Você está na página 1de 16

SÃO TOMÁS DE CANTUÁRIA

EDITORIAL MISSÕES

CUCUJÃES
Titu lo or gin al : SANTO TOMAS DE CANTERBURY
i UM REI ARREPENDIDO

Autor: Rafael M.' López:-Melús, carmelita

Os historiadores chamam-lhe "o maior acontecimen­


© Apostolado Mariano - Sevi lh a
to da história" do século XII aquele com que iniciamos
Com licença eclesiástica. a história do Santo Bispo de Cantuária... É algo que
impressiona até só ao recordá-lo.
Tradução e Adaptação: P. J anu á rio dos Santos
- Porque açoitam tão barbaramente o Rei, papá?
- perguntava um menino ao pai.
- Estará verdadeiramente arrependido o monarca?
- comentavam homens e mulheres ao vê-lo vestido de
saco, com as costas desnudas e os músculos salientes
enquanto recebia centenas de duros açoites._.
- Bem merece o monarca estes açoites que está
a receber agora pelo crime que cometeu!. .. Grande
foi o seu pecado mas agora também muito grande é a
penitência que voluntariamente se impôs a si mesmo.
Temos um monarca que, embora tenha sido pecador,
agora se arrepende dos seus pecados como fez no seu
Reservados todos os direitos para Portugal e países de expressão portuguesa pela
tempo o rei David...
EDITORIAL MISSÕES
Aparta do 40 - 3 721-908 VI LA D E CUCUJÃES Eram prelados os que assim comentavam o que,
atónitos, contemplavam com os próprios olhos.
Composição e Impressão Tudo tinha acontecido assim, corno veremos: dois
Escola Tipográfica das Missões - Cucujães
grandes amigos; pela teimosia de um e pela fidelidade
Janeiro de 2012 à Igreja do outro, este tinha sido vilmente assassinado
por alguns esbirros, instigados pelo próprio rei, que
ISBN 978-972-577-346-8 outrora tinha sido seu grande amigo._.
Depósito Leg al 338932/12 Dois anos depois deste vil assassinato, o Papa, que

-3
também esteva metido neste confl ito , canon izava-o
co mo mod elo de fidelidade e de firmeza na fé cristã .
T udo i sto aconteceu nestas d atas : a morte em
29 d e Dezembro de 1170, a canon ização pelo Papa
Alexandre I l i em 2 de Fevereiro de 1173 e , em Julho
d e 1174 a com itiva do ímpio e agora a rrepend ido rei
He n rique de Plantagenete dirigiu-se à cated ra l e ali o
Re i desnudou-se das suas régias vestes e , na presença
d os Bispos e dos g randes da Corte Imperi a l , mandou
que o açoitassem barbaramente d iante do sepulcro do
que fora seu g rande amigo e a que m , depois , mandaria
m atar.

POBRE E RICO AO MESMO TE M PO

Este homem que nunca pactuou com a i njustiça e


a opressão, que foi um dos caracteres mais va lentes
e decididos da h i stória e que pelas obra s que fazia
some nte pod ia ser guiado pelo Espírito Santo, chamou­
-se Tomás Beckete ou de Cantuária porque foi ali onde
passou os anos m a is duros d a sua vida na sede que
ta nto amou a ponto de dar a sua vida por e l a .
Sobre ele escreveram-se histórias e novelas ma­
ravilhosas. Toda a sua vida parece uma novela apai­
xon ante .
Porque açoitam tão barbaramente o Rei?
O própri o Bossuet lhe chamará "o mártir da disci-

4- -5
plina" e sobre ele escreverá uma biografia que se lê
de um fôlego.
Tomás nasceu em 111 8, no mesmo dia de São
Tomás, e embora oriundo de normandos burgueses,
viu a luz do dia em Londres filho do serf da cidade.
Os seus pa is, que eram bons cristãos , confiaram a
sua educação, como era habitual nessa época , aos
monges da abad ia de Merton. Com eles foi forjando o
seu carácter...
Certo dia perguntou a um monge que encontrou
no cl austro:
- Ouça, padre, é preciso d izer sempre a verdade?
- Sim, meu fil ho, ainda que por causa dela nos dêm
a morte. Sobretudo quando ao não d izer essa verdade,
causarmos prejuízo a um tercei ro.
O menino nunca mais esquecerá estas palavras .. .
Fi cou órfão. Foi para Pari s e Bo l on h a estud a r
l e i s ... , e aqui, embora partici passe n a s brincadei ras
dos col egas, jamais manchou a alma com o pecado
ou se entregou aos vícios que alguns dos seus amigos
praticava m. Todos ad miravam a sua compostura e in­
tegridad e de ca rácte r.

