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FUNDAMENTOS DE
CINESIOLOGIA E BIOMECÂNICA
Alex Castro
Vinicius Barreto da Silva

Fundamentos de cinesiologia e biomecânica

1ª edição

Londrina
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
2019

2
© 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser
reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio,
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Editorial
Alessandra Cristina Fahl
Beatriz Meloni Montefusco
Daniella Fernandes Haruze Manta
Hâmila Samai Franco dos Santos
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Silva, Vinicius Barreto da


S586f Fundamentos de cinesiologia e biomecânica / Vinicius
Barreto da Silva, Alex Castro. – Londrina : Editora e
Distribuidora Educacional S.A., 2019.
109 p.

ISBN 978-85-522-1555-4

1. Educação Física. 2. Biomecânica. 3. Cinesiologia.


I. Silva, Vinicius Barreto da. II. Castro, Alex. III. Título.

CDD 610

Thamiris Mantovani CRB: 8/9491

2019
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/

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FUNDAMENTOS DE CINESIOLOGIA E BIOMECÂNICA

SUMÁRIO
Apresentação da disciplina 5

Princípios da biomecânica no aparelho locomotor 6

Cinesiologia e biomecânica do treinamento de força 22

Cinesiologia e biomecânica do treinamento funcional 37

Análise mecânica, cinemática e eletromiográfica de exercícios 52

Biomecânica e treinamento 69

Mecânica articular 90

Métodos para prevenção de lesões musculares durante o treinamento 108

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Apresentação da disciplina

Olá, aluno!

Nesta disciplina, você estudará os princípios biomecânicos e


cinesiológicos, do movimento humano, aplicados em diferentes
contextos. Isso significa dizer estudo do aparelho locomotor e da
mecânica articular durante o treinamento de força, treinamento
funcional e treinamento em esportes coletivos e individuais, na análise
mecânica, cinemática e eletromiográfica de exercícios para diferentes
grupos musculares e na prevenção de lesões músculo esqueléticas
inerentes ao treinamento físico.

Esses conteúdos contribuirão para a compreensão das causas e das


medidas de prevenção relacionadas à ocorrência de diferentes tipos
de lesões decorrentes do treinamento de diversas capacidades físicas.
Assim, também auxiliarão na análise e interpretação das interações
entre os componentes músculo esqueléticos e as demandas do
treinamento físico, além de possibilitar a identificação das características
mecânicas apropriadas à execução de exercícios para diferentes
grupos musculares, de maneira que o treinamento possa ser ajustado
a fim de minimizar sobrecargas indesejadas ou para se adequar aos
acometimentos do aparelho locomotor.

Espera-se que a compreensão dos princípios biomecânicos e


cinesiológicos, estudados nesta disciplina, proporcione uma atuação
profissional mais segura e consciente, no sentido de otimizar a execução
de gestos e movimentos corporais complexos, minimizar a ocorrência de
lesões músculo esqueléticas decorrentes de estratégias inadequadas de
treinamento, assim como possibilitar ferramentas para uma avaliação
apropriada da evolução do treinamento.

Seja bem-vindo! Bons estudos!

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Princípios da biomecânica no
aparelho locomotor
Autor: Vinícius Barreto da Silva

Objetivos

• Contextualizar os princípios da Biomecânica.

• Analisar os aspectos anatomofuncionais do


movimento.

• Explorar os princípios gerais da avaliação segmentar


de membros superiores e inferiores.

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1. Princípios da Biomecânica no aparelho
locomotor

O movimento humano possui uma natureza extremamente complexa,


de modo que o homem, frequentemente, se depara com dúvidas
relacionadas a como o movimento surge, como é organizado, ou ainda,
sobre como é possível analisar seus principais parâmetros. Nesse
sentido, para chegarmos aos principais esclarecimentos acerca dessas
dúvidas, precisamos de áreas específicas de estudo, que contemplem
tais temas. Para tanto, com o intuito de estudar o movimento humano,
temos o desenvolvimento de áreas como a Biomecânica.

Sendo assim, nas próximas páginas deste material, você poderá conhecer
um pouco mais sobre os principais aspectos que estão relacionados à
área da Biomecânica. Além disso, poderá aprofundar seu conhecimento
explorando os princípios gerais que envolvem a avaliação segmentar de
membros superiores e inferiores dentro da área da Biomecânica.

PARA SABER MAIS


Ao longo dos nossos dias é extremamente comum
realizarmos observações acerca do mundo que nos
rodeia. Estamos sempre observando as pessoas e os
acontecimentos a nossa volta. De modo geral, a maioria
de nossas observações estão direcionadas ao fenômeno
do movimento e isso se faz ainda mais presente no dia a
dia de um profissional de Educação Física. Nos deparamos,
frequentemente, com questões como: qual o melhor ângulo
de realização desse movimento? Como posso diminuir o
torque gerado em determinada articulação nesse exercício?
Qual é o ponto de maior dificuldade mecânica desse
movimento?

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Dessa forma, você verá a seguir que a área da Biomecânica
está mais próxima das reflexões cotidianas de um personal
trainer do que imaginamos.

Pelo fato da Cinesiologia ser considerada o estudo do movimento


humano e por causa de seu conceito abrangente, muitas vezes, ocorre
confusão a respeito do conceito dos termos Cinesiologia e Biomecânica.
Entretanto, para uma distinção mais apurada entre as terminologias,
podemos relacionar a análise cinesiológica à uma observação do
movimento e identificação de detalhes específicos das contribuições
anatômicas e fisiológicas para o movimento. Enquanto que, segundo Hall
(2000), a biomecânica é a aplicação de princípios mecânicos no estudo
dos organismos vivos. Lembrando que a mecânica é o ramo da física que
analisa as ações de forças sobre partículas e sistemas mecânicos e possui
dois ramos: a estática, envolvendo sistemas em constante movimento, e a
dinâmica, que envolve sistemas submetidos à aceleração.

ASSIMILE
Podemos considerar a Cinesiologia como o estudo do
movimento humano.
Já a Biomecânica está relacionada a aplicação de princípios
mecânicos no estudo dos organismos vivos.
A Mecânica é o ramo da Física que analisa as ações de
forças sobre partículas e sistemas mecânicos.
A Estática é uma das subcategorias da mecânica, que trata
especificamente de sistemas em constante movimento.
Já a Dinâmica, que também é uma subcategoria da
Mecânica, trata de sistemas submetidos à aceleração.

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1.1 Biomecânica dos membros superiores

Devemos considerar que os movimentos que são relacionados a


membros superiores ganham grande atenção dentro da área de
Educação Física, uma vez que envolvem habilidades motoras exigidas
em diversos tipos de exercícios e modalidades esportivas, como o
lançar e arremessar, por exemplo, que são movimentos característicos
de membros superiores. Dessa forma, é de suma importância ter
conhecimento a respeito de como essas estruturas são formadas e
interligadas para que o movimento aconteça. Você poderá observar
abaixo as estruturas que estão relacionadas aos membros superiores.

1.1.1 Complexo do ombro:

O ombro é constituído por diversas articulações que, por sua vez,


influenciarão diretamente nos movimentos dos braços. As articulações
dessa região são: escapulotorácica, esternoclavicular, acrômioclavicular.

A articulação esternoclavicular é formada pela junção entre a clavícula


e o manúbrio do esterno, onde a clavícula serve como local de inserção
muscular, proporcionando uma barreira que serve como proteção de
estruturas próximas, além de atuar como suporte para a estabilização
do ombro e prevenção da migração inferior do cíngulo do membro
superior. Essa articulação possui três ligamentos: interclavicular,
esternoclavicular e costoclavicular, sendo este último o ligamento
mais importante para a estabilização da articulação. Os movimentos
na articulação esterno-clavicular ocorrem em três direções: superior
e inferior, em movimentos conhecidos como elevação e depressão;
anterior e posterior, em movimentos conhecidos como prostração e
retração; rotação anterior e posterior, ao longo de seu eixo longitudinal.

A conexão da clavícula à escápula em sua extremidade distal, dá origem


a articulação acromioclavicular, onde ocorre a maioria dos movimentos
da escápula em relação à clavícula. Essa articulação fica localizada
sobre o alto da cabeça do úmero e funciona como limitação óssea aos

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movimentos do braço acima da cabeça. Os ligamentos presentes dão
sustentação à articulação em situações de baixa carga e de pequenos
movimentos. Podemos destacar os dois ligamentos específicos: o
coracoclavicular, que auxilia nos movimentos da escápula, funcionando
como um eixo de rotação e fornecendo apoio em movimentos que
necessitam de maior amplitude e deslocamento; e o ligamento
coracoacromial, que protege as estruturas próximas ao ombro,
limitando o uso excessivo do movimento superior da cabeça do úmero.

Diferente das demais articulações a escapulotorácica, não apresenta


conexão entre os ossos, mas entre estruturas neurovasculares,
musculares e bursais, que permitem um movimento harmonioso da
escápula no tórax. Essa articulação tem a função de aumentar a rotação
total do úmero com relação ao tórax e gerar alavanca para os músculos
que aderem à escápula.

Figura 1 – Articulação esternoclavicular

Fonte: Hamill, Knutzen e Derrick (2016, p. 138).

Por fim, a articulação do ombro, segundo Hamill, Knutzen e Derrick


(2016), é a articulação que oferece a maior amplitude de movimento
e potencial de mobilidade entre todas as articulações do corpo. Nessa

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articulação, o ligamento coracoumeral impede a translação posterior
do úmero durante os movimentos do braço e sustenta o peso do braço,
enquanto os três ligamentos glenoumerais impedem o deslocamento
anterior da cabeça do úmero e ficam retesados quando o ombro realiza
uma rotação lateral. Além disso, são nestas articulações que temos as
conhecidas bolsas, que são sacos repletos de líquido localizados em
pontos estratégicos em torno das articulações sinoviais, que tem como
função reduzir a fricção na articulação.

Para que o movimento do ombro aconteça, alguns músculos exercem


função fundamental, como o deltoide, que contribui para elevação do
braço em abdução ou flexão, o manguito rotador, que auxilia o músculo
deltoide durante a elevação, estabilizando a cabeça do úmero. Tendo
em vista a necessidade de agrupar os músculos de acordo com sua
localização e função, como sugerido por Thompson e Floyd (2002), os
músculos que são originados na escápula e clavícula são considerados
músculos glenoumerais intrínsecos. Os músculos intrínsecos permeiam
o deltoide, o coracobraquial, o redondo maior e o grupo do manguito
rotador (subescapular, supraespinhoso, infraespinhoso e redondo
menor); já o grande dorsal e o peitoral maior podem ser classificados
como músculos glenoumerais extrínsecos. Por fim, o bíceps do braço
auxilia na flexão e adução horizontal, enquanto o tríceps ajuda na
extensão e abdução horizontal.

1.1.2 Cotovelo e articulação radioulnar:

Podemos considerar que o antebraço tem como função auxiliar o


ombro na aplicação de força e no controle do posicionamento da mão
no espaço (HAMILL; KNUTZEN; DERRICK, 2016). O cotovelo possui três
articulações que auxiliam nos movimentos de três ossos do braço e
antebraço, são eles o úmero, o rádio e a ulna. Articulação umeroulnar
está localizada entre a ulna e o úmero e é responsável pela flexão e
extensão do antebraço, juntamente com a articulação umerorradial, que
possui uma estrutura que funciona como contraforte para a compressão

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lateral e outras forças absorvidas durante o arremesso e demais
movimentos rápidos realizados pelo antebraço. Por fim, a articulação
radioulnar, tem a função de estabelecer movimento entre o rádio e a
ulna em pronação e supinação.

Podemos identificar vinte e quatro músculos conhecidos que cruzam a


articulação do cotovelo, que são divididos em quatro grupos: flexores
anteriores; extensores posteriores; extensores laterais-supinadores; e
flexores mediais-pronadores.

1.1.3 Articulação do punho:

Nossas mãos são utilizadas para tarefas manipulativas e apresenta


diversos segmentos com ações musculares e articulações complexas.
Na articulação radiocarpal, especificamente, é onde ocorre o movimento
da mão como um todo. Ela permite movimentos em dois planos, flexão-
extensão e flexão radioulnar.

A articulação que auxilia a ulna no deslizamento sobre um disco


fibrocartilaginoso, em movimentos de pronação ou supinação, é
denominada articulação radioulnar distal. Já as articulações deslizantes,
onde os movimentos de translação são gerados simultaneamente com
os movimentos do punho, são chamadas de articulações mediocarpais e
intercarpais.

As articulações carpometacarpais, conectam os carpais com cada um


dos cinco dedos e contribuem para a maioria dos movimentos do
polegar e alguns movimentos dos demais dedos. Já as articulações
metacarpofalângicas interferem, predominantemente, nos movimentos
dos dedos indicador, médio, anelar e mínimo, permitindo movimentos
em dois planos: flexão-extensão e abdução-adução.

Por fim, as articulações interfalângicas da mão, que são as articulações


mais distais na interligação do membro superior, permitem movimentos
em apenas um plano (flexão e extensão). A força de flexão nessas
articulações determina a força de preensão.

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Os músculos encontrados na mão possuem sua origem fora dela e
chegam até o segmento por meio de seus longos tendões. Todos os
músculos presentes nas mãos agem em pares, ou seja, o agonista em
relação ao seu antagonista, e são músculos que promovem força e
destreza aos dedos, sem acarretar em aumento do volume muscular
na mão. Os músculos que promovem os movimentos do punho são os
flexores do punho (flexor ulnar do carpo, flexor radial do carpo e palmar
longo) e os extensores do punho (extensor ulnar do carpo, extensor
radial longo do carpo e extensor radial curto do carpo).

Figura 2 – Articulações de punho e mão

Fonte: Hamill, Knutzen e Derrick (2016, p. 162).

1.2 Biomecânica dos membros inferiores

Podemos dizer que os membros inferiores possuem uma conexão


entre si e o tronco, por meio da cinta pélvica, que desempenha uma
importante função de sustentar o peso do corpo e oferecer mobilidade

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ao aumentar a amplitude de movimento nos membros inferiores, de
acordo com Hamill, Knutzen e Derrick (2016). A cinta pélvica é formada
pelos ossos do quadril e sacro. A região pélvica possui características
distintas entre gêneros. Nas mulheres, a pelve se expande mais
lateralmente em sua parte frontal, além de ser mais leve, delgada e
ampla quando comparada à pelve do homem, além disso, as mulheres
apresentam um sacro mais amplo na parte de trás.

A pelve encontra-se ligada ao tronco graças a articulação sacroilíaca, que


transmite o peso do corpo para o quadril e está submetida a cargas da
região lombar ou do solo. É possível observar nessa articulação, assim
como na região pélvica, diferença entre homens e mulheres, uma vez
que, nas mulheres, a articulação apresenta maior mobilidade, causada
pela frouxidão nos ligamentos de apoio da articulação. Frouxidão
esta que pode sofrer aumentos durante os ciclos hormonais mensais
e durante a gravidez. É possível descrever os movimentos pélvicos
baseando-se na análise do ílio, segundo Hamill, Knutzen e Derrick (2016).

Na sustentação do peso em cadeia fechada, a pelve se moverá em torno


do fêmur, ocorrendo a inclinação anterior. Já a inclinação posterior é
criada pela extensão do tronco ou por retificação da região lombar
e extensão do quadril. Além disso, a pelve também pode realizar
inclinações laterais.

1.2.1 Articulação do quadril:

Apesar de apresentar uma variedade de movimentos, o quadril é


uma articulação estável, composto por ligamentos fortes e músculos
grandes, o que lhe confere grande capacidade de sustentação. O
quadril é formado pela junção articular entre o acetábulo da pelve e a
cabeça do fêmur.

Dentre as estruturas mais importantes do quadril, podemos destacar o


fêmur, que é o principal osso que atua na sustentação do peso. O fêmur
forma um ângulo orientado medialmente e para baixo em relação ao
quadril durante a fase de apoio da marcha e da corrida.

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A articulação do quadril apresenta três ligamentos: o ligamento
iliofemoral, que oferece sustentação para a articulação do quadril
anterior quando em posição ereta, devido a sua forte estrutura, sendo
capaz de gerar resistência à extensão, rotação lateral e adução; o
ligamento pubofemoral, que possui como principal função à resistência
à abdução e certa resistência à rotação lateral e extensão; por fim, o
ligamento isquiofemoral, que oferece resistência à extensão, adução e
rotação medial. Todos os ligamentos apresentam frouxidão durante o
movimento de flexão de quadril, fazendo com que esse movimento seja
o movimento de maior amplitude nessa articulação.

Para melhor entendimento dos movimentos realizados pelo quadril,


é necessário identificar os músculos que atuam sobre a articulação.
Nesse sentido, o movimento de flexão, que é caracterizado pelo
movimento anterior do fêmur em direção à pelve, pode sofrer a
influência de seis músculos, sendo eles o ilíaco, psoas maior, pectíneo,
reto femoral, sartório e tensor da fáscia lata. Já no movimento de
extensão, o quadril sofre ação dos músculos glúteo máximo e os
isquiotibiais (bíceps femoral, semitendíneo e semimembranaceo). Para
que o movimento de abdução aconteça, o glúteo médio e o glúteo
mínimo trabalham em conjunto, realizando o movimento lateral do
fêmur, afastando-se da linha média. Para que ocorra a adução, são
ativados os músculos: adutor longo, adutor curto, adutor magno e
grácil, que cruzam a articulação do quadril medialmente. Por fim,
os músculos que atuam no movimento de rotação medial e lateral
do fêmur são: piriforme, gêmeo superior, gêmeo inferior, obturador
interno, obturador externo e quadrado femoral. Entretanto, no
movimento de rotação medial, o glúteo mínimo, juntamente da fáscia
lata, do semitendíneo, do semimembranáceo e do glúteo médio, é o
principal rotador.

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Figura 3 – Movimentos da pelve

Fonte: Hamill, Knutzen e Derrick (2016, p.184).

1.2.2 Articulação do joelho:

Essa articulação é, basicamente, uma articulação de dobradiça, que


está muito suscetível à estresse, devido, principalmente, às funções
de sustentação do peso e locomoção que exerce. Os ligamentos que
estão presentes no joelho dão apoio passivo à articulação apenas
quando estão sofrendo algum tipo de tensão. Além disso, na estrutura
do joelho, podemos identificar três: tibiofemoral, patelofemoral e
tibiofibular proximal.

A articulação tibiofemoral encontra-se entre o fêmur e a tíbia, é a


principal articulação em dobradiça do joelho, onde os movimentos
de flexão e extensão ocorrem de forma semelhante aos referentes

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movimentos na articulação do cotovelo. Além disso, nessa articulação,
podemos encontrar os meniscos, que são discos cartilaginosos
localizados entre os côndilos tibiais e femorais e que possuem a função
de distribuir a carga no joelho sobre uma maior área e absorver os
choques. Outra articulação presente nos joelhos é a patelofemoral,
que é a articulação da patela com incisura troclear sobre o fêmur.
Lembrando que a patela é um osso sesamoide triangular, que possui
como principal função o aumento da vantagem mecânica do quadríceps
femoral. Por fim, a articulação tibiofibular, que se encontra entre a
cabeça da fíbula e as faces posterolateral e inferior do côndilo da tíbia,
possui como principais funções a dissipação das forças de torção
aplicadas pelos movimentos do pé e a atenuação do curvamento
tibial lateral.

Figura 4 – Estruturas presentes nos joelhos

Fonte: Hamill, Knutzen e Derrick (2016, p. 202-206).

Ao longo deste material, você pode observar a complexidade nas


estruturas segmentares de membros superiores e membros inferiores,
tanto nos aspectos morfológicos quanto nos aspectos biomecânicos.
Nesse sentido, é possível vislumbrar o quão detalhada e sistemática
a atuação do personal trainer deve ser, nos mais variados campos
de atuação, no intuito de respeitar as limitações e potencializar as
capacidades funcionais de cada estrutura de nosso sistema motor.

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TEORIA EM PRÁTICA
Imagine que em sua atuação como personal trainer, você é
procurado por um aluno que possui um problema muito
comum na população, que é um desgaste nos meniscos.
Além disso, relata sentir dor durante atividades simples
do dia a dia, como, por exemplo, subir uma escada. Sendo
assim, sabendo da função importante do menisco na
absorção e dissipação de impacto, reflita sobre como sua
atuação poderia ajudá-lo a melhorar este quadro, e sobre
as seguintes questões: quais tipos de exercícios deveriam
ser evitados, tendo em vista o comprometimento articular
apresentado pelo aluno? Quais exercícios poderiam compor
o programa de treinamento?

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. O ombro é constituído por diversas articulações que, por
sua vez, influenciarão diretamente nos movimentos dos
braços. As articulações conhecidas como articulações
dessa região são:
a. Ulmeroulnar, umerorradial, acrômioclavicular
e do ombro.

b. Escapulotorácica, esternoclavicular, acrômioclavicular.

c. Escapulotorácica, esternoclavicular, acrômioclavicular


e ulmeroulnar.

d. Ulmeroulnar, umerorradial, radioulnar e


carpometacarpais.

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e. Metacarpofalângicas, carpometacarpais,
escapulotorácica e esternoclavicular.

