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EDITORIAL MISSÕES
CUCUJÃES
Titu lo or gin al : SANTO TOMAS DE CANTERBURY
i UM REI ARREPENDIDO
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também esteva metido neste confl ito , canon izava-o
co mo mod elo de fidelidade e de firmeza na fé cristã .
T udo i sto aconteceu nestas d atas : a morte em
29 d e Dezembro de 1170, a canon ização pelo Papa
Alexandre I l i em 2 de Fevereiro de 1173 e , em Julho
d e 1174 a com itiva do ímpio e agora a rrepend ido rei
He n rique de Plantagenete dirigiu-se à cated ra l e ali o
Re i desnudou-se das suas régias vestes e , na presença
d os Bispos e dos g randes da Corte Imperi a l , mandou
que o açoitassem barbaramente d iante do sepulcro do
que fora seu g rande amigo e a que m , depois , mandaria
m atar.
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plina" e sobre ele escreverá uma biografia que se lê
de um fôlego.
Tomás nasceu em 111 8, no mesmo dia de São
Tomás, e embora oriundo de normandos burgueses,
viu a luz do dia em Londres filho do serf da cidade.
Os seus pa is, que eram bons cristãos , confiaram a
sua educação, como era habitual nessa época , aos
monges da abad ia de Merton. Com eles foi forjando o
seu carácter...
Certo dia perguntou a um monge que encontrou
no cl austro:
- Ouça, padre, é preciso d izer sempre a verdade?
- Sim, meu fil ho, ainda que por causa dela nos dêm
a morte. Sobretudo quando ao não d izer essa verdade,
causarmos prejuízo a um tercei ro.
O menino nunca mais esquecerá estas palavras .. .
Fi cou órfão. Foi para Pari s e Bo l on h a estud a r
l e i s ... , e aqui, embora partici passe n a s brincadei ras
dos col egas, jamais manchou a alma com o pecado
ou se entregou aos vícios que alguns dos seus amigos
praticava m. Todos ad miravam a sua compostura e in
tegridad e de ca rácte r.
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ERA U M AUTÊNTICO CAVALHEIRO
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-o seu prime i ro ministro ou chanceler do Rei no. O seu
amor pa ra com ele era patente e conh ecido de todos.
Enviou-o a Paris com uma missão muito delicada. Todos
fica ram atónitos perante a sua fidalguia e sabedo ria e
diziam: "É um autêntico cavalheiro. Demonstra uma
grande pe rsonalidade".
POBRE E MORTIFICADO
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- Sim, majesiade. Creio que lhe faríamos um grande um di reito iniludível. Havia um dever da parte de todos:
bem. respeitar as propriedades e os direitos adquiridos como
- Tomás , ent rega-lhe tu essa pel iça tão bela, de cor coisa sagrada .
escarlate, que l evas ... E o Rei faz o gesto de ti rá-la dos Em 1162 morreu o Arcebispo d e Cantuária, Teobal
ombros do jovem Tomás . .. do, e o ambicioso rei Henriqu e , que apesar de ter vivido
- Mas , majesta de, não vê que eu agora fico sem ta nto tempo ao lado do seu bom amigo Tomás n unca
nada? o chegou a co n hecer completamente , envidou todos
- Breveme nte comp rar-te-ei outra. Não te q u e ro os esforços para fazer q u e o sucessor de Teoba ldo no
privar d e ganha r merecimentos com esta boa obra que arcebispado fosse o bri l hante Chanceler. Assim d izia
vais fazer a favor deste pobrezin ho... ele: u niremos n uma só as duas coisas, os dois poderes:
Para lá destes episód ios e da vida pri ncipesca, To o Estado e a Igreja.
más passava longas horas e ntregue à oração e à peni N ão sabia com quem se ia meter...
tência ... No palácio levava u m a vida austera e mortifica Corria a voz pelo im pério daquilo que o rei tramava
da. T in ha dado ordens para que nunca nen h um pobre com esta nomeação. Tomás não podia imaginá-lo já que
se retirasse de casa sem esmola . .. Queria que a mesa con hecia muito bem o seu rei e também se conhecia
fosse austera com o corres pondia a um ecl esi ástico . a si mes mo. Ele seria intransigente perante as preten
As pa redes de Merton sabi am mu ito bem qu antos sões do mona rca. Se o re i acreditava que ia jogar com
açoites recebiam as de licadas carnes do jovem chan ele . . . enganava-se redondamente. Certo d ia d isse-lhe
cel er. o rei Hen riq ue:
- Qu ero que aceites como sinal da minha amizade
o Pri mado Arcebispal da Sede de Cantuária.