Ouça, padre, é preciso dizer sempre a verdade?

6- - 7
ERA U M AUTÊNTICO CAVALHEIRO

Tendo regressado à sua pátria, começou a subir


no quadro da carreira eclesiástica onde sabia que o
Senhor o chamava . Foi ordenado diácono e, em 1154,
nomeado arcediago da Igreja.
Ganhou fama de grande diplomata e conhecedor de
l eis mais que qualquer outro no império. O seu nome e
prestíg io cresci a m de dia para d ia . . .
O Arcebispo de C antuária teve a sorte de encontrar
u m homem de tanto valor. Confiou-lhe empreendi men­
tos d ifícei s perante o Rei e até mesmo perante o Vatica­
no. Ao chega r ao Vaticano chamou a atenção pelos seus
modos fidalgos , pelo seu ta lento diplomático e por não
ser fácil convencê-lo do contrário do que ele pensava .
Sobretudo era um grande homem de ca rácter.
Foi ele que exerceu uma grande influência para que
por ocasião d a morte do rei Estêvão a coroa recaísse
sobre a cabeça do filho de Matilde, filha do falecido rei
Henri que, agora casada com o conde de Anjou.
Este filho de Matilde , Hen rique de Pla ntagenet,
era um homem de pequena mas robusta estatura , de
notável inteligê n cia mas de carácter sumamente colé­
ri co , que se deixava levar por uma paixão de ambição
des mesurada que o levaria à ruína .
Bem cedo soube descobrir as enormes qualidades O jo vem jurista e sacerdote, Tomás Becket,
do jovem j urista e sacerdote Tomás Becket e nomeou-- foi nomeado primeiro ministro ou chanceler do Reino.

8- -9
-o seu prime i ro ministro ou chanceler do Rei no. O seu
amor pa ra com ele era patente e conh ecido de todos.
Enviou-o a Paris com uma missão muito delicada. Todos
fica ram atónitos perante a sua fidalguia e sabedo ria e
diziam: "É um autêntico cavalheiro. Demonstra uma
grande pe rsonalidade".

POBRE E MORTIFICADO

O jovem Ch ancele r viu-se obrigado, com grande


pesar seu, a l evar uma vida principesca , o que não era
do seu agrado. Aborrecia as festas , caçadas, jogos,
grandes jantares . . . Aquele jovem a lto , elegante, formal,
sábio ... cha mava a ate nção de todos. O Rei não dava
um passo sem ouvir o conselho do seu Cha nceler.
Frequentemente, a meio da refeição do Ministro,
chegava o monarca e punha-se a comer à sua mesa .
Viam-nos juntos a cava lgar, a ir à caça .. . Os i ngleses
alegram-se ao notar aquela a mizade porque sabem
que isso redund ará em favor da coroa e da segurança
da Pátri a.
Um dia , indo à caça, aproxi mou-se dele um mendi­
go. O pobre homem não sabia com quem estava a tratar.
- Ouve, Tomás, olha para esse m endigo . . . Não te
parece que se ria uma excelente obra de ca ridade da r­
Não seria uma excelente obra de caridade
-lhe u m bom capote para que não passe frio? dar-lhe um bom capote?

