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XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10


Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

UMA ANÁLISE DE FATORES


DETERMINANTES DA DEMANDA E
EVIDÊNCIAS SOBRE A INDÚSTRIA
BRASILEIRA DE MOTOCICLETAS
Danilo Oliveira de Almeida (FUNCESI )
danilo_oa@yahoo.com.br
Henrique Duarte Carvalho (FUNCESI )
henrique.carvalho@funcesi.br
Cristina Jose de Assis Souza (FUNCESI )
assis.cristina@gmail.com
Fabiana de Oliveira Andrade (FUNCESI )
fabianaoa@yahoo.com.br
Tancredo Augusto Vieira (FUNCESI )
tancredo.vieira@funcesi.br

A indústria brasileira de motocicletas é relevante para a economia


brasileira, não só pelo volume de unidades produzidas e vendidas
como também pelo número de postos de trabalho oferecidos. Diante
disso, buscou-se evidências sobre a indústria brasileira de motocicleta
e os fatores determinantes da demanda de motocicletas no mercado
brasileiro sob a ótica econômica. A metodologia utilizada foi a
abordagem quantitativa, de cunho descritivo e o método foi a pesquisa
documental. O universo desta pesquisa são os dados agregados do
mercado brasileiro de motocicletas no período de 1975 a 2012. A
amostra foi o período compreendido entre 2008 e 2012, referente às
vendas de motocicletas no mercado brasileiro. Essa pesquisa utiliza o
procedimento da amostra probabilística estratificada, uma vez que os
dados foram tratados estatisticamente. Os resultados revelaram que o
cenário da produção nacional de motocicletas possui expressiva
capacidade produtiva, com vendas concentradas no mercado interno.
A demanda de motocicletas no mercado interno sofre influência
significativa da renda do consumidor, cessão de crédito para aquisição
de veículos, taxa de juros de financiamentos e a produção de motos.

Palavras-chaves: Indústria brasileira de motocicletas. Demanda.


Testes econométricos.
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1. Introdução

O mercado brasileiro de motocicletas se destaca pelo volume e pela variedade de marcas,


modelos e segmentos à disposição dos consumidores, além de compor uma fatia importante
do PIB e gerar uma quantidade relevante de empregos em toda a sua cadeia produtiva.

Poucos estudos têm analisado a demanda agregada relativa às motocicletas no mercado


brasileiro, sendo comuns estudos aplicados ao mercado de automóveis e comerciais leves. A
indústria brasileira de motocicletas é responsável por uma quantidade importante de postos de
trabalho, além de promover a motorização da população de baixa renda.

A indústria brasileira de motocicletas, segundo dados da Associação Brasileira dos


Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares - ABRACICLO
(2012) pode ser considerado a quinta maior produtora mundial, uma vez que nos anos de 2011
e 2012 foi registrada a produção de 2.136.891 e 1.397.698 unidades, respectivamente,
considerando que esses dados incluem unidades produzidas para o mercado interno e externo.
Pode-se afirmar que essa indústria gera apenas no Polo Industrial de Manaus algo em torno de
21.000 empregos diretos, desconsiderando os empregos indiretos e outros postos de trabalho
dentro da cadeia produtiva. Este cenário justifica a relevância de pesquisas que busquem
interpretar possíveis fatores determinantes da demanda de tão relevante mercado.

De acordo com Mankiw (2001), a demanda de mercado se origina nas demandas individuais.
Desta forma, a quantidade demandada no mercado se relaciona com os fatores determinantes
da quantidade demandada por compradores individuais. Sendo assim, surge o seguinte
problema de pesquisa: Como é o cenário da produção nacional de motocicletas e quais são
as variáveis econômicas capazes de explicar a demanda por motocicletas no mercado
nacional?

