Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
19-25808 CDU-343:33
Índices para catálogo sistemático:
1. Ética negocial e compliance : Direito penal econômico 343:33
Maria Paula C. Riyuzo - Bibliotecária - CRB-8/7639
Ética negocial e compliance
Entre a educação executiva e a interpretação judicial
Eduardo Saad-Diniz
ISBN 978-85-5321-411-2
Ceci y Agus
Prefácio
Con Eduardo Saad mantengo una continua conversación desde hace años
sobre el sentido político criminal de la responsabilidad penal de las personas
jurídicas y los programas de cumplimiento normativo. Nuestras charlas tienen
lugar generalmente en espacios académicos, pero también en lugares inusita-
dos. Probablemente nuestra conversación más interesante y enriquecedora fue
la que tuvo lugar hace un par de años en el aeropuerto de Sao Paolo mientras
esperábamos nuestros respectivos aviones. El tema de la conversación giró en
torno a una idea de nuestro admirado William Laufer: compliance paternalism.
El problema que subyace a esta expresión es si la estructura de los programas
de cumplimiento que hemos importado de los Estados Unidos se adapta a
las realidades latinoamericanas y europeas: ¿nos sirve en nuestro contexto
económico y jurídico un tipo de cumplimiento que se ha generado pensando
en la gran empresa americana? Mi respuesta y estoy seguro también que la de
Eduardo es que no.
Nuestras empresas son muy diversas a la sociedad abierta – pública – nor-
teamericana que es la que ha servido de modelo para diseñar los elementos y
la estructura de los programas de cumplimiento. Sin embargo, y pese a ello,
nuestros legisladores, empresas y la industria del cumplimiento se han inspi-
rado fundamentalmente en las Directrices para sancionar organizaciones, las
famosas Guidelines. La realidad empresarial europea y latinoamericana está
plagada de pequeñas empresas y empresas cotizadas donde muchas veces el
capital mayoritario está en manos de una familia; son cotizadas pero no tan
abiertas o públicas. En realidad aquí lo público es el Estado, presente en la
economía a través de las empresas estatales, que tienen un peso enorme en las
economías de Latinoamérica, y presente en Europa en la vida económica a través
del gasto público que caracteriza al Estado Social. La contratación pública sigue
siendo la parte más grande de la tarta por la que compiten empresas privadas,
que no podrían sobrevivir sin el gasto público. No debería olvidarse tampoco
8 Ética negocial e compliance
PREFÁCIO ................................................................................................. 7
INTRODUÇÃO............................................................................................ 13
CAPÍTULO I
ÉTICA NEGOCIAL
CAPÍTULO II
COMPLIANCE
CONCLUSÃO.............................................................................................. 197
1. “The real difficulty is with the vast wealth and power in the hands of the few and
the unscrupulous who represent or control capital. Hundreds of laws of Congress
and the state legislatures are in the interest of these men and against the interests
of workingmen. These need to be exposed and repealed. All laws on corporations,
on taxation, on trusts, wills, descent, and the like, need examination and extensive
change. This is a government of the people, by the people, and for the people no longer.
It is a government of corporations, by corporations, and for corporations” (Diary and
Letters of Rutherford Bichard Hayes (1922-1926), (11.03.1888) grifos do autor).
14 Ética negocial e compliance
2. AKERLOF, George; SHILLER, Robert. Phising for phools: the economics of manipu-
lation and deception. Princeton: Princeton Press, 2015. p. 01 e ss.
3. Veja-se o interessante DORAN, Peter. Breaking Rockefeller: the incredible story of the
ambitious rivals who toppled an Oil Empire. New York: Penguin, 2016. p. 03 e ss.
4. CHERNOW, Ron. The house of Morgan: an American Banking Dynasty and the rise
of modern finance. Nova Iorque: Grove, 1990. p. 03 e ss.; sobre as articulações entre
J. p. Morgan e Theodore Roosevelt, HELFERICH, Gerard. An unlikely trust: Theo-
dore Roosevelt, J.P. Morgan and the improbable partnership that remade American
Business. Connecticut: Guilford, 2018. p. 11 e ss.
5. MORRIS, Charles. The Tycoons: how Andrew Carnegie, John Rockefeller, Jay Gould,
and J. p. Morgan invented the American Supereconomy. New York: Henry Holt, 2005.
p. 10 e ss.
Introdução 15
6. VERHOFSTADT, Guy. Mark Zuckerberg has lost control of Facebook. Project Syn-
dicate. 29.11.2018.
7. MARCUZZI, Stefano; TERZI, Alessio. Are Multinationals eclipsing Nation States?.
Project Syndicate. 01.02.2019.
8. A partir daqui a influência das ideias progressistas de William Laufer é inequívoca
neste livro, LAUFER, William. The missing account of Progressive Corporate Cri-
minal Law. New York University Journal of Law and Business, v. 14, p. 01-60, 2017.
Mais sobre, SUNSTEIN, Cass. A new Progressivism. Stanford Law and Policy Review,
16 Ética negocial e compliance
v. 17, 2006. p. 197 e ss.; vejam-se também as reflexões de PUTNAM, Robert. Bowling
alone: the collapse and revival of American Community. New York: Simon&Schuster,
2000. p. 180 e ss.
9. BENSON, Lee et al. (Org.). Knowledge for social change: Bacon, Dewey, and the
revolutionary transformation of research universities in the Twenty-First Century.
Philadelphia: Temple Press, 2017. p. 02 e ss.
10. McLEAN, Bethany; ELKIND, Peter. The smartest guy in the room: the amazing rise
and scandalous fall of Enron. 2. ed. London: Penguin, 2013. p. 313 e ss.
11. STENNER, Karen; HAIDT, Jonathan. Authoritarianism is not a momentary mad-
ness, but an eternal dynamic within liberal democracy. In: SUNSTEIN, Cass (Org.).
Can it happen here? Authoritarianism in America. New York: HarperCollins, 2018.
p. 175-220.
Introdução 17
e gestão12. Mais radical e talvez sem fundamento seja acreditar, como ele, que
acabar com os programas de educação executiva resolveria o problema13. Muito
mais do que convencimento racional ou práticas pedagógicas “revolucioná-
rias”, é necessário alterar as práticas sociais e submetê-las ao constante crivo
da avaliação científica. A mudança de comportamento ético empresarial é a
mudança mensurada desse comportamento. A métrica desse comportamento
pode gerar evidências científicas que permitam, a um só tempo, melhor manejar
o juízo moral (moral reasoning) e os limites do comportamento antiético, e
formular, com recurso à “imaginação moral”14, referências para a estruturação
normativa do comportamento prossocial na empresa.
É impressionante a qualidade investigativa de Duff McDonald, em “The
Golden Passport”15. O mesmo autor do best-seller “The Firm: the story of
McKinsey and its secret influence on American Business”, dedicou extraor-
dinário esforço de pesquisa para demonstrar certo vazio na formação da ética
negocial, reduzida à condição de mera “forma de retórica” nas instituições de
ensino, que se esmeram em “treinar pessoas para, em situações de ambigui-
dade, tomar a informação imperfeita, resultados incertos, prazos apertados
e formular a estratégia de ação da forma mais efetiva, eficiente e poderosa o
possível”, sem que a compreensão do comportamento ético se preste às di-
mensões trágicas da criação de extraordinárias inovações e destruir o planeta
a uma só vez16.
12. “How do we encourage just enough leadership? For starts, let’s stop the dysfunctional
separation of leadership from management. We all know that managers who don’t
lead are boring, dispiriting. Well, leaders who don’t manage are distant, disconnected.
Instead of isolating leadership, we need to diffuse it throughout the organization, into
the ranks of managers and beyond. Anyone with an idea and some initiative can be a
leader. Like those guys in the IBM story” (MINTZBERG, Henry. Enough Leadership.
Harvard Business Review, v. 11, 2004. Veja-se, também: STEWART, Matthew. The
management myth: debunking modern business philosophy. New York: WWNorton,
2009. p. 43 e ss.).
13. “Unhappy the land that has no heroes, says a character in a Bertolt Brecht play. No,
replies another. Unhappy the land that needs heroes. It’s time to bring management
and leadership back together and down to earth” (MINTZBERG, Henry. Enough
Leadership… op. cit.).
14. JOHNSON, Mark. Moral imagination: implications of cognitive science for ethics.
Chicago: Chicago Press, 1993. p. 244 e ss.; WERHAENE, Patricia. Moral imagination
and management decision making. New York: Oxford Press, 1999. p. 89 e ss.
15. McDONALD, Duff. The Golden Passport: Harvard Business School, the limits of capi-
talism, and the moral failure of the MBA elite. New York: Harper Collins, 2017. p. 02.
16. McDONALD, Duff. The Golden Passport… op. cit., p. 03.
18 Ética negocial e compliance
agressivo, mais justo e com estratégias mais claras para compartilhar os bene-
fícios do negócio com a comunidade.
Assim como se acredita ser possível encontrar na convergência entre éti-
ca e criminologia econômica espaço fértil para desenvolver um pensamento
crítico e criativo. Há muito a se aprender com as convergências entre o pensa-
mento criminológico e a ética negocial, aportando-se avanços no campo das
motivações do comportamento ético e uma mais refinada compreensão das
estruturas organizacionais. Dessa convergência, espera-se endereçar a centra-
lidade das evidências científicas para dar conta da difícil tarefa de assegurar
que os programas de compliance sejam, de fato, a expressão de uma cultura de
integridade sensível às organizações sociais do contexto em que se produzem.
Espera-se que dessa convergência também se possa extrair uma concepção das
formas jurídicas menos arraigadas à mentalidade coercitiva e mais voltadas à
estruturação de postura cooperativa, reservando-se a intimidação e os meca-
nismos sancionatórios ao comportamento corporativo socialmente danoso20.
Apesar do diálogo constante com a literatura existente na área, a ideia é
que se encontrem neste livro referências para a formação básica em educação
executiva e uso cotidiano na interpretação judicial dos programas de complian-
ce. A interpretação judicial dos programas de compliance deve ser vista como
um processo de evolução de sentido a partir de práticas sociais, submetidas
à avaliação científica de sua efetividade. O processo de interpretação deve
levar em consideração a idoneidade da experimentação e da aprendizagem
organizacional, buscando soluções inovadoras e novas construções sociais,
mudanças constantes a partir da identificação e superação de erros, e sempre
sob a inequívoca resolução metodológica do uso de métricas de modificações
substanciais do comportamento ético. Ao menos é assim que se propõe que o
estudo da convergência entre ética empresarial e compliance permita reconhecer
o papel dos programas de compliance, não apenas na prevenção às infrações
econômicas, mas como central no desenvolvimento efetivo da ética negocial
no ambiente empresarial.
Por isso é que este livro não deve se esgotar em si mesmo, melhor seria se
fosse tomado apenas enquanto uma organização do conhecimento da área, com
vistas à melhoria do padrão de autocompreensão teórica dos programas de com-
pliance a partir das teses de ética negocial. Se for assim, é bastante provável que
possa servir de revisão didática dos fundamentos da ética negocial, orientando a
análise das consequências teóricas trazidas pelos problemas práticos. O caráter
interdisciplinar e de formação básica para a aplicação prática pode ser aprovei-
tado por diversos profissionais no mercado, especialmente em treinamentos in-
-company de compliance21, sobretudo a partir de demandas concretas de atuação
profissional na estruturação e implementação de programas de compliance com
base em evidências científicas sobre o que efetivamente funciona (what works).
A estrutura básica do livro divide-se em duas partes. Na primeira, serão dis-
cutidos os fundamentos e algumas das aplicações práticas dos fundamentos da
ética negocial. Na segunda, são organizados conceitualmente os estudos sobre
os programas de compliance e, servindo de orientação didática para aplicação
prática, serão discutidos alguns dos principais instrumentos da tecnologia de
compliance. Em cada um dos tópicos, houve preocupação em situar a discussão
a partir de revisão sistemática, análise do estado da questão e avaliação crítica
das principais formas de se extrair evidências científicas, inserindo-as como
fator decisivo na educação executiva e na interpretação judicial.
Que este livro seja recebido como estímulo à autoavaliação, que validada
cientificamente, poderia recuperar a confiança pública na colaboração entre
empresa e Estado. Assim como no provocativo manifesto de Joseph Stiglitz,
Amartya Sen e Jean-Paul Fitoussi “se mensurarmos a coisa errada, estamos
inclinados a fazer a coisa errada”22. Uma vez organizados os estudos de ética
negocial, espera-se que este livro permita orientar a atuação de todos os en-
volvidos nos negócios, superando a linha meramente defensiva, a euforia dos
“produtos” da indústria de compliance e resgatando a ideia democrática de que
os negócios têm um propósito (sense of purpose). Em futuros desdobramentos,
espera-se uma síntese mais definitiva do papel das corporações na formação
do Brasil e histórica econômica brasileira. Da mesma forma, a seleção de casos
encontra-se em andamento para novo projeto editorial, complementando o
referencial deste livro.
21. Não apenas a lei anticorrupção põe ênfase em treinamentos. Recentemente, a Lei
13.303/2016 obriga as empresas públicas e sociedades de economia mista à realização
de treinamentos.
22. STIGLITZ, Joseph; SEN, Amartya; FITOUSSI, Jean-Paul. Mismeasuring our lives:
why GDP doesn´t add up. New York: The New Press, 2010. p. 23 e ss.
Capítulo I
Ética Negocial
3. ROHR, John. To run a Constitution: the legitimacy of the Administrative State. Kansas:
Kansas, 1986. p. 55 e ss.
4. “Whether government should protect, promote, develop, or regulate enterprise was
at issue from the earliest period of our history. For pragmatic and practical Americans,
whatever worked was best. So from the outset there was little reflection about the
proper role of business in the new society. Abundant resources, an unlimited frontier,
and a population liberated from the shackles of outmoded doctrines transformed
the society into a model of enlightened self-government. However, now that this
transformation has taken place we can no longer enjoy the luxury of not worrying
about the appropriate role of government in the economy. In a mature society, which
is fully developed economically, the choices available are fewer and the risk of error
greater. History can tell us how we got to where we are and give us some clues as to
where we could be going. But only conscious, deliberate decisions about the choices
that lie ahead can succeed in building upon the good fortune that has made us what
we are as a nation. The authors believe that recent efforts toward regulatory reform
are part of a much larger historical process of swings between generally pro-business
and antibusiness policies. Nevertheless, we believe that new, positive steps must be
taken to build a closer, less adversarial relationship between business and govern-
ment, while still protecting the public from the hazards of industrialism. If no new
insights are gained, historical forces will take over, generating a swing back in the
direction of re-regulation of the economy. Conscious choices must be made at this
time if we are to protect the gains of economic development that we have inherited
from the past” (SIGLER, Jay; MURPHY, Joseph. Interactive corporate compliance.
New York: Quorum, 1988. p. 5-6).
5. SAMPSON, Anthony. The seven sisters: the great oil companies & the world they
shaped. New York: Viking, 1975; BLAIR, John. The control of oil. Dublin: Springer,
Ética Negocial 25
1976; ENGLER, Robert. The brotherhood of oil: energy policy and the public interest.
Chicago: Chicago Press, 1977.
6. “The stability of a ruling social class existing within a compact market created in
Britain the basis for business self-regulation. In America, however, a federal system
superimposed upon wider social tensions and a larger market diverted conflict into
the formal channels of official policymaking. The British courts and Parliament sanc-
tioned loose combinations and restrictive practices which, despite the great merger
wave, sustained the comparatively greater control of family firms and modest-scale
enterprise. The illegality of the same legal forms in America weakened the influence
of small business and encouraged the triumph of managerially centralized, giant cor-
porations in the same merger movement. On the whole, then, the factors facilitating
the British consensus toward nonintervention ensured that the law merely followed
the interests of the established business group. The broad-based conflicts driving
the American demand for government action, however, fostered the displacement
of the old business order by a new one, capable of much greater domination. Yet the
British failure to develop vertically integrated corporate structures reinforced the
belief that underdeveloped managerial centralization contributed to the nation’s
relative economic decline” (FREYER, Tony. Regulating big business: antitrust in Great
Britain and America (1880-1990). Cambridge: Cambridge Press, 1992. p. 11).
7. “During the seventy years following World War I, the change in America was generally
less pronounced. By 1920 the dissipation of the market tensions driving small busi-
ness resistance coincided with the triumph of managerial capitalism. Throughout the
1920s and 1930s segments of both large and small business cooperated in a campaign
against antitrust. By the start of World War II the old antagonism revived, though
throughout the remainder of the century it was episodic. Gradually, American’s
greater preoccupation with economic efficiency and consumer welfare eclipsed the
moralistic concerns reflected in republican values. During the economic contraction
of the 1970s and 1980s the emphasis upon efficiency dominated federal antitrust
policies and court decisions. Meanwhile, the increased antitrust prosecutions of state
attorney generals represented a return to the older antitrust tradition. Whether the
state statutes were the harbingers of a more vigorous era of antitrust response to big
business was unclear. Nonetheless, that any change would fundamentally shake the
commitment to economic efficiency was doubtful” (FREYER, Tony. Op. cit., p. 10).
26 Ética negocial e compliance
liberdade de associação, que aos indivíduos deve ser assegurada por lei quando
ameaçados pela violência de poderosos, pode, ao abrigo da lei, tornar-se uma
nova tirania”, “ainda mais inclinada a abuso de poder”. Consequência disso é
que o empresariado britânico já não podia mais fazer frente ao poder cada vez
mais ostensivo do Corporate America8.
Essa oposição entre os modelos britânico e o norte-americano na “era for-
mativa” do Corporate America tem o claro propósito histórico de estabelecer os
limites da valoração abstrata da ética negocial, demandando uma dimensão mais
realista do comportamento ético. Ética não se reduz à postura principialista tão
comum à prateleira de “missões e valores” dos programas de compliance, como
se fossem uma nuvem de valores a pairar sobre os negócios, sem repercutir na
tomada de decisão das organizações empresariais; antes disso, é prática real,
a ética negocial se expressa a partir das decisões concretamente tomadas no
cotidiano empresarial. Ética é ética em relação específica com algo.
Contudo, basta apontar que nesse período de transição entre o final do
Século XIX e início do Século XX, como contraponto aos efeitos deletérios da
agressividade dos grandes oligopólios, originou-se o que se conhece como a “Era
Progressista” (Progressive Era). É nesse período histórico que se identificam as
iniciativas mais significativas de estruturação normativa de um Estado capaz
de preservar as condições econômicas que pudessem “conduzir” (conducive)
a racionalidade e o crescimento das corporações9. Surgem aqui também as
primeiras iniciativas federalistas de caráter regulador, “fundindo o poder do
setor privado com a legitimidade e autoridade do setor público”10, cuja con-
sequência histórica foi a consolidação das estruturas político-econômicas do
Corporate America11.
as soon as another Solon or Demosthenes came along. But the names of Rockefeller,
Morgan, Vanderbilt, Gould, Carnegie, and various others came to be almost uni-
versally known, frequently respected and often feared. These leaders were known
as kings, barons, or princes of their industries. But it was a feudal nobility, worthy
of the days of King Stephen. They combined foresight, boldness, courage, driving
force, and executive ability with greed, avarice, cruelty, trickery, and ruthlessness.
The fight for mastery was a rough and tumble affair where no holds were barred,
and any form of mayhem was considered proper” (SHANNON, Fred. The rise of
great monopolies. MATERSON, Thomas; NUNAN, Carlton. Ethics in business. New
York: Pitman, 1969. p. 3).
12. Longamente, McCRAW, Thomas. Prophets of regulation: Charles Francis Adams,
Louis D. Brandeis, James M. Landis, Alfred Kahn. Cambridge: The Belknap, 1984.
p. 1 e ss.
13. FREYER, Tony. Op. cit., p. 325; em sentido similar, valendo-se à leitura criminológica
de “etiquetamento” (labeling approach), FELD, Barry. Op. cit., p. 237.
14. “Thus, antitrust constraints often encouraged each nation’s business to adopt more
effective management structures. The failure rate of post-war mergers, like that of
earlier periods, suggested that improved managerial organization was not alone
enough to avoid problems associated with adapting the corporate order to changing
times. A comparison of the British and American response to big business indicated
nonetheless that effective management was essential to the process of adjustment.
The contribution antitrust made to this process was first to limit cartels as a via-
ble business form” (FREYER, Tony. Op. cit., p. 333. Curiosamente, enquanto nos
EUA se dava ênfase ao reforço punitivo do antitruste, regulando a concentração do
mercado notadamente com o Sherman Act (1890), na Alemanha os esforços estive-
ram concentrados na persecução à cartelização, culminando posteriormente com
a Kartellverordnung (1923), SCHMOECKEL, Mathias; MAETSCHKE, Matthias.
Rechtsgeschichte der Wirtschaft. 2. ed. Tübingen: Mohr Siebeck, 2016. p. 292-293.
28 Ética negocial e compliance
15. “Management guru Peter Drucker once suggested that scientific management ‘may
well be the most powerful as well as the most lasting contribution America has made
to Western thought since the Federalist Papers. Perhaps, but it was certainly one of
the most important developments in the emergence of managerial power, one that
was wrested away not just from labor but from capital itself. Taylorism stripped wor-
kers of both knowledge and power, and handed control of the productive processes
over to professional managers. And to professional consultants, of which Taylor was
one of the first, although the fledgling management consulting industry later found
its greatest success by inversting Taylorism, focusing its efforts not on the bottom
of the organizational pyramid, as Taylor had done, but on the top”. McDonald não
deixa de fazer menção à sátira de Charlie Chaplin ao taylorismo em Tempos Moder-
nos. McDONALD, Duff. The golden passport: Harvard Business School, the limits
of capitalism, and the moral failure of the MBA elite. New York: Harper Collins,
2017. p. 39-41. Posteriormente, criticou-se a instrumentalização da racionalização
científica para a formação das estruturas burocráticas e cumplicidade corporativa
que moveram as atrocidades da Segunda Guerra Mundial, CERASSI, Alejandro.
Arbeit macht frei! El trabajo y su organización en el fascismo. Barcelona: El Viejo
Topo, 2004. p. 347 e ss.; a analogia com o Holocausto é frequentemente utilizada
em referência ao “cataclisma do ambiente de trabalho”, comumente utilizada para a
crítica à organização burocrática, STEIN, Howard. Nothing personal, just business:
a guided journey into organizational darkness. Westport: Quorum, 2001. p. 79 e ss.
16. Segundo McDonald, Edwin Gay expressa sua formação inspirada na “Jovem Escola
Histórica Alemã”, liderada por Gustav von Schmoller, quem teria lhe convencido de
que a gestão corporativa deveria ser concebida a partir da interrelação entre psicolo-
gia, ética, história, ciência política, de tal forma que a organização econômica deve
ser considerada como parte da vida social e, enquanto tal, passível de ser submetida
à avaliação ética, McDONALD, Duff. Op. cit., p. 21.
17. TAYLOR, Frederik. The principles of scientific management. New York: Harper&Brothers,
1911. Para uma leitura crítica, KIECHEL, Walter. The management century. Harvard
Business Review, 11/2012.
Ética Negocial 29
24. McNAMARA, Robert. In retrospect: the tragedy and lessons of Vietnam. New York:
Vintage, 1995. p. 319 e ss.
25. Veja-se o monumental MANN, Michael. The sources of social power. Cambridge:
Cambridge Press, 2012. v. 1-4.
26. “Since 2007 the scale of the financial crisis has placed that relationship between
democratic politics and the demands of capitalist governance under immense strain.
Above all, this strain has manifested itself not in a crisis of popular participation, or
the ultimate control of policy by elected leaders, but in a crisis in the political parties
that have historically mediated the two. [...] After September 15, 2008, avoiding
another Lehmann became an idée fixe of crisis managers around the world. They
make up the timeline of narration and history. They define anniversaries, triggering
debate and reexamination. Given the turmoil of the early twentieth century, the
early twenty-first century is crowded with centennials. In 2014 came the biggest of
them all: the centennial of 1914. Commemoration and discussion of the outbreak
of World War I was attended with profound interest around the world. And they did
so against the backdrop of conflict in Ukraine and East Asia that made the lessons of
1914 seem particularly pertinent. In a less literal way, 1914 may also be a good way
for thinking about the kind of historical problem that the financial crisis of 2008
represents. There is a stiking similarity between the questions we about 1914 and
2008” (TOOZE, Adam. Crashed: how a decade of financial crises changed the world.
New York: Penguin, 2018. p. 615).
27. CHANDLER JR, Alfred D. Scale and scope: the dynamics of industrial capitalism.
Cambridge: The Belknap, 1999. p. 130 e ss.
32 Ética negocial e compliance
28. “That’s where HBS came in. Companies suddenly needed managers not just to run
the production and distribution mechanisms, but also to monitor and coordinate the
two, planning and allocating resources for future production. The larger the firm,
the more operating units, and the more managerial oversight required. The era of
the professional manager, a character who was neither owner nor labor, but who
nevertheless was suddenly sitting on a power base all his own, had begun. (Or at
least the era of the respectable manager. Historian James Hoopes points out that the
1850 U.S. census reported 18.859 Americans earning their living as slave overseers,
the largest group of salaried managers in the world at the time)” (McDONALD, Duff.
Op. cit., p. 14-15).
29. Para uma problematização a respeito, ABEND, Gabriel. The moral background: an
inquiry into the history of business ethics. Princeton: Princeton, 2014. p. 10 e ss.