O FLAMEJANTE ARCEBISPO - N ão, de ne nh uma maneira , majestade!
- Mas eu insisto para que aceites. Não imaginas o
Assim esteve às ordens do rei Henrique oito anos imenso bem qu e podemos fazer trabalhando os dois
vivendo a seu lado e defendendo os direitos do I mpé unidos pela Ingl aterra ...
rio, mas procurand o n ão interferir nos d i reitos da Igreja - Poi s olhe, Majestade , se insiste ... não diga depois
nem nos d e outros Estados. Para Tomás a justiça era que eu não o adverti . O favor que lhe parece que me
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outorga agora se converterá depois em ódio para com
a minha pessoa porque sobre coisas da Igreja Vossa
Majestade tem pretensões que eu não com pa rti l h o de
mane ira nen h uma...
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. ta r a te m po com a sua ambição e ter-se-ia i nteressado
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·r,. mais por ter a seu lado um am igo que desprender-se
,
de le para abarcar mais e ter mais ocasião de au mentar
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o seu poder e a sua riqueza à custa de quem julgava
que faci l mente poderia su bornar e assi m espezi nhar os
d ireitos da Igreja . . . Mas enganou-se terrivelmente .
O carácter coléri co de Henrique, antes u m tanto
contido pela su avidade e bondade do Chanceler, mani
festou-se agora , tal como era , contra o próprio Tomás .
Não s u po rtava de maneira nenhuma q u e e l e l he
fizesse frente e que não executasse tudo como orde
nava . "O Arcebispo anterior, dizia ele, sujeitava-se aos
meus desejos e este que eu coloquei , não. Porquê?
Va i-mas pagar. .."
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gué m se atrevia a falar diante do rei . O arcebispo tomou
a palavra e d isse:
- Senhor Rei , Vossa Alteza não pode apropriar-se
desse d i nheiro .
- Mas d o n d e vem esse atrevi m ento de contrad izer
os meus d ecretos? Que a rrogância é ess a , senhor
Arcebispo?
- "Deriva do meu j u ramento. Ju ro perante esta as
sembleia que nenhum dos que têm terras das m i nhas
igrejas entrega rá uma só moeda ao vosso fisco . . . "
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De onde lhe vem, Senho1 Arcebispo, esse atrevimento
7 As coisas tornavam-se cada dia mais d ifíceis. Os
dois poderes, o eclesi ástico e o civi l , vêem-se cada
vez mais divididos e até desencontrados. A Tomás só
lhe i nteressa u ma coisa: que se salve a j u stiça e que
de contradizer os meus decretos? o povo não sej a oprimid o . Ao monarca ta mbém só lhe
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interessava u ma só coisa: med ra r, crescer e m dinheiro
e no poder.
Como as coisas não levavam ru mo de sol ução, in
terveio o Cardeal Legado do Pa pa, Hen rique de Pisa ,
e, por fi m, chegou-se a u m acordo . .
Beckete cede contanto que "sejam observadas cer
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tas promessas e antigos costu mes..." pensando na boa
-
.
fé do mona rca que ele diz ter nesta ocasião e assina o
famoso tratado de Claredón.
O rei sente-se satisfeito. Faz publicar u m d ocu mento
que consta de dezasseis pontos. Bem depressa obri
ga o antigo cha nceler a ren u nciar a várias d otações e
privilégios que a Igreja gozava d esde sempre . Quer
obrigá-lo a compreender que o que tinham assinado
era u ma mera fórm u la para seguir em frente mas que
não passa rá d e u m papel de pouca importância , de um
m ero papel sem qua lquer va lor. Ele agirá à sua vontade
e como melhor convier à coroa. O Arcebispo quer que
Roma i ntervenha mas vê o Papa titu bea nte nesta oca
sião e fi ca-se só, com pleta mente isolado ...
A a ngústi a que i n unda o seu coração é enorme .
Ele cu lpa-se a si próprio pensando que ti nha sido débil
ao assi nar o contrato em que se ocultavam as pérfidas
intenções d o rei .