2. Revisão da Literatura

2.1 Conceitos de mercado de acordo com a teoria econômica

Segundo Vasconcellos (2009), economia é a ciência social que estuda a maneira como o
indivíduo e a sociedade decidem utilizar recursos produtivos escassos, na produção de bens e
serviços, de modo a distribuí-los entre as várias pessoas e grupos da sociedade, para satisfação
das necessidades humanas. De acordo com Mankiw (2001) e Vasconcellos (2009), o estudo

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da economia é dividido em duas grandes áreas: a microeconomia, voltada para o estudo dos
agentes econômicos individuais do mercado, como os consumidores e as empresas, tratando
da alocação dos recursos escassos. Já a macroeconomia trata do estudo abrangente da
economia, dos fenômenos da economia como um todo, incluindo a inflação, desemprego e
crescimento econômico. Assim, a economia está condicionada às escolhas que a sociedade
deve fazer para gerir os recursos escassos que estão a sua disposição.

2.1.1 Demanda

De acordo com Vasconcellos (2009), demanda é a quantidade de certo bem ou serviço que os
consumidores desejam adquirir, num determinado período, de acordo com a sua renda, seus
gastos e o preço de mercado. Segundo Gremaud, et al. (2003), define-se demanda individual
como a quantidade de um certo bem ou serviço que o consumidor deseja adquirir em um
determinado período de tempo. Varian (2006) diz que a demanda de cada pessoa para
determinado bem depende dos preços e de sua renda. Ampliando este conceito, Gremaud, et
al. (2003) apresenta quatro fatores determinantes da demanda individual:

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FIGURA 1 – Curva da demanda por determinado bem.


Fonte: GREMAUD, et al., 2003.

Assim, a partir da Figura 1, tem-se a relação inversa entre o preço do bem e sua quantidade
demandada, isso explica a curva da demanda ser negativamente inclinada.

De acordo com Varian (2006), a demanda de cada pessoa para cada bem depende dos preços e
de sua renda, a demanda de mercado dependerá dos preços e da distribuição de rendas. A
demanda de mercado é a demanda de um consumidor representativo, que possui uma renda
igual à soma de todas as rendas individuais. De acordo com De Negri (1998), nos modelos
agregados, a demanda por veículos é associada a variáveis como a média dos preços e da
renda das famílias. De forma geral, tais modelos concentram a análise no número total de
veículos comprados, e ignoram o tipo de escolha do consumidor.

2.1.2 Oferta

Mankiw (2001) acrescenta que a oferta é a quantidade oferecida de qualquer bem ou serviço é
a quantidade que os ofertantes estão dispostos e podem vender. De acordo com Gremaud, et
al. (2003), a curva da oferta é positivamente inclinada e por este motivo, quanto maior o preço
do bem em questão, maior é o desejo de venda dos ofertantes, perfazendo ainda relação entre
preço e a quantidade ofertada de certo bem. A oferta também depende de inúmeros fatores,
com destaque para os fatores de produção, que acabam determinando o preço de venda final
do produto, e consequentemente sua viabilidade de sua produção. A figura 2 apresenta o
comportamento da curva de oferta.

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FIGURA 2 - Curva da oferta


Fonte: http://www.neema.ufc.br.

Assim, a partir da figura 2, tem-se a relação entre o preço do bem e sua quantidade ofertada,
isso explica a curva da oferta ser positivamente inclinada. Em geral, ainda de acordo com
Gremaud et al. (2004) a curva da oferta é positivamente inclinada, recaindo na relação de
quanto maior o preço do bem, maior será seu interesse em produzir esse bem. Pode-se
representar matematicamente como: O°= f(P°, P¹, P²...P n-1, £¹, £²...£m, T),

Sendo, a quantidade ofertada (O°), uma função do preço do bem em questão (P°), o preço de
seus concorrentes (P¹, P²...P n-1), dependente ainda dos fatores de produção (£¹, £²...£m), e
ainda resultante da tecnologia empregada na fabricação do bem (T).

2.1.3 Equilíbrio de mercado

Para Mankiw (2001) e Pindyck e Rubinfeld (2010), um mercado se forma quando um


conjunto de compradores e vendedores cuja interação promove a delimitação de um preço
comum para determinado produto, atrelando-se a isso, para identificação da dimensão entre
ofertantes e demandantes, identificar a extensão do mercado, a fim de estimar a sua definição.
Deste modo, toma-se na definição do funcionamento dos mercados, um dos temas centrais
dentro das ciências econômicas. A Figura 3 apresenta graficamente este conceito.