30. BRAITHWAITE, John; DRAHOS, Peter. Global business regulation. Melbourne:
Cambridge Press, 2000. p. 88 e ss.
31. BRAITHWAITE, John. Enforced self-regulation: a new strategy for corporate crime
control. Michigan Law Review, 80/1982, p. 1466-1507; as ideias originais se expan-
diram em AIRES, Ian; BRAITHWAITE, John. Responsive regulation: transcending
the deregulation debate. New York: Oxford Press, 1992
32. BRAITHWAITE, John. The new regulatory state and the transformation of crimino-
logy. British Journal of Criminology, v. 40, 2000, p. 225.
Ética Negocial 33
33. PARKER, Christine. The open corporation: effective self-regulation and democracy.
Cambridge: Cambridge Press, 2002. p. 2.
34. LAUFER, William. Inautenticità del sistema della responsabilita degli enti e giudizio
di colpevolezza. In: CENTONZE, Francesco et al. (Org.). La responsabilità penale
degli enti. Bologna: Il Mulino, 2016. p. 26-27.
35. PARKER, Christine. The open corporation..., cit., p. 3.
36. Tal qual interpretamos LAUFER, William. Corporate bodies and guilty minds. Chicago:
Chicago Press, 2006. p. 3 e ss.
34 Ética negocial e compliance
37. SAFATLE, Vladimir. Junta financeira comanda o Brasil e impõe ditames a toque de
caixa. Folha de S. Paulo, 14.10.2016; CAMPOS, Pedro Henrique Pedreira. Estranhas
catedrais: as empreiteiras brasileiras e a ditadura. Rio de Janeiro: Eduff, 2018; na
Argentina, VERBITSKY, Horacio; BOHOSLAVSKY, Juan Pablo (Org.). Cuentas pen-
dientes: los cómplices económicos de la dictadura. Buenos Aires: Siglo Veintiuno,
2013.
38. O acerto de contas histórico com a cumplicidade corporativa foi adiado porque
estrategicamente não era conveniente enfrentar o poder das corporações já desde o
início da transição democrática. A proposta de uma “Justiça de Transição corporativa”,
tomando por base as experiências comparadas com as reparações da escravidão nos
EUA, no pós-Guerra na Alemanha, e nos casos sul-africano e argentino e demons-
trando a certa coincidência entre esquemas de financiamento corporativo da Ditadura
Ética Negocial 35
40. Amplamente sobre, BOWIE, Norman. Business ethics: a Kantian perspective. 2. ed.
Cambridge: Cambridge Press, 2017, p. 82 e ss.
41. FREEMAN, Edward et al. Stakeholders theory: the state of the art. New York: Cam-
bridge Press, 2010. p. 6.
Ética Negocial 37
Brasil costuma não passar de adereço nas empresas, que não apenas não motiva
novos comportamentos como também representa tão pouco sentido às pessoas
que interagem nas organizações empresariais. Lembra a ideia de que seriam
dois mundos, um em que se mantém a postura protocolar do código de ética,
e outro, “o que deve ser levado a sério”, das obrigações cotidianas na empresa,
da performance, dos resultados e metas a serem atingidas.
É preciso muito mais do que a situação convencional em que nos encon-
tramos. A especulação filosófica é inadequada, limitada a noções abstratas do
bom-mocismo alheias ao cotidiano da empresa, falta referencial sociológico
para a compreensão dos valores e decisões, as aproximações behavioristas
reproduzem a lógica utilitária do comportamento ético e as suposições já
bastante desacreditadas sobre a “escolha racional” (rational choices). Nem
sempre o comportamento ético é orientado por uma articulação consistente
de juízos morais, tampouco ou é sempre estritamente racional ou orientado
por incentivos de comportamento, como se fôssemos “criaturas terrivelmente
racionais”42 ou as corporações fórmulas fechadas e redutíveis à estrutura bu-
rocrática de funcionamento43.
Na doutrina jurídica, já desde a “Fundamentação da Metafísica dos Costu-
mes”, de Kant, a juridificação do conflito deixa de conduzir o problema moral
às formas jurídicas, recolocando a cisão entre dever moral e dever jurídico
na exata medida em que elimina, por meio das formas jurídicas, a dimensão
dramática dos conflitos humanos na construção social do sentido44. Na inter-
pretação dos programas de compliance, essa representação alienante das formas
jurídicas tem se sustentado na produção de teses sobre infração de dever no
contexto empresarial, pressupondo autonomia e capacitação para cumpri-
mento do dever. O comportamento ético na empresa, e com ele a propensão
ao cumprimento do dever, remonta a dimensões muito mais complexas do
comportamento humano, desde a configuração psicológica da subjetividade
das pessoas, passando pela construção da personalidade das organizações
empresariais, até novas percepções e dimensão do comportamento orientadas
pela agência moral (moral agency), curso da vida (life course) e emoções.
42. TESSMAN, Lisa. When doing the right thing is impossible. Oxford: Oxford Press: 2017.
p. 64.
43. RADD, John. Morality and the ideal of rationality in formal organizations. The Monist,
54/1973, p. 488-516.
44. TEUBNER, Günther. Juridification and Disorder. In: TEUBNER, Günther (Org.).
Juridification of social spheres: a comparative analysis in the areas of labor, corporate,
antitrust and social welfare law. Berlin: De Gruyter, 1987. p. 24.
38 Ética negocial e compliance
45. COADY, C. A. Messy morality: the challenge of politics. Oxford: Oxford Press, 2008.
46. “The remedy [...] lay in legal reforms: in regulating contracts to render them more
just; and in the development of secondary occupational associations, composed of
workers and employers, with their own means of normative self-regulation. These
would mediate between the individual and an interventionist state, which had a
special responsibility to impose rules of justice on economic exchanges, to ensure
that ‘each is treated as he deserves, that he is freed of all unjust and humiliating de-
pendence, that he is joined to his fellows and to the group without abandoning his
personality to them” (LUKES, Steven; SCULL, Andrew. Durkheim and the law. 2. ed.
London: Palgrave, 2013. p. 2).
47. Nesse sentido, SAAD-DINIZ, Eduardo. Vitimologia corporativa: um novo campo de
pesquisa nas ciências criminais (breve publicação).
Ética Negocial 39
52. FORT, T.; NOONE, J. Banded contracts, mediating institutions, and corporate gover-
nance: a naturalist analysis of contractual theories of the firm. Law & Contemporary
Problems, 62/1999, p. 163-213.
53. Peter Yeager discute a matéria com propriedade em recensão a John Braithwaite,
YEAGER, Peter. Law versus Justice: from adversarianyism to communitarism. Law
and Social Inquiry, 29/2004, p. 891-915.
54. KLEIN, E. The one necessary condition for a successful business ethics course: the
teacher must be philosopher. Business Ethics Quaterly, 8/1998, p. 563.
55. KLEIN, E. Op. cit., p. 566.
56. ERHARD, Werner; JENSEN, Michael; ZAFFRON, Steve. Integrity: a positive model
that incorporates the normative phenomena of morality, ethics and legality. Harvard
Business School NOM working paper, 2014, p. 4 e ss.
Ética Negocial 41
severas restrições, criando clima de intolerância que nem sempre diz respeito
a ambiente ético nos negócios.
No momento de realização do moral reasoning, a imposição abstrata de
padrões de comportamento leva a que se presuma a racionalidade dos decisores,
ou a que se pressuponha que os decisores reconheçam e aceitem as consequên-
cias da violação da norma, ou ainda que se tome por pressupostos a simetria
entre os agentes no mercado. Mais importante do que a moralização dos cos-
tumes negociais é proporcionar às empresas e a todos os terceiros interessados
as condições necessárias para o cumprimento de dever e exercício da liberdade
de ação empresarial.
Na ética negocial, esse debate importa sobremaneira na compreensão
do alcance da justiça organizacional e nas possibilidades de realização da jus-
tiça distributiva, mais especificamente em relação à inclusão procedimental
(participação e efetiva inclusão na tomada de decisões), revisão do impacto
da decisão coletiva sobre o potencial lesionado, abertura de oportunidade de
verificação de direitos fundamentais em cada uma das operações quando in-
cidem mecanismos sancionatórios, correção e equidade (fairness)57.
É na obra de Thomas Donaldson, no entanto, que esse debate ganha maior
consistência58. Donaldson, com sua “Integrative Social Contracts Theory”
(ISCT), insere o poder corporativo como objeto de normas comunitárias aceitas
(accepted community norms)59. À luz do contratualismo, não seria necessária
a incorporação da ação como base do comportamento organizacional ético, a
noção de justiça organizacional adquire as dimensões de coesão do grupo
(equality), melhoria da performance individual (equity) e dignidade, pautada
na satisfação das necessidades (need) humanas60.
A compreensão da ética negocial é frequentemente referenciada a co-
mentários sobre os sistemas de controle social formal e a eficiência das estra-
tégias de enforcement em face do comportamento organizacional antissocial. A
agenda de pesquisa das organizações normalmente se refere ao comportamento
57. LEIGHTON, Paul. Fairness matters – more than deterrence. Criminology & Public
Policy, 9/2010, p. 525 e ss.
58. DONALDSON, Thomas; DUNFEE, Thomas. Ties that bind. Boston: Harvard Press,
1999. p. 25 e ss.
59. DONALDONS, Thomas; DUNFEE, Thomas. A social contracts approach to busi-
ness ethics. WERHANE, Patricia (Org.). Ethical issues in business. 8. ed. New Jersey:
Pearson, 2008. p. 448-452.
60. SHEPPARD, Blair; LEWICKI, Roy; MINTON, John. Organizational justice. Toronto:
Lexington, 1992. p. 9 e ss.
42 Ética negocial e compliance
61. PARKER, Christine; NIELSEN, Vibeke. The challenge of empirical research on bu-
siness compliance in regulatory capitalism. Annual Review of Law and Social Science,
5/2009, p. 45-70.
Ética Negocial 43
62. LAUFER, William. The missing account of Progressive Corporate Criminal Law.
New York University Journal of Law and Business, v. 14, 2017, p. 31 e ss.
63. Veja-se SWEDBERG, Richard. Principles of economic sociology. Princeton: Princeton
Press, 2007. p. 1 e ss.; DOBBIN, Frank. The new economic sociology: a reader. Prince-
ton: Princeton Press, 2004. p. 1 e ss.; GIBBONS, Robert. What is economic sociology
and should any economists care?. Journal of Economic Perspectives, 19/2005, p. 3-7;
WOOLSEY BIGGART, Nicole (Org.). Readings in economic sociology. Malden: Black-
well, 2002.
64. GRANOVETTER, Mark. Society and economy: framework and principles. Cambridge:
The Belknap, 2017. p. 1.
44 Ética negocial e compliance
68. COLEMAN, James. The asymetric society. New York: Syracuse Press, 1982. p. 1 e ss.
69. A interpretação funcional durkheimniana assume que a economia deve ser observada
desde a perspectiva de uma ordem social que precede o comportamento individual.
“Durkheims debate with economics is directed essentialy at the consideration of eco-
nomic institutions, which are, however, not studied empirically but are considered in
the normative perspective of the function they should assume for regulating economic
relations. The structure of economic relations in industrial society appears mainly
as a pathological deviation from a normative model” (BECKERT, Jens. Beyond the
market: the social foundations of economic efficiency. Princeton: Princeton, 1997.
p. 71-72).
46 Ética negocial e compliance
70. STEINER, Philippe. Durkheim and the birth of economic sociology. Princeton: Prin-
ceton Press, 2011. p. 1 e ss.
71. BECKERT, Jens. Beyond the market: the social foundations of economic efficiency.
Princeton: Princeton, 1997. p. 70-71.
72. BECKERT, Jens. Beyond the market: the social foundations of economic efficiency.
Princeton: Princeton, 1997. p. 72-73.
73. CARRUTHERS, Bruce. The meanings of money: a sociological perspective. Theore-
tical Inquiries in Law, 11/2010, p. 52-74.
Ética Negocial 47
são”), suas orientações normativas (“como as coisas devem ser”), ou pode ser
que suplantem, sobreponham-se ou ao menos modifiquem a ação, se não for
o caso de simplesmente orientar o comportamento pelo autointeresse (self-
-interest)87. Daí a importância do domínio das redes, das mediações entre os
atores sociais88 e do histórico de interações89, compondo a dinâmica entre
interesse e ação social.
Apesar das críticas à noção de enraizamento e das redes90, a combinação
entre análise dos interesses e das relações sociais pode ser chave analítica bas-
tante promissora para a compreensão das redes e articulações colaborativas
derivadas dos programas de compliance. É pressuposto ao estudo da ética nego-
cial o domínio das normas sociais, relações de poder, confiança e propósito da
ação. A compreensão das normas e valores, como constructo mental e subjetivo,
deve ser apreendida em seu significado a partir de situações econômicas con-
cretas. Estão por se desenvolver, no entanto, métricas mais consistentes sobre
o sentido de cada uma das situações sociais e das manifestações do interesse,
especialmente nas hipóteses em que se dão no mercado ou no contexto das
organizações empresariais. Da mesma forma, o estudo das formas de coesão
social, articulação de expectativas razoáveis de comportamento e regulação
de comportamento pode determinar a extensão em que as pessoas acreditam
seja mais ou menos importante sustentar uma postura colaborativa ou, do
contrário, encontrar medidas de reação diante da frustração da expectativa de
cooperação. Basicamente, a sociologia econômica pode auxiliar na definição
dos arranjos institucionais e organizacionais que devem mediar as interações
entre executivos, empresas e stakeholders. Assim, se adquire um pouco mais de
91. CLARK, John Maurice. Op. cit., p. 126 e ss. “[...] Originalmente, John Maurice Clark
importa as teorias do controle social para as ciências econômicas, com o seu Social
Control of Business. Ao interpretar o negócio como uma instituição social, inscri-
ta no cerne da vida econômica e das interações entre as pessoas e a comunidade,
Clark cria as condições para o desenvolvimento do controle da liberdade de ação
econômica. A ausência de controle é responsável pela desconfiança mútua entre os
agentes econômicos, oportuniza o egoísmo racional e a intimidação entre os pla-
yers. O controle social do negócio, pelo contrário, representa a ‘democratização do
negócio’ (democratization of business). O controle significa a gradual adequação
do negócio a um modelo de conformidade às regras de mercado e confiança entre
os competidores. Quer dizer, o controle impõe-se sobre o conjunto de interações e
transações do negócio, ‘um sistema de cooperação social por meio da troca recíproca’.
Embora controle seja essencialmente coerção, ele apenas existe porque há a colabo-
ração voluntária na construção das regras do mercado. Por essa razão, a coerção se
justifica simplesmente ‘porque houve falha na cooperação em acordos voluntários
para ganho mútuo’. E pela mesma razão, o controle está a serviço da sociedade, uma
vez que está para ela como o estabilizador das regras de mercado, permitindo que
elas se prestem à confiança no mercado e nas instituições” (SAAD-DINIZ, Eduardo.
Vitimologia corporativa..., cit., p. 56.
52 Ética negocial e compliance
92. “A flourishing literature documents the “dark side of organizations,” the prevalence of
corruption, and the recurrent temptation to subvert organiza- tional ends in pursuit
of parochial interests (e.g., Ashforth and Anand. The normalization of corruption
in organizations’, Research in organizational behavior, 2003; Baker and Faulkner
2004, social networks and loss of capital; Palmer and Maher, developing the process
model of collective corruption 2006; Vaughan the dark side of organizations: mistake,
misconduct and disaster, 1999)” (FAULKNER, R.; CHENEY, E. Review of The New
Economic Sociology: developments in an emerging field. Contemporary Sociology
32/2003, p. 445-447).
93. SIMPSON, Sally. Corporate crime, law, and social control. Cambridge: Cambridge
Press, 2002. p. 22 e ss.; para uma análise crítica, BOX, Steve. Crime, power and mys-
tification. London: Tavistock, 1983. p. 35; a questão foi explorada em mais detalhes
em SAAD-DINIZ, Eduardo. Vitimologia corporativa..., cit.
94. McCARTHY, Bill. New economics of sociological criminology. Annual Review of
Sociology, 28/2002, p. 417-442.
95. No entanto, na sociologia da regulação, a seu modo, encontram-se alguns estudos
iniciais sobre as transformações criminológicas promovidas pelo surgimento do
“novo Estado regulador” e a centralidade do risco na diferenciação da sociedade
econômica. Veja-se, por exemplo, REISS, Albert. The institutionalization of risk. Law
and Policy, 11/1989, p. 392-402; VAUGHAN, Diane. “Regulating risk: implications of
the challenger accident”. Law and Policy, 11/1989, p. 330-349. Para uma revisão dos
pontos de contato entre a sociologia e os estudos em criminologia, veja-se MORRILL,
Calvin; HAGAN, John; HARCOURT, Bernard; MEARES, Tracey. Seeing crime and
punishment through a sociological lens: contributions, practices, and the future.
The University of Chicago Legal Forum, 2005, p. 289 e ss.
96. HAGAN, John. The social embeddedness of crime and unemployement. Criminology,
31/1993, p. 465-491.
Ética Negocial 53
97. LAUFER, William. Where is the moral indignation over corporate crime? In: BRO-
DOWSKI, Dominik et al. (Org.). Regulating corporate criminal liability. Heidelberg:
Springer, 2014.
98. Em detalhes sobre a regulação compartilhada (shared regulation), LAUFER, William.
A very special regulatory milestone. University of Pennsylvania Journal of Business
Law, v. 319, 2018, p. 19-32.
54 Ética negocial e compliance
99. BECKER, Gary. Crime and punishment: an economic approach. In: FIELDING, N.
et al. (Org.). The economic dimensions of crime. New York: Palgrave, 1968. p. 13-68;
Ética Negocial 55
107. “Precisely the same forces that create internal bonding make it more likely – espe-
cially in the face of competition and rivalry – that the cohesion will work to displace
empathy and justify aggressive behavior against perceived outsiders. [...] In business,
those ‘other’ can not only be competitors, but the government, customers and even
other units within the firm that are viewed as threats to the group’s interests and
identity. One of the most potent incentives to cheat is in service of others: altruistic
cheating. Corporate agents have ample room to rationalize compliance failures in
the name of loyalty” (LANGEVOORT, Donald. Behavioral ethics..., cit., p. 265.
108. “Neoclassical economic theory thus fosters a corporate culture that ignores the perso-
nal rewards and social responsibilities associated with managing a modern enterprise,
and encourages an ethic of greedy materialism where managers are expected to care
only about personal financial reward, and where human character virtues such as
honesty and decency are deployed only contingently in the interests of personal
material reward” (GINTIS, Herbert; KHURANA, Rakesh. Corporate honesty and
business education: a behavioral model. In: ZAK, Paul (Org.). Moral Markets: the
critical role of values in the economy. Princeton: Princeton, 2008. p. 300 e ss.)
109. AKERLOF, George. The missing motivation in macroeconomics. The American
Economic Review, 97/2007, p. 6 e ss.
58 Ética negocial e compliance
110. SUNSTEIN, Cass. Social norms and social roles. Columbia Law Review, 96-1996,
p. 903-968.
111. “ [...] the issue is often not whether to regulate, but how strictly to regulate”. If
people’s willingness to pay to protect dolphins is very high, then the argument for
that regulation receives additional fortification. To that extent, moral commitments
must be counted” (SUNSTEIN, Cass. The cost-benefit revolution. Cambridge: MIT
Press, 2018. p. 114).
112. “The sentencing guidelines, memos by senior oficials at the DOJ, and regulatory
bodies all ascribe value to compliance programs. These writings do not, however,
state the set of specific initiatives that firms ought to create to support an effective
program. Without specific policy guidelines, firms rely on guidance from a disparate
set of third-party sources – including industry surveys, compliance consultants,
and attorneys – to guide the set of practices in support of an effective program. [...]
Left on their own, firms themselves are unlikely to instigate significant changes in
compliance. To the extent that prior practices ‘worked’ and seem to be aligned with
other firms’, risk-averse firms will not seek change. On the other side, prosecutors
have limited time and resources. Focusing on corporate compliance falls outside
both the primary objective and expertise of most prosecutors”, SOLTES, Eugene.
Evaluating the effectiveness of corporate compliance programs: establishing a model
for prosecutors, courts, and firms, NYU Journal of Law & Business, 14/2018, p. 979
e 1008.
Ética Negocial 59
113. KOHLBERG, Lawrence. The philosophy of moral development: moral stages and the
idea of justice. New York: Haper, 1981, p. 3 e ss.
114. LEWIN, Kurt. Principles of topological psychology. New York: McGraw-Hill, 1936.
p. 21 e ss.
115. HOLMES, John; CAMERON, Jessica. An integrative review of theories of interper-
sonal cognition. In: BALDWIN, Mark (Org.). Interpersonal cognition. New York: The
Guilford, 2005. p. 415-443.
60 Ética negocial e compliance
116. KAHNEMAN, Daniel. Thinking, Fast and Slow. New York: Farrar, Straus and Giroux,
2011. p. 10 e ss.; CUSHMAN, Fiery et al. Multi-systems moral psychology. In: DORIS,
John (Org.). The moral psychology handbook. Oxford: Oxford, 2010. p. 47-71.
117. HAIDT, Jonathan. The emotional dog and its rational tail: a social intuitionist
approach to moral judgement. Psychological Review, 1008/2001, p. 818 e 819; em
detalhes, HAIDT, Jonathan. The righteous mind: why good people are divided by
politics and religion. New York: Panthoen, 2012; mais experimental, GREENE,
Joshua. Moral tribes: emotion, reason, and the gap between us and them. New York:
Penguin, 2013.
Ética Negocial 61
118. THALER, Richard; SUNSTEIN, Cass. Nudge: improving decisions about health,
wealth, and happiness. New York: Penguin, 2009. p. 25 e ss.
119. Mais sobre os nudges que incrementam o nível de informação para auxiliar o processo
de tomada de decisão, sob a forma de “um paternalismo orientado ao comporta-
mento”, SUNSTEIN, Cass. Why Nudge? The politics of libertarian paternalism. New
Haven: Yale Press, 2014, p. 5 e ss.
120. “[...] organizations can help foster an environment that inclines individuals to select
the more appropriate course of action during the decision-making process. Often
these approaches are designed as behavioral ‘nudges’ that have gained credence in
public policy. Similar conceptual designs within organizations can motivate behavior
that is more compliance with regulation” (SOLTES, Eugene. Evaluating the effective-
ness of corporate compliance programs: establishing a model for prosecutors, courts,
and firms. NYU Journal of Law & Business 14/2018, p. 982). Semelhante, HAUGH,
Todd. Cadillac compliance breakdown. Stanford Law Review Online, 69/2017, p. 198
e ss.
121. Sobre as modelações abstratas de comportamento e a irracionalidade incontornável
das decisões, ZELIZER, Viviana. Economic lives: how culture shapes the economy.
Princeton: Princeton Press, 2013. p. 9. “Behavioral economics, despite its remarkable
success, still remains at a halfway point. It may well follow game theory, but there is
still a question whether it will fundamentally modify mainline economic theory or
remain a critical, dissident movement within economics. In a review of advances in
behavioral economics, Wolfgang Pesendorfer (2006) notes that behavioral economics
‘remains a discipline that is organized around the failures of standard economics.”
is “symbiotic relationship with standard economics,’ he notes, ‘works well as long
as small changes to standard assumptions are made.’ Despite the Nobel Prize in
economics shared by Vernon Smith and Daniel Kahneman, we have yet to see the
microfoundations of standard economics transformed in the manner that behavioral
economists claim they should be” (SILVERMAN, Dan. Review of “Law and economics
of irrational behavior”. Journal of Economic Literature 44/2006, p. 728-731).
62 Ética negocial e compliance
123. ZAK, Paul. Values and value: moral economics. In: ZAK, Paulo (Org.). Moral markets:
the critical role of values in the economy. Princeton: Princeton Press, 2008. p. 275.
124. WALKER, Margaret Urban. Moral contexts. Lanham: Rowman and Littlefield, 2003.
p. 109.
125. TESSMAN, Lisa. When doing the right thing is impossible. Oxford: Oxford Press, 2017.
p. 163.
126. “The move from personal exchange to modern, mostly impersonal exchangue in
markets is the key to the division of labor caused the rapid gains in productivity and
wealth since the Industrial Revolution. Because the instantiation of values varies
somewhat across both individuals and environments, violations of values must have
consequences. Enforcement in traditional societies is personal – you cheat me, then I
hurt, or ostracize, you. The incentives to cheat, free ride, and steal are rampant during
impersonal exchange, necessitating an enforcement body that all accept, namely, a
government. As Lynn Stout says, the mistake scholars made, which can be traced
to Oliver Wendell Homes, is the belief that humans are value-free, simply weighing
costs and benefits of an action when making choices. This has produced laws that,
like in the example of the Israeli day care center, view punishment as a price one pays
to engage in behavior rather than a violation of mutually shared values, and this may
increase rather than reduce violations” (ZAK, Paul. Values and value. Op. cit., p. 275.
64 Ética negocial e compliance
127. CONGDON, William; KLING, Jeffrey; MULLAINATHAN, Sendhl. Policy and choice:
public finance through the lens of behavioral economics. Washington: The Brookings,
2011. p. 17-20.
Ética Negocial 65
128. NUSSBAUM, Martha. The costs of tragedy: some moral limits of cost-benefits analysis.
Journal of Legal Studies, 29-2000, p. 1025; NUSSBAUM, Martha. Creating capabilities:
the human development approach. Cambridge: Harvard Press, 2011. p. 6 e ss.
