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INTERAÇÃO E APLICAÇÃO DA CONFIABILIDADE HUMANA NA ÁREA DE

SEGURANÇA DO TRABALHO

BERGSTEN, Ivan Eric Santos1

RESUMO

Este estudo abordou a interação entre confiabilidade humana e Engenharia de


Segurança do Trabalho, destacando a importância dos fatores modeladores de
desempenho na prevenção de acidentes e doenças ocupacionais. Inicialmente,
discutiu-se a relevância da confiabilidade humana como um elemento central na
eficácia das medidas de segurança implementadas, influenciando diretamente o
comportamento dos trabalhadores. Em seguida, foi analisada a necessidade de uma
abordagem integrada que considere tanto os aspectos técnicos quanto os humanos
da segurança no trabalho, visando garantir ambientes laborais seguros e saudáveis.
A falta de consideração adequada dos aspectos humanos nas normas e
regulamentações foi identificada como um desafio significativo, podendo resultar em
limitações na eficácia das medidas de segurança. Para superar esse desafio,
destacou-se a importância da implementação de programas de treinamento e
conscientização, análise de falhas humanas e aplicação de princípios ergonômicos.
Por fim, ressaltou-se que a promoção da segurança e saúde ocupacional é uma
responsabilidade compartilhada por empresas, governos, organizações
internacionais e profissionais da área, com o objetivo de proteger a saúde e
integridade dos trabalhadores e garantir o sucesso das organizações.

Palavras-Chave: Confiabilidade Humana. Segurança do Trabalho. Fatores


Humanos. Gestão de Risco

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Graduado em Engenharia Mecânica pela UCSAL
1. INTRODUÇÃO

No mundo moderno, impulsionado pelo crescimento da indústria, avanços


tecnológicos e intensificação da competição de mercado, surgem desafios
significativos relacionados à segurança e bem-estar dos trabalhadores. O aumento
desses desafios está intrinsecamente ligado a um "efeito colateral" preocupante: os
acidentes de trabalho. Historicamente, o foco primário das organizações estava em
desenvolver, expandir e lucrar, muitas vezes negligenciando a proteção e saúde dos
colaboradores, a verdadeira força motriz por trás de suas operações. (BRISTOT,
2019)
Os acidentes de trabalho eram frequentemente associados a fatores como
horários de trabalho prolongados, condições extremas de trabalho e a falta de
regulamentação de equipamentos para mitigar os riscos envolvidos (TAKEDA,
2018). A ausência de uma cultura de segurança e a falta de percepção dos riscos
inerentes às tarefas contribuíam para que a rotina laboral se tornasse perigosa, seja
devido à natureza das próprias tarefas ou ao estado físico dos operadores.
(BRISTOT, 2019)
Nesse contexto, a regulamentação e a atuação da engenharia de segurança
do trabalho se tornaram imperativas. No entanto, mesmo com essas medidas em
vigor, ainda persistem desafios decorrentes da falha humana. É fundamental
compreender que o contexto de uma falha humana pode resultar em riscos
significativos para o sistema como um todo. A confiabilidade dos sistemas depende
de uma série de fatores interligados, incluindo equipamentos, componentes, e,
principalmente, os seres humanos envolvidos no processo (BARROWS, 2020).
Dados recentes demonstram a magnitude desses desafios: de acordo com a
Organização Internacional do Trabalho (OIT), aproximadamente 2,3 milhões de
pessoas morrem a cada ano devido a acidentes de trabalho ou doenças
relacionadas ao trabalho, e cerca de 160 milhões sofrem lesões não fatais
relacionadas ao trabalho. Além disso, estima-se que os acidentes de trabalho
causem uma perda econômica equivalente a 4% do Produto Interno Bruto (PIB)
global anualmente. (AGENCIA BRASIL, 2017)
Diante desse cenário, surge a necessidade premente de explorar e
compreender a interação entre a Confiabilidade Humana e a Segurança do
Trabalho. Este artigo busca investigar como a confiabilidade humana pode ser
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aplicada e aprimorada para promover ambientes de trabalho mais seguros e
eficientes, considerando os desafios contemporâneos enfrentados pelas
organizações.

