e mais barrancos se uniram ao primeiro, ampliando-o,
até que se encontraram cavalgando através de um vale que
estava quase completamente rodeado de íngremes paredes de
pedra.
Eve se virou e olhou para Reno com uma expressão de
esperança em seu rosto e uma pergunta em seus olhos.
— Não sei. — Respondeu ele em voz baixa. — Percorri um
quilômetro e meio, e não vi nem sinal de água.
Eve fechou os olhos e deixou escapar um bocado de ar que
nem era consciente de estar contendo.
Durante vários quilômetros, não escutaram nenhum som
exceto o lamento de uma águia arrastado pelo vento, o ranger
do couro dos arreios dos cavalos e o apagado golpear de seus
cascos contra a terra seca. E ainda com um calor infernal.
As nuvens se aglomeravam por cima de suas cabeças.
Suas cores iam do branco ao azul escuro, quase negro, e
prometiam chuva, mas não sobre o planalto, e sim sobre as
montanhas.
— Reno? — Ele fez um grunhido surdo indicando-lhe que
a ouvia. — Aqui chove?
Ele assentiu.
— E onde vai parar toda a água? — Continuou
perguntando.
— Abaixo.
— Sim, mas onde? Estamos indo para baixo e não há
nada de água.
— Os arroios só recebem água depois da chuva. — Ele
respondeu.
— E o que acontece com os arroios que nascem nas
montanhas? — Eve insistiu. — Para onde vai a água
procedente do degelo?
— O solo a absorve.
— Não vai até o mar?
— Daqui até a Califórnia, só conheço um rio que chega até
o mar antes de secar completamente: o Colorado.
— A que distância está a Califórnia?
— A mais de novecentos quilômetros em linha reta.
— E só há um rio?
Reno assentiu.
Eve voltou a cavalgar em silêncio durante um bom tempo,
tentando compreender a existência de uma terra tão seca que
se podia cavalgar durante semanas por ela sem encontrar nem
um rio. Nada de arroios, nenhum riacho, lago nem lagoa, nada
exceto rocha vermelha onde qualquer vegetação ressaltava
como um estandarte verde sobre a árida terra.
A ideia era aterrorizante e estranhamente excitante ao
mesmo tempo; era como despertar diante de uma paisagem
que só podia ser vista em sonhos.
À medida que o vale descia lentamente para um final
desconhecido, os precipícios que o flanqueavam se
transformavam cada vez mais em uma espécie de barreira. De
vez em quando, Eve se virava e olhava por cima do ombro. Se
não soubesse que às suas costas havia um caminho que levava
até o planalto, nunca teria adivinhado. O muro de rocha
parecia se fechar totalmente sobre eles.
O vale se tornou mais estreito à medida que avançavam.
Duas vezes precisaram desmontar e guiar os mustangs por
trechos de terra especialmente difíceis, abrindo caminho com
dificuldade entre enormes rochas e deslizando-se sobre canais
recobertos por pedras que a água polira à sua passagem.
— Olhe — Eve comentou em voz baixa. — O que é aquilo?
— Onde?
— Aos pés do precipício, bem à esquerda da fenda.
Depois de um silêncio, Reno assoviou suavemente e
anunciou.
— Ruínas.
Eve expulsou o ar precipitadamente de seus pulmões.
— Podemos nos aproximar até elas?
— Tentaremos. Onde há ruínas costuma ter água por
perto. — Olhou-a de lado e acrescentou: — Mas não tenha
muitas ilusões.
Alguns índios dependiam de depósitos que racharam faz
muito tempo e deixaram de conter água.
Apesar da advertência, Eve achou difícil não se mostrar
decepcionada quando finalmente conseguiram abrir caminho
através dos pinheiros e dos zimbros, e não encontraram nem
sinal de água.
Enquanto o sol descia mais além da beirada do cânion,
Eve permaneceu sentada sobre sua cansada égua
contemplando os muros meio derrubados, as janelas com
formas estranhas e os espaços murados das ruínas. O silêncio
no cânion era total, como se até os animais evitassem se
aproximar por ali.
— Talvez tenha sido isso o que lhes aconteceu. — Eve
comentou. — Ficaram sem água.
— Talvez — Reno concordou. — Ou talvez, perderam
muitas batalhas para conservar o que possuiam.
Meia hora depois que o sol se deslizou atrás dos aterros de
pedra, o céu ainda brilhava com a luz vespertina acima de suas
cabeças. Pouco a pouco, a brisa mudou e começou a soprar de
outra direção diferente. Um após o outro, os mustangs
levantaram a cabeça, esticaram as orelhas e farejaram o vento.
Eve se assustou quando viu um índio se aproximando
deles vindo das ruínas.
O revólver de Reno apareceu em sua mão com
surpreendente rapidez, mas não disparou.
— Pensava que os índios evitassem lugares como este. —
Eve disse em voz baixa.
— E fazem isso. Mas às vezes, algum xamã muito audaz
se dirige a estes antigos lugares em busca de respostas. Por
seu aspecto e seus cabelos prateados, diria que veio fazer suas
últimas perguntas aos deuses.
Reno voltou a guardar o revólver em seu coldre quando o
índio esteve bem perto para poder confirmar que seu rosto não
mostrava sinais de pintura de guerra, mas de meditação. A
pintura, que em algum momento deveria ter sido de cores
vivas, agora estava trincada e coberta de poeira, como se o
xamã levasse muito tempo em seu retiro. Reno estendeu a mão
para um alforje, extraiu uma bolsa de tabaco e desmontou.