129. SEN, Amartya. Development as Capability Expansion. Journal of Development Plan-
ning 19/1989, p. 41-58.
130. BRAITHWAITE, John. Corporate crime in the pharmaceutical industry. London:
Routledge, 1984. p. 2 e ss.
66 Ética negocial e compliance
135. Na teoria jurídica, há ainda muito pouco sobre a matéria. A partir de racionalidade
bastante distinta, predomina o debate entre Hans Kelsen e Herbert Hart. Em Michael
Pawlik (PAWLIK, Michael. Das Unrecht des Bürgers: Grundilinien der Allgemeinen
Verbrechenslehre. Tübigen: Mohr Siebeck, 2013. p. 90 e ss.), com bastante origina-
lidade, desenvolve a ideia de “dever de colaboração” (Mitwirkungspflicht). Isso, no
entanto, ainda não superou o nível de justificação formal do delito e crítica à filosofia
política que sustenta os cânones da “orientação político-criminal” dominante na
interpretação jurídico-penal, notadamente a partir do conceito de autonomia. Faltam
desenvolvimentos no campo da estruturação de deveres referenciada a infrações
econômicas concretas, do tipo corrupção, lavagem de dinheiro, evasão de divisas ou
mesmo em questões mais facilmente passíveis de normatização, como as distintas
modalidades de fraude.
68 Ética negocial e compliance
moralmente um aparelho de Estado repressor que devem dar conta dos “des-
vios” de caráter na empresa, perseguição obsessiva pela individual accountability
e falsa expectativa sobre a capacidade dos gatekeepers. É no mínimo curioso
como as iniciativas de enforcement orientadas pela mentalidade coercitiva ainda
não caíram em desuso, muito pelo contrário. A autoavaliação insuficiente por
parte de autoridades públicas reguladoras e fiscalizadoras acaba prestando um
serviço à indústria de compliance, deslocando o controle social dos negócios
da priorização do comportamento corporativo socialmente danoso.
A formação básica em ética negocial pode se valer dos avanços em eco-
nomia comportamental, psicologia social e criminologia corporativa para
submeter à avaliação as noções de intimidação (deterrence) e efetividade136.
As explorações empíricas de Tom Tyler são particularmente relevantes para a
articulação entre psicologia, coerção, cooperação e legitimação dos programas
de compliance. Em “Why People Obey the Law”, Tyler analisa que as percep-
ções da justiça procedimental seriam, basicamente, orientadas pelos seguintes
critérios: 1) representação ou voz; 2) consistência do exercício da autoridade
pública; 3) imparcialidade; 4) transparência e nível suficiente de informação;
5) possibilidade de revisão ou controle de erro ou abuso de autoridade; 6) inte-
gridade das autoridades137. Já em “Why People Cooperate”, a estruturação das
formas jurídicas depende da efetividade com que se articula o comportamento
que deve orientar as ações individuais138.
Tyler acentua o fato de que a combinação entre coerção e cooperação
deve, acima de tudo, poder ser observável e mensurável a partir do impacto
no comportamento das pessoas. Tyler coletou evidências de que os modelos
de compliance baseados no consentimento (consent-based) podem repercutir
muito mais sensivelmente do que os modelos de comportamento orientado às
normas jurídicas (law-related), precisamente pelos fundamentos de legitima-
ção que motivam o comportamento em conformidade: “se as pessoas acreditam
que é legítima a autoridade jurídica, elas consentem e comply voluntariamente
com as normas jurídicas e decisões das autoridades”139. É claro que Tyler não
136. Mais sobre, SHORT, Jodi; TOFFEL, Michael. Making self-regulation more than
merely symbolic: the critical role of the legal environment, Administrative Science
Quarterly, 55/2010, p. 361-396.
137. TYLER, Tom. Why people obey the law. Princeton: Princeton Press, 2006. p. 3 e ss.
138. TYLER, Tom. Why people cooperate: the role of social motivations. Princeton: Prin-
ceton Press, 2013. p. 12 e ss.
139. TYLER, Tom. Psychology and the deterrence of corporate crime. In: ARLEN, Jennifer
(Org.). Research handbook on corporate crime and financial misdealing. Cheltenham,
Edward Elgar, 2018. p. 11 e ss.
Ética Negocial 69
140. TYLER, Tom. Psychology and the deterrence..., cit., p. 11; TYLER, Tom R.; BLADER,
Steven. Cooperation in groups: procedural justice, social identity, and behavioral
engagement. New York: Psychology Press, 2000. p. 35 e ss.
141. TYLER, Tom. Psychology and the deterrence..., cit., p. 21.
142. Estudos reforçam a constatação teórica de que enforcement legítimo e justo tende
a incrementar os índices de compliance. Daniel Nagin e Cody Telep recomendam
experimentações que possam conduzir a melhores níveis de educação e treinamen-
to em justiça procedimental: “[...] little attention has been given to the individual
contributions of respectful treatment, voice, trustworthiness, and neutrality to per-
ceptions of legitimacy. Future research should attempt to parse out the contributions
of each componente. This will serve two valuable purposes: more rigorously testing
the details of theory and informing the design of training protocols to most effecti-
vely improve citizen perceptions of fair treatment” (NAGIN, Daniel; TELEP, Cody.
Procedural justice and legal compliance. Annual Review of Law and Social Science,
13/2017, p. 16).
70 Ética negocial e compliance
143. “[...] when people see legal authorities exerciding their authority in just ways, they
are more likely to indicate that the laws themselves are consistent with their moral
values. In both cases, people are influenced by their evaluations of both the quality
of decision making and the quality of the interpersonal treatment that people receive
from authorities”, (TYLER, Tom. New approaches to justice in the light of virtues and
problems of the penal system. In: OSWALD, Margit et al (Org.). Social psychology of
punishment of crime. Oxford: Wiley-Blackwell, 2009. p. 20.
144. Mais sobre legitimação, cooperação e deterrence, TYLER, Tom; HUO, Yuen. Trust
in the Law: encouraging public cooperation with the police and courts. New York:
Russell, 2002. A questão é tão amplamente difundida no campo da individual ac-
countability que Lynn Paine, tão influente quanto Tyler, afirma em diálogo aberto
com ele: “A compliance approach rest on rules enforced by external force, usually
the company itself, but with threats of civil and criminal punishment lurking in the
background. Unfortunately, when employees are not monitored, the fear of being
caught and punished diminishes, and compliance declines”, PAINE, Lynn. “Mana-
ging for Organizational Integrity” (DONALDSON, Thomas; WERHANE, Patricia
(Org.). Ethical issues in business. 8. ed. New Jersey: Pearson, 2008. p. 274-286).
Ética Negocial 71
149. “Whether blameworthy of not, the use of the cloak of social responsibility, and the
nonsense spoken in its name by influential and prestigious businessmen, does clearly
harm the foundations of a free society. I have been impressed time and again by the
schizophrenic character of many businessmen. They are capable of being extremely
far-sighted and clearheaded in matters that are internal to their business. They are
incredibly short-sided and muddle-headed in matters that are outside their busi-
nesses but affect the possible survival of business in general. This short-sithgedness
is strikingly exemplified in the calls from many businessmen for wage and price
guidelines or controls or income policies. There is nothing that could do more in a
brief period to destroy a market system and replace it by a centrally controlled system
than effective governmental control of prices and wages” (FRIEDMAN, Milton. Op.
cit., p. 38).
150. Não sem elegância, Friedman defende a postura liberal nos negócios: “[...] On the level
of political principle, the imposition of taxes and the expenditure of tax proceeds are
governmental functions. We have established elaborate constitutional, parliamentary
and judicial provisions to control these functions, to assure that taxes are imposed so
far as possible in accordance with the preferences and desires of the public – after all,
‘taxation without representation’ was one of the battle cries of the American Revolu-
tion. We have a system of checks and balances to separate the legistlative functions
Ética Negocial 73
of collecting taxes and administering expenditure programs and from the judicial
function of mediating disputes and interpreting the law” (FRIEDMAN, Milton. Op.
cit., p. 35).
151. “[...] the doctrine of ‘social responsibility’ taken seriously would extend the scope
of the political mechanism to every human activity. It does not differ in philosophy
from the most explicitly collectivistic doctrine. It differs only by professing to believe
that collectivist ends can be attained without collectivist means. That is why, in my
book Capitalism and Freedom, I have called it a ‘fundamentally subversive doctrine’
in a free society, and I have said that in such a society, ‘there is one and only one social
responsibility of business – to use its resources and engage in activities designed to
increase its profits so long as it stays within the rules of the game, which is to say,
engages in open and free competition without deception or fraud” (FRIEDMAN,
Milton. Op. cit., p. 39).
152. Semelhante, DUNFEE, Thomas. Corporate governance in a market with morality.
Law and Contemporary Problems, 62/1999, p. 130 e ss.
74 Ética negocial e compliance
153. Lynn Stout critica a própria noção de shareholders e a ausência de referencial norma-
tivo ou mesmo econômico a respeito da performance positiva da maximização do
valor dos shareholders, STOUT, Lynn. The shareholders’ value myth: how putting
shareholders first harms investors, corporations, and the public. São Francisco:
Berrett-Koehler, 2012, p. 61 e ss.Em sentido muito semelhante, BOWER, Joseph;
PAINE, Lynn. The error at the heart of corporate leadership. Harvard Business Review,
95/2017, P. 165-192.
154. COLLINS, Jim; PORRAS, Jerry. Built to last: successful habits of visionary companies.
New York: HarperCollins, 1994. p. 3 e ss.
155. BLAIR, M.; STOUT, L. A team production theory of corporate law. Journal of Corpo-
ration Law. 1999, p. 751-805.
156. FREEMAN, Edward et al. Corporate governance: a stakeholder interpretation. Journal
of Behavioral Economics, 19/1990, p. 337-359; FREEMAN, Edward et al. Stockholders
and stakeholders: a new perspective on corporate governance. California Management
Review, 15/1983, p. 88-106.
157. DONALDSON, Thomas; PRESTON, Lee. The Stakeholders Theory of the Corpo-
ration: Concepts, Evidence, and Implications. Academy of Management Review,
20/1995, p. 65-91; ABLE, Bradley; DONALDSON, Thomas; FREEMAN, Edwar;
JENSEN, Michael; MITCHELL, Ronald; WOOD, Donna et al. Dialogue: Toward
superior stakeholder theory. Business Ethics Quaterly, 18/2008, p. 153-190.
Ética Negocial 75
158. ORTS, Eric; STRUDLER, Alan. Putting a stake in stakeholder theory. Journal of
Business Ethics, 88/2009, p. 605-615. Sobre os vínculos entre o direito e a teoria dos
stakeholders, ORTS, Eric. Beyond shareholders: interpreting corporate constituency
statutes. George Washington Law Review, 61/1992, p. 14-135; ORTS, Eric. A North
American legal perspective on stakeholder management theory. In: PATFIELD, F. M.
(Org.). Perspectives on Company Law II. The Hage: Kluwer Law, 1997. p. 165-179.
Freeman, juntamente com Emshoff, introduziu a questão da “legitimidade da ges-
tão” (managerial legitimacy), explicitando a estratégia como os gestores realizam os
propósitos da corporação de modo inclusivo aos stakeholders, FREEMAN, Edward;
EMSHOFF, J. Who’s butting into your business? Wharton Magazine, 4/1979, 58-59.
Amitai Eztioni, no entanto, discute a legitimação do processo de stakeholding, ava-
liando os resultados nem sempre positivos em termos de investimento financeiro,
questões laborais, gestão de recursos escassos, entre outros, ETZIONI, Amitai. A
communitarian note on stakeholder theory. Business Ethics Quaterly, 8/1998, p. 679-
-691; mais sobre, TREVIÑO, Linda; WEAVER, Gary. The stakeholder research tradi-
tion: converging theorists: not convergent theory. Academy of Management Review,
24/1999, p. 222-227; veja-se mais sobre, CLARKSON, Max (Org.). The Corporation
and its stakeholders: classic and contemporary readings. Toronto: Toronto Press, 1998.
159. EVAN, William; FREEMAN, Edward. A stakeholder theory of the modern corpo-
ration: Kantian capitalism. In: BEAUCHAMP, Tom et al. (Org.). Ethical theory and
business. New Jersey: Prentice-Hall, 1993. p. 97-106.
160. Os desdobramentos teóricos dastakeholders’ theory de Edward Freeman foram
explorados como estratégia de viabilização prática da “vitimologia corporativa”
(SAAD-DINIZ, Eduardo. Vitimologia corporativa..., cit.).
161. FREEMAN, Edward et al. Stakeholders theory: the state of the art. New York: Cam-
bridge Press, 2010. p. 3.
76 Ética negocial e compliance
valor e negócio e como gerenciar o negócio de forma efetiva. ‘Efetivo’ pode ser
visto como ‘criar o máximo de valor possível’”163. Pesquisas futuras poderiam
explorar as relações entre efetividade e teoria dos stakeholders na formulação
de políticas públicas, iniciativas corporativas e, sobretudo, oferecendo novos
referenciais para a interpretação judicial dos programas de compliance.
A criação de valor retoma a ideia de que o negócio é um conjunto de rela-
ções entre grupos que têm um stake nas atividades negociais164. É partir dessas
interações que se pode observar as estratégias de criação de valor, demonstrando
o emprego responsável dos recursos da empresa e as formas de alocação com
base no comportamento, potencial cooperativo e ameaça de competição entre
cada um dos grupos de stakeholders. A questão, portanto, não é impor uma
modelação abstrata sobre a forma de gestão, ou mesmo da imposição abstrata
de uma ontologia da integridade empresarial, mas sim examinar, em função de
cada contexto empresarial, como cada um dos stakes em questão opera no
processo de criação de valor165.
Em quase 30 anos de produção científica, os desenvolvimentos da teoria
dos stakeholders especializaram a investigação de iniciativas inovadoras de
se fazer negócio, identificando o que pode ou não funcionar como estratégia
para compartilhar os benefícios com a comunidade e os demais stakeholders:
“o objetivo não é apenas compreender a ética das pessoas e das organizações,
mas melhorá-las”166. Quer dizer, a orientação ética, antes mesmo de obstruir a
163. FREEMAN, Edward. Stakeholders theory..., cit., p. 6-10. Essa noção de efetividade
foi discutida em detalhes em SAAD-DINIZ, Eduardo. Vitimologia corporativa..., cit.
164. FREEMAN, Edward; GILBERT, Daniel. Corporate strategy and the search for ethics.
New York: Prentice Hall, 1998. p. 3 e ss.
165. Em outra oportunidade, procurei explorar a criação de valor da forma seguinte: “Os
pontos de convergência entre a teoria dos stakeholders e a criminologia econômica não
poderiam ser mais promissores. É claro que se os stakeholders são concebidos como
vítimas, a vitimização corporativa poderia integrar, sem maiores dificuldades, as análises
de stakeholders. A determinação das práticas corporativas orientadas ao stakeholder
como vítima poderia ser incorporada como estratégia de criação de valor em relação
ao que realmente deveria ser priorizado. No entanto, um dos aspectos de divergência
mais problemáticos tem lugar na cisão entre agente e principal e entre shareholders e
stakeholders. Em regra, consideram-se vítimas apenas os shareholders. Os stakeholders
estão, por outro lado, subrepresentados no Sistema de Justiça criminal e completa-
mente negligenciados do direito penal econômico. Se os stakeholders são concebidos
como vítimas, a vitimização corporativa poderia integrar, sem maiores dificuldades,
as análises de stakeholders” (SAAD-DINIZ, Eduardo. Vitimologia corporativa..., cit.).
166. “This goal extends to all aspects of business activity, from the design, sales, and mar-
keting of products to the quality of relationships with the firm’s key constituencies,
78 Ética negocial e compliance
169. “Agency theory assumes that individuals and firms are motivated solely by conside-
rations of self-interest, but this assumption is compatible with the use of normative
restraints on conduct as long as they derive their efficacy from considerations of
self-interest. It may be desirable to loosen the egoistic assumption of agency theory
allo for agents acting on normative as opposed to self-interested reasons. But a
company that has a policy prohibiting employees from accepting gifts or favors and
enforces this policy with effective sanctions has designed a system of control that
operates by preventing one source of conflict of interest. Conflict of interest can also
be controlled in more informal ways” (BOATRIGHT, John. Conflict of interest: an
agency analysis. In: FORT, Timothy. Ethics and governance: business as mediating
institution. Oxford: Oxford Press, 2001. p. 202). Conceitualmente, “o interesse é
uma projeção de ânimo pessoal que qualifica objetos como necessários e oportunos
à satisfação de necessidades para o progresso material e moral. É fato jurídico que
pode compor as circunstâncias (relevantes) de negócios, assim como pode integrar
a própria manifestação de vontade, produzindo efeitos jurídicos que perpassam a
validade e a eficácia e podem passar ao campo do ilícito” (DINIZ, Gustavo Saad.
Conflitos de interesses na sociedade anônima. In: COELHO, Fábio Ulhoa. Tratado
de direito comercial. São Paulo: Saraiva, 2015. v. 4. p. 97).
80 Ética negocial e compliance
170. BOWIE, Norman. Accountants, full disclosure, and conflicts of interests. Business
and Professinal Ethics Journal, 5/1986, p. 63 e ss.
171. “Conflicts of interest create the incentive to act opportunistically notwithstanding
some pre-existing obligation (ethical or legal) to another, and so are of special interest
in both law and behavioral ethics. Regulation often seeks to dampen such conflicts,
and a common legal strategy is required disclosure of the conflict, on the assumption
that there will be more cautious assessment of the discloser’s behavior” (LANGE-
VOORT, Donald. Behavioral ethics, behavioral compliance. In: ARLEN, Jennifer
(Org.). Research handbook on corporate crime and financial misleading. Cheltenham:
Edward Elgar, 2018. p. 268.
172. Para o referencial normativo, DINIZ, Gustavo Saad. Op. cit., p. 99 e ss.
Ética Negocial 81
173. JENSEN, Michael; MECKLING, William. Theory of the firm: managerial behavior,
agency costs and ownership structure. Journal of Financial Economics, 3/1976, p. 305-
-360.
174. ROSE-ACKERMAN, Susan. Corruption. In: ROWLEY, Charles et al (Org.). Readings
in public choice and constitutional political economy. New York: Springer, 2008. p. 552.
82 Ética negocial e compliance
175. “Em outra linha, para além da simples captura do público por interesses privados e
das estruturas de incentive, os estudos especializados na área também permitiram
ampliar o entendimento de suas determinantes e identificar certa evolução nas
formas jurídicas da corrupção, sobretudo no que respeita ao que se pode entender
como ‘moderna corrupção’. A ampla variedade de estudos, que apenas recentemente
impactaram na investigação jurídico-penal brasileira, aponta para a necessidade de
uma mais consistente análise empírica das modernas distinções da corrupção e da
dinâmica do mundo corporativo, juntamente com uma maior sofisticação na capa-
cidade de racionalização das teses normativistas” (SAAD-DINIZ, Eduardo. Corrupção
e compliance no Brasil. In: LOBATO, José Danilo Tavares et al. (Org.). Comentários
ao direito penal econômico. Belo Horizonte: D’Plácido, 2017. p. 723.
176. BOATRIGHT, John. Op. cit., p. 187.
177. “[...] the ethical dimension of the agency relation can be viewed as a restraint on
self-interested behavior, so that it is possible to accept the ethical dimension without
assuming some alternative motivating force for human beings. [...] I stress that my
analysis of conflict of interest uses the agency relation as it is found in the law of
agency and does not draw specifically on the agency theory of economists. Since
agency theory incorporates at least the rudimentary concept of the agency relation,
however, an agency analysis of conflict of interest may be of some use to economists
working on the agency theory” (BOATRIGHT, John. Op. cit., p. 187).
178. “Abuse of position of the kind represented by the supervisor who introduces new em-
ployees to his real estate agent wife can easily be accounted for by the provision that
agents have an obligation to act only as authorized while carrying out the duties of an
agent. In all of hist business dealings with new employees, the supervisor is an agent
of the company and is obligated in all job-related activity to perform only those acts
that are within the scope of the job. An employee may have a great deal of latitude in
determining what is within the scope of a job, but steering business to his wife is surely
not what the supervisor is hired [...] to do” (BOATRIGHT, John. Op. cit., p. 200).
179. “Some men might challenge the Colbys of business – might accept serious setbacks
to their business careers rather than risk a feeling of moral cowardice. They merit
Ética Negocial 83
our respect – but as private individuals, not businessmen. When the skillful player
of the business game is compelled to submit to unfair pressure, he does not castigate
himself for moral weakness. Instead, he strives to put himself into a strong position
where he can defend himself against such pressures in the future without loss” (CARR,
Albert. Is business bluffing ethical?. Harvard Business Review, 1/1968.
180. RAGUÉS, Ramón. Whistleblowing. Madrid: Marcial Pons, 2013. p. 161.
84 Ética negocial e compliance
184. ZAGARIS, Bruce. Prosecutors and judges as corporate monitors?. In: LIGETI, Katalin;
FRANSSEN, Vanessa (Org.). Challenges in the field of economic and financial crime in
Europe and the US. Oxford: Hart, 2017. p. 38. Zagaris menciona ainda o caso de moni-
tor que se tornou “próximo demais da corporação”, envolvendo em 2014 o New York
State Department of Financial Services (NYDFS) e a Pricewaterhousecoopers (PwC).
Ética Negocial 87
185. Embora não seja apreender um conceito de diligência devida no ordenamento jurídico
brasileiro, as noções de diligência e do dever de diligência receberam tratamento
específico em YAZBEK, Otavio. Representações do dever de diligência na doutrina
jurídica brasileira: um exercício e alguns desafios. In: KUYVEN, Luiz Fernando
Martins (Org.). Temas essenciais de direito empresarial. São Paulo: Saraiva, 2012.
p. 942 e ss.
186. LAUFER, William. A very special regulatory milestone..., cit., p. 402.
187. Para uma compreensão das dimensões jurídicas do dever de vigilância, SILVA SÁN-
CHEZ, Jesús-María. Deberes de vigilancia y compliance empresarial. In: KUHLEN,
Lothar et al. (Org.). Compliance y teoria del derecho penal. Madrid: Marcial Pons,
2013.
88 Ética negocial e compliance
É claro que essa questão não se reduz a uma interpretação judicial automática,
desde a perspectiva da ética negocial é preciso muito mais do que a simples
demonstração da execução de procedimentos.
A leitura de Christine Parker não poderia ser mais inspiradora a respeito
dos vínculos entre diligência e atribuição de responsabilidade. Due diligence,
em determinados casos, requer que as empresas líderes no mercado possam
“promover a capacitação de compliance entre os regulados” (nurturing complian-
ce capacity among regulatees)188. Não há forma mais promissora de se exercer
liderança efetiva em integridade, elevar o nível de profissionalismo e de aper-
feiçoamento das funções de compliance. O que se tem são apenas referências
imprecisas de soft law e costumes empresariais baseados em melhores práticas
(best practices) não verificadas, vale dizer, desacompanhadas de validação
científica. Se não há um conceito claro, nem referencial legislativo preciso, é
altamente recomendável que as empresas mobilizem seus recursos para ava-
liar cientificamente suas práticas de diligência, “liderando pelo exemplo”189.
E é assim que os recursos de corporações com maior capacidade e recursos
poderiam ser utilizados para criar novas estruturas de mercado e desenvolver
padrões de comportamento ético ao longo de cadeia de fornecedor e redes
contratuais que estabelece.
Paralelamente, as investigações de compliance referem-se às investigações
internas (internal investigations), podendo – conforme critérios de oportuni-
dade e conveniência na maioria dos casos, salvo em relação a deveres legais
impostos por investigação criminal em curso – ou não ser conduzidas pelas
próprias empresas em caso de comunicação de suposta violação regulatória
ou mesmo dos protocolos internos de conduta. Como bem explicado por
Engelhart, sua condução interna pelo programa de compliance sujeita-as ao
190. ENGELHARDT, Marc. The nature and basic problems of compliance regimes (Beiträge
zum Sicherheitsrecht). Freiburg: Max Planck, 2018. p. 3.
191. TREVINO, Linda. Ethical decision making in organizations: a person-situation
interactionist model. Academy of Management Review, 11/1986, p. 601-617. Mais
sobre, WU, J. Environmental compliance: the good, the bad, and the super green.
Journal of Environmental Management, 90/2009, p. 3363-3381.
192. BAUCUS, M. S. Pressure, opportunity and predisposition: a multivariate model of
corporate illegality. Journal of Management, 20/1994, p. 699-721.
193. RORIE, Melissa. An integrated theory of corporate environmental compliance and
overcompliance. Crime, Law and Social Change, 64/2015, p. 65-101.
90 Ética negocial e compliance
entenderá por disclosure também seria importante definir com clareza antes
de cada uma das iniciativas de compliance. Essa inteligência deveria repercutir
na interpretação judicial, encontrando delimitação do sentido normativo mais
precisa entre funções de compliance que são instrumentalizadas para posição
dominante no mercado ou se é expressão de comportamento autêntico e
orientação valorativa das empresas, no sentido de genuína preocupação em
partilhar os benefícios da atividade empresarial com os stakeholders. Tam-
bém aqui não há outra forma de comprovar o comportamento autêntico que
não seja submetê-lo à rigorosa avaliação científica das práticas de compliance.
