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Introdução
Conforme relatório do Sinaval (2010a), até o fim dos anos 70 o Brasil ocupava o segundo
lugar em produção de navios no mundo, porém, com a crise financeira a partir dos anos 80, o
setor entrou em declínio e não houve mais entregas de navios a Petrobrás. Com a descoberta
das reservas de petróleo no Pré-Sal, o Sinaval (2010b) explica que a exigência de conteúdo
nacional nos bens de capital e o crescimento vigoroso da economia nacional, o setor da
indústria naval brasileira tem delineado um ciclo virtuoso para este nicho.
Entretanto, os riscos envolvidos são muitos e podem impactar na competitividade dos navios
fabricados. Impactos de flutuações da variação cambial, do preço de aço ou da mão de obra,
grandes componentes no custo total do projeto, fazem com que o preço final venha a se alterar
em relação ao estabelecido por contrato.
Este trabalho teve como objetivo realizar uma avaliação de risco financeiro em um projeto de
construção naval aplicando o método de SMC. Será considerado para estudo de caso um
navio petroleiro Suezmax. Na construção do modelo na avaliação de risco financeiro serão
considerados dados econômico-financeiros, além os indicadores que podem afetar estes
dados.
O Problema
Rocha (2011) explica que a Indústria Naval esteve adormecida por cerca de vinte anos.
Durante este período a grande maioria dos estaleiros, notadamente os no Sul e Sudeste do
país, sobreviveram à crise através de prestação de serviços em reparos navais, produção de
barcos de pesca e transporte fluvial. Durante todo esse período de latência do setor, os dados
históricos foram diluídos com o tempo, perdendo-se a referência para os novos projetos.
prazo do projeto considerado. Essa avaliação tem como principal objetivo orientar o armador
na implementação de medidas que visam a prevenir impactos negativos ou reduzir a sua
magnitude (Pires Jr et al., 2013).
Locatelli et al. (2010) discute que no setor de energia elétrica, existem vários periódicos que
fazem análise de grandes indústrias de geração de energia, porém, pouco se encontra na
literatura, estudos com pequenas e médias plantas de geração. Em sua pesquisa, o autor faz
uma comparação entre as plantas de geração de energia através de carvão, nuclear e térmica.
Sua principal observação é feita através de uma avaliação utilizando a SMC dos desempenhos
econômicos e financeiros com a variável de saída Valor Presente Líquido (VPL).
Este trabalho utiliza a técnica de simulação em seu experimento uma vez que, Silva et al.
(2009) defendem que é uma das técnicas mais gerais utilizadas em Pesquisa Operacional.
Devido à complexidade analisada, o modelo irá descartar técnicas de programação linear e
não linear, utilizando modelos dinâmicos para que capte as mudanças ocorridas no tempo,
através da incorporação de elementos aleatórios, modelos desta natureza são chamados de
Simulação Estocástica ou de Monte Carlo.
Devido à utilização de modelo matemático, esta pesquisa utiliza o método dedutivo em busca
de resultados através da Simulação de Monte Carlo. A análise dos resultados será dada de
forma exploratória por oferecer, segundo Yin (2005), uma contribuição através da análise dos
resultados. Os softwares utilizados na modelagem foram: Microsoft Excel® para a construção
do fluxo de caixa projetado e todas as planilhas auxiliares necessárias para a análise do objeto
estudado, e o @Risk® foi utilizado para efetuar a simulação de 5.000 cenários através de
números pseudo-aleatórios e gerar, desta forma, as curvas de probabilidade de Valor Presente
Líquido e Taxa Interna de Retorno.
O projeto
O investimento total aplicado no projeto foi dividido em grupos: materiais nacionais e
importados, mão de obra própria e subcontratada, custos indiretos, lucro, classificação,
tributos e impostos. Conforme a Tabela 1 verifica-se que os materiais e a mão de obra
representam 93,10% do montante total do preço de venda do navio.
