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administração financeira

Unidade III
5 INDICADORES DE DESEMPENHO

Vamos, nesta unidade, reunir e apresentar medidas preventivas no que se refere à área financeira das
organizações. Como se fosse possível apresentá‑las a título de exemplo elucidativo do “como não fazer”,
ou do “como fazer melhor”, a unidade dimensionará situações reais de empreendimentos de sucesso e
de aparente fracasso.

Iremos demonstrar quais os padrões (parâmetros do setor ou indústria) que existem no mercado
financeiro brasileiro para efeito de comparações, no intuito de que tais indicadores possam balizar as
ações gerenciais de forma direta e eficiente. Dessa forma, nosso estudo será encaminhado a um tripé
extremamente importante nas finanças: o risco, o retorno e o hedge (proteção).

5.1 Risco e retorno

Todos os empreendimentos estão sujeitos a algum tipo de risco. Sendo assim, é um bom conselho
que todas as projeções devam conter sua relação de risco, que é o perigo a que estão sujeitas nossas
atitudes, especialmente aquelas tomadas no campo financeiro mais específico, ou gerencial no campo
mais abrangente.

Estudiosos no assunto definiram dois tipos de riscos: o risco sistemático, ou comum, ou inerente
a qualquer negócio, cujo melhor exemplo é o das condições econômicas do país, que tanto afetam as
decisões empresariais; o outro tipo é risco específico, ou próprio, cujo melhor exemplo é o do setor de
serviços, quando se vê afetado por reclamações trabalhistas inerentes aos defeitos ou situações próprias
que têm na relação com seus empregados.

O risco pode e deve ser gerenciado, pode ser previsto, quantificado e, portanto, minimizado.
Na gestão do risco, devemos separá‑los nos riscos de característica operacional, e aqueles com
característica financeira. Os riscos operacionais são aqueles típicos de cada operação. Por
exemplo, se uma empresa só consegue sobreviver em suas vendas se praticar o prazo, correrá
o risco de ter problemas ou não, dependendo de suas políticas próprias de crédito. A propósito,
comecemos por delinear os riscos inerentes à conta Duplicatas a Receber – ou Clientes –, nas
empresas que vendem a prazo.

Os riscos variam de acordo com as características de cada cliente ou tomador do crédito. Os mais
conhecidos e pertinentes são:

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Risco do negócio

Está ligado à incerteza que uma empresa tem de obter determinado resultado em seu negócio,
uma vez que o ponto de equilíbrio operacional deve ser meta constante a ser alcançada e a margem de
contribuição deve ser suficiente para cobrir os custos e despesas operacionais fixas.

Lembrete

Há uma variedade quase infinita de empresas e de situações competitivas


que deverão ser enfrentadas, nas quais se evidenciam os controles dos custos
fixos, harmonização de um faturamento ideal, e obtenção de um lucro que
satisfaça as necessidades dos investidores e também da própria empresa.

Assim, o administrador que desejar quantificar seus riscos terá que analisar sistematicamente a
força e a fraqueza de sua empresa, procurando antecipar os futuros problemas. Em se tratando de
crédito, terá que fazê‑lo também junto a seus clientes.

Dentre os diversos tipos de riscos do negócio, destacamos:

• Risco inicial

O risco que envolve o início das atividades, por meio de um dimensionamento ideal do capital social
necessário ao negócio, e os próprios limites relativos ao talento dos gestores ou administradores.

• Risco de caixa

Que se traduz na falta de dinheiro, ou dimensionamento inadequado ao pagamento dos


compromissos assumidos, sejam eles internos ou externos.

• Risco de autoridade

Ocorre quando os limites pessoais de delegação de autoridade não são aceitos ou inexistem,
criando confusões administrativas e desobediência generalizada a ordens.

• Risco de liderança

Ocorre quando a empresa não tem comando ou quando este comando não é percebido pelos
participantes do processo organizacional.

• Risco da sucessão

Ocorre quando o fundador da empresa não sabe a quem “passar o bastão” em termos familiares
e, ao mesmo tempo, quando estes fazem parte da administração.
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Observação

Observe que o risco de negócio refere‑se estritamente às condições em


que a empresa se encontra e, neste aspecto, cabem análises do ambiente
interno e externo à empresa.