2. Tendo em vista a necessidade de agrupar os músculos


de acordo com sua localização e função, como
sugerido por Thompson e Floyd (2011), os músculos
que são originados na escápula e clavícula são
considerados músculos:
a. Glenoumerais extrínsecos.

b. Glenoumerais intrínsecos.

c. Deltoide.

d. Glenoumerais neutros.

e. Trapézio.

3. Apesar de apresentar uma variedade de movimentos,


o quadril é uma articulação estável, composto por
ligamentos fortes e músculos grandes, o que lhe confere
grande capacidade de sustentação. O quadril é formado
pela junção articular entre o acetábulo da pelve e a
cabeça do fêmur. Dentre as estruturas mais importantes
do quadril, podemos destacar:
a. O fêmur.

b. O acetábulo.

c. Ligamento iliofemoral.

d. Ligamento pubofemoral.

e. Sartório.

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Referências bibliográficas

HALL, Susan. Biomecânica básica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.
HAMILL, Joseph; KNUTZEN, Kthleen M.; DERRICK, Timothy R. Bases biomecânicas
do movimento humano. 4. ed. São Paulo. Editora Manole, 2016.
THOMPSON, Floyd. Manual de Cinesiologia estrutural. 16. edição, Editora Manole,
São Paulo, 2011.

Gabarito

Questão 1 - Resposta B

O ombro é constituído por diversas articulações que, por sua


vez, influenciarão diretamente nos movimentos dos braços. As
articulações conhecidas como articulações dessa região são:
escapulotorácica, esternoclavicular, acrômioclavicular e do ombro.

Feedback de reforço: Lembre-se dos componentes estruturais que


compõe esta articulação. Uma sugestão válida, para lembrar, é
pensar nos ossos que estão relacionados a esta articulação.

Questão 2 - Resposta B

Os músculos que são originados na escápula e clavícula


são considerados músculos glenoumerais intrínsecos. Os
músculos intrínsecos permeiam o deltoide, o coracobraquial, o
redondo maior e o grupo do manguito rotador (subescapular,
supraespinhoso, infraespinhoso e redondo menor). Já o grande
dorsal e o peitoral maior podem ser classificados como músculos
glenoumerais extrínsecos. Por fim, o bíceps do braço auxilia na
flexão e adução horizontal, enquanto o tríceps ajuda na extensão e
abdução horizontal.

Feedback de reforço: Pense na posição dos músculos, se são mais


externos ou mais internos, lembre-se de que os músculos mais
internos são intrínsecos e os mais externos são extrínsecos.

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Questão 3 - Resposta A
Dentre as estruturas mais importantes do quadril, podemos
destacar o fêmur, que é o principal osso que atua na
sustentação do peso.
Feedback de reforço: O quadril realiza um importante papel de
sustentação no nosso corpo. Nesse sentido, avalie qual estrutura
agregaria mais a esta função.

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Cinesiologia e biomecânica do
treinamento de força
Autor: Vinícius Barreto da Silva

Objetivos

• Explorar os conceitos de ativação das


unidades motoras.

• Contextualizar as adaptações neurais provenientes


do treinamento e força.

• Analisar a influência de adaptações estruturais nas


características biomecânicas do músculo.

• Explorar os conceitos de torque e alavancas.

22
22
1. Cinesiologia e Biomecânica da musculação

Segundo Tubino (1984), é possível observar ao longo da história da


humanidade a utilização do treinamento de força, que nos tempos
antigos era utilizado como forma de aprimoramento da força,
desde guerreiros à atletas das primeiras olimpíadas. Dessa forma,
o treinamento de força, em sua essência, quando começou a ser
implementado, visava única e exclusivamente a melhoria da capacidade
física força, não possuindo qualquer finalidade ou objetivo estético,
abordagem que é muito presente na atualidade.

Obviamente, com o passar do tempo, os modelos de treinamento


evoluíram, e seguem evoluindo continuamente, tanto em suas
metodologias quanto nos equipamentos utilizados. De acordo com
Barbanti (1997), como nos tempos antigos não existiam halteres e
anilhas, que são utilizados para gerar sobrecarga no treinamento
atualmente, os atletas utilizavam rochas e objetos pesados, como sacos
cheio de areia, e em alguns casos até mesmo animais como forma de
gerar sobrecarga.

Ao longo do processo de evolução dessa modalidade, a musculação


surgiu como um dos principais métodos que tem como finalidade o
desenvolvimento de força e hipertrofia muscular. Entretanto, mesmo
que o processo e as técnicas tenham evoluído, nos dias atuais, os
principais objetivos ligados à essa prática ainda estão relacionados aos
objetivos observados na antiguidade.

Nesse sentido, o desenvolvimento da força, continua sendo um dos


principais objetivos relacionados ao treinamento com pesos, seja
pela melhora do rendimento esportivo ou apenas fins profiláticos.
Contudo, além do aumento de força, a hipertrofia muscular, atualmente,
está entre os principais objetivos de indivíduos que procuram esta
modalidade, principalmente para fins estéticos.

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PARA SABER MAIS

Quando falamos em desenvolvimento de força, a


musculação é a principal modalidade citada. Entretanto,
as possibilidades em torno do desenvolvimento e
treinamento dessa capacidade física são muito mais
amplas e abrangentes, pois, existem distintas formas
dessa capacidade física ser expressa, de acordo com
a necessidade imposta ao organismo. Dessa forma, a
força se divide em três subcategorias: força pura, a força
de resistência e a força explosiva. Obviamente existe a
possibilidade de desenvolver a força em sua completude
por meio da prática da musculação, mas é importante que
você saiba que existem outros meios, tão eficientes quanto,
para o desenvolvimento das mesmas.
Existe uma vasta diversidade de atividades específicas que
nos dão a possibilidade de promover o desenvolvimento
da força e suas subcategorias. Entretanto, essas atividades
são classificadas em dois grupos distintos: um deles é a
musculação; o outro é o que chamamos de treinamento
funcional, que envolve diversas atividades trabalhadas
em conjunto e que englobam a realização de trabalhos
direcionados e específicos.

Podemos observar, na maioria dos materiais de Biomecânica, que


são direcionados ao treinamento de força especificamente, uma
abordagem focada na execução e caracterização dos exercícios,
bem como nos erros mais cometidos na realização dos mesmos e a
solicitação muscular em cada um deles. Todavia, neste material, será
adotada uma proposta diferente.

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Você poderá compreender, nas próximas páginas, alguns conceitos
importantes do campo da Cinesiologia e biomecânica, a fim de que
desenvolva sua capacidade em realizar análises profundas de diferentes
exercícios. Nesse sentido, você não verá análises de exercícios
específicos, mas obterá as ferramentas necessárias para que seja capaz
de realizar qualquer exercício de forma eficiente em sua atuação como
personal trainer.

ASSIMILE

A força pode se manifestar de diferentes formas, como


a força pura, a força de resistência e a força explosiva. A
musculação e o treinamento funcional são duas vertentes
que possibilitam o desenvolvimento da força.

Desse modo, para que seja capaz de realizar discussões e avaliações


acerca dos exercícios, é de suma importância que compreenda alguns
conceitos e saiba identificar como os mesmos são aplicados no
treinamento de força. Sendo assim, a partir daqui você se aprofundará
na compreensão da ativação das unidades motoras e nos efeitos de
adaptações neurais e estruturais que interferem nas características
biomecânicas do músculo.

1.1 Ativação das unidades motoras

Podemos definir o sistema neuromuscular como sendo o resultado


da união de dois sistemas específicos, o sistema nervoso e o sistema
muscular, que, trabalhando em sincronia, são capazes de produzir
tensão e, consequentemente, movimento. Dentro desse trabalho em
conjunto, o sistema nervoso é o responsável por emitir sinais elétricos
que exercem comando sobre todos os músculos do nosso corpo.

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Sendo assim, esse sistema organiza a ativação dos músculos que serão
recrutados para que a força seja produzida. Por outro lado, podemos
considerar o sistema muscular como um sistema efetor, ou seja, após
receber o sinal do sistema nervoso, é ele quem produz tensão de forma
ativa, de acordo com Enoka (2001).

Dadas suas diferentes funções, cada um dos sistemas descritos acima


possui células específicas distintas, que são responsáveis por exercer
a função que cabe aos mesmos. No sistema nervoso encontramos
células especializadas chamadas de neurônio motor, enquanto no
sistema muscular, temos a fibra muscular como responsável por
exercer as funções. Por fim, de acordo com Beltramini (1999), podemos
considerar que o ponto de interação entre esses dois sistemas é
chamado de unidade motora, um ponto onde um neurônio motor
interage com as diversas fibras musculares que são inervadas por ele,
como demonstra a figura 1.

Figura 1 – Unidade motora

Fonte: Beltramini (1999).

26
26
Obrigatoriamente, uma unidade motora sempre terá em sua composição
apenas neurônio motor, porém, diversas fibras musculares que são
inervadas por ele. Dessa forma, segundo Beltramini (1999), as fibras
musculares sempre são ligadas a somente um motoneurônio, enquanto o
neurônio é capaz de realizar conexões com várias fibras musculares.

A atividade da unidade motora resulta na contração muscular, que está


diretamente relacionada à capacidade de produção de força de nosso
organismo. Entretanto, para que seja possível a realização da contração
muscular, o sistema nervoso precisa conduzir um estímulo nervoso até
a fibra muscular, ocasionando a liberação de neurotransmissores que
acarretaram a despolarização da célula muscular e desencadear todo
o processo químico que envolve o mecanismo de contração muscular,
segundo Hall (2016).

Você deve saber que quando um estimulo elétrico é conduzido pelo


neurônio motor até o músculo, atinge todas as fibras musculares
conectadas a este neurônio de forma igual e exatamente com a mesma
intensidade. Nesse sentido, toda a unidade motora é estimulada a
produzir tensão, respeitando o que chamamos de Princípio do tudo
ou nada, ou a unidade motora é ativada completamente ou não é
ativada. Sendo assim, lembre-se de que não existe, de forma alguma,
a possibilidade de se produzir tensão utilizando apenas uma parte das
fibras musculares de uma unidade motora, de acordo com Nordin e
Frankel (2014).

Agora você sabe que durante a produção de força, todas as fibras


musculares das unidades motoras recrutadas são acionadas, porém
deve estar se perguntando: como o sistema nervoso escolhe quais
unidades motoras serão recrutadas? Em relação a este aspecto, podemos
determinar que o recrutamento das unidades motoras segue o Princípio
do tamanho, o que significa, basicamente, que as unidades motoras
menores serão recrutadas antes das unidades motoras maiores, de
acordo com a proporção da força exigida, segundo Hall (2016).

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Além disso, outro ponto que você deve saber, a partir do conceito de
recrutamento de unidades motoras, é a forma em que o sistema nervoso
recruta os músculos para a realização de uma tarefa. Para poder realizar
esta análise, é necessário um conceito básico, que é proveniente do
controle motor, o conceito de sinergia. Qualquer movimento articular,
independente do plano anatômico em que se encontre, sempre
ocasionará a ativação de mais de um músculo, porém, é importante que
compreenda de que forma esses músculos contribuirão para realizar o
movimento e como o sistema nervoso irá coordená-los.

Dessa forma, você pode observar que a produção de força realizada


pelo nosso músculo, durante o treinamento de força, é um processo
complexo que envolve diferentes sistemas que trabalham em conjunto
para o bom desempenho das atividades que nos propomos a realizar.
Qual unidade motora estimularemos e com qual intensidade, são
questões presentes na atuação do personal trainer e que devem ter
suas respostas claras para o profissional, a fim de que aconteça o
desenvolvimento de uma boa periodização do treinamento.

1.2 Fatores neurais e suas adaptações ao treinamento de força

A adaptação neural guarda relação direta com todas as melhorias ou


modificações na capacidade, ou na forma, de estimulação do sistema
nervoso sobre o sistema muscular, quando uma exigência de força é
imposta. Como visto no início do material, o sistema nervoso ativa o
sistema muscular quando a produção de força pelo mesmo é necessária.
Além disso, deve ficar claro que este mecanismo de ativação é treinável,
dessa forma, um indivíduo que não possui experiência em treinamento
e, consequentemente, não possui uma boa capacidade neuromotora,
pode colher bons resultados relacionados a melhoria da força apenas
aprimorando a atividade de suas vias neurais, por meio do treinamento
de força. Nesse sentido, quando falamos de adaptação neural, estamos
nos referindo exatamente a isso, uma melhora no comando, no uso do
sistema muscular, que permite um aumento na produção de força.

28
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Essas adaptações podem ocorrer de várias formas e por meio de vários
mecanismos, sendo eles: os mecanismos intramusculares, que estão
relacionados ao aumento de frequência de disparo de sinais elétricos
para o músculo e a sincronização das unidades motoras recrutadas; e os
mecanismos intermusculares, que envolvem aprimoramento da sinergia
entre os músculos agonistas, diminuição da ativação dos mecanismos
inibitórios de proteção e redução do déficit bilateral e mecanismo de
pré-ativação antagonista, de acordo com Enoka (2001).

1.3 Adaptações estruturais e biomecânica muscular

A capacidade de produzir força que um músculo possui, sofre influência


direta da disposição de suas fibras no ventre muscular, pois essa
disposição determinará a capacidade de encurtamento do mesmo.
De modo geral, podemos dizer que as fibras musculares podem estar
organizadas de duas formas diferentes, dando origem aos músculos
fusiformes e peniformes. No primeiro arranjo, as fibras convergem em
direção aos tendões de origem e inserção e são dispostas paralelamente
à linha de tração do músculo, fazendo com que a força da fibra siga na
mesma direção da musculatura. Já nos músculos peniformes, as fibras
correm diagonalmente até um tendão, ou aponeurose, que atravessa
a musculatura, segundo Hamill, Knutzen, Derrick (2016). Nos músculos
peniformes, as fibras são inseridas em sentido diagonal em relação ao
tendão, formando um ângulo e gerando feixes que se assemelham a
uma pena, segundo D’angelo e Fattini (2011).

Em relação às capacidades contráteis, a disposição paralela das


fibras dos músculos fusiformes possibilita que tenham maior
eficiência em fazer com que todo o músculo encurte, porém, é um
arranjo relativamente fraco. Já os músculos penados, possibilitam
maior magnitude de tensão, porém, em uma amplitude limitada de
movimento, de acordo com Hamill, Knutzen, Derrick (2016).

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Além disso, a disposição oblíqua das fibras dos músculos penados
impede que os mesmos promovam tensão na direção do movimento,
pois a força produzida pelas fibras será produzida na direção em que as
mesmas estão dispostas, divergindo da direção na qual o movimento
acontecerá. Dessa forma, a força produzida pela fibra não atingirá
completamente o tendão, segundo Challis (2004). A relação entre a força
produzida pela fibra e a magnitude da força aplicada sobre o tendão
depende do ângulo formado entre os conjuntos de fibras musculares e
a aponeurose interna, que está disposta na mesma direção da linha de
tração do músculo (ângulo de penação), de acordo com Challis (2004).

Figura 2 – Ângulo de penação da fibra muscular

Fonte: adaptada de Challis (2004).

Nessa linha, é possível entender que o ângulo de penação guarda relação


inversamente proporcional com a contribuição que cada fibra muscular
terá na realização de tensão sobre o tendão e, consequentemente, na
produção de movimento. É importante saber também que o aumento
da força depende de dois tipos de adaptações específicas, as adaptações
neurais e as hipertróficas. A hipertrofia se expressa por meio do aumento
miofibrilar, tanto no tamanho quanto no seu número, o que
acarreta, consequentemente, aumento do diâmetro do músculo.

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30
Esse aumento miofibrilar, ou seja, aumento de proteínas contráteis no
músculo, é um fator extremamente positivo para o ganho de força.
Entretanto, o aumento da espessura da fibra muscular faz com que
inevitavelmente o ângulo de penação do músculo aumente, o que pode
afetar a eficiência da fibra muscular em produzir força, segundo Challis (2004).

1.4 Torque e alavancas aplicadas ao treinamento de força.

Você já pode compreender como o sistema neuromuscular trabalha


para que a produção de força seja realizada e como a arquitetura
muscular pode influenciar na capacidade de produzir força. Entretanto,
é impossível que compreender na íntegra o processo de produção
de força no músculo, se não estiver clara a forma como o músculo
esquelético consegue produzir os movimentos em associação com
estruturas móveis do nosso corpo, por meio do torque gerado nas
articulações. Sendo assim, neste tópico, será possível aprofundar seus
conhecimentos sobre a produção de torque e os conceitos de alavanca
que envolvem o treinamento de força.

Considere que tanto as forças internas quanto as forças externas


produzem torques por meio de um sistema de alavancas, que são,
basicamente, compostas por uma barra rígida suspensa por um ponto
de pivô. Nessa mecânica, as alavancas existentes no corpo humano são
compostas pelos ossos (barras rígidas) e as articulações (pivô). Para
melhor compreensão, lembre-se de que a menor distância entre a linha
de aplicação da força muscular até a articulação recebe a denominação
de braço de alavanca (ou braço de momento).

Já o torque, produzido pelo músculo, que pode ser definido como uma
força que produz um movimento de rotação na articulação, é o produto
da força muscular e o comprimento do braço de alavanca. Considerando
que todo e qualquer movimento articular é um movimento de rotação,
podemos dizer que os músculos produzem força (tensão) que geram
torques nas articulações, segundo Hamill (2016).

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De forma resumida, podemos dizer que para que o torque aconteça é
necessária a existência de uma alavanca. Além disso, a força aplicada
na alavanca movimenta uma resistência que, normalmente, é a força
de resistência imposta pelo objeto ou segmento corporal que se queira
movimentar. Dessa forma, é possível observar que uma alavanca é
constituída pelo eixo, pela força resistente e pela força potente, e que as
distâncias entre o eixo e os pontos de aplicação das forças (resistente e
potente) denominam-se, respectivamente, braço de resistência e braço
de potência, de acordo com Nordin (2014).

Assim, durante a realização de exercício, o músculo produzirá um


torque muscular (força potente) que pode variar, pois depende da
capacidade de produção de força do músculo e do comprimento do
braço de alavanca, que pode variar ao longo da execução do movimento,
aumentando ou diminuindo. Por outro lado, o peso dos objetos e
segmentos do corpo produzem o torque do peso (força resistente) que,
por sua vez, depende da magnitude da força resistente e comprimento
do braço de alavanca, segundo Hamill (2016).

Durante a realização de diferentes exercícios, o tamanho do braço de


alavanca pode variar de acordo com a fase e amplitude do movimento.
Dessa forma, é possível dizer que as possíveis variações na força de
resistência influenciaram diretamente a força potente, tendo em vista
que a relação entre ambas é dependente do tamanho da força que é
produzida e do comprimento dos braços de alavanca, segundo Hall (2016).

Você pode observar, ao longo deste material, que é possível realizar o


desenvolvimento da força por meio de diferentes metodologias, como
no caso da musculação e do treinamento funcional, por exemplo.
Além disso, explorou os aspectos relacionados aos mecanismos de
adaptações neurais e estruturais que se relacionam com o aumento da
força, ocasionado pelo programa de treinamento. Nesse sentido, deve
levar em consideração que, por meio da modalidade de treinamento
escolhida, estimulará o organismo a se adaptar no intuito de melhorar
sua eficiência na produção de força.

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32
Por fim, é importante que fique claro que para que a estimulação
ocorra de forma adequada, o que acarreta a adaptação esperada, os
princípios de alavanca e torque devem estar claros para o personal
trainer responsável pela prescrição do treinamento, pois influenciará
diretamente na dinâmica do treinamento.

TEORIA EM PRÁTICA
Um personal trainer prescreve, para seu aluno, o exercício
rosca direta, que nada mais é do que uma flexão de cotovelo,
onde sabemos que ocorre a ação principal de três músculos:
o bíceps braquial, o braquial e o braquiorradial. Ele sabe que
esses músculos são acionados para realizar o movimento
de flexão de cotovelo, porém, para que o restante do
treinamento possa ser adequado e não sobrecarregue de
forma inadequada cada grupamento muscular, é necessário
identificar como se dá a solicitação de cada um deles e como
os mesmos contribuem para a realização desse movimento.
Nesse sentido, como o personal trainer poderia identificar
como cada um dos músculos contribuirá para a realização de
uma flexão de cotovelo na sala de musculação? Além disso,
pensando na capacidade do músculo bíceps braquial em
produzir torque, como poderia identificar o eixo de rotação
do exercício? Qual força estaria produzindo o torque? Qual o
ponto de aplicação da força? Qual a linha de ação da força?
Qual o braço de alavanca?

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. O sistema neuromuscular pode ser considerado como o
resultado da junção de dois sistemas que, em sincronia,
são capazes de produzir tensão e movimento.

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Assinale a alternativa correta que apresenta os dois
sistemas que compõe o sistema neuromuscular:
a. Sistema muscular e sistema ósseo.

b. Sistema muscular e sistema sanguíneo.

c. Sistema sanguíneo e sistema ósseo.

d. Sistema nervoso e sistema muscular.

e. Sistema nervoso e sistema ósseo.