Sente-se cul pado como cabeça d a Igreja d e Ingla
te rra por ter sido débil e ceder. Como castigo retira-se.
O Arcebispo angustia-se, reza e sofre F i ca qua renta d ias sem celebra r... e pede perdão ao
pensando que tinha sido débif ao assinar o contrato... Papa pela su a deb il idade.
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DE POIS DE DEUS
O MEU Ú NICO JUÍZ É O PAPA
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"Porque lhe chamais ex- A rcebispo? Quem o de pôs?
Ce rtame�te não foi o Papa ... Eu também sou re i e não
posso d epor o ma is jovem dos clérigos . . . "
LEGADO PONTIFÍCIO
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Tomás Beccket. . . e assim o comunicou ofi cialmente a "Os n ossos pais na fé não d uvidaram dar a vida
ambos: ao rei e ao Arcebispo. pa ra defe nder os seus direitos e derramar o sangue por
Desem barcou em Sandwich . Ali o esperava uma não querer calar o nome de Cristo . Eu estou disposto a
multidão de filhos fié i s que o levaram em procissão derra mar todo o meu sangue por isto m es mo" .
triunfal até à sed e de Cantuá ria ... Era a festa de Natal de 1170. O Rei estava com
Como é natu ral, ali não estavam presentes os i n i m i os seus cortesãos no castelo de Bur. Num daqueles
gos do Arcebispo que era m , co mo é lógico, os amigos seus a rrebatamentos de cólera , que os cortesãos bem
do Rei. conheciam, excl amou cheio de raiva e com grand e
As coisas agravaram-se cada vez mais. Os espíritos furor:
estavam tensos . O Arcebispo pediu para ser recebido - Cobardes, canalhas!
pel o Rei e este não lhe concedeu a solicitada audiência . .. - Que se passa , Senhor? Diga-nos em que o pode
O arcebispo exigiu que fossem d evolvidas à Ig reja as servir a n ossa espada pois já sabe que os seus desejos
terras e demais possessões que tinham sido u surpadas. são ordens para nós.
O Re i fez-se surd o a tais ped idos e cada vez mais - Como?! Ainda vos atreveis a pergunta r o que se
cresceu a ten são. Tod os pensavam que qualquer coi sa está a passar?! Não vedes o que está a fazer esse
má estava para aconte ce r. clérigo?! Veio para a m i n h a corte sem um centavo
furado, comeu o meu pão e revoltou-se contra m i m . . .
Não haverá nenh u m valente q u e me l ivre dele tirando-o
FESTA DE NATAL DE 1170 do nosso meio?
Era n atura l q ue houvesse alguns, que pensando na
O rei Henrique está convencido de que já ganhou reco m pensa que os esperava , estivessem d ispostos a
a batalha . Por i sso o rgulh a-se de já ter intimidado o tu do . . . Planeo u-se então a conjura .
Papa e todo o clero da nação . De pouco serve ao po Corria a notícia pela cidade de q u e o Rei tramava
bre Arcebispo q ue grite. Os seus gritos não chegarão algo contra o Arce bi spo. Foram-lho d izer. .. O va lente
a Roma que está i nteira mente ao seu lado. Becket, respondeu:
Este destemido Arcebispo exclama com grande "Estou nas mãos de Deus. Não tem o o martírio" .
valentia cri stã:
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ONDE ESTÁ TOMÁS, O TRAIDOR?
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Fecharam-lhe as portas para não o deixarem ent rar. ÍNDICE
Ele clamou :
- C obardes, abri as p ortas da Casa de Deus !
E adia ntou-se até ao altar. Ouvi u-se u m a voz q u e
disse: Um Rei arrependido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
- Onde está o tra idor?
O Arcebispo repl ico u : Pobre e rico ao mesmo tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
-Aqu i e stá o Arcebispo, o traidor não!
Lançaram-se em fúria co ntra e l e e, a g o l pes d e Era um autêntico cavalheiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
machado, ali mesmo, revestido com o s orn am entos
p ontificais , d eram-lhe a morte . Ele ainda pôde dizer: Pobre e mortificado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
- Morro pelo nome de Jesus e em defesa da Igreja .
O flamej ante arcebispo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
Festa de N atal de 1 1 70 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
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