Risco financeiro

É ressaltado pela utilização excessiva de empréstimos, quer em curto prazo – para a manutenção
das atividades operacionais –, quer em longo prazo – para investimentos em Ativos Permanentes. Essas
atitudes são primordiais para a manutenção das atividades financeiras dentro de parâmetros suportáveis.
A cobertura dos custos financeiros é uma tarefa que requer planejamento adequado. Se assim não se
proceder, há o risco de atraso nos compromissos e mesmo a impossibilidade de alcance da necessária
lucratividade.

Risco político

Que se traduz na influência considerável que a condução política do Estado traz às empresas e aos
negócios. A dinâmica nas regras econômicas e tributárias promovidas pelos governos federal, estaduais
e municipais é de tal ordem que acabam por inibir a atuação empreendedora, causando instabilidade
e influência, por vezes negativa, nos negócios e transações de médio e longo prazo. Com todas as
consequências de ordem social e econômica que tal fato acarreta.

Observação

Observe que o risco político é um condicionante externo à empresa, mas


que deve ser considerado: daí a importância de se conhecer o ambiente da
política econômica governamental.

Riscos contingentes

Devemos reconhecer que os negócios convivem com incertezas e inseguranças. Incêndios,


alagamentos e enchentes são fatores muitas vezes incontroláveis. Há situações, entretanto, que podem
ser previstas e mantidas como Passivos contingenciais. Dentre elas se destacam as ações trabalhistas,
imposição de multas, autuações etc.

Risco do prazo

O ideal, numa economia, é que todas as transações se realizem à vista, ou seja, sem necessidade
de financiamento a prazo. Todavia, não é o que ocorre. A cada dia o crédito aos clientes é mais e mais
importante. E também a necessidade de buscar idêntica aliança junto aos fornecedores. Este ciclo precisa

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ser favorável – um adequado ciclo de caixa –, sob pena de estabelecer‑se um desequilíbrio financeiro na
relação Ativo Circulante versus Passivo Circulante.

Risco da insolvência

Trata‑se de um risco permanente em situações de crédito determinadas pelo mercado de atuação da


empresa. A formação de uma provisão para devedores duvidosos é de vital importância para a “saúde”
financeira do negócio. A Administração Financeira deve reconhecer tal risco em toda sua magnitude e
estabelecer normas e políticas que venham a equacionar e, sobretudo, diminuir o impacto deste risco
na rentabilidade do negócio.

Como riscos com característica financeira, destacamos aqueles que possam causar prejuízos
diretamente nos resultados ou na condução de uma política financeira saudável, tais como a) mudança
inesperada no custo das mercadorias ou insumos, movidos por problemas econômicos nacionais; b)
redução dos preços de venda por problemas econômicos ou específicos do setor; c) mudança inesperada
e representativa na taxa de câmbio; d) mudança inesperada e significativa nas taxas de juros.

Saiba mais

O assunto risco é bastante interessante. Aqui, o que se apresentou, foi


o tratamento empresarial do risco. Você poderá efetuar a leitura prazerosa
do livro de Charles P. Kindleberger, intitulado Manias, pânicos e crashes:
uma história das crises financeiras (Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira,
2000). Nesta obra, o autor chama atenção para as crises financeiras que
podem ser geradas a partir do momento em que investidores de todos os
tipos avaliam de forma incorreta os riscos que são assumidos diante algum
investimento. Fica a dica!

Retorno

Retorno é todo ganho ou perda de um proprietário ou aplicador de recursos sobre os


investimentos realizados. É, portanto, uma expectativa pessoal, subjetiva ou objetiva, de quanto
renderá um valor aplicado em ações, fundos de investimento ou outro Ativo. Por que expectativa
pessoal? Porque todo investimento apresenta um determinado risco. Pode dar certo ou não. Pode
se concretizar ou não. Pode depender de terceiros ou não. Pode apresentar situações inusitadas e
desconhecidas que frustrem as expectativas iniciais, ou até mesmo promessas contratuais. Vejamos
estes aspectos de forma detalhada.