2. Assinale a alternativa correta que apresenta os dois tipos


de arranjos possíveis de fibras musculares:
a. Peniforme e tetrapenado.

b. Peniforme e fusiforme.

c. Bipenado e peniforme.

d. Obliquo e fusiforme.

e. Obliquo e peniforme.

3. Em relação a torque e braço de alavanca, assinale a


alternativa correta:
a. O torque produz apenas movimento de flexão.

b. O braço de alavanca é uma tensão sobre o osso.

c. O torque é uma força que produz um movimento


de rotação.

d. O torque é a distância entre a linha de aplicação da


força e o eixo de rotação.

e. O braço de alavanca é formado, basicamente, pelos


músculos e ossos.

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34
Referências bibliográficas
BARBANTI, Valdir J. Teoria e prática do treinamento esportivo. 2.ed., São Paulo:
Edgard Blücher, 1997.
BELTRAMINI, Leila Maria. Elementos de Histologia e Anatomo-fisiologia
humana. 1999.
CHALLIS, John Henry. Arquitetura músculo-tendão e desempenho do atleta. In:
ZATSIORSKY, V. M. Biomecânica no esporte: performance do desempenho e
prevenção de lesão. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. p. 26-43.
D’ANGELO, Fattini. Anatomia humana básica. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2011.
ENOKA, Roger M. Bases neuromecânicas da Cinesiologia. 2 ed. Barueri:
Manole, 2001.
HALL, Susan J. Biomecânica básica. 7. Ed., Rio de Janeiro, Editora Guanabara
Koogan, 2016.
HAMILL, Joseph; KNUTZEN, Kathleen M.; DERRICK, Timothy R. Bases biomecânicas
do movimento humano. 4. ed. São Paulo. Editora Manole, 2016.
NORDIN, Frankel. Biomecânica básica do sistema musculoesquelético. 4ª Ed.,
Rio de Janeiro. Editora Guanabara Koogan, 2014.
TUBINO, Gomes. Metodologia científica do treinamento desportivo. 3.ed.,
São Paulo: Ibrasa, 1984.

Gabarito

Questão 1 – Resposta D
No sistema neuromuscular, o sistema nervoso é o responsável
por enviar o sinal elétrico até as fibras musculares do sistema
muscular, ocasionando o processo químico que acarretará na
contração muscular.
Feedback de reforço: Lembre-se de que o sistema neuromuscular
envolve o envio de sinais elétricos por meio de células
especializadas para que as mesmas executem as ações necessárias.

Questão 2 - Resposta B
De modo geral, podemos dizer que as fibras musculares podem
estar organizadas de duas formas diferentes, dando origem aos
músculos fusiformes e peniformes.

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Feedback de reforço: Lembre-se da disposição das fibras, algumas
estão dispostas obliquamente ao tendão deste músculo e outras
longitudinalmente dispostas ao tendão do músculo.

Questão 3 - Resposta C
A menor distância entre a linha de aplicação da força muscular
até a articulação recebe a denominação de braço de alavanca (ou
braço de momento). Já o torque, produzido pelo músculo, pode ser
definido como uma força que produz um movimento de rotação na
articulação.
Feedback de reforço: Lembre-se de que para que o torque aconteça
é necessária a existência de uma alavanca, que é constituída por
uma barra rígida, que no corpo humano é representada pelos ossos
e pode ser movimentada ao redor de um eixo fixo, representado
pelas articulações.

36
36
Cinesiologia e biomecânica do
treinamento funcional
Autor: Vinícius Barreto da Silva

Objetivos

• Contextualizar o treinamento funcional.

• Analisar os planos e eixos de movimentos no


Treinamento Funcional (TF).

• Analisar a relação entre treinamento funcional e


treinamento do CORE.

 37
1. Cinesiologia e Biomecânica do
Treinamento Funcional

Podemos observar na sociedade uma busca incessante por estética e


saúde, o que faz com que muitas pessoas procurem profissionais da
área, como, por exemplo, professores de academias ou personal trainers,
no intuito de satisfazer essa necessidade física, psicológica e social.

Além disso, nos dias de hoje, as pessoas são bombardeadas com


excesso de informações, possibilitando, a quem tem interesse em iniciar
um programa de exercício físico, fácil acesso às diversas modalidades de
exercício/ treinamento existentes, bem como os treinamentos utilizados
por atletas do mundo todo, o que faz com que esse público fique cada
vez mais exigente. Nesse sentido, os indivíduos que procuram a prática
de exercício físico não esperam apenas benefícios relacionados a saúde,
mas buscam também a melhoria do desempenho físico nas atividades
que desenvolvem, sejam de lazer ou esportivas.

Dessa forma, dentro do leque de modalidades de treinamentos


existentes no Brasil, uma modalidade que vem ganhando grande
visibilidade é a do Treinamento Funcional (TF). Na exposição midiática,
a modalidade vem sendo apresentada como um método inovador,
que abrange uma nova forma de condicionamento físico, por meio da
priorização da capacidade funcional do indivíduo, tanto no desempenho
das atividades diárias quanto nas atividades esportivas.

O TF traz uma abordagem dinâmica e complexa, que motiva e desafia


seus praticantes. Dessa forma, o programa de treinamento é constituído
de exercícios relacionados a movimentos do cotidiano ou movimentos
esportivos específicos, tendo como objetivo treinar o indivíduo a partir
da funcionalidade dos movimentos. Podemos caracterizar, de modo
geral, o treinamento funcional como um exercício contínuo que envolve
o equilíbrio e a propriocepção, por meio da estabilização dos músculos e
das articulações, de acordo com Monteiro e Evangelista (2010).

38
38
Podemos considerar que todos os movimentos realizados com eficiência
possuem o equilíbrio como ponto em comum, ou seja, a capacidade do
indivíduo de manter seu centro de gravidade sobre sua base de apoio,
inibindo as forças externas que poderiam de alguma forma prejudicar seu
desempenho em determinado movimento. Nesse sentido, o treinamento
funcional pode proporcionar a melhoria do desempenho na realização
das mais variadas atividades, diárias ou esportivas, por meio da melhoria
dessa capacidade física, segundo Monteiro e Evangelista (2010).

Os exercícios que compõem o TF podem ser criados e manipulados,


promovendo variações nas informações sensoriais necessárias para
o controle postural e do movimento, segundo Monteiro e Evangelista
(2010). Dessa forma, nas próximas páginas deste material, você verá
conceitos importantes relacionados a biomecânica e suas aplicações no
TF, como conceitos relacionados aos planos e eixos dos movimentos e
ao centro de gravidade.

PARA SABER MAIS


Podemos dizer que o TF é um método de treinamento recente
no Brasil e que sua abordagem objetiva treinar o corpo para
um melhor desempenho nos movimentos necessários das
atividades cotidianas e esportivas. Além disso, apresenta
uma proposta de preparação neuromuscular, onde o corpo
do indivíduo é visto como único, sempre respeitando sua
individualidade biológica, o que possibilita que seja capaz de
melhorar todas as qualidades do sistema musculoesquelético
e seus sistemas interdependentes. Dessa forma, o TF visa
estimular todas as capacidades físicas durante as sessões de
treino, onde as qualidades físicas, como força, velocidade,
equilíbrio, coordenação, flexibilidade e resistência são
integradas de forma a proporcionar ganhos significativos de
performance para o indivíduo em sua atividade específica, de
acordo com D’elia (2013).

 39
1.1 Planos e eixos de movimentos no Treinamento Funcional (TF)

Como você pode ver anteriormente, o treinamento funcional visa


a melhoria do equilíbrio muscular e da estabilidade articular, por
meio da realização de exercícios específicos. Isso significa que os
benefícios advindos dessa modalidade só são possíveis por meio de
um programa de treinamento que tenha como foco a capacidade
natural do corpo de se movimentar nos três planos anatômicos. Em
outras palavras, os exercícios funcionais têm como função imitar
situações reais do dia a dia do sujeito, resultando em movimentos
que ocorrem em vários planos e não em apenas um, como no caso
dos exercícios de modalidades como a musculação. Nesse sentido, de
acordo com Derrick, Hamill e Knutzen (2012), o TF pode ser criado e
modificado, conforme os planos de movimento: por meio da utilização
de exercícios em planos, geralmente, não utilizados, como movimentos
de rotação que ocorrem no plano transversal; por meio da realização
de diferentes movimentos, que ocorrem simultaneamente, porém, em
planos diferentes; ou ainda por meio de exercícios realizados em duas
fases distintas, onde cada fase ocorre em um plano.

Para que fique mais clara essa informação, é importante compreender


como descrever o movimento humano, tendo em vista que o método
universalmente utilizado para essa descrição é o sistema de planos e
eixos, que fornece informações precisas ao traçar linhas imaginárias
que dividem o corpo. Segundo Derrick, Hamill e Knutzen (2012), são
conhecidos três planos imaginários que dividem a massa do corpo em
três dimensões: sagital, transversal e longitudinal.

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40
Figura 1 – Planos e eixos do corpo humano

Fonte: Derrick, Hamill e Knutzen (2012, p. 19).

O plano sagital, também conhecido como plano anteroposterior, divide


o corpo simetricamente em lados direito e esquerdo. Os movimentos
que ocorrem nesse plano são realizados no eixo mediolateral, que se
encontra disposto de forma perpendicular ao plano, são os movimentos
de flexão, extensão e hiperextensão. Já o plano frontal ou plano coronal,
como também é conhecido, secciona o corpo em direção vertical,
dividindo-o em parte da frente (anterior) e parte de trás (posterior).
Os movimentos presentes nesse plano ocorrem no eixo anteroposterior
ou eixo sagital, que se encontra disposto perpendicular ao plano, são
os movimentos de abdução e a adução. Por fim, o plano transversal, ou
plano horizontal, divide o corpo nas partes superior e inferior.
O os movimentos realizados nesse plano ocorrem no eixo longitudinal,

 41
ou eixo vertical, que é eixo perpendicular a este plano. Nesse plano,
observamos movimentos articulares de rotação interna, rotação externa,
pronação e supinação, de acordo com Derrick, Hamill e Knutzen (2012).

Figura 2 – Movimento de abdução, adução e hiperadução (plano frontal)

Fonte: Derrick, Hamill e Knutzen (2012, p. 14).

Figura 3 – Movimento de hiperextensão, flexão e extensão (plano sagital)

Fonte: Derrick, Hamill e Knutzen (2012, p. 13).

42
42
Figura 4 – Movimento de rotação direita e rotação esquerda
(plano transverso)

Fonte: Derrick, Hamill e Knutzen (2012, p. 14).

Quando pensamos na elaboração de um exercício funcional, que tem


como objetivo melhorar uma capacidade funcional especifica, é de
suma importância que o exercício seja realizado nos mesmos planos em
que são realizados no dia a dia. Já quando pensamos no treinamento
funcional, com objetivo de melhoria do desempenho esportivo, variar
os planos de movimento ao longo do programa de treinamento pode
ser fundamental para aumentar a demanda de controle, o equilíbrio e a
coordenação motora, segundo Monteiro e Evangelista (2010).

ASSIMILE
Plano sagital: divide o corpo em lados direito e esquerdo.
Eixo mediolateral. Movimentos articulares característicos
são a flexão, extensão e hiperextensão, de acordo com
Derrick, Hamill e Knutzen (2012).

 43
Plano frontal: divide o corpo verticalmente em parte
da frente (anterior) e parte de trás (posterior). Eixo
anteroposterior. Os movimentos articulares característicos
são a abdução e a adução, segundo Derrick, Hamill e
Knutzen (2012).

Plano transversal: divide o corpo em partes superior


e inferior. Eixo longitudinal. Os movimentos articulares
característicos são a rotação interna, rotação externa,
pronação e supinação, segundo Derrick, Hamill e
Knutzen (2012).

1.2 Centro de massa e de gravidade

Podemos compreender o centro de gravidade como o ponto em torno


do qual um peso está distribuído em todas as direções em determinado
corpo ou objeto. Isso significa dizer que é o ponto onde está
concentrado todo o peso do corpo, proporcionando equi-líbrio de todas
as partes, além de ser o ponto de interseção dos três planos: sagital,
frontal e transverso. A localização desse ponto depende da estrutura
anatômica do indivíduo, porém, de um modo geral, podemos afirmar
que nas mulheres o centro de gravidade é mais baixo do que nos
homens, po¬demos encontrá-lo mais ou menos a quatro centímetros
da frente da primeira vértebra sacra, de acordo com Monteiro e
Evangelista (2010).

44
44
Figura 5 – Centro de Gravidade (CG) do corpo humano

Fonte: <http://underpop.online.fr/b/biomecanica-da-musculacao/centro-de-gravidade-no-
corpo-humano.htm>. Acesso em: 11 set. 2019.

Quando nos referimos ao corpo humano, o centro de massa coincide


com o centro de gravidade, enquanto estamos na superfície da terra,
uma vez que a aceleração da gravidade possui o mesmo valor ao longo
de toda a extensão do corpo. Nesse sentido, podemos manipular esta
variável por meio de exercícios que podem compor o Treinamento
Funcional, tornando a atividade mais complexa e desafiadora. Por
exemplo, quando realizamos movimentos de forma unilateral, dificulta
a estabilização do nosso corpo, pois acarretamos um deslocamento do
corpo em relação ao peso, de forma que são necessários mais ajustes
do que durante a realização de exercícios bilaterais. Além disso, é
importante saber que o centro de gravidade se torna dinâmico no corpo
humano durante a realização de movimentos que envolvem a mudança
contínua na reorientação dos segmentos do corpo, como caminhar,
correr e saltar, de acordo com Monteiro e Evangelista (2010).

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Nesse sentido, considerando a importância do desenvolvimento do
equilíbrio para melhoria do desempenho, tanto das atividades cotidianas
quanto esportivas, a utilização de exercícios realizados com pesos livres,
cabos, elásticos, superfícies instáveis, ou reduzida base de suporte, que
exigirão de maneira significativa o trabalho dos proprioceptores para
a execução das atividades, pode ser extremamente interessante para
trazer melhor benefício para a capacidade funcional do corpo, segundo
D’élia (2013).

Dessa forma, nas próximas páginas, você compreenderá melhor a


constituição de uma importante estrutura do nosso corpo, o CORE, que
possui papel fundamental no processo de estabilização dos movimentos
e, consequentemente, melhoria do equilíbrio muscular e estabilização
das articulações da coluna vertebral, exercendo, assim, influência direta
no desempenho de atividades do dia a dia e relacionadas ao esporte.

1.3 Treinamento Funcional e o trabalho do CORE

Na atualidade, pelo fato de muitos indivíduos adotarem posturas


inadequadas ao longo do seu dia, seja por motivo de estudo, de trabalho
ou simplesmente por descuido ao sentar-se no sofá para assistir a um
programa na televisão, grande parcela da população sofre de algum quadro
de dor na coluna. Este quadro de dor está diretamente relacionado ao
destreinamento dos músculos estabilizadores da coluna, dentre eles os
músculos que compõem o CORE. Dessa forma, programas voltados para a
qualidade de vida e/ ou desempenho tem direcionado suas atividades ao
trabalho dessa estrutura, segundo Evangelista e Macedo (2011).

De modo geral, o CORE é constituído pelos músculos abdominais,


paravertebrais, glúteos, diafragma, pelo assoalho pélvico e pela
cintura pélvica, formando uma caixa, que chamamos de complexo
lombopélvico. Além disso, é exatamente nessa região que encontramos
o centro de gravidade e onde todos os movimentos tem início, de acordo
com D’élia (2013).

46
46
O corpo humano possui uma gama de vinte e nove músculos que
se inserem na região do CORE. Dessa forma, os programas de
fortalecimento dessa estrutura têm por objetivo treinar os grupos
musculares que se relacionam ao mesmo, para algumas finalidades
específicas, como, por exemplo, diminuição da compressão intradiscal e
das forças compressivas na coluna, bem como aumentar a estabilidade
da própria coluna lombar, diminuindo os quadros de dor descritos
previamente, de acordo com Monteiro e Evangelista (2010).

O treinamento dessa estrutura é essencial para a melhoria funcional


do indivíduo, uma vez que um CORE bem treinado possibilita uma
ótima relação de comprimento-tensão entre os músculos agonistas
e antagonistas, permitindo a manutenção da relação ótima de forças
acopladas no complexo lombo pélvico. Isso desencadeia uma boa
cinemática articular no complexo lombo pélvico durante movimentos
funcionais e melhora a eficiência neuromuscular em toda a cadeia
cinética, permitindo, assim, aceleração, desaceleração e estabilização de
toda a cadeia muscular durante movimentos integrados e dinâmicos,
característicos do treinamento funcional, segundo Evangelista e
Macedo (2011).

Pensando no desenvolvimento dos trabalhos relacionados ao


treinamento funcional, que tem como objetivo melhorar as capacidades
funcionais específicas e gerais dos sujeitos, o trabalho do CORE não
pode ser negligenciado. Uma vez que opera como uma unidade
funcional integrada, pois toda a cadeia cinética trabalha sinergicamente,
por meio dela, para produzir força e inibir forças anormais que possam
prejudicar o equilíbrio. Isso se dá pelo fato de que, em condições
ótimas, cada componente estrutural do CORE distribui peso, absorve
forças e transfere forças de reação do solo. Dessa forma, este sistema
integrado e interdependente deve ser treinado de maneira adequada
para permitir o funcionamento eficiente durante as atividades
funcionais, segundo Evangelista e Macedo (2011).

 47
Os músculos que compõe o CORE podem se dividir em dois grupos: os
músculos pertencentes à unidade interna e os pertencentes à unidade
externa. Os músculos que compõem a unidade interna são o transverso
do abdômen, o oblíquo interno, o multifido e os transversos espinhais
lombares reto. Já a unidade externa é composta por reto abdominal,
oblíquo externo, eretores da coluna, quadrado lombar, complexo
adutor, quadríceps, isquiotibiais e glúteo máximo, de acordo com
Evangelista e Macedo (2011).

Quadro 1 – Músculos do core e as regiões de localização

Coluna lombar Abdômen Quadril

• Grupo de transversos espinhais


(rotadores, interespinhais, • Reto abdominal. • Glúteo máximo.
intertransversais, semiespinhais • Oblíquo externo. • Glúteo médio.
e multifido), eretores da coluna.
• Oblíquo interno. • Iliopsoas.
• Quadrado lombar.
• Transverso do abdômen. • Isquiotibiais.
• Grande dorsal.

Fonte: elaborado pelo autor (2019).

Caro aluno, como você pode observar ao longo deste material,


o equilíbrio é imprescindível para a manutenção da postura,
principalmente, durante os movimentos corporais, podemos dizer que
o TF tem grande importância no meio atlético, onde as pessoas estão
cada vez mais exigentes e buscam cada vez mais qualidade de vida e
sentido nas atividades físicas realizadas. Sendo assim, é extremamente
importante trabalhar todas as capacidades físicas do indivíduo em
conjunto, compreendendo o mesmo como um todo, onde não se separa
músculos, articulações ou capacidades físicas, tudo está interligado e são
dependentes.

48
48
TEORIA EM PRÁTICA
Considerando que quando elaboramos exercícios
funcionais, com o intuito de melhorar aptidões relativas ao
desempenho, a variação dos planos pode contribuir para o
aumento da intensidade do exercício por meio do aumento
da demanda de controle, equilíbrio e coordenação.
Imagine qual seria uma possível variação de exercício que
promova seu aumento da dificuldade e que você poderia
implementar no programa de treinamento de um aluno que
busque exatamente no treinamento funcional a melhoria de
aptidões relacionadas ao desempenho.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. Podemos, de modo geral, caracterizar o Treinamento


Funcional como um exercício contínuo que envolve:
a. O alongamento e melhoria cardíaca.

b. A estabilização dos músculos e das articulações.

c. Apenas a melhoria da força.

d. Apenas a melhoria da resistência muscular.

e. A utilização de máquinas.

2. O plano sagital, também conhecido como plano


anteroposterior, divide o corpo simetricamente em lados
direito e esquerdo. Os movimentos que ocorrem, nesse
plano, são os movimentos de:

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a. Extensão, flexão e abdução.

b. Adução, rotação e abdução.

c. Flexão, adução e rotação.

d. Flexão, extensão e hiperextensão.

e. Flexão, extensão e supinação.

3. Os músculos que compõe o CORE podem se dividir em


dois grupos, que são:

a. Músculos penados e músculos fusiformes.

b. Músculos pertencentes à unidade interna e os


pertencentes à unidade externa.

c. Músculos extensores e músculos flexores.

d. Músculos abdutores e músculos rotadores.

e. Músculos inferiores e músculos superiores.

Referências bibliográficas

D’ELIA, Luciano. Guia completo de treinamento funcional. São Paulo:


Phorte, 2013.
DERRICK, Timothy R.; HAMILL, Joseph; KNUTZEN, Kthleen M. Bases biomecânicas
do movimento humano. 3. ed. São Paulo: Manole, 2012.
EVANGELISTA, Macedo. Treinamento funcional e core training: exercícios
práticos aplicados. São Paulo: Phorte; 2011.
MONTEIRO, Evangelista. Treinamento funcional: uma abordagem prática.
São Paulo (SP): Phorte; 2010.