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XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
GASTO US$ %
Material importado 21.175.725,58 35,13
Material nacional 19.821.896,87 32,89
Mão de obra própria 10.479.825,92 17,39
Mão de obra subcontratada 4.630.944,08 7,68
Custos Indiretos 1.885.418,00 3,13
Lucro estaleiro 1.857.804,00 3,08
Despesas de importação 175.141,12 0,29
Classificação 145.000,00 0,24
Recuperação de Tributos 98.014,00 0,16
Total 60.269.769,57 100,00
Tabela 1 – Grupos de gastos para construção do navio
Do total material nacional, chapa de aço no valor de US$ 17.829 mil representando 89,95%
dos materiais nacionais e 29,58% do preço do navio. O contrato entre o armador e estaleiro é
acertado a preço fixo, portanto mesmo que haja um eventual atraso na entrega do navio
oriunda de qualquer fonte não haverá alteração no preço final. Entretanto o armador assume
as variações de preços em função de ajustes de índices.
Com base a estas informações, analisaram-se os principais índices que podem influenciar no
valor do contrato e consequentemente na rentabilidade esperada pelo investidor, ou seja,
variação do dólar que impacta diretamente os preços dos materiais importados, variação do
preço do aço e variação da inflação que impactará os gastos em moeda nacional.
No Brasil a correção de preços e salários tem por base a variação do INPC (Índice Nacional
de Preços ao Consumidor) que no período de 01/2008 a 03/2014 apresenta uma distribuição
de probabilidades normal, com média 5,70262% e desvio padrão de 0,87997. De acordo com
os especialistas em finanças, esta média está adequada como estimativa para a inflação para
os próximos 2 anos no Brasil, que ultimamente vem situando-se no topo da média.
O valor do preço do aço tem por base o dia de assinatura do contrato. Entretanto, é de
conhecimento que seu valor sofra alterações com o passar do tempo. Portanto, na data de
pagamento do aço o valor poderá não ser mais o mesmo, ocasionado variação no custo final
do projeto. Como as estatísticas de preço de aço no Brasil são muito falhas, obtivemos os
valores históricos no Meps (http://www.meps.co.uk/), e no período de 01/2009 a 12/2013
obtemos uma distribuição de probabilidades triangular com parâmetros (95,06%, 100% e
111,02%). A Figura 3 apresenta esta distribuição.
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Separamos então do material nacional o aço do projeto, e a Tabela 2 apresenta esta nova
composição com suas respectivas distribuições de probabilidades. Nada foi considerado para
o custos indiretos, pois este risco é do estaleiro e não do armador.
GASTO Distribuição
Material importado triang(94,87%, 100% e 158,37%)
Chapa de aço triang(95,06%, 100% e 111,02%)
Material nacional Normal(5,70262%, 0,87797)
Mão de obra própria Normal(5,70262%, 0,87797)
Mão de obra subcontratada Normal(5,70262%, 0,87797)
Custos Indiretos
Despesas de importação triang(94,87%, 100% e 158,37%)
Classificação Normal(5,70262%, 0,87797)
Recuperação de Tributos Normal(5,70262%, 0,87797)
Tabela 2 – Hipóteses para simulação
GASTO US$
Material importado 21.175.725,58
Chapa de aço 17.829.058,50
Material nacional 2.092.480,29
Mão de obra própria 11.003.817,22
Mão de obra subcontratada 4.862.491,28
Custos Indiretos 1.885.418,00
Despesas de importação 175.141,12
Classificação 152.250,00
Recuperação de Tributos 102.914,70
Subtotal 59.279.296,69
Lucro 1.833.380,31
Total 61.112.677,00
Tabela 3 – Resultados simulação
Podemos observar pela Figura 4, que o valor médio projetado do preço do navio de US$ 61,1
milhões tem apenas 11,4% de probabilidade de se efetivar, sendo que poderá variar de um
mínimo de US$ 56,6 milhões e um máximo de US$ 75,2 milhões, em função das variações
dos indicadores ao longo da construção do navio.