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FIGURA 3 – Equilíbrio de mercado


Fonte: http://www.neema.ufc.br.

Ainda seguindo Pindyck e Rubinfeld (2010), o instrumento-chave para a compreensão do


funcionamento de um mercado é explicado pelo modelo básico da demanda e da oferta de um
possível produto, combinando dois conceitos essenciais, a curva da oferta e a curva da
demanda. Deste modo, a curva da oferta de um produto revela a quantidade de determinado
produto que as empresas estarão dispostas a produzir, sob determinado preço, ceteris paribus,
já a curva de demanda nos mostra, a quantidade de produtos que os consumidores estão
dispostos a comprar, sob determinados preços. O equilíbrio de mercado ocorre quando, sob o
mesmo preço, a quantidade ofertada é exatamente a mesma demandada. Em um mercado
competitivo, a curva de demanda é negativamente inclinada, isto é, quanto maior o preço do
produto ofertado, menor o desejo de compra dos consumidores, e por consequência, a curva
de oferta é positivamente inclinada, como diz Gremaud, et al. (2004).

2.1.4 Elasticidades

Segundo Pindyck e Rubinfeld (2010), a elasticidade mede a variação percentual que se tem,
quando ocorre uma alteração de alguma variável, frente um aumento percentual em outra
variável. Vasconcellos (2009) acrescenta que a elasticidade pode ser considerada sinônimo de
sensibilidade, resposta, reação de uma variável em relação a mudanças ocorridas em outras
variáveis.

De acordo com Gremaud, et al. (2003), a elasticidade, em valor absoluto, varia entre zero e
infinito, podendo ser um resultado menor que |1|, o que a caracteriza como demanda
inelástica, situação na qual a variação dos preços é maior que a variação que se teve na
demanda. Existe ainda, a demanda de elasticidade unitária, quando o resultado for igual a |-1|,
ocorrendo igualdade entre as variações percentuais; e demanda elástica, quando o resultado
for maior que |-1|, havendo maior variação na quantidade demandada em decorrência da
variação do preço.

Para Mankiw (2001) e Vasconcellos (2009), a elasticidade-preço da demanda se caracteriza


pela intensidade da resposta da quantidade demandada em relação a alterações do preço do
bem, e seu cálculo é efetuado como variação percentual da quantidade demandada pela
variação do preço do bem em questão. Deste modo, obtem-se a seguinte fórmula, onde os
pontos são representados por (Q1, P1) e (Q2 e P2):

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Mankiw (2001) e Pindyck e Rubinfeld (2010) definem elasticidade-renda da demanda como a


medida de quanto a quantidade de um bem varia em função das variações na renda dos
consumidores, e pode também ser vista como a percentagem de variação na quantidade
demandada, resultante de um aumento de 1% na renda do consumidor.

Elasticidade-renda da demanda = Variação percentual da quantidade demandada


Variação percentual da renda

Pindyck e Rubinfeld (2010) e Mankiw (2001) a elasticidade-preço da oferta corresponde à


variação percentual da quantidade ofertada em decorrência do aumento de um ponto
percentual no preço.

Elasticidade-preço da oferta = Variação percentual da quantidade ofertada


Variação percentual do preço

A elasticidade-preço da oferta apresenta a medida da sensibilidade da variação da


quantidade ofertada em decorrência da variação no preço do bem.