50
50
Gabarito

Questão 1 - Resposta B
Podemos caracterizar, de modo geral, o treinamento funcional
como um exercício contínuo, que envolve o equilíbrio e a
propriocepção, por meio da estabilização dos músculos e das
articulações.
Feedback de reforço: Lembre-se de que podemos considerar
que todos os movimentos realizados com eficiência possuem
o equilíbrio como ponto em comum, e o treinamento funcional
trabalha na melhoria dessa variável.

Questão 2 - Resposta D
O plano sagital, também conhecido como plano anteroposterior,
divide o corpo simetricamente em lados direito e esquerdo. Os
movimentos que ocorrem nesse plano são realizados no eixo
mediolateral, que se encontra disposto de forma perpendicular ao
plano, são os movimentos de flexão, extensão e hiperextensão.
Feedback de reforço: Os movimentos nesse plano acontecem no
eixo médiolateral, que atravessa o corpo de um lado para o outro.

Questão 3 - Resposta B
Os músculos que compõe o CORE podem se dividir em dois grupos:
os músculos pertencentes à unidade interna e os pertencentes à
unidade externa. Os músculos que compõem a unidade interna
são o transverso do abdômen, o oblíquo interno, o multifido e
os transversos espinhais lombares reto. Já a unidade externa é
composta por reto abdominal, oblíquo externo, eretores da coluna,
quadrado lombar, complexo adutor, quadríceps, isquiotibiais e
glúteo máximo.
Feedback de reforço: Os grupos são compostos por músculos mais
internos e mais externos.

 51
Análise mecânica, cinemática e
eletromiográfica de exercícios
Autor: Vinícius Barreto da Silva

Objetivos

• Explorar o método de análise mecânica dos


movimentos.

• Contextualizar a análise cinemática dos exercícios.

• Compreender os mecanismos da análise


eletromiográfica dos exercícios.

52
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1. Análise mecânica, cinemática e eletromiográfica
de exercícios

O movimento humano é um fenômeno complexo e que envolve diversos


sistemas biológicos. Dessa forma, dentro da área da Biomecânica,
onde o objeto de estudo é o movimento do corpo humano, deve-se
levar em consideração que para tais análises é necessário a utilização
de diversas ferramentas e métodos científicos, que são amplamente
dinâmicos e evoluem frequentemente, o que contribui diretamente para
o desenvolvimento da área da biomecânica.

Nesse sentido, podemos dizer que o avanço da biomecânica está


diretamente relacionado ao surgimento de novas técnicas e métodos
de investigação, que possibilitam a multidisciplinariedade científica na
análise do movimento. Dessa forma, neste material, você explorará os
conceitos e aplicações de diferentes técnicas voltadas para análises das
ações musculares e consequentemente de exercícios.

PARA SABER MAIS

É importante saber que a Biomecânica é uma ciência


composta por diversas áreas que se envolvem na
investigação do movimento humano. Dessa forma,
além da Biomecânica, o movimento humano também
pode ser objeto de estudo de outras disciplinas, como a
Antropometria, Neurofisiologia, Fisiologia geral, Bioquímica,
Física (a Mecânica especificamente), entre outras. Nesse
sentido, é importante se familiarizar com conceitos básicos
referentes a cada uma dessas disciplinas, que podem se
interlaçar durante a análise de movimentos dentro da área
da Biomecânica.

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Devemos levar em consideração que o movimento humano é um dos
objetos centrais de estudo da área de Educação Física e esporte, onde
é necessária a análise da causa e alteração produzidas em relação a
Biomecânica para uma intervenção mais eficiente do programa de
treinamento, que pode objetivar desde o aperfeiçoamento de técnicas,
por meio da correção dos padrões de movimento, até mesmo a correta
estimulação dos grupos musculares que se pretende desenvolver.

Dessa forma, nas próximas páginas, você poderá se familiarizar


com diferentes técnicas de análise do movimento, que se baseiam
em diferentes princípios, mas que se completam para promover
melhor compreensão de um fenômeno tão complexo como o
movimento humano.

Antes de mais nada, você deve compreender alguns conceitos para que
não haja confusão com terminologias importantes e saiba diferenciar a
Biomecânica e Cinesiologia. Sendo assim, como proposto por Hall (2016),
a Cinesiologia é a área que estuda o movimento humano, enquanto a
Biomecânica é o estudo da aplicação das leis da mecânica nos estudos
dos organismos vivos. Além disso, entende-se a mecânica como um
ramo da Física, que analisa especificamente as ações das forças sobre os
sistemas mecânicos e que está subdividida em duas categorias, segundo
Hall (2016): a mecânica estática, que se refere ao estudo de sistemas
em constante movimento; e a mecânica dinâmica, que estuda sistemas
submetidos à aceleração.

ASSIMILE
A Cinesiologia é considerada o estudo do
movimento humano.
A Biomecânica é a aplicação de princípios mecânicos no
estudo dos organismos vivos.

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A Mecânica é um ramo da Física que analisa as aplicações
de forças sobre sistemas mecânicos.
A Mecânica Estática é uma subcategoria da mecânica que
trata de sistemas em constante movimento.
A Mecânica Dinâmica é uma subcategoria da Mecânica
que trata de sistemas submetidos à aceleração.

1.1 Análise cinemática do movimento

Após estudar os principais conceitos relacionados à Biomecânica e


Cinesiologia, você conhecerá, neste tópico, os principais conceitos
relacionados às análises cinemáticas, que contribuíram de maneira
fundamental para o desenvolvimento de seu conhecimento relacionado
a análise do movimento humano.

Segundo McGinnis (2015), podemos compreender a cinemática como


uma fração da dinâmica que possui relação com a descrição do
movimento. Além disso, pode ser dividida em duas vertentes distintas:
cinemática linear e cinemática angular. Essa nomenclatura está
relacionada com a conceituação dos movimentos lineares e angulares,
que são extremamente importantes para as análises cinemáticas do
movimento.

Para que você se situe, lembre-se de que os movimentos lineares


guardam relação com movimentos ao logo de um trajeto, seja retilíneo
ou curvilíneo, onde os segmentos corporais não possuem movimentação
entre si. Já nos movimentos angulares, os segmentos corporais
apresentam diferentes distâncias de movimento ao longo do tempo. Em
suma, de acordo com McGinnis (2015), podemos dizer que a cinemática
linear se relaciona ao movimento linear, enquanto a cinemática angular
ao movimento angular.

 55
1.1.1 Cinemática linear

Quando nos referimos a análises relacionadas a cinemática linear,


precisamos compreender alguns componentes importantes envolvidos
nesse tipo de análise, como, por exemplo, a posição ou lugar no espaço.
Nas diferentes modalidades esportivas, o conhecimento da posição do
adversário pode ajudar na tomada de decisão do ataque ou defesa,
possibilitando melhor resultado.

Esse tipo de análise só é possível graças ao filósofo e matemático René


Descartes (1595 - 1650), que determinou um sistema de coordenadas
cartesianas, que possibilita a análise da posição de um indivíduo em
relação ao ambiente. Dessa forma, para que possa analisar a posição de
um objeto, precisa encontrar um ponto de origem, de onde sairão todas
as medidas de possíveis posições. Caso o movimento ocorra em apenas
duas dimensões, serão utilizados apenas dois eixos (y e x), caso ocorra
em três dimensões, utilizaremos três eixos de coordenadas (x, y e z).

Figura 1 - Sistema de coordenadas (x, y e z)

Fonte: <http://direito.xyz/>. Acesso em: 16 jul. 2019.

Com base nos eixos e coordenadas, podemos ir além da descrição da


posição de um sujeito no espaço, podemos descrever seu deslocamento,
dentro do mesmo espaço. Lembre-se de que a distância é uma
grandeza escalar, que pode ser medida de um ponto a outro, enquanto
o deslocamento é uma grandeza vetorial, que sofre influência direta da
direção na qual o movimento acontece. Desse modo, é possível que,
para movimentos específicos, o deslocamento e a distância percorrida
sejam iguais, porém, serão diferentes em movimentos não lineares,
segundo Hall (2016).

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56
Quando falamos de análise cinemática do movimento, dentre
as variáveis estudadas, podemos citar também a velocidade de
deslocamento e a rapidez do indivíduo. McGinnis (2015) define a
rapidez como a taxa de movimento, e a velocidade como a taxa
de movimento em sentido específico. Para definir a rapidez de um
indivíduo, precisamos saber o tempo que o mesmo levou para percorrer
determinada distância, tendo em vista que a rapidez média é o resultado
da divisão da distância percorrida pelo tempo. Lembrando que a
distância sempre será calculada em metros e o tempo em segundos.

Outra variável importante, relacionada a cinemática, é a aceleração, que


nada mais é que a taxa de variação na velocidade. Desse modo, pode-se
definir a aceleração média por meio da divisão da variação da velocidade
pela variação do tempo, resultando na seguinte fórmula:
Aceleração média (m/s2) = ∆v/∆t

Onde ∆v representa a variação na velocidade, expressa em metros


por segundos (m/s); e ∆t representa a variação no tempo, expresso
em segundos.

1.1.2 Cinemática angular

Como você pode ver anteriormente, a cinemática angular relaciona-se


aos movimentos angulares, todavia, antes de compreender os diferentes
tipos de ângulos e as análises relacionadas a este ramo da cinemática, é
preciso que fique claro que um ângulo é composto por duas linhas que
possuem uma intersecção em um vértice, de acordo com Hall (2016).

As análises referentes aos ângulos durante os movimentos permitem a


identificação de possíveis equívocos técnicos, por meio da avaliação de
segmentos e articulações, possibilitando que o profissional de Educação
Física intervenha de forma adequada e precisa para a correção desses
padrões. Nesse sentido, quando tratamos dos ângulos passiveis de
análise no corpo humano durante o movimento, é possível observarmos
duas categorias, os ângulos relativos e os ângulos absolutos.

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Como definido por Hall (2016), o ângulo relativo é o ângulo na
articulação que se localiza entre os eixos longitudinais de segmentos
corporais adjacentes, como, por exemplo, o ângulo relativo do cotovelo,
que é formado pelo eixo longitudinal do braço e do antebraço.

Figura 2 – Ilustração dos ângulos relativos na saída do bloco no atletismo

Fonte: Reis (2007, [s.p.]).

Já o ângulo absoluto, nada mais é que a direção angular de um


segmento corporal em relação a uma linha de referência fixa, de acordo
com Hall (2016), como, por exemplo, o ângulo do tronco durante o
movimento de corrida.

Figura 3 – Ilustração dos ângulos absolutos durante a corrida

Fonte: Hamill et. al. (2012, p. 334).

58
58
1.1.3 Técnicas de avaliação cinemática

Tendo em vista que você pode conhecer as principais variáveis


cinemáticas, é importante que saiba, neste momento, que as análises
cinemáticas podem ocorrer por meio de registro de imagens, que
consistem basicamente na cinemetria e fotogrametria. A fotogrametria
pode ser definida como um método de obtenção de informações por
meio da observação de imagens registradas de indivíduos. Em geral,
essa técnica é realizada com o auxílio de uma câmera fotográfica.

Já a cinemetria pode ser realizada tanto por meio do registro de


imagens, como do registro de vídeos. Nessa técnica, é possível realizar
a digitalização do movimento, por meio da reconstrução biomecânica
dos pontos anatômicos demarcados no corpo. Nesse sentido, são
utilizados softwares sofisticados para o registro, processamento digital
no computador e interpretação dos dados. Sendo assim, a análise
cinemática pode ser de grande auxílio tanto na identificação de erros,
como, por exemplo, no padrão de movimento, como também na
avaliação postural.

Figura 4 – Posicionamento dos marcadores anatômicos

Fonte: Sousa et al. (2014).

 59
1.2 Análise Eletromiográfica (EMG)

A eletromiografia é uma técnica capaz de mensurar a atividade muscular


por meio dos sinais elétricos emitidos no músculo (potenciais de ação),
expressos em voltagem em função do tempo. Dessa forma, é uma
ferramenta extremamente importante em análises clínicas, ergonômicas
e esportivas, pois é capaz de dar informações relevantes acerca da
ativação da musculatura envolvida em determinado movimento,
bem como a intensidade de sua ativação. Em vias gerais, segundo
Staudenmann et al. (2010), a eletromiografia é uma técnica de captação,
amplificação e processamento do sinal elétrico do músculo.

Nas mais diversas áreas, o sinal eletromiográfico tem sido utilizado nas
mais variadas finalidades. Além disso, quando falamos do treinamento
de força especificamente, a EMG tem sido utilizada para mensurar
a atividade muscular em diferentes exercícios, possibilitando a
avaliação da coordenação entre os diferentes músculos envolvidos nos
movimentos.

Para que o sinal eletromiográfico possa ser captado, são utilizados


diferentes tipos de eletrodos, os de superfície e os de profundidade.
Os eletrodos de profundidade são utilizados para avaliação de
músculos mais profundos e/ ou menores, pois, ao analisar a atividade
elétrica de um músculo pequeno, utilizando eletrodos de superfície,
existe maior possibilidade de ocorrência de um fenômeno chamado
crosstalk, que nada mais é do que a captação dos sinais elétricos dos
músculos próximos ao músculo analisado, interferindo na avaliação da
atividade elétrica do mesmo. Nesses casos, a utilização de eletrodos
de profundidade é mais indicada, todavia, é um procedimento mais
invasivo, tendo em vista que o eletrodo de profundidade possui uma
pequena agulha em sua extremidade (veja figura 5) que deverá ser
introduzida no músculo do indivíduo.

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Figura 5 – Eletrodo de profundidade

Fonte: <https://kandel.com.br/eletrodos/emg/technomed-monopolar/>.
Acesso em: 12 set. 2019.

Já os eletrodos de superfície possuem um adesivo em sua extremidade


e, como o próprio nome sugere, são fixados na superfície da pele
do indivíduo, mais especificamente sobre a região onde se localiza
o músculo a ser analisado. Geralmente, essa técnica é utilizada para
a avaliação de músculos grandes e mais superficiais. Esse é um
procedimento menos invasivo, pois não exige a perfuração da pele e
nem do tecido muscular do avaliado.

Figura 6 – Eletrodo de superfície

Fonte: <https://kandel.com.br/eletrodos/emg/ambu-neuroline-715/>.
Acesso em: 12 set. 2019.

 61
Para a padronização do posicionamento dos eletrodos, para avaliação
de cada músculo, possibilitando a comparação entre análises
realizadas por diferentes pesquisadores, são utilizadas as normas de
posicionamento definidas pelo ElectroMyoGraphy for the Non-Invasive
Assessment of Muscles (SENIAM). Dessa forma, para que o sinal seja
obtido com a melhor qualidade possível, a região em que os eletrodos
serão fixados deve ser previamente limpa, realizando a remoção de
pelos e resíduos que possam vir a interferir na qualidade do sinal. Além
disso, os eletrodos devem ser sempre posicionados no sentido das
fibras musculares.

As avaliações realizadas por meio da eletromiografia possibilitam,


após o processamento, a análise do sinal em dois domínios, segundo
Staudenmann et al. (2010),: do tempo, onde é possível avaliar o aumento
do número de unidades motoras recrutadas durante um exercício; e da
frequência, que permite identificar o número de vezes que as unidades
motoras são ativadas, durante a realização de diferentes exercícios.

Em relação às análises no domínio do tempo, é importante considerar


a padronização do posicionamento dos eletrodos, pois a amplitude
do sinal advindo dos músculos superficiais pode ser minimizada pela
resistência da pele e do tecido adiposo subcutâneo, que varia de uma
região para outra, fazendo com que seja impossível a comparação de
valores eletromiográficos absolutos entre um músculo e outro.

No domínio da frequência, é possível avaliar o conteúdo da frequência


do sinal EMG, que pode ser caracterizado pela frequência média (Fm),
valor central do espectro de frequência; ou pela frequência mediana
(Fmed), que é a frequência que divide o espectro em duas metades.
Esses parâmetros estão relacionados a velocidade de condução das
fibras musculares, além disso, o recrutamento das unidades motoras
diminui quando o indivíduo se encontra em estado de fadiga muscular,
apresentando mudanças no sinal eletromiográfico antes de qualquer
modificação no padrão de força, sendo assim, de acordo com Bartuzi
(2014), esses parâmetros são utilizados como indicadores de fadiga.

62
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Quando são realizadas análises que visam identificar os músculos ativos e a
intensidade de sua ativação em diferentes exercícios de força, geralmente,
o sinal eletromiográfico é analisado no domínio do tempo. Isso se dá pelo
fato de que os principais objetivos, envolvendo a utilização do EMG aplicado
ao treinamento de força, estão relacionados à identificação de exercícios
que possuem maior magnitude de ativação muscular ou qual músculo
apresenta maior tempo de ativação em intensidade elevada.

A figura 7, apresentada abaixo, representa a comparação da ativação


muscular do vasto medial de indivíduos destreinados (A), e com mais de
um ano de experiência em treinamento de força (B), durante a realização
do exercício Leg Press 45º, em 3 repetições, com intensidades de 30%,
50% e 70% da contração voluntária máxima (CVM); e uma contração
voluntária máxima em isometria por aproximadamente três segundos.

Figura 7 – Comparação da atividade EMG do músculo vasto lateral de


indivíduos destreinados (A) e treinados (B)

Fonte: IDE et al. (2014).

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Podemos observar que o sinal bruto da EMG de um indivíduo com mais
de um ano de prática de treinamento de força (A), em comparação com
os dados de outro indivíduo não treinado em força (B), é maior em
todas as situações agudas de exercícios realizados. Vale ressaltar que a
maior amplitude do sinal é reflexo de maior recrutamento de unidades
motoras e, consequentemente, maior capacidade na produção de força.

Você pode observar ao longo deste material, a complexidade que envolve


as diferentes técnicas de análises relacionadas ao movimento humano,
bem como suas aplicações no âmbito do treinamento físico. Todavia,
é importante lembrar que, como dito anteriormente, as tecnologias e
técnicas que possibilitam diferentes tipos de análises do movimento estão
em constante evolução, assim como a área da Biomecânica. Dessa forma,
é extremamente importante que você, como profissional da área do
exercício físico, também se mantenha em constante evolução.

TEORIA EM PRÁTICA
Um personal trainer foi contratado para trabalhar em uma
equipe de atletismo como preparador físico, tendo em
vista a importância do desenvolvimento das capacidades
físicas para o bom desempenho na modalidade esportiva,
ele decide que, antes de iniciar o programa de treinamento
com os atletas, realizará uma bateria de testes, no intuito
de realizar um diagnóstico preciso e, consequentemente,
ter a possibilidade de trabalhar na melhor estratégia para
a melhoria do desempenho de cada atleta de acordo com
as exigências de sua modalidade. A equipe é constituída
de atletas de diversas modalidades, porém, dentre todos,
o profissional se questiona a respeito dos métodos de
avaliação de um atleta de cem metros rasos. Dessa forma,
qual seria a maneira de se avaliar o desenvolvimento de
corrida de um atleta dessa modalidade? Quais parâmetros
da cinemática do movimento poderiam estar envolvidos?

64
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VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. As áreas de Cinesiologia e Biomecânica são similares


por estudarem o fenômeno do movimento humano.
Entretanto, possuem conceitos distintos. Sendo assim,
assinale a alternativa correta, que apresenta o conceito
adequado em relação a Biomecânica.
a. A Biomecânica é a área que estuda o
movimento humano.

b. A Biomecânica é a aplicação de princípios mecânicos


no estudo dos organismos vivos.

c. A Biomecânica é uma subcategoria da Mecânica, que


trata de sistemas em constante movimento.

d. A Biomecânica é um ramo da Física que analisa as


aplicações de forças sobre sistemas mecânicos.

e. A Biomecânica trata exclusivamente de sistemas


submetidos à aceleração.

2. Segundo McGinnis (2015), podemos compreender a


cinemática como uma fração da dinâmica que possui
relação com a descrição do movimento. Além disso,
pode ser dividida em duas vertentes distintas. Assinale
a alternativa correta que apresenta as duas vertentes da
cinemática.
a. Cinemática estática e Cinemática dinâmica.

b. Cinemática interna e Cinemática externa.

c. Cinemática estática e Cinemática angular.

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d. Cinemática linear e Cinemática dinâmica.

e. Cinemática linear e Cinemática angular.

3. Para que o sinal eletromiográfico possa ser captado,


são utilizados diferentes tipos de eletrodos: os de
superfície e os de profundidade. Dessa forma, assinale a
alternativa correta em relação aos tipos de eletrodos.
a. Os eletrodos de profundidade são utilizados para
músculos maiores.

b. Os eletrodos de superfície são utilizados para


captação do sinal de músculos mais internos.

c. Os eletrodos de superfície possuem maior dificuldade


de manuseio, pois devem ser inseridos no músculo
do avaliado.

d. Os eletrodos de profundidade são de manuseio mais


simples e menos invasivos que os superficiais.

e. Os eletrodos de profundidade diminuem a


possibilidade de ocorrência de crosstalk.