10 - - 11
- Sim, majesiade. Creio que lhe faríamos um grande um di reito iniludível. Havia um dever da parte de todos:
bem. respeitar as propriedades e os direitos adquiridos como
- Tomás , ent rega-lhe tu essa pel iça tão bela, de cor coisa sagrada .
escarlate, que l evas ... E o Rei faz o gesto de ti rá-la dos Em 1162 morreu o Arcebispo d e Cantuária, Teobal­
ombros do jovem Tomás . .. do, e o ambicioso rei Henriqu e , que apesar de ter vivido
- Mas , majesta de, não vê que eu agora fico sem ta nto tempo ao lado do seu bom amigo Tomás n unca
nada? o chegou a co n hecer completamente , envidou todos
- Breveme nte comp rar-te-ei outra. Não te q u e ro os esforços para fazer q u e o sucessor de Teoba ldo no
privar d e ganha r merecimentos com esta boa obra que arcebispado fosse o bri l hante Chanceler. Assim d izia
vais fazer a favor deste pobrezin ho... ele: u niremos n uma só as duas coisas, os dois poderes:
Para lá destes episód ios e da vida pri ncipesca, To­ o Estado e a Igreja.
más passava longas horas e ntregue à oração e à peni­ N ão sabia com quem se ia meter...
tência ... No palácio levava u m a vida austera e mortifica­ Corria a voz pelo im pério daquilo que o rei tramava
da. T in ha dado ordens para que nunca nen h um pobre com esta nomeação. Tomás não podia imaginá-lo já que
se retirasse de casa sem esmola . .. Queria que a mesa con hecia muito bem o seu rei e também se conhecia
fosse austera com o corres pondia a um ecl esi ástico . a si mes mo. Ele seria intransigente perante as preten­
As pa redes de Merton sabi am mu ito bem qu antos sões do mona rca. Se o re i acreditava que ia jogar com
açoites recebiam as de licadas carnes do jovem chan­ ele . . . enganava-se redondamente. Certo d ia d isse-lhe
cel er. o rei Hen riq ue:
- Qu ero que aceites como sinal da minha amizade
o Pri mado Arcebispal da Sede de Cantuária.
O FLAMEJANTE ARCEBISPO - N ão, de ne nh uma maneira , majestade!
- Mas eu insisto para que aceites. Não imaginas o
Assim esteve às ordens do rei Henrique oito anos imenso bem qu e podemos fazer trabalhando os dois
vivendo a seu lado e defendendo os direitos do I mpé­ unidos pela Ingl aterra ...
rio, mas procurand o n ão interferir nos d i reitos da Igreja - Poi s olhe, Majestade , se insiste ... não diga depois
nem nos d e outros Estados. Para Tomás a justiça era que eu não o adverti . O favor que lhe parece que me

12 -
outorga agora se converterá depois em ódio para com
a minha pessoa porque sobre coisas da Igreja Vossa
Majestade tem pretensões que eu não com pa rti l h o de
mane ira nen h uma...

OS A MIGOS DISTANCIA M-SE

As coisas começara m a muda r pouco tem po depois


de o Chanceler To más ter su bido à sede Arcebispa l .
Deba ixo d a oste ntação de bri l h ante C h a n celer,
escondia m-se costu mes e virtudes de asceta , virtudes
de justo e responsável clérigo . . .
Tomás co meçou a dar vida ao seu ideal de virtude e
esqu eceu-se comp leta mente do que tinha sido: Chan­
celer e homem da corte .
Tratou de pôr as coisas no seu l ugar, de guardar
as devidas distâncias, e de dar a cada um o que l he
correspondia.
Muitas vezes a Sagrada Escritu ra canta a verdadei­
ra a mizade e apresenta-a como o maior tesouro que
pode encontrar um h omem: "O mel hor tesouro é u m
b o m amigo". Tomás foi u m bo m amigo e f i e l servidor
do mo narca Henri que mas não pa rece que se possa
afirmar o mesmo da parte do i mperador ambicioso e
Tomás esqueceu-se completamente do que tinha sido na Corte
altivo.
para se ded;car aos pobres e necessitados... Se a a mizade tivesse sido sincera teria sabido cor-

14 - - 15
-1 -
_.....s..; .l
..
i
. ta r a te m po com a sua ambição e ter-se-ia i nteressado
- ,.- ,
' ..,-
·r,. mais por ter a seu lado um am igo que desprender-se
,
de le para abarcar mais e ter mais ocasião de au mentar
-:r.
o seu poder e a sua riqueza à custa de quem julgava
que faci l mente poderia su bornar e assi m espezi nhar os
d ireitos da Igreja . . . Mas enganou-se terrivelmente .
O carácter coléri co de Henrique, antes u m tanto
contido pela su avidade e bondade do Chanceler, mani­
festou-se agora , tal como era , contra o próprio Tomás .
Não s u po rtava de maneira nenhuma q u e e l e l he
fizesse frente e que não executasse tudo como orde­
nava . "O Arcebispo anterior, dizia ele, sujeitava-se aos
meus desejos e este que eu coloquei , não. Porquê?
Va i-mas pagar. .."