O exagero pode se revelar também em relação à diligência na seleção de
empregados, com as técnicas de background check. Muitas vezes, acredita-se que
as entrevistas poderiam “filtrar” o caráter antiético de determinadas pessoas,
prevenindo que elas cheguem a expor a empresa a risco. Novas estratégias
de educação executiva poderiam evitar excessos na mesma medida em que
estimulariam o desenvolvimento de moral reasoning e técnicas eficazes de
treinamento200. Assim como Parker já prenunciava, as possibilidades de expe-
rimentação, capacitação e monitoring são bastante promissoras, desde que – e
“apenas na medida que” – os profissionais de compliance estejam dispostos a
submeter suas atividades à “meta-avaliação”201.
Esse potencial inexplorado poderia representar alto impacto na formu-
lação de soluções efetivas e inovadoras de compliance, desde que submetidos
a controle e validação científica. A avaliação científica sobre a forma como é
objetivamente conduzida a interpretação judicial da due diligence pode inspirar
novas técnicas na educação executiva. Na maioria dos casos, diante da ausência
de evidências objetivas para a interpretação das funções de compliance, a inter-
pretação judicial fica restrita ao controle de violações de direitos fundamentais
nas due diligences.
judgement rule apenas implica uma limitação à intervenção penal, servindo de refe-
rência para a interpretação da infração de dever, PIEL, Hannah; ALBERT, Joachim.
Risikogeschäfte im Lichte der business judgement rule. In: ALBRECHT, Heiko et al.
(Org.). Unternehmensstrafrecht. München: C.H. Beck, 2015. p. 209-222.
200. Soltes analisa algumas iniciativas de testes em processos seletivos e treinamento que
poderiam ser mais significativas para a avaliação do comportamento ético. Reco-
menda também que seja a capacidade de autocontrole (com expressa referências às
teorias criminológicas do autocontrole – – self-control – de Travis Hirschi e Michael
Gottfredson) em ambientes de baixa e alta pressão na tomada de decisão, SOLTES,
Eugene. The effectiveness..., cit., p. 980.
201. PARKER, Christine. Compliance professionalism and regulatory community: the
Australian Trade Practices Regime. Journal of Law and Society, 26/1999, p. 215-239.
92 Ética negocial e compliance
210. “[...] A whole slew of cognitive psychologists have shown how habits of thought
incorporate cognitive biases, including Daniel Kahneman, Amos Tversky and Philip
Johnson-Laird. Hence the fallibility of evidence, the need for diverse types of eviden-
ce, the shortage of strictly conclusive evidence, the challenge of sorting and sifting
strong from weak evidence, the risks of cognitive biases, the ever-open possibility of
error and the need for critical third parties to make case-by-case judgements about
the validity and relevance of evidence are common to police ‘conventional’ use of
evidence in the proper investigation of crimes and in the proper use of evidence”,
TILLEY, Nick; LAYCOCK, Gloria. “The why, what, when and how of evidence-based
policing” (KNUTSSON, Johannes; TOMPSON, Lisa (Org.). Advances in evidence-
-based policing. London: Routledge, 2017. p. 18).
211. CAMPBELL, Donald. Assessing the impact of planned social change. Evaluation and
Program Planning. 2/1979, p. 49-90.
212. CHALMERS, Ian. If evidence-informed policy works in practice, does it matter if it
doesn’t work in theory?. Evidency & Policy: a Journal of Research, Debate and Practice.
2/2005, p. 227-242.
96 Ética negocial e compliance
213. “Measures, also called indicators or variables, are generated through the process of
scoring or gathering data by following the rules of classification” (PARKER, Christine;
NIELSEN, Vibeke. Op. cit., p. 55).
214. LAUFER, William. The missing account..., cit., p. 26. Laufer discute também as difi-
culdades de fundamentar os programas de compliance fundamentadas em evidência
por HESS, David. Ethical infrastructures and evidence-based corporate compliance:
policy implications from empirical evidence. New York University Journal of Law &
Business, 12/2016, p. 317 e ss.
215. HILL, G. B. Archie Cochrane and his legacy: an internal challenge to physician’s
autonomy?. Journal of Clinical Epidemiology, 53/2000, p. 1189-1192.
Ética Negocial 97
216. BORUCH, Robert et al. The Campbell Collaboration. Research on Social Work Practice,
4/2002.
217. SALTELI, Andrea; GIAMPIETRO, Mario. What is wrong with evidence-based policy,
and how can it be improved?, Futures, 91/2017, p. 62-71; veja-se também, WELLS,
Peter. New labour and evidence-based policy making: 1997-2007. People, Place &
Policy Online, 1/2007, p. 22-29.
218. Para uma análise crítica, WELLFORD, C. Criminologists should stop whining about
their impact on policy and practice. In: FROST, N. A. et al. (Org.). Contemporary
issues in criminal justice policy. Belmont: Cengage, 2009. p. 17-24.
219. “Data, evidence, and ideas make a circle of interdependencies. The data interest us
because they help us make an argument about something in the world that they would
be consequential for. Expecting that others may not accept our argument, we collect
information we expect will convince them that no one could have recorded reality
in that form if our argument wasn’t correct. And the idea we want to advance leads
us to search for kinds of data, things we can observe and record, that will do that
work of convincing others for us. The usefulness of each of the three components
depends on how it connects to the other two. No one will accept our idea if the data
we offer in evidence don’t compel belief, if our argument about what the data show,
what they are evidence of, doesn’t convince people that it supports our idea as we
say it does” (BECKER, Howard. Evidence. Chicago: Chicago Press, 2017. p. 4-5).
220. “Evidence-based policing is the use of the best available research on the outcomes of
police work to implement guidelines and evaluate agencies, units, and officers. Put
more simply, evidence-based policing uses research to guide practice and evaluate
98 Ética negocial e compliance
(what works, what doesn’t) coordenada por Sherman, extraindo dela recomen-
dações estratégicas sobre o que seria promissor (what’s promising)221. Mais
recentemente, Mike Maxfield et al. analisam os elementos de pesquisa baseada
em evidência organizados pela Evidence Generation Initiative (EvGen) do Centro
de Pesquisa e Avaliação do John Jay College of Criminal Justice: 1) definição do
problema (definição do problema, mecanismos e contexto); 2) processo causal
(utilização de modelos lógicos para avaliar conexões e mudança de comporta-
mento); 3) métrica; 4) generalização (avaliação do alcance da universalidade
da pesquisa)222. A pesquisa criminológica baseada em evidências científicas
surtiu efeitos em vários outros âmbitos, a exemplo da justiça restaurativa223,
e tem sido utilizada inclusive como forma de atuação política estratégica224.
practitioners. It uses the best evidence to shape the best practice. It is a systematic
effort to parse out and codify unsystematic ‘experience’ as the basis for police work,
refining it by ongoing systematic testing of hypotheses. Evidence based-policing is
about two very different kinds of research: basic research on what works best when
implemented properly under controlled conditions, and ongoing outcomes research
about the results each unit is actually achieving by applying (or ignoring) basic
research in practice” (SHERMAN, Lawrence. Evidence-based policing. Washington:
Police Foundation, 1998. p. 3-4); conceitualmente, veja-se mais sobre em SHERMAN,
Lawrence. The rise of evidence-based policing: targeting, testing, and tracking. Crime
and Justice, 42/2013, p. 377-451.
221. SHERMAN, Lawrence; GOTTFREDSON, Denise; MacKENZIE, Doris; ECK, John;
REUTER, Peter; BUSHWAY, Shawn. Preventing crime: what works, what doesn’t,
what’s promising. National Institute of Justice, 7/1998, p. 1-19; veja-se também LI-
BERMAN, Akiva. Advocating evidence-generating policing: a role for the ASC. The
Criminologist, 22/2009, p. 2-5.
222. Para além da simples validação, a generalização pode ser muito significativa para
estabelecer o potencial de universalização da evidência gerada: “[...] can interventions
or responses to problems be used in other settings or places? Will the self-awareness
mechanism for BWC use operate differently for senior and less experienced law en-
forcement officers? Can evidence that something works in one city indicate it will
work in other cities? [...] The limited need for generalizability is also illustrated that
all causal processes will operate similarly in different contexts”, MAXFIELD, Mike
et al. “Multiple research methods for evidence generation” (KNUTSSON, Johannes;
TOMPSON, Lisa (Org.). Advances in evidence-based policing. London: Routledge,
2017. p. 64-80).
223. SHERMAN, Lawrence; STRANG, Heather. Restorative justice: the evidence. Lon-
don: Smith, 2007. p. 48 e ss.; BRAITHWAITE, John. The Vermont Bar Journal, 2014,
p. 18-22.
224. HASKINS, Ron; BARON, Jon. Building the connection between policy and evidence:
the Obama-evidence based initiatives. UK: Nesta, 2011, p. 6 e ss.
Ética Negocial 99
225. SCOTT, M. Shifting and sharing responsibility to address public safety problems.
In: TILLEY, N. (Org.). Handbook of crime prevention and community safety. London:
Routledge, 2005. p. 385-409.
226. MAZEROLLE, Lorraine et al. Evidence-based policing as a disruptive innovation: the
Global Policing Database as a disruption tool. In: KNUTSSON, Johannes; TOMPSON,
Lisa (Org.). Advances in evidence-based policing. London: Routledge, 2017. p. 117-
-138.
227. “[...] Regulatory capitalism, understood as regulatory governance of business, is
a particular institutionalization of the relationships among corporate power, state
power, and civil society. Research that uncovers whether and how the regulation
of corporate capitalism works, as well as the power relations, values, and goals
represented in the way that compliance is constructed, should be a core concern of
100 Ética negocial e compliance
social science theory building. Research that unconvers, evaluates, explains, and
critiques the workings of regulatory capitalism is therefore important for pragmatic,
policy-oriented reasons, and also for more fundamental theory-building reasons”.
Apesar de aparecer como questão secundária em Parker e Nielsen, há menção aos
third-party stakeholders, “potencial vítimas de business noncompliance, tais como
consumidores, comunidade local, profissionais advisors e outros stakeholders que
possam ter conhecimento sobre o comportamento business compliance, inclusive
agentes estatais” (PARKER, Christine; NIELSEN, Vibeke. Op. cit., p. 60).
228. STUCKE, Maurice. In search of effective ethics and compliance programs. Journal
of Corporate Law, 39-2014, p. 770 e ss.
229. “[...] neither firms nor prosecutors possess a genuine desire to actually improve
compliance. If there is no desire to manage programs more effectively, it would be no
surprise that there is little desire to measure them more rigorously. William Laufer
persuasively argued this view in describing the incentives of different parties in the
compliance field. In this argument, firm managers, despite public language expressing
a desire to improve compliance, really seek to do only the minimum needed to avoid
to enhance compliance, the fact that the DOJ recently hired only one individual to
assist in evaluating programs underscores a timid and delayed response to the issue.
As Laufer explains about the new DOJ memo describing the evaluation of effective
compliance, ‘like all of the other nods and winks about what really matters to prose-
cutors. This is nothing more than an additional round in a pretend game of evaluation
science with an ultracrepidarian’s hand” (SOLTES, Eugene. The effectiveness... cit.,
p. 1007).
230. PARKER, Christine; NIELSEN, Vibeke. Op. cit., p. 61 e ss.
Ética Negocial 101
238. Clássica a lição de Malcolm Feeley: “The logic of comparative analysis – concomi-
tant variation – has rarely been exploited effectively in the field since using the legal
system or legal culture as the unit of analysis, like much of social science generally,
is “negative” or “corrective”, in that it is most successful in marshalling evidence
to challenge or “disprove” the accuracy of received wisdom or generalization put
forward by others. However valuable this may be, it does little to advance expla-
natory analysis” (FEELEY, Malcom. Comparative criminal law for criminologists:
comparing for what purpose?”. In: NELKEN, David (Org.). Comparing legal cultures.
Dartmouth: Taylor&Francis, 1997. p. 103).
239. “Teóricos do direito administrativo sancionador e penalistas tem muito mais festejado
a euforia em torno da individual accountability, debatido intensamente a causalidade
omissiva nas funções de gatekeeper ou infração de dever do compliance officer do que
propriamente formulado alternativas viáveis de atribuição de responsabilidade às
empresas. Alega-se incremento na ‘detecção’ de escândalos de corrupção corporativa
e esquemas fraudulentos, sob a liderança de juristas formados por modelo de ensino
jurídico menos anacrônico, sem que, no entanto, estas novas técnicas de investigação
tenham sido acompanhadas de modificações mais sensíveis em termos de compor-
tamento ético na empresa. A verdade é que o debate público sobre os programas de
compliance ou bem se limita a narrativas corporativas de auto-emulação, movendo
retórica da good corporate citizenship que pouco acrescenta na construção social de
conhecimento sobre a matéria, ou bem se presta à retórica política de autoridades
públicas, fortemente inspiradas por certo fanatismo moral e obsessão por megao-
perações punitivas” (SAAD-DINIZ, Eduardo. Corrupção e compliance..., cit.
240. LAUFER, William. A very special regulatory milestone..., cit.
104 Ética negocial e compliance
241. Com base em Robert Kaplan e David Norton, SOLTES, Eugene. The effectiveness...,
cit., p. 985.
242. “[...] When encountering an unifamiliar situation that has regulatory implications
or a difficult dilema where the appropriate judgment is nuclear, an individual may
benefit from guidance. A decision advisory hotline seeks to proactively guide indivi-
duals in the midst of decision-making to an appropriate course of action. Although
such hotlines do not identify situations that may require differential judgment, the
hotline can intercede prior to an individual making an adverse decision that may have
detrimental consequences for both the individual and the firm” (SOLTES, Eugene.
The effectiveness..., cit., p. 981).
243. SOLTES, Eugene. Evaluating the effectiveness of corporate compliance programs:
establishing a model for prosecutors, courts, and firms, NYU Journal of Law & Business,
14/2018, p. 975. Com maior precisão conceitual, a proposta de Soltes consiste em:
“[...] A model to evaluate effectiveness needs to account for differences across time
and other factors that can influence output metrics. The model also needs to clearly
connect the effort, actions, and resources invested in that initative with the objective of
that initiative. In a number of instances, regression models are well suited to this task
for their ability to explain the impact of one variable, while holding others constant.
Moreover, the models can be based on data generated from compliance programs to
provide a clear and rigorous means of evaluating different initiatives” (p. 993).
Ética Negocial 105
248. Soltes refere-se à famosa sentença de Lynn Paine: “even in the best cases, legal com-
pliance is unlikely to unleash much moral immagination or commitment. The law
does not generally seek to inspire human excellence or distinction. It is no guide for
exemplary behavior”, PAINE, Lynn. “Managing for organization integrity”. Harvard
Business Review, 03/1994, p. 111.
249. SOLTES, Eugene. The effectiveness..., cit., p. 986 e ss.
250. PARKER, Christine; NIELSEN, Vibeke. The challenge of empirical research..., cit.,
p. 64.
251. “If firms do not understand what they are being measured by, it is difficult to unders-
tand whether they are satisfying regulation. This lack of awareness of what serves
to further benefit or penalize the firms seems especially unusual in that this matter
relates to criminal law. The challenge in disclosure is that providing these metrics
could spur the gaming of standards. However, what are proposed here are not specific
metrics that can be easily manipulated but rather conceptual designs of measuring a
compliance program” (SOLTES, Eugene. Evaluating the effectiveness of corporate
compliance programs: establishing a model for prosecutors, courts, and firms, NYU
Journal of Law & Business, 14/2018, p. 975.
252. TREVIÑO, Linda et al. Legitimating the legitimate: a grounded theory study of le-
gitimacy work among ethics and compliance officers. Organizational Behavior and
Human Decision Processes, 123/2014, p. 186 e ss.
Ética Negocial 107
compliance pode oferecer aos gestores dados mais significativos para apoiar e
justificar os investimentos em compliance”, “os gestores devem poder entender
o que estão recebendo em retorno”253.
O desenvolvimento de estratégias de enforcement ou de intimidação às
empresas pelas vias do reforço punitivo (corporate deterrence) reproduz equí-
vocos históricos no sistema de justiça, como se bastasse a coerção para suprir
a falta de efetividade na prevenção à criminalidade corporativa para provocar
alterações substanciais no comportamento ético empresarial. No entanto, a
literatura na área é suficientemente convincente para refutar essa obsessão pelas
infrações econômicas. A revisão das práticas de controle social do negócio é
mais do que recomendável, devendo se abrir espaço a métricas de estratégias
de gestão que recorram aos programas de compliance como forma de alcançar
melhores resultados.
De acordo com as recomendações de Soltes, a avaliação empírica da efeti-
vidade dos programas de compliance aumenta a clareza e reduz a discricionarie-
dade na interpretação da evolução e coerência das iniciativas corporativas254.
A proposta de gestão baseada em evidência científica reforça precisamente o
fato de que a “consistência na avaliação das organizações” e na avaliação de
reguladores, fiscalizadores e interpretação judicial255. O impacto positivo da
avaliação de efetividade distribui seus efeitos a todos os envolvidos, estendendo-
-se a todos os stakeholders envolvidos, para além de reguladores, regulados e
fiscalizadores.
A autodeclaração por parte do setor privado permitiria que as empresas
possam submeter suas práticas à revisão objetiva da “configuração das justi-
ficações morais” (set of moral justifications) que elas impõem em sua cultura
corporativa. Práticas corporativas deveriam utilizar instrumentos baseados em
cientificamente concebidos e validados para avaliar suas práticas de compliance,
liderança e integridade. A postura de certa forma refratária das empresas abre
espaço e justificação moral para medidas de controle ostensivo por parte de
fiscalizadores, ingerência injustificada por parte de reguladores, resistência e
distanciamento de regulados, além de desinformação e falta de proteção aos
stakeholders. Mais do que oferecer aos stakeholders dados confiáveis para seu
6. LUKES, Steven; SCULL, Andrew. Durkheim and the Law. 2. ed. London: Palgrave,
2013, p. 2; exploramos esta questão em SAAD-DINIZ, Eduardo. Compliance na
perspectiva da criminologia econômica. In: CUEVA, Ricardo Villas Boas; FRAZÃO,
Ana (Org.). Compliance: perspectivas e desafios dos programas de conformidade.
Belo Horizonte: Fórum, 2018. p. 167 e ss.; SAAD-DINIZ, Eduardo. Vitimologia cor-
porativa... cit.
112 Ética negocial e compliance
7. DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
p. 30 e ss.
8. DURKHEIM, Émile. Regras do método sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
p. 86.
9. DURKHEIM, Émile. O suicídio: estudo sociológico. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. p. 188
e ss.
10. ADLER, Freda; MUELLER, Gerhard; LAUFER, William. Criminology and the Criminal
Justice System. 6. ed. New York: McGrall Hill, 2007. p. 28-29.
11. SAAD-DINIZ, Eduardo. Compliance na perspectiva... cit., 172-173.
12. SUTHERLAND, Edwin. White collar crime: the uncut version. New Haven: Yale Uni-
versity Press, 1983. p. 4 e ss.
13. As teses do controle e as explicações universalistas da personalidade delinquente
que se sucederam à interpretação funcional de Durkheim não tiveram repercussão
no campo da criminologia econômica. Travis Hirschi, referência mais expressiva
Compliance 113
17. CLINARD, Marshall; YEAGER, Peter. Corporate crime... cit., p. 17; SAAD-DINIZ,
Eduardo. Compliance desde a perspectiva... cit.
18. Em sentido contrário, ENGELHART, Marc. Sanktionierung von Unternehmen und
Compliance: Eine rechtsvergleichende Analyse des Straf- und Ordnungswidrigkei-
tenrechts in Deutschland und den USA. Berlin: D&H, 2012. p. 703 e ss.
19. HEATH, Joseph. Business ethics and moral motivation: a criminological perspective.
Journal of Business Ethics, 83/2008. p. 595-614.
20. BARAK, Gregg. Unchecked corporate power: why the crimes of multinational corpo-
rations are routinized away and what we can do about it. London: Routledge, 2017.
Compliance 115
24. LAUFER, William. Where is the moral indignation... cit., p. 19-32; em outra opor-
tunidade, analisamos em detalhes as origens da indignação moral na criminologia
econômica de Sutherland e a conduzimos ao campo da vitimologia corporativa.
(SAAD-DINIZ, Eduardo. Vitimologia corporativa... cit., p. 65. Veja-se, também,
GAYLORD, Mark; GALLIHER, John. The criminology of Edwin Sutherland. New
Brunswick: Transaction, 1988. p. 18 e ss.
25. FARRELL, Graham; CLARK, Ken. What does the world spend on criminal justice?.
Helsinki: European Institute for Crime Prevention and Control, 2004.
26. “Architects of enforced self-regulation envisioned a regulatory world that recognized
the superiority of firms to self-police under the watchful eyes of the government.
The design included an active monitoring role for government, agreeing to specific
firm conduct rules, and responding with causes of action for non-compliance in
increasingly formal and punitive ways. In hindsight, though, it is clear that this was
never a true partnership. Success hinged on a significant government investment in
regulatory capacity to keep pace with private sector spending on the management
of a wide range of legal, regulatory, governance, and compliance risks. A reasonably
proportionate public investment in enterprise risk management systems or com-
pliance data analytics was simply not made. And leadership pushing evidence-based
research rather than evidence-empty prescriptions for good corporate citizenship
was nowhere to be found. [...] Public sector strategy was then, as it is now, all about
shifting the costs of corporate criminal law enforcement to the deepest private pocket
while, at the same time, prying open a window into the corporate form for inculpatory
evidence. There, when and where non-compliance surfaced, the private “partner” in
crime control would be incentivized to spend more compliance dollars”. (LAUFER,
William. A very special regulatory milestone.... cit., p. 401-402).
27. NIETO MARTIN, Adán. Cosmetic use and lack of precision in compliance programs:
any solution?. Eucrim, 3/2012, p. 124-127. O uso cosmético representaria um “[...]
risco para a impunidade disfarçada [...] e seletiva”. (MAGALHÃES, Vlamir Costa. O
crime de lavagem de ativos no contexto do direito penal econômico contemporâneo: criminal
compliance, delinquência empresarial e o delineamento da responsabilidade penal
no âmbito das instituições financeiras. Porto Alegre: Nuria Fabris, 2018. p. 263).
Compliance 117
30. “E isso sem mencionar que a divisão entre comportamento ético e crime, apesar de
atender a investigações causais de certa forma bastante semelhantes, nem sempre
é tão facilmente perceptível na investigação criminológica, imiscuindo comporta-
mentos ilícitos em atividades legítimas”. (SAAD-DINIZ, Eduardo. Compliance na
perspectiva... cit., p. 167 e ss.); veja-se, também, GEIS, Gilbert; STOTLAND, Ezra.
Organizational structure and organizational crime. In: GEIS, Gilbert et al (Org.).
White colar crime: theory and research. Beverly Hills: Sage, 1980. p. 52-76; ALBANESE,
Jay. What Lockheed and La Cosa Nostra have in common: the effect of ideology on
criminal justice policy. Crime and Delinquency, 28/1982, p. 311-323; ALBANESE,
Jay. Organizational offenders: why solutions fail to political, corporate, and organized
crime. Niagara Falls: Apocalypse, 1982. p. 6 e ss.
31. NIETO MARTIN, Adan. Compliance, criminologia e responsabilidade penal das pes-
soas jurídicas. NIETO MARTIN, Adan et al (Org.). Manual de cumprimento normativo
e responsabilidade penal das pessoas jurídicas. Florianópolis: Tirant lo Blanch, 2018.
p. 62-75.
Compliance 119
34. GEIS, Gilbert. Deterring corporate crime. In: NADER, Ralph et al (Org.). Corporate
power in America. New York: Grossman, 1973. p. 12.
35. “The cost of corporate crime far exceeds the total for all the thefts, burglaries, arsons,
and robberies put together”, CLINARD, Marshall; YEAGER, Peter. Corporate crime.
New Brunswick? Transaction, 2009, p. xii; sobre a seriedade das infrações econô-
micas ocorridas no âmbito corporativo, Jeffrey Reiman refirma os elevados custos
sociais: “it takes far more dollars from our pockets than all the FBI Index crimes
combined”. (REIMAN, Jeffrey. The rich get richer and the poor get prison: ideology,
crime and criminal justice. 4. ed. Boston: Allyn&Bacon, 1995. p. 109). Discutimos
essa questão longamente em SAAD-DINIZ, Eduardo. Vitimologia corporativa... cit.
36. Conceitualmente, “Corporate crime demonstrates that corporate lawbreaking covers
a very wide range of misbehavior, much of it serious: among these violations are
accounting malpractices, including false statements of corporate assets and profits;
occupational safety and health hazards; unfair labor practices; the manufacture and
sale of hazardous products and misleading packaging of products; abuses of com-
petition that restrain trade such as antitrust and agreements among corporations
to allocate markets; false and misleading advertising; environmental violations of
air and water pollution, and illegal dumping of hazardous materials; illegal domes-
tic political contributions and bribery of foreign officials for corporate benefits”.
(CLINARD, Marshall; YEAGER, Peter. Corporate crime... cit., p. x. Em várias opor-
tunidades, pudemos explorar este referencial de Clinard e Yeager: SAAD-DINIZ,
Eduardo. Compliance na perspectiva... cit.; SAAD-DINIZ, Eduardo. Vitimologia
corporativa... cit.
Compliance 121
37. Crimes convencionais incluem os crimes violentos (lower and blue-collar classes)
cometidos por meio de atividades ilegítimas, em afronta ao ordenamento jurídico.