Referências bibliográficas

BARTUZI, Paweł; ROMAN-LIU, Danuta. Assessment of muscle load and fatigue with
the usage of frequency and time-frequency analysis of the EMG signal. Acta of
Bioengineering and Biomechanics, v. 16, n. 2, 2014.
IDE, Bernardo Neme; MURAMATSU, Lucio Vitorelli; RAMARI, Cintia; et al. Adaptações
Neurais ao Treinamento de Força. Revista Acta Brasileira do Movimento
Humano. Vol. 4. n. 5, 2014.
HALL, Susan J. Biomecânica Básica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,2016.

66
66
HAMILL, Joseph; KNUTZEN, Kathleen M.; DERRICK, Timothy R. Bases biomecânicas
do movimento humano. 4. ed. São Paulo. Editora Manole, 2016.
MCGINNIS, Petter M. Biomecânica do Esporte e do Exercício. 3. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2015.
REIS, Diogo Cunha; LEITE, Rogério Marque; MORO, Antônio Renato Pereira.
Reprodutibilidade da posição de saída de bloco em atletas juvenis de atletismo de
SC – Brasil. EFDeportes (Revista Digital), ano 11, v. 106, Buenos Aires, 2007.
SOUSA, Angélica Vieira Cavalcanti. Influence of treadmill training in dual-task
gait in people with Parkinson’s Disease: a case report. Fisioter. Pesqui., São Paulo,
v. 21, n. 3, p. 291-296, 2014.
STAUDENMANN, Didier; ROELEVELD, Karin; STEGEMAN, Dick F.; et al. Methodological
aspects of SEMG recordings for force estimation - a tutorial and review. Journal of
Electromyography and Kinesiology. v. 20, 2010.

Gabarito

Questão 1 - Resposta B

A Cinesiologia é a área que estuda o movimento humano, enquanto


a Biomecânica é o estudo da aplicação das leis da mecânica nos
estudos dos organismos vivos.

Feedback de reforço: Lembre-se de que a Biomecânica, como o


próprio nome sugere, envolve aspectos de uma área da Física
aplicada ao movimento humano.

Questão 2 - Resposta E

As nomenclaturas das vertentes da cinemática estão alinhadas com


a dos movimentos lineares e angulares, dando origem às suas duas
vertentes de estudo, a cinemática linear e a cinemática angular.

Feedback de reforço: Lembre-se de que as classificações


das vertentes da cinemática estão relacionadas aos tipos de
movimentos existentes, os que ocorrem em linha reta e os que
ocorrem ao redor de um eixo.

 67
Questão 3 - Resposta E
Os eletrodos de profundidade são utilizados para avaliação de
músculos mais profundos e/ ou menores, pois, ao analisar a
atividade elétrica de um músculo pequeno utilizando eletrodos
de superfície, existe maior possibilidade de ocorrência de um
fenômeno chamado crosstalk, que nada mais é que a captação
do sinal elétricos dos músculos próximos ao músculo analisado,
interferindo na avaliação da atividade elétrica do mesmo.
Feedback de reforço: Recorde as nomenclaturas dos tipos de
eletrodos, os de superfície e os de profundidade. Seu nome
já remete aos músculos que cada uma avalia, músculos mais
superficiais e músculos mais profundos, respectivamente.

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68
Biomecânica e treinamento
Autor: Alex Castro

Objetivos

• Conhecer a utilidade da Biomecânica como


ferramenta para o aprimoramento da performance
com o treinamento.

• Conhecer as etapas envolvidas na análise


Biomecânica qualitativa, visando a melhora da
técnica de movimento.

• Compreender a estrutura elementar de um modelo


de análise Biomecânica qualitativa adaptável a
diferentes habilidades requeridas em esportes
coletivos e individuais.

• Compreender como identificar, observar e corrigir


erros na técnica e a instruir apropriadamente o
atleta, ou aluno, visando a melhora da performance.

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1. Introdução à Biomecânica do
treinamento esportivo

Nesta sessão, você ir estudará sobre a utilidade da Biomecânica no


treinamento esportivo.

A Biomecânica tem por finalidade a aplicação das leis da Física para


a caracterização mecânica do movimento humano, podendo afetar
diretamente aspectos relacionados ao desempenho esportivo e
a melhora da qualidade de vida. Enquanto área de conhecimento
no campo da Educação Física, Fisioterapia e Ciências do Esporte, a
Biomecânica constitui uma ferramenta adicional para a elaboração
e monitoramento de programas voltados à melhora da saúde e ao
treinamento esportivo, segundo Amadio e Serrão (2011).

Um dos princípios fundamentais do treinamento é o princípio da


especificidade, que consiste em desenvolver habilidades e tarefas
motoras em contexto específico da atividade ou esporte praticado.
Ganhos na performance podem ser maximizados se os exercícios
realizados durante o treinamento incluírem elementos das habilidades
que se pretende treinar e forem similares às exigências motoras
requeridas na competição, de acordo com Bompa (2013). Dessa forma,
as adaptações celulares, estruturais e funcionais, decorrentes do
treinamento, são específicas à sobrecarga imposta.

Nem sempre é óbvia a identificação dos aspectos do treinamento que


determinam o sucesso de um atleta. Por exemplo, para um maratonista,
é possível supor que o treinamento deva incluir, principalmente, o
percurso de longas distâncias. Por outro lado, não parece tão óbvio, a
um observador casual, quais são as forças específicas requeridas para
o sucesso na equitação ou quais são as nuances da trajetória do centro
de gravidade que otimizam a performance do salto em altura. Nesse
sentido, a Biomecânica contribui para a identificação das características
técnicas fundamentais dos movimentos, que são necessárias para o
aprimoramento de uma habilidade específica com o treinamento, de
acordo com McGuinnis (2002).

70
70
PARA SABER MAIS
Tipos de Treinamento
Antes de aprender sobre a análise técnica dos movimentos
que levam ao aperfeiçoamento de habilidades motoras
específicas, é preciso conhecer os tipos de treinamento.
Geralmente, segundo McGuinnis (2002), o tempo destinado
ao treinamento é direcionado ao aperfeiçoamento técnico
(treinamento técnico) e das capacidades físicas (treinamento
físico). Treinamento técnico: envolve o aprimoramento
da habilidade real ou de tarefas motoras específicas
relacionadas ao desenvolvimento dessa habilidade. A
Biomecânica possibilita a identificação da deficiência
técnica e a seleção de exercícios apropriados que possam
estimular exatamente os aspectos específicos da habilidade
que requerem correção, de acordo com McGuinnis
(2002). Treinamento físico: envolve o desenvolvimento
da condição física por meio do aprimoramento das
capacidades físicas, tais como: força, potência e resistência
muscular, flexibilidade, aptidão cardiorrespiratória,
coordenação, velocidade etc. A Biomecânica, segundo
McGuinnis (2002), auxilia na identificação de grupos
musculares específicos, por exemplo, cuja força,
flexibilidade e resistência limitam o desempenho físico.

Existe uma relação entre o treinamento técnico e o treinamento


físico. Enquanto as limitações na técnica podem afetar a condição
física do atleta, por impor barreiras que dificultam a continuidade do
treinamento, o treinamento físico pode interferir na proficiência da
técnica por afetar, por exemplo, a resistência à fadiga muscular, segundo
Bartlett (2007) e Knudson (2007).

 71
ASSIMILE
Segundo McGuinnis (2002), quanto mais específico for o
exercício em relação à habilidade a ser desenvolvida, maior
o potencial para melhorar o desempenho nessa habilidade.

É importante lembrar que a Biomecânica será mais útil na melhora da


performance e como componente auxiliar no programa de treinamento
em esportes ou atividades, cuja técnica representa um fator predominante
sobre a estrutura física e as capacidades fisiológicas. A Biomecânica é
considerada a ciência da técnica de movimento. Dessa forma, o profissional
deve estar preparado para analisar o movimento de forma eficiente,
utilizando métodos de análise Biomecânica quantitativos e/ ou qualitativos.

Métodos quantitativos são baseados na mensuração do desempenho


e sua representação numérica, envolvendo a utilização equipamentos
de alto custo financeiro e operacional nas áreas da dinamometria,
cinemetria, eletromiografia e antropometria. Por outro lado, métodos
qualitativos são baseados em análise observacional sistemática
e descritos subjetivamente, com a utilização de poucos recursos
tecnológicos, de acordo com Knudson (2007).

A seguir, será explorado o método de análise Biomecânica qualitativa,


uma vez que é mais amplamente utilizado nas situações práticas
comparado ao método quantitativo, segundo McGuinnis (2002), Bartlett
(2007) e Knudson (2007).

1.1 Análise biomecânica qualitativa

A análise biomecânica qualitativa consiste na avaliação do movimento


baseada na observação visual do profissional, sendo esta abordagem
mais comumente utilizada na prática por professores e treinadores
que as análises Biomecânicas quantitativas, segundo McGuinnis (2002),
Bartlett (2007) e Knudson (2007).

72
72
Diversos modelos têm sido propostos para a análise Biomecânica
qualitativa do movimento, de acordo com Williams e Tannehill
(1990), Nielsen e Beauchamp (1992), Wilkinson (1996), Zatsiorsky
(2004), Knudson (2007). Tradicionalmente, profissionais utilizam a
detecção do erro no padrão de movimento seguida pela orientação
de correção como abordagem de análise qualitativa. Essa abordagem
confia a correção do movimento baseado na identificação de erros,
a partir de uma imagem mental do profissional sobre o movimento,
segundo Knudson (2007). Dessa forma, para minimizar os efeitos de
uma avaliação simplista pelo profissional, uma estrutura de análise
sistemática composta por quatro passos, como ilustra a figura 1), tem
sido sugerida para analisar biomecanicamente o movimento humano,
segundo Knudson e Morrison (2002) e McGuinnis (2002):

• Preparação/ descrição: o profissional deve criar um modelo


teórico ideal do movimento e descrevê-lo a partir do ponto de
vista da maior eficiência técnica. Após isso, deve estabelecer
qual será sua estratégia de observação e as particularidades do
movimento a serem analisadas quando observar seus atletas.

• Observação: utilizando a estratégia de observação, o profissional


deve analisar o desempenho do atleta várias vezes e reunir todas
as informações sensoriais relevantes para o desempenho do
movimento. Será um momento para entender a execução da
técnica do atleta.

• Avaliação: comparar a técnica ideal com aquela executada pelo


atleta e apontar os erros e aspectos positivos da performance,
estabelecendo um diagnóstico sobre a técnica avaliada.

• Instrução/ intervenção: a partir do diagnóstico, o profissional


dever fornecer o feedback de sua observação ao aluno/ atleta de
maneira a instruí-lo e educa-lo para a correção de seus erros.

 73
Figura 1 – Modelo dos quatro passos para análise
qualitativa do movimento

Fonte: adaptada de Knudson e Morrison (2002).

1.1.1 Descrevendo o modelo técnico ideal

Essa fase requer amplo conhecimento biomecânico do profissional.


Muitas vezes, é necessário pesquisar sobre o movimento para, de fato,
construir um modelo técnico ideal. O primeiro passo para uma análise
biomecânica é desenvolver conceitualmente a técnica mais eficaz para a
habilidade de interesse. Questões relacionadas à distinção sobre o que é
importante ou não, o que é correto ou errado, o que é eficaz ou ineficaz,
o que é seguro ou inseguro, o que é possível ou impossível, devem ser
de domínio do profissional e fundamentar a construção do modelo
para avaliação do desempenho, segundo Knudson e Morrison (2002) e
McGuinnis (2002).

Outro aspecto importante é conhecer o contexto no qual a habilidade é


utilizada e conhecer as limitações no desempenho imposta pelas regras
da atividade ou modalidade esportiva, de acordo com Mcguinnis (2002).
Por exemplo, no lançamento de dardo, seu modelo técnico ideal pode
incluir o aumento da velocidade da corrida de balanço para potencializar
o lançamento. Contudo, isso pode contribuir para a invasão da linha
final durante a fase de recuperação, anulando o lançamento, segundo
Zatsiorsky (2004).

74
74
Em seguida, é importante refletir sobre o propósito da habilidade,
ou seja, qual o resultado desejado do ponto de vista mecânico e da
competição. Por exemplo, o saque no tênis tem como propósito, do
ponto de vista da competição, marcar um ace ou dificultar a recepção
do adversário obrigando-o a fazer uma devolução com menor eficácia.
Do ponto de vista mecânico, o propósito é aumentar a velocidade e a
exatidão do saque para dificultar a recepção/ devolução do adversário.
Quanto mais precisa for sua interpretação do propósito da habilidade,
mais eficiente será sua análise de acordo com Knudson e Morrison
(2002) e McGuinnis (2002).

O próximo passo é definir quais são as características da técnica que


a tornam eficaz. Possivelmente, o modelo teórico possui elementos
excessivos que tornam o aprimoramento técnico complexo. Então,
observe inúmeras vezes os desempenhos de habilidades por atletas de
elite, identificando as ações e posições mais comuns entre eles. Depois,
identifique quais das características dessas ações e posições contribuem
para a técnica eficaz, ou seja, o que realmente importa, e então
mantenha no seu modelo ideal. O que vier a prejudicar ou não alterar o
resultado, como estilo específico de cada atleta, não deve ser incluído no
modelo ideal, segundo Knudson e Morrison (2002) e McGuinnis (2002).

1.1.2 Observando a técnica

Na fase de observação será o momento de analisar visualmente o real


desempenho técnico. Para isso, o profissional pode utilizar a ajuda de
um segundo avaliador para cobrir diferentes ângulos da realização do
movimento ou, preferivelmente, utilizar uma ou mais câmeras com
velocidade de aquisição de imagens compatíveis com o movimento
analisado para possibilitar uma inspeção visual mais precisa, conforme
tabela 1. Os movimentos esportivos, muitas vezes, ocorrem em altas
velocidades, como, por exemplo, em menos 0,25 s, cujas minuciosidades
não são perceptíveis pelo olhar humano em tempo real, segundo
Bartlett (2007).

 75
Tabela 1 – Exemplos de velocidades de aquisição de imagens em
várias atividades
Velocidade de aquisição de
Atividade
imagens por segundo
Caminhada 1/50
Boliche 1/50
Basquetebol 1/100
Salto vertical 1/100
Corrida moderada 1/200
Corrida rápida (sprint) 1/500
Arremesso de beisebol 1/500 a 1/1000
Rebatedor no beisebol 1/500 a 1/1000
Chute no futebol 1/500 a 1/1000
Tênis 1/500 a 1/1000
Golf > 1/1000
Fonte: adaptada de Bartlett (2007).

Antes de iniciar essa fase, esteja certo de que o passo anterior tenha
sido cumprido e organize um planejamento/ estratégia de observação
baseado em quatro questões fundamentais, de acordo com Knudson
e Morrison (2002) e Mcguinnis (2002): quem? Quais as condições?
Onde observar? O que observar? Saiba que, apesar de sua experiência
ou recursos utilizados, será necessária a observação de repetidos
movimentos para uma adequada análise Biomecânica, segundo
Bartlett (2007).

Quem? Saiba quem você está avaliando, conheça o nível de seu atleta ou
aluno. Indivíduos menos habilidosos tendem a exibir número excessivo
de erros, facilmente reconhecíveis, porém, com ampla variação entre
uma performance e outra. Desta forma, fornecer uma análise altamente
meticulosa e detalhista pode ser inútil, visto que, notavelmente, ainda
há um tempo requerido para o desenvolvimento básico da habilidade
em questão. Nesse caso, a observação deve focar na identificação dos
principais erros. Por outro lado, quanto mais experientes e habilidosos

76
76
forem os indivíduos, menor será o número de erros exibidos. Nesse
caso, a observação deve ser focada nos detalhes técnicos, identificando
os erros comuns entre uma performance e outra, de acordo com
Knudson e Morrison (2002), McGuinni (2002) e Bartlett (2007).

Quais as condições? Idealmente procure um ambiente em que você


possa controlar/ minimizar ao máximo as interferências externas sobre
a performance do atleta ou aluno. Embora o momento da competição
seja onde se espera que a melhor performance seja atingida, não
constitui o local ideal de observação. Por exemplo, sua observação
pode ser obstruída pelo posicionamento dos árbitros e outros
competidores. Assim, para atletas mais experientes, busque simular
ao máximo o contexto onde a performance será de fato executada,
porém, minimizando as distrações. Já para iniciantes, a análise durante
uma sessão de treinamento deve ser suficiente para representar o
contexto de performance normal, segundo Knudson e Morrison (2002) e
McGuinnis (2002).

Onde observar? Identifique o plano de movimento em que ocorre o


movimento, isso determinará seu posicionamento para a observação.
Por exemplo, se a maioria dos movimentos ocorrer no mesmo plano,
se posicione perpendicularmente a ele. Se houver movimentos em
mais de um plano, serão necessários profissionais auxiliares para
observar perpendicularmente os movimentos realizados nos outros
planos. Por exemplo, atividades como nado de costas, corridas de
velocidade, arremesso no basquetebol, e movimentos de ginástica na
barra, ocorrem, principalmente, no plano sagital. Dessa forma, escolha
o lado direito ou esquerdo do movimento para fazer sua observação.
Ainda assim, haverá atividades que mesmo ocorrendo no plano sagital
irão requerer o auxílio de outros profissionais por envolver múltiplas
habilidades para a performance final, de acordo com Knudson e
Morrison (2002) e McGuinnis (2002).

 77
Por exemplo, no salto em distância há três fases principais: corrida de
aproximação, salto e aterrissagem. Cada uma dessas fases possui uma
particularidade técnica relevante, logo, em cada fase será necessário
um profissional ou uma câmera para a análise do movimento. Também
vale destacar que a distância entre o profissional/ câmera em relação
ao movimento dever ser apropriada, sem que sejam requeridas
mudanças rápidas na direção do olhar para acompanhar o movimento.
Uma distância mais curta possibilitará a observação de detalhes mais
específicos da técnica, enquanto uma distância mais longa a observação
do movimento como um todo, segundo Knudson e Morrison (2002) e
McGuinnis (2002).

O que observar? Agora que você já planejou como observar, após


analisar repetidos movimentos (ou replays), identifique, no movimento
ou nas ações, as características mais eficazes para a performance.
Para isso: (I) analise a posição do corpo ou dos seguimentos em cada
fase do movimento. Isso lhe indicará a direção da produção de força
em cada fase; (II) analise a duração e a amplitude de movimento do
corpo e seus segmentos em cada fase da habilidade. Questione se são
adequados ao modelo ideal; (III) analise a velocidade e aceleração do
corpo e seus segmentos em cada fase específica da habilidade. Verifique
se os segmentos corporais estão sendo acelerados em uma sequência
ordenada e correta para a execução da habilidade em favor à máxima
performance; e (IV) cronometre a movimentação de cada segmento do
corpo em relação aos outros segmentos. Analise, se, coordenativamente,
o movimento está apropriado em ordem de maximizar a performance,
de acordo com Knudson e Morrison (2002) e McGuinnis (2002).

1.1.3 Avaliação e diagnóstico da performance

Essa é, provavelmente, a fase mais difícil da análise qualitativa. É onde


você pode melhorar ou piorar a performance ou aumentar ou reduzir
o risco de lesões por uma questão de detalhe. Nessa fase, duas etapas
são importantes. Primeiro, identificar os erros do movimento. Para

78
78
isso, compare a performance real ao modelo ideal. Ao identificar esses
erros verifique se de fato afetam a performance. Há situações em
que o erro é provocado por uma compensação em função de uma
limitação morfológica do atleta e não pode ser modificado, afetando
inevitavelmente a performance, segundo Knudson e Morrison (2002) e
McGuinnis (2002).

Um exemplo seria a altura de um saltador. Quanto mais alto é o atleta,


mais pode elevar seu centro de gravidade no momento da partida do
salto. Por outro lado, saltadores mais fortes e com menor percentual
de gordura também podem otimizar sua performance por meio de
alterações nessas características em função do treinamento. Em
segundo, avaliar as causas dos erros e seus efeitos sobre a performance.
Dessa forma, a correção dos erros deve priorizar aqueles que
colocam em risco a integridade física do atleta, seguindo as seguintes
classificações, de acordo com Mcguinnis (2002):
• Corrigir do maior erro para o menor erro, em relação à
performance.

• Do erro inicial ao final, em relação à sequência e duração do


movimento.

• Do mais fácil para o mais complexo.

1.1.4 Intervenção/ instrução

Esse é o passo final da análise Biomecânica qualitativa com finalidade de


instruir, corrigir e melhorar a performance ou reduzir o risco de lesões.
Para isso, três principais tarefas precisam ser executadas:

1. Comunicação com o executante. De maneira clara e simples,


mostre os erros e explique as correções. Utilize vídeos do atleta,
ou aluno, e de atletas que tenham desempenhado com perfeição
a técnica para facilitar o entendimento. Lembre-se de alertá-los
que é comum a redução da performance nos estágios iniciais do

 79
treinamento com a nova adaptação à técnica e de sempre motivá-
lo com paciência. Corrija um erro de cada vez e seja sempre
positivo, pois as melhoras podem não ocorrer de uma única vez.

2. Corrigir o erro. Fragmente a habilidade em suas fases mais


elementares e, em cada uma delas, repita a ação inúmeras
vezes sem a presença do erro, progredimento de execuções
mais lentas para mais rápidas. Após isso, conecte a segunda
fase da habilidade à primeira e quando estas estiverem sendo
constantemente repetidas, sem a presença do erro, adicione
a fase seguinte e assim, progressivamente e sucessivamente,
até chegar ao movimento completo. Aumente a aceleração do
movimento à medida que o atleta se tornar mais proficiente.