2.1.5 Estruturas de mercado

De acordo com Gremaud et al. (2003), o preço e a quantidade de equilíbrio nos mercados são
resultantes da ação da oferta e da demanda. Porém, a oferta e a demanda interagem de forma a
apresentarem resultados distintos em cada mercado, de acordo com as características
específicas de cada produto, condições tecnológicas, acesso, informação, tributação,
regulamentação, entre outras características que o tornam único.
Mankiw (2003) e Pindyck e Rubinfeld (2010), para que um mercado seja perfeitamente
competitivo, ele deve obedecer a duas características essenciais: que os bens oferecidos a
venda sejam todos iguais, ou seja, oferta homogênea e que os compradores e vendedores
sejam tão numerosos que nenhum único comprador ou vendedor possam influenciar o preço
de mercado.

2.2 Mercado brasileiro de motocicletas

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As motocicletas começaram a ser produzidas no Brasil em 1975. Na época, o veículo era


associado ao lazer e status. A produção nacional foi, na verdade, uma quebra desse paradigma,
já que o produto lançado no mercado era pequeno e da categoria utilitário, diferente das
motocicletas importadas anteriormente, de acordo com a ABRACICLO (2011).
De acordo com Montenegro (2010), o aumento da frota de motocicletas se deve à mudança
ocorrida na sua utilização. No Brasil até a década de 1980, o uso da motocicleta era
basicamente esportivo e nos anos subsequentes ganhou aceitação da população por ser um
veículo ágil, econômico e de custo reduzido. Montenegro (2010) afirma que no Brasil, o setor
de produção de motocicletas cresce de forma exponencial.
Esse crescimento é atribuído a diversos fatores, tais como: reestruturação produtiva com
surgimento de novas profissões, como os motociclistas profissionais, ausência de uma política
de transporte público efetiva, facilidade na aquisição e manutenção deste veículo, como
financiamento e autonomia, entre outros.

2.2 Oferta de crédito para aquisição de veículos


De acordo com Sant’Anna, et al. (2009), houve expansão contínua das operações de crédito
em relação ao PIB, no período de 2004 a 2008, fundamentalmente em função do crescimento
do crédito destinado às pessoas físicas: crédito consignado em folha de pagamentos,
financiamento a aquisição de veículos e leasing.
Segundo Freitas e Prates (2009), a fase expansiva do ciclo de crédito teve seu início em 2003,
quando houve a combinação de dois fatores relevantes: a confirmação da garantia de que não
haveria alteração na política econômica do novo governo e a menor volatilidade
macroeconômica, resultado da melhoria das contas externas no contexto internacional naquele
período. Esse cenário de menor volatilidade macroeconômica e de expectativas de redução
nas taxas básicas de juros levou os bancos a redefinirem suas estratégias operacionais,
priorizando a expansão do crédito.

3. METODOLOGIA
A metodologia utilizada nesta pesquisa é a quantitativa, do tipo descritiva e o método pesquisa
documental. Os dados foram coletados em documentos disponibilizados pela ABRACICLO,
Banco Central do Brasil, IBGE e IPEADATA O universo desta pesquisa são os dados
agregados do mercado brasileiro de motocicletas no período de 1975 a 2012. A amostra é o
período compreendido entre 2008 e 2012, referente às vendas de motocicletas no mercado

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brasileiro. A análise de dados foi realizada por meio da estatística descritiva. Utilizou-se a
técnica dos Mínimos Quadrados Ordinários para cálculo da estimativa da demanda
doméstica.

4 ANÁLISE DE DADOS
4.1 Cenário da produção nacional de motocicletas e vendas no mercado doméstico
Este tópico objetiva apresentar o cenário da produção nacional de motocicletas no período de
2008 a 2012, apresentando a evolução da produção e das vendas no mercado doméstico no
período e os fatores relevantes na composição deste cenário.
A indústria brasileira de motocicletas representa significativa importância para a economia
brasileira, uma vez que gera aproximadamente vinte e um mil empregos diretos, além de
postos de trabalhos associados à cadeia de produção de distribuição.

Através dos dados obtidos junto a ABRACICLO (2012), evidencia-se a produção recorde no
ano de 2008, um aumento de 22,44% em relação ao ano anterior. Esses números configuram a
maior produção da indústria brasileira de motocicletas, os quais foram atingidos num
momento de estabilidade econômica, aliada a um aumento considerável de oferta de crédito
para aquisição de veículos.