Nos crimes ocupacionais, o comportamento socialmente desviante é produzido no
âmbito de atividades legítimas e por indivíduos que, em regra, mantêm respeito ao
ordenamento jurídico, salvo em determinadas oportunidades que encontram para
delinquir em suas ocupações. Pode chegar a ser cometido por blue-collar em suas
ocupações, sem corresponder, no entanto, a um montante significativo. Os crimes
organizacionais, por sua vez, são cometidos por organizações empresariais. (CLI-
NARD, Marshall; YEAGER, Peter. Corporate crime... cit.)
38. Longamente sobre, SAAD-DINIZ, Eduardo. Compliance na perspectiva... cit.
39. CLINARD, Marshall; YEAGER, Peter. Corporate crime... cit., p. XL-XLI.
40. ROBERTS, Dorothy. The social and moral cost of mass incarceration in African
American communities. Stanford Law Review, 56/2004, p. 1272 e ss.
122 Ética negocial e compliance
41. NICHOLS, Phil. Are extraterritorial restrictions on bribery a viable and desirable
international policy goal under the global conditions of the lae Twentieth Century?
Increasing global security by controlling transnational bribery. Michigan Internatio-
nal Law Journal, 1998, p. 451 e ss.; CAMPBELL, Stuart Vincent. Perception is not
reality: the FCPA, Brazil, and the mismeasurement of corruption. Minnesota Journal
of International Law, 22/2013, p. 267; FOLEI, Veronica; HAYNER, Catina. The FCPA
and its impact in Latin America. International Trade Law Journal, 13/2008, p. 16 e ss.;
KUBICIEL, Michael. Die deutschen Unternehmengeldbussen... cit., p. 179-180.
42. HAGAN, John. Who are the criminals? The politics of crime policy from the Age of
Roosevelt to the Age of Reagan. Princeton: Princeton Press, 2010. p. 101 e ss.
43. SAAD-DINIZ, Eduardo. Compliance na perspectiva... cit.
44. NICHOLS, Phil. Are extraterritorial restrictions on bribery a viable and desirable
international policy goal under the global conditions of the lae Twentieth Century?
Increasing global security by controlling transnational bribery. Michigan Internatio-
nal Law Journal, 1998, p. 451 e ss.; CAMPBELL, Stuart Vincent. Perception is not
reality: the FCPA, Brazil, and the mismeasurement of corruption. Minnesota Journal
Compliance 123
of International Law, 22/2013, p. 267; FOLEI, Veronica; HAYNER, Catina. The FCPA
and its impact in Latin America. International Trade Law Journal, 13/2008, p. 16 e ss.
45. KUBICIEL, Michael. Die deutschen Unternehmengeldbussen... cit., p. 179-180.
46. TIEDEMANN, Klaus. Zur Kultur der Unternehmensstrafbarkeit. In: QUELOS, N.
(Org.). Droit penal et diversités culturelles. Basel: Schulthess, 2012. p. 495 e ss.; em
raciocínio próximo, NAUCKE, Wolfgang. Der Begriff des politischen Wirtschaftstat.
Berlin: LIT, 2012. p. 7 e ss.; KUBICIEL, Michael. Die Finanzmarktkrise zwischen
Wirtschaftsstraft und politischem Strafrecht. Zeitschrift für Internationale Strafrechts-
dogmatik, 2/2013. p. 53-60.
124 Ética negocial e compliance
47. JAMES W. COLEMAN. The criminal elite: the sociology of white collar crime. New
York: St. Martin’s, 1985. p. 180-188.
48. A “justiça organizacional” (organizational justice) tem se transformado mais acentua-
damente nos seguintes campos: 1) exigência de mens rea; 2) ausência de reponsabili-
dade vicariante; 3) princípio da legalidade; 4) presunção de inocência; 5) exigência
de prova além de dúvida razoável; 6) sigilo profissional (attorney cliente-privilege);
7) direito de não se autoincriminar (privilege against self-incrimination). (HASNAS,
John. Trapped: when acting ethically is against the law. Washington: CATO, 2006.
p. 18).
49. É fascinante a crítica de Gabriel Zucmán sobre o papel do sigilo e da confidenciali-
dade na criminalidade econômica: ZUCMAN, Gabriel. La riqueza escondida de las
Naciones: cómo funcionan los paraísos fiscales y qué hacer con ellos. Buenos Aires:
Siglo veintiuno, 2015. p. 86 e ss.
50. BRAITHWAITE, John. Criminological theory and organizational crime. Criminolo-
gical Theory, 6/1989, p. 333-358.
Compliance 125
2. Conceito de compliance
A orientação normativa da ética negocial nem sempre foi clara e precisa.
A isso se soma o fato de que as práticas de compliance são frequentemente
reduzidas a mera formalidade para atender a exigências de autoridades pú-
blicas reguladoras ou fiscalizadoras. Algumas referências sobre o surgimento
histórico remontam aos escândalos de corrupção corporativa das décadas de
1970 e 198051, porém assumimos que estas manifestações eram tímidas e dizem
muito pouco respeito às modernas manifestações dos programas de compliance.
As práticas iniciais, senão meramente profiláticas, não passavam, no mais das
vezes, de reações protocolares e contingentes a escândalos corporativos. Até
hoje, é comum encontrar referências genéricas e críticas superficiais à autor-
regulação precisamente por esse desenvolvimento histórico tão rudimentar.
Mesmo assim, Eugene Soltes observa a ascensão dos programas nos
últimos 25 anos e sua profusão em vários setores do mundo corporativo,
incluindo novos processos e padrões operacionais, estratégias de marketing,
e divisões financeiras e de contabilidade52. O desenvolvimento histórico dos
53. “[...] In response, the compliance industry blossomed. Companies emerged to provide
consulting, software, and training materials to support the creation of compliance
departments. Firms created formal codes of conduct, offered employees the op-
portunity to report suspicious activity on anonymous whistleblower hotlines, and
mandated training programs to support these new programs. The transnational reach
of regulation even compelled firms, which did banking services in the United States
but were headquartered outside the United States, to create compliance programs”.
(SOLTES, Eugene. Evaluating the effectiveness... cit., p. 969).
54. “Compliance programs are internal firm structures and processes designed to sup-
port firm’s efforts to achieve this concurrence. Compliance programs are expected to
achieve three objectives. First, and most fundamentally, compliance programs seek to
prevent misconduct from occurring. Recognizing that firms cannot design programs
to prevent all misconduct from occurring (e.g., the conduct of a rogue employee),
the second element of programs is a mechanism to detect deviant behavior if it does
arise. Finally, programs need policies that align corporate behavior with applicable
laws and regulations. Policies should not only describe the conduct that ought to
be detected and prevented, but also outline the procedures for appropriate action
if misconduct arises”. (SOLTES, Eugene. Evaluating the effectiveness of corporate
compliance programs: establishing a model for prosecutors, courts, and firms. Eva-
luating the effectiveness... cit., p. 978).
55. Esse contexto histórico foi anteriormente explorado em SAAD-DINIZ, Eduardo.
Compliance na perspectiva... cit., incorporando-se aqui seus aspectos descritivos.
Compliance 127
56. “Corporate criminal enforcement has exploded in this country. Billion-dollar fines are
now routine, where they were unimaginable a decade ago, across a range of industries,
from Big Pharma to the largest megabanks to defense contractors and energy compa-
nies. We have federal prosecutors and the Department of Justice (“DOJ”), together
with the white-collar bar, to thank for this. Their innovations have transformed
what was, in decades past, a backwater area of criminal practice, in which corporate
enforcement was uncommon and any resulting fines often quite minor, into a rapidly
changing and exciting field of practice. Yet deep concerns remain. General Motors
recently received an out-of-court deferred prosecution agreement that permits the
company to avoid a conviction for concealing defects over many years–actions that
cost over a hundred people their lives–accompanied by no charges for any employees.
We have seen major financial institutions like AIG, Barclays, Credit Suisse, HSBC,
JPMorgan, Lloyds, and UBS prosecuted repeatedly in a space of just a few years. Just
imposing eye-catching corporate fines is not enough to generate lasting accounta-
bility”. (GARRETT, Brandon. Response: the metamorphosis of corporate criminal
prosecutions. Virginia Law Review, 101; 2015). Apesar de que a descrição objetiva
de Garrett seja bastante elucidativa, suas recomendações para a melhoria do sis-
tema de justiça criminal são, no entanto, imprecisas: (1) acordos não devem ocorrer
fora dos Tribunais; (2) deve-se dar maior publicidade aos acordos, especialmente
em relação às multas efetivamente pagas e dedução de impostos; (3) processos devem
ser acompanhados de responsabilidade individual “[...] corporations that receive
non-prosecution and deferred prosecution agreements typically manage to insulate
individuals from prosecution, although they invariably agree to fully cooperate with
prosecutors. When individuals are charged, they are typically low-level employees,
not higher-ups, and they often do not receive jail time”; (4) órgãos fiscalizadores
necessitam maior recursos para atividades de enforcement.
57. WEISMAN, Andrew; NEWMAN, David. Rethinking corporate criminal liability.
Indiana Law Journal, 82/2007, p. 441 e ss.
128 Ética negocial e compliance
58. “Even a casual reading of the Holder and Thompson Memos leads to the conclusion
that prosecutors used their vast discretion to craft a new set of liability rules, without
legislative assistance, that largely abandon principles of vicarious liability and attempt
to replace the substantive law with recognition of corporate personhood. But both
sets of guidelines are no substitutes for the substantive law. While purporting to part
of a rigorous program of corporate prosecution, the guidelines reveal an equivocation
that is remarkable”. (LAUFER, William. Corporate bodies... cit., p. 63); “O problema
é que a cooperação, concebida inicialmente a partir da voluntariedade como sua qua-
lidade essencial, tem sido a partir de então sistematicamente substituída por técnicas
coercitivas, desnaturando o que em tese se concebia como regulação responsiva.
Desacompanhadas do devido controle judicial (legislativo e jurisprudencial) das
novas estratégias de política criminal persecutória, a adequação destas novas técnicas
de investigação com o modelo constitucional de proteção de liberdades pessoais tem
merecido a preocupação dos juristas, tanto nos EUA quanto internacionalmente. A
oposição/integração entre os modelos normativos de cooperação e coerção representa
um dos temas mais candentes da criminologia econômica, ainda carente de mais sólida
investigação científica”. (SAAD-DINIZ, Eduardo. Compliance na perspectiva... cit.;
WEISMAN, Andrew; STAUFFER, Robert; BUGAN, Ana. DOJ replaces Thompson
Memorandum with McNulty Memorandum. White Collar Practice Alert, 12/2006,
p. 3).
59. “Companies routinely produced large binders of policies and procedures and counted
the number of controls in their financial systems. And yet they offered no evidence of
having tested those policies, procedures, and controls, nor did they track how many
breaches they had experienced. A company might cite its long-standing internal
whistle-blower program, for instance, but not have data on the program’s rate of
Compliance 129
usage by employees. Firms also routinely reported how many times they had trained
wrongdoers on the very topic of their misconduct, apparently blind to the irony of
defending their compliance efforts that way”. (CHEN, Hui; SOLTES, Eugene. Why
compliance programs... cit).
60. SOLTES, Eugene. Evaluating the effectiveness of corporate compliance programs:
establishing a model for prosecutors, courts, and firms. NYU Journal of Law & Busi-
ness, 14/2018, p. 971-972.
61. “The Fraud Section’s document was conceived simply as a list of questions prosecutors
would ask when evaluating compliance programs. Notably, it did not provide actual
guidance as to what constitutes an effective program. However, many observers
and law firms interpreted the document as a handbook defining what was meant by
‘effective compliance’. In particular, many firms believed that if they could adequa-
tely respond to the questions provided by the Fraud Section, this would affirm that
their compliance program was effective – at least in the eyes of federal prosecutors
and courts. While the Fraud Section’s document offered firms an extensive series of
questions to consider when examining a program, it explicitly stated that the list was
not necessarily inclusive and the document gave no indication as to what constituted
a satisfactory reply. In fact, the document explicitly noted that evaluations would not
be performed according to ‘a checklist nor a formula’ and that prosecutors would
continue to make ‘an individualized determination in each case’. Ultimately, the
document did not intend to define what constituted an appropriate and sufficiently
rigorous response when ascertaining whether a particular compliance initiative was
effective”. (SOLTES, Eugene. Evaluating the effectiveness of corporate compliance
programs: establishing a model for prosecutors, courts, and firms. NYU Journal of
Law & Business, 14/2018, p. 972-973).
62. Veja-se MONTIEL, Juan Pablo; AYESTARÁN, Nicolas (Org.). Lineamientos de inte-
gridad. Buenos Aires: CRIMINT, 2018.
130 Ética negocial e compliance
[...] não é por outra razão que uma compreensão mais profunda da
qualidade regulatória e distribuição de liberdades de ação empresarial,
estabelecendo os limites de legitimação das atividades de enforce-
ment, deve evidenciar uma articulação inteligente entre a capacidade
reativa do Estado e a correspondente autenticidade das iniciativas
corporativas63.
65. Por todos, ENGELHARDT, Marc. The nature and basic problems of compliance regi-
mes – Beiträge zum Sicherheitsrecht. Freiburg: Max Planck, 2018. p. 2.
66. ENGELHARDT, Marc. The nature and basic problems... cit., p. 2.
67. Na boa síntese de Engelhart: “The legal áreas in which corporate compliance pro-
grams are relevant under national law vary gratly among the countries. They can be
relevant for all business areas, for the financial sector, for a certain list of crimes, or
merely for several major crimes such as corruption, money laundering, and terrorism.
Often, compliance requirements in high-risk sectors, such as the financial sector,
for a certain list of crimes, or merely for several major crimes such as corruption,
money laundering, and terrorism. Often, compliance requirements in high-risk
sectors, such as the financial market or in regard to serious crimes like terrorism,
are much higher and much more detailed than in other areas of law. From the point
of view of companies, the legal situation is only partially reflected, as compliance
programs concentrate on legal issues mainly in areas where reputational risks and
risks of (criminal) prosecution are high such as corruption and anti-trust offenses
or data protection issues”. (ENGELHARDT, Marc. The nature and basic problems...
cit., p. 6).
132 Ética negocial e compliance
68. “Nesta linha evolutiva, os programas de compliance podem ser entendidos como
um programa organizado para incrementar a gestão organizacional e a capacidade
regulatória para prevenção de infrações econômicas e controle de riscos morais.
Trata-se de um novo modelo de cumprimento de normas de gestão que oferece no-
vas perspectivas de método para revisão das teses tradicionais sobre a performance
institucional e o lugar do comportamento ético na empresa. Em termos de coope-
ração internacional, as funções de compliance, se desempenhadas com idoneidade
e adequadas à dinâmica de negócios da empresa, demonstram que a organização
empresarial tem condições de mover os players, contrates e fornecedores em um
mercado orientado por integridade. Um programa bem estruturado demonstra
ao mercado a capacidade da organização em gerenciar riscos e contextos de crise.
Especialmente no cenário brasileiro atual, a inteligência de compliance favorece um
planejamento mais rigoroso para a antecipação de reações imprevisíveis de fisca-
lizadores e reguladores, que em qualquer momento podem vincular empresas ou
dirigentes por informações produzidas em investigações, colaborações premiadas
ou acordos de leniência”. (SAAD-DINIZ, Eduardo. Brasil vs. Golias... cit.).
Compliance 133
69. “The United States enjoyed special economic prosperity and stability in the post-War
period. Reformist in nature, the corporate governance agenda thrives in periods of
crises. It is no coincidence that the movement emerged in the 1970s, when corporate
failures, corruption scandals, and unfavorable macroeconomic conditions disrupted
the previous economic equilibrium and created demand for institutional change”.
(PARGENDLER, Mariana. The corporate governance... cit., p. 373). Pouco se discu-
te, no entanto, a influência da necessidade de contenção do avanço do comunismo
internacional nas justificações morais da post-Watergate morality.
70. PARGENDLER, Mariana. The corporate governance... cit., p. 378.
134 Ética negocial e compliance
200 principais empresas nos EUA74, Berle e Means analisaram o controle dos
gestores em relação a propriedade formal dos acionistas, o “poder sem pro-
priedade”. Ambos extraem da cisão entre controle e propriedade os pilares
da governança e a feição que seria incorporada pela “moderna corporação”75.
Desde que as teses de governança passaram a fornecer os critérios básicos de
controle da gestão, os investimentos dinamizaram e consolidaram o primado
do shareholders76. Bastou com incrementar a proteção jurídica e a capacidade
de supervisão da disposição do investimento dos shareholders por parte dos
gestores para as corporações encontrarem o caminho da evolução da governan-
ça corporativa e a criação do poderoso “mercado do controle corporativo”77.
Na construção do cenário da governança corporativa, somam-se uma
série de questões teóricas delicadas. Mariana Panglender analisa a “obsessão”
recente pela governança corporativa, que ocupou o epicentro do movimento
regulador das últimas duas décadas, notadamente, impulsionada pela Sarbanes-
-Oxley Act, 2002, e Dodd-Frank Act, 2010. As estratégias de governança foram
utilizadas como apelo para dar conta de problemas econômicos e sociais das
mais distintas características (desde questões básicas de desenvolvimento
econômico, pobreza e desigualdade, até dimensões mais complexas, como
78. Com precisão, a agenda é analisada da forma seguinte: “[...] the corporate agenda
turned out to be particularly palatable from a political perspective. It is, after all, a
compromise solution that combines a private sector focus with a reformist overtone.
As such, corporate governance change appeals to progressives as a path for social
and economic change in the face of political resistance to greater state intervention,
while pleasing conservative forces as an acceptable concession to deflect growing
governmental intrusion in private affairs. The apparent surge in the levels of stock
ownership by U.S. households since the 1980s only bolstered this delicate equilibrium
by seemingly approximating social welfare to measures of stock market performance
in a ‘society of shareholders’”. (PARGENDLER, Mariana. The corporate governance...
cit., p. 366; mais especificamente em relação ao Brasil, BLACK, Bernard; CARVALHO,
Antonio Gledson; GORGA, Érika. Corporate governance in Brazil. Emerging Markets
Review, 11/2010, p. 21-38).
79. PARGENDLER, Mariana. The corporate governance obsession. The Journal of Cor-
poration Law, 2016, p. 362.
80. Sobre a assimetria de informações no âmbito da governança corporativa, BEBCHUK,
Lucian. Asymmetric information and the choice of corporate governance arrange-
ments. Harvard Law and Economics Discussion Paper, 398/2002, p. 1-31.
Compliance 137
tardou até que as primeiras análises pusessem nos costados dos gatekeepers a
responsabilidade pela “governança corporativa patológica” – “it’s about the
gatekeepers, stupid!”83 E não tardou até que se promulgasse a Lei Sarbanes
Oxley, a SOX, como reforço punitivo à falha dos gatekeepers e incremento na
severidade das penas. Trata-se de clássica combinação entre legislação con-
tingente para reagir a escândalo corporativo, especialmente orientada para
contenção da fuga de investidores, e a velha saída da política sancionatória
diante de insuficiência na política regulatória.
Joachim Vogel, com fineza de observação, identificou como as falhas de
governança e preocupação com as assimetrias no regime de informação deram
impactaram nas normas penais, criando incriminações baseadas na omissão
do dever. Com a mesma fineza, Joachim Vogel demonstra que a necessidade
de reforço punitivo no sentido da simetrização do uso das informações no
sistema de justiça criminal acarreta a desnaturação das formas jurídico-penais
tradicionais, as quais são assimétricas por definição – trata-se dos indivíduos
protegendo suas informações, assimetricamente, da violência de Estado84,
valendo-se de direitos fundamentais para proteção de suas liberdades pessoais.
Faltam, todavia, estudos sobre o papel do sigilo e confidencialidade na for-
mação de assimetrias de informação, o que apenas pode vulnerar ainda mais
liberdades pessoais.
Também chama a atenção como Vik Khanna recorre, de forma bastante
similar, a estratégias de análise do contexto micro em que se dá o regime de
informações na empresa. Khanna avalia em detalhes o papel do Conselho
de Administração como promotor de governança interna e, por conseguinte,
redução da criminalidade corporativa. Há três funções essenciais que, potencial-
mente, podem despertar uma série de conflitos (aconselhamento estratégico,
compliance e monitoramento) e maior ou menor influência na comissão de
infrações econômicas. A análise de Khanna é bem ampla, pontua problemas
de ordem técnica e de interação pessoal que poderiam afetar o desempenho da
empresa, estendendo-se de procedimentos frágeis de coleta de informações e
“esforços duplicados” (o trabalho repetido em várias instâncias – ou “res-
serviço”), até questões de interações pessoais entre compliance officer, General
83. COFFEE, John. Understanding Enron: it’s about the gatekeepers, stupid. SSRN
Electronic Journal, 4/2002, p. 57 e ss.; COFFEE JR., John. What Caused Enron? A
Capsule Social and Economic History of the 1990s. Cornell Law Review, 89/2004,
p. 269 e ss.
84. VOGEL, Joachim. Wertpapierhandelsstrafrecht: Vorschein eines neuen Strafrechtsmo-
dells. PAWLIK, Michael et al (Org.) Festschrift für Günther Jakobs. Köln: Heymanns,
2007. p. 731-746.
Compliance 139
85. KHANNA, Vik. An analysis of internal governance and the role of the General Coun-
sel in reducing corporate crime. In: ARLEN, Jennifer (Org.). Research Handbook on
Corporate Crime and Financial Misleading. London: Edward Elgar, 2018. p. 282.
86. COFFEE JR., John. A theory of corporate scandal: why the U.S. and Europe differ.
Oxford Review of Economic Policy, 21/2005, p. 198-211; comentários em relação aos
efeitos a partir da Operação Lava- Jato, SAAD-DINIZ, Eduardo. Escândalos corpo-
rativos: filme de terror sem fim?. Boletim IBCCRIM, 2015, p. 7.
140 Ética negocial e compliance
[...] nos EUA, 87% das fraudes contábeis estudadas foram pratica-
das com o intuito de ocultar a situação real da empresa e não houve
nenhuma ocorrência com intuito de sonegar impostos. No Brasil,
destacamos que a maior incidência de fraude, 3,7% dos casos, teve o
propósito de desviar recursos da empresa88.
87. SILVA, Adolfo Henrique Coutinho et al. Teoria dos escândalos corporativos: uma
análise comparativa de casos brasileiros e norte-americanos. Revista de Contabilidade
do Mestrado em Ciências Contábeis da UERJ, 17-2012, p. 92-108. Os autores também
anotam que nas empresas familiares, o controle concentrado em grupos familiares
acaba reduzindo as hipóteses de gerenciamento de resultado, o que, ao menos em
tese, limitaria a capacidade de manipulação de resultados por parte de gestores
(p. 96). Seria muito interessante se houvesse mais consistente empiria a respeito da
concentração do controle em grupo familiar como influência no comportamento
ético na empresa e efetividade dos programas de compliance.
88. SILVA, Adolfo Henrique Coutinho et al. Teoria dos escândalos... cit., p. 103.
Compliance 141
89. SILVA, Adolfo Henrique Coutinho et al. Teoria dos escândalos... cit., p. 101.
90. LICHAND, Guilherme; LOPES, Marcos; MEDEIROS, Marcelo. Is corruption good
for your health?. Harvard Working Paper, 2016, p. 1-58.
91. NIETO MARTIN, Adan et al (Org.). Public compliance: prevención de la corrupción
en administraciones públicas y partidos politicos. Cuenca: UCLM, 2016.
92. Em maiores detalhes, KHANNA, Vik; KIM, Han; LU, Yao. CEO connectdeness and
corporate frauds. Journal of Finance, 70-2015, p. 1203-1252.
142 Ética negocial e compliance
104. RENN, Ortwin. Three decades of risk research: accomplishments and new challenges.
Journal of Risk Research, 1/1998, p. 49-71.
146 Ética negocial e compliance
105. HOPKINS, Andrew. Compliance with what? The fundamental regulatory question.
British Journal of Criminlogy, 34/1994, p. 431-443.
106. SELZNICK, Philip. Focusing organizational research on regulation. In: NOLL, Roger.
Regulatory policy and the social sciences. Berkeley: University of California Press,
1985. p. 363-364.
107. BARDACH, Eugene; KAGAN, Robert. Going by the book: the problem of regulatory
unreasonableness. London: Routledge, 2017. p. 58 e ss.
108. Em detalhes, veja-se a coletânea GRIFFITH-JONES, Stephany; OCAMPO, José
Antonio; STIGLITZ, Joseph (Org.). Time for a visible hand: lessons from the 2008
World Financial Crisis. Oxford: Oxford Press, 2018.
Compliance 147
116. “All of those factors – dependency, diversity, and dynamism – combine to make ex-
cellence for regulators very different from excellence in other professional domains.
They do not make regulatory excellence unattainable, but they do make the task of
regulation daunting and can make it hard sometimes even to know when excellence
has been achieved”. (COGLIANESE, Cary. The challenge of regulatory excellence. In:
COGLIANESE, Cary (Org.). Achieving regulatory excellence. Washington: Brookings,
2017, p. 8).