Em Administração Financeira, o Retorno sobre o Patrimônio Líquido (RsPL) é a fórmula mais


importante para se analisar uma aplicação em ações ou cotas de uma sociedade. Quando as
aplicações são feitas no mercado de capitais, existem dois modelos específicos que podem ser
aplicados para otimização dos retornos nestes investimentos: o Capital Asset Pricing Model – CAPM
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(Modelo de Preços de Ativos) e o Arbitrage Pricing Theory – APT (Teoria de Preços de Arbitragem)
que, por sua natureza, fogem ao escopo da presente unidade. Tratemos, portanto, de analisar
o Retorno sobre o Patrimônio Líquido, objetivo maior deste tópico, uma vez que, como gestor
financeiro, o profissional da área é por vezes instado a opinar sobre tal medição pelos acionistas ou
cotistas, interessados diretos na rentabilidade do patrimônio (riqueza) da organização. Como tal, o
percentual de retorno sobre o Patrimônio Líquido pode até ser subjetivo, mas pode ser estabelecido
nas metas da organização, objetivando o seu cumprimento ao longo de um período de tempo
predeterminado. No entanto, o que não se pode admitir é um trabalho de gestão financeira que
não tenha esse percentual definido e aceito entre as partes.

Lembrete

Lembre‑se de que nesta disciplina estamos tratando de finanças


empresariais e, portanto, da atividade sobre o uso e retorno do Patrimônio
Líquido.

6 Hedge (proteção)

Hedge é um instrumento de proteção financeira, praticado com o objetivo de reduzir ou eliminar


riscos. Literalmente, podemos traduzi‑lo como “cerca”, ou seja, é o ato de “cercar” um risco com uma
proteção de idêntica força. Consiste no ato de tomar‑se uma providência financeira cujos resultados
econômico‑financeiros sejam do mesmo valor absoluto, minimizando eventuais variações. É muito
praticado nos casos em que as empresas tomem empréstimos em moeda estrangeira, acarretando um
risco em relação à sua variação no período em consideração.

Saiba mais

Para melhor entender tanto a questão do retorno quanto a questão


da proteção do investimento de forma estratégica, a leitura do livro de
Armando Mellagi Filho e Sérgio Ishikawa, Mercado financeiro e de capitais
(São Paulo: Editora Atlas, 2000) apresenta‑se como excelente opção.
O capítulo 13 trata da projeção de preço e risco de ativos financeiros,
relacionado a ações e o capítulo 15 trata das estratégias no mercado de
opções de compra e venda de ações.

O hedge pode ser feito por intermédio de aplicações financeiras, derivativos originados de ações,
contas a receber, contas a pagar, operações no mercado futuro, compra de opções e swap. Examinemos
um caso em que o hedge é imediatamente possível – dada a disponibilidade de recursos financeiros –, e
outro caso em que o hedge deve ser efetuado por meio de operações no mercado futuro.

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Quadro 32

Hedge imediatamente possível


Ativo 6.000 Passivo 6.000
Disponibilidades 1.000 Empréstimos bancários 800
Contas a receber 3.000 Fornecedores 2.000
Estoques 2.000 Patrimônio Líquido 3.200

É possível o hedge por meio de aplicações com opção de variação monetária, no mesmo valor dos
empréstimos existentes.

Quadro 33

Hedge possível no mercado de futuros


Ativo 6.000 Passivo 6.000
Disponibilidades 1.000 Empréstimos bancários 3.000
Contas a receber 3.000 Fornecedores 2.000
Estoques 2.000 Patrimônio Líquido 1.000

É impossível proteger a conta de empréstimos bancários, cujo saldo é de $3.000 com disponibilidades
de $1.000. Além do mais, as demais contas não se prestariam a uma conversão em moeda tão rápida
que permitisse proteger a diferença de $2.000, existente entre o volume de disponibilidades e o de
empréstimos bancários. Neste caso, são recomendadas operações no mercado de futuros, com opções
de compra e venda e swap de moeda e/ou de taxa de juros.

Resumo

A partir do momento que se decide pelo investimento, em qualquer


que seja o empreendimento, há necessidade de avaliar possibilidades de
retorno e riscos a ele associados. Acerca do assunto, a unidade tratou então
do risco, do retorno e do hedge. Foram apresentadas considerações sobre
risco sistêmico e risco específico, observando que qualquer um dos casos é
passível de administração, desde que bem identificado.