No ano de 2009, a produção sofreu os efeitos diretos da crise econômica mundial, com
retração dos níveis de produção na ordem de 28,09%, conforme ABRACICLO (2012). Essa
diminuição é evidenciada nos meses de janeiro e fevereiro, com os menores níveis
apresentados neste ano. Em contrapartida, os níveis apresentados nos meses seguintes

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demostram uma recuperação do setor.

O ano de 2010 apresentou crescimento favorável da produção, com um aumento de 18,91%


em relação ao período anterior, mas ainda distante dos números obtidos no ano de 2008. No
ano de 2011 deu-se continuidade a esse período de recuperação, apresentando números de
produção bastante próximos aos obtido no ano de 2008, reflexo de um amadurecimento do
mercado, considerado o quinto maior mercado consumidor do mundo (ABRACICLO, 2012).

Em 2012 o cenário apresentou uma queda acentuada da produção em relação ao ano anterior,
na ordem de 52,88%, de acordo com dados da ABRACICLO (2012), provocada tanto pela
maior restrição ao crédito para motos, quanto pelo barateamento dos automóveis, através das
políticas governamentais de redução de impostos.

Procedeu-se também a análise das vendas de motocicletas no mercado doméstico. A Tabela 2


evidencia os resultados no período.

As vendas no mercado doméstico seguem o ritmo do crescimento da produção, uma vez que
as vendas para o mercado externo compõem uma pequena parcela do total de motocicletas
produzidas no período, com menos de 1% de participação nos números de produção. O
Gráfico 1 evidencia as vendas para o mercado interno e externo.

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GRÁFICO 1 – Vendas internas e externas 2008 a 2012


Fonte: Dados da pesquisa.

O Gráfico 1 apresenta a variação das vendas de motocicletas produzidas no Brasil,


considerando o mercado interno e as unidades exportadas, variando mês a mês, considerando
o período de janeiro de 2008 a dezembro de 2012, demonstrando a disparidade entre o
mercado interno e as exportações.

A indústria de motocicletas brasileira apresenta números com grande potencial de crescimento


e um dinâmico mercado consumidor, predominantemente doméstico, mas que ainda se mostra
dependente de políticas governamentais relacionadas à concessão de crédito e com grande
sensibilidade ao crescimento do mercado automobilístico.

4.2 Estimativa da equação da demanda doméstica

Nesta seção testa-se um modelo de demanda agregada, com base na venda do mercado
doméstico de motocicletas, o nível de salário mínimo real, o preço dos veículos, as taxas
médias de juros mensais das operações de financiamento de veículos, o volume de crédito
destinado aos financiamentos de veículos, o crédito total na economia e a relação crédito PIB,
aplicando nestes dois últimos casos, operações pós-fixadas, exclusiva para operações de
aquisições de veículos. A Tabela 3 apresenta uma breve descrição das variáveis do modelo
apresentado bem como a fonte de dados coletados.

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A equação da demanda linear em termos formais se apresenta da seguinte maneira:

Em que os (betas) representam os parâmetros a serem estimados.

Na tabela abaixo é apresentado a ordem de integração das séries obtidas pelo teste de raiz
unitária. Cabe destacar que, para o procedimento de estimação da equação através do método
de mínimos quadrados ordinários (M.Q.O.) e de causalidade as séries devem ser estacionárias,
ou seja, ser integradas na ordem 0 (zero).

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A Tabela 4 apresenta os resultados obtidos através do método de mínimo quadrados


ordinários, onde as variáveis que apresentam ordem de integração (0) são definidas como
estacionárias e as que possuem ordem de integração (1), não são estacionárias, devendo passar
por um processo de primeira diferenciação para que a mesma seja estacionária.

A estimativa da equação da demanda utilizando-se o método de mínimos quadrados


ordinários é apresentado na Tabela 5.

* Nota: A matriz de correlação para estas variáveis apresentou valores muito baixos para todos os pares de
variáveis, sugerindo que não há um problema de multicolinearidade na regressão estimada.