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2. METODOLOGIA

A metodologia utilizada neste estudo consiste em uma revisão integrativa de


literatura, buscando sintetizar e analisar diversos estudos relacionados à interação
entre confiabilidade humana e segurança do trabalho. Para isso, foi necessário
realizar uma pesquisa extensiva em plataformas digitais, como o Google Acadêmico,
utilizando termos-chave como "Confiabilidade Humana", "Human Reliability" e
"Segurança do Trabalho".
Os resultados obtidos foram organizados por temas relevantes, e os
resumos dos documentos foram minuciosamente examinados. Os trabalhos
selecionados foram aqueles que ofereciam definições claras e aplicações práticas
relacionadas à confiabilidade humana e à Engenharia de Segurança do Trabalho.
Cada documento foi categorizado por nome, autor, data de elaboração e web link
para referência futura.
Posteriormente, foram extraídos trechos significativos dos documentos
selecionados, os quais serviram como base para a construção das ideias
apresentadas neste trabalho. A análise cuidadosa desses trechos permitiu identificar
pontos em comum e estabelecer relações entre os conceitos de confiabilidade
humana e segurança do trabalho, contribuindo para uma compreensão mais
abrangente e aprofundada desses temas.
Essa abordagem metodológica proporcionou uma visão holística e
fundamentada sobre a relação entre confiabilidade humana e segurança do trabalho,
permitindo a identificação de tendências, lacunas e áreas de interesse para futuras
pesquisas.

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3. DISCUSSÃO

Qualquer tipo de erro ou falha no contexto geral de uma empresa tem o


potencial de causar danos ao patrimônio, à imagem da empresa, à produção ou
também pode gerar danos à integridade das pessoas. As normas regulamentadoras
brasileiras que tem relação com a segurança do trabalho têm sido elaboradas para
que situações de risco sejam cada vez mais controladas nos ambientes de trabalho,
fazendo com que os riscos inerentes a cada tarefa sejam contornados com barreiras
para que o evento indesejado não ocorra.

Revisão sobre Confiabilidade Humana

De acordo com Reason (1990), as ocorrências indesejadas têm como maior


contribuinte o fator humano. Rasmussen (1989) e Hollnagel (1993) concordam com
Reason afirmando que embora seja difícil obter número válidos ou exatos, parece
haver um acordo geral de atribuir algo na faixa de 60 a 90% dos eventos
indesejados a erros humanos.
O índice de medição básico de desempenho humano é a probabilidade de
erro humano (HEP) o qual foi definido por Swain & Guttmann (1985) como a
probabilidade de que quando uma tarefa é desempenhada um erro ocorra.
O erro humano é definido como qualquer ação ou falta de ação humana,
intencional ou não, que excede ou falha em atingir um limite de aceitabilidade, onde
os limites do desempenho humano são definidos pelo sistema (RIGBY, 1970). De
acordo com Swain & Guttmann (1985), os erros humanos excluem as ações com
intenção malevolentes.
Apesar desses números tão expressivos, o conceito de erro humano tem
sido estudado e debatido não com uma conotação de culpa e punição, mas sim
como uma consequência natural que ocorre devido à interação não perfeita entre a
demanda dos sistemas e a capacidade humana (KIRWAN, 1994).
De acordo com Blackman, Gertman & Boring (2008), Os fatores que
influenciam a Confiabilidade Humana são chamados de fatores modeladores de
desempenho e eles são os seguintes: Nível de estresse, complexidade da tarefa,
tempo disponível para realização da tarefa, processos de trabalho, experiência e

