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Corregedoria Nacional de Justiça

MANUAL DE
BENS APREENDIDOS

2011
Corregedoria Nacional de Justiça

APREENSÃO DE DINHEIRO

Registre-se, inicialmente, que não há crime (fato típico) ou infração ad-


ministrativa na mera posse de elevada quantidade de dinheiro. Ainda, a apreen-
são e a declaração de perdimento só poderem ser feitas com base legal, é a regra
do art. 5º, inc. II, da CF (princípio da legalidade). Assim, não pode a apreensão
ser feita sem motivo, porque isto seria um verdadeiro confisco, proibido pela
Constituição (art. 5º, inc. XLV) e repelido pela jurisprudência.

Ocorre que, a Autoridade Policial, por vezes, toma conhecimento de


que em poder de algum suspeito ou mesmo de qualquer pessoa do povo, foi
encontrada elevada soma em dinheiro. Por exemplo, em uma revista de rotina,
encontra com o motorista de um veículo R$ 50.000,00, em espécie, sem que
ele justifique a origem da verba. Paira grande dúvida se há ou não algum cri-
me. É possível, também, que ocorra a apreensão de dinheiro encontrado com
uma pessoa suspeita da prática de crime. Por exemplo, um funcionário público
que responde ações penais por corrupção e recebe R$1.500,00 de vencimen-
tos mensais, colide com outro veículo e, no exame de seu carro, encontra-se
a quantia de R$80.000,00, em espécie, acondicionada debaixo do banco. Há
uma forte suspeita de origem ilícita. Outra hipótese será a do Delegado de
Polícia que, cumprindo mandado de busca e apreensão judicial, encontrar na
residência de um suspeito da prática de tráfico de entorpecentes, U$40.000,
em cédulas. Há um juízo provisório de que a verba é produto de crime ou se
destina a lavagem de dinheiro.

Apreendido o numerário pela Autoridade Policial, recebido em Juízo,


feito o exame das notas, se necessário, deve ser providenciado o depósito em
conta judicial vinculada ao processo.

Mesmo não havendo crime, eventualmente, poderá haver infração ad-


ministrativa, hipótese em que a Autoridade Policial poderá fazer a apreensão,
ainda que por outros fundamentos, mas sempre com a necessária base legal.
Ocorrerá infração administrativa no caso de alguém tentar ingressar no País
ou dele sair, com mais de R$10.000,00, sem Declaração de Porte de Valores
(DPV). Nesta hipótese, independentemente da caracterização ou não de um
crime (que dependerá igualmente do restante da investigação), os valores su-
periores a dez mil reais poderão ser confiscados, na forma do art. 65, § 3º, da
Lei 9.069/95. Consequentemente, o Delegado de Polícia poderá lavrar auto
de apreensão da referida quantia, informando o Superintendente do Banco
Central no Estado, para a instauração do processo administrativo pertinente.
Ocorrendo tal situação, a via processual adequada seria o interessado ingressar
em Juízo com Mandado de Segurança. Mas, por se tratar de matéria pouco

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NACIONAL
DE JUSTIÇA

estudada, é possível que ele encaminhe pedido de restituição ao Juiz Criminal.


Nesta hipótese não há o que deferir, porque se trata de apreensão de natureza
exclusivamente administrativa.

Além disso, para quem se disponha a aprofundar-se na matéria, indica-


se consulta à Carta Circular 3.098, de 11.6.2003, do Banco Central do Brasil
(BACEN), que, nos itens I e II obriga as instituições financeiras a comunicar
ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) depósito, saque e
provisão de saque, em espécie, no valor igual ou superior a R$100.000,00, o que
representa tentativa de monitorar movimentações em espécie de valor signi-
ficativo. Esta cautela do administrador encontra-se na linha do entendimento
de que isso seria algo usual em uma atividade criminosa. Evidentemente, nem
toda, ou nem sequer a maioria dessas movimentações, tem natureza crimino-
sa. Todavia, é um mecanismo de controle interessante sobre a movimentação
bancária, sem que represente nenhuma sanção para o autor.

Finalmente, registra-se que os valores apreendidos em moeda nacional


devem ser depositados na Caixa Econômica Federal ou em outra instituição fi-
nanceira nos Estados que, eventualmente, utilizem serviços de outro estabeleci-
mento bancário, em conta judicial vinculada ao processo. Caso não haja posto
bancário no prédio-sede da Justiça, os valores deverão ser levados pela Polícia
Federal ou Polícia Civil (conforme seja a Justiça Federal ou Estadual) quando
ainda na fase investigativa, ou por oficial de justiça, na ação penal, acompanha-
do da estrutura de segurança compatível com o volume e o valor das cédulas.

Os valores em moeda estrangeira constritos fora da rede bancária devem


ser remetidos ao Banco Central do Brasil do mesmo modo que a moeda na-
cional (pela Polícia, quando na investigação, ou por oficial de justiça, na ação
penal, este último acompanhado por esquema de segurança compatível com
o volume e o valor). Quando não houver sede do Banco Central do Brasil no
Município, a moeda estrangeira apreendida poderá ser remetida à agência mais
próxima do Banco do Brasil, a qual realiza a conversão da moeda, deposita o
numerário em conta vinculada e remete a moeda estrangeira ao Banco Central
do Brasil.

Na Justiça Federal, há disposições específicas na Resolução n. 428/2005, do


Conselho da Justiça Federal.

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