As variáveis estatisticamente significativas, dentro um intervalo de confiança 90%, para


explicar a demanda de motocicletas no mercado doméstico foram o crédito para o setor
automobilístico (CREDITOSETORAUTO), as taxas de juros para financiamentos

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(TAXADEJUROS), o preço da gasolina (PRECOGAS), o salário mínimo real


(SALMINIMO) e a produção de motocicletas (PRODUCAOMOTO). Pode-se ainda ressaltar
os sinais coeficientes do crédito para o setor automobilístico (CREDITOSETORAUTO) e das
taxas de juros de financiamento (TAXADEJUROS), sendo positivo para o primeiro e
negativo para o segundo.

Essa relação pode ser interpretada da seguinte maneira: um aumento no volume de crédito
corrobora para uma alteração positiva na demanda e, de forma análoga, uma diminuição na
taxa de juros causa o mesmo efeito. Sant’Anna, et al. (2009) e Freitas e Prates (2009)
concordam que esta combinação entre farta oferta de crédito e baixas taxas de juros geram
efeitos positivos para o consumo das famílias, bem como para o mercado de motocicletas.

Por meio destes resultados pode-se dizer que a demanda de motocicletas sofre forte influência
do volume de crédito disponibilizado para aquisição de veículos. Além disso, o consumidor
deste mercado procura adquirir o bem em questão através de financiamento, uma vez que a
taxa de juros aplicada a esta modalidade de compra também é uma variável significativa. De
acordo com dados da Abraciclo (2012), 52% das vendas de motocicletas no ano de 2011
ocorreram por meio de financiamento, confirmando o peso destas variáveis na composição da
equação da demanda.

Outra variável estatisticamente significativa foi o preço da gasolina, cujo coeficiente positivo
obtido no teste demonstra uma relação direta com a demanda, ou seja, o aumento no preço da
gasolina impacta positivamente nas vendas de motocicletas. Esta relação pode ser explicada
pela composição do mercado brasileiro de motocicletas, que segundo dados da Abraciclo
(2012), por volta de 88% dos modelos comercializados possuíam até 150 cm³ de cilindrada,
característica esta voltada à economia de combustível.

O salário mínimo real foi outra variável estatisticamente significativa, uma vez que através do
aumento da renda provocam-se alterações na curva de demanda, de acordo com os autores
Varian (2006) e Gremaud, et al.(2003). De forma análoga ao preço da gasolina, esta variável
também possui seu sinal positivo, demonstrando uma relação direta com a demanda.

A última variável estatisticamente significativa foi a produção de motocicletas, que a


princípio parece não ter relação direta com a demanda como as variáveis elencadas
anteriormente. Em contrapartida, as políticas de redução de estoque adotadas pelos fabricantes
de motocicletas podem explicar a significância desta variável, uma vez que os estoques geram

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custos, e promover a venda dos mesmos passa ser uma política válida para fomentar o
mercado.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A indústria brasileira de motocicletas destaca-se no cenário econômico brasileiro, devido ao


considerável volume de motocicletas vendidas anualmente e às suas características
específicas, que a diferencia da indústria automobilística brasileira.

O cenário da produção nacional de motocicletas, que possibilita afirmar a relevância desta


indústria, com capacidade produtiva superior a um milhão de unidades anuais, com suas
vendas concentradas no mercado interno.

As vendas no mercado doméstico seguem o ritmo do crescimento da produção, uma vez que
as vendas para o mercado externo compõem uma pequena parcela do total de motocicletas
produzidas no período, com menos de 1% de participação nos números de produção.

A demanda de motocicletas no mercado interno sofre influência significativa da renda do


consumidor, cessão de crédito para aquisição de veículos, taxa de juros de financiamentos e a
produção de motos. Portanto, uma sugestão para novas pesquisas é um estudo da demanda por
motocicletas de baixa cilindrada, uma vez que a mesma responde em média por 88% do
mercado e pode ser influenciada por outras variáveis econômicas.

REFERÊNCIAS

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