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treinamento, procedimentos, ergonomia e interface homem-máquina e a aptidão
para a tarefa.
O nível de estresse está definido pelos autores como nível de condições e
circunstâncias indesejadas que impedem o operador de realizar facilmente uma
tarefa. Apesar de essa ser uma definição bem aceita no meio acadêmico, o
Handbook de Swain & Guttmann (1985) relaciona o estresse com o desempenho
humano de uma forma curvilínea da seguinte forma: tanto pouco estresse quanto
estresse muito elevado geram no operador um desempenho baixo. Um pequeno
grau de estresse é necessário no operador para que ele tenha um nível suficiente de
excitação para desempenhar a tarefa com um grau ótimo de confiabilidade.
Ainda para Swain & Guttmann (1985), o estresse é gerado por algum
estímulo ou evento que conduz ao estresse, ou seja, um estressor. Os autores
classificam os estressores como sendo psicológicos ou fisiológicos. Os estressores
psicológicos incluem velocidade que as tarefas precisam ser feitas, distrações,
trabalho monótono, ameaças de supervisores, situações de emergências, etc. Já os
estressores fisiológicos incluem fadiga, dor ou desconforto, fome ou sede, restrição
de movimentos, temperaturas extremas, vibrações, etc.
Para ajudar a melhorar a análise, os autores Swain & Guttmann (1985)
apresentaram quatro níveis de estresse: muito baixo (insuficiente para causar
excitação para manter alerta), ótimo (o nível onde o operador pode manter alerta e
desempenhar a sua função com melhor desempenho), e dois níveis de estresse
elevado: moderadamente elevado (moderadamente perturbador) e muito elevado
(extremamente perturbador). O interessante é que os primeiros três níveis são
considerados estresse da tarefa, ou seja, que são resultados de uma tarefa com
pouca carga, uma tarefa com carga ótima e uma tarefa com carga elevada. O quarto
nível, no entanto, representa estresse ameaçador e implica em reações emocionais
às situações ou contexto das tarefas.
A complexidade está relacionada com a dificuldade que a tarefa tem de ser
desempenhada naquele determinado contexto (BLACKMAN; GERTMAN; BORING,
2008). Já pela definição de Swain & Guttmann (1985), a complexidade do trabalho é
função da quantidade de informação que o trabalhador precisa processar e a
quantidade de raciocínio abstrato ou visualização é requerida, ou seja, quanto maior
a carga de informação mais complexo é o trabalho.

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O tempo disponível é definido como a quantidade de tempo que um
operador tem para diagnosticar e agir sobre um determinado evento anormal. De
acordo com os autores Blackma, Gertman & Boring (2008), a falta de tempo afeta a
habilidade de pensar claramente e encontrar alternativas e também a habilidade do
operador de desempenhar a função.
O processo de trabalho tem relação com a desempenho do trabalho em si,
ou seja, cultura de segurança, planejamento do trabalho, comunicação e o suporte
que a pessoa tem da gestão e da política da empresa. Ou seja, como o trabalho é
planejado, comunicado e executado pode afetar a performance do indivíduo ou do
grupo (BLACKMAN; GERTMAN; BORING, 2008)
A experiência e o treinamento são fatores que se referem tanto ao
treinamento que a pessoa recebeu em aulas ou a quantidade de anos que a pessoa
trabalha realizando a tarefa, mas vai mais além, até na quantidade de tempo que
passou depois que ele passou pelo treinamento e os sistemas que foram utilizados
nas tarefas e/ou cenário (BLACKMAN; GERTMAN; BORING, 2008). Os autores
Swain & Guttmann (1985) fazem uma ótima análise com relação ao treinamento
para situações de emergências indicando a importância de treinamentos frequentes.
A figura 1 apresenta essa relação.