EM DEFESA DO SEU POVO

Era natural que a pri meira contenda entre ambos


fosse sobre algo em que tivesse parte o di n heiro, os
i n teresses e a ambição de Hen rique .
Muito cedo o monarca deu uma ordem para que se
o brigasse a pag ar di n he i ro ao fisco de algu mas terras
que tin h a m o privi légio de não o fazer. E ram alg u ns
sen hores e o clero . Para estudar o assu nto convocou
Pouco a pouco, os do s amigo começara .. a distanciar-se
u ma assembleia.
porque o Rei se mostrava ambicioso e altivo... Al i estavam todos reun idos, cheios de m edo. . . Nin-

16 - - 17
gué m se atrevia a falar diante do rei . O arcebispo tomou
a palavra e d isse:
- Senhor Rei , Vossa Alteza não pode apropriar-se
desse d i nheiro .
- Mas d o n d e vem esse atrevi m ento de contrad izer
os meus d ecretos? Que a rrogância é ess a , senhor
Arcebispo?
- "Deriva do meu j u ramento. Ju ro perante esta as­
sembleia que nenhum dos que têm terras das m i nhas
igrejas entrega rá uma só moeda ao vosso fisco . . . "

Levantou-se tod o o clero em m assa porque aqu ilo


era u m atropelo. T i nha sido sempre privilégio respeitado
por todos que o clero era j u lgado em tribunais ecle­
siásticos e não civis . . .
Como o alvoroço foi tão grande , Hen rique cedeu
e a pare ntemente tudo voltou à estaca zero . . . mas por
mu ito pouco tempo porque Hen rique tei mava levar a sua
ava nte e fazer quanta guerra pudesse ao Arcebispo.

CASTIGO À SUA DEBILIDADE

-------
-- __ _

/
De onde lhe vem, Senho1 Arcebispo, esse atrevimento
7 As coisas tornavam-se cada dia mais d ifíceis. Os
dois poderes, o eclesi ástico e o civi l , vêem-se cada
vez mais divididos e até desencontrados. A Tomás só
lhe i nteressa u ma coisa: que se salve a j u stiça e que
de contradizer os meus decretos? o povo não sej a oprimid o . Ao monarca ta mbém só lhe

18 - - 19
interessava u ma só coisa: med ra r, crescer e m dinheiro
e no poder.
Como as coisas não levavam ru mo de sol ução, in­
terveio o Cardeal Legado do Pa pa, Hen rique de Pisa ,
e, por fi m, chegou-se a u m acordo . .
Beckete cede contanto que "sejam observadas cer­
�- ..!- ""
tas promessas e antigos costu mes..." pensando na boa
-
.
fé do mona rca que ele diz ter nesta ocasião e assina o
famoso tratado de Claredón.
O rei sente-se satisfeito. Faz publicar u m d ocu mento
que consta de dezasseis pontos. Bem depressa obri­
ga o antigo cha nceler a ren u nciar a várias d otações e
privilégios que a Igreja gozava d esde sempre . Quer
obrigá-lo a compreender que o que tinham assinado
era u ma mera fórm u la para seguir em frente mas que
não passa rá d e u m papel de pouca importância , de um
m ero papel sem qua lquer va lor. Ele agirá à sua vontade
e como melhor convier à coroa. O Arcebispo quer que
Roma i ntervenha mas vê o Papa titu bea nte nesta oca­
sião e fi ca-se só, com pleta mente isolado ...
A a ngústi a que i n unda o seu coração é enorme .
Ele cu lpa-se a si próprio pensando que ti nha sido débil
ao assi nar o contrato em que se ocultavam as pérfidas
intenções d o rei .
Sente-se cul pado como cabeça d a Igreja d e Ingla­
te rra por ter sido débil e ceder. Como castigo retira-se.
O Arcebispo angustia-se, reza e sofre F i ca qua renta d ias sem celebra r... e pede perdão ao
pensando que tinha sido débif ao assinar o contrato... Papa pela su a deb il idade.