Quanto ao retorno, ele é esperado por qualquer administrador de


finanças, afinal lá está sua maior atividade. É todo ganho ou perda de um
proprietário ou aplicador de recursos sobre os investimentos realizados.
Veja que se utilizam aqui investimentos realizados e, desta forma, cabe a
qualquer tipo de investimento, desde aquele em máquinas e equipamentos
empresariais como os financeiros efetuados por qualquer tipo de agente,
não somente as empresas.

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Por fim, a unidade tratou do hedge como um instrumento de proteção


financeira e voltado ao mercado financeiro, notadamente o de capitais,
onde se encontram as modalidades de derivativos.

Exercícios

Questão 1 (Cesgranrio 2006). Em uma aula sobre ativos financeiros, o professor iniciou um debate
a respeito do prêmio de risco de um título. Assinale a alternativa que apresenta uma afirmação correta
sobre o tema, feita por um dos alunos.

A) É inversamente proporcional à taxa de juros livre de mercado.

B) Independe da classificação de risco do emissor do título.

C) É definido como a diferença entre o risco não sistemático e a taxa de juros livre de risco.

D) É o retorno extraordinário que os investidores esperam receber por manter um ativo com risco ao
invés de investir em ativos financeiros livres de risco.

E) Se o risco sistemático de um título for de 5% e a taxa de juros livre de risco, de 2%, o prêmio de
risco desse título será 7%.

Resposta correta: alternativa D.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: não se pode afirmar que o prêmio de risco de um título seja proporcional à taxa de
juros livre de mercado. São grandezas com movimentação inversa, em que diante subida de taxa de
juros livre de mercado à queda de prêmio de risco, mas não proporcionalmente.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: a classificação de risco do emissor do título influencia fortemente o a aquisição do


título e, portanto, seu retorno.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: é definido como a diferença entre a taxa de retorno médio de mercado e a taxa de juros
de um ativo livre de risco.

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D) Alternativa correta.

Justificativa: o prêmio de risco é um retorno financeiro excedente, correspondente à diferença entre


a taxa de rentabilidade de um determinado ativo e a rentabilidade dos ativos sem risco associado.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: neste caso, o prêmio pelo risco de mercado será de 3%, ou seja, 5% do risco sistemático
diminuído dos 2% referentes à taxa de juros de mercado livre de risco.

Questão 2 (Enade 2012). Uma empresa importadora analisou seu fluxo de caixa e verificou uma
posição futura (em 90 dias) na qual havia uma grande concentração de pagamentos assumidos com
os fornecedores, em moeda estrangeira (US$), e as entradas de recursos destinadas para saldar essas
obrigações (para o mesmo período) eram em moeda nacional (R$).

Constatou-se que não havia recursos disponíveis no caixa, pois a política de administração da
empresa sempre objetivou uma situação superavitária, embora próxima de um equilíbrio entre as
entradas e saídas.

A análise do fluxo de caixa ainda mostrou que, nas condições atuais de conversibilidade de moedas
entre o dólar americano (US$) e o real (R$), não havia motivos para se preocupar. No entanto, os
analistas do setor financeiro alertaram para um cenário de instabilidade muito provável da economia
internacional que poderia descapitalizar a empresa com a elevação do valor do US$ frente ao R$.
A diretoria da empresa decidiu realizar uma estratégia de proteção cambial para diminuir o risco da
oscilação nas cotações de conversibilidade entre as moedas.

Na situação descrita acima, qual das seguintes estratégias deveria ser adotada pela empresa?

A) Comprar imediatamente uma posição em US$ em valores suficientes para honrar seus compromissos
futuros, aproveitando as condições atuais de conversibilidade de moedas entre o US$ e o R$.

B) Vender contratos futuros de US$, com valores suficientes e vencimentos compatíveis para honrar
seus compromissos futuros.

C) Comprar contratos de opções de venda de US$ futuro, com valores suficientes e vencimentos
compatíveis para honrar seus compromissos futuros.

D) Vender contratos de opções de compra de US$ futuro, com valores suficientes e vencimentos
compatíveis para honrar seus compromissos futuros.

E) Realizar um contrato de SWAP, no qual trocaria sua posição futura em R$ por uma posição futura
em US$, com valores suficientes e vencimentos compatíveis para honrar seus compromissos futuros.

Resolução desta questão na plataforma.


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