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Os “programas de adequação” foram crescendo e ganhando inúmeras formas conforme a área em

que eram implementados, sem, contudo, perder sua essência: o dever de estar em conformidade
com regras, normas, regulamentos internos e externos a fim de mitigar riscos no cumprimento das
obrigações às áreas respectivas.

Verificamos assim que o compliance possui em sua essência três características básicas:
a) obrigatoriedade de adequação da empresa às leis e demais comandos normativos, bem como aos
regulamentos internos e externo;
b) essa adequação deve visar a diminuição de riscos no tocante ao cumprimento das normas
jurídicas; e
c) o processo resultará em maior segurança e sinergia interna, eficiência, produtividade, aumento da
qualidade da governança corporativa e maior credibilidade, transparência e bom relacionamento
perante terceiros. Conforme analisado pelo suscinto histórico do instituto e pelo sensível
crescimento nas últimas décadas o direito tributário não fugiu à regra e também foi abarcado pelo
compliance.

Seguindo a mesma linha de raciocínio pela qual definimos o compliance “latu sensu”, poderíamos
conceituar o compliance tributário como sendo a atribuição de estar em acordo e conformidade com
as normas jurídicas tributárias de todas espécies, diretrizes, regulamentos internos e externos com o
objetivo precípuo de diminuir os ricos de se incorrer em situações que se caracterizem ofensas às
questões tributárias.

Dentro do compliance tributário inúmeras são as atribuições que devem estar em conformidade,
constituindo-se objeto dos programas, tais como o pagamento de tributos, o cumprimento de
obrigações acessórias, guarda de arquivos digitais, monitoramento de Certidões Negativas de
Débito de Tributos Estaduais, Federais e Municipais, controle da correta emissão e armazenamento
de arquivos XML (Extensive Markeup Language, em inglês, que é uma linguagem de marcação
utilizada para na seara tributária para a geração da Nota Fiscal Eletrônica), maior interação entre os
departamentos jurídico, contábil e fiscal de uma empresa, uso constante de auditorias, entre outros.

Embora tenha sido implementado também nas últimas décadas, o compliance tributário foi objeto
de inúmeros estudos durante o Séc. XX. O foco era o custo que gerava a adequação dos
contribuintes à tributação.

O primeiro autor de que se tem notícia na literatura jurídico-tributária que tenha abordado
especialmente o compliance foi o Prof. Robert M. Haig, da Columbia University (1935) que
juntamente com James W. Martin (1944) propuseram a ideia segundo a qual “there is evidence of
considerable (compliance) cost that don’t vary significantly in size of the tax bill.” Aprofundando
no tema, Martin chega a explicar a dificuldade de se separar de forma acurada o que seriam custo de
adequação (compliance costs) e demais despesas, como custos de planejamento etc.

No decorrer dos anos verifica-se o crescimento da produção doutrinária acerca do compliance


tributário como podendo-se citar, à guisa exemplificativa, os trabalhos publicados nos Estados
Unidos por Yocum (1961), Muller (1963) e Wicks and Killworth (1967). Já no Canadá, o primeiro
trabalho sobre o tema é realizado por Bryden (1963). Tais estudos caracterizam-se por abarcar o
tema do compliance latu sensu e não apenas o compliance taxation. Afirmam que os custos de
compliance não são diretamente proporcionais à responsabilidade (capacidade) de pagar tributos ou
à renda tributável, mas sim são regressivos por natureza, eis que economias de escala
provavelmente ocorram. Os estudos citados também enfatizaram as diferenças que podem ocorrer
no tocante ao compliance tributário, tendo em vista o federalismo, uma vez que nos países que
adotam essa forma de Estado, as políticas fiscais estaduais são diferentes, o que faz com que os
custos de adequação tributária cresçam nas trocas comerciais efetuadas de um ente federativo para
outro.

Enquanto os estudos sobre o compliance tributário cresciam na América do Norte, o mesmo pode-se
dizer na Europa. O primeiro grande estudo europeu sobre o tema foi realizado na então Alemanha
Ocidental por Strumpel (1966) que quantificou o compliance para os pequenos negócios, chegando
ao ponto de levantar a hipótese de uma carga psicológica que poderia afetar os custos de adequação.

Mas o grande divisor de águas no campo do compliance tributário ocorreu no início da Década de
70 com os estudos capitaneados do Cedric Sandford, da Universidade de Bath, no Reino Unido. As
pesquisas realizadas pelo Centro de Estudos Fiscais da Unidade geraram a publicação por Sandford,
Godwin e Hardwick em 1989 sobre a matéria, que passou a analisar o compliance tributário nos
seus variados campos e aspectos, divisões, classificações etc.

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