A Figura 5 apresenta o impacto destes indicadores nos respectivos gastos e seu reflexo no
preço do navio. Observe que o gasto que mais influencia o preço final do projeto são os
materiais importados em função da variação do dólar, podendo ter um grande impacto no
preço final do navio. Neste caso, face elevado risco que o armador está exposto, deveria fazer
um hedge cambial para mitigá-lo.
Vamos agora analisar o retorno do investimento esperado pelo armador, após a análise dos
impactos dos gastos no preço contratado do projeto. As receitas geradas pelas taxas de time
charter também apresentam alta volatilidade, que certamente impactará na rentabilidade do
projeto. Como a vida útil do navio é de 15 anos, vamos estudar o comportamento do VPL e da
TIR do projeto. O Figura 6 apresenta a série histórica de taxas de time charter que foram
ajustadas pela inflação da moeda americana no período, e a Figura 7 sua distribuição de
probabilidades.
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Preço do navio: US$ 61,1 milhões
Receita de frete: US$ 21,1 mil/dia
Custos fixos: US$ 4,7 mil/dia
Taxa livre de riscos: 5% ao ano
Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 Ano 7 Ano 8 Ano 9 Ano 10 Ano 11 Ano 12 Ano 13 Ano 14 Ano 15
Receita de frete 7,702 7,702 7,702 7,702 7,702 7,702 7,702 7,702 7,702 7,702 7,702 7,702 7,702 7,702 7,702
Custo fixo 1,716 1,716 1,716 1,716 1,716 1,716 1,716 1,716 1,716 1,716 1,716 1,716 1,716 1,716 1,716
Venda do navio 3,056
Saldo 5,986 5,986 5,986 5,986 5,986 5,986 5,986 5,986 5,986 5,986 5,986 5,986 5,986 5,986 9,042
Saldo descontado 5,701 5,429 5,171 4,925 4,690 4,467 4,254 4,052 3,859 3,675 3,500 3,333 3,175 3,023 4,349
Valor Presente 63,602
Valor do navio 61,113
Valor presente líquido 2,490
Taxa interna de retorno 9,27%
Tabela 3 – Projeção determinística da receita do projeto
Podemos observar que analisamos que a taxa de time charter seja determinística, ou seja, não
consideramos sua volatilidade para estimar seus valores ao longo do tempo de vida útil do
projeto. Entretanto, se considerarmos como já analisado, que o preço do navio pode variar em
função das incertezas associadas aos gastos de construção, obtemos as distribuições de
probabilidades do VPL e da TIR, apresentadas nas Figuras 8 e 9.
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Para proceder a análise estocástica, vamos utilizar a SMC para as taxas de time charter,
utilizando o modelo de reversão para a média, que segundo demonstrou Rezende Filho &
Pires Jr (2012), foi a que melhor se adequou para simulação, tendo como base o critério
mínimo erro quadrático. O modelo é o seguinte:
X t X t 1et X 1 e t
__
1 e2t
2
N(0,1)
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Observe que tanto o VPL como a TIR após o processo de simulação apresentam valores
superiores aos da análise determinística, apresentando robustez nas projeções efetuadas e que
poderá dar maior conforto ao decisor a aceitar o projeto. As chances do VPL ser negativo
caíram de 60% para aproximadamente 37,3%, sendo de 58,4% a probabilidade de se atingir o
valor projetado. Mesmo com a incerteza do ambiente, o prazo longo do prazo do projeto traz
um risco financeiro menor ao projeto, caso os riscos apresentados sejam acompanhados e
mitigados.
Conclusão
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Com a retomada dos investimentos na indústria naval e offshore brasileira, é importante o uso
de ferramentas que deem suporte a tomada de decisão, tanto sob a ótica do estaleiro como do
armador. A análise de risco, mesmo sendo pouco utilizada em transporte marítimo no Brasil,
configura-se como uma forma de minimizar os riscos e auxilia na adoção de medidas
mitigadoras.
O estudo serviu também para exemplificar e apresentar os diversos tipos de conclusões que
podem ser retiradas da análise bem como as ações a serem realizadas a partir delas,
objetivando um maior controle do processo decisório.
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