20 - - 21
DE POIS DE DEUS
O MEU Ú NICO JUÍZ É O PAPA

Uma vez obtido o perdão de Deus, depois da sua


d u ra pe nitência e da bênção do Pa pa que lhe chega
de Roma por mei o do Legado Pontifício , o valente Ar­
cebispo, no d ia 26 de Dezembro de 1164, depo i s d e
celebrar a Santa Missa, to ma a cruz p ro cessional e
acom pa nhado por alguns clérigos valentes d irige-se ao
palácio im pe rial e grita à po rta chamando o monarca :
"Majestade , adj u ro o trata do de Cla re dão. Aquilo foi
tudo uma farsa da sua parte. Saiba-o be m: Não ace ito
as suas i legítimas p reten sões e muito menos os se us
injustos juízos. Depois de Deus, o meu único juiz é o
Papa".
Na manhã segui nte, veste-se de humi lde fradezinho
e parte do porto de Sandwich rumo à Fra nça para um
desterro que d urará seis lo ngos a nos.
Ali foi recebid o com toda a espécie de honras pelo
rei Hen rique V I 1 que o considerou como um sa nto mártir
desterrado . Depois será rece bido em Ro ma pelo Papa
Alexandre Il i .
O m alévolo rei Henrique fa rá tudo o q u e puder para
desprestig i a r o santo arcebispo e escreverá e mand ará
emissários ao rei d e França e ao Papa para que casti­
guem o "ex arcebi spo de Cantuária". Mas o próprio rei
Depois de Deus, o meu único juíz é o Papa...
Luís lhe dirá:

- 23
22 -
"Porque lhe chamais ex- A rcebispo? Quem o de pôs?
Ce rtame�te não foi o Papa ... Eu também sou re i e não
posso d epor o ma is jovem dos clérigos . . . "

Entretanto, o santo Arcebispo entregou-se num con­


ve nto cisterciense à oração e à pen itência causando a
admi ração a todos os monges.
Nestes d ias amad u recerá na virtude e fortal ecer­
-se-á na fé e na esperança.

LEGADO PONTIFÍCIO

Foram m u itas as pressões exe rcidas sobre o rei


Henrique, tanto de d entro como de fora do seu i m pério,
qu e, po r f im, aceitou - sempre com a intenção d e ti rar o
maior partido em vista aos seus i nteresses egoístas - o
regresso à Pátria d o se u a ntigo Chanceler e amigo, hoje
o mais e ncarn içado dos seus i n i migos, Tomás Becket.
Aconteceram muitas coisas d esde que Tomás se
desterrou vol unta riamente para França . O Papa inter­
veio e procu rou suaviza r as espera nças. O Rei suspen­
deu d os seus cargos os que eram fiéis ao arcebispo
desterrado. O a rcebispo, por sua parte, suspendeu "a
divin is" os bi spos e clérigos que era m fiéis ao Rei . Aquilo
tornou-se u m caos.
Por fim, o Papa procurou encontrar uma solução
Desembarcou em Sandwich onde o esperava
nomea ndo como seu Legado pera nte o próprio Re i a uma multidão de filhos fiéis...