117. SCHOLZ, John. Voluntary compliance and regulatory enforcement. Law and Policy,
1984, p. 385-404: “[...] an increase in the stringency of a standard calculated to
optimize the social cost-benefit impacts of the regulation might perversely increase
costs and decrease benefits, particularly if the agency is required to enforce the letter
of the law. At some level of stringency, compliance costs will become so high that
firms preferring voluntary compliance at the previous level of stringency will now
prefer taking their chances as evaders, imposing the higher costs of confrontation
on firm and agency alike. On the other hand, a well-crafted regulation that improved
the agency’s ability to elicit higher levels of voluntary compliance through impro-
ved enforceability of the rule and flexibility in variance procedures may increase
the social optimality of resultant compliance without raising the current standard.
The point is not that efforts to design ‘optimal’ regulations are wasted, but that such
efforts must also include provisions for enfocement techniques required to assure
the desired level of voluntary compliance” (p. 402).
150 Ética negocial e compliance
127. AXELROD, R. The evolution of cooperation. New York: Basic Books, 1984. p. 3 e ss.
128. Assim como entendemos, a limitação se deve ao fato de que “both regulators and
regulatees are responsible for environmental compliance; due to the complexity of
regulations and the lack of resources available to regulators, these parties must rely
on each other to achieve corporate compliance”. (RORIE, Melissa et al. Examining
procedural justice... cit., p. 176).
Compliance 153
e a Franz von Liszt (que em seu Lehrbuch des deutschen Strafrechts, sob fina
intuição, relaciona o fato de que se as empresas têm liberdade de contratar e
podem se responsabilizar pelas obrigações violadas, seria consequência natural
que também podem agir e cometer crimes)129, já ali as limitações dogmáticas
quanto à atribuição de responsabilidade se expõem com clareza: as empresas
não seriam dotadas da capacidade de agir, elas não poderiam ser moralmente
culpadas, e não poderiam ser objeto de punição de criminal. A sua vez, Matthew
Dyson e Benjamin Vogel coordenam sofisticado debate teórico sobre os limites
da intervenção jurídico-penal, comparando conceitos e princípio da tradição
anglo-saxã e alemã. A oposição entre o emprego de métodos processuais para
a resolução de cases, de um lado, e a sistematização normativa, por outra, seria
os traço mais marcante na diferenciação entre ambos, tomando por pressuposto
a necessidade de investigação sobre os valores sociais e a cultural dos atores
jurídicos em cada uma das tradições, Dyson e Vogel encontram uma série
de elementos basilares que poderiam caracterizar um “supraordenamento”
(higher-order), quer dizer, há muitas afinidades em termos de objetivos, obs-
táculos, acomodação de interesses que facilmente permitiriam a construção
de teses em nível aceitável de universalidade e legitimação moral130.
No Brasil, há ampla discussão sobre a matriz a ser seguida. A criação de
interpretações jurídicas excêntricas, ou, tal qual comumente são conhecidas,
as “jabuticabas jurídicas”131. A lógica não é diferente com os programas de
compliance e também não é muito distinta em relação à cultura da responsabi-
lidade penal empresarial. Desde a responsabilidade individual, a atribuição de
responsabilidade segue uma indiscriminada tendência à imputação com base na
129. DUBBER, Markus; HÖRNLE, Tatjana. Criminal Law: a comparative approach. Oxford:
Oxford, 2014. p. 329-326; DUBBER, Markus. The comparative history and theory
of corporate criminal liability. New Criminal Law Review, 16-2013, p. 203 e ss.
130. As principais dissonâncias entre as tradições repõem problemas centrais a toda teo-
ria jurídica (práticas sociais de orientação moral vs. concepções idealistas abstratas
de justiça; efetividade de enforcement vs. vulnerações arbitrárias de direitos. Muito
interessante, sobre a questão da legitimidade do sistema de justiça, Dyson e Vogel
recorrem a Michael Pawlik (Normbestätigung und Identitätsbalance, Baden-Baden:
Nomos, 2017) para demonstrar como, na verdade, as estruturas dogmáticas alemãs
não prescindem do enraizamento na moralidade. (DYSON, Matthew; VOGEL, Benja-
min. The limits of criminal law: Anglo-German concepts and principles. Cambridge:
Intersentia, 2018. p. 551-576).
131. Embora seja recorrente o uso da expressão “jabuticaba jurídica”, José Reinaldo Lima
Lopes relativiza sua expressão histórica. (LOPES, José Reinaldo Lima. Naturalismo
jurídico no pensamento brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 2 e ss. Maximo Langer,
Legal Transplants).
154 Ética negocial e compliance
required acts of diligence. There is no need that the perpretator acts in his personal
interest, although the act is more wrongful if he does. As to cheating, it applies to the
relationship with the stakeholders, who enter into the relationship with the com-
pany reasonably expecting that its managers act in the interests of this company and
not against it, and to the relationship with the participants in the economic system
generally, who may reasonably expect that managers do not undertake acts which
would put this system in danger. Cheating requires that the perpetrator wants to
obtain an advantage, which can be a benefit for himself or the company (if he acts
under the conviction that the risk would not materialize and the company would
profit)”. (TOSZA, Stanislaw. Criminal liability of managers in Europe: punishing
excessive risk. Oxford: Hart, 2019. p. 255).
142. SCHMITT-LEONARDY, Charlotte. Unternehmenskriminalität ohne Strafrecht? Hei-
delberg: C.F. Müller, 2013. p. 459-480.
Compliance 157
143. Amplamente sobre, JAHN, Matthias et al (Org.). Das Unternehmsstrafrecht und seine
Alternativen. Baden-Baden: Nomos, 2016. p. 115 e ss.
144. KUBICIEL, Michael. Die deutschen Unternehmensgeldbussen: ein nicht wettbe-
werbsfähiges Modell und seine Alternativen. Neue Zeitschrift für Wirtschafts-, Steuer-,
und Unternehmensstrafrecht, 5-2016. p. 178-181.
145. Kubiciel aponta que apenas 8% dos casos de aplicação do parágrafo 130, OWiG são
relevantes para a criminalidade econômica. (KUBICIEL, Michael. Die deutschen
Unternehmensgeldbussen... cit., p. 179 (nota 12).
146. KUBICIEL, Michael. Die deutschen Unternehmensgeldbussen... cit., p. 179.
147. GEISMAR, Anne-Gwendolin. Der Tatbestand der Aufsichtspflichtverletzung bei der
Ahndung von Wirtschaftsdelikten. Baden-Baden: Nomos, 2011. p. 124-137.
158 Ética negocial e compliance
148. Outras posições relativizam a posição do superior. No Model Penal Code, Section 2.07,
prevê três variantes: a. (vicarious liability) responsabilidade vicariante, desde que
agente tenha cometida a infração em nome da empresa e conforme a atribuição de
suas funções; b. (specific duty) a empresa é portadora de deveres especiais for força
de lei; c. (high managerial agent), remontando à tomada de decisão dos gestores ou
a tolerância deles em relação às infrações econômicas. (MUELLER, Mens Rea and
the Corporation: a study of the Model Penal Code position on corporate criminal
liability. University of Pittsburgh Law Review, 1957, p. 21 e ss.). Dubber e Hörnle
analisam a certa excepcionalidade na argumentação do caso da Suprema Corte da
Louisiana (uma vez que se tratava da única jurisdição orientada pelo civil law nos
EUA, foi refratária à responsabilidade penal empresarial nos EUA até 1942). Espe-
cialmente no caso Chapman Dodge, a Louisiana se empenhou nos fundamentos da
teoria da identificação (o alto escalão dos dirigentes seria o ego e a corporação o alter
ego), posteriormente refutada pelas teses de respondeat superior. (DUBBER, Markus;
HÖRNLE, Tatjana. Criminal law... cit., p. 339). No Brasil, essa manipulação da perso-
nalidade jurídica para fins de responsabilização, com expressa referência à doutrina
do disregard, leva doutrinadores a se filiarem ao direito de contraordenações em lugar
da responsabilidade penal da pessoa jurídica. (LOBATO, José Danilo Tavares. Direito
penal ambiental e seus fundamentos. Curitiba: Juruá, 2011. p. 140 e ss.).
149. O centenário modelo norte-americano é amplamente debatido. Para uma análise
dos principais fundamentos, da forma como são recepcionados pelo ordenamento
e dos instrumentos dogmáticos necessários a sua aplicação prática. (KHANNA, Vik.
Corporate liability standards: when should corporations be held criminally liable?
American Criminal Law Review, 37/2000, p. 1239 e ss.); recentemente, discutindo
em detalhes os distintos modelos de imputação penal à empresa, DIAMANTIS, Mi-
hailis. Corporate criminal minds. Notre Dame Law Review, 91/2016, p. 2050-2090;
Compliance 159
162. Instigante a análise crítica em KHANNA, Vik. Corporate criminal liability: what
purpose does it serve?. Harvard Law Review, 109/1996, p. 1477/1534.
163. Assim como De Maglie: “si trata dunque di una discrezionalità amplissima, di gran
lunga superiore a quella concessa ai giudici che maneggiano le individual Guidelines:
una discrezionalità pura che probabilmente deriva dalla mancanza di una filosofia
homogênea all’interno dela Sentencing Commission ed è spia delle differenze ideolo-
giche dei singoli componenti”. (DE MAGLIE, Cristina. L’Ética... cit., p. 84).
164. VERÍSSIMO, Carla. Compliance: incentivos à adoção de medidas anticorrupção. São
Paulo: Saraiva, 2018; SALVADOR NETTO, Alamiro Velludo. Responsabilidade penal
Compliance 163
da pessoa jurídica. São Paulo: Ed. RT, 2018; BARRILARI, Claudia. Autorregulação
regulada, criminal compliance e mecanismos sancionatórios. São Paulo: Ed. RT, 2018;
SARCEDO, Leandro. Compliance e responsabilidade penal da pessoa jurídica. São
Paulo: LiberArs, 2016; GRECO FILHO, Vicente; RASSI, João Daniel. O combate à
corrupção. São Paulo: Saraiva, 2015; SILVEIRA, Renato de Mello Jorge; SAAD-DINIZ,
Eduardo. Compliance... cit.; CARDOSO, Débora Motta. Criminal compliance na
perspectiva da lei de lavagem de dinheiro. São Paulo: LiberArs, 2015.
165. TREVIÑO, Linda et al. Managing ethics and legal compliance: what works and what
hurts. California Management Review, 41/1999, p. 131 e ss.
164 Ética negocial e compliance
3. Tecnologia de compliance
O estudo dos instrumentos técnicos dá vazão estritamente prática à toda
formação em ética negocial e programas de compliance baseados em evidência
científica. Por tecnologia de compliance entende-se a forma como se opera-
cionaliza a construção social de cada uma das estratégias de compliance, seus
166. KRAWIEC, Kimberly. Cosmetic compliance and the failure of negotiated governance.
Washington University Law Review, 81/2003, p. 81 e ss.; veja-se, também, NIETO
MARTIN, Adan. Cosmetic use and lack of precision in compliance programs: any
solution?. Eucrim, 3/2012, p. 124.
167. ENGELHART, Marc. The nature... cit., p. 17: “[...] In order to address the problem
of finding an effective compliance program, several mechanism can be referred
to. Among them are sample compliance programs by authorities, the setting up of
standards by industry associations or external review organizations like auditors,
and technical control boards or international standard organizations. In particular,
external reviews and controls, also including a formalized procedure with the possi-
bility of getting ‘certified’, provide additional evaluation and input – the expectation
being that the involvement of such ‘gatekeepers’ improve effectiveness”.
Compliance 165
processos e cada uma das decisões que são tomadas no âmbito corporativo.
A referência às operações, processos e decisões é o que permite avaliar como
são integradas as funções de compliance, como são articulados os domínios
da ética negocial, e, mais importante de tudo, como a orientação valorativa é
internalizada em operações, procedimentos e decisões e se faz expressar em
mais ou menos efetividade do programa de compliance.
Contudo, esse referencial está longe de refletir o cotidiano. Apesar de
haver uma preocupação retórica no mercado em relação ao modelo básico
aplicável a todas as situações – o “kit” de compliance one size fits all –, a in-
dústria de compliance é bastante hábil em simular a customização do produto
objeto da consultoria. Apesar de haver um mainstream na área – é comum e
amplamente difundido falar-se em “pilares”, “colunas”, “blocos” –, ou mes-
mo, apesar de recentes “modelações”, como a de Eugene Soltes – prevenção,
detecção, alinhamento regulatório –, cada um dos elementos merece análise
específica. A institucionalização dos controles próprios de compliance deve ser
rigorosamente seguida das recomendações científicas. Christine Parker chega
a ser ainda mais pontual sobre como expressar os valores institucionalizados:
1) compromisso com a resposta; 2) aquisição de conhecimentos e habilidades
especiais; 3) institucionalização do propósito da organização empresarial168.
Cada um dos elementos só tem sentido para a tecnologia de compliance
se decorrentes de avaliação científica sobre sua real necessidade e adequação
às preferências da organização empresarial, se a confrontação com as evidên-
cias científicas na área informa que se trata de investimento que exercerá real
influência no comportamento ético. É assim que, antes de representar mera
“fachada”, ou engessar a produção e aumentar os custos de transação, os in-
vestimentos em compliance podem produzir retorno do investimento.
A formação em ética negocial é indispensável para a elaboração, implemen-
tação, maturação e aperfeiçoamento contínuo dos programas de compliance. A
educação executiva deve dedicar-se a conhecer não apenas comportamentos
padrões ou estritamente racionais, mas aprimorar o moral reasoning em situa-
ções irracionais que conduzem o comportamento humano. A interpretação
judicial deve levar em consideração a autoavaliação cientificamente validada
e o fato de que os programas de compliance não são fórmulas fechadas, mas
processo de aprendizagem contínuo. Por isso é que não se sustenta o argu-
mento de que automaticamente os programas de compliance isentariam ou
diminuiriam o juízo de punibilidade da conduta (art. 7º, VII, da Lei Anticor-
rupção, em combinação com o art. 42, Decreto Federal Regulamentador 8.420/
169. Para uma análise específica dos incisos do art. 42, do Decreto Federal 8.420/2015,
SILVEIRA, Renato de Mello Jorge; SAAD-DINIZ, Eduardo. Compliance, lei anticor-
rupção e direito penal. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 323 e ss.
170. LAUFER, William. A very special regulatory... cit.
171. WOOD, Greg; RIMMER, Malcolm. Codes of ethics: what are they really and what
should they be? International Journal of Value-Based Management, 16/2003, p. 181-
-195.
Compliance 167
172. STEVENS, Betsy. An analysis of corporate ethical code studies: “where do we go from
here”? Journal of Business Ethics, 13/1994, p. 63-69.
173. CRESSEY, Donald; MOORE, Charles. Managerial values and corporate codes of
ethics. California Management Review, 25/1983, p. 53-77.
174. NIJHOF, Andre et al. Measuring the implementation of codes of conduct: an asses-
sment method based on a process approach of the responsible organisation. Journal
of Business Ethics, 45/2003, p. 65-78.
175. McCABE, Donald; TREVIÑO, Linda; BUTTERFIELD. The influence of collegiate
and corporate codes of conduct on ethics-related behavior in the workplace. Business
Ethics Quaterly, 6/1996, p. 461-476.
168 Ética negocial e compliance
176. VON DER EMBSE, Thomas et al. How well are corporate ethics codes and policies
applied in the trenches? Key factors and conditions. Information Management &
Computer Security, 12/2004, p. 146-153.
177. VANDERBERGH, Michael. The new Wal-Mart effect: the role of private contracting
in global governance. UCLA Law Review, 54/2007, p. 913-970. Originalmente, o
impacto negativo das práticas corporativas se deu por conhecer como “Wal-Mart
effect”, FISHMAN, Charles. The Wal-Mart effect: how the world’s most powerful
company really works – and how it’s transforming the American economy. London:
Penguin, 2006. p. 137 e ss.
178. TEUBNER, Günther. Self-constitutionalizing TNCs... cit.; VANDERBERGH, Michael.
Private environmental governance. Cornell Law Review, 99/2013, p. 1-73; CASHO-
RE, Ben; AULD, Graeme; NEWSON, Deanna. Governing through markets: forest
certification and the emergence of non-state authority. London: Yale Press, 2004.
Compliance 169
180. “One important message of studies of business is that people often engage in unethi-
cal behavior when they are under situational pressure. They fear failure. As already
noted, the tendency to take on too much risk leads to failures and puts people in
situations in which they face possible or even probable failure. In such situations
they may be motivated to seek short-term solutions, ignoring their values”. (TYLER,
Tom. Psychology and deterrence effect... cit., p. 32).
181. Longamente a respeito, GARRETT, Brandon. Too big to jail: how prosecutors com-
promise with corporations. Cambridge: The Belknap, 2014. p. 1 e ss.
182. Em sentido semelhante, “Control mechanisms are importante but disputed aspects,
especially the scope of investigative measures and sanctions. Control mechanisms
Compliance 171
187. “[...] no individual achievement can equal the pleasure of leading a group of people
to achieve a worthy goal. When you cross the finish line together, all the pain and
suffering you may have experienced quickly vanishes. It is replaced by a deep in-
ner satisfaction that you have empowered others and thus made the world a better
place. That’s the challenge and the fulfillment of authentic leadership”. (GEORGE,
Bill; SIMS, Peter; McLEAN, Andrew; MAYER, Diana. Discovering your authentic
leadership. Harvard Business Review, 2/2007).
188. “Some companies use an approach that is more stick than carrot to motivate em-
ployees to perform better. But does it really work? Research shows that as tools for
motivating workers, fear and intimidation come with a lot of risk and have been
largely discredited for some time. A tyrannical management style can lead to low
self-esteem and performance as it eats away at team cohesiveness, increases stress and
helplessness, and creates a feeling of work alienation, according to ‘Petty Tyranny in
Organizations’, a paper written nearly a quarter century ago by psychologist Blake
Ashforth”. (Knowledge at Wharton, “Does fear motivate workers: or make things
worse?”, 04.12.2018).
189. A instituição “[...] tweak their admissions policies to make sure that not a single future
criminal made it through the door ever again”, além de haver incluído a disciplina
“Leadership and Corporate Accountability” no currículo escolar. (McDONALD,
Duff. The Golden Passport... cit., p. 438; 512-524).
190. PETRIGLIERI, Gianpiero; PETRIGLIERI; Jennifer. Can Business Schools humanize
leadership. Academy of Management Learning & Education, 18/2015, p. 5.
191. Para uma classificação da liderança convencional, BARROW, Jeffrey. The variables
of leadership: a review and conceptual framework. The Academy of Management
Review, 2/1977, p. 231-251.
192. Tyler demonstra com precisão a deturpação da “perceived self-competence” no
exercício da liderança: “psychological studies suggest that people generally exag-
gerate their own competence and ability both relative to task difficulty and to the
Compliance 173
competence of others. Such illusions are psychologically satisfying and are associated
with high levels of self-esteem. [...] Having powers accentuates this tendency and
leads to perceived control over outcomes ‘beyond the reach’ of a power holder”.
(TYLER, Tom. Psychology and the deterrence of corporate crime... cit., p. 27).
193. CIULLA, Joanne. Leadership ethics: mapping the territory. In: CIULLA, Joanne
(Org.). Ethics: the heart of leadership. New York: Praeger, 1998.
174 Ética negocial e compliance
194. BOWIE, Norman; WERHAENE, Patricia. Management ethics. New York: Blackwell,
2005. p. 148.
195. BASS, B. The Bass Handbook of Leadership: theory, research and managerial applications.
New York: Free Press, 4. ed. 2008; BASS. Ethics, character, and authentic transforma-
tional leadership behavior. The Leadership Quarterly, 10-1999, p. 181-217; AVOLIO,
Bruce; GARDNER, William. Authentic leadership development: getting to the root
of positive forms of leadership. The Leadership Quartier, 16/2005, p. 315-338.
196. Sob inspiração de Keith Grint (“The Arts of Leadership”), concebe “leadership as a
socially constructed and contested terrain which involves, most centrally, an ongoing
engagement between leaders and followers over questions of identity (who we are),
strategic vision (where we are going) and tactics (how will we get there), and which
is reliant on the leader’s ability to engage in persuasive communication ‘to ensure
followers actually follow’”. (WILSON, Suze. Thinking differently about leadership: a
critical history of leadership studies. Cheltenham: Edward Elgar, 2016. p. 35).
197. WILSON, Suze. Thinking differently... cit., p. 22.
Compliance 175
198. ALVESSON, M.; SPICER, A. Theories of leadership. In: ALVESSON, M.; SPICER, A.
(Org.) Metaphors we lead by: understanding leadership in the real world. London:
Routledge, 2011. p. 1-30.
199. “This creates enormous, distressing and harmful pressures on those striving to meet
these expectations, as well as encouraging hubris by those who come to see themsel-
ves in such grandiose terms”. (ALVESSON, M.; SPICER, A. Theories of leadership...
cit., p. 7).
200. “Cumulatively, then, the current understanding and positioning of leadership as
the solution to every challenge poses multiple problematic consequences in diverse
matters such as producing harmful effects for leaders’and followers’ sense of self,
facilitating power relations which favour the ‘gifted’ minority (‘leaders’) and dimi-
nishing the role and status of the ‘ordinary’ majority (‘followers’), thereby damaging
the values needs to sustain a democratic society and, through its sheer hold on our
thinking, inhibiting theoretical innovation”. (ALVESSON, M.; SPICER, A. Theories
of leadership... cit., p. 7).
176 Ética negocial e compliance
207. Veja-se, também, o AREsp 785.584, STJ, rel. Min. Nefi Cordeiro, 30.08.2017, em que,
a partir de considerações sobre a teoria da cegueira deliberada, faz-se referência ao
compliance officer como indivíduo que, obrigado pelo dever de impedir o resultado,
“opta pela ignorância confortável, comportando-se como o avestruz que enterra a
cabeça para ver a luz do sol. Em bom português, o garante ou quem se encontre nessa
posição faz ‘vista grossa’ e ‘ouvidos de mercador’, viabilizando, dessarte, a ocultação
de patrimônio ilícito pelo que responderá por lavagem de dinheiro, ainda que com
base em dolo eventual”. A interpretação jurisprudencial apoia-se na doutrina de
Vlamir Costa Magalhães, Christian Laufer, Robson Galvão da Silva e Bruno Teixeira
de Castro, além de Sérgio Moro: “[...] No Brasil, Moro, em matéria de lavagem de ca-
pitais, defende serem subjetivamente típicas condutas que tenham sido praticas nessa
situação de ‘autocolocação em estado de desconhecimento’, quando o agente procura
não conhecer detalhadamente as circunstâncias de fato de uma situação suspeita”.
208. RODRÍGUEZ, Víctor. Delación premiada y límites éticos al Estado (manuscrito de
breve publicação).
209. Como na fórmula latina, qui tam pro domino rege quam pro se ipso in hac parte sequitur
(“aquele que traz o caso em nome do Rei ou de seu próprio interesse”).
Compliance 179
Lincoln Law, posteriormente, mais conhecida como False Claims Act (1863).
A legislação norte-americana sofreu importantes atualizações em 1986 (incre-
mento dos incentivos em caso de efetividade da denúncia, melhor delimitação
da responsabilidade do denunciante e defensor, mecanismos de proteção contra
retaliação do denunciante), 2009 (com especial ênfase no reforço punitivo
contra denúncias falsas ou fraudulentas), 2010 (com as emendas do Patient
Protection and Affordable Care Act, da gestão Obama), sob forte influência de
incentivos econômicos, com a previsão de compensação financeira ao denun-
ciante e a promessa de participação nos valores recuperados.
O canal de comunicação, ao menos em suas formulações tradicionais
voltadas às denúncias de operações suspeitas ou infrações no âmbito corpo-
rativo (nessa mesma linha, art. 42, X, Decreto Federal 8.420/2015), tem baixo
potencial preventivo, suas funções são mais orientadas à reação210. O canal
deve expressar as funções de forma integrada, permitindo a produção de mé-
tricas sobre a capacidade de detecção e reação ao comportamento corporativo
socialmente danoso. O canal de denúncias não deve ser um simples amon-
toado de denúncias, produzindo mera volumetria. Deve expressar melhoria
no nível de detecção de infrações e informação de comportamento pró-social,
superando a mentalidade obsessiva pela punição.
É verdade que a utilização dos canais de denúncia foi importante no
incremento do nível de detecção de infrações econômicas no ambiente corpo-
rativo211. E também é verdade que a denúncia tem impactado nas formas tradi-
cionais do sistema de justiça criminal. Trata-se de um instrumento poderoso
para superar o lado paquidérmico das instituições públicas, com estruturas
burocráticas e em estado de manifesta assimetria de recursos e pessoas frente
à alta capacidade de especialização do setor privado, sobretudo as grandes
corporações212.
De forma mais objetiva, sem levar adiante a dimensão moral da denúncia,
o problema do uso da denúncia consiste no foco na individual accountability,
uma vez que sequer estão à disposição os instrumentos jurídicos adequados
para se estender os efeitos às empresas. Na analítica de Laufer, a política de
222. Citando Adán Nieto Martín; RAGUÉS, Ramón. Whistleblowing... cit., p. 125.
223. “[...] En los casos de exención total a quien denuncie se corre incluso el riesgo de
que la amenaza penal pierda parte de su fuerza preventiva, pues contar con la po-
sibilidad del perdón absolute en caso de denuncia a tiempo es más un pro que un
contra para quien se está planteando la posible comisión de um delito”. (RAGUÉS,
Ramón. Whistleblowing... cit., p. 62).
184 Ética negocial e compliance
discutidas acima (v. supra). Em outro contexto, o empregado cria versões sobre
os fatos apresenta-se perante o canal de denúncias apenas com a finalidade de
atrair as estratégias, sem maior verificação sobre a idoneidade da informação.