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Nessa figura podemos ver a importância que tem os treinamentos para
manter alta a eficácia da ação em meio a emergências.
Os procedimentos fazem parte dos fatores modeladores de desempenho e
está relacionado com a existência e o uso de procedimentos operacionais formais
para a determinada tarefa (BLACKMAN; GERTMAN; BORING, 2008).
Já ergonomia e interface homem-máquina se refere ao equipamento, tela,
controles, layouts, qualidade, quantidade de informações disponíveis pela
documentação e interação do operador com o equipamento para desenvolver as
tarefas (BLACKMAN; GERTMAN; BORING, 2008). Complementando essa
abordagem, o estudo de Figueroa & Souza (2011), mostra a importância da gestão
visual nos procedimentos de manutenção. Nesse artigo, os autores mostram que a
linguagem visual tem uma importância muito grande quando se trata de
procedimentos e padrões de manutenção porque facilita o entendimento do
operador já que a linguagem que são escritos os manuais é uma linguagem de
fabricante (muitas vezes engenheiros) e não de operadores (os que realmente irão
utilizar o equipamento), deixando os manuais difíceis de serem compreendidos pelos
operadores (FIGUEROA; SOUZA, 2011).
E sobre a aptidão para o trabalho, o que é analisado é se o operador da
tarefa está fisicamente e mentalmente apto para desenvolver aquela tarefa. Coisas
que podem afetar a aptidão dele são fadiga, doença, uso de drogas (legais ou
ilegais), confiança exagerada, problemas pessoais e distrações (BLACKMAN;
GERTMAN; BORING, 2008).
Existem vários métodos para avaliar a probabilidade de erro humano (HEP).
Apesar desses métodos serem básica e estruturalmente parecidos o mais conhecido
e mais analisado em literaturas, de acordo com Terra et al. (2020), é o THERP
(Técnica de Predição para a Taxa do Erro Humano, do inglês Technique for Human
Error Rate Prediction). Esse método faz uma análise de tarefas que as divide em
subtarefas e gera, dessa forma, uma matriz fazendo uma montagem de subtarefas
de HRA (Human Reliability Analysis) discretas, formando uma árvore de eventos de
HRA (Terra et al., 2020). De acordo ainda com Terra et al. (2020), é necessário
selecionar probabilidades de erro humano apropriadas correspondentes a cada
subtarefa. Essa identificação é feita em uma tabela prévia de consulta onde contem
a descrição da subtarefa. Depois de gerar a árvore de eventos o cálculo de

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probabilidade é feito levando em consideração todas as probabilidades de erro
humano documentada para cada subtarefa (TERRA et al., 2020).
A partir desse modelo vários outros foram sendo desenvolvidos para a
análise de probabilidade de erro humano. Alguns deles foram desenvolvidos
baseados nos fatores modeladores de desempenho (PSF do inglês Performance
Shaping Factors) que mencionamos anteriormente como é o caso do método
ATHEANA, SLIM-MAUD e SPAR-H os quais não detalharemos, mas terminam
sendo mais precisos já que levam em consideração as interações que o operador
tem com o ambiente de trabalho dele e com fatores psicológicos e fisiológicos
(TERRA et al, 2020).

Engenharia de Segurança do Trabalho

A Engenharia de Segurança do Trabalho passou por uma evolução


significativa ao longo do tempo, impulsionada pela necessidade de promover
ambientes de trabalho seguros e saudáveis para os trabalhadores. Inicialmente,
suas origens remontam à Revolução Industrial, quando as condições de trabalho
eram precárias e os acidentes eram comuns devido à falta de regulamentações e
conscientização sobre segurança (BRISTOT, 2019).
Durante o século XIX, com o surgimento das primeiras legislações
trabalhistas, começaram a ser estabelecidas as bases para a proteção dos
trabalhadores. No entanto, foi no século XX que a Engenharia de Segurança do
Trabalho se consolidou como uma disciplina técnica e científica, influenciada pelo
desenvolvimento da indústria e pelo aumento da conscientização sobre os riscos
ocupacionais (BRISTOT, 2019).
A partir da década de 1970, com o reconhecimento dos direitos dos
trabalhadores à saúde e segurança no trabalho, houve um avanço significativo na
legislação e nas práticas de segurança. O surgimento de organizações
internacionais, como a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a
Organização Mundial da Saúde (OMS), também contribuiu para a promoção de
padrões globais de segurança ocupacional (BRISTOT, 2019).
Atualmente, a Engenharia de Segurança do Trabalho continua a evoluir em
resposta às mudanças tecnológicas, novos desafios de saúde ocupacional e às
demandas por ambientes de trabalho mais seguros e saudáveis. A integração de
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abordagens multidisciplinares, como a ergonomia, psicologia organizacional e
gestão de riscos, reflete a complexidade e abrangência dessa área (PATEL, 2021).
A Engenharia de Segurança do Trabalho é uma disciplina que visa prevenir
acidentes e doenças ocupacionais, protegendo a saúde e a integridade dos
trabalhadores em diversos setores industriais e comerciais. Seus principais objetivos
incluem identificar, avaliar e controlar os riscos presentes nos ambientes de trabalho,
promovendo a segurança e a qualidade de vida dos trabalhadores (BRISTOT, 2019)
As áreas de atuação da Engenharia de Segurança do Trabalho são
abrangentes e incluem a análise e gestão de riscos, ergonomia, higiene ocupacional,
prevenção e combate a incêndios, segurança em máquinas e equipamentos, entre
outras. Essas áreas visam garantir que os trabalhadores estejam protegidos contra
diversos tipos de riscos, como agentes químicos, físicos, biológicos, ergonômicos e
de acidentes (Canadian Centre for Occupational Health and Safety [CCOHS], 2020.).