3. Repetir a análise. Realize novamente todos os passos anteriores,


ajustando o modelo ideal às limitações morfológicas de seu atleta,
acompanhando as mudanças no desempenho, de acordo com
Knudson e Morrison (2002) e McGuinnis (2002).

1.1.4.1 Análise biomecânica qualitativa na prática

Agora que você já conhece o método de análise biomecânica


qualitativa, é hora de aplicá-lo em uma situação prática. Para isso,
será tomado como base a análise da performance de um chute num
jogo de futebol, de um indivíduo amador, que ainda possui correções
expressivas a serem realizadas em sua técnica. Portanto, será
necessário seguir os quatros passos fundamentais estudados acima,
segundo Knudson e Morrison (2002) e McGinnis (2002).: preparação,
observação, avaliação e instrução.

Preparação
- Identificar e descrever as características, do modelo teórico ideal do
movimento, que de fato contribuem para a técnica eficaz, de acordo com
Knudson e Morrison (2002) e McGuinnis (2002), conforme tabela 2.

80
80
Tabela 2 - Ações importantes e o movimento esperado para a técnica
eficaz do chute no futebol

Ações importantes Movimento esperado


Aproximação Deslocamento em direção à bola, com visão focal na bola.
Pé de apoio posicionado ao lado e
Posicionamento dos pés
ligeiramente atrás da bola.
O quadril deve ser estendido, levando a coxa para trás,
Preparação para o chute
sincronizadamente à perna com o joelho flexionado.
O movimento de chute inicia com a rotação da pelve
ao redor da perna de apoio, trazendo a coxa para a
frente ainda com o joelho flexionado. Após isso, a coxa
Balanço da perna de chute
desacelera até ficar praticamente imóvel no contato com
a bola, enquanto o joelho é vigorosamente estendido,
quase por completo, para fazer o contato com a bola.
O pé atinge o centro da bola e o membro inferior que
executa o chute e segue, acelerando na direção do
Posição de impacto
movimento até, geralmente, o pé ultrapassar o nível
do quadril impulsionando o deslocamento da bola.

Fonte: Wickstrom (1975), Lees e Nolan (1998) e Knudson (2007).

- Identifique o propósito da habilidade, segundo Knudson e Morrison


(2002) e McGuinnis (2002): o chute tem como principal finalidade no
futebol, além de afastar a bola de um adversário, impulsionar a bola em
direção ao gol. Uma das medidas de sucesso no chute é a velocidade
da bola após o contato, o que dificulta as ações defensivas dos goleiros.
Assim, do ponto de vista Biomecânico, os ajustes no chute devem levar a
um aumento na velocidade de propagação da bola em direção ao gol, de
acordo com Wickstrom (1975) e Lees e Nolan (1998).

Observação

- Identifique quem está sendo observado: o observado é um indivíduo


amador, logo, uma ampla variação da técnica dos erros é esperada.
Foque nos erros comuns entre as performances, de acordo com
Knudson e Morrison (2002) e McGuinnis (2002).

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- Analise as condições de análise: para indivíduos iniciantes e amadores,
a própria sessão de treinamento reflete o contexto da performance
normal, segundo Knudson e Morrison (2002) e McGuinnis (2002).

- Identifique onde observar: a maior parte dos movimentos do chute


ocorrem no plano sagital (figura 2), logo, o posicionamento do avaliador
ou da câmera deve ser ao lado do indivíduo, perpendicularmente ao
plano de movimento. Defina uma distância em relação ao indivíduo
que lhe permita uma visão da realização completa do movimento sem
requerer mudanças rápidas no olhar durante a observação. Entretanto,
para uma observação da trajetória da bola é necessário se posicionar
atrás do indivíduo, enquanto para uma análise do movimento de rotação
da pelve ao redor da perna de apoio, uma visão superior, segundo Lees
e Nolan (1998), Knudson e Morrison (2002) e McGuinnis (2002).

Figura 2 – Trajetória dos movimentos da coxa e perna durante


um chute no futebol

Fonte: adaptada de Plagenhoef (1971 apud Lees e Nolan, 1998).

82
82
- Identifique o que observar:

I. Em cada etapa do chute (aproximação, posicionamento dos pés,


preparação, balanço da perna e posição de impacto), verifique se o
corpo e seus seguimentos estão corretamente posicionados.

II. Verifique se as amplitudes e duração do movimento estão


adequadas em cada fase executada. Por exemplo, observe se:
o pé contralateral ao chute foi corretamente posicionado em
relação à bola; a perna de chute foi suficientemente levada para
trás para adquirir mais impulso; o indivíduo estava equilibrado
sobre a perna de apoio; o contato do pé com a bola coincide
com o momento da extensão quase que completa do joelho; e
se o membro de chute, após o contato com a bola, segue em
movimento para frente até o pé ultrapassar o nível do quadril.

III. Por fim, de acordo com Lees e Nolan (1998), Knudson e Morrison
(2002) e McGuinnis (2002), observe se a duração das ações e
movimentação dos segmentos que levam ao chute ocorrem em
uma sequência temporal e coordenativa, compatíveis com o
modelo idealizado para a melhor performance.

Avaliação
- Identifique os erros após avaliação do movimento baseado na
comparação entre o movimento real e o modelo teórico. A partir disso,
defina uma estratégia de correção que priorize a correção do maior
erro em relação a performance, do erro inicial ao final, e do mais fácil
ao mais complexo quanto ao tempo requerido de treinamento para a
correção. Por exemplo, de acordo com Lees e Nolan (1998), Knudson
e Morrison (2002) e McGuinnis (2002), se o indivíduo demostrar erros
de posicionamento do pé de apoio e de elevação da coxa da perna
de chute após a fase de balanço, inicie com a correção relacionada
ao posicionamento do pé, que consiste em uma fase precedente à
movimentação da coxa para frente e para cima. Instrução

 83
- Informe ao indivíduo sobre os erros cometidos e proponha as correções
baseadas no modelo ideal de maneira progressiva. Por exemplo,
considerando os erros observados na etapa de avaliação em relação
ao posicionamento do pé e a movimentação da coxa após o balanço
do membro inferior, oriente o indivíduo a realizar repetidamente essas
ações. Entretanto, de maneira que o foco do indivíduo seja mantido
prioritariamente na ação primária, e que a evolução técnica seja
direcionada para a ação secundária. Quando ambas as ações atingirem
o nível técnico desejado, aumente progressivamente a velocidade do
movimento completo buscando aumentar a velocidade de deslocamento
da bola após o contato. Finalmente, de acordo com Lees e Nolan (1998),
Knudson e Morrison (2002) e McGuinnis (2002), retome todos os passos
anteriores em ordem a monitorar a evolução da proficiência técnica e
promover os ajustes finos necessários para maximizar a performance.

Nesta sessão, você estudou sobre a condução de uma análise


Biomecânica qualitativa do movimento humano, a partir de um modelo
que pode ser aplicado para melhorar a performance e reduzir o risco de
lesões relacionadas a execução de diversas habilidades ou padrões de
movimento presentes, tanto em esportes coletivos como individuais. Em
resumo, esse modelo é constituído pelas seguintes etapas: preparação
e criação de um modelo ideal de movimento para comparação;
observação da performance real do atleta ou aluno; avaliação e
identificação dos erros baseados no modelo ideal proposto; e instruir o
atleta e corrigir os erros relacionados às diferenças observadas entre a
performance real e o modelo ideal.

TEORIA EM PRÁTICA
Em ordem de aumentar a performance técnica do
arremesso de lance livre em atletas amadores de
basquetebol, você propõe conduzir uma análise
Biomecânica qualitativa do movimento. Sabendo das etapas
necessárias para a condução dessa análise, realize as
seguintes tarefas abaixo:

84
84
I. Descreva um modelo teórico ideal para a execução do
arremesso de lance livre no basquetebol, levando em conta:
• Posicionamento do corpo no momento do arremesso.
• Plano de realização do movimento.
• Altura de liberação da bola.
• Sequência apropriada dos movimentos corporais até a
liberação da bola.
• Ângulo de liberação da bola.
II. Descreva como você deverá se posicionar para observar
o movimento de arremesso.
III. Escolha dois erros comuns que poderão ser identificados
na execução da técnica do arremesso de lance livre para
fins de correção.
IV. Aponte uma alternativa de treinamento para a correção
de cada um dos erros selecionados/ verificados
anteriormente.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. Qual é a sequência apropriada de execução dos passos
envolvidos na análise biomecânica qualitativa?
a. Instrução, preparação, observação e avaliação.

b. Preparação, observação, avaliação e intervenção.

c. Observação, avaliação, correção e intervenção.

d. Preparação, avaliação, intervenção e observação.

e. Observação, preparação, instrução, avaliação.

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2. Sobre a análise biomecânica qualitativa, assinale a
alternativa correta.
a. Os erros devem ser corrigidos progressivamente, do
menor para o maior em relação à performance.

b. O planejamento de observação deve ser baseado


em quatro questões fundamentais: quem? Como?
Quando observar? O que observar?

c. São componentes da etapa de intervenção/ instrução


da análise Biomecânica qualitativa: a comunicação
com o executar, correção do erro e repetição da
análise em todas suas etapas anteriores.

d. São etapas fundamentais da avaliação biomecânica


qualitativa: o registro escalar da velocidade de
deslocamento e aceleração do corpo, assim como
das variações angulares dos seguimentos corporais
durante a execução da habilidade.

e. Ainda que a performance venha a ser comprometida


devido a limitações morfológicas do atleta, essas
limitações são corridas com o treinamento
sistematizado e prolongado.

3. Leia as afirmativas abaixo:


I. Durante a análise da técnica de um arremesso livre
no basquetebol, o observador deve se posicionar à
frente do atleta para visualizar a execução completa
do movimento.
II. Durante a análise técnica de um chute ao gol, o
observador deve se posicionar ao lado direito ou
esquerdo do executor para uma visão sagital do
movimento, e atrás do executor para uma visão da
trajetória da bola em direção ao gol.

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III. Durante a análise de um salto em distância, um
observador posicionado perpendicularmente à linha
limítrofe do salto possui um campo de visão sagital
completo para uma análise precisa das fases do salto.

Assinale a alternativa correta:


a. I e II são corretas.

b. Apenas I está correta.

c. Apenas II está correta.

d. Apenas III está correta.

e. II e III estão corretas.

Referências bibliográficas

AMADIO, A. C.; SERRÃO, J. C. A Biomecânica em Educação Física e esporte. Revista


Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 25, 2011.
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BOMPA, T. O. Periodização: teoria e metodologia do treinamento. São Paulo:
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KNUDSON, D. Fundamentals of Biomechanics. 2. ed. New York: Springer, 2007.
KNUDSON, D.; MORRISON, C. Qualitative analysis of human movement 2. ed.
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LEES, A.; NOLAN, L. The biomechanics of soccer: a review. US National Library of
Medicine. National Institutes of Health. J Sports Sci, v. 16, n. 3, 1998. Disponível em:
<https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/9596356>. Acesso em: 12 set. 2019.
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 87
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NIELSEN, A. B.; BEAUCHAMP, L. The effect of training in conceptual kinesiology
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WICKSTROM, R. L. Developmental Kinesiology: maturation of basic motor pattern.
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WILKINSON, S. Visual analysis of the overarm throw and related sport skills: training
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WILLIAMS, E. U.; TANNEHILL, D. Effects of a multimedia performance principle
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Physical Educator. v. 56, 1990.
ZATSIORSKY, V. M. Biomecânica no esporte: performance do desempenho e
prevenção de lesão. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.

Gabarito

Questão 1 - Resposta B
Os passos envolvidos na análise Biomecânica qualitativa são:
preparação e criação de um modelo ideal de movimento;
observação da performance real do atleta, ou aluno; avaliação
e identificação dos erros; e instruir o atleta e corrigir os erros
baseado no modelo ideal.
Feedback de reforço: Retorne à Leitura Fundamental para
revisar este tema e obter maior fixação quanto aos detalhes
deste conteúdo.

Questão 2 - Resposta C
A etapa de instrução/ intervenção consiste na realização de
três principais tarefas: 1) comunicação e explicação dos erros
cometidos pelo atleta; 2) orientação e implementação das
correções no movimento; e 3) repetição da análise, seguindo os
passos anteriores para monitoramento da evolução técnica da
performance.

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88
Feedback de reforço: Retorne à Leitura Fundamental para
revisar este tema e obter maior fixação quanto aos detalhes
deste conteúdo.

Questão 3 - Resposta C
I está incorreta, pois o arremesso de lance livre ocorre no plano
sagital, logo, uma visão perpendicular do observador, posicionado
na lateral correspondente à mão que o atleta executa o arremesso,
possibilitaria uma análise do movimento completo; III está
incorreta, pois o salto em distância possuí três fases importantes
que ocorrem em espaços diferentes: corrida de aproximação, salto
e aterrissagem. Dessa forma, para uma análise precisa dessas fases
seriam necessários três observadores ou câmeras, posicionados
perpendicularmente ao local de execução de cada uma das fases.
Feedback de reforço: Retorne à Leitura Fundamental para
revisar este tema e obter maior fixação quanto aos detalhes
deste conteúdo.

 89
Mecânica articular
Autor: Alex Castro

Objetivos

• Conhecer a arquitetura que constitui as articulações


do corpo humano e sumarizar suas características
de movimento.

• Apresentar os principais fatores relacionados a


estabilidade articular do ombro, cotovelo, coluna
vertebral, quadril, joelho e tornozelo.

• Sumarizar os principais aspectos que contribuem


para a sobrecarga nas articulações.

90
90
1. Arquitetura articular

Nesta sessão, você estudará sobre as estruturas articulares e as


capacidades das articulações para o movimento, assim como os fatores
relacionados a estabilidade e sobrecarga em diferentes articulações do
corpo humano.

O corpo humano é constituído por cerca de 206 ossos, que formam


aproximadamente 200 articulações, segundo Enoka ( 2000). Articulação
é o termo utilizado para designar o local da junção entre dois ossos.
Estruturalmente, as articulações podem ser classificadas conforme
previamente descrito por Enoka (2000) e Hall (2009) em:
• Articulações fibrosas: formadas por tecido conjuntivo fibroso,
possibilitam a atenuação de forças e choques exercidos entre os
ossos, porém, são praticamente imóveis. São exemplos as suturas
do crânio, a membrana interóssea entre rádio e a ulna ou entre a
tíbia e fíbula (sindesmoses).

• Articulações cartilaginosas: formadas por cartilagem de


hialina, possibilitam a atenuação de choques possibilitando
pouco movimento adjacente entre os ossos. São exemplos: as
articulações esternocostais e placas epifisárias (sincondroses),
articulações intervertebrais e sínfise púbica (sífises).

• Articulações sinoviais: são livremente móveis podendo ter de um


a três graus de liberdade, formadas por uma camada protetora
de cartilagem articular (tecido conjuntivo denso) que reveste as
superfícies ósseas articuladas, uma cápsula articular que circunda
a articulação, e uma membrana sinovial excretora de líquido
sinovial (lubrificante articular) que reveste a cápsula articular.

Essas articulações também são acompanhadas por pequenas estruturas


denominadas bolsas sinoviais e bainhas tendíneas. Enquanto as bolsas
sinoviais preenchidas por líquido sinovial separam os ossos dos tendões

 91
musculares, as bainhas tendíneas revestem os tendões. Ambas têm
como função minimizar o atrito entre os ossos e tendões durante o
movimento articular.

As articulações sinoviais podem ser do tipo (Figura 1):


• Deslizante (planas): formadas pela união entre ossos de
superfícies planas, como as articulações intermetatarsais,
intercarpais e intertarsais.

• Dobradiças (gínglimos): formada por uma superfície óssea


côncava e outra convexa, como as articulações umeroulnar e
interfalângicas.

• Pivôs (trocóides): em formato de parafusos, permitem a


rotação ao redor de um eixo, como as articulações radioulnares
proximal e distal.

• Condilares (ovóides): formada por uma superfície óssea convexa


ovóide e outra recíproca côncava, possibilitando movimentos de
extensão, flexão, abdução, adução e circundução, tais como as
articulações metacarpofalângicas e radiocarpais.

• Selares (em sela): formada por superfícies ósseas no formato


de um assento de uma sela de equitação, como a articulação
carpometarcapal do polegar. Permite movimentos similares às
condilares, porém, em menor amplitude.

• Esferóideas (bola e soquete): formadas por superfícies recíprocas


côncavas convexas, permitindo a realização de movimentos
rotacionais nos três planos de movimento. São exemplos, as
articulações do quadril e ombro.

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92
Figura 1 – Exemplos de articulações sinoviais no corpo humano

Fonte: adaptada de Hall (2009).

PARA SABER MAIS


Cápsula articular: é uma estrutura frouxa que se prende
aos ossos da articulação e pode se fundir aos ligamentos
capsulares. Sua função é manter as superfícies ósseas
articuladoras próximas, assim como separar a cavidade
articular dos demais tecidos vizinhos. Sua superfície interna
é, segundo Enoka (2000), revestida por uma membrana
sinovial que excreta líquido sinovial no interior articular,
cuja finalidade é nutrir e lubrificar a articulação.

 93
Cartilagem articular: constitui uma camada protetora
com cerca de 1 a 5 mm de espessura que reveste as
extremidades ósseas no interior da articulação. Tem como
principais funções distribuir as cargas na articulação para
reduzir o choque e estresse nos pontos de contato articular,
possibilitando os movimentos ósseos com desgastes
articulares mínimos, de acordo com Boschetti et al. (2004).
A cartilagem articular pode reduzir em 50% ou mais o
estresse de contato entre os ossos em uma articulação,
segundo Hall (2009).

Fibrocartilagem articular: são discos ou meniscos


localizados entre as superfícies ósseas, tendo como
principais funções a distribuição de cargas sobre as
superfícies articulares, melhorar a coaptação articular,
limitar movimentos de translação e deslizamento
interósseos, proteger a região periférica articular,
lubrificar e atenuar os choques mecânicos. São exemplos
os meniscos no joelho, os discos intervertebrais e o disco
da sínfise púbica, de acordo com Hall (2009), como mostra
a figura 2).

Tecido conjuntivo articular: são estruturas passivas,


constituídas, principalmente, por fibras de colágeno e
fibras elásticas que também contribuem para proteção
articular durante o movimento. Por exemplo, os tendões
que conectam os ossos aos músculos e os ligamentos que
conectam os ossos que formam uma articulação, segundo
Hall (2009).

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Figura 2 – Exemplos de fibrocartilagem na sínfise púbica (A), discos
intervertebrais (B) e meniscos no joelho

Fonte: adaptado de Hall (2009).

ASSIMILE

As articulações sinoviais permitem que os segmentos do


corpo possam rotacionar uns sobre os outros sem grandes
atritos, de maneira a transmitir força produzida pela
contração muscular entre os segmentos corporais e, assim,
viabilizar a mobilidade do esqueleto humano, segundo
Enoka (2000).

2. Movimentos articulares

A descrição dos movimentos articulares segue um sistema de planos,


eixos e termos direcionais baseados em um posicionamento anatômico
em que o corpo se encontra ereto com pés unidos, membros superiores
ao lado do corpo e palmas das mãos voltadas para frente. O plano
sagital divide o corpo em partes esquerda e direita. Os movimentos,
nesse plano, ocorrem ao redor de um eixo horizontal perpendicular ao
plano, como a flexão e a extensão.

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O plano frontal (ou coronal) divide o corpo em partes anterior (ventral) e
posterior (dorsal). Os movimentos, nesse plano, ocorrem ao redor de um
eixo ântero-posterior perpendicular ao plano, como a adução e abdução.
O plano transversal divide o corpo em partes superior e inferior. Os
movimentos, nesse plano, ocorrem ao redor do eixo longitudinal do
osso, como a rotação medial-lateral, e pronação-supinação, segundo
Rasch (2012). Os principais movimentos e suas amplitudes para as
grandes articulações do corpo humano estão no quadro 1.

Quadro 1 – Movimento das grandes articulações do corpo humano


Superfícies Amplitude
Articulação Movimento Referência
articuladoras de movimento
Flexão 180°
Glenoumeral, Extensão 45-50°
acromioclavicular, Abdução 180°
Ombro
esternoclavicular e Adução 30-40°
escapulotorácica. Sacco e
Rotação interna 75-80°
Tanaka (2008)
Rotação externa 60-70°
Umeroulnar. Flexão-extensão 145°
Cotovelo Pronação 75-85°
Radioulnar proximal.
Supinação 85°
Flexão-extensão 110-140°
Hamill e
Coluna Tronco. Flexão lateral 75-85º
Knutzen (2012)
Rotação 90°
Flexão 120-125°
Extensão 10-15°
Cabeça do fêmur Abdução 30-45°
Quadril Hamill e
e acetábulo. Adução 15-30°
Knutzen (2012)
Rotação interna 30-50°
Rotação externa 30-50°
Flexão-extensão 130-145°
Rotação interna 30-35° Sacco e
Joelho Tibiofemoral.
Rotação externa 40-50° Tanaka (2008)
Abdução-adução <6° Enoka (2000)
Tibiotalar, fibulotalar Dosiflexão 20°
e tibiofibular. Flexão plantar 50° Hamill e
Tornozelo
Subtalar. Inversão 20-32° Knutzen (2012)
Subtalar. Eversão 4-6°
Fonte: Rasch (2012).

