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1.

Introdução

A crescente sofisticação dos mercados de capitais a nível mundial levou a maior parte das
empresas a transacionar novos tipos de contratos/instrumentos, os quais se revelam bastante
complexos. De forma geral, estes instrumentos possibilitam às empresas alterarem a estrutura
do risco de negócio e do risco financeiro. Por outro lado, a volatilidade ao nível das taxas de
câmbio, das taxas de juro e dos preços de várias commodities, originou a necessidade de gerir
cuidadosamente os riscos de negócio e os riscos financeiros das empresas de modo a fazerem
face à instabilidade existente nos mercados. Com a globalização dos mercados financeiros,
o elevado crescimento do comércio internacional, a sofisticação dos mecanismos de gestão
de risco e dos sistemas de informação, a utilização de novos produtos derivados com custos
bastante competitivos para a gestão do risco e para aumentar a rendibilidade dos ativos
tornou-se uma prática corrente na vida de muitas empresas.
2. Principais finalidades do uso de derivados financeiros
Os instrumentos financeiros derivados são bastante usados pelos investidores ou pelas
empresas que necessitam de realizar a política de cobertura de riscos. De acordo com Ferreira
(2011) o uso de derivados financeiros pode se ter diversas finalidades, sendo que apenas três
são as mais usuais, nomeadamente o hedging, a especulação e a arbitragem.

Segundo Klingeberg, Hang e Rathgeber (2019) o hedging é uma posição de investimento


destinada a compensar eventuais perdas que advêm de investimentos financeiros. Desta
forma, com a utilização do hedging, o investidor adquire soluções para cobrir os riscos de
operações que serão realizadas no futuro, fazendo com que exista uma probabilidade maior
de evitar perdas face às oscilações dos preços dos ativos que foram alvo de investimento.

De acordo com Arouri, Lahiani e Nguyen (2015) a cobertura de risco é feita com os contratos
de derivados onde o investidor deve adquirir uma posição idêntica aquela que detém, mas no
sentido oposto, ou seja, deverá tomar uma posição contrária aquela que foi assumida no
mercado à vista. Desta forma, o investidor poderá garantir que cobre a posição que optou
inicialmente de modo a diminuir os riscos associados.

Em suma, Chung, Kim, Kim e Yoo (2012) afirmam que o hedging é uma forma dos
investidores salvaguardarem-se das variações dos preços que ocorrem no futuro de um
determinado ativo, conseguindo reduzir os riscos de mercado.

3.A noção de Risco

No Grande Dicionário da Língua Portuguesa encontramos a seguinte definição de risco3 :


perigo; inconveniente ou fatalidade muito possível de efectivar-se. No entanto, a origem da
palavra risco deriva do termo italiano risicare, que significa desafiar. Logo, e nesta acepção,
o termo risco pode ser entendido mais como uma escolha do que como uma fatalidade, uma
sina ou um destino4 . A utilização generalizada, embora de forma muitas vezes ambígua, do
termo “risco” conduz a alguma confusão sobre o seu verdadeiro significado. Pensamos que
a melhor definição de risco tem a ver com a dupla dimensão incerteza/indesejabilidade que
podemos associar a um dado resultado de um determinado acontecimento.
4.A Noção de Cobertura de Risco

Bernstein (2010), avança com a noção de que o controle do nível de risco é uma das ideias
centrais que distingue os tempos modernos da Antiguidade, no sentido de que a gestão do
risco é uma tentativa do Homem de colocar o futuro ao serviço do presente. Como o próprio
bem expressa: The revolutionary idea that defines the boundary between modern times and
the past is the mastery of risk: the notion that the future is more than a whim of the gods and
that men and women are not passive before nature. (idem, p.1).

4.1.Então porquê cobrir o risco?

