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Planejamento tributário eficiente: uma análise de sua relação com o risco de

mercado.

O que é Planejamento tributário, é a gestão do pagamento de tributos de uma


empresa e também o estudo de maneiras de reduzir legalmente a carga
tributária que incide sobre ela.

No brasil a carga tributária bruta atingiu 33,9% do PIB o maior valor da série
histórica. O pico anterior ocorreu em 2008 quando a carga atingiu 33,5% do
PIB naquele ano, com isso é importante ressaltar que a carga tributária atingiu
um patamar elevado sem que tenha ocorrido mudança relevante na legislação
tributária e que o aumento da carga nessa proporção não reflete aumento
estrutural de arrecadação.

A percepção equivocada de que há espaço fiscal tem criado pressões políticas


para ampliar as renúncias tributárias que podem gerar mais distorções no
sistema e reduzir sua progressividade.

Carga Tributária Bruta (% do PIB)

O movimento de aumento da carga tributária reflete uma recuperação cíclica


agudizada pela expressiva mudança de preços relativos. Colocando em
perspectiva, movimento semelhante aconteceu na crise de 2008 quando
observamos uma recuperação expressiva da carga tributária em 2010 e 2011.
Logo depois voltou a cair refletindo uma normalização dos preços relativos da
economia e por conta de algumas desonerações. O movimento atual foi
amplificado porque as mudanças na composição da economia em decorrência
da pandemia foram ainda mais expressivas e que resultaram, inclusive, na
aceleração da inflação.

O Brasil deixa de arrecadar por ano mais de R$ 417 bilhões com impostos,
devido às sonegações de empresas. Um levantamento feito pelo Instituto
Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) mostra que o faturamento não
declarado pelas empresas é de R$ 2,33 trilhões por ano. As cifras foram
calculadas com base nos autos de infrações emitidos pelos fiscos federal,
estaduais e municipais. Segundo o levantamento, o Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços (ICMS) foi o imposto mais sonegado em 2018. Já
em 2019, a sonegação do imposto de renda superou o ICMS. O IBPT
descobriu que 47% das empresas de pequeno porte sonegam imposto. Já a
taxa entre as empresas médias é de 31% e entre as de grande porte é de 16%.
Ao mesmo tempo, os valores sonegados são maiores no setor industrial,
seguido pelas empresas de serviços financeiros e pelas empresas de
prestação de serviços.

Diante dessas perspectivas, as organizações podem vir a querer, aumentar


seus investimentos em atividades que reduz o diferimento dos tributos, o que a
literatura internacional denomina de corporate tax avoidance. Se por um lado,
as práticas de tax avoidance podem trazer reflexos positivos às organizações
maximizando seu fluxo de caixa, por outro podem torná-las alvos potenciais
das autoridades fiscais e das penalidades por elas impostas, com efeitos
negativos ao fluxo de caixa, (HANLON; HEITZMAN, 2010, p. 145).

A gestão tributária talvez possa incrementar o arsenal de competitividade das


organizações modernas, como ferramenta importante ao planejamento
estratégico das firmas, tendo em vista o oneroso custo tributário atual e, ainda,
uma fiscalização cada vez mais ativa, aparelhada e eficiente.

Se, de um lado, pode haver organizações ineficientes em matéria tributária,


essas empresas teriam assim uma carga tributária maior do que os outros
competidores do mesmo ramo. Com isso podendo haver um aumento de risco
em relação às suas rivais. O mercado atual exige empresas competitivas que
saibam se planejar com eficiência. Por outro lado, também existem as
organizações que se expõem em excesso aos riscos.

Os administradores que promovem tax avoidance pela prática da evasão ou


elisão fiscal abusiva, por se exporem em demasia aos riscos legais, fazem com
que suas organizações sejam vistas com maior grau de risco pelo mercado de
capitais. Essa exposição ao risco legal, quando obscura e incerta, propicia ao
mercado dúvidas sobre a eficiência do planejamento tributário realizado e
incertezas quanto ao fluxo de caixa futuro da organização.

Os administradores das empresas que alcançam altos índices de tax


avoidance pela prática da evasão ou ilusão fiscal, por exporem-se em demasia
aos riscos legais, fazem com que suas organizações sejam vistas com maior
grau de risco pelo mercado de capitais, sendo assim, para Hafkenscheid
(2010), a despesa de imposto não leva em conta o risco adequadamente, e
pode assim, indevidamente, superestimar ou subestimar o valor econômico da
posição fiscal da corporação. Desta forma, a transparência propiciada pela
governança reduz os efeitos inerentes aos conflitos de agências, também as
incertezas do mercado sobre os passivos tributários oculto, que avivam o risco
legal da empresa.

Assim, o planejamento tributário eficiente aqui definido como sendo o


conjunto de ações que promovam reduções dos tributos explícitos da empresa,
exercidas dentro dos preceitos das boas práticas de governança corporativa, e
que não façam avançar outros custos ou tributos com efeitos marginais
superiores às reduções alcançadas, e ao serem implementados geram maior
eficiência tributária, mas para o mercado o planejamento tributário possui
alguns riscos dentro das instituições. Já para o mercado o planejamento
tributário tem riscos.