96
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3. Estabilidade articular

A estabilidade articular é a capacidade de uma articulação em resistir


o movimento anormal de um osso em relação ao outro, de maneira
a evitar luxação articular e/ ou lesão das estruturas musculares,
ligamentares e capsulares, que suportam a articulação. Essa estabilidade
é conferida pela congruência óssea, tensão passiva dos ligamentos e,
principalmente, pela tensão ativa dos músculos ao redor da articulação
que garantem a estabilidade dinâmica durante os movimentos e será
apresenta a seguir, de acordo com Hall (2009).

3.1 Estabilidade articular do ombro

A estabilidade dinâmica da articulação do ombro é conferida,


principalmente, pela ação de diversos músculos. Os músculos do
manguito rotador são compostos pelos músculos supra-espinhal,
subescapular, infra-espinhal, redondo menor e tendão da cabeça
longa do bíceps, que são responsáveis por manter a coaptação da
cabeça do úmero na cavidade glenoidal. Já o músculo deltoide, atua
na compressão da cabeça do úmero contra o arcoacromial, mantendo
o membro superior vinculado ao esqueleto axial. Adicionalmente, os
músculos subescapular e cabeça longa do bíceps são responsáveis pela
estabilidade articular anterior, enquanto os músculos infra-espinhal e
redondo menor estabilizam posteriormente a articulação, de acordo
com Sacco e Tanaka (2008).

3.2 Estabilidade articular do cotovelo

A articulação do cotovelo é bem estável em função de sua junção


articular entre úmero e ulna sendo do tipo dobradiça (tróclea).
Lateralmente, a articulação é estabilizada pelos ligamentos colaterais
ulnar e radial. Anteriormente, a estabilização é conferida pelos
ligamentos anterior e oblíquo anterior, juntamente ao olecrano da
ulna, que impedem a hiperextensão. Enquanto isso, o ligamento anular

 97
e a membrana interóssea promovem a estabilidade da articulação
radioulnar. Em situações de forças de tração longitudinal na articulação
do cotovelo, a estabilização é promovida pela ação dos músculos tríceps
braquial, bíceps braquial, braquial, braquiorradial e músculos inseridos
no antebraço originados nos epicôndilos medial e lateral (Sacco e
Tanaka, 2008).

3.3 Estabilidade articular da coluna vertebral

A coluna vertebral é estabilizada por três sistemas: passivo, composto


por ligamentos espinhais, cápsulas articulares, vértebras e discos
intervertebrais; muscular ativo, composto por músculos menores que
controlam a postura e a movimentação entre as vértebras, e músculos
superficiais maiores que movimentam a coluna e transferem as cargas
vindas do tórax para a pelve; e feedback nervoso, promovido pelo
controle neural dependente das demandas impostas à estrutura da
coluna. Os principais músculos relacionados a estabilidade da coluna
vertebral são: o transverso do abdome, que aumenta a pressão intra-
abdominal e a rigidez da coluna em situações inesperadas ou de
sobrecarga; o multífido, que mantem atividade continua nas posições
eretas, promovendo ajustes sutis em cada vértebra durante qualquer
variação na postura; o eretor da espinha, responsável pela orientação
da coluna devido a sua capacidade de produzir a extensão; e o oblíquo
interno do abdome, que atua conjuntamente ao transverso do abdome
para aumentar a pressão intra-abdominal e reduzir a compressão sobre
as vértebras, de acordo com Hamill e Knutzen (2012).

3.4 Estabilidade articular do quadril

Na articulação do quadril, os ligamentos, cápsulas articulares, fáscias


e músculos são de grande importância para a estabilidade articular.
Durante o movimento, a coaptação entre a cabeça do fêmur e a
fossa acetabular é promovida, principalmente, pelos músculos pelve-
trocantéricos (com origem na pelve e inserção no trocânter maior do

98
98
fêmur), cujas fibras são direcionadas transversalmente na mesma
direção do eixo do acetábulo. A estabilidade ântero-posterior do quadril
é assegurada pelo equilíbrio na tensão existente entre a musculatura
extensora e flexora, enquanto retroversão e anteversão pélvicos são
limitados pelos ligamentos anteriores e ação dos músculos posteriores,
respectivamente. Já a estabilidade latero-lateral é conferida pela
musculatura adutora e abdutora (especialmente o glúteo médio),
evitando a queda da pelve para um dos lados durante o apoio do
membro inferior, segundo Sacco e Tanaka (2008).

3.5 Estabilidade articular do joelho

A estabilidade da articulação do joelho é conferida por elementos


passivos (cápsula articular, ligamentos, bolsas sinoviais e meniscos)
e ativos (músculos). A cápsula articular impede a ocorrência de
movimentos excessivos do fêmur e da tíbia, permitindo somente uma
pequena anteriorização, posteriorização e rotação do fêmur sobre a
tíbia. A cápsula articular é suportada anteriormente pelo ligamento e
tendão patelares, latero-medialmente pelos ligamentos colaterais tibial
e fibular, respectivamente, e, posteriormente, pelo ligamento transverso
do joelho e músculo poplíteo. Adicionalmente, a cápsula articular é
ausente entre o tendão do músculo quadríceps e a face anterior do
fêmur, onde se encontram a patela e o ligamento patelar. Isso possibilita
a criação de bolsas sinoviais supra e infrapatelares pela membrana
sinovial, cujas funções são minimizar o atrito entre as estruturas
adjacentes durante o movimento. Os meniscos, por sua vez, aumentam
a estabilidade articular por compensarem a pobre congruência óssea
entre fêmur e tíbia.

Interiormente à cápsula articular estão os ligamentos cruzado anterior e


cruzado posterior, que limitam a anteriorização da tíbia nos movimentos
de extensão e hiperextensão do joelho. Devido a posição cruzada
desses ligamentos, também controlam a rotação medial sem limitar a
rotação lateral. Externamente à cápsula articular estão os ligamentos

 99
colaterais tibial e fibular, que contribuem para manter a estabilidade
latero-lateral e limitar a hiperextensão do joelho devido às suas origens
no epicôndilo do fêmur e inserção na face anterior da tíbia e cabeça da
fíbula, respectivamente. Em situações de sobrecarga articular intensa, a
estabilidade latero-lateral do joelho é reforçada pela ação do músculo
tensor da fáscia lata lateralmente e músculos da pata de ganso (sartório,
semitendíneo e grácil) medialmente. Finalmente, o quadríceps femoral
contribui para estabilizar a articulação mantendo a posição patelar
durante o movimento, em oposição a oscilações unilaterais, cruzadas e
contralaterais, como afirmam Sacco e Tanaka (2008).

3.6 Estabilidade do tornozelo

A estabilidade articular do complexo do tornozelo ocorre,


principalmente. pela proteção ligamentar e muscular sobre duas
articulações, segundo Norkin e Levangie (2001): articulação talocrural
(junção entre a pinça formada pelos maléolos lateral e medial com
o osso tálus); e articulação subtalar (junção entre os ossos tálus e
calcâneo). Somada à congruência oferecida pelo encaixe do tálus à
pinça maleolar, três complexos ligamentares garantem a maior parte
da estabilidade do tornozelo, de acordo com Dubin et al. (2011): i)
ligamentos da sindesmose como os ligamentos tibiofibulares anterior
e posterior, e os ligamentos interósseos que garantem a estabilidade
da articulação tibiofibular distal, segundo Norkin e Levangie (2001);
ii) ligamentos laterais, cuja estabilidade é conferida pelos ligamentos
talofibular anterior e calcaneofibular, que atuam na resistência ao
movimento de inversão do tornozelo durante a flexão plantar e o
ligamento talofibular posterior, que atua na limitação do deslocamento
posterior e rotação interna do tálus durante a dorsiflexão, segundo
Dawe e Davis (2011) e Dubin et al. (2011); e iii) ligamentos mediais
(ligamento deltoide), cuja função de suas porções superficiais é fornecer
maior restrição à abdução e translação lateral do tálus, prevenindo a
eversão excessiva do retropé, enquanto sua porção profunda fornece
maior restrição ao deslocamento talar, de acordo com Dawe e Davis

100
100
(2011) e Tanaka e Mason(2011). Adicionalmente, a estabilização dinâmica
do tornozelo é suportada pela ação muscular, comumente dividida em
quatro compartimentos principais: anterior (tibial anterior e extensores
do hálux e artelhos), lateral (fibulares longo e curto), posterior superficial
(gastrocnêmios e sóleo) e posterior profundo (flexores longos dos
artelhos, flexores longos do hálux e tibial posterior), de acordo com
Hamill e Knutzen (2012).

4. Cargas impostas às articulações

Durante o movimento, a forças resultantes da ação da gravidade


sobre os segmentos corporais promovem cargas mecânicas sobre
as articulações. Quanto maior a magnitude dessas cargas, maior a
probabilidade de lesão. Dessa forma, é importante compreender alguns
fatores que contribuem para o aumento da sobrecarga nas diferentes
articulações do corpo humano, segundo Hall (2009).

Na articulação do ombro, as cargas geradas na articulação glenoumeral


aumentam quando o cotovelo está estendido, aumentando o braço de
alavanca em relação ao eixo articular. Para a articulação do cotovelo,
as forças de compressão articular são maiores durante a extensão do
que na flexão. Isso se deve à inserção do tríceps braquial, à ulna que é
mais próxima ao centro articular do cotovelo, comparada às inserções
dos músculos braquial na ulna e bíceps braquial no rádio. Dessa
forma, o braço de alavanca extensor é menor que o flexor, obrigando
os músculos extensores a gerarem mais força para a produção de um
mesmo torque articular, comparado aos músculos flexores do cotovelo,
de acordo com Hall (2009).

Em relação à coluna vertebral, as cargas aumentam progressivamente


da posição deitada para ereta, sentada, em pé com flexão de tronco e
sentada com o tronco relaxado/ flexionado. Como a linha de gravidade
que incide sobre o corpo passa anteriormente à coluna, há um torque
aplicado constantemente para frente, tendendo à flexão do tronco,

 101
solicitando a ação muscular antagonista extensora. Contudo, em
função dos músculos espinhais possuírem um pequeno braço de
alavanca, precisam gerar forças em grande magnitude para equilibrar
os torques produzidos pelo peso dos segmentos corporais ou de
objetos sustentados à frente da coluna, o que aumenta a sobrecarga
nas articulações vertebrais e estruturas teciduais adjacentes. Por
essas razões, é recomendado manter a curvatura lombar sem flexão
durante tarefas de agachar e levantar, manter próximo ao corpo objetos
que serão manualmente suspensos ou transportados, e aumentar a
pressão intra-abdominal por meio da contração muscular. Essas ações
possibilitarão a redução dos torques em flexão gerados sobre a coluna,
assim como aumentarão a rigidez intra-abdominal produzindo uma
força de tensão contrária às forças compressivas, segundo Hall (2009).

No quadril, as principais cargas aplicadas sobre a articulação são devido


ao peso corporal e forças exercidas pelos músculos abdutores, que
coaptam a cabeça do fêmur no acetábulo. Dessa forma, o aumento da
sobrecarga axial ou da velocidade de movimento implicam em maiores
cargas sobre os quadris. Para os joelhos, além das cargas impostas
sobre a articulação tibiofemoral em função da sustentação do peso
corporal, há o aumento da compressão patelar quando o ângulo de
flexão aumenta. À medida que a flexão do joelho aumenta, o quadríceps
é requerido a produzir maior tensão para a manutenção da posição
corporal, aumentando a compressão patelar. Por essa razão, exercícios
como agachamento com cargas elevadas devem ser cuidadosamente
conduzidos, conforme Hall (2009).

Considerando o complexo do tornozelo e pé, estes estão sujeitos


durante a locomoção às cargas impostas pelo peso corporal e das forças
de reação do solo, cuja magnitude é dependente da aceleração imposta
sobre o corpo e seus segmentos. Cerca de 50% da carga imposta
pelo peso corporal é distribuída ao longo da articulação subtalar e do
calcâneo, enquanto os demais 50% são dissipados ao longo das cabeças
dos metatarsos. Vale destacar que a arquitetura do pé pode afetar
essa distribuição de cargas. Enquanto o pé plano tende a reduzir a
sobrecarga no antepé, o pé cavo tende a aumentar, segundo Hall (2009).

102
102
Nesta leitura, você estudou os tipos de articulações do corpo humano
(articulações fibrosas, cartilaginosas e sinoviais). Conheceu em detalhes a
arquitetura das articulações sinoviais, constituídas por cápsula articular,
cartilagem articular, fibrocartilagem e tecido conjuntivo. Aprendeu sobre
as funções dessas articulações, que incluem: permitir que os segmentos
corporais rotacionem uns sobre os outros, transmitir a força produzida
pela contração muscular entre os segmentos corporais e viabilizar a
mobilidade do esqueleto humano. Além disso, foram sumarizados
os principais movimentos articulares das maiores articulações do
corpo, assim como apresentado brevemente os fatores relacionados
a estabilidade articular e às cargas impostas sobre as articulações do
ombro, cotovelo, coluna vertebral, quadril, joelho e tornozelo.

TEORIA EM PRÁTICA
Você está em uma sala de musculação e um de seus clientes
vem até você e reporta estar sentindo dores na coluna
diariamente, após a sessão de treinamento. Então você o
questiona se possuí alguma patologia na coluna. O cliente
menciona que passou por exames médicos recentemente
e não possuí nenhuma patologia diagnosticada, além
das dores na coluna que sente frequentemente após o
treinamento. Com este cenário, você começa a observar
a sessão de treinamento desse cliente e observa que ele
realiza todos os exercícios com boa postura e consciência
corporal. Entretanto, você também nota que todas as vezes
que ele necessita pegar no chão algum halter ou barra livre
com pesos, ele o faz realizando a flexão da coluna e conclui
o levantamento dos pesos com os braços estendidos.
Baseado nisso, o que você acredita que esteja acontecendo
com seu cliente? Quais orientações você poderia dar a
ele para melhorar seu quadro de dor? Como ele poderia
executar melhor os movimentos de levantamento dos
pesos na sessão de treinamento? Justifique suas respostas.

 103
VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. Em relação às funções da cartilagem articular, analise as


afirmações e assinale a alternativa correta:

I. Aumenta a congruência das extremidades dos ossos


na articulação.

II. Diminui o atrito entre os ossos em uma articulação.

III. Auxilia na atenuação e absorção de choques


mecânicos durante o movimento.

a. I e II são corretas.

b. I e III são corretas.

c. II e III são corretas.

d. Somente II está correta.

e. Somente I está correta.

2. Em relação à articulação do joelho, analise as afirmações


e assinale a alternativa correta:

I. Os ligamentos colaterais, tibial e fibular, contribuem


para manter a estabilidade latero-lateral e limitar a
hiperextensão do joelho.

II. É uma articulação do tipo esferóidea.

III. O aumento da flexão do joelho concomitantemente


ao aumento da tensão do quadríceps, requerida
para a manutenção da posição corporal, aumenta a
compressão patelar.

104
104
a. I e II são corretas.

b. II e III são corretas.

c. I e III são corretas.

d. Somente II está correta.

e. Somente III está correta.

3. Considerando as cargas impostas sobre as articulações,


analise as afirmações como verdadeiras (V) ou falsas (F) e
assinale a alternativa que contém a sequência correta.
( ) Na coluna vertebral, as cargas aumentam
progressivamente da posição sentada com o tronco
relaxado/ flexionado para sentado, ereta com flexão
de tronco, e ereta.
( ) Parte da sobrecarga experienciada pela coluna
vertebral é provocada pela ação dos próprios
músculos espinhais que, devido ao seu pequeno
braço de alavanca, necessitam gerar forças em
grande magnitude para equilibrar os torques
produzidos pelo peso dos segmentos corporais.
( ) A linha de gravidade que incide sobre o corpo passa
anteriormente à coluna.
( ) O aumento da pressão intra-abdominal durante o
movimento aumenta a sobrecarga da coluna.

a. V-V-F-F.

b. V-F-F-V.

c. F-V-F-F.

d. V-F-V-F.

e. F-V-V-F.

 105
Referências bibliográficas

BOSCHETTI, F. et al. Biomechanical properties of human articular cartilage under


compressive loads. US National Library of Medicine. National Institutes of Health.
Biorheology, v. 41, n. 3-4, 2004. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/
pubmed/15299249>. Acesso em: 13 set. 2019.
DAWE, E. J. C.; DAVIS, J. Anatomy and biomechanics of the foot and ankle. v. 25,
n. 4, 2011.
DUBIN, J. C. et al. Lateral and syndesmotic ankle sprain injuries: a narrative
literature review. US National Library of Medicine. National Institutes of Health.
J Chiropr Med, v. 10, n. 3, 2011. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/
pubmed/22014912>. Acesso em: 13 set. 2019.
ENOKA, R. M. Bases neuromecânicas da Cinesiologia. 2. ed. Barueri: Manole, 2000.
HALL, S. Biomecânica básica. 5 ed. Barueri: Manole, 2009.
HAMILL, J.; KNUTZEN, K. M. Bases Biomecânicas do movimento humano. 3 ed.
Barueri: M.anole, 2012.
NORKIN, C. C.; LEVANGIE, P. K. Articulações estrutura e função, uma abordagem
prática e abrangente. 2 ed. São Paulo: Ravinter, 2001.
RASCH, P. J. Cinesiologia e anatomia aplicada. 7 ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2012.
SACCO, I. C. N.; TANAKA, C. Cinesiologia e Biomecânica dos complexos
articulares. 1 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
TANAKA, H.; MASON, L. Chronic ankle instability. Orthopaedics and trauma, v. 25,
n. 4, 2011.

Gabarito

Questão 1 - Resposta C
A afirmação I está incorreta, pois o aumento da congruência óssea
é determinado anatomicamente pelas superfícies ósseas em
contato, e não pela cartilagem articular.
Feedback de reforço: Você assinalou a alternativa incorreta! Tente
mais uma vez, se ainda for possível.

106
106
Questão 2 - Resposta C
A afirmação II está incorreta, pois o joelho é uma articulação
sinovial do tipo dobradiça ou gínglimo.
Feedback de reforço: Você assinalou a alternativa incorreta! Tente
mais uma vez, se ainda for possível.

Questão 3 - Resposta E
A primeira afirmação é falsa (, pois as cargas aumentam
progressivamente da posição deitada para ereta, sentada, em pé
com flexão de tronco e sentada com o tronco relaxado/ flexionado.
A quarta afirmação está incorreta, pois, durante o movimento, o
aumento da pressão intra-abdominal produz uma força de tensão
contrária às forças compressivas.
Feedback de reforço: Você assinalou a alternativa incorreta! Tente
mais uma vez, se ainda for possível.

 107
Métodos para prevenção de
lesões musculares durante o
treinamento
Autor: Alex Castro

Objetivos

• Conhecer a incidência de lesões durante o


treinamento e prática esportiva.

• Conhecer os principais tipos de lesão durante o


treinamento e a prática esportiva, seus fatores de
risco e mecanismos associados.

• Conhecer métodos preventivos clínicos e


biomecânicos relacionados a prevenção de lesões
durante o treinamento e a prática esportiva.

108
108
1. Incidência de lesões

Nesta leitura fundamental, você estudará sobre a epidemiologia


das lesões durante o treinamento e prática esportiva, assim como
os principais tipos de lesão, e seus fatores de risco e mecanismos
associados. Além de estudar os métodos preventivos clínicos e
biomecânicos, comumente utilizados para a prevenção de lesões
durante o treinamento e a prática esportiva.

Sob uma perspectiva epidemiológica, é complexo determinar a


incidência de lesões ortopédicas durante o treinamento ou competição
esportiva. Isso se deve ao fato de que a ocorrência dessas lesões
é dependente do tipo de treinamento, do esporte praticado, da
especificidade da população analisada, dos grupos musculares e
articulações envolvidos. Isso significa dizer que fatores de risco diversos
podem impactar diferentemente sobre a incidência de lesões. Portanto,
não há um estudo capaz de fornecer dados precisos sobre a incidência
de lesões na população geral ou mesmo em todos os esportes, haja
vista, também que muitas ocorrências se quer são oficialmente
registradas, segundo Zatsiorsky (2004), Asperti et al.(2017).

Entretanto, estudos prévios demonstram que, no Brasil, entre todas


as lesões incidentes durante a prática esportiva envolvendo atletas
amadores, as mais comuns estão relacionadas aos ligamentos do
tornozelo (12-18%), ao ligamento cruzado anterior (10-13%), fraturas
dos dedos (8,9%), fraturas por estresse da tíbia (6,2%), deslocamento
glenoumeral (4,8%), entre outras (48,6%), de acordo com Rosa et
al.(2014) e Asperti et al. (2017).