Normas técnicas e regulamentações desempenham um papel fundamental


no setor de Engenharia de Segurança do Trabalho, fornecendo diretrizes e
requisitos para garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores. No Brasil,
algumas normas importantes incluem a Norma Regulamentadora NR-9 (Programa
de Prevenção de Riscos Ambientais), NR-15 (Atividades e Operações Insalubres),
NR-17 (Ergonomia), entre outras, estabelecidas pelo Ministério do Trabalho e
Emprego (Ministério do Trabalho e Emprego [Brasil], 2024).

Além das normas regulamentadoras, padrões internacionais, como as


normas ISO 45001 (Sistemas de Gestão de Segurança e Saúde Ocupacional) e
OHSAS 18001 (Sistemas de Gestão de Segurança e Saúde Ocupacional), são
amplamente adotados por organizações em todo o mundo como referência para o
gerenciamento de segurança e saúde ocupacional (International Organization for
Standardization [ISO], 2024.; British Standards Institution [BSI], 2024.).

Em suma, a Engenharia de Segurança do Trabalho desempenha um papel


crucial na promoção da segurança e saúde ocupacional, com base em normas e
práticas que visam proteger os trabalhadores e melhorar as condições de trabalho
em diversos setores industriais e comerciais.

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Interação da Confiabilidade Humana com a Engenharia de Segurança do
Trabalho

A Engenharia de Segurança do Trabalho é uma disciplina multidisciplinar


que visa garantir a proteção da saúde e da integridade física dos trabalhadores,
além de prevenir acidentes e doenças ocupacionais nos ambientes laborais. Nesse
contexto, a confiabilidade humana desempenha um papel fundamental,
influenciando diretamente a eficácia das medidas de segurança implementadas
(HALE, 2000).

A confiabilidade humana se refere à capacidade dos trabalhadores de


desempenhar suas tarefas de forma consistente e confiável, levando em
consideração diversos fatores que podem afetar o desempenho humano. Esses
fatores, conhecidos como fatores modeladores de desempenho, são elementos
psicológicos, organizacionais e sociais que moldam o comportamento humano no
ambiente de trabalho (REASON, 1990).

Entre os principais fatores modeladores de desempenho, destacam-se a


atenção, percepção, memória, motivação, estresse, fadiga, cultura de segurança,
liderança, treinamento e comunicação (CARAYON; SMITH, 2000). Esses elementos
influenciam diretamente a maneira como os trabalhadores executam suas tarefas e
respondem aos desafios e demandas do ambiente de trabalho.

No entanto, as normas de Engenharia de Segurança do Trabalho nem


sempre abordam adequadamente a questão da confiabilidade humana e dos fatores
modeladores de desempenho. Embora essas normas estabeleçam requisitos e
diretrizes para proteger os trabalhadores contra acidentes e riscos ambientais, elas
tendem a se concentrar mais em aspectos técnicos e estruturais, deixando lacunas
significativas na consideração dos aspectos humanos (Ministério do Trabalho e
Emprego – Brasil, 2024).

Essa falta de abordagem adequada da confiabilidade humana pode resultar


em limitações na eficácia das medidas de segurança implementadas, uma vez que
os aspectos humanos não são devidamente considerados. Incidentes e acidentes no
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local de trabalho podem ocorrer devido à falha humana, resultando em lesões,
perdas financeiras e danos à reputação da empresa.