Mas afinal, o que é risco? Segundo Jorion (2001), risco pode ser definido
como a volatilidade de resultados inesperados, normalmente relacionados ao
valor de ativos ou passivos de interesse. Na visão de Kassai et al. (2000, p.
10), o risco é uma incerteza que pode ser medida, enquanto que a incerteza é
um risco que não pode ser avaliado. Robichek e Myers (1971, p. 94) são mais
enfáticos, definindo risco como eventos aleatórios, cuja distribuição de
probabilidade é conhecida. Já a incerteza, segundo eles, diz respeito a casos
em que as distribuições não são conhecidas, não sendo, portanto, inteiramente
significativas. Segundo o autor o risco de mercado, é oriundo de movimentos
nos níveis ou nas volatilidades dos preços de mercado, e pode ser classificado
como risco absoluto e risco relativo.

O risco de mercado, segundo o autor, é oriundo de movimentos nos níveis ou


nas volatilidades dos preços de mercado, e pode ser classificado como risco
absoluto e risco relativo. O primeiro é estimado pela volatilidade dos retornos
totais enquanto que o segundo é mensurado em termos do seu desvio em
relação a algum índice.

O risco de credito surge quando as contrapartes não desejam ou não são


capazes de cumprir suas obrigatoriedades. O risco de liquidez, por sua vez
podem assumir duas partes sendo elas:

Risco de liquides, ativo que ocorre quando uma transação não pode ser
efetuada aos preços de mercados prevalecentes, em razão do tamanho da
posição quando comparada ao volume normalmente transacionado;

Risco de liquidez de financiamento ou risco de fluxo de caixa, que se refere à


incapacidade de honrar pagamentos, o que pode obrigar a uma liquidação
antecipada, transformando perdas escriturais em perdas reais.

Já o risco operacional pode ser definido como aquele oriundo de erros


humanos, tecnológicos ou de acidentes. Isso inclui fraudes, falhas de gerência
e
controles e procedimentos inadequados. E, por fim, o risco legal está presente
quando uma transação transcende às questões legais tipificadas no
ordenamento jurídico do mercado em que ocorre.

Os modelos teóricos de risco e retorno mostram que quanto maior for o risco
de um investimento maior será a exigência de retorno do investidor. Estes
modelos trabalham com as premissas de mercados eficientes e ausência de
oportunidades de arbitragens, aqueles que podem trazer aos agentes ganhos
maiores que os custos transacionais.

Estas são as bases teóricas para a formulação do custo de capital próprio de


uma companhia, que serão tanto maiores quanto maior for o grau de risco
desta organização. São vários os modelos de risco e retorno consolidados na
literatura. Dentre os principais, Myers (2003) destaca:

 O Capital Asset Pricing Model (CAPM) proposto por W. F. Sharpe em


1964 e J. Lintner em 1965;

 O modelo do Beta Consumo Versus Beta Mercado proposto por Douglas


Bremen em 1979;

 O Arbitrage Price Theory (APT), também denominado de Arbitrage


Price Model (APM), proposto por Stephen Ross em 1976;

 O Regression, também denominado de Proxy Models ou Modelo dos


Três
Fatores de Fama e French, proposto por eles em 1992; e

 O Multifactor Model for Risk and Return, ou Modelo dos Multifatores,


proposto por Chen, Roll, e Ross em 1986.

Os modelos teóricos de risco e retorno mostram que quanto maior for o risco
de um investimento maior será a exigência de retorno do investidor. Estes
modelos trabalham com as premissas de mercados eficientes e ausência de
oportunidades de arbitragens, aqueles que podem trazer aos agentes ganhos
maiores que os custos transacionais.
No contexto atual, em que a carga tributária é um fator relevante para a
composição de custos das empresas, o planejamento tributário se apresenta
como uma ferramenta importante para a construção de uma organização
eficaz, embora pouco ainda se saiba sobre as consequências que essa prática
acarreta. Concluiu-se que a eficiência tributária de uma organização, alcançada
pelo exercício bem sucedido em atividades de planejamento tributário,
promove uma redução do seu risco em relação ao mercado de capitais, para
o alcance da eficiência em planejamento tributário, faz-se essencial que as
empresas sejam transparentes em suas ações e haja um perfeito alinhamento
dos seus interesses aos dos agentes, situação está encontrada nas empresas
que praticam a governança corporativa em sua gestão.
Ressalta-se, assim, que não é qualquer tipo de planejamento tributário que leva
à redução de risco das empresas. Aqueles feitos de forma inócua, obscura,
oculta, visando ao interesse dos próprios administradores, que consideram
pura e simplesmente o seu bônus de curto prazo, dissonantes dos interesses
da organização, parecem ser percebidos pelo mercado financeiro, e não são a
eles oferecidos o mesmo benefício do que os realizados dentro de uma
ambiência de clareza e governança.

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