24 - - 25
Tomás Beccket. . . e assim o comunicou ofi cialmente a "Os n ossos pais na fé não d uvidaram dar a vida
ambos: ao rei e ao Arcebispo. pa ra defe nder os seus direitos e derramar o sangue por
Desem barcou em Sandwich . Ali o esperava uma não querer calar o nome de Cristo . Eu estou disposto a
multidão de filhos fié i s que o levaram em procissão derra mar todo o meu sangue por isto m es mo" .
triunfal até à sed e de Cantuá ria ... Era a festa de Natal de 1170. O Rei estava com
Como é natu ral, ali não estavam presentes os i n i m i­ os seus cortesãos no castelo de Bur. Num daqueles
gos do Arcebispo que era m , co mo é lógico, os amigos seus a rrebatamentos de cólera , que os cortesãos bem
do Rei. conheciam, excl amou cheio de raiva e com grand e
As coisas agravaram-se cada vez mais. Os espíritos furor:
estavam tensos . O Arcebispo pediu para ser recebido - Cobardes, canalhas!
pel o Rei e este não lhe concedeu a solicitada audiência . .. - Que se passa , Senhor? Diga-nos em que o pode
O arcebispo exigiu que fossem d evolvidas à Ig reja as servir a n ossa espada pois já sabe que os seus desejos
terras e demais possessões que tinham sido u surpadas. são ordens para nós.
O Re i fez-se surd o a tais ped idos e cada vez mais - Como?! Ainda vos atreveis a pergunta r o que se
cresceu a ten são. Tod os pensavam que qualquer coi sa está a passar?! Não vedes o que está a fazer esse
má estava para aconte ce r. clérigo?! Veio para a m i n h a corte sem um centavo
furado, comeu o meu pão e revoltou-se contra m i m . . .
Não haverá nenh u m valente q u e me l ivre dele tirando-o
FESTA DE NATAL DE 1170 do nosso meio?
Era n atura l q ue houvesse alguns, que pensando na
O rei Henrique está convencido de que já ganhou reco m pensa que os esperava , estivessem d ispostos a
a batalha . Por i sso o rgulh a-se de já ter intimidado o tu do . . . Planeo u-se então a conjura .
Papa e todo o clero da nação . De pouco serve ao po­ Corria a notícia pela cidade de q u e o Rei tramava
bre Arcebispo q ue grite. Os seus gritos não chegarão algo contra o Arce bi spo. Foram-lho d izer. .. O va lente
a Roma que está i nteira mente ao seu lado. Becket, respondeu:
Este destemido Arcebispo exclama com grande "Estou nas mãos de Deus. Não tem o o martírio" .
valentia cri stã:

26 - - 27
ONDE ESTÁ TOMÁS, O TRAIDOR?

D epois de rezar com fervor o ofício de Matin as,


o Arcebispo passou toda a noite de 28 de Dezembro
e nt regu e à oração . . . Ele pressentia que a sua hora se
aproximava .
Pensou na possibilidade de fugir como tinha fe ito
anos atrás . Não lhe seria difícil encontra r vassalos fié is
que o ajudari am nesta empresa, mas pensou que agora
não devia fazer como tinha feito então ... Colocou-se
inteirame nte nas mãos de Deus .
Passou a ma nhã do dia 29 entregue à oração e a
piedosas conversas com os seus clérigos e desceu para
comer ao meio dia . Aí pelas três da tarde, apresenta­
ram-se diante dele quatro esbirros do rei exigindo-lhe
que assinasse um documento da parte do soberano
em que lhe exigiam coisas e m que ele não podia ceder.
Respondeu-lhes co m nobre ousadia.
- "Dizei ao Re i que não lhe posso fazer a vo ntade.
Os di reitos de Deus estão acima dos dire itos dos h o­
mens . Dizei-lhe que quem ofender os direitos da Igreja
enco ntrar-me-á no seu cam inho".
E sem dizer mais, formou uma espécie de procis­
são, e, co m a cruz alçada, dirigiu-se p a ra a Catedral . ..
Ali já estavam os seus i n i m igos pagos pelo Rei para
Aqui está o Arcebispo! O traidor não!
assassiná-lo . Ele suspeitava-o mas não se amedrontou.

28 - - 29
Fecharam-lhe as portas para não o deixarem ent rar. ÍNDICE
Ele clamou :
- C obardes, abri as p ortas da Casa de Deus !
E adia ntou-se até ao altar. Ouvi u-se u m a voz q u e
disse: Um Rei arrependido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
- Onde está o tra idor?
O Arcebispo repl ico u : Pobre e rico ao mesmo tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
-Aqu i e stá o Arcebispo, o traidor não!
Lançaram-se em fúria co ntra e l e e, a g o l pes d e Era um autêntico cavalheiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
machado, ali mesmo, revestido com o s orn am entos
p ontificais , d eram-lhe a morte . Ele ainda pôde dizer: Pobre e mortificado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
- Morro pelo nome de Jesus e em defesa da Igreja .
O flamej ante arcebispo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

Os amigos distanci am-se . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

E m defesa do seu povo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

Castigo à sua debilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

Depois de Deus, o meu ú n ico j uíz é o Papa . . . . 22

Legado pontifíci o . . .. ... . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

Festa de N atal de 1 1 70 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

Onde está Tomás, o traidor? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

30 - - 31

Você também pode gostar