— Fique aqui. — Falou a Eve. — E não lhe fale a não ser
que ele se dirija a você primeiro.
Eve observou com curiosidade como Reno e o xamã
trocaram saudações de boas-vindas em silêncio. A linguagem
de sinais que usavam era ágil e precisa. Em pouco tempo, Reno
lhe ofereceu a bolsa de tabaco e o índio a aceitou. Eve pensou
que a comida teria sido um melhor obséquio; o xamã parecia
magro e extenuado, mas se mantinha alerta, distante, feroz em
sua liberdade. Quando se virou e a olhou diretamente, ela
sentiu a força de sua presença tão claramente como sentira a
de Reno quando seguravam as varinhas espanholas.
Pareceu-lhe que passou muito tempo antes que o xamã
afastasse o olhar, libertando-a do magnetismo de seus claros e
assombrosos olhos.
Quando o ancião encarou Reno uma vez mais, seus braços
e mãos descreveram graciosos arcos, linhas rápidas, fugazes
movimentos que Eve mal pode seguir. Reno observava com
muita atenção, e sua total quietude indicou a Eve que o ancião
estava lhe dizendo algo importante.
Sem aviso prévio, o índio se virou e se afastou sem olhar
para trás.
Um segundo depois, Reno se virou e olhou para Eve de
uma forma estranha.
— Há algum problema? — Ela perguntou.
Ele balançou a cabeça lentamente.
— Não.
— O que ele disse?
— Que veio ver o passado, mas que em lugar disso, viu o
futuro. A nós. Não gostou, mas os deuses responderam assim
às suas perguntas, e devia dobrar-se aos seus desígnios.
Eve franziu o cenho.
— Que estranho.
— Os xamãs normalmente são. — Reno comentou
secamente, observando que o ancião havia desaparecido como
se fosse tragado pela terra. — Sua pintura era realmente
curiosa. Nunca vira um índio usar os antigos sinais
desenhados sobre as rochas. — Fez uma pausa e acrescentou:
— Disse que há água mais adiante.
— Finalmente. — Os olhos de Eve brilharam com alegria.
— Também me disse que o ouro que eu estava procurando
já está em minhas mãos. — Disse Reno, mostrando em seu
rosto um traço de incredulidade.
— O quê?
—E que como eu não consigo ver esse ouro, me diria como
chegar à mina espanhola.
— Sabia como chegar? — Perguntou esperançosa.
— Isso parece. As marcas na terra se encaixam.
— E disse assim, sem mais? — Ao ver o gesto de
assentimento de Reno, quis saber mais: — Por quê?
—Isso mesmo eu lhe perguntei. Disse que é sua vingança
por ver um futuro que não desejava ver. E se foi.
Reno pediu as rédeas de sua égua e montou com um
poderoso salto.
— Meu Deus, vingança... — Eve gemeu.
— Vejamos se estava certo com respeito à água. — Reno
continuou. — Se não for assim, não viveremos o suficiente para
nos preocuparmos com vinganças.
Com a esperança de encontrar água, se dirigiram às
longas sombras que surgiam da base dos precipícios.
— Rastros de cervos. — Apontou depois de alguns
minutos.
Eve olhou, mas não conseguiu diferenciar nada na
penumbra.
— Estranho que não tenha rastros de cavalos selvagens.
— Reno continuou. — Há poucos lugares com água que um
mustang não seja capaz de encontrar.
À medida que o céu e as nuvens mudaram para uma cor
avermelhada, um estreito cânion lateral abria passagem nos
precipícios de pedra. Reno fez os cavalos avançarem para seu
interior em fila. Após alguns quilômetros de areia, puderam ver
um charco pouco profundo resplandecendo sob a fraca luz do
entardecer.
— Calma Darla. — Reno murmurou diante da impaciência
da égua para beber. — Deixe que eu verifique primeiro.
Enquanto Eve segurava os cavalos, Reno observou os
rastros sobre o fino lodo que circundava o charco. Depois,
pegou as cantimploras e começou a enchê-las. Quando acabou,
disse para Eve:
— Será melhor que os cavalos bebam de um em um. —
Reno observou o nível do charco com muita atenção enquanto
Darla saciava sua sede. — Já é suficiente. Agora deixe para
seus companheiros.
Sob a atenta supervisão dos implacáveis olhos verdes, os
quatro cavalos beberam até se saciarem. Quando acabaram,
mal restava água.
— O charco voltará a se encher? — Eve perguntou.
Reno negou com a cabeça.
— Não até a próxima chuva.
— E quando será isso?
— Poderia ser amanhã ou no mês que vem.
— Olhe! — Eve exclamou rápida.
Reno se virou e olhou na direção que ela indicava. Ali, na
superfície avermelhada da rocha, ao lado de uma fenda,
alguém havia desenhado um símbolo que possuia um
significado muito especial no diário espanhol.
— Água todo o ano. — Eve traduziu.
Reno olhou o charco e depois para a pouco prometedora
fenda; era tão estreita que teria que atravessá-la de lado.
— Leve os cavalos para pastar e amarre-os. — Disse a Eve.
— E durma se puder.
— Aonde vai?
— Procurar água.
[←1]
Desenhos ou símbolos gráficos gravados pelos homens pré-históricos que
expressam um conceito relacionado materialmente com o objeto ou animal ao
qual se refere.