PARA SABER MAIS


No Brasil, durante a prática esportiva são esperadas
13,13 lesões para cada 1000 atletas expostos ou uma
lesão a cada quatro jogos de equipes, contendo vinte

 109
participantes, segundo Asperti et al. (2017), levando o atleta
ao afastamento da competição por período médio de
onze semanas quando há a necessidade de tratamentos
conservadores ou cirúrgicos, segundo Rosa et al. (2014).
Esses dados demonstram a importância em prevenir a
ocorrência das lesões esportivas, a fim de minimizar o
tempo de afastamento dos atletas da competição.

Cerca de 50% dos atletas amadores brasileiros que praticam vôlei,


handebol, basquetebol, futebol, softbol, atletismo, rugby, polo aquático
e artes marciais (judô e karatê), já experienciaram alguma lesão, de
acordo com Rosa et al. (2014). A taxa de lesões em relação a diferentes
modalidades esportivas, no contexto do treinamento ou da competição,
pode ser conferida na figura 1. Observe que a taxa de lesões na
competição tende a ser superior àquelas registradas durante as sessões
de treinamento, segundo Asperti et al. (2017).

Figura 1 – Taxa de lesões por modalidade esportiva, em atletas de uma


Universidade brasileira no ano de 2013

110
110
Fonte: adaptada de Asperti et al. (2017).

ASSIMILE
Em esportes como futsal, voleibol, handebol, basquetebol,
futebol, softbol, atletismo, rugby, polo aquático, judô
e karatê, a maior ocorrência de lesões é registrada
durante a competição, sendo os membros inferiores mais
frequentemente acometidos (58-68% das ocorrências),
envolvendo, principalmente, lesões ligamentares nos
tornozelos e de ligamento cruzado anterior nos joelhos, ed
acordo com Asperti et al. (2017).

2. Tipos de lesões

Lesão é um dano sofrido pelos tecidos do corpo e causado por trauma


físico ou sobrecarga. Em geral, as lesões podem ser de dois tipos,
segundo Whiting e Zernicke (2001): lesões agudas, que são resultantes

 111
de alta magnitude de carga aplicada ao corpo; e lesões crônicas,
que são decorrentes do acúmulo de microtraumas promovidos por
cargas repetidas aplicadas ao corpo por longo prazo, podendo levar
progressivamente a condições degenerativas ou ainda a lesões agudas.
Embora cada lesão seja única, nunca sendo exatamente igual a outra,
há uma classificação sugerida em relação à gravidade de lesões
ligamentares para fins clínicos, conforme pode ser observado no Quadro
1, de acordo com Leadbetter (1994) e Whiting e Zernicke (2001).

Quadro 1 – Classificação das lesões ligamentares

Acometimento Déficit de
Graduação Gravidade Grau Exame
estrutural desempenho
Nenhuma lesão
visível, apenas
localmente Mínimo - uns
1 Leve Primeiro Negligenciável
sensível e poucos dias.
articulação
estável.
Até
Tumefação visível, seis semanas
hipersensibilidade (pode ser
2 Moderada Segundo Parcial acentuada, modificado
articulação +/- por um
estabilidade. dispositivo
protetor).
Tumefação
acentuada,
Indefinido,
hipersensibilidade
mínimo
3 Grave Terceiro Completo intensa, postura
de seis a
antálgica,
oito semanas.
articulação
instável.
Fonte: adaptado de Leadbetter (1994 apud Whiting e Zernicke, 2001).

Adicionalmente, há uma infinidade de lesões que podem variar


de acordo as regiões e estruturas do corpo afetadas. Isso torna a
apresentação de todas as lesões uma missão quase que impossível, por
isso, a seguir serão citadas somente as lesões mais comuns a diferentes
grupos articulares, segundo Hall (2009):

112
112
• Ombro: luxação da articulação glenoumeral, devido a frouxidão
ligamentar e fraqueza muscular; lesão do manguito rotador,
devido a compressão progressiva dos tendões dos músculos
envolvidos contra estruturas ósseas e outros tecidos que são
comuns em atletas que realizam movimentos intensos com
os braços acima da cabeça; e lesões rotacionais, promovendo
lacerações na cavidade glenoidal, nos músculos do manguito
rotador e no tendão do bíceps braquial devido a movimentos
rotacionais forçados do ombro como no saque do tênis e
voleibol. Cotovelo: luxação devido a hiperextensão forçada,
causando o deslocamento posterior do processo coronóide da
ulna em relação à troclear do cotovelo levando a ruptura parcial
dos ligamentos anteriores; e lesões por uso excessivo como
epicondilite, em função de inflamação ou microtrauma na face
lateral da região distal do úmero, que é comumente chamada de
cotovelo de tenista.

• Coluna vertebral: lombalgias (dores) acometendo, principalmente,


a região lombar (70% dos casos); lesões dos tecidos moles, devido
a contusões, distensões e entorses ligamentares provocadas
por um golpe sofrido ou sobrecarga imposta aos músculos,
principalmente, da região lombar; fraturas por estresse como
a espondilólise (fratura entre os processos articulares superior
e inferior do arco vertebral) e espondilolistese (deslocamento
anterior de uma vértebra em relação à vértebra imediatamente
inferior, provocada por fratura bilateral completa entre os
processos articulares superior e inferior do arco vertebral),
comumente atribuídas à pratica de atividades e esportes que
envolvem hiperextensão repetida da coluna lombar; e hérnias
de disco, que são caracterizadas por uma protusão (geralmente
posterior) do núcleo pulposo para além do anel fibroso que
compõem o disco intervertebral, comprimindo estruturas
nervosas e causando dor e limitações de movimento.

 113
• Quadril: fraturas do colo do fêmur, uma lesão grave que acomete,
principalmente, idosos com osteoporose; contusões dos músculos
da face anterior da coxa, comum em esportes de contato;
distensões dos músculos ísquiotibiais comuns durante situações
de fadiga, quando a coordenação está comprometida, envolvendo
corridas de alta velocidade.

• Joelho: lesões (rupturas) do ligamento cruzado anterior comuns


em esportes que envolvem rotação em torno do próprio
eixo, mudanças bruscas de direção e fintas como recurso de
drible; ruptura do ligamento cruzado posterior, comum em
esportes e acidentes automobilísticos devido ao impacto contra
o painel do automóvel; lesões do ligamento colateral tibial,
devido a choques sofridos por contato físico na face lateral
do joelho sobrecarregando a face medial; lesões meniscais,
geralmente, associadas a lesões nos ligamentos colaterais tibiais
(que se inserem no menisco medial) e ligamentos cruzados
anteriores (que compromete a distribuição normal das cargas,
principalmente, sobre no menisco medial); condromalácia patelar
ou síndrome da dor patelofemoral, que é caracterizada por
uma lateralização patelar durante o movimento associada a dor
durante ou após atividades físicas que envolvem flexão repedida
do joelho (corridas, agachamentos, subir escadas etc.); e síndrome
do estresse tibial medial, caracterizada pela dor na face anterior
da tíbia provocada por microdanos na inserção muscular da tíbia
ou inflamação no periósteo, sendo comum em atividades que
requerem impacto repetitivo como múltiplos saltos.

• Tornozelo: entorses em inversão, acometendo, principalmente,


os ligamentos da face lateral e anterior do tornozelo (talofibular
anterior e calcaneofibular); entorses em eversão, pouco comuns,
geralmente, graves, acometendo os ligamentos da face lateral
(ligamento deltóide); e lesões por uso excessivo como a inflamação
no tendão do calcâneo, geralmente, associada a atividades de
corrida e saltos.

114
114
3. Mecanismo de lesão

Os mecanismos de lesão são amplamente variados e estabelecem uma


relação de causa e efeito com a ocorrência das lesões. Dessa forma,
conhecer os mecanismos é essencial para a adoção de estratégias
efetivas de prevenção e tratamento. Basicamente, os mecanismos de
lesão podem ser classificados em, segundo Leadbetter (1994) e Whiting
e Zernicke (2001): 1) contato ou impacto; 2) sobrecarga dinâmica; 3) uso
excessivo (overuse); 4) vulnerabilidade estrutural; 5) inflexibilidade; 6)
desequilíbrio muscular; e 7) crescimento rápido.

De forma geral, o mecanismo de lesão pode ser interpretado a partir


do princípio de carga mecânica. Isso significa que quando o corpo é
exposto a cargas superiores aos limites fisiológicos suportados, aplicadas
repetidamente, a probabilidade de lesão aumenta. Adicionalmente,
também é provável a ocorrência de lesões durante a exposição a uma única
carga de grande magnitude (por exemplo, lesões de contato ou impacto)
ou a cargas pequenas repetidas várias vezes (por exemplo, lesões por uso
excessivo como tendinites e fraturas por estresse), conforme demonstrado
na figura 2, de acordo com Whiting e Zernicke (2001) e Hall (2009).

Figura 2 – Curva de probabilidade de ocorrência de lesão

Fonte: adaptada de Hall (2009).

 115
É importante ter em mente que as informações sobre os mecanismos
de lesões específicas são limitadas. Para realmente entender esses
mecanismos seria necessária uma avaliação Biomecânica laboratorial no
momento em que a lesão ocorresse, o que eticamente não seria viável.
A maior parte das informações, existentes nesse contexto, são derivadas
de simulações ou estudos de caso, teste de estruturas ligamentares em
cadáveres e modelos matemáticos preditivos. Por isso, é importante que
na falta de clareza sobre os mecanismos de lesão, o profissional esteja
atento aos fatores de risco relacionados a sua ocorrência, tais como
instabilidade articular, fraqueza ou desequilíbrios musculares, fadiga
excessiva, assim como o contexto de prática da modalidade envolvendo
o contato com o adversário, equipamentos e proteção utilizados,
segurança do ambiente, entre outros, segundo Chan et al. (2008).

Curiosamente, no estudo realizado por Asperti et al. (2017), a partir da


análise de quinze esportes, foi observado que das lesões registradas
durante a competição 52,9% são devido ao contato direto com outro
jogador, 33,3% sem qualquer contato e 13,8% devido ao contato com a
superfície de competição, bola, aparatos e o ambiente. Por outro lado,
durante o treinamento 54,5% das lesões ocorrem sem qualquer contato,
26,3% são devido ao contato com outro jogador, 18,8% são relacionadas
ao contato com a superfície de competição, bola, aparatos e o ambiente, e
0,5% possuem causas desconhecidas, de acordo com Asperti et al. (2017).
Esses resultados demonstram que lesões na competição parecem estar
relacionadas, principalmente, à competitividade entre os adversários,
expondo-os a um maior risco de lesão, enquanto que durante o
treinamento o excesso de sobrecarga e frequente exposição à prática
podem ser os principais fatores de risco para a ocorrência desses eventos.

4. Métodos preventivos

Para estabelecer estratégias eficientes de prevenção de lesão, é


necessário conhecer os mecanismos relacionados a essas ocorrências,
conforme apresentado acima e os fatores de risco associados, segundo
Chan et al. (2008).

116
116
Os fatores de risco relacionados às lesões podem ser intrínsecos,
quando relacionados ao próprio atleta, ou extrínsecos, quando
relacionados ao ambiente e contexto da prática que o atleta está
exposto, de acordo com Meeuwisse et al. (2007).

De acordo com especialistas brasileiros (fisioterapeutas, médicos e


treinadores) engajados no esporte de alto rendimento e atuação junto a
atletas de elite, os principais fatores de risco associados a ocorrência de
lesões são multifatorais e podem classificados em, segundo Saragiotto et
al. (2014):
• Fatores intrínsecos: fisiológicos/ anatômicos (histórico de lesões
prévias, anatomia do atleta, ciclo menstrual, sono inadequado,
sobrepeso e sexo feminino); nutrição (alimentação e hidratação
inadequados); técnica esportiva inadequada; comportamento/
cognição (crença sobre a necessidade de suportar a dor,
personalidade competitiva/agressiva, falta de atenção/
concentração, falta de conhecimento do atleta sobre a lesão e/ou
prevenção, estresse emocional, despreparo psicológico, falha na
comunicação técnico-atleta, falta de conhecimento e cuidado com o
próprio corpo, motivação com novidades no treinamento, prática de
outros esportes, doenças psiquiátricas e medo de se lesionar); entre
outros, como predisposição genética, tempo de prática esportiva
prolongado, e falta de formação dos atletas (educação).

• Fatores extrínsecos: equipamentos/ambiente (piso inadequado,


calçado inadequado, má condição dos equipamentos de
treinamento e peso dos equipamentos); treinamento (excesso
de treinamento, força muscular insuficiente, falta de repouso/
descanso, falta de condicionamento físico, preparação física
inadequada, instabilidade (propriocepção), déficit de flexibilidade,
fadiga, aumento súbito do treinamento, inexperiência do atleta,
alto número de competições no ano); características do esporte
(movimentos repetitivos inerentes à modalidade como mudanças
de direções, desacelerações, saltos, contato físico e movimentos
em grandes amplitudes); entre outros, como mudanças climáticas,
temperatura e má conduta do árbitro na partida.

 117
Diante desses fatores, as principais medidas preventivas comumente
utilizadas, estão relacionadas a: intervenções/recursos (fortalecimento
muscular, treino sensório-motor, alongamento, relaxamento e descanso
apropriados, aquecimento, condicionamento físico, massoterapia,
recuperação ativa, eletroterapia, hidroterapia e osteopatia); nutrição
(acompanhamento nutricional e suplementação); equipamentos (utilização
de bandagens funcionais, órteses, calçados adequados, equipamentos de
proteção, roupa adequada, e protetor bucal); técnica esportiva (correção/
ajuste da técnica de execução); e outros (avaliação fisioterapêutica
periódica, diagnóstico precoce da lesão, exames de rotina, supervisão do
ambiente, controle odontológico, e ambiente de treinamento seguro).

Por outro lado, do ponto de vista biomecânico, segundo Chan et al.


(2008), cinco ferramentas podem contribuir para a prevenção de lesões
por meio do monitoramento das condições físicas e técnicas do atleta,
tais como: avaliação da atividade e função muscular, como, por exemplo,
por meio de eletromiografia de superfície ou aplicação de testes
funcionais específicos para cada articulação/grupo muscular; avaliação
cinética de cargas e torque articulares, como, por exemplo, identificar
desequilíbrios musculares ao redor de uma articulação; avaliação
cinemática do movimento, buscando identificar deficiências técnicas e
padrões de movimento lesivos; avaliação cinestésica e proprioceptiva,
como, por exemplo, testando o senso de posicionamento articular e o
equilíbrio sobre superfícies instáveis; e monitoramento da performance
esportiva, cujo decaimento pode estar relacionado ao excesso de
treinamento ou ainda início de processos lesivos.

Nesta aula, você aprendeu que a incidência de lesões durante o


treinamento ou competição são dependentes de causas multifatoriais,
sendo o membro inferior mais frequentemente lesionado e as lesões
nos ligamentos do tornozelo e joelho as ocorrências mais comuns.
Adicionalmente, você estudou que as lesões podem ser agudas
(resultantes de alta carga/ impacto aplicados sobre o corpo) ou crônicas
(decorrentes de cargas aplicadas repetidamente ao corpo por longo

118
118
período de tempo). Dentre essas lesões, são observadas contusões,
distensões, luxações, fraturas por trauma ou estresse, tendinopatias
bursites, entorses e rupturas ligamentares.

Os principais fatores de riscos, associados a essas ocorrências,


podem ser: intrínsecos, relacionados a fisiologia/ anatomia do
indivíduo, nutrição, técnica esportiva inadequada e comportamento/
cognição; e extrínsecos, relacionados ao equipamento/ ambiente de
prática, treinamento e características do esporte. Isso enquantoos
principais mecanismos associados as ocorrências de lesões podem
ser classificadas em: contato ou impacto; sobrecarga dinâmica;
uso excessivo (overuse); vulnerabilidade estrutural; inflexibilidade;
desequilíbrio muscular; e crescimento rápido.

Finalmente, medidas preventivas clínicas podem ser tomadas


envolvendo intervenções sobre a condição física do indivíduo, orientação
nutricional, utilização de acessórios/ equipamentos protetores e
avaliação da técnica esportiva. Do ponto de vista da Biomecânica,
também podem contribuir para a prevenção de lesões a avaliação da
atividade e função muscular, da cinética de torques e cargas articulares,
da cinestesia e propriocepção, e do monitoramento da performance.

TEORIA EM PRÁTICA
Atletas profissionais de futebol são submetidos diariamente
a altas cargas de treinamento e a um calendário competitivo
que permite pouco ou nenhum tempo de descanso entre
jogo, treino e novo jogo. Nesse sentido, aponte quais são
os principais fatores de risco intrínsecos e extrínsecos
que podem estar relacionados a ocorrência de lesões na
articulação do joelho em atletas profissionais de futebol,
assim como possíveis medidas preventivas em relação a
essas lesões.

 119
VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. Considerando as lesões mais frequentes no âmbito


esportivo, assinale a alternativa correta.

a. Lesões no ombro e tornozelo são mais comuns.

b. Lesões no joelho e coluna são mais comuns.

c. Lesões no tornozelo e coluna são mais comuns.

d. Lesões na coluna e ombro são mais comuns.

e. Lesões no joelho e tornozelo são mais comuns.

2. Assinale a alternativa que apresenta os fatores


extrínsecos e intrínsecos, respectivamente, em relação a
ocorrência de lesões.

a. Treinamento e anatomia do indivíduo.

b. Fisiologia do indivíduo e ambiente.

c. Ambiente e treinamento.

d. Característica do esporte e treinamento.

e. Técnica esportiva e nutrição.

3. Assinale a alternativa correta em relação aos


tipos de lesão.

a. Lesões agudas são resultado do acúmulo de


microtraumas, promovidos por cargas repetidas
aplicadas ao corpo por longo prazo.

120
120
b. Lesões crônicas são resultado do acúmulo de
microtraumas, promovidos por cargas repetidas
aplicadas ao corpo por longo prazo.

c. Lesões agudas são resultado da aplicação de


cargas repetidas sobre o corpo, podendo levar
progressivamente a condições.

d. Lesões crônicas são resultado de alta magnitude de


carga aplicada ao corpo.

e. Lesões crônicas são provocadas por lesões agudas,


porém, lesões agudas não podem ser provocadas por
lesões crônicas.

Referências bibliográficas
ASPERTI, A. M. et al. Sports injuries among amateur athletes at a brazilian university.
Acta Ortopédica Brasileira, v. 25, 2017.
CHAN, K. M. et al. Orthopaedic sport biomechanics - a new paradigm. US National
Library of Medicine. National Institutes of Health. Clin Biomech (Bristol, Avon),
v. 23, 2008. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18054416>.
Acesso em: 13 set. 2019.
HALL, S. Biomecânica Básica. 5 ed. Barueri: Manole, 2009.
LEADBETTER, W. B. Soft tissue athletic injury. In: Sports injuries: mechanism,
prevention, treatment. Baltimore: Williams & Wilkins, 1994.
MEEUWISSE, W. H. et al. A dynamic model of etiology in sport injury: the recursive
nature of risk and causation. US National Library of Medicine. National Institutes of
Health. Clin J Sport Med, v. 17, 2007. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/
pubmed/17513916>. Acesso em: 13 set. 2019.
ROSA, B. B. et al. Epidemiology of sports injuries on collegiate athletes at a single
center. Acta Ortopética Brasileira, v. 22, 2014.
SARAGIOTTO, B. T.; DI PIERRO, C.; LOPES, A. D. Risk factors and injury prevention
in elite athletes: a descriptive study of the opinions of physical therapists, doctors
and trainers. US National Library of Medicine. National Institutes of Health. Braz
J Phys Ther, v. 18, n. 2, 2014. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/
pubmed/24845023>. Acesso em: 13 set. 2019.

 121
WHITING, W. C.; ZERNICKE, R. F. Biomecânica da lesão musculoesquelética. 1 ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001.
ZATSIORSKY, V. M. Biomecânica no esporte: performance do desempenho e
prevenção de lesão. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.

Gabarito

Questão 1 - Resposta E
No âmbito esportivo os membros inferiores constituem a região do
corpo mais frequentemente acometida (58-68% das ocorrências),
envolvendo, principalmente, lesões ligamentares nos tornozelos e de
ligamento cruzado anterior nos joelhos, segundo Asperti et al. (2017).
Feedback de reforço: Você assinalou a alternativa incorreta! Tente
novamente, se ainda for possível.

Questão 2 - Resposta A
São fatores de risco intrínsecos os aspectos fisiológicos/
anatômicos do indivíduo, nutrição, técnica esportiva inadequada,
aspectos comportamentais e cognitivos; e fatores extrínsecos
os equipamentos e o ambiente de prática, o treinamento e as
características do esporte.
Feedback de reforço: Você assinalou a alternativa incorreta! Tente
novamente, se ainda for possível.

Questão 3 - Resposta B
Lesões agudas são resultantes de alta magnitude de carga aplicada
ao corpo, enquanto lesões crônicas são decorrentes do acúmulo de
microtraumas promovidos por cargas repetidas aplicadas ao corpo
por longo prazo, podendo levar progressivamente a condições
degenerativas ou ainda a lesões agudas, de acordo com Whiting e
Zernicke (2001).
Feedback de reforço: Você assinalou a alternativa incorreta! Tente
novamente, se ainda for possível.

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