Faltam evidências mais consistentes sobre a extensão da má-fé, é preciso maior
conhecimento sobre intenção, grau de conhecimento dos fatos e razoabilida-
de da comunicação. Na maioria dos casos, no entanto, o empregado pode ser
vulnerado pela própria empresa, como nas hipóteses de retaliação ou denúncia
reversa. Ou pode vulnerar o denunciante em caso de denúncia anônima ou
nas hipóteses em que o compliance officer dispensa a pessoa por já não precisar
mais da informação.
Por fim, a questão da denúncia externa refere-se a comunicações de
irregularidades ou infrações ocorridas no âmbito empresarial por pessoa
ou outra empresa. Ragués bem diferencia as situações de denúncia externa
com base nas consequências operacionais ao canal de denúncia e na posição
societária das pessoas ou organizações, de tal forma que tenham pertencido
ou mantido vínculos como insider ou grupo societário em relação à empresa
denunciada.
Na relação com as autoridades reguladoras e fiscalizadoras, é muito im-
portante demonstrar evidências da funcionalidade do canal de denúncia do
que, propriamente, “volumetria” e quantificações sem resultados concretos
na melhoria da detecção de operações suspeitas e na modificação do com-
portamento ético na empresa. A educação executiva poderia experimentar
o moral reasoning para se determinar o que é tolerável e o que é intolerável,
evitando-se exagero e pressão desarrazoada para o cumprimento de dever, ou
desenvolvendo estratégias de assessoria ética para superar situações proble-
máticas do tipo “na dúvida, melhor denunciar”. Ao mesmo tempo, poderia
formular treinamentos voltados a consolidar o uso estratégico e efetivo dos
canais de comunicação, produzindo evidências sobre o moral reasoning e a
caracterização da má-fé na denúncia.
De qualquer forma, não é tão simples interpretar os dados coletados
nos canais de comunicação para além da mera volumetria. Maior número de
chamadas pode indicar tanto maior detecção de infrações econômicas quanto
apenas representar melhoria na percepção dos empregados sobre a utilização
dos canais. Os resultados podem ser influenciados por uma série de outras va-
riáveis, como a acessibilidade do canal ou a implementação de novos recursos
tecnológicos224.
negocial é orientado pela ética. Da mesma forma, nos últimos anos, multiplicou-
-se a oferta de programas de treinamento no mercado, porém, na ausência de
avaliação sobre a efetividade dos treinamentos, pouco se tem conhecimento a
respeito de seu impacto na modificação de comportamento ético na empresa
e de sua utilidade para a interpretação judicial dos programas de compliance.
A métrica de efetividade dos treinamentos deveria receber maior ênfase.
Apesar de fomentar a indústria de compliance em larga escala – surpreende
a quantidade de treinamentos disponíveis no mercado nesta área –, não há
demonstração consistente sobre sua maior ou menor consistência, muito
menos sobre a relevância dos treinamentos na modificação substancial de
comportamento ético na empresa. De acordo com a analítica de Soltes, os
treinamentos podem repercutir bastante sensivelmente na consolidação da
mentalidade preventiva. A educação executiva é parte essencial da formação
dos empregados a respeito das expectativas da empresa em relação à prevenção
e à detecção de infrações econômicas. Serviria, segundo Soltes, para uma mais
coerente formação dos gatekeepers e o alcance de seus deveres específicos.
A métrica de efetividade do treinamento é bastante significativa em relação
à internalização da orientação ética da empresa e na forma como é concebido o
comportamento corporativo socialmente danoso pela empresa. Soltes propõe
que a avaliação dos treinamentos tenha por base a comparação entre a com-
preensão ética e o comportamento concretamente praticado na empresa. A
qualidade dos treinamentos deve ser empiricamente testada, comparando os
resultados antes e depois do treinamento (pre- and post-learning)231. A proposta
de Soltes é muito mais realista do que o principialismo – ingênuo ou conve-
niente – da reprodução das “missões e valores” da empresa.
Apesar disso, Danielle Warren, Joseph Gaspar e William Laufer demons-
tram que os treinamentos recomendados pelas “Sentencing Guidelines” não
são de todo cosméticos. A partir de técnicas de mensuração antes e depois
do treinamento, foram elaboradores indicadores (comportamento antiético,
intenção de agir eticamente, percepções da eficácia organizacional em gerir
conflitos éticos, a estrutura normativa da empresa) e ambos puderam identi-
ficar efeitos positivos do treinamento na qualidade do comportamento ético
na cultura organizacional. A dificuldade estaria em uma percepção mais dura-
doura e permanente dos efeitos pós-treinamento, cuja métrica não apresentou
resultados favoráveis232.
pre-julgamento dos NPAs ou DPAs) até sua feição moderna como parte inte-
grante das estratégias de compliance e prioridade nas medidas disciplinares
do Departamento de Integridade Institucional do Banco Mundial. A figura do
monitor tem por finalidade tanto punir a corporação no controle de sua liber-
dade de ação, quanto para prevenir novas práticas infracionais por parte da
corporação. Zagaris estabelece comparações bastante didáticas entre as funções
dos monitores e as demais figuras de compliance: basicamente, 1) diferem dos
gatekeepers porque não se ocupam de detectar mais infrações econômicas, e sim
aconselhar a empresa sobre como evitar a ocorrência de novas infrações;
assim como 2) se diferenciam dos responsáveis pela investigação interna, os
quais estão se voltam à produção de provas nos limites do attorney-client privi-
legie, ao passo que o monitor surge apenas já iniciada a investigação, sem que se
ocupem de identificar as violações ou lidar com elas. Mais do que isso, a ideia
é que se reduzam os efeitos colaterais à empresa e stakeholders interessados235.
Zagaris discute com pertinência:
235. ZAGARIS, Bruce. Prosecutors and judges as corporate monitors? In: LIGETI, Katalin;
FRANSSEN, Vanessa (Org.). Challenges in the field of economic and financial crime in
Europe and the US. Oxford: Hart, 2017. p. 19-56.
236. ZAGARIS, Bruce. Prosecutors and judges as corporate monitors... cit., p. 40.
237. Cristie Ford e David Hess sugerem algumas medidas de reforço da eficácia do mo-
nitoramento: 1) definição de plano de ação já no acordo celebrado que decide pelo
monitoramento; 2) seleção de monitores baseada em competência e credibilidade,
com a especial recomendação de que a decisão seja compartilhada entre as autoridades
públicas e a empresa, evitando-se o monitor “corporate friendly”; 3) recomendações
de compliance a partir do monitoramento deve ser previstas a longo prazo; 4) “pós-
-monitoramento”, internalizando as aprendizagens institucionais adquiridas no
monitoramento. (FORD, Cristie; HESS, David. Can corporate monitorships improve
corporate compliance? Journal of Corporation Law, 2009, p. 49 e ss.).
190 Ética negocial e compliance
242. NELSON, Caelah. Corporate compliance monitors are not super heroes with unres-
trained power: a call for increased oversight and ethical reform. Georgetown Journal
of Legal Ethics, p. 723-733; KHANNA, Vik; DICKINSON, Timothy. The corporate
monitor: the new corporate czar?. Michigan Law Review. 105-2007, p. 1713-1755;
JACOBS, James; GOLDSTOCK, Ronald. Monitors & IPSIGS: emergence of a new
criminal justice role. Criminal Law Bulletin, 43/2007, p. 217 e ss.
243. OCEG. The building blocks of GRC: visualizing an effective capability. OCEG: 2016.
192 Ética negocial e compliance
244. “1) Corporate giving is likely to play an increasing role in the disaster relief and
recovery of communities and countries, given that the costs of calamities are likely
to continue to grow and further outstrip traditional sources of disaster assistance in
the years ahead; 2) Firms concentrate their financial and material donations in the
aftermath of a public disaster on regions where companies already have operating
footprints, local knowledge, and established partnerships; 3) Compared with disaster
assistance from traditional sources, financial and material aid from business is likely
to come more quickly, be more aptly targeted, and thus be more consequential for
those most in need; 4) As more companies are bolstering their own catastrophic
risk-management mindsets and practices, they are simultaneously learning how
to build their capacities to more effectively assist others facing disruptions of their
own”. (KUNREUTHER, Howard; USEEM, Michael. Mastering catastrophic risk: how
companies are coping with disruption. Oxford: Oxford Press, 2018. p. 126-132).
245. KUNREUTHER, Howard; USEEM, Michael. Learning from catastrophes: strategies
for reaction and response. New Jersey: Pearson, 2010. p. 249 e ss.; veja-se, também,
WHITE, Stacey; LANG, Hardin. Corporate engagement in natural disaster response:
piecing together the value chain. Washington: CSIS, 2012.
246. “1) Boards have become more directly engaged in company strategy and leadership,
with directors taking a more deliberative role in guiding risk-management strategies,
helping to define risk appetite, risk tolerance, and risk readiness; 2) Bringing directors
with prior executive risk-management experience on to the board can strengthen its
deliberative oversight; 3) Directors carry special responsibility for identifying hazards
in company operations that can become disruptive or even disastrous if not detected
and mitigated; 4) Alerting directors to company operations can help prioritize risk
management in the boardroom and encourage directors to probe for risks in company
Compliance 193
decisions; 5) Directors can guide and appraise company risks in the development
of new products and services, posing critical questions and challenging executive
assumptions; 6) Directors can also play a special role in pressing executives to justify
their forecasts, anticipated results, and identified risks – without at the same time
micromanaging them catastrophic risks deserve the attention of all directors, not
just specialists on one of the board’s committees; 7) Directors are advised to draw a
bright line between risks where they should play an active role and those over which
executives should exercise delegated authority”. (USEEM, Michael; ZEELEKE, Andy.
Oversight and delegation in corporate governance: deciding what the board should
decide. Corporate Governance, 14/2006, p. 2-12).
247. “[...] In short, when companies have not examined their operations from a longterm
perspective in a social context, they are much more vulnerable to the type of bad
things we have described in this book (what author Ian Mitroff calls crisis-prone
companies). We propose that once a company brings this perspective to its strategy
development and operational planning, it will, of necessity, reperceive the issue of
social responsibility and find many opportunities to turn that issue into a distinc-
tive competency. This process is long term, but its practice is the essense of uniting
know-how and integrity. To borrow, again, our frined’s metaphor, that deeper long
view can be the difference between growing a corporate weed – or a sturdy tree”.
(SCHWARTZ, Peter; GIBB, Blair. When good companies do bad things. New York: John
Willey, 1999. p. 178).
194 Ética negocial e compliance
248. PITT, Harvey; GROSKAUFMANIS, Karl. “When bad things happen to good com-
panies: a crisis management primer”. Cardozo Law Review, 15/1994, p. 1-14.
Compliance 195
249. VAUGHAN, Diane. The Challenger launch decision: risky, technology, culture, and
deviance at NASA. Chicago: Chicago Press, 1992, p. 119 e ss.
250. SOLTES, Eugene. The effectiveness... op. cit., p. 1000.
Conclusão
da ética negocial ensina que é preciso mais humildade para submeter regulação,
enforcement e compliance à avaliação científica; e menos cinismo na retórica
corporativa e na obsessão punitiva por parte de reguladores e fiscalizadores.
A especulação filosófica é essencial na realização prática dos fatores
individuais e organizacionais que colocam a ética negocial em movimento.
A atribuição de deveres deve ser seguida da devida capacitação (estrutural,
funcional e pessoal) para seu cumprimento. O desenvolvimento responsável
dos programas de compliance deve poder delimitar o domínio da determinação
subjetiva da liberdade de ação empresarial e sua regulação. A filosofia econômi-
ca, tomada em uma dimensão um tanto mais realista, pode ser bem sugestiva
para a regulação de comportamentos sociais indesejáveis. Para além da mera
percepção moral dos conflitos éticos, é mais importante encontrar as bases do
comportamento que possam servir de referência para a elaboração de métricas
consistentes e evidências científicas.
Espera-se que a sociologia possa oferecer poderoso instrumento de com-
preensão da interação das funções de compliance com a concreta dinâmica da
vida em sociedade. A sociologia econômica cuida da organização socialmente
aceitável das estruturas de mercado e pode auxiliar na definição de arranjos
institucionais e organizacionais que devem mediar as interações entre exe-
cutivos, empresas e stakeholders. Constitui-se nela o referencial para análise
dos interesses postos no controle da liberdade de ação no mercado e de cada
um dos atores na construção de sentido da regulação, enforcement e postura
colaborativa. Adquire-se, a partir da sociologia econômica, um pouco mais de
precisão a respeito do comportamento moralmente apropriado nos negócios,
como deles se podem extrair valores a partir dos quais se orienta normativa-
mente o comportamento ético na empresa, interpretados a partir da cultura
organizacional, dos hábitos empresariais e dos valores extraídos da governança
corporativa e dos programas de compliance.
Já a economia comportamental e a psicologia social, cada qual a seu modo,
vêm para orientar o processo de tomada de decisão. Enquanto a sociologia
econômica observa a formação das normas sociais, economia comportamental
e psicologia social tratam de entender como os indivíduos internalizam essas
normas, observando sob quais circunstâncias determinadas pessoas e corpora-
ções expressam sua orientação normativa para a promoção de valores sociais,
produção de bem-estar e expansão das liberdades pessoais. As pessoas podem
aprender o comportamento ético e continuamente desenvolver as estruturas
morais da personalidade. É possível pensar que o sucesso do comportamento
ético no ambiente empresarial resida no fato de que as corporações articulem
arquitetura de decisão ética e comportamento prossocial, oferecendo melhores
condições para a tomada de decisão e revendo os seus níveis de tolerância em
Conclusão 199
Que este livro sirva para a revisão histórica da relação entre empresa e
sociedade no Brasil. Este, talvez, seja o momento histórico mais candente
para demonstrar que o compromisso ético é também expressão de comporta-
mento democrático. Espera-se muito da formação em ética negocial e da utili-
zação democrática dos recursos de compliance, porém espera-se mais ainda
da educação executiva e da interpretação judicial, especialmente pelo ainda
inexplorado potencial de endereçar ao mercado brasileiro a mensagem moral
de que compromisso ético é também compromisso democrático. Quem sabe,
assim, possa-se iniciar o acerto de contas das empresas brasileiras com nossa
história e reerguer a sociedade brasileira com base em novos parâmetros morais
de solidariedade e tolerância.
Referências bibliográficas
ABEND, Gabriel. The moral background: an inquiry into the history of business ethics.
Princeton: Princeton, 2014.
ABLE, Bradley; DONALDSON, Thomas; FREEMAN, Edwar; JENSEN, Michael; MIT-
CHELL, Ronald; WOOD, Donna. et al. Dialogue: Toward superior stakeholder theory.
Business Ethics Quarterly, v.18, p. 153-190, 2008.
ADLER, Freda; MUELLER, Gerhard; LAUFER, William. Criminology and the Criminal
Justice System. 6. ed. New York: McGrall Hill, 2007.
AIRES, Ian; BRAITHWAITE, John. Responsive regulation: transcending the deregulation
debate. New York: Oxford Press, 1992.
AKERLOF, George. The missing motivation in macroeconomics. The American Economic
Review, v. 97, 2007.
AKERLOF, George; SHILLER, Robert. Phising for phools: the economics of manipulation
and deception. Princeton: Princeton Press, 2015.
ALBANESE, Jay. What Lockheed and La Cosa Nostra have in common: the effect of ideology
on criminal justice policy. Crime and Delinquency, v. 28, p. 311-323, 1982.
ALBANESE, Jay. Organizational offenders: why solutions fail to political, corporate, and
organized crime. Niagara Falls: Apocalypse, 1982.
ALENCAR, Matheus. Mecanismos de proteção do empregado nos programas de criminal
compliance. São Paulo: LiberArs, 2016.
ALMOND, Paul; VAN ERP, Judith. Regulation and governance versus criminology: dis-
ciplinary divides, intersections, and opportunities. Regulation & Governance, v. 7,
p. 01-17, 2018.
ALVESSON, M.; SPICER, A. Theories of leadership. In: ALVESSON, M.; SPICER, A.
(Orgs.) Metaphors we lead by: understanding leadership in the real world. London:
Routledge, 2011.
ANSOFF, Igor. Corporate Strategy: an analytic approach to business policy for growth and
expansion. New York: McGraw-Hill, 1965.
ARLEN, Jennifer (Org.). Research handbook on corporate crime and financial misleading.
Cheltenham: Edward Elgar, 2018.
ARLEN, Jennifer; KAHAN, Marcel. Corporate governance regulation through non-
-prosecution. University of Chicago Law Review, v. 84, 2017.
ARLEN, Jennifer; KRAAKMAN, Rainier. Controlling corporate misconduct: an analysis of
corporate liability regimes. New York University Law Review, v. 72, p. 687-779, 1997.
204 Ética negocial e compliance
FREEMAN, Edward et al. Stakeholders theory: the state of the art. New York: Cambridge
Press, 2010.
FREEMAN, Edward. Stakeholders management: a stakeholder approach. Boston: Pitman, 1994.
FREEMAN, Edward; EMSHOFF, J. Who´s butting into your business? Wharton Magazine,
v. 4, p. 58-59, 1979.
FREEMAN, Edward; GILBERT, Daniel. Corporate strategy and the search for ethics. New
York: Prentice Hall, 1998.
FRENCH, Peter. Collective and corporate responsibility. New York: Columbia Press, 1984.
FREYER, Tony. Regulating big business: antitrust in Great Britain and America (1880-1990).
Cambridge: Cambridge Press, 1992.
FRIEDMAN, Milton. The social responsibility of business is to increase its profits. In:
DONALDSON, Thomas; WERHANE, Patricia (Orgs.) Ethical issues in business. 8. ed.
New Jersey: Pearson, 2008.
GARRETT, Brandon. Too big to jail: how prosecutors compromise with corporations.
Cambridge: The Belknap, 2014.
GARRETT, Brandon. Response: the metamorphosis of corporate criminal prosecutions.
Virginia Law Review, v. 101, 2015.
GAYLORD, Mark; GALLIHER, John. The criminology of Edwin Sutherland. New Brunswick:
Transaction Publishers, 1988.
GEIS, Gilbert. Deterring corporate crime. In: NADER, Ralph et al. (Org.). Corporate power
in America. New York: Grossman, 1973.
GEIS, Gilbert; STOTLAND, Ezra. Organizational structure and organizational crime.
In: GEIS, Gilbert et al. (Org.). White colar crime: theory and research. Beverly Hills:
Sage, 1980.
GEISMAR, Anne-Gwendolin. Der Tatbestand der Aufsichtspflichtverletzung bei der Ahndung
von Wirtschaftsdelikten. Baden-Baden: Nomos, 2011.
GEORGE, Bill; SIMS, Peter; McLEAN, Andrew; MAYER, Diana. Discovering your authentic
leadership. Harvard Business Review, v. 2, 2007.
GIBBONS, Robert. What is economic sociology and should any economists care?. Journal
of Economic Perspectives, v. 19, p. 03-07, 2005.
GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. São Paulo: Unesp, 1991.
GINTIS, Herbert; KHURANA, Rakesh. Corporate honesty and business education: a
behavioral model. In: ZAK, Paul (Org.). Moral Markets: the critical role of values in
the economy. Princeton: Princeton, 2008.
GOFFMAN, Erving. The presentation of self in everyday life. Garden City: Anchor, 1959.
GRANOVETTER, Mark. A Theoretical Agenda for Economic Sociology. In: GUILLEN,
Mauro; COLLINS, Randal; ENGLAND, Paula; MEYER, Marshall (Orgs.). The New
Economic Sociology: developments in an Emerging Field. New York: Russell Sage
Foundation, 2002.
GRANOVETTER, Mark. Society and economy: framework and principles. Cambridge:
The Belknap, 2017.
Referências bibliográficas 211
GRANOVETTER, Mark; SWEDBERG, Richard. The sociology of economic life. 3. ed. Boul-
der: Westview, 2011.
GRECO FILHO, Vicente; RASSI, João Daniel. O combate à corrupção. São Paulo: Saraiva, 2015.
GRECO, Luis; CARACAS, Christian. Internal investigations e o princípio da não auto-
-incriminação. In: LOBATO, José Danilo Tavares (Ed.). Comentários ao direito penal
econômico brasileiro. Belo Horizonte: D´Plácido, 2018.
GREEN, Bruce; PODGOR, Ellen. Unregulated internal investigations: achieving fairness
for corporate constituents. Boston College Law Review, v. 54, p. 73-126, 2013.
GREEN, Ronald M.; DONOVAN, Aine. The methods of business ethics. In: BRENKERT,
George; BEAUCHAMP, Tom (Org.). The Oxford Handbook of Business Ethics. Oxford:
Oxford University Press, 2010.
GREEN, Stuart. Lying, cheating, and stealing: a moral theory of white-collar crime. Oxford:
Oxford Press, 2006.
GREENE, Joshua. Moral tribes: emotion, reason, and the gap between us and them. New
York: Penguin, 2013.
GRIFFITH-JONES, Stephany; OCAMPO, José Antonio; STIGLITZ, Joseph (Orgs.). Time for
a visible hand: lessons from the 2008 World Financial Crisis. Oxford: Oxford Press, 2018.
GRUNER, Richard. Lean law compliance: confronting and overcoming legal uncertainty
in business enterprises and other complex organizations. NYU Journal of Law & Bu-
siness, v. 11, 2014.
HAGAN, John. The social embeddedness of crime and unemployment. Criminology, v. 31,
p. 465-491, 1993.
HAGAN, John. Victims before the law: a study of victim involvement in the criminal justice
process. Journal of Criminal Law and Criminology, v. 73, p. 317-330, 1982.
HAGAN, John. Who are the criminals? The politics of crime policy from the Age of Roosevelt
to the Age of Reagan. Princeton: Princeton Press, 2010.
HAIDT, Jonathan. The emotional dog and its rational tail: a social intuitionist approach
to moral judgement. Psychological Review, v. 108, n. 4, p. 814-834, 2001.
HAIDT, Jonathan. The righteous mind: why good people are divided by politics and religion.
New York: Panthoen, 2012.
MÜLLER Hans Peter. Gesellschaft, Moral und Individualismus. Émile Durkheims
Moraltheorie. In: BERTRAM, Hans (Org.). Gesellschaftlicher Zwang und moralische
Autonomie. Frankfurt, 1986.
HASKINS, Ron; BARON, Jon. Building the connection between policy and evidence: the
Obama-evidence based initiatives. UK: Nesta, 2011.
HASNAS, John. The centenary of a mistake: one hundred years of corporate criminal
liability. American Criminal Law Review, v. 46, p. 1329-1358, 2009.
HASNAS, John. Trapped: when acting ethically is against the law. Washington: CATO, 2006.
HAUGH, Todd. Cadillac compliance breakdown. Stanford Law Review Online, v. 69, 2017.
HAUGH, Todd. The criminalization of compliance. Notre Dame Law Review, v. 92, p. 1215-
-1269, 2017.
212 Ética negocial e compliance
KHANNA, Vik. Corporate liability standards: when should corporations be held criminally
liable?. American Criminal Law Review, v. 37, 2000.
KHANNA, Vik; DICKINSON, TL. The corporate monitor: the new corporate czar. Michigan
Law Review, v. 105, p. 1713-1716, 2017.
KHANNA, Vik; KIM, Han; LU, Yao. CEO connectedness and corporate frauds. Journal of
Finance, v. 70, p. 1203-1252, 2015.
KIECHEL, Walter. The management century. Harvard Business Review, v. 11, 2012.
KLEIN, E. The one necessary condition for a successful business ethics course: the teacher
must be philosopher. Business Ethics Quaterly, v. 8, 1998.
KOHLBERG, Lawrence. The philosophy of moral development: moral stages and the idea
of justice. New York: Haper, 1981.
KRAWIEC, Kimberly. Cosmetic compliance and the failure of negotiated governance.
Washington University Law Review, v. 81, 2003.
KUBICIEL, Michael. Die Finanzmarktkrise zwischen Wirtschaftsstraft und politischem
Strafrecht. Zeitschrift für Internationale Strafrechtsdogmatik, v. 2, p. 53- 60, 2013.
KUBICIEL, Michael. Die deutschen Unternehmensgeldbussen: ein nicht wettbewerbs-
fähiges Modell und seine Alternativen. Neue Zeitschrift für Wirtschafts-, Steuer-, und
Unternehmensstrafrecht, v. 5, p. 178-181, 2016.
KUHLEN, Lothar et al. (Org.). Compliance y teoria del derecho penal. Madrid: Marcial
Pons, 2013.
KUNREUTHER, Howard; USEEM, Michael. Learning from catastrophes: strategies for
reaction and response. New Jersey: Pearson, 2010.
KUNREUTHER, Howard; USEEM, Michael. Mastering catastrophic risk: how companies
are coping with disruption. Oxford: Oxford Press, 2018.
LANGEVOORT, Donald. Behavioral ethics, behavioral compliance. In: ARLEN, Jennifer
(Org.). Research handbook on corporate crime and financial misleading. Cheltenham:
Edward Elgar, 2018.
LAUFER, William. Corporate liability, risk shifting, and the paradox of compliance. Van-
derbilt Law Review, v. 52, 1999.
.LAUFER, William. Corporate prosecution, cooperation, and the trading of favors. Iowa
Law Review, v. 87, p. 643-667, 2002.
LAUFER, William. Corporate bodies and guilty minds. Chicago: Chicago Press, 2006.