Numa fase inicial, a literatura financeira centrou-se na análise da utilização dos instrumentos
de cobertura de risco por parte de agentes económicos avessos ao risco cuja função utilidade
derivaria somente dos cash-flows de uma única empresa (agentes económicos não
diversificados). Segundo este paradigma, o objectivo da empresa seria o de eliminar ou
atenuar a incerteza associada ao andamento dos preços dos inputs e outputs da empresa e o
seu consequente efeito nos seus cash flows. O objectivo da cobertura de risco seria fazer com
que, por exemplo, as decisões de produção da empresa fossem independentes do andamento
dos preços dos seus outputs

5. Cobertura do risco
Versando, o presente estudo, sobre o justo valor dos instrumentos financeiros derivados
destinados à cobertura de risco, é importante, antes de tecer qualquer consideração sobre as
regras de contabilidade de cobertura, perceber o conceito que lhe está subjacente, na medida
em que a contabilidade apenas visa refletir nas demonstrações financeiras da empresa as suas
atividades económicas e financeiras.
De forma geral, podemos definir risco como uma situação em que existe a probabilidade de
uma determinada situação ter um resultado diferente daquele que é desejado (Howe, 1991).

5.1.Contabilidade de cobertura
Desde os anos oitenta uma série de novos instrumentos financeiros inovadores surgiram
nos mercados financeiros e têm sido crescentemente utilizados por empresas para a gestão
de risco estratégico corporativo (Nance et al., 1993). Esta tendência forçou organismos de
normalização, como o FASB e o IASB a elaborar normas de
contabilidade apropriadas para atividades de hedging e especulação.

6.Vantagens
Os princípios contabilísticos tradicionais são pessimistas e não contam com lucros não
realizados, pelo que a mensuração ao justo valor constitui uma revolução na forma de
reporte.
Mesmo assim, a mensuração ao justo valor tem vindo a tornar-se cada vez mais importante
no âmbito das normas de contabilidade (Hitz, 2007). Os reguladores sugerem que o justo
valor conduz a informação financeira de maior qualidade porque os seus valores são mais
oportunos e mais relevantes (Ernst & Young, 2005, Hitz, 2007) enquanto mecanismo de
decisão. Consequentemente, os investidores deverão beneficiar da introdução da
contabilidade a justo valor, pois permite-lhes tomar decisões melhores e mais informadas
(Linsmeier, 2010).
7.Conclusão

Os instrumentos financeiros derivados são usados para efetuar a cobertura dos ativos e dos
passivos que são mensurados ao custo, custo amortizado ou ao justo valor com ganhos e
perdas reconhecidos no capital próprio ou itens que não são reconhecidos no balanço
(PriceWaterHouseCoopers, 2005). Isso cria uma incompatibilidade no momento do
reconhecimento do ganho e perda do item coberto e do item de cobertura, gerando um
desbalanceamento nas demonstrações financeiras com as operações de cobertura de risco,
podendo provocar um aumento fictício da volatilidade dos resultados
(PriceWaterHouseCoopers, 2005, PriceWaterHouseCoopers, 2009, Pulido, 2012). Assim, é
necessário fazer ajustamentos à forma de contabilizar o instrumento coberto ou o instrumento
de cobertura para eliminar esse desfasamento, pelo que, os organismos de normalização
internacionais foram levados a elaborar normas de contabilidade apropriadas para atividades
de hedging e especulação.
7.Referencias

ANÓNIMO. (2009). “A Survey of Corporate Risk Management - Too hot to handle”, The
Economist, Vol. 338, nº 7952, 10-Feb-1996, Suplemento.

BERKMAN, H., and M. E. Bradbury. (2013). “Empirical Evidence on the Corporate Use of
Derivatives”, Financial Management 25 (Summer), 5-13.

BREALEY, Richard A., and Stewart C. Myers. (2016). Princípios de Finanças Empresariais,
5ª Edição, McGraw-Hill, Lisboa.

DAMODARAN, Aswarth. (2015). Corporate Finance: Theory and Practice, John Wiley &
Sons, New York.

HOWE, D.. (20111). A Guide to Managing Interest-Rate Risk, New York Institute of Finance,
New York.

MARKOWITZ, H.. (2010). Portfolio Selection: Efficient Diversification of Investments,


John Wiley & Sons, New York.

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