Para abordar essa questão de forma mais eficaz, é fundamental adotar uma
abordagem integrada que considere tanto os aspectos técnicos e estruturais quanto
os aspectos humanos da segurança no trabalho (International Organization for
Standardization, 2018). Isso envolve a implementação de programas de treinamento
e conscientização que visam aumentar a competência dos trabalhadores, melhorar a
comunicação e promover uma cultura de segurança positiva (AKYUZ, et al. 2015)

Além disso, a análise de falhas humanas pode ser usada para identificar
padrões de comportamento e fatores que contribuem para a falha humana,
permitindo que medidas preventivas sejam implementadas (WIEGMANN &
SHAPPELL, 2003). A aplicação de princípios ergonômicos também desempenha um
papel fundamental na promoção da confiabilidade humana, garantindo que as
tarefas, ferramentas e ambientes de trabalho sejam projetados de forma a minimizar
o potencial de erro humano e maximizar o desempenho humano.

Em resumo, a relação entre confiabilidade humana e Engenharia de


Segurança do Trabalho é crucial para garantir ambientes de trabalho seguros e
saudáveis (International Labour Organization, 2024). Reconhecer e abordar
adequadamente os fatores modeladores de desempenho e a falha humana é
essencial para prevenir acidentes ocupacionais e promover a segurança e o bem-
estar dos trabalhadores. Isso requer uma abordagem integrada que considere tanto
os aspectos técnicos e estruturais quanto os aspectos humanos da segurança no
trabalho.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao término deste estudo sobre a interação entre confiabilidade humana e


Engenharia de Segurança do Trabalho, é possível destacar diversos aspectos
relevantes que merecem atenção e reflexão. Inicialmente, é crucial reconhecer a
importância da confiabilidade humana como um elemento central na prevenção de
acidentes e doenças ocupacionais. Como discutido ao longo deste trabalho, os
fatores modeladores de desempenho desempenham um papel significativo na
determinação da eficácia das medidas de segurança implementadas, influenciando
diretamente o comportamento e desempenho dos trabalhadores.

Um dos principais desafios enfrentados na área da Engenharia de


Segurança do Trabalho é a adequada consideração dos aspectos humanos nas
normas e regulamentações. Embora essas normas estabeleçam requisitos técnicos
e estruturais para garantir a segurança dos trabalhadores, muitas vezes deixam
lacunas na consideração dos aspectos psicológicos, organizacionais e sociais que
influenciam o comportamento humano no ambiente de trabalho. Essa falta de
abordagem adequada da confiabilidade humana pode resultar em limitações na
eficácia das medidas de segurança implementadas, deixando os trabalhadores
vulneráveis a acidentes e incidentes ocupacionais.

Diante desse cenário, é fundamental adotar uma abordagem integrada que


considere tanto os aspectos técnicos quanto os humanos da segurança no trabalho.
Isso envolve não apenas o cumprimento das normas e regulamentações, mas
também a implementação de programas de treinamento e conscientização que
visam aumentar a competência dos trabalhadores, promover uma cultura de
segurança positiva e melhorar a comunicação e o trabalho em equipe.

Além disso, a análise de falhas humanas e a aplicação de princípios


ergonômicos desempenham um papel fundamental na promoção da confiabilidade
humana. Identificar padrões de comportamento e fatores que contribuem para a
falha humana permite a implementação de medidas preventivas eficazes, reduzindo
o risco de acidentes e lesões ocupacionais. Da mesma forma, projetar ambientes de

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trabalho ergonomicamente adequados pode minimizar o potencial de erro humano e
maximizar o desempenho dos trabalhadores.

Por fim, é importante ressaltar que a promoção da segurança e saúde


ocupacional não é apenas uma responsabilidade das empresas, mas de toda a
sociedade. Governos, organizações internacionais, instituições acadêmicas e
profissionais da área de segurança do trabalho têm um papel fundamental a
desempenhar na criação de políticas, diretrizes e práticas que promovam ambientes
de trabalho seguros e saudáveis para todos os trabalhadores.

Em suma, a relação entre confiabilidade humana e Engenharia de


Segurança do Trabalho é crucial para garantir ambientes de trabalho seguros e
saudáveis. Reconhecer e abordar adequadamente os fatores modeladores de
desempenho e a falha humana é essencial para prevenir acidentes ocupacionais e
promover a segurança e o bem-estar dos trabalhadores. Isso requer uma
abordagem integrada que considere tanto os aspectos técnicos quanto os humanos
da segurança no trabalho, visando a proteção da saúde e integridade dos
trabalhadores e o sucesso das organizações.

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