LAUFER, William. Illusions of compliance and governance. Corporate Governance, v. 6,
p. 239-249, 2006.
LAUFER, William. Modern forms of corruption and moral stains. The Georgetown Journal
of Law & Public Policy, v. 12, 2014.
LAUFER, William. Where is the moral indignation over corporate crime?. In: BRODOWSKI,
Dominik et al. (Org) Regulating corporate criminal liability. Heidelberg: Springer, 2014.
214 Ética negocial e compliance
LAUFER, William. Inautenticità del sistema della responsabilita degli enti e giudizio di
colpevolezza. In: CENTONZE, Francesco et al. (Org.). La responsabilità penale degli
enti. Bologna: Il Mulino, 2016.
LAUFER, William. The missing account of Progressive Corporate Criminal Law. New York
University Journal of Law and Business, v. 14, p. 01-60, 2017.
LAUFER, William. A very special regulatory milestone. University of Pennsylvania Journal
of Business Law, v. 319, p. 01-37, 2018.
LAZEAR, Edward. Gary Becker´s impact on economics and policy. American Economic
Review, v. 105, p. 80-84, 2015.
LEIGHTON, Paul. Corporate crime and the corporate agenda for crime control: disappea-
ring awareness of corporate crime and increasing abuses of power. Western Criminology
Review, v. 14, p. 38-51, 2013.
LEIGHTON, Paul. Fairness matters: more than deterrence. Criminology & Public Policy,
v. 9, 2010.
LEWIN, Kurt. Principles of topological psychology. New York: McGraw-Hill, 1936.
LIBERMAN, Akiva. Advocating evidence-generating policing: a role for the ASC. The
Criminologist, v. 22, p. 02-05, 2009.
LICHAND, Guilherme; LOPES, Marcos; MEDEIROS, Marcelo. Is corruption good for
your health?. Harvard Working Paper, p. 01-58, 2016.
LIPMAN, Frederick. Whistleblowers: incentives, desincentives, and protection strategies.
Hoboken, 2012.
LIST, John; MOMENI, Fatemeh. When corporate social responsibility backfires: theory
and evidence from a natural field experiment. NBER Working Paper, p. 01-31, 2017.
LOBATO, José Danilo Tavares. Direito penal ambiental e seus fundamentos. Curitiba: Juruá,
2011.
LOPES, José Reinaldo Lima. Naturalismo jurídico no pensamento brasileiro. São Paulo:
Saraiva, 2014.
LUHMANN, Niklas. Die Moral der Gesellschaft. Frankfurt: Suhrkamp, 2002.
LUHMANN, Niklas. Die Soziologie des Risikos. Berlin: De Gruyter, 2003.
LUKES, Steven; SCULL, Andrew. Durkheim and the law. 2. ed. London: Palgrave, 2013.
MACEY, Jonathan. Corporate governance: promises kept, promises broken. Princeton:
Princeton Press, 2008.
MACMILLAN, Ian; THOMPSON, James. The social entrepeneur´s playbook. Filadelfia:
Wharton Digital Press, 2017.
MAGALHÃES, Vlamir Costa. O crime de lavagem de ativos no contexto do direito penal
econômico contemporâneo: criminal compliance, delinquência empresarial e o deli-
neamento da responsabilidade penal no âmbito das instituições financeiras. Porto
Alegre: Nuria Fabris, 2018.
MANN, Michael. The sources of social power. Cambridge: Cambridge Press, 2012. v. 1-4.
MARCUZZI, Stefano; TERZI, Alessio. Are Multinationals eclipsing Nation States?. Project
Syndicate, 01.02.2019.
Referências bibliográficas 215
MASCHMANN, Frank. Compliance y derechos del trabajador. In: KUHLEN, Lothar et al.
(Org.). Compliance y teoria del derecho penal. Madrid: Marcial Pons, 2013.
MATERSON, Thomas; NUNAN, Carlton. Ethics in Business. New York: Pitman, 1969.
MAXFIELD, Mike et al. Multiple research methods for evidence generation. In: KNUTS-
SON, Johannes; TOMPSON, Lisa (Org.). Advances in evidence-based policing. London:
Routledge, 2017.
MAZEROLLE, Lorraine et al. Evidence-based policing as a disruptive innovation: the
Global Policing Database as a disruption tool. In: KNUTSSON, Johannes; TOMPSON,
Lisa (Org.). Advances in evidence-based policing. London: Routledge, 2017.
McBARNET, Doreen. When compliance is not the solution but the problem: from changes
in law to changes in attitude. ANU Working Paper, 2001.
McCABE, Donald; TREVIÑO, Linda; BUTTERFIELD. The influence of collegiate and
corporate codes of conduct on ethics-related behavior in the workplace. Business
Ethics Quarterly, v. 6, p. 461-476, 1996.
McCARTHY, Bill. New economics of sociological criminology. Annual Review of Sociology,
v. 28, p. 417-442, 2002.
McCRAW, Thomas. Prophets of regulation: Charles Francis Adams, Louis D. Brandeis,
James M. Landis, Alfred Kahn. Cambdrige: The Belknap, 1984.
McDONALD, Duff. The Golden Passport: Harvard Business School, the limits of capitalism,
and the moral failure of the MBA elite. New York: Harper Collins, 2017.
McKENNA, Christopher. The World´s newest profession: managing consulting in the Twen-
tieth Century. Cambridge: Cambridge Press, 2006.
McLEAN, Bethany; ELKIND, Peter. The smartest guy in the room: the amazing rise and
scandalous fall of Enron. 2. ed. London: Penguin, 2013.
McNAMARA, Robert. In retrospect: the tragedy and lessons of Vietnam. New York: Vin-
tage, 1995.
MERKLE, Judith. Management and Ideology: the legacy of the international scientific
management movement. Berkeley: UCLA Press, 1980.
MERTON, Robert K. Social structure and social structure. New York: The Free Press, 1968.
MINTZBERG, Henry. Enough Leadership. Harvard Business Review, v. 11, 2004.
MIZRUCHI, Mark. What do interlocks do? An analysis, critique and assessment of research
on interlocking directorates. Annual Review of Sociology, v. 22, p. 271-298, 1996.
MONTIEL, Juan Pablo; AYESTARÁN, Nicolas (Org.). Lineamientos de integridad. Buenos
Aires: CRIMINT, 2018.
MOOSMAYER, Klaus. Investigaciones internas: una introducción a sus problemas esen-
ciales.In: ARROYO ZAPATERO, Luis; NIETO MARTÍN, Adán (Coord.). El derecho
penal económico en la era del compliance. México: Tirant lo Blanch, 2013.
MORRILL, Calvin; HAGAN, John; HARCOURT, Bernard; MEARES, Tracey. Seeing crime
and punishment through a sociological lens: contributions, practices, and the future.
The University of Chicago Legal Forum, 2005.
216 Ética negocial e compliance
MORRIS, Charles. The Tycoons: how Andrew Carnegie, John Rockefeller, Jay Gould, and
J. P. Morgan invented the American Supereconomy. New York: Henry Holt, 2005.
MUELLER, Mens Rea and the Corporation: a study of the Model Penal Code position on
corporate criminal liability. University of Pittsburgh Law Review, 1957.
NAGIN, Daniel; TELEP, Cody. Procedural justice and legal compliance. Annual Review of
Law and Social Science, v. 13, 2017.
NAHOUM, André Vereta. A sociologia econômica no Brasil: balanço de um campo. In:
MICELI, Sergio et al. (Org.). Sociologia brasileira hoje. São Paulo: Ateliê, 2017.
NAUCKE, Wolfgang. Der Begriff des politischen Wirtschaftstat. Berlin: LIT, 2012.
NEE, Victor; INGRAM, Paul. Embeddedness and beyond: institutions, exchange, and
social structure. In: BRINTON, Mary; NEE, Victor (Org.). The new institutionalism in
sociology. New York: Russell Sage, 1998.
NELKEN, David (Org.). Comparing legal cultures. Dartmouth: Taylor&Francis, 1997.
NELSON, Caelah. Corporate compliance monitors are not super heroes with unrestrained
power: a call for increased oversight and ethical reform. Georgetown Journal of Legal
Ethics, p. 723-733.
NICHOLS, Phil. Are extraterritorial restrictions on bribery a viable and desirable in-
ternational policy goal under the global conditions of the late Twentieth Century?
Increasing global security by controlling transnational bribery. Michigan International
Law Journal, 1998.
NIETO MARTIN, Adan et al. (Org). Public compliance: prevención de la corrupción en
administraciones públicas y partidos politicos. Cuenca: UCLM, 2016.
NIETO MARTIN, Adan. Compliance, criminologia e responsabilidade penal das pessoas
jurídicas. In: NIETO MARTIN, Adan et al. (Org). Manual de cumprimento normative e
responsabilidade penal das pessoas jurídicas. São Paulo: Tirant Brasil, 2018.
NIETO MARTIN, Adan. Cosmetic Use and Lack of Precision in Compliance Programs:
Any Solution?. Eucrim, v. 3, 2012.
NIJHOF, Andre et al. Measuring the implementation of codes of conduct: an assessment
method based on a process approach of the responsible organisation. Journal of Business
Ethics, v. 45, p. 65-78, 2003.
NUSSBAUM, Martha. The costs of tragedy: some moral limits of cost-benefits analysis.
Journal of Legal Studies, v. 29, p. 1.005-1.036, 2000.
NUSSBAUM, Martha. Creating capabilities: the human development approach. Cambridge:
Harvard Press, 2011.
OCEG. A practical guide about GRC Metrics & Measurement. [https://go.oceg.org/guide-
-grc-metrics-measurement]. Acesso em 01.02.2019.
OCEG. GRC Plus Reg Tech: how to make GRC more intelligent. [https://go.oceg.org/grc-
-plus-regtech-how-to-make-egrc-more-intelligent]. Acesso em: 01.02.2019.
OCEG. Accelerating the evolution of GRC. [https://go.oceg.org/accelerating-evolution-grc].
Acesso em 01.02.2019.
OCEG. The building blocks of GRC: visualizing an effective capability. OCEG: 2016.
Referências bibliográficas 217
OFFE, Claus. Die Arbeitsgesellschaft. In: PONGS, Armin (Org.). In welcher Gesellschaft
leben wir eigentlich? München: Dilemma, 2004.
OLIVEIRA, Ana Carolina Carlos. Lavagem de dinheiro (manuscrito de breve publicação).
ORTS, Eric. Beyond shareholders: interpreting corporate constituency statutes. George
Washington Law Review, v. 61, p. 14-135, 1992.
ORTS, Eric. A North American legal perspective on stakeholder management theory. In:
PATFIELD, F. M. (Org.). Perspectives on Company Law. The Hage: Kluwer Law, 1997. v. II.
ORTS, Eric. Book review: Bowman´s ‘The modern corporation and American political
thought’. Legal Studies and Business Ethics Papers, v. 3, 1997.
ORTS, Eric; STRUDLER, Alan. Putting a stake in stakeholder theory. Journal of Business
Ethics, v. 88, p. 605-615, 2009.
PAINE, Lynn. “Managing for organization integrity”. Harvard Business Review, v. 03, 1994.
PAINE, Lynn. Managing for organizational integrity”. In: DONALDSON, Thomas;
WERHANE, Patricia (Org.). Ethical issues in business. 8. ed. New Jersey: Pearson, 2008.
PARGENDLER, Mariana. The corporate governance obsession. The Journal of Corporation
Law, 2016.
PARKER, Christine. Compliance professionalism and regulatory community: the Aus-
tralian Trade Practices Regime. Journal of Law and Society, v. 26, p. 215-239, 1999.
PARKER, Christine. Reinventing regulation within the corporation: compliance-oriented
regulatory innovation. Administration & Society, v. 32, p. 529-565, 2000.
PARKER, Christine. The open corporation: effective self-regulation and democracy. Cam-
bridge: Cambridge Press, 2002.
PARKER, Christine. The pluralization of regulation. Theoretical Inquiries, v. 9, p. 350-396, 2008.
PARKER, Christine; NIELSEN, Vibeke. The challenge of empirical research on business
compliance in regulatory capitalism. Annual Review of Law and Social Science, v. 5,
p. 45-70, 2009.
PARKINSON, J. E. Corporate power and responsibility: issues in the theory of company
law. Oxford: Clarendon, 1993.
PAWLIK, Michael. Das Unrecht des Bürgers: Grundilinien der Allgemeinen Verbrechens-
lehre. Tübigen: Mohr Siebeck, 2013.
PETRIGLIERI, Gianpiero; PETRIGLIERI; Jennifer. Can Business Schools humanize lea-
dership. Academy of Management Learning & Education, v. 18, 2015.
PIEL, Hannah; ALBERT, Joachim. Risikogeschäfte im Lichte der business judgement rule. In:
ALBRECHT, Heiko et al. (Org.) Unternehmensstrafrecht. München: C.H. Beck, 2015.
PITT, Harvey; GROSKAUFMANIS, Karl. When bad things happen to good companies: a
crisis management primer. Cardozo Law Review, v. 15, p. 01-14, 1994.
PORTER, Michael. How competitive forces shape strategy. Harvard Business Review, v. 3, 1979.
POSNER, Richard. An economic theory of the criminal law. Columbia Law Review, v. 85,
p. 1193-1231, 1985.
PRATA, Daniela Arantes. Criminalidade corporativa e vitimização ambiental: análise do
Caso Samarco. São Paulo: LiberArs, 2019.
218 Ética negocial e compliance
PUNCH, Maurice. Dirty Business, exploring corporate misconduct. London: Sage, 1996.
PUTNAM, Robert. Bowling alone: the collapse and revival of American Community. New
York: Simon&Schuster, 2000.
RADD, John. Morality and the ideal of rationality in formal organizations. The Monist,
v. 54, p. 488-516, 1973.
RAGUÉS, Ramón. Whistleblowing. Madrid: Marcial Pons, 2013.
RAUD-MATTEDI, Cécile. A construção social do mercado em Durkheim e Weber: análise
do papel das instituições na sociologia econômica clássica. Revista Brasileira de Ciências
Sociais, São Paulo, v. 20, n. 57, p. 127-142, fev. 2005.
REIMAN, Jeffrey. The rich get richer and the poor get prison: ideology, crime and criminal
justice. 4. ed. Boston: Allyn&Bacon, 1995.
REISS, Albert. The institutionalization of risk. Law and Policy, v. 11, p. 392-402, 1989.
RENN, Ortwin. Three decades of risk research: accomplishments and new challenges.
Journal of Risk Research, v. 1, p. 49-71, 1998.
ROBERTS, Dorothy. The social and moral cost of mass incarceration in African American
communities. Stanford Law Review, v. 56, 2004.
RODRÍGUEZ, Víctor. Delación premiada: límites éticos al Estado. (manuscrito de breve
publicação).
ROE, Mark. Strong managers, weak owners: the political roots of American corporate
finance. Princeton: Princeton Press, 1994.
ROHR, John. To run a Constitution: the legitimacy of the Administrative State. Kansas:
Kansas, 1986.
RORIE, Melissa. An integrated theory of corporate environmental compliance and over-
compliance. Crime, Law and Social Change, v. 64, p. 65-101, 2015.
RORIE, Melissa et al. Examining procedural justice and legitimacy in corporate offending
and beyond-compliance behavior: the efficacy of direct and indirect regulatory inte-
ractions. Law & Policy, v. 40, p. 172-195, 2018.
ROSE-ACKERMAN, Susan. Corruption. In: ROWLEY, Charles et al. (Org.). Readings in
public choice and constitutional political economy. New York: Springer, 2008.
ROTSCH, Thomas. Criminal compliance. Zeitschrift für Internationale Strafrechtsdogmatik,
v. 10, p. 614-617, 2010.
RUBENFELD, Samuel. MasterCard uses film for anti-bribery compliance training.
Wall Street Journal (Risk&Compliance), [https://blogs.wsj.com/riskandcomplian-
ce/2017/08/04/mastercard-uses-film-for-anti-bribery-compliance-training/]. Acesso
em 01.02.2019.
SAAD-DINIZ, Eduardo. Escândalos corporativos: filme de terror sem fim?. Boletim IBC-
CRIM, São Paulo, 2015.
SAAD-DINIZ, Eduardo. Corrupção e compliance no Brasil. LOBATO, José Danilo Tavares
et al. (Org.). Comentários ao direito penal econômico. Belo Horizonte: D´Plácido, 2017.
SAAD-DINIZ, Eduardo. Brasil vs. Golias: os 30 anos da responsabilidade penal da pessoa
jurídica e as novas tendências em compliance. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 988,
p. 25-53, 2018.
Referências bibliográficas 219
SCHWARTZ, Peter; GIBB, Blair. When good companies do bad things. New York: John
Willey, 1999.
SCOTT, M. Shifting and sharing responsibility to address public safety problems. In:
TILLEY, N. (Org.). Handbook of crime prevention and community safety. London:
Routledge, 2005.
SELZNICK, Philip. “Focusing organizational research on regulation”. NOLL, Roger. Re-
gulatory policy and the social sciences. Berkeley: University of California Press, 1985.
SEN, Amartya. Development as Capability Expansion. Journal of Development Planning,
v. 19, p. 41-58, 1989.
SEPINWALL, Amy. Responsible shares and shared responsibility: in defense of responsible
corporate officer liability. Columbia Business Law Review, v. 371, 2014.
SHEPPARD, Blair; LEWICKI, Roy; MINTON, John. Organizational justice. Toronto: Le-
xington, 1992.
SHERMAN, Lawrence. Evidence-based policing. Washington: Police Foundation, 1998.
SHERMAN, Lawrence. The rise of evidence-based policing: targeting, testing, and tracking.
Crime and Justice, v. 42, p. 377-451, 2013.
SHERMAN, Lawrence; GOTTFREDSON, Denise; MacKENZIE, Doris; ECK, John; REU-
TER, Peter; BUSHWAY, Shawn. Preventing crime: what works, what doesn´t, what´s
promising. National Institute of Justice, v. 7, p. 01-19, 1998.
SHERMAN, Lawrence; STRANG, Heather. Restorative justice: the evidence. London:
Smith, 2007.
SHLEIFER, Andrei; VISHNY, Robert. A survey of corporate governance. The Journal of
Finance, v. 52, p. 737-783, 1997.
SHORT, Jodi; TOFFEL, Michael. Making self-regulation more than merely symbolic: the
critical role of the legal environment. Administrative Science Quarterly, v. 55, p. 361-
-396, 2010.
SIEP, Ludwig. Hegels Fichtekritik und die Wissenschaftslehre von 1804. Freiburg: Karl Alber,
1970.
SIGLER, Jay; MURPHY, Joseph. Interactive corporate compliance. New York: Quorum, 1988.
SILVA SANCHEZ, Jesus-Maria. Yates Memorandum. InDret Penal, v. 4, 2015.
SILVA, Adolfo Henrique Coutinho et al. Teoria dos escândalos corporativos: uma análise
comparativa de casos brasileiros e norte-americanos. Revista de Contabilidade do Mes-
trado em Ciências Contábeis da UERJ, Rio de Janeiro, v. 17, p. 92-108, 2012.
SILVEIRA, Renato de Mello Jorge; SAAD-DINIZ, Eduardo. Compliance, lei anticorrupção
e direito penal. São Paulo: Saraiva, 2015.
SILVERMAN, Dan. Review of ‘Law and economics of irrational behavior’. Journal of Eco-
nomic Literature, v. 44, p. 728-731, 2006.
SIMPSON, Sally et al. Corporate crime deterrence: a systematic review. Campbell Systematic
Reviews, may 2014.
SIMPSON, Sally. Corporate crime, law, and social control. Cambridge: Cambridge Press,
2002.
Referências bibliográficas 221
TYLER, Tom. Reducing corporate criminality: the role of values. American Criminal Law
Review, v. 51, p. 267-291, 2014.
TYLER, Tom. Psychology and the deterrence of corporate crime. In: ARLEN, Jennifer
(Org.). Research handbook on corporate crime and financial misdealing. Cheltenham:
Edward Elgar, 2018.
TYLER, Tom; HUO, Yuen. Trust in the Law: encouraging public cooperation with the police
and courts. New York: Russell, 2002.
USEEM, Michael; ZEELEKE, Andy. Oversight and delegation in corporate governance:
deciding what the board should decide. Corporate Governance, v. 14, p. 02-12, 2006.
VANDERBERGH, Michael. Private environmental governance. Cornell Law Review, v. 99,
p. 01-73, 2013.
VANDERBERGH, Michael. The new Wal-Mart effect: the role of private contracting in
global governance. UCLA Law Review, v. 54, p. 913-970, 2007.
VAUGHAN, Diane. Regulating risk: implications of the challenger accident. Law and
Policy, v. 11, p. 330-349, 1989.
VAUGHAN, Diane. The Challenger launch decision: risky, technology, culture, and deviance
at NASA. Chicago: Chicago Press, 1992.
VERBITSKY, Horacio; BOHOSLAVSKY, Juan Pablo (Org.). Cuentas pendientes: los cómplices
económicos de la Dictadura. Buenos Aires: Siglo veintiuno, 2013.
VERHOFSTADT, Guy. Mark Zuckerberg has lost control of Facebook. Project Syndicate.
29.11.2018.
VERÍSSIMO, Carla. Compliance: incentivos à adoção de medidas anticorrupção. São Paulo:
Saraiva, 2018.
VOGEL, Joachim. Wertpapierhandelsstrafrecht: Vorschein eines neuen Strafrechtsmodells.
In: PAWLIK, Michael et al. (Org.). Festschrift für Günther Jakobs. Köln: Heymanns,
2007.
VON DER EMBSE, Thomas et al. How well are corporate ethics codes and policies applied
in the trenches? Key factors and conditions. Information Management & Computer
Security, v. 12, p. 146-153, 2004.
WALKER, Margaret Urban. Moral contexts. Lanham: Rowman and Littlefield, 2003.
WALT, Steven; LAUFER, William. Why personhood doesn´t matter: corporate criminal
liability and sanctions. American Journal of Criminal Law, v. 18, p. 263-287, 1991.
WARREN, Danielle. The persistence of organizational deviance: when informal sanctio-
ning systems undermine formal sanctioning systems. Business Ethics Quarterly, v. 29,
p. 55-84, 2019.
WARREN, Danielle; GASPAR, Joseph; LAUFER, William. Is formal ethics training merely
cosmetic? A study of ethics training and ethical organizational culture. Business Ethics
Quarterly, v. 24, p. 85-117, 2014.
WARREN, Danielle; LAUFER, William. Are corruption indexes a self-fulfilling prophecy?
A social labeling perspective of corruption. Journal of Business Ethics, v. 88, p. 841-
-849, 2009.
224 Ética negocial e compliance
WEISBURD, David et al. (Org). Crimes of the middle classes: white-collar offenders in the
Federal Courts. Chelsea: Yale Press, 1991.
WEISMAN, Andrew; NEWMAN, David. Rethinking corporate criminal liability. Indiana
Law Journal, v. 82, 2007.
WEISMAN, Andrew; STAUFFER, Robert; BUGAN, Ana. DOJ replaces Thompson Memo-
randum with McNulty Memorandum. White Collar Practice Alert, v. 12, 2006.
WELLFORD, C. Criminologists should stop whining about their impact on policy and
practice. FROST, N. A. et al. (Org) Contemporary issues in criminal justice policy.
Belmont: Cengage, 2009.
WELLS, Peter. New labour and evidence-based policy making: 1997-2007. People, Place
& Policy Online, v.1, p. 22-29, 2007.
WHITE, Harrison. Markets from networks, 2002.
WHITE, Stacey; LANG, Hardin. Corporate engagement in natural disaster response: piecing
together the value chain. Washington: CSIS, 2012.
WILSON, Suze. Thinking differently about leadership: a critical history of leadership studies.
Cheltenham: Edward Elgar, 2016.
WINKLER, Adam. We the corporations. New York: Liveright, 2018.
WOOD, Greg; RIMMER, Malcolm. Codes of ethics: what are they really and what should
they be?. International Journal of Value-Based Management, v. 16, p. 181-195, 2003.
WOOLSEY BIGGART, Nicole (Org.). Readings in economic sociology. Malden: Blackwell,
2002.
WU, J. Environmental compliance: the good, the bad, and the super green. Journal of
Environmental Management, v. 90, p. 3363-3381, 2009.
YAZBEK, Otavio. Representações do dever de diligência na doutrina jurídica brasileira:
um exercício e alguns desafios. In: KUYVEN, Luiz Fernando Martins (Org.). Temas
essenciais de direito empresarial. São Paulo: Saraiva, 2012.
YEAGER, Peter. Law versus Justice: from adversarianyism to communitarism. Law and
Social Inquiry, v. 29, p. 891-915, 2004.
ZAGARIS, Bruce. Prosecutors and judges as corporate monitors?. In: LIGETI, Katalin;
FRANSSEN, Vanessa (Orgs.). Challenges in the field of economic and financial crime in
Europe and the US. Oxford: Hart, 2017.
ZAK, Paul. Values and value: moral economics. In: ZAK, Paulo (Org.). Moral markets: the
critical role of values in the economy. Princeton: Princeton Press, 2008.
ZELIZER, Viviana. Economic lives: how culture shapes the economy. Princeton: Princeton
Press, 2013.
ZUCMAN, Gabriel. La riqueza escondida de las Naciones: cómo funcionan los paraísos
fiscales y qué hacer con ellos. Buenos Aires: Siglo veintiuno, 2015.
A.S. L9493